aula0_politica_apu_stn_45446.pdf

58
CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula Demonstrativa Olá, Pessoal! Foi autorizado o concurso para Analista de Finanças e Controle da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), com 255 vagas. Não deve demorar muito e o edital deve ser publicado, por isso está na hora de acelerar os estudos. O último concurso ocorreu em 2008 e entre as disciplinas de conhecimentos gerais, comuns a todas as áreas de concentração, foi cobrada a disciplina de Política e Administração Pública, com cinco questões. Por isso estamos lançando este curso, voltado para esta disciplina, com base no edital do con- curso de 2008. Trata-se de um edital bastante amplo, que cobra conteúdos de Administração Pública, Ciência Política, Políticas Públicas e Economia. Nosso curso será com- posto de 05 aulas, além desta aula demonstrativa, no seguinte cronograma: Aula Demonstrativa: 1. Estado: Conceito e evolução do Estado moderno. Conceitos fun- damentais do Direito Público e o funcionamento do Estado. Estado, governo e aparelho de Estado. Aula 01 – 19/12: 2. A crise do Estado contemporâneo. O Estado de Bem-estar social: evo- lução e crise. Transformações do papel do Estado nas sociedades con- temporâneas e no Brasil. 6. Direito civis, direitos políticos e direitos sociais. A emergência da questão social como campo de intervenção do Estado. Política de combate à pobreza: possibilidades e limitações. Desi- gualdades socioeconômicas da população brasileira. Aula 02 – 26/12: 3. Weber e a burocracia. O paradigma burocrático e o paradigma geren- cial na gestão pública. 1. O aparelho de Estado nas democracias liberais. Aula 03 – 02/01: *Evolução da administração pública no Brasil. Aula 04 – 02/01: 4. Sistemas de governo. Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo). 5. Es- tado unitário e Estado federativo. Relações entre esferas de governo e regime federativo. Aula 05 – 09/01: 7. Políticas públicas: formação da agenda governamental, processos decisórios e problemas da implementação. 8. Política econômica. De- terminantes políticos da gestão econômica. Crescimento, inflação, re- cessão e sua influência na política. Políticas de estabilização econômica no Brasil.

Upload: gloriaandrade

Post on 06-Dec-2015

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 1

Aula Demonstrativa

Olá, Pessoal!

Foi autorizado o concurso para Analista de Finanças e Controle da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), com 255 vagas. Não deve demorar muito e o edital deve ser publicado, por isso está na hora de acelerar os estudos.

O último concurso ocorreu em 2008 e entre as disciplinas de conhecimentos gerais, comuns a todas as áreas de concentração, foi cobrada a disciplina de Política e Administração Pública, com cinco questões. Por isso estamos lançando este curso, voltado para esta disciplina, com base no edital do con-curso de 2008.

Trata-se de um edital bastante amplo, que cobra conteúdos de Administração Pública, Ciência Política, Políticas Públicas e Economia. Nosso curso será com-posto de 05 aulas, além desta aula demonstrativa, no seguinte cronograma:

Aula Demonstrativa: 1. Estado: Conceito e evolução do Estado moderno. Conceitos fun-damentais do Direito Público e o funcionamento do Estado. Estado, governo e aparelho de Estado.

Aula 01 – 19/12: 2. A crise do Estado contemporâneo. O Estado de Bem-estar social: evo-lução e crise. Transformações do papel do Estado nas sociedades con-temporâneas e no Brasil. 6. Direito civis, direitos políticos e direitos sociais. A emergência da questão social como campo de intervenção do Estado. Política de combate à pobreza: possibilidades e limitações. Desi-gualdades socioeconômicas da população brasileira.

Aula 02 – 26/12: 3. Weber e a burocracia. O paradigma burocrático e o paradigma geren-cial na gestão pública. 1. O aparelho de Estado nas democracias liberais.

Aula 03 – 02/01: *Evolução da administração pública no Brasil.

Aula 04 – 02/01: 4. Sistemas de governo. Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo). 5. Es-tado unitário e Estado federativo. Relações entre esferas de governo e regime federativo.

