avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/karla...

92
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO VEGETAL KARLA GALON AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE EM CULTIVO HIDROPÔNICO E PANORAMA DA HIDROPONIA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ALEGRE, ES 2012

Upload: dinhnhi

Post on 11-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO VEGETAL

KARLA GALON

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE EM CULTIVO HIDROPÔNICO E PANORAMA DA HIDROPONIA NO

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

ALEGRE, ES

2012

Page 2: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

KARLA GALON

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE EM CULTIVO HIDROPÔNICO E PANORAMA DA HIDROPONIA NO

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Espírito Santo, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, para obtenção do título de Mestre em Produção Vegetal. Orientador: Prof. Dr. Nilton Nélio Cometti

ALEGRE, ES 2012

Page 3: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Galon, Karla, 1985- G178a Avaliação do desempenho de cultivares de alface em cultivo hidropônico

e panorama da hidroponia no Estado do Espírito Santo / Karla Galon. – 2012. 92 f. : il. Orientador: Nilton Nélio Cometti. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Universidade Federal do

Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. 1. Alface. 2. Hidroponia. 3. Cultivares. 4. Panoramas. 5. Espírito Santo

(Estado). I. Cometti, Nilton Nélio. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Agrárias. III. Título.

CDU: 63

Page 4: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo
Page 5: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

ii

Aos meus pais Luís e Alzira e à minha irmã Kátia por não terem medido esforços para que eu pudesse ter chegado até aqui,

DEDICO.

Page 6: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

iii

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, pelas conquistas e por estar sempre ao meu lado, em todos os momentos.

Agradeço imensamente aos meus pais, Luís Carlos e Alzira, pelo amor, confiança, pelos exemplos e dedicação durante toda a minha vida.

À minha irmã Kátia, pela amizade, incentivo, paciência e apoio incondicional.

Às tias, tios, primos e primas, minha valiosa família “Margon Galon”, pelos exemplos de vida e pelo incentivo sempre.

Ao meu namorado, Júlio Sérgio, pelo amor, respeito e paciência. Obrigada por estar sempre comigo. Te amo, muito muito!!!!

À família Casali Binda, pelo acolhimento e carinho.

Agradeço muito à amiga e companheira de pesquisa Diene (Didi), sempre presente em todos os momentos felizes e também naqueles de dificuldade durante toda a Graduação e Mestrado. Hoje, nós conseguimos!!!!

Às sempre amigas, Joyce, Marina, Márcia e Cida, sempre presentes na minha vida, nas horas de estudo, de alegrias, sofrimentos. Obrigada pela amizade sempre!!!!

Ao Wilhan, por todos os momentos de alegria, pelo carinho, pela confiança, pelo respeito e pela amizade que Alegre nos proporcionou.

Ao Prof. Dr. Nilton Nélio Cometti, pela orientação, estímulo, amizade e dedicação indispensável durante todo o desenvolvimento deste trabalho, contribuindo diretamente para a minha formação profissional e pessoal. Muito Obrigada!!!!!

À Diene Ellen e Clara Cometti, pela estadia em Brasília na fase de conclusão do Mestrado.

Ao professor Msc. Marinaldo Zanotelli, pela amizade, carinho e pelas caronas até o Ifes Campus Itapina.

Agradeço também ao professor Dsc. Jadier de Oliveira Cunha Junior, pela amizade, carinho, incentivo e apoio.

À Fapes- Fundação de Amparo à Pesquisa no Espírito Santo, pelo auxílio financeiro sob a forma de concessão de bolsa de Mestrado.

Ao Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal da UFES, pela oportunidade.

Aos professores do PPGPV-UFES, pelo ensinamento.

Page 7: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

iv

Aos amigos e amigas da Produção Vegetal, pelos momentos de alegria no bar do Manoel e Barba Negra.

Agradeço muito ao IFES Campus Itapina, professores e funcionários, pelo apoio durante a execução do projeto.

Aos amigos do Setor de Horticultura, Eder e Zezinho, pela paciência, disponibilidade e amizade.

Aos alunos da Agronomia do Ifes Campus Itapina: Augusto, Mathias, Eline, Léo, Gabriel, Fernando, Sandro, Hágabo e Douglas, pela colaboração nas intermináveis e alegres avaliações de experimento.

Aos professores do Ifes Campus Itapina, Anderson e André, pelo apoio durante a pesquisa.

Aos funcionários do Ifes Campus Itapina, Adriana, Simone e Edilson, pelas caronas.

Aos Laboratórios de Sementes, Entomologia e Fitopatologia do CCA-UFES, pelo espaço cedido para desenvolvimento dos experimentos.

Aos Hidroponicultores do Estado do Espírito Santo, pelo apoio, credibilidade e disponibilidade em dividir conhecimentos.

E aos demais que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução deste trabalho.

Page 8: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

v

BIOGRAFIA

Karla Galon, filha de Luís Carlos Galon e Alzira Rosa Margon Galon, nasceu em

Colatina-ES no dia 13 de Outubro de 1985. Cursou o Ensino Fundamental no

Colégio Darly Nerty Vervloet, no município de São Roque do Canaã- ES, de 1992 a

1999. No ano de 2000, foi aprovada no processo seletivo para Ensino Médio do

Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo- Unidade

Descentralizada de Colatina (CEFET-ES Uned Colatina), atual IFES Campus

Colatina, sendo concluído em 2002. Nos anos de 2003 e 2004, cursou também pelo

Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo- Unidade

Descentralizada de Colatina (CEFET-ES Uned Colatina), atual IFES Campus

Colatina, o curso técnico em Segurança do Trabalho. Em 2005, foi aprovada no

vestibular do curso de Agronomia da Universidade Federal do Espírito Santo, sendo

concluído em Dezembro de 2009. No início do ano de 2010, foi aprovada como

aluna regular no Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Produção

Vegetal da UFES, atuando na área de Hidroponia, sob a orientação do Prof. Dr.

Nilton Nélio Cometti. Aos 29 dias do mês de Fevereiro do ano de 2012, defendeu

sua dissertação para obtenção do título de Mestre em Produção Vegetal, área de

concentração em Fitotecnia (Hidroponia).

Page 9: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

vi

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ............................................................................................... viii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. ix

RESUMO.................................................................................................................... xi

ABSTRACT .............................................................................................................. xiii

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 16

2.1 IMPORTÂNCIA DAS HORTALIÇAS ............................................................... 16

2.2 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA DA ALFACE ......................................... 17

2.3 COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL ....................................................................... 18

2.4 TIPOS DE CULTIVARES ................................................................................ 18

2.5 CULTIVO HIDROPÔNICO ............................................................................... 21

2.5.1 Vantagens e desvantagens do sistema hidropônico ............................ 22

2.5.2 Sistema NFT ............................................................................................. 23

2.6 CULTIVO DE ALFACE HIDROPÔNICO EM AMBIENTES DE CLIMA TROPICAL. ............................................................................................................ 24

2.7 COMPORTAMENTO DE CULTIVARES DE ALFACE EM FUNÇÃO DO CLIMA .................................................................................................................... 27

2.8 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 28

Capítulo 1 ................................................................................................................. 33

3 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE ALFACE EM CULTIVO HIDROPÔNICO EM AMBIENTE TROPICAL ........................................................... 33

3.1 RESUMO ......................................................................................................... 33

3.2 ABSTRACT ..................................................................................................... 33

3.3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 34

3.4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 35

3.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 38

3.6 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 44

Capítulo 2 ................................................................................................................. 47

4 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE ALFACE EM CULTIVO HIDROPÔNICO EM AMBIENTE TROPICAL ........................................................ 47

4.1 RESUMO ......................................................................................................... 47

4.2 ABSTRACT ..................................................................................................... 47

4.3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 48

4.4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 49

4.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 52

4.6 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 60

Capítulo 3 ................................................................................................................. 63

Page 10: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

vii

5 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE ALFACES CRESPAS E LISAS EM CULTIVO HIDROPÔNICO EM AMBIENTE TROPICAL ......................... 63

5.1 RESUMO ......................................................................................................... 63

5.2 ABSTRACT ..................................................................................................... 63

5.3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 64

5.4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 65

5.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 68

5.5.1 Avaliação das cultivares crespas ........................................................... 68

5.5.2 Avaliação das cultivares lisas ................................................................ 72

5.6 CONCLUSÕES ................................................................................................ 76

5.6.1 Cultivares Crespas .................................................................................. 76

5.6.2 Cultivares Lisas ....................................................................................... 76

5.7 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 76

Capítulo 4 ................................................................................................................. 79

6 PANORAMA TÉCNICO, POLÍTICO E SOCIOECONÔMICO DA HIDROPONIA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO .............................................................................. 79

6.1 RESUMO ......................................................................................................... 79

6.2 ABSTRACT ..................................................................................................... 79

6.3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 80

6.4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 81

6.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 82

6.6 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 87

7 CONCLUSÕES GERAIS ....................................................................................... 88

Page 11: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Valores médios de fluxo de fótons fotossintéticos, em µmol m-2 s-1, dentro e fora da estufa......................................................................... 37

Tabela 1 Valores médios da temperatura das folhas das cinco cultivares utilizadas, em ºC.................................................................................. 51

Tabela 2 Valores médios de fluxo de fótons fotossintéticos, em µmol m-2 s-1, dentro e fora da estufa e temperatura da solução nutritiva, em ºC......................................................................................................... 51

Tabela 1 Valores médios de fluxo de fótons fotossintéticos, em µmol m-2 s-1, dentro e fora da estufa e temperatura da solução nutritiva, em ºC......................................................................................................... 67

Tabela 1 Níveis estabelecidos para cada critério avaliado para determinação do grau tecnológico de cada produtor............................................................................................... 82

Tabela 2 Nível tecnológico dos hidroponicultores do Espírito Santo................................................................................................... 84

Page 12: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Valores médios de temperatura do ar e temperatura da solução nutritiva observados durante o experimento.......................................... 37

Figura 2 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) Massa fresca de parte aérea (MFPA); (b) massa fresca de raiz (MFR); (c) massa seca de parte aérea (MSPA); e (d) massa seca de raiz (MSR). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%....................................................................................................... 40

Figura 3 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) Número de folhas (NF); (b) altura da planta (HP); (c) diâmetro da planta (DP); (d) comprimento de caule (CC); (e) volume de raiz (VR); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%...................................................................... 42

Figura 4 Avaliação do aspecto visual de cada cultivar........................................ 43 Figura 5 Avaliação do teste de degustação de cada cultivar.............................. 43 Figura 1 Valores médios da temperatura do ar, em ºC, observados durante o

experimento........................................................................................... 51 Figura 2 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico.

(a) Massa fresca de parte aérea (MFPA); (b) massa fresca de raiz (MFR); (c) massa seca de parte aérea (MSPA); e (d) massa seca de raiz (MSR). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%....................................................................................................... 54

Figura 3 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) Número de folhas (NF); (b) volume de raiz (VR); (c) altura da planta (HP); (d) diâmetro da planta (DP); (e) comprimento de caule (CC); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%.......................................................... 57

Figura 4 % de água de cultivares de alface em cultivo hidropônico. Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%.....................

58

Figura 5 Avaliação do aspecto visual de cada cultivar........................................ 59 Figura 6 Avaliação do teste de degustação de cada cultivar. 9- Gostei

extremamente; 8- Gostei muito; 7- Gostei moderadamente; 6- Gostei ligeiramente; 5- Indiferente; 4- Desgostei ligeiramente; 3- Desgostei moderadamente; 2- Desgostei muito; e 1- Desgostei extremamente.... 60

Figura 1 Valores médios da temperatura das folhas, em ºC, observados durante o experimento........................................................................... 66

Figura 2 Valores médios da temperatura do ar, em ºC, observados durante o experimento........................................................................................... 67

Figura 3 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) Massa fresca de parte aérea (MFPA); (b) massa fresca de raiz (MFR); (c) massa seca de parte aérea (MSPA); e (d) massa seca de raiz (MSR). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%.......................................................................................................

69

Figura 4 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) Número de folhas (NF); (b) volume de raiz (VR); (c) altura da planta (HP); (d) diâmetro da planta (DP); (e) comprimento de caule (CC); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%.......................................................... 72

Page 13: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

x

Figura 5 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) Massa fresca de parte aérea (MFPA); (b) massa fresca de raiz (MFR); (c) massa seca de parte aérea (MSPA); e (d) massa seca de raiz (MSR). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%.......................................................................................................

73

Figura 6 Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) Número de folhas (NF); (b) volume de raiz (VR); (c) altura da planta (HP); (d) diâmetro da planta (DP); (e) comprimento de caule (CC); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%..........................................................

74

Figura 1 Localização das hidroponias no Estado do Espírito Santo......................................................................................................

83

Page 14: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

xi

RESUMO

Poucos estudos sobre o comportamento da cultura da alface em sistemas

hidropônicos no Brasil, principalmente em ambiente tropical, têm levado muitos

produtores a escolher cultivares sem qualquer embasamento científico e segurança

estatística, resultando em perdas econômicas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o

comportamento de cultivares de alface em ambiente tropical para recomendar novas

cultivares mais adaptadas ao cultivo hidropônico em clima tropical, e levantar o

panorama do cultivo hidropônico no Espírito Santo. Foram realizados três

experimentos, instalados em DIC, ao longo do ano de 2011, utilizando 13 cultivares

de alface, sendo seis do grupo lisa (Vitória de Santo Antão, Babá de Verão, Rainha

de Maio, Regina de Verão, Aurélia e Maravilha de Verão), quatro do grupo crespa

(Grand Rapids, Veneranda, Mônica e Itapuã), duas do grupo mimosa (Salad Bowl e

Rubi) e uma cultivar americana (Delícia). Em cada experimento, foram avaliados:

massa fresca da parte aérea e da raiz; massa seca da parte aérea e da raiz; número

de folhas; comprimento e diâmetro do caule; volume de raiz; altura e diâmetro da

planta; aspecto visual; e teste de degustação. As cultivares lisas Vitória de Santo

Antão e Babá de Verão apresentam boa produtividade nas condições propostas em

todos os ensaios. A cultivar crespa Grand Rapids mostra-se muito sensível ao fator

temperatura, apresentando pendoamento precoce, devendo ter sua colheita

antecipada. A cultivar mimosa Rubi não apresenta bom desempenho em ambiente

tropical, sendo recomendado manter as plantas nas bancadas de produção por um

tempo maior. A cultivar americana Delícia apresentou bom desempenho e boa

aceitação nos testes relativos a aspecto visual e degustação. A pesquisa sobre o

levantamento da hidroponia no Espírito Santo mostra que há 17 hidroponias em

funcionamento, totalizando uma área de 3,0 hectares. A alface representa 90% do

volume total de hortaliças hidropônicas, sendo os outros 10% voltados á produção

de rúcula e condimentos. São comercializados aproximadamente 168 mil pés de

alface por mês. Todos os produtores estão incluídos na categoria de grau

tecnológico intermediário. O Espírito Santo já possui uma considerável produção

hidropônica, porém ainda é um setor que tem grande capacidade de expansão,

devido tanto ao apelo do consumidor que exige qualidade durante todo o ano quanto

Page 15: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

xii

aos problemas climáticos adversos na maioria das regiões capixabas que

prejudicam a produção de qualidade.

Palavras-chave: Lactuca sativa L. Hidroponia. Cultivares. Panorama. Espírito Santo.

Page 16: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

xiii

ABSTRACT

Few studies on the behavior of the lettuce in hydroponic culture in Brazil, mainly in

tropical environment, have led many producers to choose cultivars with no scientific

background and safety statistics, resulting in economic losses. The objective of this

study was to evaluate the behavior of the lettuce in a tropical environment to

recommend new cultivars better adapted to hydroponic cultivation in tropical

climates, and raise an overview of hydroponics in the Espírito Santo. Three

experiments were conducted, installed in DIC, during the year 2011, using 13

varieties of lettuce, six of smooth group (Vitória de Santo Antão, Babá de Verão,

Rainha de Maio, Regina de Verão, Aurélia e Maravilha de Verão), four crisp group

(Grand Rapids, Veneranda, Mônica and Itapuã), two group mimosa (Salad Bowl and

Ruby) and an American (Delícia). In each experiment, were evaluated: fresh weight

of shoot and root, shoot dry mass and root, leaf number, length and stem diameter,

root volume, plant height and diameter, visual appearance, and tasting. Cultivars

smooth Vitória de Santo Antão and Babá de Verão show high productivity under the

proposed conditions in all trials. The crisp cultivar Grand Rapids is very sensitive to

the temperature factor, showing bolting which leads to a soon harvest. The mimosa

cultivar Rubi does not show good performance in a tropical environment and is

recommended to keep the plants in the production benches for a longer time. The

growing american Delícia had a good performance and good acceptance tests for the

visual appearance and taste. Research on survey of hydroponics in the Espírito

Santo has shown that there are 17 hidroponias in operation, totaling an area of 3.0

hectares. Lettuce represents 90% of the total volume of hydroponic

vegetables. Approximately, 168,000 feet of lettuce are sold per month. All

producers are included in the category of intermediate technological level. The

Espírito Santo already has a substantial hydroponic production, but it is a sector that

has great capacity for expansion, due to both the appeal of the consumer who

demands quality throughout the years about the adverse weather problems in most

areas of the State that impair the production of quality.

Key words: Lactuca sativa L. Hydroponics. Cultivars. Panorama. Espírito Santo.

Page 17: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

14

1 INTRODUÇÃO

A dependência do clima, a estacionalidade da produção e a terra como fator de

produção são importantes características do setor agrícola que dificultam a produção

de alimentos e aumentam os riscos das atividades rurais, evidenciando a

importância de novas técnicas de produção como alternativas para reduzir perdas e

aumentar a produtividade das culturas. A qualidade do alimento, nos últimos anos,

passou a ser considerada fator de segurança alimentar e nutricional, estando

relacionada não só à produção do alimento em quantidade suficiente e acesso

garantido, mas também à promoção da saúde daqueles que o consomem.

A produção de alimentos em sistemas hidropônicos está ganhando espaço no Brasil.

A hidroponia é uma técnica alternativa na qual o solo é substituído por uma solução

aquosa, podendo conter apenas os nutrientes necessários aos vegetais. O cultivo

hidropônico possui vantagens e desvantagens em relação ao cultivo tradicional a

campo aberto e ao cultivo protegido em solo. Alta produtividade, redução no uso de

agrotóxicos, o uso de pequenas áreas próximas aos centros urbanos, a

possibilidade de produzir um produto de boa qualidade, o uso eficiente e econômico

da água e fertilizantes e o menor risco de incidência de pragas e doenças, coloca a

hidroponia como uma atividade capaz de agregar valor ao alimento e superar as

dificuldades encontradas na produção agrícola convencional. Porém, essa técnica

ainda não conquistou um grande espaço na olericultura nacional devido ao alto

custo de implantação do sistema, associado às poucas informações disponíveis aos

produtores, além de requerer acompanhamento técnico especializado permanente.

A alface (Lactuca sativa L.) é a hortaliça folhosa mais popular e a mais importante na

alimentação do brasileiro, o que lhe assegura expressiva importância social,

econômica e dietética. É líder nacional em comercialização e consumo dentro do

grupo das olerícolas folhosas. Além do valor nutricional, essa folhosa se destaca

também devido à facilidade de aquisição, produção durante o ano todo e baixo

custo.

Conhecer o comportamento das cultivares de alface é importante para o produtor em

hidroponia, pois muitos têm escolhido cultivares sem qualquer embasamento

científico e segurança estatística, resultando em perdas econômicas. Muitas

Page 18: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

15

pesquisas relacionadas a avaliações de cultivares têm sido conduzidas em regiões

de clima ameno, como nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do

Sul. O comportamento das cultivares de alface nestas regiões diferencia-se de

regiões tropicais, como o Estado do Espírito Santo. Nestes ambientes de alta

temperatura e alta luminosidade, as cultivares estiolam com frequência, apresentam

um ciclo mais precoce e com rápido pendoamento, mostram sintomas de queima de

bordas e desenvolvem características de sabor amargo em função dos compostos

derivados do metabolismo secundário, expressos em condições de estresse

ambiental.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de cultivares de alface

submetidas ao cultivo hidropônico em clima tropical e conhecer o panorama do

cultivo hidropônico no Espírito Santo para sua melhor recomendação.

