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AUMENTO DA EFICIÊNCIA OPERACIONAL DE GERADORES EÓLICOS ATRAVÉS DE ANÁLISE DE CONFIABILIDADE E RISCO Prof. Dr. Daniel Castro – CEFET-MG (1) Prof. Ms. Omar Vilela – CEFET-MG (2) Resumo A eletricidade é hoje o principal suprimento energético indispensável e estratégico para o desenvolvimento social e econômico. No entanto para a geração de energia elétrica na maioria dos países se utiliza como fonte primária de energia o carvão e o petróleo, fontes não renováveis e principais agentes poluidores da atmosfera. A geração de eletricidade através dos ventos representa uma das principais alternativas em substituição às fontes não renováveis, devido a seu baixo impacto ambiental, menor tempo de implantação e uma grande disponibilidade de áreas para a instalação de parques eólicos. Porem, um dos aspectos críticos desta modalidade de geração de energia elétrica está na sua baixa eficiência de produção. Embora em condições favoráveis como regime anual de ventos e altas disponibilidades de operação os sistemas eólicos apresentam, de uma maneira geral, baixo desempenho na sua produção. Neste trabalho é mostrado um estudo realizado em parques eólicos em operação no Nordeste do Brasil, onde foi medida a performance global utilizando o parâmetro OEE (Overall Equipment Efficiency) desenvolvido no TPM (Total Productive Maintenance) e através de estudos de confiabilidade e risco foi possível identificar boa parte das causas da baixa eficiência observada nestes parques eólicos. As conclusões deste trabalho permitem identificar uma estreita relação entre performance operacional e perfil de confiabilidade de equipamentos e pode ser a chave para melhorar de forma significativa a performance de equipamentos, em particular os que apresentam um elevado nível de automação, como é o caso dos geradores eólicos. Palavras-Chave: Parque Eólico - Confiabilidade e Risco - Eficiência Operacional (1)- CEFET-MG – Professor de ensino superior e Coordenador de Grupo de pesquisa – [email protected] (2)-CEFET-MG – Aluno do curso de Mestrado de Engenharia de Energia- [email protected].

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AUMENTO DA EFICIÊNCIA OPERACIONAL DE GERADORES EÓLICOS ATRAVÉS DE ANÁLISE DE CONFIABILIDADE E RISCO

Prof. Dr. Daniel Castro – CEFET-MG (1)

Prof. Ms. Omar Vilela – CEFET-MG (2)

Resumo

A eletricidade é hoje o principal suprimento energético indispensável e

estratégico para o desenvolvimento social e econômico. No entanto para a

geração de energia elétrica na maioria dos países se utiliza como fonte

primária de energia o carvão e o petróleo, fontes não renováveis e principais

agentes poluidores da atmosfera. A geração de eletricidade através dos ventos

representa uma das principais alternativas em substituição às fontes não

renováveis, devido a seu baixo impacto ambiental, menor tempo de

implantação e uma grande disponibilidade de áreas para a instalação de

parques eólicos. Porem, um dos aspectos críticos desta modalidade de

geração de energia elétrica está na sua baixa eficiência de produção. Embora

em condições favoráveis como regime anual de ventos e altas disponibilidades

de operação os sistemas eólicos apresentam, de uma maneira geral, baixo

desempenho na sua produção. Neste trabalho é mostrado um estudo realizado

em parques eólicos em operação no Nordeste do Brasil, onde foi medida a

performance global utilizando o parâmetro OEE (Overall Equipment Efficiency)

desenvolvido no TPM (Total Productive Maintenance) e através de estudos de

confiabilidade e risco foi possível identificar boa parte das causas da baixa

eficiência observada nestes parques eólicos. As conclusões deste trabalho

permitem identificar uma estreita relação entre performance operacional e perfil

de confiabilidade de equipamentos e pode ser a chave para melhorar de forma

significativa a performance de equipamentos, em particular os que apresentam

um elevado nível de automação, como é o caso dos geradores eólicos.

Palavras-Chave: Parque Eólico - Confiabilidade e Risco - Eficiência

Operacional

(1)- CEFET-MG – Professor de ensino superior e Coordenador de Grupo de pesquisa – [email protected] (2)-CEFET-MG – Aluno do curso de Mestrado de Engenharia de Energia- [email protected].

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1.0 - Introdução

Em trabalhos de pesquisa desenvolvidos em parques eólicos, Castro et. al.

