avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

67
Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-Graduação Medicina Veterinária Área de concentração Clínica e Reprodução Animal CLARICE MARANTE CASCON AVALIAÇÃO CLÍNICA, ENDOSCÓPICA E HISTOPATOLÓGICA DE CÃES COM DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL. Niterói 2011

Upload: duongdung

Post on 07-Jan-2017

229 views

Category:

Documents


7 download

TRANSCRIPT

Page 1: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

Universidade Federal Fluminense

Programa de Pós-Graduação Medicina Veterinária

Área de concentração Clínica e Reprodução Animal

CLARICE MARANTE CASCON

AVALIAÇÃO CLÍNICA, ENDOSCÓPICA E HISTOPATOLÓGICA DE CÃES COM DOENÇA

INFLAMATÓRIA INTESTINAL.

Niterói

2011

Page 2: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

CLARICE MARANTE CASCON

AVALIAÇÃO CLÍNICA, ENDOSCÓPICA E HISTOPATOLÓGICA DE CÃES COM DOENÇA

INFLAMATÓRIA INTESTINAL.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Clínica e Reprodução Animal.

Orientadora: Profª Drª Ana Maria Reis Ferreira

Co-orientadora: Profª Drª Marcela Freire Vallim de Mello

Niterói

2011

Page 3: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

Cascon, Clarice Marante

Avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com Doença Inflamatória Intestinal.

67 f.

Dissertação de mestrado (Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense)

Bibliografia: f. 53-64

1. Doença Inflamatória Intestinal. 2. cão. 3. Gastrite.

4. Diagnóstico. 5. Patologia I. Universidade Federal Fluminense. II. Título.

Page 4: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

CLARICE MARANTE CASCON

AVALIAÇÃO CLÍNICA, ENDOSCÓPICA E HISTOPATOLÓGICA DE CÃES COM DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL.

Orientadora: Profª Drª Ana Maria Reis Ferreira

Co-orientadora: Profª Drª Marcela Freire Vallim de Mello

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Clínica e Reprodução Animal.

Aprovada em ___________________ de 2011.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Profª. Drª.Ana Maria Reis Ferreira - Orientadora

Universidade Federal Fluminense

__________________________________________

Profa. Dra. Marcia Carolina Salomão Santos

Universidade Federal Fluminense

__________________________________________

Profª. Drª. Daniela de Carvalho Martins

Universidade do Grande Rio

Niterói

2011

Page 5: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

DEDICO

Ao meu marido Luiz, com amor, admiração e gratidão por sua compreensão, carinho, presença e incansável apoio ao longo do período de elaboração deste trabalho. Aos meus queridos pais, Silvia e Pedro, que iluminaram o caminho da minha vida me educando. Pelos ensinamentos que formaram os alicerces de minha história.

Aos pacientes, objetivo maior de toda atividade científica.

Page 6: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

AGRADECIMENTOS

À Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para superar as dificuldades e por mostrar os caminhos nas horas incertas. À Profa. Dra. Ana Maria Reis Ferreira pela orientação deste estudo, pela confiança, amizade e por ter aberto as portas do laboratório permitindo a realização deste trabalho. À Profa. Dra Marcela Freire Vallim de Mello pela coorientação e apoio na realização deste trabalho. À Profa. Dra. Juliana Silva Leite pela ajuda na realização das fotos e no aprendizado da incansável pesquisa do Helicobacter spp. nos cortes histológicos. Ao Prof. Dr. Walter Lilenbaum agradeço por todos os ensinamentos e conselhos que sempre me auxiliaram no caminho da pesquisa. Aos funcionários da pós graduação, Julia Gleich e Sydnei G. Cordeiro, da pela atenção e competência com que sempre me atenderam.

Aos amigos de graduação Carla Salavessa, Carlos Magno A. Mariano, Larissa B. Geovú e Diogo B. de Souza pelo incentivo e apoio. Ao amigo Marcus Vinicius Machado pelo incentivo no início do aprendizado da endoscopia e por me contagiar com seu entusiasmo na melhoria da medicina veterinária.

À toda minha família, que sempre me apoiou em todas as etapas de minha vida e por acompanharem de perto a minha caminhada, me apoiando, incentivando e vibrando com as conquistas.

Page 7: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

RESUMO

O sistema imune intestinal é constantemente exposto a uma enorme variedade de

antígenos. Quando a homeostase deste sistema é interrompida, um estado inflamatório

crônico pode se instalar. Esta inflamação crônica provoca inúmeros sintomas tais como

diarréia, vômitos, alteração do apetite, perda de peso entre outros, que interferem na

qualidade de vida dos animais e de seus proprietários. No presente estudo foram

avaliados 20 animais pertencentes à espécie Canis familiaris, das seguintes raças:

Poodles, Pastor Alemão, Schnauzer, Beagle, S.R.D., ChowChow, Pinsher, Yorkshire

Terrier, Labrador Retriever, West Highland White Terrier e Cocker Spaniel Inglês, sendo

7 machos e 13 fêmeas, com idade variando entre 20.4 a 189.6 meses, que

apresentavam cronicidade dos sintomas característicos da Doença Inflamatória

Intestinal. O estudo foi prospectivo, transversal, realizado em cães atendidos no

Hospital Veterinário da Universidade Federal Fluminense (UFF) e em clínicas privadas

do município do Rio de Janeiro. O objetivo foi avaliar a Doença Inflamatória Intestinal

em cães (Canis familiaris) através do exame endoscópio e histopatológico. Os animais

foram submetidos à endoscopia digestiva alta sob anestesia geral inalatória. Amostras

de mucosa gastroduodenal, obtidas através de biópsias endoscópica, foram coradas

por Hematoxilina Eosina e Giemsa modificado e submetidas à análise histopatológica e

pesquisa de Helicobacter spp., respectivamente. O teste rápido da urease também foi

realizado. Os sintomas clínicos, os achados macro e microscópicos foram confrontados

e correlacionados. Concluímos neste estudo que foi possível estabelecer correlação

entre a alteração da consistência das fezes com enantema de corpo; aumento do

número de evacuações com enantema de corpo; perda de peso com enantema de

antro, corpo e duodeno. Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário gástrico com edema de

pregas gástricas, erosão plana, enantema de corpo e com a presença de líquido de

estase e Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário duodenal com úlcera duodenal,

enantema de duodeno e com a presença de líquido de estase. A hiperplasia de folículo

linfóide foi correlacionada com erosão plana gástrica. Alteração do apetite foi

Page 8: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

correlacionada à presença de infiltrado inflamatório linfoplasmocitário gástrico, com

edema de duodeno e com positividade no teste da urease.

.

Palavras-chave: Vômito; diarréia; endoscopia; Canis familiaris; Infiltrado inflamatório.

Page 9: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

ABSTRACT

The intestinal immune system is constantly exposed to a wide variety of antigens. When

the homeostasis of this system is disrupted, a chronic inflammatory state may settle.

This chronic inflammation causes many symptoms such as diarrhea, vomiting, change in

appetite, weight loss, among others, that affect the quality of life of animals and their

owners. In this study we evaluated 20 animals belonging to the species Canis familiaris,

the following breeds: Poodles, German Shepherd, Schnauzer, Beagle, SRD,

ChowChow, Pinsher, Yorkshire Terrier, Labrador Retriever, West Highland White Terrier

and Cocker Spaniel, 7 males and 13 females, with ages ranging from 20.4 to 189.6

months, who had the symptoms characteristic of chronic inflammatory bowel disease.

The study was a cross-performed on dogs in the Veterinary Hospital of Universidade

Federal Fluminense (UFF) and private clinics in the municipality of Rio de Janeiro. The

objective was to assess IBD in dogs (Canis familiaris) through the endoscope

examination and histopathology. The animals underwent endoscopy under general

inhalation anesthesia. Gastroduodenal mucosa samples obtained by endoscopic

biopsies were stained with hematoxylin eosin and modified Giemsa and subjected to

histopathological analysis and research of Helicobacter spp., respectively. The rapid

CLO test was also performed. The clinical symptoms, gross and microscopic findings

were compared and correlated. We conclude that this study was to establish possible

correlation between changes in stool consistency with enanthema body, increased

number of bowel movements with enanthema body, lose weight with enanthema the

antrum, body and duodenum. Lymphoplasmacytic inflammatory infiltrate with edema of

the gastric folds gastric erosion flat enanthema body and the presence of liquid stasis

and lymphocytic inflammatory infiltrate with duodenal ulcer duodenal enanthema

duodenum and the presence of liquid stasis. Hyperplasia of lymphoid follicles was

correlated with erosion flat stomach. Appetite changes was correlated to the presence of

gastric lymphocytic infiltrate, with edema of the duodenum and with a positive CLO test.

Key words: Vomiting; diarrhea; endoscopic; Canis familiaris; inflammatory infiltrate.

Page 10: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados demográficos, clínicos e endoscópicos de cães com Doença

Inflamatória Intestinal.

Tabela 2 – Dados demográficos, histopatológicos e teste da urease de cães com

Doença Inflamatória Intestinal.

Page 11: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Índice de Atividade da Doença Inflamatória Intestinal Canina (Jergens, 2003)

Quadro 1 – Classificação de esofagites por Savary-Miller

Figura 2 – Classificação de Savary-Miller para classificação de esofagite (Fonte:

Abrahão Jr. LJ, Classificação das Esofagites, in: Atualização em Gastroenterologia,

2010).

Figura 3 – Distribuição racial dos cães com Doença Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de

Janeiro-RJ. 2011.

Figura 4 – Distribuição dos sintomas clínicos apresentados pelos cães com Doença

Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

Figura 5 – Distribuição das alterações endoscópicas apresentadas pelos cães com

Doença Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

Figura 6 – Distribuição das alterações histopatológicas apresentadas pelos cães com

Doença Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

Figura 7 – Distribuição do infiltrado linfocítico plasmocitário encontrado na avaliação

histopatológica da mucosa gástrica e duodenal dos cães com Doença Inflamatória

Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

Figura 8 - Cão com Doença Inflamatória Intestinal. A – Congestão mucosa gástrica B – Helicobacter sp. na mucosa gástrica (setas) C – Infiltrado Inflamatório linfoplasmocitário na lâmina própria (seta) e Folículo Linfóide (FL). D – Hemorragia (seta). E – Focos hemorrágicos na mucosa duodenal. F – Folículo Linfóide (FL). A, C – F: Coloração HE. B – Coloração Giemsa modificado. A e D: aumento original 400X, B: aumento original 1000X, C, E e F: aumento original 100X. UFF – Rio de Janeiro- RJ.

Page 12: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

LISTA DE ABREVIATURAS

AGP – α -1ácido glicoproteina

CIBDAI – Canine Inflammatory Bowel Disease Activity Index (Índice de Atividade da Doença Inflamatória Intestinal em cães)

cm - Centímetro

CRP – Proteína C –reativa

DII – Doença Inflamatória Intestinal

ELP – Enterite Linfoplasmocitária

FNT – Fator de Necrose Tumoral

HAP - Haptoglobina

HE – Hematoxilina-Eosina

IgE – Imunoglobulina E

IL – 12 – Interleucina 12

MAMP – Microbios associados a padrão molecular

µm - micrometros

NOD2 - Nucleotide-Binding Oligomerization Domain Containing 2 (Domínio de oligomerização de ligação contendo 2 nucleotídeos)

PAMP – Patógenos associados a padrão molecular

PCR – Polymerase Chain Reaction (Reação em cadeia da polimerase)

PRR – Receptores de reconhecimento padrão

RNAm – Ácido ribonucléico mensageiro

S.R.D. – Sem Raça Definida

SAA - Amilóide sérica A

T CD 4 – Linfócito apresentador de antígeno

TLR – Toll Like Receptor (Receptor toll like)

Page 13: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

SUMÁRIO

I) Introdução

II) Revisão de literatura

II.1) Etiopatogênese

II.2) Manifestações Clínicas

II.3) Diagnóstico

II.4) Diagnóstico Histológico

II.5) Tratamento

II.6) Prognóstico

III) Objetivos

III.1) Objetivo geral

III.2) Objetivos específicos

IV) Materiais e métodos

IV.1) Desenho do Estudo

IV.2) Animais

IV.3) Preparo dos animais para exame o endoscópio

IV.4) Exame endoscópico e coleta de material

IV.5) Teste rápido da urease

IV.6) Processamento histopatológico

IV.7) Avaliação histológica das amostas

IV.8) Análise estatística

Page 14: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

V) Resultados

V.1) Escolha do tema

V.2) Dados demográficos

V.3) Achados clínicos

V.4) Alterações Endoscópicas

V.5) Teste da urease

V.6) Alterações Histológicas

V.7) Correlação achados clínicos e endoscópicos

V.8) Correlação endoscópicos e histopatológicos

V.9) Correlação achados clínicos e histopatológicos

VI) Discussão

VII) Conclusão

VIII) Revisão Bibliográfica

Page 15: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

15

I – INTRODUÇÃO

Embora existam registros históricos de muitos séculos atrás de estudos das

gastrites e seus sintomas, foi com o trabalho de Schindler, em 1947, que a pesquisa e o

conhecimento das gastrites alcançou grande desenvolvimento. Por meio de biópsias

gastroscópicas e intraoperatótrias, este autor tentou relacionar os achados macro e

microscópicos do estômago de humanos. Ele diferenciou gastrite aguda e crônica

estabelecendo os termos “gastrite crônica superficial” e “gastrite crônica atrófica”.

