avaliaÇÃo de desempenho de pessoas em bancos: uma anÁlise de polÍticas, prÁticas e abordagens

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO RODRIGO OCTAVIO MACEDO ARANHA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PESSOAS EM BANCOS: UMA ANÁLISE DE POLÍTICAS, PRÁTICAS E ABORDAGENS SÃO PAULO/SP 2010

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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PESSOAS EM BANCOS: UMA ANÁLISE DE POLÍTICAS, PRÁTICAS E ABORDAGENS

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  • FUNDAO GETULIO VARGAS

    ESCOLA DE ADMINISTRAO DE EMPRESAS DE SO PAULO

    RODRIGO OCTAVIO MACEDO ARANHA

    AVALIAO DE DESEMPENHO DE PESSOAS EM BANCOS: UMA ANLISE DE

    POLTICAS, PRTICAS E ABORDAGENS

    SO PAULO/SP

    2010

  • RODRIGO OCTAVIO MACEDO ARANHA

    AVALIAO DE DESEMPENHO DE PESSOAS EM BANCOS: UMA ANLISE DE

    POLTICAS, PRTICAS E ABORDAGENS

    Dissertao apresentada Escola de Administrao de Empresas

    de So Paulo da Fundao Getlio Vargas, como requisito para

    obteno do ttulo de Mestre em Administrao de Empresas.

    Campo do conhecimento:

    Estudos Organizacionais

    Orientadora: Profa. Dr

    a. Beatriz Maria Braga

    SO PAULO/SP

    2010

  • Aranha, Rodrigo Octavio Macedo.

    Avaliao de Desempenho de Pessoas em Bancos: uma anlise de polticas, prticas e abordagens / Rodrigo Octavio Macedo Aranha. - 2010. 130 f.

    Orientador: Beatriz Maria Braga Dissertao (mestrado) - Escola de Administrao de Empresas de So Paulo.

    1. Administrao de recursos humanos. 2. Administrao de pessoal -- Brasil. 3. Desempenho -- Avaliao. 4. Bancos Administrao de pessoal. I. Braga, Beatriz Maria. II. Dissertao (mestrado) - Escola de Administrao de Empresas de So Paulo. III. Ttulo.

    CDU 658.3(81)

  • RODRIGO OCTAVIO MACEDO ARANHA

    AVALIAO DE DESEMPENHO DE PESSOAS EM BANCOS: UMA ANLISE DE

    POLTICAS, PRTICAS E ABORDAGEM

    Dissertao apresentada Escola de Administrao de Empresas

    de So Paulo da Fundao Getlio Vargas, como requisito para

    obteno do ttulo de Mestre em Administrao de Empresas

    Campo de Conhecimento:

    Estudos Organizacionais

    Data de aprovao: 29/04/2010

    Banca Examinadora:

    _______________________________________________

    Profa. Dr

    a. Beatriz Maria Braga (Orientadora)

    FGV - EAESP

    _______________________________________________

    Profa. Dr

    a. Graziella Maria Comini

    FEA - USP

    _______________________________________________

    Prof. Dr. Miguel Pinto Caldas

    FGV - EAESP

  • AGRADECIMENTOS

    Meu especial agradecimento vai para minha esposa, Marisa, e para minha filha, Las, por todo

    o carinho, apoio e compreenso demonstrados ao longo do curso.

    Agradeo muito Profa Beatriz Braga, minha orientadora, pelo interesse e entusiasmo desde a

    primeira hora, pela dedicao e pacincia e pelos muitos conselhos.

    Tambm quero agradecer Profa Graziella Comini e ao Prof. Miguel Caldas pela contribuio

    e conselhos valiosos quando da qualificao deste estudo.

    Vai aqui tambm um muito obrigado pelos colegas de mestrado, pela amizade, suporte e pelo

    muito bom humor, aspectos que foram muito importantes ao longo do curso.

    Em particular, quero agradecer aos amigos que compuseram comigo um grupo fantstico, de

    altssimo desempenho, fundamentais para o bom xito na tortura dos nmeros, nas sacadas

    iluminadas dos cases, nas projees visionrias de cenrios, na magia potteriana do

    marketing, na fora orgnica empreendedora e na genialidade hammeriana das finanas:

    Artur, Gimenez e Toms, um abrao a vocs.

    Por ltimo agradeo minha me, Orandy, pelo carinho e apoio, a quem ainda devo os

    boletins com minhas notas.

  • RESUMO

    Este trabalho situa-se no campo da gesto de Recursos Humanos e trata do tema da Avaliao

    de Desempenho de pessoas em empresas. O objetivo desta pesquisa foi realizar um

    levantamento das polticas e prticas de Recursos Humanos utilizadas por bancos no Brasil

    em seus processos de avaliao de desempenho e investigar como e com que objetivos as

    dimenses de desempenho relacionadas a resultados, comportamento, desenvolvimento e

    potencial so identificadas e mensuradas nestas organizaes. Como objetivo secundrio, a

    pesquisa buscou identificar como as decises de Gesto de Pessoas so tomadas por esses

    bancos com base em seus processos de avaliao de desempenho.

    Utilizou-se uma metodologia com abordagem qualitativa e de natureza exploratria, tendo

    sido realizadas 12 entrevistas semi-estruturadas com os responsveis pela rea de Recursos

    Humanos dos bancos pesquisados. Como mtodo de anlise, foi utilizado a anlise categorial

    temtica para interpretao das entrevistas realizadas. Os principais resultados encontrados na

    pesquisa foram: (i) os processos de avaliao de desempenho pesquisados revelam nfase na

    dimenso resultados, o que, a princpio demonstraria um forte estmulo a aes com

    resultados observveis e mensurveis no curto prazo, em detrimento a aspectos importantes

    para a sobrevivncia da organizao e que no se tornam visveis seno no mdio ou longo

    prazo; (ii) em parte, esta nfase atenuada com a definio de objetivos e metas baseadas em

    metodologias de desenvolvimento de medidas de desempenho como o balanced scorecard,

    alm da existncia de estmulos obteno de resultados de longo prazo (programas de

    aes); (iii) percebe-se, tambm, a considerao da dimenso comportamental dentro dos

    processos de avaliao de desempenho e sua implicao em decises de gesto de pessoas,

    incluindo o aspecto remuneratrio; (iv) a dimenso potencial considerada pela maioria das

    instituies, porm de forma pouco estruturada e sem o uso de ferramentas especficas; (v)

    por ltimo, a dimenso desenvolvimento aparenta ser de considerao menos estruturada,

    ocorrendo, em geral, no dia a dia da relao direta gestor / subordinado.

    Palavras-Chave: 1. Gesto de Recursos Humanos 2. Gesto de Desempenho 3. Avaliao de

    Desempenho 4. Dimenses de Desempenho 5. Decises de Gesto de Pessoas

  • ABSTRACT

    This is a study in the field of Human Resources Management and deals with the subject of

    people performance evaluation. The main purpose of this study was to investigate the policies

    and practices of Human Resources used by banks in Brazil in their processes of performance

    evaluation and to analyze how and why the dimensions of performance, such as results,

    behavior, development and potential, are identified and measured in these organizations. A

    secondary objective was to identify how the people management decisions are taken by these

    organizations based on their processes of performance evaluation.

    The methodology used in this study was based on a qualitative approach and had a

    exploratory nature. According to this, 12 semi-structured interviews were conducted with

    executives in charge of the HR reas of the banks surveyed. The analysis by thematic

    categories was used as the content analysis method for the interpretation of the above

    mentioned interviews results. The main results found in the research were the following: (i)

    the performance evalutation processes surveyed revealed emphasis on the results dimension,

    showing, at first, an estimulus to short term actions as opposed to important aspects to the

    surviving of the organization that are only visible in the long run; (ii) in part, this emphasis is

    softened with the definition of goals baseado on performance measures development

    methodologies like balanced scorecard, as well as the existence of estimulus to the

    obtainement of long term results (stock programs); (iii) it can be seen the consideration of the

    bevahior dimension in the processes of performance evaluation and its implication in people

    management decisions, including; (iv) the potential dimension is considered by most of the

    surveyed banks; however this consideration is generally not structured and specific tools are

    not used; (v) finally, the development dimension appears to be the less structured one and it

    occurs, in general, in the day to day direct relationship between manager and subordinate.

    Key Words: 1. Human Resource Management 2. Performance Management 3. Performance

    Appraisal 4. Dimensions of Performance 5. People Management Decisions

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURAS

    Figura 1: Framework para a Gesto de RH proposto por Guest (1997) 18

    Figura 2: Framework para a Gesto de RH proposto por Paauwee e Richardson

    (1997)

    19

    Figura 3: Relao entre Prticas de RH, Gesto de Desempenho e Avaliao de

    Desempenho

    20

    Figura 4: Modelo de Gesto de Desempenho proposto por Guimares (1998) 23

    Figura 5: Modelo de Gesto de Desempenho proposto por Luecke (2006) 24

    Figura 6: Modelo de Gesto de Desempenho proposto por Gilliland e Langdon

    (1998)

    25

    Figura 7: Modelo de Relacionamento entre Gesto de RH e Gesto de Desempenho 27

    Figura 8: Estrutura proposta para a pesquisa 49

    Figura 9: Matriz Nine Boxes 78

    Figura10: Modelo de Gesto de Desempenho adotado pelos bancos da amostra 111

    QUADROS

    Quadro 1: Componentes a Eliminar e a Incluir em Processos de Avaliao de

    Desempenho

    33

    Quadro 2: Dimenses de Desempenho e Objetivos de Avaliao 42

    Quadro 3: Principais Vantagens e Desvantagens da Entrevista 56

    Quadro 4: Empresas Pesquisadas 58

    Quadro 5: Qualidades das Boas Categorias 60

    Quadro 6: Exemplo de Texto Segmentado 61

    Quadro 7: Resumo das Informaes Coletadas 89

    Quadro 8: Caractersticas dos Processos de Avaliao x Empresas Pesquisadas 99

    Quadro 9: Caractersticas dos Processos de Avaliao x Caractersticas Empresas

    Pesquisadas

    106

    Quadro 10: Sugestes para Pesquisas Futuras 116

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .........................................................................................................

    2. FUNDAMENTOS TERICOS ...............................................................................

    2.1. Gesto de Desempenho .......................................................................................

    2.2. Modelos Tericos de Gesto de Desempenho .....................................................

    2.3. A Avaliao de Desempenho ..............................................................................

    2.3.1. Viso Geral ................................................................................................

    2.3.2. O Processo de Definio de Objetivos e Metas ........................................

    2.3.3. O Processo de Feedback ...........................................................................

    2.3.4. As Dimenses do Desempenho .................................................................

    2.4. Principais Concluses...........................................................................................

    3. PROBLEMA DE PESQUISA ..................................................................................

    4. OBJETIVOS DO TRABALHO ...............................................................................

    5. METODOLOGIA .....................................................................................................

    5.1. Abordagem ..........................................................................................................

