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, artIgo 1. Inti'Od/lç6o; 2. Teoria: Pràudhon; $. IUgOslállia; 4. Espanha; 5. Conclusões. Autoges1ão: da idéia às práticas* Heloisa Maria Mendes de Almeida Aluna do Curso de Mestrado da EAESP!FGV na área de TCO. 1. INTRODUÇÃO' A palavra autogestão, relativamente recente - apare- ceu na língua francesa no início dos anos 60 - é a tradu- ção literal da palavra servo-croata samoupravlje (somo, sendo equivalente eslavo do prefixo grego auto e upravlje signífícando aproximadamente gestão) e nasceu para de- signar a experiência, J)olítico-econÕJóico-soeial da Iugos- lávia de Tito, em ruptura ao stalínismo.! Se não confessadamente, sabemos que o sistema vi- gente atualmente na Iugoslávia está embasado de alguma maneira em certos aspectos do corpo teôrico proposto por Pierre-JosephProudhon, teoria esta que acabou sen- do também nomeada autogestiQllãria. A proposta de Proudhon surge, no século passado. em meio a um movimento' libertãrio - queadvqgava a favor da nová classe domínadasurgídacom o advento da sociedade capitalista - juntamentê'com outras su- gestões semelhantes. Dentre os autores de-JÍlis propostas - denominados visionários - encontramos: Robert Owen, Charles Fourrier e Louis Blanc, considerados his- toricamente mais significativos. O propósito deste trabalho é extrair algumas con- clusões a respeito de eventuais díferenças rexistentes entre teoria e prátícas sociais autogestionãrias. Enquanto corpo te6rico, escolhemos os estudos de Proudhon, em função do sentido globalizante da sístematízação de' seus escritos. Para os casos prâtí- cos, selecionamos as realidades autogestionárias vi- vidas pela Espanha no período 1936-39 e pela Iugos- lãvia a partir da 11Guerra Mundial. . Nascido de uma prâtíca, o termo autogestão muda rapidamente de função, Indo denominar teorias. 'Cabe- ria, então, a questão-base de nosso trabalho: "em que medida podem ser consíderadas as experiências espa- nhola e, iugoslava autogestionãrias?", não fosse a limita- ção desse objetivo. Embora com um nível de profundidade relativamen- te superficial, nosso trabalho tem a intenção não exclu- sivamente de detectar o grau de adaptabilidade de prátí- cas à teoria, mas sim de revelar, por um lado, como se desenvolvem tais práticas, "apesar da teoria" e, por outro, como se mantém a propriedade da teoria, "ape- sar das práticas". Na realidade, ambas as questões fazem parte de um mesmo posicionamento. Não se trata aqui de validar com exclusividade a teoria ou a prátíca, e sim, ao menos conceitualmente (uma vez que a teoria proudhoniana, se não em suas interpretações - pelo menos em sua apre- . sentação - pode ser considerada acabada) permitir a compreensão da forma pela qual teoria e prática se com- pletam ou se excluem. Para o atingimento de tal 'propósito organízarnos O trabalho em quatro itens. O primeiro será dedicado à apresentação da sociedade autogestionâría concebida por Proudhon. Destituído de formação formal especí- fica; os escritos do autor nos falam de seu ecletismo; não haveria possibilidade de bem compreender sua pro- posta autogestionária sem lhe perscrutar os princípios fllos6ficos, econômicos e políticos. O segundo e o terceiro itens pretendem expor a forma pela qual se deu a implantação e. a realização (através do estudo da estrutura e seus ínterrelacíona- mentes internos) do sistema autogestionário ria Jugos- lãvia (1948 até hoje) e Espanha (1936-39). O quarto e último item será dedicado à reflexão, onde apresentaremos as diferenças por nós percebidas' entre teorià e prãtica. Cabe-nos ainda acrescentar que acreditamos ser este, trabalho útil, àqueles que desejam ter emmãos uma sistematizaçl'O resumida daquele sistema social que acreditain<?S ser a ,autogestl'o. Desejamos ressal- tar que a 'pesquisa realizada para a execução destetraba- lho é exclusivamente . bibliográfica. Como qualquer tra- balho de síntese nl'o. baseado em dados primários" acre- ditamo-lo de utilidade qu~que' exclusivamente para aqueles que estão tomando um primeiro contato <tom o assunto. 2. .TEORIA: PROUDHON 2.1 Pressupostos filosóficos O corpo teórico apresentado por Proudhon está calcado numa série de príncípíoafílosôfícos qúe acreditamos convenientes expor aqui, como já explicitamos anterior- mente. "A )iberdade é um direito absoluto, porque é para o homem, como a impenetrabilidade da matéria, uma condiç,o sine qua non de exístêncía, A igualdade é um direito absoluto, porque sem igualdade não hã sociedade (a natureza está de acordo com a íustíça e, por em mes- .ma nos empurra para a igualdade):'2 "A segurança pés- jan./mar.1983 Rev. Adm, Empr., Rio de Janeiro, 23(1): 37-57

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Page 1: Autoges1ão: da àspráticas* - SciELO · ... a questão-base de nosso trabalho: ... mente. ,,16 O homem, fora de seu ... do ponto de vista do trabalho (produto valor, formeção

,artIgo

1. Inti'Od/lç6o;2. Teoria: Pràudhon;

$. IUgOslállia;4. Espanha;

5. Conclusões.

Autoges1ão:da idéia às práticas*

Heloisa Maria Mendes de AlmeidaAluna do Curso de Mestrado da EAESP!FGV

na área de TCO.

1. INTRODUÇÃO'

A palavra autogestão, relativamente recente - apare-ceu na língua francesa no início dos anos 60 - é a tradu-ção literal da palavra servo-croata samoupravlje (somo,sendo equivalente eslavo do prefixo grego auto e upravljesignífícando aproximadamente gestão) e nasceu para de-signar a experiência, J)olítico-econÕJóico-soeial da Iugos-lávia de Tito, em ruptura ao stalínismo.!

Se não confessadamente, sabemos que o sistema vi-gente atualmente na Iugoslávia está embasado de algumamaneira em certos aspectos do corpo teôrico propostopor Pierre-JosephProudhon, teoria esta que acabou sen-do também nomeada autogestiQllãria.

A proposta de Proudhon surge, no século passado.em meio a um movimento' libertãrio - queadvqgava afavor da nová classe domínadasurgídacom o adventoda sociedade capitalista - juntamentê'com outras su-gestões semelhantes. Dentre os autores de-JÍlispropostas- denominados visionários - encontramos: RobertOwen, Charles Fourrier e Louis Blanc, considerados his-toricamente mais significativos.

O propósito deste trabalho é extrair algumas con-clusões a respeito de eventuais díferenças rexistentesentre teoria e prátícas sociais autogestionãrias.

Enquanto corpo te6rico, escolhemos os estudosde Proudhon, em função do sentido globalizante dasístematízação de' seus escritos. Para os casos prâtí-cos, selecionamos as realidades autogestionárias vi-vidas pela Espanha no período 1936-39 e pela Iugos-lãvia a partir da 11Guerra Mundial. .

Nascido de uma prâtíca, o termo autogestão mudarapidamente de função, Indo denominar teorias. 'Cabe-ria, então, a questão-base de nosso trabalho: "em quemedida podem ser consíderadas as experiências espa-nhola e, iugoslava autogestionãrias?", não fosse a limita-ção desse objetivo.

Embora com um nível de profundidade relativamen-te superficial, nosso trabalho tem a intenção não exclu-sivamente de detectar o grau de adaptabilidade de prátí-cas à teoria, mas sim de revelar, por um lado, como sedesenvolvem tais práticas, "apesar da teoria" e, poroutro, como se mantém a propriedade da teoria, "ape-sar das práticas".

Na realidade, ambas as questões fazem parte de ummesmo posicionamento. Não se trata aqui de validarcom exclusividade a teoria ou a prátíca, e sim, ao menosconceitualmente (uma vez que a teoria proudhoniana,se não em suas interpretações - pelo menos em sua apre-

. sentação - pode ser considerada acabada) permitir acompreensão da forma pela qual teoria e prática se com-pletam ou se excluem.

Para o atingimento de tal 'propósito organízarnos Otrabalho em quatro itens. O primeiro será dedicado àapresentação da sociedade autogestionâría concebidapor Proudhon. Destituído de formação formal especí-fica; os escritos do autor nos falam de seu ecletismo;não haveria possibilidade de bem compreender sua pro-posta autogestionária sem lhe perscrutar os princípiosfllos6ficos, econômicos e políticos.

O segundo e o terceiro itens pretendem expor aforma pela qual se deu a implantação e. a realização(através do estudo da estrutura e seus ínterrelacíona-mentes internos) do sistema autogestionário ria Jugos-lãvia (1948 até hoje) e Espanha (1936-39).

O quarto e último item será dedicado à reflexão,onde apresentaremos as diferenças por nós percebidas'entre teorià e prãtica.

Cabe-nos ainda acrescentar que acreditamos sereste, trabalho útil, àqueles que desejam ter emmãosuma sistematizaçl'O resumida daquele sistema socialque acreditain<?S ser a ,autogestl'o. Desejamos ressal-tar que a 'pesquisa realizada para a execução destetraba-lho é exclusivamente . bibliográfica. Como qualquer tra-balho de síntese nl'o. baseado em dados primários" acre-ditamo-lo de utilidade qu~que' exclusivamente paraaqueles que estão tomando um primeiro contato <tom oassunto.

2. .TEORIA: PROUDHON

2.1 Pressupostos filosóficos

O corpo teórico apresentado por Proudhon está calcadonuma série de príncípíoafílosôfícos qúe acreditamosconvenientes expor aqui, como já explicitamos anterior-mente.

"A )iberdade é um direito absoluto, porque é parao homem, como a impenetrabilidade da matéria, umacondiç,o sine qua non de exístêncía, A igualdade é umdireito absoluto, porque sem igualdade não hã sociedade(a natureza está de acordo com a íustíça e, por em mes-

.ma nos empurra para a igualdade):'2 "A segurança pés-

jan./mar.1983Rev. Adm, Empr., Rio de Janeiro, 23(1): 37-57

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$O" .é um direito aQ$Oluto, porque, de ac9Ído comojulgamento 'de todo homem, sua liberdade e sua existên-cia são tão preciosas quanto as de' qualquer outro. Essestrês direitos são absolutos, isto é, nlo são suscetíveis de

"aumento nem de diminuição, porque na sociedade cadaassocíado recebe tanto como dá, liberdade por liberdade,igualdade por igualdade, segurança por segurança, corpopor corpo, alma por alma, vida e morte."3 ,,'

Fundamentado nestes princípios. Proudhon irádefinir as principais crítíces ao organismo' econõmícoepoUtico do capitalismo. No plano econômico, irá re-chaçar a propriedade privada: a igualdade só existiria se o 'produzido na propriedade fosse restítuído a quem o pro-duziu; a liberdade s6 seria, verdadeira se todos os contra-toseconôrnicos fossem efetuados pelas artes interessan-tes. No plano político, irá criticar a bu~racià: a liber-dade só seria atingida com o fim da alienação causada,pela burocracia, a igualdade com a inversão do fluxohíe-rárquico (da base para o topo ao invés do topo para abase). . ,

No plano político, Proudhon contrapõe o princí-pio de liberdade ao princípio de autoridade: nf9 há co-mo ver a autoridade de' um homemsobre: 'outro, a nãoser como exploração. Em princípio, a sociedade é ingo-vernáve1.4

Um segundo princípio em <pe se basei~ a obra prou-dhoniana diz respeito à dependência do político ao eco-nõmíco nas sociedades. "Em qualquer época, aconstí-:tuição política foi o reflexo do organismo, econOmico(enquanto relações sociais ao nível da produção e datroca) e o destino dos Estados foi sempre pautado emrazão das qualidades e das falhas desse organismo."s

, Femando Motta explica da seguinte maneira tal relacio-namento: "Há um conflito econômico latente que seexpressa, por vezes, em agitações do corpo social. Arlüz desse conflito está na desigualdade. Em face da íns-tabilidade social não solucionável nos quadros de um sis-tema baseado na desigualdade, organiza-se a força püblí-ca, estabelece-se a autoridade, diante da qual toda asociedade deve-se submeter."6

Cabe aqui 'lembrar que Proudhon tinha consciênciade que as "soluções" apresentadas em' 1848 (na França)permaneciam exclusivamente no ~lano político,'desortea permitirem nada mais do que uina.reproduçãodas de"sigualdades sociais e das velhas hierarquias. '

Percebe-se na obra de Proudhon um terceiro prellSU-, posto que norteia seus estudos e conclusões. Diz respeito

à dialética iminente a todo fato social Em relação a essalinha de pensamento, Proudhon expressa-se mais clara-mente no campo econômico. "Cada princípio econõmí-co gera, inicialmente, conseqüências sociais que sâoopostas." Assim, podemos perceber que:

• "a divisão do trabalho, fora da qual não há progres-so, não há riqueza, não há igualdade, subordina o operá-rio, toma a inteligência inútil, a.riqueza nociva e a igual-dade impossível";8• "o monopólio ftlcilita a estabilidade da produçlo,mas dá aos industriais um poder demasiado e subordina,cada vez mais, os trabalhadores":" -

e que portanto, "na sociedade atual o progresao da'mi-,séria é paralelo e adequado ao pregresso da ri~za".,10

2.2 Pressupostos e an4lise econômictzO conteúdo' e desenvolvimento do raciocínio econô-mico de Proudhon pressupõem o conhecimento de suavisão de,propriedade, lucro e ·divisão do trabalho. Vere-mos que para ele estes três conceitos estão intimamenteligados. ' , , ,

A teoPzação de Proudhon surge de sua preocupaçãocom ,a propriedade. Segundo ele, a propriedade é umroubo; à medida que o valor que é nelilproduzido nãoé restituído a quem o prodúziu.1 1

O lucro (trabalho não-remunérado), segundo o pen- ,sado~; correspondeao efeito sinérgicodo trabalho pro-duzído coletivamente.l$to posto, podemos perceber aimportância dada por Proudhon ao trabalho coletivo(nl'o realizado individualmente) e,obviamente. à dívísãodo trabalho, jâ que elepressupee, obrigatoriamente, arealização de um trabalho conjunto. Diz ele: "No traba-lho parcelar, encontra-se o princípio do pauperismo, poiso, fracionamento do trabalho é o pretexto pua baixossaláriOS.,,12Diz ainda: "O trabalho individual, arbitrário,n'lo .tem valor senlo para o indivíduo. O que se deveconsiderar é .o trabalho normalmente necessârio, Ç) traba-lho exigido pela sociedade. Desde logo, é preciso distin-guir o trabalho privado do trabalho social." 13

A introdução da questão "divisão do trabalho" levaa análise econômica de Proudhon a transformar-se numaanálise sôcío-econõmíca, a partir do momento que subs-,titui a problemática econômica por uma sôcío-econõmi-ca. Vejamos como.

Acreditava Proudhonque a economia deve' ser en-tendida como ciência da produção lwmana (e não comociência da 'produção material, como sugeria a economiaclássica). Destarte, o objeto da economia política passaa ser o "eu" humano manifesto no trabalho .. Tendo otrabalhocome unidade fundamental, e dada a impossibi-lidade de sua análise a nívelindividual- o trabalho deum ser humano - dada a divisão do trabalho, a econo-mia passa a ter um faráter social, à medida que estudao grupo produtor. ESsa sociologia, por sua vez, irá estu-dar as relações existentes nesse grupo; estas relações'serão aquelas - uma vez que o grupo é definido emtermos de trabalho conjunto - da organíaação do tra-balho; Percebe-se que "Proudhon concebe a organízaçaodl\S funções como primeiro estágio da organízaçao dasociedade econômica" .14

, Podemos observar que Proudhon adentra por umaunha de raciocínio que poderíamos chamar estruturalistae, ainda: "Entre, organízaçãe da sociedadeeconOmica ea ·organizaçlo das funções dos trabalhadores individuaishá um relacionamento tão estreito quanto aquele queexiste entre um organismo e os órgãos que o com-põem."lI "A ordem é, para Proudhon, uma ordem au-tônoma eímanente, na qual partícípam todas as pessoas'individuais enquanto elementos indispensáveis destaatividade. (. . .) O indivíduo e o grupo não podem serseparados um do outro e engendram-se' reciproca-mente. ,,16 O homem, fora de seu conjunto, não poderiaser Considerado o mesmo; eo seu conjunto (a socieda-de), sem ele.: não exiJte. Na evolução deste raciocínio,Proudhon conclui que a constituição de relaçãos organiza-das entre os homensdlo-1hes a possibilidade de uma li-berdade eficiente. Assim sendo, o homem pode ser con-

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siderado tão mais livre quanto mais relacionalllentosmantiver.

