avaliação biomecânica funcional da dor crônica músculo-esquelética

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CAPÍTULO 11 Avaliação Biomecânica Funcional da Dor Crônica Músculo-esquelética Maciel Murari Fernandes Lin Tchia Yeng Para ser funcional em um mundo com significativas forças gravitacionais, o corpo adaptou-se integrando os supor- tes estático e dinâmico, permitindo manter a posição vertical relativamente sem esforço. Porém, um número cada vez maior de pessoas apresenta, em seu cotidiano, atividades repetitivas e restritivas, que conduzem a uma perda do sinergismo muscular com predisposição para lesões e/ou deformidades progressivas do sistema mús- culo-esquelético. O fisioterapeuta, em seu planejamento terapêutico, poderá inter-relacionar os dados colhidos na avaliação funcio- nal e com isso optar por técnicas mais eficazes para atin- gir seus objetivos. Para isso, a avaliação deve incluir uma investigação minuciosa de toda a rotina do paciente, seja ele um atleta, praticante de atividade física, músico, arte- são, digitador, pedreiro, etc. Esse tipo de investigação requer conhecimento biomecânico das atividades avaliadas, pois cada uma delas terá padrão de movimento próprio e afe- rir a qualidade passa necessariamente pela detecção do que é lesivo no movimento executado pelo paciente. As funções no cotidiano deveriam ser executadas por um corpo que se organiza de forma satisfatória para tal, mas não é isso que encontramos nos doentes crônicos. Ao contrário, o doente geralmente está imbuído de há- bitos e padrões que alimentam sua dor, sem se dar con- ta do fato. Apesar de ter recebido uma série de tratamentos ao longo dos anos, é incapaz, na maioria das vezes, de identificar fatores que pioram sua dor e não traz con- sigo informações consistentes sobre o funcionamento de seu corpo, o que o torna vulnerável, repetindo gestos inconsistentes e lesivos, sem elementos suficientes para identificá-los. A avaliação fisioterapêutica, dentro de uma equipe multiprofissional, deve considerar a avaliação realiza- da pelos membros da equipe e com isso acrescentar dados pertinentes a sua especialidade. No Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Facul- dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC- FMUSP), a fisioterapia é uma das especialidades, dentre várias, o que nos proporciona acesso à avaliação de outras áreas. A investigação é conduzida com propósitos espe- cíficos, pois nosso objetivo é somar e não ser redun- dante. A prioridade para a fisioterapia é conseguir dados relevantes e detalhados sobre as funções exercidas pe- los doentes e relacioná-las com a perpetuação da dor. Para que as funções sejam exercidas de forma ade- quada, o indivíduo deve ter um bom desempenho bio- mecânico, o que exige alinhamento articular, amplitude de movimento, força, resistência, propriocepção, percep- ção corporal e vivência corporal, nas funções às quais o corpo é submetido. A avaliação biomecânica funcional baseia-se exatamente na investigação e no estudo desse desempenho biomecânico e do que pode comprometê-lo. Partindo do que consideramos fisiológico, podemos realizar uma avaliação coerente, com informações relevantes. Iniciamos nossa avaliação considerando os resulta- dos obtidos nas avaliações da equipe médica e focamos então na coleta de informações quanto aos locais de dor, escala verbal da dor, freqüência, padrão e estruturas envolvidas. O próximo passo consiste em identificar todas as rotinas que envolvem o cotidiano do doente e como as realiza. O alinhamento postural é investigado juntamente com o sistema músculo-esquelético para acrescentar dados que possam elucidar fatores perpetuantes da dor. É necessário relacionar todas as informações para deter- minar o planejamento cinesioterapêutico. Modelo de Avaliação Biomecânica Funcional * Discriminar Todos os Locais de Dor Quando averiguamos os locais de dor de forma discri- minativa, conseguimos saber mais detalhes sobre a importância e o comportamento da dor em cada região acometida. O doente será questionado sobre as infor- mações colhidas nesse tópico a cada semana, para con- seguirmos constatar se a conduta escolhida para o tratamento está coerente. Local da dor: discriminar as regiões e investigar os dados relacionados a seguir para cada uma delas. Escala verbal analógica (EVA): 0 = sem dor; 10 = máximo de dor. Freqüência: diária; quantas vezes por semana, mês ou ano. 978-85-7241-625-2 * Aplicada no Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Yang 11.p65 26.09.07, 8:59 163