    5.2. Natureza do Estudo..............................................................................................

    5.3. Estratgia de Pesquisa e Mtodo de Coleta .........................................................

    5.4. Amostra ...............................................................................................................

    5.5. Anlise e Interpretao dos Dados ......................................................................

    6. RESULTADOS DA PESQUISA .............................................................................

    7. DISCUSSO DOS RESULTADOS ........................................................................

    8. CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................

    8.1. Concluses ...........................................................................................................

    8.2. Limitaes da Pesquisa ........................................................................................

    8.3. Sugestes para Pesquisas Futuras ........................................................................

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .........................................................................

    APNDICE A ROTEIRO DE ENTREVISTA .........................................................

    10

    14

    15

    23

    29

    29

    36

    37

    40

    46

    50

    52

    53

    53

    53

    54

    57

    59

    62

    91

    108

    108

    114

    115

    120

    130

  • 10

    1. INTRODUO

    O presente trabalho visa contribuir para um campo de estudos de grande importncia que

    o campo da Gesto de Desempenho de Pessoas. Trata-se de uma rea cujos conceitos tm

    recebido cada vez mais ateno das organizaes como um caminho para o desenvolvimento

    dos seus profissionais e, por conseqncia, para o aumento de produtividade e a melhoria de

    resultados. Esta crescente ateno resultado dos desafios cada vez mais significativos e

    complexos aos quais as empresas esto expostas em mercados cada vez mais globalizados e

    competitivos. Sendo assim, a preocupao com ganhos de produtividade e de desempenho

    tem sido um item de alta prioridade para os gestores dessas empresas.

    Este estudo assume o conceito de Gesto de Desempenho como um conjunto de prticas

    de gesto de pessoas integradas e relacionadas, que podem incluir, dependendo do autor,

    seleo e recrutamento, desenvolvimento profissional, gesto de carreira, remunerao e

    assim por diante, aplicadas com um enfoque estratgico e holstico, com o propsito de

    contribuir para a melhoria do desempenho individual e organizacional. Ocupando um papel

    central neste conjunto integrado e dinmico de sistemas de recursos humanos encontra-se o

    processo de Avaliao de Desempenho, que constitui o foco deste trabalho.

    Para a realizao deste estudo, foram identificados alguns modelos tericos de Gesto de

    Desempenho que serviram como referncia para a pesquisa desenvolvida. De maneira geral,

    esses modelos tm foco nos processos de Avaliao de Desempenho e no incorporam ou do

    pouca nfase a outros processos ou prticas que autores como Roberts (2001), por exemplo,

    sustentam como sendo importantes na Gesto de Desempenho. Chama a ateno que os

    modelos pesquisados sugerem a aplicao de um mesmo framework, isto uma abordagem

    semelhante, que inclui etapas de estabelecimento de objetivos, de acompanhamento e de

    avaliao propriamente dita de indicadores de desempenho relacionados a metas e objetivos.

    Nos modelos pesquisadas no existe, no entanto, clareza a respeito do conceito de

    desempenho utilizado. Pode-se inferir que, nestes modelos, o desempenho refere-se ao grau

    de alcance de metas e objetivos pr-definidos obtido por um indivduo em um determinado

    ciclo de avaliao, o que sugere um conceito de desempenho focado em resultados e,

    portanto, relacionado acima de tudo com o esforo depreendido por um indivduo na

    realizao do seu trabalho. Contudo, em quaisquer dos modelos pesquisados, os resultados

    obtidos no processo de avaliao so utilizados como inputs para diferentes e relevantes

  • 11

    decises de gesto de pessoas tais como remunerao, promoes e desenvolvimento. Tais

    decises contm um carter estratgico e fundamental para uma empresa e, portanto, so de

    enorme importncia.

    Pode-se argumentar que os modelos pesquisados incorporam uma orientao

    excessivamente voltada para o curto prazo, caracterizado pelo foco no resultado, isto ,

    naquilo que observvel e mensurvel no curto prazo, em detrimento a outros aspectos

    tambm importantes para a sobrevivncia de uma organizao e que se tornam visveis apenas

    no mdio ou longo prazo. Pode-se, tambm, argumentar que o foco excessivo em resultados

    no permite uma avaliao consistente e plena da contribuio de um indivduo para a sua

    organizao por vrias razes. Conforme apontado por Hiplito e Fernandes (2008), uma

    razo a existncia de variveis no controladas pelo indivduo e que afetam de forma tanto

    positiva quanto negativa a realizao das metas e objetivos pr-definidos. Outra razo que

    esses autores indicam e que talvez seja ainda mais relevante, que o alcance ou superao de

    metas pode ter um carter meramente temporal, isto , pode no se repetir de um ciclo de

    avaliao para outro. Porm, em situaes onde este alcance ou superao tem por base uma

    mudana de processo ou uma nova maneira de realizar uma determinada atividade, que

    implique em um novo conhecimento ao capital intelectual da organizao, obtm-se um

    ganho de produtividade de carter permanente, o que, num modelo focado em resultado, no

    captado e, portanto, diferenciado.

    A despeito da importncia dos resultados obtidos em processos de avaliao de

    desempenho como base para a tomada de decises relevantes e fundamentais de gesto de

    pessoas, o exame da literatura revela que so escassos os trabalhos realizados com esse foco.

    Ademais, exceo do trabalho de Guimares (1998), os estudos e pesquisas voltados a

    sistemas de Gesto de Desempenho apresentam, em sua maioria, foco em processos isolados,

    como avaliao de desempenho, feedback e coaching.

    A respeito da avaliao de desempenho, por exemplo, foram identificados vrios estudos

    com foco nos processos envolvidos, isto , nas etapas que compem a avaliao, como

    Guimares (1998) e Luecke (2006). Outros, como Beatty e Schneier (1997) e Bernardin et al.

    (1998), discutem a importncia da preciso e da clareza no estabelecimento de objetivos e

    metas. Edwards e Ewen (1996) e McLoughney (2007) por sua vez, focam seus estudos na

    questo do feedback, enquanto Peterson e Hicks (1995) o fazem na questo do coaching.

    Outros estudos apontam para o papel dos agentes, isto , os responsveis por implantar as

  • 12

    prticas de Recursos Humanos em uma empresa, incluindo aquelas relacionadas com a Gesto

    de Desempenho, destacando-se a o trabalho de Hartog et al. (2004).

    Dutra (2002) e Hiplito e Reis (2002) chamam a ateno para a questo do desempenho

    em si e argumentam que o conceito de desempenho deve ser analisado atravs de quatro

    dimenses distintas: desenvolvimento, resultados, comportamento e potencial. Para esses

    autores, estas dimenses no so, em geral, adequadamente tratadas pelos processos de

    Avaliao de Desempenho empregados pelas empresas. Isto porque, segundo os autores, os

    processos focam uma nica dimenso ou misturam dimenses em uma mesma ferramenta,

    quando deveriam trat-las de forma diferente, tanto no que diz respeito forma de avaliao

    em si quanto s decises e aes de gesto de pessoas decorrentes da avaliao. Para esses

    autores, ao se considerar de forma especfica cada uma dessas dimenses de desempenho,

    passa a ser possvel capturar a plenitude da contribuio de um indivduo para a organizao,

    alm de possibilitar que decises de gesto de pessoas que tm por base o desempenho sejam

    tomadas de forma mais consistente, efetiva e com perspectiva de mdio e longo prazo,

    configurando um carter de fato estratgico para o modelo de gesto de desempenho

    utilizado.

    Embora seja um tema altamente relevante para os estudos das polticas e prticas de

    gesto de recursos humanos, so escassas as pesquisas sobre o tema Gesto de Desempenho

    no Brasil. Especificamente com foco na aplicao prtica dos conceitos relacionados s

    dimenses de desempenho sustentadas por Dutra (2002) e Hiplito e Reis (2002), no foi

    identificado nenhum trabalho realizado.

    Existe aqui, portanto, uma oportunidade de pesquisa cuja relevncia est no seu

    ineditismo e na prpria contribuio para um ganho de conhecimento no campo de estudos da

    Gesto de Desempenho.

    Assim, a presente pesquisa busca compreender como as diferentes dimenses de

    desempenho, tal como definidas por Hiplito e Reis (2002) so ou no trabalhadas nos

    modelos de Gesto de Desempenho utilizados por bancos no Brasil e quais so as implicaes

    disto. Para tanto, este estudo buscou identificar quais so as dimenses de desempenho

    consideradas nos processos de Avaliao de Desempenho destas instituies e como elas so

    mensuradas e avaliadas. Alm disso, tambm buscou identificar como as decises de gesto

    de pessoas nestas organizaes so tomadas com base em seus processos de avaliao de

    desempenho e nas dimenses consideradas.

  • 13

    Esta dissertao est estruturada da seguinte maneira: no captulo 2 apresentada uma

    reviso da literatura acadmica disponvel sobre o tema, de forma a ressaltar os principais

    conceitos e definies j estabelecidos e dar amparo terico a este estudo. Em seguida so

    apresentados o problema de pesquisa formulado e os objetivos gerais e especficos deste

    estudo. No captulo 5 apresentada a metodologia utilizada na pesquisa e no captulo 6 so

    apresentados os resultados da pesquisa emprica realizada com uma amostra formada por doze

    instituies financeiras que operam no Brasil. O captulo 7 contm as discusses dos

    resultados apresentados e o captulo final apresenta as consideraes finais do estudo,

    incluindo suas principais concluses, suas limitaes do estudo e sugestes para pesquisas

    futuras.

  • 14

    2. FUNDAMENTOS TERICOS

    Ao se debruar sobre o tema Gesto de Desempenho de Pessoas, o pesquisador ir se

    deparar muito rapidamente com a expresso inglesa Performance Management, que pode

    ser traduzida livremente para Gesto de Desempenho. Tambm comum encontrar a

    expresso Performance Appraisal, cuja livre traduo Avaliao de Desempenho. Nota-

    se, em vrios casos, a atribuio do mesmo significado prtico para ambas as expresses.