Aula 05 – 09/01: 7. Políticas públicas: formação da agenda governamental, processos decisórios e problemas da implementação. 8. Política econômica. De-terminantes políticos da gestão econômica. Crescimento, inflação, re-cessão e sua influência na política. Políticas de estabilização econômica no Brasil.

Page 2: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 2

O item da “Evolução da Administração Pública no Brasil”, da Aula 03, não esta-va explícito no edital, mas foi cobrado no último concurso, pode ser enquadra-do no item 3. Como ele é muito importante, veremos também como se deram no Brasil o modelo burocrático e o pós-burocrático.

Sempre que vocês tiverem dúvidas, utilizem o fórum no site do Ponto, pois ele é uma das ferramentas mais importantes no aprendizado. Mesmo que não tenham uma dúvida específica, consultem ele periodicamente para darem uma olhada nas dúvidas dos colegas, que muitas vezes podem ajudar vocês a en-tenderem melhor o assunto.

Agora, vou me apresentar. Sou Auditor Federal de Controle Exter-no do Tribunal de Contas da União. Já fui Analista Tributário da Receita Federal do Brasil e escriturário da Caixa Econômica Fede-ral, além de ter trabalhado em outras instituições financeiras da iniciativa privada. Sou formado em jornalismo e tenho formação também em economia. Possuo especialização em Orçamento Pú-blico e sou professor de cursinhos para concursos desde 2008, tendo dado aulas em cursinhos de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Cuiabá. Também dou aula em cursos de pós-graduação.

Nesta aula demonstrativa, vocês poderão ter uma ideia de como será nosso curso. Espero que gostem e que possamos ter uma jornada proveitosa pela frente. Boa Aula!

Sumário

1. ESTADO................................................................................................................ 3

1.1. CONCEITO ......................................................................................................... 3

1.2. ORIGEM ............................................................................................................ 6

1.3. ESTADO MODERNO ............................................................................................. 13

1.4. GOVERNO E APARELHO DO ESTADO .......................................................................... 20

1.5. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PÚBLICO ........................................................ 23

2. PONTOS IMPORTANTES DA AULA ....................................................................... 29

3. QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................... 30

3.1 LISTA DAS QUESTÕES ......................................................................................... 50

3.2. GABARITO ....................................................................................................... 58

4. LEITURA SUGERIDA ........................................................................................... 58

Page 3: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 3

11.. EEssttaaddoo Vamos começar nosso curso estudando os conceitos relacionados ao Estado e sua evolução. Essa aula é importante para que possamos entender muitos dos conceitos que vierem depois.

11..11.. CCoonncceeiittoo

As ciências sociais são repletas de expressões que possuem uma variedade enorme de significados. Veremos isso muito ao longo do curso. Veja-se o caso do termo “burocracia”, pode significar: ineficiência, eficiência, racionalidade, quadro administrativo, forma de governo, etc. A palavra Estado também pos-sui diversos conceitos diferentes. O que as bancas fazem, e a ESAF faz muito, é copiar suas questões de livros e artigos de determinados autores. Nem sem-pre eles falam a mesma coisa, fazem muito confusão, por isso temos que to-mar cuidado.

Dalmo Dallari afirma que a palavra “Estado” apareceu pela primeira vez em “O Príncipe“, de Maquiavel, escrito em 1513. Já Norberto Bobbio coloca que tal palavra se impôs pela difusão e prestígio de “O Príncipe”, mas isso não quer dizer que ela foi introduzida por Maquiavel – ela já devia ser de uso corrente à época, tanto que o autor a usou logo na primeira frase do livro: “Todos os es-tados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados”.

Não faz muito sentido saber se Maquiavel foi o primeiro ou não a usar o termo Estado, certo? Vocês devem achar que eu estou viajando na maionese, mas a ESAF já cobrou isso, vamos ver.

1. (ESAF/MPOG-EPPGG/2005) O Termo “Estado” foi criado por Maquiavel.

A questão foi dada como errada. Não foi a única vez que eles cobraram algo desse tipo. Na prova de Gestor de 2009, uma questão cobrava a origem do termo “política”, e uma das alternativas dizia que ele foi criado por Maquiavel. Mais uma vez a questão estava errada.

