avaliação da mecânica do sistema respiratório através da obtenção
TRANSCRIPT
JULIANA CARVALHO FERREIRA
Avaliação da mecânica do sistema respiratório
através da obtenção de curva PV em pacientes
com pneumonia intersticial idiopática
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências
Área de concentração: Pneumologia
Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho
São Paulo 2008
DEDICATÓRIA
Esta tese de doutorado é dedicada ao meu primeiro paciente,
“seu” Manoel, que veio de Alagoas para se tratar no Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo, e depositou em mim, na época acadêmica do quarto ano,
e nos médicos do HC, uma confiança ilimitada, sempre se
dizendo “feliz, sastifeito e contente”. E a todos os pacientes que
como ele procuram o HC e põem suas vidas em nossas mãos
todos os dias. Que esta e outras teses possam ajudar a
compreender e tratar melhor os nossos pacientes.
AGRADECIMENTOS
Tive a sorte de ter crescido e me formado cercada de pessoas muito
especiais, sem as quais esta tese nunca teria sido feita ou escrita.
Agradeço primeiro aos meus padrinhos: minha avó paterna Lila e meu
avô materno Magalha, duas pessoas muito diferentes mas igualmente
extraordinárias, batalhadoras, autodidatas, que lutaram muito pra que meus
pais pudessem ter mais oportunidades do que eles tiveram, e que são a
base do que minha família é hoje.
À Téia e ao Tonico, meus pais, por tudo: por agüentarem minha
boemia desde pequena, por terem me criado numa atmosfera de
honestidade e cheia de bons exemplos, por me apoiarem nas minhas
escolhas, e principalmente por terem me proporcionado uma infância feliz.
Pai, obrigada por ter insistido nas aulas de inglês, mas também ter
concordado com as aulas de saxofone no ano do cursinho. Mãe, obrigada
por aturar (e responder) minhas perguntas sobre o Big Bang tarde da noite,
minhas opiniões sobre tudo, pelos livros que você sempre me dava pra ler, e
pelo primeiro CD de jazz que ganhei. Também agradeço à Marina, mulher
do Tonico, pela paciência e carinho com que nos tratou todos esse anos e
pelo apoio que sempre me deu. Às minhas irmãs Fernanda, Laura e Luisa,
por terem partilhado tudo isso, e até sido vítimas de minhas primeiras
experiências científicas. E a toda a minha família, pois eu não poderia ter
tido mais sorte: vocês são incríveis, uma verdadeira Equipe.
Na Faculdade de medicina da USP, encontrei Professores cuja
influência foi marcante, que sempre me incentivaram e inspiraram a querer
um dia ser também pesquisadora. Meus agradecimentos especiais aos
Professores Paulo Lotufo e Isabela Benseñor, que me ensinaram clínica
médica, e me mostraram as maravilhas de Boston pela primeira vez, ao
Professor Paulo Saldiva, por ter me recebido na Harvard School of Public
Health em 2001 e me apresentado um mundo novo, aos Professores Milton
de Arruda Martins e Patrô, pela maneira incrível com que ensinam e formam
clínicos gerais e com que o Departamento de Clínica Médica influencia os
alunos da FMUSP.
No Departamento de Pneumologia, agradeço ao Professor Francisco
Vargas pelas oportunidades e apoio quando decidi fazer o Doutorado
“Sanduíche”, e aos Professores Alberto Cukier, Lisete Teixeira e Mário
Terra, que se tornaram também amigos. À Dra. Teresa (Doc) por ter me
ensinado tanta coisa e por pilotar a enfermaria com a sabedoria Oriental e o
bom humor Ocidental.
Agradeço também pela ajuda que recebi dos anestesistas do HC, em
especial a Rita, Paula e Fábio Benseñor. E aos residentes de UTI Ricardo e
Ivana, que algumas vezes foram comigo ao centro cirúrgico e ajudaram na
captura das curvas PV.
Meu enorme Obrigado aos pacientes que concordaram a participar
desse estudo, sem eles nada disso teria sido possível.
Agradeço ao apoio dado pela CAPES para que eu pudesse fazer o
estágio de Doutorado “Sanduíche” em Boston, onde convivi com pessoas
especiais. Ao Prof. Bob Kacmarek, por ter me ensinado tanto sobre
ventilação mecânica, por ter confiado em mim e me dado a liberdade de
conduzir 3 projetos mesmo com meus horários pouco ortodoxos e por me
ensinar a escrever papers. Aos colegas de laboratório Mohamed e Yafen,
pela companhia e por proporcionarem boas risadas, e principalmente à
querida Maria Paula, pelas dicas de irmã mais velha, os cafés da tarde, a
conversa divertida, e por ser essa pessoa maravilhosa e cativante,
representando tão bem o Brasil no exterior. Também agradeço aos queridos
Rogério e Ninive pelo apoio, companheirismo, e amizade, por estarem
sempre presentes nos momentos importantes, de mochila nas costas no
Grand Canyon ou copo na mão no Dugout. E ao Arnab, pelas eternas
discussões sobre curva PV que começavam com café e terminavam em
cerveja.
Também tive muita sorte em ter complementado minha formação
como pneumologista na UTI-Respiratória, pois não conheço nenhum lugar
melhor no mundo para aprender e trabalhar. Me sinto honrada de participar
do time “júnior” da UTI pneumo , e ter convivido nos últimos 5 anos com
pesquisadores de alto nível e pessoas tão incríveis, sempre dispostas a
discutir um caso, um protocolo, ajudar com um bug do Labview, com bom
humor e espírito de equipe. Obrigada a todos, sem exceção, mas em
especial à Carmen, nossa secretária, por tudo, à Janaína, pela amizade e
companheirismo, à Valdelis, pelo exemplo e por ter me levado ao MECOR,
ao Maurão, pelas mil ajudas com o Labview, ao Schettino e Pedro Caruso,
por me acolherem no Laboratório de Ventilação Mecânica e me ensinarem a
trabalhar com simuladores. Ao Rogério, pela ajuda com as coisas da Pós-
Graduação, pela inspiração da ROJOMAR, e por ser um grande amigo. Ao
João Marcos e Marcelo Jacó, companheiros de doutorado e amigos
queridos, pela ajuda com os dados, e por partilharem de opiniões
irreverentes sobre o papel das pequenas vias aéreas na FPI. Ao Daniel
Deheizelein, por ter me dado a oportunidade de trabalhar na UTI do AC
Camargo, o segundo melhor lugar do mundo pra trabalhar, por sempre
pegar no meu pé pra escrever os papers, e por ser um chefe fora de série.
Também agradeço muito ao Marcelo Amato, por sempre achar um tempo
pra discutir dados, estatística ou simplesmente idéias malucas de projetos
ousados, por fazer do Labview o programa com melhor ajuda on-line que
existe, por sempre incentivar os “juniores” a dar suas opiniões e participarem
ativamente dos projetos de pesquisa da UTI e do LIM, por botar lenha na
fogueira e SEMPRE enxergar alguma coisa interessante e uma maneira de
melhorar qualquer projeto, por ser uma excelente companhia no trabalho e
depois do trabalho, e por ser uma inspiração para todos da UTI pneumo.
Ao Carlos Carvalho, por ter me aberto as portas para a UTI pneumo,
o “Dream Team”, por ter me ensinado terapia intensiva, pneumologia,
radiologia, metodologia científica e fisiologia, por sempre ter me incentivado
em tudo, por agüentar minhas crises existenciais durante a tese, e sempre
me animar quando eu ficava descrente, já que essa palavra não parece
fazer parte do seu dicionário. Obrigada por ser o melhor exemplo que
conheço do que é ser Professor Universitário, por ter feito uma UTI de 4
leitos ser tão grande graças a sua dedicação, seu espírito de equipe e seu
enorme conhecimento. Obrigada por ter me dado asas pra tocar projetos na
UTI, no Laboratório de VM, e por sempre achar que ainda dava pra girar
mais um prato. Por ter me aberto as portas pra dar aulas em outros
Departamentos e outras Universidades, pra ver pacientes em outros
hospitais, onde aprendi muito. Por ter me apoiado incondicionalmente
quando decidi ir pra Boston no meio do meu Doutorado, e por ter acreditado
que eu ia voltar e terminar esta tese. Por ser o responsável pelo clima de
amizade, companheirismo, otimismo e bom humor que domina a UTI. Por
ser um chefe fora de série, para mim e pra todos na UTI Pneumo, fazendo
da UTI o que ela é hoje. Por ser um orientador que orienta de verdade, e por
ter sido tão legal comigo desde que nos conhecemos.
Agradeço a maior sorte de todas, ter conhecido meu marido Adriano
numa ATS há 4 anos. Dri, obrigada por ter me ensinado a usar o Grace pra
fazer os gráficos dessa tese, por ter me ajudado a corrigir o texto, por ter
várias vezes discutido comigo os resultados e seus significados, e por
acreditar nessa idéia e me incentivar a levá-la adiante. Obrigada pela sua
paciência e encorajamento quando eu ficava desanimada com a tese, por
ficar acordado até tarde comigo fazendo gráficos, por sempre me apoiar. E
por ser meu companheiro, meu amigo, meu amor, e por ter me dado a
alegria de ser mãe. Sem você, tudo perderia um pouco da graça. Obrigada
também ao Eduardo, nosso filho, que tem sido tão bonzinho na minha
barriga e que agüentou firme várias madrugadas pra que essa tese ficasse
pronta, e por dividir com esse trabalho as minhas atenções.