    Alguns autores, incluindo Luecke (2006), utilizam a expresso Avaliao de Desempenho

    para descrever processos que tenham como principal objetivo explicitar o desempenho de

    uma pessoa como elemento essencial para o gerenciamento do seu desempenho. Outros

    autores, tais como Fletcher (2004), Roberts (2001), Hiplito e Reis (2002) usam a expresso

    Gesto de Desempenho ao referir-se a processos mais complexos e de maior envergadura, que

    so formados pela interconexo de processos de Avaliao de Desempenho com outras

    funes de gesto de recursos humanos, como prticas de seleo e recrutamento,

    desenvolvimento profissional, gesto de carreira, remunerao e assim por diante. Para esses

    autores, portanto, os processos de Avaliao de Desempenho esto contidos na Gesto de

    Desempenho.

    Assim, este captulo iniciado com uma anlise da literatura a respeito da evoluo

    conceitual da expresso Performance Management, tendo como objetivo deixar claro nesta

    pesquisa a que se referem os termos Gesto de Desempenho e Avaliao de Desempenho.

    Buscou-se, na sequncia, compreender a extenso estratgica dos processos de Gesto

    Desempenho, como parte de um referencial maior que a Gesto Estratgica de Recursos

    Humanos. O objetivo provocar uma reflexo sobre a capacidade ou no dos processos de

    Gesto de Desempenho se tornarem um elemento de vantagem competitiva no contexto

    empresarial.

    Na segunda parte, visou-se identificar na literatura disponvel alguns modelos tericos de

    Gesto de Desempenho. Os modelos encontrados so descritos e analisados e constata-se que

    so fortemente centrados nos processos de Avaliao de Desempenho, corroborando com as

    definies pesquisadas para a Gesto de Desempenho. Dessa forma, a terceira parte deste

    captulo aprofunda o referencial terico sobra a Avaliao de Desempenho especificamente,

    iniciando-se por uma viso geral do tema e seguindo-se por uma anlise terica especfica de

  • 15

    dois processos percebidos como chave dentro da Avaliao de Desempenho, que so

    respectivamente o processo de Definio de Objetivos e Metas e o processo de Feedback.

    Tanto na anlise dos modelos tericos de Gesto de Desempenho quanto no

    aprofundamento do referencial terico para a Avaliao de Desempenho, no fica claro o

    conceito de desempenho utilizado. Os modelos e processos analisados sugerem a aplicao de

    um framework comum para a avaliao de diferentes indicadores de desempenho, cujos

    resultados alimentam diferentes decises de gesto de pessoas tais como remunerao,

    promoes e desenvolvimento. Assim, a quarta parte deste captulo dedicada a analisar e

    compreender as dimenses que do forma ao desempenho de uma pessoa como um todo.

    Finalmente, na quarta e ltima parte deste captulo feito um resumo das principais

    concluses obtidas a partir do exame da literatura encontrada sobre o tema e que amparam a

    formulao do problema de pesquisa proposto neste trabalho.

    2.1 Gesto de Desempenho

    A reviso da literatura existente sobre o tema revela no haver uma definio aceita

    universalmente para o termo Gesto de Desempenho. As definies existentes so, no entanto,

    similares; uma verso interessante a que descreve o termo como um conjunto de

    mecanismos - incluindo desde a definio de objetivos e metas, passando por processos de

    acompanhamento e avaliao de resultados atingidos e decises relacionadas a recompensas -

    que cria uma viso compartilhada do propsito e das finalidades da organizao, auxiliando

    cada funcionrio a entender e reconhecer sua parcela de contribuio e, desta forma,

    contribuindo para o gerenciamento e o aperfeioamento do desempenho individual e

    organizacional (WILLIAMS, 2002).

    O interesse pelo tema, assim como as bases da pesquisas sobre processos relacionados

    Gesto de Desempenho, no recente. Ao contrrio, remontam ao surgimento de teorias

    organizacionais, como a Administrao Cientfica (TAYLOR, 1911). Com o surgimento e a

    evoluo do capitalismo e o desenvolvimento empresarial decorrente, o interesse e a

    necessidade por mecanismos de avaliao de desempenho como meio de controle do trabalho

    tornou-se crescente. Assim, ao longo do sculo XX e neste incio do sculo XXI, no somente

    os conceitos e prticas relacionadas evoluram rapidamente, como tambm o tema tornou-se

  • 16

    objeto de pesquisas acadmicas, como foco variado em vrios aspectos relacionados

    (FLETCHER, 2001).

    Beer, Ruth, Dawson, McCaa e Kavanagh (1978) foram, possivelmente, os primeiros a

    usar o termo Gesto de Desempenho. Em um trabalho realizado para uma empresa norte-

    americana, os autores utilizaram o termo de forma pioneira para se referir a um programa

    compreendendo um conjunto de componentes interativos e correlacionados, voltados ao nvel

    de trabalho tanto individual quanto em equipe, com o propsito ltimo de melhorar a

    efetividade organizacional. Como elemento central do programa, encontrava-se a avaliao de

    desempenho, sendo o enfoque utilizado para a avaliao, quer do indivduo quer do grupo,

    baseado numa perspectiva de propsito organizacional. De forma complementar, as

    informaes resultantes do processo de avaliao de desempenho passaram a ser utilizadas

    para outras finalidades, incluindo feedback, promoes, decises de remunerao,

    planejamento sucessrio, desenvolvimento e mesmo desligamentos.

    O conceito de Gesto de Desempenho se concretiza com a evoluo do processo de

    avaliao de desempenho para uma srie de processos interligados relacionados gesto de

    pessoas, ainda que mantenha sua centralidade na avaliao, recompensa e desenvolvimento de

    funcionrios (FLETCHER, 2004). Com seu enfoque mais estratgico e holstico para o

    desempenho organizacional, o conceito de Gesto de Desempenho estabelece para o processo

    de avaliao de desempenho um papel central em um conjunto mais integrado e dinmico de

    prticas de recursos humanos, que podem incluir, dependendo do autor, como Roberts (2001)

    e Hiplito e Reis (2002), desde processos de seleo, passando por desenvolvimento e indo

    at decises relacionadas a remunerao, promoes e movimentao de pessoas. Conforme

    Ulrich (1997), os sistemas efetivos de Gesto de Desempenho reconhecem que a avaliao

    no um fim em si; ao contrrio, trata-se de um componente crtico de um conjunto mais

    amplo de prticas de recursos humanos, as quais devem estar claramente ligadas ao

    desempenho do negcio, ao desenvolvimento pessoal e organizacional e cultura e estratgia

    corporativas. Para o autor, a Gesto de Desempenho , portanto, parte integrante das prticas

    de Recursos Humanos.

    Segundo Hartog et al. (2004), as iniciativas relacionadas Gesto de Desempenho,

    inicialmente focadas em tornar explcito o desempenho de um funcionrio como elemento

    fundamental para o gerenciamento do seu desempenho, so vistas agora como um processo

  • 17

    integrado no qual gerentes trabalham com seus subordinados para definir metas e objetivos,

    medir e avaliar os resultados obtidos e recompens-los adequadamente, com vistas melhoria

    do desempenho individual e, em ltima instncia, do desempenho organizacional.

    Hiplito e Reis (2002) sustentam uma viso ampla para a Gesto de Desempenho, ao

    argumentar que esta formada a partir da interconexo do processo de avaliao de

    desempenho com outras funes de gesto de recursos humanos, intercambiando inputs com

    prticas de seleo, desenvolvimento profissional, gesto de carreira, remunerao e assim

    por diante a fim de alavancar os profissionais de uma empresa a nveis superiores de

    desempenho e, com isso, obter a melhoria global do desempenho e da produtividade das

    pessoas ao longo do tempo.

    Roberts (2001), por sua vez, fornece uma viso ampla para a Gesto de Desempenho,

    argumentando que envolve o estabelecimento de metas e objetivos corporativos,

    departamentais, de equipes e individuais e o uso combinado de diversas prticas de Recursos

    Humanos que incluem: sistemas de avaliao de desempenho, estratgias e esquemas de

    recompensa vinculadas ao desempenho, planos e estratgias de treinamento e

    desenvolvimento, feedback, comunicao e coaching, planejamento individual de carreira,

    mecanismos de monitorao da efetividade do sistema de Gesto de Desempenho em si e

    intervenes e mesmo gesto da cultura corporativa. Visto desta forma, pode-se dizer que a

    Gesto de Desempenho envolve a gesto do dia-a-dia bem como o suporte e o

    desenvolvimento de pessoas, implicando no alinhamento de prticas de Recursos Humanos de

    forma a provocar melhorias no desempenho e no desenvolvimento dos funcionrios, com o

    propsito ltimo de maximizar o desempenho organizacional. Da mesma forma como

    sustentado por Ulrich (1997), esta viso deixa claro que a Gesto de Desempenho parte

    integrante do conjunto maior de prticas de Recursos Humanos de uma empresa, que inclui

    ainda, por exemplo, prticas relacionadas a seleo e recrutamento ou mesmo aquelas

    relacionadas a benefcios.

    A viso de Roberts (2001), descrita acima, encontra suporte nos frameworks para a

    Gesto de Recursos Humanos de uma organizao descritos tanto por Guest (1997) quanto

    por Paauwee e Richardson (1997).

    A figura a seguir descreve o framework proposto por Guest (1997):

  • 18

    Figura 1: Framework para a Gesto de Recursos Humanos proposto por Guest (1997) (adaptado)

    De acordo com este modelo, as prticas de Recursos Humanos so derivadas da estratgia

    estabelecida pela organizao, a qual define a estratgia de Recursos Humanos requerida. As

    prticas implantadas, por sua vez, supostamente geram conseqncias (resultados) que

    implicam em comportamentos desejados. Tais comportamentos influenciam o desempenho

    resultante. Por ltimo, o desempenho apresentado resulta em conseqncias financeiras.

    Paauwee e Richardson (1997), por sua vez, propem um framework de anlise no muito

    distinto, conforme descrito na figura a seguir:

    Estratgia

    Diferencia-

    o

    Foco

    Reduo de

    custo

    Prticas

    Seleo

    Treinamen-

    to

    Avaliao

    Recompen-

    sas

    etc

    Resultado

    Comprometim

    ento

    Qualidade

    Flexibilidade

    Comporta

    mentos

    Esforo /

    motivao

    Cooperao

    Envolvi-

    mento

    Identidade

    Desempenho

    Alto:

    Produtividade

    Qualidade

    Inovao

    Baixo:

    Faltas

    Rotatividade

    Conflitos

    Resultado

    Financeiro

    Lucro

    ROI

  • 19

    causalidade reversa

    Figura 2: Framework para Gesto de Recursos Humanos proposto por Paauwee e Richardson (1997)

    (adaptado)

    Se, por um lado, o modelo de Guest (1997) inclui diferentes nveis de anlise, por outro

    Paauwee e Richardson (1997) propem a considerao de variveis de controle como

    mecanismos de diferenciao, alm se sugerir a existncia do efeito de causalidade reversa,

    pelo qual o desempenho final apresentado pela organizao pode ensejar investimentos em

    novas prticas ou reforos em prticas j existentes.