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YENG L.T. ; FERNANDES, M. M. . Avaliação Biomecânica Funcional da Dor Crônica Músculo-esquelética. In: Manoel Jacobsen Teixeira, Helena Hideko S.Kaziyama. (Org.). Dor Síndrome Dolorosa Miofascial e Dor Músculo-esquelética. 1ºed.: Roca, 2008, v. , p. -.

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Page 1: Avaliação Biomecânica Funcional da Dor Crônica Músculo-esquelética

C A P Í T U L O 1 1

Avaliação Biomecânica Funcional daDor Crônica Músculo-esqueléticaMaciel Murari Fernandes ◆ Lin Tchia Yeng

Para ser funcional em um mundo com significativas forçasgravitacionais, o corpo adaptou-se integrando os supor-tes estático e dinâmico, permitindo manter a posiçãovertical relativamente sem esforço. Porém, um númerocada vez maior de pessoas apresenta, em seu cotidiano,atividades repetitivas e restritivas, que conduzem a umaperda do sinergismo muscular com predisposição paralesões e/ou deformidades progressivas do sistema mús-culo-esquelético.

O fisioterapeuta, em seu planejamento terapêutico, poderáinter-relacionar os dados colhidos na avaliação funcio-nal e com isso optar por técnicas mais eficazes para atin-gir seus objetivos. Para isso, a avaliação deve incluir umainvestigação minuciosa de toda a rotina do paciente, sejaele um atleta, praticante de atividade física, músico, arte-são, digitador, pedreiro, etc. Esse tipo de investigação requerconhecimento biomecânico das atividades avaliadas, poiscada uma delas terá padrão de movimento próprio e afe-rir a qualidade passa necessariamente pela detecção doque é lesivo no movimento executado pelo paciente.

As funções no cotidiano deveriam ser executadas porum corpo que se organiza de forma satisfatória para tal,mas não é isso que encontramos nos doentes crônicos.Ao contrário, o doente geralmente está imbuído de há-bitos e padrões que alimentam sua dor, sem se dar con-ta do fato. Apesar de ter recebido uma série de tratamentosao longo dos anos, é incapaz, na maioria das vezes, deidentificar fatores que pioram sua dor e não traz con-sigo informações consistentes sobre o funcionamentode seu corpo, o que o torna vulnerável, repetindo gestosinconsistentes e lesivos, sem elementos suficientes paraidentificá-los.

A avaliação fisioterapêutica, dentro de uma equipemultiprofissional, deve considerar a avaliação realiza-da pelos membros da equipe e com isso acrescentar dadospertinentes a sua especialidade.

No Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Facul-dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), a fisioterapia é uma das especialidades, dentrevárias, o que nos proporciona acesso à avaliação de outrasáreas. A investigação é conduzida com propósitos espe-cíficos, pois nosso objetivo é somar e não ser redun-dante. A prioridade para a fisioterapia é conseguir dadosrelevantes e detalhados sobre as funções exercidas pe-los doentes e relacioná-las com a perpetuação da dor.

Para que as funções sejam exercidas de forma ade-quada, o indivíduo deve ter um bom desempenho bio-

mecânico, o que exige alinhamento articular, amplitudede movimento, força, resistência, propriocepção, percep-ção corporal e vivência corporal, nas funções às quaiso corpo é submetido. A avaliação biomecânica funcionalbaseia-se exatamente na investigação e no estudo dessedesempenho biomecânico e do que pode comprometê-lo.Partindo do que consideramos fisiológico, podemos realizaruma avaliação coerente, com informações relevantes.

