impÉrio - scielo

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RESENHA IMPÉRIO 110 ©RAE VOL. 42 Nº 4 IMPÉRIO Por Peter Pál Pelbart Doutor em Filosofia e Professor no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP. E-mail: [email protected] A nova ordem imperial e seu avesso A impressão que se tem ao ler Im- pério, escrito a quatro mãos pelo pen- sador e militante italiano Toni Negri juntamente ao jovem filósofo norte- americano Michael Hardt, é a de ter em mãos, finalmente, um claro mapa do mundo contemporâneo. A excita- ção intelectual que toma o leitor ao embrenhar-se em suas 500 páginas vem do fato de que os autores tive- ram a coragem de pensar o contexto atual em sua abrangência maior, pla- netária, com um fôlego que não se via há tempos: leitura ao mesmo tem- po histórica e filosófica, cultural e econômica, política e antropológica. A partir dela, aparecem os novos pro- cessos de dominação e assujeitamen- to que se instalaram nas últimas dé- cadas, bem como as novas possibili- dades de reversão. Não faria sentido resumir em poucas frases o rico en- quadre teórico proposto pelos auto- res, inspirados em um arco concei- tual que vai de Maquiavel a Foucault, de Espinosa e Marx a Deleuze-Guattari, e no prolongamento de uma obra an- terior de Negri, intitulada O poder constituinte (que acaba de sair agora, pela D&PA, em excelente tradução brasileira). Melhor seria escolher três linhas de força que atravessam o pen- samento dos autores, para dar uma pequena idéia do vigor e relevância de sua empreitada teórica. O Império O Império não é uma entidade política ou nacional localizada, é antes uma lógica presente por toda parte, uma estrutura de poder que se generalizou, uma nova forma de soberania correspondente à fase atu- al do capitalismo mundial integra- do. O Império é sem limites nem fronteiras: engloba a totalidade do espaço do mundo, apresenta-se como ordem a-histórica, eterna, de- finitiva, e penetra na vida das popu- lações, não só nas interações, mas no corpo, na mente, na inteligência, na afetividade. Jamais uma ordem po- lítica avançou a tal ponto em todas as dimensões, recobrindo a totalida- de da existência, o espaço, o tempo, a subjetividade, a vida. No entanto, e é esse um dos pontos fortes do li- vro, esse poder já não se exerce ver- IMPÉRIO (trad. Berilo Vargas) De Toni Negri e Michael Hardt Rio de Janeiro : Record, 2001.

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RESENHA • IMPÉRIO

110 • ©RAE • VOL. 42 • Nº 4

IMPÉRIO

Por Peter Pál PelbartDoutor em Filosofia e Professor no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.E-mail: [email protected]

A nova ordemimperial e seu avesso

A impressão que se tem ao ler Im-pério, escrito a quatro mãos pelo pen-sador e militante italiano Toni Negrijuntamente ao jovem filósofo norte-americano Michael Hardt, é a de terem mãos, finalmente, um claro mapado mundo contemporâneo. A excita-ção intelectual que toma o leitor aoembrenhar-se em suas 500 páginasvem do fato de que os autores tive-ram a coragem de pensar o contextoatual em sua abrangência maior, pla-netária, com um fôlego que não sevia há tempos: leitura ao mesmo tem-po histórica e filosófica, cultural eeconômica, política e antropológica.A partir dela, aparecem os novos pro-cessos de dominação e assujeitamen-

to que se instalaram nas últimas dé-cadas, bem como as novas possibili-dades de reversão. Não faria sentidoresumir em poucas frases o rico en-quadre teórico proposto pelos auto-res, inspirados em um arco concei-tual que vai de Maquiavel a Foucault,de Espinosa e Marx a Deleuze-Guattari,e no prolongamento de uma obra an-terior de Negri, intitulada O poderconstituinte (que acaba de sair agora,pela D&PA, em excelente traduçãobrasileira). Melhor seria escolher trêslinhas de força que atravessam o pen-samento dos autores, para dar umapequena idéia do vigor e relevânciade sua empreitada teórica.

