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Universidade de São Paulo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas Departamento de Ciências Atmosféricas Avaliação da sensibilidade do ciclo diurno à física de interação superfície-atmosfera sobre a Região Metropolitana de São Paulo Samantha Novaes Santos Martins Dissertação de Mestrado Orientadora Profª Dra. Rosmeri Porfírio da Rocha São Paulo, Junho de 2008

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Universidade de São Paulo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas

Departamento de Ciências Atmosféricas

Avaliação da sensibilidade do ciclo diurno à física de interação superfície-atmosfera sobre a Região

Metropolitana de São Paulo

Samantha Novaes Santos Martins

Dissertação de Mestrado

Orientadora Profª Dra. Rosmeri Porfírio da Rocha

São Paulo, Junho de 2008

Agradecimentos

- Ao CAPES e à FAPESP, pelo apoio financeiro;

- A minha orientadora, Prof. Dr. Rosmeri Porfírio da Rocha, pela orientação, amizade e

paciência;

- A todos os professores do IAG, que de algum modo sempre contribuíram com a minha

formação;

- Aos funcionários da biblioteca, seção de informática e secretaria do DCA, pelo apoio e pela

atenção sempre quando foi necessário;

- Aos meus colegas e amigos do DCA, destacando-se: Clara Miho N. Iwabe, Luiz Felippe

Gozzo, Ricardo Hallak, Valéria C. Prando e Samara Carbone, que me auxiliaram em

momentos de dificuldade durante estes dois anos e contribuíram com boas discussões sobre

o projeto;

- Aos meus pais, Silvio e Joélia, que sempre apoiaram minhas escolhas;

- Ao meu irmão Silvio, que me ajudou sempre que necessário;

- Ao Emerson R. Almeida, pelo seu amor, dedicação e companheirismo;

- Aos meus amigos de infância, a toda minha grande família (primos, tios e avó) e a todos os

demais que sempre me incentivaram.

- A Deus, por tudo que obtive até aqui.

Muito Obrigada!

RESUMO

Neste trabalho foram utilizadas duas parametrizações de Camada Limite Planetária (CLP) disponíveis no MM5 (Mesoscale Model vs. 5) para estudar a evolução diurna do vento e da temperatura na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Uma das parametrizações é de fechamento de ordem 1 não-local (BLK) e a outra de fechamento de ordem 1,5 (GS) local e que faz o prognóstico da Energia Cinética Turbulenta (ECT).

O período de estudo corresponde aos dias 30 e 31 de outubro de 2006, coincidindo com a Campanha de Primavera, experimento do Projeto Políticas Públicas em que foram lançadas radiossondagens meteorológicas e de ozônio. Foram analisadas 4 previsões do MM5, com domínio centrado na cidade de São Paulo, iniciadas às 00z do dia 30 de outubro de 2006, sendo 2 previsões para cada parametrização da CLP, uma com e outra sem assimilação de dados de estações de superfície e de radiossondagens dos aeroportos Campo de Marte e Galeão. Além disso, as previsões do MM5 foram utilizadas como campos para o modelo fotoquímico CIT (California Institute of Technology), para estudar a formação e dispersão do Ozônio.

A análise sinótica para o período mostrou que não houve a presença de sistemas frontais sobre a região de estudo. As previsões caracterizaram a presença da brisa marítima sobre o Estado de São Paulo, além de circulações vale-montanha. A parametrização GS simulou maior penetração da brisa marítima na RMSP, devido a maior temperatura simulada por este esquema. Com relação ao ciclo diurno de temperatura, a parametrização GS previu temperaturas maiores do que a BLK, principalmente no horário de máxima temperatura. A parametrização GS também apresentou maiores temperaturas do ponto de orvalho que a BLK, principalmente durante o dia e no horário de máxima temperatura (as diferenças foram de até 4ºC). A diferença na temperatura pôde ser explicada pelo cálculo da ECT, prognosticada pela parametrização GS, em que o termo de produção térmica seria o responsável pelo transporte vertical do calor sensível, mantendo a temperatura mais elevada no esquema GS. Quanto à estrutura vertical, a parametrização GS é mais úmida próximo à superfície e durante o dia. Com relação à estrutura vertical do vento, os dois esquemas apresentaram a existência de jatos noturnos em torno de 500m de altura, com maiores intensidades no esquema GS. A assimilação de dados não provocou muitas diferenças ao longo da integração no primeiro dia de previsão, o que sugere que a dinâmica interna do modelo tenha tido dominância. Outros fatores são o baixo número de estações para assimilar.

Quanto às analises do CIT utilizando campos do MM5, conclui-se que é possível fazer uma boa previsão da formação e dispersão de poluentes, tal como o ozônio, na RMSP através de dados meteorológicos previstos pelo modelo MM5. No entanto, os resultados apontaram que a pluma modelada está deslocada com relação à pluma observada e os valores de pico são superestimados na simulação.

ABSTRACT In this work, two Planetary Boundary Layer (PBL) parameterizations available in MM5

(Mesoscale Model vs. 5) were used to study the diurnal evolution of the wind magnitude and of the temperature in São Paulo Metropolitan Area (MASP). One parameterization is an order-1 with non-local closure (BLK) and the other is an order-1.5 with local closure.

The period of study is during 2006, October 30 and 31, when there was an experiment from the Spring Campaign of the Public Policy Project. During this period, meteorological and ozone soundings were launched. Four MM5 forecasts were analyzed, all of them with a domain centered at MASP, and initialized at 2006 October 30 at 00Z. Each PBL parameterization had 2 forecasts: one with data assimilation and the other without. The data assimilated are from surface station and airport soundings (Campo de Marte, located in São Paulo and Galeão, located in Rio de Janeiro). Besides, the MM5 forecasts were used as primary fields to run the photochemical model CIT (California Institute of Technology), in order to study ozone’s formation and dispersion through RMSP.

The synoptic analysis of the period showed that there was no frontal system over RMSP. The forecasts characterized the sea breeze and valley-mountain circulations in São Paulo State. Due to the higher temperatures forecasted by GS parameterization, this scheme simulated a sea breeze that penetrated more in the continent than BLK. The higher difference between the temperatures forecasted by both schemes was obtained at the maximum temperature time (around 14LT). GS parameterization also showed higher dew point temperatures, sometimes 4ºC higher than BLK ones. The difference in temperature values can be related to the GS parameterization calculation of TKE (Turbulent Kinetic Energy), which is done only in GS scheme. The thermal production term can be the responsible for the vertical transportation of sensible heat, keeping the temperature higher in the GS scheme. GS parameterization is wetter near the surface during the day. About the vertical structure of the wind, both schemes showed the existence of nighttime jets near 500m height that is more intense in GS parameterization. Data assimilation hasn’t provided too many differences during the first day integration, which suggests that the model dynamics has dominated over the data assimilation. Other point is that there is not enough station data to assimilate the relative small influence radius. CIT results nested in the MM5 showed that is possible to obtain a good pollutant formation and dispersion forecast, as was done with ozone over MASP. However, the forecasted plume is displaced related to the observed plume and the maximum values are overestimated in the simulation.

ÍNDICE

LISTA DE FIGURAS ...............................................................................................................vi

LISTA DE TABELAS ..............................................................................................................ix

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................10

2. MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS........................................................................................20

3. DADOS E METODOLOGIA ..........................................................................................22

3.1 O modelo MM5 ..............................................................................................................22 3.2 Parametrizações da Camada Limite Planetária ..............................................................29

3.2.1 Parametrização Blackadar (BLK).....................................................................37 3.2.2 Parametrização Gayno –Seaman (GS) .............................................................42

3.3 O Modelo Fotoquímico CIT e seu acoplamento ao MM5..............................................47 3.4 Metodologia....................................................................................................................50

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES....................................................................................60

4.1 Análise Sinótica do Período do Experimento.................................................................60 4.2 Comparação entre as parametrizações de CLP...............................................................68 4.3 Comparação das previsões com observações .................................................................98 4.4 Aplicação das previsões geradas pelo MM5 no modelo CIT.......................................108

5. RESUMO E CONCLUSÃO...........................................................................................114

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS..............................................................118

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................119

vi

LISTA DE FIGURAS Figura 3. 1: Interação entre as parametrizações físicas no MM5. Adaptado de PSU/NCAR – Dudhia et al (2005). ..................................................................................................................23 Figura 3. 2: Representações dos tipos de área de influência no esquema Cressman. O ponto P representa um ponto da grade e os pontos On representam as observações. A figura a) representa o esquema Cressman tradicional, com uma circunferência como área de influência. As figuras b) e c) representam os esquemas elipse e banana. ..................................................26 Figura 3. 3: Diagrama de fluxo do MM5. ................................................................................28 Figura 3. 4: Estrutura vertical da CLP, adaptada de Zhang e Anthes (1982)...........................32 Figura 3. 5 – Domínio utilizado nos experimentos realizados com o modelo MM5. ..............50 Figura 3. 6 - Categorias de uso do Solo no domínio 3. Destacado o mapa da RMSP..............52 Figura 3. 7 – Topografia da RMSP obtida a partir de dados da USGS. ...................................54 Figura 3. 8 – Estações do INMET (PCD’s) e radiossondagens cujos dados foram assimilados durante as previsões. As marcas vermelhas representam as PCD’s e as marcas azuis as radissondagens (Campo de Marte, na RMSP e Galeão, no Rio de Janeiro).............................56 Figura 3. 9: Estações de Superfície da CETESB, com dados de temperatura (a) e vento (b), utilizadas para estudar o ciclo diurno. ......................................................................................57 Figura 3. 10: Estações de Superfície da CETESB em que são realizadas medições horárias de ozônio. ......................................................................................................................................59 Figura 4. 1: Campos de pressão ao nível médio do mar (hPa) e vento em 850hPa (m/s) na figura (a); Temperatura (ºC) a 2m de altura, na figura (b); Vento (m/s) e geopotencial (m) em 500hPa na figura (c) e em 200hPa na figura (d). Todas as figuras, para o dia 30/10 às 00z. ..61 Figura 4. 2: Imagens de Satélite do canal infravermelho GOES-12 (realçadas), do CPTEC/INPE, fornecidas pelo laboratório MASTER (Meteorologia Aplicada a Sistemas de Tempo Regionais) do IAG-USP . As figuras são para o dia 30 de outubro e são referentes aos horários mais próximos das 00z (a); 06z(b);12z(c) e 18z(d)....................................................62 Figura 4. 3: Idem a Figura 4. 1, mas para 00Z do dia 31/10 ....................................................64 Figura 4. 4: Idem a Figura 4. 2, mas para o dia 31 de outubro.................................................65 Figura 4. 5: Idem a Figura 4. 1, mas para 00Z do dia 01/11 ....................................................66 Figura 4. 6: : Idem a Figura 4. 2, mas para o dia 01 de novembro...........................................67 Figura 4. 7: Campos de temperatura e vento no primeiro nível sigma (que varia entre 17m e 18m de altura) às 00z do dia 31 de outubro de 2006: (a) é o campo sem assimilação de dados e (b) é o campo com assimilação de dados. A temperatura é dada em ºC e a velocidade em m/s. ...........................................................................................................................................69

vii

Figura 4. 8: Correspondência entre o nível sigma e a altura geométrica nas coordenadas do Campo de Marte (a); temperatura (b), magnitude do vento (c), direção do vento (d) e temperatura do ponto de orvalho (e) às 00Z do dia 31 de outubro de 2006 também no Campo de Marte, para a previsão sem (preto) e com dados assimilados (verde). ..............................70 Figura 4. 9: Ciclo diurno de temperatura (a) e diferenças entre previsões (b) com e sem dados assimilados, no ponto referente ao Campo de Marte. A figura (a) indica o ciclo de temperatura das parametrizações BLK e GS, com e sem dados assimilados (Preto: BLK sem dados assimilados; Verde: BLK com dados assimilados; Amarelo: GS sem dados assimilados; Vermelho: GS com dados assimilados). A figura (b) representa as diferenças entre as previsões sem e com dados assimilados dos esquemas BLK (em preto) e GS (em verde)......74 Figura 4. 10: Ciclo diurno da magnitude do vento (a) e da direção (c) e as respectivas diferenças entre as previsões (figuras b e d) com e sem dados assimilados, no ponto referente ao Campo de Marte, para as 48h de previsão. Nas figuras (a) e (c), a cor preta representa BLK sem dados assimilados, a verde BLK com dados assimilados, a amarela GS sem dados assimilados e a vermelha GS com dados assimilados. Nas figura (b) e (c), são representadas as diferenças entre as previsões sem e com dados assimilados dos esquemas BLK (em preto) e GS (em verde)...........................................................................................................................75 Figura 4. 11: Ciclo diurno de temperatura do ponto de orvalho (a) e da razão de mistura (c) e as respectivas diferenças entre as previsões (figuras b e d) com e sem dados assimilados, no ponto referente ao Campo de Marte, para as 48h de previsão. Nas figuras (a) e (c), a cor preta representa BLK sem dados assimilados, a verde BLK com dados assimilados, a amarela GS sem dados assimilados e a vermelha GS com dados assimilados. Nas figuras (b) e c), são representadas as diferenças entre as previsões sem e com dados assimilados dos esquemas BLK (em preto) e GS (em verde). ............................................................................................76 Figura 4. 12: Fluxos turbulentos de superfície para todo período de previsão, no ponto de referência do Campo de Marte. Nas figuras (a) e (c) , os fluxo de calor latente e sensível, respectivamente, para as parametrizações sem assimilação de dados (BLK em preto e GS em verde). Nas figuras (b) e (d), as diferenças entre previsões sem e com dados assimilados, para os fluxos de calor latente e sensível respectivamente. Em preto, para a parametrização BLK e em verde, para a GS..................................................................................................................77 Figura 4. 13: Ciclo diurno de Energia Cinética Turbulenta (ECT) para todo período de integração, no ponto de referência do Campo de Marte. A ECT é calculada apenas pela parametrização GS: (a), a ECT da previsão sem dados assimilados (em preto) e com dados assimilados (em verde); (b), a diferença entre a previsão sem e com dados assimilados. .......78 Figura 4. 14: Idem a Figura 4. 9, mas para a altura da CLP.....................................................78 Figura 4. 15: Ciclo diurno da estrutura vertical de temperatura (ºC) para as 48h de previsão, no ponto referente ao Campo de Marte. A figura (a) é para a parametrização BLK sem assimilação de dados durante a previsão e a figura (c) é para a parametrização GS sem assimilação de dados. As figuras (b) e (d) correspondem a diferença entre previsões sem e com assimilação de dados, para as parametrizações BLK e GS respectivamente. A escala de altura está em coordenadas sigma, e a relação com altura, em m, é dada pela Figura 4. 8a. ...79 Figura 4. 16: Idem a Figura 4. 15, mas para a magnitude do vento (m/s)................................81 Figura 4. 17: Idem a Figura 4. 15, mas para a razão de mistura (g/kg)....................................82

viii

Figura 4. 18: Ciclo diurno da estrutura vertical da ECT (J/kg) para os dois dias de previsão (48h). A figura a) é para o caso sem assimilação de dados e a figura b) é para o caso com assimilação de dados. ...............................................................................................................83 Figura 4. 19: Idem a Figura 4. 15, mas para a água precipitável (g/kg)...................................84 Figura 4. 20: Campo de temperatura e vento previsto às 06Z do dia 30 de outubro, no primeiro nível sigma (aproximadamente 18m de altura) utilizando a parametrização BLK (a) e GS (d). As figuras (b) e (d) correspondem as diferenças entre previsão com e sem dados assimilados, para o mesmo horário, com as parametrizações BLK e GS respectivamente. ....86 Figura 4. 21: Idem a Figura 4. 20, mas para às 12Z do dia 30 de outubro. ..............................87 Figura 4. 22: Idem a Figura 4. 20, mas para às 18Z do dia 30 de outubro. ..............................89 Figura 4. 23: Idem a Figura 4. 20, mas para às 00Z do dia 31 de outubro. ..............................90 Figura 4. 24: Idem a Figura 4. 20, mas para às 06Z do dia 31 de outubro. ..............................91 Figura 4. 25: Idem a Figura 4. 20, mas para às 12Z do dia 31 de outubro. ..............................93 Figura 4. 26: Idem a Figura 4. 20, mas para às 18Z do dia 31 de outubro. ..............................95 Figura 4. 27: Idem a Figura 4. 20, mas para às 00Z do dia 01 de novembro. ..........................96 Figura 4. 28: Ciclo de temperatura das previsões e observações das estações da CETESB para as 48h de previsão. Em vermelho, os dados observados; em verde a previsão utilizando o esquema BLK e em azul, utilizando o esquema GS: (a) refere-se a estação localizada em Campinas; (b), localizada no Ibirapuera; (c) em São Caetano do Sul e (d) em São José dos Campos. As previsões mostradas nessa figura não possuem assimilação de dados.................99 Figura 4. 29: Idem a Figura 4. 26, mas para a magnitude do vento. ......................................101 Figura 4. 30: Idem a Figura 4. 27, mas para a direção do vento. ...........................................102 Figura 4. 31: Ciclo diurno da estrutura vertical (até 700hPa) da temperatura (ºC). A figura a) corresponde as observações com radiossondagens da Campanha de primavera e Campo de Marte. A figura b) corresponde ao BLK sem assimilação de dados e a figura c) a GS sem assimilação de dados ..............................................................................................................106 Figura 4. 32: idem a anterior, mas para a magnitude do vento (m/s). ....................................107 Figura 4. 33: Concentrações do Ozônio (em ppb) em diferentes horários para dados observados e previsão para o dia 30 de outubro. As figuras a), b) e c) representam a observação para as 14HL, 18HL e s 22HL respectivamente. As figuras b), d) e f) representam a previsão para as 14HL, 18HL e s 22HL respectivamente. ..................................................111 Figura 4. 34: Idem a Figura 4. 31, mas para o dia 31 de outubro de 2006. ............................112 Figura 4. 35: Concentração de ozônio no centro das plumas observada (em preto) e simulada (em verde) para as 14HL do dia 31 de outubro de 2006. .......................................................113

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 3. 1: Comparações entre esquemas locais e não-locais ......................................................... 30 Tabela 3. 2: Propriedades dos esquemas de CLP utilizados no trabalho. Adaptada de Durante e De Paus (2007). .............................................................................................................................. 31 Tabela 3. 3 - Especificações dos domínios utilizados ....................................................................... 51 Tabela 3. 4 - Legenda da Figura 3. 6. ................................................................................................ 53 Tabela 3. 5 - Simulações realizadas................................................................................................... 55 Tabela 3. 6: Coordenadas das Estações da Figura 3. 9...................................................................... 57 Tabela 3. 7: Horário dos lançamentos das radiossondagens do Projeto Políticas Públicas, Mp IAG-USP e das radiossondagens do Campo de Marte...................................................................... 58

Tabela 4. 1: Correlações, Erro Quadrático Médio (EQM) e Erro Absoluto (EA) para as estações da CETESB (Figura 3. 9) para o vento e temperatura. ..................................................... 104

10

1. INTRODUÇÃO

A Região Metropolitana de São Paulo (RSMP) é a área economicamente mais

importante da América do Sul. Nessa região, o crescimento acelerado e sem planejamento,

gerou problemas muito intensos associados à poluição do ar, embora nos últimos anos

políticas de controle tenham conseguido reduzir a emissão de poluentes veiculares, que

correspondem à maior fonte poluidora na RMSP1. Em pesquisas da área de saúde pública e

para gerar alertas à população, faz-se necessário um estudo da dispersão dos poluentes.