O marco seguinte de extrema importância foi a capacidade de realizar biópsias

do estômago através do endoscópio sem recorrer a laparotomia o que foi seguido pela

introdução de instrutmentos flexíveis de fibra óptica que permitiram obter biópsias

orientadas (WOOD et al, 1949, HIRSCHOWITZ et al, 1957).

Na Medicina Veterinária nosso conhecimento acerca das várias manifestações

da Doença Inflamatória Intestinal (DII) se expandiu nos últimos 20 anos. Nosso

reconhecimento de que esta síndrome é uma doença altamente prevalente em cães e

gatos não ocorreu até meados dos anos 80 (TAMMS, 2005). Os relatos iniciais incluíam

as observações clínicas de síndrome de má absorção no gato (1969) e um único relato

de caso de um gato que foi descrito na época como colite ulcerativa (1972). Vários

relatos iniciais sobre DII em cães, focando-se na colite ulcerativa histiocítica na raça

Boxer, apareceram em jornais humanos entre 1967 e 1970.

A DII idiopática é a forma mais comum de doença intestinal crônica em cães

(HALL AND SIMPSON, 2000; JERGENS AND WILLARD, 2000).

O termo Doença Inflamatória Intestinal é aplicado na medicina veterinária a uma

inflamação idiopática, crônica em qualquer área do trato gastrointestinal de patogênese

desconhecida (STROMBECK, 1979). A doença é caracterizada por infiltração difusa na

lâmina própria por várias populações de células inflamatórias, incluindo linfócitos,

plasmócitos, eosinófilos, neutrófilos e macrófagos.

O diagnóstico é suspeitado em animais que apresentam sinais clínicos tais

como diarréia, vômito crônico, perda de peso e alterações do apetite e confirmado

Page 16: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

16

através do achado histopatológico de infiltrado inflamatório na lâmina própria (HALL

AND SIMPSON, 2000). A descrição patológica é realizada descrevendo-se o tipo

predominante de células inflamatórias envolvidas e a área do trato gastrointestinal

afetada (FLESJA, 1977).

Os animais afetados geralmente apresentam sintomas gastrointestinais

inespecíficos como alteração do apetite, vômito, perda de peso, diarréia, hematoquezia,

fezes com muco. Para serem considerados crônicos, os sintomas devem persistir por

mais de 3 semanas. É de extrema importância que outras causas de gastroenterocolite

sejam excluídas através da avaliação clínica e laboratorial. A alergia/intolerância

alimentar também deve ser excluida através de terapia dietética com uma nova fonte de

proteina ou proteina hidrolizada. O diagnóstico final é confirmado após a exlusão de

outras causas de gastroenterocolite, realização de biópsia endoscópica ou por

laparotomia e, demonstração histopatológica de inflamação intestinal (JERGENS et al,

2003). Apesar de ser uma patologia reconhecidamente comum em cães e gatos, sua

real prevalência permanece desconhecida. Descreve-se apenas que a DII é mais

prevalente em algumas raças tais com Pastor Alemão, Sharpei e Basenji.

Na rotina de trabalho com pequenos animais observa-se a grande frequência

com que os proprietários referem vômito, diarréia e falta de apetite. Quando realizada a

endoscopia digestiva alta, é comum observamos enantema gástrico e duodenal e na

histopatologia infiltrado inflamatório linfoplasmocitário. A partir dessas observações

surgiu o interesse de estudar a DII nos cães com o objetivo de conhecer melhor está

doença e sua associação com sinais clínicos.

O presente estudo teve como objetivo avaliar cães com distúrbios

gastrointestinais com sintomatologia crônica de vômito, diarréia, alterações do apetite e

perda de peso no Rio de Janeiro. Inúmeros estudos tentam explicar e conhecer melhor

a DII, mas poucos são realizados no Brasil, dificultando o conhecimento local da DII.

Como a etiopatogênese da doença é pouco conhecida supõe-se que possam existir

fatores locais que interfiram com o desenvolvimento da DII.

2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Page 17: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

17

A Doença Inflamatória Intestinal pode ser definida clinicamente como um

espectro de desordens gastrointestinais associadas à inflamação crônica do estômago,

intestino delago e/ou cólon de etiologia e patogênese desconhecidas (WASHABAU,

2004).

As doenças inflamatória intestinais são comuns em cães, abrangendo um vários

tipos histológicos que afetam todos as regiões do trato gastrointetstinal (GERMAN,

2000).

O diagnóstico clínico deve ser considerado quando o animal afetado apresenta

sintomas gastrointestinais tais como anorexia, vômito, perda de peso, diarréia,

hematoquezia, fezes com muco, persistentes por mais de 3 semanas, não responsíveis

às mudanças alimentares (nova fonte de proteina, proteina hidrolizada ou dietas de alta

digestibilidade) ou terapias sintomáticas (parasiticidas, antibióticos, protetores

gastrointestinais) e tendo excluído outras causas de gastroenterocolite através de

avaliação diagnóstica, complementado com evidência histológica de inflamação

intestinal (JERGENS et al, 2003).

2.1 – Etiopatogênese

A etiopatogênse da DII é desconhecida e acredita-se que um mecanismo imune

esteja envolvido. Dentre as possíveis causas destaca-se a resposta hipersensível do

hospedeiro a antígenos presentes no lúmen intestinal ou na mucosa (JERGENS et al,

2003).

Estudos indicam que a DII ocorre como resultado de uma interação anormal

entre bactérias comensais do lúmen intestinal e o sistema imune de indivíduos

geneticamente predispostos. O principal fator para o desencadeamento da DII é

provavelmente a suscetibilidade genética para a doença (RIOUX et al, 2005). Estudos

em pacientes humanos demonstram que existe uma significativa associação entre DII e

determinados marcadores genéticos tais como a mutação no gene CARD 15 ou TLR-4,

Page 18: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

18

que interferem principalmente com o reconhecimento e clareamento de bactérias

invasivas e a resposta imune inata (OGURA et al, 2001). Rioux (2005) sugere que, em

indivíduos suscetíveis, a flora bacteriana residente é o principal fator para o

desenvolvimento da inflamação intestinal (RIOUX et al, 2005).

O sistema imune intestinal é constantemente exposto a inúmeros antígenos

derivados da alimentação, componentes da microbiota endógena e organismos

patogênicos. O sistema imune intestinal realiza importante modulação de acordo com a

natureza do estímulo antigênico bloqueando patógenos, porém mantendo preservada a

tolerância para substâncias inofensivas. Se este delicado equilíbrio for quebrado um

estado inflamatório crônico pode se instalar (GERMAN, 2003).

Desordens tais como giardíase, supercrescimento bacteriano, infecção por

Campilobacter ou Salmonela, alergia alimentar, linfangiectasia e neoplasia podem

resultar em gastroenterite com infiltrado inflamatório em cães e gatos (ETTINGER,

1982).

A base imunomediada da doença pode ser reforçada pela indução da remissão

após administração de medicamentos imunomoduladores. O aumento de células IgE

positivas em cães doentes comparados a cães saudáveis é um outro aspecto que

também sugere o envolvimento de reações de hipersensibilidade na patogênese da DII

canina (LOCHER et al,2001), assim como o aumento da concentração de eosinófilos e

mastócitos em cães com gastroenterite eosinofílica (KLEINSCHMIDT et al, 2007). A

quebra da barreira mucosa, independentemente da causa primária (bactérias, agentes

químicos etc) também pode levar a exposição de antígenos, tornando o processo

crônico (GREGER et al, 2006) e é reforçado pela redução da apoptose de linfócitos,

como demonstrado em cães com DII comparados aos controles (DANDRIEUX et al,

2008).

Grande parte do conhecimento dos processos inflamatórios gastrointestinais

surgiu a partir de estudos em animais de laboratório. Nestes modelos ocorrem inúmeras

quebras do sistema imunológico da mucosa espontaneamente ou induzida que pode

levar à inflamação crônica sendo o resultado final semelhante entre os modelos do

Page 19: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

19

ponto de vista patológico (GERMAN, 2003). Estes estudos experimentais sugerem que

o rompimento em qualquer uma das três áreas críticas (barreira mucosa, sistema imune

de mucosa e microbiota endógena) pode resultar em inflamação crônica (ELSON, 1999;

WATANABE, 1998).

A microbiota endógena é um fator crucial para o desenvolvimento da DII. A DII

geralmente não se desenvolve quando ratos são criados em um ambiente livre de

germes (ELSON, 1999). Estes achados indicam que o desenvolvimento de uma

resposta aberrante do sistema imune a componentes da microbiota endógena é de

grande importância para a patogênese da inflamação intestinal crônica e da DII

(DUCHMANN, 1995).

No estudo de Xenoulis (2008) foi observado um número reduzido de populações

bacterianas no intestino delgado de cães com DII (XENOULIS, 2008), o que também foi

observado em pacientes humanos com DII (OTT et al, 2004). Segundo Xenoulis (2008)

embora os cães portadores de DII apresentassem resultados semelhantes aos do

grupo controle no que diz respeito à colonização intestinal por bactérias do filo

Firmicutes e Proteobacteria, houve diferença significativa na proporção relativa dos

subgrupos destes filos. Os organismos do filo Bacteroidetes, que são comumente

encontrados no intestino delgado distal de seres humanos e são considerados

benéficos para a saúde do trato gastrointestinal, também estavam ausentes em

amostras da microbiota intestinal de cães no grupo com DII (XENOULIS, 2008), o que

reforça a hipótese de que na DII ocorre uma redução do número de bactérias benéficas

exacerbando algumas formas da doença (FRANK et al, 2007).

Inúmeras teorias tentam explicar a patogênese da DII em humanos destacando-

se: resposta autoimune a um antígeno luminal ou de mucosa, resposta imune anormal

a uma bactéria comensal ou a uma infecção causada por organismo patogênico que

permanece no tecido resultando em inflamação crônica ou provocando uma

desregulação ativa após a resolução da infecção (HENDRICKSON, 2002). É

amplamente reconhecido que a DII canina comporta-se de maneira similar à humana e

modelos experimentais da doença demonstraram que algumas características

patofisiológicas são compartilhadas com humanos como, por exemplo, o papel de

Page 20: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

20

células T CD4, FNT (fator de necrose tumoral) e interleucina12 (IL -12) na mediação

inflamatória intestinal e a resposta a antígenos derivados de bactérias comensais

(HENDRICKSON et al, 2002, GERMAN et al 2003).

Um importante desenvolvimento na medicina humana foi a demostração do

envolvimento de diferentes subtipos de linfócitos (Th1eTh2) na DII, com predomíno de

Th1 na Doença de Crohn e Th2 na Colite Ulcerativa (JOSÉ LEÓN, et al 2006), que

ativam diferentes citocinas pró-inflamatórias (LUCKSCHANDER et al, 2010). Em cães,

diferente do homem, há uma ativação mista de Th1 e Th2 nas doenças inflamatórias

intestinais (CAVE, 2003, LUCKSCHANDER et al, 2010, GERMAN et al, 2001), levando

a expressão de citocinas distintas. Recentemente tem-se levado em consideração a

hipótese de que diferentes célulasTh podem estar envolvidas em diferentes tipos de DII

(KLEINSCHMIDT, 2007). Alguns autores têm demonstrado que os mastócitos podem

estar aumentados ou diminuídos, dependendo do infiltrado celular predominante e que

estes estão reduzidos na enterite linfo plasmocitária e aumentados na gastroenterite

eosinofílica, reforçando a hipótese de que existem caminhos patogênicos diferentes

para os dois tipos de doença inflamatória intestinal (Th1 para enterite linfoplasmocitária

e Th2 para gastroenterite eosinofílica) (KLEINSCHMIDT et al, 2007).

As células dos organismos dos vertebrados têm receptores capazes de

reconhecer patógenos (ou micróbios) através de associação de padrões moleculares

(PAMPs or MAMPs, respectivamente (MEDZHITOV AND JANEWAY, 2002). Esses

receptores de reconhecimento de padrões (PRR) convertem o processo de

reconhecimento em uma importante reação de defesa do hospedeiro. Uma família de

PRR são receptores Toll-like (TLRs), que coletivamente abrangem o reconhecimento

das PAMPs de toda a gama de microrganismos (KANZLER et al., 2007). Receptores

Toll-like (TLRs) são uma família de receptores funcionalmente importantes para o

reconhecimento de patógenos associados a um padrão molecular (PAMP), uma vez

que desencadeiam a resposta pró-inflamatória e aumentam a expressão de moléculas

co-estimulatórias, ligando a resposta inata rápida à imunidade adaptativa

(BONNEFONT-REBEIX, 2007).

Page 21: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

21

Os TLR são capazes de identificar patógenos e assim mediar a protecção contra

agentes infecciosos, mas o excesso de mediadores TLR podem causar alergias,

doenças auto-imunes ou aterosclerose (AKASHI-TAKAMURA AND MIYAKE, 2006).