Page 19: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

16

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 IMPORTÂNCIA DAS HORTALIÇAS

A olericultura é uma atividade altamente intensiva em seus mais variados aspectos

quando comparada com outras atividades agrícolas. Sua exploração econômica

exige alto investimento, em termos de mão de obra e infraestrutura, utilização de

tecnologias modernas, que passam por constante processo de evolução e o

tamanho reduzido da área ocupada, mas intensivamente utilizada, tanto no tempo

quanto no espaço, também são características importantes na produção de

hortaliças. O sistema de produção é extremamente especializado e exigente em

qualidade, principalmente quanto ao aspecto comercial, e vem dominando o

agronegócio no Estado do Espírito Santo e no Brasil, onde os produtores estão

reduzindo o número de culturas trabalhadas e intensificando os cultivos durante todo

o ano. A grande diversidade climática constatada no Brasil permite o cultivo de cerca

de sessenta espécies de hortaliças, sendo a maioria competitiva no mercado e com

possibilidades de exportação.

A produção mundial de hortaliças ocupa uma área em torno de 89 milhões de

hectares, com uma produção total de 1,4 bilhão de toneladas. No Brasil, a produção

anual de hortaliças é superior a 11 milhões de toneladas, movimentando

aproximadamente 2,5 bilhões de dólares. Em 2002, foram cultivados 806,9 mil

hectares de hortaliças, com uma produção total de 15,7 milhões de toneladas

(ESPÍRITO SANTO, 2008). Cerca de 8 a 10 milhões de brasileiros dependem da

olericultura. Somente na cultura da alface são gerados, em média, cinco empregos

diretos por hectare, abrigando em torno de 150 mil trabalhadores rurais na cadeia

produtiva da cultura (PONTES, 2006).

A olericultura capixaba movimenta anualmente cerca de R$ 155 milhões,

representando 0,5% do PIB estadual. Cerca de 13 mil hectares são utilizados na

produção de hortaliças. Em torno de 20 mil pessoas, entre elas produtores, meeiros

e empregados rurais estão envolvidos na atividade, com produção total de 342 mil

toneladas por ano (ESPÍRITO SANTO, 2008). O cultivo de hortaliças está presente

de norte a sul do Estado, porém, em alguns municípios, a produção não tem

expressão econômica.

Page 20: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

17

A Central de Abastecimento do Espírito Santo (CEASA-ES) é o principal pólo de

comercialização do Estado. Em 2009, foi comercializado um volume total de 220 mil

toneladas. Santa Maria de Jetibá é o principal município fornecedor de alimentos,

sendo responsável, em média, por 18% do total comercializado mensalmente

(CEASA, 2010).

A alface é, mundialmente, a hortaliça folhosa mais conhecida e consumida,

apresentando grande importância na alimentação e saúde humana. Faz parte da

dieta alimentar de grande parte da população mundial, sendo amplamente utilizada

em saladas (YURI et al., 2004; FILGUEIRA, 2008). Além disso, é uma importante

fonte de vitaminas, sais minerais e celulose. Segundo De Vries (1997) e Sousa et al.

(2007), a alface possui vitaminas A, B1, B2 e C, além de sais de cálcio e ferro. No

Brasil, estima-se que o agronegócio dessa hortaliça atinja aproximadamente R$ 2,1

bilhões/ano (SAKATE et al., 2002), além de ser importante do ponto de vista social,

sendo tradicionalmente cultivada por pequenos produtores (BOAS et al., 2004).

2.2 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA DA ALFACE

A alface pertence à classe Magnoliopsida, ordem Asterales, família Asteraceae,

gênero Lactuca e é considerada como oriunda da região do Mediterrâneo. Originada

de espécies silvestres, que ainda pode ser encontrada em regiões de clima

temperado, no sul da Europa e na Ásia Ocidental (FILGUEIRA, 2008). Como planta

medicinal, essa espécie já era utilizada desde 4500 a.C. Como hortaliça, sua

utilização é registrada desde 2500 a.C. Foi introduzida no Brasil pelos portugueses

(MAGALHÃES, 2006).

A estrutura é de uma planta herbácea delicada, com caule diminuto, ao qual se

prendem as folhas. Estas, por sua vez, são amplas e crescem em volta do caule em

forma de roseta, podendo ser lisas ou crespas, formando ou não uma cabeça

repolhuda. Apresentam folhas simples, de contorno oval-oblongo, sua coloração

predominante varia do verde claro ao verde escuro. Algumas cultivares podem exibir

uma coloração arroxeada nas folhas devido à presença do pigmento antocianina

(MAGALHÃES, 2006). As folhas de plantas com antocianina podem ser vermelhas

ou roxas em vários graus e padrões. Muitas formas primitivas e espécies

relacionadas têm uma pigmentação de antocianina em suas folhas e flores enquanto

Page 21: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

18

outras tantas cultivares não possuem a referida pigmentação (ROBINSON et al.,

1983). O sistema radicular é muito ramificado e superficial (MAGALHÃES, 2006). O

ciclo é anual e a fase vegetativa é encerrada quando a planta atinge o maior

desenvolvimento das folhas.

2.3 COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL

As hortaliças folhosas possuem cerca de 90% de água e o restante composto de

matéria seca, que é formada por mais de 90% por carbono (C), hidrogênio (H) e

oxigênio (O2). Para ter esta composição o vegetal obtém carbono do ar atmosférico,

oxigênio do ar e da água e o hidrogênio da água. Deste modo tem-se que, apenas

1% da composição da planta é obtida do solo ou de outra forma. Além dos três

elementos orgânicos (carbono, oxigênio e hidrogênio), as hortaliças folhosas são

constituídas por mais treze elementos minerais, classificados em micro e

macronutrientes, conforme o percentual de absorção pelos vegetais. Cada elemento

tem a sua função e deve ser administrado na medida certa, caso contrário ocorrem

deficiências ou excessos nutricionais, que ficam visíveis na forma de sintomas. Os

macronutrientes primários são: Nitrogênio, Fósforo e Potássio; os secundários são:

Cálcio, Magnésio e Enxofre; e os micronutrientes são: Boro, Cloro, Cobre, Ferro,

Manganês, Molibdênio e Zinco (SANTOS et al., 2000).

Nestas condições, segundo Sgarbieri (1987), a alface apresenta a seguinte

composição média, por 100 g comestíveis: água: 92 g; valor calórico: 18 Kcal;

proteína: 1,3 g; gordura: 0,3 g; carboidratos totais: 3,5 g; fibra: 0,7 g; cálcio: 68 mg;

fósforo: 27 mg; ferro: 1,4 mg; potássio: 264 mg; vitamina A: 1900 UI; tiamina: 0,05

mg; riboflavina: 0,08 mg; niacina: 0,4 mg; e vitamina C: 18,0 mg.

2.4 TIPOS DE CULTIVARES

A definição dos tipos de alface é importante porque a diversidade nas características

morfológicas e fisiológicas entre os grupos determina grandes diferenças na

conservação pós-colheita e, consequentemente, nos aspectos de manuseio.

Algumas cultivares apresentam características específicas, como a resistência ao

vírus do mosaico da alface (Lettuce mosaic virus - LMV), a resistência ao

Page 22: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

19

pendoamento precoce e ao florescimento precoce em regiões quentes ou com dias

longos (HENZ & SUINAGA, 2009).

De acordo com Filgueira (2000), as numerosas cultivares plantadas pelos

olericultores do centro-sul foram originadas de trabalhos de melhoramento genético

conduzidos no Brasil e no exterior. Das cerca de 75 cultivares comerciais existentes,

apenas 18 são nacionais. Os fitomelhoristas brasileiros têm como principais

objetivos desenvolver cultivares de alface que apresentam maior resistência ao

pendoamento precoce. O desenvolvimento dessas cultivares melhoradas viabiliza

seu cultivo ao longo de todo o ano, inclusive durante a primavera e verão.

O tipo predominante de alface no Brasil é do grupo crespa, liderando 70% do

mercado. Cultivares do grupo americana e do lisa detêm 15% e 10%,

respectivamente, enquanto outras como mimosa e romana correspondem a 5% do

mercado (Sala & Costa, 2005). O grupo crespa vem crescendo consideravelmente

nos últimos anos, em virtude de apresentar melhores resistências à doenças e ao

transporte, maior período pós-colheita e melhor paladar, vantagens no elo mercado

consumidor da cadeia produtiva. O cultivo da alface crespa é preferido também

pelos produtores, pois a hortaliça apresenta aspecto de manuseio e transporte

facilitado devido à disposição de suas folhas, o que a torna preferível entre os

grupos (RODRIGUES et al., 2007).

Nos últimos anos, também aumentou o interesse de produtores e consumidores pelo

tipo “repolhuda crespa ou americana”, já ofertada de forma regular em todos os

mercados brasileiros. Além de ser apreciada na forma in natura, essa cultivar é

amplamente utilizada pela indústria de processamento mínimo pelo fato de suportar

melhor o processamento, quando comparada com outras cultivares. A alface

“americana” também é muito utilizada por redes de fast food como ingrediente de

sanduíches devido a sua crocância, textura e sabor, além de apresentar melhor

conservação pós-colheita e resistência ao transporte e manuseio.

No mercado brasileiro de sementes, estão disponíveis, atualmente, um número

expressivo de cultivares de alface, muitas das quais importadas que possuem

nomes de fantasia em Português ao invés do nome original. As cultivares nacionais,

por outro lado, têm sido produzidas principalmente por instituições de ensino e de

pesquisa, eventualmente em associação com empresas de sementes, para ofertar

aos produtores cultivares de alface “tropicalizadas”, adaptadas às condições

Page 23: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

20

predominantes na maior parte do território nacional, incluindo genótipos com

tolerância ou resistência a doenças (LÉDO et al., 2000; COSTA & SALA, 2005;

SALA & COSTA, 2008).

Conforme descrito anteriormente, as cultivares de alface podem ser agrupadas em

seis tipos morfológicos principais, com base nas características das folhas e na

formação de cabeça, classificadas abaixo de acordo com Filgueira (2008):

Repolhuda-manteiga: apresentam folhas lisas e muito delicadas, de coloração

verde-amarelada, formando uma típica cabeça repolhuda, bem compacta e com

aspecto amanteigado. A cultivar típica é a tradicional White Boston, que já foi

considerada padrão de excelência em alface, porém com a diversificação nos

hábitos de consumo dos brasileiros ela foi substituída por outras cultivares, como

Brasil 303, Carolina e Elisa.

Solta-lisa: possui folhas lisas, soltas e macias, mais ou menos delicadas, não

formando uma cabeça compacta. A cultivar típica é a tradicional Babá de Verão,

sendo que atualmente existem novas cultivares, entre elas Monalisa e Regina.

Repolhuda-crespa (Americana): as folhas são bem consistentes, com nervuras

destacadas, formando uma “cabeça” compacta. É altamente resistente ao transporte

e adequada para o preparo de sanduíches. A cultivar típica é a tradicional Great

Lakes, da qual há várias seleções. Outras cultivares têm sido introduzidas como

Tainá, Iara, Madona, Lucy Brown e Lorca.

Romana: as folhas são alongadas e consistentes, com nervuras protuberantes,

formando “cabeças” fofas. Alguns exemplos são as cultivares Romana Branca de

Paris e Romana Balão.

Mimosa: As folhas são delicadas e com aspecto “arrepiado”. Alguns exemplos são

as cultivares Salad Bowl, Greenbowl e Rubi.

Solta-crespa: as folhas são bem consistentes, crespas e soltas, não formando

cabeça. A cultivar típica é a tradicional Grand Rapids. Entre as cultivares modernas

destacam-se Verônica, Vera, Marisa e Vanessa.

Page 24: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

21

2.5 CULTIVO HIDROPÔNICO

Há vários sistemas de produção, entre eles, três se destacam: convencional,

orgânico e, nos últimos 10 anos, o hidropônico. Neste sistema, a alface é a hortaliça

mais cultivada, representando cerca de 80% da produção.

A hidroponia é um termo derivado de dois radicais gregos: “hydro”, que significa

água e “ponos”, que significa trabalho (GRAVES, 1983). Fazendo uma retrospectiva

da hidroponia, Resh (1985) cita como exemplos de cultivo de plantas sem solo os

jardins suspensos da Babilônia, os jardins flutuantes dos Astecas e da China, todos

datados como anteriores à era cristã (SANCHES, 2007).

Os experimentos com cultivo hidropônico iniciaram-se na França e na Inglaterra

durante o século XVII, sendo que os estudos científicos relacionados ao ajuste da

solução nutritiva tiveram início na Alemanha, por volta de 1699 (JENSEN, 1997).

Segundo Sanches (2007), no século XX muitos pesquisadores dedicaram-se aos

estudos de soluções nutritivas através da dissolução de sais em água destilada, dos

quais podemos destacar as soluções de HOAGLAND (1920) e ARNON (1950),

citados por Bliska Júnior (1998), cujas soluções propostas são ainda utilizadas,

porém com pequenas alterações. Nos anos 30, essa técnica passou a ser utilizada

em escala comercial pelo Professor William Frederick Gericke, da Universidade da

Califórnia, nos Estados Unidos. Posteriormente, com o advento da II Guerra

Mundial, foi usada para fins militares (RESH, 1985).

A Hidroponia está se desenvolvendo rapidamente como meio de produção vegetal,

sobretudo de hortaliças. É uma técnica alternativa de cultivo protegido, feito dentro

de estufas, sendo o solo substituído por uma solução aquosa contendo apenas os

elementos minerais indispensáveis aos vegetais, dissolvidos na forma de sais

(GRAVES, 1983; JENSEN & COLLINS, 1985; RESH, 1996). A hidroponia se baseia

no princípio de que, uma vez suprida a necessidade dos nutrientes, a sustentação

não precisa ser no solo (DOUGLAS, 1987).

Na geoponia ou cultivo no solo, os nutrientes são originados pela decomposição de

fontes orgânicas e inorgânicas, indo posteriormente pela ação da água compor a

solução nutritiva, que é absorvida pela planta através das raízes. Na hidroponia, os

sais minerais inorgânicos são diluídos em água, fornecidos diretamente às raízes,

sendo absorvidos pela planta (SANTOS et al., 2000).

Page 25: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

22

Obter qualidade e regularidade na oferta dos produtos é muito difícil quando se fala

em produção de hortaliças, pois forças sazonais importantes, como as altas

temperaturas, acima de 20 ºC, e o fotoperíodo longo, dificultam que isso seja

realizado. Em alface, a resposta pode ser observada em plantas com o ciclo

reprodutivo precocemente acelerado (pendoamento e florescimento precoces)

(NAGAI & LISBÃO, 1980; RYDER, 1986), características extremamente

indesejáveis, já que se inutiliza a planta para o consumo.

Geralmente, os cultivos hidropônicos estão associados à utilização de proteção. Sob

esse aspecto, o cultivo protegido vem apresentando crescente adoção pelos

produtores de alface, em razão da possibilidade do controle parcial dos fatores

ambientais adversos (SOUZA et al., 1994), da facilidade do manejo da cultura, da

redução de riscos, da previsibilidade e da constância da produção.

No Brasil, em condições de cultivo protegido, é possível produzir durante o ano

inteiro, obtendo sucesso e considerável abrangência de seu território. Segundo

Sganzerla (1991), o cultivo protegido, além de proteger a cultura dos efeitos

negativos do vento, chuvas e granizo, possibilita aumentos consideráveis na

produtividade, além de maior precocidade, melhor qualidade e economia de

insumos.

2.5.1 Vantagens e desvantagens do sistema hidropônico

Destacam-se as seguintes vantagens no cultivo Hidropônico quando bem utilizado:

• possibilidade de produção de alimentos próxima aos centros consumidores;

• ótima produtividade;

• maior eficiência no uso da água e melhor controle de sua qualidade;

• maior eficiência na utilização dos fertilizantes;

• uso reduzido de agrotóxicos devido ao menor ataque de pragas e doenças em

função da melhor nutrição das plantas;

• possibilidade de aproveitamento de áreas inaptas ao cultivo convencional;

• independência do cultivo às intempéries, tais como: veranico, geadas, chuvas de

granizo, ventos, encharcamentos, e às estações climáticas, permitindo o cultivo

durante todo o ano (FAQUIN, 1996);

Page 26: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

23

• redução da erosão e degradação do meio ambiente por liberação de fertilizantes e

agrotóxicos nos solos;

• produtos mais limpos e de melhor qualidade;

• ciclo reduzido, o que permite maior número de plantios durante o ano;

• permite um rápido controle em caso de deficiências nutricionais visíveis;

• dispensa rotação de culturas (TEIXEIRA, 1996).

Em contrapartida, também há desvantagens no sistema, quando comparado com o

sistema convencional:

• alto custo de implantação;

• necessidade de mão de obra especializada;

• o sistema hidropônico torna as plantas muito susceptíveis a desbalanços

nutricionais, deficiências hídricas ou de oxigenação;

• requer um acompanhamento permanente do funcionamento do sistema,

principalmente do fornecimento de energia elétrica e controle da solução nutritiva

(FAQUIN, 1996).

2.5.2 Sistema NFT

Entre as técnicas de cultivo hidropônico a que tem apresentado maior praticidade é

a NFT (Nutrient Film Technique), que traduzido para a língua portuguesa significa

“técnica do filme de nutrientes”. Desenvolvida por Allen Cooper em 1965, esta

técnica se caracteriza pela passagem periódica de uma fina lâmina de solução

nutritiva pelas raízes das plantas, banhando-as e permitindo que elas absorvam os

nutrientes necessários ao seu desenvolvimento (SANTOS et al., 2000). O sistema é

fechado e recirculante, composto basicamente de um tanque de solução nutritiva, de

um sistema de bombeamento, dos canais de cultivo e de um sistema de retorno ao

tanque. A solução nutritiva passa pelas raízes de modo que a planta possa absorver

a água, os nutrientes e o oxigênio de que necessita e retornando para o tanque por

gravidade. Esse procedimento é controlado por um temporizador, funcionando

Page 27: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

24

intermitentemente por 10 ou 15 minutos, parando também 10 a 15 minutos,

permitindo a oxigenação do sistema radicular (MAGALHÃES, 2006).

É a técnica mais utilizada pelos hidroponicultores por apresentar certas vantagens

como: menor gasto de mão de obra com limpezas, principalmente quando não utiliza

substrato na produção das mudas; possibilita o fornecimento adequado de nutrientes

sem a necessidade de substratos; menor custo de implantação; possibilidade de

modificações para se ajustar à cultura; permite acompanhamento bem facilitado do

sistema radicular, além de permitir a injeção de possíveis substâncias reguladoras

de crescimento e fungicidas via solução nutritiva quando necessário (COMETTI,

2003).

2.6 CULTIVO DE ALFACE HIDROPÔNICO EM AMBIENTES DE CLIMA

TROPICAL

O clima predominante no Brasil é o tropical. A predominância de altitudes mais

baixas ao longo do território acarretam temperaturas mais elevadas, com médias

superiores a 20 ºC durante todo o ano (INMET, 2012).

Até o início da década de 80, o cultivo da alface no Brasil era restrito às regiões de

clima ameno, próximas aos grandes centros urbanos, as quais possibilitavam o

cultivo durante todo ano (BRANCO, 2001).

No cultivo hidropônico, as condições climáticas podem afetar a produção de mudas

e o desenvolvimento da planta (MAGALHÃES, 2006). Muitos fatores que afetam a

produtividade da cultura estão diretamente relacionados com o clima. Geralmente,

no verão, a maioria das cultivares de alface não se desenvolve bem, devido ao calor

intenso e dias longos. Essas condições favorecem o pendoamento precoce,

tornando as folhas leitosas e amargas, perdendo seu valor comercial (FILGUEIRA,

2003). No entanto, já existe no mercado cultivares mais adaptadas aos plantios de

verão, graças ao melhoramento genético realizado. Tais cultivares permitem a

produção durante o ano inteiro.

Segundo Vieira e Cury (1997), a temperatura do ar é o elemento climático que

exerce maior influência nos processos fisiológicos das plantas de alface, podendo

acelerar ou retardar as reações metabólicas, sob condição de temperatura ótima ou

Page 28: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

25

inferior a esta, respectivamente. Para todas as cultivares de alface, a ocorrência de

dias curtos e temperaturas amenas favorece a etapa vegetativa (FILGUEIRA, 2003).

Como a alface é uma espécie de clima temperado, a temperatura é o fator ambiental

que mais influencia a formação de folhas e de cabeças de qualidade (WHITAKER &

RYDER, 1974). As temperaturas ideais para produção de qualidade se situam em

torno de 12 a 22 °C (COCK et al., 2002; FILGUEIRA, 2003), sendo que temperaturas

superiores a 22 ºC favorecem o florescimento precoce, antecipando a colheita

(MOTA et al., 2003). O pendoamento precoce provoca o alongamento do caule,

reduz o número de folhas, afeta a formação da cabeça comercial e estimula a

produção de látex, o que torna o sabor da folha amargo (COCK et al., 2002),

resultando na colheita de plantas ainda pequenas, com menor peso e número de

folhas, de má qualidade, não expressando portanto o seu máximo potencial genético

(SANTANA et al., 2005).