(2009) e Castro et. al. (2011), foi observado que esta modalidade de geração

de energia elétrica é afetada por paradas imprevistas e também velocidades

reduzidas de produção durante seu funcionamento. Através do indicador de

eficiência OEE (Overall, Equipment Efficiency) foram quantificados os

seguintes parâmetros do OEE: Fator Disponibilidade (A), Fator Desempenho

(B) e Fator Qualidade (C), chegando a um valor médio anual de OEE de

aproximadamente 40%. Este baixo índice de eficiência incentivou a realização

de estudos e pesquisas posteriores com o propósito de encontrar as causas

destas perdas operacionais nos parques eólicos. Através de dados fornecidos

pelo operador do parque como, potência gerada, velocidade e direção dos

ventos e relatórios de manutenção, foi possível fazer um diagnóstico de todo o

sistema funcional, observando os modos de falhas de seus componentes e seu

respectivo índice de risco. Através da aplicação das técnicas FMEA (Failure

Mode and Effect Analysis) e RCM (Reability Centered Maintenance) foi

possível identificar as principais causas da baixa performance operacional dos

aerogeradores, e também traçar um plano efetivo de manutenção que propicie

maior confiabilidade no processo de geração de energia.

2.0 - Manutenção Produtiva – Análise de Risco e Confiabilidade.

O objetivo de toda metodologia moderna relativa à manutenção está em

garantir e preservar a função do equipamento. Esta nova maneira de se

enxergar o processo de manutenção dentro do sistema produtivo levou, nos

primórdios da década de 1970, ao desenvolvimento de uma nova técnica que

trazia consigo o conceito de quebra zero. Surge assim a Manutenção Produtiva

Total (TPM) como resultado do esforço nipônico em garantir o seu

desenvolvimento e expansão de sua indústria. Com isto foi desenvolvido uma

base conceitual e filosófica dentro de suas empresas visando aumentar a

produtividade e eficiência operacional de seus ativos. O TPM tem como

estrutura organizacional o trabalho em equipe, integrando todos os

departamentos envolvidos na produção. Seu objetivo está em reduzir a

probabilidade de falhas em seus equipamentos, que causa prejuízo e

diminuição do tempo de produção. Através do parâmetro de eficiência global de

equipamento OEE, foi possível detectar as perdas ocultas encontradas no

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processo produtivo. Com esta técnica, aplicada principalmente na indústria

automobilística, o Japão liderou o mercado mundial na produção de

automóveis a partir de então. O conceito do OEE traz consigo uma visão

sistêmica do ciclo produtivo, possibilitando aparar qualquer distúrbio que venha

a ocorrer na produção perturbando a eficiência produtiva do equipamento. A

sua estrutura lógica é composta por três indicadores que operam de forma

independente e seu produto gera o indicador de eficiência global do

equipamento, o OEE. O indicador de eficiência global OEE pode ser assim

definido:

2.1 - Fator Disponibilidade (A)

É calculado em função do tempo calendário e o tempo de paradas como,

manutenções preventivas, corretivas, ajustes na produção. Este fator informa o

tempo em que o equipamento está disponível para a produção, e é calculado

da seguinte forma:

2.2 - Fator Desempenho (B)

É o tempo operacional efetivo. Para isto considera-se um tempo padrão que é

o tempo onde o equipamento tem seu melhor desempenho e o número de

produtos produzidos, dividido pelo tempo disponível, da seguinte forma:

2.3 - Fator Qualidade (C)

O Fator de Qualidade vem como resposta do rendimento da produção. É calculado com base no tempo de operação eficaz, ou seja, tempo de produção de qualidade padrão e no tempo operacional.

OEE= Fator Disponibilidade (A) x Fator Desempenho (B) x Fator Qualidade (C)

A= Tempo Calendário – Tempo de Paradas Tempo Calendário

B= Tempo Padrão x Nº de Produtos Produzidos Tempo Calendário – Tempo de Paradas

C = No de Prod. produzidos – No de Prod. rejeitados No de Prod. produzidos

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A Manutenção Produtiva Total serviu de alicerce e base conceitual para as

novas metodologias que viriam a surgir nas décadas seguintes, século XX.