Iniciamos nossa avaliação considerando os resulta-dos obtidos nas avaliações da equipe médica e focamosentão na coleta de informações quanto aos locais de dor,escala verbal da dor, freqüência, padrão e estruturasenvolvidas. O próximo passo consiste em identificar todasas rotinas que envolvem o cotidiano do doente e como asrealiza. O alinhamento postural é investigado juntamentecom o sistema músculo-esquelético para acrescentar dadosque possam elucidar fatores perpetuantes da dor. Énecessário relacionar todas as informações para deter-minar o planejamento cinesioterapêutico.

Modelo de AvaliaçãoBiomecânica Funcional*

Discriminar Todos os Locais de DorQuando averiguamos os locais de dor de forma discri-minativa, conseguimos saber mais detalhes sobre aimportância e o comportamento da dor em cada regiãoacometida. O doente será questionado sobre as infor-mações colhidas nesse tópico a cada semana, para con-seguirmos constatar se a conduta escolhida para otratamento está coerente.

• Local da dor: discriminar as regiões e investigar osdados relacionados a seguir para cada uma delas.

• Escala verbal analógica (EVA): 0 = sem dor; 10 =máximo de dor.

• Freqüência: diária; quantas vezes por semana, mêsou ano.

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* Aplicada no Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo.

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• Período de maior incidência: manhã, tarde, noite, oudurante o sono.

• Período de menor incidência: manhã, tarde, noite,ou durante o sono.

• Padrão:– Dor neuropática: formigamento ou queimor, cho-

ques paroxísticos, parestesias, disestesias, déficitsmotores, anormalidades reflexas e anormalidadesneurovegetativas denotam neuropatias.

– Dor miofascial: queimação ou queimor, pressão, pesoe tensão podem sugerir dor muscular.

– Dor nociceptiva: dor em peso, tensão, ou pressão.• Fatores de piora: terapias e/ou funções que aumen-

tam sua dor.

• Fatores de melhora: terapias e/ou funções que dimi-nuem sua dor.

Diagramas Corporais paraLocalização e Magnitude da DorPedimos ao doente que pinte os locais de dor e rela-cionamos com a discriminação dos mesmos locais relata-dos anteriormente (Fig. 11.1). A reavaliação desses dia-gramas ocorre proporcionalmente às constatações demudanças consistentes no comportamento da dor, ob-servadas no tópico anterior.

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%

28% 30,5%

36,5%45%

54% 61,8% 64%

77% 82,1%90%

94,5% 100%

Dor mielo

plástica

Dor músc

ulo-e

squelétic

a

Dor oncoló

gica*

Assin

tom

áticas**

Dor pelvip

erineal n

ão viscera

l

Neuralgia p

ós-herp

ética

Fibro

mialgia

Dor abdom

inal n

ão viscera

l

SCDR I e II

***

Dor verte

bral

LER/DORT

Cefaléia cervicogênica

Figura 11.2 – Epidemiologia. Condições às quais as síndromes dolorosas miofasciais podem estar associadas. * Teixeira, W. J.,2000; ** Frohlich apud Yeng, L. T., 2001; *** Yeng, L.T., 1995. DORT = distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho; LER= lesão por esforço repetitivo; SCDR = síndrome complexa de dor regional.

Figura 11.1 – (A – B) Diagramas corporais para localização e magnitude da dor.

A B

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Figura 11.5 – (A – D) Discriminação do território da dorirradiada.

A

B

C

Figura 11.4 – (A – C) O ponto-gatilho miofascial ativo pro-move dor local e irradiada. A dor é reconhecida pelo doentecomo a mais intensa e relevante. O ponto-gatilho latente mio-fascial promove dor local.

Ponto-gatilho latente ( ) sim ( ) nãoPonto-gatilho ativo ( ) sim ( ) nãoDor conhecida ( ) sim ( ) nãoDor irradiada ( ) sim ( ) não

Avaliação dos Pontos-gatilhoMiofasciaisA síndrome dolorosa miofascial está presente na gran-de maioria dos casos de dor crônica (Fig. 11.2). Em razãode sua relevância e prevalência, são então investigadosos músculos que possivelmente estejam acometidos. Aavaliação leva em consideração a topografia da dor eos músculos que podem irradiar dor para essas regiões(Figs. 11.3 a 11.6). O músculo avaliado será compara-do com o contralateral.