O problema é que na prova da CGU que ocorreu este ano a ESAF mudou seu entendimento. Vamos vê-la:

Page 4: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 4

2. (ESAF/CGU/2012) O conceito de Estado é central na teoria política. Os enunciados

a seguir referem-se à sua formulação. Indique qual a assertiva correta.

a) O conceito de Estado surge com o de Pólis, na Grécia.

b) Sua formulação original integra o Direito Romano.

c) A definição passou a ser utilizada na Revolução Francesa.

d) A primeira referência ao termo é de Maquiavel.

e) A origem não pode ser identificada.

A questão teve como resposta a letra “D”. Acho um absurdo gigantesco. Além de terem adotado posicionamento contrário ao anterior, também foram contra autores importantes. Segundo Norberto Bobbio:

É fora de discussão que a palavra "Estado" se impôs através da difusão e pelo prestígio do Príncipe de Maquiavel. A obra começa, como se sabe, com estas palavras: "Todos os estados, todos os domínios que imperaram e im-peram sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados" [1513, ed. 1977, p. 5]. Isto não quer dizer que a palavra tenha sido introdu-

zida por Maquiavel. Minuciosas e amplas pesquisas sobre o uso de "Esta-do" na linguagem do Quatrocentos e do Quinhentos mostram que a passagem do significado corrente do termo status de "situação" para "Esta-do" no sentido moderno da palavra, já ocorrera, através do isolamento do primeiro termo da expressão clássica status rei publicas. O próprio Maquia-vel não poderia ter escrito aquela frase exatamente no início da obra se a palavra em questão já não fosse de uso corrente.

Esse trecho do autor foi usado nos recursos, mas como a banca deve ter uma comissão por número de questões não anuladas, mantiveram o gabarito.

Eles insistem em colocar Maquiavel como o criador dessas palavras porque ele foi o primeiro grande cientista político moderno. Ele viveu entre 1469 e 1527, período dentro do Renascimento. É nesse mesmo período que surge o que se convencionou chamar de Estado Moderno, que é o Estado como conhecemos hoje. O Estado Moderno tem como marco a Paz de Westfália, que foi uma série de tratados de paz na metade do século XVII que inaugurou o moderno Siste-ma Internacional, ao acatar consensualmente noções e princípios como o de soberania estatal e o de Estado-Nação.

Não significa que antes disso não houvesse nenhuma forma de Estado. A dife-rença é que o Estado Moderno será constituído de soberania, o poder supremo sobre determinado território. A primeira forma de Estado Moderno é o absolu-tismo, pois é o momento em que o monarca retira os poderes dos demais se-tores, como a nobreza.

Page 5: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 5

A partir dessa noção, podemos identificar os elementos essenciais do Estado, como faz Duguit, nesta definição:

Grupo humano fixado em determinado território, onde os mais fortes im-põem aos mais fracos sua vontade.

Podemos observar três elementos constitutivos do Estado: povo, território e poder. Mas e esta questão que fala em quatro elementos essenciais?

3. (ESAF/MPOG/2002) Um Estado é caracterizado por quatro elementos: povo,

território, governo e independência.

A questão é certa. Na realidade, existe uma grande diversidade de opiniões a respeito. Dalmo Dallari afirma que a maioria dos autores indica três elementos, embora divirjam quanto a eles. De maneira geral, costuma-se mencionar a existência de dois elementos materiais, o território e o povo, havendo grande variedade de opiniões sobre o terceiro elemento, que muitos denominam for-mal. O mais comum é a identificação desse terceiro elemento com o poder ou alguma de suas expressões, como autoridade, governo ou soberania. Dallari decidiu trabalhar com quatro elementos: a soberania, o povo, o território e a finalidade. Vamos ver os elementos do Estado:

���� Território: espaço geográfico em que o Estado exerce a sua soberania, com a exclusão da soberania de qualquer outro Estado.

���� Povo: conjunto de cidadãos que se subordinam ao mesmo poder soberano e possuem direitos iguais perante a lei;

���� Soberania: poder mais alto que existe dentro do território com relação ao seu povo, e frente a outros Estados. Expressa-se como ordenamento jurídico impositivo.

