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Cinpar 2010 - www.cinpar2010.com.ar - [email protected] TEMA 01 Avaliação das manifestações patológicas da estrutura do Estádio Presidente Vargas em Fortaleza - CE Alexandre Araújo Bertini, Dr. 1,a , Aldo de Almeida Oliveira, Msc 2,b e José Ramalho Torres, Msc 3,c 1,2 Universidade Federal do Ceará, Campus do Pici, Bl. 710, Fortaleza - Ceará – Brasil CEP 60455-760 3 Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial – NUTEC, Campus do Pici, Fortaleza - Ceará – Brasil – CEP 60451-970 a [email protected], b [email protected], c [email protected] Palavras-chave: estrutura, patologia, ensaios, estádio Resumo. O Estádio Presidente Vargas popularmente conhecido por “PV”, em Fortaleza- Ceará, foi inaugurado em 14 de setembro de 1941, tendo passado ao longo do tempo por várias intervenções. O CREA-Ce, em dezembro de 2007, criou uma Comissão de Vistoria Técnica Estrutural, para vistoriar a estrutura e diagnosticar suas patologias. O Laudo Técnico emitido por esta instituição recomendou a realização de vários ensaios para um diagnóstico mais preciso a fim se pronunciar com mais convicção sobre a interdição do estádio. Foi então que a Prefeitura Municipal de Fortaleza convidou a Universidade Federal do Ceará para inspecionar a estrutura do PV, no intuito de fazer uma vistoria da mesma como parte de um diagnóstico técnico a ser consubstanciado com estudos teóricos, experimentais e procedimentos. O trabalho foi conduzido seguindo as seguintes etapas: inspeção visual, coleta e catalogação de informações, caracterização dos materiais, ensaios químicos, verificação da segurança estrutural do concreto, ensaio de vibração forçada, ensaio estático e simulação dinâmica da estrutura do estádio. Com a realização do conjunto de ensaios e avaliações, chegou-se a conclusão de que o estádio deveria ser interditado, uma vez que se detectaram, em alguns casos, estágio avançado de corrosão e perdas significativas de seção de armadura como também foi observados deterioração do concreto em vários pontos da estrutura. Outras recomendações foram feitas em função dos estudos realizados. 1. Introdução O Estádio Presidente Vargas (Figura 1.1), popularmente conhecido por “PV”, localizado na Rua Marechal Deodoro, bairro da Gentilândia em Fortaleza- Ceará, foi inaugurado em 14 de setembro de 1941, tendo passado ao longo do tempo por várias intervenções. No ano de 2008 a prefeitura Municipal de Fortaleza, preocupada com o estado da estrutura do estádio, solicitou que fosse realizado um estudo para que fosse mostrado a real situação e tomar as providências cabíveis.

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Cinpar 2010 - www.cinpar2010.com.ar - [email protected]

TEMA 01

Avaliação das manifestações patológicas da estrutura do Estádio Presidente Vargas em Fortaleza - CE

Alexandre Araújo Bertini, Dr.1,a, Aldo de Almeida Oliveira, Msc2,b e José Ramalho Torres, Msc3,c

1,2Universidade Federal do Ceará, Campus do Pici, Bl. 710, Fortaleza - Ceará – Brasil

CEP 60455-760 3Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial – NUTEC, Campus do Pici, Fortaleza - Ceará –

Brasil – CEP 60451-970 [email protected], [email protected], [email protected]

Palavras-chave: estrutura, patologia, ensaios, estádio

Resumo. O Estádio Presidente Vargas popularmente conhecido por “PV”, em Fortaleza-Ceará, foi inaugurado em 14 de setembro de 1941, tendo passado ao longo do tempo por várias intervenções. O CREA-Ce, em dezembro de 2007, criou uma Comissão de Vistoria Técnica Estrutural, para vistoriar a estrutura e diagnosticar suas patologias. O Laudo Técnico emitido por esta instituição recomendou a realização de vários ensaios para um diagnóstico mais preciso a fim se pronunciar com mais convicção sobre a interdição do estádio. Foi então que a Prefeitura Municipal de Fortaleza convidou a Universidade Federal do Ceará para inspecionar a estrutura do PV, no intuito de fazer uma vistoria da mesma como parte de um diagnóstico técnico a ser consubstanciado com estudos teóricos, experimentais e procedimentos. O trabalho foi conduzido seguindo as seguintes etapas: inspeção visual, coleta e catalogação de informações, caracterização dos materiais, ensaios químicos, verificação da segurança estrutural do concreto, ensaio de vibração forçada, ensaio estático e simulação dinâmica da estrutura do estádio. Com a realização do conjunto de ensaios e avaliações, chegou-se a conclusão de que o estádio deveria ser interditado, uma vez que se detectaram, em alguns casos, estágio avançado de corrosão e perdas significativas de seção de armadura como também foi observados deterioração do concreto em vários pontos da estrutura. Outras recomendações foram feitas em função dos estudos realizados.