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Lista de Abreviaturas
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
Resumo
Summary
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 Pneumonias Intersticiais Idiopáticas 2
1.2 Fibrose Pulmonar Idiopática 3
1.3 Patogênese da Fibrose Pulmonar Idiopática 5
1.4 Acometimento de pequenas vias aéreas na FPI 6
1.5 Curvas Pressão-Volume nas Pneumonias intersticiais fibrosantes 10
2 OBJETIVOS 13
3 MÉTODOS 15
3.1 Aspectos éticos 16
3.2 Pacientes 16
3.3 Equipamentos utilizados 17
3.4 Realização da curva pressão-volume 21
3.5 Análise dos dados 23
4 RESULTADOS 33
4.1 Aspectos clínicos 34
4.2 Curvas Pressão – Volume 39
4.3 Ajuste das curvas com os modelos exponencial e sigmóide 50
4.4 Curvas PV normalizadas 54
5 DISCUSSÃO 58
5.1 Aspectos gerais 59
5.2 Limitações do Estudo 60
5.3 O ajuste sigmóide para curvas PV na FPI 62
5.4 Comprometimento de pequenas vias aéreas na FPI 66
5.5 Normalização das curvas PV 68
6 CONCLUSÕES 69
7 REFERÊNCIAS 71
APÊNDICES
LISTA DE ABREVIATURAS PII - Pneumonias Intersticiais Idiopáticas ATS/ERS - American Thoracic Society / European Respiratory Society FPI - fibrose pulmonar idiopática UIP - pneumonia intersticial usual PH - Pneumonite de Hipersensibilidade NSIP - Pneumonia intersticial não específica TCAR - tomografia computadorizada de alta resolução Curvas PV - Curvas Pressão-Volume SDRA - Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo CRF -Capacidade Residual Funcional CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa CAPPesq - Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo FMUSP - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo UTI – Unidade de terapia Intensiva LIM-09 – Laboratório de Investigação Médica -09 PPROX - pressão proximal na via aérea PES - pressão esofágica PEEP - pressão expiratória ao final de expiração CPAP - Positiva Contínua de Vias Aéreas PFLEX - ponto de inflexão inferior da curva PV CPT - capacidade pulmonar total EELV - volume pulmonar expiratório final VR - volume residual CV - Capacidade vital DRGE - Doença do Refluxo Gastro-Esofágico VEF1% - porcentagem do valor predito para o Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo CVF% - porcentagem do valor predito para a Capacidade Vital Forçada CPT% - porcentagem do valor predito para a Capacidade Pulmonar Total DLCO% - porcentagem do valor predito para a Difusão por Monóxido de carbono FIO2 - fração inspirada de oxigênio IRpA - Insuficiência Respiratória Aguda
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Dados demográficos e diagnóstico histológico dos pacientes
Tabela 2. Dados clínicos dos pacientes
Tabela 3. Dados clínicos e funcionais nos grupos de pacientes
Tabela 4. Parâmetros obtidos com o ajuste exponencial para cada paciente
Tabela 5. Parâmetros obtidos com o ajuste sigmóide para cada paciente
LISTA DE FIGURAS Figura 1. Esquema de captura de dados Figura 2. Exemplo do método de identificação da região de interesse para construção da curva PV. Figura 3. Cálculo do Ponto de Inflexão Inferior (PFLEX) Figura 4. Curva Pressão – Volume teórica, ajustada com o modelo sigmóide, mostrando os parâmetros a,b,c e d Figura 5. Curva PV inspiratória do paciente 1, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 6. Curva PV inspiratória do paciente 2, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 7. Curva PV inspiratória do paciente 4, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 8. Curva PV inspiratória do paciente 5, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 9. Curva PV inspiratória do paciente 7, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 10. Curva PV inspiratória do paciente 8, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 11. Curva PV inspiratória do paciente 9, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 12. Curva PV inspiratória do paciente 10, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 13. Curva PV inspiratória do paciente 11, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 14. Curva PV inspiratória do paciente 12, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide. Figura 15. Curva PV normalizada para todos os pacientes, ajustada para o modelos sigmóide. Figura 16. Curva PV normalizada para os pacientes com FPI, ajustada para o modelo sigmóide. Figura 17. Curva PV normalizada para os pacientes com PH, ajustada para o modelo sigmóide.
Ferreira, JC. Avaliação da mecânica do sistema respiratório através da
obtenção de curva PV em pacientes com pneumonia intersticial
idiopática [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de
São Paulo; 2008.
O objetivo desse estudo foi avaliar o comprometimento de pequenas vias
aéreas na Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI) analisando curvas Pressão-
Volume (PV) do sistema respiratório. Coletamos curvas PV de doze
pacientes antes da biopsia pulmonar, que confirmou FPI em sete pacientes
e Pneumonite de Hipersensibilidade em cinco. Todas as curvas foram
ajustadas com modelo sigmóide, V = a + b / (1 + e -(P-c/d)), e exponencial
V = A – B . e -k.P (aplicado apenas à parte superior). O modelo exponencial,
apesar do bom ajuste à parte superior, não representou a parte inicial da
curva, gerando parâmetros sem significado. O modelo sigmóide ajustou bem
toda a curva e gerou parâmetros com significado fisiológico, que sugerem a
presença de colapso de pequenas vias aéreas na FPI.
Descritores: 1. Fibrose Pulmonar/fisiopatologia; 2. Mecânica respiratória; 3. Sistema Respiratório; 4. Doenças pulmonares intersticiais.
Ferreira, JC. Evaluation of the mechanics of the Respiratory System
using PV curves in patients with Idiopathic Pulmonary Fibrosis [tese].
São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2008.
The objective of this study was to evaluate small airways compromise in
Idiopathic Pulmonary Fibrosis (IPF) using pressure-volume (PV) curves of
the respiratory system. We collected PV curves from twelve patients before
lung biopsy, which confirmed IPF in seven patients and Hipersensitivity
Pneumonia in five. All curves were fitted with a sigmoid model,
V = a + b / (1 + e -(P-c/d)), and an exponential model, V = A – B . e -k.P (applied
only to the superior part of the curve). The exponential model, despite having
a good fit to the superior part of the curve, did not represent the initial part,
and yielded parameters with no physiological meaning. The sigmoid model
had a good fit to the entire curve and yielded parameters with physiological
meaning, suggesting the presence of small airways collapse in IPF.
Descriptors: 1. Pulmonary Fibrosis/ physiopathology; 2. Respiratory Mechanics; 3. Respiratory System; 4. Interstitial Lung Diseases .
1 – INTRODUÇÃO
2
1. INTRODUÇÃO
1.1. Pneumonias Intersticiais Idiopáticas
Pneumopatia intersticial difusa é um termo genérico que inclui um
largo espectro de doenças pulmonares que têm em comum a manifestação
de dispnéia e/ou tosse associados a infiltrados intersticiais difusos e
bilaterais à radiografia e tomografia computadorizada de tórax 1. As
Pneumonias Intersticiais Idiopáticas (PII) são um subgrupo das
pneumopatias intersticiais difusas de causa desconhecida, caracterizadas
por graus variados de fibrose e inflamação do interstício pulmonar, alvéolos,
vias aéreas e vasos sangüíneos. Caracteristicamente, as PIIs têm evolução
crônica e início insidioso, sendo o diagnóstico muitas vezes feito numa fase
mais avançada da doença 2.
As diversas formas de PII já foram consideradas como espectros de
uma mesma doença, pois possuem em comum vários aspectos clínicos e
radiológicos, o que dificulta uma classificação utilizando apenas essas
ferramentas. Atualmente entende-se que vários ramos desse espectro
compõe patologias distintas e que uma classificação histopatológica é
fundamental para definir tratamento e principalmente prognóstico das PIIs. A
última classificação da American Thoracic Society / European Respiratory
Society (ATS/ERS) 3 é baseada unicamente em achados histopatológicos,
obtidos geralmente por biopsia pulmonar a céu aberto, e divide as PII em:
- Fibrose pulmonar idiopática
3
- Pneumonia intersticial não específica
- Pneumonia intersticial descamativa
- Bronquiolite respiratória associada à doença intersticial pulmonar
- Pneumonia intersticial aguda
- Pneumonia em organização criptogênica
- Pneumonia intersticial linfóide
1.2. Fibrose Pulmonar Idiopática
A forma mais comum de pneumonias intersticiais idiopáticas é a
fibrose pulmonar idiopática (FPI), acometendo principalmente o sexo
masculino. A prevalência é estimada em 14 a 43 casos por 100.000
habitantes e a incidência anual em 7 a 16 casos/100.000, dependendo do
critério diagnóstico usado 4. Tanto a prevalência quanto a incidência
aumentam com a idade. Os sintomas mais freqüentes são dispnéia de início
gradual e tosse seca, sendo raras as manifestações sistêmicas 2. A maioria
dos casos é esporádica, atingindo mais homens do que mulheres,
geralmente a partir da sexta década de vida, mas há raros casos familiares
descritos 5, 6.
O padrão histológico característico da FPI é denominado pneumonia
intersticial usual (UIP), caracterizado pelo acometimento heterogêneo do
parênquima pulmonar com áreas de fibrose localizadas predominantemente
na região subpleural. O achado histológico típico é a concomitância de áreas
normais, inflamação, fibroproliferação e fibrose terminal em regiões
4
relativamente próximas. A presença de fibrose avançada e alvéolos
relativamente normais na mesma região do parênquima é denominada
heterogeneidade espacial, e a presença de processo fibroproliferativo com
focos de fibroblastos jovens, ao lado de áreas de fibrose avançada com
deposição de colágeno e alteração da arquitetura pulmonar, é denominada
heterogeneidade temporal 7.
A função pulmonar caracteristicamente revela um padrão restritivo
com redução dos volumes pulmonares, e nos casos mais avançados
diminuição da difusão do monóxido de carbono. Hipoxemia e dessaturação
de oxigênio podem surgir inicialmente aos esforços e, em fases mais
avançadas, mesmo ao repouso.
Os achados radiológicos costumam revelar opacidades intersticiais
difusas e redução do volume pulmonar. A Tomografia de tórax,
preferencialmente de alta resolução, apresenta opacidades em vidro
despolido periférico e bi-basal associado à distorção arquitetural, incluindo
faveolamento e bronquiectasias de tração subpleural 8.
Outras pneumonias intersticiais podem ter apresentação semelhante
à FPI em sua forma crônica, entre elas a Pneumonite de Hipersensibilidade
(PH) crônica e a Pneumonia intersticial não específica (NSIP). A NSIP é uma
Pneumonia Intersticial Idiopática de evolução mais lenta e com menor
mortalidade que a FPI, porém em suas formas mais graves e avançadas
pode assemelhar-se à FPI 7. A PH é uma pneumonia intersticial difusa
causada por diversos agentes inalatórios, que pode gerar um quadro agudo
e reversível caso o agente agressor seja evitado, ou apresentar evolução
5
crônica quando há exposição prolongada ao estímulo antigênico em
indivíduo susceptível. A PH crônica se assemelha à FPI em suas
características clinicas, funcionais e radiológicas 1, e ambas fazem parte do
subgrupo de pneumopatias usualmente chamado de Pneumonias
Intersticiais fibrosantes.
A evolução da FPI costuma ser crônica e progressiva, com sobrevida
média de cinco anos 2, 9, e até o momento nenhum tratamento se mostrou
benéfico para redução da mortalidade 10. Um dos motivos da inexistência de
tratamento efetivo é o atual desconhecimento dos fatores desencadeantes e
de perpetuação da lesão pulmonar, em especial nas fases iniciais,
oligossintomáticas, da doença.
1.3. Patogênese da Fibrose Pulmonar Idiopática
A patogênese da FPI não é bem conhecida, e a seqüência de eventos
que levam ao desencadeamento e perpetuação da lesão são ainda pouco
entendidos.
Alguns fatores como tabagismo, infecções, poluentes ambientais,
aspiração crônica de conteúdo gástrico e medicações foram apontados
como possíveis desencadeantes, porém sem confirmação definitiva 11. Um
ou mais desses fatores levariam a uma série de agressões inespecíficas ao
parênquima pulmonar e à barreira alvéolo-capilar, desencadeando um
processo de inflamação e reparo repetitivos que levam à fibrose do
parênquima 12.
6
Episódios de inflamação repetitiva, no passado considerados como o
mecanismo inicial de lesão, parecem ser um fenômeno pouco proeminente
na FPI, e teorias atuais sugerem que a FPI é decorrente de um mecanismo
de reparação tecidual anormal, que leva a formação de focos de fibrose.
Segundo essa teoria, um fator agressor desencadeante leva à destruição do
pneumócito tipo com conseqüente exposição da membrana basal alveolar.
Os pneumócitos tipo II não são capazes de restaurar a membrana basal e o
processo de reparação ocorre de maneira anormal, através da proliferação
de fibroblastos e miofibroblastos, acúmulo de matriz extracelular,
principalmente colágeno, e fibrose 13. Segundo esse modelo, a participação
de células inflamatórias é mínima e não essencial para a perpetuação da
lesão.
O surgimento desse processo de reparação tecidual anormal pode
depender de fatores genéticos, imunológicos e de desencadeantes
ambientais.