Nos estudos de dispersão de poluentes um dos aspectos mais importantes é a correta

descrição de circulações locais, o que implica na necessidade de uma boa determinação dos

campos meteorológicos. Com campos meteorológicos bem representados por um modelo de

mesoescala, é possível introduzi-los em modelos de qualidade do ar (MQAs), como

alternativa aos dados observacionais, que na maioria das vezes são escassos temporal e

espacialmente.

Os fenômenos de mesoescala contribuem para a dispersão de poluentes, levando a

pluma para regiões mais distantes. Na RMSP, destacam-se como fenômenos de mesoescala

atuantes a brisa marítima, a circulação vale montanha e a ilha de calor urbana, conforme

destacam Oliveira et al. (2002) e Freitas (2004). Desses fenômenos, segundo Oliveira et al

(2002) o mais dominante quando calculadas médias mensais da variação diurna é a brisa

marítima. É também o fenômeno mais estudado sob o aspecto da dispersão de poluentes,

conforme estudou Carrilo et al (2007), que utilizando dados de LIDAR (Light Detection And

Ranging) concluiu que a circulação de brisa, durante seu trajeto pela RMSP, traz ar limpo do

Oceano Atlântico para a RMSP abaixo de 1000m e entre 1000m e 2000m leva ar do

continente para o oceano.

De acordo com Orlanski (1975), a brisa marítima está classificada na escala temporal e

espacial definida como meso-β , na qual os sistemas meteorológicos possuem escalas

1 Segundo o relatório de 2005 da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental)

11

espacial de dezenas a centenas de quilômetros e duração de 2 a 24h. São fenômenos rasos,

que chegam a algumas centenas de metros de altura na atmosfera e podem ser divididos em

circulações mecanicamente forçadas e circulações originadas por forçantes térmicas (Freitas,

2004).

As circulações de brisa2 (CB) resultam da diferença de capacidade térmica entre a terra e

um corpo de água e por isso, quando sob a mesma quantidade de radiação solar, a terra aquece

mais rapidamente que a superfície de água. Durante o dia, a terra aquece mais as camadas de

ar adjacentes, diminuindo sua densidade, gerando um gradiente de temperatura entre as duas

superfícies, de acordo com o teorema da circulação, descrito em Holton (1992). Este gradiente

de temperatura gera um deslocamento de ar frio da superfície aquática para a superfície

terrestre, e em altos níveis, por continuidade, o inverso ocorre. Quando o sol se põe, uma

circulação inversa pode ser observada, pois o resfriamento radiativo sobre a terra é maior que

sobre a água. Esta é a chamada brisa terrestre, que em geral é menos intensa que a brisa

marítima (Atkinson, 1981). Desse modo, a brisa marítima tem importante papel no do ciclo

diurno das regiões em que atua (Freitas, 2004).

Conforme destaca Pielke (1992), o ciclo diurno da atmosfera também está fortemente

relacionado com uma boa representação das trocas de energia e momento entre atmosfera e

superfície. Essas trocas estão diretamente relacionadas com os processos que ocorrem na

Camada Limite Planetária (CLP), região da atmosfera caracterizada por intensa turbulência,

sendo importante para a formação e manutenção de alguns sistemas de mesoescala, como a

própria CB, ocorrendo portanto troca de energia entre a microescala e a mesoescala.

Um outro ponto que afeta diretamente a CB é a presença de topografia e a vegetação.

Segundo Atikinson (1981), a presença de vales e montanhas pode canalizar a brisa ou até

favorecer sua formação. O mesmo é dito a respeito da vegetação, pois certos tipos de cultura

aquecem mais rapidamente que outras. Atkinson (1981) também destaca a estabilidade

2 A brisa marítima e a brisa terrestre são normalmente tratadas de forma conjunta na literatura, configurando o que é comumente chamado de circulação de brisa (CB).

12

vertical da atmosfera como um parâmetro importante no desenvolvimento da brisa marítima,

pois o horário para a penetração da brisa costuma ser aquele em que a estrutura vertical

estiver mais instável, por outro lado, se houver muita estabilidade, a camada superior inibe a

circulação vertical associada à brisa e esta circulação não se forma.

Simpson (1994) destaca que fatores sinóticos e a curvatura da costa também influenciam

a CB, que é mais intensa nas áreas tropicais, devido ao maior aquecimento diferencial.

Segundo o mesmo autor, a brisa marítima tem velocidade de penetração que varia de 2m/s a

5m/s, em média, e avança aproximadamente 100km no continente, porém já foram registrados

avanços de até 200km. A velocidade de penetração e a distância que o fenômeno avança no

continente dependem dos outros fatores citados.

Normalmente, são estudadas as circulações de brisa tanto a partir de análises detalhadas

de mesoescala como através de previsões de modelos numéricos atmosféricos com alta

resolução.

Do ponto de vista observacional, Oliveira e Silva Dias (1982) mostraram basicamente

três padrões de entrada da brisa marítima na cidade de São Paulo, cada um destes padrões

podendo ser identificado pelo giro característico do vento próximo à superfície: 1) o vento

gira de nordeste para sudeste entre o período da manhã e tarde; 2) o giro de noroeste para

sudeste ou calmaria entre a manhã e tarde (ou início da noite); 3) intensificação do vento de

sudeste no período diurno. Inclusive, Carrera e Silva Dias (1990) obtiveram esses padrões em

dados observacionais de estações de superfície e de radar de uma campanha realizada em

1989.

Sánchez-Ccoylo e Silva Dias (1998) analisaram campos de vento, imagens de satélite e

dados de estações de superfície e obtiveram que quando a brisa penetra na RMSP, a

temperatura do ponto de orvalho (dT ) cai bruscamente. Também verificaram um aumento da

razão de mistura em função do aumento de dT e um máximo valor para a Energia Cinética

13

Turbulenta (ECT) na frente de brisa, devido ao cisalhamento do vento. Nesse trabalho, os

dados do SODAR identificaram a dispersão dos poluentes pela brisa marítima.

Jorgetti et al. (2002) utilizaram dados de quatro estações de superfície distribuídas pela

RMSP e identificaram que a estação que registrou maior intensidade na frente de brisa foi a

localizada na Zona Leste da RMSP, o que segundo os autores está relacionado com a marcada

presença da ilha de calor urbano.

Oliveira et al. (2003) utilizaram dados de algumas estações da CETESB (Companhia de

Tecnologia de Saneamento Ambiental) e verificaram que entre os meses de Agosto e

Novembro, a brisa marítima é mais forte, mais freqüente e ocorre mais cedo sobre a RMSP,

provavelmente devido a intensificação do contraste entre o continente e o oceano.

Um dos trabalhos pioneiros na simulação numérica de brisa marítima na latitude de São

Paulo, sem incluir topografia, foi desenvolvido por Innocentini (1981), que utilizou um

modelo bi-dimensional e hidrostático com o objetivo de simular a brisa terrestre e identificar

o efeito que os termos não lineares das parametrizações dos transportes turbulentos

horizontais têm nesse tipo de circulação. Esse autor verificou que o termo de advecção

horizontal de temperatura é mais importante que o termo de advecção horizontal de momento,

pois sem ele não há velocidade o suficiente para configurar uma circulação de brisa. Neste

estudo, os transportes turbulentos dentro da camada limite superficial (CLS) foram

parametrizados segundo Bussinger (1971).

Silva (1986) acrescentou alguns elementos ao modelo utilizado por Innocentini (1981),

tais como uma topografia idealizada semelhante à Serra do Mar e ao planalto paulistano,

características de uma ilha de calor urbana para representar a RMSP e uma parametrização

mais sofisticada para representar a temperatura da superfície do solo. Este autor identificou

uma intensificação da circulação de brisa em decorrência da topografia.

Na década de 90, Bernadet (1992) e Vidale (1992) utilizando modelos numéricos

atmosféricos mais sofisticados do que os de Innocentini (1981) e Silva (1986) e incluíam a

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topografia acidentada da Serra do Mar, voltaram a simular numericamente a circulação de

brisa no Estado de São Paulo. O modelo utilizado por Vidale (1992) considerou

parametrização sofisticada dos processos de troca de energia na CLP.

Segundo destacado por Bernadet (1992), a brisa marítima pode ter um papel benéfico ou

prejudicial na dispersão de poluentes. Benéfico, quando contribui para o aumento da

turbulência e do transporte, transportando os poluentes para áreas distantes de sua fonte, e

prejudicial por tratar-se de uma circulação fechada, pois pode aprisionar o poluente nas

proximidades de sua fonte.

A brisa marítima também contribui na organização da convecção da RMSP. Isso ocorre

devido sua interação com outros fenômenos que ocorrem na região, como, por exemplo, a ilha

de calor urbana. Quando a massa de ar relativamente úmida e fria da brisa marítima encontra-

se com a massa de ar relativamente quente da ilha de calor urbana pode organizar convecção.

As ilhas de calor são conseqüências das diferenças de temperatura entre os centros

urbanos e as regiões vizinhas. O concreto, o asfalto e outros materiais típicos dos centros

urbanos possuem maior emissividade que a vegetação, propiciando um aumento na

temperatura nos centros urbanos (Freitas, 2004). Além disso, a impermeabilização do solo faz

com que toda a água das chuvas seja drenada para bueiros e córregos, reduzindo assim a

transferência de calor latente e aumentando a de calor sensível se comparado às áreas rurais,

cuja cobertura (vegetação, solo, riachos, etc) proporcionam maior transferência de calor

latente. Recentemente, Freitas (2004) testou no modelo RAMS (Regional Atmospheric

Modeling System, Pielke et al. 1992) parametrização que trata as propriedades da superfície

urbana e mostrou que fontes de calor antropogênicas de origem veicular são importantes na

simulação do ciclo diurno de temperatura e umidade do ar na RMSP.

Freitas et al. (2007) concluíram através de simulações que a presença da ilha de calor

urbana interage com a brisa marítima, provocando aceleração em sua propagação pela RMSP,

o que foi identificado em testes de sensibilidade, realizados com e sem a presença da cidade.

15

Alguns trabalhos indicaram que a CB e outros fenômenos de mesoescala contribuem

para a dispersão de poluentes, como destacaram Bernadet(1992) e Freitas(2004). As

simulações de Freitas et al. (2004) utilizando o modelo meteorológico RAMS, mostraram

maiores concentrações de monóxido de carbono no litoral e a noroeste da RMSP, durante a

noite, indicando que a circulação de brisa possui um papel importante na dispersão dos

poluentes.

Em estudos diagnósticos, os MQA’s utilizam observações, de radiossondagens ou

estações de superfície que são interpolados de acordo com as necessidades específicas de cada

MQA. No entanto, as observações em geral são escassas, dificultando uma boa descrição das

circulações de mesoescala. Além disso, do ponto de vista operacional é mais interessante que

sejam feitos prognósticos, que podem ser divulgados à interessados, gerando com

antecedência alertas em regiões em que haverá uma alta concentração de um determinado

poluente e servindo como instrumento para medidas de prevenção e melhoria dos problemas

relacionados à poluição do ar.

Em alguns casos, o próprio modelo de mesoescala possui um módulo de química

simplificado, que calcula uma quantidade menor de reações químicas que os MQA´s, como é

o caso do modelo RAMS, utilizado por Freitas (2004). Por outro lado, os MQA’s offline são

aqueles que podem ser acoplados a modelos de mesoescala, ou seja, podem utilizar campos

gerados por estes modelos para simular a formação e dispersão de poluentes fotoquímicos,

como utilizaram Carbone et al. (2007), que concluíram que o Ozônio – poluente secundário,

oxidante, formado a partir de reações entre compostos orgânicos voláteis e óxidos de

nitrogênio - forma-se sobre a RMSP, mas é deslocado para leste com a penetração da brisa

marítima. Nesse trabalho, uma previsão do modelo Mesoscale Model version 5 (MM5, Grell

et al. 1995) cujos campos foram empregados no modelo fotoquímico da California Institute of

Technology (CIT, Harley et al., 1993), simulou que esse poluente é transportado para oeste,

enquanto a interpolação das observações de vento e ozônio das estações da Companhia de

16

Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) transportou para Noroeste, em direção a

região metropolitana de Campinas (RMC).

A acurácia dos MQA’s depende do cálculo correto de variáveis físicas e químicas,

conforme destaca Pino et al. (2004). Em MQA’s offline, são utilizados os campos

meteorológicos calculados pelo modelo de mesoescala, e para que haja uma correta

representação da dispersão de poluentes, é necessário fornecer variáveis como temperatura,

campo tridimensional do vento, razão de mistura do vapor d’água, precipitação, fluxos de

superfície e altura da Camada Limite Planetária (CLP). As variáveis meteorológicas mudam

rapidamente na CLP, devido à turbulência, responsável pela mistura, que é uma característica

desta região da atmosfera. Assim, para representar satisfatoriamente a circulação local em

modelos de mesoescala, é essencial que haja uma boa representação dos processos CLP.

Atualmente, o cálculo explícito das misturas turbulentas nos modelos meteorológicos é

praticamente impossível, pois exigiria um refinamento na grade do modelo que tornaria a

operacionalidade de uma previsão inviável. Por exemplo, no modelo de mesoescala utilizado

nesse trabalho, o MM5, a resolução horizontal máxima é de 500 m (Pielke, 2002). Portanto,

há a necessidade em se parametrizar muitos processos físicos, inclusive os processos

relacionados a CLP.

Uma das importâncias em representar de forma realística a CLP num modelo de

mesoescala (ou até mesmo de grande escala) é que os processos que ocorrem na CLP

interagem com outros processos da atmosfera, como nuvens e convecção. Além disso, a

representação do ciclo diurno nos campos de superfície é determinada pelo esquema de CLP

em conjunto com os esquemas de radiação e superfície. Cabe ainda acrescentar, que segundo

afirmado por Beljaars (1992), os fluxos de superfície vêm se tornando importante como dados

de entrada e para verificação em modelos de onda, climáticos e de poluição do ar.

Alguns trabalhos estudando a sensibilidade das parametrizações da CLP no modelo

MM5 já foram realizados. Interessados em averiguar a habilidade em reproduzir a CLP

17

profunda e bem misturada na vertical, uma característica da convecção de monção sobre o

Arizona, Bright e Mullen (2002) compararam quatro esquemas parametrizações de CLP no

modelo MM5 em simulações com 54 e 18 km de resolução horizontal. Tanto os esquemas de

Blackadar (1976 e 1978) como o MRF (Hong e Pan, 1996) previram mais corretamente do

que o de Burk e Thompson (1989) e Eta (Janjic, 1994) o desenvolvimento da CLP em termos

de temperatura, umidade e profundidade. No entanto, não simularam corretamente a inibição

convectiva o que implicaria em maior habilidade das parametrizações de CLP comparadas

para iniciar a convecção do que em suprimi-la.

O MM5 também foi utilizado por Braun e Tao (2000) para avaliar a intensidade do

furacão Bob, que ocorreu em 1991 sobre o Atlântico Norte em função da representação da

CLP. Os autores notaram que a intensidade da precipitação simulada possui grande

dependência na parametrização da CLP, indicando, portanto, que tal previsão pode ser tão

sensível à parametrização CLP como é sensível à parametrização da microfísica de nuvens.

Braun e Tao (2000) mostraram que todos os esquemas de CLP comparados forneceram ventos

mais intensos sobre o oceano do que as observações. Este resultado difere significativamente

de verificações para períodos mais longos (Colle et al. 2003) sobre os EUA (parte continental)

que mostraram que tanto o modelo ETA como o MM5 superestimam a intensidade do vento

(em cerca 0,5 – 2,0 m/s), mas a superestimativa do MM5 é cerca de 50-70% menor do que o

ETA.

Conforme destacado, o MM5 também pode ser utilizado para fornecer dados de entrada

para MQA’s offline. Vautard et al. (2004) utilizaram o MM5 com o MQA CHIMERE

(http://euler.lmd.polytechnique.fr/chimere) a fim de identificar os pontos fortes e fracos do

uso do MM5 para previsão de Ozônio, NOx e aerossóis na Europa. Para isso, utilizaram a

parametrização MRF (que é um esquema não-local) e obtiveram problemas nos esquemas de

microfísica, ou seja, não representaram adequadamente as propriedades de nuvens altas e

18

propriedades turbulentas de cumulus e stratus. Também verificaram a necessidade urgente do

desenvolvimento de um dossel urbano consistente e um esquema melhor para o solo.

Investigando episódios de poluição na região do Lago Michigan, nos Estados Unidos

da América, Shafran et al. (2000) compararam duas parametrizações de CLP no MM5.

Simulação tri-dimensional de um episódio de cinco dias de poluição nesta área mostraram que

a parametrização dos processos turbulentos de Gayno-Seaman (Gayno, 1994) reduz os erros

de previsão da profundidade da CLP e intensidade do vento comparado ao esquema de

Blackadar. Roebber et al. (2004) propõe que comparações rigorosas, das previsões de

modelos meteorológicos de alta resolução com observações, são necessárias para determinar

com que realidade o modelo prevê fenômenos de interesse. No entanto, muitas vezes estas

observações não estão disponíveis, tornando-se necessário realizar campanhas específicas de

observações.

Zunckel et al. (2005) utilizaram os campos previstos pelo MM5 para acoplar ao modelo

fotoquímico CAMx (http://www.camx.com). O estudo foi conduzido na África do Sul e

países vizinhos em 5 dias de cada mês, de outubro de 2000 a janeiro de 2001. Os autores não

explicitam quais parametrizações utilizaram para os processos físicos no MM5, pois

concentram-se mais no CAMx, e concluíram que as emissões atropogênicas e biogênicas

contribuem igualmente na formação do ozônio. A associação dos modelos MM5 e CAMx,

quando comparados aos dados monitorados de ozônio, apresentou bons resultados, exceto nos

meses de dezembro e janeiro, em que houve uma superestimativa pelo modelo.