Em cães, pouco se sabe sobre TLRs e a maioria dos estudos são restritos a

níveis de RNAm de TLR 2, 4 e 9. Pesquisadores japoneses seqüenciaram TLR 2, 4 e 9

em cães e foram os primeiros a relatar a presença de RNAm em diferentes tecidos

utilizando a PCR (HASHIMOTO et al., 2005; ISHIi et al., 2006). SWERDLOW et al.

(2006) demonstraram que TLR2, TLR4 e NOD2 RNAm são expressos em baixos níveis

em células epiteliais não estimuladas do cólon canino e podem ter aumento na

expressão da resposta a estímulos com os seus respectivos agonistas, como por

exemplo peptideoglicanos e lipopolissacarídeos. Além disso, um aumento na expressão

de TLR 2, 4 e 9 RNAm foi encontrado na DII canina

quando comparadas a níveis de RNAm em cães saudáveis (controles) e em cães com

diarréia alimentar responsiva (BURGENERE E JUNGI, 2007). Estes resultados são

semelhantes aos encontrados em seres humanos portadores de doença inflamatória

intestinal (TANAKA, 2008).

2.2 – Sintomas Clínicos

Os sinais e sintomas clínicos da DII em cães são altamente variáveis,

dependendo da localização e extensão do segmento do trato gastrointestinal afetado

(JERGENS, 1992; JACOBS, 1990). Essa diversidade de sinais e sintomas clínicos

dificulta a avaliação acurada dos efeitos das várias terapias na atividade inflamatória

(JERGENS, 1999).

A DII é descrita principalmente em animais de idade média a avançada, mas

cães e gatos jovens também podem ser afetados (LEICONDRE, 2004).

As manifestações clínicas da doença inflamatória intestinal em cães são

numerosas e inespecíficas, sendo os sinais clínicos mais comuns a perda de peso,

vômito persistente ou recorrente, diarréia (KLEINSCHMIDT, et al, 2007) e alterações do

Page 22: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

22

apetite (ETTINGER, 1982, JERGENS, 1992) freqüentemente associados com sinais

secundários como ascite (se hipoalbuminemia está presente) ou palidez de mucosas

(no caso de hemorragia gastrointestinal crônica) (GERMAN et al, 2003, STURGESS,

2005).

A DII é uma doença altamente individualizada, o que torna difícil a avaliação e a

comparação entre pacientes. Um índice numérico para avaliar o grau de atividade é

altamente desejável para aferir inicialmente a gravidade da DII e guiar estratégias

terapêuticas nos cães (JERGENS et al, 2003).

Jergens et al, 2003 desenvolveu o CIBDAI (Canine Inflamatory Bowel Disease

Activity Index) com o objetivo de avaliar e classificar a DII em cães sintomáticos, avaliar

a atividade da DII correlacionando dados laboratoriais (concentração sérica de PC-R,

haptoglobina (HAP), α - 1 glicoproteina ácida [AGP] e amilóide sérico A [SAA]),

histológicos e clínicos. Os parâmetros clínicos avaliados pelo autor incluíram: atividade,

apetite, vômito, consitência das fezes, freqüência das fezes e perda de peso. Cada

parâmetro é avaliado em um escore de 0 (sem alteração) a 3 (alteração grave) e a

soma dos valores é classificada em uma tabela que indica o grau de atividade da

doença (Figura 1). O autor concluiu que a avaliação da gravidade clínica (atividade) em

cães com DII é difícil e altamente variável. A condição clínica em um determinado

momento pode ser influenciada pela presença de inflamação intestinal ativa assim

como pelas conseqüências secundárias da inflamação, incluindo anemia e deficiência

de vitaminas,que contribuem para os vários sinais da doença gastrintestinal (JERGENS

et al, 2003). Este estudo foi o que mais se aproximou dos trabalho realizados em

humanos que utilizam além da classificação endoscópica e histológica dados clínicos e

laboratoriais dos pacientes DEARING, 1969, BEST et al, 1976, HARVEY E

BRADSHAW, 1980, VAN HEES, 1980, FAGAN, 1982, PRANTERA et al, 1988.

Vários índices laboratoriais e clínicos foram desenvolvidos para avaliar a

atividade da doença em pacientes humanos com doença de Crohn e colite ulcerativa

(BEST, 1976, HARVEY, 1980, VAN HEES, 1980, PRANTERA et al, 1988). O índice

mais comumente utilizado é o “Crohn Disease Activity Index” (BEST et al, 1976)

enfatiza principalmente parâmetros clínicos, enquanto outros índices incorporam

Page 23: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

23

variáveis laboratoriais de atividade inflamatória (VAN HEES, 1980). O aumento nas

concentrações de proteína séricas como por exemplo PC-R e AGP se correlacionou à

atividade clínica da doença em pacientes humanos com DII (DEARING, 1969, FAGAN,

1982, PRANTERA et al, 1988).

Inúmeros índices têm sido utilizados para avaliar a atividade da DII em

cães, incluindo sinais clínicos (JERGENs et al, 1992, GUILFORD, 1996), graus

histológicos da inflamação da mucosa (JACOBS et al, 1990, ROTH et al, 1990,

JERGENS et al, 1992, WILCOX, 1992) análise fenotípica da resposta imune

celular, (JERGENS et al, 1996, STONEHEWER et al, 1998, JERGENS et al, 1999,

ELWOOD E GARDEN, 1999, GERMAN, 2001), mensuração de mediadores

inflamatórios tais como metabólitos do óxido nítrico (GUNAWARDANA et al, 1997,

Jergens et al, 1998) e expressão alterada de RNAm de citocinas transcripitase

(GERMAN et al,2000). Embora úteis em ambientes de pesquisa, sua aplicação na

rotina clínica é extremamente trabalhosa e tecnicamente desafiadora.

2.3 – Diagnóstico

O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos intermitentes ou persistentes de

diarréia e/ou vômito e/ou perda de peso e/ou redução do estado geral, associado a

evidências histológicas de infiltrado inflamatório na mucosa intestinal. Antes de

estabelecer o diagnóstico de doença inflamatória intestinal, é importante excluir todas

as outras possíveis causas de enterite crônica (CAVE, 2003, TAMS, 2003) tais como:

doenças infecciosas (bacterianas, parasitárias), alergia alimentar e neoplasias

(GASCHEN,2003), sendo a correção dietética importante ferramenta para excluir ou

confirmar diarréia responsiva a alimentação (LUCKSCHANDER, 2010).

Como o diagnóstico da DII em cães é feito por exclusão, é necessário a

realização de testes diagnósticos, como por exemplo, exames de urina, sangue e

parasitológico de fezes, para excluir causas secundárias de inflamação. Esses exames

são pouco específicos para a DII, devendo-se ter cuidado para não superestimar a

incidência de DII (HALL AND GERMAN, 2009). Este aspecto é muito importante,

Page 24: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

24

porque se a enterite crônica é erroneamente diagnosticada e tratada como uma doença

inflamatória intestinal, é pouco provável que o problema seja resolvido (STURGESS,

2005).

Quando suspeita-se de DII, exames complementares são de extrema

importância e muitas vezes primordiais para o seu diagnóstico. Apesar das três técnicas

mais usadas serem a radiologia convencional, ultrassonografia e endoscopia, somente

a endoscopia fornece informações mais específicas para o diagnóstico da DII,

especialmente por permitir a obtenção de biópsias, que são indispensáveis para

distinguir os vários subtipos de infiltrado celular na mucosa (RYCHLIK, 2007). A

radiografia e a ultrassonografia, que fornecem importantes informações sobre as

camadas e a espessura da parede do intestino e estômago parecem ser mais úteis na

exclusão de outras possíveis causas (PENNINCK, 2003, RUDORF, 2005).

No estudo de Leib et al, 2010, a ultrassonografia abdominal não contribuiu

substancialmente para o diagnóstico clínico da DII em 61(68,5%) cães com vômito

crônico (LEIB et al, 2010).

Recomenda-se a realização de ultrassonografia abdominal em cães com idade

igual ou superior a 9 anos com vômitos crônicos e aqueles com forte suspeita de

linfoma gastrointestinal ou adenocarcinoma gástrico. A suspeita de neoplasia

gastrointestinal deve aumentar se o vômito ocorrer, pelo menos, 11 vezes por semana

ou houver perda de peso superior a 13,3% do peso corporal. Entretanto os autores não

recomendam o exame ultrassonográfico em cães jovens com uma longa história de

vômito crônico que não perderam peso, que vomitam com freqüência e são suspeitos

de Doença Inflamatória Intestinal. Nesses casos a gastroduodenoscopia é o exame de

escolha fornecendo informações mais detalhadas e permitindo a coleta de material para

diagnóstico definitivo. Nestes pacientes a endoscopia digestiva alta como método inicial

tem melhor custo benefício quando comparada a ultrassonografia como método

diagnóstico inicial (LEIB et al, 2010).

Segundo Rudorf (2005) cães com peso entre 30 a 40 kg tem uma maior

espessura da parede do intestino delgado quando comparados a cães com peso

Page 25: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

25

inferior a 20 kg. Entretanto não houve uma associação positiva entre a espessura da

parede intestinal do duodeno com o diagnóstico histopatológico ou resposta ao

tratamento (RUDORF et al, 2005).

Utiliza-se como intervalo normal para o duodeno canino os mesmos parâmetros

de escala de cinza (entre 4 e 6mm) empregados em seres humanos, valores acima de

6mm são considerados anormais para duodeno e superiores a 4 a 7mm no jejuno

(RUDORF et al, 2005).

Gaschen et al, 2008 demonstraram que existem diferenças na atividade clínica e

nos achados ultrassonográficos de cães com alergia/intolerância alimentar, Doença

Inflamatória Intestinal e Enteropatia Perdedora de Proteina. O parâmetro mais

importante da ultrasonografia que pode permitir a diferenciação entre os grupos é a

ecogenicidade da mucosa do intestino delgado e a presença de alterações secundárias

no intestino e em órgãos contíguos. A espessura da parede intestinal não foi sensível

nem específica para a presença, tipo e gravidade da doença (GASCHEN et al, 2008).

Após o tratamento é comum não ocorrer melhora da ecogenicidade da mucosa

sugerindo que, apesar da melhora da atividade clínica do paciente, a mucosa requer

um tempo maior para cicatrizar (MAYER et al, 2000). Estes achados também sugerem

que outros eventos mais dinâmicos estão ocorrendo simultaneamente à fase de

cicatrização da inflamação intestinal e que não pode ser reconhecido por meio da

ultrassonografia bidimensional em escala de cinza (GASCHEN et al, 2008).

Excluídas as causas mais comuns de enteropatias crônicas e tendo obtido

biópsias intestinais cirurgicamente ou por via endoscópica na dependência das

circunstâncias (a endoscopia é menos invasiva, mas a amostra é limitada em termos do

local da execução e na dimensão), pode-se chegar ao diagnóstico da DII (HALL, 2009).

No entanto, é importante ressaltar que as biópsias nem sempre são capazes de

estabelecer o diagnóstico com precisão (CAVE, 2003, SCHREINER et al, 2008, HALL,

2009), mesmo à luz de trabalhos recentes que fornecem uma escore histopatológico

para alterações de mucosa em cães (DAY et al, 2008).

Page 26: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

26

Um padrão-ouro diagnóstico para categorização dos distúrbios inflamatórios

intestinais em cães ainda não foi estabelecido. A classificação de cães com alergia

alimentar, intolerância alimentar ou doença intestinal inflamatória idiopática permanece

difícil (GERMAN, 2001).

2.4 – Diagnóstico Histológico

Histologicamente a doença é definida pelo tipo de infiltrado inflamatório

(neutrofílico, eosinofílico, linfocítico, plasmocítico, granulomatoso), associado a

alterações da mucosa (atrofia vilosa, fusão, colapso de cripta), distribuição das lesões

(focal ou generalizada, superficial ou profunda), gravidade (leve, moderado e grave),

espessura da mucosa (leve, moderado e grave) e localização (corpo gástrico, antro

gástrico, duodeno, jejuno, íleo, ceco, cólon ascendente e cólon descendente)

(JERGENS, 1999).

A falta de critérios morfológicos objetivos torna difícil a comparação de resultados

entre patologistas. A subjetividade na avaliação histológica levou ao desenvolvimento

de inúmeros sistemas de classificação (VAN DER GAAG, 1989, PRICE, 1991,

SPINATO et al, 1990, ROTH et al, 1990, ROTH et al, 1992, WILCOCK, 1992, LEIB et

al,1992, JERGEN et al, 1992, JERGENS et al, 1996, STONEHEWER et al, 1998, VAN

DER GAAG, 1998, JERGENs et al, 1999, GERMAN et al, 2000, GERMAN et al, 2001,

JERGENS et al, 2003, BRANDTZAEG et al, 2008, WASHABAU, 2010).

Um dos critérios desenvolvidos e que hoje é amplamente utilizado em todo o

mundo é o Sistema Sydney que utiliza uma combinação lógica de etiologia, morfologia

e localização e baseia-se em muitos elementos-chave de classificações anteriores

(PRICE, 1991).