Dentre elas está a Manutenção Centrada na Confiabilidade (MCC). A

Manutenção Centrada na Confiabilidade, cujo termo de origem é “Reability

Centered Maintenance” (RCM) surge em razão da incapacidade das técnicas

de manutenção anteriores frente à automação ocorrida na indústria na segunda

metade da década de 70, século XX (SIQUEIRA, 2005). A manutenção

centrada em confiabilidade surge com a proposta de ser uma ferramenta que

possibilita aos usuários respostas para os seguintes desafios: produto e serviço

com qualidade, seleção de técnicas mais apropriadas, tratamento a cada tipo

de processo de falhas, satisfação de todas as necessidades do cliente,

produtos de acordo com as especificações e cumprimento do prazo de entrega.

A grande contribuição da MCC resultou da constatação de que as maiores

partes dos componentes dos sistemas modernos não apresentavam sintomas

de falhas por desgaste. Segundo Moubray (2000), estudos feitos em aeronaves

civis mostram que apenas 4% dos itens seguem a curva do tipo A (figura 1),

conhecida como a típica forma da curva da banheira. A maior parte dos

sistemas (68%) responde a curvas do tipo F, onde a probabilidade de falha não

depende do tempo.

Figura 1 – Diferentes tipos de curvas da banheira.

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3.0 - Características do Parque Eólico.

A Unidade Eólico-Elétrica (UEE) em estudo está situada no litoral cearense, em

Beberibe, a 100 km da capital, Fortaleza. Apresenta um relevo com pequenas

elevações formadas por dunas inferiores a 20 m de altura. A energia gerada

pela UEE alimenta a rede da COELCI, conforme contrato de conexão ao

sistema de distribuição (CCD), tendo duas linhas de transmissão de 69 kV,

uma de 31,7 Km, conectada a subestação de Aracati; e a outra, de 35,1 Km, à

subestação de Beberibe. Possui 19 aerogeradores com capacidade de gerar

potência nominal de 28,8 MW, com produção anual média de 112.570 MWh. O

gerador elétrico utilizado nos aerogeradores desta UEE foi desenvolvido pela

empresa alemã VENSYS com dispositivo de transmissão direta, multipolo,

síncrono, com excitação feita por ímãs permanentes, diretamente acoplada ao

rotor, não necessitando de caixas multiplicadoras, que gera energia elétrica

com frequência variável a uma velocidade de rotação compreendida entre 9

rpm e 19 rpm e pode trabalhar com velocidades de vento na faixa de 3 m/s a

25 m/s. Um conversor de frequência adequa a potência elétrica do gerador que

é ingressada na rede através de um transformador. Este aerogerador está

equipado com um rotor de três pás, com um diâmetro de 70 m e área de

varredura de 3850 m², controle de Pitch e possui uma potência nominal de

saída de 1.500 kW (Máxima 1.516 KW). Este gerador gera corrente elétrica que

alimenta diretamente a rede. A torre de aço, com altura de 85 m, dá

sustentação à nacele e ao rotor. Ela consiste em segmentos vinculados entre

si, no local de instalação, por intermédio de flanges. O sistema responsável

pelo ângulo de rolamento ou Yaw (eixo vertical) do aerogerador está fixado

diretamente no extremo superior da torre. Os gabinetes de controle, o

conversor, o transformador e o interruptor de meia tensão estão montados na

base da torre. O sistema de controle é um PLC que ajusta e controla a

operação dos parâmetros da turbina, não dependendo de dados ou controles

externos. Este sistema possui sensores para receber informações externas,

como velocidade do vento e direção, e todos os parâmetros operativos do

aerogerador. O controle do sistema inversor tem a função de controlar as

tensões, correntes e ângulo de defasagem entre eles. Diodos semicondutores

são utilizados para retificar a corrente reduzindo as perdas de energia,

interferências eletromagnéticas e picos de tensão nos enrolamentos do

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gerador. A potência reativa de saída pode ser controlada em função da

necessidade da rede mantendo a tensão mais estável possível.

Parâmetros característicos da unidade eólica em estudo

Na figura 2, abaixo, é mostrada a distribuição mensal dos ventos médios e sua

orientação predominante durante o primeiro ano de operação desta unidade

(2010).

Figura 2 – Distribuições da Velocidade e Direção Médias de 2010.

A seguir é mostrada a energia total gerada pelo parque eólico comparada com

a capacidade nominal do parque.

Figura 3 – Produção Mensal (2010) em MWh.

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Na figura 4, é comparada a distribuição mensal de potência gerada pelo parque

com a velocidade média dos ventos. Pode se observar que durante o período

de abril a agosto de 2010 teve uma redução significativa na geração de

potência do parque enquanto o perfil de ventos se manteve aproximadamente

constante.

Figura 4 – Produção [MW] e distribuição da velocidade média dos ventos [m/s]

(2010).