Pérez et al. (2006) simularam com o MM5 as condições meteorológicas para a região de

Barcelona, na Espanha, durante um dia de primavera. Estes campos foram utilizados nos

modelos de emissões e de transporte de poluentes EMICAT2000/CMAQ. Para obter os

campos meteorológicos, foram utilizadas diferentes parametrizações da CLP: a GS (que é

uma parametrização local, de ordem 1,5) e as parametrizações não-locais MRF e Pleim-

Chang (PC). Verificaram que durante o dia, todos os esquemas tendem a subestimar a

19

temperatura, sendo que o esquema GS apresentou as menores subestimativas, pois a mistura

vertical local (dos esquemas locais) é menos eficiente em gerar camadas mais profundas e

bem misturadas que os esquemas não-locais. O esquema GS subestimou a intensidade do

vento comparado aos esquemas não locais . Quanto à circulação de brisa, os esquemas locais

apresentaram brisas marítimas mais intensas, o que pode ser explicado pelo transporte vertical

mais intenso de calor, criando um maior contraste de temperatura entre o oceano e o

continente.

20

2. MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS

A RMSP possui intensos problemas com poluição do ar, já estudados em diversos

trabalhos anteriores, sob os mais diversos escopos: saúde pública (Saldiva, 1994), observação

(relatórios da CETESB,2006 e 2007) e modelagem (Martins, 2006). Conforme discutido na

introdução, os trabalhos que tratam a poluição sob o ponto de vista de modelagem numérica

(formação e dispersão de poluentes) necessitam de campos meteorológicos bem

representados. A RMSP é uma área com topografia complexa, intensa ocupação urbana e com

bastante interação entre os fenômenos de mesoescala que nela ocorrem. Os resultados da

previsão da formação e dispersão de poluentes podem ser divulgados via internet, por

exemplo, possibilitando que o público em geral consulte essa informação. No entanto, para

que esse tipo de divulgação seja feita, é necessário ter bons resultados, e deste modo é

necessário um bom conhecimento de como ocorrem as reações químicas na atmosfera, e de

como se dão os processos superfície-atmosfera numa área tão peculiar como a RMSP, sendo

este último o assunto deste trabalho.

O objetivo deste trabalho é identificar qual parametrização melhor simula a estrutura da

Camada Limite Planetária (CLP) na RMSP. Duas parametrizações são avaliadas: um esquema

não local de ordem 1, que é o esquema Blackadar (Blackadar 1976 e 1978; Grell et al. 1995;

Zhang e Anthes, 1982) e um esquema de ordem 1,5 local que faz o prognóstico da Energia

Cinética Turbulenta (ECT), que é o esquema de Gayno Seaman (Gayno et al. 1994; Gayno,

1994), ambas no modelo meteorológico MM5.

Além de avaliar as parametrizações citadas, também foram feitas assimilações de dados

observacionais durante a previsão (dados provenientes de radiossondagens lançadas em

aeroportos), para realizar comparações e verificar o impacto das assimilações no resultado

final da previsão.

21

O período de estudo desse trabalho é a primavera de 2006, mais especificamente o final

do mês de outubro e início do mês de novembro, quando houve o lançamento de radiossondas

meteorológicas e fotoquímicas, relacionadas ao Projeto Políticas Públicas (PPP) : “Modelos

de Qualidade do Ar Fotoquímicos: Implementação para Simulação e Avaliação das

Concentrações de Ozônio Troposférico em Regiões Urbanas”(FAPESP – no 03/06414-0),

coordenado pela Prof. Dr. Maria de Fátima Andrade. Estes dados serviram de comparação

com as previsões do MM5.

Cabe ressaltar que um dos objetivos desse projeto era a preparação dos campos

meteorológicos obtidos a partir de modelos meteorológicos em operação no DCA para serem

acoplados ao CIT (California Institute of Technology). Outro ponto muito importante em

modelos de qualidade do ar é a descrição da meteorologia. Assim, os objetivos dessa

dissertação de mestrado também satisfazem alguns dos objetivos do Projeto Políticas

Públicas, de modo que o projeto desenvolvido nessa dissertação está afiliado ao PPP.

22

3. DADOS E METODOLOGIA

3.1 O modelo MM5

O MM5 (Mesocale Model version 5) é a quinta versão do modelo de mesoescala

desenvolvido através de colaboração PSU-NCAR (Pensilvania State Univerty – National

Center for Atmospheric Research), conforme descrito em Grell et al. (1995). Pode ser baixado

gratuitamente em seu website (http://www.mmm.ucar.edu/mm5/). É um modelo de área

limitada e, portanto, depende além das condições iniciais, de condições de fronteira,

provenientes de re-análises ou simulações de modelo global. O modelo permite o

aninhamento entre grades, o que melhora a resolução sem comprometer o custo

computacional. O aninhamento entre grades não foi utilizado na etapa final desse trabalho, o

que será brevemente discutido posteriormente.

Por ser não hidrostático, resolver a equação do momento vertical, possibilita que

circulações de mesoescala que tipicamente não se comportam hidrostaticamente (como

complexos convectivos e brisas marítimas) sejam resolvidas mais realisticamente. Utiliza a

coordenada vertical sigma, que é a pressão normalizada pelo seu valor em superfície, de

acordo com a equação:

( )( )TS

T

pp

pp

−−

=σ (3. 1)

onde Sp é a pressão na superfície e Tp é a pressão no topo do modelo, respectivamente. Desse

modo, os valores de σ variam de 1 a 0, sendo 1 o valor na superfície e 0 o valor no topo.

Os seguintes processos físicos são parametrizados no MM5: CLP, Radiação, Convecção

em Cumulus, Microfísica de Nuvens e Superfície. A Figura 3. 1 é um esquema, mostrando a

interação entre essas parametrizações. Os processos que ocorrem na CLP interagem com os

23

que ocorrem na superfície. De modo semelhante, as demais parametrizações interagem entre

si.

Figura 3. 1: Interação entre as parametrizações físicas no MM5. Adaptado de PSU/NCAR –

Dudhia et al. (2005).

Para a integração no tempo, na resolução das equações básicas, o MM5 utiliza um

esquema de diferenças finitas com técnica de solução “leap-frog” no tempo com “time

splitting” e segunda ordem no espaço. Esses detalhes, e a formulação do MM5 podem ser

encontrados em Grell et al. (1995) e Dudhia et al. (2005).

O MM5 utiliza condição de fronteira lateral de relaxação, e no topo, fronteira rígida ou

radiativa. Para a superfície, a condição de fronteira é baseada na fricção, com fluxos obtidos

da teoria da similaridade e com diferentes categorias de uso do solo, obtidas através dos dados

da USGS (United States Geological Survey). Cada categoria de uso do solo tem seu próprio

valor de albedo, emissividade, quantidade de água disponível, comprimento de rugosidade e

capacidade térmica. São 24 categorias de uso do solo.

entranhamento Microfísica

Radiação

Superfície

CLP

Cumulus

Fracionamento

Efeito de Nuvens

Onda Curta e Longa em direção a supf.

Emissão da supfc / albedo

Fluxos de calor sensível e latente

Campos superficiais de temperatura, umidade e vento

24

A Figura 3. 3 mostra os módulos que compõe o MM5, que contemplam todas as etapas

necessárias para iniciar o modelo. Cada um desses módulos será descrito separadamente em

seguida:

- TERRAIN: Neste módulo, são definidas todas as dimensões dos domínios de simulação.

Aqui também são processadas todas as informações referentes à topografia do terreno, ao tipo

de uso do solo e vegetação. Além disso, esse programa também calcula alguns campos de

constantes, que serão utilizados pelos demais módulos: latitude e longitude, fatores de escala

do mapa e parâmetro de Coriolis. No módulo TERRAIN também é definida a projeção de

mapa a ser utilizada.

Os dados utilizados nesse módulo são da USGS (United States Geological Survey) e

estão disponibilizados em diferentes resoluções. A informação é recebida numa malha regular

de latitude/longitude e é interpolada horizontalmente para os domínios escolhidos. Em cada

ponto a informação de uso do solo corresponde a uma percentagem para cada tipo de solo. O

tipo de solo controla as seguintes propriedades: albedo, emissividade, disponibilidade de

água, inércia térmica e rugosidade. O programa interpola horizontalmente todos esses dados

para os domínios escolhidos, além de gerar campos de uso de solo e vegetação.

- REGRID: esse módulo faz a leitura de dados de análise meteorológica, provenientes do

NCEP (National Centers for Environmental Predicion) ou do AVN (Aviation Model), por

exemplo, em níveis de pressão ou de superfície e os interpola de acordo com a grade

horizontal e projeção definidos no TERRAIN. O REGRID é composto por dois

subprogramas. O primeiro deles, o pregrid, transforma as informações GRIB (Gridded Binary

Data) em um formato padrão que será lido pelo segundo deles, o regridder. O regridder

obrigatoriamente deve receber os seguintes campos em níveis de pressão: temperatura,

componentes horizontais do vento, umidade relativa e altura geopotencial. Na superfície, deve

receber dados de pressão ao nível médio do mar e temperatura da superfície do mar.

25

- LITTLE_R: É um módulo opcional, que permite modificações nos campos gerados pelo

REGRID através do uso de dados observacionais pontuais (como radiossondagens e estações

meteorológicas em superfície). A qualidade das observações é controlada através de

comparações entre a observação e os pontos de grade mais próximos.

O peso das observações comparativamente aos pontos de grade pode ser obtido através

de dois métodos: esquema de Cressman (Cressman, 1959) e multiquadrático (Nuss e Titley,

1994).

Neste trabalho utilizou-se o esquema de Cressman onde se define um raio de

influência ( ir ), que ajuda a determinar a área de influência da observação. O tipo de forma

geométrica que define a área de influência da observação (circunferência, elipse ou elipse

alongada), varia de acordo com a velocidade do vento e com o raio de curvatura.

A velocidade do vento possui um valor crítico (crV ), que é igual a 5m/s em 1000hPa e

cresce linearmente até 500hPa, onde atinge15 m/s e mantém-se constante até o topo da

atmosfera. O raio de curvatura (cr ) é calculado através da linha de corrente que passa através

da observação conforme definido por Manning & Haagenson, 1992:

krc

1= (3. 2)

onde k é a curvatura, definida por:

2/32

21

−+

=

udx

dvv

dx

dvu

u

v

k

(3. 3)

onde u e v são as componentes do vento.

26

Quando a variável a ser assimilada é a temperatura, utiliza-se o esquema de Cressman

tradicional, em que o raio de influência da observação é uma circunferência. Mas quando se

assimila vento ou umidade relativa, há situações em que a área de influência da observação

pode ser uma elipse ou uma elipse alongada (banana). Para essas variáveis, o raio de

influência do tipo “circular” é usado quando:

cobs VV < (3. 4)

O esquema de elipse é usado quando o vento observado é intenso e quando o raio de

curvatura é grande, conforme a eq. 3.5. Quanto mais intenso for o vento, maior a

excentricidade da elipse.

cobs VV >

ic rr 3>

(3. 5)

Já o esquema banana, é escolhido quando o raio de curvatura é pequeno, de modo que

é necessário alongar a elipse. É utilizado quando:

ic rr 3< (3. 6)

Exemplos ilustrativos sobre os esquemas citados podem ser observados na Figura 3. 2,

onde estão ilustradas as situações em que cada sistema deve ser empregado.

a)

b)

b)

c)

Figura 3. 2: Representações dos tipos de área de influência no esquema Cressman. O ponto P representa um ponto da grade e os pontos On representam as observações. A figura a) representa o esquema Cressman tradicional, com uma circunferência como área de influência. As figuras b) e c) representam os esquemas elipse e banana.

Linha de Corrente

O1

27

- INTERPF: Esse módulo cria os arquivos de condição inicial e de fronteiras a partir do

REGRID ou do LITTLE_R e faz a interpolação das variáveis de coordenadas de pressão para

a coordenada vertical σ . A interpolação vertical é linear para todas as variáveis, excetuando-

se a temperatura, cuja interpolação é linear com o logaritmo da pressão. No INTERPF

também são calculadas a perturbação da pressão e a velocidade vertical (que é obtida

integrando a divergência do vento horizontal).

- MM5: é o módulo que faz a previsão numérica de tempo, resolvendo as equações de Navier-

Stokes, da termodinâmica e da conservação de água no sistema, em coordenadas sigma. As

principais equações do MM5 podem ser encontradas em Grell et al. (1995) e Dudhia et al.

(2005).Nesse módulo, também são escolhidas as parametrizações para todos os processos

físicos listados na Figura 3. 1.

-MM5 to GRADS: faz a leitura dos resultados das previsões do módulo MM5 e prepara para a

visualização no software GrADs (Grid Analysis Display System). Pode também fazer a

leitura dos resultados dos demais módulos, para verificação.

28

A Figura 3.3 ilustra o diagrama de fluxo dos módulos do modelo MM5.

Figura 3. 3: Diagrama de fluxo do MM5.

Pré-processamento

Processamento

Pós-Processamento

29

3.2 Parametrizações da Camada Limite Planetária

O ciclo diurno na atmosfera está fortemente relacionado com uma boa representação das

trocas de energia e momento entre atmosfera e superfície (Pielke,1992). No entanto, as

condições de mesoescala e os sistemas sinóticos atuantes no período de interesse também são

fatores muito importantes para a determinação do ciclo diurno (Freitas, 2004). A CLP é uma

região da atmosfera importante para a formação e manutenção de alguns sistemas de

mesoescala (como por exemplo, tempestades convectivas, brisas marítimas e circulações vale-

montanha) através dos fluxos turbulentos entre a superfície e a atmosfera, havendo assim

trocas de energia entre a microescala e a mesoescala.

Normalmente, nos modelos numéricos atmosféricos as trocas turbulentas de energia

entre a superfície e a atmosfera acima, são características de subgrade. Deste modo, dada a

dificuldade física e/ou numérica de resolvê-las explicitamente, estes fenômenos são

parametrizados. Na parametrização de um fenômeno, são incluídos os efeitos dos processos

físicos implicitamente. Desse modo, são simulados os efeitos do processo e não o processo

em si, uma vez que mesmo que se reduza para um valor mínimo o espaçamento de grade, a

resolução ainda será insuficiente para resolver explicitamente os fluxos na CLP. Em modelos

de mesoescala, a CLP é resolvida, discretizando-a em subcamadas (Pielke, 2002).

A CLP é caracterizada pela presença de turbulência, e pela não linearidade das equações

que descrevem o fluxo turbulento e deste modo, sempre existem mais incógnitas do que

equações (Keller,1924), o que impossibilita a resolução direta do sistema de equações. Para

manter a descrição da turbulência tratável matematicamente, são feitas aproximações para um

número finito de equações, e as quantidades desconhecidas são aproximadas utilizando os

valores de quantidades conhecidas, e este procedimento dá origem aos chamados fechamentos

(Stull, 1988).

30

Estes fechamentos podem ser classificados quanto a sua ordem, classificada de acordo

com a ordem da equação prognóstica ou diagnóstica mantida, ou seja, um fechamento de

primeira ordem é aquele que mantém a equação para os momentos de primeira ordem e os

momentos de segunda ordem são aproximados. Um fechamento também pode utilizar apenas

uma parte das equações disponíveis numa categoria escolhida de momento (por exemplo,

utilizar apenas as equações de variância de umidade e temperatura), gerando assim

parametrizações de ordem 1,5.

As parametrizações de turbulência também podem ser classificadas como locais e não

locais, dependendo de como são considerados os gradientes verticais das variáveis para o

cálculo dos fluxos de superfície (Arya, 1998). Deve-se acrescentar que existem diferentes

modelos para os fechamentos, dependendo de como as variáveis conhecidas são consideradas

quando as quantidades desconhecidas são parametrizadas.

Resumidamente, a Tabela 3. 1 mostra as diferenças entre esquemas locais e não locais

para parametrização da CLP.

Tabela 3. 1: Comparações entre esquemas locais e não-locais

Esquemas Locais Esquemas não-locais

- chegou-se até a 3º ordem de aproximação - chegou-se apenas na 1º ordem de

aproximação - apropriados para CLP’s neutras e/ou

estratificadas

- simulam melhor CLP’s profundas e com

grandes turbilhões (com convecção) - os fluxos turbulentos são calculados

considerando o gradiente vertical apenas

- os fluxos turbulentos em um local são

uma superposição de turbilhões de vários - os fluxos verticais de uma quantidade são

proporcionais ao gradiente vertical desta

- os fluxos verticais de uma quantidade

dependem também de um termo de

Quanto as parametrizações da CLP utilizadas neste trabalho, foram escolhidas duas

disponíveis na arquitetura do MM5 e que têm suas características básicas descritas na Tabela

31

3. 2. MO significa Teoria da Similaridade de Monin-Obukhov, utilizada nos cálculos da

superfície nos dois esquemas. Na coluna Teoria, K refere-se a Teoria-K, utilizada para

calcular os coeficientes de difusão turbulenta na parametrização BLK e ECT significa que o

cálculo dos coeficientes de difusão turbulenta é feito em função da Energia Cinética

Turbulenta (na parametrização GS). Na coluna “Det. hCLP", indica o modo como a altura da

camada limite planetária é diagnosticada: no esquema BLK, ela é diagnosticada a partir do

perfil de temperatura, enquanto na parametrização GS é a partir do perfil de ECT. A tabela 3.2

indica ainda que os esquemas GS e BLK resolvem 4 regimes de estabilidade (Estab); estável,

turbulência mecânica, convecção forçada e convecção livre.

Tabela 3. 2: Propriedades dos esquemas de CLP utilizados no trabalho. Adaptada de Durante

e De Paus (2007).

Esquema Abreviatura Teoria Fech. Difus. Similari-

dade

Det.

hCLP

Estab.

Blackadar BLK K Ordem 1 Não local MO T 4 reg.

Gayno - Seaman GS ECT Ordem 1.5 Local MO ECT 4 reg.

Tanto na parametrização de CLP GS quanto na BLK, os fluxos da superfície (calor

sensível, umidade e momento) são calculados pela teoria da similaridade de Monin-Obukhov.

De acordo com Holton (1992) o fluxo turbulento horizontal pode ser desprezado quando a

turbulência horizontal é homogênea.

Conforme definido por Zhang e Anthes (1982) na Figura 3. 4 o substrato (substrate)

representa uma camada de solo profundo com temperatura invariante. O solo (ground)

representa uma camada fina de solo e a camada de superfície é fixada a 10m de altura acima

32

do solo. Todas as variáveis prognósticas (u ,v ,θ e q ) são definidas em 2/1+iz e todas as

quantidades diagnósticas, como o número de Richardson iR , os coeficientes de difusividade

turbulenta K , os fluxos de calor (H ) e de momento (τ ) são definidos nos níveis iz . O

subscrito a é utilizado para representar o primeiro nível sigma3, o subscrito g é usado para o

solo e o 1 para o topo da camada de mistura.

Figura 3. 4: Estrutura vertical da CLP, adaptada de Zhang e Anthes (1982)

A velocidade de fricção é calculada como:

−= 0*

0

* ,ln

u

z

zV

MAXu

ma ψ

κ

(3. 7)

3 Quando não for utilizado para determinar o primeiro nível sigma, estará explícito no texto.

33

Onde mψ é o parâmetro de instabilidade adimensional de momento, que depende do

regime de estabilidade, conforme descrito adiante, κ é a constante de Von Kármán, az é a

altura no primeiro nível sigma e 0z é o parâmetro de rugosidade, que depende do tipo de

ocupação do solo e 0*u é o valor de fundo ( 11,0 −ms sobre a terra e zero sobre a água) e V é

dado por:

22ca VVV += (3. 8)

Com aV representando o módulo da velocidade horizontal primeiro nível sigma e CV a

velocidade convectiva dada por:

2/1)(2 agCV θθ −= (3. 9)

Onde aθ é a temperatura potencial no primeiro nível sigma e gθ é a temperatura

potencial no solo. A equação é válida para condições instável e neutra, e sob condições

estáveis 0=CV .

O fluxo de calor latente na superfície é calculado por:

**TucH apmS κρ−= (3. 10)

Onde pmc é o calor específico do ar úmido à pressão constante ( 1101,1 −−= KJgc pm ), aρ é a

densidade do ar no nível mais baixo do modelo, *u é dado pela equação (3. 7) e *T é a

temperatura de fricção da superfície, dada por:

ha

ga

z

zT

ψ

θθ

−=

0

*

ln

(3. 11)

Em que hψ é o parâmetro de estabilidade adimensional para calor e vapor d’água.

Os parâmetros hψ e mψ dependem do regime de instabilidade que é função do número

de Richardson de bulk (iBR ):

34

2V

gzR vgva

a

aiB

θθθ

−=

(3. 12)

Onde vaθ e vgθ são a temperatura potencial virtual no nível mais baixo do modelo e no

solo, respectivamente.

Como já se definiu SH na equação (3. 10), cabe agora definir uma formulação para o

fluxo de umidade na superfície, SE , que foi derivada por Carlson e Boland (1978):

))((1vagvsaS qTqIME −= −ρ (3. 13)

A quantidade 1−I é dada por:

1

*1 ln

+= h

l

a

a

a

z

z

K

zuI ψκκ

(3. 14)

Onde lz é a profundidade da camada molecular (que é m01,0 sobre a terra e é igual a 0z sobre

a água) e aK é a difusividade molecular de fundo, igual a 125104,2 −− smx , vsq é a razão de

mistura de saturação à temperatura gT , fornecida pela equação de Clausius-Clapeyron.

O valor de 0z , na terra, depende do tipo de categoria de uso do solo (Dudhia, 2005). Já

sobre a água, este valor é função da velocidade de fricção (Delsol et al., 1971):

czg

uz 0

2*

0 032,0 +=

(3. 15)

Onde cz0 é um valor de fundo e igual a m410− .

Conforme mostrado na Tabela 3. 2, os dois esquemas possuem 4 regimes de

estabilidade. São os regimes estável, turbulência mecanicamente gerada, convecção forçada e

de convecção livre (estes dois últimos, são regimes instáveis), definidos em Grell (1995).

35

Esses regimes são determinados como função do número de Richardson e classificados

conforme um valor crítico, que é 05,3=iCR .

a) Caso estável: iCiB RR >

0** uu =

(3. 16)

E, os parâmetros de instabilidade adimensionais de calor e momento são:

−==

0

ln10z

zahm ψψ

(3. 17)

Para o calor sensível na superfície (SH ) é estabelecido um limite, de modo que neste

caso, a formulação torna-se:

),250( **2 TucWmMAXH apmS κρ−−= −

(3. 18)

b) Turbulência mecanicamente gerada: iCiB RR ≤≤0

−−==

0

ln51.1

5z

z

R

R a

iB

iBhm ψψ

(3. 19)

c) Instável (Convecção Forçada): 0<iBR e 5,1≤Lh

36

Onde h é a altura da CLP e neste caso, o comprimento de Monin-Obukhov L é definido

como:

s

aapm

gH

ucL

κθρ 3

*−=

(3. 20)

0== hm ψψ

E então:

=

0

lnz

zR

L

z aiB

a

(3. 21)

d) Instável (Convecção Livre): 0<iBR e 5,1>Lh

Neste caso, os parâmetros de estabilidade são:

32

474,099,123,3

−=L

z

L

z

L

z aaahψ

(3. 22)

32

249,007,186,1

−=L

z

L

z

L

z aaamψ

(3. 23)

Onde 0.2−<Lza . E quando 0.2−=Lza , teremos segundo Grell et al.. (1995)

29,2=hψ e 43,1=hψ .

Geralmente, Lza é função de mψ e assim a equação (3. 21) é resolvida iterativamente.

No caso da parametrização BLK, para economizar tempo de processamento, aproxima-se

Lza como função explícita de iBR , conforme a equação (3. 25).

37

3.2.1 Parametrização Blackadar (BLK)

O esquema Blackadar (BLK) é um esquema não local, em que os fluxos verticais de

uma quantidade dependem também de termos de transporte (Blackadar 1976 e 1978; Grell et

al. 1995; Zhang e Anthes, 1982). Este esquema faz a previsão da mistura vertical do vento

horizontal (u ev ), temperatura potencial (θ ), razão de mistura (q ), água de nuvem (cq ) e

gelo ( iq ). Estas previsões utilizam um fechamento de primeira ordem híbrido não local, onde

os fluxos turbulentos dependem das variáveis resolvidas na escala da grade (como em um

fechamento de primeira ordem qualquer), mas que não dependem apenas dos gradientes

locais.

O esquema BLK já vem sendo utilizado no MM5 há cerca de 15 anos e considera uma

CLP com alta resolução, com vários níveis no primeiro quilômetro. Este esquema considera

dois regimes de estabilidade, de acordo com o definido na seção 2.1:

• regime noturno, que abrange os regimes da atmosfera estável ou pouco instável

(convecção forçada e turbulência mecânicamente gerada) ;

• regime diurno ou regime de convecção livre.

No regime noturno é usada a Teoria-K, em que os coeficientes de difusividade

turbulenta são definidos em função do número de Richardson local. Segundo Costa e Sousa

(2002), a Teoria-K assume que as misturas turbulentas são feitas entre as sucessivas camadas

de ar da CLP, sendo determinadas pelos gradientes locais assumindo sempre fluxo contra o

gradiente. Já no regime de convecção livre são usados os princípios desenvolvidos por

Blackadar (1996), que assume que as trocas são feitas entre a primeira camada e cada uma das

outras camadas atmosféricas o que corresponde a uma massa de ar que ascende do solo e

troca energia, momento e umidade em cada nível. Neste método o que controla as taxas de

mistura é o perfil vertical termodinâmico da atmosfera.

38

Os coeficientes de difusividade turbulenta (hK , mK e qK calor, momento e umidade,

respectivamente), derivados por Blackadar (1976) são função do número de Richardson para

o caso ici RR < .

iC

iiCim R

RRlSKK

)(20

−+=

(3. 24)

qmh KKK == (3. 25)

O número de Richardson iR é calculado como:

zS

gR

ia

i ∂∂= θ

θ 2

(3. 26)

Nas equações, 120 1 −= smK é um valor de fundo, ml 40= é uma escala de

comprimento, definidos em Dudhia et al. (2005) e iS é o cisalhamento vertical do vento.

Caso ICi RR ≥ :

0KKKK qmh === (3. 27)

i) Regime Noturno

O regime noturno compreende os casos a), b) e c) já descritos anteriormente. Seguindo

Zhang e Anthes (1982), estes casos utilizam a Teoria K nos prognósticos das variáveis u ,v ,θ

e q dentro da CLP. O fechamento de primeira ordem é utilizado para calcular as variáveis do

modelo.O tensor tensão na superfície é calculado como:

39

2*us ρτ =

(3. 28)

A quantidade ρ é a densidade do ar e *u é dado pela equação (3. 7). As componentes

de sτ nas direções x e y são:

sa

sx V

u ττ =

(3. 29)

sa

sy V

v ττ = (3. 30)

As equações prognósticas para as variáveis no nível de superfície são:

1

1 )(

zc

HH

dt

d

pma

sa

ρθ −−

=

(3. 31)

1

1 )(

z

EE

dt

dq

a

sva

ρ−−

= (3. 32)

1

1 )(

zdt

du

a

sxxa

ρττ −−

= (3. 33)

1

1 )(

zdt

dv

a

syya

ρττ −−

= (3. 34)

1

1

z

F

dt

dq

a

ca

ρ−

= (3. 35)

40

Nas equações de (3. 31) a (3. 35), as quantidades 1H e 1E representam os fluxos de

calor sensível e latente, respectivamente, no topo da camada de superfície (Figura 3. 4), 1F é

o fluxo de água , caq é a razão de mistura de água de nuvem no topo da camada de superfície,

1z é a altura do topo da camada de mistura conforme Figura 3. 4 e as demais variáveis com

subscrito 1 indicam que foram calculadas no topo da camada de superfície.

Nas camadas acima da camada da superfície no regime noturno, as variáveis são

prognosticadas usando a Teoria K e um esquema de difusão implícita descrito em Richtmyer

(1957) e os coeficientes turbulentos são dados seguindo formulação de Zhang e Anthes

(1982).

ii) Regime de Convecção Livre

Quando ocorre aquecimento intenso da superfície, uma camada de ar superadiabática

forma-se na camada limite superficial (CLS). Por ser menos denso, este ar ascende em termas.

Conforme estas termas elevam-se, trocam energia, quantidade de movimento e umidade na

vertical.

Na superfície, as variáveis prognósticas são resolvidas através da seguinte equação

analítica:

h

tF

z

thm

hm

F

hm

F

hm

zF sssta

ta

∆+

∆−⋅

+−+= −+ 1exp1

1

2

111 αα

(3. 36)

Na equação (3. 36), α representa qualquer variável prognóstica, sF é seu fluxo na

superfície, 1F é seu fluxo no topo da camada de superfície, h é a altura da CLP, t∆ é o passo

no tempo, e m é o coeficiente de mistura, dado por:

41

[ ]

′′−−= ∫ zdzcHm

h

z

vvapma

1

)()1(1 θθερ

(3. 37)

Na equação (3. 37), tem-se que 2,0=ε , que é o coeficiente de entranhamento e 1H é o

fluxo de calor no topo da camada de superfície, calculado pela equação de Priestley (1956):

( ) 2/32/311 θθρ −= apma bzcH

(3. 38)

E a constante b é definida como

[ ] 2/33/12/3

3/11

1

2/1

)2(1

27

2 −−− −

= zz

z

gb

(3. 39)

Para as variáveis acima da camada de superfície, a equação prognóstica é:

)( iai m

dt

d ααα−=

(3. 40)

)( iai m

dt

d ααωα−=

(3. 41)

A equação (3. 40) é usada para as variáveis vq,θα = ou cq e a (3. 41) para vu,=α . A

variável ω é uma função peso que tem a finalidade de reduzir a mistura no topo da camada de

mistura, definida como:

h

z−= 1ω (3. 42)

42

3.2.2 Parametrização Gayno –Seaman (GS)

O esquema GS foi descrito em Gayno et al. (1994) e em Gayno (1994). É baseado nos

modelos de fechamento de segunda ordem de Mellor e Yamada (1974) que calcula os fluxos

turbulentos resolvendo uma equação de previsão adicional para os momentos de segunda

ordem, enquanto parametriza os momentos de terceira ordem. Normalmente, um esquema de

segunda ordem precisa resolver 10 equações adicionais, considerando uma atmosfera seca,

portanto, aumenta consideravelmente o tempo de computação para as variáveis turbulentas.

Para tornar factível a utilização de fechamentos deste tipo, é necessário fazer aproximações

para limitar o número de equações prognósticas para os momentos de segunda ordem, e este

procedimento deu origem ao denominado “fechamento 1.5”. Gayno et al. (1994)

desenvolveram um esquema (referido como esquema de Gayno-Seaman ou GS) de

fechamento 1.5. Neste caso, a única equação de segunda ordem que é prognosticada é a

equação para a previsão da Energia Cinética Turbulenta (ECT), enquanto as demais equações

de segunda ordem, são parametrizadas.

Para garantir conservação de energia durante as mudanças de fase, na representação de

nuvem, considera-se um processo adiabático saturado. Neste processo, as únicas variáveis que

conservam-se são a temperatura potencial de água líquida Lθ e a razão de mistura da água

total Tq , propostas no trabalho de Betts (1973) e incorporadas a um fechamento de ordem 1,5

para simular nevoeiro por Musson-Genon (1987):

Lpm

L qc

L

T

θθθ −= (3. 43)

LT qqq +=

(3. 44)

Nas equações (3. 43) e (3. 44), L é o calor latente de vaporização, pmc é o calor

específico do ar úmido a pressão constante, q é a razão de mistura do vapor d’água e Lq é a

43

razão de mistura de água líquida. A condensação de subgrade é calculada usando a fórmula

exponencial proposta por Bougeault (1981), que baseia-se na fórmula de Clausius-Clapeyron

e usa nos cálculos as variáveis conservativas Lθ e Tq .

Os fluxos turbulentos no esquema GS são baseados nos temos de difusividade

turbulenta. Os coeficientes de difusão turbulenta de umidade e momento

( hK e mK respectivamente) são função da ECT.

−∂

∂−=′′ g

LhL z

Kw γθθ (3. 45)

z

qKqw T

hT ∂∂

−=′′

(3. 46)

z

vKvw H

mH ∂∂

−=′′

(3. 47)

onde, lθ ′ é a perturbação da temperatura potencial de água líquida, Tq′ é a perturbação da

razão de mistura total, hv é o vetor vento horizontal e hv′ é a perturbação do vetor vento

horizontal.

Na equação (3. 45), o termo gγ é um termo contrário ao gradiente e depende do fluxo

de calor sensível proveniente da superfície SH , da altura da CLPh e da escala de velocidade

convectiva *w . Este termo é adicionado na equação (3. 45) apenas quando hz 2,1< , para

corrigir o fluxo em condições convectivas (Therry e Lacarère,1983).

hw

H Sg

*

5=γ

(3. 48)

44

A altura da CLP h é diagnosticada através do perfil vertical de ECT,ou seja, é a altura

em que a ECT atinge o valor mínimo de 222,0 −sm . A velocidade convectiva *w é uma escala

de velocidade dada por

(3. 49)

Ou seja, depende da aceleração da gravidade g , da altura da CLP h , do fluxo de calor

sensível proveniente da superfícieSH ,e da temperatura potencial virtual calculada no nível

mais baixo do modelo aθ .

Conforme foi dito, os coeficientes de difusão turbulenta de umidade e momento

( hK e mK respectivamente) são funções da ECT, e são equacionados conforme segue:

2/1ElK hh =

(3. 50)

2/1ElK mh =

(3. 51)

As escalas de comprimento de mistura para umidade e momento, hl e ml respectivamente,

dependem de ²²,, SeNEl e foram definidas em Ballard et al. (1991), onde l é a escala de

comprimento de Blackadar , E é a ECT, N é a freqüência de Brunt-Väisälä em condições

úmidas e S é o cisalhamento vertical do vento.Conforme Blackadar (1962), tem-se:

111 )( −−− += λκzl

(3. 52)

3 / 1

*

= S

a H

gh w

θ

45

Na equação (3. 52), λ representa o valor atingido por l na atmosfera livre e z é a altura

do nível mais baixo do modelo. Em geral, zl κ= . No entanto, Blackadar (1962) verificou que

esta formulação clássica, chamada comprimento de mistura de Prandtl fornecia valores de

coeficiente de difusão muito elevados em situações neutras. Com simulações computacionais,

Blackadar (1962) obteve a equação (3. 52), de modo que l aumenta com o aumento dezκ nas

proximidades do solo e aproxima-se de um valor fixo em alturas mais elevadas. λ é obtido

como:

f

G00027,0=λ

(3. 53)

Onde G é o módulo do vento geostrófico e f é o parâmetro de Coriolis. Portanto, no equador

lambda tende ao infinito e a formulação clássica de Prandtl mantém-se. A equação (3. 53)

resulta do trabalho de Blackadar (1962), que também é destacado por Beljaars (1992).

A equação prognóstica para a ECT é dada por:

0

)(τ

θθ

EEw

zw

g

z

vvw

dt

dEv

v

HH −′

∂∂−′′+

∂∂′′−=

I II III IV

(3. 54)

Em que cada termo representa:

- O termo I é a flutuação vertical do vento horizontal multiplicado pela sua variação com

a altura e representa a produção mecânica de ECT, através do cisalhamento vertical do vento

horizontal;

- O termo II é a razão da aceleração da gravidade pela temperatura potencial virtual vθ

multiplicada pela flutuação vertical da temperatura potencial virtual e representa a produção

ou supressão da ECT por forças de empuxo (produção térmica);

46

- O termo III é a variação vertical da flutuação vertical de ECT e descreve o transporte

turbulento de ECT;

- O termo IV é a razão entre a ECT e a escala de tempo de dissipação 0τ e corresponde a

dissipação de ECT na forma de calor pela viscosidade molecular.

Segundo Someria (1976), a temperatura potencial virtual vθ na equação (3. 55) é dada

por:

)608,01( lv qq −+= θθ

(3. 55)

A dissipação da turbulência ocorre na escala de milímetros e é proporcional a ‘cascata

de energia’, de turbilhões maiores para turbilhões menores (Tennekes e Lumley,1972). No

entanto, a taxa de dissipação (ou escala de tempo de dissipação 0τ ) pode ser escrita em

termos das propriedades típicas dos turbilhões maiores ( NE, el ). Seguindo Ballard et al.

(1991), 0τ é definido como:

2/1220

0 )( NlFE

lc

L+=τ

(3. 56)

Onde as constantes 524,50 =c e 098,7=LF são adimensionais e determinadas

empiricamente.

Acima da CLP, esta mesma parametrização pode representar camadas com turbulência

tanto em situações de céu claro como nublado. Os fluxos de superfície utilizados nos cálculos

no esquema GS (SH , por exemplo) são provenientes da mesma parametrização de

similaridade de Monin-Obukhov usada no esquema BLK, descritos em Zhang e Anthes

(1982). Maiores detalhes sobre o esquema GS podem ser encontrados em Gayno (1994).

47

3.3 O Modelo Fotoquímico CIT e seu acoplamento ao MM5

O modelo de qualidade do ar CIT, é um modelo euleriano que descreve a distribuição

espacial e temporal de poluentes inertes e ativos quimicamente na atmosfera. Este modelo e

suas aplicações são descritos em Harley et al., (1993). Este modelo baseia-se na solução

numérica da equação de difusão atmosférica para concentrações de diferentes espécies

químicas. A variação da concentração de cada composto químico depende da advecção,

turbulência e reações químicas envolvidas.

O CIT permite o estudo do transporte e a formação de poluentes fotoquímicos na

camada limite planetária através da aplicação da equação de difusão atmosférica, conforme

equação (3. 57):

QicccRiciKciut

cin ++⋅∇⋅•∇=⋅•∇+

∂∂

),...,()()( 21 (3. 57)

Onde Ri representa a taxa de produção ou consumo da espécie i por reações químicas e Qi é

a taxa de produção da espécie i devido a emissões.

É importante salientar que o modelo CIT não considera processos de remoção úmida,

portanto não pode ser utilizado em situações de precipitação. Além disso, o CIT não leva em

conta a alteração que as espécies traço podem causar nas características físicas da atmosfera,

como temperatura ou transmitância.

O CIT é um modelo offline, quando se refere aos campos meteorológicos, pois é

necessário inicialmente que se gere esses campos a partir de interpolações de observações ou

prognósticos, para que em seguida seja realizada a previsão das espécies químicas.

Como entrada de dados químicos, é necessário fornecer dados de qualidade do ar e

inventários de emissão. Para a RMSP, esses dados foram fornecidos de acordo com o trabalho

de Martins et al. (2006), que incluiu dados de emissões veiculares em túneis e dados de

qualidade do ar da CETESB.

48

Os dados meteorológicos fornecidos são provenientes de campos gerados pelo MM5,

devidamente interpolados para a grade do CIT. As variáveis meteorológicas necessárias são:

campos de umidade, temperatura e vento em superfície e altura da CLP, que são interpolados

conforme descrito em Goodin et al. (1979a e 1979b).

Para realizar essa interface, entre o MM5 e o CIT, os seguintes pontos foram levados em

consideração:

- Os resultados do modelo MM5, utilizados para construir os campos que foram

incorporados ao CIT, estão em coordenada vertical sigma e na projeção

mercator.

- No entanto, o CIT utiliza coordenada vertical discretizada em 5 camadas e

coordenada horizontal UTM (Universal Transverse Mercator).

Para realizar o acoplamento, dois procedimentos foram adotados:

1) Os campos bidimensionais previstos pelo MM5 (temperatura a 2m, umidade, altura

da base de inversão, vento próximo a superfície – 10m de altura) foram diretamente

interpolados da projeção mercator para a UTM. A partir dessa etapa, puderam ser

inseridos diretamente no CIT. Nesse procedimento, algumas variáveis também

foram ajustadas aos valores esperados pelo CIT (a temperatura, em ºC, foi

multiplicada por 10 ; a altura da camada de mistura, em m, foi também multiplicada

por 10).

2) O CIT necessita de informações sobre a estrutura vertical do vento, na qual deve ser

obedecida a continuidade de massa. Foram então selecionados 15 pontos do domínio

do CIT (3 norte-sul e 5 leste-oeste), nos quais construíram-se sondagens em 22

níveis verticais (20m, 50m, 100m, 200m, 300m, 400m, 500m, 600m, 700m, 800m,

900m, 1000m, 1100m, 1200m, 1300m, 1400m, 1500m, 1600m, 1700m, 1800m,

1900m e 2000m), de direção e velocidade do vento. Essas sondagens, juntamente ao

campo horizontal do vento (conforme obtido no item (1) anterior), foram fornecidos

49

a um dos programas de interface do CIT, que utilizando a equação da continuidade

de massa para um fluido incompressível, gerou seu próprio campo tridimensional de

vento.

Os arquivos de emissão, topografia e rugosidade da superfície utilizados nesse estudo

foram os mesmos de Martins et al. (2006).

Com os dados obtidos pelos procedimentos (1) e (2) procedeu-se a integração

do modelo CIT, que também foi adaptado dos sistema operacional MSDOS para

LINUX, durante o desenvolvimento desta interface.

50

3.4 Metodologia

Foram feitos experimentos numéricos que utilizaram como condição inicial e de

fronteira previsões do modelo global AVN (Aviation Model), com 1º x 1º de resolução

horizontal e temporal de 6h. Nesses experimentos numéricos, foi utilizada uma grade

(domínio) centrada n RMSP. A Figura 3. 5 ilustra o domínio de simulação e na Tabela 3. 3

são apresentados o espaçamento de grade, passo no tempo e números de pontos nas direções x

e y.

Inicialmente, o trabalho foi concebido de modo que as previsões fossem feitas em 3

grades aninhadas, sendo que a menor grade era centrada sobre a RMSP e abrangia a área de

interesse do PPP, área para a integração do CIT, como em trabalhos relacionados (Martins et

al. 2006; Carbone et al. 2007). Durante a realização do trabalho, verificou-se que o uso das 3

grades aninhadas fez com que a solução ficasse instável na grade mais refinada. Assim,

optou-se por utilizar uma grade única, conforme ilustrado na Figura 3. 5 e na Tabela 3. 3.

Com essa grade única, o domínio do PPP para integração do CIT ficou mais distante das

fronteiras, evitando assim problemas de interferência das fronteiras na área de interesse, ou

seja, RMSP, permitindo o desenvolvimento mais livre de circulações locais na área da RMSP.

Figura 3. 5 – Domínio utilizado nos experimentos realizados com o modelo MM5.

51

Tabela 3. 3 - Especificações dos domínios utilizados.

Espaçamento de

grade yx ∆=∆

Número de

pontos

Leste-Oeste

Número de

pontos

Norte-Sul

Passo no

tempo t∆

8km 120 100 30s

Como dados de entrada de topografia e uso do solo utilizou-se a resolução horizontal de

30’’ (aproximadamente 900m) no módulo TERRAIN, que é a maior resolução de topografia

disponível no MM5. O uso do solo é discretizado em 24 categorias, definidas pela USGS. A

Figura 3. 6 mostra o uso do solo e na Tabela 3. 4 as categorias, utilizadas para a RMSP.

Apesar de serem 24categorias, a figura e a tabela mostram apenas 16, pois as demais

categorias ocorrem nesse domínio, por serem características de áreas localizadas em latitudes

mais baixas.

A Figura 3. 6 indica que o modelo considera como “Região Urbana” a área

compreendida sobre o centro de São Paulo (que é o tom de vermelho, referente à categoria 1

da tabela 3.2 ) , praticamente toda Zona Leste, Norte e Oeste, desconsiderando como área

urbana principalmente o extremo sul da Zona Sul de São Paulo. Deste modo, é possível

observar com clareza a mancha urbana sobre a RMSP capturada pelos dados da USGS.

52

Figura 3. 6 - Categorias de uso do Solo no domínio 3. Destacado o mapa da RMSP

53

Tabela 3. 4 - Legenda da Figura 3. 6.

Categoria Tipo de uso do solo

1 Urbano

2 Pastagem seca

3 Pasto irrigado

4 Mistura (pasto seco e irrigado)

5 Plantação/Grama Irrigado

6 Plantação/Madeira Irrigada Mosaico

7 Gramado

8 Restinga

9 Pampas

10 Mistura Pampas/Restinga

11 Cerrado

12 Floresta Decídua 1

13 Floresta Decídua 2

14 Floresta Perene 1

15 Floresta Perene 2

16 Corpos d’água

A Figura 3. 7 mostra a representação de topografia pelo modelo. No centro do

domínio, nas vizinhanças da RMSP, que é a área de interesse, é possível observar o Planalto

Atlântico Paulista, onde está localizada a RMSP, bem como a encosta da Serra do Mar a leste,

onde as altitudes decrescem até o nível do mar. No limite norte da RMSP, é possível observar

a Serra da Cantareira, com altitudes próximas a 900m. Ao norte do mapa, com altitudes

superiores a 1000m tem-se a Serra da Mantiqueira, já na divisa com Minas Gerais.. Entre a

Serra da Cantareira e a região mais elevada da Serra do Mar (-22,8º;45º), há uma região de

vale, conhecida como Vale do Paraíba.

54

Figura 3. 7 – Topografia da RMSP obtida a partir de dados da USGS.

Para os demais processos físicos, que não CLP, foram escolhidas as parametrizações

descritas a seguir, cuja descrição detalhada pode ser encontrada em Grell et al. (1995).

- Parametrização de Cumulus Grell. (Grell, 1993): Nesta parametrização, as nuvens são

representadas por duas circulações estacionárias, ou seja, as correntes ascendente e

descendente só se misturam com o ar ambiente no topo e base destas circulações. O

aquecimento e umedecimento resultante da aplicação do esquema são determinados a partir

dos fluxos de massa de compensação e desentranhamento de massa no topo e base da nuvem.

Como esta parametrização é adequada para domínios com espaçamento de grade da ordem de

10 a 30 km, pode ser que futuramente no D3 utilize-se uma parametrização mais apropriada.

(Figura 3. 5). A opção ISHALLO=1 foi mantida, o que significa que pode haver nuvens não

precipitantes (cumulus rados) e uniformes de raio pequeno e forte entranhamento,

- Esquema de Microfísica Simple Ice (Dudhia): Considera processos envolvendo gelo. Não

considera água superesfriada e toda neve abaixo da isoterma de 0ºC é imediatamente

derretida.

55

- Esquema de Radiação “Cloud-Radiation” (Nuvem-radiação): Considera as interações para

onda curta e onda longa com nuvem e céu claro. Além de calcular as tendências de

temperatura na atmosfera, também calcula os fluxos de radiação na superfície.

- Esquema de Superfície de Solo de 5 camadas: A temperatura é prevista em 5 profundidades

do solo (1,2,4,8 e 16cm), com um substrato fixo logo abaixo, usando a equação da difusão

vertical (Dudhia, 1996).

Foram analisadas 4 previsões, iniciadas às 00Z do dia 30 de outubro de 2006 e com

48h de duração. As parametrizações para todos os processos físicos foram as mesmas, exceto

a de CLP, em que se utilizou BLK ou GS. A Tabela 3. 5 sintetiza e descreve as previsões

analisadas. Duas das previsões assimilaram observações a cada 12h, durante todo período de

integração. Esses dados são provenientes de Estações do INMET (Instituto Nacional de

Meteorologia) e radiossondagens lançadas nos aeroportos de Campo de Marte (SP) e Galeão

(RJ), conforme identificados na Figura 3. 8. No caso das estações do INMET, foram

assimilados temperatura, temperatura do ponto de orvalho, vento, pressão ao nível médio do

mar, temperatura máxima e temperatura mínima. Já no caso das radiossondagens, foram

assimilados temperatura, temperatura do ponto de orvalho e vento.

A assimilação de dados utilizou o esquema Cressman, com raio de influência de 16km

(2 espaçamentos de grade), concentrando assim a influência das observações numa região

pequena e evitando que eventuais perturbações surgissem no modelo.

Tabela 3. 5 - Simulações realizadas

Simulação Parametrização

CLP

Assimilação de

Dados

1 BLK Não

2 GS Não

3 BLK Sim

4 GS Sim

56

Figura 3. 8 – Estações do INMET (PCD’s) e radiossondagens cujos dados foram assimilados

durante as previsões. As marcas vermelhas representam as PCD’s e as marcas azuis as

radissondagens (Campo de Marte, na RMSP e Galeão, no Rio de Janeiro).

Inicialmente, as parametrizações foram comparadas entre si, a fim de identificar as

habilidades e as particularidades de cada parametrização da CLP. Em seguida, alguns pontos

dessas simulações foram comparados com dados horários de superfície de estações fixas da

CETESB. A distribuição espacial dessas estações está na Figura 3. 9 e a

Tabela 3. 6 mostra as latitudes e longitudes, além da variável observada (vento ou

temperatura) em cada estação.

57

a)

b)

Figura 3. 9: Estações de Superfície da CETESB, com dados de temperatura (a) e vento (b),

utilizadas para estudar o ciclo diurno.

Tabela 3. 6: Coordenadas das Estações da Figura 3. 9

Estação Latitude Longitude Alt. (m) Vento Temperatura

Santana -23,5056º -46,628532º 728 X

Ibirapuera -23,5914º -46,660221º 750 X

São Caetano do Sul -23,6453º -46,535839º 760 X X

Taboão -23,6089º -46,757977º 755 X

Campinas -22,9022º -47,057022º 674 X

Sorocaba -23,5024º -47,478813º 622 X

São José dos Campos -23,1875º -45,870773º 603 X X

Água Funda -23,650º -46,6166º 802 X

Guarulhos -23,4629º -46,495544º 730 X

Santo Amaro -23,6546º -46,709572º 742 X

Osasco -23,5263º -46,791641º 740 X

São Bernardo -23,6709º -46,584251º 752 X

Cubatao Vila Parise -23,849º -46,38829º 5 X

Santo André Capuava -23,6394º -46,491192º 815 X

58

Durante os dias 30 e 31 de outubro e 01 de novembro, foram realizadas

radiossondagens referentes ao Projeto de Políticas Públicas (FAPESP – no 03/06414-0).

Foram realizadas radiossondagens a partir do prédio do IAG-USP4. Além dessas

radiossondagens, também há aquelas lançadas tradicionalmente no Campo de Marte5. Os dois

sítios de lançamento estão localizados na RMSP, sendo o primeiro na Zona Oeste e o último

na Zona Norte. As radiossondagens do dia 31 de outubro, cujos horários de lançamento estão

apresentados na Tabela 3. 7, foram utilizadas para avaliar a estrutura vertical da atmosfera

prevista pelo MM5.

Tabela 3. 7: Horário dos lançamentos das radiossondagens do Projeto Políticas Públicas, Mp

IAG-USP e das radiossondagens do Campo de Marte

Localidade Hora (UTC) e data

Campo de Marte 00Z 31 de outubro de 2006

IAG 02Z 31 de outubro de 2006

IAG 05Z 31 de outubro de 2006

IAG 12Z 31 de outubro de 2006

IAG 14Z 31 de outubro de 2006

IAG 18Z 31 de outubro de 2006

IAG 21Z 31 de outubro de 2006

Os campos previstos pela parametrização BLK sem assimilação de dados (Tabela 3. 5)

foram utilizados no CIT para avaliar a formação e dispersão do ozônio no dia 30 de outubro

de 2006. Adicionalmente, foi feita uma outra previsão iniciada às 00Z do dia 31 de outubro de

2006, cujos campos também foram empregados no CIT para avaliar o próprio dia 31 de

outubro. A parametrização BLK foi escolhida pois prevê o vento a 10m de altura e a

4 Coordenadas do prédio do IAG-USP: 23,559361ºS;46,733333ºW 5 Coordenadas do Campo de Marte: 23,50ºS;46,63ºW

59

temperatura a 2m de altura, variáveis necessárias para a integração do CIT. O poluente

analisado foi o Ozônio, por ser o poluente que mais ultrapassou os padrões de qualidade do ar

estabelecidos na RMSP, de acordo com os dois últimos relatórios da CETESB (CETESB,

2006 e 2007). Os campos com previsões da dispersão de ozônio foram comparados com as

observações horárias das estações da CETESB, que são distribuídas de acordo com a Figura

3. 10.

Figura 3. 10: Estações de Superfície da CETESB em que são realizadas medições horárias de ozônio.

60

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Análise Sinótica do Período do Experimento

Para este período, foi feita uma análise sinótica a partir de análises do modelo global do

NCEP, o AVN, o mesmo utilizado como condição inicial e de fronteira para as previsões

numéricas com o MM5 investigadas neste trabalho. Esta análise concentrou-se em identificar

os sistemas sinóticos atuantes no Estado de São Paulo

Às 00Z do dia 30 de outubro, em baixos níveis (Figura 4. 1a) observa-se ventos

tipicamente de Sudeste sobre o Estado de São Paulo, associados a um sistema com circulação

ciclônica nas proximidades da costa do Rio de Janeiro (aproximadamente 40ºW-23ºS). As

temperaturas são menores no litoral (cerca de 16ºC) e aumentam em direção ao interior

(Figura 4. 1b). Em níveis médios (Figura 4. 1c), a circulação ciclônica observada em níveis

baixos é mantida, e predominam ventos sobre SP de sul/sudeste. O mesmo ocorre para níveis

altos (Figura 4. 1d), caracterizando assim um sistema barotrópico.

Analisando as imagens de satélite do canal infravermelho para todo o dia 30 de

outubro (Figura 4. 2), observa-se às 00Z (Figura 4. 2a) nuvens convectivas intensas cobrindo

o Oeste de Santa Catarina, sudoeste do Paraná e Noroeste do Rio Grande do Sul. Às 06z estas

nuvens se dissipam, gerando nebulosidade sobre grande parte do Estado de São Paulo (Figura

4. 2b), com algumas pequenas células convectivas persistindo sobre o Paraná e Mato Grosso

do Sul. Às 12z e 18z (Figura 4. 2c e Figura 4. 2d respectivamente) observa-se pouca

nebulosidade sobre o Estado de São Paulo e muito pouca sobre a RMSP.

61

a)

b)

c) d)

Figura 4. 1: Campos de pressão ao nível médio do mar (hPa) e vento em 850hPa (m/s) na figura (a); Temperatura (ºC) a 2m de altura, na figura (b); Vento (m/s) e geopotencial (m) em 500hPa na figura (c) e em 200hPa na figura (d). Todas as figuras, para o dia 30/10 às 00z.

62

a)

b)

d)

d)

Figura 4. 2: Imagens de Satélite do canal infravermelho GOES-12 (realçadas), do CPTEC/INPE, fornecidas pelo laboratório MASTER (Meteorologia Aplicada a Sistemas de Tempo Regionais) do IAG-USP . As figuras são para o dia 30 de outubro e são referentes aos horários mais próximos das 00z (a); 06z(b);12z(c) e 18z(d).

No dia 31 de outubro (Figura 4. 3), observa-se em baixos níveis (Figura 4. 3a), que a

circulação ciclônica que existia sobre o Oceano Atlântico no Leste do Rio de Janeiro no

horário anterior (Figura 4. 1a) enfraqueceu e os ventos sobre São Paulo são menos intensos do

que no dia anterior, além de serem agora de Nordeste. A temperatura no interior do Estado

diminuiu cerca de 1ºC a 2ºC (Figura 4. 3b) com relação ao dia anterior (Figura 4. 1b). Em

níveis médios (Figura 4. 3c), o sistema ciclônico sobre o leste da Região Sudeste enfraqueceu

comparado ao dia 30 e exerce menor influência sobre a direção dos ventos no Estado de São

63

Paulo. Em níveis altos (Figura 4. 3d), observa-se uma bifurcação do jato subtropical,

causando uma circulação anticiclônica sobre o Sudeste do Brasil, e ventos de Sudoeste sobre

todo Estado de São Paulo.

As imagens de satélite indicam poucas nuvens sobre o Estado de São Paulo. Durante a

madrugada e manhã (Figura 4. 4a e Figura 4. 4b ) observa-se nuvens médias e baixas sobre a

região Sul e Sudoeste do Estado de São Paulo. Na Figura 4. 4c, próximo ao horário de

máximo aquecimento, não há quase nenhuma nuvem sobre o Estado de São Paulo. Já as 18z

(Figura 4. 4d), aumenta a quantidade de nuvens altas sobre o Estado de São Paulo,

provavelmente em decorrência da presença de nuvens com grande desenvolvimento vertical

sobre o Mato Grosso do Sul.