A umidade relativa do ar pode afetar a transpiração, e, como consequência, causar

mudanças na condutância estomática, afetando as interações com a fotossíntese e

a produção de matéria seca e o índice de área foliar (JOLLIET, 1994).

A alface é uma planta que se adapta às condições de baixo fluxo de energia

radiante, pelo fato da intensidade de luz afetar diretamente o crescimento e

desenvolvimento das plantas. Quando se conduz uma cultura dentro de uma

variação ótima de luminosidade com outros fatores favoráveis, a fotossíntese é

elevada, a respiração é normal e a quantidade de matéria seca acumulada é

alta (BEZERRA NETO et al., 2005). Segundo Ramos (1995), o uso de telas de

sombreamento e de cultivares adequadas às condições de temperatura e

luminosidade elevadas no desenvolvimento da alface pode contribuir para diminuir

os efeitos extremos da radiação, promovendo uma planta vigorosa e de boa

qualidade. Melém et al. (1999) obtiveram baixa produção em número de folhas por

planta e massa fresca da parte aérea para a cultivar Great Lakes devido às altas

temperaturas da região de Macapá (AP), no período da condução do experimento.

A intensidade luminosa também influencia no acúmulo de nitrato pelas plantas. Esse

acúmulo ocorre quando as plantas são submetidas à baixa intensidade luminosa

(OHSE, 2000). Devido às boas condições ambientais do Brasil, em que há muita

radiação solar, para uma boa assimilação de nitrato, este não se acumula em níveis

elevados nas plantas, que ficam bem abaixo dos preconizados pelas leis européias,

Page 29: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

26

porém ainda existem poucos estudos que confirmem a baixa absorção, o que gera

preocupação por parte dos consumidores de produtos hidropônicos. Galon et al.

(2010), avaliando o efeito da redução no fluxo de fótons fotossintéticos (FFF) sobre

características agronômicas e acúmulo de nitrato em plantas de alface cultivadas em

vasos hidropônicos, observaram que, apesar de baixos níveis de FFF causarem

acúmulo de nitrato, não houve acúmulo acima dos parâmetros estabelecidos pela

União Européia como seguros para a alimentação humana.

O fotoperíodo também afeta a cultura da alface, pois esta exige dias curtos para se

manter na fase vegetativa e dias longos para que ocorra o pendoamento

(ROBINSON et al., 1983). Sabe-se que os valores críticos, para temperatura e

fotoperíodo, variam amplamente entre as diferentes cultivares. Waycott (1995),

trabalhando com diferentes genótipos de alface, condições fotoperiódicas e

temperaturas, verificou que a temperatura isoladamente não é suficiente para induzir

o pendoamento, ao contrário do fotoperíodo. Concluiu também que existe uma série

de respostas genéticas para vários comprimentos de dia entre genótipos de alface.

Um dos principais problemas enfrentados pelos produtores de alface, tanto de

sistema hidropônico como convencional, é o aparecimento do tipburn ou “queima de

bordas”, distúrbio fisiológico ocasionado pela deficiência localizada de cálcio

(COLLIER & TIBBITTS, 1982), mesmo estando em níveis adequados no solo ou

solução nutritiva. A principal função do cálcio na planta é manter a integridade da

parede celular (MALAVOLTA, 1980) e o seu fornecimento inadequado é

caracterizado pelo surgimento de necrose, principalmente nas extremidades das

folhas em desenvolvimento (COLLIER & TIBBITTS, 1982). Na planta, o cálcio move-

se com a água, sendo sua translocação e seu teor nos tecidos sujeitos à taxa de

transpiração (COLLIER & HUNTINGTON, 1983). Uma vez depositado, não

apresenta redistribuição para outras partes da planta, sendo acumulado

principalmente em tecidos que transpiram mais facilmente (MILLAWAY &

WIERSHOLM, 1979). Nos órgãos que apresentam dificuldade para transpirar, como

as folhas novas e internas da alface, o transporte do cálcio é dependente das

condições ambientais que favoreçam o desenvolvimento da pressão radicular

(BRADFIELD & GUTTRIDGE, 1984), ou seja, a necessidade de um ambiente

adequado quanto aos níveis de umidade relativa do ar e ventilação é fundamental

para o controle do tipburn.

Page 30: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

27

2.7 COMPORTAMENTO DE CULTIVARES DE ALFACE EM FUNÇÃO DO CLIMA

Apesar das mudanças micrometeorológicas que ocorrem em condições de cultivo

protegido ser responsáveis pelo bom desempenho das culturas (FARIAS, 1991),

nem todas as cultivares se adaptam a esta modalidade. Segundo Sanches (2007), a

existência de inúmeras cultivares de alface no mercado de sementes no Brasil e o

frequente lançamento e introdução de novas cultivares com comportamentos

desconhecidos, torna necessária a avaliação desses materiais em diversos locais e

ambientes de cultivo.

Muitos trabalhos relacionados a esse tema têm sido conduzidos nos Estados de São

Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul (SILVA et al.,1999; CASAROLI et al.,

2003; LOPES et al., 2003), que contam com clima ameno, cujo comportamento das

cultivares de alface diferencia-se das regiões de clima quente. Nessas regiões, as

cultivares estiolam com frequência, apresentam um ciclo mais precoce e com rápido

pendoamento, mostram sintomas de queima de bordas e desenvolvem

características de sabor amargo em função dos compostos derivados do

metabolismo secundário, expressos em condições de estresse ambiental.

Segundo Figueiredo et al. (2004), a cultura da alface não possui uma rede de

ensaios de competições de cultivares que envolva locais, épocas e anos de plantio

diversificados.

Collicchio, Silveira & Gonçalves (1993) estudaram o comportamento de quatro

cultivares de alface sob túnel alto de plástico, em clima quente e semiúmido do

cerrado, no Estado do Tocantins, no período de janeiro a março de 1991.

Observaram que as cultivares Babá de verão, Vitória de Santo Antão e Crespa

Grand Rapids Nacional apresentaram um ciclo de 50 dias para a colheita, boa

produtividade e qualidade. Mesmo em condições climáticas mais favoráveis para o

cultivo, as variações de produtividade serão grandes.

Silva, Leal & Maluf (1999), avaliando cultivares de alface sob altas temperaturas em

cultivo protegido em três épocas de plantio na região norte-fluminense de quatro

cultivares comerciais de alface, concluíram que as cultivares Vitória e Elisa podem

ser recomendadas para plantio em cultivo naquela região, quaisquer que sejam as

épocas de cultivo.

Page 31: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

28

Sediyama et al. (2009), avaliando o desempenho de cultivares de alface para cultivo

hidropônico no verão e no inverno, obtiveram como cultivares mais promissoras para

o cultivo de verão: Iara, Lorca, Lucy Brown, Brisa, Itapuã, Marisa, Vera, Brasil 303,

Monalisa e Regina 440, e para o cultivo de inverno: Iara, Ogr, Tainá, Brisa, Elba,

Grand Rapids, Hanson, Itapuã, Marisa, Carolina, Floresta e Lívia.

2.8 REFERÊNCIAS

BEZERRA NETO, F. et al. Produtividade de alface em função de condições de sombreamento e temperatura e luminosidade elevadas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 23, n. 1, p. 133-137, 2005.

BLISKA JÚNIOR; A. Alface (Lactuca sativa L.): distintos sistemas de produção, conservação e avaliação pós-colheita. 1998. 103 f. Dissertação (Mestrado)- Programa de Pós-Graduação Faculdade de Engenharia Agrícola, UNICAMP, Campinas, 1998.

BOAS, R.L.V. et al. Efeito de doses e tipos de composto orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, p.28-34, 2004.

BRADFIELD, E.G.; GUTTRIDGE, C.G. Effects of night-time humidity and nutrient solution concentration on the calcium content of tomato fruit. Scientia Horticulturae, v. 22 , p. 207-217, 1984.

BRANCO, R.B.F. Avaliação de cultivares e épocas de cultivo de alface nas condições de solo e hidroponia, em ambiente protegido. 2001. 80f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2001.

CASAROLI, D. et al. Desempenho de onze cultivares de alface em duas formas diferentes de canais de cultivo, no sistema hidropônico. Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia, Uruguaiana, v. 10, p. 114-123, 2003.

CEASA/ES. Centrais de Abastecimento do Espírito Santo S.A. Preços e ofertas 2009. Disponível em <www.ceasa.es.gov.br/ ?cat=5>. Acesso em 15 nov. 2011.

COCK, W.R.S. et al. Biometrical analysis of phosphorus use efficiency in lettuce cultivars adapted to high temperatures. Euphytica, Wagenigen, v.126, p.299-308, 2002.

COLLICCHIO, E.; SILVEIRA, M.A. da, GONÇALVES, P.R. Comportamento de quatro cultivares de alface sob túnel alto de plástico no estado do Tocantins. In: CONGRESSO DA PÓS-GRADUAÇÃO NA ESAL, 6, Lavras, 1993. Anais... Lavras: Associação de pós-graduação/ Coordenadoria de pós-graduação, p.107-108, 1993.

Page 32: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

29

COLLIER, G.F.; HUNTINGTON, V.C. The relationship between leaf growth, calcium accumulation and distribution, and tipburn development in field-grown butterhead lettuce. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v. 21, p. 123-128, 1983.

COLLIER, G.F.; TIBBITTS, T.W. Tipburn of lettuce. Horticultural Reviews, v. 4, p. 49-65, 1982.

COMETTI, N.N. Nutrição mineral da alface (Lactuca sativa L.) em cultura hidropônica – sistema NFT. 2003. 128f. Tese (Doutorado em Ciência do Solo) – Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2003.

COSTA, C. P.; SALA, F. C. A evolução da alfacicultura brasileira. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 23, n. 1, 2005. Artigo de capa.

DE VRIES, I.M. Origin and domestication of Lactuca sativa L. Genetic Resources and Crop Evolution, v.44, p.165-174, 1997.

DOUGLAS J. S. Hidroponia: cultura sem terra. 6.ed. São Paulo: Nobel 1987.

ESPÍRITO SANTO (Estado). Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura: novo PEDEAG 2007-2025/ Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca. Vitória: SEAG, 2008.

FAQUIN, V.; FURTINI NETO, A.E.; VILELA, L.A.A. Produção de alface em hidroponia. Lavras: UFLA, 1996. Porto Alegre: UFRGS, 177p. (Tese Doutorado), 1991.

FARIAS, J.R.B. Respostas do feijão-de-vagem à disponibilidade hídrica associada a alterações micrometeorológicas em estufa plástica. 1991. 177f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1991.

FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 3.ed, Viçosa-MG: UFV, 421p., 2008.

FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 2.ed, Viçosa, UFV, 412p., 2003.

FILGUEIRA, F.A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa-MG: UFV, 402 p., 2000.

FIGUEIREDO, E.B.; MALHEIROS, E.B.; BRAZ, L.T. Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p.66-71, 2004.

GALON, K. et al. Influência do fluxo de fótons fotossintéticos sobre características agronômicas e acúmulo de nitrato em plantas de alface cultivadas em hidroponia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 50. Anais... Guarapari: ABH, 2010.

Page 33: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

30

GRAVES, C.J. The nutrient film technique. In: JANICK, J., (ed.) Horticultural Reviews. Westport, v. 5, cap. 1, p.1-44, 1983.

HENZ, G.P.; SUINAGA, F. Tipos de Alface cultivados no Brasil. Brasília: Embrapa Hortaliças, 7p. (Circular Técnica, 75), 2009.

INMET. Instituto Nacional de Meteorologia. Dados Gerais de Temperatura - INMEP Online. Disponível em <www.inmet.gov/temperatura>. Acesso em 14 nov. 2011.

JENSEN, M.H. Principales sistemas hidropónicos: principios, ventajas y desventajas. In: CONFERENCIA INTERNATIONAL DE HIDROPONIA COMERCIAL, Lima, 1997. Anais... Lima: UNALM, p.35-48, 1997.

JENSEN, M.H.; COLLINS, W.L. Hydroponic vegetable production. In: JANICK, J. (ed.) Horticultural Reviews, Westport, v. 7, cap. 10, p.483-558, 1985.

JOLLIET, O. Hortitrans, a model for predicting and optimizing humidity and transpiration in greenhouses. Journal of Agricultural Engineening Resouces, [S.l.], v.58, p.23-37, 1994.

LÉDO, F. J. S.; SOUSA, J. A.; SILVA, M. R. Desempenho de cultivares de alface no Estado do Acre. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, p. 225-228, 2000.

LOPES, M. C. et al. Acúmulo de nutrientes por cultivares de alface em cultivo hidropônico no inverno. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 2, p. 211-215, 2003.

MAGALHÃES, A. G. Caracterização de genótipos de alface (Lactuca sativa L.) em cultivo hidropônico sob diferentes valores de condutividade elétrica da solução nutritiva. 2006. 95f. Dissertação ( Mestrado em Melhoramento de Plantas) – Programa de Pós-Graduação em Melhoramento Genético de Plantas – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2006.

MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1980.

MELÉM JR, N.J.; ALVES, R.M.M.; GOES, A.C.P. Produção de alface em função da época de cultivo em Macapá/ AP. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 39., 1999, Tubarão. Anais... Tubarão: SOB, 1999.

MILLAWAY, R.M.; WIERSHOLM, L. Calcium and metabolic disorders. Communications in Soil Science and Plant Analysis, v. 10, n. 1-2, p. 1-28, 1979.

MOTA, J.H. et al. Avaliação de cultivares de alface americana durante o verão em Santana da Vargem, MG. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, p. 234-237, 2003.

NAGAI, H.; LISBÃO, R.S. Observação sobre resistência ao calor em alface (Lactuca sativa L.). Revista de Olericultura, Campinas. v.18, p.7-13, 1980.

OHSE, S. Qualidade nutricional e acúmulo de nitrato em alface hidropônica. In: SANTOS, O. (ed). Hidroponia da alface. Santa Maria:UFSM, p.10-24, 2000.

Page 34: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

31

PONTES, A. Mercado de sementes de hortaliças no Brasil. In: CURSO SOBRE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE SEMENTES DE HORTALIÇAS, 6., 2006, Brasília. Palestras... Brasília: Embrapa Hortaliças, 2006. CD-ROM.

RAMOS, J. E. L. Sombreamento e tipos de recipientes na formação de mudas e produção em alface. 53f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia), Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Mossoró, 1995.

RESH, H.M. Hydroponic food production. California: Woodbridge Press Publishing Company, 1985.

RESH, H.M. Hydroponic food production. 5 ed, Califórnia: Woodbridge Press Publishing Company, 1996.

ROBINSON, R.W.; Mc CREIGT, J.D.; RYDER, J.E.; The genes of lettuce and closely related species. In: JANICK, J. Ed. Plant Breeding Reviews. Westport: AVI, v.1, 397p., 1983.

RODRIGUES, I.N. et al. . Avaliação de cultivares de alface crespa para a região de Manaus. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 47. Resumos... Porto Seguro: ABH, 2007. (CD–ROM).

RYDER, J.E. Lettuce breeding. In: BREEDING VEGETABLES CROPS. Westport, Connecticut: The AVI Publishing Company, p. 433-474, 1986.

SAKATE, R.K., ECHER, M.M.; PAVAN, M.A. Baixa produção. Cultivar HF, Pelotas, v.15, p.13-14, 2004.

SALA F. C.; COSTA, C. P. ‘Gloriosa’: cultivar de alface americana tropicalizada. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 26, p. 409-410, 2008.

SALA, F. C.; COSTA, C. P. PiraRoxa: cultivar de alface crespa de cor vermelha intensa. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 23, n. 1, p.158-159, 2005.

SANCHES, S. V. Avaliação de cultivares de alface crespa produzidas em hidroponia tipo NFT em dois ambientes protegidos em Ribeirão Preto (SP). 2007, 63f. Dissertação (Mestrado em Agronomia). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, 2007.

SANTANA, C.V.S. et al. Influência do sombreamento na produção de alface nas condições climáticas do semi-árido nordestino. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 45. Resumos... Fortaleza: SOB (CD-ROM), 2005.

SANTOS, O. et al. Cultivo sem Solo: hidroponia. Santa Maria, CCR/UFSM, 107 p. (caderno didático n° 01), 2000.

SEDIYAMA, M.A. et al. Desempenho de cultivares de alface para cultivo hidropônico no verão e no inverno. Científica, Botucatu, v. 37, p. 98-106, 2009.

SGANZERLA, F. Nova agricultura: a fascinante arte de cultivar com os plásticos. 2 ed. Porto Alegre: Petroquímica Triunfo, 1991.

Page 35: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

32

SGARBIERI, V.C. Alimentação e nutrição: fator de saúde e desenvolvimento. Anais... Porto Alegre/RS, resumo 37, p.93. 1987.

SILVA, E.C.da; LEAL, N.R.; MALUF, W.R. Avaliação de cultivares de alface sob altas temperaturas em cultivo protegido em três épocas de plantio na região norte-fluminense. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.23, n.3, p.491-499, 1999.

SOUSA, C.S. et al. Divergência genética entre genótipos de alface por meio de marcadores AFLP. Bragantia, Campinas, v.66, p.11-16, 2007.

SOUZA, J.A. de et al. Instruções práticas para construção de estufas “modelo Ana Dias”. Lavras, UFLA, 22p., (Circular Técnica, 17), 1994.

TEIXEIRA, N.T. Hidroponia: uma alternativa para pequenas áreas. Agropecuária, Guaíba, 1996.

VIEIRA, V.C.R.; CURY, D.M.L. Graus-dias na cultura do arroz. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA. Piracicaba-SP, 1997, Anais… Piracicaba, p.47-49, 1997.

WAYCOTT, W. Photoperiodic response of genetically diverse lettuce accessions. Journal of American Society for Horticultural Science, Mount, v.120, n.3, p.460-467, 1995.

WHITAKER TW; RYDER EJ. Lettuce production in the United States. Agriculture HandBook, 1974.

YURI, J.E. et al. Comportamento de cultivares e linhagens de alface Americana em Santana da Vargem (MG), nas condições de inverno. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, p.322-325, 2004.

Page 36: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

33

Capítulo 1

3 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE ALFACE EM CULTIVO HIDROPÔNICO EM AMBIENTE TROPICAL

3.1 RESUMO

O frequente lançamento e introdução de novas cultivares de alface no Brasil, com

desempenhos desconhecidos para o Estado do Espírito Santo, torna necessário a

avaliação desses materiais em diversos locais e ambientes de cultivo. O objetivo

deste trabalho foi avaliar o desempenho de cultivares de alface, cultivadas em

hidroponia em ambiente tropical. Instalou-se um experimento em DIC, com quatro

cultivares de alface, sendo duas lisas: Babá de Verão, Vitória de Santo Antão; e

duas do tipo mimosa: Salad Bowl e Rubi, em quatro repetições, com 12 plantas por

repetição. Foram avaliados: massa fresca da parte aérea e da raiz; massa seca da

parte aérea e da raiz; número de folhas; comprimento e diâmetro do caule; volume

de raiz; altura e diâmetro da planta; aspecto visual; e teste de degustação. A cultivar

Salad Bowl é superior em todas as características, exceto para o comprimento do

caule. Recomenda-se, neste caso, a antecipação da colheita para esta cultivar,

evitando o pendoamento precoce. As cultivares Vitória de Santo Antão e Babá de

Verão apresentam bom desempenho, podendo ser recomendadas para o cultivo em

ambiente tropical com a vantagem de apresentar maior resistência ao pendoamento.

Palavras-chave: Lactuca sativa L.. Hidroponia. Comportamento.

3.2 ABSTRACT

Agrononomic performance of four cultivars of hydroponic lettuce in tropical

environment

The frequent launch and introduction of new varieties of lettuce in Brazil, with

performances unknown to the State of Espirito Santo, is necessary to evaluate these

materials in various locations and environmental conditions. The objective of

Page 37: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

34

this study was to evaluate the performance of lettuce cultivars grown in

hydroponics in a tropical environment. It was carried out an experiment completely

randomized with four cultivars of lettuce, two smooth: Babá de Verão, Vitória de

Santo Antão and two types of mimosa, Salad Bowl and Ruby, in four replications with

12 plants per replicate. Were evaluated: fresh weight of shoot and root dry weight of

shoot and root, leaf number, length and stem diameter, root volume, height and

diameter of the plant, look and tasting. The Salad Bowl cultivar was superior in all

characteristics, except for the stem length. It is recommended, in this case,

the anticipation of the crop for this cultivar, avoiding bolting. Cultivars Vitória de

Santo Antão and Babá de Verão had good performance and can be

recommended for cultivation in a tropical environment with the advantage of

increased resistance to bolting.