A sociedade, portanto, para ser entendida deve seranalisada por intermédio das funções dos trabalhadoresno andamento das sociedades. Esta análise, segundoProudhon, deve ser feita atrav~s de um estudo hístôrícode tais funções, "Estudando-se a Hist6ria, do ponto devista do trabalho (produto valor, formeção de eapítaís,crédito, trocas, moeda, especia!izaçlo,síritese do traba-lho, coordenação de funções, solidariedade, responsabi-lidade do trabalhador), podemos descobrir a forma peIàqual o trabalho age sobre a economia das sociedades,como liberta 9 proletariàdo; e depois de ter observadoa ínfluêncía do trabalho sobre a SOciedade, sobre as rela-

~ções de produção e a círeulaçãode riquezas, seguir asmanifestações orgânicas do movimento revolucio-nário.,,17 ,18 Esta linha metodol6gicalé.denOÕrlnada."trabalhismo histórico" .19

Do estudo realizado por. Proudhon, baseado nestaspremissas e segundo sua metodologiapr6pria, ele chega aalgumas conclusões, que expomos a seguir de formasintética.

Na prática da sociedade é descoberta a experiên-cia social, e no seu final, pela reflexão ativa da socíeda- -de, é descoberta a razão social. lO Ote6rico entende.que a História, embora não ~plique, revela um processodialético criativo; cuja transposíção sistemática deve per-mitir a concordância entre a prática ea razão socíal.u

..Este processo dialético é o que movimenta a socie-dade em seu desenvolvimento. A economia caminhava(segundo previsões do pensador, por volta de 1860)para a fase por nós denominada capitalismo organizado,que, impulsionado por contradíções intemas, chegariaao socialismo autogestionário,passando, transítoríamen-te; pelo capítalísmo de Estado. "A absorção momentâ-nea da sociedade econômica pelo Estado parece-lhe íne-vitãvel, uma vez que' as pr6prias contradições do capita-lismo levariam a uma organização mais forte."ll

Proudhon demonstra que o governo pode ser umaetapa a ser ultrapassada, de forma a se chegar a umaorganização autõnoma da sociedade através. da seguintelinha de pensamento dialético: "Em todas as épocas, oreforço do Estado ll).anifesta-se paralelamente ao reforçodas contradições sociais. A partirdissQ, é natural que opoder crescente' que assumem os governantes aumentesua distância dos governados. A absorção crescente dasociedade econômica pela sociedade política, isto .é, aintervenção e a absorção crescente da economia peloEstado, seria a pré-condição da negaç!o dialética. deonde surgiria a sociedade autogestionária."23

De seus estudos, deduz ainda Proudhon três princí-pios de aÇIO: "Em primeiro lugar, por seu trabalho pes-soal, o trabalho individualdeve adquirir, além de seu sa-lário, um direito de participação e de administração. Emsegundo, pelo trabalho coletivo, os grupos de trabalha-dores, permitindo o surgimento de um excedente produ-tivo (fonte de acumulação de trabalho e origem do capi-tal), devem ter o direito sobre este excedente. Finalmen-te, a conjunção destes dois direitos s6cio-econômicos le-va,por um lado, a um direito pessoal e .privado do tra-balhador sobre OS frutos de seu trabalho individual, istoé, a uma posse; e, por outro, a um direito social e coleti-vo do grupo de trabalhadores sobre os frutos de seu tra-balho comum, isto é, a uma propriedade coletiva. Obser:

Autogelt6o

va-se, portanto, que Proudhon pensa, ao mesmo tempo,em direito pessoal do trabalhador e em direito socialdo grupo. Tal concepçlo apenas manifesta o que vimosanteriormente com a integraçã:o recíproca dos elemen-tos pessoais e' coletivos que constituem a sociedadeeconômica. "24

23 Pressupostos e aTllilise polftica. .

Como já foi dito, Proudhonconsidera qualquer teorí-z'àçãoque parta do político - seja para a anâlise dasociedade, seja para a preparação da revolução - er-roneamente colocada. Segundo ele, "qualquer socie-dade, qualquer que seja sua organização, mostra quea vida social não procede do político, mas sím; pelocontrário, o político procede do social".25 Percebe-se,portanto, em Proudhon, do uma. preocupação políti-ca, mas sim uma preocupação social que critica o Esta-do, dada a sua. função de manutenção da desigualdadee da não-liberdade dos iildivíduos, através da autorida-de.

Proudhon realiza sua crítica política - basicamenteao Estado - definindo aquilo que poderíamos denomi-nar "natureza da sociedade", e, em seguida, caracterizan-do a "natureza do Estado".

QUanto à "natureza da sociedade" Proudhon diz:"O. ser.coletivo é um ser vivo, dotado de inteligência,atividade e .força .próprias, da mesma forma que asleis econômicas da divisão do trabalho e das trocasbaseiam-se na espontaneidade da. razão social .. Ele·(o ser coletivo), possuindo leis e propriedades pró-prias e respondendo a necessidades de ordem e educação,elabora forças políticas, dando-se instiumentos de disci-plina que assegurem sua coesão. Numa sociedade dividi-da pela desigualdade, a função de autoridade não se li-mita à coesão: inclui uma ordem imposta que garanta amanutenção das desigualdades, donde se conclui que atendência à apropriação e centralização são conseqüên-cia da oposição de classes e do conflito de inte-resses ( ... )"26

Quanto à "natureza do Estado"; diz Proudhon: "Aalienação e a apropriação da força coletiva constituem ocaráter essencial do Estado e, exatamente por não pos-suir uma existência própria, mas sim emprestada dasociedade, para se manter, ele precisa incessantementeapropriar-se da força socíal, desviando-se de seus agentesverdadeiros. E ainda: o Estado, qualquer ~e seja a for-ma que assuma, enquanto não se tornar um ôrgãosub-metido a uma sociedade de iguais, será para o povo umacondenação. "27

Proudhoncritica ainda o Estado enquanto elementounitário. "O Estado unitário é o contrário da pluralida-de; ele. é unitário e procura manter e reforçar sua própriaunidade, ao passo que a vida coletiva é caracterizadapela pluralidade, por grupos e subgrupos em formaçãoou em .desaparecimento. Assim, enquanto. grupos e loca-lidadesse mantêm com suas diferenças, são submetidosa uma hierarquia única que responde a um poder único.O espontâneo e o mecãnico estão em antagonismo norelacionamento entre a vida social e o-Bstado, Enquantoo Estado pauta suas atividades pela repetição, a socíeda-de o faz pela cri~a:O."28

39

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Decorre daí a não-aceitação por Próudhon das teo-rias comunitárias em voga em sua época enquanto subs-titutiva da sociedade capitalista. Para ele, tais teoriasnão, resolviam os problemas da democracia burguesa,pois, a seu ver, a comunidade, pretendendo suprimiradesigualdade social pela uniformidade comunitária,exigiria a submissão das vontades e restauraria a tiraniapolítica.29 Como veremos adiante, à tradição de uni-ficação nacional, como instrumento de destruição deprivilégios. Proudhon defende o federalismo como ins-trumento de igualdade e líberdade.so

Proudhon reforça este posicionamento através doprisma econômico. Ele entendia que o poder dosproprietários, sendo muító grande, permitia-lhes colocara seu Serviço o Estado, para melhor atender seus interes-ses. Entendia que a aliança entre os capitalistas e o Es-tado se fazia em um sentido de apropriação políticada sociedade corno um todo. Mas lembra: o poder doEstado não vem dele mesmo. A esperança de que umadecisão governamental possa levar à reforma social é,portanto, enganosa. O poder do Estado está baseado natotalidade da sociedade, à medida que ele se toma o de-positárío da força coletiva.

Podemos perceber que a crítica de Proudhon aoEstado é uma crítica radical, que faz aparecer uma anti-nomia insuperável entre a espontaneidade da vida social,a liberdade e a centralização pclítíca.u Sua insistência(para se chegar à autogestão) está na devolução, à socie-dade, do poder que esta atribuiu ao Estado, ou seja, nadesalienação da sociedade através da reapropriaçãodeseu poder alíenado.ss Donde se conclui que o pensadorsó encontra a possibilidade de uma sociedade autogerir-sé com a supressão do Estado.33

Proudhon conclui, em relação ao político como umtodo: "O político é, em relação ao social, o que o capi-tal é em relação ao trabalho, ou seja, urna alienação daforça coletiva.34

, Toma-se então aparente o caráter anãrquico da críti-ca política de Proudhon: "Como o homem procura ajustiça na igualdade, a sociedade procura a ordem naanarquia. Anarquia, ausência de senhor, de soberano, talé a forma de governo da qual nós nos aproximamostodos os dias, e que o hábito inveterado de tomar ohomem· por regra e sua vontade por lei nos faz ver comodesordem a expressão do caos.?» Enquanto anarquís-ta,Proudhon concebe o Estado como obra da própriasociedade que se aliena; ele (o Estado)na:o instaura.aordem, mas ao contrãrio, através de seus controles opres-sivos,impõem obstáculos à espontaneidade social, íntro-.duzindo a perturbação na atividade social. 36

2.4 Arevotuçõo,

Proudhon áescreve as características que consideraessenciais numa revolução para que ela leve uma socie-dade a um regime de socialismo autogestionário.

A primeira delas, já enfatizada por nós, diz respeitoà importância do campo econômico enquanto fulcroda revolução: a ínstauração da revolução deve-se voltarpara o ataque às contradições. econômicas como formade se atingir a ordem e ajustíça.»

Outra característica fundamentá-se no valor que, Proudhon atribuí ao trabalho. Ele, que consider.a o tra-

40

balho como fator essencial da produção, vê que o tra,balho manual na sociedade capitalista é rebaixado emesmo considerado como uma vergonha, uma coisa vil.Entretanto, percebe que é o verdadeiro criador da rique-za, à medida quedá valor aos objetos. Considera, portan-to, tarefa da revolução restituir ao trabalho sua dignida-de e ressaltar seus tnéritoS~38

Percebemos que Proudhon conceitua o trabalhocomo unidade de valor, já que considera que "é o tra-balho, e só o jrabalho, que produz todos os elementosda riqueza e que os determina até suas últimas molécu-

'las, segundo uma lei de proporcionalidade variável,mas certa".39 E no relacionamento das duas questões-trabalho e valor do trabalho -conlui que o trabalhadordeve receber o equivalente àquilo que dá através de seutrabalho, rejeitando a hipótese de igualdade 'de salários.Tal questão remete-o a outra necessária caracerística darevolução: a educação,

Partindo do princípio de que a igualdade é a lei detoda a natureza, o pensador supõe que o homem, emessência, é igual ao homem, e que, se na prática existemaqueles que ficam para trás, é porque eles não quiseramou não souberam tirar partido de seus meios. 40 Acredi-ta que uma educação adequada irá reduzir a um mínimoirredutível as diferenças' individuais e, conseqüentemen-te, as condições potenci~ e individuais de trabalho.

Consciente das dificuldades pedagógicas, Proudhoninsiste na importância da educação para a instituiçãodo sistema autogestíonário, Critica a instrução popularsob o regime capitalista, à medida que percebe - talveznuma antecípação bourdiana - que "milhares de jovenssem fortuna, mesmo qUe houvessem seguido cursos,não encontrariam ocupação; que, no estado atual da socie-dade, a instrução da juventude, salvo uma elite de privi-legiados, é um sonho dajuventude".41

Conclui, com respeito a esta questão que a' educaçãoadequada apresenta-se, portanto, como um meio parachegar a uma igualdade tendencialmente perfeita, basea-da em um sistema simples de troca recíproca, onde o tra-balho é o único padrão de valor. 42

Outro ponto abordado por Proudhon, no que tangeà revolução, diz respeito ao direcionamento a ser dadoao excedente proveniente 'da economia individual. Seantes da revolução a propriedade era considerada umroubo, visto ser instrumento de dominação e submissão,a propriedade adquirida (pelo camponês e pelo artesão),através de economias baseadas no trabalho individual nasociedade autogestionária, representava garantia da li-berdade e dignidade humanas. O inquestionado culto àfamília leva Proudhon a acrescentar, no rol de "direitosà liberdade e dignidade", o direito da herança, semdeixar claro como, apesar desta instituição, a igual-dade se manteria.

Uma última questão é levantada por Proudhon natentativa de garantir o êxito da revolução, Reconheceele que a simples união dos trabalhadores não constituiuma garantia suficiente de sua vontade revolucionãria,jãque eles poderiam se deixar dominar pelos mitos conser-vadores e, ainda mais, que poderiam cair sob o domíniode um poder forte que se apresentasse a eles demagogica-mente. Percebe que a união dos trabalhadores deve se

'converter, imediatamente, em prática econômica. Osoperários devem, portanto, antes de mais nada, separar-

Revista deAdministraç40 de Empresa,

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se dos partidos da burguesia, concentrar sua atenção nosproblemas da produção, criando as organizações econô-micas que irão perfigurar a sociedade socíalísta.sa

2.5 A autogest60

Para entendermos a proposta autogestíonâría proudho-niana, devemos ainda esclarecer alguns pressupostos.Eles dizem respeito não mais a campos espeoíficos,tais como filosofia ou economia; são conceitos quepoderíamos denominar globalizantes, uma vez,' que in-terpenetram diversas áreas, tais como a do direito,da sociologia, da epistemologia, entre outros,

Vejamos, pois, o significado e a importância daquiloque o pensá dor denomina ciência social. De forma resu-mida, poderíamos considerar a seguinte linha de raciocí-nio para visualizarmos tal conceito. "A sociedade nascedo trabalho, de sua divisão e de sua composição. Conhe-cer a sociedade significa, através da ciência .social, co-nhecer as leis de divisão e composição do trabalho. Aciência social é o resultado da prática social experimen-tada pela sociedade, em confronto com a razão socialdescoberta através de uma reflexão ativa da socieda-de."44

De forma mais detalhada, poderíamos explicar oparágrafo anterior da seguinte maneira. A sociedade nas-ce do trabalho. O trabalho é a força que determina a so-ciedade e o desen.volvimento social, porque a sua primei-ra lei funcional é a divisão, que exige necessariamentea comunidade de ação. Portanto, as conseqüências dasleis da divisão do trabalho permitem descobrir as carac-terísticas socíolôgicas que governam a organização defunções e,..a partir desse ponto, as leissociol6gicas quegovernam a sociedade. Desta forma, podemos considerarque a função é um microcosmo social que compõe duasleis: a especificação, que é o corolãrío da divisão do tra-balho, e a composição, que é o corolârío da unidade deação, e, portanto, este microcosmo (a funçlo)já apresen-ta as leis sociol6gicas qile regem o mundo social.ss

Proudhon conceítua também a gênese da ciênciasocial: na prática da sociedade é descoberta a experiên-cia social, e, no seufinal, pela reflexão ativada socieda-de, é descoberta a razão social; sendo a ciência social oacordo entre a prática e a razão sociais. Ciência social é,portanto, a descrição feita pela sociedade de suas pró-prias leis da razão social, à medida que a experiênciasocial as descobre, sob o efeito do trabalho social, quecontinuamente as revela.46

Cabe, neste momento, reproduzir um alerta feito porProudhon no que diz respeito à produção da ciência so-cial. Ele distingue dois erros relativos ao estabelecimentoda ciência social que .levam às convulsões hístõrícas: oarístocracísmo científico - acreditar que alguma parcelada sociedade detém o monop6lio da ciência e da razãosociais - e a demagogia ideológica - que prega que opovo, ator da prática social, é capaz, por procedimentoselementares e anticientíficos, de exprimir adequadamen-te a' lei que lhe é inerente, e, portanto, evidentemente,nos ql.l.aisnão se deve íncorrer.s?

Uma outra, e talvez a mais marcante noção da teoriaproudhoniana, diz respeito às leis do funcionamento dasociedade. O princípio que rege estas leis éo princípioda pluralidade em confronto como princípio da unida-

Autogestão

de, uma vêzque este último ignora os antagonismos in-ternos que levam ao desenvolvimento. .

Segundo Proudhon, a sociedade se manifesta basi-camente por meio de três atributos, que recebem diver-sas denominações, tais como consciência da sociedade,inteligência, julgamento. Este último pode ser considera-do como um choque de opiniões - suas lutas e trocas -que d:rura a. subjetividade imanente às razões indivi-duais.

Na nova realidade - resultado de uma pluralidadetanto de homens livres como de seres. coletivos - todosos seres têm sua realidade autônoma, sua força e razãocoletiva, e inter-rell!:cionam-se através de mecanismos deoposição e composição.