O ImpérioO Império não é uma entidade

política ou nacional localizada, éantes uma lógica presente por todaparte, uma estrutura de poder quese generalizou, uma nova forma desoberania correspondente à fase atu-al do capitalismo mundial integra-do. O Império é sem limites nemfronteiras: engloba a totalidade doespaço do mundo, apresenta-secomo ordem a-histórica, eterna, de-finitiva, e penetra na vida das popu-lações, não só nas interações, mas nocorpo, na mente, na inteligência, naafetividade. Jamais uma ordem po-lítica avançou a tal ponto em todasas dimensões, recobrindo a totalida-de da existência, o espaço, o tempo,a subjetividade, a vida. No entanto,e é esse um dos pontos fortes do li-vro, esse poder já não se exerce ver-

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ticalmente, desde cima, de maneiratranscendente. Que o poder está portoda parte, que não seja localizadoou centralizado, que não paire aci-ma da sociedade, significa apenasque sua lógica se modificou: ele seexerce agora de maneira mais ima-nente. A soberania tornou-se ima-nente ao capital – é a subsunção realda sociedade mundial ao capital. Éo que os autores chamam, prolon-gando uma intuição de Foucault ede Deleuze, de passagem da “socie-dade disciplinar” para a “sociedadede controle”. Uma sociedade disci-plinar funciona através de disposi-tivos disciplinares e mecanismos deinclusão e exclusão tais como a pri-são, a escola, o manicômio, o hos-pital, a universidade, etc. Ora, sabe-se que tais instituições entraram emcolapso, porém sua lógica foi disse-minada. Uma sociedade de controlepode prescindir dessas instituiçõesdisciplinadoras (por isso parecemuito mais democrática, flexível,aberta), pois seus mecanismos, maisdifusos, ondulantes, “imanentes”,incidem mais diretamente sobre oscorpos e as mentes dos cidadãos,seja através de sistemas de comuni-cação, redes de informação, ativida-des de enquadramento etc. Essesmecanismos são interiorizados, ereativados pelos próprios sujeitos,no que os autores chamam de umestado de alienação autônoma.

Através de redes flexíveis, modu-láveis e flutuantes, o poder muda asua cara, mas também sua extensão,seu alcance, sua penetração. Ele tor-na-se uma função integradora davida da população. Foucault cha-mava a atenção para o surgimentode uma modalidade de poder quetoma por objeto a vida da popula-ção, e que ele denominou biopoder.Os autores seguem essa trilha e aaprofundam, assinalando o quantoagora o poder se encarrega da pro-

dução e da reprodução da própriavida, penetrando corpos e consciên-cias, organizando a totalidade desuas atividades. É a dimensão bio-política da sociedade de controle.Quando o poder se torna inteira-mente biopolítico, o conjunto docorpo social é abraçado pela máqui-na do poder, integrando suas múl-tiplas dimensões e atingindo o pró-prio bios social.

A multidãoPoderia parecer, pela breve des-

crição de algumas característicasevocadas até aqui, que a totalizaçãoproduzida pelo poder imperial es-vaziou o campo da conflitualidadepolítica. Ora, é aí que intervém umadas linhas mais instigantes desse tra-balho, ao conduzir a análise para onível do corpo biopolítico coletivo,de sua produtividade própria e doespaço de comunialidade que elecria. Basta tomar a reconfiguração dotrabalho, e a tendência crescente dotrabalho imaterial (informação, ciên-cia, comunicação, serviços, cuidadoetc) de constituir rede, de dar-se porassociação, de instaurar cooperaçãoe espaços comuns de comunicação.Mais e mais o trabalho aparece comoatividade produtiva da multidão (enão do capital), de sua inteligência,conhecimento, paixão, afetividade,criatividade, em suma, de sua vita-lidade. Ele produz uma comuniali-dade expansiva, corresponde a umpoder de autovalorização, é poder deagir, poder constituinte. É a multi-dão, e não o Império, que cria, gerae produz novas fontes de energia ede valor. O poder do Império é ape-nas organizativo, não constituinte,ele parasita e vampiriza a riquezavirtual da multidão, é o seu resíduonegativo. “O próprio Império não éuma realidade positiva”, dizem osautores, em uma inversão teóricaque abre uma poderosa linha de es-