Avaliação das Funções Exercidaspelo DoenteSolicitar que o doente demonstre cada uma de suas fun-ções em áreas específicas e, após análise biomecânica,relacioná-las a fatores de perpetuação da dor e discri-minar qual intervenção é pertinente, o porquê e os ob-jetivos (Fig. 11.7).

Avaliação Biomecânica Funcional• Atividades gerais: solicitar ao doente que realize todas

as atividades da vida diária, incluindo sentar (está-tico), agachar, carregar objetos pesados, sentar e le-vantar (dinâmico), caminhar, subir e descer escadas.Em seguida, discriminar as atividades que requeremintervenção, o porquê e os objetivos.– Intervenção (descrever quais, o porquê e os objetivos).

Figura 11.3 – (A – B) A localização da banda de tensão é oprimeiro passo para identificar um músculo comprometido epara determinar se ele possui ponto-gatilho ativo ou latente.

Músculo: ______________________________ lado ( ) direito ( ) esquerdoBanda de tensão ( ) sim ( ) não

A

B

Bandas de tensão (palpáveis) no músculo

Bandas detensão

Fibrasmusculares

relaxadas

Contraçãomuscularlocal dabanda Discriminar território da dor irradiada:

____________________________________

Dor durante mobilização passiva ( ) sim ( ) nãoDor durante mobilização ativa ( ) sim ( ) não

A B C D

Posição anterior Posição posteriorGlúteo mínimo

Dolorimetria: ___________________________

Resposta local à contração muscular

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Figura 11.6 – (A ) Localização do ponto-gatilho; (B) Dolorimetria.

Figura 11.7 – Avaliação das funções exercidas pelo doente. EVA = escala verbal analógica.

• Atividades específicas: solicitar ao doente que reali-ze as atividades relacionadas à sua profissão, seja eleum atleta, pianista, engenheiro, ou dona de casa. Nessecaso, em algumas situações, se faz necessário ir aolocal em que são realizadas as atividades, ou solici-tar que fotografe ou filme, para conseguirmos a re-produção exata dos movimentos e suas possíveiscomplicações. Avaliar todos os aspectos da ergonomiapertinentes à profissão.– Intervenção (descrever quais, o porquê e os objetivos).

• Atividade física: nesse caso, na maioria das vezes, sefaz necessário ir ao local onde as atividades são re-alizadas, ou solicitar que fotografe ou filme, para con-seguirmos a reprodução exata dos movimentos e suaspossíveis complicações.– Intervenção (quais, o porquê e os objetivos).

• Sono: solicitar ao doente que demonstre como seposiciona para dormir, qual o tipo de colchão, tra-vesseiro, se lê na cama, se assiste à TV na cama, horasde sono, interrupções e qualidade.Colchão: ______________ Travesseiros:________________Posicionamento ao dormir:___________ Horas diáriasde sono:_________ Interrupções:_________ Sono repa-rador:___________ Sonhos:___________Assiste à TV na cama:________ Lê na cama:__________

• Fisioterapia pregressa: colher todos os dados perti-nentes aos tratamentos fisioterapêuticos empregados,separando as intervenções que melhoraram e piora-ram o quadro clínico. Essas informações nos ajudama identificar os métodos de avaliação, as técnicas em-pregadas, o tempo de aplicação, a adesão ao trata-mento, o aprendizado de exercícios e o nível de cons-ciência corporal. Essas constatações nos demonstramclaramente o grau de eficiência da fisioterapia até aquirealizada e acrescentam dados importantíssimos aoplano cinesioterapêutico.

