avaliaÇÃo de aspectos e impactos ambientais da...
TRANSCRIPT
AVALIAÇÃO DE ASPECTOS E
IMPACTOS AMBIENTAIS DA
LAVAGEM DE CARROS ÀS MARGENS
DO RIO PARNAÍBA EM TERESINA-PI
Leonardo Bezerra Lima (FSA)
LUVANIA DIAS GOMES (FSA)
Eldelita Aguida Porfirio Franco (FSA)
Tercio Fernandes Oliveira (FSA)
A água doce é um dos recursos naturais, cuja quantidade encontra se
comprometida devido ao aumento da população e a ausência de
políticas públicas voltadas para a sua preservação. Devido às suas
propriedades de solvente e à sua capacidade de transportar partículas,
incorpora a si diversas impurezas, as quais definem a sua qualidade.
Esta característica é resultante de fenômenos naturais e da atuação do
homem. De maneira geral, pode-se dizer que a qualidade de uma
determinada água está em função do uso e da ocupação do solo na
bacia hidrográfica. Este trabalho foi realizado na cidade de Teresina,
Estado do Piauí, com o objetivo de identificar e avaliar os aspectos e
impactos ambientais causados pelo processo de lavagem de carros às
margens do Rio Parnaíba. Para isso, foi analisada amostras de água
em pontos antes e depois da ocorrência do processo de lavagem dos
veículos, como também a aplicação de questionários estruturados a
dirigentes sindicais da classe e lavadores de carros que trabalham no
local. Por fim foi realizada uma visita in loco para levantar os
aspectos e impactos ambientais do processo. Estes aspectos e impactos
foram avaliados, através de uma adaptação feita na Matriz de Leopold,
método bastante utilizado para identificar e avaliar impactos
ambientais. Constatou se que os maiores impactos encontrados são
químicos, sociais e visual, mas existem outros bastante relevantes,
onde os químicos surgem a partir de produtos utilizados pelos
lavadores. O impacto visual dar-se partir dos resíduos gerados e o
Impacto Social em decorrência de aspectos financeiros. Desta forma, a
atividade de lavagem de carros à margem direita do rio Parnaíba em
Teresina vem preocupando o setor público bem como a população em
geral.
Palavras-chave: Palavras- chave: Impacto Ambiental, Matriz de
Leopold, Água.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
2
1. Introdução
A bacia do rio Parnaíba é uma das mais importantes, tanto no aspecto sócio-
econômico quanto ambientalmente para o Piauí e Maranhão. Nos dias atuais o homem busca
novas formas de encontrar seu sustento, com isso indo atrás de novas formas, e às vezes o
mesmo opta por alternativas que agridem o meio ambiente. Todas as atividades realizadas
pelo homem no planeta possuem um aspecto, e este por sua vez pode causar um impacto
ambiental, o qual pode comprometer o uso destes recursos no futuro, ou ainda causar danos à
saúde do homem. Para Sánchez (2008), o impacto ambiental é uma conseqüência de
atividades, produtos ou serviços de uma organização.
A ocupação indevida dos lavadores de automóveis nas margens do Rio Parnaíba há
vários anos acarreta modificações estruturais, como a presença do lixo, e sócio-econômica
devido ao surgimento de um fluxo comercial, verificado através da presença de bares e
vendedores ambulantes. O ato de lavar merece destaque, pois se realizado de forma indevida,
sem infra-estrutura nenhuma ou precária, pode acarretar graves problemas, como o de
despejos de efluentes, sem tratamento, resultantes da lavagem de carros que são constituídos
de sabões, detergentes, ceras, graxas, silicone, querosene, gasolina, etc. Estes poluentes
afetam o meio ambiente e comprometem a qualidade da água do rio, quanto à saúde da
população que utilizam essa água, principalmente as áreas deficientes em infra-estrutura
sanitária.