O mundo humano, enquanto mundo social, é, por-tanto, regido" no entender de Proudhon, por duas leisantinômicas' fundamentais: o antagonismo competitivo,(competição) e o equilíbrio mútuo (cooperação). Segun-, do ele, "o mundo da sociedade, da mesma forma que a:natureza, é estabelecido sobre as forças (... ) expansivas,invasoras e', por conseguinte, opostas e antagônicas ( .. ,.).Tal é a grandelei da criação".49) A competição produtivados grupos autônomos antagônicos e solídáríos, irredutí-veis e associados, engendra o desenvolvímento social.

O papel do trabalho neste "jogo criativo" é funda-mental: "O trabalho oferece ao antagonismo o seu ver-dadeiro campo de operação; é pelo trabalho e também.por sua con.junção com a lei do equilíbrio mútuo que o .antagonismo se toma competição produtiva e não lutaarmada."~)

O trabalho, visto como ação inteligente do homemsobre a matéria com o objetivo de satisfação pessoal, éliberador; e, à medida "que ele se toma trabalho educa-.tívo, fundamenta a libertação, que significa sociedadeautogestionária." 51

Vejamos agora como Proudhon esboçou a.socíedadeautogestionária em seus aspecto.s,econ~micos e políticos.

A base da democracia eccnõmíca proudhoniana é ocontrato. Na nova sociedade, cada indivíduo, cada grupo,social, cada companhia operâría tem sua própria sobera-nia, se autogoverna e !C'l~cióna-se livremente com os ou-tros indivíduos e agrupaméntos; através do eontrato; é odenominado mutualismo econômico. 52

, São quatro as estruturas' que se elaboram a partir da, teoria de Proudhon: a mutW,lllzação federativa da agri-cultura, a .socíalízação federátiw da indústria, a federa- ,çãoagrícola industrial e o sindicato da produção, e doconsumo. A base da democracia econômica é a autoges-tão dos produtores e-consumídores," ,

Quanto à ind6stna, é clara a necessidade de formarentre os agentes uma. associação: toda in~ústria, enten-dida como extrativa ou manufatureira, qu~.por sua natu ..reia exige o emprego 'combinado de um ,ande númerode empregados de especialidades diferentes, é destinadaa tornar-se o local de uma sociedade ou companhia detrabalhadores. 54 A empresa a executar, a obra a reali-zar éa propriedade comum e indivisa de todos aque-les que dela participaram. 55 Assim, cada trabalhadorparticipará dos lucros e perdas do estabelecímento e terávoz deliberativa na sua administraçlq.56

Para a agricultura, Proudhon sUgere a propriedadeindividual. Ele entende que a relação do camponêscom aterra exige uma fórmula diferente. Acredita que assim arentabilidade econômica é maior. A possibilidade de

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t~sfortnaçl9, na asricultur~, 6 a forma~ de um grupoagrícola, de uma comuna agrícola. Ele deve, aos poucos,tomar-se proprietário de sua terra e associar4e aos de-mais camponeses-proprietários. O que, Próudhon preten-de e a redistribuiçlo das propriedades agrícolas, de mo-do a equílíbrar a rentabilidade das diversas terras, ,para sé

, chegar a uma verdadeira organizaçlo agrícola. Todas ascomunas rurais devem-se, federar em escala nacional econstituir uma federaçlo agrícola nacional. 51 "

Assim estruturadas, a agricultura e a indústria vloconjuntamente constituir. a federaçloagrícola~induSotrial.58 O objetivo principal pelo qual operários e cam-,poneses deverão trabalhar juntos na federação agnco-la industrial ~ justamente a organização cooperativados serviços, principalmente' do comércio, do créditoe dos seguros. Nesta organização cooperativa, tam-bém participará o sindicato de -consumo, que repre-sentará, .ao lado dos produtores, a uniio dos consu-mídores; e, com eles constítuírão o sindicato 'geral daprodução e do consumo. 59 '

No que \liz respeito aos serviços, ao contrário daagricultura e da indústria, há lugar para uma atri~uj.çlo e nunca para uma apropriaçlo, Nesse caso, deve-seinstituir uma propriedade cooperativa, da qual parti-ciparlO consumidores e produtores. Dessa forma, asociedade tem por ássociados aquelas mesmas pes-:soas que devem tomar-se clientes. Seu objetivo, orga-nizadoa nível nacional, é de policiar o mercado,e seusmeios 510:60 "os serviços de entrepostos, docas etc.,(destinados) a assegUrar, a todo tempo, a repartiçlodosprodutos, da melhor forma, segundo o interesse dosprodutores e consumidores, e um serviço, de ,estatís-tica, de publicidade, de anúncios' gara a fixaçlo dóspreços e da determinaçlo do valor". 1

, As ,séries de propriedades de empresas autOnomas ,serão agrupadas em federações particulares que, por suavez, serio reunidas em uma federaçlo industrial. No quediz respeito à agricultura" sob forma de uma sociedadecentral de agricultura, formar-se-á uma confederaçlo decomunas ruraís. A federaçlo agríçola 'administra asinstituiçOes de crédito, <» estoques e as. compras e,conjuntamente com a, federaçlo industrial e ,o sindi-cato, do consumo, ocupa-se da, comercializaçlo dosprodutos agrícolas. Inúmeras relaç~s vlo-se estabe-lecer entre a indústria e a agricultura, relações estas quese estabelecerão, inicialmente, ao nível de fedel'1lçGesparticulares, em seguida entre' a federaçlo industriale a agrícola, que, conjuntamente, constituirlo a federa-çlO agrícola-industrial. 62

I Proudhon é, no entanto, muito realista na percep-'ç(o dos entraves à soluçlo mutualista na economia.63

Percebe, as seguintes forças de oposiçlo: os poderesmonopolísticos do capitalismo internacional, o ímpe-

-ríalísmo estatal de um comunismo autoritário, umnacionalismo negativo, que para ele representam nadamais 'do que a realizaçlo de estágios tr8llsit6rios, deestágios anUnciadores do apareciinento 'de uma socie-dade 'mutualista. 64 Todavia, Proudhon acredita,' comsUas possibilidades de fracasso e vitória, em revoluçOespermanentes, levadas a cabo por esforços livres e von-tades conscientes de pessoas e coletividades. 65

Sob pena de decomposíçâo, a organizaçlo mutualia-ta dos6rglos' econômicos leva à organizaçlo federalistados corpos p91íticos; reciprOC8Jllente, o federllismo, po-

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lítico impUcafederalismoeconOmioo. Chegar-se-à•.assim,na ordem política, ,à uma rep1blica federativa baseadena descentralizaçlo, 'nl autogestlo ena federaçlo dosgrupos geográficos e 'funcíonaís, 66 Vejamos,pois, comoProudhon vê a ol'ganizaçlo da democracia política.

"Pode-se esquematizarem quatro princípios de or-ganização a construção da: república federativa preconi-zada por Proudhon, Em primeiro l\.lgar, a autonomia e aauto-admínístração política dos grupos naturais, quer se-jam elesterrítoríaís ou funcionais; em segundo, a inter-dependência ea federação desses grupos em conjuntoscada vez,mais amplos; em terceiro, a criação, por delega-çõessucessívas, de um g~vemo federativo destinado aharmonizar os interesses particulares ea promover os in-teresses comuns; em quarto, a constítuíção de um Es-tado federal, de uma sociedade política federalista, re-sultante da artículação desses elementos .••67

Proudhon distingue entre os grupos naturais aquelesquesio funcionais.A aparentemente incongruente idéiade Estado neste contexto parecer-nos-ãnatural, se consí-derarmeis que:• distinguem-Se entre os grupos naturais aquelesque 510 funcionais e aqueles quesio terrítoríaís;• distinguem-se dois tipos de grupos naturais funcío-nais:aq,",le que se refere às funções produtivas (empre-sas e federaç~s de empresas) e aquele que se refere àsfunçOes, pl1blicas (serviços públicos e federaçÕ8sde ser- .viços públicos); ,• tanto os agrupamentos funcionais produtivos comoos funcíonaís páblicos estio aptos a se auto-administrar,escolhendo, pata cada categoria de produção e de fun-cionários, delegados destinados a administrar os assuntosfederais comuns, caracterizando assim um cruzamentoentre os grupos funcionais e os grupos naturais geogrã-ficos~· ,

Tudo isso leva ,à composíção de um Estado contra-tual. O Bstado.compõe-se da federaçlodos trabalhadoresagrícolas e induStriais, dás assocíações industriais .•de ser-viços públicos organizados em grupos funcionais, e de,artestos e comerciantes, A organizaçlo deste Estado con-sistirá na distribuição da naçlo em províncias índepen-.dentes e emfunçiSes públicas autOnomas. Finalmente"o Estado proudhoniano será constituído de acordo com,os órglos de baseterrit9nais ou funcionais. Os ôrgãosde base, territoriais serlo constituídos pelos municípios,distritos ou regiOes. Tais Orgfos serlo dotados de con-selhos e de, um governo e administraçlo autOnomosemface da autoridade federal. Os (>rglos de base funcionalsetllo constituídos pelos conselhos operários, pelos gru-pos de agricultores, pelas assocíações industriais e agrí-colas,pelos sindicatos. Os 6rglos federais ou órgãoscentrálizados serro cOnstituídos por federações ou pordelegaçOes S11cesSivas,a partir dos órglo~ de base. Cons-titui-se, assiin, um sistema de autogestlo generalizada,'que. parte das eéfulas econômicas de base rp.utualizadase federalizadas e dos grupos políticos naturais, tantofuncionais quanto territoriais. A sociedade econômicalibera-se das alienaçOes que lhe são ímpcstas pelo ca-l1italismo e pelo Estado autoritário. A proposta deProudhon parte, assím, da sociedade e delach.ega aoEstado, de forma a manter a sua uruio e coerência.BsseEstado, porém, submete-se à sociedade econõmíca,

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que o adãrl.nistta.'~ um Eàtàdo diluído na socie4ade, daqual nlo se pode apartar. 69 , '

, Uma, característica da obra de Proudhon é a profun-dÚlade do ,nível de,especificidadecom cpe trata-cada umdos t6picos de suas constatações e propostas. Este fatcrnos leva a relativizar, dadas as experiências levadas acabo posteriormente, à sua existência e talvez ao nossocetícísmo com relação a certos aspectos da organizaÇloda sociedade', 'em que vivemos, algumas das propostasdeste pensador. , '

Nó entanto, como 'já explicitamos, escolhemos ocorpo teórico por ele formulado em fuliÇlo do. sentido~obalizante de sua sistematizaçlo. Nlb se tratará aqui decriticar ou louvar seu trabalho e sim de, estudando doiscasos práticos de implementaçlo da autogestio, verificarem' que medida teoria e prática se completam ou se ex-cluem. '~

3. IUGOSLÁVIA

3.1 História

Uma rápida passada de olhos sobre a história iugosla-va ajudar-nos-á, sem dúvida, a melhor entendermos osistema autogestionário que caracteriza, atualmente,esta nação. Constituída a partir da unificaçlo de umasérie de repúblicas independentes no final da 11GuerraMundial, teve como um dos principais impu1sosparaa sua formaçlo a luta pela libertaÇlo nacional ocorridadurante a guerra; .

O país, tendo 'como berço adevastaçlo da guerra,contava, no início de sua vida, com uma pobre base tec-no16gica e econômica. Todas as repüblícás que o com"punham tinham-se dedicado, até então, quase exclusiva-mente ,à agricul~ra e à pecuária. ,

Existente desde 1919, o Parti dó Comunista Iugos-lavo (CPY) seguiu os modelos.sugeridos pela URSS atéofinal dos anos 40; quando ocorre o rompimento entre osdois países.

A partir de então, o movimento econômico encami-'nha-se no seàtídode umadescentraliiaçlo do país, mo-delo expandido posterior e parcialmente para a estratu-ra política. Os antagonismos e incompatibilidadeaquecaracterizaram os objetivos político-econOmicos 4a na-çio explicam as constantes mudanças políticas oc'om-das nestes últimos 30 anos. Dentre tais antagonismos,podemos citar:

• a tentativa de fazer o país passar de um estágioeconômico pré-industrial para um industfial, simulta-'neamente ao favorecimento de valores de uma socie-dade pós-industrial; ,

'. política simultânea de industrialização edescentrali-zação; ,• tentativa de unir nações hostis e grupos minoritá-rios com uma constante mudança no sistema político. 70

Podemos imaginar que a realizaçlo de objetivos apa-rentemente de natureza incompatível só seria possívelem meio a constantes alterações no corpo s(>cio-político-'econômico.

Âutogeml'o

O antagoJiismo existente em tais objetivos flC'" noentanto, ".suavizado'" se considerarmos que poraproxi-

.madanlente cinco séculos' a hist6ria iugo~va tem comounidade econômica fundamental a zadruga: pequenascomunidades (em média contava ,çom no mínimo 10e no, máximo, 80 membros) constituídas por uma ou vá.rias Iam:í1ias consangüíneas ou com relações de parentes-co;possuindo em comum os meios de produÇIO, consu-mindo e regulando em conjunto a propriedade eavídada' comunidade,11 fato ,que "imprime ao espín~ocomunitlrio cooperativo iugoslavo uma certa naturali-dade". ' '

Como constata Venosa, "as formas de solidariedadee os tipos de associações que se traduziam na comunida-de familiar por comportamentos coletivistas e pela ;gudamútua podem ainda hoje ser identificados, tanto na vidafamiliar quanto na organtzaçl'o da comunidade laboral.Mesmo sendo difícil estabelecer uma causalidade entreas práticas tradicionais e os modelos organizacionaismodernos, podemos ressaltar que tanto as primeiruquanto os últimos se articulam em 'tomo de matrizesde .significado, nas quais os valores associados ao coleti-vismo estio presentes, embora o contexto sôcío-ecónõ-mico seja distinto",'la

O que desejamos ressaltar, neste momento, é o fato,de que oantagonisrilo entre. os objetivos de descentralí-~àçloe industrialiiaçlo passa a ser visto como o antago-nismo entre. uma situaçlo de continuidade de uma des-centralização ,secularmente experimentad.' e a introdu-çl~ de uma rápida industrializaçlo, e que, precisamen-te por esta razio, mostra-se, muito menos conturbadoe "mui~d mais viâvel" do que se imaginaria a priori

. Com o desligamento entre URSS e Iugoslávía, em1948,0 Partido recebe' o nome de Liga dos Comunis-tas da Iugoslávia (LCY)e decide, em 1950, pela introdu-çlo do sistema autogestionário. A comuna é então ele.vada à situação clt "comunidade básica sócío-pclítíca",, fato acompanhado por uma série de modificações signí-ficativasque caracterizam mais claramente a tentativa'

,de desce"tralizaçio. Uma série de responsabilidade atéentloem poder da federaçllo ou da república passa, pau-latinamente, às mlOS das comunas. '

A descentralizaçio e ,a industrialização crescentesdesembocam na atual estrutura econômico-políticaiugoslava. Passamos, neste momento, a descrevê-la. '

3.2 Estrutura econbmico-politica

Segundo Hunnius,73 são três os princípios que funda-mentam o organismo econômico na Iugoslávia:

• autogerência das empresas pelos trabalhadores;• planejaníênto social, que consiste de uma complexainterligaçlo entre os planos empresariais, planos das co-munas e planos indicados pelos órglos da federaçl'o e da .repáblica;• mecanísmode mercádo.74 ,

Aprofundar-nos-emos: nOS dois primeiros tôpícos.:uma vez que, representam maior grau de, 9iferenciaçioem relaçllo ao sistema capitalista em que vivemos. Acre-ditamos, nó entanto, interessante lembrar que a transfe-rêl'lcia das funções ~ recursos do estado e das instituições

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sôcío-políticas para as associações autônomas tem seuápice em 1965, levando à coexistência - pressuposta-mente harmônica - do uso do mercado para alocar re-cursos no nível micro concomitantemente ao uso de pla-nejamento social ao nível macroeconômico. 75

3.2.1 O planejamento social

O planejamento centralizado compulsório, nos moldesdo admitido pela URSS, foi adotado pela Iugoslávia atéa introdução do sistema autogestíonârio tem 1950. Osistema passou, então, por um período de adaptação,evoluindo de sua introdução até 1970 na direção de um 'planejamento indicativo. Na década de 70, o processo deplanejamento foi aperfeiçoado, no sentido de se enfati-zar e ampliar as dímenões da autogestlO por meio dohoje denominado Sistema de Planejamento Social. 76

Reproduzimos aqui o texto de Paulo Roberto Mottaem seu trabalho.Autogestão: a experiência empresarialiugoslava, que aborda o tema do planejamento socialiugoslavo com a profundidade e a propriedade a nós con-venientes.