Enterite linfocítica-plasmocitária (ELP) é o tipo mais frequentemente descrito de

DII em cães (GUILFORD, 1996, CRAVEN, 2002, TAMS,2003; HALL, 2005), sendo

reconhecido como uma das causas mais comuns de vômitos e diarréia crônica nesta

espécie (GUILFORD, 1996, JERGENS,1999, TAMS, 2003). A doença é caracterizada

Page 27: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

27

pela infiltração de linfócitos e células plasmáticas na lâmina própria do intestino

delgado. Apesar de anos de pesquisa em seres humanos e animais, sua causa

permanece desconhecida (GUILFORD, 1996, TAMS,2003; HALL, 2005). Acredita-se

que a ELP idiopática seja decorrente do desequilíbrio imune, mais comumente atribuído

a defeitos na imunorregulação do tecido linfóide associado ao intestino (GUILFORD,

1996).

A presença ou ausência do Helicobacter spp é um aspecto importante da

classificação, sendo considerado, em humanos, como a etiologia mais comum de

gastrite crônica. Recomenda-se o uso do termo “Helicobacter like organism” ao invés de

Helicobacter spp em evidência histológica e imunológica, sem coloração específica

(PRICE, 1991).

2.5 – Tratamento

O tratamento baseia-se em terapia dietética, antiinflamatórios esteróides e

imunossupressores. Acredita-se que alguns antibióticos possuam efeito antiinflamatório

na mucosa intestinal o que é amplamente discutido, pois os mesmos diminuem a carga

bacteriana, reduzindo o estímulo local e conseqüentemente o processo inflamatório

(GARCIA-SANCHO, 2007).

Ensaios clínicos em humanos com DII (Doença de Crohn e Colite Ulcerativa)

demonstram boa resposta a 5 aminosalicilatos (5-ASA) e corticosteróides como pilares

do tratamento (KUHBACHER & FOLSCH, 2007).

Os antibióticos são usados como uma opção ao tratamento primário ou

adjuvante na Doença de Crohn ativa e na Colite Ulcerativa, embora faltem estudos

clínicos controlados comprovando sua eficácia (COLOMBEL et al, 2001, ISAACS &

SARTOR, 2004).

Jergens, 2010 realizou em cães o primeiro estudo randomizado-controlado

comparando a eficácia do uso da monoterapia de prednisona versus prednisona

associada com metronidazol. A taxa de remissão após 21 dias de tratamento foi

Page 28: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

28

semelhante nos dois grupos. O tratamento prednisona ou prednisona e metronidazol foi

associado a redução significativa nas concentrações médias de Proteina C-reativa (PC-

R) pós-tratamento, mas a magnitude da redução da PC-R foi maior em cães que

receberam monoterapia com prednisona (JERGENS, 2010). Os resultados deste estudo

são altamente relevantes para o tratamento dos cães com DII, pois antes do estudo de

Jergens et al, 2010 os antibióticos eram comumente utilizados isoladamente

(JERGENS, 1999, WESTERMARCK, 2005) ou em combinação com glicocorticóides

(JERGENS et al, 1992, JERGENS et al, 2003, GARCIA-SANCHO et al, 2007) ou

aminosalicilatos no tratamento da DII canina (JERGENS et al, 1992, CRAVEN et al,

2004, DAY et al, 2008).

2.6 – Prognóstico

O local anatômico da doença tem significado prognóstico na DII em humanos.

Pacientes com ileocolite são citados como tendo maior número de recaídas quando

comparados aos pacientes que apresentam ileite ou colite isoladas (WRIGHT, 1992).

Na colite ulcerativa quanto maior a extensão do cólon envolvida mais freqüentes e

graves são as complicações (SALES AND KIRSNER, 1983). A importância do local

anatômico da doença em cães com DII é desconhecida (STOKES, 2001).

Em humanos existe uma associação entre DII e aparecimento tardio de

neoplasia intestinal, tanto na Doença de Crohn de cólon como na colite ulcerativa

(RIBEIRO, 1996; VAN HOGEZAND, 2002), mas esse conceito ainda não foi estudado

em cães. Em contraste com humanos, existe pouca informação na literatura veterinária

retratando o desenvolvimento de neoplasia à longo prazo (CHURCHER E WATSON,

1997; STOKES, 2001).

Page 29: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

29

3 – OBJETIVOS

3.1 - Objetivo Geral

• Avaliar o estômago e o intestino (duodeno) de cães domésticos com Doença

Inflamatória Intestinal (DII) através do exame endoscópio e histopatológico.

3.2 - Objetivos Específicos

• Avaliar macroscopicamente e descrever a mucosa do estômago e duodeno através da

endoscopia digestiva alta de cães domésticos com suspeita de DII.

• Avaliar e descrever os achados histopatológicos das amostras obtidas através de

endoscopia digestiva alta em cães domésticos com suspeita de DII.

• Descrever os sintomas clínicos dos cães domésticos com suspeita de DII.

• Relacionar os achados da endoscopia digestiva alta e da histopatologia com os sinais

clínicos apresentados pelos cães suspeitos de ter DII.

Page 30: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

30

4 – MATERIAL E MÉTODOS

4.1 – Desenho do Estudo

Estudo prospectivo, transversal, realizado em cães com sintomas digestivos

atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal Fluminense (UFF) e em

clínicas privadas do município do Rio de Janeiro.

O estudo foi submetido ao comitê de Bioética/UFF e o consentimento informado

foi obtido dos proprietários dos cães participantes do estudo.

4.2 – Animais

Foram estudados 20 animais pertencentes à espécie Canis familiaris, sendo 7

machos e 13 fêmeas, com idade variando entre 20.4 a 189.6 meses, que apresentavam

algum dos sintomas característicos da doença inflamatória intestinal como: diarréia,

vômito crônico, perda de peso e alterações do apetite.

Alguns critérios de exclusão foram adotados para a escolha dos animais

participantes: cães submetidos à cirurgia do aparelho digestivo, cães em uso de anti-

inflamatórios ou que tivessem feito uso nos últimos 30 dias, aqueles com doenças que

impedissem a realização de anestesia geral, patologias que secundariamente

pudessem causar lesões no estômago e animais com neoplasia.

A avaliação clínica dos pacientes foi realizada através de uma adaptação do

“CIBDAI - Canine Inflammatory Bowel Disease Index” (Jergens, 2003). CIBDAI é um

escore numérico para medir a atividade clínica onde seis sinais clínicos são numerados

e somados no final refletindo o grau de atividade de insignificante a grave. Cada

parâmetro é acessado de forma independente. As variáveis são: atitude/atividade (0-

normal, 1– discretamente diminuída, isto é: leve; 2–moderadamente diminuída e 3 –

gravemente diminuída); apetite (0- normal, 1–discretamente diminuída, isto é: leve, 2–

moderadamente diminuída e 3 – gravemente diminuída); vômito (0- sem vômito, 1- leve

Page 31: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

31

[1 vez por semana], 2- moderado [2-3 vezes por semana], 3- grave [mais de 3 vezes por

semana]); consistência das fezes (0- normal, 1- fezes discretamente amolecidas ou

sangue nas fezes e/ou muco, isto é: alteração leve, 2- fezes muito amolecidas, isto é:

alteração moderado, 3- diarréia aquosa, isto é: alteração grave; freqüência de

defecações (0- normal, 1- discretamente aumentada [2 a 3 vezes por dia], 2-

moderadamente aumentada [4 a 5 vezes por dia], 3- gravemente aumentada [mais de 5

vezes ao dia]) e perda de peso (0- sem perda de peso, 1- leve [menos que 5%], 2

moderada [5 a 10%], 3- grave [mais 10%]). (FIGURA 1). Como o estudo não teve como

objetivo avaliar a atividade da doença nos cães o dado atitude/atividade não foi

coletado e não foi realizada a soma dos valores. O índice foi utilizado como forma de

classificar os sinais clínicos.

Figura 1 – Índice de Atividade da Doença Inflamatória Intestinal Canina (Jergens, 2003)

Page 32: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

32

4.3- Preparo dos animais para o exame endoscópico

Jejum hídrico e alimentar foi iniciado, no mínimo, 12 horas antes da realização

dos exames.

Os animais foram submetidos à anestesia geral inalatória no momento do

exame. Para a indução foi utilizado Propofol (4mg/Kg) e a na manutenção foi utilizado

Isofluorano.

4.4- Exame endoscópico e coleta de material

O exame endoscópico foi realizado com fibroendoscópio flexível com 110 cm de

comprimento e 9.8 mm de diâmetro, marca Fujinon modelo FG-100FP.

Para a realização do exame os animais foram posicionados em decúbito lateral

esquerdo.

Na realização da endoscopia digestiva alta foi possível avaliar

macroscopicamente a hipofaringe até o duodeno. Em seguida foi lentamente retirado

analisando-se os seguintes segmentos: corpo gástrico, pregas gástricas, grande

curvatura e antro. A ponta aparelho foi parcialmente retrofletida para avaliação da

incisura angularis e da pequena curvatura e foi totalmente retrofletido para avaliar a

cárdia. O aparelho foi retirado avaliando o esôfago. Durante o exame foram coletados

amostras de biópsia do corpo gástrico e antro pilórico e do duodeno.

A mucosa gástrica e duodenal foi avaliada e as lesões descritas, assim como a

presença de líquido de estase e líquido sanguinolento, edema de pregas gástricas,

enatema da mucosa, erosões ou úlceras. Erosão foi definida como uma alteração do

epitélio da mucosa e úlcera como uma alteração da mucosa com profundidade central e

com margens elevadas. Foi utilizado como critério para o diagnóstico de hérnia de hiato

quando a linha Z estava 2 cm acima do pinçamento diafragmático.

Page 33: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

33

A macroscopia do estômago e duodeno foi descritiva. As lesões de estômago e

duodeno (enantema, edema de prega, erosão, ulceração) foram classificadas pelo

Sistema Sydney nos graus ausente, leve, moderado e grave (PRICE, 1991).

A esofagite foi classificada de acordo com os critérios estabelecidos por Savary-

Miller, 1977. que classifica como grau 1 erosão ovalar ou linear única ou isolada

acometendo apenas uma prega longitudinal não confluente, grau 2 erosões ovalares ou

lineares confluentes ou não acometendo mais de uma prega longitudinal mas não

circunferenciais, grau 3 erosões ovalares ou lineares confluentes e circunferenciais e

grau 4 úlcera, estenose ou esôfago curto associados ou não a lesões de grau 1 a 3.

(QUADRO 1 E FIGURA 2).

Quadro 1 – Classificação de esofagites por Savary-Miller

Grau 1 Erosão ovalar ou linear única ou isolada acometendo apenas uma

prega longitudinal não confluente

Grau 2 Erosões ovalares ou lineares confluentes ou não acometendo mais

de uma prega longitudinal mas não circunferenciais

Grau 3 Erosões ovalares ou lineares confluentes e circunferenciais

Grau 4 Úlcera, estenose ou esôfago curto associados ou não a lesões de

grau 1 a 3

Page 34: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

34

Figura 2 – Classificação de Savary-Miller para classificação de esofagite (Fonte:

Abrahão Jr. LJ, Classificação das Esofagites, in: Atualização em Gastroenterologia,

2010).

Após a realização de cada exame o fibroendoscópio foi lavado com sabão neutro

e posteriormente ficou submerso em uma solução com detergente enzimático durante

30 minutos.

4.5- Teste rápido da urease

Os fragmentos coletados do antro a 2 cm do piloro foram colocados em tubos

de ensaio contendo 2ml de ureia diluída a 10% em água destilada estéril com vermelho

de fenol como indicador de pH (Uretest – Renylab. Belo Horizonte- Minas Gerais -

Brasil).

O teste rápido da urease foi considerado positivo quando a coloração se alterou

de amarelo para rosa em um período máximo de 24 horas.

Page 35: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

35

4.6- Processamento histopatológico

As amostras obtidas endoscopicamente e fixadas em formol tamponado a 10% e

pH 7,2; checagem e posteriormente realizado processamento histotécnico de rotina

(desidratação em bateria de álcool absoluto, diafanização em bateria de xilol e banho

de parafina), inclusão dos fragmentos em parafina e confecção de cortes histológicos

de 5 µm e corados pela Hemotoxilina- Eosina (HE) e pelo Giemsa modificado.

4.7 – Avaliação histológica das amostras

A leitura das lâminas com a coloração de HE foi realizada com aumento de

400x de acordo com o Sistema Sydney (Price, 1991) por um único observador.

A pesquisa de Helicobacter foi realizada com coloração Giemsa modificado no

aumento de 1000x com óleo de imersão.

O exame histopatológico com a coloração HE baseou-se no Sistema Sydney,

sendo descritas as alterações observadas (congestão, edema, hemorragia, infiltrado

inflamatória, hiperplasia folículo linfóide, hiperplasia e metaplasia) Na avaliação

morfológica da mucosa gástrica, as células inflamatórias foram graduadas (aumento de

400X) obtendo-se a média de cinco campos aleatoriamente escolhidos. Os seguintes

graus foram estabelecidos conforme o critério estabelecido no Sistema Sydney:

ausente – nehuma célula inflamatória, leve – 1 a 50, moderado – 51 a 150, grave - ≥

150 células por campo (PRICE, 1991). Foi descrito também o tipo celular predominante.