1.4. Acometimento de pequenas vias aéreas na FPI
Como discutido acima, a maioria dos estudos sobre a patogênese da
FPI concentra-se nas alterações do parênquima alveolar, com poucos
relatos sobre a morfologia e participação das vias aéreas no
desencadeamento da lesão tecidual. O acometimento de vias áreas na FPI
classicamente tem sido considerado ausente ou como secundário às
alterações parenquimatosas, ou seja, sem importância na patogênese da
7
doença. Além disso, muitos dos estudos que avaliaram especificamente o
acometimento de pequenas vias aéreas na FPI foram feitos antes da nova
classificação histológica das PII, em 2002 3, e podem ter incluído pacientes
que na verdade tinham outras doenças intersticiais pulmonares que não a
FPI.
Desse modo, as evidências de acometimento de pequenas vias
aéreas na FPI são ainda escassas e novos estudos necessários para que o
papel das pequenas vias aéreas na patogênese da FPI seja mais bem
entendido.
1.4.1. Evidências Radiológicas
A introdução da tomografia computadorizada de alta resolução
(TCAR) como ferramenta de avaliação de pacientes com FPI, de utilização
relativamente recente, revelou o achado freqüente de espessamento de
paredes bronquiolares, bronquiolectasias de tração e formações císticas 14.
As alterações tendem a ser difusas, porém heterogêneas, não restritas às
regiões subpleurais, mas acometendo também pequenas vias aéreas.
Recentemente, um estudo tomográfico que incluiu 18 pacientes com FPI e
12 controles, Rocha et al. 15 demonstrou a ocorrência de colapso de
pequenas vias aéreas e alveolar em decúbito dorsal, durante a respiração
espontânea.
8
1.4.2. Evidências Funcionais
Quanto às alterações funcionais, Ostrow, em 1973 16, publicou os
primeiros relatos sugerindo a presença de anormalidades obstrutivas em
pacientes com fibrose pulmonar de diversas etiologias, entre elas a FPI.
Entretanto, as causas de fibrose pulmonar no grupo de pacientes estudadas
eram diversas e não havia confirmação histológica, além da alta prevalência
de tabagismo nos pacientes estudados, o que dificulta a sua interpretação.
Num dos principais artigos sobre o tema, Fulmer et al. 17, em 1977,
avaliaram 18 pacientes com diagnóstico clínico, radiológico e histopatológico
de fibrose pulmonar. O estudo envolvia a realização de testes funcionais e
revisão das lâminas de biopsia pulmonar, com a intenção de correlacionar
os achados histolopatológicos e funcionais, com especial atenção para as
pequenas vias aéreas. Os pesquisadores encontraram fibrose peribrônquica
com estreitamento do diâmetro das vias aéreas em 67% dos casos e
alterações da complacência dinâmica (queda da complacência com o
aumento da freqüência respiratória, indicando disfunção das pequenas vias
aéreas) em 59% dos pacientes. Houve uma boa correlação entre os
achados morfológicos e funcionais. Em 1988, Myre et al. 18 demonstraram
obstrução das pequenas vias aéreas e presença de fibrose peribronquiolar
em 13 pacientes com FPI em estágio inicial. Recentemente, Salge et al. 19
demonstraram diminuição da complacência dinâmica com o aumento da
freqüência respiratória em um grupo de pacientes com FPI.
9
Entretanto, há também estudos contraditórios em que fluxo
expiratórios normais ou até aumentados foram encontrados em pacientes
com pneumopatias fibrosantes 20, 21. Parte da dificuldade de interpretação
desses resultados se deve ao fato de muitos desses estudos terem incluído
pacientes com pneumopatias fibrosantes de diversas etiologias, quando a
classificação das PII era diferente da classificação atual 3.
1.4.3. Evidências Morfológicas
Há também evidências do acometimento das pequenas vias aéreas
em termos morfológicos na FPI. Além dos estudos citados acima, que
demonstraram alterações de pequenas vias aéreas (fibrose peribronquiolar,
inflamação bronquiolar e bronquiolite) em grupos mais heterogêneos de
pneumonites fibrosantes, e as correlacionaram com alterações funcionais,
há estudos morfológicos evidenciando alterações de pequenas vias aéreas
na FPI 17 e na Pneumonia de Hipersensibilidade (PH) 22.
Um estudo recente avaliou e quantificou alterações morfométricas de
pequenas vias aéreas em pacientes com FPI, PH crônica, NSIP e as
comparou a vias aéreas de pessoas normais 23. Foi caracterizado
espessamento significativo das áreas das diferentes camadas da parede de
pequenas vias aéreas de pacientes em relação às medidas de pulmões
normais, mas não houve diferença significante entre pacientes com FPI, PH
crônica ou NSIP.
10
Há também evidências indiretas de acometimento de pequenas vias
aéreas na FPI, entre elas a presença ruídos de crepitações durante a
respiração espontânea. O ruído de crepitação foi associado à re-abertura de
pequenas vias aéreas em animais e em seres humanos 24-26. Esse achado
clínico freqüentemente presente em pacientes com FPI sugere a ocorrência
de abertura e fechamento cíclicos das pequenas vias aéreas durante a
respiração espontânea nos pacientes portadores de FPI.
1.5. Curvas Pressão-Volume nas Pneumonias Intersticiais fibrosantes
Curvas Pressão-Volume (PV) têm sido usadas por muitos anos para
descrever características mecânicas do sistema respiratório e compreender
a fisiologia pulmonar 27-29.
Em pacientes com insuficiência respiratória aguda, especialmente em
pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e
necessidade de suporte ventilatório, as curvas PV foram utilizadas para
diagnóstico, prognóstico e ajuste da estratégia de ventilação mecânica 30-32.
Em pacientes com Pneumonias Intersticiais fibrosantes, curvas PV
foram estudadas como uma ferramenta para avaliação funcional. O ajuste
das curvas PV por uma equação exponencial aplicada à porção superior do
ramo expiratório foi utilizada para caracterizar a gravidade e até o
prognóstico dos pacientes 33, 34. A porção inferior do ramo expiratório,
próximo à Capacidade Residual Funcional (CRF), desvia-se do formato
exponencial e foi sistematicamente excluída das análises, por acreditar-se
11
que a informação contida na parte inferior da curva não era importante 33-35.
O significado fisiológico da menor inclinação da curva PV (queda da
complacência) nos pacientes com PII nas regiões iniciais da curva PV,
(baixos volumes e baixas pressões) e suas implicações receberam pouca
atenção na literatura. Regiões de menor inclinação na fase inicial das curvas
PV foram atribuídas ao fechamento de pequenas vias aéreas em pacientes
normais em volumes pulmonares muito baixos 36, 37 e ao colapso alveolar e
fechamento de pequenas vias aéreas na SDRA 29, 38. Até o presente
momento, encontra-se aberta a discussão a respeito da melhor metodologia
a ser empregada no estudo da relação PV, assim como ainda se questiona
qual a real informação que pode ser dela extraída, tanto para compreensão
da fisiologia pulmonar quanto para o ajuste da estratégia ventilatória em
pacientes sob ventilação mecânica 28, 29 .
Ao invés de excluir os pontos da parte inicial da curva PV para ajustá-
la com um modelo exponencial, uma abordagem melhor poderia ser utilizar
um modelo que incluísse todos os pontos da curva coletada e que seja
capaz de descrever todas as mudanças de inclinação da curva à medida
que os pulmões são insuflados. Equações sigmóides, ajustadas para todos
os pontos coletados, foram usadas em curvas PV inspiratórias de indivíduos
normais 39 e pacientes com SDRA 40-42, mas nunca para pacientes com FPI.
Uma análise das curvas PV inspiratórias de pacientes com FPI
usando um modelo sigmóide ajustado a todos os pontos da curva pode
revelar informações sobre as propriedades mecânicas do sistema
respiratório desse pacientes, em especial sobre a presença de colapso de
12
pequenas vias aéreas. Tal modelo poderia não somente gerar parâmetros
com significado fisiológico, mas, mais importante, ajudar a compreender
melhor a fisiopatologia da FPI, o que, por sua vez, poderá contribuir para a
busca de tratamentos efetivos.
2 – OBJETIVOS
14
2. OBJETIVOS
Nossos objetivos nesse estudo foram:
a) Avaliar o envolvimento das pequenas vias aéreas na Fibrose
Pulmonar Idiopática, utilizando a curva pressão-volume do sistema
respiratório;
b) Comparar os modelos exponencial e sigmóide de ajuste do ramo
inspiratório da curva pressão-volume em pacientes com Fibrose
Pulmonar Idiopática, e determinar o mais adequado
c) Determinar as diferenças entre as curvas pressão-volume de
pacientes com Fibrose Pulmonar Idiopática e de pacientes com outros
tipos de Pneumonia Intersticial Idiopática.
3 – MÉTODOS
16
3. MÉTODOS
3.1. Aspectos éticos
Esse estudo foi devidamente aprovado pela Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (CONEP n° CAAE-0582.0.015.000-04) e pela Comissão
de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (CAPPesq n°
687/04).
Os pacientes convidados a participar do estudo foram devidamente
informados sobre os procedimentos relacionados ao estudo, o motivo do
estudo, seus potenciais riscos e da não obrigatoriedade de participação,
através do termo de consentimento pós-informação. Todos os pacientes
incluídos no estudo concordaram com sua participação e assinaram o termo
de consentimento pós-informação.
3.2 Pacientes
A coleta de dados foi realizada no Hospital das Clinicas da Faculdade
de Medicina da USP no intervalo entre Outubro de 2004 a Junho de 2005.
Durante o período de coleta de dados, foram convidados a participar do
estudo todos os pacientes em acompanhamento no Ambulatório de Doenças
Pulmonares Intersticiais do Serviço de Pneumologia do Hospital das Clinicas
17
da FMUSP encaminhados para biopsia pulmonar a céu aberto para
confirmação diagnóstica de pneumonia intersticial.
Os critérios para indicação da biopsia eram clínicos e a indicação feita
pelos médicos assistentes do ambulatório, sem interferência do pesquisador.
Dados demográficos, de duração dos sintomas, exposição ambiental e
tabagismo, além de dados de radiografias de tórax, tomografias e provas de
função pulmonar foram coletados.
Doze pacientes foram incluídos no estudo nesse período. Desses,
apenas um paciente não foi recrutado no Ambulatório de Doenças
Intersticiais Pulmonares, mas sim durante sua internação da UTI
Respiratória do Hospital das Clínicas da FMUSP. O paciente estava
iniciando a investigação de pneumonia intersticial e foi internado na UTI por
Insuficiência Respiratória Aguda, sendo necessária a intubação e aplicação
de ventilação mecânica.
3.3 Equipamentos utilizados
Nesse estudo, utilizamos um sistema especialmente desenvolvido no
Laboratório de Investigação Médica (LIM-09) da Disciplina de Pneumologia
da FMUSP para coleta de dados de mecânica pulmonar em projetos de
pesquisa. O sistema utiliza dois canais de medida de pressão e um de fluxo,
permitindo o registro simultâneo da pressão proximal na via aérea (PPROX),
da pressão esofágica (PES) e dos fluxos respiratórios, transmitidos para um
microcomputador para análise dos resultados online e posteriormente offline.
18
Um gerador de fluxo contínuo e constante de O2 (Fluxômetro de alta
precisão - Intermed - São Paulo) era conectado à rede de oxigênio hospitalar
para fornecer um fluxo lento, de 1 a 2 L/min, e gerar uma curva pressão-
volume (PV) quase-estática 43. O sistema era conectado à rede hospitalar de
oxigênio através de uma válvula redutora de pressão regulada à pressão de
6 a 7 atmosferas. A necessidade de uma fonte de alta pressão é a garantia
de um fluxo constante mesmo ao final da inspiração, quando as elevadas
pressões em vias aéreas tendem a diminuir o fluxo inspiratório.