cape para pensar a resistência.É como se os autores dissessem:

a lógica imperial do pós-modernoremoveu os últimos obstáculos paraa subsunção real e total da socieda-de ao capital (Estados-nação, públi-co/privado, sociedade civil, institui-ções com função de mediação etc ),vampirizando como nunca o biossocial. Mas com isto, ao mesmo tem-po, pôs a nu as sinergias da vida, ospoderes virtuais da multidão, o po-der ontológico da atividade de seuscorpos e mentes, a força coletiva dodesejo.

ResistênciaA pergunta que fica é como esses

elementos de virtualidade que cons-tituem a multidão podem atingir umlimiar de realização conforme a seupoder, driblando as estratégias im-periais que se esforçam em neutra-lizar a potência subjetiva e explosi-va da multidão, alienando-a de suaprodutividade. O único ponto departida possível é o espaço biopolí-tico (e não público) da multidão,considerado do ponto de vista dodesejo, da produção, do coletivohumano em ação – da geração.Como dizem os autores: “nós somosos senhores do mundo porque nossodesejo e nosso trabalho regeneram-no continuamente”. É a multidãocontra o Império, sua força irrepri-mível de criação de valor, seu traba-lho imanente, suas modalidades decooperação, de comunidade, mastambém de êxodo, de escape, denomadismo.

O leitor termina o livro com vis-lumbres vertiginosos, mas sem pala-vras de ordem nem propostas concre-tas. Ao recensear as formas de resis-tência atuais, desde certos modos dedeserção e defecção, de evacuaçãodos lugares de poder, até a explosãode revoltas virulentas, ora incomuni-cáveis entre si, ora “globalizadas”, os

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autores insistem em que se trata delutas a um só tempo econômicas, po-líticas, culturais, “biopolíticas” – poissão lutas que têm por objeto a formade vida. No entanto, apesar de suaintensidade, e por mais que criemnovos espaços e novas formas de co-munidade, ainda parecem obsoletas.É que uma exigência maior impõe-sea cada dia: a de ir além da recusa,transpôr o Império para “sair do ou-tro lado”. Trata-se de construir, nonão-lugar que as desconstruções dasúltimas décadas deixaram, um lugarnovo. A partir da sinergia da multi-

dão, tecer ontologicamente novas de-terminações do humano, de vida.

Daí a nova imagem do militantena era pós-moderna, diante da dis-solução da figura do povo. O mili-tante não “representa” ninguém, e aolado dos que se revoltam contra oreino do capital, ele resiste de ma-neira criativa, investindo dispositi-vos cooperativos de produção e decomunidade a partir de dentro doImpério (não há como colocar-se“fora” dele). Ao retomar as virtudesda ação insurrecional de dois sécu-los de experiência subversiva, con-

cluem os autores, o militante atualé chamado a ir além, e a participarvitalmente na cooperação produtivada intelectualidade de massa e dasredes afetivas. “Esse militantismo fazda resistência um contra-poder e darebelião um projeto de amor”. A uto-pia que se entrevê nesse tom a umsó tempo cáustico e terno não con-figura um contorno geométrico aca-bado com cores de um outro mun-do, mas apenas prolonga as linhasde força já presentes neste mundo,em um telos coletivo e experimentalda multidão.

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Em Ruling the waves: cycles ofdiscovery, chaos, and wealth fromcompass to the Internet, Deborah L.Spar analisa a evolução das inovaçõescientíficas do início do século XV aténossos dias. Baseado em estudos decaso, o livro mostra que empreende-dores de visão que comercializaraminvenções no mercado mundial forama principal fonte de difusão tecnoló-gica e continuada inovação. No iníciodo século XV, o desenvolvimento detecnologias como o astrolábio e o com-passo foram cruciais nas descobertasrealizadas pelos exploradores espa-nhóis e portugueses. Spar argumentaque os empreendedores exerceram omesmo papel no desenvolvimento deoutras importantes tecnologias, comoo rádio na metade do século XIX e,

RULING THE WAVES: CYCLES OFDISCOVERY, CHAOS, AND WEALTHFROM THE COMPASS TO THE INTERNETPor Gilmar MasieroProfessor da Universidade Estadual de Maringá - PR.