As amostras coradas pelo Giemsa modificado foram avaliadas quanto à

presença de microorganismos morfologicamente compatíveis com Helicobacter spp.

nas formas bacilar ou cocóide.

4.8- Análise estatística

Os dados foram analisados com o auxílio do programa SPSS para Windows

versão 13. Comparações entre variáveis categóricas dicotômicas foram realizadas pelo

teste do Chi-quadrado e Fischer; e as variáveis categóricas ordinárias (mais de 2 níveis)

Page 36: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

36

foram analisadas pelo teste de correlação de Spearman. Nível de significância foi de

5%.

5- RESULTADOS

5.1- Dados demográficos

Foram estudados 20 cães sendo 13 fêmeas (65%) e 7 machos (35%) com média

de idade de 84 ± 11,85 meses (15 a 190 meses).

Destes 6 eram da raça Poodle (30%), 3 Pastores Alemães (15%), 1 Schnauzer

(5%), 1 Beagle (5%), 2 S.R.D.(10%), 2 ChowChow(10%), 1 Pinsher (5%), 1 Yorkshire

Terrier (5%), 1 Labrador Retriever (5%), 1West Highland White Terrier (5%) e 1 Cocker

Spaniel Inglês (5%). Oito (40%) cães tinham pelagem branca, 2 (10%) eram caramelo,

2 (10%) bicolor, 1 (5%) black and tan, 3 (15%) manto negro, 1(5%) preta, 1(5%) tricolor,

1(5%) cinza e 1(5%) sal e pimenta (FIGURA 3).

Quanto ao porte, nove (45%) eram de pequeno porte, 7 de médio porte (35%) e

4 de grande porte (20%).

Figura 3 – Distribuição racial dos cães com Doença Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de

Janeiro-RJ. 2011.

Page 37: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

37

5.2- Sintomas clínicos

Das alterações clínicas apresentadas 3 (15%) cães tiveram leve redução do

apetite, 8(40%) apresentaram redução moderada e 4 (20%) redução grave do apetite.

Cinco (25%) cães não apresentaram qualquer alteração do apetite.

Cinco (25%) cães não apresentaram vômitos, 2 (10%) apresentaram vômitos 1

vez por semana, 4 (20%) apresentaram vômitos de 2 a 3 vezes por semana e 9 (45%)

apresentavam vômitos mais de 3 vezes por semana.

Do total de cães (15) que apresentaram redução do apetite 10 também tinham

vômitos, sendo que três cães com redução grave do apetite também apresentavam

vômitos, no mínimo, 2 vezes por semana.

Quanto à classificação das fezes ao hábito intestinal, 11 (55%) cães não

apresentavam qualquer alteração na consistência das fezes, 6 (30%) tinham leve

redução na consistência e/ou presença de sangue e/ou muco e 3 (15%) apresentavam

fezes pastosas. Nenhum dos cães estudados apresentou fezes líquidas. Sete (35%)

tinham aumento discreto no número de evacuações (2-3x/dia) e 12 (60%) não

apresentaram alterações no número de evacuações. Em um (5%) paciente não foi

possível obter esta informação. Nove cães tinham simultaneamente alteração na

consistência das fezes e no número de evacuações , destes, oito também tinham

redução do apetite e perda de peso e cinco apresentaram vômitos.

Seis (30%) cães não tiveram perda de peso, 8 (40%) tiveram perda de peso de

até 5%, 5 (25%) tiveram perda de peso de 5 a 10% e 1 (5%) teve perda superior a 10%.

Dos 15 cães que apresentavam redução do apetite 10 apresentaram perda de peso

(FIGURA 4).

Page 38: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

38

Figura 4 – Distribuição dos sintomas clínicos apresentados pelos cães com Doença

Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

5.3- Avaliação endoscópica

No exame endoscópico 2 cães (10%) apresentaram esofagite leve, 3 (15%)

esofagite moderada e 1 (5%) esofagite grave; 14 (70%) não apresentavam esofagite.

Quatro (20%) cães apresentaram leve enantema de antro, 11 (55%) enantema

de antro moderado e 3 (15%) enantema de antro grave. Dois (10%) cães não

apresentavam enantema de antro. Quatro (20%) cães apresentaram leve enantema de

corpo, 10 (50%) enantema de corpo moderado, 3 (15%) enantema de corpo grave. Três

(15%) cães não apresentaram enantema de corpo. Com uma exceção, todos os 18

cães que apresentaram enantema de antro também apresentaram enantema de corpo

(17) sendo assim classificados como pangastrite (FIGURA 5).

Do total de 6 cães com esofagite 4 também apresentaram pangastrite e 1 apenas

gastrite enantematosa de antro. Dos 17 cães com pangastrite 12 (71%) tinham teste da

urease positivo.

No exame endoscópico do duodeno 1 (5%) cão apresentou enantema no

duodeno leve, 2 (10%) cães apresentaram enantema no duodeno moderado e 11 (55%)

Page 39: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

39

cães apresentaram enantema no duodeno grave. Seis (30%) cães não apresentaram

enantema no duodeno. Dos 17 cães que apresentaram pangastrite 14 (82%) estavam

associados à duodenite, ou seja todos os cães com duodenite apresentaram

pangastrite. Do total de 14 cães com duodenite 4 (28%) apresentaram esofagite e

1(7%) tinha apenas duodenite.

Dezessete (85%) cães não apresentaram edema de pregas, 2 (10%)

apresentaram edema de pregas discreto, 1 (5%) apresentou edema de pregas

moderado. Nenhum cão apresentou edema de pregas grave.

Três (15%) cães apresentaram de 1 a 3 úlceras no estômago e 1 (5%)

apresentou de 3 a 5 úlceras no estômago. Dezesseis (80%) cães não apresentaram

ulceração gástrica.

Três (15%) cães apresentaram de 1 a 3 úlceras no duodeno e 1 (5%)

apresentou de 3 a 5 úlceras no duodeno. Dezesseis (80%) cães não apresentaram

ulceração duodenal.

Dois (10%) cães apresentaram de 1 a 3 erosões gástricas planas e 1 (5%)

apresentou de 3 a 5 erosões gástricas planas. Dezessete (85%) cães não

apresentaram erosão gástrica.

Dois (10%) cães apresentaram mucosa gástrica levemente nodular. Apenas 1

(5%) cão apresentou hérnia de hiato por deslizamento.

Em três (15%) cães havia pequena quantidade de líquido de estase em lago

mucoso e em 2 (10%) havia quantidade moderada de líquido de estase em lago

mucoso e em 1 (5%) cão havia pequena quantidade de líquido sanguinolento em lago

mucoso.

Dos cães com úlcera duodenal 75% apresentaram positividade no teste da

urease e dos cães com úlcera gástrica 50% apresentaram positividade no teste da

urease.

Page 40: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

40

Figura 5 – Distribuição das alterações endoscópicas apresentadas pelos cães com

Doença Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

5.4- Teste da urease

Quatorze (70%) cães tiveram positividade no teste da urease.

5.5 – Avaliação histopatológica

Na avaliação histopatológica da mucosa gástrica quinze (75%) cães

apresentaram congestão (FIGURA 8), 15 (75%) apresentaram edema, 14 (70%)

apresentaram focos hemorrágicos (FIGURA 8), 2 (10%) cães apresentaram erosão do

epitélio de revestimento. Um (5%) cão apresentou hiperplasia do epitélio do estômago.

Treze (65%) cães apresentaram infiltrado linfoplasmocitário leve, 3 (15%) infiltrado

linfoplasmocitário moderado e 2 (10%) infiltrado linfoplasmocitário grave (FIGURA 7 e

8). Dois (10%) cães não apresentavam infiltrado inflamatório linfoplasmocitário Quatro

(20%) cães apresentaram hiperplasia de folículo linfóide (FIGURA 6 e 8).

Na avaliação histopatológica da mucosa duodenal 5 (25%) cães apresentaram

congestão, 6 (30%) apresentaram edema e 5 (25%) apresentaram focos hemorrágicos.

Page 41: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

41

Quatro (20%) cães apresentaram infiltrado linfoplasmocitário leve, 7 (35%) cães

apresentaram infiltrado linfoplasmocitário moderado e 1 (5%) apresentou infiltrado

linfoplasmocitário grave (FIGURA 6 e 7).

Quatorze (70%) cães tiveram teste da urease positivo e apenas 10% destes

não apresentaram pangastrite ao exame endoscópico.

Foi possível identificar pelo Giemsa 12 (60%) cães infectados pelo Helicobacter

spp. Todos os cães em que Helicobacter spp foi identificado pelo Giemsa tinham teste

da urease positivo. Em apenas dois casos em que o teste da urease foi positivo não foi

encontrado o microorganismo na biópsia com a coloração pelo Giemsa.

Figura 6 – Distribuição das alterações histopatológicas apresentadas pelos cães com

Doença Inflamatória Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

Page 42: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

42

Figura 7 – Distribuição do infiltrado linfocítico plasmocitário encontrado na avaliação

histopatológica da mucosa gástrica e duodenal dos cães com Doença Inflamatória

Intestinal. UFF, Rio de Janeiro-RJ. 2011.

5.5-Correlação entre sintomas clínicos e avaliação endoscópica

No grupo de cães com alterações na consistência das fezes houve correlação

com enantema de corpo (P=0,041) houve tendência a correlação com enantema de

antro (P=0,066) e presença de úlcera duodenal (P=0,057). Nos cães com aumento na

frequência das fezes também foi possível estabelecer correlação estatística com

enantema de corpo (P=0,017) e tendência à correlação com enantema de antro

(P=0,056) e com a presença de úlcera duodenal (P=0,097).

Nos cães que apresentaram perda de peso houve correlação com enantema de

antro (P=0,016), com enantema de corpo (P=0,004) e com enantema de duodeno

(P=0,006).

Page 43: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

43

5.6-Correlação entre avaliação histopatológica e endoscópica

Houve correlação entre a presença de infiltrado inflamatório linfoplasmocitário

gástrico e edema de pregas gástricas (P=0,009), erosão plana (P=0,028), enantema de

corpo (P=0,046) e houve tendência a correlação com enantema de antro (P=0,053). O

infiltrado linfoplasmocitário gástrico também foi correlacionado com a presença de

líquido de estase (P=0,008).

Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário duodenal foi correlacionado com úlcera

duodenal (P=0,006) e com enantema de duodeno (P=0,035). Assim como o infiltrado

linfoplasmocitário gástrico o infiltrado inflamatório linfoplasmocitário duodenal também

foi correlacionado com a presença de líquido de estase (P=0,042).

Nos cães que apresentaram hiperplasia de folículo linfóide houve correlação com

a observação endoscópica de erosão plana gástrica (P=0,044) e tendência a correlação

com úlcera gástrica (P=0,077).

5.6-Correlação entre sintomas clínicos e avaliação histopatológica

Houve correlação entre alteração do apetite e a presença de infiltrado

inflamatório no estômago (P= 0,011), com edema de duodeno (P=0,045) e com

positividade no teste da urease (P=0,007)

Page 44: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

44

Figura 8 - Cão com Doença Inflamatória Intestinal. A – Congestão mucosa gástrica B – Helicobacter sp. na mucosa gástrica (setas) C – Infiltrado Inflamatório linfoplasmocitário na lâmina própria (seta) e Folículo Linfóide (FL). D – Hemorragia (seta). E – Focos hemorrágicos na mucosa duodenal. F – Folículo Linfóide (FL). A, C – F: Coloração HE. B – Coloração Giemsa modificado. A e D: aumento original 400X, B: aumento original 1000X, C, E e F: aumento original 100X. UFF – Rio de Janeiro- RJ

Page 45: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

45

6 – DISCUSSÃO

A maioria das raças presentes neste estudo estão de acordo com as

encontradas em estudos anteriores. A raça Pastor Alemão que representou 15% dos

cães também aparece em outros estudos como o de German, et al, 2001 que estudou 9

cães com DII e destes 5 eram Pastores Alemães, Craven, et al, 2004 e Allenspach et al,

2006.

No estudo de Craven et al, 2004 foram estudados 80 cães com evidências de

infiltrado inflamatório gástrico, duodenal ou colônico em amostras coletadas por

endoscopia ou cirurgia e sinais clínicos consistentes com DII. As raças mais

comumente afetadas foram: Pastor Alemão, Golden Retriever, West Highland White

Terrier, Boxer, Labrador, Border Collie e Weimaraner. Destas raças 3 delas (Pastor

Alemão, West Highland White Terrier e Labrador) aparecem no presente estudo. Um

achado interessante neste e em outros estudos é a alta porcentagem de cães de raças

puras com DII.

Poodle não é uma raça descrita em outros estudos apresentando pré

disposição à DII, porém no presente estudo foi a raça mais freqüente (30%). Na análise

deste fator devemos levar em consideração que atualmente, no Brasil, existe uma

preferência pela raça e que estes convivem com grande proximidade com os

proprietários permitindo desta forma que os mesmo percebam qualquer sintoma

apresentado pelo cão. No Brasil os animais que convivem dentro das

casas/apartamentos, de uma forma geral, recebem mais atenção e cuidados dos

proprietários diferente de cães, como o Pastor Alemão, que vivem na área externa das

residências.