O sistema de aquisição de dados era composto por dois sensores de
pressão (Valydine® MP45 ± 100 cmH2O -Engineering Corp. - Northridge CA,
EUA) para o registro de PPROX e PES, e por um sensor de fluxo do tipo
transdutor diferencial de pressão (Valydine® DP45 ± 2 cmH2O Engineering
Corp. - Northridge CA, EUA). Um cateter esofágico (SmartCath Esophageal
Cathether®, Viasys, Palm Springs CA, EUA), dotada de um balão inflável de
10 cm de extensão na sua extremidade, era posicionado no terço distal do
esôfago e conectado a um dos transdutores de pressão para registro da
variação da PES.
O pneumotacógrafo (Hans Rudolph® - Kansas OH, EUA) e o
transdutor diferencial de pressão eram conectados em série à cânula de
intubação oro-traqueal por uma extensão tubular de látex. Os dados obtidos
eram digitalizados por uma placa analógico-digital (National Instruments –
Texas, EUA) e transmitidos para o microcomputador. As informações eram
manipuladas no microcomputador por um programa (LabView® National
Instruments – Texas TX, EUA) configurado especificamente para manusear
19
dados de mecânica respiratória, desenvolvido no LIM-09 e UTI-Respiratória
do Hospital das Clínicas da FMUSP. O programa inclui uma rotina de coleta
de curva pressão-volume, que permite a visualização da curva durante sua
captura online, armazenamento e análise offline (Figura 1). A freqüência de
aquisição dos sinais durante a captura da curva PV foi programada em
50 Hz. Antes de monitorar cada paciente, era feita a calibração dos
transdutores de pressão utilizando-se uma coluna de água graduada em
centímetros (zero e 20 cmH2O acima da pressão atmosférica). O sensor de
fluxo também recebia uma calibração com auxílio de uma seringa de
precisão com volume de 2 L.
20
Figura 1. Esquema de captura de dados
21
3.4 Realização da curva pressão-volume
A curva pressão-volume era realizada no Centro Cirúrgico,
imediatamente antes da realização da biopsia pulmonar. O paciente era
anestesiado e submetido à intubação oro-traqueal pelo anestesista
responsável, conforme protocolo estabelecido pela equipe de anestesistas,
sem nenhuma interferência do pesquisador. O anestesista utilizava
geralmente a combinação de dois agentes anestésicos endovenosos,
freqüentemente, mas não necessariamente, midazolan e fentanil, associado
ao uso de agente inalatório, geralmente isoforane, e um bloqueador neuro-
muscular (atracúrio).
A maioria dos pacientes chegava ao centro cirúrgico com um balão
esofágico locado no terço distal do esôfago, após passagem por via trans-
nasal, realizada com o paciente acordado, em respiração espontânea,
algumas horas antes do procedimento cirúrgico, para realização de testes
funcionais pulmonares 19. Seu posicionamento era ajustado com auxílio de
um teste de oclusão em que o indivíduo executava esforços inspiratórios e
expiratórios alternados, registrando-se as variações de PPROX e PES 44. A
posição ideal para o balão esofágico era aquela que produzisse relação
PPROX/ PES mais próxima da unidade. Nos pacientes que não realizaram
os testes funcionais prévios à biopsia, o balão esofágico foi passado no
centro cirúrgico, após a indução anestésica, sob visão direta com a ajuda de
22
um laringoscópio. Nesse caso, não era possível verificar seu posicionamento
adequado. A PES foi utilizada como meio de se aferir a pressão pleural.
Apos a intubação, o paciente era mantido sob ventilação mecânica,
com parâmetros ventilatórios estabelecidos pelo anestesista, sem
interferência do pesquisador. O protocolo do grupo de anestesistas para
ventilação mecânica nas cirurgias torácicas utiliza modo volume controlado,
com volumes correntes entre 8 e 10 mL/Kg de peso ideal, freqüências
respiratórias entre 12 e 15, fração inspirada de oxigênio entre 0,3 e 0,4 e
pressão expiratória ao final de expiração (PEEP) de 5 cmH2O. Os pacientes
eram monitorados com monitor cardíaco e de pressão arterial, oximetria de
pulso e CO2 no ar expirado (ETCO2).
Durante a indução anestésica, o pneumotacógrafo era ligado a uma
fonte de calor para mantê-lo aquecido às condições corporais de
temperatura e em seguida o sistema de aquisição era calibrado.
Assim que o anestesista considerava que o paciente estava bem
sedado, paralisado e estável na ventilação mecânica, era iniciada a
realização da curva pressão-volume.
Antes da coleta da curva PV propriamente dita, era realizada uma
manobra de homogeneização da história pulmonar utilizando Pressão
Positiva Contínua de Vias Aéreas (CPAP) de 40 cmH2O por 40 segundos,
aplicada pelo ventilador mecânico da anestesia, seguida de desconexão do
ventilador e expiração passiva até a Capacidade Residual Funcional (CRF).
Ao final da expiração passiva, o fluxômetro era conectado em série
aos sensores de pressão de vias aéreas e fluxo, os quais por sua vez
23
estavam conectados à cânula oro-traqueal, e iniciava-se a realização da
curva PV. O fluxo constante, de 1 a 2 L/min, era mantido até que a PPROX
atingisse 40 cmH2O. Em seguida, o fluxômetro era desconectado e o
paciente realizava uma expiração passiva até a CRF. A aquisição de dados
era interrompida nesse ponto e o paciente era re-conectado ao ventilador
mecânico, sendo instituída a ventilação mecânica a critério do anestesista
responsável, para início da cirurgia.
Durante a aquisição da curva, que durava de 1 a 3 minutos, o
paciente era continuamente monitorado e a curva era visualizada online na
tela do computador.
3.5 Análise dos dados
3.5.1 Construção da curva pressão-volume
Uma vez armazenados os sinais de pressão das vias aéreas (PPROX),
pressão esofágica (PES) e fluxo, o arquivo gerado era manipulado pelo
software desenvolvido em linguagem LabView. Para tal, utilizamos uma
rotina desenvolvida para construir curvas PV. Em um primeiro passo, o
pesquisador deve abrir o arquivo com o programa em LabView e selecionar
a região de interesse na curva PV, entre os pontos em que o equipamento é
conectado e desconectado do paciente (Figura 2).
24
Figura 2. Exemplo do método de identificação da região de interesse para construção da curva PV.
Legenda: A escolha é feita observado-se a curva de Pressão de Vias Aéreas ao longo do tempo e identificando os momentos de conexão e desconexão do gerador de fluxo contínuo.
25
Utilizando apenas os dados da região de interesse, o programa
integra o sinal de fluxo para obter o volume insuflado durante a manobra e,
automaticamente, cria um gráfico com pressão de vias aéreas no eixo das
abscissas (x) e volume insuflado no eixo das ordenadas (y), a curva PV.
Optamos pela construção de curvas PV do sistema respiratório, utilizando a
pressão proximal de vias aéreas (PPROX) e não a pressão esofágica (PES),
uma vez que não houve esforços dos pacientes.
26
3.5.2 Cálculo do Ponto de Inflexão Inferior
O ponto de inflexão inferior da curva PV (PFLEX) é o ponto em que há
uma mudança abrupta na inclinação da curva inspiratória, e corresponde ao
momento em que um grande número de unidades alveolares, colapsadas ao
final da expiração anterior, são recrutadas, passando a participar da
distribuição do ar insuflado. Quanto maior a quantidade de unidades
recrutadas simultaneamente, maior a mudança de inclinação da curva e
mais evidente o PFLEX. Lesões homogêneas do parênquima pulmonar, nas
quais as pressões criticas de abertura dos alvéolos colapsados ao final de
expiração sejam similares, produzem um PFLEX bem definido. Por outro lado,
lesões heterogêneas do parênquima pulmonar costumam produzir um PFLEX
quase irreconhecível, pois o recrutamento alveolar se dá de maneira
progressiva, à medida que os pulmões vão sendo insuflados.
O programa desenvolvido pelo LIM-9 na plataforma LabView permite
o cálculo automatizado do ponto de inflexão inferior (PFLEX) utilizando o
método descrito por Brochard 45. O programa utiliza um modelo de
regressão linear simples (técnica dos mínimos quadrados) para ajustar retas
a dois segmentos distintos da curva PV. Uma reta é ajustada ao segmento
central da curva, em que a inclinação da curva PV é máxima, e a outra reta
é ajustada ao segmento inicial da curva, em que a inclinação é mínima. A
projeção no eixo x do ponto de intersecção dessas duas retas é o Ponto de
Inflexão Inferior (PFLEX).(Figura 3).
27
Figura 3. Cálculo do Ponto de Inflexão Inferior (PFLEX)
Legenda: Exemplo de cálculo automatizado do PFLEX. Uma reta é ajustada à parte inicial, de menor complacência da curva PV (reta magenta), e a outra é ajustada à parte central, de maior complacência da curva (reta amarela). A projeção no eixo x do ponto de intersecção dessas duas retas é o PFLEX.
28
3.5.3 Ajuste das curvas PV com modelos exponencial e sigmóide
As curvas foram ajustadas pelo programa Grace (GNU-General Public
License, Boston, MA, USA), utilizando o método iterativo de Levenberg-
Marquardt 46.
As curvas foram primeiramente ajustadas com uma equação
exponencial restritas aos pontos acima de 50% do volume insuflado
proposta por Colebatch 47, com três parâmetros:
V = A – B . e -k.P,
V é o volume insuflado, P é a pressão proximal de vias aéreas (PPROX), A é
a assíntota superior e estima a capacidade pulmonar total (CPT), B é o
volume abaixo de A em que PPROX é zero e k é a constante exponencial que
descreve o formato da curva.
Em seguida, ajustamos as curvas com a equação sigmóide proposta
por Paiva et al. 39, modificada por Venegas et al. 40, com quatro parâmetros:
V = a + b / (1 + e –(P-c)/d),
V é o volume insuflado absoluto, P é a pressão proximal de vias aéreas
(PPROX), a é a diferença de volume entre o volume pulmonar expiratório final
(EELV, do inglês End Expiratory Lung Volume) e o volume residual (VR). O
29
EELV é o ponto de repouso do sistema respiratório, em que a PPROX é zero,
e o VR corresponde à assíntota inferior. É importante notar que o valor de a
em módulo, expresso em mL, não reflete o VR propriamente dito, pois este
não tem como ser estimado através da curva PV, mas sim o volume de ar
presente no sistema respiratório acima do VR e abaixo do EELV, ponto de
início da curva PV inspiratória; b é o volume entre a assíntota inferior e a
assíntota superior e estima a capacidade vital (CV); c é a pressão de vias
aéreas no ponto de inflexão matemático da sigmóide, representando o ponto
de maior complacência do sistema respiratório; o parâmetro d é medido em
cmH2O e é proporcional à faixa de pressão de vias aéreas em que a maior
parte das mudanças em volume ocorrem (Figura 4).
30
Figura 4. Curva Pressão – Volume teórica, ajustada com o modelo sigmóide, mostrando os parâmetros a,b,c e d
V = volume insuflado absoluto P = pressão proximal de vias aéreas a = diferença de volume entre EELV e o volume residual. b = volume entre a assíntota inferior e a assíntota superior (estima a capacidade vital) c = pressão de vias aéreas no ponto de inflexão matemático da sigmóide d = proporcional à faixa de pressão de vias aéreas em que a maior parte das mudanças em volume ocorrem
31
3.5.4 Normalização das curvas de pressão-volume
Para podermos comparar os pacientes e analisar os dados como um
todo, criamos três curvas PV normalizadas, uma com os dados de todos os
pacientes, e outras duas, cada uma com pacientes agrupados de acordo
com o diagnostico histológico final.
Para tanto, normalizamos volume e PPROX para cada ponto, que foram
então utilizados para a construção das curvas PV normalizadas 41. O volume
normalizado para cada ponto foi obtido subtraindo-se o parâmetro a do
volume observado, e dividindo-se o resultado pelo parâmetro b, o que é
equivalente a ajustar o volume instantâneo pelo volume insuflado total. A
pressão foi normalizada para cada ponto foi obtida subtraindo-se o
parâmetro c da pressão observada, e dividindo-se o resultado pelo
parâmetro d.
32
3.5.5 Análise estatística
Comparações de variáveis demográficas e funcionais entre pacientes
com diagnostico final de Fibrose Pulmonar Idiopática e pacientes com outras
causas de Pneumonia Intersticial Idiopática foram feitas utilizando-se o teste
t de student, utilizando-se o programa SPSS. Correlações entre os
parâmetros encontrados no processo de ajuste das curvas PV e parâmetros
funcionais obtidos pela espirometria foram feitas utilizando o coeficiente r de
Pearson.
Os coeficientes de determinação R2 para cada curva PV individual e
das curvas normalizadas foram obtidos pelo programa Grace (GNU-General
Public License, Boston, MA, USA), durante o processo de ajuste das curvas
com as equações exponencial e sigmóide.
4 – RESULTADOS
34
4. RESULTADOS
4.1. Aspectos clínicos
Durante o período de inclusão, 12 pacientes foram considerados
elegíveis e puderam ser incluídos no estudo. Dois foram posteriormente
excluídos da análise, em um caso por vazamento excessivo durante a
realização da curva PV e no outro por o diagnóstico histológico da biopsia
pulmonar ter revelado um linfoma infiltrativo em pulmão.
A Tabela 1 apresenta os dados demográficos e o diagnóstico
histopatológico individual dos pacientes estudados. A distribuição dos
diagnósticos foi: quatro (33%) pacientes com Pneumonite por
Hipersensibilidade crônica (PH) e sete (58%) pacientes com Fibrose
Pulmonar Idiopática (PFI). Dentre os pacientes com FPI, seis tiveram padrão
definido como Pneumonia Intersticial Usual (UIP) e apenas um não pode ser
classificado sob o ponto de vista histológico.
A Tabela 2 mostra a duração de sintomas, carga tabágica e presença
de Doença do Refluxo Gastro-Esofágico (DRGE) dos pacientes
individualmente.
35
Tabela 1. Dados demográficos e diagnóstico histológico dos pacientes
PH = Pneumonite por Hipersensibilidade crônica FPI = Fibrose Pulmonar Idiopática UIP = padrão Pneumonia Intersticial Usual
ID Sexo Idade Diagnóstico
2 JVS M 66 FPI-UIP
4 VL F 49 FPI
7 AF M 67 FPI-UIP
8 SE M 71 FPI-UIP
9 LG M 62 FPI-UIP
11 AD M 72 FPI-UIP
1 MF F 46 PH
5 JSP F 24 PH
10 AE M 50 PH
12 VLS F 53 PH
36
Tabela 2. Dados clínicos dos pacientes
PH = Pneumonite por Hipersensibilidade crônica FPI = Fibrose Pulmonar Idiopática UIP = padrão Pneumonia Intersticial Usual DRGE = Doença do Refluxo Gastro-Esofágico
ID Diagnóstico Sintomas Tabagismo DRGE
(em anos) (anos-maço)
2 JVS FPI-UIP 2.00 20 SIM
4 VL FPI 6.00 0 SIM
7 AF FPI-UIP 4.00 35 NÃO
8 SE FPI-UIP 3.00 0 NÃO
9 LG FPI-UIP 1.00 0 NÃO
11 AD FPI-UIP 2.00 0 NÃO
1 MF PH 5.00 0 SIM
5 JSP PH 1.00 0 NÃO
10 AE PH 5.00 3 NÃO
12 VLS PH 8.00 68 NÃO
37
Todos os pacientes, com exceção do paciente de número 9, fizeram
avaliação funcional com prova de função pulmonar previamente à cirurgia,
como parte da avaliação de pneumopatias intersticiais no Ambulatório de
Doenças Intersticiais Pulmonares do Serviço de Pneumologia do Hospital
das Clinicas da FMUSP. A maioria dos pacientes fez também medidas de
volumes pulmonares e avaliação da difusão por monóxido de carbono.
Houve grande variabilidade de acometimento funcional entre os pacientes,
com espectros desde mínimo acometimento funcional até pacientes com
acometimento moderado.
Podemos dividir os pacientes em dois grupos para comparações:
pacientes com FPI versus pacientes com PH crônica. A Tabela 3 apresenta
a comparação dados clínicos e funcionais dos pacientes dos dois grupos.
Por serem pequenos e com grande variabilidade funcional intra-grupo, não
houve diferença estatística entre os pacientes com FPI e pacientes com PH
para a maioria dos parâmetros analisados. Os pacientes com FPI eram
predominantemente do sexo masculino (83%) e mais velhos (64.5 ± 8.4
anos), ao passo que pacientes com PH eram predominantemente do sexo
feminino (75%), e mais jovens (43.3 ± 13.1 anos).
38
Tabela 3. Dados clínicos e funcionais nos grupos de pacientes
PH = Pneumonite por Hipersensibilidade crônica FPI = Fibrose Pulmonar Idiopática Sintomas = em anos Tabagismo = em ano-maço VEF1%= porcentagem do valor predito para o Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo CVF% = porcentagem do valor predito para a Capacidade Vital Forçada CPT% = porcentagem do valor predito para a Capacidade Pulmonar Total DLCO% = porcentagem do valor predito para a Difusão por Monóxido de carbono Pflex= ponto de inflexão inferior na curva PV, em cm H2O
GRUPO p
SEXO (M%)
IDADE 64.5 ± 8.4 43.3 ± 13.1 0.035
Sintomas 3.0 ± 2.0 4.8 ± 2.9 0.348
Tabagismo 9.2 ± 15.0 17.8 ± 33.5 0.656
VEF1% 72.5% ± 19.2% 56.1% ± 24.3% 0.315
CVF% 63.7% ± 16.2% 63.7% ± 5.0% 0.998
CPT% 62.9% ± 10.9% 90.1% ± 24.9% 0.111
DLCO% 30.3% ± 15.5% 45.3% ± 18.2% 0.293
Pflex 10.5 ± 5.7 11.0 ± 8.8 0.937
PHFPI
25%83%
39
4.2. Curvas Pressão - Volume
O procedimento foi bem tolerado por todos os pacientes. Em nenhum
caso houve queda da saturação de oxigênio pela oximetria de pulso ou
elevação significativa da ETCO2, nem qualquer outra intercorrência durante
a realização do estudo. A maioria das curvas PV teve duração inferior a dois
minutos, tempo limite para considerar desprezível a absorção de oxigênio
durante a manobra para realização da curva PV 48. Curvas com duração
superior a dois minutos geralmente levam a absorção de oxigênio em
quantidades suficientes para causar uma super-estimação do volume
pulmonar necessário para a insuflação pulmonar. As curvas individuais de
cada paciente são mostradas nas figuras 5 a14, a seguir.
40
Figura 5. Curva PV inspiratória do paciente 1, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
41
Figura 6. Curva PV inspiratória do paciente 2, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
42
Figura 7. Curva PV inspiratória do paciente 4, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
43
Figura 8. Curva PV inspiratória do paciente 5, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
44
Figura 9. Curva PV inspiratória do paciente 7, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
45
Figura 10. Curva PV inspiratória do paciente 8, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
46
Figura 11. Curva PV inspiratória do paciente 9, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a
linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
47
Figura 12. Curva PV inspiratória do paciente 10, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
48
Figura 13. Curva PV inspiratória do paciente 11, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a
linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
49
Figura 14. Curva PV inspiratória do paciente 12, ajustada para os modelos exponencial e sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, a
linha tracejada mostra o ajuste com o modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior da curva PV, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
50
4.3. Ajuste das curvas com os modelos exponencial e sigmóide
O modelo exponencial, aplicado apenas à metade superior das
curvas PV, teve um bom desempenho, gerando um R2 ajustado médio de
0.975 ± 0.018. O desempenho do modelo exponencial foi equivalente para
os grupos de pacientes com FPI e PH, gerando um R2 ajustado médio de
0.972 ± 0.021 para pacientes com FPI e 0.980 ± 0.015 para pacientes com
PH.
Entretanto, o modelo exponencial não descreve a parte inicial da
curva PV, com complacência mais baixa, e a informação dessa região da
curva PV é perdida. Alem disso, os parâmetros A, B e k, gerados pelo
modelo, não têm o mesmo significado que tinham quando tal modelo era
aplicado a curvas PV expiratórias, feitas com o paciente sentado e com
respiração espontânea.
Como discutido anteriormente (seção 3.5.3), estudos anteriores feitos
em curvas PV expiratórias, com a colaboração do paciente, correlacionaram
o parâmetro A com a CPT e o parâmetro k, a constante exponencial que
descreve o formato da curva PV, teve correlação com prognóstico 34. Em
nosso estudo, o parâmetro B não tem significado fisiológico e o parâmetro k
descreve a curvatura da curva PV inspiratória e não da expiratória, como
anteriormente, sendo assim impossível determinar se ainda mantém
correlação com gravidade e prognóstico nas Pneumonias Intersticiais
fibrosantes.
51
O modelo sigmóide, aplicado às curvas PV inteiras, teve também um
bom desempenho, gerando um R2 ajustado médio de 0.999 ± 0.001. O
desempenho do modelo sigmóide foi equivalente para os grupos de
pacientes com FPI e PH, gerando um R2 ajustado médio de 0.999 ± 0.001
para pacientes com FPI e PH. Entretanto, diferentemente do modelo
exponencial, o modelo sigmóide gerou parâmetros com significado
fisiológico.
Não houve correlação estatisticamente significante entre os
parâmetros a, b, c, d ou k com nenhum dos índices funcionais obtidos pela
espirometria, mas o parâmetro c teve boa correlação com o PFLEX tanto para
os pacientes com FPI (r=0.819, p=0.046) quanto para os pacientes com FPI
e PH conjuntamente (r=0.845 p=0.004). Os valores dos parâmetros
encontrados para cada paciente durante o processo de ajuste das curvas
com os modelos exponencial e sigmóide são mostrados nas Tabelas 4 e 5.
52
Tabela 4. Parâmetros obtidos com o ajuste exponencial para cada paciente
PH = Pneumonite por Hipersensibilidade crônica FPI = Fibrose Pulmonar Idiopática UIP = padrão Pneumonia Intersticial Usual
ID Diagnóstico A (mL) B (mL) k (1/cm H2O)
2 JV FPI-UIP 3996 8951 0.046
4 VL FPI 2886 3295 0.025
7 AF FPI-UIP 3626 5035 0.053
8 SE FPI-UIP 2980 5265 0.037
9 LG FPI-UIP 1025 1418 0.031
11 AD FPI-UIP 4727 10265 0.091
1 MF PH 6728 9725 0.040
5 JSP PH 8933 10757 0.035
10 AE PH 8500 25483 0.055
12 VLS PH 7807 13593 0.049
53
Tabela 5. Parâmetros obtidos com o ajuste sigmóide para cada
paciente
PH = Pneumonite por Hipersensibilidade crônica FPI = Fibrose Pulmonar Idiopática UIP = padrão Pneumonia Intersticial Usual
ID Diagnóstico a (mL) b (mL) c (cmH2O) d (cmH2O)
2 JV FPI-UIP -358 3939 29.0 10.2
4 VL FPI -1479 3777 10.4 18.4
7 AF FPI-UIP -1399 4781 11.2 11.5
8 SE FPI-UIP -180 2467 27.2 9.4
9 LG FPI-UIP -219 1150 25.1 16.5
11 AD FPI-UIP -1149 5785 12.3 8.0
1 MF PH -1187 6977 18.9 11.7
5 JSP PH -3395 11104 12.3 14.7
10 AE PH -1076 7498 27.1 6.1
12 VLS PH -1565 7932 19.1 8.2
54
4.4. Curvas PV normalizadas
As curvas normalizadas para todos os pacientes foram ajustadas com
o modelo sigmóide, gerando um R2 ajustado de 0.999. Quando os pacientes
foram agrupados de acordo com o diagnostico histológico, o modelo
sigmóide gerou um R2 ajustado de 0.999 para pacientes com FPI e de 0.999
para pacientes com PH.
As figuras 15, 16 e 17 mostram respectivamente as curvas
normalizadas para todos os pacientes, para pacientes com FPI e para
pacientes com PH.
55
Figura 15. Curva PV normalizada para todos os pacientes, ajustada para o modelos sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
56
Figura 16. Curva PV normalizada para os pacientes com FPI, ajustada para o modelo sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
57
Figura 17. Curva PV normalizada para os pacientes com PH, ajustada para o modelo sigmóide.
Legenda: os pontos em cinza representam os dados do paciente, e a linha contínua representa o ajuste com modelo sigmóide.
5 - DISCUSSÃO
59
5. DISCUSSÃO
5.1. Aspectos gerais
Os achados principais desse estudo foram: 1) a equação sigmóide
ajusta as curvas PV inspiratórias de pacientes com FPI e PH crônica muito
bem, gerando parâmetros com significado fisiológico; 2) a equação
exponencial, aplicada apenas à metade superior das curvas, também tem
um bom ajuste, porém 2 dos 3 parâmetros gerados têm significado
fisiológico indeterminado e a porção inicial da curva não é representada pelo
modelo, sendo a informação do formato da parte inicial da curva perdida;
3) quando as curvas foram normalizadas, foi possível agrupar os dados de
todos os pacientes em um único gráfico mestre e ajustá-lo com a equação
sigmóide, com excelente resultado; 4) não houve diferenças significativas
entre os grupos FPI e PH, tanto do ponto de vista clínico e funcional, quanto
para o ajuste das curvas PV com os modelos sigmóide e exponencial,
sugerindo que o comportamento mecânico das duas doenças foi
semelhante; 5) as curvas PV inspiratórias de pacientes com FPI apresentam
regiões de baixa complacência inicial, semelhante às curvas de pacientes
com SDRA.
Nosso estudo é o primeiro a utilizar curvas PV inspiratórias em
pacientes com FPI e o primeiro a ressaltar um evidente desvio do formato
60
exponencial das curvas PV nesses pacientes e evidenciar seu formato
sigmóide, em semelhança ao que ocorre em pacientes com SDRA.
5.2. Limitações do Estudo
A principal limitação desse estudo é a falta de um grupo controle de
pacientes normais. Tal grupo não foi incluído no desenho do estudo pela
falta de acesso a pacientes com pulmão normal que fossem ser submetidos
à anestesia geral e ventilação mecânica, cujas equipes cirúrgica e
anestésica concordassem com a realização da curva. A curva PV inspiratória
com fluxo constante é um procedimento seguro, mas não isento de riscos, e
sua realização à beira do leito, após a anestesia geral e antes da cirurgia,
causa um aumento do tempo anestésico e de ocupação da sala do centro
cirúrgico. Entretanto, acreditamos que esta limitação não invalida nossos
achados, uma vez que estudos prévios utilizando curvas PV em pacientes
normais observaram apenas discretas diminuições da inclinação inicial das
curvas 27, 36, 47, a ponto de considerar que o uso da equação exponencial
acima de 50% da CPT era um método adequado de ajuste das curvas e até
superior ao modelo sigmóide 47. O mesmo ocorreu com estudos utilizando
curvas PV em pacientes com fibrose pulmonar 33, 34. Tais estudos foram
feitos em condições diferentes do nosso, em especial porque geralmente
eram curvas PV expiratórias em pacientes sentados, respirando
espontaneamente.
61
O número de pacientes estudados é pequeno, por limitações técnicas
e por tratar-se de doença de baixa prevalência. Entretanto, o formato
sigmóide foi notado em todos os pacientes e o ajuste com a equação
sigmóide teve bons resultados para todos os pacientes. Conseqüentemente,
acreditamos que a generalização dos dados encontrados é razoável.
Nós utilizamos curvas PV inspiratórias do sistema respiratório,
diferentemente de estudo anteriores, que utilizaram curvas PV expiratórias
do pulmão 33, 34 e esta diferença pode ter impacto na interpretação de nosso
resultados. Optamos pela utilização de curvas inspiratórias porque tais
curvas costumam ter mais pontos na parte inicial, de baixos volumes
pulmonares, do que as curvas expiratórias. Utilizamos curvas do sistema
respiratório como um todo, ao invés de curvas apenas do pulmão, porque
não havia esforços do paciente, o que exigiria a separação das curvas do
pulmão e da caixa torácica. Na ausência de esforços inspiratórios, a
informação do sistema respiratório como um todo nos pareceu mais
completa e de maior relevância clinica.
O parâmetro A do ajuste exponencial teve que ser limitado a um valor
pré-determinado em dois pacientes que não atingiram um platô de pressão
ao final da curva PV. Apesar de o uso de um limitador ser usual em casos
como esses 49, sabemos que ausência do platô de pressão final sugere que
o envelope máximo da curva PV não foi alcançado, o que tornou o ajuste
exponencial menos preciso. Entretanto, essa limitação não foi necessária
durante o ajuste com o modelo sigmóide.
62
As curvas PV foram realizadas na posição supina, sob anestesia
geral, as quais tem sido associadas à redução da CRF e colapso alveolar
em pessoas normais 50. Entretanto, o aparecimento de colapso alveolar
durante a anestesia geral está ligada à ausência da aplicação de pressão
positiva ao final da expiração (PEEP) durante a ventilação mecânica e às
altas frações inspiradas de oxigênio (FIO2) utilizadas. O uso de uma
manobra de recrutamento mostrou-se suficiente para reverter
completamente o colapso alveolar associado à anestesia geral, e a
utilização de FIO2 0.4 preveniu seu re-aparecimento 51. Nossos pacientes
foram ventilados com FIO2 entre 0.3 e 0.4 e PEEP de 5 cmH2O, e uma
manobra de recrutamento foi feita imediatamente antes da realização da
curva PV. Portanto, não acreditamos que colapso alveolar induzido pela
anestesia tenha ocorrido e influenciado os resultados aqui apresentados.
5.3. O ajuste sigmóide para curvas PV na FPI
A equação sigmóide fez um ajuste excelente das curvas PV desses
pacientes com diagnóstico recente de Pneumopatias Intersticiais fibrosantes,
em especial dos pacientes com FPI. Os parâmetros a, b, c e d (Tabela 5),
obtidos com o ajuste têm significado fisiológico e podem ser úteis para o
manejo da ventilação mecânica em pacientes com FPI. O parâmetro a, que
é a diferença de volume entre a assíntota inferior (volume residual) e o
EELV, estima o quão perto o volume pulmonar no EELV está do volume
residual. Quanto menor o valor de a, mais próximo do VR e,
63
consequentemente, mais colapsado está o pulmão. A realização de
múltiplas curvas PV à beira do leito, com diferentes PEEPs, poderia revelar o
potencial de recrutamento alveolar associado à PEEP pela mudança do
valor de a. O parâmetro b estima a capacidade vital (CV), utilizada para
avaliar o comprometimento funcional na FPI. Dessa forma, esse parâmetro
(b) pode ser usado como um marcador de gravidade em pacientes sob
ventilação mecânica, nos quais a obtenção de valores da CV por métodos
tradicionais não é possível. Os parâmetros c e d, por sua vez, caracterizam o
formato da curva PV, uma informação não disponível com outras
ferramentas diagnósticas. O parâmetro c pode ser especialmente útil
durante a ventilação mecânica, pois equivale à pressão de vias aéreas em
que a complacência do sistema respiratório é máxima. Essa informação
fisiológica poderia ser usada como guia para ajuste da PEEP e da pressão
inspiratória, objetivando uma pressão média de vias aéreas próxima ao c. O
parâmetro d dá uma idéia de dispersão das pressões críticas de abertura e
de hiperdistensão ao longo da curva. Quanto menor o valor de d, mais
estreita é a faixa de pressão que representa o segmento central da curva,
associado a uma complacência quase constante e máxima. Nesse caso, o
volume corrente utilizado durante a ventilação teria de ser pequeno o
suficiente para evitar que a pressão de vias aéreas ficasse abaixo do PFLEX
no final da expiração e acima do ponto de inflexão superior no final da
inspiração, evitando respectivamente colapso e hiperdistensão alveolar. A
combinação dos parâmetros c e d pode ser usado para se obter os pontos
de máximo aumento e queda de complacência ao longo da curva PV 40, 41,
64
que são similares aos pontos de inflexão inferior e superior, os quais já
foram usados para o manejo ventilatório de pacientes com SDRA 30-32.
A equação sigmóide já foi usada para ajuste de curvas PV de
pacientes com SDRA 40-42, mas não para pacientes com FPI ou outras
Pneumonias intersticiais fibrosantes. Para esses pacientes, o método de
ajuste mais utilizado foi com a equação exponencial. Estudos anteriores
ajustaram uma equação exponencial às curvas PV expiratórias de pacientes
respirando espontaneamente, sentados 33-35. Entretanto, a maioria das
curvas expiratórias tem poucos pontos em baixos volumes pulmonares,
próximos à CRF, onde a inclinação da curva é menor. Ao excluir os pontos
que estavam abaixo de 50% da CPT, os pesquisadores foram bem
sucedidos ao ajustar as curvas expiratórias de indivíduos normais 36 e
pacientes com fibrose pulmonar usando uma equação exponencial. A
conclusão desses estudos foi de que o modelo exponencial gerava um bom
ajuste às curvas PV de pacientes com Pneumopatias Intersticiais fibrosantes
e que o parâmetro k era útil para caracterizar alterações funcionais 33 e grau
de fibrose 34. Entretanto, esse modelo exponencial não explora a informação
obtida pela curva PV a baixos volumes pulmonares.
Em nosso estudo, as curvas foram realizadas em decúbito dorsal e
sob anestesia geral, partindo do EELV, o que nos permitiu coletar dados a
baixos volumes pulmonares e observar o formato sigmóide das curvas PV.
Além disso, observamos que as curvas PV inspiratórias de nossos pacientes
com FPI se assemelham as curvas PV de pacientes com SDRA, sob
65
ventilação mecânica, nos quais a baixa inclinação inicial da curva tem sido
atribuída ao colapso de pequenas vias aéreas e alvéolos 29, 38.