    A figura a seguir resume, de forma esquemtica, a relao hierrquica entre prticas de

    Recursos Humanos, Gesto de Desempenho e Avaliao de Desempenho, interpretada a partir

    da anlise realizada acima:

    PRTICAS

    Recrutamento e seleo

    Planejamento e

    desenvolvimento

    Recompensas

    Treinamento

    Promoes e movimentaes

    internas

    Job design que favorea

    autonomia e participao

    Avaliao

    Feedback

    Coaching

    RESULTADOS

    Satisfao do funcionrio

    Motivao

    Reteno

    Baixa rotatividade

    Baixo absentesmo

    Clima interno

    Envolvimento e participao

    Confiana

    Lealdade

    DESEMPENHO

    Lucro

    Valor de mercado

    Participao de mercado

    Aumento em faturamento

    Produtividade

    Qualidade

    Satisfao dos clientes

    Desenvolvimento de

    produtos e servios

    Novos investimentos

    Variveis de contingenciamento e/ou de controle:

    Nvel organizacional:

    Tempo, tamanho, tecnologia, intensidade de capital, indstria/setor, influncia sindical, etc.

    Nvel individual (funcionrios):

    Idade, sexo, nvel educacional, experincia profissional, nacionalidade, etc.

  • 20

    Figura 3: Relao entre Prticas de RH, Gesto de Desempenho e Avaliao de Desempenho.

    Fonte: Autor

    Nesta viso, a Avaliao de Desempenho, cujo foco tornar explcito o desempenho de

    uma pessoa, faz parte da Gesto de Desempenho, que se utiliza dos inputs da Avaliao de

    Desempenho e faz uso de processos como remunerao e desenvolvimento, entre outros,

    visando alavancar o desempenho das pessoas. Por sua vez, a Gesto de Desempenho parte

    integrante das Prticas de Recursos Humanos de uma organizao. A extenso, em termos de

    processos componentes, tanto da Avaliao de Desempenho quanto da Gesto de

    Desempenho sofre variaes, conforme cada autor pesquisado, como j se viu nesta seo do

    trabalho.

    De forma geral, as prticas de Recursos Humanos, incluindo aquelas que envolvem a

    Gesto de Desempenho, vm passando por importantes mudanas em sua nfase. Esta,

    tradicionalmente, era muito voltada para aspectos mais operacionais, envolvendo, por

    exemplo, questes como definio de critrios, mtodos de avaliao e seus processos

    cognitivos, entre outros. J h algum tempo, porm, passou a ser enfatizada a importncia

    estratgica no desenvolvimento de prticas de gesto de Recursos Humanos. Buttler, Ferris e

    PRTICAS DE RECURSOS HUMANOS

    GESTO DE DESEMPENHO

    AVALIAO

    DE

    DESEMPENHO

  • 21

    Napier (1991), assim como Schuler, Dowling e De Cieri (1993) demonstram a importncia

    dessa perspectiva estratgica. Mohrman et al. (1989) sustentam que a nfase em estratgia

    representa uma extenso lgica dos modelos de avaliao de desempenho percebidos como

    parte de um sistema organizacional mais amplo.

    A Gesto de Recursos Humanos, na sua forma mais abrangente, preocupa-se com a

    seleo feita pela organizao a respeito das diversas e possveis polticas, prticas e

    estruturas disponveis para a gesto dos seus funcionrios (SISSON, 1990; BOXALL E

    PURCELL, 2003). Numa viso mais estratgica, a conceituao do termo Gesto de Recursos

    Humanos implica no desenho cuidadoso de combinaes de prticas de Recursos Humanos

    voltado melhoria da efetividade organizacional e a um melhor desempenho corporativo. Na

    definio de Wright e McMahan (1992), a gesto estratgica de Recursos Humanos equivale

    utilizao de prticas e atividades de recursos humanos que viabilizem a uma organizao

    atingir suas metas e objetivos estratgicos. Para Storey (1995), gesto de Recursos Humanos

    implica em um enfoque distinto para a gesto dos funcionrios de uma empresa que visa

    buscar vantagens competitivas, atravs da implantao estratgica de uma fora de trabalho

    altamente capacitada e comprometida pelo uso de um conjunto de tcnicas estruturais,

    culturais e de pessoas.

    Boselie et al. (2005), em pesquisa sobre artigos publicados entre 1994 e 2003 com foco

    no relacionamento entre Gesto de Recursos Humanos e desempenho organizacional,

    concluem por uma definio para Gesto de Recursos Humanos que elenca um conjunto de

    26 prticas, sustentando que as quatro principais seriam: a) seleo e recrutamento; b)

    treinamento e desenvolvimento; c) esquemas de recompensa e de remunerao contingentes; e

    d) avaliao de desempenho. Nota-se que, pelo menos as duas ltimas prticas, juntamente

    com a prtica de desenvolvimento, fazem parte da Gesto de Desempenho, o que refora a sua

    importncia. De acordo com os autores, tais prticas parecem refletir os principais objetivos

    da maior parte das conceituaes para a gesto estratgica de recursos humanos, que seriam,

    conforme Batt (2002), identificar e recrutar funcionrios de alto desempenho, dar-lhes suporte

    para que desenvolvam suas habilidades e a confiana necessria para um desempenho efetivo,

    monitorar seu desenvolvimento e progresso em relao s metas de desempenho requeridas e

    recompens-los de forma adequada por atingir ou exceder tais metas.

  • 22

    No entanto, as prticas de Recursos Humanos de uma organizao, incluindo aquelas

    relacionadas a Gesto de Desempenho, no podem ser consideradas recursos estratgicos em

    si, j que podem ser facilmente copiveis ou imitadas (WRIGHT et al., 1994). Na verdade, o

    que importa e que pode se tornar um diferencial competitivo o capital humano e social

    mantido pelas organizaes. Conforme argumenta Boxall e Steeneveld (1999), as prticas de

    Recursos Humanos de uma organizao tm como funo construir sua base de capital

    humano e estimular os tipos de comportamentos que se constituem em vantagem competitiva.

    Conforme Prahalad e Hamel (1990), as prticas de Recursos Humanos tm o potencial

    para criar uma das competncias essenciais de uma empresa. Tal competncia consiste em

    recursos tangveis (por exemplo, o uso de sistemas especficos de avaliao de desempenho) e

    intangveis (por exemplo, reputao e habilidade de negociao com agentes externos,

    conforme TAYLOR et al., 1996).

    No entanto, para que se transformem em vantagem competitiva de fato, as prticas de

    Recursos Humanos devem ir alm de questes meramente tcnicas ou metodolgicas e

    enfatizar objetivos estratgicos da organizao (HUSELID, JACKSON E SCHULER, 1997).

    De forma mais especfica, pode-se dizer que as prticas de Gesto de Desempenho podem

    formar uma competncia de Recursos Humanos fundamental, na medida em que induzam a

    comportamentos que contribuam diretamente para a melhoria do desempenho individual e

    organizacional, tornando-se assim em vantagens competitivas nicas, de difcil cpia por

    parte dos concorrentes.

    Nesse contexto, as prticas de Gesto de Desempenho devem ser focadas na induo de

    comportamentos que contribuam para a organizao atingir suas metas e objetivos

    estratgicos (LATHAM, 1984). Se utilizadas dessa maneira, as prticas como as que

    envolvem a avaliao de desempenho tornam-se ferramenta importante para assegurar a

    execuo bem sucedida da estratgia da empresa, sendo, portanto, muito mais do que um

    simples mtodo de norteamento das decises administrativas de gesto de pessoas

    (SCHNEIER et al., 1991).

    A seguir, so apresentados os modelos tericos de Gesto de Desempenho identificados

    nesta pesquisa.

  • 23

    2.2 Modelos Tericos de Gesto de Desempenho

    Guimares (1998) prope o seguinte modelo para a Gesto de Desempenho:

    Figura 4: Modelo de Gesto de Desempenho proposto por Guimares (1998) (adaptado)

    O modelo apresentado graficamente acima fornece uma viso integrada entre trs etapas

    distintas (planejamento, acompanhamento e avaliao), compostas de fases seqenciais e

    interdependentes, compondo um processo de gesto cclico. Na etapa de planejamento so

    estabelecidos os objetivos e metas desejados para o ciclo em questo, os recursos requeridos e

    os indicadores que sero utilizados para medida de desempenho. A etapa de acompanhamento

    visa assegurar consistncia entre planejamento e execuo e, dessa forma, tem por finalidade

    identificar eventuais desvios e adotar medidas corretivas. Na ltima etapa, a avaliao,

    compara-se os resultados obtidos com os planejados. As etapas se retro-alimentam atravs de

    feedback, permitindo aos gestores do processo adotar medidas corretivas para desvios

    identificados.

    PLANEJAMENTO ACOMPANHAMENTO

    Estabelecer

    objetivos e metas

    Definir recursos

    necessrios

    Definir

    indicadores de

    desempenho

    Planejar atividades

    Identificar desvios

    na execuo

    Estabelecer

    alternativas e

    implantar aes

    corretivas

    rrecorrevas

    AVALIAO

    Comparar

    resultados obtidos

    com os esperados

    Apurar resultados

    obtidos

  • 24

    Trata-se de um modelo de abordagem sistmica, com pouco ou nenhum espao para

    fenmenos cuja explicao possa ser fornecida por outras teorias, como a institucional. Tem

    foco na avaliao de desempenho propriamente dita, no incorporando prticas sustentadas

    por outros autores como elementos importantes no processo de Gesto de Desempenho (vide

    ROBERTS, 2001).

    Luecke (2006), por sua vez, incorpora em sua proposta elementos como coaching,

    tcnicas motivacionais e aes de desenvolvimento do funcionrio, conforme pode ser visto a

    seguir:

    Figura 5: Modelo de Gesto de Desempenho proposto por Luecke (2006) (adaptado)

    De acordo com o autor, o acompanhamento da evoluo do desempenho deve ser feita de

    forma conjunta por gestores e funcionrios, com base nos objetivos traados no incio do

    ciclo. A reviso intermediria permite uma ao formal de reorientao e correo de rota, no

    caso do avaliado estar apresentando um desempenho aqum do esperado. Na avaliao final,

    feita a comparao dos resultados obtidos com os planejados, o que fornece elementos para a

    tomada de decises relativas a recompensas (aumento salarial, promoo e pagamento de

    bnus) e a desenvolvimento profissional (treinamento para aquisio ou reforo de

    habilidades e conhecimentos, planejamento de carreira). O modelo tambm prope a

    Definio de

    objetivos

    Observao da

    evoluo do

    desempenho

    Desenvolvimento e

    recompensa

    Reviso

    intermediria

    Avaliao final

    Observao da

    evoluo do

    desempenho

    Funcionrio

    Motivao

    Coaching

  • 25

    utilizao de tcnicas motivacionais e de coaching, utilizadas ao longo do ciclo discrio do

    gestor como ferramentas adicionais no processo de gesto de desempenho.

    Gilliland e Langdon (1998) propem um modelo tambm similar, sugerindo trs etapas

    centrais ao processo de gesto, ilustradas a seguir:

    Figura 6: Modelo de Gesto de Desempenho proposto por Gilliland e Langdon (1998) (adaptado)

    Conforme sugerido, as etapas propostas so circunscritas cultura e ao ambiente da

    organizao (valores, normas, princpios, credos, estratgia, etc.) e, dessa forma, podem

    resultar em diferentes percepes de justia (para melhor ou pior).

    Desenvolvimento de Sistemas: incluem o desenvolvimento e manuteno dos

    instrumentos de avaliao de desempenho, o planejamento dos processos

    necessrios para a avaliao e para o fornecimento de feedback e a comunicao

    destes elementos para as partes relevantes. Tambm inclui os processos de

    comunicao das estratgias e dos objetivos e metas corporativas aos funcionrios,

    alm do processo de estabelecimento de metas e objetivos individuais para os

    funcionrios;

    Cultura e Ambiente

    Organizacional

    Desenvolvimento de

    Sistemas

    Feedback

    Avaliao

    Funcionrios

  • 26

    Processos de Avaliao: incluem a observao e a coleta de dados e informaes

    relativas ao desempenho apresentado, avaliao do desempenho propriamente dito

    e a formalizao dos resultados observados e concluses. Decises relativas a

    recompensas (aumento salarial, promoo e pagamento de bnus) tambm fazem

    parte desta etapa;

    Processos de Feedback: trata-se da etapa final e envolve a comunicao dos

    resultados da avaliao e de suas conseqncias. Tambm inclui o planejamento

    de necessidades de desenvolvimento e dos objetivos para o ciclo subseqente.

    As etapas, ou processos, sugeridos no modelo so interdependentes e inter relacionados

    ciclicamente. Aps ter havido o feedback, o processo de gesto de desempenho como um todo

    precisa ser revisado com vistas a possveis e necessrias melhorias. Ainda que o processo

    como um todo seja cclico, suas etapas ocorrem de forma contnua. Dessa forma, por

    exemplo, os funcionrios devem receber feedback informal sempre que necessrio, de forma a

    corrigir desvios e facilitar que metas e objetivos possam ser atingidos ou mesmo superados.

    Por ltimo, Hartog et al. (2004), diferentemente dos modelos anteriores, propem um

    modelo de gesto de desempenho no qual enfatizam os possveis efeitos da causalidade

    reversa e fatores contextuais (de forma similar ao framework sugerido por Paauwee e

    Richardson, 1997), assim como dos efeitos resultantes das percepes e atitudes tanto dos

    gestores (gerentes e supervisores) quanto dos funcionrios (subordinados) em relao aos

    processos e ferramentas utilizados. A centralidade deste modelo, ao contrrio dos anteriores

    (mais centrados em avaliao do desempenho) est no relacionamento laboral, o qual,

    segundo os autores, pode ser estudado sob diferentes nveis (indivduo, grupo, funo,

    organizao, indstria e mesmo sociedade) assim como sob diferentes perspectivas

    (dimenses contratual, transacional e psicolgica).

  • 27

    Figura 7: Modelo de Relacionamento entre Gesto de Recursos Humanos e Gesto de Desempenho

    Fonte: Hartog et al. (2004) (adaptado)

    O modelo proposto sugere haver um impacto, que pode ser significativo, das prticas de

    gesto de desempenho adotadas pela organizao nas percepes e atitudes dos seus

    funcionrios. Tais percepes e atitudes so derivadas dos processos de comunicao e de

    implantao destas prticas, nos quais o papel dos gestores (gerentes e supervisores) visto

    como fundamental. As percepes e atitudes, por sua vez, iro impactar de forma positiva,

    negativa ou neutra o desempenho da organizao como um todo. Desta forma, juntamente

    com o efeito da causalidade reversa e fatores contextuais, o papel do gestor e as reaes dos

    funcionrios so vistos como fatores altamente relevantes para um sistema de gesto de

    desempenho.

    O gestor, responsvel na maioria das vezes pela aplicao prtica das polticas e processos

    de Recursos Humanos, entre elas as relacionadas com gesto de desempenho, tem papel

    determinante na maneira como tais polticas e prticas so percebidas na realidade pelos

    funcionrios, influenciando assim, de forma direta e decisiva, as percepes e atitudes destes

    em relao s mesmas. Como conseqncia, as aes e comportamentos dos funcionrios iro

    influenciar no somente o desempenho individual de cada um, como tambm o da

    organizao como um todo.

    De acordo com Hartog et al. (2004) a percepo dos funcionrios sobre as prticas de

    Recursos Humanos, em particular aquelas relacionadas a gesto de desempenho, como

    definio de objetivos e metas, feedback e desenvolvimento, entre outras, interfere

    Prticas de

    Gesto de

    Desempenho

    Gestor

    Gerente /

    Supervisor

    Percepes e

    atitudes dos

    funcionrios

    Desempenho e

    comportamento

    dos

    funcionrios

    Desempenho

    da

    organizao

    Fatores Contextuais

    - Contexto organizacional (ambientes interno e externo)

    - Preferncias e caractersticas individuais dos funcionrios

    Causalidade reversa: o desempenho positivo pode levar a maiores investimentos em RH

    Causalidade reversa: o sucesso organizacional pode levar a maiores

    comprometimento / satisfao / motivao / confiana

  • 28

    decisivamente no desempenho destes funcionrios. Sendo assim, tais prticas so entendidas

    pelos funcionrios como uma sinalizao das intenes da organizao em relao aos seus

    funcionrios. As percepes correspondem a um fenmeno cognitivo de carter pessoal,

    implicando que diferentes pessoas tero diferentes percepes. Dessa forma, poder haver

    diferentes interpretaes sobre a mesma sinalizao. Caso a cultura e o ambiente

    organizacional no suportem suficientemente as prticas apresentadas, ou mesmo caso a

    comunicao dessas prticas e seus propsitos no seja eficaz, o resultado pode ser apenas de

    carter burocrtico, sem qualquer agregao de valor quer para os funcionrios quer para a

    organizao.

    Em termos de causalidade reversa, o modelo prev dois efeitos advindos de um possvel

    sucesso organizacional. Por um lado, tal sucesso pode ensejar maiores investimentos em

    prticas de RH, seja em sistemas, treinamento ou desenvolvimento. Por outro, o prprio

    sucesso pode levar a uma maior identidade corporativa, implicando em um possvel nvel

    mais elevado de satisfao, motivao e comprometimento dos funcionrios.

    Os modelos analisados no deixam claro o conceito de desempenho utilizado. Pode-se

    inferir que o desempenho refere-se ao grau de alcance de metas e objetivos pr-definidos

    alcanado por um indivduo em um determinado ciclo de avaliao. Tais metas e objetivos,

    por sua vez, podem incorporar tanto aspectos tangveis (tipicamente numricos) bem como

    intangveis (relacionadas a aspectos comportamentais ou de desenvolvimento, por exemplo).

    De todo modo, os modelos analisados sugerem a aplicao do mesmo framework para a

    avaliao de diferentes indicadores de desempenho, cujos resultados alimentam diferentes

    decises de gesto de pessoas tais como remunerao, promoes e desenvolvimento.

    Conforme apontado por Hartog et al. (2004), DeNisi (2000) sustenta que desempenho

    um fenmeno que ocorre em diferentes nveis, isto , individual, em grupo e organizacional.

    Ainda que os modelos para desempenho em cada nvel no sejam idnticos, eles so

    similares, o que sugere que desempenho pode ser visto como um construto de mltiplos

    nveis. Tambm pode ser visto como um construto em nveis correlacionados, uma vez que o

    desempenho em um nvel pode influenciar o desempenho nos demais nveis. Tal influncia

    pode ocorrer nos dois sentidos, isto , o desempenho individual pode influenciar o

    desempenho organizacional e vice-versa.

    exceo do modelo de Hartog et al, que enfatiza os possveis efeitos da causalidade

    reversa, dos fatores contextuais e dos efeitos resultantes das percepes dos atores (gestores e

  • 29

    subordinados) em relao aos processos e ferramentas utilizadas, os demais so centrados no

    processo de avaliao de desempenho, o que, de certa forma, corrobora com as definies

    pesquisadas para a Gesto de Desempenho, que identificam a avaliao de desempenho como

    sua pea chave e central. Sendo assim, a prxima seo aprofunda a anlise do referencial

    terico sobre avaliao de desempenho especificamente.

    2.3 A Avaliao de Desempenho

    2.3.1 Viso Geral

    Conforme j visto, a maior parte dos modelos de Gesto de Desempenho encontrados na

    literatura (vide GUIMARES, 1998; GILLILAND E LANGDON, 1998; LUECKE, 2006)

    apresenta como elemento central a Avaliao de Desempenho. Para Fletcher (2001), a

    Avaliao de Desempenho corresponde a um conjunto de atividades segundo as quais as

    organizaes procuram avaliar seus funcionrios, desenvolver suas competncias, tornar seu

    desempenho mais efetivo e distribuir recompensas. Para Luecke (2004), trata-se de um

    mtodo formal que tem por objetivo principal determinar quo bem uma pessoa est agindo

    em relao s metas estabelecidas e, com base nessa observao, comunicar a esta pessoa seus

    objetivos individuais e encoraj-la a melhorar seu desempenho.

    Conforme apontado por Brando e Guimares (2001), a avaliao de desempenho pode

    ser vista sob duas perspectivas diferentes. Na funcionalista, a avaliao percebida como um

    processo voltado ao desenvolvimento dos funcionrios e melhoria do desempenho no

    trabalho (GOODALE, 1992; LUCENA, 1977). J na perspectiva crtica, a avaliao

    entendida como um mecanismo utilizado pela organizao para o exerccio de controle

    psicossocial sobre os funcionrios (PAGS et al., 1993).

    A avaliao de desempenho vista como um aspecto crtico das prticas de gesto de

    desempenho, podendo influenciar a execuo da estratgia de negcios de uma empresa

    (SCHULER E JACKSON, 1987; SNELL E DEAN, 1992) e seu prprio desempenho como

    um todo (SCHULER et al., 1991). Adicionalmente, a avaliao de desempenho percebida

    como uma ferramenta importante para a identificao de pontos fortes e fracos dos

    funcionrios, para a avaliao de necessidades de treinamento, para a definio de planos de

  • 30

    desenvolvimento e promover motivao, dado que base para o estabelecimento de

    recompensas e feedback sobre carreira (CARDY E DOBBINS, 1994).

    Se por um lado a avaliao de desempenho vista como um elemento importante na

    gesto de desempenho, por outro tambm muitas vezes percebida como algo problemtico.

    Muitos gerentes e supervisores no se sentem vontade ao fazer avaliaes, assim como

    muitos subordinados tambm no gostam de serem avaliados. Ainda que a causa muitas vezes

    esteja relacionada a problemas nos prprios sistemas de avaliao de desempenho (GOMEZ-

    MEJIA, BALKIN E CARDY, 1995), h tambm o efeito causado pelas dificuldades inerentes

    aos processos de dar e de receber feedback que os indivduos, em geral, possuem.

    A avaliao de sistemas de avaliao de desempenho, em geral, no favorvel. Diversas

    pesquisas revelam resultados negativos de percepo e avaliao desses sistemas

    (ANTONIONI, 1994; BERNARDIN E VILLANOVA, 1986, BRETZ, MILKOVICH E

    READ, 1992). Conforme Lawler (1994, pg. 16), o problema que muitos sistemas de

    avaliao de desempenho no motivam os indivduos nem direcionam o seu desenvolvimento

    de forma efetiva.

    provvel que muito da insatisfao manifestada com sistemas de avaliao de

    desempenho seja decorrente do uso de sistemas tradicionais, baseados em modelos de

    avaliao nica, isto , de cima para baixo em termos hierrquicos, no qual o gerente ou

    supervisor realiza, de forma unilateral, um diagnstico do desempenho apresentado pelo

    subordinado. No surpreende assim, que os mtodos de avaliao tenham evoludo, com o

    surgimento de modelos de avaliao bilateral, onde gerente e subordinado realizam um

    diagnstico conjunto e, mais recentemente, de modelos de avaliao em 360. Neste ltimo,

    conforme proposto por Edwards e Ewen (1996), a avaliao do desempenho realizada

    atravs do uso de mltiplas fontes, envolvendo supervisores, pares, subordinados e mesmo

    clientes.

    Alguns autores so extremamente crticos quanto a sistemas de avaliao de desempenho.

    Para Nickols (2007), os sistemas tradicionais implicam em uma enorme quantidade de horas e

    de energia, gerando, portanto, um alto custo para um valor agregado no mnimo discutvel.

    Isso porque, segundo o autor, tais sistemas, na maioria dos casos, mais desmotivam que

    motivam e tm baixa credibilidade. Segundo o autor, os defensores destes sistemas

    argumentam que os benefcios so significativos, pois:

  • 31

    Permitem oferecer feedback regular aos funcionrios, o que deveria levar a nveis

    mais elevados de produtividade, motivao e comprometimento;

    Estabelecem metas que norteiam e direcionam as atividades dos funcionrios, de

    forma alinhada aos interesses da empresa;

    Possibilitam a identificao de necessidades de treinamento e oportunidade para

    desenvolvimento dos funcionrios;

    Representam processos uniformes, com critrios homogneos, resultando em um

    sistema justo, vlido e defensvel do ponto de vista legal para questes

    relacionadas a formas de reconhecimento;

    Fornecem proteo legal para eventuais aes judiciais relativas a discriminao e

    desligamentos.

    Em contrapartida lista de benefcios acima, o autor sustenta que devem ser

    observados e considerados os seguintes custos potenciais nos sistemas de avaliao de

    desempenho:

    Reduo na produtividade, resultante dos comportamentos observados nos

    perodos imediatamente posteriores s sesses de avaliao; independente do

    resultado destas h uma tendncia de relaxamento, que pode custar algum tempo

    para ser eliminada;

    Desempenho aqum do possvel, resultante do estabelecimento de metas que so

    alcanveis de forma a garantir boas avaliaes. Segundo Berrien (1968), os

    gestores podem controlar os limites inferiores de produtividade, porm os

    funcionrios detm um claro controle dos limites superiores;

    Criao de presses psicolgicas, resultante dos estados emocionais de

    preocupao, depresso, stress e angstia por parte dos atores envolvidos no

    processo (tanto avaliadores quanto avaliados);

    Danos moral e motivao, resultantes de sistemas cuja percepo seja de

    injustia. Isto ocorre quando o sistema de avaliao utilizado de forma

  • 32

    manipulada, com fins polticos, ou quando utilizado para recompensar ou punir

    um funcionrio por resultados que no so relativos ao seu desempenho em si, mas

    to somente decorrentes de fatores alm do seu poder de influncia ou mesmo

    controle;

    nfase no indivduo em contrapartida ao grupo ou nfase na tarefa em

    contrapartida ao processo, resultando em mensagens no mnimo equivocadas em

    termos de propsito;

    Foco no curto prazo, resultante de ciclos tpicos anuais, onde desempenhos

    passados ou perspectivas de futuro so, via de regra, ignorados;

    Institucionalizao do status quo, resultante do enfoque de controle

    tradicionalmente utilizado (perspectiva crtica de Pags et al., 1993), levando a um

    impedimento estrutural para mudanas culturais;

    Promoo de medo e perda de confiana, resultante do aspecto anterior, que

    potencialmente leva ao descrdito por parte do funcionrio em relao gesto da

    empresa de forma geral e adoo de comportamentos voltados primordialmente

    satisfao do superior;

    Jogos polticos, resultante do poder atribudo aos gerentes e supervisores, mesmo

    quando utilizados sistemas bi ou multilaterais, que se tornam alvos de esforos

    voltados a influenciar, manipular ou mesmo dar forma s suas percepes que, em

    ltima instncia, determinam os resultados da avaliao. Tais esforos, muitas

    vezes, so independentes e no tm relao alguma com o desempenho do

    indivduo sendo avaliado.

    Heathfield (2007) tem crticas semelhantes, acrescentando que a maioria dos gerentes e

    supervisores se sente pouco confortvel ao exercer o papel de juiz nos processos

    tradicionais de avaliao de desempenho. A autora argumenta pela eliminao de diversos

    componentes dos sistemas tradicionais e pela incluso de vrios elementos novos, conforme

    resumidos na tabela a seguir:

  • 33

    Componentes a serem eliminados Componentes a serem includos

    Nveis de desempenho numricos Reunies de acompanhamento e avaliao

    trimestrais, agendadas com antecedncia

    Classificao forada Processo interativo nas reunies de

    planejamento, acompanhamento e

    avaliao de desempenho

    Objetivos e metas impostas, no

    negociadas

    Metas e objetivos negociados e

    mutuamente acordados em relao a

    negcios e desenvolvimento profissional

    Supervisor no papel de juiz, com

    decises tomadas previamente a sesses

    de discusso com o avaliado

    Separao das decises e discusses

    relativas a remunerao das discusses

    relativas a desempenho

    Reunio anual formal

    Vnculo direto entre resultados da

    avaliao e recompensas

    Quadro 1: Componentes a eliminar e a incluir em processos de avaliao de desempenho

    Fonte: Heathfield (2007) (adaptado)

    A proposta da autora refora, na verdade, a necessidade de reduzir a centralidade de um

    sistema de gesto de desempenho em torno da burocracia envolvida nos processos de

    avaliao e enfatizar os aspectos voltados criao de um ambiente de trabalho que viabilize

    ao indivduo o desempenho das suas atividades da melhor forma possvel, conforme suas

    habilidades. Nesse sentido, a autora argumenta que o ponto central de um sistema efetivo de

    gesto de desempenho est no feedback, que se torna uma discusso tanto sobre o progresso

    em relao a objetivos e metas de negcios quanto em relao a objetivos pessoais de

    desenvolvimento.

    Armstrong (2000), por sua vez, aponta uma srie de possveis deficincias em processos

    de avaliao de desempenho, descritas a seguir:

    Caso inexista algum tipo de processo moderador entre as vises de diferentes

    avaliadores, para um mesmo indivduo haver diferentes avaliaes. Avaliadores

    utilizam, em geral, de diferentes parmetros e perspectivas em suas avaliaes;

    alm disso, comum haver foco sobre determinados comportamentos ou

    habilidades, independentemente do seu carter positivo ou negativo;

  • 34

    Caso o avaliador tenha conhecimento limitado ou reduzido sobre o avaliado e suas

    atividades, tendo, portanto, uma percepo distanciada da realidade, a avaliao

    ser inevitavelmente prejudicada;

    Um avaliador pode exercer um julgamento enviesado por determinados aspectos

    relativos a comportamentos ou habilidades; nesse caso, a avaliao ser

    prejudicada, pois no ser considerado apropriadamente todo o conjunto de

    competncias, atividades e resultados demonstrados pelo indivduo;

    O avaliador poder ser tomado por um excesso de subjetividade, levando-o a

    julgar determinadas situaes sem o suporte de fatos, dados ou outras evidncias, o

    que pode levar a um questionamento da validade e da justia da avaliao

    realizada. Interpretaes equivocadas tambm colaboram para esse efeito.

    Deming (1986), por sua vez, caracterizou a avaliao de desempenho como uma das sete

    pragas que assolam as prticas de gesto, argumentando que as avaliaes tendem a atribuir

    aos indivduos variaes e problemas de desempenho que, na realidade, deveriam ser

    compreendidos como conseqncia das falhas dos sistemas.

    Para Hiplito e Reis (2002), as opinies desfavorveis avaliao de desempenho so,

    em parte, decorrncia da ampla gama de transformaes experimentadas pelas empresas nos

    ltimos anos. Em sua origem, o processo de avaliao foi concebido na lgica da organizao

    hierrquico-funcional, na qual quem avalia a chefia imediata e a principal referncia da

    anlise de desempenho o cargo, isto , avalia-se a consecuo de objetivos e atribuies

    relacionados com o cargo. Tais perspectivas entram em conflito com um ambiente

    organizacional cada vez mais caracterizado por relaes multi-relacionais e networks com

    vnculos hierrquicos menos evidentes, nos quais os indivduos e seus recursos, e no mais os

    cargos, so a principal referncia de consecuo da estratgia organizacional.

    Luecke (2004) argumenta que o momento da avaliao de desempenho, em geral

    ocorrido em reunies formais e especficas para essa finalidade, traz consigo elementos de

    tenso, dadas as expectativas dos funcionrios pelo feedback prestes a ser recebido e por conta

    das suas conseqncias. Para o autor um momento aguardado com apreenso pela maioria

    dos funcionrios. nessa ocasio que o gerente ou supervisor fornece seu parecer formal

  • 35

    sobre o desempenho apresentado no perodo, indicando sinais que podem ser positivos ou

    negativos para a progresso de carreira.