1. Introdução

O Estádio Presidente Vargas (Figura 1.1), popularmente conhecido por “PV”, localizado na Rua Marechal Deodoro, bairro da Gentilândia em Fortaleza-Ceará, foi inaugurado em 14 de setembro de 1941, tendo passado ao longo do tempo por várias intervenções.

No ano de 2008 a prefeitura Municipal de Fortaleza, preocupada com o estado da estrutura do estádio, solicitou que fosse realizado um estudo para que fosse mostrado a real situação e tomar as providências cabíveis.

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Foram realizados vários estudos, seguindo as seguintes etapas: Inspeção visual, Coleta e catalogação de informações, Caracterização dos materiais, Ensaios químicos, Verificação da segurança estrutural do concreto, Ensaio de vibração forçada, Ensaio estático, Simulação dinâmica da estrutura do estádio.

2. Inspesção visual

Esta etapa consistiu em uma inspeção preliminar para a identificação das manifestações patológicas e suas possíveis causas, na estrutura do estádio Presidente Vargas.

Nesta etapa verificou-se a presença das diversas patologias, a saber: A) Infiltrações localizadas nas juntas de concretagem e nas juntas de

dilatação transversal, com conseqüente deterioração do concreto nessas regiões;

B) Oxidação de armaduras do concreto armado com redução de seções, especialmente na parte inferior das arquibancadas e das vigas de contraventamento;

C) Falhas das juntas das arquibancadas bem como dos dentes Gerber das vigas de contraventamento;

D) Falhas em pilares, redução de seção de pilares com exposição de armaduras;

E) Observou-se um acentuado desaprumo em alguns pilares, além de indícios de movimentação na junta existente

A) Crescimento de árvores na estrutura, que é altamente danoso à estrutura pela presença de microorganismos. O crescimento destas árvores demonstra a baixa porosidade do concreto e a existência de vazios macroscópicos.

3. Coleta e catalogação das infomrações

A estrutura do PV é em concreto armado aparente, fruto de várias etapas construtivas realizadas em datas bem distintas. Isto sugere a presença de materiais com características diferenciadas visto tratar-se de um período de 50 anos desde a conclusão das primeiras arquibancadas. Além disso, paralelamente à evolução das normas de projeto, códigos também distintos serviram de orientação para a elaboração dos projetos estruturais. Contudo, estes projetos não se encontram hoje disponíveis, seja de sua construção, quanto das ampliações e reformas que o estádio sofreu.

Nesta etapa, portanto, caracterizou-se historica e geometricamente a estrutura do estádio. A caracterização histórica está relacionada aos materiais, normas utilizadas, tecnologias e procedimentos associados às diversas etapas construtivas. A caracterização geométrica consistiu na Planta Baixa do estádio, detalhando a estrutura quanto a dimensões de vigas, pilares e distâncias entre pórticos, bem como outros detalhes importantes (detalhes de juntas longitudinais e transversais, detalhes de dentes Gerber).

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3.1. Caracterização Histórica

O estádio de futebol Presidente Vargas ou PV (Fig. 1), como é conhecido, pertence à Prefeitura Municipal de Fortaleza (Coordenadas: Latitude = 3º 44 45 S e Longitude = 38º 32 12 W (WIKIPÉDIA – Estádio). Foi construído sobre o antigo Campo do Prado, onde ao redor do campo havia uma pista de corridas de cavalos (WIKIPÉDIA – História). Em 1939 foi lançada a pedra fundamental do que seria o primeiro estádio de futebol da Capital e, oficialmente, o estádio foi inaugurado em 14 de setembro de 1941, mas a primeira partida de futebol ocorreu somente em 21 de setembro de 1941, uma semana depois (WIKIPÉDIA – Estádio). O estádio recebeu o nome de Presidente Vargas somente em 1952 (WIKIPÉDIA – Estádio).

Figura 1: Entrada atual do estádio.

A Fig. 2 mostra alguns detalhes do PV, cuja estrutura pode ser dividida nos seguintes setores (indicados na figura): (1) setor de escadas e rampas de acesso às arquibancadas (ERA); (2) primeiro lance de arquibancadas ou estrutura antiga (1º LA-EA); (3) segundo lance de arquibancadas ou ampliação (2º LA-A); (4) e setor das cadeiras numeradas (CN) e cabines de rádio (CR). Os dois lances de arquibancadas contornam quase todo o campo, iniciando e finalizando no setor das cadeiras numeradas. Os trechos das arquibancadas ao lado das cadeiras numeradas, que ficam à sombra no período da tarde, são designados como cimento especial (CE). Separando os dois lances, existe uma junta que contorna todo o campo, inclusive no setor das cadeiras, designada por longitudinal por ter a direção paralela às arquibancadas (JL). Transversal à direção das arquibancadas existem juntas de dilatação transversais.

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Figura 2. Vista geral do PV – estrutura atual (Fonte: Wikipédia - Estádio).

Há informações sobre reformas e ampliações a partir de 1958, quando foi feita a primeira reforma. De fato, os dados podem não ser muito confiáveis, pois não foram localizados registros oficiais sobre eles, mas também não são relevantes do ponto de vista da avaliação estrutural aqui proposta.

Em 1963 foi feita a ampliação da sua capacidade para 35 mil lugares.

Em 1993, foram realizados restaurações e reforço da estrutura de concreto armado do estádio (MOTA, 1993).

Em 1997, uma reforma foi feita com a colocação de assentos, o que reduziu a capacidade do estádio para 19.800 lugares.

Em 2005, o PV ficou interditado de setembro a novembro para a realização de várias melhorias (PINTO, 2007). As atuais escadas e rampas de acesso, substituindo antigos e precários degraus de acesso, foram então construídas, além da recuperação das arquibancadas, banheiros, vestiários e instalação contra incêndio.

O maior público já registrado no PV foi de 41.311 pagantes, no jogo Fortaleza 1 x 1 Ceará, no dia 7 de maio de 1973.

Atualmente, devido a reformas no estádio e às normas de segurança mais rígidas, a capacidade do PV foi reduzida para aproximadamente 22.000

espectadores (FUTEBOLNORDESTE).

3.2. Caracterização Geométrica

Sem as plantas originais do estádio, foi necessário caracterizar geometricamente a estrutura do estádio. Portanto, nesta etapa foram obtidas as dimensões de vigas, pilares e distâncias entre pórticos, bem como outros detalhes importantes, tais como detalhes de juntas longitudinais e transversais, e detalhes de dentes Gerber.

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Esta caracterização foi realizada por uma equipe de topógrafos, usando uma estação total. O resultado final desta etapa é a planta de situação e a planta baixa do estádio (Fig. 3 e Fig. 4).

Figura 3. Pórtico típico do estádio Presidente Vargas.

Figura 4. Planta baixa do Estádio Presidente Vargas com indicação dos setores analisados.

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O estádio Presidente Vargas é constituído atualmente por 18 setores estruturais separados por juntas de dilatação. A ligação entre setores vizinhos é feita por meio de dentes gerber na região das juntas e em prolongamentos das vigas que conectam os pilares na direção tangencial (Figura 2.3b).

O formato em planta do estádio é retangular, com formas arredondadas nos quatro cantos. Por este motivo, quatro desses setores estruturais apresentam formato curvo em planta. Os setores são constituídos por degraus que se apóiam em pórticos de concreto armado, afastados em média de 5 m entre si. A altura máxima da construção, na extremidade superior da arquibancada, é de aproximadamente 13 m no setor central. Nos demais setores a altura máxima aproximada é de 8 m.

4. Ensaios realizados

Com o objetivo de identificar as características físicas, mecânicas e químicas dos materiais presentes na estrutura de concreto armado (concreto e aço) do Estádio Presidente Vargas e diagnosticar as manifestações patológicas presentes na referida estrutura, foram realizados os ensaios descriminados abaixo:

Ensaios no Aço:

• Ensaio de tração;

• Medição do potencial de corrosão.

• Ensaios no Concreto:

• Resistência à compressão através de esclerometria;

• Resistência à compressão em testemunhos;

• Módulo de elasticidade;

• Profundidade de carbonatação;

• Determinação do pH;

• Teor de cloretos.

5. Resultados obtidos dos ensaios

5.1. Resistência à compressão por esclerometria

A avaliação da dureza superficial do concreto, com esclerômetro de reflexão (esclerometria), é prescrita pela NBR 7584:1995. Obteve-se resistências que variaram de 22,3 MPa a 34,4 MPa.

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Figura 5. Esclerômetro de Schmidt

5.2. Resistência à compressão de testemunhos de concreto

Com o objetivo de se obter um referencial para os resultados das esclerometrias, foram extraídos testemunhos de concreto (Fig. 6) das vigas dos pórticos e das arquibancadas, tanto da estrutura executada em 1941 como da de 1969. Todos os resultados deste ensaio serviram para calibrar os ensaios de esclerometria, pois ao lado de cada extração de testemunho foi realizado esse último ensaio. Os procedimentos adotados foram de acordo com a NBR 7680:2007.

Figura 5. Testemunhos de concreto extraídos da estrutura do PV.

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Os resultados obtidos dos ensaios à compressão dos testemunhos permitiram a calibração dos resultados obtidos dos ensaios de esclerometria. O fator de correção dos ensaios de esclerometria foi 0,6, sendo determinado a partir da relação dos valores da resistência dos testemunhos e os valores da resistência da esclerometria.

A resistência característica, em ambas as situações, foi determinada através da expressão:

fck = fc +1,65s

onde fck é a resistência característica do concreto da estrutura; fc é a resistência média dos valores obtidos no ensaio; e s é o desvio padrão desses valores.

A resistência característica do concreto (fck) da estrutura construída em 1941 é de 19,5 MPa.

A resistência característica do concreto (fck) da estrutura construída em 1969 é de 17,2 MPa.

5.3. Módulo de elasticidade

O módulo de deformação tangente inicial é obtido segundo ensaio descrito na NBR 8522:2008. Os ensaios do módulo de elasticidade do concreto foram realizados a partir de amostras extraídas da estrutura e utilizou-se uma máquina universal de ensaios, marca EMIC,capacidade de 100 tf.

Os resultados obtidos para o módulo de elasticidade variaram entre 15,3 GPa e 19,8 GPa, para a parte antiga do estádio, e de 15,0 GPa a 23,2 GPa para a parte mais recente. A média obtida do módulo de elasticidade para a parte antiga é de 17,5 GPa e para a parte mais recente é de 20,5 GPa.

5.4. Penetração da frente de carbonatação

A profundidade de carbonatação do concreto foi obtida por meio do emprego do indicador químico fenolftaleína. Para análise da profundidade de carbonatação, utilizou-se o método CPC-18 da RILEM (1994). Primeiramente, procede-se a quebra de um pequeno pedaço do elemento de concreto a ser avaliado. A seguir, faz-se aspersão do indicador químico que possui a propriedade de mudar de cor conforme o pH da superfície, averiguando a alcalinidade da solução de poros do concreto.

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Figura 6. Utilização de fenoftaleína no ensaio de frente de carbonatação.

Pode-se observar que o processo corrosivo já está instalado nas lajes, vigas e pilares. Foram encontradas penetrações da frente de carbonatação significativas, atingindo as armaduras e despassivando-as.

Esse fenômeno é ligado à permeabilidade do concreto aos gases, e tendo em vista que os concretos adotados, quando da execução de obras nos períodos de construção e ampliação do PV, terem historicamente resistência à compressão em torno de 15 a 18 MPa, portanto concretos mais porosos, o que facilitou o avanço da frente de carbonatação e a instalação do processo de corrosão.

5.5. pH do concreto

Foram realizados testes para determinação do pH para diversos pilares de sustentação do estádio Presidente Vargas.

Na maioria dos pontos avaliados, os valores de pH na profundidade de 20 mm são maiores que os apresentados para a profundidade de 5 mm, indicando um menor grau de carbonatação do concreto. Já em alguns pontos, não se observa diferença significativa nos valores de pH medidos nas profundidades de 5 e 20 mm. Os resultados mostram que os valores de pH´s do concreto dos pilares do PV, estão abaixo do valor crítico (11,5), indicando possibilidade de corrosão do aço presente na armadura de sustentação.

5.6. Teor de cloretos

A NBR 6118:2003, estipula um teor máximo de cloretos de 500 mg/l, em relação ao peso de água de amassamento.

Para os traços de concreto normalmente utilizados no Brasil, este limite passa a ser da ordem de 0,02% do peso de cimento.

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Com base nos resultados obtidos, o teor de cloretos encontrado no concreto variou entre 0,09 a 3,63%, verificou-se que 35% das amostras analisadas apresentaram maiores concentrações de cloretos na profundidade de 20 mm, indicativo de contaminação durante a execução do concreto; 30% apresentaram maior concentração a profundidade de 5 mm, indicativo de continuidade de penetração de cloretos. Não se pode chegar a conclusões sobre os 35% restantes, cujos valores, nas duas profundidades, são praticamente semelhantes.

Por outro lado constatou-se que 75% das amostras retiradas do concreto, às profundidades de 5 e 20 mm, apresentaram teores de cloretos não aceitáveis aos padrões estabelecidos.

5.7. Potencial de corrosão

A utilização da medida do Potencial de Corrosão tem a vantagem de ser uma técnica não destrutiva e de fácil aplicação, não sendo necessário o mprego de aparelhos caros e sofisticados; porém, apresenta a desvantagem de apenas fornecer uma idéia relativa e aproximada do processo de corrosão instalado sobre a armadura, ou seja, do seu registro não se obtém nenhum dado quantitativo da cinética da corrosão.

Para a realização das medidas do potencial de corrosão, foram escolhidos pontos aleatoriamente dentre os diversos pilares de sustentação da arquibancada e pontos com armadura exposta também da arquibancada. As análises levaram em consideração a avaliação da corrosão tanto na parte mais antiga quanto da parte mais nova do PV.

(a) Viga do pórtico (b) Laje da arquibancada com exposição do aço

Figura 7. Realização do potencial de corrosão na estrutura do estádio.

Os valores de potencial de corrosão estão distribuídos aleatoriamente não sendo observada diferença entre a corrosão dos aços da parte da estrutura antiga e nova do PV. Na arquibancada, observou-se um valor médio de potencial de corrosão mais elevado em relação ao apresentado pelos pilares indicando um maior grau de deterioração destes.

De acordo com os resultados obtidos, o potencial variou de -120,0 a -335 mV vs. Cu/CuSO4 com valor médio de -244,3 mV vs. Cu/CuSO4 para os pilares e de -295,5 mV vs. Cu/CuSO4 para o aço exposto da arquibancada.

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Portanto, os pilares e a arquibancada avaliados apresentam um grau de risco à corrosão de 50% de acordo com o potencial de corrosão, segundo a norma ASTM C 876:1999.

6. Verificação da segurança estrutural

O Sistema Estrutural que compõe o estádio é o tradicionalmente utilizado em obras dessa natureza. Ou seja: Pórticos Transversais apoiando vigas Longitudinais que já servem de espelho para os degraus da Arquibancada. Apoiados nas vigas Longitudinais estão os pisos da arquibancada.

Como já citado, o estádio Presidente Vargas foi construído em 2 etapas de modo que, em cada secção transversal, observa-se um conjunto de dois pórticos separados por junta, caracterizando as duas etapas de construção. Os pórticos relacionados à 1ª Etapa da Construção foram designados pela letra A, deste modo foram analisados pórticos 1A, 2A, etc. Os pórticos relacionados a 2ª Etapa da Construção foram designados pela letra B pórticos 1B, 2B, etc. Os pórticos com o mesmo número de ordem são pórticos contíguos, portanto localizados no mesmo corte transversal. A Figura 8 indicação de um corte mostrando um pórtico típico.

Figura 8. Corte entre pilares.

O objetivo desta verificação foi observar, em inspeção por amostragem,

se a armadura dos pórticos nas regiões de momento máximo é satisfatória. Como não se dispunha dos Projetos Estruturais da época, a conduta foi escolher pontos estratégicos nos quais as armaduras existentes foram inspecionadas através de demolição localizada da estrutura.

Foi utilizado programa computacional para cálculo de estruturas, onde pode-se realizar as várias verificações, observando em que locais da estrutura a armadura se encontra insuficiente.

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7. Simulação e ensaios dinâmicos de vibração forçada

Para a avaliação do comportamento da estrutura das arquibancadas do estádio, foram desenvolvidos dois modelos numéricos dos setores estruturais ensaiados considerando a curvatura especificada em projeto, para o setor curvo (Figo 9 e Figo 10). Estes modelos foram denominados modelos de referência – baseados no método dos elementos finitos. Para tal, foram utilizados elementos de barra e de casca, no programa SAP2000 v. 11.0, buscando a melhor simulação dinâmica possível.

Nos estudos preliminares, foram considerados engastes nas fundações no nível do solo, para representar a interação solo-estrutura.

Devido a observações no local, foi considerada a continuidade entre o módulo mais antigo (da década de 40) e o módulo mais recente (década de 60), desprezando-se, portanto, a junta apresentada nos desenhos do levantamento topográfico.

Figura 9. Modelo numérico de um setor estrutural – vista isométrica.

Figura 10. Modelo numérico de um setor estrutural – vista isométrica.

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Para a determinação das deformadas modais do estádio, foram instrumentados dois setores de arquibancada, um trecho em formato retilíneo, localizado entre os pórticos e outro em formato curvo.

A estrutura foi instrumentada para a determinação das deformadas modais dos dois setores. A deformada modal da arquibancada foi determinada com uma instrumentação de 7 acelerômetros distribuídos no setor estrutural, posicionados nos degraus das arquibancadas, e extensômetros elétricos colados nas armaduras dos pilares dos setores.

As respostas do ensaio foram medidas e gravadas no sistema ADS 2000-LYNX. Esse sistema de aquisição dados é baseado em condicionadores de sinais, controlados por um microcomputador tipo notebook. O sistema foi instalado na região de circulação do estádio, localizada abaixo da arquibancada.

Figura 11. Arranjo geral da instrumentação

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Figura 12. Arranjo da instrumentação

A excitação da estrutura foi realizada por um servo-sistema com capacidade até 500 kN, controlado por microcomputador. O conjunto é composto por um atuador hidráulico, uma bomba hidráulica e um controlador digital.

A estrutura foi excitada durante os ensaios por senóide de amplitude variável dentro das bandas de 0,5 a 15 Hz, cujas intensidades mostraram-se suficiente para excitar a estrutura em seus modos naturais de vibração principais.

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Figura 13. Sistema servo-controle empregado nos ensaios dinâmicos da estrutura do Estádio Presidente Vargas, atuador e controlador.

A partir da análise dos resultados da simulação e dos testes realizados, pode-se apontar algumas considerações em relação a estrutura e recomendar reforços em alguns pontos do estádio

8. Conclusões

Com base nas observações visuais e nos resultados dos ensaios descritos neste relatório, pode-se afirmar que a corrosão encontrada nas estruturas do Estádio Presidente Vargas é oriunda da redução da alcalinidade do meio e, conseqüentemente, da perda da película passivadora (protetora). A despassivação das armaduras deve-se essencialmente a elevada temperatura, exposição das armaduras a ação do dióxido de carbono – CO2 e de íons cloreto presentes na atmosfera, visto que a cidade de Fortaleza está inserida em atmosfera marinha de alta agressividade. Esta frente de carbonatação avançada, porém, normal para a idade do estádio, atinge as armaduras despassivando-as e dando início ao processo corrosivo instalado nas estruturas.

Esse fenômeno, ligado a permeabilidade aos gases, e tendo em vista que os concretos adotados, quando da execução da construção do estádio, terem historicamente resistência à compressão em torno de 15 a 18 MPa (concretos mais porosos), facilita o avanço da frente de carbonatação e a instalação do processo de corrosão. Contudo, o concreto, tanto da estrutura antiga, como da estrutura mais recente, apresenta resistência mecânica satisfatória e compatível com os valores normalmente estipulados.

A todos esses fatos citados adicionam-se os seguintes elementos como agravantes do processo corrosivo:

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• Baixa espessura de recobrimento das armaduras; • Porosidade do concreto; • Elevada umidade relativa do ar (média de 70 %); • Temperatura média em torno de 27°C; • Atmosfera marinha, onde há presença de cloretos; • Infiltrações oriundas de acúmulo de água pluvial durante o período de

inverno; • Infiltrações por ausência de impermeabilização das juntas de dilatação; • Concreto com adensamento precário; • Ausência, ao longo dos anos, de um sistema de inspeção e manutenção

apropriado.

Sob a ótica da NBR 6118:2003, ora vigente, as armaduras existentes nas vigas dos pórticos são insuficientes. Contudo, com o tempo de uso intenso do estádio, admite-se uma certa plastificação nos nós dos pórticos. Levando isso em consideração, as armaduras são consideradas suficientes, para a carga considerada.

Quanto ao ensaio de vibração forçada, as principais conclusões são as seguintes:

• As freqüências naturais de vibração medidas para o setor 1.600-2.200 são: 3,77 Hz, 4,36 Hz, 5,27 Hz e 5,49 Hz; e para o setor 3.300-3.700 são: 3,08 Hz e 6,11 Hz;

• Após a reanálise do modelo numérico, verificou-se que a camada de solo superficial sob os pilares dos setores encontra-se levemente desconfinada;

• Durante as simulações numéricas, não foram identificadas mobilidades na estrutura que possam ser atribuídas a patologias na zona de interação solo-estrutura, ou seja, considerou-se que os pilares estão engastados nas sapatas;

• Com a reanálise do modelo numérico, pôde-se verificar que os aparelhos de apoio posicionados no dente gerber entre setores apresentaram uma transferência de esforços horizontais, interferindo na rigidez global dos setores estruturais investigados;

• Em se tratando de comportamento global, verificou-se experimentalmente que o módulo de 19 GPa é o valor que melhor representa o módulo do concreto dos setores investigados, valor esse que corresponde à média determinada em ensaios à compressão em amostras extraídas das arquibancadas do estádio;

• Em função do comportamento global observado durante os ensaios, pode-se considerar que ocorre uma continuidade na junta existente entre anel “mais antigo” (da década de 40) e o anel “mais recente” (da década de 60), situação essa observada nos sinais de aceleração medidos nas 2 partes dos setores e corroborada na reanálise do modelo numérico;

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9. Recomendações

Fez-se ainda as seguintes recomendações: • Nas peças onde forem observadas fissuras, recomenda-se a injeção

com resina • A fim de evitar a sintonia do movimento da torcida com os do 1º. Modo

do setor 3.300-3.700, recomenda-se que seja aumentada a 1ª. freqüência natural do setor curvo. Isso pode ser feito, por exemplo, executando-se paredes a meia altura dos pilares externos, conforme se pode ver na Figura 10.1, o que elevaria essa freqüência natural para pelo menos 3,30 Hz.

Figura 1. Parede a ser executada no setor 3.300-3.700 para aumentar

freqüência natural do setor.

• Recuperação imediata dos pilares com falta de prumo identificados. Recomendou-se na época da entrega do relatório final para a prefeitura,

a interdição total do estádio. Além disso, recomendou-se a recuperação imediata dos pilares

danificados, além do dente Gerber. Sugeriu-se ainda que, após a reabilitação total do estádio, seja realizada

uma monitoração dinâmica da estrutura do mesmo em dia em que haja uma previsão de público significativo.

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Referências

[1] ____. NBR 7584:1995 – Concreto endurecido – Avaliação da dureza superficial peloesclerômetro de reflexão. Rio de Janeiro.

[2] ____. NBR 7680:2007 – Concreto – Extração, preparo e ensaio de testemunhos de concreto. Rio de Janeiro.

[3] ____. NBR 8522:2008 – Concreto – Determinação dos módulos estáticos de elasticidade e de deformação e da curva tensão-deformação. Rio de Janeiro, 9p.

[4] FUTEBOLNORDESTE. Estádios – Ceará – Presidente Vargas. <http://www.futebolnordeste.com/verestadio.asp?est=34> Acessado em: 11/08/08.

[5] MOTA, H. A. (1993) Restauração e Reforço da Estrutura de Concreto Armado do Estádio Presidente Vargas. Vol. 2.

[6] PINTO, R. M. S. (2007) Do Passeio Público à Ferrovia: O Futebol Proletário em Fortaleza (1904 – 1945). Dissertação de Mestrado, Departamento de História da Universidade Federal do Ceará.

[7] RILEM TC (1994) Measurement of hardened concrete carbonation depth, 1988. RILEM Recommendations for the Testing and Use of Constructions Materials. London, p. 56-58.

[8] WIKIPÉDIA. Estádio Presidente Vargas (Fortaleza). http://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio_Presidente_Vargas_%28Fortaleza%29 Acessado em: 11/08/08.

[9] WIKIPÉDIA. História do Futebol de Ceará. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_futebol_de_Cear%C3%A1#A_evolu.C3.A7.C3.A3o_das_pra.C3.A7as_futebol.C3.ADsticas Acessado em: 11/08/08.