Atividades gerais

EVA

Intensidade

Freqüência

DOR

Ativid

ade físic

a

Atividadesespecíficas

Fisioterapiapregressa

Sono

Predomínio

Fatores de piora emelhora

Padrão

Medicam

entos

A

B

Músculo radiallongo do carpo

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Técnicas empregadas:____________________________Número de sessões:______________________________Tempo de aplicação:______________________________Adesão ao tratamento:______________________________Aprendizado do doente (cognição, percepção e qua-lidade das informações sobre o uso adequado docorpo): __________________________________________Autocuidados (o que traz como ferramenta paraenfrentamento da dor):______________________________

• Medicação: constatar se o uso que o doente faz da me-dicação é realmente o prescrito pelo médico, os efei-tos positivos na dor e os colaterais. Uma grande partedos doentes crônicos altera as doses, as combinações,ou deixa de se medicar sem comunicar ao médico. Ofisioterapeuta pode investigar e relatar o que está ocor-rendo à equipe, para que a medicação possa cumprirseu papel. O doente que está mal medicado não evo-lui bem e, por conseqüência, compromete o sucessodo tratamento.Remédios: _________________________________________Efeitos positivos:__________________________________Efeitos colaterais: _________________________________Regularidade: _____________ Horários:_______________Tempo que faz uso de remédios para dor: _________

Avaliação PosturalÉ realizada com o doente na posição ortostática emdiferentes planos para identificar os desalinhamentos(Figs. 11.8). Importante considerar todos os dados coletadosaté aqui para que possamos inter-relacioná-los com osachados na avaliação postural.

Plano SagitalPara melhor avaliar o doente no plano sagital, marcaras articulações do tornozelo, coxofemoral, D8 e C0/C1e unir essas marcas por uma linha para concluir um mo-delo do esquema de alinhamento da pelve, tronco e ca-beça. Os membros inferiores, coluna lombar e colunacervical determinam respectivamente o posicionamentoda pelve, do tronco e da cabeça (Figs. 11.9).

Portanto, se quisermos intervir no alinhamento, te-mos que saber responder quais são os músculos ou ascadeias de músculos que estão agindo de forma inade-quada nas regiões responsáveis em promover o desali-nhamento. Encontramos nas avaliações posturais inúmeraspossibilidades de organização, ou seja, cada indivíduoé único em seu arquétipo e considerando que não ire-mos encontrar o padrão fisiológico na grande maioria

Figura 11.8 – (A – C) Avaliação postural no plano sagital.

A B C

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Figura 11.10 – (A – D) Avaliação postural no plano frontal.

Figura 11.9 – (A – C) Avaliação postural no plano sagital enfocando as regiões da cabeça, do tronco e da pelve.

A B C

A B C D

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das vezes, precisamos compreender o que constatamospara saber conduzir a intervenção de forma eficaz. Ava-liamos no plano sagital os itens relacionados a seguir:Equilíbrio sagital da pelve:___________________________Equilíbrio sagital do tronco:___________________________Equilíbrio sagital da cabeça:___________________________Ângulo tibiotársico:_________________________________Alinhamento sagital dos joelhos:_____________________Curva lombar:_______________________________________Curva torácica:_______________________________________Curva cervical:_______________________________________

Plano FrontalNo plano frontal, o doente deverá colocar os pés parale-los no prolongamento da articulação coxofemoral, man-ter o olhar à frente e, dentro do possível, relaxar o corpo.Dois fios de prumo saem do segundo metatarso paraconseguirmos uma imagem que nos mostra particular-mente as inclinações e rotações (Fig. 11.10).

Plano PosteriorNo plano posterior, com os dois fios de prumo saindo docentro do calcâneo e um outro entre os pés, confirmam-seas inclinações e rotações já observadas no plano frontal.A observação do doente nesses planos e na disposição aquiexemplificada auxilia no direcionamento da avaliação dossegmentos articulares, que é indispensável (Fig. 11.11).

Na avaliação postural dos doentes crônicos se faznecessário incluir a identificação das cadeias muscula-res que podem estar colaborando para uma estruturabiomecânica deficitária. As cadeias musculares neces-sitam estar em equilíbrio com suas forças para permitirao corpo movimentos harmônicos, econômicos, eficientese, portanto, com pouca possibilidade de lesão.

Avaliação dos planos posterior e anterior:Pés:________________________________________________Joelhos:_____________________________________________Coxofemoral:_______________________________________Pelve:________________________________________________

Figura 11.11 – (A – D) Avaliação postural no plano posterior.