A idade média dos cães estudados foi de 84 meses (7 anos) e está de acordo

com o descrito por outros autores como Schreiner et al, 2008 que teve um média de 6.9

anos, Jergen,et al 1992 encontraram média de idade de 6.3 anos e German et al 2001

com média de 6 anos de idade. Alguns cães no presente estudo tinham menos de 2

anos de idade o que sugere que a DII deve ser incluída como diagnóstico diferencial

nas gastroenterites de cães jovens.

Page 46: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

46

Muitos estudos descrevem a ausência de predisposição sexual para a DII.

Jergen et al, 2003 estudou um total de 58 cães dos quais 31(53%) eram machos e

27(47%) fêmeas.

Xenoulis et al, 2008 estudaram 10 cães com DII destes 5 fêmeas (50%) e 5

machos (50%) e realizou uma caracterização molecular filogenética do desequilíbrio

das comunidades microbianas do intestino delgado de cães com DII coletadas com

escovas de citologia durante exame endoscópico.

Craven et al,2004 estudaram um total de 80 cães dos quais 49 (61%) eram

machos e 31 (39%) fêmeas. No estudo de Allenspach et al, 2006 dos 24 cães

estudados 15 (62%) eram machos e 9 (38%) fêmeas.

No presente estudo, dos 20 cães estudados, 13 (65%) eram fêmeas e 7 (35%)

machos o que difere de outros trabalhos que não encontram predisposição sexual ou

que relatam um maior número de machos.

Vômito, diarréia e alterações de apetite são queixas comuns na rotina de

atendimento de pequenos animais. São sintomas clínicos inespecíficos que exigem

exames clínicos e laboratoriais detalhados para o diagnóstico. No presente estudo

todos os cães tiveram como causa dos sintomas alterações gastrointestinais. Com o

percentual encontrado neste estudo foi possível constatar que os sintomas mais

comuns foram o, vômito em 75% dos casos, diarréia (alteração na consistência das

fezes e/ou número de evacuações aumentadas) em 45% e perda de peso em 60%.

Estes são achados compatíveis com estudos anteriormente descritos. Embora sejam

sintomas comuns não há estudo de prevalência no Brasil. Não foi objetivo deste estudo

a análise da prevalência desses sintomas.

Tams, 2005 descreve que os sinais clínicos mais comuns associados com

doença crônica do intestino delgado são diarréia e perda de peso.

Ridgway et al, 2001, estudaram 7 cães com DII e trombocitopenia e associou

trombocitopenia imunomediada a DII. Dos 7 cães estudados, seis (86%) apresentavam

vômitos e 3 (43%) apresentavam diarréia.

Page 47: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

47

No estudo realizado por Jergens et al, 1992 em que foram estudados

retrospectivamente 58 cães com DII, 20 cães (34%) apresentavam vômito, 16 (28%)

diarréia e 11 (19%) tiveram perda de peso.

Craven et al, 2004 classificaram 80 casos de acordo com a localização do

infiltrado inflamatório, em sintomas altos (gastrite e enterite), baixos (colite) e difusos

(altos e baixos). Dos 22 cães classificados com tendo sintomatologia alta 15 (68%)

apresentaram vômitos, 13 (59%) diarréia e 11 (50%) perda de peso, dentre outros

sintomas.

Em todos os estudos vários animais apresentaram múltiplos sinais clínicos

principalmente vômito e diarréia, associados frequentemente à perda de peso e

alterações do apetite, associação também observada no presente estudo.

Tams, 2005 descreve que os sinais clínicos mais comuns associados com

doença crônica do intestino delgado são diarréia e perda de peso.

Há algumas décadas a endoscopia digestiva alta vem sendo utilizada nos

Estados Unidos e Europa na clínica de pequenos animais como importante ferramenta

diagnóstica para avaliação gastrointestinal e coleta de material para exame

histopatológico, permitindo, de forma minimamente invasiva, o diagnóstico de inúmeras

patologias. No Brasil a utilização do exame endoscópico vem crescendo nas últimas

duas décadas, mas seu uso ainda é limitado devido ao alto custo do aparelho,

dificuldade na aprendizagem da técnica e infreqüente solicitação do exame.

A endoscopia apesar de permitir a avaliação da mucosa e coleta de material de

forma minimamente invasiva tem limitações quanto ao tamanho e profundidade da

amostra e necessidade de anestesia geral para a sua realização.

Muitos trabalhos tem sido desenvolvidos utilizando a endoscopia para coleta de

material com inúmeras finalidades.

Allenspach et al, 2006 avaliaram a expressão da glicoproteina-P de linfócitos na

lâmina própria em amostras de biópsias duodenais de cães com enteropatia idiopática

crônica. Através deste estudo foi possível comparar a expressão da glicoproteina-P em

Page 48: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

48

cães responsivos e não responsivos a corticoterapia, sugerindo que, assim como em

humanos, a expressão da glicoproteina-P em cães pode ser um bom preditivo da

resposta a corticoterapia.

Xenoulis et al, 2008 coletou do duodeno de cães, através da endoscopia,

material com uma escova citológica estéril. Por meio da PCR identificou diferença entre

as bactéria do duodeno de cães normais e de cães com DII. Concluiu que a DII canina

está associada a alterações da microbiota duodenal.

A avaliação endoscópica é subjetiva. Alguns consensos humanos e veterinários

foram desenvolvidos para padronizar o exame endoscópico, a descrição das lesões e a

coleta de material. Washabau et al, 2010 desenvolveram o mais recente consenso. O

trabalho foi realizado por um grupo de pesquisadores americanos e europeus que

formaram um Grupo Internacional de Padronização Gastrointestinal. Poucos trabalhos

descrevem os achados endoscópicos em cães.

Jergens et al, 2001 consideraram como critério de avaliação da mucosa:

enantema, friabilidade, granularidade e a presença de úlceras ou erosões. Foram

visualizadas endoscopicamente lesões em 30 (52%) dos 58 cães estudados.

No presente estudo 90% dos cães apresentou algum tipo de alteração

endoscópica, sendo pangastrite a mais comum (85%), positividade no teste da urease

ocorreu em 70% dos cães estudados, sugerindo que o Helicobacter sp possa ser uma

importante causa de gastrite em cães no Brasil, um pais em desenvolvimento com alta

prevalência da bactéria na população.

A avaliação histopatológica é subjetiva. Mesmo quando critérios específicos são

aplicados, pode ocorrer grande variação de interpretação das variações nas amostras

de tecido gastrointestinal entre patologistas. Willard et al, 2002 relatou falta de

uniformidade na avaliação de metade das amostras de biópsia examinadas por cinco

patologistas veterinários. Esta variação interpretativa cria problemas para o diagnóstico

da doença gastrointestinal e também na monitoração do progresso terapêutico.

Page 49: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

49

No consenso desenvolvido por Washabau et al, 2010 algumas questões

fundamentais no processo de diagnóstico são discutidas como essenciais: o tamanho e

a qualidade das amostas são adequados para um preciso diagnóstico?; qual é a

origem da resposta inflamatoria (neutrofílica, eosinofílica, granulomatosa,

piogranulomatosa ou linfoplasmocitária)?; quão grave é a resposta inflamatória? e

quando uma resposta inflamatória pode ser a precursora de neoplasia linfóide?

No presente estudo em cada amostra o tamanho e a qualidade das amostas

foram cuidadosamente selecionados, a origem da resposta inflamatória foi descrita,

assim como a intensidade da resposta. Não encontramos neoplasia linfóide em nenhum

cão do estudo.

Quando comparados os sinais clínicos às alterações endoscópicas, foi

observada correlação estatisticamente significante entre perda de peso e enantema de

antro (P=0,016), de corpo (P=0,004) e de duodeno (P=0,006). Demonstrando assim que

o sinal clínico mais comum no cão com gastrite é perda de peso. Este é um dado

importante para os clínicos de pequenos animais que geralmente observam este sinal

tardiamente, quando o mesmo já produz grande alteração no escore corporal do

animal.

No grupo de cães com alteração na consistência das fezes foi possível

estabelecer correlação com enantema de corpo (P=0,041) e houve tendência a

correlação com enantema de antro (P= 0,066) e úlcera duodenal (P=0,057). Nos cães

com aumento na freqüência da defecação, assim como nos cães com alteração na

consistência das fezes, houve correlação com enantema de corpo (P=0,017) e houve

tendência a correlação com enantema de antro (P=0,056) e com úlcera de duodeno

(0,097). A diarréia ocorre como resultado de mudanças nas funções fisiológicas do

intestino delgado tais como motilidade, secreção, digestão e absorção. Muitos fatores

podem alterar essas funções, entre elas estão incluídas as gastrites e duodenites. Com

as correlações encontradas neste trabalho podemos supor que as gastrites ocorrem

antecipadamente às duodenites e que quando a diarréia é um sinal clínico presente as

úlceras duodenais podem ser rapidamente visualizadas.

Page 50: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

50

Em humanos a bactéria Helicobacter spp é reconhecidamente a principal causa

de úlcera gástrica. Neste estudo 62,5% dos cães com úlcera (gástrica e duodenal)

tiveram teste da urease positivos. Todos os pacientes com nodularidade de mucosa

tinham teste da urease positivos, este é uma achado que já foi descrito em humanos

como sugestivo de infecção por Helicobacter spp. A alta prevalência de positividade nos

testes da urease era esperada já que a incidência desta bactéria em cães é

comprovadamente alta.

Na correlação estabelecida entre infiltrado inflamatório linfoplasmocitário

duodenal com enantema de duodenal e úlcera duodenal é possível perceber que as

alterações histopatológicas geram secundariamente lesões macroscópicas que podem

ser visualizadas na endoscopia e podem, após o exame endoscópico, aumentar a

suspeita da DII. O mesmo pode ser sugerido quando o infiltrado inflamatório gástrico

está presente e correlacionado com edema de pregas gástricas, erosão plana e

enantema de corpo. Validando a hipótese de que as lesões macroscópicas observadas

na endoscopia podem predizer o diagnóstico da DII.

Os infiltrados inflamatórios gástricos e duodenais foram correlacionados a

presença de líquido de estase demonstrando que o infiltrado inflamatório interfere na

motilidade gastroduodenal.

A literatura descreve que nem sempre as alterações histopatológicas podem ser

correlacionadas as alterações endoscópicas.

Houve correlação entre hiperplasia de folículo linfóide e erosão plana

(P=0,044). A hiperplasia de folículo linfóide está associada à infecção por Helicobacter

sp. Esta correlação sugere que as erosões observadas durante o exame endoscópico

também possam ocorrer em decorrência da infecção por esta bactéria.

Os sintomas gastrointestinais são altamente variáveis e diferem

consideravelmente dependendo da extensão e da localização anatômica da doença.

Ainda não existem estudos que façam uma forte associação entre achados

clínicos e lesões histopatológicas no cão com DII.

Page 51: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

51

Allenspach et al, 2006 demonstrou que o número de linfócitos na mucosa

duodenal de cães com DII não se alterou mesmo após sucesso clínico do tratamento

com ciclosporina.

No presente estudo foi possível estabelecer correlação entre alterações do

apetite e infiltrado inflamatório linfoplasmocitário gástrico (P=0,011).

Com os dados deste estudo será possível estabelecer no futuro um índice

levando em consideração os sintomas clínicos, os achados macro e microscópicos para

os cães do Rio de Janeiro, podendo incluir, até mesmo, fatores locais que interfiram

com a patologia e com a análise dos dados.

Page 52: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

52

7- CONCLUSÃO

• As alterações endoscópicas observadas com mais freqüência foram enantema de

antro, corpo e duodeno. Pangastrite (enantema de antro e corpo) foi observada em 85%

dos cães e enantema de duodeno foi observado em 70%. Em todos os cães em que o

enantema de duodeno foi observado também apresentava pangastrite.

• Quando confrontados os sintomas clínicos com as alterações observadas na

endoscopia foi possível estabelecer correlação entre a alteração da consistência das

fezes com enantema de corpo; aumento do número de evacuações com enantema de

corpo; perda de peso com enantema de antro, corpo e duodeno.

• Das alterações histopatológicas foi possível estabelecer correlação com as seguintes

alterações endoscópicas: Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário gástrico com edema

de pregas gástricas, erosão plana, enantema de corpo e com a presença de líquido de

estase e Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário duodenal com úlcera duodenal,

enantema de duodeno e com a presença de líquido de estase. A hiperplasia de folículo

linfóide foi correlacionada com erosão plana gástrica.

• O sintoma clínico alteração do apetite foi correlacionado com a presença de infiltrado

inflamatório linfoplasmocitário gástrico, com edema de duodeno e com positividade no

teste da urease.

• Este estudo demonstra a importância da avaliação endoscópica e histopatológica em

cães com sinais clínicos inespecíficos tais como vômitos, diarréia e alteração do apetite.

Estudos de identificação do Helicobacter sp. são necessários para estabelecer nesta

espécie a relação fisiopatológica da Doença Inflamatória Intestinal com esta bactéria.

Page 53: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

53

8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AKASHI-TAKAMURA, S., MIYAKE, K. Toll-like receptors (TLRs) and immune disorders.

Journal of Infection Chemotherapy. 12, 233–240. 2006.