Esses achados indicam que o colapso pode estar presente durante a
ventilação mecânica desses pacientes em volumes pulmonares próximos à
EELV, isto é, na região onde comumente acontece a ventilação corrente.
Durante o suporte ventilatório mecânico, abertura e fechamento
cíclicos de alvéolos e pequenas vias aéreas poderia contribuir para a
altíssima mortalidade de pacientes com FPI que necessitam de ventilação
mecânica por Insuficiência Respiratória Aguda (IRpA) 52-54. Como esses
pacientes têm baixa complacência do sistema respiratório, são
freqüentemente ventilados com PEEPs baixas, o que provavelmente faz
com que a ventilação corrente ocorra na porção inicial da curva PV. Tal
estratégia ventilatória pode agravar uma lesão aguda por exacerbação da
FPI que tenha causado a IRpA.
Colapso alveolar e de pequenas vias aéreas em baixos volumes
pulmonares durante a anestesia também poderia contribuir para a
ocorrência de exacerbações agudas da FPI após a realização de biopsia
pulmonar a céu aberto, a qual já foi anteriormente relacionada à estratégia
ventilatória aplicada durante a anestesia geral desses pacientes 55. A
combinação colapso de pequenas vias aéreas e de alvéolos, utilização de
PEEPs baixas e volumes corrente altos pode levar à reabertura e
fechamento cíclicos de vias aéreas durante a anestesia e predispor os
pacientes a lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica e
insuficiência respiratória pós-operatória .
66
O formato sigmóide das curvas PV desses pacientes com FPI sugere
que eles possam se beneficiar de uma estratégia ventilatória protetora
similar à usada nos pacientes com SDRA, adicionando PEEP para mover a
ventilação corrente para a região central da curva PV e minimizando a
reabertura e fechamento cíclicos de vias aéreas e alvéolos 56 e, ao mesmo
tempo, evitando altos platôs de pressão através da utilização de baixos
volumes correntes 57, 58. A realização de uma curva PV à beira do leito pode
ajudar na titulação da PEEP 59 e o ajuste sigmóide da curva pode ajudar a
identificar o ponto de inflexão inferior da curva PV. Nossos resultados
também sugerem que durante a anestesia, baixos PEEPs e altos volumes
correntes devem ser evitados.
5.4. Comprometimento de pequenas vias aéreas na FPI
Comprometimento de pequenas vias aéreas nas Pneumopatias
Intersticiais fibrosantes, e mais especificamente na FPI, já foi relatado por
outros autores 17, 18, 60, mas seu papel na patogênese da doença ainda não é
claro.
Os resultados do ajuste das curvas PV dos pacientes com FPI com o
modelo sigmóide observados nesse estudo são um indício indireto da
ocorrência de colapso de pequenas vias aéreas e alvéolos nesse pacientes,
quando sob anestesia geral, e, talvez, mesmo durante a ventilação
espontânea. A semelhança formato das curvas com as curvas de pacientes
67
com PH crônica, nos quais o acometimento de pequenas vias aéreas é mais
documentado 22, também fala a favor desse fenômeno.
A análise morfológica dos fragmentos histológicos obtidos na biopsia
confirmou que as pequenas vias aéreas de todos os pacientes estudados
eram anormais, apontando para acometimento de pequenas vias aéreas.
Nossos dados foram coletados em pacientes anestesiados e em
posição supina, e conseqüentemente as implicações desses achados para
pacientes em respiração espontânea são desconhecidas. Entretanto, é
possível especular-se que o fenômeno encontrado durante a anestesia geral
possa estar também presente durante a ventilação espontânea nesse
pacientes. Uma vez minimizado o colapso associado à anestesia com a
realização da manobra de recrutamento e uso de baixas FIO2, restariam os
efeitos da posição supina e da ausência de esforços inspiratórios, o que não
é completamente diferente do estado de sono profundo, por exemplo.
Como citado anteriormente, há outras evidências da presença de
colapso alveolar e reabertura cíclica de pequenas vias aéreas e alvéolos
durante a ventilação espontânea em pacientes com FPI, como a ausculta de
crepitações pulmonares 24-26 e detecção de colapso pela tomografia
computadorizada 15. Estudos em pacientes com respiração espontânea,
acordados e dormindo, serão necessários para melhor elucidar a presença
de colapso alveolar e de pequenas vias aéreas na FPI e seu papel na
patogênese da doença.
68
5.5. Normalização das curvas PV
Quando os dados de cada paciente foram normalizados pelos
parâmetros encontrados no processo de ajuste de curva com o modelo
sigmóide e combinados em um único gráfico, o formato sigmóide manteve-
se evidente. Tal resultado foi igualmente verdadeiro para pacientes com FPI
apenas (Figura 16), com PH apenas (Figura 17) e para todos os pacientes
juntos (Figura 15).
Apesar de diferenças em grau de acometimento da doença e
diagnóstico histológico final (FPI ou PH crônica) entre os 10 pacientes, os
pontos da curva normalizada convergiram para um sigmóide quase perfeita,
gerando um R2=0.9997.
A curva normalizada pode ser vista como uma curva mestre, capaz de
descrever qualquer paciente com alterações da mecânica pulmonar
associadas às Pneumonias Intersticiais fibrosantes.
Modelos matemáticos 38, 61 e dados clínicos 45, 62 mostraram que o
ponto de inflexão inferior não é a pressão de vias aéreas em que o
recrutamento pulmonar é máximo e o PFLEX pode não ser o melhor guia para
titulação da PEEP na SDRA 63. Ainda assim, a curva mestre pode ser útil
para ajudar a compreender as propriedades mecânicas do sistema
respiratório e utilizada para o desenvolvimento de novas estratégias
ventilatórias na FPI.
6- CONCLUSÕES
70
1) A equação sigmóide ajusta as curvas PV inspiratórias de pacientes
com FPI e PH crônica muito bem, gerando parâmetros com significado
fisiológico, e é superior à equação exponencial
2) quando as curvas foram normalizadas, foi possível agrupar os
dados de todos os pacientes em um único gráfico mestre e ajustá-lo com a
equação sigmóide, com excelente resultado;
3) as curvas PV inspiratórias de pacientes com FPI apresentam
regiões de baixa complacência inicial, semelhante às curvas de pacientes
com SDRA, sugerindo colapso alveolar e de pequenas vais aérea durante a
anestesia e ventilação mecânica na FPI.
7 - REFERÊNCIAS
72
1. King TE,Jr. Clinical advances in the diagnosis and therapy of the interstitial
lung diseases. Am J Respir Crit Care Med 2005; Aug 1;172(3):268-79.
2. Martinez FJ, Safrin S, Weycker D, Starko KM, Bradford WZ, King TE,Jr, et
al. The clinical course of patients with idiopathic pulmonary fibrosis. Ann
Intern Med 2005; Jun 21;142(12 Pt 1):963-7.
3. American Thoracic Society, European Respiratory Society. American
Thoracic Society/European Respiratory Society International Multidisciplinary
Consensus Classification of the Idiopathic Interstitial Pneumonias. This joint
statement of the American Thoracic Society (ATS), and the European
Respiratory Society (ERS) was adopted by the ATS board of directors, June
2001 and by the ERS Executive Committee, June 2001. Am J Respir Crit
Care Med 2002; Jan 15;165(2):277-304.
4. Raghu G, Weycker D, Edelsberg J, Bradford WZ, Oster G. Incidence and
prevalence of idiopathic pulmonary fibrosis. Am J Respir Crit Care Med 2006;
Oct 1;174(7):810-6.
5. Garcia CK, Raghu G. Inherited interstitial lung disease. Clin Chest Med
2004; Sep;25(3):421-33.
6. Marshall RP, Puddicombe A, Cookson WO, Laurent GJ. Adult familial
cryptogenic fibrosing alveolitis in the United Kingdom. Thorax 2000;
Feb;55(2):143-6.
73
7. Katzenstein AL, Myers JL. Idiopathic pulmonary fibrosis: clinical relevance
of pathologic classification. Am J Respir Crit Care Med 1998; Apr;157(4 Pt
1):1301-15.
8. Orens JB, Kazerooni EA, Martinez FJ, Curtis JL, Gross BH, Flint A, et al.
The sensitivity of high-resolution CT in detecting idiopathic pulmonary fibrosis
proved by open lung biopsy. A prospective study. Chest 1995;
Jul;108(1):109-15.
9. Nicholson AG, Colby TV, du Bois RM, Hansell DM, Wells AU. The
prognostic significance of the histologic pattern of interstitial pneumonia in
patients presenting with the clinical entity of cryptogenic fibrosing alveolitis.
Am J Respir Crit Care Med 2000; Dec;162(6):2213-7.
10. Walter N, Collard HR, King TE,Jr. Current perspectives on the treatment
of idiopathic pulmonary fibrosis. Proc Am Thorac Soc 2006; Jun;3(4):330-8.
11. American Thoracic Society. Idiopathic pulmonary fibrosis: diagnosis and
treatment. International consensus statement. American Thoracic Society
(ATS), and the European Respiratory Society (ERS). Am J Respir Crit Care
Med 2000; Feb;161(2 Pt 1):646-64.
12. Selman M, King TE, Pardo A, American Thoracic Society, European
Respiratory Society, American College of Chest Physicians. Idiopathic
pulmonary fibrosis: prevailing and evolving hypotheses about its
pathogenesis and implications for therapy. Ann Intern Med 2001; Jan
16;134(2):136-51.
74
13. Selman M, Pardo A. The epithelial/fibroblastic pathway in the
pathogenesis of idiopathic pulmonary fibrosis. Am J Respir Cell Mol Biol
2003; Sep;29(3 Suppl):S93-7.
14. Muller NL, Miller RR. Computed tomography of chronic diffuse infiltrative
lung disease. Part 1. Am Rev Respir Dis 1990; Nov;142(5):1206-15.
15. Rocha MJ, Ferreira JC, Salge JM, Borges-Sobrinho JB, Amato MB,
Kairalla RA, et al. Demonstration of Reversible Alveolar Collapse in Patients
with Idiopathic Pulmonary Fibrosis (IPF): An Image Study. Proc Am Thorac
Soc 2006;3(Abstract):A106.
16. Ostrow D, Cherniack RM. Resistance to airflow in patients with diffuse
interstitial lung disease. Am Rev Respir Dis 1973; Aug;108(2):205-10.
17. Fulmer JD, Roberts WC, von Gal ER, Grystal RG. Small airways in
idiopathic pulmonary fibrosis. Comparison of morphologic and physiologic
observations. J Clin Invest 1977; Sep;60(3):595-610.
18. Myre M, Allard S, Bernard C, Martin RR. Clinical, functional and
pathological correspondence in early stage idiopathic pulmonary fibrosis:
evidence for small airway obstruction 1-2. Respiration 1988;53(3):174-86.
19. Salge JM, Sousa R, rocha MJ, Ferreira JC, Amato MB, Kairalla RA, et al.
Physiological Evidence of Small Airway Involvement in IPF. Proc Am Thorac
Soc 2007;(Abstract):A142.
75
20. Schofield NC, Davies RJ, Cameron IR, Green M. Small airways in
fibrosing alveolitis. Am Rev Respir Dis 1976; Jun;113(6):729-35.
21. Tan CS, Tashkin DP. Supernormal maximal mid-expirartory flow rates in
diffuse interstitial lung disease. Respiration 1981;42(3):200-8.