Tronco:______________________________________________Clavículas:__________________________________________Membros superiores:_________________________________Cabeça:_____________________________________________Escápulas (plano posterior):___________________________Cadeias musculares:__________________________________

Modelo de Planejamento da Sessãode Cinesioterapia Funcional*Um dos desafios do paciente com dor crônica e do profis-sional da saúde é reconhecer os fatores de piora e me-lhora da dor para estabelecer conexão com o tratamentoproposto. O planejamento da cinesioterapia funcionaldeve incluir o reconhecimento desses fatores como for-ma efetiva e direta no tratamento da dor crônica. Tantoo doente quanto o fisioterapeuta, munidos dessas informa-ções, possuem ferramentas eficazes e duradouras paraintervir, de forma sustentável, na dor. Os métodos e técnicasdevem servir de instrumentos para proporcionar ao corpocondições de modificar padrões de movimentos lesivos.Na grande maioria das vezes, existe uma relação entrea dor e a qualidade com que realizamos uma determina-da função e isso pode ser causa de perpetuação de umquadro clínico doloroso, daí a necessidade de o trata-mento cinesioterapêutico ter como objetivo principal adiminuição da dor e, concomitantemente, a promoçãoda reeducação dos movimentos que fazem parte docotidiano desse doente.

Discriminação da DorÉ importante a cada sessão averiguar a escala verbalanalógica da dor principal e secundária, o local da dor,a freqüência, o padrão, a dolorimetria e comparar comas sessões anteriores.

A B C D

* Aplicado no Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo.

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a participação de cada uma dessas áreas na freqüência,na intensidade e no padrão da dor.

( ) Atividades gerais ( ) Atividades específicas( ) Atividade física ( ) Fisioterapia pregressa( ) Sono ( ) Medicamentos

Métodos e Técnicas UtilizadosAo decidirmos por uma ou mais formas de intervenção,devemos manter o foco no restabelecimento das fun-ções, proporcionando ao paciente uma melhor compreensãode sua biomecânica e autonomia, imprescindíveis nasustentabilidade da melhora de seu quadro clínico:

( ) Dessensibilização dos pontos-gatilho miofasciais( ) Exercícios de alongamento( ) Manobras miofasciais( ) Manipulação articular( ) Exercícios de fortalecimento

• Dor principal:– EVA (inicial – antes da intervenção)________________– EVA (final – após intervenção)____________________

• Dor secundária:– EVA (inicial):__________________– EVA (final):____________________

• Local da dor (ver Fig. 11.1):• Freqüência:_________________• Padrão:_____________________• Dolorimetria dos músculos envolvidos (ver Fig. 11.6, B):

– Músculo:_________________________– Dolorimetria (inicial):_________________________– Dolorimetria (final):___________________________

Áreas de AtuaçãoDeterminar em qual das áreas investigadas na avaliaçãobiomecânica funcional irá atuar na sessão, proporcio-nando uma relação permanente das intervenções com aavaliação inicial. Podemos, a partir desse elo, mensurar

Anexo 1 – Discriminação da dor

Nome: ________________________________________________________________________________________________________________

Dor principal – EVA: ______________________________________

Local da dor: ____________________________________________

Freqüência: ______________________________________________

Período de maior incidência: _______________________________

Período de menor incidência: _______________________________

Padrão: _________________________________________________

Fatores de piora: _________________________________________

Fatores de melhora: ______________________________________

Dor secundária – EVA: ____________________________________

Local da dor: ____________________________________________

Freqüência: ______________________________________________

Período de maior incidência: _______________________________

Período de menor incidência: _______________________________

Padrão: _________________________________________________

Fatores de piora: _________________________________________

Fatores de melhora: _______________________________________

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( ) Exercícios aeróbios( ) Exercícios de propriocepção( ) Exercícios de reeducação postural( ) Exercícios de coordenação motora( ) Exercícios de reeducação do movimento( ) Orientações( ) Revisão( ) Autocuidados( ) Outros métodos e técnicas________________________

Determinar os Objetivos da Sessão ese Foram AlcançadosCom todos os dados da avaliação, a escolha da área deatuação e os métodos e técnicas selecionados, respon-der ao término de cada sessão se os resultados espera-dos foram alcançados. Cada sessão deve considerar osresultados da sessão anterior para dar continuidade ounão ao plano cinesioterapêutico estabelecido.

Plano sagitalEquilíbrio sagital da pelve: _______________________________________________________________________________________________

Equilíbrio sagital do tronco: ______________________________________________________________________________________________

Equilíbrio sagital da cabeça: _____________________________________________________________________________________________

Ângulo tibiotársico: _____________________________________________________________________________________________________

Alinhamento sagital dos joelhos: __________________________________________________________________________________________

Curva lombar: _________________________________________________________________________________________________________

Curva torácica: _________________________________________________________________________________________________________

Curva cervical: _________________________________________________________________________________________________________

Cadeias musculares: ____________________________________________________________________________________________________

Planos frontal e posterior

Pés: __________________________________________________________________________________________________________________

Joelhos: ______________________________________________________________________________________________________________

Coxofemoral: __________________________________________________________________________________________________________

Pelve: ________________________________________________________________________________________________________________

Tronco: _______________________________________________________________________________________________________________

Clavículas: ____________________________________________________________________________________________________________

Membros superiores: ____________________________________________________________________________________________________

Cabeça: _______________________________________________________________________________________________________________

Escápulas (plano posterior): ______________________________________________________________________________________________

Fisioterapeuta: _________________________________________________________ Crefito: ________________________________________

Data:____/____/____

Anexo 3 – Avaliação postural

Anexo 2 – Avaliação biomecânica funcional

Atividades gerais (descrever quais, o porquê e os objetivos) ___________________________________________________________________

Atividade específica (descrever quais, o porquê e os objetivos) _________________________________________________________________

Atividade física (descrever quais, o porquê e os objetivos) _____________________________________________________________________

Sono

Colchão: ________________________________________________

Travesseiros: ____________________________________________

Posicionamento ao dormir: _________________________________

Horas diárias de sono: ____________________________________

Interrupções: ____________________________________________

Sono reparador: __________________________________________

Assiste à TV na cama: ____________________________________

Lê na cama: _____________________________________________

Fisioterapia pregressaTécnicas: _______________________________________________

Número de sessões: ______________________________________

Adesão: _________________________________________________

Aprendizado do doente: ___________________________________

MedicamentosRemédios: _______________________________________________

Efeitos positivos: _________________________________________

Efeitos colaterais: ________________________________________

Regularidade: ____________________________________________

Horários: ________________________________________________

Tempo que faz uso de remédios para dor: ____________________

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Anexo 4 – Planejamento da sessão de cinesioterapia funcional

Nome: __________________________________________________Discriminação da dorDor principal – EVA: inicial ______________ final ______________Dor secundária – EVA: inicial ____________ final ______________Local da dor: ____________________________________________Freqüência: __________________________ Padrão: ____________Dolorimetria dos músculos envolvidos:Músculo: ___________ Dolorimetria: inicial _______ final _______Músculo: ___________ Dolorimetria: inicial _______ final _______Áreas de atuação:( ) Atividades gerais ( ) Atividades específicas( ) Atividade física ( ) Fisioterapia pregressa( ) Sono ( ) Medicamentos

Métodos e técnicas utilizadas( ) Dessensibilização dos pontos-gatilho miofasciais( ) Exercícios de alongamento( ) Manobras miofasciais( ) Manipulação articular( ) Exercícios de fortalecimento( ) Exercícios aeróbios( ) Exercícios de propriocepção( ) Exercícios de reeducação postural( ) Exercícios de coordenação motora( ) Exercícios de reeducação do movimento( ) Orientações( ) Revisão( ) Autocuidados( ) Outros métodos e técnicas ______________________________

Determinar os objetivos da sessão e se foram alcançados________________________________________________________Fisioterapeuta: _______________________ Crefito: ____________Data:____/____/____

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

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