Os principais motivos para esta redução na potência gerada foram às paradas

imprevistas acontecidas em vários aerogeradores do parque durante este

período. Além das paradas imprevistas (corretivas), os aerogeradores em

operação sofreram também paradas para manutenção preventiva. Na figura 5,

abaixo, são mostradas as horas mensais de manutenção corretiva e

preventiva, no ano de 2010, do parque eólico.

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Figura 5 – Tempo de paradas imprevistas para Manutenção [horas/mês].

(2010).

4.0 - Indicador OEE do Parque Eólico.

Com base nos dados de produção e paradas observadas no parque eólico foi

calculado o perfil de eficiência global (OEE) do parque, mostrado na figura 6,

Figura 6 – Variação do OEE nos 19 aerogeradores da UEE

A média anual de eficiência global foi somente de 40%, como é mostrado na

seguinte relação:

Pode se observar que a o Fator Disponibilidade (A) foi em média de 60% no

ano e o Fator Desempenho (B) foi de 66% neste período. Devido a que a

OEE = A X B X C = 0,60 X 0,66 X 1,00 = 0,40

 

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unidade de geração eólica não mede perdas de qualidade na energia gerada o

Fator Qualidade (C) foi considerado 100%.

5.0 - Análise de Confiabilidade e Risco.

O baixo Fator Disponibilidade (A) do OEE observado no parque eólico pode ser

melhorado utilizando-se de técnicas que possibilitem dar uma maior

confiabilidade aos sistemas dos aerogeradores. A fim de dar maior clareza e

compreensão do sistema que está sendo estudado, é mostrado na figura

abaixo o diagrama de bloco simplificado do aerogerador, com seus principais

sistemas.

Figura 7 – Diagrama de Blocos Simplificado do Sistema Aerogerador

O primeiro passo foi identificar os componentes críticos de cada sistema. Para

isto foi utilizada a ferramenta FMEA. Esta técnica permite mapear o risco global

dos componentes de um sistema através de três indicadores: índice de

gravidade (IG), índice de ocorrência (IO) e índice de detecção (ID). O índice de

gravidade foi avaliado em função dos níveis de performance da instalação, os

quais foram medidos através do OEE. Assim quanto menor fosse o OEE maior

o índice de gravidade. Para o índice de ocorrência foi utilizada a taxa de falhas

históricas observadas nos diferentes componentes do sistema. Estas taxas de

falhas foram extraídas dos históricos de manutenção da instalação. Quanto

maior a taxa de falha maior o índice de ocorrência.

A figura 8 mostra o mapa de risco com os componentes críticos de cada

sistema do aerogerador. Na tabela 1 são mostrados os valores numéricos de

cada índice.

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Tabela 1 – Criticidade dos Componentes.

Figura 8 – Mapa de Risco dos Componentes dos Sistemas.

Verifica-se na tabela 1, acima e na figura 8, que o sistema conversor e o

sistema pitch apresentam os maiores índices de ocorrência de falhas, afetando

de forma significativa o OEE, e por isso são tomados como prioridade nas

etapas posteriores do trabalho (aplicação da MCC). No entanto é importante

salientar que outros sistemas do gerador também se encontram na região de

risco inaceitável, como sistema yaw e o próprio gerador. Isto indica que vários

componentes podem estar comprometendo a eficiência do sistema como um

todo.

O sistema pitch permite a movimentação do ângulo de ataque das pás do rotor

e tem, portanto, a função de controlar a potência transmitida do rotor ao

gerador buscando através do sistema de controle o melhor ângulo de ataque

em função da intensidade do vento, de forma a maximizar a potência

transferida. Este sistema permite assim controlar a potência transmitida frente a

variações da intensidade do vento. Verifica-se que este sistema tem uma

função fundamental na eficiência energética do aerogerador e, portanto, é

essencial que seus componentes apresentem um grau de confiabilidade

elevado (acima de 95%).

PRIORIDADE

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O sistema yaw permite a rotação da nacele, ou seja, o conjunto onde estão

alocados o rotor e o gerador. Esta rotação é necessária para orientar o rotor

caso a direção do vento mude. Desta forma este sistema também tem um

papel fundamental na garantia de eficiência energética do aerogerador, já que

permite otimizar a posição do rotor frente a variações na direção do vento

incidente.

A função do sistema conversor, que é um dos mais críticos do aerogerador de

acordo com o mapa de risco, é o de adequar os parâmetros elétricos gerados

pelo aerogerador à rede externa de distribuição de energia elétrica, evitando

que o sistema gerador não produza distúrbios de natureza eletromagnética nos

sistemas periféricos.