22. Perez-Padilla R, Gaxiola M, Salas J, Mejia M, Ramos C, Selman M.
Bronchiolitis in chronic pigeon breeder's disease. Morphologic evidence of a
spectrum of small airway lesions in hypersensitivity pneumonitis induced by
avian antigens. Chest 1996; Aug;110(2):371-7.
23. Mello GCF, Dolhnikoff M, Kairalla RA, Carvalho CR, Saldiva PH, Mauad
T. Small airways structural alterations in usual interstitial pneumonia, non-
specific interstitial pneumonia, hypersensitivity pneumonia and chronic
bronchiolitis. Eur Respir J Suppl 2006;28(Suppl 50):308s.
24. Pasterkamp H, Kraman SS, Wodicka GR. Respiratory sounds. Advances
beyond the stethoscope. Am J Respir Crit Care Med 1997; Sep;156(3 Pt
1):974-87.
25. Alencar AM, Hantos Z, Petak F, Tolnai J, Asztalos T, Zapperi S, et al.
Scaling behavior in crackle sound during lung inflation. Phys Rev E Stat Phys
Plasmas Fluids Relat Interdiscip Topics 1999; Oct;60(4 Pt B):4659-63.
26. Hantos Z, Tolnai J, Asztalos T, Petak F, Adamicza A, Alencar AM, et al.
Acoustic evidence of airway opening during recruitment in excised dog lungs.
J Appl Physiol 2004; Aug;97(2):592-8.
76
27. Salazar E, Knowles JH. An Analisys of Pressure-Volume characteristics
of the lungs. J Appl Physiol 1964; Jan;19:97-104.
28. Hickling KG. Reinterpreting the pressure-volume curve in patients with
acute respiratory distress syndrome. Curr Opin Crit Care 2002; Feb;8(1):32-
8.
29. Brochard L. What is a pressure-volume curve?. Crit Care 2006;10(4):156.
30. Amato MB, Barbas CS, Medeiros DM, Magaldi RB, Schettino GP,
Lorenzi-Filho G, et al. Effect of a protective-ventilation strategy on mortality in
the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med 1998; Feb
5;338(6):347-54.
31. Ranieri VM, Suter PM, Tortorella C, De Tullio R, Dayer JM, Brienza A, et
al. Effect of mechanical ventilation on inflammatory mediators in patients with
acute respiratory distress syndrome: a randomized controlled trial. JAMA
1999; Jul 7;282(1):54-61.
32. Villar J, Kacmarek RM, Perez-Mendez L, Aguirre-Jaime A. A high positive
end-expiratory pressure, low tidal volume ventilatory strategy improves
outcome in persistent acute respiratory distress syndrome: a randomized,
controlled trial. Crit Care Med 2006; May;34(5):1311-8.
33. Sansores R, Perez-Padilla R, Pare PD, Selman M. Exponential analysis
of the lung pressure-volume curve in patients with chronic pigeon-breeder's
lung. Chest 1992; May;101(5):1352-6.
77
34. Sansores RH, Ramirez-Venegas A, Perez-Padilla R, Montano M, Ramos
C, Becerril C, et al. Correlation between pulmonary fibrosis and the lung
pressure-volume curve. Lung 1996;174(5):315-23.
35. Thompson MJ, Colebatch HJ. Decreased pulmonary distensibility in
fibrosing alveolitis and its relation to decreased lung volume. Thorax 1989;
Sep;44(9):725-31.
36. Colebatch HJ, Greaves IA, Ng CK. Exponential analysis of elastic recoil
and aging in healthy males and females. J Appl Physiol 1979; Oct;47(4):683-
91.
37. Sutherland PW, Katsura T, Milic-Emili J. Previous volume history of the
lung and regional distribution of gas. J Appl Physiol 1968; Nov;25(5):566-74.
38. Hickling KG. The pressure-volume curve is greatly modified by
recruitment. A mathematical model of ARDS lungs. Am J Respir Crit Care
Med 1998; Jul;158(1):194-202.
39. Paiva M, Yernault JC, Eerdeweghe PV, Englert M. A sigmoid model of
the static volume-pressure curve of human lung. Respir Physiol 1975;
Apr;23(3):317-23.
40. Venegas JG, Harris RS, Simon BA. A comprehensive equation for the
pulmonary pressure-volume curve. J Appl Physiol 1998; Jan;84(1):389-95.
78
41. Harris RS, Hess DR, Venegas JG. An objective analysis of the pressure-
volume curve in the acute respiratory distress syndrome. Am J Respir Crit
Care Med 2000; Feb;161(2 Pt 1):432-9.
42. Pereira C, Bohe J, Rosselli S, Combourieu E, Pommier C, Perdrix JP, et
al. Sigmoidal equation for lung and chest wall volume-pressure curves in
acute respiratory failure. J Appl Physiol 2003; Nov;95(5):2064-71.
43. Gama AM, Meyer EC, Gaudencio AM, Grunauer MA, Amato MB, de
Carvalho CR, et al. Different low constant flows can equally determine the
lower inflection point in acute respiratory distress syndrome patients. Artif
Organs 2001; Nov;25(11):882-9.
44. Baydur A, Behrakis PK, Zin WA, Jaeger M, Milic-Emili J. A simple method
for assessing the validity of the esophageal balloon technique. Am Rev
Respir Dis 1982; Nov;126(5):788-91.
45. Jonson B, Richard JC, Straus C, Mancebo J, Lemaire F, Brochard L.
Pressure-volume curves and compliance in acute lung injury: evidence of
recruitment above the lower inflection point. Am J Respir Crit Care Med
1999; Apr;159(4 Pt 1):1172-8.
46. Motulsky H. How linear regression minimizes the sums-of-squares. In:
Motulsky H. Fitting Models to Biological Data Using Linear and Nonlinear
Regression. 1st ed. New York: Oxford University Press; 2004. p. 91-6.
47. Colebatch HJ, Ng CK, Nikov N. Use of an exponential function for elastic
recoil. J Appl Physiol 1979; Feb;46(2):387-93.
79
48. Gattinoni L, Mascheroni D, Basilico E, Foti G, Pesenti A, Avalli L.
Volume/pressure curve of total respiratory system in paralysed patients:
artefacts and correction factors. Intensive Care Med 1987;13(1):19-25.
49. Motulsky H. Nonlinear Regression Choices. In: Motulsky H. Fitting
Models to Biological Data Using Linear and Nonlinear Regression. 1st ed.
New York: Oxford University Press; 2004. p. 25-7.
50. Tokics L, Hedenstierna G, Strandberg A, Brismar B, Lundquist H. Lung
collapse and gas exchange during general anesthesia: effects of
spontaneous breathing, muscle paralysis, and positive end-expiratory
pressure. Anesthesiology 1987; Feb;66(2):157-67.
51. Rothen HU, Sporre B, Engberg G, Wegenius G, Hogman M,
Hedenstierna G. Influence of gas composition on recurrence of atelectasis
after a reexpansion maneuver during general anesthesia. Anesthesiology
1995; Apr;82(4):832-42.
52. Stern JB, Mal H, Groussard O, Brugiere O, Marceau A, Jebrak G, et al.
Prognosis of patients with advanced idiopathic pulmonary fibrosis requiring
mechanical ventilation for acute respiratory failure. Chest 2001;
Jul;120(1):213-9.
53. Blivet S, Philit F, Sab JM, Langevin B, Paret M, Guerin C, et al. Outcome
of patients with idiopathic pulmonary fibrosis admitted to the ICU for
respiratory failure. Chest 2001; Jul;120(1):209-12.
80
54. Saydain G, Islam A, Afessa B, Ryu JH, Scott JP, Peters SG. Outcome of
patients with idiopathic pulmonary fibrosis admitted to the intensive care unit.
Am J Respir Crit Care Med 2002; Sep 15;166(6):839-42.
55. Kondoh Y, Taniguchi H, Kitaichi M, Yokoi T, Johkoh T, Oishi T, et al.
Acute exacerbation of interstitial pneumonia following surgical lung biopsy.
Respir Med 2006; Oct;100(10):1753-9.
56. Carvalho CR, Kairalla RA, Schettino GP. Acute respiratory failure after
interferon-gamma therapy in IPF. Am J Respir Crit Care Med 2004; Feb
15;169(4):543,4; author reply 544.
57. Amato MB, Barbas CS, Medeiros DM, Schettino Gde P, Lorenzi Filho G,
Kairalla RA, et al. Beneficial effects of the "open lung approach" with low
distending pressures in acute respiratory distress syndrome. A prospective
randomized study on mechanical ventilation. Am J Respir Crit Care Med
1995; Dec;152(6 Pt 1):1835-46.
58. Hager DN, Krishnan JA, Hayden DL, Brower RG, ARDS Clinical Trials
Network. Tidal volume reduction in patients with acute lung injury when
plateau pressures are not high. Am J Respir Crit Care Med 2005; Nov
15;172(10):1241-5.
59. Ferreira JC, Kairalla RA, Borges-Sobrinho JB, de Souza R, Schettino IA,
Carvalho CR. Recruitment maneuver and PEEP response in acute
exacerbation of nonspecific interstitial pneumonia. Sarcoidosis Vasc Diffuse
Lung Dis 2004; Jun;21(2):159-60.
81
60. Fulmer JD, Roberts WC. Small airways and interstitial pulmonary
disease. Chest 1980; Apr;77(4):470-2.
61. Jonson B, Svantesson C. Elastic pressure-volume curves: what
information do they convey?. Thorax 1999; Jan;54(1):82-7.
62. Takeuchi M, Sedeek KA, Schettino GP, Suchodolski K, Kacmarek RM.
Peak pressure during volume history and pressure-volume curve
measurement affects analysis. Am J Respir Crit Care Med 2001; Oct
1;164(7):1225-30.
63. Hickling KG. Best compliance during a decremental, but not incremental,
positive end-expiratory pressure trial is related to open-lung positive end-
expiratory pressure: a mathematical model of acute respiratory distress
syndrome lungs. Am J Respir Crit Care Med 2001; Jan;163(1):69-78.
APÊNDICE
Tabela. Duração das curvas PV de cada paciente
PH = Pneumonite por Hipersensibilidade crônica FPI = Fibrose Pulmonar Idiopática UIP = padrão Pneumonia Intersticial Usual
ID Diagnóstico Duração (seg)
2 JVS FPI-UIP 133.78
4 VOL FPI 66.76
7 AF FPI-UIP 91.24
8 SE FPI-UIP 47.7
9 LGCC FPI-UIP 10.06
11 AD FPI-UIP 175.4
1 MSCF PH 217.49
5 JSP PH 147.6
10 AE PH 86.48
12 VLS PH 92.86
84
Tabela. Resultados do ajuste exponencial e sigmóide às curvas PV de cada paciente
PH = Pneumonite por Hipersensibilidade crônica FPI = Fibrose Pulmonar Idiopática UIP = padrão Pneumonia Intersticial Usual SD = Desvio padrão
ID Diagnóstico R2 Exponencial R2 Sigmóide
2 JVS FPI-UIP 0.9429 0.9996
4 VOL FPI 0.9978 0.9996
7 AF FPI-UIP 0.9889 0.9997
8 SE FPI-UIP 0.9578 0.9996
9 LGCC FPI-UIP 0.9799 0.9995
11 AD FPI-UIP 0.9643 0.9995
1 MSCF PH 0.9790 0.9998
5 JSP PH 0.9931 0.9998
10 AE PH 0.9599 0.9969
12 VLS PH 0.9876 0.9995
Média 0.9751 0.9993
SD 0.0180 0.0009