, I

Segundo Edvard Kardejl,"? "as características es-truturais do sistema de planejamento social e autogestlo810 as seguintes:

• Planejamento descentralizlldo:o planejamento não .constitui um fim em si próprio, mas um instrumento derelações democráticas e autogerêncía; somente medianteum sistema de relações de dependência mútua e respon-,sabilidade entre trabalhadores, pode-se gerenciar e con-trolar os meios de produção, no seatído de se atingir' asnecessidades econõmícas e sociais d~ país; O planejamen-to deve possuir alguns aspectos de centralizaçio, massem um alto grau de descentralizaçlo, pois corre o riscode se tomar uni instrumento nas mãos de um aparatoestatal ou de uma tecnocracia, e transformar-se, em pou-co tempo, num monopólio, de centros alienados de po-der econômico e social.• Planejamento opcional e indicativo.' o planejamentonormativo e compulsório para toda a sociedade é reíeí-.tadosegundo a premissa de que, a imposição de obriga-ções, de -címa para baixo, significaria amonopolízàçãodo capital social e destruiria rapidamente o sistema deautogestão. Se o planejamento fosse produzido de formaburocrática ou tecnocrática, monopolizado por um cen-tro estatal, mesmo que elaborado pelos mais eminentesespecialistas, não deixaria de sex:um consmao subjeti-.vista e falível. Retiraria não só a iniciativa e a criativida-de dos trabalhadores de .encontrar novas soluções e cor-rigir seus próprios erros, mas também poderia .causarprejuízos econômicos, pois os erros se multiplicariame perpetuariam, não sendo facilmente detectáveis e repa-rados, pela ínexístêncía de mecanismos' simples 'de cor-reção.

Por outro lado, tornar-se-ia inviável a autogerência,.retomando os trabalhadores a simples assalariados doEstado. A esse respeito, o sistema de planejamento so-cial, atualmente em vigor, define dois requisitos: a) oplanejamento deve expressar toda a gama de relaçõespolíticas, sociais e econômicas, baseada na autogerência;b) as obrigações do planejamento devem ser estabeleci-

44

das pelos traballiadores, por meio de acordos de autoges-tão e pactos sociais, e as decisões compulsórias do Es-tado devem ser tomadas somente quando necessáriaspara garantir 'a autogestão, em conformidade com as re-gras estabelecidas pelas demais assembléias constitucio-nais. Assim, o planejamento não deve ser uma lei esta-tal ou documento mandatário do Estado, mas simples-mente' o resultado de um conjunto de acordos de autoge-rência e de pactos sociais.• O planejamento como um prognóstico: o planeja-mento baseia-se na tese de que a intervenção estatal de-

, ve reduzir-se ao propósito de consolidar o desenvolvi-mento do sistema de autogerência da sociedade. O sis-tema de planejamento não se deve subordinar ao auto-interesse de órgãos governamentais ou ser dominado pe-lo aparato estatal. A intervenção do Estado deve variarem intensidade, de acordo com as condições de desenvol-vimento regional, sempre no sentido de guiar para aadoção da autogestão. De forma alguma deve restringiro direito inalienável dos trabalhadores" de gerenciar arenda, os meios e os resultados do trabalho. O planeja-mento, portanto, deve-se constituir não em uma ação doEstado, mas, primordialmente, num prognóstico deriva-do de análises de tendências espontâneas e estabelecidaspor autogerêncía e pactos sociais, e por políticas econô-micas desenvolvidas a nível descentralizado das unidadesfederadas. O planejamento deve apenas harmonizar eguiar essas tendências espontaneas..0 planejamento como uma funçf/o de relações mú-tuas: o sistemà de planejamento deve ser estabelecidono .sentido de eliminar a concepção, por vezes ressalta-da, de' que sua eficácia depende da. coerção do Estado,agindo na defesa de interesses sociaís, ou da tecnocra-cia, em funçlo dos conhecimentos especializados de quedispõe.,A eficiência do planejamento, no entanto, depen-de primordialínente da institucionalização de um sistema

'de relações mútuas, obrigações e responsabilidadesrecíprocas estabelecidas em todos os níveis de organiza-ção social, ou seja, naS organizações de trabalho, sociais,comunitárias, políticas etc. . . bem como em todos osníveis políticos - federal, provincial (da república) elocal. O planejamento, assim, deve refletir toda a inte-r8Çfo e, harmonizaçlo de acordos de autogerência epactos sociais realizados em todos os níveis políticos esociais.• Planejamento como consolidaçt1o de autoge,~ncia:o planejamento, na maioria das vezes, tende a ser vistosomente como um instrumento de política econômica dedesenvolvimento. Ressalta-se que a dimensão econômicado planejamento e sua concretização é entendida como oalcance dos objetivos e metas econômicas. Esse enfoquedo planejamento é considerado capaz de estimular a su-bordinação dos interesses políticos dos trabalhadores aosinteresses econõmícos do Estado, e facilitar a 'restauraçãodo monopólio estatal sobre o capital social. O planeja-mento nao pode retirar dos trabalhadores o direito dedecidir sobre a utílízação dos meios de produção e resul-tados do trabalho, mas sim ~judar a consolidar esse di-reito. O trabalhador é um fator criativo e independenteno sistema de planejamento.

Para se entender o sistema empresarial iugoslavo énecessário ter-se em mente que seu. sistema de planeja-mento social é baseado em quatro princípios:

Rwi8ta de Admi1listl'aç4o.de Empreltl'

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• Propriedade social dos meios de produçllo: à pro-priedade nsc é estatal ou privada, pertencendo a em-presa aos indivíduos que nela trabalham. A proprieda-de privada na Iugoslávia é admitida apenas na agricul-tura, totalmente privada, -e em trabalhos autônomos;em algumas profíssões liberais, como artistas e artesãos.Na prática, no entanto, existem pequenas empresas deaté cinco empregados que operam como empresas pri-vadas.

• Autogerincia: aplicada não sõ à empresa ou organí-zação produtiva, mas a toda forma de associação ou or-ganização, seja cultural, educativa, comunítâría, poli- .tica e de serviços públicos. Na organízação produtivalucrativa a autogerência. é aplicada no sentido de auto-nomia total de decisão para as pessoas que nela traba-lham. Em outras organizações, a autogesta:o é feita emconjunto com representantes de usuários do servi9Q ououtros interessados diretos na açl'o da organização.

• CombinaçtIo de mecanismos de planejamento e demercado: a vida econômica é formalmente regulada nosentido de tirar vantagens dos mecanismos dos sistemaseconômicos de mercado competitivo e dos sistemas deeconomia planificada.

• Solidariedade econômica: a atividade deve ser exer-cida segundo um sistema de direitos, obrigações e res-ponsabilidades mútuas entre os que trabalham, de formatal a assegurar não sô uma eqüidade qualitativa e quanti-tativa na dístribuíção dos -resultados do trabalho, mastambém de solidariedade econômica a outras repúblicase regiões da federação, que possuem menor renda."

3.2.2 Estrutura e função da autogerênciados trabalhadores

A legislação iugoslava define organísação econômica co-mo uma organização de trabalho que:

• é criada de acordo com a lei;• realiza' um dado tipo de atividade econõmíca (pro-dução de mercadorias; comércio, serviços ou fmanças);• realiza sua atividade de forma autêaoma, em confor-midade com o seu próprio estatuto;• administra parte .da propriedade social diretamenteou através de seus 6rgãos autogestíonâríos eleitos.

-Os trabalhadores empregados em uma empresa orga-nizam o trabalho e a administração de acordo com os se-guintes objetivos:

.• otimização do uso dos meios sociais de produção econstante aumento da produtividade; -• aumento do interesse do trabalhador por seu traba-lhoe da efetiva participação do trabalhador na admínís-traçl'0.78

Quanto 4 estrutura funcional da organização, pode-mos dizer que, em contraste com a estrutura verticaliza- .da (hierárquica) das organizações, o modelo iugoslavoé horizontalmente (democraticamente) estruturado, comas seguintes características:

• O poderdecis6rio não é unificado, e distingue po-der administrativo e poder legislativo;

Autogeatão

• . O poder de veto está nas ml'OS da assembléia geraldos trabalhadores (ou seus representantes), ao invésde estar nas mãos do diretor ou presidente da empresa;• mandatos, demissões e admissões de todo o pessoal

. da empresa é decidido pela assembléia geral (ou seusrepresentantes). Administradores são eleitos e depostos,

. dependendo da forma como a assembléia geral julgarsua competência. 79

Exploraremos mais atentamente o primeiro item -participaçlo do poder decisório - à medida que perce-bemos que ele-se comporta como a chave para o entendi-meto da estrutura organizacional de uma empresa auto-geri~ iugoslava.

A dívísão entre poder legislativo e admínístratívo.implica a existência de duas hierarquias no interior decada empresa: a legislativa, da qual participam unidadesde trabalho, conselhos de trabalhadores, conselho ad-ministrativo e o diretor; e a administrativa, da qual parti-cipam trabalhadores, supervisores e adminiatradores.

Autoridade suprema no interior da empresa é o co-letivo dos trabalhadores (denominado por nós de assem-bléia geral), que é formado por todos os membros da em-presa. Exceto em pequenas empresas, os trabalhadoreselegem o conselho de trabalhadores, que sé reúne men-salmente e é encarregado de tomar decisões a respeito

. das funções mais importantes da empresa (especificaçãode produtos, planos financeiros e da produção, alocação .do lucro líquido, orçamento etc.), O conselho de tra-balhadores elege a junta administrativa (cujos mem-bros, na prática, silo em sua maioria provenientes doconselho), que realiza funções executivas. No mínimo,t~s quartos dos membros da junta administrativa de-vem ser proseníentes das funções de produção. Ajunta reúne-se mais freqüentemente do que o conselhoe trabalha em cooperação com o diretor, que e um mem-bro ex-officio. O conselho é eleito por um período dedois anos, sendo que sllQ eleitos metade de seus mem-bros a cada ano. Pressupoe-se que a composição do con-selho seja proporcional à composição percentual entre ostrabalhadores participantes e nl'o-participantes direta-mente na produção, As reuniões do Conselho são geral-mente abertas, e qualquer membro da assembléia podedelas participar. As decisões são tomadas com base emmaioria de votos e os membras do conselho, individual-mente ou enquanto grupo, podem ser depostos pelaseleitores. Ninguém pode ser eleito duas vezes sucessiva-mente para o conselho, e mais do que duas vezes suces-sivas pua a junta. ao A junta é eleita por um período deum ano e deve prestar conta de seu trabalho ao conselho,que pode ,por sua vez, depor membros individualmenteou toda a junta, a qualquer momento. O trabalho najunta ou no conselho é .considerado honorário; seus .membros não são remunerados por tal função. O diretoré o gerente administrativo da empresa. Ele é responsá-vel pelo dia-a-dia das operações e representa a empresaem todas ás negociações externas. Teoricamente (o quedificilmente ocorre na prática), ele pode ser' depostopelo conselho, que também determina o período de seucargo.Si. .

Com uma filosofia semelhante aos "centros de cus-to" presentes em algumas empresas capitalistas, o sis-tema empresarial iugoslavo tem introduzido na estrutu-ra organízacíonal das empresas a denominada "unidade '

4S

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'de trabalho". As relaçaes entre estas unidac1es do reali-zadas à base de contratos, e eventuais quest&s alo resol-vidas e arbitradas pelo conselho dos trabalhadores. Nasgrandes, unidades de trabalho 6 eleito um conselho que,por sua vez; indica uni Frente após proclamar uma COOl-petiçlo aberta para este posto. A autoridade do Frente6 ~ralmente limitada à implantaçlO de deCis&s tomadaspelas instlnciaa· autogerenciadas. Ble nlo pode puilir umtrabalhador ou registrar queixas. O veredicto final numceso de' discipUna serâ dado pelo c<mit6 de discipUnada unidade de trabalho. A resp<lllsabiHdade b6sica doFrente, além da implementaçlo de decis&s jâ tomadas,consiste em treinamento e coordenaçlo (COOl outrasunidades econOmicas, bem como COOl o conselho central .ci.ostrabalhadores). '

Definidas u funçOes e o. funcionamento dos princi-pais 6rglos autogestioo.mos intemos às empresas, va-mos rapidamente descrever as funçaes legislativas e ad-ministrativas cpe compõem a.empreSa.

Funções e 6rglos legislativos: Referenda :......fus&s,realocaçlo da planta, desentendimentos entre unidadesde trabalho e o conselho central dos trabalhadores estioentre as deeísões tomadas atrav6s de referendum, qUeé uma das .chaves da democracia direta nas ·empresas.Zbors - elege e convoca o corpo decísõrío e estabeleceemendas no estatuto da empresa. 810 consultados emtodas as decíões-chsve: política,modernizaçlo e sa1ârios.Unidades (econOmicas) de trabalho - unidades de traba-lho e seu conselho, conselho central de trabalhadores ejunta administrativajâ foram discutidos anteriormente.

Funções e órglos administrativos: o .corpo adminis-trativo de uma empresa. é formado pelo diretor da em~presa, diretor de plantas e departamentos, e os Frentesdas unidades de trabalho. Diretor :....o papel do diretormodificou-se significativamente desde o seu estabeleci-mento. Nó período anterior a 1950, o diretor funcioo.avacomo um aFnte do Estado. Ao mesmo tempo que tinhaum poder completo na empresa, suas respoo.sabiHdadeseram limitadas, pois todas as decisões a respeito da .em!presa eram tomadas em .Belgrado. A introduçlo da auto-gestlo toma seu papel mais ambí$Uo, à medida que lheexige concílíar as demandas de "sua" empresa e da co-munidade em que se situa a empresa. (As pressões advin-das da ambigüidade de seu' papel ~m diminuído 0811-

.mero de pessoas aptas a ocupar tal cargo.) Em 19()9,fc:j permitido às empresas definirem o. papel de' ~uscorpos executivos, o que levou grande parte delas a for-

. talecer o poder dos corpos administrativ.os, inclusive O'

, de diretor. Colegiado - é composto pela cópula ,admiilis-trativa.-(incluindo os gerentes e presidido pelo diretor) esua funçlo é auxiliar o diretor na realizàçlo das políti-cas da empresa. ~. um .6rglo sem poder decisório, comfunções de estafe. Colegiado Amplo - inclui os gerentes,expertos e a cúpula administrativa. Discute ·llSSuntos aele propostos pelo Colegiado. Politikal Aktive - da mes- .ma forma que a dos dois anteriores, a coo.stituiçlo destecorpo não é realizada por meio de voto. ~ cOnipOsta pe-la cópula administrativa e por representantes de todas asínstítuíçõee governamentais. Grupos Informals - incluem

. diverSos grupos estabelecidos pelos sindicatos locais doramo, pela Brigada Jovem e pelos Masters (compostopor trabalhadores especializados que executam a manu-tençlo das máquinas), que, se~doAdizes, 82 formamum grupo muito coeso e influenteS3

46

. Uma. pritica emp.esarial característica do sistemaimpllntado na Iugosl!Yia refere-se l distribuiçlo dos lu-cros, ou seja,' a remuner8Ç1o daque~s' participantes noprocesso produtivo no interior de umaempresa..

Na prAtica, o trab8lhador participa dos. Sanhos desua unidade de trabalho e de sua empresa. O salmo bá-sico 6 determinado pc. Uma avaBaçlo de. desempenho,,uma vez que ,o prinçípio b6sico da remuneraçlo .é: "pa-gamentos de acordo com o trabalho executado". Entre-tlllto, o problema crucial - estabelecer o valor do tra-balho - nlo pode ser ainda resolvído na Iugoslâvía: os

, ganhos referentes a uma mesma tarefa diferem de formasubs.tancial.Segundo TinberFn, autor iugoslavo, tais di-ferenças sIo. freqüentemente maiores do que 50%, eem alguns casos maior do que l~.Estas disparidadesdevem-se basicamente ao fato de ser a distribuiçlo regi-da do por leisgovemamentais, mas pelo estatuto decada unidade empresarial. IM .

.Se, porum lado, as empresas são Hvres para determi-narem os' salmos vigentesinternarnent(l, temos, por QU-

tro, a coo.stataçlo de que o governo determina.o limitemínirilo, .nos moldes do salmo mínimo. Nlo hâ limitemáximo legal, porém existemrec.omendaçOes oficiaissobre. a eqüidade nadistribuiç!o de renda. Na verdade,o crescimento ilimitado de salmos é controlado índíreta-mente por ~s fatores; ..