Key words: Lactuca sativa L. Hydroponics. Behavior.

3.3 INTRODUÇÃO

A alface é a hortaliça folhosa de maior importância no Brasil, com uma área plantada

estimada em aproximadamente 35 mil hectares. Em Hidroponia, é a espécie mais

cultivada, principalmente através da técnica do NFT - Nutrient Film Technique ou

fluxo laminar de nutrientes (GALON et al., 2011), ocupando aproximadamente 1000

hectares. Com o desenvolvimento da plasticultura nacional, o cultivo de hortaliças

em estufas tem sido muito difundido (CUPPINI et al., 2010). A hidroponia, como

alternativa de cultivo protegido, ganha espaço, principalmente próximo aos grandes

centros consumidores, permitindo a oferta regular e a produção intensiva.

O sucesso do cultivo hidropônico da alface vem da escolha correta da cultivar,

levando em consideração o tipo mais aceito pelo mercado consumidor, a capacidade

de adaptação às condições locais de clima, a produtividade, a qualidade, o manejo

da cultura, o ciclo, a resistência a pragas/doenças e ao pendoamento precoce

(SCHMIDT & SANTOS, 2000). No mercado, já estão disponíveis algumas cultivares

recomendadas para hidroponia (SANTOS et al., 2000). Ainda assim, muitos

produtores têm escolhido cultivares sem qualquer embasamento científico e

segurança estatística, resultando em prejuízos econômicos. Sediyama et al. (2009)

afirmam que em algumas regiões, a falta de cultivares selecionadas para o cultivo

Page 38: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

35

em ambiente protegido e tolerantes a altas temperaturas tem constituído fator

limitante ao sucesso desta modalidade de cultivo.

A alface caracteriza-se como uma espécie de clima temperado, sendo a temperatura

o fator ambiental que mais influencia a formação de folhas e de cabeças de

qualidade (SOUZA et al., 2008). As temperaturas ideais para uma produção de

qualidade estão em torno de 12 a 22 °C (FILGUEIRA, 2003; COCK et al., 2002),

sendo que temperaturas superiores a 22 ºC favorecem o florescimento precoce,

antecipando a colheita (MOTA et al., 2003). Entretanto, Frantz et al. (2004)

mostraram que a alface alcança o máximo crescimento na temperatura diurna de 30

oC em condições controladas. A temperatura alta, por sua vez, leva ao pendoamento

precoce, provoca o alongamento do caule, reduz o tamanho das folhas, afeta a

formação da cabeça comercial e estimula a produção de látex, o que torna o sabor

da folha amargo (COCK et al., 2002). Quando se conduz uma cultura dentro de uma

variação ótima de luminosidade com outros fatores favoráveis, a fotossíntese é

elevada, a respiração é normal e a quantidade de matéria seca acumulada é

alta (BEZERRA NETO et al., 2005).

Nas condições climáticas brasileiras, consideradas tropicais e subtropicais, onde o

cultivo de hortaliças é possível durante o ano todo, o aquecimento demasiado do

ambiente protegido pode causar problemas no cultivo das plantas (SOUSA NETO et

al, 2010). Assim, são necessários estudos que levem em consideração as variáveis

de temperatura, luminosidade e umidade relativa do ar, a fim de avaliar o

crescimento, a produtividade e a qualidade da alface produzida em situações

ambientais adversas.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de quatro cultivares de alface,

cultivadas em hidroponia, em ambiente tropical.

3.4 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em casa de vegetação, no setor de Horticultura do Instituto

Federal do Espírito Santo – Campus Itapina, município de Colatina, na região

noroeste do Espírito Santo, nos meses de março e abril de 2011. Na região,

predomina o clima tropical seco do tipo Aw, com altitude de 70 m, latitude 19º 30' sul

e longitude 40º 20' oeste. Quatro cultivares de alface foram utilizadas, sendo duas

Page 39: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

36

do grupo lisa: Babá de Verão e Vitória de Santo Antão, e duas do grupo mimosa:

Salad Bowl e Rubi, em quatro repetições, com 12 plantas em cada repetição. A

semeadura foi realizada em espuma fenólica (lavada em água corrente por 24 h),

irrigada por 5 dias com água pura, quando as células foram destacadas e

transplantadas para o berçário. Aos 21 dias após a semeadura (DAS), as mudas

foram transplantadas para as bancadas experimentais. Os tratamentos e as

repetições foram distribuídos aleatoriamente em 2 bancadas de produção. As

plantas foram cultivadas no sistema NFT (Nutrient Film Technique, traduzido para o

português como fluxo laminar de nutrientes). O sistema é fechado, composto

basicamente de um tanque de solução nutritiva, de um sistema de bombeamento,

dos canais de cultivo e de um sistema de retorno ao tanque. A solução nutritiva

passa pelas raízes na forma de lâmina, de modo que a planta possa absorver a

água, os nutrientes e o oxigênio de que necessita e retornando para o tanque por

gravidade.

A solução nutritiva utilizada foi a solução padrão do IFES-Campus Itapina, adaptada

de Cometti et al. (2006), na CE= 1,2 dS m-1, com a seguinte composição (mg L-1) de

nutrientes: N-NO3- = 105,6; N-NH4

+ = 12,3; P = 29; K = 184; S-SO42- = 29; Ca = 56;

Mg = 21; Fe = 1,8; Mn = 0,65; B = 0,26; Zn = 0,07; Cu = 0,04; e Mo = 0,03, divididas

em solução A, B e M. Solução A para 1 L de solução concentrada: 170 g de nitrato

de potássio, 37,5 g de MAP; e 75 g de sulfato de magnésio. Solução B para 1 L de

solução concentrada: 110 g de nitrato de cálcio. Solução M para 1 L de solução

concentrada: 100 g de quelato de ferro; 16 g de sulfato de manganês; 2,5 g de ácido

bórico; 2 g de sulfato de zinco; 1 g de sulfato de cobre; e 0,4 g de molibdato de

sódio. A partir destas soluções concentradas, foi preparada a solução utilizada

durante o experimento. Foram feitas correções diárias da concentração da solução

por reposição com soluções estoques, a partir da leitura de condutividade elétrica

com condutivímetro (Hanna, modelo HI 98130).

Durante o experimento, foram monitorados o fluxo de fótons fotossintéticos (FFF) e a

temperatura da solução nutritiva, em três horários, às 9 h, 12 h e 15 h, medidos com

intervalo de dois dias a partir do transplante das mudas para as bancadas

experimentais. A temperatura da solução nutritiva (Figura 1) foi medida com

termômetro digital infravermelho (Ad Therm Kids, Brasbaby, modelo AD00023) e o

FFF dentro e fora da estufa foi medido através de radiômetro (Quantum meter,

Page 40: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

37

Apogee Instruments Inc., modelo QMSW, serial 1088), mostrados na Tabela 1. A

temperatura do ar (Figura 1) também foi medida, através de termístor e armazenada

em datalogger da marca Campbel Scientific modelo CR206.

Tabela 1 - Valores médios de fluxo de fótons fotossintéticos, em µmol m-2 s-1, dentro e fora da estufa. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011

HORA FFF

Interno

FFF

Externo

------------------ µmol m-2 s-1-----------------

9:00 639,70 1344,58

12:00 886,00 1643,92

15:00 740,10 1405,25

Média* 755,25 1464,58

Hora

0 5 10 15 20

Te

mp

era

tura

ºC

18

20

22

24

26

28

30

32

Temperatura do ar

Temperatura da solução

Figura 1 - Valores médios de temperatura do ar e temperatura da solução nutritiva observados durante o experimento. IFES Campus Itapina, Espírito Santo, 2011.

A coleta das plantas para a avaliação foi realizada aos quarenta e quatro dias após a

semeadura (DAS). As plantas foram separadas em raiz e parte aérea,

determinando-se: massa fresca da parte aérea e raiz, massa seca da parte aérea e

Page 41: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

38

raiz, número de folhas, comprimento e diâmetro do caule, volume de raiz, altura e

diâmetro da planta. Para a avaliação das massas frescas e secas foi utilizada

balança de precisão, para diâmetro e comprimento do caule foi utilizado paquímetro

digital e para a determinação do volume de raiz foi utilizada proveta de vidro com

água. Antes da coleta das plantas, foram realizados avaliação do aspecto visual de

cada cultivar e teste de degustação para avaliar as características organolépticas

das cultivares. Para a avaliação visual foram considerados aspectos como: relação

altura X diâmetro da planta, uniformidade entre as plantas da mesma parcela, cor

das folhas e nível de pendoamento e ataque de pragas/doenças. As avaliações para

aspecto visual foram feitas de acordo com uma escala (classificadas em excelente,

muito bom, bom, ruim e muito ruim). Para o teste de degustação foi aplicado um

teste com escala hedônica, no qual foram atribuídos valores crescentes de 1 a 9 às

classificações: desgostei extremamente, desgostei muito, desgostei

moderadamente, desgostei ligeiramente, indiferente, gostei ligeiramente, gostei

moderadamente, gostei muito e gostei extremamente, respectivamente. As

respostas foram avaliadas em termos de porcentagem de opção para cada cultivar.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, a análise

estatística dos dados realizada por meio de ANOVA e a comparação de médias pelo

teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa SigmaStat 2.0®. As

figuras foram elaboradas no programa SigmaPlot 8.0®.

3.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o experimento, a temperatura do ar manteve-se sempre acima dos 20 ºC. A

temperatura da solução nutritiva não ultrapassou 28 ºC, conforme a Figura 1, e o

FFF variou de 639,70 a 886,00 µmol m-2 s-1 dentro da estufa e de 1344,58 a 1643,92

µmol m-2 s-1 fora da estufa (Tabela 1), valores considerados altos para o

desenvolvimento das plantas de alface, que se desenvolvem bem a uma média de

400 a 700 µmol m-2 s-1 ao longo do dia. A análise de variância mostrou que há

diferença significativa entre as cultivares para todas as variáveis avaliadas. Para a

variável massa fresca de parte aérea (Figura 2a), as cultivares Salad Bowl (136,2 g)

e Vitória de Santo Antão (121,2 g) são superiores. A cultivar Rubi (34,8 g) apresenta

o pior resultado. A cultivar Rubi tem como característica a sua coloração. Possui

Page 42: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

39

pigmentos de antocianina que conferem às folhas uma coloração avermelhada, o

que retarda o crescimento das plantas. Vaz e Junqueira (1998) não observaram

diferença quanto à massa fresca da planta entre as cultivares Tainá (grupo

americana), Verônica (grupo crespa) e Elisa (grupo lisa) em cultivo hidropônico.

Segundo Luz et al. (2010), em termos de produção hidropônica, a variável mais

importante é a massa fresca da planta, já que plantas com maior massa tendem a

apresentar maior altura e melhor aspecto comercial. A cultivar mimosa Salad Bowl

(29,3 g) é superior às demais cultivares em relação à massa fresca da raiz (Figura

2b). Resultado semelhante foi obtido por Andrade et al. (2010), que avaliaram o

desempenho de dez cultivares de alface em ambiente tropical e concluíram que a

Salad Bowl foi a que apresentou maior massa fresca de raiz, seguida da Rainha de

Maio e Crespa Roxa, diferenciando-se estatisticamente apenas de Vitória de Santo

Antão, Vera e Hanson (repolhuda), indicando que a cultivar Salad Bowl tende a

particionar mais carbono nas raízes do que na área foliar se comparada com outras

cultivares.

Em relação à produção de massa seca, há diferença significativa para a parte aérea

e raiz. As cultivares Salad Bowl (6,75 g), Vitória de Santo Antão (6,0 g) e Babá de

Verão (5,68 g) foram estatisticamente semelhantes e superiores a cultivar Rubi (1,86

g) para a variável massa seca de parte aérea (Figura 2c). Para a massa seca de raiz

Salad Bowl (1,47 g) e Vitória de Santo Antão (1,27 g) são estatisticamente

semelhantes e superiores à cultivar Rubi (0,49 g), conforme mostrado na Figura 2d.

Sediyama et al. (2009), avaliando o desempenho de 17 cultivares de alface em

cultivo de verão, encontraram valor de massa seca de raiz superior às demais para a

cultivar Salad Bowl, resultado semelhante ao encontrado neste experimento.

Page 43: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

40

MF

PA

(g)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

MF

R (

g)

0

5

10

15

20

25

30

35

Tratamentos

Bab

á de

Ver

ão

Vitó

ria S

. Ant

ão

Salad

Bow

l

Rub

i

MS

PA

(g)

0

2

4

6

Tratamentos

Bab

á de

Ver

ão

Vitó

ria S

. Ant

ão

Salad

Bow

l

Rub

i

MS

R (

g)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

b

ab

a

c

b

b

a

c

aa

a

b

b

ab

a

c

(d)(c)

(b)(a)

Figura 2 - Variáveis morfológicas em cultivares de alface em cultivo hidropônico: (a) massa fresca de parte aérea (MFPA); (b) massa fresca de raiz (MFR); (c) massa seca de parte aérea (MSPA); e (d) massa seca de raiz (MSR). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

Para a característica número de folhas (Figura 3a), as cultivares Babá de Verão

(26,5 folhas), Vitória de Santo Antão (29,0 folhas) e Salad Bowl (25,0 folhas) são

estatisticamente semelhantes, apresentando mais de 14 folhas. Schmidt et al.

(2001), estudando o comportamento de cultivares de alface, verificaram que as

cultivares do tipo lisa apresentaram maior número de folhas que as cultivares do tipo

crespa. Oliveira et al. (2004) afirmam que o número de folhas é uma característica

própria de cada cultivar, sendo que, geralmente, cultivares do grupo lisa apresentam

maior número de folhas em relação aos outros grupos e, geralmente, um grande

número de folhas pequenas.

Page 44: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

41

Em relação às variáveis altura (Figura 3b) e diâmetro de planta (Figura 3c), a cultivar

Rubi apresenta valores inferiores às demais cultivares, 24,4 cm e 22,9 cm,

respectivamente, indicando que esta cultivar não apresentou todo o seu potencial de

produção, não devendo ser recomendada para cultivo em regiões de clima tropical,

ou mesmo que ela deve permanecer por mais tempo nas bancadas de produção.

Não foram constatadas diferenças estatísticas entre as cultivares Babá de Verão,

Vitória de Santo Antão e Salad Bowl, em relação ao diâmetro da planta, a média é

de 31,2 cm, valor inferior ao observado por Fontanétti et al. (2006), no cultivo da

alface Raider com adubação verde (38,50 cm). Esse valor inferior é consequência

do espaçamento menor utilizado em cultivos hidropônicos.

O comprimento do caule das plantas é uma variável muito utilizada para verificar a

resistência das plantas ao pendoamento e tolerância ao calor. Conforme a Figura

3d, a cultivar Salad Bowl é superior à Babá de Verão e à Rubi, mas não supera a

Vitória de Santo Antão. A cultivar Salad Bowl apresenta comprimento de caule de

19,9 cm, sendo considerada fora do padrão aceitável pelo mercado devido ao

aspecto alongado e estiolado. Yuri et al. (2004) afirmam que caules com até 6 cm

seriam os mais adequados para alface. Estes autores também afirmam que caules

de até 9 cm são aceitáveis. Neste experimento, a cultivar Salad Bowl (19,9 cm)

deveria ter a colheita antecipada em relação às outras cultivares, por apresentar

desenvolvimento mais precoce. Segundo Mendonça (2003), temperaturas acima de

20 °C estimulam o pendoamento precoce, que é acentuado à medida que a

temperatura aumenta. Durante o experimento, as temperaturas ficaram acima dos

20 ºC, o que poderia ter provocado também o pendoamento precoce da cultivar

Salad Bowl. Para diâmetro de caule (Figura 3f), as cultivares Vitória de Santo Antão

(15,97 mm) e Babá de Verão (15,91 mm) são estatisticamente semelhantes e

superiores às cultivares Salad Bowl (13,0 mm) e Rubi (9,38 mm).

A cultivar Salad Bowl apresenta volume de raiz 31,16 mL (Figura 3e), superior a

Babá de Verão (24,5 mL), Vitória de Santo Antão (23,67 mL) e Rubi (9,08 mL).

Resultados diferentes foram obtidos por Silva et al. (2005) que estudaram o

crescimento e composição mineral da alface no sistema hidropônico por capilaridade

e não obtiveram diferença de volume radicular entre os tratamentos.

Page 45: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

42

NF

0

5

10

15

20

25

30

35

HP

(cm

)

0

10

20

30

40

DP

(cm

)

0

10

20

30

CC

(cm

)

0

5

10

15

20

Babá

de V

erão

Vitória

S. A

ntão

Salad

Bow

l

Rub

i

VR

(m

L)

0

10

20

30

Babá

de V

erão

Vitória

S. A

ntão

Salad

Bow

l

Rub

i

DC

(m

m)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

a

a

a

b

b

a

b

ab

a

aa

b

b

ab

a

b

b b

a

c

a a

b

c

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 3 - Variáveis morfológicas em cultivares de alface em cultivo hidropônico: (a) Número de folhas (NF); (b) altura da planta (HP); (c) diâmetro da planta (DP); (d) comprimento de caule (CC); (e) volume de raiz (VR); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

Para a avaliação visual (Figura 4), a cultivar que se destaca é a Vitória de Santo

Antão. Mais de 80% dos entrevistados avaliaram a cultivar com aspectos “muito

bom” e “bom”. A cultivar Rubi, na opinião dos entrevistados, apresenta o pior

aspecto. Para o teste de degustação, a cultivar Vitória de Santo Antão também se

Page 46: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

43

mostra superior na opinião dos entrevistados. 80% das notas foram superiores a 7,

sendo que destas, 50% dos entrevistados classificaram como 8, indicando que a

cultivar Vitória de Santo Antão tem boa aceitação. A cultivar Rubi também apresenta

as piores notas. 20% das avaliações classificaram a cultivar com ‘desgostei

moderadamente’ e ‘desgostei muito’, indicando que a cultivar apresenta sabor

desagradável, conforme a Figura 5.

Figura 4 - Avaliação do aspecto visual de cada cultivar. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

0

10

20

30

40

50

60

70

Excelente Muito Bom Bom Ruim Muito Ruim

Babá de Verão

Vitória de Santo Antão

Salad Bowl

Rubi

% d

e ac

eita

ção

0

10

20

30

40

50

60

9 8 7 6 5 4 3 2 1

Babá de Verão

Vitória de Santo Antão

Salad Bowl

Rubi

% d

e ac

eita

ção

Page 47: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

44

Figura 5 - Avaliação do teste de degustação de cada cultivar. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

Resultados semelhantes aos deste experimento foram obtidos por Gualberto et al.

(1999), que avaliaram o desempenho de seis cultivares de alface do grupo lisa

cultivadas no sistema NFT na região de Marília, Estado de São Paulo. Sediyama et

al. (2009) avaliaram o desempenho de 17 cultivares de alface em cultivo de verão na

região de Viçosa-MG e encontraram diferenças significativas em algumas

características avaliadas, como o número de folhas e o comprimento do caule.

Pode-se concluir que a cultivar Salad Bowl apresenta o melhor desempenho, porém

também apresenta valor alto para comprimento do caule. Recomenda-se, neste

caso, a antecipação da colheita para esta cultivar, evitando assim o pendoamento

precoce. As cultivares Vitória de Santo Antão e Babá de Verão também apresentam

bom desempenho, comprovando o que já ocorre em outras regiões, podendo ser

recomendadas para o cultivo em ambiente tropical com a vantagem de apresentar

maior resistência ao pendoamento. A cultivar Rubi apresenta a pior produção,

indicando que em condições de alta temperatura e luminosidade dentro da estufa,

esta cultivar não tem boa adaptação.

3.6 REFERÊNCIAS

ANDRADE L.F. et al. Avaliação de cultivares de alface em cultivo hidropônico em ambiente tropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 50. 2010. Anais... . Guarapari: ABH. p.292-296, 2010.

BEZERRA NETO F. et al. Produtividade de alface em função de condições de sombreamento e temperatura e luminosidade elevadas. Horticultura Brasileira, v.23, p.189-192, 2005.

COCK, W.R.S. et al. Biometrical analysis of phosphorus use efficiency in lettuce cultivars adapted to high temperatures. Euphytica, v. 126, p. 299-308, 2002.