64

a)

b)

c) d)

Figura 4. 3: Idem a Figura 4. 1, mas para 00Z do dia 31/10

65

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 4: Idem a Figura 4. 2, mas para o dia 31 de outubro.

No dia 01 de novembro às 00Z, observa-se ventos intentos de nordeste na costa Sudeste

do Brasil (Figura 4. 5a). A temperatura aumentou cerca de 1-2ºC no interior do Estado de São

Paulo com relação à 24h antes, e mantém-se constante nas outras regiões do Estado (Figura 4.

5b). Em níveis médios (Figura 4. 5c), o sistema ciclônico observado nos dias anteriores

perdeu força e aparentemente dissipou-se. Em níveis altos, predominam ventos de Sudoeste

sobre São Paulo, como observado no dia anterior, e causados pela bifurcação do jato

subtropical (Figura 4. 5d). Neste dia, as imagens de satélite registram nebulosidade sobre o

Estado durante praticamente o dia todo, com formação de nuvens mais desenvolvidas

66

verticalmente às 18Z (Figura 4. 6d) sobre a região do Vale do Paraíba, que causaram chuvas

nesta região.

a)

c) d)

Figura 4. 5: Idem a Figura 4. 1, mas para 00Z do dia 01/11

67

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 6: : Idem a Figura 4. 2, mas para o dia 01 de novembro.

68

4.2 Comparação entre as parametrizações de CLP

Nesse item, procurou-se identificar as principais diferenças entre as parametrizações de

CLP, com relação à habilidade em prever sistemas de mesoescala. Foram analisados os dois

dias de previsão.

O modelo foi iniciado às 00z de 30 de outubro 2006, e as variáveis prognósticas

relacionadas à CLP não são calculadas nesse primeiro instante. Desse modo, não há

diferenças entre as parametrizações. No entanto, existem diferenças nas condições iniciais

das previsões com e sem dados assimilados.

A Figura 4. 7 indica que com a assimilação de dados (Figura 4. 7b) aumenta-se a

temperatura e desacelera-se os ventos sobre a RMSP, principalmente na próximo à Zona

Norte da RMSP, nas proximidades do Campo de Marte e de uma estação do INMET (Figura

3. 8).

Tomando as coordenadas do Campo de Marte como referência e considerando os 15

primeiros níveis sigma (desse modo, estuda-se as variações desde cerca de 18m de altura até

cerca de 2100m, Figura 4. 8a), verifica-se que a assimilação de dados modificou o perfil de

temperatura (Figura 4. 8b) da condição inicial, aumentando a temperatura nas proximidades

da superfície em até 1,5ºC, reduzindo entre cerca de 300 e 500m de altura, voltando a

aumentá-la entre 600 e 1200m e reduzindo novamente a partir de 1200m. Acima de 2100m, as

diferenças entre a condição inicial com e sem dados observados são muito pequenas. As

maiores diferenças, são portanto na superfície. Quanto ao vento, com dados assimilados, sua

magnitude é reduzida em quase 1m/s abaixo de 500m de altura, já acima disso, a assimilação

de dados aumenta em cerca de 1,5m/s a velocidade do vento (Figura 4. 8c). Até 200m, nos

primeiros níveis sigma, a direção do vento sem dados assimilados é de sudeste, mas com a

assimilação de dados, muda de quadrante e passa a ser de sudoeste (Figura 4. 8d), o que é

mostrado também na Figura 4. 7b nas proximidades do ponto analisado na Figura 4. 8. A

69

temperatura do ponto de orvalho apresenta poucas variações até cerca de 500m de altura

(Figura 4. 8e). Acima disso, ela diminui quando ocorre assimilação de dados.

a)

b)

Figura 4. 7: Campos de temperatura e vento no primeiro nível sigma (que varia entre 17m e 18m de altura) às 00z do dia 31 de outubro de 2006: (a) é o campo sem assimilação de dados e (b) é o campo com assimilação de dados. A temperatura é dada em ºC e a velocidade em m/s.

70

a) b)

c) d)

e)

Figura 4. 8: Correspondência entre o nível sigma e a altura geométrica nas coordenadas do Campo de Marte (a); temperatura (b), magnitude do vento (c), direção do vento (d) e temperatura do ponto de orvalho (e) às 00Z do dia 31 de outubro de 2006 também no Campo de Marte, para a previsão sem (preto) e com dados assimilados (verde).

71

Depois de avaliadas as condições iniciais para as previsões, será avaliado todo o

período de simulação (48h).

Após as 00z do dia 30, começam a haver diferenças entre as previsões com as

parametrizações de CLP, além de diferenças decorrentes da assimilação ou não de dados. Ao

analisar o ponto correspondente ao Campo de Marte, nas figuras Figura 4. 9 a Figura 4. 14 ,

nota-se que a assimilação não causou impacto significativo sobre as variáveis no decorrer da

previsão, exceto no início da previsão e no segundo dia de previsão, por volta das 18Z,

principalmente quando utilizada a parametrização GS (em que a assimilação de dados

provocou uma redução em até 4ºC da temperatura nesse horário).

As maiores diferenças entre as previsões com e sem dados assimilados concentram-se no

início das previsões. No caso da temperatura, os resultados indicam que a assimilação de

dados a aumentou no início da previsão (Figura 4. 9a e Figura 4. 9b), o que pode ser algo

positivo, pois Shafran et al. (2000) e Martins e da Rocha (2007) identificaram que as

previsões com o MM5 tendem a ser mais frias que as observações. Desse modo, a assimilação

de dados aumentaria a temperatura e reduziria essas diferenças. No entanto, essa diferença de

temperatura é muito pequena no decorrer do dia, até mesmo no horário onde também houve

assimilação de dados (12Z). Aparentemente, o modelo tende a reduzir essas variações (entre

previsão com e sem dados assimilados) com o tempo, o que pode ser atribuído ao relativo

pequeno raio de influência escolhido (16km, comparado às dimensões do domínio de 792km

na direção Leste-Oeste e 952km na direção Norte-Sul) e a predominância de dinâmica interna

do modelo em gerar as circulações. O aumento do raio de influência poderia aumentar a

diferença entre previsões com e sem dados assimilados, de modo que circulações mais

diferenciadas surgiriam com o tempo. Como já observado, no segundo dia de previsão, após

às 18Z existe uma grande diferença entre as previsões com e sem dados assimilados com a

parametrização GS, o que pode estar associado a cálculo de condensação subgrade, feito

apenas por esta parametrização.

72

Comparando as parametrizações, logo após o primeiro instante (que corresponde à

condição inicial), ou seja, de 01z até 06z, as previsões que utilizaram o esquema GS

apresentam maiores temperaturas (Figura 4. 9a). Entre 06z e 11z, as temperaturas

apresentaram valores muito próximos entre si e após esse horário, o esquema GS previu

novamente temperaturas mais elevadas. A fim de investigar o mecanismo que mantém a

temperatura no esquema GS em geral maior que no esquema BLK, a Figura 4. 12 mostra os

fluxos turbulentos de superfície Nota-se que com a assimilação de dados, esses fluxos são em

geral mais intensos, no máximo em até 15W/m² as 11Z (fluxo de calor sensível, Figura 4.

12d). Na parametrização BLK, o fluxo de calor sensível no horário de máximo é maior que na

GS, mas a diferença é de apenas 15W/m² (Figura 4. 12c). Com essa pequena diferença, seria

esperado que a parametrização BLK apresentasse maiores temperaturas que a GS, mas como

mostra a Figura 4. 9a , é o inverso que ocorre.

A parametrização GS calcula a ECT, que a energia transportada devido ao empuxo, pelos

turbilhões em diferentes escalas. Desse modo, pode ser que levando em conta esses pequenos

turbilhões, ocorra aquecimento nos primeiros níveis da atmosfera. A Figura 4. 13 mostra que

a produção de ECT atinge seu máximo quando também ocorre temperatura máxima e vai a

zero durante a noite e madrugada, o que explica as maiores diferenças entre os esquemas

durante o dia, no horário de máxima temperatura. Conforme descrito na equação (3. 54), um

dos termos da ECT que normalmente é dominante durante o dia é o termo de produção de

ECT através da forçante térmica, que pode estar sendo responsável pelo transporte do calor da

superfície até os primeiros metros da atmosfera. Durante a noite e no início do dia, quando a

produção de ECT aproxima-se de zero, os dois esquemas apresentam temperaturas muito

semelhantes (Figura 4. 9a). Quando o valor de ECT é superior a zero, a diferença de

temperatura entre os esquemas aumenta, de modo que a temperatura prevista pelo esquema

GS é maior. A assimilação de dados provoca diferenças na ECT apenas no segundo dia de

previsão (dia 31), após as 12Z, devido a presença de água precipitável (Figura 4. 19).

73

No caso do vento, a assimilação de dados inicialmente reduziu sua magnitude, mas assim

como para a temperatura, ao longo do primeiro dia, não causou impacto significativo nas

previsões (Figura 4. 10b). Mas, no segundo dia de previsão, após as 12Z, as diferenças foram

maiores, assim como para as demais variáveis analisadas. No primeiro dia de previsão, é

possível observar a entrada da brisa marítima, através do aumento da magnitude do vento.

Após as 12Z do dia 30, no ponto referente ao Campo de Marte, observa-se que a

parametrização GS apresenta velocidade máxima em torno de 5m/s às 16Z, enquanto na

parametrização BLK se atinge cerca de 6,5 m/s às 18Z (Figura 4. 10a). Nesse ponto,

aparentemente a brisa marítima foi prevista apenas no primeiro dia de previsão. No segundo

dia, com a ocorrência de precipitação no ponto analisado, o ciclo diurno previsto apresenta

muitas perturbações, dificultando a visualização da brisa.

Quanto a temperatura do ponto de orvalho, a parametrização GS esteve mais quente

durante todo o dia 30 de outubro, principalmente no horário de mínima, antes da entrada da

brisa marítima (Figura 4. 11a). O esquema GS esteve mais úmido que o BLK, como mostra a

razão de mistura de vapor (Figura 4. 11c) e as diferenças entre as parametrizações foram

maiores na entrada da brisa marítima, quando houve redução brusca da umidade, seguida por

um aumento, caracterizando o momento em que o vento mudou de direção. No estudo

climatológico de Rodriguez et al. (2007), observa-se que o ciclo diurno da razão de mistura

para dias sem tempestade possui fase e valores muito próximos aos obtidos nas previsões da

Figura 4. 11c (caso semelhante ao previsto para o dia 30 de outubro de 2006, pois conforme

será visto na seção 4.1, não houve previsão de precipitação para este dia, na região do Campo

de Marte).

O prognóstico da altura da CLP é feito de maneira diferente em cada parametrização.

Enquanto a parametrização BLK obtém a altura da CLP através do perfil de temperatura, a

GS obtém através do perfil de ECT (Tabela 3. 2). Por depender do perfil de temperatura, a

altura da CLP prevista pelo esquema BLK diminui bruscamente logo após o por do Sol

74

(Figura 4. 14a).Já a altura da CLP prevista pelo esquema GS segue a estrutura vertical da ECT

(Figura 4. 18). No primeiro dia de previsão, o esquema BLK apresentou uma CLP mais

profunda que o esquema GS. Já no segundo dia, com a presença de precipitação simulada pelo

o esquema GS , a altura da CLP nesse esquema é maior do que no esquema BLK (Figura 4.

14a).

a)

b)

Figura 4. 9: Ciclo diurno de temperatura (a) e diferenças entre previsões (b) com e sem dados assimilados, no ponto referente ao Campo de Marte. A figura (a) indica o ciclo de temperatura das parametrizações BLK e GS, com e sem dados assimilados (Preto: BLK sem dados assimilados; Verde: BLK com dados assimilados; Azul: GS sem dados assimilados; Vermelho: GS com dados assimilados). A figura (b) representa as diferenças entre as previsões sem e com dados assimilados dos esquemas BLK (em preto) e GS (em verde).

75

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 10: Ciclo diurno da magnitude do vento (a) e da direção (c) e as respectivas diferenças entre as previsões (figuras b e d) com e sem dados assimilados, no ponto referente ao Campo de Marte, para as 48h de previsão. Nas figuras (a) e (c), a cor preta representa BLK sem dados assimilados, verde BLK com dados assimilados, azul GS sem dados assimilados e vermelho GS com dados assimilados. Nas figuras (b) e (c), são representadas as diferenças entre as previsões sem e com dados assimilados dos esquemas BLK (em preto) e GS (em verde).

76

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 11: Ciclo diurno de temperatura do ponto de orvalho (a) e da razão de mistura (c) e as respectivas diferenças entre as previsões (figuras b e d) com e sem dados assimilados, no ponto referente ao Campo de Marte, para as 48h de previsão. Nas figuras (a) e (c), a cor preta representa BLK sem dados assimilados, a verde BLK com dados assimilados, a azul GS sem dados assimilados e a vermelha GS com dados assimilados. Nas figuras (b) e c), são representadas as diferenças entre as previsões sem e com dados assimilados dos esquemas BLK (em preto) e GS (em verde).

77

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 12: Fluxos turbulentos de superfície para todo período de previsão, no ponto de referência do Campo de Marte. Nas figuras (a) e (c) , os fluxo de calor latente e sensível, respectivamente, para as parametrizações sem assimilação de dados (BLK em preto e GS em verde). Nas figuras (b) e (d), as diferenças entre previsões sem e com dados assimilados, para os fluxos de calor latente e sensível respectivamente. Em preto, para a parametrização BLK e em verde, para a GS.

78

a)

b)

Figura 4. 13: Ciclo diurno de Energia Cinética Turbulenta (ECT) para todo período de integração, no ponto de referência do Campo de Marte. A ECT é calculada apenas pela parametrização GS: (a), a ECT da previsão sem dados assimilados (em preto) e com dados assimilados (em verde); (b), a diferença entre a previsão sem e com dados assimilados.

a)

b)

Figura 4. 14: Idem a Figura 4. 9, mas para a altura da CLP.

Analisando o ciclo diurno da estrutura vertical da temperatura, verificou-se que

próximo à superfície o esquema GS apresentou temperaturas mais elevadas. Com a

parametrização GS, o ciclo diurno foi previsto até cerca de 900m, enquanto que com a

parametrização BLK, até cerca de 1100m (Figura 4. 15a Figura 4. 15c). A assimilação de

dados não causou impacto perceptível na estrutura vertical, apenas variações no primeiro

horário de previsão e no segundo dia, após as 18Z , com diferenças menores que 1ºC,

conforme as Figura 4. 15b Figura 4. 15d.

79

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 15: Ciclo diurno da estrutura vertical de temperatura (ºC) para as 48h de previsão, no ponto referente ao Campo de Marte. A figura (a) é para a parametrização BLK sem assimilação de dados durante a previsão e a figura (c) é para a parametrização GS sem assimilação de dados. As figuras (b) e (d) correspondem a diferença entre previsões sem e com assimilação de dados, para as parametrizações BLK e GS respectivamente. A escala de altura está em coordenadas sigma, e a relação com altura, em m, é dada pela Figura 4. 8a.

80

Com relação à estrutura vertical da magnitude do vento, os dois esquemas apresentam

estruturas verticais e magnitudes semelhantes entre si e previram a existência de jatos abaixo

de 500m de altura após as 00Z do dia 31 (Figura 4. 16a e Figura 4. 16c). Outras características

da estrutura vertical foram simuladas pelos 2 esquemas. Enquanto às 18Z do dia 30, às 03Z e

às 09Z do dia 31 a parametrização GS simula jatos mais intensos, às 20Z do dia 31 a

parametrização BLK simulou um jato mais intenso que a GS. No segundo dia de previsão,

houve maior quantidade de água precipitável (Figura 4. 19), e a parametrização GS pode ter

sido mais influenciada pela parametrização de cumulus que a parametrização BLK. A

assimilação de dados não provocou impacto significativo nas estruturas de jato simuladas

pelo modelo, exceto no segundo dia de previsão (dia 31) após as 18Z, em que a assimilação

alterou estrutura vertical de velocidade prevista, o que aparentemente está associado à

presença de precipitação. Essa perturbação foi maior na parametrização GS.

A estrutura vertical da razão de mistura mostrou uma atmosfera mais úmida na

parametrização GS, principalmente próximo a superfície (Figura 4. 17a e Figura 4. 17c .

Aparentemente, a parametrização de CLP começa a causar efeito na estrutura vertical da

razão de mistura a partir das 12Z do dia 30, quando abaixo de 1900m ocorrem maiores

diferenças entre as parametrizações. A assimilação de dados não causou muito impacto nas

variáveis em superfície, apenas acima de aproximadamente 2000m após às 18Z do dia 31 de

outubro, principalmente com a parametrização GS (Figura 4. 17d), onde a assimilação de

dados reduziu a razão de mistura nessa altura.

81

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 16: Idem a Figura 4. 15, mas para a magnitude do vento (m/s)

A ECT é uma variável prognosticada apenas pela parametrização GS e possibilita uma

avaliação do transporte de propriedades da superfície para a atmosfera, pelos turbilhões de

diferentes escalas. No primeiro dia de previsão, a ECT é menor que no segundo dia de

previsão (Figura 4. 18a). Maiores valores de ECT implicam em maior altura da CLP, o que de

fato é observado (Figura 4. 14a). Assim como a estrutura vertical das outras variáveis

analisadas até agora, a assimilação de dados mudou a ECT apenas no segundo dia de previsão

(Figura 4. 18b).

82

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 17: Idem a Figura 4. 15, mas para a razão de mistura (g/kg).

A quantidade de água precipitável expressa toda quantidade de vapor presente na

coluna atmosférica, numa situação em que ele se condensasse e precipitasse. As previsões

apontam que houve maior quantidade dessa variável no segundo dia de previsão (Figura 4.

19), indicando que a presença de umidade poderia explicar o fato de os ciclos diurnos das

variáveis estarem perturbados no segundo dia de previsão (Figura 4. 9 a Figura 4. 14). A

parametrização GS (Figura 4. 19b)apresenta maiores valores de água precipitável que a

parametrização BLK, pois segundo seu criador, Gayno (1994), essa parametrização é

apropriada para condições de nevoeiro e produz condensação subgrade. A assimilação de

dados causou impacto na estrutura vertical dessa variável apenas no segundo dia de

precipitação, após as 18Z, assim como as outras variáveis analisadas.

83

a)

b)

Figura 4. 18: Ciclo diurno da estrutura vertical da ECT (J/kg) para os dois dias de previsão (48h). A figura a) é para o caso sem assimilação de dados e a figura b) é para o caso com assimilação de dados.

84

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 19: Idem a Figura 4. 15, mas para a água precipitável (g/kg)

85

Analisando a área central do domínio, próxima a RMSP, foram considerados alguns

horários com as diferenças mais significativas entre as parametrizações. Às 06Z do dia 30 de

outubro de 2006 (Figura 4. 20), embora ainda ocorra pouca diferença entre as

parametrizações, verifica-se que sobre a Zona Leste da RMSP, a parametrização GS (Figura

4. 20c) já é mais quente que a BLK (Figura 4. 20a). As duas parametrizações indicam que a

temperatura no Vale do Paraíba é maior que nas vizinhanças e também é possível verificar

uma canalização do escoamento sobre essa região, além da presença da circulação vale-

montanha (da Serra da Mantiqueira em direção ao Vale do Paraíba). A assimilação de dados

provoca alterações no campo somente ao utilizar a parametrização BLK (Figura 4. 20b). A

parametrização GS não sofre influência da assimilação de dados nesse horário (Figura 4.

20bc).

86

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 20: Campo de temperatura e vento previsto às 06Z do dia 30 de outubro, no primeiro nível sigma (aproximadamente 18m de altura) utilizando a parametrização BLK (a) e GS (d). As figuras (b) e (d) correspondem as diferenças entre previsão com e sem dados assimilados, para o mesmo horário, com as parametrizações BLK e GS respectivamente.

Às 12Z do dia 30 de outubro, nas proximidades da superfície, a previsão com

parametrização GS previu temperaturas mais altas (Figura 4. 21c) do que com a

parametrização BLK (Figura 4. 21a). A parametrização BLK apresentou velocidades maiores

sobre a RMSP. É possível observar contrastes de temperatura em uma mesma latitude,

associadas com a variação de altitude. Por exemplo, a nordeste da RMSP a presença de uma

região com maior altitude, referente à Serra da Cantareira, e já na divisa com o Estado de

Minas Gerais, onde há a Serra da Mantiqueira (Figura 3. 7). As duas parametrizações

87

previram essas variações de temperatura em decorrência da altitude e isto também foi obtido

em todos os horários analisados. Neste horário, nota-se os ventos divergindo sobre a Serra da

Mantiqueira, caracterizando uma circulação de vale-montanha com direção ao Vale do

Paraíba, situado entre a Serra da Mantiqueira e um dos flancos da Serra do Mar. Próximo a

costa, as duas simulações já indicam a formação da brisa marítima, através do encontro dos

ventos de Sudeste e Noroeste. Conforme indicam as Figura 4. 21b e Figura 4. 21d, a

assimilação de dados não causou impacto significativo nesse horário de previsão, tanto na

previsão de vento como de temperatura.

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 21: Idem a Figura 4. 20, mas para às 12Z do dia 30 de outubro.

88

Ás 18Z do dia 30 de outubro, a frente de brisa marítima é caracterizada pelo limite

entre os ventos de sudeste, mais fortes e os mais fracos de noroeste sobre o norte da RMSP

(Figura 4. 22). Segundo o trabalho de Oliveira et al. (2002), a brisa marítima causa uma zona

de convergência durante sua passagem, uma região em que os ventos “empilham-se” devido o

encontro do vento de Sudeste mais forte com o vento de noroeste mais fraco. A Figura 4. 22c

indica que o esquema GS apresentou um maior avanço da brisa marítima sobre o continente.,

o que pode estar associado às maiores temperaturas previstas por este esquema, aumentando a

diferença de temperatura entre a RMSP e e o oceano e intensificando a ciruclação. A presença

do Vale do Paraíba parece atrasar a entrada da brisa, provavelmente devido a maior altura da

Serra do Mar na vizinhança dessa região, com relação a vizinhança da RMSP (Figura 3. 7) e

também devido a presença da circulação vale-montanha, que induz ventos opostos à brisa

marítima.

Às 00Z do dia 31 (Figura 4. 23), foram previstos ventos de nordeste sobre o oceano.

Sobre a RMSP, os ventos foram predominantemente de leste. As duas parametrizações

indicaram maiores temperaturas sobre a região central da RMSP neste horário (com relação as

demais regiões próximas), principalmente a parametrização GS, que de uma maneira geral

previu maiores temperaturas em todo domínio (Figura 4. 23c). A assimilação de dados não

causou diferenças nos campos de temperatura e vento (Figura 4. 23b e Figura 4. 23d ). As

duas parametrizações mostram uma circulação de Nordeste no Vale do Paraíba,

caracterizando uma canalização da circulação pela topografia. Também se observa a

circulação vale montanha, com o ar frio dirigindo-se da Serra da Mantiqueira para o vale.

89

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 22: Idem a Figura 4. 20, mas para às 18Z do dia 30 de outubro.

90

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 23: Idem a Figura 4. 20, mas para às 00Z do dia 31 de outubro.

Às 06Z do dia 31 de outubro (Figura 4. 24), a parametrização GS continua

apresentando temperaturas mais elevadas que a BLK sobre a maior parte do domínio (Figura

4. 24c). As duas parametrizações simulam a circulação vale montanha na região do Vale do

Paraíba, e a canalização dos ventos devido à topografia. Os ventos são de Nordeste sobre a

maior parte da RMSP. As temperaturas previstas para este dia são maiores que as previstas

para o mesmo horário do dia anterior (Figura 4. 20). Nesse horário (30h após o início da

previsão), a dinâmica interna do modelo já criou circulações e características próprias,

diferenciando da condição inicial. Uma circulação peculiar que não é normalmente observada

nas análises é obtida no MM5: na região de Ilha Bela (23,8ºS;45,5ºW aproximadamente) o

modelo cria uma mudança no escoamento, provavelmente associado à presença da ilha. No

91

entanto o mapa do software GrADs não identifica essa ilha. A assimilação de dados não

provocou impacto significativo nesse horário, apenas pontualmente em algumas regiões ao

utilizar a parametrização BLK (Figura 4. 24b).

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 24: Idem a Figura 4. 20, mas para às 06Z do dia 31 de outubro.

92

Às 12Z do dia 31 de outubro (Figura 4. 25), são previstos ventos de noroeste sobre a

RMSP. A parametrização BLK apresentou ventos mais intensos sobre essa região do que a

GS (Figura 4. 25c) e a parametrização GS continuou prevendo temperaturas mais elevadas. A

assimilação de dados provocou algum impacto nos campos a nordeste do domínio,

aproximadamente em 22,8ºS/45,5ºW, principalmente ao usar a parametrização GS (Figura 4.

25d). Nesse horário, o modelo já prevê a frente de brisa nas proximidades da costa nas duas

parametrizações, como ocorreu no mesmo horário no dia 30 de outubro (Figura 4. 21). A

frente de brisa prevista pelo esquema GS está ainda mais adiantada com relação ao esquema

BLK. Os ventos se dirigindo da Serra da Mantiqueira para o Vale do Paraíba, assim como no

dia anterior, também caracterizam a circulação vale-montanha e também parecem atrasar a

penetração da brisa marítima em direção ao vale do Paraíba, tanto no esquema GS quanto no

BLK. Outro ponto a se considerar é a interação da brisa marítima com a ilha de calor urbano.

Segundo Freitas et al. (2006), a ilha de calor urbano forma uma intensa zona de convergência

na RMSP, acelerando a brisa marítima em direção à cidade. Deste modo, pode ser que a

presença da RMSP pode ter acelerado a brisa marítima com relação as outras regiões, tal

como no Vale do Paraíba.

93

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 25: Idem a Figura 4. 20, mas para às 12Z do dia 31 de outubro.

Às 18Z do dia 31 (Figura 4. 26), as duas previsões apresentam temperaturas elevadas

sobre a RMSP e sobre toda área distante da costa, na interface entre ar quente e ar frio, que

caracteriza a entrada da brisa marítima. Ainda como foi obtido nos instantes anteriores, a

parametrização GS mantém temperaturas mais altas do que a BLK. Embora não tenha sido

possível identificar um padrão de penetração da brisa marítima apenas pelo ciclo diurno de

um ponto próximo ao Campo de Marte (Figura 4. 9a Figura 4. 10a), as Figura 4. 26a e Figura

4. 26c indicam a penetração da brisa. Na parametrização GS a brisa marítima (Figura 4. 26c),

assim como no dia 30, avança mais sobre o continente na RMSP e ao Sul dessa região,

enquanto na região do vale do Paraíba o acoplamento com a circulação vale montanha faz

com que a brisa situe-se mais próxima da costa, adentrando menos para o continente. A

94

previsão com a parametrização BLK (Figura 4. 26a) simulou dias áreas com precipitação,

evidenciadas pela divergência dos ventos em superfície: uma em torno de 22,9ºS/ 47,7ºW e a

outra em 22,8ºS/45,5ºW (Serra da Mantiqueira). Neste ponto, a previsão de precipitação pode

estar associada à presença de topografia e também foi simulada para a parametrização GS

(Figura 4. 26c). A imagem de satélite no IR (Figura 4. 4d) para este horário indica a presença

de nebulosidade sobre a Serra da Mantiqueira, mas não se tem observação de chuva neste

horário. A assimilação de dados causou impacto nas previsões nesse horário: com a

parametrização BLK, a assimilação de dados aumentou a temperatura nas proximidades da

Serra da Mantiqueira (Figura 4. 26b), na mesma região em que houve divergência do vento e

queda de temperatura (Figura 4. 26a), o que indica que a assimilação de dados estaria

suprimindo a chuva prevista pelo esquema BLK. Já com a parametrização GS, mais regiões

foram sensíveis a assimilação de dados, inclusive a RMSP, onde a assimilação de dados

reduziu a temperatura (Figura 4. 26d).

95

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 26: Idem a Figura 4. 20, mas para às 18Z do dia 31 de outubro.

Finalmente, às 00Z do dia 01 de novembro de 2006, as parametrizações não

apresentam diferenças significativas quanto a circulação sobre a RMSP (Figura 4. 27a e

Figura 4. 27c). Quanto à temperatura, o esquema GS ainda mantém valores um pouco mais

altos (em alguns casos, até 2,5ºC) do que a parametrização BLK, assim como os outros

horários. Assim como às 00Z do dia 31 de outubro (Figura 4. 23), também foi observada a

circulação vale-montanha e a canalização dos ventos pela topografia.

Nesse horário, a assimilação de dados também impactou as previsões, assim como às

18Z (Figura 4. 26), com as duas parametrizações sendo afetadas, sobretudo nas regiões onde

nota-se a presença de convergência e divergência do vento. Por exemplo, no BLK no setor

96

norte, nota-se que a assimilação de dados reduziu e aumentou a temperatura próximo a

latitude de 23ºS e em 47,5ºW e 46,5ºW respectivamente, indicando que a precipitação ocorreu

em lugares diferentes.

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 27: Idem a Figura 4. 20, mas para às 00Z do dia 01 de novembro.

Deste modo, nos dois dias de previsões foi possível notar a interação complexa entre as

circulações de brisa e vale-montanha sobre a RMSP, como também foi discutido por análise

de observações para o ano de 1988 por Oliveira et al. (2003). Foi também possível identificar

que a parametrização de cumulus parece ser sensível a assimilação de dados, de modo que a

97

assimilação de dados passou a alterar o campo previsto após as 12Z do dia 31 de outubro

(Figura 4. 25), quando modelo começou a prever precipitação.

98

4.3 Comparação das previsões com observações

As comparações com as observações (Figura 4. 28) indicam que o modelo iniciou-se mais

frio do que as observações (na estação Campinas, quase 5ºC mais frio, Figura 4. 28a). Após as

primeiras horas de previsão, a condição inicial deixou de dominar os resultados e a dinâmica

interna do modelo passa a ser dominante, aproximando os valores previstos aos observados. O

modelo previu o ciclo diurno observado em todas as estações mostradas na Figura 4. 28, com

algumas particularidades. Nas estações de São Caetano do Sul e São José dos Campos (Figura

4. 28c e Figura 4. 28d), o modelo subestimou o valor máximo de temperatura nos dois dias de

previsão, para as duas parametrizações empregadas. Durante a noite, entre os dias 30 e 31,

nestas mesmas estações, a temperatura prevista é muito próxima da observada. Pérez et al.

(2006) mostraram que o modelo MM5 tende a subestimar as temperaturas, principalmente no

horário de máxima, o que é similar ao obtido nestas duas estações.

Já na estação de Ibirapuera (Figura 4. 28b), a previsão adiantou em 2h o horário de

máxima temperatura nos dois dias de previsão, e fez uma boa previsão para a temperatura da

madrugada (do dia 30 para o dia 31). Deve-se lembrar que as estações da CETESB sofrem

influência local, dada a presença de árvores, prédios, vias de circulação, etc. A estação de

Ibirapuera, por exemplo fica localizada em um parque, e durante o dia é coberta pela sombra

de árvores que podem estar reduzindo a temperatura no horário de máxima. Na estação de

Campinas (Figura 4. 28a), no dia 30, a temperatura observada no horário de máxima situa-se

entre os valores obtidos pela parametrização BLK e GS.

Nas estações analisadas, foi obtido que o modelo prevê o horário de máxima temperatura

com 1 ou 2h de antecedência nos dois dias de previsão. Também nota-se, conforme já

discutido anteriormente (Figura 4. 9), que na parametrização BLK as temperaturas são mais

frias do que na parametrização GS, o que também foi mostrado por Pérez et al. (2006).

99

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 28: Ciclo de temperatura das previsões e observações das estações da CETESB para as 48h de previsão. Em vermelho, os dados observados; em verde a previsão utilizando o esquema BLK e em azul, utilizando o esquema GS: (a) refere-se a estação localizada em Campinas; (b), localizada no Ibirapuera; (c) em São Caetano do Sul e (d) em São José dos Campos. As previsões mostradas nessa figura não possuem assimilação de dados.

Foram calculados coeficientes de correlação, erro quadrático médio e erro absoluto. As

correlações para a temperatura foram superiores a 0,87, chegando a 0,96 em algumas

previsões, o que é considerado um valor alto, indicando que o ciclo de temperatura foi bem

previsto e a fase bem representada, mesmo com as previsões antecipando o horário de

temperatura máxima em algumas estações. Essas correlações foram muito próximas as

obtidas por Freitas et al. (2006), que utilizou o modelo RAMS. O Erro Quadrático Médio

(EQM) foi maior com a parametrização BLK, pois em geral a temperatura prevista pelo

modelo foi menor que a observação e como a parametrização GS apresentou temperaturas

100

mais elevadas que a BLK, e esteve mais próxima das observações. Verificou-se que em geral

a previsão que mais reduziu o EQM foi a que utilizou a parametrização GS com assimilação

de dados e o mesmo ocorreu para o EA, um resultado semelhante ao obtido por Shafran et al.

(2000).

Quanto ao vento (Figura 4. 29), as previsões em geral superestimam a velocidade

observada. Na estação de Cubatão Vila Parise (Figura 4. 29a), o modelo prevê os aumentos de

velocidade que acontecem no primeiro dia (por volta das 07Z e 18Z do dia 30 de outubro). No

segundo dia de previsão, o modelo previu apenas um horário de aumento da velocidade, por

volta das 18Z do dia 31, o que também foi observado, embora com velocidades muito

menores.

Na estação de Guarulhos (Figura 4. 29b) o aumento da velocidade do vento que pode estar

associado ao máximo de velocidade pós-frente de brisa, foi previsto no primeiro dia de

previsão pelas duas parametrizações. Já no segundo dia, essa característica não é muito clara

nas previsões. Na estação de Osasco (Figura 4. 29c), a entrada da brisa e a intensificação do

vento pós-frente de brisa foram previstas nos dois dias de previsão. Na estação São José dos

Campos (Figura 4. 29d), foi previsto um aumento de velocidade que ocorreu por volta das

21Z. No entanto, o aumento da velocidade que ocorreu antes (por volta das 13Z), não foi

simulado pelo modelo.

Em geral, as velocidades obtidas foram maiores que a observação, principalmente nos

horários de máxima velocidade. Nas estações distantes da costa (Figura 4. 29b, Figura 4. 29c

e Figura 4. 29d), a parametrização BLK apresentou velocidades mais intensas que a GS,

principalmente nos horários de máxima intensidade.

Segundo Oliveira e Silva Dias (1982), as observações da Estação Climatológica do

IAG-USP apontam que a entrada da brisa marítima sobre a RMSP se dá por volta das 14HL

(ou seja, 17Z). A estação de Guarulhos e Osasco (Figura 4. 29b, Figura 4. 29c) as

101

observações indicam que o vento aumenta sua intensidade nesse horário, o que também foi

simulado pelas previsões nessas estações.

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 29: Idem a Figura 4. 28, mas para a magnitude do vento.

Num evento de brisa marítima, antes do vento atingir sua velocidade máxima após a

frente de brisa, reduz sua intensidade e muda sua direção, geralmente mudando de nordeste

para sudeste, o que é chamado de giro do vento. As observações na estação de Cubatão Vila

Parise (Figura 4. 30a) mostraram esse giro do vento apenas no primeiro dia de previsão (dia

30), que ocorreu às 10Z. A previsões simularam o giro do vento nessa estação cerca de 1h

depois do observado, quando também previram a redução de velocidade (Figura 4. 29a). Nas

estações de Guarulhos (Figura 4. 30b) e São José dos Campos (Figura 4. 30d), o modelo

adiantou a entrada da brisa em até 3h no primeiro dia de previsão (para a estação de

102

Guarulhos, o modelo simulou o giro do vento com adiantamento no segundo dia de previsão

também). Na estação de Osasco (Figura 4. 30c) o modelo também antecipou o giro do vento,

de modo semelhante ao encontrado na estação de Guarulhos (Figura 4. 30b).

a)

b)

c)

d)

Figura 4. 30: Idem a Figura 4. 29, mas para a direção do vento.

As correlações para a intensidade do vento apresentaram baixas correlações, diferente

do que foi obtido para a temperatura. Em alguns casos, as observações e as previsões

estiveram fora de fase, o que chegou a causar um valor negativo par a correlação na estação

de Santo André, conforme indicado na Tabela 4. 1. As baixas correlações (inferiores a 0,5), de

um modo geral indicam que o modelo e as observações muitas vezes estiveram defasados

entre si, o que foi observado na Figura 4. 30. No entanto, algumas estações destacaram-se, e

apresentaram correlações muito boas para o vento, como a Estação de São Bernardo do

103

Campo, Santo Amaro, Osasco e Cubatão, que chegou a atingir uma correlação de 0,82. Cabe

ressaltar que a medição do vento depende fortemente das características locais da região em

que o instrumento de medida está instalado. Algumas flutuações mostradas nas observações

podem ser produto da interação com obstáculos, o que pode explicar as correlações

relativamente baixas para o vento. O EQM para o vento foi menor para a parametrização GS

com dados assimilados, assim como no caso da temperatura, resultado semelhante ao obtido

por Shafran et al. (2000). Isso ocorreu porque nos horários de máxima velocidade, a

parametrização BLK previu velocidades mais intensas que a GS, e as observações mostraram

menores velocidades que as previsões para as duas parametrizações.