• açlo das organizaç08s político-sociais que, por ensi-namento.e in~rferênàa ideol6gica nos conselhos de tra-balhadores em cada emp~sa, conclama continuamente leqüidade'e'" reduçlo de dispersão entre-os níveis sala-riais mínimos e m6ximos; ~• a necessidade da empresa de acumular' não s6 furi-dos para expando e desenvolvimento como, principal-mente, fundos de reserva, o que; no sistema de salmovariável como o iugoslavo, torna-se tarefa primordial paragarantira regut.ndacle.da renda, em épocas de recessão,.cortes ou declínios tempormos;• a existencia de um mercado de trabalho, ativo eacentuadamente livre, que concorre para flxaçlo de ní-veis salariais, por profisslo e demais qualificaÇ08s, crian-do, assim, uma grande estrutura de referência em quediscrepânciaS salariais sIo facilmente verificadas;s5

Quanto à 'participaçlo dos órgãos autogestíonáríos .na receita da empresa, pode-se dizer, de forma geral, quea proporçlo dereceitadispoo.ível às entidades autogerí-das cresceu de 20% em 1960'para60% em 1968, tendodesde entro decaído lentamerite. Por outro lado, do to-tal. da receita de umá empresa; 70% slo destinados aosseus trabalhadQres e 30% slodestinados ã. comunidadeonde situa-se a organizaç.lo.86

Vejamos', agora, a forma pela qual a empresa autoge--rida 'insere-se na estrutura mais ampla: a estrutura dosistema empresariaL . .

O sistema empresarial iugoslavo tem como base aunídade produtiva. denominada Organ~açlo Bâsíca doTrabalho Associado (OBTA) que, numa analogia apro-'xímada, constitui a terminologia para a empresa. CabeacadaOBTA:

• gerenciar todos os meios de produção de que dia-pae;

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• tomar todas as decisaes rellCimadas ao pJanejJlMn-to organizacional para a aquisiçlo da receita empresarial;• fixar os critérios de distribuiçlo de ,renda iritema.

Em contrapartida, cQIDojá vimos, tem ~sponsabili-dade frente à sociedade, pois éda sua receita queadvêmas contribuições para a manutenção das outras organiza-ções sociais e políticas do país, como as comunidades deinteresse (escolas, hospitais etc.), às organizações políti-cas e os órgãos estatais.

As OBTA's do mesmo ramo podem organizar-seassociativamente, formando a denominada Organizaçãodo Trabalho(OT) que, por sua vez, podem organizat~seassociativamentea OT's de ramos correlatos, formandoas Organizações Comp6sitas (OC). As Organizações deT.rabalho e as Organizações Comp~ são formas asso-ciativase cooperativas que se reúnem livremente paraunião de interesse e cooperação mútua Existe, ainda,no sistema iugoslavo, uma associação mais ampla, deno-minada Ramo Econômico, constituído por associaçõesnacionais de grupos empresariais (normalmente OC's)que exercem a mesma atividade econõmíca no país.87

Apresentamos, a seguir, modelos próprios para arepresentaçfo do esquema organizacional de uma Orga-nizaçlO Básica de Trabalho Associado, de uma Organi-zaçlo de Trabalho e de uma OrganizaçlO Comp6sita(figura 1).

Acreditamos também importante, para a comple-mentaçllo da ap.rcsentaçlo relativa ao funcionamento'

Figura 1

Esquema organizacional (admlnlstr.)típico de uma OBTA

Esquema organizacionaltípico de uma OT

FOfO": Motta, Paulo Roberto. Autocesdo: I .xporiInc:Ia empresarial i••••••••••.~ d.4dmlrt/rlNj!lo 111".,., Rio de J••••boó Fuadaçlo GeruUo V_, 14 (l),jan/m •. 1910

AutogemJ'o

Quadro 1·. COJnpQSiçlo social dos Conselhos deTrabalhadores (%)

1960 1965 1970

Operários 76,2 73,8 67,6

O· sem especialização 7,2 8,5 7,7média especializaç4'o 13,4 10.8 9.0especializados 40.5 37,8 33.7

mu!to especializados 15.1 16.7 17.2

Administraçlo/formaçlo 23.8 26.2 32,4

O prin1ária 7.6 7,3 6.4

secundária 12,0 13.0 15.9universitária 4.2 5,9 10.1

Fonte: Jovanov, NecL LeI Rapports entre la ~ve commeconflit socilll et l'autOgestion·comme systlme social. Int'lconference on self-management and perticipatiqn, Dubrovinik,1972. 1, p: 67.Apud venose, RobeJto. l:4.utogestiion; .. op.cito .

Quadro-2,Influêncía dos diferentesgrupós sobre o Conselhode Trabalhado~es' .

Direçl'o . 4,7Gerentes. 4,1 .Chefes das unidades .de trabalho 3,4

·Supervislo 2,7Empregados administrativos 2,7<>peráÍiosmuito quaUficados 2,5Operários quaUficados . 2,2Operúio. especializados 1,6Operários nlo -quaUficados 1,5

Fonte: Tannembaum, Arnold &. Zupànov, Josip. La' Di8~trlbuitio,. dll co"~~ dans quelques organlzationsinduBÍrlellesyugosltnlf. Sociologie du travail. Paris. Ed. du Sevil, 1967. 1, p.11. Apud. Venosa, Roberto. L 'Autogestion ••• op. cito

da organit.açlo,empresarial iugoslava, a exposiislO dealguns quadros extraídos do trabalho de Venosa parauma visualizaçlo do comportamento da influência e dopoder dentro de tais instituições (ver quadro 1, 2, 3 e4). Do mesmo trabalho extraímos a coo.clúsllo.de Obra-dovic~9 .a este respeito: .'

"Os resultados, no 'Fral, confirmam a hipótese de queno pr~sso decisório dos Conselhos de Trabalhad<>res a participaçlO mais intensiva é feita pelos índí-.vídu6s de nível de. educaçloelevada, expertos e admí-nistradores,ao passo que os outros grupós sõcío-proãs-sionais têm participaçlomenos expressiva."

E ainda conclui Ven.osa:9CI

,"Podemos coo.statar .que o poder nas organizações auto-geridas iugoslavas é distribuído de maneira autocrâtica."

Quanto ao interesse. pelos operãríosne participaçlo,nos diz Zupanov91 . que os trabalhadores n'oestlo m.postos a assumir responsabilidades além dos límítes de~'U próprio trabalho. Ao que acrescentamos: os t~abalha-dores acreditam cpe o seu poder de influência encen-trá-se aquém do desejado.

Venosa, em seu trabalho,92 •nos indica ainda umagrande particiPI9Io, dQS.membros da liga dos Comunís-

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tas em a1gwnas das decisões tomadas nas organiZaç«ies.ObradQvic9$· relata, ainda, que as decisões relativas àcooperação entre empresas são tomadas com a participa-ção ativa de especialistas e de membros de Liga, utili-zando motivos e objetivOs políticos. Tal constatação nosleva a indagar a respeito do sistema político vigente naIugoslávia.

Quadro 3 .Interesse manifestado em participar segundo a naturezadas decisões

6[ lo< o ~lo< •• '0 i~ '2 lU;1 ~ t§.. i~ § a etl

~IU "" 0;1 I:I.Ilo u2 ~8.Problemas conjunturais 47,5 12,6 21,3 8,5 10,1Distribuiçlo de fundos 27,8 18,2 37,7 6,7 9,6Distribuiçlo de receitas 20,2 16,8 48,7 6,6 7,7Normas e regulamentos 29,7 19,6 32,8 7,4 10,5Eleições 27,4 21,4 ~4,O 5,4 11,8Diretivas de rel, Industriais 37,4 18,2 25,7 7,0 11,7Problemas s6cio-políticos 38,2 14,9 26,1 1,8. 13,0Estratégia econômica 41,8 12,6 24,9 7,5 13,2Vendas, mer~do, preço 52,2 13,4 17,2 6,5 10,7Investimentos . 34,7 18,1 28,6 6,7 11,9Organizaçllo do trabalho 28,4 18,8 34,3 5,6 12;9Di~"uiçlo das funções 27,2 18,4 32,2 9,4 12,7licenciados 21,9 15,6 40,7 9,1 12,4Plano de produçlo 29,0 13,9 37,9 6,7 12,5Horários de trabalho 26.,3 20,3 36,3 4,7 12,4Problemas imediatos.no trabalho 14,8 16,1 50,9 6,7 11,5

Disciplina 15,8 15,3 48,8 9,0 11,1"

Fonte: Mozina, Stane. La participation des membres eles org8nesd'autogestion à la. Jirlse de décisions.Revue de 1'B1t Parir,3 (2): 126, 1972. Apud Venosa, Roberto. L'Autogestion ••• op.cit.

Quadro 4Intensidade de influêilcias.4esejadas e eXistentes'

Intensidade

A ~ operãrios D _ direção

B - .conselho de trabllhadores E '- chefes das unidades cconOnucas

C - conselho de gestlo F - supcrvislo .

Fon,~: 'lanncmbaum, Amnld. Thc dblribuUon of,\.'Ontrof in ':ormill or;anizatiom. C~"trolin OIpIl;z.t;ons. N•••••. Vurk. MI.'(iraw·HiIt. 1968. p. 4S·~4. Apud"'lcnos;l. Roberto.l'Auu,.:.~stion ...•• up. dto -.

48

3.2.3 Sistema político

Como já vimos, o sistema político iugoslavo seguiu osmoldes adotados na URSS no pós-guerra. Com o rompi'mento, a estrutura político-administrativa,· seguindo aestrutura econômica, passa a descentralizar-se. A eleva-ção da Comuna à comunidade sócio-política básica94 foiacompanhada por uma série de inovações significativas:

• foram garantidas eleições de representantes para aAssembléia Federal;• as agências administratiyas locais passaram a terrespoosabilidade somente em relação às.suas assembléiaslocais e nso mais em relaçâc âs agências governamentaisdasrepüblíeas e da federação;• foi aumentada a possibilidade de maior Influêncianos níveis da comuna, república e federação, por partedas empresas.

A seguir apresentamos a estrutura política semfunciooamento na Iugoslávia, que, segundo Hanníus,"contínua a ~sar por significativas alterações,

A Assembléia Federal tem, atualmente, cinco câ-maras, ttes das quais representam interesses das organiza-ções autogerenciadas de trabalhadores na área de econo-mia, educação e. cultura,e saúde e bem-estar (são deno-minadas Câmaras de Comunídades de Trabalho). Temos,ainda, a Cãmara S6cio-política e a Câmara das Naciona-lidades.' Todo ato parIainentar deve ser aprovado porduas câmaras: a das Nacionalidades, em conjunto comuma das outras quatro. Os representantes dás Câmarasdê Comunídades de Trabalho silo eleitos entre membrostanto das empreSasautogerenciadas, como das assem-bléia comunais (quando antes, participavam somenteelementos das assembléias comunais).Ôs representantesda CAmara S6cio-política silo eleitos diretamente peloscidadl'os nas comunas, e os representantes da Câmaradas' Naciooalidades sloeleitas em assembléias das repú-blica e províncias, paritariamente, assegurando partici-,paçlo igual para as várias "nacionalidades" e minorias.

O processo de rotação de representantes eleitosvisa eliminar o político profissional (n!o há possibilida-de de reeleiçlo para um mesmo cargo). No entanto, oque acontece é que se trocam os cargos, mas as mesmaspessoas tém permanecido na estrutura política central.

Cabe .:mnda acrescentar que as assembléias .não sãoconsideradas somente corpos .legislativos,Irias,também,enquanto instituiçOes territoriais autogestionárias, têm afunçlo de coordenai e in'tegrar os mecanismos de em-preS&'l, ínstítuíções e organízaçõea autogerencíadas deseu território. I

.A propósito de ·liderar e controlar, característicoda Uga dos Comunistas até a:introdução da autogestãona .Iugoslávia, tem dificultado uma atuação de .mera"cooselheira", "O problema de transformar-se de um 6r-.gIode .poder. e controle eT-·uma vanguarda ideológicae política tem sido uma das maiores dífículdades daLCy".96· . >

Cdnstata-se, inclusive, ao menos a nível local, quese espera dos elementos da Uga uma ativa partícípaçãonainstituiçOes autogestionárias. Na realidade, ainfluên-cia dos membros da Liganas einpresasvaria.de caso para,caso; a tendência, no entanto, vista como problemática

·RmJttI de Âdmintmrzç40 de Empre6lls

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pelos pensadores da autogestão iugoslava, é de uma par-, tícipação cada V(lZ maior (dos membros da Uga) nos con-

selhos das empresas.?"Segundo Hunnius,98 tantoa Uga dos Comunistas

quanto as demais organizações s6cio-políticas estio pas-sando por uma difícil fase de transíção. A extrema com-plexidade de sua posição pode ser ilustrada com o fatode elas, algumas vezes, recorrerem ao uso do poder emfunção dos choques de suas demandasconstradit6riasà medida que têm a difícil funçãode coordenar, sele-cionar e adequar numerosas e distintas iniciativas, pres-soes e propostas de diferentes instituições autogestioná-rias.

Uma vez adentrados no campo político (e sócío-político), acreditamos ser útil expor sucintamentede forma um pouco mais detalhada a forma pela qualse dá o relacionamento empresa-comunidade, onde en-focamos a comunidade como 6rgl'o elementar políti-co-territorial. '

As realizações internas das empresas são publica-das, e tanto as organizações s6cio-políticas da comunacomo a assembléia comunal devem tomar providênciasquanto a atividades ilegais ou anti-sociais que ocorramnas empresas circunscritas a sua regi!o. Esta, constataçãoé reforçada se lembrarmos, que o contador-chefe de umaempresa é relativamente independente dos 6rglos daautogerência, e sua índícação e demissão devem seraprovados pela comuna. Um número de6rglos supervi-sores específicos na comunidade tem .o díreíto de verifi-car a legalidade das operações das empresas e a fidelida-de de seus relatórios .para as autoridades comunàis, re-publicanas e federais.99 ', A redução gradual do controle administrativo, atra-vés do sistema sôcio-econõmicc íugoslevc, em favor dasorganízações s6cio-políticas traduz-se na expectativade que es~ organizações, particularmente os sindicatos(juntameJ1te com a Uga dos Comunistas), ajam comoforças integrativas na relação dos' 6rgiosautogerencia-dos nas empresas e instituições. A comuna local realizafunç!o semelhante nas empresas de suajurisdiçlo.l00

Cabe, ainda, notar que, a nível local, existe umasubstancial sobreposição de pessoal que está ínserídotanto nas- organizações políticas como nos 6rgios auto-gerenciados da empresa. Nos ramos comunais das orga-.nizações s6cio-políticas estio inseridos trabalhadoresde "destaque" ~ diversas emptesas. Teoricamente, asfunções integradoras destas organizações estio basea-das no princípio da cooperação, levando o controlesocial a transformar-se em "controle social mutua-lista". 101

Tendo exposto aquilo qúe acreditamos suficientepara a consecução de nossos objetivos com relaçlo àautcgestão iugoslava, deparamo-nos com uma curiosi-dade: o que (se) ganhou o iugoslavo coma introduçãoda autogestão? Buscamos a resposta nos indicadoreseconômicos que nos revelam as características do cres-cimento econOmico iugoslavo:

• política de investimento maciço no setor secun-dário;• aumento conseqüente da dívida externa;• pumento sensível da ocupação da mão-de-obra pelosetor industrial;· '• aumento marcante do volume de saláriOS.102

Autogm4'o

.__ .,-- ..-~-~--'--

•Os quadros 5 e 6 nos respondem mais diretamente

a esta quest!o: eles dizem respeito aos indicadores do.nível de vida e da relaçãopreço-salârío, sendo que pode-mos resumir sua análise à constatação de que o êxodo ru-ral aumentou substancialmente o custo de vida, mas que,por outro lado, apesar de existir a hegemonia de umaclasse socíal, .« nível de vida melhorou considerável-mente.103

Com base no que foi exposto, acreditamospoder sintetizar o que nos parece ser a autogestloiugoslava.

A autogestão iugoslava, tendo sido imposta "de cioma para baixo", ressalta a importãncia das formas íns-titucionals de partícípação sobre as f-ormas espontâneoas de participação.

No campo organizacional conclui-se que a organiza-ção hierárquica tem sobrevivido até mesmo dentro deuma nova capa ínstítucíonal que é. apresentada nas íns-tituiçCJes. Na, realidade, o grupo executivo, forte, tempoder maior do que o conselho de trabalhadores. Zu·panov104 atribui este malogro a duas causas: '

• a posiçlo-chave no processo de comunicação ecoordenação de atividades n!o foi afetada pela mudan-ça na estrutura formal. Ou seja, mantém-se a concentra-ç!o da Informação, fator fundamental para a manuten-ç!o e preservação do poder nas mãos de poucos;• a administração adquiriu, no curso da descentralí-zação econômica, a pcsíção estratégica nos negócios daorganizaçllo,com as demandas e pressões .ambientais.externas provindas das forças tecnológicas e de mercado.

Ainda no campo organizacional, Zupanov consta-tou em pesquisas que os, trabalhadores não estão dispos-tas a assumir respQllsabilidades aJém dos limites de seu

, próprio (e individual) trclbalhO.105No campo político, temos a constataçlo da unicida-

de do "partido" existente: a Líga, caracterizando, atra-vés de suas funções, um regime autoritário centralizado. '

Concluímos que o regime ora vigente na Iugoslávia,uma vez caracterizada a grande partícípação do Estadona vida do país; impedindo um sistema autogerido, po- '

Quadro 5Indicadores fundamentais de nível de vida(por hab.)

.Em dinares

Indicadores 1956 1963, tx. cresc.

Consumo indiVidual 59,0 55,2 0,06Consumo geral 10,7 16,6 0,55Calorias por dia 2.722 3.083 0,13Têxtil (m'/ano) 9,6 1~,2 0,89 'Sapatos (:par/ano) 0,7 ,1 0,57Eletriçidade (kwh/ano) 36,4 1l},4 2,17Bens de consumo dUláveis 4.351 14. 66 2,30N9alojamentos constr./ano 2,1 5,7 1,71% estudantes nas escolas

primárias 76,3 90,S 0,19% estudantes nas universi-

dadeS 3,3 6,8 1,06N9 médicos/mll bab. 4,0 7,4 0,85N91eitos de hospital 4,5 ~ 0,18

Fonte: Venosa, ~obe$. L ~utogeltion .•. op. cit.p. 45.

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.-._-.~"""""_.,-"-,,,-,,,-,-,-, .. .,.;..Quadro 6Preços e salúios -;- índices (1969 =.100)

.~ 1973.1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 19.72

~'dos produtos•• ícolas 59 84 98 '95 91 100 115 145. 1I~0

..,industriais 74 85 95 97 97 . 100 109 1Z6 140 158,evoluçlo custo materiais 69 72 84 94 96 100 112 132 142 165evoluçlo custo bens de capital 87 93 97' 99 99 .100 105 n8 126 138evoluçlo custo bens consumo 73 85 '.95 9& 96 100 107 121 136 154

, evoluçlo Pfeço unidades exportadu 88 94 97 98 96 100 ';109 114 114evoluçlo custo unidades impartldas 89 94 95 ' 9f 95 ,100 ' 108 112' 113

Custo de vida 50 67 82 88 ' 93 100 in 128 149 178alimentos 52 77 87 90 93 100 112 131 156 190serviços 40 52 68.1 79 89 ' 100 108 122 1:44 156

Salário médio dos empregados do setor depropriedade so~ 37 51 70 79 87 100 .118 143 169 196

Fonte: EcolfOmicIUrv." YfI&O'ltMtz. Puta, O.C.D.E.abro 1~74.p. 63.Apud, VenOI&, Roberto. L ~"togéltloll ••• op citoo, . .,.., .'

de Ser denominado de CO-Fstlo. CO-.Fst1o esta' feitapor tenocratas e Estado,' numa estrutura autoFst1oo6riaqUe não possui os qúesitos para-Se classificar como tal(divúlgaçlo .da informaçlo, carÁter espontâneo individuale coletivo, autogestlo do organismo político).

4. ESPANHA

4.1 História

Por.mais de uma dééada após a I Gue~ Mundial, a Espa-nha atravessou um período de extrema instabilidade p0-lítica; quando se intercalavam épocas de quase au&encia ,depemo com épocu dedita<lura militar. Embora ostem?OS da monarquia estivessem definitivame:lte terml~nados, o~ís nlQparecia apto para manutençlo' deuma república democr'tica burguesa:

A proclarnaçlo '.da repl1blica em 1931; o motim prl~.litar ocorrído nó ano Seguinte; a supresslo, por parte dó .govemo, deum movimento anarquista em 1933; e a te-presslo, pelo exército, de um forte lI)~nto popularocorrido na i\ustrla em 1934 levam 0$. partidos' de es- .querda espanh6is a ganharem as' e1eiç~spor lI)aioria 'absoluta em 1936, dando início 1 guerra çJ.vil.. Por todo o país, os trabalhadores e os ca.ntpdne~stomaram .aS f'b~cas e 811terras abindooadas por" seus

. proprietârios em virtude da guerra, dando início a umsistema autogestionârio, que vi~rou até 1939, cp.doa ditadurafucista tom, o poder.106 . . .

"Após ter vencido o golpe de Estado, a revoluçloe a guerra para libertar.811mas ocupadas deram-Se igual-mente. A 20 de julho de 1936;' aConfederaçlo Nacio-nal dos\Trabalhadores (CNT) solicita ~ 0$ trabalhado-res do Setor de gêneros alimentícios voltem 1produçio..A 22 de julho, Solid. Obrera - 6rglo da CNI'. +. aoJi. .cita que os caldeíreíros ocupem os centros ~ produ-çlo para efetuar a blindagem decaminhoese QUtros.trabalhos necessârios.

. Na fâbríca, no geral, reduziu-se' a jomadade traba-lho: 4(). horas na ma dOs transportes (na ind6atria de

guerra a produçlo nlo sofrel,t interrupÇlO). Os "árioserain iguais é obserVaVam ligeira .diferença: antes, umaubdiretor 'de ferrovj.u ganhava o correspondente a' 340pesetas' mensais, e um. (erroviúio, 143; depois'de ·19 déJulho dé 19~6 o ,saláriom{n/mo foi de 300 pesetas e omáximo de' 500. O períbdo de aposeIitadoria ~navaentre.35 anos de trabalho ou 70 anos de idade compul-soriamente.

Nu cOletividades camponesas, pagava-se salários-fa-mília e aposenta~orias. FunclaraIQ-se bíbfíotecas a esco-lu, contratar8DloSe médícos e veteiin~os. Houve au-mentoda área arivel de terra. e houve impulso 1avicul-tura. "'.

A coletivizaÇlo nlO se lin1itou hsf'bricas ou peque-.nu aldeiu;' teve ilCance nacional, organizou· congressose federaçoes. Houve um grande inimigo da coletivizaçlo:'

. O.Banco, cpe ,estava nu mlos,da burguesia republicana. .Os socialistu e o PPCC espanhóis 1\'0 quiseram obrigar .a burguesiaa\ comprar como ouro do Banco as armas.Estu foram adquiridas com o ouro do Estado e forneci-

. das pela URSS,que brindou somente seus partídâríos.e a burguesia que desejava recuperar as fábricas e· asterru: O ouro espanhol faipara à URSS, ónde ainda es-tá, e a.coletivizaç'o ficou destruída. Isso l6vou às jorna-da de maio de 37 em Barcelona, onde o PC e a burgue-sia atacaram a centraltelefOniéa em poder da CNT, ha-vendo milhares· de .mortos e ferid~ A divido' dos tra-balhadores provocada pela URSS e sua atitude conci-liat6ria coma burguesia espanhoJa levaram a coletivi~'zaçlo à morte. ti 107. '

4.2 Estrutul'tl ~mictrpol{tica

As idéias de Abad de Santillân 108a resp~.ít()de métodose.objetivos desejados pela revoluçlo facilitar-no~á o en-tendímento da evolução e estruturado movimento queocorreu neste período.

QUanto aOSobjetivos, nos diz o autor:.

• Na:o quere1nos que todos daricem ameama mt1sica,cpe tQdos m.cpem paSso em uníssono, Admitimos in-

R__ .Â~d.Emprat18 .

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clusive a possibilidade de existência de diversos organis-mos, alguns mais e outros menos revolucionários, unsmais e outros menos amigos da nova situaça:o. O im-portante é que todos os espanhóis possuem um mínimode necessidades a serem satisfeitas e, em holocausto aisto, devemos contribuir por dever e por direito ao pro-cesso de produção de bens para satisfazê-las.

Com respeito imetodologia política temos: ."( ... ) Tampouco negaremos, aos que nlo compartilhamde nossas concepções sociais, a liberdade de defendersuas idéias e de praticá-las, desde que não sejam agressi-vas e que não queiram forçar-nos (e a quem deles dis-cordar) a ser um dos seus. ( •.. ) Nós nos contentaremoscom a dísposíção, sempre latente, de impedir qualquermanifestação agressiva de uma facção contra outra quenão queira participar de seus ritos políticos ou religiosos,e' de manter o aparato produtivo e distributivo em poderdos próprios produtores e distribuidores."

E, finalmente, assim define o resultado que 'a re-volução trará aos seus conterrâneos:"Poderíamos revisar uma por uma todas as categorias dapopulação e ver como elas nada devem temer da inevitá-vel mudança social. Não exístírso cortesãos nem pala-cianos, tampouco haverá gente nadando em privilégiose mordomias, nem' doentes de gota ou' tédio afundadosno esbanjamento e no vício. Não chega a 100 mil o nú-mero de lares espanhóis cuja situação piorará com arevolução: referimo-nos a estas 100 mil pessoas a quemconsideramos efetivamenté ricas e com base econõmíca asalvo de qualquer emergência; em troca, para os restantes23 ou 24 milhões de espanhóis, a revolução será liberta-dora, e para cerca de 20 milhões será, também, portado-ra de um nível de vida superior ao que conheciam nocapitalismo. "

Por outro lado, Maurício Tragtemberg 109 assim ex-plicita as metas desejáveis para a economia autogestíoná-ria: "Pensamos mostrar, com realizações parciais, nossacapacidade de produtores e ao mesmo tempo salvar aeconomia e eliminar a burguesia com seus intermediáriosparasitários, sua contabilidade melíflua e suas prebendas.E necessário adaptar a organização técnica às necessida-des do momento pensando no futuro", ressaltando o pa-pel fundamental que a escassez de algumas matérias-pri-mas - algodão, petróleo, papel - tev~ nas realizações darevolução.

Vejamos agora a forma pela qual organizou-se a re-volução autogestionária espanhola.

Com uma população de 24 milhões de habitantes,o setor industrial absorvia em julho de 193623% da po-pulação ativa, a agricultura ocupava 52% e o setor ter-ciário (incluindo o doméstico) ocupava 25%. 110 •

A organízação da mão-de-obra - .fundamentada emCornelissem quando afirma que "o núcleo de toda pro-dução, a célula econômica éo estabelecimento e não ooficto" - antes organizada em sindicatos de ofício, passaa agrupar-se sem sindicatos por setor industrial.

No congresso celebrado em fevereiro de 1936, foivitoriosa uma resolução que classificava em federaçõesde indústria todas as atividades produtorase serviçospúblicos da nação.

Para definir a estrutura que assúrniram as institui-ções autogestionárias espanholas, tarefa qUe ora iDicia-

. Autogest4(J

mos, utilízamos fundamentalmente as idéias contidasno livro Ofiânismo econômico da revoluçllo - a auto-gest6oespanhola, de Diego Abad de Santillân.

. Vejamos, inicialmente, como se organiza interna-mente· a produçlo advinda de cada estabelecimentoque, em seguida, nos levará à organizaçlo ínterinstí-tucional. . .

O proprietário - "figura estéril na eseonomía" -é substituído por um conselho (de trabalhadores), que,'por s~ vez, é nomeado e' representa o pessoal, sendodestituível a qualquer momento e modificável sempreque preciso, se assim se julgar conveniente. O conselho,enquanto representação do pessoal ligado ao' mesmolocal de trabalho, dá coesão e coordena o trabalho emsua esfera: de atividade e ligada às atividades semelhan-tes de outros estabelecimentos ou grupos produtivos. :econstituído por operários, empregados e técnicos. Nadisposição e regulamentaç.lo do trabalho do conselhonão intervém nenhuma força estranha aos própriostrabalhadores, existindo autonomia completa.

Os conselhos relacionam-se. entre -sí por afinidadesfuncionais e formam seções de produtores de artigosafms, seções estas qaeconstítuem sindicatos de índús-tria ou ofício. Estas novas instituições formadas a partirdos conselhos não têm ingerência na estruturação inter-na dos locais de trabalho, salvo para resolver acerca damodernízação do-instrumental,-da fusão ou coordenaçãode fábricas, da supressão' de estabelecimentos improdu-tivos ou pouco rentáveis etc. .

Os sindicatos industriais são os organismos repre-sentativos da produção local num ramo produtivo es-pecial; não somente podem atender à produção necessá-ria, como esmerar-seem condicionar a produção futura-mente necessária, criando escolas de aprendizagem, ins-titutos de pesquisa e aperfeiçoamento, laboratórios deensaio etc., segundo sua força e a iriiciativa de seusmembros.

· Os síndícatos coligam-sede acordo com as funçõesbásicas da economia, que podem ser' reduzidos ao nú-mero de 17. Silo os seguintes os 17 Conselhos de ramo,com os quais se pretende organizar toda a economía dopaís:

• Necessidades fundamentais: Conselho de ramo de .. Alímentação, Conselho de ramo de Habítação, Conse-

lho de ramo do Vestuário;• Matérias-primas:. Conselho de rSInO da ProduçãoAgrícola, Conselho de' ramo da Produção Pecuária,Conselho de ramo de Miner.açlo e Beneficiamento,Conselho de ramo da Pesca; ,• Conselhos relacíonadores: Conselho de ramo deTransporte, Conselho de ramo das Comunicações;Conselho, da Imprensa e do Livro, Conselho de Créditoe do Intercâmbio; ,• Indústrias de elaboração: Conselho da Indústria Me-talúrg;.ca, Conselho de ramo da Indústria Química;

e ainda:. Conselho de ramo da Luz, Força Matrit e Água;

Conselho de Saúde e Higiene; Conselho da cultura ..

:e preciso, no entanto, que haja uma vinculação en-tre todas as funçOes para formar Um.' conjunto de pro-,cesso deproduçlo edis~ribuiçIO. Os Conselhos.de ramo

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L

de uma localidade unem-se, por delegações, ao ConselhoLocal da Economia, o centro para o qual convergemtodos os liames da produção, do consumo e das relaçõesde uma localidade com outras. Partindo dos conselhoslocais de economia, serão formados os conselhos regioníliSde economia, que, por sua vez, dlo base ao ConselhoFederal de Economia. Cabe ressaltar que esta estruturanão deve eliminar' a possibilidade de uma vinculaçãofuncional entre os conselhos de' ramo em todo o terri-tório revolucionário.

O Conselho Federal da Economia não éum poderpolítico, e sim um regulador econômico, administrativo.Recebe suas diretrizes de baixo, deve ajustar-se em suaatuação às resoluções dos congressos regionais e nacio-nais; é um quadro de relações e nada mais. Deste con-selho depende o comércio ínternacional, aS transaçõescom os outros países, que não serão matéria para pe-quenos núcleos 00 para indivíduos, como no capita-lismo, e sim matéria social, de todos, Até nisso supri-me-se a especulaçãe.

Da mesma forma que no sindicato, nos conselhos deramo também se criam escolas de aprendizagelJl, de aper-feiçoamento e de pesquisa. O Conselho Local da Econo-mia, por sua vez, tem a seu cargo institutos superiores depesquisa, centros de estudo, de. urbanização etc. '

Os conselhos de ramos, além de estarem organica-.mente vinculados ao Conselho Local da Economia, for-marão também conselhos nacionois de ramo equivalen-tes às federações nacionais de indústria, com a missãode regular, no ãmbito nacional, a produção e tudo o <piefor relativo a seu funcionamento.

Do conselho de fábrica ao sindicato, deste ao conse-lho de ramo, e conselho de ramo local, destes ao regia-

Figura 2Esquema da organização econômica

nal, e destes ao federal de economia, a estatística seráelaborada com todo o rigor, de modo que, se na fábrica

" pode-se saber no dia o estado da produção, do pessoal eda produtividade, tal coisa também possa ocorrer nor~etivo sindicato, no conselho do ramo, no conse-lho local 00 no conselho federal. A estatística, essencialpara a 'nossa sociedade, terá no' conselho de créditoe íntereãmbío o seu centro de convergencia e de elabo-ração, '

'Haveria, ainda, a possibilidade de uma nova ligaçãodos produtores por ofício, para a instalaçlo de escolaspróprias a sua especialidade, e para questões de eventualinteresse gremial, da mesma forma como cabem ligaçõesverticais, nlo só dos conselhos de ramo no ambito regio-

. nal e nacional, mas também de sindicatos (por exemplo:os sindicatos de ferroviários, carreteiros, aviadores, tele-grafIStas, empregados do correio etc. podem vincular-seentre si, além de fazê-lo por 'meio de seus respectivosconselhos de ramo), '

Para facilitar a visualiZação do que foi dito, apresen- .tamos um diagrama que" acreditamos facilita tal tarefa,onde os conselhos locais de ramo congregam-se, forman-do, por um lado, os conselhos regionais e federal da eco-nomia e, por outro, as federações nacionais dos conse-lhos de ramo (figura 2).