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posteriormente, a televisão por satéli-te, a indústria de software, a Internete a música digitalizada.

O primeiro objetivo do livro, se-gundo a autora, é simplesmente con-tar histórias sobre a fronteira tecnoló-gica – narrativas que são fascinantespor si mesmas e pouco conhecidasfora do mundo acadêmico. O segun-do objetivo é utilizar essas históriaspara unir os atuais desenvolvimentostecnológicos – os da fronteira do co-nhecimento – com suas raízes histó-ricas. O terceiro objetivo é examinaro papel e as regras da inovação tecno-lógica ao longo da história.

Em termos de mercado, a formacomo as regras são estabelecidas nafronteira tecnológica e quem desem-penha o papel principal em sua cria-

ção são freqüentemente mais impor-tantes do que a superioridade da tec-nologia por si mesma. Em essência,Ruling the waves é um livro sobre comoos mercados são estabelecidos e comohomens de negócios e governos, pormeio de esforços cooperativos, mui-tas vezes moldam sua criação.

Como cientista política especializa-da em negócios internacionais eprofessora da Harvard BusinessSchool, Spar tem as credenciais ne-cessárias para analisar essa área. An-teriormente, havia escrito estudos decaso e livros examinando temascomo: a fronteira tecnológica; os as-pectos econômicos e sociais das ino-vações tecnológicas; a tecnologia deinformação; e a Internet, a tecnolo-gia e o Estado. Seu último livro –

RULING THE WAVESDe Deborah L. SparNew York, San Diego, and London : Harcourt, 2001. 403 p.

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Attracting high technology investment:Intel’s Costa Rican Plant –, publicadoem 1998, é de particular interesse.Entre outras obras encontram-se: Thecomparative edge: the internal politics ofinternational cartels (1994) e Beyondglobalism: remaking american foreigneconomic policy (1988), este últimoescrito com Raymond Vernon (1913-1999).

No prólogo de Ruling the waves,Spar delineia o padrão ou fase domi-nante comum de cada estudo de casoapresentado – inovação, comerciali-zação, anarquia criativa e regras, cadauma delas com seu próprio ritmo evelocidade. Os principais atores dashistórias são os “pioneiros”, os “pira-tas” e os “profetas”. Os casos dos “gu-rus” tecnológicos como Marconi,Sarnoff, Murdoch e Gates ilustram ofato de ser a criação de mercados, enão o desenvolvimento de novos pro-dutos ou invenção de novas tecnolo-gias, a chave do sucesso. O mais im-portante é a estratégia empregada pe-los empreendedores tecnológicospara criar mercados – manipular econtrolar o processo de regulamen-tação que substitui velhos padrões eregras por novos que, por sua vez,favoreçam suas tecnologias.

Spar é persuasiva. Segundo ela, osucesso de impérios tecnológicos estábaseado na habilidade de impor nãosó seu direito de propriedade, mastambém de fazer valerem os padrõesque regulam as novas tecnologias ounovos mercados. O que não está cla-ro, porém, é se o estabelecimento deregras e padrões cruciais para o su-cesso das empresas na fronteira da tec-nologia de informação também o épara outras indústrias. Normalmente,as empresas são capazes de adaptarseus produtos para distintos padrõese regras, realizando pequenas modifi-cações. A adoção do sistema métrico,por exemplo, parece ter pouco impac-to no domínio do mercado. Regula-

mentações em países como Inglater-ra, Japão e Austrália, onde os automó-veis possuem a direção no lado direi-to (em vez do lado esquerdo como écomum nas Américas e em quase todaEuropa), não impediram o surgimen-to de impérios tecnológicos na indús-tria automotiva.