COMETTI, N.N. et al. Soluções Nutritivas: formulação e aplicações. In: MANLIO SF. Nutrição Mineral de Plantas. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, cap. 4, p. 89-114, 2006.

CUPPINI, D. M., ZOTTI, N. C., LEITE, J. A. O. Efeito da irrigação na produção da cultura de alface (Lactuca sativa L.) variedade “pira roxa”, manejada através de “tanque classe a” em ambiente protegido. Perspectiva, v.34, n.127, p. 53-61, 2010.

Page 48: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

45

FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 3.ed, Viçosa, UFV, 412p., 2008.

FONTANÉTTI, A. et al. Adubação verde na produção orgânica de alface americana e repolho. Horticultura Brasileira, v.24, n.2, p.146-150, 2006.

FRANTZ, J. M. et al. Exploring the limits of crop productivity: beyond the limits of tipburn in lettuce. Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 129, n. 3, p. 331-338, 2004.

GALON, K. et al. Desempenho de quatro cultivares de alface (Lactuca sativa L.) em cultivo hidropônico em ambiente tropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. 2011. Anais... . Viçosa: ABH. p.126-131, 2011.

GUALBERTO, R.; RESENDE, F.V.; BRAZ, L.T. Competição de cultivares de alface sob cultivo hidropônico “NFT” em três diferentes espaçamentos. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 2, p.155-158, 1999.

LUZ, J.M.; FAGUNDES, N.S.; SILVA, M.A.D.da. Produção hidropônica de alface dos tipos mimosa e romana em diferentes concentrações de solução nutritiva. Biosci. J., v. 26, n. 2, p. 195-201, 2010.

MENDONÇA I.F. Cultivo hidropônico da alface sob diferentes relações nutricionais. 2003. 75f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2003.

MOTA, J.H. et al. Avaliação de cultivares de alface americana durante o verão em Santana da Vargem, MG. Horticultura Brasileira, Brasília, v.21, p. 234-237, 2003.

OLIVEIRA, E.Q. et al.Desempenho agroeconômico do bicultivo de alface em sistema solteiro e consorciado com cenoura. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.4, p.712-717, 2004.

SANTOS, O. et al. Cultivo sem Solo: hidroponia. Santa Maria, CCR/UFSM, 107 p., 2000. (caderno didático n° 01)

SEDIYAMA, M.A. et al. Desempenho de cultivares de alface para cultivo hidropônico no verão e no inverno. Científica, Jaboticabal, v. 37, p. 98-106, 2009.

SCHMIDT, D. et al. Desempenho de soluções nutritivas e cultivares de alface em hidroponia. Horticultura Brasileira, Brasília, v.19, n.2, p.122- 126, 2001.

SCHMIDT, D.; SANTOS, O. Cultivares de alface. In: SANTOS, O. Hidroponia da alface. Santa Maria: UFSM, 2000. cap. 7, p.72-79.

SILVA, J.O. da et al. Crescimento e composição mineral da alface no sistema hidropônico por capilaridade. Irriga, v.10, p. 146-154, 2005.

SOUZA, M.da C.M. de et al. Variabilidade genética para características agronômicas em progênies de alface tolerantes ao calor. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 26, n.3, p.354-358, 2008.

Page 49: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

46

SOUSA NETO, O.N.de, et al. Produção de alface hidropônica e microclima de ambiente protegido sob malhas termo-refletoras. Revista Caatinga, v. 23, n. 4, p. 84-90, 2010.

VAZ, R. M. R.; JUNQUEIRA, A. M. R. Desempenho de três cultivares de alface em sistema hidropônico. Horticultura Brasileira, Brasília, v.16, p.178-180, 1998.

YURI, J.E. et al. Comportamento de cultivares e linhagens de alface americana em Santana da Vargem (MG), nas condições de inverno. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, p.322-325, 2004.

Page 50: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

47

Capítulo 2

4 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE ALFACE EM CULTIVO

HIDROPÔNICO EM AMBIENTE TROPICAL

4.1 RESUMO

A alface é a hortaliça folhosa mais cultivada em hidroponia, principalmente através

da técnica do NFT. A falta de cultivares recomendadas para o cultivo hidropônico é

uns dos principais problemas enfrentados pelos produtores. O objetivo do presente

trabalho foi avaliar o desempenho de cultivares de alface, cultivadas em hidroponia,

em ambiente tropical. Instalou-se um experimento em DIC, com cinco cultivares de

alface, sendo três do grupo lisa: Vitória de Santo Antão, Aurélia e Maravilha de

Verão, uma do grupo crespa: Grand Rapids e uma do grupo americana: Delícia, em

quatro repetições, com 10 plantas em cada repetição. Foram avaliados: massa

fresca da parte aérea e da raiz; massa seca da parte aérea e da raiz; número de

folhas; comprimento e diâmetro do caule; volume de raiz; altura e diâmetro da

planta; aspecto visual; e teste de degustação. A cultivar Vitória de Santo Antão

apresenta maior produção, melhor aceitação e menor sensibilidade ao pendoamento

precoce, podendo ser recomendada para cultivos hidropônicos em ambiente tropical.

A cultivar Grand Rapids mostra-se muito sensível à luminosidade e temperaturas

altas, apresentando pendoamento precoce.

Palavras-chave: Lactuca sativa L.. Hidroponia. Desempenho.

4.2 ABSTRACT

Agrononomic performance of four cultivars of hydroponic lettuce in tropical

environment

Lettuce is the leafy vegetable most grown in hydroponic culture, mainly through the

technique of NFT. The lack of recommended cultivars for hydroponic

cultivation is one of the main problems faced by producers. The objective of this

Page 51: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

48

study was to evaluate the performance of lettuce cultivars grown in hydroponics, in a

tropical environment. It was carried out an experiment completely randomized with

five varieties of lettuce, three of the smooth group: Vitória de Santo Antão, Aurélia

and Maravilha de Verão, a crisp group of Grand Rapids and the American group:

Delícia, in four replicates, with 10 plants in each repetition. It was evaluated: fresh

weight of shoot and root dry mass of shoot and root, leaf number, length and stem

diameter, root volume, height and diameter of the plant, look and tasteing. The

cultivar Vitória de Santo Antão have a higher production, greater acceptance,

less sensitivity to bolting, and can be recommended for hydroponic crops in tropical

environments. The cultivar Grand Rapids is very sensitive to light and high

temperatures, showing bolting.

Key words: Lactuca sativa L.. Hydroponics. Performance.

4.3 INTRODUÇÃO

A produção de olerícolas sob estruturas de proteção é uma atividade regular em

inúmeros países e em constante crescimento no Brasil. Vida et al. (2004) e Fontes et

al. (2004) afirmam que por meio do cultivo protegido é possível alterar, de modo

acentuado, o ambiente de crescimento e de reprodução das plantas, controlando

parcialmente os efeitos adversos do clima. O cultivo hidropônico é, entre as várias

tecnologias introduzidas no cultivo de hortaliças, o sistema que mais está se

destacando no Brasil, especialmente pela disponibilidade dos produtos em períodos

de entressafra e pela garantia de oferta regular (ZANELLA et al., 2008). Em

Hidroponia, a alface (Lactuca sativa L.) é a hortaliça folhosa mais cultivada,

principalmente através da técnica do NFT - Nutrient Film Technique ou fluxo laminar

de nutrientes (GALON et al., 2011). Esse sistema se destaca, entre outros fatores,

pela praticidade na implantação da cultura, pela limpeza dos produtos colhidos

(ANDRIOLLO et al., 2004), além da redução do ciclo em relação ao cultivo no solo.

A alface é uma espécie de clima temperado e o maior entrave ao cultivo no Brasil

são as temperaturas elevadas, observadas na maioria das regiões brasileiras.

Temperaturas acima de 20 ºC provocam o pendoamento precoce da alface, o qual é

acentuado à medida que a temperatura sobe e os dias tornam-se mais longos.

Page 52: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

49

A análise sensorial é uma importante ferramenta utilizada para avaliar a qualidade

e/ou aparência externa das hortaliças. Para muitos autores, a análise sensorial é

uma forma rápida e criteriosa de verificar os atributos dos alimentos, usando os

sentidos da visão, olfato, tato e gustação. Para Bernardi et al. (2005), a análise

sensorial constitui-se numa ferramenta adequada para avaliar a qualidade da alface,

levando-se em conta que qualidade é o somatório de todas as características

combinadas e que equivale a uma hortaliça com valor nutritivo aceitável e desejável

para um alimento humano.

Silva et al. (1999) afirmam que os genótipos utilizados no desenvolvimento de

pesquisas têm sido os disponíveis no mercado e utilizados normalmente pelos

produtores em seus plantios comerciais. Os vários ensaios de desempenho de

cultivares realizados sob diferentes situações têm demonstrado uma considerável

diversidade de comportamento, indicando uma significância para a interação

genótipo x ambiente.

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho de cinco cultivares de

alface cultivadas em hidroponia, em ambiente tropical.

4.4 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado nos meses de abril a junho de 2011, em casa de vegetação,

no Setor de Horticultura do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Itapina,

município de Colatina, na região noroeste do Espírito Santo. Foram utilizadas cinco

cultivares de alface, sendo três do grupo lisa: Vitória de Santo Antão, Aurélia e

Maravilha de Verão, uma do grupo crespa: Grand Rapids e uma do grupo

americana: Delícia, em quatro repetições, com 10 plantas em cada repetição. A

semeadura foi realizada em espuma fenólica (lavada em água corrente por 24 h),

irrigada por 5 dias com água pura, quando as células foram destacadas e

transplantadas para o berçário. Aos 21 dias após a semeadura (DAS), as mudas

foram transplantadas para as bancadas experimentais. Foram utilizadas 2 bancadas

de cultivo onde foram distribuídos, aleatoriamente, os tratamentos e as repetições.

As plantas foram cultivadas no sistema NFT (Nutrient Film Technique, traduzido para

o português como fluxo laminar da solução nutritiva). O sistema é composto

basicamente de um tanque de solução nutritiva, de um sistema de bombeamento,

Page 53: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

50

dos canais de cultivo e de um sistema de retorno ao tanque. A solução nutritiva

passa pelas raízes na forma de lâmina, de modo que a planta possa absorver a

água, os nutrientes e o oxigênio de que necessita e retornando para o tanque por

gravidade.

A solução nutritiva utilizada foi a solução padrão do IFES-Campus Itapina, adaptada

de Cometti et al. (2006), na CE= 1,4 dSm-1, com a seguinte composição (mg L-1) de

nutrientes: N-NO3- = 105,6; N-NH4

+ = 12,3; P = 29; K = 184; S-SO42- = 29; Ca = 56;

Mg = 21; Fe = 1,8; Mn = 0,65; B = 0,26; Zn = 0,07; Cu = 0,04; e Mo = 0,03, divididas

em solução A, B e M. Solução A para 1 L de solução concentrada: 170 g de nitrato

de potássio; 37,5 g de MAP e 75 g de sulfato de magnésio. Solução B para 1 L de

solução concentrada: 110 g de nitrato de cálcio. Solução M para 1 L de solução

concentrada: 100 g de quelato de ferro; 16 g de sulfato de manganês; 2,5 g de ácido

bórico; 2 g de sulfato de zinco; 1 g de sulfato de cobre; e 0,4 g de molibdato de

sódio. A partir destas soluções concentradas, foi preparada a solução utilizada

durante o experimento. Foram feitas correções diárias da concentração da solução

por reposição com soluções estoques, a partir da leitura de condutividade elétrica

com condutivímetro (Hanna, modelo HI 98130).

Durante o experimento, foram monitorados o fluxo de fótons fotossintéticos (FFF), a

temperatura das folhas e a temperatura da solução nutritiva, em três horários, às 9

h, 12 h e 15 h, medidos com intervalo de dois dias a partir do transplante das mudas

para as bancadas experimentais. A temperatura das folhas (Tabela 1) e da solução

nutritiva (Tabela 2) foram medidas com termômetro digital infravermelho (Ad Therm

Kids, Brasbaby, modelo AD00023) e o FFF dentro e fora da estufa (Tabela 2) foi

medido através de radiômetro (Quantum meter, Apogee Instruments Inc., modelo

QMSW, serial 1088). A temperatura do ar (Figura 1) foi monitorada através de

termístor e armazenada em datalogger da marca Campbel Scientific modelo CR206.

Page 54: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

51

Tabela 1 - Valores médios da temperatura das folhas das cinco cultivares utilizadas, em ºC. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011

CULTIVARES 9:00 12:00 15:00

----------------------- ºC -------------------------

Delícia 24,0 27,1 25,5

Grand Rapids 23,7 26,9 25,3

Aurélia 23,4 26,8 25,3

Maravilha de Verão 23,3 26,4 25,0

Vit. de Santo Antão 23,6 26,9 25,1

Tabela 2 - Valores médios de fluxo de fótons fotossintéticos, em µmol m-2 s-1, dentro e fora da estufa e temperatura da solução nutritiva, em ºC. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011

HORA FFF

Interno FFF

Externo Temp. Sol.

Nutritiva

------------ µmol m-2 s-1------------ ------------ºC-----------

9:00 484,56 1102,78 23,28

12:00 705,22 1621,00 26,88

15:00 381,22 947,11 25,51

Horas

4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

Te

mpera

tura

(ºC

)

16

18

20

22

24

26

28

30

Figura 1 - Valores médios da temperatura do ar, em ºC, observados durante o experimento. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011.

Page 55: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

52

A coleta das plantas para a avaliação foi realizada aos quarenta e três DAS. As

plantas foram separadas em raiz e parte aérea, determinando-se: massa fresca da

parte aérea e da raiz, massa seca da parte aérea e da raiz, número de folhas,

comprimento e diâmetro do caule, altura e diâmetro da planta. Para a avaliação das

massas frescas e secas, foi utilizada balança de precisão e, para diâmetro e

comprimento do caule, foi utilizado paquímetro digital.

Antes da coleta das plantas, foram realizados avaliação do aspecto visual de cada

cultivar e teste de degustação para avaliar as características organolépticas das

cultivares. Para a avaliação visual foram considerados aspectos como: relação altura

X diâmetro da planta, uniformidade entre as plantas da mesma parcela, cor das

folhas, nível de pendoamento e ataque de pragas/doenças. As avaliações foram

feitas de acordo com uma escala (classificadas em excelente, muito bom, bom, ruim

e muito ruim). Para o teste de degustação, foi aplicado um teste com escala

hedônica, no qual foram atribuídos valores de 1 a 9 às classificações: desgostei

extremamente, desgostei muito, desgostei moderadamente, desgostei ligeiramente,

indiferente, gostei ligeiramente, gostei moderadamente, gostei muito e gostei

extremamente, respectivamente. As respostas foram avaliadas em termos de

porcentagem de opção para cada cultivar.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado e a análise

estatística realizada através de ANOVA e comparação de médias pelo teste de

Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa SigmaStat 2.0®. As figuras

foram elaboradas no programa SigmaPlot 8.0®.

4.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o experimento, os valores de FFF dentro da estufa, variaram entre 381 e

705 µmol m-2s-1. A temperatura do ar variou entre 17 e 29 ºC, valores normais para o

período do ano. A temperatura média da solução nutritiva foi de 25,2 ºC. Nesta faixa

de luminosidade e temperatura da solução, as plantas apresentam bom

desenvolvimento. Sanches et al. (2005) observaram que o melhor desenvolvimento

das cultivares Lucy Brown e Sandy foi com a temperatura da solução próxima aos

25 ºC.

Page 56: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

53

A temperatura das folhas apresenta o mesmo comportamento para todas cultivares

(Tabela 1). Às 9 horas da manhã, são verificadas as temperaturas mais baixas,

variando de 23,3 e 24,0 ºC. Às 12 horas, observa-se um aumento nas médias, em

função do aumento da temperatura do ar e do FFF, observando valores de 26,4 a

27,1 ºC. Às 15 horas, quando foi realizada a terceira leitura, observa-se um

decréscimo. As médias variam de 24,6 a 25,5 ºC. Entre as cultivares, a americana

Delícia apresenta as maiores médias e a cultivar lisa Maravilha de Verão os menores

valores. A temperatura da folha varia de acordo com a perda de água. Um aumento

da transpiração pode provocar redução na temperatura da folha, representando uma

adaptação da planta ao ambiente tropical.

A análise de variância mostrou que há diferença significativa entre as cultivares para

todas as variáveis, exceto para a massa seca de parte aérea e porcentagem de

água nas plantas. Para a massa fresca de parte aérea, os melhores resultados são

expressos pela cultivar Vitória de Santo Antão (186,5 g). As cultivares Delícia (152,2

g), Maravilha de Verão (151,7 g), Aurélia (137,0 g) e Grand Rapids (131,3 g) não

diferem significativamente entre si (Figura 2a). Andrade et al. (2010), estudando o

comportamento de dez cultivares de alface em cultivo hidropônico em ambiente

tropical, também observaram maior rendimento para a cultivar Vitória de Santo

Antão, indicando sua boa adaptação ao cultivo protegido.

Page 57: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

54

M

FP

A (

g)

0

50

100

150

200

MF

R (

g)

0

5

10

15

20

25

Vit. de Santo Antão

Marav. de Verão

Aurélia

Grand Rapids

Delícia

MS

PA

(g

)

0

2

4

6

Vit. de Santo Antão

Marav. de Verão

Aurélia

Grand Rapids

Delícia

MS

R (

g)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

a

b

b

b

b

(a) (b)

(c) (d)

a

ab

abab

b

a

a

a a

a

a

ab

abab

b

Figura 2 - Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico: (a)

massa fresca de parte aérea (MFPA); (b) massa fresca de raiz (MFR); (c) massa seca de parte aérea (MSPA); e (d) massa seca de raiz (MSR). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011

Observa-se na Figura 2b que a cultivar Vitória de Santo Antão também apresenta a

maior média para massa fresca de raiz, com média de 22,5 g, no entanto, não

diferindo estatisticamente das cultivares Maravilha de Verão (20,5 g), Aurélia (18,3

g) e Grand Rapids (16,9 g). A cultivar americana apresenta a menor média (13,42g).

Para os valores de massa seca, não há diferença significativa para a parte aérea

(Figura 2c). Para matéria seca de raiz (Figura 2d), a cultivar Vitória de Santo Antão

(1,17 g) é estatisticamente semelhante às cultivares Maravilha de Verão (1,04 g),

Grand Rapids (0,98 g) e Aurélia (0,92 g). A cultivar Delícia apresenta a menor média

(0,72 g). Resultado diferente foi obtido por Gualberto et al. (1999), que avaliaram o

desempenho de seis cultivares de alface do tipo lisa (Babá de Verão, Brasil 303,

Elisa, Karla, Lívia e Monalisa), cultivadas em sistema hidropônico NFT na Fazenda

Page 58: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

55

Experimental da Universidade de Marília (SP) e obtiveram valores superiores de

matéria seca de parte aérea para as cultivares Lívia e Babá de Verão, seguidas por

Elisa e Monalisa.

As três cultivares do grupo lisa, Vitória de Santo Antão (26,0), Maravilha de Verão

(26,0) e Aurélia (25,0), apresentam o maior número de folhas (Figura 3a), diferindo

estatisticamente das cultivares crespa Grand Rapids (17,0) e americana Delícia

(15,0). Sediyama et al. (2009), estudando o comportamento de cultivares de alface

para cultivo hidropônico no inverno, obtiveram resultados semelhantes, mostrando

que as cultivares do grupo lisa apresentaram maior número de folhas que as

demais. Uma das possíveis razões pelas quais cultivares lisas tenham se destacado

é justificada pela própria característica das cultivares em produzirem grande número

de folhas, porém de tamanhos menores. Para volume de raiz (Figura 3b), a cultivar

Vitória de Santo Antão (20,37 mL) é superior à cultivar Delícia (13,62 mL), não

superando as cultivares Maravilha de Verão (19,75 mL), Aurélia (17,50 mL) e Grand

Rapids (16,62 mL).

Para a variável altura da planta (Figura 3c), a cultivar Grand Rapids (36,0 cm) é

superior. As cultivares Maravilha de Verão (32,8 cm), Vitória de Santo Antão (32,7

cm) e Aurélia (29,9 cm) são estatisticamente semelhantes entre si e superiores a

Delícia (26,4 cm), que faz parte do grupo de alfaces americanas. Este grupo de

cultivares tem como característica a formação de cabeça, justificando sua menor

altura. Para diâmetro da planta (Figura 3d), as cultivares Grand Rapids (32,3 cm),

Maravilha de Verão (31,7 g), Aurélia (31,1 cm) e Vitória de Santo Antão (31,0 cm)

apresentam maior diâmetro, característica importante quando se visa a

comercialização. Os valores deste experimento são superiores aos observados por

Souza et al. (2007), que obtiveram para as cultivares crespas, Itapuã e Veneranda, e

lisa, Elba, diâmetro da planta variando de 20,4 a 23,5 cm, nas condições de Iguatu,

no Ceará. A cultivar Grand Rapids apresenta menor massa, porém maior diâmetro e

maior altura de planta. Esta cultivar apresentou folhas maiores e soltas, e

comprimento de caule também maior, justificando diâmetro e altura maiores que as

demais cultivares avaliadas neste experimento.

Para comprimento de caule, a cultivar Grand Rapids é a mais afetada pela

temperatura, sendo estatisticamente superior, com média 13,5 cm, conforme a

Figura 3e. As cultivares Vitória de Santo Antão (6,0 cm), Maravilha de Verão (5,9

Page 59: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

56

cm), Aurélia (5,4 cm) e Delícia (5,3 cm) são estatisticamente semelhantes entre si. A

média do FFF dentro da estufa durante o experimento foi de 523,67 µmol m-2s-1.

Esse valor está um pouco acima daquele observado por Hammer et al. (1978), que

publicaram um guia para pesquisa com alface, utilizando a cultivar Grand Rapids,

em câmara de crescimento, e estabeleceram o fluxo de fótons fotossintéticos em

400 µmol m-2s-1 como o ideal para essa cultivar. Os resultados deste experimento

confirmam a sua sensibilidade à presença de luz, demonstrando uma tendência ao

pendoamento precoce.

Segundo Resende (2004), o tamanho de caule mais adequado para a

comercialização deve estar na faixa de 6,0 cm a 9,0 cm de comprimento. Oliveira et

al. (2004) afirmam que caules mais longos implicam cultivares mais sensíveis ao

calor, e vice-versa. A cultivar americana Delícia apresenta o menor comprimento,

característica desejável para este grupo de alface, pois cultivares com caules

maiores podem dificultar a formação de cabeça. Para diâmetro de caule (Figura 3f),

a cultivar Vitória de Santo Antão (22,4 mm) apresenta a maior média, seguida pela

cultivar Maravilha de Verão (19,6 mm), enquanto que a menor média é observada na

cultivar Delícia (14,8 mm). Segundo Rezende et al. (2007), o diâmetro do caule

correlaciona-se com a área foliar, ou seja, com a área transpiratória, indicando que

quanto maior o diâmetro do caule, maior a vascularização da planta.

Page 60: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

57

N

F

0

5

10

15

20

25

30

VR

(m

L)

0

5

10

15

20

25

HP

(cm

)

0

10

20

30

DP

(cm

)

0

10

20

30

Vit. de S

anto Antão

Marav. de V

erão

Aurélia

Grand Rapids

Delícia

CC

(cm

)

0

2

4

6

8

10

12

14

Vit. de S

anto Antão

Marav. de V

erão

Aurélia

Grand Rapids

Delícia

DC

(m

m)

0

5

10

15

20

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

a aa

bb

a ab

abab

b

b b

b

a

c

b

ab ab ab a

a

b bb b

a

ab

bcbc

c

Figura 3 - Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico: (a) número de folhas (NF); (b) volume de raiz (VR); (c) altura da planta (HP); (d) diâmetro da planta (DP); (e) comprimento de caule (CC); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

Page 61: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

58

As cultivares não diferem em relação à porcentagem de água (Figura 4) nas plantas.

A maior abertura dos estômatos permite maior perda de água, mas também pode

permitir maior troca gasosa, que significa maior assimilação de carbono, portanto,

maior massa (produção).

Vit. d

e Santo

Antã

o

Mara

v. d

e Verã

o

Aurélia

Gra

nd Rapid

s

Delícia

% d

e Á

gu

a

0

20

40

60

80

100

120

a a a a a

Figura 4 - % de água de cultivares de alface em cultivo hidropônico. Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

Para a avaliação visual (Figura 5), as cultivares Vitória de Santo Antão e Maravilha

de Verão se destacam. Esta cultivar pertence ao grupo das alfaces lisas,

caracterizado por apresentar folhas soltas e lisas, com plantas de porte grande e

folhas de coloração verde-claro. Essas características são importantes para o

comércio, já que as plantas são comercializadas em cabeça e de forma “in natura”.

Mais de 80% dos entrevistados avaliaram a cultivar Vitória de Santo Antão com

aspectos “muito bom” e “bom”. Nenhuma cultivar está classificada com aspecto

muito ruim.

Page 62: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

59

Aspecto Visual

Excelente Muito bom Bom Ruim

% A

ce

ita

çã

o V

isu

al

0

10

20

30

40

50

60

Delícia

Grand Rapids

Aurélia

Marav. de Verão

Vit. Santo Antão

Figura 5 - Avaliação do aspecto visual de cada cultivar. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

Para o teste de degustação, a cultivar Vitória de Santo Antão também se mostra

superior na opinião dos entrevistados. 80% das notas foram superiores a 7, sendo

que destas, 50% dos entrevistados classificaram como 8, indicando que a cultivar

Vitória de Santo Antão tem boa aceitação, conforme Figura 6. A pior cultivar é a

Aurélia, mais de 50% dos entrevistados atribuíram notas 5 e 4, classificadas como

Indiferentes e Desgostei ligeiramente, respectivamente. Nenhuma das cultivares

receberam notas abaixo de 4. Em termos de comercialização, testes de degustação

é uma importante ferramenta, pois se trata de uma forma promocional para

incremento imediato da venda dos produtos. Quando há degustação e o produto é

bem aceito pelo consumidor, as vendas crescem.

Page 63: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

60

Notas

9 8 7 6 5 4

% A

ce

ita

çã

o

0

20

40

60

80Delícia

Grand Rapids

Aurélia

Marav. de Verão�

Vit. Santo Antão

Figura 6 - Avaliação do teste de degustação de cada cultivar: 9- Gostei extremamente; 8- Gostei muito; 7- Gostei moderadamente; 6- Gostei ligeiramente; 5- Indiferente; 4- Desgostei ligeiramente; 3- Desgostei moderadamente; 2- Desgostei muito; e 1- Desgostei extremamente. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

A cultivar Vitória de Santo Antão tem maior produção, melhor aceitação e tolerância

ao pendoamento precoce, podendo ser recomendada para cultivos hidropônicos em

ambiente tropical. Apesar da cultivar Grand Rapids apresentar boa produtividade,

apresenta também maior comprimento de caule e, portanto, sensibilidade ao

pendoamento precoce, devendo ter sua colheita antecipada.

4.6 REFERÊNCIAS

ANDRADE L.F. et al. Avaliação de cultivares de alface em cultivo hidropônico em ambiente tropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 50. Anais... Guarapari: ABH, 2010.

Page 64: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

61

ANDRIOLO, J.L. et al. Cultivo hidropônico da alface empregando substratos: uma alternativa a NFT? Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.4, p.794-798, out-dez, 2004.

BERNARDI, A.C.C. et al.Produção, aparência e teores de nitrogênio, fósforo e potássio em alface cultivada em substrato com zeólita. Horticultura Brasileira, Brasília, v.23, n.4, p.920-924, out-dez, 2005.

COMETTI, N.N. et al. Soluções Nutritivas: formulação e aplicações. In: MANLIO, S.F. Nutrição Mineral de Plantas. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, cap. 4, p. 89-114, 2006.

FONTES, P.C.R. et al. Produção e qualidade do tomate produzido em substrato, no campo e em ambiente protegido. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 22, n. 3, p. 614-619, jul-set, 2004.

GALON, K. et al. Desempenho de quatro cultivares de alface (Lactuca sativa L.) em cultivo hidropônico em ambiente tropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. 2011. Anais... . Viçosa, ABH, p.126-131, 2011.

GUALBERTO, R.; RESENDE, F.V.; BRAZ, L.T. Competição de cultivares de alface sob cultivo hidropônico ‘NFT’ em três diferentes espaçamentos. Horticultura Brasileira, Brasília, v.17, n. 2, 1999.

HAMMER, P.A. et al. Base-line growth studies of ‘Grand Rapids’ lettuce in controlled environments. Journal of the American Society for Horticulture Science, v.103, n.5, p.649-654, 1978.

OLIVEIRA, E.Q. et al. Desempenho agroeconômico do bicultivo de alface em sistema solteiro e consorciado com cenoura. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.4, p.712-717, 2004.

REZENDE, R. et al. Diferentes soluções nutritivas aplicadas em duas vazões na produção hidropônica na cultura da alface. Irriga. Botucatu, v.12, n.3, p. 354-363, jul-set, 2007.

RESENDE, G.M. Características produtivas, qualidade pós-colheita e teor de nutrientes em alface americana (Lactuca sativa L.) sob doses de nitrogênio e molibdênio, em cultivo de verão e de inverno. 139 f. 2004. (Tese doutorado) - UFLA, Lavras, 2004.

SANCHES, C.E.J.; ARAÚJO, J.A.C.; SPELLING, A.C.; VILLELA JUNIOR, L.V.E. 2005. Cultivo hidropônico da alface do grupo americana com resfriamento da solução nutritiva. In: Congresso Brasileiro de Olericultura, 45. Anais... Fortaleza, ABH. (CD–ROM)

SEDIYAMA, M.A. et al. Desempenho de cultivares de alface para cultivo hidropônico no verão e no inverno. Científica, Jaboticabal, v. 37, p. 98-106, 2009.

SILVA, E.C. da; LEAL, N.R.; MALUF, W.R. Avaliação de cultivares de alface sob altas temperaturas em cultivo protegido em três épocas de plantio na Região Norte-fluminense. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.23, n.3, p.491-499, jul./set, 1999.

Page 65: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

62

SOUZA, J.P. et al. Comportamento de cultivares de alface no município de Iguatu-CE. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 47. Anais... Porto Seguro, ABH, 2007. (CD–ROM).

VIDA, J.B. et al. Manejo de doenças de plantas em cultivo protegido. Fitopatologia Brasileira, v. 29, n. 4, p. 355-372, jul-ago, 2004.

ZANELLA, F. et al. Crescimento de alface hidropônica sob diferentes intervalos de irrigação. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 32, n. 2, p. 366 -370, 2008.

Page 66: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

63

Capítulo 3

5 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE ALFACES CRESPAS E LISAS EM CULTIVO HIDROPÔNICO EM AMBIENTE TROPICAL

5.1 RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho de cultivares de alface dos

grupos crespa e lisa, cultivadas em hidroponia, em ambiente tropical. Instalou-se um

experimento em DIC, com oito cultivares de alface, sendo quatro do grupo lisa:

Vitória de Santo Antão, Babá de Verão, Rainha de Maio e Regina de Verão, e quatro

do grupo crespa: Grand Rapids, Veneranda, Itapuã e Mônica, em quatro repetições,

com 8 plantas em cada repetição. Foram avaliados: massa fresca da parte aérea e

da raiz, massa seca da parte aérea e da raiz, número de folhas, comprimento e

diâmetro do caule, teor de água na planta e altura e diâmetro da planta. Entre as

cultivares crespas, a Grand Rapids se destaca em produção, porém mostra-se

sensível ao pendoamento precoce. As cultivares lisas Babá de Verão, Vitória de

Santo Antão e Rainha de Maio são superiores em massa fresca de parte aérea,

porém, as quatro cultivares apresentam boa produção, sendo recomendável reduzir

o tempo de permanência das plantas nas bancadas de produção.

Palavras-chave: Lactuca sativa L.. Hidroponia. Comportamento.

5.2 ABSTRACT

Agronomic performance of crispy and smooth lettuce in hydroponics in a

tropical environment

The objective of this study was to evaluate the performance of lettuce cultivars

groups crisp and smooth, grown in hydroponics, in a tropical environment. It was

carried out an experiment completely randomized with eight varieties of lettuce, four

smooth group: Vitória de Santo Antão, Babá de Verão, Rainha de Maio and Regina

de Verão and four crisp group: Grand Rapids, Veneranda, Itapuã and Mônica, in four

Page 67: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

64

replications with eight plants in each replicate. It was evaluated: fresh weight of shoot

and root dry weight of shoot and root, leaf number, length and stem diameter, water

content and plant height and diameter of the plant. Among the crisp cultivars, Grand

Rapids excell in production, but is sensitive to bolting. Cultivars smooth Babá de

Verão, Vitória de Santo Antão and Rainha de Maio are higher in fresh weight of

shoots, however, the four cultivars show good production, it is recommended to

reduce the residence time of the production plants in the stands.

Key words: Lactuca sativa L.. Hydroponics. Behavior.

5.3 INTRODUÇÃO

O cultivo hidropônico representa uma alternativa à cultura convencional em se

tratando da qualidade dos alimentos, seja em aspectos nutricionais ou

fitossanitários. Essa alternativa de cultivo protegido possibilita a obtenção de

produtos de qualidade superior, maior uniformidade, maior produtividade, menor

gasto de água e de insumos agrícolas e preservação do meio ambiente.

A alface (Lactuca sativa L.) é a hortaliça folhosa de maior importância no Brasil com

área cultivada de aproximadamente 35 mil ha (BLAT et al., 2011) e produção em

torno de 311 mil toneladas por ano (RODRIGUES et al., 2008). É a espécie mais

difundida entre os produtores hidropônicos, provavelmente devido ao seu

pioneirismo como cultura hidropônica no país e por ser uma cultura de manejo fácil e

de ciclo curto, garantindo, assim, rápido retorno de capital (GUALBERTO et al.,

1999).

Para Rodrigues et al. (2008), a alface é uma planta de clima subtropical e, em

temperaturas entre 12 e 22 ºC produz folhas de melhor qualidade. Temperaturas

acima de 20 ºC favorecem a emissão do pendão floral com a interrupção da fase

vegetativa, tornando o produto inadequado para a comercialização e consumo.

Temperaturas elevadas também contribuem para o pendoamento das plantas,

tornando a hortaliça imprópria para consumo devido ao sabor amargo das folhas,

com perda das suas características comerciais (CARVALHO FILHO et al., 2009) e

redução da produtividade (SOUZA et al., 2007).

Page 68: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

65

Segundo Casaroli et al. (2003), em 2002, a maior parte do total de alface produzida

era do tipo lisa e tinha preferência predominante em todo o Brasil. Porém, o que se

observa nos últimos anos é o aumento na área de produção das alfaces do tipo

crespa, devido à maior aceitação e procura dos consumidores. Ainda não existe no

Brasil muitas cultivares recomendadas para cultivo hidropônico. A hidroponia é uma

técnica relativamente nova no Brasil, não sendo ainda adequadamente explorada

em termos de pesquisa e, portanto, são poucos os relatos sobre as cultivares de

alface testadas.

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho de cultivares de alface dos

grupos crespa e lisa, cultivadas em hidroponia, em ambiente tropical.

5.4 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido durante os meses de outubro e novembro de 2011, em

casa de vegetação, no setor de Horticultura do Instituto Federal do Espírito Santo –

Campus Itapina, município de Colatina. Para este experimento, foram utilizadas oito

cultivares de alface, sendo quatro do grupo lisa: Rainha de Maio, Regina de Verão,

Babá de Verão e Vitória de Santo Antão, e quatro do grupo crespa: Veneranda,

Mônica, Grand Rapids e Itapuã 401. Cada tratamento foi distribuído em quatro

repetições, com 8 plantas em cada repetição. A semeadura foi realizada em espuma

fenólica (lavada em água corrente por 24h), irrigada por 5 dias com água pura,

quando as células foram destacadas e transplantadas para o berçário. Aos 20 dias

após a semeadura (DAS) as mudas foram transplantadas para as bancadas

experimentais. Foram utilizadas 2 bancadas de cultivo onde foram distribuídos,

aleatoriamente, os tratamentos e as repetições.

As plantas foram cultivadas no sistema NFT (Nutrient Film Technique), traduzido

para o português como fluxo laminar de solução nutritiva. O sistema NFT

basicamente consiste de um tanque de solução nutritiva, de um sistema de

bombeamento, dos canais de cultivo e de um sistema de retorno ao tanque. A

solução nutritiva passa pelas raízes na forma de uma fina lâmina, de modo que a

planta possa absorver a água, os nutrientes e o oxigênio de que necessita e

retornando para o tanque por gravidade.

Page 69: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

66

A solução nutritiva utilizada foi a solução padrão do IFES-Campus Itapina, adaptada

de Cometti et al. (2006), na CE= 1,2 dS m-1, com a seguinte composição (mg L-1) de

nutrientes: N-NO3- = 105,6; N-NH4

+ = 12,3; P = 29; K = 184; S-SO42- = 29; Ca = 56;

Mg = 21; Fe = 1,8; Mn = 0,65; B = 0,26; Zn = 0,07; Cu = 0,04; e Mo = 0,03, divididas

em soluções A, B e M. Solução A para 1 L de solução concentrada: 170 g de nitrato

de potássio, 37,5 g de MAP e 75 g de sulfato de magnésio. Solução B para 1 L de

solução concentrada: 110 g de nitrato de cálcio. Solução M para 1 L de solução

concentrada: 100 g de quelato de ferro (EDDHMA-Fe); 16 g de sulfato de manganês;

2,5 g de ácido bórico; 2 g de sulfato de zinco; 1 g de sulfato de cobre; e 0,4 g de

molibdato de sódio. A partir destas soluções concentradas, foi preparada a solução

utilizada durante o experimento. Foram feitas correções diárias da concentração da

solução por reposição com soluções estoques, a partir da leitura de condutividade

elétrica com condutivímetro (Hanna, modelo HI 98130).

O monitoramento do fluxo de fótons fotossintéticos (FFF), temperatura das folhas e

temperatura da solução nutritiva, foi realizado em três horários, às 9 h, 12 h e 15 h,

com intervalo de dois dias a partir do transplante das mudas para as bancadas

experimentais. A temperatura das folhas (Figura 1) e da solução nutritiva (Tabela 1)

foram medidas com termômetro digital infravermelho (Ad Therm Kids, Brasbaby,

modelo AD00023) e o FFF dentro e fora da estufa (Tabela 1) foi medido através de

radiômetro (Quantum meter, Apogee Instruments Inc., modelo QMSW, serial 1088).

A temperatura do ar (Figura 2) foi monitorada por meio de um sensor do tipo

termístor e armazenada em datalogger da marca Campbel Scientific modelo CR206.

9 h 12 h 15 h

Te

mp

era

tura

(ºC

)

23,0

23,5

24,0

24,5

25,0

25,5

26,0

26,5

27,0

Grand Rapids

Itapuã

Mônica

Veneranda

9 h 12 h 15 h

Te

mp

era

tura

(ºC

)

23,5

24,0

24,5

25,0

25,5

26,0

26,5

27,0

Babá de Verão

Rainha de Maio

Regina de Verão

Vit. Santo Antão

(B)(A)

Page 70: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

67

Figura 1 - Valores médios da temperatura das folhas, em ºC, observados durante o experimento. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011.

Tabela 1 - Valores médios de fluxo de fótons fotossintéticos, em µmol m-2 s-1, dentro

e fora da estufa e temperatura da solução nutritiva, em ºC. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011

HORA FFF

Interno FFF

Externo Temp. Sol.

Nutritiva

------------ µmol m-2 s-1------------ ------------ºC-----------

9:00 549,00 1051,67 24,1

12:00 597,33 1158,50 26,6

15:00 639,16 1214,11 26,7

Hora

6 8 10 12 14 16 18 20

Tem

pera

tura

(ºC

)

21

22

23

24

25

26

27

28

29

Figura 2 - Valores médios da temperatura do ar, em ºC, observados durante o experimento. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011.

A coleta das plantas para a avaliação foi realizada em duas etapas: aos quarenta e

seis DAS foram coletadas e avaliadas as cultivares crespas e aos quarenta e nove

DAS foram coletadas e avaliadas as cultivares lisas. As plantas foram separadas em

raiz e parte aérea, determinando-se: massa fresca da parte aérea e da raiz, massa

seca da parte aérea e da raiz, número de folhas, comprimento e diâmetro do caule,

altura e diâmetro da planta. Para a avaliação das massas frescas e secas foi

utilizada balança de precisão, para diâmetro e comprimento do caule foi utilizado

paquímetro digital.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado e a análise

estatística realizada por meio de ANOVA e comparação de médias pelo teste de

Page 71: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

68

Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa SigmaStat 2.0®. As figuras

foram elaboradas no programa SigmaPlot 8.0®.