. Através de uma crítica aos demais sistemas de or-ganizaçlc> de produçlo edi$tribuiÇIO, o autor explici .ta qulO desnecessário se mostrar' a formação de, umorpnismopolítico: ."Se o socialismo - todos 01'" matizes do socialismo,desde o revolucionmo, libertúio até o político -'tivesse convencionado desde o princípio uma propa-,ganda tendente à ~ubstituiçlo do regime político e

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econOmico do capitalismo e tivesse exposto claramen-te os 6rgãos que haveriam de substituir os 6rglos cadu-cos do regime imperante, hoje estaríamos em outras con-díções, Ao invés disto, uma parcela importante deixou-se levar pela idéia do Estado, pelo pensamento nefastode dar a este aparato todo o poder, de conquistar logoseu alto comando e de decretar a partir dele as novastábuas de lei. A outra parcela, a parcela revolucionãria,em luta feroz contra o adversário que tentou e aindatenta aniquilá-la, poucas oportunidades teve para pensar

, na parte construtiva da nova sociedade. Toda a sua histó-ria é a história. de um heroísmo e de uma abnegação semlimites. No entanto, quando tem a oportunidade de en-carar o problema da transformaçâo social, não o faz pormeio do Estado, e sim pela organização dos produtores.Temos seguido esta norma e não terriOSnecessitado, atéaqui, de hipótese de um poder superior ao trabalho orga-nizado para estabelecer a nova ordem das coisas. Se al-guém puder dizer-nos o papel que caberia ao Estado nu-ma organização econômica onde não exista a proprieda-de privada, onde o parasitismo e o privilégio não tenhamrazão de ser, muito lhe agradeceríamos."\lI

Devemos considerar, neste momento, o fato de talestrutura ter sido descrita por Santillán em meio ao de-senvolvimento do sistema autogestionãrio - de curtaexistência - que vinha sendo realizado pela revolução. 'Cabe-nos, portanto, relativizar tais ínformações, quedevem, por sua vez, ser rebatidas tarito ao plano da ideo-logia do autor quanto à possibilidade da influência -"maléfica ou benéfica" - que o tempo poderia trazerà situação, ,

Tendo, portanto, apresentado a organização que ca-racteriza a autogestão espanhola - parte já pragmatíza-da e parte "ainda" não - acreditamos conveniente apre-sentar a descrição que faz Tragtembergll2 da coletívíza-ção de uma das regiões espanholas neste período: Hospi-talet.

4.3 Hospitalet: uma vivência

"É uma zona de Barcelona com total de 50 mil habi-tantes, predominantemente industrial. O ramo têx-til era o mais importante, o metalúrgico estava emsegundo lugar, contava com altos fornos de importân-cia, muitas oficinas mecânicas. Existia a indústria da ma-deira, a química. O CNT tinha 8 mil adeptos entre amao-õe-obra, a UGT contava com mil. No mês de julhoa luta durou seis dias, galvanizando todo o país. Termi-

, nado este perfodo, a CNT proclamou o retorno ao tra-balho, assumindo a responsabilidade pela vida eeoaõmí-ca, abandonada pelos empresãrios e pelá pr6prio gover-no. o trabalho era reiniciado, de um lado; de outro,par-te da mão-de-obra está mobilizada atrás das barricadasnas ruas, vigiando os caminhos que conduziam a Barce-lona, para preservá-la de qualquer ataque.

O processo de coletívízeção iniciou-se no campo.Os trabalhadores por dia iniciaram o processo. A produ-ção, de legumes, estava ameaçada e Hospitalet corria orisco de fome; 15% de sua população estavamsem tra-balho devido à crise, e os que trabalhaviÍm .0 faziam .três dias por semana. Os agricultores compreenderam asituação. Convocaram uma assembléia e resolveram íme-

Autoge.f4o

diatamente coletivizar a propriedade agrícola. Criou-sea Coletividade Camponesa.

A pequena ",propriedade cultivada pelo proprietárioea mlo-de-obra contratada foram substituídas pelagrande extensão, trabalhada conforme um plano ge"ralo O trabalho aumentou em intensidade e quantidade.As terras, que até enta:o eram consideradas estéreis fo-ram trabalhadas.

Nas indústrias, acoletivizaçlO começou pelo contro-le das fábricas. Os operários nomeavam, em cada empre-sa, comitês que tinham a missão de zelar pela produçãoe vigiar a administração patronal. As empresas qúe esta-liam endividadas foram coletivizadas imediatamente. Opatrão foi assimilado ao grupo de produtores. Os comi-tês dirigiam a produção mediante uma linha central tra-çada pelo Decreto sobre a Coletívízação. A CNT criouos conselhos de intensificação da produção, que obriga-ram a classe empresarial a empregar a mao-de-obra de-socupada. Para remediar os problemas de abasteci-mento, foram criadas pela CNT Comissões de Abaste-cimento para o povo. A coletivizaçlo das indústriasaprofundou-se com a crise. As indústrias madeireira, deconstrução, transportes, espetáculos foram coletivizadas.Impôs-se um salário único para todos os 'trabalhadoresindustriais. Fundou-se uma caixa comum, onde a mão-de-obra retirava fundos por partes iguais. Quando de-terminado ramoatíngia alto nível de produção, isso eracomunicado 1Comissão Central Administrativa, queconsiderava a maneira pela qual as áreas deficitáriaspoderiam ser suprídas mediante alocação de recursospara aquisição de matérias-primas e diversos fatores deprodução. Paralelamente a isso" institui-se o salário-família. Para tal, realizou-se um Censo Especial funda-do em minuciosa pesquisa estatística. '

Paralelamente aos problemas economicos, os cultu-rais atraíramo interesse da mão-de-obra, os sindicatosoperários, já mantinham entre 50 a 100 escolas nacio-nalistas de caráter secularizado. Numa população escolar,infantil de 8 mil crianças, apenas 4 mil chegavam à esco-la; conseguiu-se que 6 mil crianças tivessem acessoa escola, em edifícios mais apropriados do que havia atéentão. Às quintas- f~iras, todos os cinemas do local ofe-·reciam espetáculos à população escolar infantil. Asmulheres nas fábricas podem contar com as creches:construiu-se maternidades para a população. trabalhado-ra. O atendimento médico em clmícas e dispensáriosera contrólado pela CNT e era inteiramente gratuito.Trabalhos públicos, ensino, assistência social eram resol-vidos pela comuna em nível municipal. A CNT prestavacontas de seu trabalho, organizando a população em vas-tas assembléias de bairros, que ocupavarri os salões queexistiam na época. Expunham o que haviam feito, re-cebendo a' crítica da população. Não se fazia políticade gabinete, nem tomavam-se decisões sem participaçãopopular,

. Acreditamos poder,nestemomento, considerar con-cluída a tarefa de delinear os traços fundamentais daautojlestlo espanhola que nos parecem significativos paraa realizaçlo de nossos objetivos.

Pudemos per.ceberque o sistema autogestíonârio le-vado a cabo neste país pode ser considerado espontâ-neo-à-medida-qUe-houve-condições-para- tal. A ínsatísfa-:çloconjunturalleva ao poder os partidos de esquerdae a~ abandono de seu patrimônio os proprietários; per-

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mítíndo a organizaçloespontânea da população na to-mada do controle dos processos produtivos e sua comer-cíalízação (deve-se ressaltar aqui a importtiÍCia da CNTe da UGT- União Geral dos-Trabalhadores - na organi-zação das forças revolucíonáriaskÉ necessário acentuarque, inicialmente, em Barcelona Ou Valência, os traba-lhadores de cada empresa tomavam posse da fábrica,das máquinas, matérias-primas, e aproveitando a exis-tência ainda da economia mercantil e do sistema mone-tário inerente ao capitalismo, amparadospelogoverno,organizavam a produção por sua conta própria, venden-do em proveito próprio O produto do trabalho. Isso cria-va um neocapitalismo operário, uma situação' situadaentre a economia liberal- burguesa e o socialismo. tomtudo isso, a coletivízação se dera e a indústria produziafora do esquema patronal, sem a hierarquia' diretivaetc ... ,,113

A julgar pelos escritos de Santillân, podemos perce-ber quão próximos estavam os organismos revolucioná-rios do ideal construído por Proudhon. Diferentementeda autogestão Iugoslava, não foi imposta "de cima parabaixo", e se pretendia tanto econômica quanto politica-mente autogestionária, com-base nas unidades de traba-lho.

'''Em suma, deu-se um processo de socialização ou'coletivizaçãotão ou mais profundo do que na URSSeptre 1918-21, que não significou transformar a proprie-dade privada em estatal - mas,sim, ~neralizou-se acoletivização. Uma socialízação de base." 14

5. CONCLUSOES

Passamos agora à última parte de riosso trabalho. A lei-tura das práticas iugoslava e espanhola nos diz da falên-cia do sistema autogestionário na Espanha e de uma si-tuação "constrangedora" na Iugoslávia. Acreditamos quea comparação entre tais práticas e o proposto teorica-

. mente por Proudhon nos ajude a chegar às causas de talconfiguração de acontecimentos e nos leva a enriquecernossos paradigmas teóricos.

Quadro 7Quadro comparativo da teoria proudhoniana -experiências iugoslava e espanhola autogestionãrias

Questão Proudhon . Iugoslávia Espanha'

Base da revolução Econômica Política EconômicaFederação econômica Sim Sim SimFederação política Sim Sim Sim.(base territorial)

Estado Existe Existe Não existeEstado: poder Sem poder Sem poderPartidos políticos (?) Ünico DiversosPropriedade agrícola Privada Privada PrivadaHerança Sim m. NãoPropriedade industrial' Social Social SocialRemuneração P/produção P/produção . P/produçãoEducação A todos Aumentou AumentouTecnocracia 'Nã'o Sim NãoAutonomia empresas Totál Relativa RelativaClassíficação teórica Autogestão Co-gestão A~togestl[o '

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Analisaremos .algumas das questCles consideradas.por nós de maior importância - seja pela importânciausualmente dada a elas, seja por convicção própria -de forma relativamente superficial,. para ao fim dotrabalho concluirmos da sua importância para o pro-cesso que consideramos relevantes no desenvolver dasociedade. ' .

A primeira questão que se nos coloca é: como che-gará um sistemaautogestionário?

Se por um lado a Espanha o faz por meio dos me-. canísmos. da economia (tomada de fãbricas e das terras),com o que certamente estaria de acordo Proudhon, aIugoslávia dá início ao seu processo aiitogestíonâriopor meio de uma ação política (o. partido instauraa autogestão), Este fator é constantemente apontadocomo causa da atual situação (não considerada estrita-mente gestíonáriaj.da Iugoslávia. '

O segundo ponto que nos parece "digno"de seranalisado diz respeito à forma de organização das uni-dades econômicas. Constatamos que nas três vertentes(teórica, espanhola e Iugoslava) as unidades econômicassão consideradas como as unidades fundamentais do sis-.tema autogestionário. Do mesmo modo, são agrupadasde forma a resultarem em federações.vrespeítàndo adimensão territorial, de sorteque, ao menos teoricamen-te, o trabalho seja considerado a atividade fundamentalda sociedade, concomitantemente ao fato. de asnecessí-dades locais serem consideradas como "merecedoras" désoluções locais.

Ainda no campo da organização federativa daeconomia e da política, percebemos na Espanha as mes-mas unidades econõmícas dando origem à federação ter-ritorial e à federação por "ofício", de forma semelhan-te ao proposto por Proudhon, excetuando-se o sindica-to de consumidores, ao passo que na Iugoslávia conse-gue-se' distinguir facilmente a federação econômica dafederação territorial.

Por outro lado, a derivação das organizações econô-micas para as políticas levou Proudhon à consti tuíçãode um Estado submetido à sociedade, levou a Espanhaa uma ausência de Estado, e a Iugoslávia à pragmatízaçãode um Estado que divide o poder decisório social com oaparelho administrativo das empresas.

Com relação a esta questão deveríamos tambémconsiderar que a breve existência da autogestão espa-nhola' deixa-nos a dúvida: .não tomariam, com o tempo,a CNT e a UGP as rédeas do poder?

Aproveitemos este momento p'ara dar destaque àdiferença dos períodos analisados no caso espanhol eno caso iugoslavo. Se, por um lado, utilizamo-nos de

-dados reaisexperiméntados pela Iugoslávia nestas trêsdécadas, valemo-nos de fatos reais e também de inten-ções (não instituídas na prática) no caso espanhol, oque nos leva certamente a "distorções metodológicas".Embora tenhamos considerado este fator desde o iní-cio do trabalho, não .o julgamos impeditivo de realizarnossos objetivos.

Específícamente, no campo político constatamosuma ausência de preocupáção com relação aos partidospolíticos por, parte de Proudhon, uma preocupação ma-nifesta na Espanha, no sentido em que deveriam exis- .tir tantos partidos políticos quantos surgissem, e aexistência de um único partido. - a liga dos Comunís-tll5 -' na Iugoslávia .. Vale a pena ressaltar aqui que o

Revista de Administrap1ode' Empresas

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colapso do sistema autogestionário espanhol deveu-seà aliança entre facções políticas autogestionárias e aburguesia. ,

Voltemo-nos, agora, às questões de fundamentação- numa primeira instancia - econômica: propriedade,excedente,distribuiçllo de renda.

Com relação à' propriedade agrícola, sabemo-Iaprivada tanto na Espanha e Iugoslávia quanto na teoriaproudhoniana. No entanto, embora não tenhamos dadosa respeito do sistema iugoslavo, o sistema espanhol nãofaz concessão à herança, considerada por Proudhoncomo justa e cabível à medida que poderia ser conside-rada como fruto de trabalho do indivíduo. Quanto ,àpropriedade dos meios de produção industrial, pode serconsiderada nos três prismas como social, à medida quenão se define, a não ser coletivamente, os "donos deempresas" .

Os três sistemas' mostram-se concordes ainda comrelação à distribuição da reúda nos centros produtivos:a cada um segundo a quantidade de trabalho realizado.Isto é facilmente percebido à medida que o trabalhadortem direito à parcela das receitas obtidas pelo centroprodutivo a que pertence, segundo critérios qu~ elemesmo (ou o Conselho a que pertence) estipula; Istonão impede, no entanto, que os indivíduos - confor-me ressaltou Proudhon -'- estejam diferentemente pre-parados para uma mesma atividade, o que levaria, natu-ralmente, a grandes disparidades de remuneração por ummesmo período de trabalho. Seguindo esta linha depreocupação, constatamos que o aspecto ensino formaltem sido uma preocupação do sistema iugoslavo, da mes-ma forma como o foi no sistema espanhol.

Resta-nos, ainda, a questão do poder, de decisão;sobre a vida individual, empresarial, territorial. A inexis-tência de uma tecnocracia - percebida por Proudhoncomo fundamental - não se 'mostra uma tendênciana Iugoslávia; ao contrário, segundo os estudos realizados(como já vimos no texto referente a este país), a ocupa-ção tanto dos cargos administrativos nas empresas comodos cargos dos organismos políticos não obedecem a umsistema de rodízio entre todos os elementos da popula-ção: algumas poucas pessoas, embora eleitas, mantêm-se na situação privilegiada de tomar decisões em ques-tões controversas e em questões de relacionamentos comórgãos externos à autogestão,

Se, por um lado, constatamos a permanência no po-der de um grupodeflnido, sabemos que esta .manuten-ção não é (totalmente) ilegítima. A votação, direta ouindireta, se faz presente em quase todas as instituiçõesautogestionárias (não podemos esquecer que alguns car-gos silo nominativos). Acrescentando a esta percepçãoo fato de a maioria dos trabalhadores declararem-semais (e quase exclusivamente) interessados em "decidira respeito de questões próximas a ele, a curto prazo,acreditamos chegar a uma questão crucial do sistemaautogestionârío: se as pessoas, consideradas individual-mente, não estão dispostas a resolver e decidir a respeitode problemas que não lhes dizem respeito proximamen-te, como se viabilizará um sistema autogestionário? 1!com esta preocupação que desenvolvemos os parágrafosseguintes. .