No primeiro capítulo, “The firstwave”, Spar descreve como os três sé-culos de desenvolvimento euro-ame-ricano foram impulsionados pelosdescobrimentos da tecnologia de na-vegação, pelas crenças e desejos depioneiros e pelos piratas. A autora sa-lienta o papel e o comportamento dospioneiros, que percebiam oportunida-des e adaptavam-se por meio da ex-perimentação. Nos sete seguintes ca-pítulos do livro, Spar concentra-se naindústria da comunicação. O surgi-mento e a queda dos monopólios te-legráficos no século XIX é discutido,considerando os primeiros esforços deSamuel Morse na comercialização desua invenção – o telégrafo - além dasfronteiras de seu laboratório.

A indústria da comunicação exibeos clássicos atributos da fronteira tec-nológica: a fase de inovação, com in-ventores como Morse e outros, e a faseda comercialização, com uma novacasta de pioneiros como Cooke,O’Rielly e Field, também responsáveispela fase do caos. Eles construírammuitas linhas e códigos diferentes eincompatíveis que originaram proble-mas de coordenação extremamentedifíceis. Para resolver esse caos e as-segurar o sucesso de suas indústrias,os pioneiros foram obrigados a criarregras de acesso – normas, padrões,códigos e preços. Assim, o aparato go-vernamental não desenvolve seu pa-pel critico de regulador nas primeirasfases, mas somente nas últimas duas.

Apesar da importância que Spar dáao estabelecimento de regras, as inte-rações entre empresas e governos, en-tretanto, não são analisadas tão

detalhadamente quanto poderiam.Como regras e padrões são estabele-cidos por governos nacionais ou pormeio de acordos internacionais, ocomportamento governamental podeser tão central quanto o das empresasna determinação do aparecimento eexpansão de dada tecnologia. Porexemplo, os governos europeus forammais intervencionistas na regulação deempresas e mercados que os governosdos Estados Unidos. Infelizmente,Ruling the waves não dá indicações decomo essas diferenças podem serexplicadas. Os argumentos de Sparsobre o ambiente regulatório certa-mente poderiam ser aprofundados pormeio de um análise das diferenças decomportamento dos governos e do im-pacto que as mesmas podem gerar emtermos de avanços tecnológicos.

O livro de Deborah Spar deve serlido por cientistas políticos, econo-mistas e homens de negócios. A obraproporciona uma maior compreensãodas forças que impulsionaram a fron-teira tecnológica nos últimos cincoséculos. A autora apresenta evidên-cia efetiva que os direitos de proprie-dade não são suficientes para garan-tir o sucesso de qualquer empreen-dimento. Coordenação e competiçãoentre empresas, extensivamente des-critas nos casos, também são impor-tantes aspectos do processo. Final-mente, as interações entre governose empresas são da mesma forma cru-ciais, uma vez que estabelecem pa-drões, regulam a competição e, fre-qüentemente, por meio de empresasestatais ou outros arranjos, desenvol-vem a fronteira tecnológica.

O debate sobre como a inovaçãotecnológica é iniciada e sustentada estálonge de qualquer conclusão. Contu-do, pode-se dizer que esse novo livrode Spar traz uma grande contribuição,merecendo ser considerado por todosos envolvidos no desenvolvimento develhas e novas tecnologias.

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PETER PÁL PELBART

MULHER E MITO Georges Devereux. Campinas : Papirus Editora, 1990. 328 p.O autor, etnólogo e psicanalista, aborda a questão feminina e as relações entre os sexos por meio daanálise da mitologia grega, suas deusas e heroínas e as interpretações da Psicologia e da Psicanálise.Para Devereux, “o valor igual de homens e mulheres está no fato de que, em uma espécie sexuada, ohomem pressupõe a mulher como a mulher pressupõe o homem. Sua diversidade garante o sentido decada um dos dois e prova a igualdade de seu valor”. Livro para quem aprecia mitologia e psicanálise.