5.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a condução do experimento, as temperaturas médias diárias variaram entre

21 e 29 ºC. O fluxo de fótons fotossintéticos variou entre 549 e 639,16 µmol m-2 s-1

dentro da estufa e de 1051,6 e 1214,1 µmol m-2 s-1 fora da estufa. A temperatura da

solução nutritiva atingiu o máximo valor de 26,7 ºC. Faquin et al. (1996) sugere que

para um bom desenvolvimento da cultura, o valor da temperatura da solução não

deve ultrapassar 30 ºC, o que foi observado neste experimento e também por Kopp

et al. (2001).

A temperatura das folhas, tanto para as cultivares crespas quanto para as lisas,

apresentam o mesmo comportamento. Temperaturas mais baixas são observadas

às 9 horas da manhã, variando entre 23,5 e 24,5 ºC. Às 12 horas, observa-se um

aumento nas médias, em função do aumento da temperatura do ar e do FFF. Os

valores variaram entre 25 e 27 ºC. Na terceira leitura, realizada sempre às 15 horas,

há um decréscimo. As médias variam entre 25,5 e 26,5 ºC. A temperatura da folha

varia de acordo com a perda de água. Um aumento da transpiração pode provocar

redução na temperatura da folha, representando uma adaptação da planta ao

ambiente tropical. Entre as cultivares crespas, Itapuã e Veneranda apresentam os

maiores valores de temperatura da folha e as menores massas de parte aérea. Entre

as cultivares do grupo lisa, Vitória de Santo Antão apresenta as maiores

temperaturas, enquanto a Babá de Verão apresenta os menores valores.

5.5.1 Avaliação das cultivares crespas

A análise de variância mostrou que há diferença significativa entre as cultivares em

todas as variáveis, exceto para massa fresca de raiz e teor de água nas plantas. A

cultivar Grand Rapids (165,4g) é estatisticamente semelhante à cultivar Mônica

(150,6g) e superior às demais para a variável massa fresca de parte aérea (Figura

3a). A cultivar Itapuã (101,3g) apresenta a menor média entre as cultivares.

Resultado semelhante foi obtido por Kopp et al. (2001), que avaliaram o

desempenho de seis cultivares de alface sob duas soluções nutritivas, em sistema

Page 72: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

69

de cultivo hidropônico NFT, e verificaram diferenças significativas entre as cultivares,

sendo que a cultivar Grand Rapids (216,1g) foi a mais produtiva. Valor inferior foi

obtido por Ziemer et al. (1999), que procederam a colheita 46 DAS em cultivo no

verão em Pelotas–RS, obtendo 191,0g de massa fresca para a cultivar Grand

Rapids. Não há efeito significativo entre as cultivares para matéria fresca de raiz

(Figura 3b), cujo resultado é semelhante ao obtido por Sediyama et al. (2009) para o

experimento de verão, que avaliaram o desempenho de cultivares de alface dos

grupos americana, crespa e lisa em sistema hidropônico NFT, em condições de

verão e de inverno em Viçosa-MG. Para a matéria seca de parte aérea, as cultivares

Grand Rapids (8,11g) e Mônica (7,38 g) são superiores às demais conforme a Figura

3c. Entretanto, a cultivar Mônica também é semelhante às cultivares Veneranda

(5,95g) e Itapuã (5,48g). Souza et al. (2007), nas condições de Iguatu, no Ceará,

obtiveram valores de 12,7 à 15,3 g de massa seca comercial para Itapuã e

Veneranda, resultados superiores aos observados neste trabalho. Diferentemente da

variável matéria fresca de raiz, há diferença estatística para matéria seca de raiz

(Figura 3d). Mônica (1,64g) e Grand Rapids (1,39g) são semelhantes entre si.

MF

PA

(g

)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

ab

bc

a

cM

FR

(g

)

0

5

10

15

20

25

30

a

a

a

a

Grand Rapids Itapuã Mônica Veneranda

MS

PA

(g

)

0

2

4

6

8

Grand Rapids Itapuã Mônica Veneranda

MS

R (

g)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6a

b

ab

b

ab

b

a

b

(a) (b)

(c) (d)

Figura 3 - Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) massa fresca de parte aérea (MFPA), (b) massa fresca de raiz (MFR), (c) massa seca de parte aérea (MSPA) e (d) massa seca de raiz (MSR).

Page 73: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

70

Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011

Para altura da planta, a cultivar Grand Rapids é estatisticamente superior às demais,

conforme a Figura 4a, apresentando média de 45,9 cm. As cultivares Mônica, Itapuã

e Veneranda apresentam médias entre 26,7 e 31,5 cm. O valor de 45,9 cm para a

cultivar Grand Rapids está bem acima do aceito pelos consumidores. Valores de

altura de plantas elevados indicam também uma baixa resistência ao pendoamento,

que reduz o valor comercial da planta

As cultivares Grand Rapids, Mônica e Veneranda apresentam maior diâmetro de

planta (Figura 4b), característica importante quando o produtor deseja comercializar

seu produto diretamente em supermercados ou feiras livres, pois o consumidor é

influenciado pela aparência da alface, ou seja, quanto maior a planta, melhor para a

comercialização. Observa-se também que as cultivares que apresentam maior

massa apresentam também os maiores diâmetros.

O maior número de folhas (Figura 4c) é observado nas cultivares Itapuã 401 e

Mônica, que apresentam valores de 20 e 18 folhas por planta, respectivamente. Os

valores obtidos neste experimento são inferiores aos observados por Blat et al.

(2011), que avaliando o desempenho de cultivares de alface crespa em dois

ambientes de cultivo em sistema hidropônico encontraram valores médios entre 22,3

e 30,2 folhas por planta, indicando que o número de folhas é uma variável que pode

ser influenciada pelo ambiente. O número de folhas pode às vezes não ser um bom

indicativo de produtividade, pois temperaturas elevadas associadas à alta

luminosidade podem estimular o florescimento precoce da planta, ocorrendo

aumento no número de folhas, porém com tamanho reduzido.

Para comprimento de caule, constata-se que a cultivar Grand Rapids apresenta o

maior comprimento, com média de 34,5 cm, o que mostra sua maior susceptibilidade

ao fator temperatura, que é o agente externo responsável pelo pendoamento

precoce na cultura de alface. Os valores encontrados neste experimento (Figura 4d)

estão acima dos obtidos por Sediyama et al. (2009), que encontraram, para

cultivares crespas em cultivo hidropônico no verão, valores entre 4,8 e 7,6 cm.

Considerando o comprimento do caule uma variável que indica resistência ao

pendoamento, a cultivar Veneranda apresenta o menor alongamento (4,8 cm),

Page 74: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

71

podendo ser mantida por um período maior nas bancadas, conservando

características próprias para o consumo. As cultivares Mônica, Grand Rapids e

Itapuã são estatisticamente semelhantes para diâmetro de caule (Figura 4e),

apresentando valores entre 13,81 e 14,83 mm.

As cultivares não diferem quanto ao teor de água nas plantas (Figura 4f), que

apresenta teor médio de 94,7%, valor semelhante ao observado por Ohse et al.

(2001), que encontraram teor médio de 94,5% em plantas coletadas aos 68 DAS e

por Sgarbieri (1987) para alface cultivada no solo, obtendo o valor de 94%. Já

Ruschel (1998), aos 47 dias após a semeadura, encontrou teor médio de 96,0%.

Essa variação no teor de água se deve, provavelmente ao tempo de permanência

das plantas de alface na fase final, pois quanto maior esse período maior o acúmulo

de massa seca e menor o teor de água (OHSE et al., 2001).

A cultivar Grand Rapids, mesmo apresentando maior peso comercial, apresenta

também, como fator negativo, maior comprimento de caule, indicando sua

susceptibilidade ao pendoamento precoce. Esta cultivar deveria ter sua colheita

antecipada. A cultivar Veneranda apresenta o menor comprimento de caule,

podendo ser mantida por um período maior nas bancadas de produção, sem perder

as características desejáveis à comercialização. A cultivar Itapuã não apresenta boa

produtividade, não sendo uma boa opção para ser recomendada ao cultivo

hidropônico.

Page 75: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

72

a

HP

(cm

)

0

10

20

30

40

50

DP

(cm

)

0

10

20

30

40

NF

0

5

10

15

20

CC

(cm

)

0

10

20

30

Grand Rapids Itapuã Mônica Veneranda

DC

(m

m)

0

2

4

6

8

10

12

14

Grand Rapids Itapuã Mônica Veneranda

% Á

gu

a0

20

40

60

80

a

b

b

b

a

b

abab

b

a

ab

b

a

b

b

b

ab ab

b

a a a a a (f)(e)

(d)(c)

(b)(a)

Figura 4 - Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a)

número de folhas (NF), (b) volume de raiz (VR); (c) altura da planta (HP); (d) diâmetro da planta (DP); (e) comprimento de caule (CC); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

5.5.2 Avaliação das cultivares lisas

Há diferença significativa entre as cultivares em todas as variáveis, exceto para

massa fresca de raiz, massa seca de parte aérea e teor de água nas plantas.

Comparando as médias de massa fresca de parte aérea, as cultivares mais

produtivas são Babá de Verão (227,7g), Vitória de Santo Antão (213,7g) e Rainha de

Page 76: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

73

Maio (212,4g), conforme a Figura 5a. A cultivar Regina de Verão apresenta

resultado estatisticamente inferior à Babá de Verão. Resultado diferente foi obtido

por Fernandes et al. (2002), que avaliaram produtividade de cultivares de alface, em

cultivo hidropônico e obtiveram para a cultivar Regina os melhores resultados de

massa fresca de parte aérea. Não há diferença estatística para as variáveis matéria

fresca de raiz e matéria seca de parte aérea, conforme as Figuras 5b e 5c. Para

matéria seca de raiz, a cultivar Babá de Verão (1,95 g) é estatisticamente

semelhante à Vitória de Santo Antão (1,87 g), que é semelhante à Rainha de Maio

(1,59 g) e Regina de Verão (1,58 g), conforme a Figura 5d.

MF

PA

(g)

0

50

100

150

200

250

MF

R (

g)

0

5

10

15

20

25

30

35

Babá de V

erão

Rainha d

e Maio

Regina d

e Verã

o

Vitória

S. A

ntão

MS

PA

(g)

0

2

4

6

8

10

Babá de V

erão

Rainha d

e Maio

Regina d

e Verã

o

Vitória

S. A

ntão

MS

R (

g)

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

aab

b

aba

a

a

a

a

a a

aa

b b

ab

(c) (d)

(b)(a)

Figura 5 - Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) massa fresca de parte aérea (MFPA); (b) massa fresca de raiz (MFR); (c) massa seca de parte aérea (MSPA); e (d) massa seca de raiz (MSR). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

As cultivares variam de 33 a 38 cm em relação ao diâmetro da planta. Estes valores

são superiores aos observados por Luz et al. (2006), que avaliaram a produção

hidropônica de alface e obtiveram resultados variando de 26,5 a 28,0 cm. A cultivar

Babá de Verão apresenta o maior diâmetro (37,8 cm) acompanhada da Vitória de

Santo Antão (36,8 cm) e Regina de Verão (35,04 cm), como mostra a Figura 6a.

Page 77: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

74

DP

(cm

)

0

10

20

30

40

HP

(cm

)

0

10

20

30

40

bc

abbab

aba

c

a

NF

0

10

20

30

CC

(cm

)

0

5

10

15

20

Babá de V

erão

Rainha d

e Maio

Regina d

e Verã

o

Vitória

S. A

ntão

DC

(m

m)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Babá de V

erão

Rainha d

e Maio

Regina d

e Verã

o

Vitória

S. A

ntão

% Á

gua

0

20

40

60

80

100

a

c

abb

ab

b

b

a

a a

ab

b

a a a a

(a)

(c)

(b)

(d)

(e) (f)

Figura 6 - Variáveis morfológicas de cultivares de alface em cultivo hidropônico. (a) número de folhas (NF); (b) volume de raiz (VR); (c) altura da planta (HP); (d) diâmetro da planta (DP); (e) comprimento de caule (CC); e (f) diâmetro de caule (DC). Letras minúsculas comparam médias pelo teste de Tukey a 5%. Colatina-ES, IFES Campus Itapina, 2011.

Page 78: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

75

Massa da parte aérea, número de folhas e diâmetro da planta são características

agronômicas muito importantes quando se visa à comercialização. Em relação à

altura da planta, a cultivar Babá de Verão (37,9 cm) apresenta a maior média,

acompanhada da Vitória de Santo Antão (33,1 cm). A cultivar Rainha de Maio (26,8

cm) é inferior às demais, conforme a Figura 6b. Para número de folhas, a cultivar

Babá de Verão (36,0) é superior à Vitória de Santo Antão (32,0) e Rainha de Maio

(30,0), mas não supera a Regina de Verão (34,0), conforme a Figura 6c. Fernandes

et al. (2002) e Bonnecarrère et al. (2000), avaliando o comportamento de cultivares,

observaram que a cultivar Regina foi superior às demais em número de folhas. O

número de folhas por planta é uma característica interessante, já que a aquisição do

produto pelo consumidor é feita por unidade e não por peso (MOTA et al., 2001).

Para comprimento do caule (Figura 6d), característica limitante da produção, as

médias variam de 8,97 (Regina de Verão) a 19,71cm (Babá de Verão), valores

considerados muito altos para a comercialização da alface. Os valores obtidos neste

experimento estão bem acima daqueles encontrados por Souza et al. (2008), que

avaliando progênies de alface com base em caracteres agronômicos desejáveis à

comercialização, observaram valores entre 3,44 e 9,94 cm. A cultivar Regina de

Verão, apresenta a menor média, o que mostra sua maior resistência às condições

de alta temperatura e luminosidade verificadas dentro da estufa.

Os materiais estudados apresentam certa sensibilidade ao pendoamento precoce

quando comparados a outros estudos na área, inferindo que estas cultivares são

influenciadas significativamente pelo ambiente. Entretanto, as condições ambientais

verificadas em cultivo protegido levam naturalmente a um maior alongamento do

caule. O comprimento padrão do caule para cultivares de alface deve levar em conta

as condições de cultivo protegido. As cultivares Vitória de Santo Antão, Babá de

Verão e Rainha de Maio apresentam os maiores diâmetros de caule (Figura 6e).

Resultado semelhante foi encontrado por Silva (2009) para a cultivar Babá de Verão.

As cultivares não diferem em relação à porcentagem de água (Figura 6f),

apresentando média de 95,3%, valor superior ao observado por Ohse et al. (2001),

que avaliaram a qualidade de alface em hidroponia e obtiveram média de 94,46%

entre as cultivares avaliadas.

As cultivares Babá de Verão, Vitória de Santo Antão e Rainha de Maio são

superiores em massa fresca de parte aérea, porém, as quatro cultivares apresentam

Page 79: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

76

boa produtividade, sendo recomendável reduzir o tempo de permanência das

plantas nas bancadas de produção, já que apresentam comprimentos de caule

acima dos valores considerados como aceitáveis para a comercialização.

5.6 CONCLUSÕES

5.6.1 Cultivares Crespas

A cultivar Grand Rapids é superior em produção, porém se mostra mais

susceptível ao pendoamento precoce.

A cultivar Itapuã não apresenta boa produção, não sendo uma boa opção

para ser recomendada ao cultivo hidropônico.

A cultivar Veneranda apresenta o menor alongamento, podendo ser mantida

por um período maior nas bancadas.

5.6.2 Cultivares Lisas

As quatro cultivares apresentam boa produção.

Deve-se reduzir o tempo de permanência das plantas nas bancadas de

produção, pois as plantas apresentam comprimentos de caule muito grandes.

A cultivar Regina de Verão, apresenta a menor média de comprimento caule,

o que mostra sua maior resistência às condições de alta temperatura e

luminosidade verificadas dentro da estufa.

5.7 REFERÊNCIAS

BLAT, S.F. et al. Desempenho de cultivares de alface crespa em dois ambientes de cultivo em sistema hidropônico. Horticultura Brasileira, Brasília, v.29, p.135-138, 2011.

BONNECARRÈRE, R.A.G. et al. Desempenho de cultivares de alface em hidroponia, no outono. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, p. 289-291, 2000.

CARVALHO FILHO, J. L. S. de; GOMES, L. A. A.; MALUF, W. R. Tolerância ao florescimento precoce e características comerciais de progênies F4 de alface do

Page 80: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

77

cruzamento Regina 71 x Salinas 88. Acta Scientiarum, Maringá, v. 31, n. 1, p. 37-42, 2009.

CASAROLI; D. et al. Desempenho de onze cultivares de alface em duas formas diferentes de canais de cultivo, no sistema hidropônico. Revista da FZVA, Uruguaiana, v. 10, n. 1, p. 25-33, 2003.

COMETTI, N.N. et al. Soluções Nutritivas: formulação e aplicações. In: MANLIO, S.F. Nutrição Mineral de Plantas. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, cap. 4, p. 89-114, 2006.

FAQUIN, V.; FURTINI NETO, A. E.; VILELA, L. A. Produção de alface em hidroponia. Lavras: UFLA/FAEPE, 50 p, 1996.

FERNANDES, A.A. et al. Produtividade, acúmulo de nitrato e estado nutricional de cultivares de alface, em hidroponia, em função de fontes de nutrientes. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 2, p. 195-200, 2002.

GUALBERTO, R.; RESENDE, F.V.; BRAZ, L.T. Competição de cultivares de alface sob cultivo hidropônico ‘NFT’ em três diferentes espaçamentos. Horticultura Brasileira, Brasília, v.17, n. 2, 1999.

KOPP, L.M. et al. Avaliação de seis cultivares de alface sob duas soluções nutritivas em sistema de cultivo hidropônico. Revista da FZVA, Uruguaiana, v. 7/8, n.1, p. 7-16, 2001.

LUZ, J.M.Q. ; GUIMARÃES, S.T.M.R.; KORNDÖRFER, G.H. Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 24, p.295-300, 2006.

MOTA, J.H. et al. Efeito do cloreto de potássio via fertiirrigação na produção de alface americana em cultivo protegido. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.25, n.3, p.542-549, 2001.

OHSE, S. et al. Qualidade de cultivares de alface produzidas em hidroponia. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 58, n. 1, p. 181-185, 2001.

RODRIGUES, I.N. et al. Desempenho de cultivares de alface na região de Manaus. Horticultura Brasileira, Brasília, v.26, p.524-527, 2008.

RUSCHEL, J. Acúmulo de nitrato, absorção de nutrientes e produção de duas cultivares de alface cultivadas em, em função de doses conjuntas de nitrogênio e potássio. 1998. 76p. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba,1998.

SEDIYAMA, M.A. et al. Desempenho de cultivares de alface para cultivo hidropônico no verão e no inverno. Científica, v. 37, p. 98-106, 2009.

SGARBIERI, V.C. Alimentação e nutrição: fator de saúde e desenvolvimento. Campinas, UNICAMP, 387p., 1987.

Page 81: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

78

SILVA, S.P. Produtividade e concentração de nitrato em cultivares de alface conduzidas em sistema hidropônico, nos municípios de Altamira e Belém, no Estado do Pará. 2009. 97f. Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) - Universidade Federal Rural da Amazônia, 2009.

SOUZA, M.C.M. et al. Variabilidade genética para características agronômicas em progênies de alface tolerantes ao calor. Horticultura Brasileira, Brasília, v.26, p.354-358, 2008.

SOUZA, J.P. et al. Comportamento de cultivares de alface no município de Iguatu-CE. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 47. Anais...Porto Seguro, ABH, 2007. (CD–ROM)

ZIEMER, A H. et al. Crescimento de duas cultivares de alface (Lactuca sativa L.) em um sistema hidropônico. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 28, 1999, Pelotas. Anais...Pelotas, SBEA, 5 p, 1999.

Page 82: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

79

Capítulo 4

6 PANORAMA TÉCNICO, POLÍTICO E SOCIOECONÔMICO DA HIDROPONIA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

6.1 RESUMO

Este trabalho teve como objetivo verificar a situação atual do cultivo hidropônico de

hortaliças e seu nível tecnológico no Estado do Espírito Santo. A pesquisa foi

realizada em três etapas com os hidroponicultores em todo o Estado. Inicialmente,

os produtores foram identificados, depois foram realizadas visitas às propriedades,

aplicando-se um questionário, e, finalmente, foi realizada a análise dos dados,

utilizando estatística descritiva. Foi criada uma tabela com critérios que pudessem

descrever o nível tecnológico dos produtores, considerando o tipo de estufa e o

material utilizado, a eficiência energética (relação planta/watt), entre outros.

Atualmente, há 17 hidroponias em funcionamento no Espírito Santo, totalizando uma

área de 3,0 ha. A alface representa 90% do volume total de hortaliças hidropônicas

produzidas, com comercialização de aproximadamente 168 mil pés por mês.