Antes de chegarmos às nossas conclusões a respeitode uma análise dos três enfoques escolhidos para conhe-

,Autogmõo

cera autogestão, consideramos,ainda dentro da questa:o"poder", a autonomia dos centros produtivos. Tal auto-nomia, segundo o teórico, deveria ser total, contantoque não prejudicasse as necessidades da comunidade; noentanto, encontramos na Iugoslávia uma freqüente inter-venção do partido político e dos órgãos sócio-políticos, 'e na Espanhal, -ernbora não de forma explícita, a interfe-rência da csr, o que nos leva, a relativizar a autonomiados centros produtivos em ambos os sistemas autogestio-nârios.

Uma vez expostas - acreditamos objetivamente -.algumas das características dos três sistemas autogestio-nários cple nos propusemos estudar; passamos, neste mo-mento, a encará-las com maior dose de ideologia, de for-ma a chegar às nossas próprias conclusões a respeito doassunto. '

Da mesma forma que a pluralidade de opiniões (con-flítantes) leva ao colapso da autogestão espanhola, onãodesejo de participar em algumas questões globais, porparte dos trabalhadores iugoslavos, leva o seu sistemaautogestíonário a descaracterizar-se como tal. Percebe-mos em ambos os casos os frutos de uma educação nãoautogestionárià: um individualismo latente, individualis-mo este que não se traduz em uma composição socialdo indivíduo, mas .numa alienação quanto ao .desenvol-vimento da sociedade.

Tal fato nos remete a uma questão de caráter inti-mista: se nem mesmo nós próprios temos consciência -na vida particular de cada um - do que é ou deixa deser "bom" para nós, o que se dirá das decisões tomadaspor um grupo exterior a nós, em nosso nome. Este gru-po pode, por vezes" "acertar", por vezes, "errar"; mas ofato é que, a não ser raramente, receberá o feedback pa-ra suas ações, suas atitudes, sua tomada de decisão. Acre-ditamos que só a experiência pessoal pode nos levar aumconhecimento do que realmente desejamos.

Desse ponto de vista ~ ideológico, já ressaltamos -acreditamos que qualquer forma de participação nas de-cisões referentes a nossa própria existêncía (e, conse-qüentemente, da existência da sociedade) - seja demo-cracia indireta, direta, co-gestão, autogesta:o - mostra-se válida no sentido de uma evolução mais justa e coeren-te da sociedade, à 'medida que se dirija, sem retroces-sos, a uma forma cada vez mais dependente de nós mes-mos para dar continuidade à sua evolução.

A interpretação que damos às experiências iugoslavae espanhola nos indica que elas seguem o raciocíniodesta linha de pensamento, ou seja, mostram-se, emborarebatidas ao plano teórico de formas -dístíntas, passossignificativos à possibilidade de uma convivência harmo-niosa de nós mesmos com a sociedade que nos cerca.

*Agradeço ao Prof, Fernando Cláudio Prestes Morta, 'do Departa-mento de Administração Geral da EAESP/FGV, não só a idéiae o.título, mas também o despertar da dimensão política.,

ss

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1 .Ver Boutdet, YvOll cl Guil1erm, Aalic. ","ro,emIO: 111MmudlUlÇaradical. Rio de JlIleiro, Zahar, 1976.·p. 9 sep.2 Proudhon, P.J. De 111 ftutice pouratbM dJuu 111 RtvolatiOllet dan, l'Église. Estudo IX, "Progrés et d6cadence. P~s, ~tions Mareei Rivi~re, 1932. p. 517 sep.ln:"otta,FernandoC.p.Burocracia e QIlto~,t/lO:a propolta de Protidhon. SIo Paulo,Bruiliense, 1981. .:J Proudhon, P.J. QÍle.t·ce que la propl"kt~? Paris, 'f:ditionsMarcel Rívíêre, 1926. p. 164. Apud. Motta, Fernando C. P. op.cito .' o

4 Motta, Fernando C. P. op. cit, p. 98.5 Ver o Proudhon, P-J. Manuel du sp!culateur dans la bourse.Paris, Lacroix, S. d. p. 25. In: Ansart, Pierre.. Sociologfe deProudhon. Paris, Ptesses Universitaires de France, 1967, p. 106.Apud. Motta, Fernando C. P,op. cito6

7Motta, Fernando C. P. op. cito p. 102.Id. ibid. p. 71.

8 Proudhort., P.l. Systeme de contradictions économiques:phi1osophie de la misCre. Paris, tditionsMarcelRiviêre, 1923. t.l,p. 138 segs;, Apud Motta, Fernando C. P. op. cito9 Motta, Fernando C. P. op. cito p. 72.10 Prou4hon,P.l. Sy~Umede contrrldictionB. •.• op. cito t.I, p,89, ApudMotta, Fernando C. P. op.cít.11 Proudhon reconhece, no entanto, a importlncia que a pro-príedade privada' teve para o desenvolvimento da prodúção, vistoque propiciou a acumulaçlo de excedente a ela necessária. Destaforma,.a noçlo de roubo necessita ser vista dialeticamente; nlose pode excluir as funçOes históricas, econGmicas e sociais dapropriedade. Ver Motta, Fernando C. P. op: cito12 Motta, Fernando C. P. op. citop. 82.1 3 Ver Proudhon, P.J. A vtrtirsement QIlX proprletllins. Paris,);ditions Marcel Riviere, 1938. p. 195. Apud Mott, FernandoC.P.op. cito ,14 Bancai, Jean. Proudhon: plul'rlli8me et _to,e1'ti~. Paris,Aubier-Montaigne, 1970. p. 79. Apud Motta, Fernando Co P.op. cito15 Motta, Fernando C. P. op. cito p. 75.16 Gurvitch, Georges. Idée de droit socjal. In: Bancal,.Jean.op. cito V. I, p. 68. Apud Motta, Fernando C. P. oP. cito17 Motta, Fernando C. P. op. cito p. 79.1 8 Cabe aqui ressaltar que Proudhon pretende encontrar notrabalho o valor de troca. Os Salários, os capitais e os lucros apre-.sentam-se como tendo origem comum no trabalho: o trabalhoé a única medida universal, a medida exata dos valores; é o únicopadrão que pode servir para comparar os valoeesdas mercado-rias, em todas as épocas, em todos os lugares. Ver Proudhon, P.J.De la Création de l'ordrt clima I'humJIII;~. Paris, Gamicr, 1849.p. 296 e 302; e .AJltl'tiuementllWC •.. op.cit.p.189 segs. Apud Motta, Fernando C. P. op. cito19 'Escrito muito antes de qualquer. contato com Marx, o tra-balhismo histórico nlo é uma verslo do materialismo histórico,mas pode perfeitamente tê-lo inspirado. Ver Motta, FernandoC. P. 6p. cito p, 81.20 Motta, Fernando C. P. op. cito p. 134.21 Ver Proudhon.Sy'tlme de contrrldktioll ... op. cit. p. 73.Apud Motta, Fernando C. P. op. cito2.2 Motta. Fernando, C. P. op. cito p. 86.23 Id. ibid. p.86.24 Id. ibid. p. 90.25 Id. ibid. p. 100.26 Id. ibid. p. 106 segs.27 Id. ibid. p. 97.28 Id. ibid. p. lQ9.29 Id. ibid. p. 104.

3" Id. ibid. p. 99.

56

31 Id. ibid. p. 112.32 Id. ibid. p. 113.

33 Id.ibid. p.114.341d. ibid. p. 100.35 Desjardins, Arthur. P.J. Proutihon: lItI Jlie,"r tJeUJlrn,SIl

doctrlne.Pierre et Cie. übraites tditeurs, 1896. t. 2, p. 181.Apud Motta, Fernando C. P. op. cito36 Ver Motta, Fernando C. P.op. citop. 113.37 Id. ibid. p. 119.38 Id. ibid. p. 121.39 Proudhon, P.J. Sy.tlme de Contradictionr ... op. cito t. 1.p. 108. Apud Motta, Fernando C. P. op. cito4 PrOudhon, PJ.De 111 iu,tice ~mtivit ... op. ~t. Estudo11 ,I.es Biens, p. 70. Apud Motta, Fernando C. P.op. cito4

4

4

4

4

4

4

••

Motta, Fernando C. P. op. cito p. 146.

Id. ibid. p. 146 sep., Id. ibid. p. 129 ~gs.Id. ibid. p. J55. i

Motta, Fernando C. P.op. citop. 125.Id. ibid. p. l'26.

Id. ibid. p. 132.Id. ibid. p. 134 sep.Id. ibid. p. 134 segs.Id. ibid. p. 134.

Id. ibid. 1" 134 segs.Id.ibid. p. 142 sego

4 Proudhon, PJ. La Gume et la paix. Paris, f:ditions Ma,rcelR viere, 1927. p. 477. Apud Motta, Fernando C. P. op. cit.5

5

5

5 Proudhon, P-J.ldle gineraJe de la r~JIOlutionstIU X/~si te. Paris tditions Marcel Riviere, 1923. p.73. Apud Motta,F mando C. P. op. citos Ib.. ibid. p. 279. Apud Motta, Fernando C. P. op. cito

Motta, Fernando C. P. op. cito p. 156.Id. ibid. p. 157.

5

5

6

Id. ibid, p. 157.Id.ibid.p.157.Id. ibid. p. 158.

6 Proudhon,P.J. De lacllpQcit~politique des classesouvnéres.P is l!ditions Maicel Rimre, 1924. p. 212. Apud Motta, Fer-

do C.P. op. citoMotta, Fernando C. P.op. cito 158.Id. ibid. p. li1.

6

6

Id. ibid. p. 161.Id. ibid. 161.Id. ibid. p. 161 segs,Bancai, Jean. ProUdhon: plurali8me et ... op. cito p. 100.

ud Motta, Fernando C. P. op. citoVer Motta, Fernando C. P.op. cito p. 165.

Id, ibid. p. 165.Ver Hunnius, Gerry; Garson, G.. D. &; Case, John, Workers'

c trol.New York. Vintage Books/Randon House, 1973, p. 270.Venosa, Roberto. A InrtitucionalUQí60 de tipolvgias oro

uai:ionai,: um e,tudo dectUo; a tlUto~.t60 na lugosldvia.F 'burgo, RJ, 1981. p. 9 sep. mimeogr.7 Id. ibid. .

Hunnius, Gerry et alii. op. citop. 274.Da reunifo destes elementos nasce a crítica de L. Tradic:

• n a essayé de chaJller quelque chose apres la rupture avec I'S. En Union Sovietique, o üexiste une planification vureau-

Rni#IIde Âd~ de Emprelltl8

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cratic: je la nomme plaDification ministenetle. On a réq! contrecette formHá en assimilaDt à toute plaDification. Done, au Iieude chercher une nouve1le façon de planifierm on 'a inventé ]esystême du 'h"bre march~ socialiste autoaestionaire', c'est à. dire,qu' ona reintroduit dans la politiqile éCODomique une loi demarché caracteristiquedu .5Ysteme capitallste, mais d'une façonstres archaique. On a instauré une économie de'laissez-faire,laissez-passer' que· était íe' prope de l'éconorDic bouqeoise duX1Xe siécle, lans. lU.cun controle. Les interprises sont en con-

. courrence SUlles marcMs intérieur et intemational et il y a desentraves três fortes à la solidarité de la classe .ouvnere étantdonné les cüfferences des tratemenu entre unités, d'ou l'impor-tance des égoismes de groupe." Autoge,tiOlll, n96, Toulowe,Editions Privat, é16 1981.

75 Wachtel, Howard. Worker's manasement and wqe diffe-rentials in Yugoslavia. Ph.D. dissertwon, Universit)r ofMichi-pn, 1968. p. 1 mimeogr. Apud Hunnius. Gerryet alii. op. cito16 Ver Pesakovick, MiJentp. Twenty]letUS ollellmtlllllgementin Yugoll4via. Belgrado, Medunarodna Politika, 1970. Apud.Hunnius, Gerry et alii. op. cito77 Ver Kardelj, tdvard. 1JrelJl'tem olplamign in a ,oé~ty 01lell Management. Belgrado, STP,1976. Apud. Hunnius. Gerry etalii. op. cito78 'Worker'sMaNlgementin Yugoll4via (19$9-1979). Belgrado,Medunarodna Politika, 1970, p. 36. Ver também artigo X, § 2 daConstituição da SFRY, 1963,79 Adizes, Ichak./ndu,triIIl democrGc]I: yugoilav .tyle - lheel1ect 01 dncentralization on .organizlltiolflll behavior. NewYork, The Free .Press, 1971. p. 4 segs, Apud Hunnius Gerry etalii. op. cito .80 Sabe-se que os quadros admiÍlistrativos sIo sempre ocupa-dos pelos mesmos elementos que se revesam nos cargos específi-cos, caracterizando a fonnaçio de uma tecnocracia na Iugoslávia.81 . Hunnius, Gerry et alii. Op. cito p. 279.8l Adizes, Ichak. op. cito p ..47. Apud Hunnius, Gerry et alii.op.ciL -83 Ver Hunnius, Gerry et alii. op. cito p. 281 segs.

84 Id, ibid. p. 293.15 Motta, Paulo Roberto. Autogestlo: a ex,periência empresa-rial iugoslava. Revi,ta de Adminiltraçlio Pública, Rio de Janeiro,14 (1) : 19, Rio de Janeiro,jan./mar. 1980.86 Ver Hunníus, Gerry et alii~op.cit. p. 294 .•87 Ver Motta, Paulo Roberto. op. cito p. 1I,seiS.81 Venosa, Roberto. L'Autogestión en Yougostave. These dedoctorat de 3.eme cycle. 1979. mimeogr. .89 Obradovic, Jósip. Diltrlbuition and participatio;, on. theproce" 01 tUci,ion nuzlcingon problem, relllted to the economic

Autogelt4'o

M:tivity 01 t'le enterprise. First Int'l conference on self-manage-meRt and participation. DUbrocnik, 1972. V. 2, p. 136 segs.90. Veno~,Roberto.L 'Autogestion ... op. cito p. 102.91 ZUPlllov, Josip. Participation .and influence. In: Horvat,Branko et alii. Sell govemingwcialism. New York, Int'l Artsarid Sciences Press, 1975. V. 2;p. 76 segs.92 Venosa, Roberto. L 'Autoge,tion ... op. cito p. 103 segs,93 Obradovic, Josip. Distribution and participation ... op. cit,V. 2.p. 136 segs.; Venosa, Roberto. L'Autogestion ... op. cito94 O termo comunidade sócio-política refere-se a comunas,províncias, repúblicas e federação. As organizações sócio-políti-cas incluem a Liga,a Aliança Socialista, os sindicatos etc.95 Ver Hunnius, Gerry et alü. op. cito p. 274.96 Id. íbíd, p. 273.97. Mijalko Todorovic - secretário do comitê executivo da Liga+. assim resume o principal problema da Liga: The League'sprincipal weakness today springsprimarilY from its still over-areat amalgamation with power, the slow process of democrati-zation of relations within it, its insuitable structure, and theideological heterogeQeity among its ranks." Todoroviç, Mijalko.A Rewlutionary vanguard - the abiding need of our self-manag-ing community. ln: SociIIlilt 'I7IOught tmd Practice, (31): 17July-8ep. 1968. Apud HunJuus, Geiry et alli. op. cito .1/8 Ver Hunnius, Gerry et alii op. cito p. 274:

/99 Id. ibid. p. 285100 Id. ibid. p. 286.101 Id. ibid. p. 287.102 Venosa, Roberto. L 'Autoge,tion : .. op. cito p. 30.10.3 Id.ibid. p. 32e 39.10.4 Zupanov, Josip. op. cito p. 76 segs,105 Id. ibíd. p. 76 segs,106 Horvat, Brank.o et alii. op. cito V. 1, p.33 segs.107 Trll8temberg, Maurício. A coletivízaçâo direta comocatego-ria administrativa: Espanha 1936-39. Fundaçlo GetUlio VarglS,S. d. p. 7 segs, mimeogr.10.8 Santilltn,Diego Abad. Organismo econômico dtl revoluçtfo:autoge,tiio na RellOluçãoErpaMola. SIo Paulo, Brasiliense, 1980.

10.9 Tragtemberg, Maurício. op. cito p. 2.110 Id. ibid. p. 1.111 Santillán, Diego Abad. op. cít, p. 188.112 Trlltemberg, Maurício.,op. cito p. 8. segs,113 Id. ibid, p. 1. segs.114 Id, ibid. Apud Santillán, Diego. op. cito p. 8.

Renove •sua assinatura. atempo

"Llvrar/IIS d. FGv:R;o - PraiB de Boufogo, 188SIo PllUlo - Noved. Julho, ~029B,..I/;8 - eLS 104,Bloco A, loj.37

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