Aplica se aos tempos modernos, conceitos de sustentabilidade, onde as atividades
humanas devem possuir harmonia entre meio ambiente, sociedade, fatores econômicos, onde
cada um desses não pode sobrepor ao outro, ou seja, não pode haver uma atividade
economicamente viável, sem que a mesma não atenda as normas ambientais aplicáveis e
ainda sejam socialmente justas, sem esquecer de preservar os recursos pensando nas gerações
futuras.
O objetivo geral desta pesquisa, foi de identificar e avaliar o impacto ambiental
causado pela lavagem de carros às margens do Rio Parnaíba em Teresina-Pi.
2. Impactos ambientais
2.1 Aspectos e impactos ambientais
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
3
O meio ambiente, além de suas mudanças, está sujeito a constantes alterações, as quais
podem ser causadas por fenômenos naturais ou provocadas pelo homem. As alterações
resultantes da ação do homem estão usualmente associadas ao termo impacto ambiental.
A Resolução do CONAMA 001/86 dispõe em seu artigo 1º que impacto ambiental é:
[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem estar da população; II – as
atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais (RESOLUÇÃO 001, ART 6º, CONAMA,
1986).
Dentro deste contexto, enfatiza-se que um dos recursos naturais mais afetados pela
ação do homem, é sem dúvida a água, e a qualidade da mesma está diretamente relacionada
com a urbanização. Para Oliveira (2008), a intervenção do homem no ciclo hidrológico
aumenta de acordo com o aumento populacional, a urbanização e aos usos múltiplos que
afetam a quantidade e qualidade da água.
Aspecto ambiental pode ser entendido como o mecanismo através do qual uma ação
humana causa um impacto ambiental. Assim sendo, podemos afirmar que a ação humana
sobre um recurso natural é que pode gerar um impacto ambiental a natureza
(SANCHEZ,2008)
O mesmo autor considera ainda que a alteração da qualidade ambiental que resulta da
modificação de processos naturais ou sociais provocados por ação humana (SANCHEZ
2008). Existem diversos conceitos de impacto ambiental, sendo que alguns são de forma mais
abrangente, outros mais brandos.
Segundo a ISO 14004 (2009) aspecto ambientais seriam “um elemento das atividades,
produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente”, enquanto
o impacto seria representado como “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou
benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização”.
Com isso os aspectos ambientais seriam todos os pontos relativos ao trabalho da
instituição que pudessem de alguma forma ter qualquer tipo de interação com ambiente,
mesmo que essa interação não aconteça. Os impactos, por outro lado, seriam as mudanças
causadas no ambiente, provavelmente relacionadas aos aspectos previamente identificados.
Isso mostra uma forte relação de causa e efeito entre esses dois conceitos.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
4
É importante, no estudo de qualquer instituição, fazer a análise desses aspectos e
impactos detalhadamente, de modo que o trabalho se concentre nos pontos críticos
relacionados à questão ambiental. Seiffert (2011) faz algumas classificações sobre os aspectos
e impactos ambientais, descritos no Quadro 1.
Quadro 1 – Algumas características dos aspectos e impactos ambientais
Grau
Probabilidade
Severidade
Abrangência
1 Baixa
Não infringem leis, nem causam prejuízo aos clientes
Área limitada da empresa; não gera seqüelas permanentes
2 Média
Causam prejuízo material aos clientes e comprometem políticas da empresa
Mais de uma área da empresa; não gera seqüelas permanentes
3 Alta
Infringem leis ou causam risco à integridade física das pessoas
Empresa e ambiente externo; causam seqüelas permanentes ou que duram mais de 6 meses
Fonte: Adaptado de Seiffert (2011)
3. Metodologia
A cidade de Teresina possui uma característica mesopotâmica, que exige cuidados
quanto à integridade dos importantes rios (Parnaíba e Poti) que atravessam o perímetro
urbano, e que, portanto, são vulneráveis ao lançamento indiscriminado de efluentes de esgoto
das mais variadas procedências.
A zona urbana da cidade encontra-se na confluência com estes rios, onde o Parnaíba,
rio que desce dos planaltos do sul, recebe na cidade de Teresina um de seus principais
afluentes, o Poti. Estes rios têm grande importância para os teresinenses, pois definem a
paisagem, influenciam o clima da cidade e direta ou indiretamente, fazem parte do cotidiano
das pessoas, servindo-lhes de fonte de alimentação, abastecimento de água e lazer.
Foram coletadas amostras de água no rio Parnaíba, as quais passaram por análises
físico químicas, com intuito de obter dados visando avaliar a qualidade da água antes de
receber despejos oriundos do processo de lavação de carros e após ser devolvida ao rio após a
lavagem de carros.
Foram coletadas quatro amostras de água. A primeira amostra foi coletada na entrada
da cidade de Teresina, antes de qualquer despejo de resíduo da cidade sobre o leito do rio.
Esta amostra teve a finalidade de comparar a água antes de chegar a Teresina, com a água
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
5
após receber dejetos da cidade. Este ponto de coleta ficou denominado nesta pesquisa como
ponto 1 e georreferenciado sob a coordenada x 0743639 e Y 9424307. A Segunda amostra foi
coletada alguns metros antes da concentração de lavadores de carros nas proximidades do
Centro Administrativo de Teresina, sendo denominado nesta pesquisa como ponto 2 e
georreferenciado sob a coordenada x 0742218 e Y 9435156. A terceira amostra foi coletada
há alguns metros abaixo da concentração dos lavadores de carros entre o Centro
Administrativo de Teresina e a Av. Joaquim Ribeiro denominada nesta pesquisa como ponto
3, georreferenciado sob a coordenada X 742205 e Y 9435500. A quarta amostra foi coletada
após a concentração de lavadores de carros localizados entre a Ponte João Luís Ferreira e
Alameda Parnaíba, denominada nesta pesquisa como ponto 4, georreferenciado sob a
coordenada X 0740875 e Y 9437808. Estas amostras foram analisadas no laboratório do
DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Secas), sendo avaliados os itens de
Aspecto, Cor, Odor, Sabor, Condutividade elétrica, Amoníaco em (NH4) Nitrito, Nitrato,
Sódio, Potássio, Alcalinidade de Hidróxido, alcalinidade de Carbonato, alcalinidade de
Bicarbonato, dióxido de carbono, cálcio, Magnésio, Dureza total, cloreto, sulfato e Resíduo
em Evaporação a 110ºC.
Foi utilizado a ferramenta chamada Matriz de Leopold para coletar, analisar e avaliar
os impactos que a lavagem de carros causa ao meio ambiente. A esses possíveis impactos,
foram estabelecidos valores quanto a sua magnitude sendo os mesmos apresentados na tabela
1.
Tabela 1 - Magnitude dos Impactos causados pela lavagem de carros
Impacto Magnitude
Inexistente -
Muito baixo 1
Baixo 2
Médio 3
Alto 4
Muito alto 5
Fonte: Autoria Própria; 2014
Para avaliar em quantidade os impactos negativos da lavagem de carros, foi proposta
uma matriz de tal forma que as variáveis ficassem nas colunas e os impactos nas linhas, sendo
que nesse cruzamento da linha com a coluna, fosse valorado a nota da magnitude.
A partir do crescimento do impacto, ou seja, quanto maior for o dano causado, ao rio e
ao meio ambiente em geral, maior será sua nota quanto a magnitude. Sendo assim, quando se
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
6
somar todas as magnitudes de um aspecto, será constituída a sua relevância para o meio
ambiente. Esse somatório de relevância, foi calculado por variável e por impacto. Com isso,
ficou possível determinar qual aspecto afeta mais o meio ambiente e também qual aspecto
poderá ocorrer com maior freqüência.
4. Resultados e discussões
A grande concentração dos lavadores de carro na Avenida Maranhão delimita-se a
partir do cruzamento com a Av. Nações Unidas, no bairro São Pedro (zona Sul), até o
encontro com a Av. Joaquim Ribeiro, no Centro de Teresina. Como também, o cruzamento da
Rua Lucídio Freitas, próxima a ponte João Luís Ferreira até o outro cruzamento com a
Alameda Parnaíba no bairro Matinha (zona Norte) da Av. Maranhão em Teresina/PI (ver
Figura 1), tornando-se está a área possível do estudo.
Figura 1 - Imagem georeferenciada da área estudada
Fonte: Google Earth, 2014
Nesta área os lavadores de carro prestam serviços de polimento e lavagem de
automóveis, havendo, então, o uso não-consultivo da água do rio Parnaíba, sendo que a
retirada da mesma é feita por bombas elétricas que possuem instalações precárias. Onde a
mesma é captada e utilizada para a lavagem dos carros, retorna ao rio Parnaíba sem nenhum
tratamento efetivo, comprometendo a sua qualidade e provocando danos ao rio e a sociedade.
A pesquisa foi iniciada com a aplicação de um questionário estruturado a um dos
dirigentes sindical da classe. Em um primeiro momento, foi perguntado quanto ao número de
sócios que eram afiliados ao sindicado. Em resposta, o mesmo afirmou que os lavadores de
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
7
carro não possuem filiação ao sindicato. Quem é afiliado ao sindicato são os proprietários de
postos de lavagem, e na atualidade são quantificados em Cento e vinte e três.
Outra pergunta feita ao entrevistado foi a procura de motivos que levam os clientes a
optarem por lavar seus carros as margens do rio, ao invés de procurarem por um serviço
convencional em postos de lavagem.
Por fim foi solicitado para o entrevistado expor a sua opinião, quanto à água que
retorna ao rio Parnaíba após ser usada para lavar carros, quanto a problemas ambientais, que
podem ser causados. A resposta foi a seguinte: ¨ sabemos que essa água volta poluída ao rio e
pode atrapalhar a vida de muitas pessoas. Essa é a forma que temos de tirar o sustento de
nossas famílias. No passado a Prefeitura de Teresina, através da SDU Norte
(Superintendência de Desenvolvimento Urbano da zona norte de Teresina), instalou alguns
tanques para filtrar a água que retorna ao rio. Hoje por falta de manutenção estão desativadas
e não temos dinheiro para resolver esse problema.
Em seguida foram analisadas as percepções que os lavadores de carro quanto aos
questionamentos abordados.
Não houve unanimidade nas respostas, foi quando interrogados sobre o porquê lavar
carros na beira rio, ao invés de outro trabalho. Em uma das respostas, o entrevistado 1
afirmou não ter qualificação suficiente para obter um emprego melhor. O entrevistado 2
respondeu que não troca esse trabalho por nenhum outro, pois aqui que sempre trabalhou
desde criança com seus pais. O entrevistado 3 diz que gosta desse trabalho, pois é realizado na
sombra, pode sair quando quiser e ainda não tem pressão de chefes. Já o entrevistado 4 afirma
que gostaria de trabalhar em outro local desde que sua carteira de trabalho fosse assinada.
O primeiro grupo de amostras foram coletadas no rio Parnaíba conforme Tabela 2.
Tabela 2- Local de coleta de amostras para Análise
Local da Coleta
Amostra Coordenada Descrição
Amostra 1 X 0743639 Y 9424307 A Montante da Cidade de Teresina
Amostra 2 X 0742218 Y 9435156
A Montante da lavagem de carros Centro
Administrativo
Amostra 3 X 742205 Y 9435500
A jusante da lavagem de carros do Centro
Administrativo
Amostra 4 X 0740875 Y 9437808
A Jusante da Lavagem de carros próximo
ponte João Luiz Ferreira
Fonte: Autoria própria
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
8
As análises apresentadas foram realizadas no laboratório do DNOCS em Teresina e os
resultados encontrados seguem demonstrados na Figura 2.
Figura 2- Análises físicas do laboratório DNOCS
Em posse dos resultados apresentados podemos afirmar algumas análises. A primeira
análise é que a água do rio Parnaíba a montante da cidade de Teresina, apresenta
características físicas de água potável conforme análise da amostra 1.
Também foram feitas análises químicas da água coletada nestas mesmas amostras que
acabou se de analisar quanto a análise física. Os resultados seguem abaixo conforme a figura
3.
Figura 3- Análises químicas da água do laboratório DNOCS
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
9
O nitrato tem origem no nitrogênio orgânico ou inorgânico, e para chegar a essa fase
foi devido a atividade antrópica exercida sobre o manancial.
Na Figura 4 abaixo são apresentados os resultados da análise no laboratório DNOCS.
Figura 4 – Análises do laboratório PURE
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
10
O resultado apresentado acima na na figura 4, teve a água coletada pontos de coleta 2 e
3, em dia e horário semelhante as amostras que foram enviadas ao laboratório do DNOCS.
Estas amostras foram nomeadas nesta pesquisa como Amostra A (montante da lavagem de
carros ponto 2) e Amostra B (Jusante da Lavagem de carros ponto 3), as quais foram
avaliadas em outros itens conforme determina a Resolução Nº 357 da Conama, porém no
laboratório PURE.
Nesta avaliação demonstrada acima, apenas o nível do PH da água, que apesar de
sofrer alteração após o processo de lavagem de carros, permaneceu com índice dentro do Valo
Médio Permitido. O PH (quantidade de Prótons H+) que indica a acidez, neutralidade ou
alcalinidade da água, é considerado neutro quando apresenta valor igual a 7, alcalino com
valores maiores que 7, ácidos, com valores menores que 7. Algumas literaturas indicam que a
água mais alcalina é mais saudável. Como verificado na análise acima, nota se um aumento
no PH da água após a lavagem dos veículos. Adotando apenas os números, daria para afirmar
que o PH melhorou para o consumo, mas sabendo que não foi realizado nenhum tratamento, e
ainda que a mesma sofreu adição de resíduos da lavagem de carros, não se pode afirmar que
esta água está melhor.
A turbidez serve como um importante parâmetro das condições adequadas para
consumo da água e representa a propriedade óptica de absorção e reflexão da luz.
A turbidez em VMP ideal é 5 UT(UTN). Os dados apresentados nas análises são de 35
para amostra A e de 87 para a amostra B. O valor mostrado pela análise na amostra A é mais
elevado que o ideal. Já o valor da Amostra B, apresenta um resultado pouco mais de duas
vezes maior em relação a amostra A. O que se pode afirmar nestas considerações é que a água
coletada no ponto 2 para lavar os carros já está com índice elevado, acima do permitido.
Como não temos análise da turbidez do ponto 1, não se pode garantir que essa alteração se dá
somente em função de despejo de esgotos urbanos no leito do rio. Mas podemos afirmar com
propriedade, segundo a análise, que o processo de lavagem de carros, é grande responsável
pelo aumento do índice de Turbidez da água. Nesta análise, também foram realizados testes
para detectar a presença de óleos e graxas. No ponto 2, a análise apresenta um valor de 3,5
mg/l. No ponto 3 esse valor aumenta para 35,4 mg/l. Podemos afirmar que o processo de
lavagem de carros, causa um impacto ambiental muito relevante a água do rio Parnaíba. Nas
águas naturais, o que é o caso do rio Parnaíba, os óleos e graxas podem acumular nas
superfícies, podendo facilitar problemas ecológicos. Um destes problemas são as trocas
gasosas que ocorrem entre a massa líquida e a atmosfera, especialmente a de oxigênio. Outro
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
11
problema que pode ocasionar, são estéticos e ecológicos no rio, que ainda percorre uma
grande distância até sua foz.
A análise de DBO (demanda Biológica de Oxigênio), neste estudo apresentou um
valor de 6,0 mg/l na amostra A e de 55,6 mg/l na amostra B, sabendo que o VMP ideal para
DBO é de 5,0 mg/l. O processo de lavagem de carros ocasiona uma grande alteração na DBO,
ou seja, aumenta o valor em 11 vezes. Os maiores aumentos em termos de DBO, num corpo
d’água, são provocados por despejos de origem predominantemente orgânica e esgotos, neste
caso, ficando caracterizado pelo despejo de águas poluídas com sabão, detergente e graxas,
produtos oriundos da lavagem de carros. Quanto maior esse índice de despejo desses
produtos, maior a redução do oxigênio na água, provocando o desaparecimento de peixes e
outras formas de vida aquática.
Por fim o último item avaliado, foi a DQO (Demanda química de oxigênio), ou seja, a
quantidade de oxigênio necessária para dissolver a matéria. Quanto maior a poluição,
quantidade de matéria, maior a quantidade de oxigênio necessária para diluir. No caso
especifico do estudo, o VMP ideal é de até 5,0 mg/l. As amostras analisadas mostram para
amostra A um valor de 9,0 mg/l e na amostra B esse valor chegando a 92,8 mg/l. Com isso
pode se concluir que o processo de lavagem de carros, tem uma grande participação da
poluição no rio Parnaíba, uma vez que a quantidade de oxigênio necessária para diluir a
matéria após o processo é de 10 vezes maior que antes desse processo.
No levantamento de campo, foram verificadas as variáveis ou aspectos da atividade de
lavagem de carros, com potencial para causar impactos ao meio ambiente em Teresina, sendo
estes aspectos listados com potencial impacto ao meio ambiente.
Após a quantificação de aspectos, e impactos que poderiam ser negativos ao meio
ambiente, e a algum outro, seja ele social ou econômico, segue abaixo na figura 5, a
quantificação dos impactos que a lavagem de carros causa ao meio ambiente de Teresina.
Cada um destes itens avaliados, tanto as variáveis quanto os impactos, serão todos discutidos.
Figura 5 – Quantificação dos impactos da lavagem de carros às margens do rio
Parnaíba
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
12
Em primeiro momento discutiu-se os riscos dos aspectos levantados conforme figura 5
acima.
As APP`s são protegidas legalmente. Neste caso em particular da lavagem de carros,
bares e restaurantes e no caso da avaliação, foi atribuida nota 4 para os impactos referentes a
Nitrato, erosão e o impacto visual, ou seja em nível de alerta. O nitrato é produzido pela
atividade antropica realizada pela lavagem de carros dentro da APP. Os demais impactos
avaliados para o aspecto APP, foram avaliados como baixo e muito baixo, portanto este
aspecto apresenta assim um nível de risco avaliado como médio.
5. Conclusão
Verificou se que os maiores impactos ambientais causados ao meio ambiente, em
decorrência direta ou indireta da lavagem de carros são os químicos, visual e social. Conclui
se ainda que a água captada para processo de lavar carros, apresenta alguns índices dentro dos
valores médios permitidos, mas o processo altera bastante esses níveis, deixando alguns em
escala muito superior a desejada.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
13
Quanto a adaptação da Matriz de Leopold para avaliação dos aspectos e impactos da
lavagem de carros, a mesma se mostrou bastante prática. Com ela foi possível avaliar os
impactos com maior possibilidade de acontecer, sendo estes os que merecem os maiores
cuidados.
Em relação as estratégias de intervenção que podem minimizar o impacto ambiental
do processo de lavagem de carros às margens do Rio Parnaíba na cidade de Teresina,
verificou-se que os maiores impactos encontrados, possuem tratativas, e podem ser corrigidas
preventivamente, com ações que não necessitam de tanto investimento financeiro, mas com
certeza, necessitam de mudança de procedimento e novos hábitos, tais como a
conscientização das pessoas que freqüentam o local e também os lavadores de carros, através
de ações educativas nas questões ambientais.
O objetivo do estudo foi alcançado, uma vez que conseguiu-se levantar os impactos,
dando a cada um deles, a sua devida classificação conforme a importância para o processo
citados aqui em ordem decrescente; químico, social, visual, a perda de oxigênio, nitrato,
biológico, a erosão e óleos e graxas respectivamente.
Não existem ações que visem minimizar os impactos do processo. A água utilizada
retorna ao rio sem nenhum tipo de tratamento, causando vários danos ao rio e ao meio
ambiente.
Quanto aos impactos identificados neste trabalho, sugere se para a sua minimização, a
reativação dos tanques que filtram a água antes da mesma retornar ao rio, uma vez que estas
caixas irão separar matéria orgânica, óleos e graxas da água e com isso minimizarão os
impactos.
Outro ponto de sugestão é a instalação de pontos de coleta de lixo mais visíveis ao
público, e também a ênfase na educação ambiental que deve ser direcionada as pessoas
através de um trabalho de conscientização da população para evitar essa prática de lavar
carros as margens do rio, pois conforme avaliações são prejudiciais ao meio ambiente.
Quanto a trabalhos futuros, existe um grande campo a ser explorado em relação à
lavagem de carros as margens do rio, tanto na esfera social, econômica quanto na ambiental,
por se tratar de uma questão muito ampla e relevante.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
14
Referências
ALMEIDA FILHO, E.O.; JORGE, A. Avaliação das fontes de emissão de material particulado na atmosfera
da cidade de Cuiabá. Cuiabá 2006. 87 p.
(Dissertação de Mestrado no Setor de Física e Meio Ambiente da Universidade Federal de Mato Grosso).
ARAUJO, A. E. M. Avaliação dos parâmetros físicos, químicos e índice de qualidade da água no Rio
Saúde, em razão da precipitação (maio a dezembro de 2004): estudo de caso. Maceió: 2006. Dissertação
(Mestrado em Meteorologia), Universidade Federal de Alagoas. 2006. 107p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14004: Sistemas de gestão ambiental. Rio de janeiro: 2009.
BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da
teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2009.
BATALHA, B. A água que você bebe, CETESB. São Paulo, p.101, 1985
BERTI, A. P.; DÜSMAN, E.; SOARES, L. C.; GRASSI, L. E. A. Efeitos da contaminação do ambiente aquático
por óleos e agrotóxicos. SaBios: Rev. Saúde e Biol., Campo Mourão, v. 4, n. 1, p. 45-51, jan./jun. 2009.
BRASIL. Portaria nº 518, de 25 de março de 2004: Normas de qualidade da água para consumo humano.
Ministério da Saúde, Brasília, 2004. 15p.
BRASIL, Ministério da Saúde. Contaminação de água para consumo humano com Nitrato. Parece Técnico.
2008.
BOTELHO, M. G. R.; SILVA, S. A. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In VITTE, C. A.; GUERRA, T.
J. As Reflexões Sobre Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. p 153-158.
BROWN, C. Water conservation in the professional car wash industry. Chicago: International Carwash
Association, 2006.
BUAINAIN, A. M. Agricultura Familiar, Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável: questões para debate.
Brasília: IICA, 2006.
CALIJURI, Maria do Carmo; CUNHA, Davi G. F. Engenharia Ambiental: Conceitos, Tecnologia e Gestão.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
CORTEZ, A. T. C.; ORTIGOZA, S. A. G. (Orgs). Consumo Sustentável: conflitos entre necessidade e
desperdício. São Paulo: Unesp, 2007.
COSTA, L. L.; LIMA, A. K. V. O.; PEREIRA, F. C. Impactos ambientais dos efluentes das lagoas de
estabilização em Campina Grande – Paraíba. Qualit@s Revista Eletrônica, Campina Grande, v. 8, n. 1, p. 1-7,
jan./jun. 2009.
COSTA, M.V.; CHAVES, P.S.V. & OLIVEIRA, F.C. Uso das Técnicas de Avaliação de Impacto Ambiental
em Estudos Realizados no Ceará. In: XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Anais
INTERCON, Rio de Janeiro, 2005.
ELKINGTON, J. Sustentabilidade: canibais com garfo e faca. São Paulo: M. Books do Brasil, 2012.
FELDMANN, FÁBIO Apud MILARÉ, EDIS. Direito do Ambiente: a Gestão Ambiental em Foco - doutrina,
jurisprudência, glossário. 5ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
FOGLIATTI, M.C.; FILIPPO, S. & GOUDARD, B. Avaliação de impactos ambientais: aplicação aos sistemas
de transporte. Rio de Janeiro: Interciência, 2004.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 2007.