Nas figuras 9 e 10 são mostrados os diagramas em bloco dos sistemas

conversor e pitch, que são os que apresentaram maiores índices de risco,

indicando a relação lógica dos seus componentes.

Figura 9 – Diagrama de Blocos do Subsistema Pitch. 

Figura 10 – Diagrama de Blocos do Sistema Conversor.

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6.0 - Análise MCC para os sistemas críticos.

De acordo à análise de risco foram identificados componentes críticos em

termos de incidência de falhas (taxas de falhas históricas) e comprometimento

da eficiência energética do aerogerador (OEE). Estes componentes merecem

uma atenção especial, já que sua integridade funcional deve ser garantida de

forma contínua para maximizar os níveis de eficiência global do sistema de

geração.

De acordo com a análise de risco os sistemas mais comprometidos foram o

sistema conversor e o sistema pitch, seguidos pelo sistema gerador e o

sistema yaw. Desta forma foi implementada uma análise MCC (Manutenção

Centrada em Confiabilidade) direcionada aos componentes críticos destes

sistemas. No artigo será abordada somente a análise dos elementos mais

críticos do sistema conversor e do sistema pitch a fim de ilustrar a metodologia

aplicada no trabalho.

6.1 - MCC para componentes do sistema de conversor

De acordo com a tabela 1 os elementos mais críticos deste sistema foram os

seguintes:

1- IBGT

2- Inversor

3- Indutor

4- Diodos

Todos estes componentes tem o mesmo nível de risco em termos de eficiência

energética (OEE), sendo que o IBGT é o que apresentou maior taxa de falha,

seguido pelo Inversor e Indutor e finalmente pelos Diodos.

O método MCC permite definir quais são as ações mais eficazes em termos de

manutenção ou reprojeto de um sistema de forma a maximizar a função dos

componentes de um sistema, garantindo de forma contínua altos níveis de

confiabilidade. Para isto se utiliza um diagrama de decisões baseado na

criticidade da falha e no tipo de ação de manutenção, priorizando ações de

caráter preditivo e preventivo. Caso estas ações não sejam eficazes a MCC

prevê a implementação de testes e em última instância indica a necessidade de

reprojetar o sistema, de forma a garantir a sua funcionalidade.

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Nas figuras 11 e 12 são mostrados os diagramas de decisão para os modos de

falha observados no componente IBGT do sistema conversor, que foram “Falta

de Sinal” e “Queima da Componente”:

Figura 11 – Diagrama de Decisão do IGBT (Modo de Falha: Sem Sinal). 

Figura 12 – Diagrama de Decisão do IGBT (Modo de Falha: IGBT Queima). 

Como pode se observar dos diagramas de decisão as ações recomendadas

para estes modos de falha foram: Programar Teste (falta de sinal), e Re-projeto

(queima do IBGT). Devido a que a segunda ação exige a elaboração de um

novo projeto, isto indica que o sistema atual não garante a confiabilidade

adequada para o sistema em termos de exigências operacionais. Este

componente deve sofrer uma análise mais criteriosa em termos de projeto, já

que não existe maneira de controlar os seus modos de falha através de ações

de manutenção. Este é um resultado muito importante que sinaliza a

necessidade de melhoria do sistema para garantir eficiência energética

adequada. A segunda ação MCC indica a necessidade de testes periódicos

deste componente, o qual não sofre de nenhum tipo de ação de controle em

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termos de manutenção, ficando assim desprotegido em termos de

confiabilidade.

6.2 - MCC para componentes do sistema de pitch

De forma análoga ao sistema conversor, a análise de risco mostra que os

componentes mais críticos deste sistema foram (vide tabela 1):

1- Fonte (c.c.)

2- Pás

3- Motor (c.c.)

4- Sistema de Controle/Proteção

Todos estes componentes tem o mesmo nível de risco em termos de eficiência

energética (OEE) para o aerogerador, sendo que a Fonte (c.c). é a que

apresentou maior taxa de falha, seguido pelas Pás depois o Motor (c.c.) e

finalmente pelo Sistema de Controle /Proteção.

Nas figuras 13 e 14 são mostrados os diagramas de decisão para os modos de

falha observados no componente Fonte (c.c) e nas Pás do sistema pitch, que

foram “Queima da Fonte” e “Perda de Controle de Potência do Rotor”,

respectivamente:

Figura 13 – Diagrama de Decisão da Fonte de Tensão DC/DC do sistema Pitch. 