DESLOCAMENTOS DO FEMININO – a mulher freudiana na passagem para a modernidade Maria Rita Kehl. Riode Janeiro : Imago, 1998. 345 p.O feminino e a Psicanálise são o foco deste livro. A autora, psicanalista, aborda, como diz o própriotítulo de seu trabalho, os deslocamentos que a mulher, na modernidade, faz ao longo da vida paradeixar de ser, tão somente objeto de desejo do outro para ser, também, sujeito desejante e sujeito deum discurso que lhe é próprio, tornando-se o ser de linguagem e cultura de que fala a Psicanálise.A proposta da autora é, pois, em suas palavras, “examinar e contribuir para ampliar o campo apartir do qual as mulheres se constituem como sujeitos.”

GENDER, POWER AND ORGANISATION – a psychological perspective Paula Nicolson. London and New York :Routeledge, 1996. 174 p.A autora examina as formas pelas quais a estrutura patriarcal interfere na vida cotidiana da mulhere em seu progresso na carreira profissional e os impactos psicológicos desta estrutura na construçãoda própria subjetividade, na auto-estima e na identidade de gênero, bem como suas implicações nasaúde física e emocional da mulher. Discute o papel do feminismo para a compreensão da vidaorganizacional e a elaboração de estratégias de apoio recíproco diante das dificuldades que as mu-lheres enfrentam na carreira profissional.

GENDER, SYMBOLISM AND ORGANIZATIONAL CULTURES Silvia Gherardi. London, Thousand Oaks, New Delhi :SAGE Publications, 1995. 202 p.A autora, socióloga italiana, coloca sua própria experiência cotidiana e suas pesquisas para ilustrara temática. Trabalha com o pressuposto de que um discurso sobre gênero é sempre um discursopolítico e que as culturas organizacionais diferem conforme o simbolismo de gênero adotado. Argu-menta que a desigualdade de gênero está tornando-se embaraçosa em sociedades ditas democráticase propõe formas mais criativas nas relações de gênero através da pluralidade de vozes.Livro extremamente instigante para quem se interessa pela questão de gênero nas organizações.

ORGANIZATIONAL CHANGE & GENDER EQUITY – international perspectives on fathers and mothers at theworkplace Linda L. Haas, Philip Hwang, Graeme Russell Editors. London, Thousand Oaks, New Delhi : SAGEPublications, 2000. 291 p.Esta coletânea de artigos aborda três grandes temas em diferentes países de três continentes. Oprimeiro tema trata da questão do trabalho e da vida familiar e os possíveis arranjos do casal frenteà dupla demanda; o segundo diz respeito às diferentes políticas organizacionais face à dupla de-manda; e o último tema trata de mudança organizacional e equidade de gênero. O livro avança nosentido de integrar esferas sociais tradicionalmente vistas como excludentes. O ingresso da mulherno mercado de trabalho tem levado a sociedade e as organizações a repensarem novas formas dearranjos sociais.Tema de interesse para o campo da Administração, estudos internacionais e políticas de gênero.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

A MULHER, O FEMININO E AS ORGANIZAÇÕESQuando se pensa em bibliografia indicada sobre mulher e fe-minino em uma revista de Administração de Empresas, a pri-meira idéia que ocorre é que a abordagem seja sobre mulher,trabalho e organizações no sentido mais estrito do tema. Po-rém, Maria Irene Betiol, professora do departamento de Fun-damentos Sociais e Jurídicos da FGV-EAESP, opta por suges-

tões que contemplem também outros olhares sobre a temática:aquele da Psicanálise, da Sociologia, da Psicologia, da Antro-pologia e da Política. Abordagens que possibilitam uma análi-se crítica do longo processo de inserção da mulher na socie-dade ocidental em busca da cidadania e da construção de simesma como sujeito na história.