104

Tabela 4. 1: Correlações, Erro Quadrático Médio (EQM) e Erro Absoluto (EA) para as estações da CETESB (Figura 3. 9) para o vento e temperatura.

TEMPERATURA - CORRELAÇÕES TEMPERATURA - EQM TEMPERATURA - EA

BLK GS BLK GS BLK GS

ESTAÇÃO SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

Ibirapuera 0,95 0,95 0,95 0,96 2,47 2,38 2,82 2,77 2,15 2,06 2,41 2,33 São Caetano do Sul 0,94 0,94 0,94 0,94 2,27 2,22 2,07 2,04 1,78 1,72 1,69 1,75 Taboão da Serra 0,95 0,95 0,96 0,96 2,76 2,66 2,47 2,40 2,37 2,34 2,25 2,19 Campinas 0,93 0,93 0,93 0,93 3,56 3,43 3,49 3,37 3,01 3,04 3,03 2,99 Sorocaba 0,96 0,95 0,95 0,95 1,94 1,88 2,12 2,09 1,47 1,53 1,62 1,59 São José dos Campos 0,87 0,87 0,87 0,87 4,01 3,88 3,53 3,42 3,44 3,43 2,92 2,94

VENTO - CORRELAÇÕES VENTO - EQM VENTO - EA

BLK GS BLK GS BLK GS

ESTAÇÃO SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

SEM ASS

COM ASS

Santana 0,48 0,46 0,37 0,44 1,30 1,29 1,03 1,03 1,03 1,04 0,83 0,79 São Caetano do Sul 0,35 0,33 0,15 0,19 1,72 1,72 1,51 1,50 1,38 1,43 1,32 1,31 Guarulhos 0,25 0,25 0,06 0,12 1,78 1,78 1,78 1,77 1,59 1,62 1,61 1,61 Santo Amaro 0,79 0,79 0,79 0,79 1,19 1,18 0,88 0,88 0,92 0,90 0,70 0,70 Osasco 0,48 0,48 0,58 0,57 1,42 1,42 0,94 0,94 1,17 1,13 0,79 0,82 Santo André - Capuava 0,64 0,64 0,56 0,57 1,46 1,46 1,40 1,40 1,18 1,22 1,16 1,15 São Bernardo do Campo 0,75 0,76 0,80 0,80 1,60 1,59 1,31 1,29 1,28 1,30 1,18 1,21 Cubatão (Vila Parise) 0,81 0,81 0,82 0,82 1,26 0,86 1,50 1,49 1,01 0,99 1,31 1,31 Sorocaba -0,43 -0,42 -0,35 -0,35 2,37 2,37 2,11 2,10 2,16 2,16 1,84 1,83 São José dos Campos 0,43 0,41 0,23 0,23 1,27 1,27 1,41 1,41 0,99 1,06 1,22 1,24

105

Foi analisada a estrutura vertical do dia 31 de outubro de 2006, pois foi o dia com mais

radiossondagens lançadas pela campanha do Projeto Políticas Públicas. As radiossondagens do dia

31 de outubro de 2006 (Figura 4. 31a) indicaram resfriamento entre as 03Z e 09Z e um ciclo diurno

de aquecimento, com temperatura máxima aproximadamente às 18Z. As previsões indicaram a

máxima temperatura antes da observação e não simularam o resfriamento observado entre as 03Z e

09Z. As temperaturas previstas são mais baixas que a observada nos níveis de pressão mais baixo.

Em níveis mais altos, a diferença entre previsões e observação diminui. A parametrização GS

(Figura 4. 31b) possui temperaturas mais altas que a BLK próximo a superfície(Figura 4. 31c), e um

ciclo diurno que penetra maiores altitudes, o que pode estar associado ao transporte feito pelo termo

de produção térmica da ECT, conforme discutido anteriormente. Mesmo sendo mais fria que a

observação, a parametrização GS é a que melhor representa o ciclo observado.

Para a velocidade do vento, a observação (Figura 4. 32a) mostra velocidades iguais ou inferiores

a 4m/s abaixo de 910hPa durante todo o dia 31 de outubro. Nos horários próximos a 9Z e 18Z, a

velocidade é inferior a 2m/s. Regiões de vento mais intenso, são encontradas logo acima, às 03Z em

860hPa, às 12Z em 860hPa e as 21Z acima de 900hPa. As 09Z verifica-se uma região com

velocidades fracas em 760hPa e entre 15Z e 18Z observa-se outra região com ventos fracos, em

880hPa. As simulações não indicam detalhadamente essas regiões de máxima velocidade e para as

duas parametrizações (Figura 4. 32b e Figura 4. 32c), nota-se a presença de uma região com

velocidade mais intensa entre as 09Z e as 12Z, que vai desde aproximadamente 900hPa até 740hPa.

Próximo à superfície, a parametrização GS apresentou velocidades mais intensas que a

parametrização BLK.

106

a)

b) c)

Figura 4. 31: Ciclo diurno da estrutura vertical (até 700hPa) da temperatura (ºC). A figura a) corresponde as observações com radiossondagens da Campanha de primavera e Campo de Marte. A figura b) corresponde ao BLK sem assimilação de dados e a figura c) a GS sem assimilação de dados

107

a)

b) c)

Figura 4. 32: idem a anterior, mas para a magnitude do vento (m/s).

108

4.4 Aplicação das previsões geradas pelo MM5 no modelo CIT

Conforme descrito na seção 3.3, os campos previstos pelo modelo MM5 foram utilizados no

CIT. Para avaliar este acoplamento, foram utilizadas duas previsões. Uma delas utiliza a

parametrização BLK sem assimilação de dados (Tabela 3. 5) e forneceu as previsões para o dia 30

de outubro de 2006. A outra, é uma previsão adicional, que também utilizou a parametrização BLK

(mas não consta na Tabela 3. 5) , e foi iniciada às 00Z do dia 31 de outubro de 2006 e foi utilizada

para gerar campos para esse mesmo dia. As previsões com parametrização BLK foram escolhidas

pois essa parametrização fornecem diretamente a temperatura a 2m do solo, sem a necessidade de

cálculos adicionais. No CIT, são calculadas as concentrações e as dispersões (utilizando campos

meteorológicos previamente fornecidos) de algumas espécies fotoquímicas, dentre elas o Ozônio

(O3), que segundo Muramoto et al. (1993) é o poluente que mais excedeu o padrão primário de

qualidade do ar, que é de 82ppb, segundo o relatório CETESB (2007). Muramoto et al. (1993),

utilizando dados de 1997 até 2001 de estações automáticas da CETESB mostrou essas

ultrapassagens são mais freqüentes na primavera e no outono.

No dia 30 de outubro de 2006, as observações mostram que as 14HL (hora local, a área com

maior concentração de ozônio, o centro da pluma, está localizada sobre a zona leste da RMSP

(Figura 4. 33a), enquanto as simulações indicam sua presença a oeste desta (Figura 4. 33b). As

concentrações máximas nos centros das plumas também são distintas: enquanto a observação

aponta 70ppb, a previsão mostra 90ppb.

Já às 18HL, as observações não indicam o deslocamento da pluma. Isso ocorre porque as

observações são espacialmente escassas e concentram-se mais sobre a RMSP do que fora dela

(Figura 3. 10). O que é visto, a leste do domínio na Figura 4. 33c é a medição local de ozônio nesta

região, interpolado de acordo com os valores das estações mais próximas (Figura 3. 10). Pode-se

dizer que depois das 14h, quando a pluma que já se formou sobre a RMSP é transportada, a

interpolação dos dados observados não representa o transporte do ozônio, mas apenas as medições

locais. Uma das simulações realizadas no trabalho de Martins (2006) indicou um deslocamento para

109

a mesma direção e com valor no centro da pluma de cerca de 150ppb, bastante semelhante ao obtido

neste trabalho. Às 22HL (Figura 4. 33f), a previsão indica que a pluma continua a se deslocar na

direção noroeste.

No dia 31 de outubro às 14HL, as observações apontam o centro da pluma de ozônio sobre a

Zona Oeste da RMSP (Figura 4. 34a) com concentração máxima de 100ppb. A previsão apresenta

uma pluma com concentração de cerca de 110ppb no centro (Figura 4. 34b), e com localização

bastante próxima ao dado observado. Assim, com a Figura 4. 35, que apresenta a variação diurna de

ozônio no centro das plumas observada e simulada às 14HL, nota-se que no centro da pluma

observada os valores estiveram um pouco menores do que no centro da pluma observada. Segundo

Carbone et al. (2007), isso ocorre porque os ventos simulados pelo MM5 são em geral mais

intensos que a observação, o que facilitou a dispersão dos percursores de ozônio e, além disso, as

temperaturas previstas pelo MM5 utilizando o esquema BLK também são menores, o que torna as

reações químicas menos eficientes e também dificulta a formação de ozônio.

Às 18HL do dia 31 de outubro, a pluma simulada foi transportada para fora da RMSP, na

direção oeste (Figura 4. 34d) e tinha seu valor máximo igual a 100ppb. Algumas simulações feitas

por Martins (2006) também apresentaram plumas que se deslocaram para oeste e apresentaram a

mesma ordem de grandeza para a concentração no centro da pluma. Esse deslocamento para oeste

prossegue às 22HL (Figura 4. 34f).

Nos dois dias analisados, o horário de concentração máxima do ozônio esteve por volta das

14HL, resultado semelhante ao obtido por Pérez et al. (2006), que analisou previsões para a região

metropolitana de Barcelona, Espanha. Uma das simulações de Martins (2006) mostrou que às 14HL

a pluma está se formando entre a Zona Norte e Zona Oeste da RMSP. Neste trabalho, no mesmo

horário, as simulações indicaram que a pluma formou-se à Oeste da RMSP (Figura 4. 33b e Figura

4. 34b).A formação máxima de ozônio costuma ocorrer em torno deste horário pois os seus

precursores, que são os compostos orgânicos voláteis e os óxidos de nitrogênio provenientes

principalmente dos escapamentos dos veículos automotores, acumulam-se sobre a RMSP em uma

110

quantidade ótima e com a presença de radiação solar , que possui intensidade elevada nessa hora do

dia, forma o ozônio. Às 17HL, Martins (2006) identificou a localização da pluma através de

simulações a noroeste da RMSP. Já neste trabalho, a localização da pluma nos dois dias em horários

próximos situa-se mais a oeste (Figura 4. 33d e Figura 4. 34d).

111

a) b)

c) d)

e) f)

Figura 4. 33: Concentrações do Ozônio (em ppb) em diferentes horários para dados observados e previsão para o dia 30 de outubro. As figuras (a), (b) e (c) representam a observação para as 14HL, 18HL e s 22HL respectivamente. As figuras (b), (d) e (f) representam a previsão para as 14HL, 18HL e s 22HL respectivamente.

112

a) b)

c) d)

e) f)

Figura 4. 34: Idem a Figura 4. 33, mas para o dia 31 de outubro de 2006.

113

Figura 4. 35: Concentração de ozônio no centro das plumas observada (em preto) e simulada (em verde) para as 14HL do dia 31 de outubro de 2006.

114

5. RESUMO E CONCLUSÃO

O presente trabalho analisou previsões do MM5, a fim de verificar as diferenças entre dois

tipos de parametrização da CLP fisicamente diferenciadas e o impacto da assimilação de dados nas

previsões. Essas previsões foram iniciadas as 00Z do dia 30 de outubro de 2006 e duraram 48h. A

área de estudo é a RMSP. Foram escolhidos esses dias pois neles ocorreram o lançamento de

radiossondagens meteorológicas e de ozônio, referente ao Projeto Políticas Públicas, e além de

analisar as diferenças entre as parametrizações, este trabalho também se propôs a acoplar os campos

do MM5 no modelo fotoquímico CIT para analisar a formação e dispersão do ozônio. Nos dois dias

analisados, não havia a presença de sistemas frontais sobre a RMSP.

Primeiramente, foi feita uma comparação entre as duas parametrizações para os casos com e

sem dados assimilados. Concluiu-se que a assimilação de dados causa impacto nos campos apenas

nos primeiros horários da previsão e no segundo dia de previsão, em que houve a previsão de

precipitação convectiva em algumas áreas do domínio. Aparentemente, o modelo reduziu as

diferenças entre previsões com e sem dados assimilados, devido ao relativo pequeno raio de

influência das observações que foi escolhido (16km) e também devido a pouca quantidade de

observações. Após o horário inicial, o modelo tender a manter dominante sua dinâmica interna.

Possivelmente, se o raio de influência fosse aumentado, maiores diferenças poderiam surgir. Por

outro lado, no segundo dia de previsão, a assimilação de dados voltou a causar diferenças nos

campos, principalmente nos horários em que foi identificada precipitação em algumas áreas do

domínio, o que sugeriria uma sensibilidade da parametrização de cumulus à assimilação de dados.

Próximo a superfície, a parametrização GS apresenta valores mais elevados de temperatura e

a diferença entre as simulações é ainda maior no horário de máxima temperatura, o que também foi

identificado por Pérez et al. (2006). A parametrização GS calcula a ECT, que é praticamente nula

durante a noite e máxima durante o dia, devido ao aquecimento da superfície e confinado abaixo de

2000m. O termo de produção térmica da ECT pode ter sido a responsável por um transporte

115

eficiente de calor sensível para os primeiros níveis da atmosfera, de modo que a parametrização GS

apresentou maiores valores de temperatura.

Quanto ao vento, os dois esquemas simularam de forma semelhante o ciclo diurno e a

estrutura vertical. Nos horários de máxima velocidade, o esquema BLK apresenta velocidades mais

elevadas. Com relação a razão de mistura, a parametrização GS apresentou-se mais úmida,

principalmente nas proximidades da superfície, o que pode ter ocorrido devido ao cálculo de

precipitação subgrade, que é feito apenas na parametrização GS.

A altura da CLP foi maior ao utilizar a parametrização BLK, devido sua estimativa ser

baseada no perfil vertical de altura. A BLK, como é uma parametrização não-local estimou um ciclo

diurno de temperatura da superfície que aqueceu níveis mais elevados na atmosfera, embora tenha

apresentado temperaturas menores que o esquema GS. No segundo dia de previsão, a altura da CLP

sofreu diversas flutuações devido a presença de nuvens na simulação.

Os campos de vento e temperatura próximos a superfície mostraram que os campos

meteorológicos respondem às principais características de relevo da RMSP, como a circulação vale-

montanha na região do Vale do Paraíba e variação de temperatura devido a altitude das serras da

Cantareira e Mantiqueira. A temperatura do esquema GS esteve maior que a BLK em praticamente

todas as áreas do domínio.A brisa marítima foi prevista pelos dois esquemas, mas a brisa prevista

pelo esquema GS penetrou mais adentro do continente, o que pode estar associado com maior

gradiente de temperatura entre o continente e o mar, já que no GS as temperaturas sobre o

continente foram maiores. A assimilação de dados, provocou variações no início das previsões,

quando o modelo ainda estava ajustando-se e no final das parametrizações, após ás 12Z do dia 31 de

outubro, quando modelo fez a previsão de precipitação, o que sugere que a parametrização de

cumulus seja sensível à assimilação de dados.

Fazendo uma validação do modelo através de estações da CETESB, obteve-se que o modelo

prevê o horário de máxima temperatura com 1 ou 2h de antecedência, o que pode estar associado ao

fato de que o modelo também antecipou a entrada da brisa marítima. Através dos cálculos de

116

correlação, erro quadrático médio e erro absoluto, verificou-se que as previsões previram bem a fase

da temperatura em todas as estações (as correlações foram superiores a 0,87) e para o vento, embora

algumas estações apresentaram correlações baixas, algumas destacaram-se com correlações

superiores a 0,6, o que é um valor alto para o vento, visto que este sofre grande influência das

características locais. A previsão que utilizou a parametrização GS com assimilação de dados foi a

que apresentou menor erro quadrático médio, tanto para o vento quanto para a temperatura,

resultado semelhante ao obtido por Shafran et al. (2000), sobre a região dos Grandes Lagos, no

Nordeste dos Estados Unidos. Comparando as observações com as radiossondagens, verificou-se

que elas representam bem o ciclo diurno, porém com temperaturas mais baixas e ventos mais fortes.

No entanto, as diferenças entre a observação e as previsões diminuem acima de 600hPa.

O acoplamento do MM5 ao CIT mostrou que a pluma simulada possui valor de pico maior

que a observação. Como as observações são escassas e mal distribuídas espacialmente, os campos

interpolados apresentaram problemas fora da RMSP e ao atingirem áreas com poucas observações.

Ou seja, através dos dados observados, fica difícil identificar um padrão de transporte da pluma de

poluentes. No entanto, ao comparar o presente trabalho com os resultados obtidos pelas previsões

com Martins (2006),verificou-se que o transporte da pluma de ozônio seguiu as mesmas direções:

Noroeste e Oeste, indicando que a circulação de brisa tem um importante papel no transporte do

poluente.

Finalizando, foi verificado que a parametrização que apresentou melhores resultados foi a GS. A

assimilação de dados ajudou a reduzir o erro quadrático médio, de modo que a associação

parametrização GS e assimilação de dados parece ser a melhor opção para estudos utilizando o

MM5 sobre a RMSP. O uso do modelo MM5 acoplado ao CIT apresentou resultados satisfatórios.

No entanto, ainda são necessários alguns ajustes nessa interface, tais como troca dos parâmetros de

topografia e uso do solo dentro do CIT para valores do MM5 (atualmente, usa-se do RAMS). Após

estes ajustes, pode facilmente ser operacionalizado, inclusive utilizando previsões do MM5 com a

117

parametrização GS, e não a BLK, desde que a temperatura a 2m e vento a 10m sejam calculados a

parte antes da geração dos campos no CIT.

118

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Sugere-se que mais previsões sejam feitas, nos moldes de Colle et al. (2002), que fizeram

uma verificação do MM5 através de várias simulações ao longo de várias regiões dos EUA. Desse

modo, seria possível verificar em que regiões o MM5 apresenta melhores resultados.

Várias previsões para estações do ano diferentes e modificando as parametrizações físicas

também é uma sugestão, para que sejam verificadas quais parametrizações são mais apropriadas

para cada estação do ano.

A melhoria da interface entre o MM5 e o CIT também é uma sugestão, colocando a

topografia e o uso do solo do MM5 no CIT, de modo que seja utilizada a parametrização GS ao

invés da BLK, desde que a temperatura a 2m e vento a 10m sejam calculados a parte antes da

geração dos campos no CIT.

Também é sugerido o uso de dados observacionais de LIDAR para comparar a altura da

CLP entre os dois esquemas utilizados. Novas simulações, com novos esquemas da CLP, também

são sugestões para novos trabalhos.

Além disso, sugere-se a realização de novos experimentos utilizando o módulo LITTLE_R,

modificando o raio de influência e incorporando novos dados nas assimilações.

119

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