���� Finalidade: é o bem comum, o interesse coletivo que faz om que determinada comunidade decida formar uma união.

Segundo o Programa Nacional de Educação Fiscal, elaborado pela ESAF:

Pode-se conceituar Estado como uma instituição que tem por objetivo orga-nizar a vontade do povo politicamente constituído, dentro de um território definido, tendo como uma de suas características o exercício do poder coer-citivo sobre os membros da sociedade. É, portanto, a organização político-jurídica de uma coletividade, objetivando o bem comum.

Page 6: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 6

Podemos observar aqui quatro elementos: povo, território, poder e finalidade (bem comum).

Além das definições de Estado que consideram seus elementos essenciais, existem outros tipos, filosóficas, jurídicas, econômicas, etc. Entre as definições jurídicas, podemos citar a de Kant: “reunião de uma multidão de homens vi-vendo sob as leis do Direito”. Del Vechio critica esta definição, dizendo que ela poderia ser aplicada tanto a um município quanto a uma penitenciária, mas ele mesmo não vai muito além, definindo Estado como “o sujeito da ordem jurídi-ca na qual se realiza a comunidade de vida de um povo”.

As definições sociológicas partem para o lado da força, da dominação de um grupo sobre outro. É o caso da definição de Max Weber: “comunidade humana que, dentro de um determinado território, reivindica para si, de maneira bem sucedida, o monopólio da violência física legítima”. Marx, pensa de forma pare-cida: “o poder organizado de uma classe para opressão de outra”. O conceito de Estado repousa, por conseguinte, na organização ou institucionalização da violência.

PARA GUARDAR

Elementos essenciais do Estado: povo, território e poder

Ou suas variáveis: soberania, independência, autoridade, finalidade.

11..22.. OOrriiggeemm

Segundo Darcy Azambuja, há três modos pelos quais historicamente se for-mam os Estados:

� Originário: em que a formação é inteiramente nova, nasce diretamente da população e do país, sem derivar de outro Estado preexistente. É decorrência natural da evolução das sociedades humanas.

� Secundários: quando vários Estados se unem para formar um novo Estado, ou quando um se fraciona para formar outros.

� Derivados: quando a formação se produz por influências exteriores, de outros Estados.

O modo originário se daria quando, sobre um território que não pertence a nenhum Estado, uma população se organizasse politicamente, por impulso espontâneo de suas forças sociais e psicológicas. Um exemplo é a França. No

Page 7: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 7

mundo atual, toda a superfície do globo está dividida pelos diversos Estados existentes, sendo praticamente impossível que surja um Estado pelo modo originário.

O modo secundário pode ser dividido em dois aspectos: ou um Estado se fraci-ona para formar outros, ou vários Estados se unem para formar um novo Esta-do. Vimos recentemente, em 1993, a Tchecoslováquia se dividir em dois Estados, a República Tcheca e a Eslováquia.

Entre os modos derivados, a colonização é o mais geral e importante. Temos o caso dos Estados nas Américas, que se formaram a partir da colonização euro-peia. Há também os casos de guerras, como a Alemanha que foi dividida em dois Estados. Israel nasceu de uma convenção nas Nações Unidas.

Dalmo Dallari não trabalha com esta classificação. Ele divide as causas do apa-recimento dos Estados em formação originária e formação derivada. Na primei-ra, partiríamos de agrupamentos humanos ainda não integrados em qualquer Estado; e na segunda a formação de novos Estados ocorre a partir de outros preexistentes. Portanto, o que Azambuja considera como secundário, para Dallari seria derivado.

Examinando as principais teorias que procuram explicar a formação ORIGINÁ-RIA do Estado, Dallari afirma que se chega a uma primeira classificação, com dois grandes grupos:

1. Teorias que afirmam a formação natural ou espontânea do Estado, não havendo entre elas uma coincidência quanto à causa, mas tendo todas em comum a afirmação de que o Estado se formou naturalmente, não por um ato puramente voluntário;

2. Teorias que sustentam a formação contratual dos Estados, apresentando em comum, apesar de também divergirem quanto às causas, a crença em que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os homens, que levou à criação do Estado.

Já Azambuja divide as teorias sobre a origem da autoridade nas doutrinas teo-cráticas e doutrinas democráticas. As primeiras defendiam que o poder e a autoridade vêm de Deus. Estas teorias surgiram durante a Idade Média com os pensadores ligados à Igreja e passaram a ser usadas pelas famílias reais euro-peias como forma de se manterem no poder: foi Deus quem escolheu determi-nada família para reinar. Já as doutrinas democráticas defendem que a soberania, ou o poder político, reside no povo. As teorias contratualistas seri-am as democráticas.

Page 8: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 8

Dalmo Dallari agrupa as teorias não contratualistas da seguinte forma:

���� Origem familiar ou patriarcal: as teorias situam o núcleo social fundamental na família. Segundo essa explicação, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado;

���� Origem em atos de força, de violência ou conquista: essas teorias sustentam que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco;

���� Origem em causas econômicas: o Estado teria se formado para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho, suprir as necessidades de trocas dos indivíduos, integrando-se as diferentes atividades profissionais;

���� Origem no desenvolvimento interno da sociedade: segundo essas teorias, o estado é um germe, uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, entretanto, prescindem dele enquanto se mantêm simples e pouco desenvolvidas. Mas aquelas sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento e alcançam uma forma mais complexa têm absoluta necessidade do Estado, então ele se constitui.

Já as teorias contratualistas afirmam que o Estado não surge naturamente, mas sim de um ato racional, uma escolha de um grupo humano que decidiu estabelecer um poder político como forma de instituir a ordem. Assim, decidi-ram, por meio de um contrato, ceder parte de sua liberdade, criando um poder político uno com soberania sobre todos os demais.

Essas teorias se encaixam nas doutrinas democráticas acerca da soberania. Antes destas, as doutrinas teocráticas pregavam que todo o poder vem de Deus, que criou todas as coisas e, portanto, criou o Estado e a autoridade; é por vontade de Deus que há uma hierarquia social, que em toda sociedade há governantes e governados. É Deus quem designa em cada sociedade política a pessoa que deve exercer o poder, ou a família de onde deve sair o monarca.

Três autores se destacaram dentro desta corrente: Hobbes, Locke e Rousseau. São teóricos do contratualismo, que defendem que a origem da sociedade e o fundamento do poder político residem num contrato, isto é, num acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos. O contrato se mostra uma saída racional nestas teorias, a partir do momento em que os homens buscam a cooperação como forma de evitar a desordem, o estado de natureza. Vamos ver os principais autores contratualistas.

Page 9: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 9

a) Thomas Hobbes

Thomas Hobbes (1588-1679) foi o primeiro grande teórico contratualista. Ele parte da convicção de que o homem, em épocas primitivas, vivia fora da soci-edade, em “estado de natureza”, sendo todos os homens iguais e essencial-mente egoístas, tendo todos os mesmos direitos naturais e não existindo nenhuma autoridade ou lei. Era uma época de anarquia e violência.

A existência de direitos naturais preexistentes à ordem política é defendida pelo jusnaturalismo, conjunto de escolas de direito que sustentavam a existên-cia de um conjunto de direitos naturais, cuja fonte de validade estava na con-formidade com a razão humana.

Para pôr fim a este período de violenta anarquia, os homens criaram, por um contrato, a sociedade política e cederam seus direitos naturais a um poder comum, a que se submetem por soberania e que disciplina seus atos em bene-fício de todos. Para Hobbes:

Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de homens concor-dam e pactuam, cada um com cada um dos outros, que a qualquer homem ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de repre-sentar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante), todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembleia de homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos restantes homens.

O contrato que criou o poder, ou o Estado, não pode ser rescindido jamais, porque isso importaria em a humanidade voltar à anarquia do estado de natu-reza. Segundo Hobbes, o Estado é um Leviatã, monstro alado, que sob suas asas abriga e prende para sempre o homem.