    O processo de avaliao de desempenho descrito por Luecke (2004) pode ser resumido

    nos seguintes passos:

    1) Preparao o autor enfatiza a importncia de supervisor e subordinado se

    prepararem adequadamente para a reunio de avaliao. Cabe ao supervisor reunir

    dados e informaes que reflitam corretamente o desempenho do avaliado,

    permitindo a comparao adequada dos resultados obtidos com os planejados,

    assim como a eventual documentao de fatos relevantes do ponto de vista

    comportamental. O subordinado, por sua vez, deveria fazer uma reflexo sobre as

    atividades realizadas no perodo e os resultados alcanados, devendo ser

    incentivado a fazer uma auto-avaliao, o que fornece ao supervisor outra

    perspectiva para a avaliao;

    2) Conduo da avaliao a reunio de avaliao deve ocorrer em um clima

    favorvel, positivo e de parceria. Cabe ao supervisor criar esse clima, deixando

    claros os objetivos da reunio, a maneira como a mesma ser conduzida e

    ressaltando seus aspectos positivos para o funcionrio. Dar espao para o

    funcionrio expor seus pontos de vista fundamental, mas o supervisor no pode

    permitir que a reunio se transforme em um momento de exposio de

    justificativas e desculpas;

    3) Falhas no desempenho, suas causas e planejamento de solues o supervisor

    deve focar a discusso nas falhas identificadas e nas suas causas, de forma a criar

    uma atmosfera que facilite contribuies mtuas (do supervisor e do subordinado)

    na busca de solues objetivas e evitando atitudes defensivas ou agressivas de

    qualquer parte. Uma vez estando claros e acordados os pontos para correo no

    desempenho, assim como suas causas, o supervisor deve induzir o subordinado a

    criar um plano de melhoria, contribuindo com idias, mas assegurando que o

    subordinado sinta-se dono e responsvel pelo plano estabelecido;

    4) Reviso dos objetivos para o prximo ciclo o supervisor deve envolver o

    subordinado na definio dos novos objetivos, de forma a garantir um correto

    entendimento dos mesmos e da importncia dos novos desafios. Tal envolvimento

  • 36

    ir assegurar um forte grau de comprometimento por parte do subordinado em

    relao aos objetivos definidos;

    5) Documentao a reunio de avaliao deve ser formalmente registrada, em

    particular em relao aos principais pontos discutidos e suas concluses;

    6) Monitoramento e acompanhamento o supervisor e subordinado devem combinar

    como o progresso em relao ao plano de desenvolvimento estabelecido ser

    acompanhado.

    Os avaliados, em geral, desenvolvem suas prprias expectativas sobre os resultados da

    avaliao e, conforme apontado por Luecke (2004), esperam como resultado algo semelhante

    s suas prprias expectativas. Caso o feedback recebido seja muito diferente daquele

    esperado, no caso de uma avaliao negativa, o sentimento de frustrao inevitvel,

    particularmente se o sistema de recompensas (aumentos, promoes, pagamento de bnus) for

    vinculado ao sistema de avaliao. Para Luecke (2004), uma avaliao favorvel contribui

    para a satisfao das necessidades de sucesso psicolgico dos indivduos. Uma avaliao

    desfavorvel, por outro lado, implica no surgimento de sentimentos de fracasso e em

    dificuldades para aceitar o feedback.

    As surpresas so evitadas quando h um sentimento de confiana entre avaliador e

    avaliado, fruto de interaes freqentes e de qualidade. O processo formal de avaliao nesses

    casos assume um carter mais revisional e burocrtico (LUECKE, 2004).

    2.3.2 O Processo de Definio de Objetivos e Metas

    Para Beatty e Schneier (1997), a preciso na medio de resultados fator chave para a

    implantao efetiva da estratgia corporativa, independentemente da natureza da estratgia. O

    mesmo se aplica aos objetivos e metas estabelecidos para fins de avaliao de desempenho.

    Conforme Bernardin et al. (1998), a preciso na definio de objetivos e metas, assim como

    na medio dos resultados do desempenho apresentado fator crtico para qualquer sistema

    de avaliao de desempenho efetivo.

  • 37

    Para Armstrong (2000), os objetivos e metas estabelecidos orientam os funcionrios nas

    suas atividades, definindo os resultados que devero ser perseguidos e atingidos. Metas bem

    definidas e resultados medidos com preciso possibilitam uma avaliao de desempenho

    correta, o que, por sua vez, possibilita que suas conseqncias sejam justas e bem aceitas.

    Ainda para Armstrong (2000), objetivos bem estabelecidos so consistentes com os

    objetivos estratgicos da organizao e com seus prprios valores; so claros, bem definidos e

    representam um desafio que incentiva o desempenho acima da mdia. Alm disso, so clara e

    diretamente mensurveis tanto em termos quantitativos como qualitativos. No devem ser

    impostos e sim percebidos como algo ajustado entre gestor e subordinado, representando um

    desafio compatvel com a capacidade do funcionrio; devem ser consistentes com o ciclo de

    desempenho da organizao como um todo (prazo determinado) e devem estimular atitudes

    voltadas ao trabalho em equipe.

    Luecke (2006) e Armstrong (2000) ressaltam que os objetivos estabelecidos devem ser

    relevantes, claros e especficos, passveis de mensurao precisa, temporais, consistentes e

    coerentes com a estratgia organizacional e suficientemente desafiadores, porm passveis de

    alcance e mesmo de superao, no que devem ser incentivados por um esquema de

    recompensas adequado.

    Enquanto Luecke (2006) sustenta que os objetivos devam ser estabelecidos de cima para

    baixo, de forma correspondente escala hierrquica da empresa, como forma de garantir o

    alinhamento com os objetivos organizacionais, Armstrong (2000), por sua vez, argumenta que

    os funcionrios tambm devam ser ouvidos e considerados, de forma a haver oportunidade

    para estes contriburem com idias para o alcance dos objetivos em nveis agregados (equipe,

    departamento ou empresa como um todo). Segundo o autor, a abordagem mista (de cima para

    baixo e vice versa) pode potencializar maior comprometimento dos funcionrios com a

    estratgia da empresa, elevando o nvel de identidade corporativa. Os funcionrios tendem a

    se sentir mais responsveis pelos objetivos traados e pelo cumprimento das metas

    estabelecidas, dado o sentimento de propriedade instalado pelo processo.

    2.3.3 O Processo de Feedback

    O feedback parte fundamental do sistema de gesto de desempenho. atravs do

    processo de feedback que gerentes e supervisores fornecem informaes aos seus

  • 38

    subordinados a respeito de como esto percebendo e avaliando o desempenho dos mesmos em

    suas atividades. Com base nessas informaes, os indivduos tm a oportunidade de efetuar

    correes em relao a eventuais desvios sobre metas e objetivos e de identificar

    oportunidades de aprendizado e de desenvolvimento.

    As tcnicas de feedback evoluram de modelos de mo nica, onde um nico avaliador,

    em geral o gerente ou supervisor, avalia de forma unilateral foras e fraquezas do

    subordinado, para modelos de feedback bilateral, onde gerente e subordinado realizam o

    diagnstico e a discusso em conjunto dos aspectos de avaliao. Em nova evoluo, surgem

    os modelos de feedback em 360. Nestes, conforme proposto por Edwards e Ewen (1996), o

    feedback resulta da viso fornecida por mltiplas fontes, envolvendo supervisores, pares,

    subordinados e mesmo clientes. Essa prtica atingiu certa popularidade a partir do incio dos

    anos 1990, ainda que a noo de feedback sobre desempenho a partir de mltiplas fontes, em

    adio do supervisor direto, no fosse uma novidade propriamente dita. Conway e Huffcutt

    (1997), em uma meta-anlise de avaliaes feitas por subordinados, pares e supervisores,

    encontraram pesquisas datadas a partir de 1950.

    Alguns autores apontam que o feedback sobre desempenho a partir de mltiplas fontes

    pode ter implicaes mais fortes para as relaes sociais e a motivao dos funcionrios do

    que os processos tradicionais. London et al. (1997), por exemplo, sustentam que diversos

    aspectos da metodologia de feedback em 360 so fundamentalmente imperfeitos na medida

    em que pode haver uma diluio de responsabilidades pelo feedback em si e suas implicaes.

    Para os autores, esta diluio, que inclui, por exemplo, a responsabilidade pela utilizao dos

    resultados do feedback para a tomada de decises de objetivos de desenvolvimento e a

    eventual anonimidade dos responsveis pelas informaes de feedback, impacta de forma

    significativa a percepo dos avaliados em relao justia do processo de avaliao e o seu

    resultado propriamente dito. Flint (1999) apresenta observaes semelhantes e destaca outros

    fatores como a percepo do avaliado em relao existncia de oportunidade e voz para

    questionar a avaliao, a escolha dos avaliadores em si e o suporte dos avaliadores no

    desenvolvimento do avaliado, entre outros, que tambm contribuem para a formao do

    sentimento de justia associado avaliao.

    Dada a dificuldade intrnseca ao indivduo para receber feedback, importante influenciar

    positivamente nesse sentido. Conforme Luecke (2006), alguns elementos podem promover

    esse efeito, conforme segue:

  • 39

    Ao dar feedback, o gerente ou supervisor deve considerar todos os aspectos relevantes

    da avaliao, evitando a nfase somente em crticas e pontos negativos; pontos

    positivos tambm devem ser ressaltados, de forma a deixar claro o que esperado do

    avaliado no seu desempenho;

    importante que os pontos da avaliao, particularmente aqueles de carter negativo,

    sejam bem suportados por fatos documentados e evidncias concretas, evitando o

    surgimento de dvidas e o descrdito. O avaliador deve ser objetivo e especfico,

    apontando fatos devidamente suportados por exemplos e evidncias;

    Deve-se dar prioridade s atitudes que podem se repetir no futuro, criando

    oportunidade para o avaliado se comportar da forma como esperado;

    O feedback deve ser dado o mais prontamente possvel a partir de uma determinada

    observao de comportamento ou atividade. Alm da situao ainda ser recente na

    memria dos envolvidos, tambm ser evitada sua repetio e, consequentemente,

    menor ser o prejuzo para o desempenho do avaliado;

    Por ltimo, as sesses de feedback requerem foco e ateno exclusiva, de forma a

    evitar interpretaes equivocadas e mal entendidos de ambas as partes.

    Segundo McLoughney (2007), a tcnica de feedback construtivo seria a forma mais rpida

    e fcil para se conseguir melhorias de desempenho e construir relacionamentos slidos dentro

    do trabalho. O autor sugere uma tcnica de feedback denominada BEST (Behavior, Establish

    Impact, Solutions, Timeframe) como um mtodo prtico para quaisquer circunstncias onde o

    feedback seja requerido:

    a) Behavior (Comportamento): o foco do feedback deve se dar nos comportamentos

    apresentados pelo indivduo e no em caractersticas ou aspectos de personalidade; a

    conversa deve ser objetiva e especfica em torno de comportamentos efetivamente

    havidos, devidamente suportada por fatos e evidncias;

    b) Establish Impact (Estabelea Impacto): o gerente ou supervisor deve dar nfase nos

    comportamentos especficos em considerao e nos impactos gerados pelos mesmos

    em pares, equipe de trabalho e mesmo empresa, como forma de fortalecer a

    importncia para as necessidades de mudana;

  • 40

    c) Solutions (Solues): uma vez que o gerente ou supervisor tenha se certificado de que

    o subordinado compreendeu corretamente o feedback apresentado e o aceitou, deve

    procurar envolv-lo na busca de solues. Este envolvimento importante para que o

    subordinado se sinta responsvel pelo plano de aes estabelecido em conjunto;

    d) Timeframe (Tempo): quaisquer planos produzidos devem conter prazos determinados

    para sua execuo; cabe ao gerente ou supervisor enfatizar esses prazos, refletindo sua

    sensibilidade e preocupao no que diz respeito a mudanas de comportamento e

    melhoria de desempenho por parte do subordinado dentro dos prazos estabelecidos.

    2.3.4 As Dimenses do Desempenho

    Para Dutra (2002), a avaliao de desempenho definida como a avaliao do conjunto

    de entregas e resultados de determinada pessoa para a empresa ou negcio. Para o autor, o

    desempenho de uma pessoa composto por trs dimenses que interagem entre si e que

    devem ser avaliadas de forma diferente. Tais dimenses so o desenvolvimento, o esforo e o

    comportamento. Segundo Dutra (2002), as proposies de avaliao de desempenho so, em

    geral, equivocadas, na medida em que misturam em uma mesma ferramenta ou processo essas

    trs dimenses.

    A dimenso desenvolvimento quanto sua expectativa est vinculada capacidade da

    pessoa de lidar com desafios e situaes cada vez mais complexos. A dimenso esforo, ou

    resultado, uma contingncia, no sentido de que o resultado demonstrado hoje no

    necessariamente se repetir amanh e est, portanto, vinculado motivao pessoal e s

    condies oferecidas pela empresa. Por ltimo, a questo comportamental pode impactar, ou

    no, o desenvolvimento e o esforo da pessoa e certamente impacta o ambiente

    organizacional e o desenvolvimento e esforo de outras pessoas.

    Para o autor, a dimenso desenvolvimento deve ser avaliada pela escala de complexidade

    dos desafios e situaes enfrentadas pela pessoa. A dimenso esforo, por sua vez, deve ser

    avaliada em funo de metas pr-estabelecidas. Por ltimo, a avaliao da dimenso

    comportamental extremamente subjetiva, tomando como referncia os padres de conduta

    definidos pela empresa. Dessa forma, recomendvel, segundo o autor, o uso de um sistema

  • 41

    de avaliao por mltiplas fontes (360), de forma a minimizar a subjetividade e apresentar

    pessoa avaliada uma opinio pblica a seu respeito.

    Para Dutra (2002), cada dimenso deve ser tratada de forma diferente, tanto no que diz

    respeito forma de avaliao em si quanto s aes decorrentes da avaliao. O problema

    que, em geral, as empresas misturam essas trs dimenses e acabam dando mais nfase s

    dimenses esforo (resultado) e comportamento. Na sua maior parte, as empresas exigem das

    pessoas unicamente o esforo, implicando em uma orientao de curto prazo. Por outro lado,

    as empresas que estimulam as pessoas para o desenvolvimento esto orientadas para o mdio

    e longo prazo.

    Hiplito e Reis (2002), por sua vez, argumentam que o processo de avaliao de

    desempenho e as aes decorrentes tm como base a expectativa de desempenho de um

    profissional na organizao, em funo direta do grau de desenvolvimento do profissional.

    Tal desenvolvimento, por sua vez, fruto do conjunto de experincias e repertrios adquiridos

    e lapidados ao longo da vida do profissional, cuja velocidade devida ao seu potencial e

    existncia de determinadas caractersticas comportamentais. Para os autores, o desempenho

    de um profissional composto por quatro dimenses distintas, conforme detalhado no quadro

    a seguir, cada uma traduzindo um aspecto importante para a determinao da contribuio do

    profissional organizao. Sendo assim, cada uma dessas dimenses deve ser monitorada e

    avaliada.

  • 42

    Dimenso Objetivos da Avaliao/Monitorao

    Desenvolvimento Observar o grau de desenvolvimento e maturidade do

    profissional como subsdio distribuio de responsabilidades,

    definio das aes de capacitao e a movimentaes

    salariais e de carreira.

    Comportamento Dar feedbacks de determinados comportamentos observveis,

    alinhados a valores, misso e objetivos da empresa. Prope-se a

    promover autoconhecimento e contribuir para a identificao de

    pontos fortes e oportunidades de melhoria, estimulando a

    adoo de comportamentos considerados crticos para a

    empresa.

    Potencial Predizer a adequao futura do profissional a determinada

    situao ou objetivo de trabalho. Prope-se a prever o

    desempenho potencial de uma pessoa caso ocupe determinado

    cargo ou papel na organizao.

    Realizao de metas

    e resultados

    Orientar o desempenho por metas e objetivos da organizao.

    Permite aferir, quantitativamente, o gap entre resultados

    individuais/grupais esperados e resultados efetivamente

    alcanados.

    Quadro 2: Dimenses de Desempenho e Objetivos de Avaliao

    Fonte: Hiplito e Reis (2002)

    Para os autores, a no observncia dos mltiplos aspectos pelos quais um profissional

    deve ser avaliado pode ser vista como uma das principais causas das fortes crticas sofridas

    pelos processos de avaliao nas dcadas de 1980 e 1990. Segundo pesquisa apresentada por

    Vicere e Fulmer (1998), a avaliao de desempenho passou de uma das estratgias mais

    frequentemente utilizadas no desenvolvimento gerencial a uma das menos empregadas. Para

    Hiplito e Reis (2002), a anlise do profissional em apenas uma das suas dimenses ou a

    avaliao de vrias dimenses atravs de uma nica ferramenta dificulta a boa compreenso

  • 43

    dos indivduos e o planejamento das aes decorrentes da avaliao, sendo esta a principal

    razo para a derrocada dos sistemas de avaliao de pessoas naquele perodo.

    Percebe-se, no entanto, um reaquecimento do tema no final dos anos 1990 (Vicere e

    Fulmer, 1998), que traz consigo a preocupao de situar e distinguir diferentes tipos de

    avaliao, conforme seus objetivos e sua natureza. importante compreender tal

    diferenciao, pois cada tipo de avaliao impacta na escolha de contedos que se pretende

    avaliar, nos instrumentos a serem utilizados e nas aes decorrentes.

    Hiplito e Reis (2002) argumentam que a avaliao de desempenho composta por quatro

    tipos de avaliao distintos, cada qual com seu foco:

    a) Avaliao de Potencial

    Na maior parte das vezes, utilizada para dar suporte a promoes, particularmente em

    nveis gerenciais. Tem por objetivo inferir o desempenho do profissional em situaes

    com desafios e demandas semelhantes aos que encontraria em funes mais complexas,

    normalmente representadas por posies hierrquicas superiores. Diversas caractersticas

    so avaliadas, tais como comunicao oral, capacidade de deciso, iniciativa, etc..

    Normalmente tem foco no longo prazo, buscando-se identificar quanto um indivduo

    poder adaptar-se a uma funo gerencial no futuro, aps investimentos em

    desenvolvimento.

    b) Avaliao Comportamental

    Com base nos comportamentos de liderana que a empresa pretende estimular e que

    traduzem seus objetivos e valores, observa-se os comportamentos praticados com base,

    em geral, em sistemas de mltiplas fontes, que se utilizam de feedbacks provenientes de

    diversos componentes do network pessoal do avaliado. Os resultados obtidos, por sua vez,

    so repassados para os avaliados na forma de relatrios e sesses de feedback.

    c) Avaliao de Desenvolvimento

    Em qualquer organizao, constata-se a existncia de profissionais em profissionais em

    diferentes estgios de desenvolvimento. As diferenas de grau de desenvolvimento ainda

    so em muitos casos equacionadas de forma tradicional por meio do conceito de cargos.

    Ao remeter os profissionais que ocupam um determinado cargo a um conjunto de

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    atividades pr-estabelecidas, este conceito, no entanto, delimita o espao de atuao e o

    nvel decorrente de responsabilidade.

    A lgica de desenvolvimento profissional trabalha, implcita e explicitamente, com a

    lgica de complexidade de trabalho. Esta perspectiva pressupe haver relao direta entre

    a complexidade do trabalho executado por um profissional, seu estgio de

    desenvolvimento (sua capacidade de tomar decises corretas no grau de complexidade ao

    qual est sendo submetido) e seu reconhecimento na organizao. Assim, o cargo, ao

    definir a priori o que se espera da atuao do profissional nele alocado, determina a

    complexidade das suas funes e aponta os requisitos exigidos para seu desempenho

    (formao, experincia necessria, conhecimentos especficos, etc.). O conceito ,

    tradicionalmente, visto como capaz de conferir parmetros s diversas aes em gesto de

    pessoas, como capacitao, remunerao e promoes.

    Pode-se dizer, porm, que este conceito um tanto obsoleto na atual dinmica de trabalho,

    onde as pessoas, mais do que est definido na descrio do cargo, assumem

    responsabilidades em funo das necessidades da organizao e da combinao da sua

    capacidade e vontade de assumi-las. A lgica da complexidade do trabalho, por sua vez,

    permanece vlida, na medida em que, ao haver a necessidade da organizao de que uma

    ao seja executada, assume a incumbncia de realiz-la o profissional que se encontra no

    nvel de desenvolvimento que o torna capaz disso. Assim, as avaliaes devem deixar de

    focar o simples cumprimento do que est eventualmente descrito no cargo e passar a

    observar diretamente o grau de complexidade das responsabilidades assumidas pelas

    pessoas em sua interao com as necessidades organizacionais.

    O desafio na avaliao do desenvolvimento consiste em elaborar ferramentas capazes de

    apontar o grau de complexidade do trabalho com que os profissionais conseguem lidar e o