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Figura 14 – Diagrama de Decisão da Pá (Sistema Pitch).

 

6.3 - Resultados da aplicação da técnica MCC (plano mestre)

Como foi detalhado nos itens anteriores, foi aplicada a técnica MCC através do

diagrama de decisões de forma a selecionar as ações mais adequadas para

gerenciar os modos de falha mais críticos observados na instalação. A seguir a

tabela 2 mostra o resumo da aplicação da análise MCC.

Tabela 2 – Plano Mestre MCC para os modos de falha críticos

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7.0 - Análise dos resultados

A análise de risco utilizando FMEA mostrou que os aerogeradores em estudo

apresentam modos de falha críticos no sistema conversor, responsável pela

adequação da tensão fornecida pelo gerador á rede de transmissão, assim

como nos sistema Pitch, Yaw e Sistema de Controle, todos os quais são

responsáveis pelo posicionamento adequado do rotor e das pás em função da

variação da intensidade e direção dos ventos.

O problema crítico encontrado neste estudo diz respeito ao fator desempenho

(B) dos aerogeradores. Sabe-se que este indicador mede a taxa de produção

que o equipamento ou sistema desempenha durante sua operação, indicando

velocidades baixas de produção. Como foi mencionado anteriormente neste

trabalho o sistema pitch e o sistema yaw, interferem diretamente na eficiência

energética do sistema. Para verificar esta dependência foi realizado um teste

comparativo entre o fator de performance do OEE (B) e a variação da

intensidade dos ventos.

A figura 15 e figura 16, abaixo, mostram a intensidade da velocidade e a

direção média do vento tomada a intervalos de dez minutos correlacionando o

fator desempenho (B) com desvio padrão destes parâmetros. (intensidade e

direção do vento).

Figura 15 – Velocidade dos Ventos medida em intervalos de dez minutos nos dias 09 de abril, 09 de agosto e 09 de novembro de 2010.

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Figura 16 – Direção média dos ventos nos dias 09 de abril, 09 de agosto e 09 de novembro de 2010. 

Verifica-se que, a variabilidade da intensidade e direção do vento afeta de

forma significativa a eficiência produtiva do sistema, demonstrando que para

uma maior variabilidade da intensidade e direção média do vento (desvio

padrão) o fator desempenho (B) diminui significativamente, corroborando em

tese a existência de falhas no sistema de controle. A figura 17 mostra o fator

desempenho (B) em função do desvio padrão da intensidade média dos ventos

[m/s]. A figura 18, mais abaixo, mostra o fator desempenho (B) em função do

desvio padrão da direção média dos ventos [graus].

Figura 17 – Fator Desempenho (B) em função do desvio padrão da intensidade dos ventos.

 

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Figura 18 – Fator desempenho (B) em função do desvio padrão da direção média dos ventos

8.0 - Conclusão

Os resultados indicam que as perdas de eficiência observadas nos aerogeradores eólicos em estudo são originadas por falhas existentes nos sistemas de controle responsáveis pelo ajuste da posição do rotor e das pás. Como identificado na análise de risco os sistemas Pitch, Yaw e o próprio Sistema de Controle apresentam altos riscos de falha e são os responsáveis pelo ajuste da posição do rotor e das pás às condições de vento existentes no aerogerador. A análise MCC indica que somente alguns modos de falha nestes sistemas críticos podem ser gerenciados adequadamente através de ações de manutenção, a maior parte dos modos de falha exigem ações de reprojeto, o que indica que os sistemas atuais de controle dos aerogeradores não tem performance adequada para atingir as exigências operacionais de alta confiabilidade e eficiência energética necessárias para que os sistemas de geração de energia eólicos sejam competitivos em relação com os sistemas de geração de energia elétrica convencional (sistemas hidráulicos e térmicos), os quais apresentam maior performance de operação.

Os resultados obtidos neste trabalho, além de mostrar a importância do processo de análise de falha, via FMEA, associado à MCC na melhoria da eficiência energética de sistemas de geração eólicos, mostra também que falhas funcionais em sistemas eletroeletrônicos afetam de forma significativa a velocidade de operação de sistemas automatizados. Estes resultados podem servir de alerta a outros tipos de equipamentos que apresentem também altos índices de automação, já que sem a adequada análise por parte das áreas de manutenção estes sistemas podem estar sujeitos a significativas perdas de produção.

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