Nenhum produtor apresentou índice grau tecnológico acima de 2,5 e abaixo de 1,4,

indicando que todos estão caracterizados como produtores de nível tecnológico

intermediário. O Espírito Santo já possui uma considerável produção hidropônica,

com grande capacidade de expansão, devido tanto ao apelo do consumidor que

exige produto de qualidade durante todo o ano quanto aos problemas climáticos

observados na maioria das regiões capixabas.

Palavras-chave: Lactuca sativa L.. Sistema hidropônico.Diagnóstico.

6.2 ABSTRACT

Technical, political and economic overview of hydroponics in the state of the

Espírito Santo.

This work aimed to verify the current status of hydroponic cultivation of vegetables

and their technological level in the State of Espirito Santo. The survey was conducted

in three stages with hidroponicultores throughout the state. Initially farmers were

identified after visits were made to the properties by applying a questionnaire, and

Page 83: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

80

finally data were analyzed using descriptive statistics. It is created a table with criteria

that could describe the technological level of the producers, considering the type of

material used and emissions, energy efficiency (ratio plant / watt), among others.

Currently there are 17 hydroponic farms operating in the State of Espírito Santo, with

a total area of 3.0 ha. Lettuce represents 90% of the total volume of hydroponic

vegetables produced, with sales of about 168,000 heads per month. No producer has

presented technological level index above 2.5 and below 1.4, indicating that they are

all characterized as producers of intermediate technological level. Espírito Santo

already has a substantial hydroponic production, with great capacity for expansion,

due to both the appeal of the consumer who demands quality product throughout the

year as the weather problems observed in most areas of the State.

Key words: Lactuca sativa L.. Hydroponic system. Diagnosis.

6.3 INTRODUÇÃO

O Estado do Espírito Santo tem destaque nacional na produção e consumo de

hortaliças. Internamente, o agronegócio capixaba responde, hoje, por cerca de 30%

do PIB estadual e absorve aproximadamente 40% da população economicamente

ativa, 28% diretamente vinculada à produção. Mesmo com essa importância, as

regiões produtoras estão limitadas em função do clima. A maior concentração da

produção está na região serrana, com altitudes entre 600 e 1.200 m, onde

predominam agricultores de origens alemã e italiana (ESPÍRITO SANTO, 2008),

organizados em pequenas propriedades de base familiar.

A demanda de hortaliças folhas/talos no Espírito Santo é crescente, mas com

grande possibilidade de aumento em um curto período de tempo. Esse aumento

deve-se ao destaque que a mídia vem dando para mostrar os efeitos benéficos de

seu consumo para a saúde humana e da estabilidade econômica que o Brasil vem

alcançando (COMETTI et al., 2011). Nesse contexto, o cultivo hidropônico surge

como uma alternativa na produção de olerícolas.

A hidroponia deriva de dois radicais gregos hydro, que significa água e ponos, que

significa trabalho. Entre as várias tecnologias introduzidas no cultivo de hortaliças, o

cultivo hidropônico é o sistema que mais está se destacando no Brasil,

Page 84: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

81

especialmente pela disponibilidade dos produtos em períodos de entressafra e pela

garantia de oferta regular (ZANELLA et al., 2008).

Embora tenha ocorrido rápida expansão da hidroponia no Brasil, não existem ainda

dados precisos e atualizados sobre a área cultivada. Estima-se uma área de

aproximadamente 1000 ha, sendo o Estado de São Paulo, o principal produtor,

seguido pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio de

Janeiro (CAMPO & NEGÓCIOS, 2011). Costa e Junqueira (2000), através de um

diagnóstico do cultivo hidropônico de hortaliças realizado na região do Distrito

Federal, identificaram 18 produtores numa área de 3,2 hectares, comprovando que o

cultivo hidropônico de hortaliças está sendo visto como uma alternativa para a

viabilização do agronegócio na região. Boaretto (2005), avaliando a viabilidade

econômica da produção de alface, em quatro sistemas tecnológicos: campo aberto,

túnel baixo, estufa e hidropônico, concluiu que o sistema tecnológico que apresentou

melhor desempenho econômico durante o levantamento dos custos de produção da

alface crespa ao longo de um ano foi o sistema em hidroponia, seguido pelo sistema

em túnel baixo, sistema em estufa, e com menor desempenho o sistema a campo

aberto.

Conhecer a realidade da hidroponia no Estado do Espírito Santo é de suma

importância do ponto de vista do direcionamento das pesquisas no estado. A partir

de novas dúvidas conhecidas surgirão novas pesquisas, contribuindo assim para o

desenvolvimento da atividade no estado.

Objetivou-se com este trabalho verificar a situação atual do cultivo hidropônico de

hortaliças e conhecer o perfil dos produtores do Estado do Espírito Santo.

6.4 MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em três etapas com os hidroponicultores em todo o Estado

do Espírito Santo. Na primeira etapa, os produtores foram identificados através de

pesquisas na internet, contato com empresas de produtos agropecuários que

forneciam insumos e equipamentos a estes hidroponicultores, além do contato com

as Secretarias de Agricultura dos municípios. Na segunda etapa foram realizadas

visitas às propriedades, aplicando-se um questionário, cujos principais itens foram:

localização, nível tecnológico (material de construção das estufas, capacidade das

Page 85: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

82

bombas e tipo de solução utilizada), procedência dos insumos utilizados, custo de

produção, número de hortaliças cultivadas, comercialização, entre outros.

Na terceira etapa, foi realizada a análise dos dados, utilizando-se estatística

descritiva. Foi criada uma tabela com critérios que pudessem descrever o grau

tecnológico dos produtores. Os critérios utilizados foram: tipo de estufa e o material

utilizado, a eficiência energética (relação planta/watt), tipo de solução utilizada, custo

de produção por planta, produção mensal, área cultivada, número de hortaliças

cultivadas no sistema hidropônico, entre outros. Para cada um dos critérios

considerados, foi atribuído uma nota, de 1 a 3, conforme a Tabela 1. A média dos

critérios avaliados de cada produtor foi calculada somando-se as notas de cada

critério e dividindo pelo total de itens avaliados. Em seguida foi feita uma

classificação: para produtores com média acima de 2,5 foi caracterizado com alto

grau tecnológico, para média entre 1,5 e 2,4 com nível intermediário e abaixo de 1,4,

produtores com baixo grau tecnológico.

Tabela 1 – Níveis estabelecidos para cada critério avaliado para determinação do grau tecnológico de cada produtor. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011

CRITÉRIOS 3 2 1

Tipo de Estufa Arco Misto Plana

Material Aço Misto Madeira

Relação planta/watt >7 3 a 7 <3

Procedência da água Tratada Semi-tratada Nascente/poço

Solução Comprados

Separadamente - Kit’s

Custo de Produção Sim - Não

Mão de obra fixa Sim - Não

Sistema de Refrigeração solução/estufa

Solução/Estufa Somente 1 Nenhum

Produção (plantas/mês) >10000 5000 a 10000 <5000

Área de estufas (m2) >5000 2000 a 5000 <2000

Hortaliças cultivadas >3 1 a 3 1

6.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O cultivo em sistema hidropônico é uma atividade muito recente no Estado, tendo

iniciado há cerca de quinze anos, apenas. A pesquisa mostra que há 17 hidroponias

em funcionamento no Espírito Santo, conforme a Figura 1. Destas, três estão

Page 86: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

83

voltadas para pesquisa, localizadas no Instituto Federal do Espírito Santo (Campus

Itapina, Rive e Santa Teresa) e as demais para a produção comercial, localizadas

nos municípios de Domingos Martins, Venda Nova do Imigrante, Marechal Floriano,

Anchieta, João Neiva, Linhares, Colatina, São Mateus e São Gabriel da Palha. Em

Colatina, a hidroponia está localizada na zona urbana, e a produção é toda

destinada a doações para vizinhos e escolas.

Figura 1 – Localização das hidroponias no Estado do Espírito Santo.

A área total de estufas hidropônicas no estado é de aproximadamente 3,0 ha, sendo

que as estufas com maior área estão localizadas nos municípios de Linhares (7623

m2) e Domingos Martins (5900 m2). As menores hidroponias comerciais estão

localizadas nos municípios de São Gabriel da Palha (600 m2) e Linhares (658 m2).

Em sua maioria as instalações são construídas com madeira, arco de aço

galvanizado, filme plástico difusor de 150 micras e telas de sombreamento, quando

necessário. Para circulação da solução nutritiva são utilizadas motobombas que

variam de 0,5 a 2,0 CV.

Pesquisa:

IFES Campus Itapina, Santa Teresa, Rive

Produção Comercial:

1. São Mateus (2)

2. Linhares (2)

3. Colatina (1)

4. São Gabriel da Palha (2)

5. João Neiva (1)

6. Marechal Floriano (2)

7. Domingos Martins (2)

8. Venda Nova do Imigrante (1)

9. Anchieta (1)

Page 87: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

84

Em relação ao grau tecnológico (Tabela 2), nenhum produtor atingiu valor acima de

2,5 e abaixo de 1,4, indicando que todos estão caracterizados como produtores de

grau tecnológico intermediário. Isso mostra que os hidroponicultores estão sempre

buscando meios para tornar o cultivo hidropônico mais rentável.

Tabela 2 – Nível tecnológico dos hidroponicultores do Espírito Santo. Colatina, IFES Campus Itapina, 2011

PRODUTOR ÍNDICE

1 2,18

2 2,18

3 2,27

4 1,90

5 2,45

6 2,27

7 2,18

8 2,18

9 2,18

10 2,00

11 2,09

12 2,36

13 2,27

Média* 2,19

Como há produções em regiões de clima mais ameno e de clima quente, a

condutividade elétrica (CE) varia de 1 a 2 dS m-1. Nas regiões de clima mais ameno,

a média da CE durante o ano é de 1,7 dS m-1, enquanto que, para regiões mais

quentes, a média da CE não ultrapassa 1,3 dS m-1. Uma questão importante para o

cultivo hidropônico, especialmente da alface, na região norte e litorânea do Espírito

Santo, onde ocorrem altas temperaturas e alta radiação solar, é o estudo da CE

ideal da solução nutritiva. Em trabalho recente, chegou-se a uma faixa ideal de

condutividade elétrica entre 1,0 e 1,5 dS m-1 , a fim de alcançar a máxima

produtividade e redução do risco de ocorrência de queima de bordas em ambiente

com altas temperatura e luminosidade (Barbieri et al., 2010). Nota-se, portanto, que

os produtores das regiões tropicais do Espírito Santo estão controlando

adequadamente a condutividade da solução.

Os fertilizantes para o preparo das soluções nutritivas são adquiridos

separadamente, tanto no comércio local quanto pela internet. Mesmo com a

Page 88: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

85

disponibilidade de kits no mercado, os produtores visam economia e adequação às

suas condições de cultivo.

Os produtores localizados na região norte do Estado, caracterizada por

temperaturas elevadas durante todo o ano, têm encontrado dificuldades para cultivar

as hortaliças, principalmente no verão, quando a temperatura do ar está sempre

acima dos 30 ºC. Temperaturas elevadas podem provocar o aquecimento excessivo

da solução nutritiva, reduzindo o crescimento das plantas, o teor de oxigênio e a

absorção de nutrientes, levando à morte de raízes, além de provocar o

pendoamento das plantas. Uma alternativa adotada por alguns desses produtores é

o controle da temperatura dentro das estufas, usando um sistema de nebulização,

tornando o ambiente mais propício para o desenvolvimento das plantas. Porém, a

utilização apenas de um sistema de resfriamento da solução nutritiva pode ser uma

alternativa viável e mais econômica em relação ao controle de todo o ambiente

protegido em função do menor consumo energético, cuja tecnologia já vem sendo

usada por alguns produtores.

Cerca de 90% da produção é de alface e 10% de rúcula e condimentos. As

cultivares utilizadas são dos grupos lisa, crespa, mimosa e americana, em função da

preferência dos consumidores e da finalidade a que se destina a produção. A maior

preferência é pelas cultivares crespas para consumo em saladas. Restaurantes e

lanchonetes têm preferência pelas cultivares americanas devido à sua maior

crocância. As cultivares do grupo mimosa, devido à morfologia das folhas, também

são bastante apreciadas em saladas. Já as cultivares do grupo lisa ocupam uma

pequena parcela do mercado, não tendo muita procura pelos consumidores. Entre

as cultivares crespas destacam-se Isabela, Mariane, Veneranda, Vanda, Vera,

Verônica, Pira Verde, Pira Roxa, Belíssima, Banchu Red Fire, Hortência, Scarlet e

Camila. Lucy Brown e Novax são as mais utilizadas do grupo americana e Salad

Bowl e Mirella do grupo mimosa. Entre as cultivares do grupo lisa destacam-se

Vitória de Santo Antão, Solaris, Crocante, Regina e Regiane. Pesquisas de

avaliações de cultivares, realizadas em ambiente tropical no estado do Espírito

Santo, mostram que as cultivares Babá de Verão, Regina de Verão e Vitória de

Santo Antão têm se destacado (Mello et al., 2010), apresentando ótima

produtividade em cultivo hidropônico

Page 89: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

86

No total das hidroponias capixabas, são comercializados aproximadamente 5,5 mil

pés alface/dia, totalizando 168 mil pés alface/mês. O custo médio varia de R$ 0,15 a

R$ 0,40 e preço de venda variando de R$ 0,50 a R$ 0,80. Segundo Geisenhoff et al.

(2009), na região de Lavras-MG, o custo de cada pé de alface é R$ 0,35 e o preço

de venda é de R$ 0,70.

A escolaridade dos hidroponicultores é relativamente elevada, com constante

participação em cursos, palestras, congressos e especializações, todas fora do

estado. Os produtores não estão associados em cooperativas e associações

relacionadas à hidroponia, mas interagem entre si, partilhando experiências.

Nas hidroponias voltadas para a pesquisa, buscam-se novas tecnologias para o

Espírito Santo, relacionadas principalmente com cultivares adaptadas ao clima da

região, temperatura ideal da solução nutritiva e condutividade elétrica da solução

nutritiva. Porém, há a necessidade de mais profissionais qualificados atuando na

área, para auxiliarem o hidroponicultor.

Outro ponto observado na pesquisa é a falta de divulgação e marketing dos produtos

hidropônicos. Uma pequena fatia do mercado tem conhecimento da qualidade dos

produtos. Algumas medidas poderiam ser tomadas para uma maior exposição dos

produtos hidropônicos, por exemplo: placas indicativas, propagandas nas gôndolas

dos supermercados (nenhum produto se populariza ficando oculto aos olhos do

consumidor); promoções em alguns dias do mês, pois aproximando seu preço dos

produtos cultivados de forma convencional, teria propensão a atrair as mais variadas

classes consumidoras; folders explicativos sobre a qualidade e diferenciação do

produto hidropônico; diversificação dos produtos cultivados, tanto em cultivares,

como com hortaliças diferentes (com uma maior variedade, consequentemente

pode-se atingir maior visibilidade e uma maior fatia do mercado); e pesquisas de

mercado sobre preferências do consumidor, identificando onde o consumidor se

encontra, qual produto ele tem preferência e assim qual produto deve produzir.

Algumas dessas medidas certamente aumentariam a procura e a produção dos

produtos hidropônicos.

Quanto à destinação, o principal mercado é o capixaba, porém boa parte da

produção é destinada também a outros estados, como, por exemplo, para lojas em

áreas nobres do Rio de Janeiro.

Page 90: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

87

De acordo com a pesquisa, o Espírito Santo já possui uma considerável produção de

alface hidropônica, porém é um setor que tem grande capacidade de expansão,

devido tanto ao apelo do consumidor que exige alface de qualidade durante todo o

ano quanto aos problemas climáticos observados na maioria das regiões capixabas.

Há necessidade de novas soluções adaptadas às diferentes regiões do estado, de

cursos, eventos e palestras para atender aos produtores que hoje buscam

informações em outros estados, além de maior divulgação dos produtos

hidropônicos no estado.

6.6 REFERÊNCIAS

BARBIERI, E. et al. Condutividade elétrica ideal para o cultivo hidropônico de alface em ambiente tropical. In: Congresso Brasileiro de Olericultura 50, 2010. Anais... Guarapari: ABH, 2010. CD-Rom.

BOARETTO, L. C. Viabilidade econômica da produção de alface, em quatro sistemas tecnológicos: campo aberto, túnel baixo, estufa e hidropônico. 2005. 104f. Dissertaçăo (Mestrado) − Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Agrárias, Curitiba, PR, 2005.

CAMPO & NEGÓCIOS (Revista), ano VII, n.75. Hidroponia cresce no Brasil. Disponível em < http://www.revistacampoenegocios.com.br/anteriores/2011-08/index.php?referencia=capacnhf>. Acesso em 20 jan. 2012.

COMETTI, N. N. et al. Panorama e Potencial para a Produção de Hortaliças em Hidroponia no Espírito Santo. In: ANDRADE, F.V.; PASSOS, R.R.; MENDONÇA, E.S.; LIMA, J.S.S.; FERREIRA, A. Tópicos Especiais em Produção Vegetal II. Alegre: CCAUFES, v.1, p.21-38, 2011

COSTA, J.S.; JUNQUEIRA, A.M.R. Diagnóstico do cultivo hidropônico de hortaliças na região do Distrito Federal. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 1, p. 49-52, 2000.

ESPÍRITO SANTO (Estado). Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura : novo PEDEAG 2007-2025/ Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca. Vitória : SEAG, 284 p., 2008.

GEISENHOFF, L.O. et al. Viabilidade econômica da produção de alface hidropônica em Lavras – MG. Agrarian, v.2, n.6, p.61-69, out./dez. 2009.

MELO, D.J.F de et al. Avaliação de cultivares de alface e número de plantas por célula, em cultivo hidropônico em ambiente tropical In: Congresso Brasileiro de Olericultura 50, 2010. Anais... Guarapari: ABH, 2010. CD-Rom.

ZANELLA, F. et al. Crescimento de alface hidropônica sob diferentes intervalos de irrigação. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.32, n.2, p.366-370, 2008.

Page 91: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

88

7 CONCLUSÕES GERAIS

A temperatura e a luminosidade afetam significativamente as cultivares utilizadas.

As cultivares Vitória de Santo Antão, Babá de Verão e Rainha de Maio podem

ser recomendadas para o cultivo em ambiente tropical com a vantagem de

apresentar maior resistência ao pendoamento.

A cultivar Regina de Verão, apresenta baixa média de comprimento caule, o

que mostra sua maior resistência às condições de alta temperatura e

luminosidade verificadas dentro da estufa.

A cultivar Salad Bowl apresenta boa produtividade, porém também apresenta

valor alto para comprimento do caule. Recomenda-se, neste caso, a

antecipação da colheita para esta cultivar, evitando assim o pendoamento

precoce.

A cultivar Rubi apresenta a pior produtividade, indicando que em condições

de alta temperatura e luminosidade dentro da estufa, esta cultivar não possui

boa adaptação.

Apesar da cultivar Grand Rapids ter apresentado boa produtividade,

apresenta alto valor de comprimento de caule e, portanto, sensibilidade ao

pendoamento precoce, devendo ter sua colheita antecipada.

A cultivar Itapuã não apresenta boa produtividade, não sendo uma boa opção

para ser recomendada ao cultivo hidropônico;

A cultivar Veneranda apresenta o menor alongamento, podendo ser mantida

por um período maior nas bancadas.

A cultivar americana Delícia não mostra boa produtividade, porém apresenta

ótima aceitação no teste de degustação.

O Espírito Santo já possui uma considerável produção de alface hidropônica,

porém é um setor que tem grande capacidade de expansão, devido tanto ao

apelo do consumidor que exige alface de qualidade durante todo o ano

quanto aos problemas climáticos observados na maioria das regiões

capixabas.

Page 92: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALFACE …repositorio.ufes.br/bitstream/10/6540/1/Karla Galon.pdf · karla galon avaliaÇÃo do desempenho de cultivares de alface em cultivo

89

São produzidos cerca de 168 mil pés de alface por mês, numa área de

aproxidamente 3,0 hectares de alface, distribuídos em 17 hidroponias, sendo

três delas voltadas para pesquisa.

O preço de custo de cada pé varia de R$ 0,15 a 0,40 e o preço de venda

varia de R$ 0,50 a 0,80.

Há necessidade de novas soluções adaptadas às diferentes regiões do

estado, de cursos, eventos e palestras para atender aos produtores que hoje

buscam informações em outros estados, além de maior divulgação dos

produtos hidropônicos no estado.