BURGENER, I.A., Jungi, T.W. Dysregulation of Toll-like receptors in inflammatory bowel

disease and food-responsive diarrhea in dogs. In: Proceedings of the 25th ACVIM,

Seattle,Washington, p.803. 2007.

BEST, WR, BECTEL IM, SINGLETON, JW, et al. Development of the Crohn’s Disease

activity index. Gastroenterology. 70: 439-444. 1976.

CAVE NJ. Chronic inflammatory disorders of the gastrointestinal tract of companion

animals. New Zeland Veterinary Journal; 51: 262-274. 2003.

CATHERINE BONNEFONT-REBEIX, THIERRY MARCHAL, JANINE BERNAUD ,

JEAN-JACQUES PIN, CAROLINE LEROUX, SERGE LEBECQUE, LUC CHABANNE,

DOMINIQUE RIGAL. Toll-like receptor 3 (TLR3): A new marker of canine monocytes-

derived dendritic cells (cMo-DC). Veterinary Immunology and Immunopathology

118:134–139. 2007.

COLOMBEL JF, CORTOT A, VAN KRUININGEN HJ. Antibiotics in Crohn’s disease.

Gut; 48:647. 2001.

Page 54: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

54

CRAVEN, M.; SIMPSON, J.W.; RIDYARD, A.E.; CHANDLER, M.L. Canine inflammatory

analysis of diagnosis and outcome in 80 cases (1995-2002). Journal of Small Animal

Practice, 2004; 45; 336-342.

CHURCHER, R.K.; WATSON, A.D., Canine histiocytic ulcerative colitis. Australian

Veterinary Journal, 1997; 75; 710-713.

DANDRIEUX JR, BORNAND VF, DOHERR MG, KANO R, ZURBRIGGEN A,

BURGENER IA. Evaluation of lymphocyte apoptosis in dogs with inflammatory bowel

disease. American Journal of Veterinary Research. 69: 1279-1285. 2008.

DAY MJ, BILZER T, MANSELL J, WILCOCK B, HALL EJ, JERGENS A, MINAMI T,

WILLARD M, WASHABAU R. Histopathological standards for the diagnosis of

gastrointestinal inflammation in endoscopic biopsy samples from the dog and cat: a

report from the World Small Animal Veterinary Association Gastrointestinal

Standardization Group. Journal of Comparative Pathology; 138 Suppl 1: S1-S43. 2008.

DEARING, WH, Mc GUCKIN WH, ELEVEBACK LR, Serum alpha-1 acid glycoprotein in

chronic ulcerative colitis. Gastroenterology. 56: 295-303. 1969.

DUCHMANN, R. KAISER, I, HERMANN E., et al. Tolerance exists towards resident

intestinal flora but Is broken in active inflammatory bowel disease (IBD). Clinical

Experimental Immunology, 102: 448-455. 1995.

Page 55: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

55

ELSON, C.O. Experimental models of intestinal inflammation: New insights into

mechanisms of mucosal homeostasis. In.: Ogra PL, Mestecky J., Lamm ME et al, eds.

Mucosal Immunology, 2nd. Ed San Diego, CA: Academic Press; 1007-1034. 1999:

ELWOOD CM, GARDEN OA. Gastrointestinal immunity in health and disease.

Veterinary Clinic of North America Small Animal Practice; 29:471–500. 1999

FAGAN FA, DYCK RF, MATON PN, et al. Serum levels of C-reactive protein in Crohn’s

Disease and Ulcerative Colitis. European Journal of clinical Investigation. 12: 351-360.

1982.

FLESJA, K., YRI, T. Protein-losing enteropathy in the Lundenhund. Journal Small

Animal Practice, 1977; 18; 11-23.

GARCIA-SANCHO M, RODRIGUEZ-FRANCO F, SAINZ A. Evaluation of clinical,

macroscopic, and histopathologic response to treatment in nohypoproteinemic dogs with

lymphocytic-plasmacytic enteritis. Journal of Veterinary Internal Medicine; 21:11–17.

2007.

GASCHEN, F., GASCHEN, L. Analyze this and Doppler that – New approach to chronic

enteropaties in dogs. American College of Veterinary Internal Medicine, 2003.

Page 56: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

56

GASCHEN, L, KIRCHER, P, STÜSSI, P, ALLENSPACH, K, GASCHEN, F, DOHERR,

M, GRÖNE, A. Comparison of ultrasonographic findings with clinical activity index

(cibdai) and diagnosis in dogs with chronic enteropathies. Veterinary Radiology and

Ultrasound. Jan-Feb; 49(1):56-64. 2008.

GERMAN AJ, HELPS CR, HALL EJ, et al. Cytokine mRNA expression in mucosal

biopsies from German shepherd dogs with small intestinal enteropathies. Digestive

Disease Science 45:7–17. 2000.

GERMAN, A.J; HALL, E.J.; DAY,M.J. Chronic intestinal inflammatory and intestinal

disease in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine. 17; 8-20. 2003.

GERMAN AJ, HALL EJ, DAY MJ. Immune cell populations within the duodenal mucosa

of dogs with enteropathies. Journal of Veterinary Internal Medicine; 15: 14-25. 2001.

GERMAN, AJ, HALL, EJ, KELLY, DF, WATSON, ADJ and DAY, MJ. An

Immunohistochemical study of histiocytic ulcerative colitis in Boxers dogs. Journal of

Comparative Pathology. 122: 163-175. 2000.

GREGER DL, GROPP F, MOREL C, SAUTER S, BLUM JW. Nuclear receptor and

target gene mRNA abundance in duodenum and colon of dogs with chronic

enteropathies. Domestic Animal Endocrinology; 31: 327-339. 2006.

Page 57: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

57

GUILFORD WG. Idiopathic inflammatory bowel diseases. In: Strombeck DR, ed.

Strombeck’s Small Animal Gastroenterology. Philadelphia, PA: WB Saunders; 451–486.

1996

GUNAWARDANA SC, JERGENS AE, AHRENS FA, et al. Colonic nitrite and

immunoglobulin G concentrations in dogs with inflammatory bowel disease. Journal of

American Veterinary Medical Association; 211:318–321. 1997.

HALL EJ, GERMAN AJ. Diseases of the small intestine. In: Ettinger SJ, Feldman EC,

eds. Textbook of Veterinary Internal Medicine: Diseases of the Dog and the Cat. St

Louis, MO: Elsevier Saunders; 1332–1378. 2005.

HANAUER SB. Inflammatory bowel disease: Epidemiology, pathogenesis, and

therapeutic opportunities. Inflammatory Bowel Disease; 12(Suppl 1):S3–9. 2006

HASHIMOTO, M., ASAHINA, Y., SANO, J., KANO, R., MORITOMO, T., HASEGAWA,

A. Cloning of canine Toll-like receptor 9 and its expression in dog tissues. Veterinary

Immunology and Immunopathology. 106,159–163. 2005.

HARVEY, RF, BRADSHAW, JM,As imple index of Crohn’s Disease activity. Lancet.

1:514. 1980

HENDRICKSON, B.A.; GOKHALE,R.; CHO,J.H. Clinical aspects and pathophysiology of

inflammatory bowel disease. Clinical Microbiology Rewiews, 15; 74-79. 2002.

Page 58: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

58

HIRSCHOWITZ BJ, PETERS CW, CURTTIS LE. Preliminary reports on a long

fiberscope for examination for the stomach and duodenum. University of Michigan

Medical Bull. 23, 178-80. 1957.

ISAACS KL, SARTOR RB. Treatment of inflammatory bowel disease with antibiotics.

Gastroenterology Clinical of North America; 33:335–345. 2004.

ISHII, M., HASHIMOTO, M., OGUMA, K., KANO, R., MORITOMO, T., HASEGAWA, A.

Molecular cloning and tissue expression of canine Toll-like receptor 2 (TLR2). Veterinary

Immunology Immunopathology.110, 87–95. 2006.

JACOB, G., COLLINS-KELLY L., LAPPIN M et al. Lynphocityc-plasmacytic enteritis in

24 dogs. Journal Veterinary Internal Medicine 4:45-58. 1990.

JERGENS, A.E., WILLARD, M.D., Disease of the large intetsine, In: Textbook of

Veterinary Internal Medicine, S.J. Ettinger e E.C. Feldman, Ed.W.B. Saunders,

Philadelphia, 1238- 1256.

JERGENS AE, SCHREINER CA, FRANK DE, et al. A scoring index for disease activity

in canine inflammatory bowel disease. Journal of Veterinary Internal Medicine; 17:291–

297. 2003.

JERGENS AE, GAMET Y, MOORE FM, et al. Colonic lymphocyte and plasma cell

populations in canine lymphocytic-plasmacytic colitis: An immunohistochemical and

morphometric study. American Journal of Veterinary Research; 60:515–520. 1999.

Page 59: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

59

JERGENS AE, MOORE FM, KAISER MS, et al. Morphometric evaluation of

immunoglobulin A–containing and immunoglobulin G–containing cells and T cells in

duodenal mucosa from healthy dogs and from dogs with inflammatory bowel disease or

nonspecific gastroenteritis. American Journal of Veterinary Research; 57:697–704.

1996.

JERGENS AE. Inflammatory bowel disease: Current perspectives. Veterinary Clinics of

North American Small Animal Practice, 29:501–521. 1999

JERGENS AE, CARPENTER SL, WANNEMUEHLER Y, et al. Molecular detection of

inducible nitric oxide synthase in canine inflammatory bowel disease. Journal of

Veterinary Internal Medicine;12:205 (abstract). 1998.

JERGENS, A.E.; MOORE, F.M.; HAYNESJ.S.; MILES,K.G. Idiopathic inflammatory

bowel disease in dogs and cats: 84 cases (1987-1990). Journal of the American

Veterinary Medical Association,1992; 201; 1603-1608.

JERGENS AE, MOORE FM. Endoscopic biopsy specimen collection and histopathologic

considerations. In: Tams TR, ed. Small Animal Endoscopy. Philadelphia, PA: Mosby;

323–340. 1999

JOSÉ LEÓN A, GARROTE JA, ARRANZ E. Cytokines in the pathogenesis of

inflammatory bowel diseases]. Medical Clinic (Barcelona); 127: 145-152.2006

Page 60: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

60

KANZLER, H., BARRAT, F.J., HESSEL, E.M., COFFMAN, R.L. Therapeutic targeting of

innate immunity with Toll-like receptor agonists and antagonists. Nat. Medical. 13, 552–

559. 2007.

KLEINSCHMIDT S, MENESES F, NOLTE I, HEWICKER-TRAUTWEIN M.

Characterization of mast cell numbers and subtypes in biopsies from the gastrointestinal

tract of dogs with lymphocyticplasmacytic or eosinophilic gastroenterocolitis. Veterinary

Immunology and Immunopathol; 120: 80-92. 2007.

KUHBACHER T, FOLSCH UR. Practical guidelines for the treatment of inflammatory

bowel disease. World Journal of Gastroenterology; 13:1149–1155. 2007.

LEICONDRE,P., Enfermidades inflamatorias crónicas intestinales. Enciclopedia

Veterinaria – Gastroenterología –E – GA – 2400; 1-15, 2004.

MEDZHITOV, R., JANEWAY Jr., C.A. Decoding the patterns of self and nonself by the

innate immune system. Science 296, 298–300. 2002.

LOCHER C, TIPOLD A, WELLE M, BUSATO A, ZURBRIGGEN A, GRIOT-WENK ME.

Quantitative assessment of mast cells and expression of IgE protein and mRNA for IgE

and interleukin 4 in the gastrointestinal tract of healthy dogs and dogs with inflammatory

bowel disease. American Journal of Veterinary Research; 62: 211-216. 2001.

LUCKSCHANDER N, HALL JA, GASCHEN F, FORSTER U, WENZLOW N, HERMANN

P, ALLENSPACH K, DOBBELAERE D, BURGENER IA, WELLE M. Activation of nuclear

factor-kappaB in dogs with chronic enteropathies. Veterinary Immunology and

Immunopathology; 133:228-236. 2010.

Page 61: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

61

MAYER D, REINSHOGEN M, MASON RA. Sonographic measurement of thickened

bowel wall segments as a quantitative parameter for activity in inflammatory bowel

disease. Z Gastroenterology; 38:295–300. 2000.

OGURA Y, BONEN D. K., INOHARA, N. et al. A frameshift mutation in NOD2

associated with susceptibility to Crohn’s disease. Nature, 411: 603-606. 2001.

PENNINCK D, SMYERS B, WEBSTER CR, RAND W, MOORE AS. Diagnostic value of

ultrasonography in differentiating enteritis from intestinal neoplasia in dogs. Veterinary

Radiology and Ultrasound; 44: 570-575. 2003.

PRANTERA C, DAVIOLI M, LORENZETTI F et al, Clinical and laboratory indicatiors of

extent of ulcerative colitis. Serum C-reactive protein helps the most. Journal of Clinical

Gastroenterology. 10; 41-50. 1988.

RIBEIRO, M.B., GREENSTEIN,A.J., SACHAR, D.B., BARTH,J.

BALASUBRAMANIAN,S., HARPAZ, N. HEIMANN, T.M., AUFSES, A.H.JR, Colorectal

adenocarcinoma in Crohn Disease. Annals of Surgery, 1996; 223; 186-193.