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CREATING SHAREHOLDER VALUE: A guide for managers and investors Alfred Rappaport. New York The FreePress, 1998 – revised and updated. 205 p.Rappaport é um dos pioneiros na apresentação metodológica do conceito de Criação de Valor aoAcionista. Utiliza os conceitos do Lucro Econômico e de fluxo de caixa descontado como instru-mentos de avaliação da administração e evolução da performance das empresas. Põe em evidênciaas deficiências que os conceitos tradicionais de análise apresentam e as diferenças e benefícios pro-porcionados pelo uso da metodologia de Criação de Valor no estabelecimento de estratégias empre-sariais e remuneração aos gestores.

THE QUEST FOR VALUE – A guide for senior managers G. Bennett Stewart, III. Harper Business, New York, NY –1991 – 781 p.Neste livro, Stewart introduziu a metodologia do EVA‚ – Economic Value Added. Desenvolve osconceitos demonstrando as vantagens da utilização da abordagem com foco na Criação de Valor aoAcionista - EVA‚ para a correta análise do desempenho econômico-financeiro da empresa, quandocomparados com os conceitos tradicionais de análise. Demonstra a utilização da metodologia com aaplicação das fórmulas tomando empresas como exemplos. Defende o uso do EVA‚ para o estabele-cimento da remuneração variável e apresenta instrumentos a ser utilizados na definição dos incen-tivos aos gestores que criem valor ao acionista.

VALUE BASED MANAGEMENT. The Corporate Response to the Shareholder Revolution John D. Martin e J. WillianPetty – Harvard Business School Press, Boston - 2000 - 249 p.Martin e Petty apresentam os conceitos e instrumentos para a utilização do VBM, metodologia quetem a finalidade de direcionar a administração da empresa para a criação de valor ao acionista.Demonstram que as principais metodologias que defendem a criação de valor ao acionista, utilizamentre outros conceitos, o tradicional método do fluxo de caixa descontado, para avaliar novas opor-tunidades de investimentos. Apresenta as vantagens e desvantagens com o uso dos métodos e acontribuição para a criação de valor, como também faz a conexão com o sistema de remuneraçãovariável aos gestores.

IN SEARCH OF SHAREHOLDER VALUE. Managing the drivers of performance Andrew Black, Philip Wright e JohnE. Bachman – Pitman Publishing, London 1998 – 292 p.Os autores descrevem os conceitos da metodologia de criação de valor, usando os direcionadoresde valor das atividades como indicadores chaves de medidas, bem como os instrumentos ao quala criação de valor pode ser mensurada. Apresentam os conceitos para a determinação do customédio ponderado de capital e demonstram as aplicações da criação de valor em vários setores epaíses.

THE VALUE IMPERATIVE. Managing for Superior Shareholder Returns James M. McTaggart, Peter W. Kontes eMichael C. Mankins – The Free Press, New York, N.Y. 1994 – 366 p.Os autores defendem que a administração de valor deve ser direcionada ao objetivo estratégico daempresa para se obter, consistentemente, a criação de valor ao acionista. Demonstram a amplitu-de conceitual do tema e a necessidade de entender e aplicar os direcionadores de valor nas ativi-dades da empresa e/ou unidades de negócio. Enfatizam o uso da estratégia como instrumento deadministração para melhorar a performance da empresa que tem como objetivo a criação de valorao acionista.

CRIAÇÃO DE VALOR AO ACIONISTACriação de Valor ao Acionista é um tema atual que vemsendo divulgado na literatura pela área financeira. Entre-tanto sua abrangência é ampla atingindo a estratégia, mis-são e valores da empresa como é possível observar na listaque se segue elaborada pelo Professor Oscar Malvessi, con-sultor e professor adjunto do departamento de Contabili-dade, Finanças e Controle da FGV-EAESP.As metodologias com foco na Criação de Valor ao Acionista

se diferenciam das demais técnicas de administração, por-que habilitam dirigentes e gestores a utilizar, de maneiramais eficiente, os recursos humanos e financeiros disponí-veis em seus negócios. Os instrumentos propiciam respos-tas com alternativas tangíveis, rápidas e claras, demons-trando os caminhos para obter retorno econômico nos in-vestimentos, criando valor ao acionista e demais colabora-dores do negócio.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS