avaliação das boas práticas da cafeicultura dos pequenos
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS DA CAFEICULTURA
DOS PEQUENOS PRODUTORES DA ASSOCIAÇÃO MUMBUCA CANAÃ E A
CONFORMIDADE COM O CÓDIGO COMUM PARA A COMUNIDADE
CAFEEIRA (4C)
ALEXANDRE CRISTI MAGALHÃES
VITÓRIA DA CONQUISTA – BAHIA
2011
2
ALEXANDRE CRISTI MAGALHÃES
AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS DA CAFEICULTURA
DOS PEQUENOS PRODUTORES DA ASSOCIAÇÃO MUMBUCA CANAÃ E A
CONFORMIDADE COM O CÓDIGO COMUM PARA A COMUNIDADE
CAFEEIRA (4C)
Monografia apresentada à Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia, como parte das exigências
do Programa de Pós-Graduação lato sensu, Gestão
da Cadeia Produtiva do Café com Ênfase em
Sustentabilidade, para obtenção do título de
“Especialista”.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Pinto Santos
VITÓRIA DA CONQUISTA – BAHIA
2011
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar presente em todos os momentos da minha vida.
Aos meus pais, modelos da existência Divina para a minha vida.
A minha filha Ana Paula e namorada Karina, pelo carinho e compreensão.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Roberto Pinto Santos, por estar sempre disponível
quando precisei.
A Professora Drª Sandra Elizabeth de Souza pelo seu exemplo de dedicação e
colaboração.
4
E a terra produziu erva, erva dando semente
conforme a sua espécie e árvore frutífera, cuja
semente está nela conforme a sua espécie.
Gênesis 1.12
5
AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS DA CAFEICULTURA DOS
PEQUENOS PRODUTORES DA ASSOCIAÇÃO MUMBUCA CANAÃ E A
CONFORMIDADE COM O CÓDIGO COMUM PARA A COMUNIDADE
CAFEEIRA (4C).
RESUMO: A crescente demanda por bens e produtos produzidos de forma sustentável
está se multiplicando por todo o mundo, fazendo com que, cada vez mais, as pessoas se
preocupem em realizar um consumo consciente. O café é uma bebida que beneficia a
saúde e deve-se adequar ao moderno conceito de produção sustentável em toda a cadeia.
O objetivo deste trabalho foi realizar a auto avaliação das boas práticas agrícolas nos
princípios do Código de Conduta da Associação 4C, em pequenos produtores da
Associação Mumbuca Canaã, localizada na Vila do Café, Encruzilhada, Bahia. Trinta
questionários de auto avaliação foram aplicados em 63,8% dos produtores e verificados
os itens de conduta contidos na norma que inclui as dimensões social, ambiental e
econômica. A análise qualitativa dos dados aponta a unanimidade da não existência de
práticas inaceitáveis. A dimensão ambiental e a econômica obtiveram 45,5% e 66,7% de
práticas na cor vermelho, respectivamente, e a dimensão social obteve 54,6% de
práticas na cor amarelo. Em uma visão de conjunto das três dimensões o resultado é um
equilíbrio entre as práticas desejáveis (verde), melhoria (amarelo) e as indesejáveis
(vermelhas). Havendo conscientização em adotar as boas práticas agrícolas na cultura
do café na Associação Mumbuca Canaã, há perspectivas de se obter a licença para
participar do Código Comum para a Comunidade Cafeeira - 4C.
Palavras Chave: Boas Práticas Agrícolas, Café Sustentável, Código de Conduta 4C.
6
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - MAPA COM LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO
DE ENCRUZILHADA-BA .......................................................................................... 15
FIGURA 2 – SEDE DA ASSOCIAÇÃO MUMBUCA CANAÃ, NO DISTRITO DE
VILA DO CAFÉ, ENCRUZILHADA-BA.................................................................. 16
FIGURA 3 - APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE AUTO AVALIAÇÃO DAS
NORMAS 4C, COM OS PRODUTORES DE CAFÉ NA SEDE DA AMC, EM
OUTUBRO DE 2010 .................................................................................................... 18
FIGURA 4 - PRODUTORES E FAMILIARES DA AMC ....................................... 19
FIGURA 5 - VISÃO DE CONJUNTO DAS DIMENSÕES SOCIAL,
AMBIENTAL E ECONÔMICA DOS CAFEICULTORES DA AMC, VILA DO
CAFÉ-ENCRUZILHADA-BAHIA ............................................................................. 21
FIGURA 6 - CONSÓRCIO CAFÉ X BANANA NA AMC ...................................... 22
FIGURA 7 – CONSÓRCIO CAFÉ X FEIJÃO NA AMC ........................................ 23
FIGURA 8 - CONSÓRCIO CAFÉ X MANDIOCA NA AMC ................................ 24
FIGURA 9 - VISÃO DE CONJUNTO DA DIMENSÃO SOCIAL, DOS
CAFEICULTORES DA AMC .................................................................................... 25
FIGURA 10 - ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL COM 164 HECTARES
DA AMC ........................................................................................................................ 26
FIGURA 11 - VISÃO DE CONJUNTO DA DIMENSÃO AMBIENTAL DA
AMC ............................................................................................................................... 27
FIGURA 12 - DEPÓSITO DE PESTICIDAS EM UMA PROPRIEDADE DA
AMC ............................................................................................................................... 28
FIGURA 13 - USO E MANUSEIO DE PRODUTOS QUÍMICOS DA AMC ........ 29
FIGURA 14 - ÁGUA, DETRITOS E ENERGIA DA AMC ..................................... 30
7
FIGURA 15 - VISÃO DE CONJUNTO DA DIMENSÃO ECONÔMICA NA
AMC ............................................................................................................................... 31
FIGURA 16 - CAFÉ COLHIDO EM PROPRIEDADE DA AMC ......................... 32
FIGURA 17 - MODELO DE SECAGEM TRADICIONAL DO CAFÉ COLHIDO
EM ÁREA COMUM DA AMC ................................................................................... 33
FIGURA 18 - INFORMAÇÃO DO MERCADO E QUALIDADE NA AMC ........ 33
FIGURA 19 - COBERTURA PLÁSTICA PARA SECAGEM DO CAFÉ NA
AMC ............................................................................................................................... 34
8
LISTA DE TABELA
TABELA 1 - RESULTADO DA AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS INACEITÁVEIS
NA ASSOCIAÇÃO MUMBUCA CANAÃ.................................................................20
9
SUMÁRIO
1 OBJETIVO ............................................................................................................. 10
2 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
3 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 15
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 20
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 36
6 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 37
7 ANEXOS ................................................................................................................. 40
10
1 OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi realizar a auto avaliação das boas práticas
agrícolas, com base nos princípios do Código Comum para a Comunidade Cafeeira (4C)
em pequenos produtores da Associação Mumbuca Canaã.
11
2 INTRODUÇÃO
O café está intimamente relacionado na vida de milhares de pessoas em todo o
mundo, contribuindo para um melhor convívio, seja no lar, no trabalho ou no lazer além
de promover benefícios para uma vida mais saudável.
A cadeia produtiva do café contribui para a formação de empregos no meio
rural, o seu cultivo e processamento, constituem fator de estabilidade social e em áreas
urbanas dos países produtores, consumidores e de industrialização, fomenta o comércio,
transporte e marketing. A importância é crucial para as economias e políticas de muitos
países em desenvolvimento e menos desenvolvidos, a exemplo de Uganda, Peru, Nova
Guiné, Nicarágua, Indonésia, Honduras, Guatemala, Etiópia, El Salvador e Equador
onde as exportações de café respondem por uma proporção significativa das receitas em
divisas (OIC 2010).
A produção mundial de café é representada por 57 países em desenvolvimento,
como Brasil, Vietnã e Colômbia responsáveis por mais de 60% das 133 milhões de
sacas produzidas em 2010, sendo o Brasil o maior produtor de café do mundo. A
segunda estimativa de produção de café (arábica e conilon) para 2011 indica que o país
deverá colher 43,54 milhões de sacas de 60 quilos do produto beneficiado, com redução
de 9,5%, quando comparada com a produção obtida na temporada anterior, devido ao
ano de baixa bienalidade, ou seja, a redução da oscilação da produção de uma safra para
outra (CONAB, 2011).
A exportação brasileira é a maior dos países produtores, totalizando 30,2
milhões de sacas em 2010 o que representa 35,2% da exportação mundial (OIC 2010).
Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Café – ABIC, o
consumo nacional atingiu o volume de 19, 1 milhões de sacas, 4,27 kg de café torrado
12
por habitante/ano, o segundo maior consumidor com 14%, superado pela tradicional
liderança dos Estados Unidos com 25% da demanda mundial de café (ABIC, 2010).
O café é produzido em 14 Estados da Federação, com área plantada de 2.282,1
mil hectares, com aproximadamente seis bilhões de pés, está presente em
aproximadamente 1.900 municípios e emprega direta e indiretamente 8,4 milhões de
trabalhadores (BRASIL, 2009).
O Estado de Minas Gerais desponta como maior produtor nacional, com 50,8%
da produção e a Bahia o quarto maior produtor com 5,7% do total produzido no Brasil.
O cultivo do café na Bahia está localizado em cinco regiões produtoras: o Oeste,
produz o café arábica, totalmente irrigado com alta tecnologia, que o destaca como a
região de maior produtividade do país com 38,38 sacas por hectare; a Chapada
Diamantina, região que produz os melhores tipos de café arábica de qualidade da Bahia;
o Planalto da Conquista e região de Itiruçu, Vale do Jiquiriçá e Brejões, com baixa
pluviosidade e a maior parte do café plantado sem irrigação; regiões costeiras, que
produz o café conilon, do Baixo Sul, Sul e Extremo Sul (BAHIA, 2011).
O município de Encruzilhada, localizado na área do Semiárido da Bahia, que faz
parte do estudo deste trabalho apresenta uma área plantada de 5.140 hectares de café e
um valor da produção correspondente à 2,95% do total produzido no estado (IBGE
2009). Apresenta Índice de Desenvolvimento Rural; Índice Populacional; Índice de
Bem- Estar Social; Índice Ambiental e Econômico, em média, igual à 0,50 em função
da lavoura de café, sendo superior aos índices dos Territórios de identidade na Bahia
como o de Itapetinga (0,36); Vale do Jequiriçá (0,32); Vitória da Conquista (0,34);
Médio Rio das Contas (0,33) e Região Sudoeste (0,35) (IBGE,2008).
Entre os países produtores de café, o Brasil está avançando em busca de alcançar
os princípios da sustentabilidade. A base conceitual da sustentabilidade visa o
13
atendimento das necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem às próprias necessidades (MAPA, 2011). Esta situação pode
ser observada no bom momento que a cadeia produtiva do café brasileira encontra-se,
com os preços de arábica, e conilon valorizados pelos parâmetros de qualidade, e
alicerçados nos pilares sociais, ambientais e econômicos, descritos por Caporal e
Costabeber (2002), nas multidimensões da sustentabilidade, que também inclui a
dimensão cultural, política e ética.
Instituições que visam a Certificação como a Global G.A.P(EurepGap); Rain
Forest Aliance ; Utz Kapeh e 4C(Código Comum para a Comunidade Cafeeira), tem
como princípio as boas práticas agrícolas. O 4C diferencia-se das demais certificadoras
uma vez que o alvo é o café de consumo geral “main stream coffee”. Trata-se de café
que se enquadra no conceito de sustentabilidade, mas que não preserva a origem,
adquirindo a identidade das marcas da indústria de café, representadas por blends de
cafés de diferentes origens. Dessa forma, não cabe certificação, mas a conformidade
com um Código será estabelecida por meio de sistema de verificação, similar ao usado
nos processos de certificação (RAIJ,2006).
As normas do Código 4C abrangem áreas temáticas que se destacam em três
dimensões: Social, na capacitação e organização de produtores e seus familiares;
Ambiental, na gestão do meio ambiente; Econômica, com a contabilidade e economia
da produção.
Na Associação do Código Comum para a Comunidade Cafeeira (4C), com sede
na cidade de Bonn na Alemanha, produtores, comerciantes, indústria e sociedade civil
de todo o mundo trabalham juntos para a maior sustentabilidade em toda a cadeia
produtiva do café. Esta comunidade global está unindo forças para melhorar de maneira
14
contínua as condições sociais, ambientais e econômicas das pessoas que vivem da
produção do café.
Os principais pilares da 4C são o código de conduta, as regras de participação
para membros comerciantes e indústria, os serviços de apoio para produtores, o sistema
de verificação assim como a participação democrática dentro da associação. Sua
presença é registrada em 22 países: México, Guatemala, El Salvador, Costa Rica,
Colômbia, Peru, Honduras, Nicarágua, Brasil, Costa do Marfim, Camarões, Uganda,
Ruanda, Etiópia, Kenya, Tanzania, Maláui, Tailândia, Indonésia, Vietnam, Filipinas e
Nova Guiné.
No Brasil, foi estabelecido um escritório da 4C em novembro de 2008,
localizado na cidade de Campinas em São Paulo. Atualmente são 28 membros de
diversos segmentos a exemplo de cooperativas, associações, exportadores, indústria,
sociedade civil e membros individuais. Na Bahia as operações da 4C ainda são
inexistentes, e a sua presença contribuiria para a ascensão dos cafés de qualidade (4C
Assossiation).
15
3 MATERIAL E MÉTODOS
A Associação Mumbuca Canaã (AMC) situa-se no Distrito de Vila do Café,
município de Encruzilhada-BA, que se localiza nas coordenadas geográficas 15°31’51”
de latitude Sul e 40°54’32” de longitude Oeste, com área total de 2.041,1 km²,
população de 23.766 habitantes sendo 78,4% residente rural. A produção de café
abrange 5.140ha, sendo a maior parte em pequenas e médias propriedades (IBGE,2010).
O relevo é aplanado a muito movimentado. O micro clima do Distrito de Vila do Café,
está mais próximo do tipo Aw, caracterizado por ser quente e úmido com chuvas de
verão. A altitude é de 800m.
Figura 1 - Mapa com localização geográfica do Município de Encruzilhada-BA
O Distrito de Vila do Café, com população de 5.441 habitantes, está localizado à
30 km de Encruzilhada. Possui escolas de ensino fundamental, quadra de esportes, posto
de saúde, igrejas, saneamento básico, calçamento, energia elétrica fornecida pela Coelba
e comércio em ascensão. É neste Distrito que se encontra localizada a Associação de
Moradores Assentados Mumbuca Canaã.
A Associação Mumbuca Canaã (AMC), teve a sua origem no ano 2000 através
de um projeto de assentamento rural do Governo Federal, tendo como unidade Gestora
o INCRA(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) (Figura2).
16
Figura 2 – Sede da Associação Mumbuca Canaã, no Distrito de Vila do Café, Encruzilhada-BA.
Esta comunidade de produtores simples e humildes caracteriza-se no modelo da
agricultura familiar, produzindo às margens do rio Mumbuca ao redor de 160 hectares
de mata e uma diversidade de cultivos como, banana, mandioca, feijão, laranja, cana e
café. Está dividida em duas agrovilas: a primeira localizada na sede, com 25 assentados,
216,2 ha divididos em 47 lotes de 4,6ha produzindo 7.000 sacas de café beneficiado por
ano; a segunda, afastada 4 km da sede com 22 assentados. A população total é de 235
pessoas, com 60% de adultos. A área total do assentamento é de 200 ha e a área de
preservação ambiental, da floresta semidecidual, de 164 ha, banhada pelo Rio
Mumbuca.
O Código de Conduta, um dos pilares da Associação 4C, consiste em 10 práticas
inaceitáveis e 28 princípios distribuídos na dimensão social, ambiental e econômica, que
17
se baseiam em boas práticas agrícolas e administrativas bem como em convenções
internacionais e diretrizes de ampla aceitação no setor cafeeiro (4C Association). Estas
informações formam um questionário de auto avaliação que foram impressos em igual
teor.
Foi agendada uma visita, para uma reunião, na sede da associação, às 9 horas do
dia 25 de outubro de 2010. O deslocamento ocorreu em um veículo da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, com um motorista da instituição e uma colega do
curso de especialização que colaborou na coleta dos dados. Trinta questionários foram
aplicados, individualmente, o que representou 63,8% do universo dos produtores da
associação. A entrevista aconteceu em um ambiente de muita descontração, onde os
produtores demonstraram muito interesse em participar, respondendo as perguntas com
alegria e entusiasmo (Figuras 3 e 4).
Figura 3 - Aplicação do questionário de auto avaliação das normas 4C, com os produtores de café na sede
da AMC, em outubro de 2010.
Figura 4 – Produtores e familiares da AMC
As respostas dos produtores, anotadas em seus respectivos questionários de auto
avaliação da 4C, foram compiladas em um questionário resumo e submetidas ao método
da estatística descritiva (Guerra e Donare, 1984), organizados e sistematizados por meio
de tabulação, utilizando planilha eletrônica (Microsoft Office Excel) para obter a média
aritmética de cada conjunto de dados.
18
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
As práticas inaceitáveis da Associação 4C precisam ser eliminadas para que os
produtores possam fazer parte desta comunidade. A unanimidade dos produtores
avaliados da Associação Mumbuca Canaã estão aptos no critério das 10 práticas
inaceitáveis (Tabela 1), estando em condições de continuar com a auto avaliação.
Tabela 1 - Resultados da avaliação das práticas inaceitáveis na Associação Mumbuca Canaã.
Práticas Resultados
%inaceitável %aceitável
1 Trabalho infantil(piores formas de trabalho infantil banidas) - 100*
2 Trabalho forçado e escravo(práticas banidas e excluídas) - 100*
3 Tráfico de pessoas(não é permitido nem praticado) - 100*
4 Associação e representação por sindicato(há livre escolha) - 100*
5 Despejo forçado sem compensação adequada(não ocorrem) - 100*
6 Habitação adequada para os trabalhadores(é disponibilizada) - 100*
7 Água potável(é disponibilizada para todos os trabalhadores) - 100*
8 Recursos naturais(há áreas protegidas) - 100*
9 Uso de pesticidas proibidos(está proibido) - 100*
10 Relações comerciais(não há indícios de fraude) - 100*
Nota: *média de 30 questionários
O teor do Código de Conduta da 4C se baseia em 28 princípios para um caminho
da melhoria da sustentabilidade em um sistema de semáforo onde a cor verde representa
as práticas desejáveis, a cor amarela as práticas a serem melhoradas e a cor vermelha as
práticas indesejáveis. A Secretaria da 4C para reconhecer que a Auto Avaliação de uma
Unidade 4C foi confirmada com êxito por um verificador selecionado emitirá uma
19
licença, que permite a mesma, vender café somente de seus Parceiros de Negócio
listados como café em conformidade a outros membros 4C (4C Association).
A seguir, serão apresentados os dados das médias obtidas em cada cor (verde,
amarelo e vermelho) nas práticas agrícolas da lavoura cafeeira dos produtores da
Associação Mumbuca Canaã, com relação às Dimensões Social, Ambiental e
Econômica.
A visão de conjunto dos princípios da 4C mostra um equilíbrio entre as práticas
(Figura 5), onde os maiores resultados de conceitos desejáveis foi na Dimensão
Ambiental, de conceitos para melhoria na Dimensão Social e de conceitos indesejáveis
na Econômica.
Figura 5 - Visão de conjunto das Dimensões Social, Ambiental e Econômica dos cafeicultores da AMC,
Vila do Café-Encruzilhada-Bahia.
Caporal & Costabeber (2002) afirmam que ao lado da dimensão ecológica, a
dimensão social representa precisamente um dos pilares básicos da sustentabilidade,
uma vez que a preservação ambiental e a conservação dos recursos naturais somente
adquirem significado e relevância quando o produto gerado nos agrossistemas, em
20
bases renováveis, também possa ser equitativamente apropriado e usufruído pelos
diversos segmentos da sociedade. Na Dimensão Social a Associação Mumbuca Canaã
obteve o seu melhor desempenho, estando apta para a verificação nesta situação.
Figura 6 – Consórcio café x banana na AMC.
22
Figura 8 – Consórcio café x mandioca na AMC.
Muner (2007) confirma a importância da dimensão social, entendendo como um
meio de se reduzir as desigualdades e a pobreza no meio rural, com equidade entre os
23
membros da sociedade, com melhor distribuição de ativos, capacidades e oportunidades
para os menos favorecidos, propiciando acesso à saúde, à educação, aos recursos
creditícios e à cultura.
São onze princípios relacionados em sete categorias: liberdade de associação,
liberdade de negociação, discriminação, direito à infância e a educação, condições de
trabalho, desenvolvimento de capacidade e aptidões e condições de vida e educação. A
figura 10 representa a visão de conjunto da dimensão social com destaque para seis
princípios identificados em práticas amarelas e apenas um princípio identificado com a
prática vermelha, o que assegura o empregador garantir aos trabalhadores condições de
saúde e segurança no trabalho. Esta situação pode ser revertida, pois o princípio
estabelece um programa de saúde e segurança implementado e monitorado, que poderá
ser conseguido com a entidade gestora da associação, o INCRA. Também existe à
disposição dos produtores com um fácil acesso, um Posto de Saúde, na Vila do Café, na
Vila Bahia e na cidade de Mata Verde-MG, mantido pelo governo federal, através do
SUS, com médicos, enfermeiros e dentistas.
Figura 9 - Visão de conjunto da Dimensão Social, dos cafeicultores da AMC.
24
A Preservação da mata existente na área da Associação Mumbuca Canaã é outro
ponto forte desse grupo que deixou a Dimensão Ambiental fortalecida na prática
desejável (Figura10).
Figura 10 - Área de preservação ambiental com 164 hectares da AMC.
Foram avaliados 11 princípios relacionados em 7 categorias: conservação da
biodiversidade, uso e manuseio de produtos químicos, conservação do solo, fertilidade
do solo e gestão de nutrientes, água , detritos e energia. A comunidade obteve uma
média entre as práticas indesejáveis com 45,5% e desejáveis com 36,4%, porém com
uma média superior de práticas indesejáveis o que impossibilitaria à verificação e
consequentemente a obtenção da licença 4C. (Figura 1) mostra esta situação com a
visão de conjunto da Dimensão Ambiental.
25
Figura 11 - Visão de conjunto da Dimensão Ambiental da AMC.
Os princípios identificados com as práticas vermelhas foram relacionados ao uso
e manuseio de produtos químicos, manejo de águas, manejo seguro de detritos e uso
preferencial de energia renovável. Na avaliação da dimensão ecológica, Muner (2007)
faz referência a alguns destes itens como modelo de transição para a sustentabilidade a
exemplo da utilização da água, do solo e dos recursos naturais de forma racional,
planejada e definida ao alcance de todos os produtores, além de tecnologias que
eliminem o uso de agrotóxicos, como o manejo integrado de pragas-MIP.
26
Figura 12 – Depósito de pesticidas em uma propriedade da AMC
Costabeber e Caporal (2003) afirmam que práticas culturalmente determinadas,
mas que sejam agressivas ao meio ambiente e prejudicial ao fortalecimento das relações
e às estratégias de ação social coletivas, não devem ser estimuladas.
O uso e manuseio de produtos químicos foi uma categoria com opiniões
divergentes, sobressaindo as práticas indesejáveis com 83,3% dos produtores
informando não haver um sistema em operação para minimizar o uso e, 60% informam
que os pesticidas são armazenados, aplicados e descartados de uma maneira prejudicial
à saúde humana e ao ambiente (Figuras 12 e 13).
27
Figura 13 - Uso e manuseio de produtos químicos da AMC
Entretanto, se observa alguns esforços para o uso do E.P.I (Equipamento de
Proteção Individual) pelo produtor, uso de pesticidas registrados de baixo impacto
ambiental com o receituário agronômico, tríplice lavagem e descarte seguro das
embalagens, que resultam em um baixo percentual de 23,3%. Ações simples como
reuniões, palestras e dia de campo, agendadas, sobre as tecnologias e impacto ambiental
dos produtos químicos utilizados na cultura do café entre as lideranças, motivando os
produtores da Associação, com os responsáveis técnicos das revendas, estaria
contribuindo para a educação dos produtores e consequentemente uma cafeicultura
sustentável.
Quanto aos princípios do manejo de águas servidas, manejo seguro de detritos e
o uso preferencial de energia renovável, os produtores foram praticamente unânimes nas
suas opções ( Figura 14). Não existe tratamento no abastecimento de água direto da
mina ou por cisterna; não há um descarte seguro das embalagens dos pesticidas e não
28
existe a reciclagem do lixo doméstico; o provedor da energia elétrica renovável é a
COELBA (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia) e é adquirida com baixo
custo e ainda oferece tarifa reduzida para a zona rural.
Figura 14 - Água, detritos e energia da AMC .
Uma vez que o poder público não enfatiza a reciclagem do lixo, os líderes da
AMC poderiam promover a instrução, com o auxílio da Prefeitura, para a coleta de
papel, plástico, alumínio e orgânicos que poderiam ser aproveitados na própria lavoura
de café na forma de compostos orgânicos. Para transformar a prática indesejável do não
tratamento da água, está a disposição da AMC, o laboratório de análise microbiológica e
de minerais oferecida pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em
Vitória da Conquista - BA, distante 100 Km dos produtores, com fácil acesso. A água
de consumo poderá ser analisada e junto com os representantes do município, tomar as
medidas cabíveis para a associação.
Formando uma relação direta com as dimensões social e ambiental, a dimensão
econômica aparece como elemento-chave para fortalecer estratégias do
29
Desenvolvimento Rural Sustentável. Costabeber(2003) também afirma que não se trata
somente de buscar aumentos de produção e produtividade agropecuária a qualquer
custo, pois eles podem ocasionar reduções de renda e dependências crescentes em
relação a fatores externos, além de danos ambientais que podem resultar em perdas
econômicas no curto ou médio prazos.
No Código de Conduta da Associação 4C a Dimensão Econômica é formada por
seis princípios em seis categorias: informações sobre o mercado, acesso ao mercado,
qualidade, manutenção de registros, comércio e rastreabilidade. Sobressaíram quatro
práticas indesejáveis e duas melhorias, conforme mostra a visão de conjunto.
Figura 15 - Visão de conjunto da Dimensão Econômica na AMC
As informações sobre o mercado e o acesso ao mesmo são os princípios identificados
para a melhoria. Observa-se dentro da associação que os requisitos de qualidade e preço
são acessíveis através dos meios de comunicação mais comuns, televisão e rádio, mas
não são transmitidos para assegurar uma cotação idônea e única entre os produtores.
Com essas informações, o acesso ao mercado, que é conseguido por 60% dos
cafeicultores, gera uma liberdade de negociação para valorizar a sua produção de café.
30
Esta valorização não é maior por falta de um planejamento exclusivo para a melhoria da
qualidade do café (figuras16 e 17), fato observado em mais de 70% dos produtores
proporcionando uma prática indesejável de preço pago ao produtor em 100% da
comunidade.
Figura 16 – Café colhido em propriedade da AMC
31
Figura 17 – Modelo de secagem tradicional do café colhido em área comum da AMC
Figura 18 - Informação do mercado e qualidade na AMC.
32
A busca por melhoria na qualidade do café já é uma realidade dentro da
comunidade, a exemplo da construção de coberturas plásticas (Figura 19).
Figura 19 - Cobertura plástica para secagem do café na AMC
A manutenção de registros o comércio e a rastreabilidade foram princípios
identificados como práticas indesejáveis, por 100% dos produtores. Estas práticas
podem ser alteradas, primeiramente na formação das lideranças da Associação
Mumbuca Canaã. Este grupo estaria responsável pela organização da produção de café
da comunidade com a promoção de reuniões agendadas, para instrução dos produtores
da associação e a busca de auxílio dos os representantes municipais, estaduais,
universidades e a Entidade Gestora (INCRA) para o incentivo da construção de estufas
comunitárias, terreiros, cursos de capacitação, salas de prova do café, que vai instruir o
33
produtor, agregando valor à qualidade da bebida e consequentemente promovendo a
melhoria do bem estar de toda a associação.
34
5 CONCLUSÃO
Os pequenos produtores da Associação Mumbuca Canaã não promovem práticas
inaceitáveis o que viabiliza o acesso para a auto avaliação 4C.
Em uma visão de conjunto, do Código de Conduta 4C, para os cafeicultores da
Vila do Café, existe um equilíbrio entre as Dimensões Social, Ambiental e Econômica
com uma tendência para as práticas de melhoria (amarela).
Havendo conscientização em adotar as boas práticas agrícolas na cultura do café
na Associação Mumbuca Canaã, há boas perspectivas de se obter a licença para
participar do Código Comum para a Comunidade Cafeeira - 4C.
35
6 REFERÊNCIAS
ABIC. Associação Brasileira da Indústria de Café. Tendências de consumo de café no
Brasil em 2010. Disponível em: <www.abic.com.br> Acesso em: 27 de maio de 2011.
BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Café Sustentável.
Riqueza do Brasil. MAPA Secretaria de Produção e Agroenergia. Brasília:
MAPA/ACS,8 p.2009.
BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Desenvolvimento
sustentável. Disponível em: <www.agricultura.gov.br > Acesso em: 22 de julho de
2011.
BAHIA. Secretaria da Agricultura Irrigação e reforma Agrária. Diagnóstico e Propostas
para a Cadeia Produtiva do Café da Bahia. Salvador: SEAGRI, 40p. 2011
CCCC. Código Comum para a Comunidade Cafeeira(4C). Guia para unidades 4C.
Disponível em: <www.4c-cofeeassociation.org> Acesso em 01 de junho de 2011.
CONAB-COMPANIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento de
safra brasileira, Café safra 2011, segunda estimativa, maio de 2011. Disponível em:
<www.conab.com.br> Acesso em: 27 de maio de 2011.
36
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Análise multidimensional da sustentabilidade:
uma proposta metodológica a partir da Agroecologia e Desenvolvimento rural
Sustentável, v.3, n.3, p.70-85, jul./set.2002a.
COSTABEBER, J. A. & CAPORAL, F.R. Possibilidades e alternativas do
desenvolvimento Rural Sustentável. In: VELA, H.(Org.): Agricultura Familiar e
Desenvolvimento rural Sustentável no Mercosul. Santa Maria: Editora da
UFSM/Pallotti, p.157-194 2003.
DUTRA NETO, C. Desenvolvimento Regional e Agronegócio. – 1. ed. Vitória da
Conquista, BA: Ed. do Autor, 2009.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem da população. 2 ed.
Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <www.ibge.gov.br> Acesso em 30 de maio de
2011.
GUERRA, M.J.; DONARE, D. Estatística Indutiva: Teoria e aplicações. São Paulo:
Livraria Ciência e Tecnologia 1984.
MUNER, L. H.; CAPORAL, F. R.; FORNAZIER, M. J.; PADOVAN, M. da P.;
SCHMIDT, H. C. Sustentabilidade da Cafeicultura do Conilon no Espírito Santo. In:
FERRÃO, R. G. e outros (Eds) 625-647 p. 2007.
OIC. Organização Internacional do Café. Estatística. Disponível em: <www.ico.org>
Acesso em: 27 de maio de 2011.
37
RAIJ, B. Van. A. Fertilização do cafeeiro no Brasil e o desenvolvimento Sustentável.
In: ZAMBOLIM, L. Boas Práticas Agrícolas na Produção de Café. 61-81p. 2006.