ROTH L, WALTON AM, LEIB MS, et al. A grading system for lymphocytic-plasmacytic

colitis in dogs. Journal of Veterinary Diagnosis Investigation; 2: 257–262. 1990.

RUDORF, H, VAN SCHAIK, G, O’BRIEN RT, BROWN, PJ, BARR, FJ, HALL, EJ.

Ultrasonographic evaluation of the thickness of the small intesttinal wall in dogs with

inflammatory bowel disease. Journal of small Animal Practice, 46 (7), 322-326. 2005.

Page 62: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

62

RYCHLIK A, NIERADKA R, KANDER M, DEPTA A, NOWICKI M, SARTI K. Usefulness

of endoscopic examination for the diagnosis of inflammatory bowel disease in the dog.

Polish Journal of Veterinary Science; 10: 113-118. 2007.

SALES, D.J.; KIRSNER, J.B. The prognosis of inflammatory bowel disease. Archives of

Internal Medicine, 1983; 143; 294-299.

SCHREINER NM, GASCHEN F, GRÖNE A, SAUTER SN, ALLENSPACH K. Clinical

signs, histology, and CD3-positive cells before and after treatment of dogs with chronic

enteropathies. Journal of Veterinary Internal Medicine; 22: 1079-1083. 2008.

STOKES, J.E., KRUGER,J.M., MULLANEY,T., HOLAN, K., SCHALL, W.J. Histiocytic

ulcerative colitis in three non-boxer dogs. Journal of the American Animal Hospital

Association, 2001; 37; 461-465.

STROMBECK, D.R. Chronic inflammatory bowel disease. In: Strombeck D.R. ed.: Small

Animal Gastroenterology. Davis, CA: Stonegate Publishing; 1979: 240-261

STURGESS K. Diagnosis and management of idiopathic inflammatory bowel disease in

dogs and cats. In Practice 2005; 27: 291-30. 2005.

STONEHEWER J, SIMPSON JW, ELSE RW, et al. Evaluation of B and T lymphocytes

and plasma cells in colonic mucosa from healthy dogs and dogs with inflammatory

bowel disease. Research Veterinary Science; 65:59–63. 1998.

Page 63: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

63

TAMS, T. Doenças do intestino grosso. In: Gastroenterologia de Pequenos Animais. Ed.

Roca. 2a. edição,2005, 247-282.

TAMS TR. Chronic diseases of the small intestine. In: Tams TR, ed. Handbook of Small

Animal Gastroenterology. Philadelphia, PA: WB Saunders; 2003:211–250.

TANAKA K. Expression of Toll-like receptors in the intestinal mucosa of patients with

inflammatory bowel disease. Expert Review Gastroenterology and Hepatololgy; 2: 193-

196. 2008.

VAN HEES PAM., VAN ELTERENPH, VAN LIER, HJJ. et al An index of inflammatory

activity in patients with Crohn’s Disease. Gut 21: 279-286. 1980.

XENOULIS, G.P, PALCULICT, B, ALLENSPACH, K, STEINER, M.J, VAN HOUSE, M.A,

SUCHODOLSKI, JS. Molecular-phylogenetic characterization of microbial communities

imbalance in the small intestine of dogs with inflammatory bowel disease. Microbiology

Ecology, 66, 579-589. 2008.

VAN HOGEZAND, R.A., EICCHORN, R.F., CHOUDRY, A., VEENENDAAL, R.A.,

LAMERS, C.B., Malignancies in inflammatory bowel disease: fact or fiction?

Scandinavian Journal of Gastroenterology, 2002; 236; 48-53.

WATANABE M., UENO Y., YAJIMA T., et al. Interleukin7 transgenic mice develop

chronic colitis with decrease interleukin 7 protein accumulation in the colonic mucosa.

Journal Experimental of Medicine, 1998; 187: 389-402.

Page 64: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

64

WESTERMARCK E, SKRZYPCZAK T, HARMOINEN J, ET AL. Tylosin responsive

chronic diarrhea in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine 2005;19 (2):177–186.

WILLARD, MD, JERGENS AE, DUNCAN RB. et al. Intraobserver variation among

histopathologic evaluation of intestinal tissues from dogs and cats. Journal of American

Veterinary Medical Association, 220:1177-1182. 2002.

WILCOX B. Endoscopic biopsy interpretation in canine or feline enterocolitis. Semin

Veterinary Medical Surgery; 7:162–171. 1992

WOOD I.J, DOIG, RK, MOTTERAN, R, HUGES A. A Gastric biopsy: report on fifty-five

biopsies using a new flexible gastric biopsy tube. Lancet, 1: 18-22. 1949.

WRIGHT,J.P. Factors influencing first relapse in patients with Crohn Disease. Journal of

Clinical Gastroenterolgy, 1992; 15; 12-16.

Page 65: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

65

ANEXOS

Page 66: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

66

Tabela 1: Dados demográficos, clínicos e endoscópicos de cães com Doença Inflamatória Intestinal.

SEXO RAÇA IDADE

(MESES) PORTE PELAGEM

REDUÇÃO APETITE

VOMITO CONSISTÊNCIA

FEZES FREQUÊNCIA

FEZES ESOFAGITE

ENANTEMA ANTRO

ENANTEMA CORPO

ENANTEMA DUODENO

EDEMA PREGA

ÚLCERA ESTÔMAGO

ÚLCERA DUODENO

EROSÃO MUCOSA NODULAR

HERNIA HIATO

LÍQIDO DE ESTASE

LÍQUIDO SANGUINOLENTO

1 Macho Chowchow 84 Médio Caramelo Grave 3vezes/semana Normal Normal Ausente Grave Grave Grave Ausente Ausente 3 Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

2 Macho Pinsher 84 Pequeno Bicolor Normal Mais de

3vezes/semana Normal Normal Ausente Grave Grave Grave Ausente 5 Ausente Mais de 5 Ausente Ausente Ausente Ausente

3 Macho Yorkshire

terrier 96 Pequeno

Black and

tan Leve Normal Fezes muito moles 3 vezes /dia Ausente Leve Leve Leve Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

4 Fêmea Pastro

alemão 84 Grande

Manto

negro Moderada Normal

Discretamente

moles com sangue 2 vezes /dia Ausente Leve Leve Moderado Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

Pequena

quantidade Ausente

5 Fêmea Chowchow 36 Médio Preta Moderada Normal Discretamente

moles com muco 2 vezes /dia Leve Moderada Moderado Grave Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

6 Fêmea S.R.D. 144 Grande Branca Moderada 3vezes/semana Normal Normal Ausente Grave Grave Grave Ausente Ausente 5 Ausente Ausente Ausente Grande

quantidade Ausente

7 Fêmea Poodle 180 Pequeno Branca Grave 5vezes/semana Normal Normal Grave Moderado Moderado Grave Ausente Ausente 3 Ausente Ausente Ausente Grande

quantidade Ausente

8 Fêmea Poodle 84 Pequeno Cinza Normal 1 vez/semana Normal Normal Moderada Moderado Moderado Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente 9 Fêmea Poodle 20,4 Pequeno Branca Moderada 5vezes/semana Normal Normal Leve Moderado Moderado Grave Ausente Inúmeras Ausente Ausente Presente Ausente Ausente Presente

10 Fêmea Pastro

alemão 15,.2 Médio

Manto

negro Moderada 5vezes/semana

Discretamente

moles _ Ausente Moderado Moderado Grave Ausente Ausente Ausente Mais de 5 Presente Ausente Ausente Ausente

11 Macho Poodle 88,8 Pequeno Branca Leve Normal Discretamente

moles com muco 3 vezes /dia Ausente Leve Leve Grave Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

12 Macho Pastro

alemão 84 Grande

Manto

negro Grave 7vezes/semana Normal Normal Ausente Leve Leve Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

Pequena

quantidade Ausente

13 Fêmea Cocker

spaniel 26 Médio Tricolor Moderada 5vezes/semana Fezes muito moles 2 vezes /dia Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

14 Fêmea S.R.D. 189,6 Médio Branca Normal 6 vezes/semana Normal Normal Ausente Moderado Moderado Ausente Ausente 4 Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Ausente 15 Fêmea Poodle 48 Pequeno Branca Grave Normal Normal Normal Moderada Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

16 Macho Beagle 24 Médio Bicolor Leve 2 a

3vezes/semana

Discretamente

moles com sangue 3 vezes /dia Moderada Moderada Ausente Ausente Ausente Mais de 5 Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

17 Fêmea Schnauzer 60 Pequeno Sal e

pimenta Moderada 2 vezes/semana Normal Normal Ausente Moderado Moderado Ausente Ausente Ausente Ausente 5 Ausente Ausente Ausente Ausente

18 Macho West h. W.

Terrier 21,6 Médio Branca Normal 3vezes/semana Normal Normal Ausente Moderado Moderado Grave Leve Ausente Mais de 5 Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

19 Fêmea Labrador 108 Grande Caramelo Normal 1 vez/semana Discretamente

moles com muco 2 vezes /dia Ausente Moderado Moderado Modrado Leve Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente

20 Fêmea Poodle 60 Pequeno Branca Moderada 3vezes/semana Fezes muito moles Normal Ausente Moderado Moderado Grave Leve Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Pequena

quantidade Ausente

Page 67: avaliação clínica, endoscópica e histopatológica de cães com

67

Tabela 2 - Dados demográficos, histopatológicos e teste da urease de cães com Doença Inflamatória Intestinal.

SEXO RAÇA IDADE

(MESES) PORTE

PELAGEM

CONGESTÃO ESTOMAGO

EDEMA ESTOMAGO

HEMORRAGIA ESTOMAGO

EROSÃO EPITÉLIO REVESTIMENTO

ESTOMAGO

INFILTRADO LINFOPLASMOCITÁRIO

MUCOSA GÁSTRICA

HIPERPLASIA FOLÍCULO LINFÓIDE

HIPERPLASIA EPITÉLIO

ESTOMAGO

CONGESTÃO DUODENO

EDEMA DUODENO

HEMORRAGIA DUODENO

INFILTRADO INFLAMATÓRIO

LINFOPLASMOCITÁRIO DUODENO

TESTE UREASE

GIEMSA (BASTONETES/CO

COS)

1 Macho Chowchow 84 Médio Caramelo Presente Presente Presente Ausente Grave Ausente Ausente Leve Presente Presente Grave Positivo Positivo

2 Macho Pinsher 84 Pequen

o Bicolor Presente Presente Presente Ausente Moderado Presente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Negativo Negativo

3 Macho Yorkshire

terrier 96

Pequen

o

Black and

tan Presente Presente Presente Ausente Discreto Ausente Ausente Leve Presente Ausente Ausente Positivo Positivo

4 Fêmea Pastro

alemão 84 Grande

Manto

negro Presente Ausente Ausente Ausente Discreto Ausente Ausente Leve Presente Presente Leve Positivo Positivo

5 Fêmea Chowchow 36 Médio Preta Ausente Ausente Presente Ausente Discreto Ausente Ausente Ausente Ausente Presente Moderado Positivo Positivo

6 Fêmea S.r.d 144 Grande Branca Ausente Presente Ausente Ausente Moderado Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Moderado Positivo Positivo

7 Fêmea Poodle 180 Pequen

o Branca Ausente Presente Presente Ausente Grave Ausente Ausente Ausente Ausente Presente Moderado Positivo Negativo

8 Fêmea Poodle 84 Pequen

o Cinza Ausente Presente Ausente Ausente Discreto Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Moderado Negativo Negativo

9 Fêmea Poodle 20,4 Pequen

o Branca Presente Presente Ausente Ausente Discreto Presente Ausente Ausente Ausente Ausente Leve Positivo Positivo

10 Fêmea Pastro

alemão 15,.2 Médio

Manto

negro Presente Presente Presente Ausente Discreto Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Moderado Positivo Negativo

11 Macho Poodle 88,8 Pequen

o Branca Presente Presente Presente Ausente Discreto Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Leve Positivo Positivo

12 Macho Pastro

alemão 84 Grande

Manto

negro Ausente Presente Presente Ausente Moderado Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Moderado Negativo Negativo

13 Fêmea Cocker

spaniel 26 Médio Tricolor Presente Presente Presente Ausente Discreto Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Positivo Positivo

14 Fêmea S.r.d 189,6 Médio Branca Presente Presente Presente Presente Discreto Ausente Presente Ausente Ausente Presente Ausente Negativo Negativo

15 Fêmea Poodle 48 Pequen

o Branca Presente Presente Presente Presente Discreto Presente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Positivo Positivo

16 Macho Beagle 24 Médio Bicolor Presente Ausente Presente Ausente Discreto Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Leve Positivo Positivo

17 Fêmea Schnauzer 60 Pequen

o

Sal e

pimenta Presente Ausente Presente Ausente Discreto Presente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Positivo Positivo

18 Macho West h. W.

Terrier 21,6 Médio Branca Presente Ausente Presente Ausente Ausente Ausente Ausente Leve Ausente Ausente Moderado Negativo Negativo

19 Fêmea Labrador 108 Grande Caramelo Presente Presente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Negativo Negativo

20 Fêmea Poodle 60 Pequen

o Branca Presente Presente Ausente Ausente Discreto Ausente Ausente Leve Ausente Ausente Ausente Positivo Positivo