Essa é a origem do grande Leviatã ou, com mais respeito, do Deus mortal a quem, depois de Deus imortal, devemos nossa paz e defesa, pois por essa au-toridade conferida pelos indivíduos que o compõem, o Estado tem tanta força e poder que pode disciplinar à vontade de todos para a conquista da paz inter-na e para a ajuda mútua contra os inimigos externos.

Hobbes usou a tese do contrato para fazer a defesa do absolutismo, mas não o identificou ao poder da realeza. Ele nega aos homens o direito de resistência à tirania do soberano, mas se uma revolução triunfar, é porque o soberano não soube cumprir os deveres que o pacto político lhe impunha.

Já outros autores usarão o mesmo contrato para demonstrar a tese de que o poder político é necessariamente limitado, como veremos em John Locke, a seguir.

Page 10: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 10

b) John Locke

John Locke (1632-1704) também foi um filósofo inglês, mas ao contrário de Hobbes, era defensor do Liberalismo. Assim como Hobbes, Locke parte tam-bém da existência de um estado de natureza, mas diverge dele ao afirmar que nesta época primitiva haveria sim ordem e razão, mas que a ausência de leis fundamentais, de uma autoridade que dirima os litígios e defenda o homem contra a injustiça dos mais fortes, determina uma situação de instabilidade e incerteza, e por isso é criada a sociedade política.

A propriedade é um conceito central na teoria de Locke, para quem a finalida-de do estado civil é a preservação da propriedade. Dentro deste conceito não se coloca apenas os bens ou posses do indivíduo, mas também sua vida e sua liberdade.

É assim criado o Estado, para interpretar a lei natural, manter a ordem e a harmonia entre os homens e garantir o direito de propriedade. Estes, porém, não cedem, não alienam seus direitos em favor do Estado, que neles deve respeitar os direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade.

Na realidade, o poder deve ser exercido pela maioria, e o Estado existe pelo consentimento expresso ou tácito dos indivíduos; expresso em relação aos que intervieram no contrato social, e tácito para os seus descendentes. Muitos con-tratualistas defendiam a existência de dois pactos: um entre os indivíduos e outro entre o povo e o soberano. O primeiro é o pacto de associação, pelo qual vários indivíduos reúnem-se para viver em sociedade e o segundo o de sujei-ção, que instaura o poder político e ao qual o indivíduo promete obedecer.

O pacto de associação é comum a todos os contratualistas, já que o contrato social surge desse pacto. Já o de subordinação não é unânime. Para Bobbio:

Antes de tudo, há uma distinção preliminar entre dois tipos de contrato, es-pecialmente aprofundada pelos juristas Althusius e Pufendorf: temos, por um lado, o "pacto de associação" entre vários indivíduos que, ao decidirem viver juntos, passam do estado de natureza ao estado social; por outro, o "pacto de submissão" que instaura o poder político e ao qual se promete obedecer. O primeiro cria o direito, o segundo instaura o monopólio da força; com o primeiro nasce o direito privado, com o segundo, o direito público.

Hobbes fundiu ambos em um único pacto. Ao fazer o pacto de associação, ao mesmo tempo o indivíduo está renunciando a seus direitos num pacto de sub-missão. Já Locke não deixa claro se há um único pacto ou se são dois, mas a doutrina alega que ele defendia a existência dos dois pactos. Para Locke, o pacto de submissão é uma forma de impor limites ao poder do governo, não seria imediata a concessão de soberania para um ente superior.

Page 11: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 11

c) Jean Jacques Rousseau

Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, é outro autor contratualista. Ele viveu e escreveu suas obras no Século das Luzes. Durante os tempos do Iluminismo, a teoria política adquiriu imenso vigor. O esgotamento das monarquias absolutis-tas serviu de estímulo aos pensadores na promoção de uma imensa discussão sobre o aperfeiçoamento da sociedade e de suas instituições.

A filosofia política de Rousseau encontra-se desenvolvida num pequeno tratado intitulado Do Contrato Social, publicado em 1762. A obra acabou por marcar de modo profundo a história política subsequente, e o ponto de partida para tanto se deu quando se tornou, no final do século XVIII, a “bíblia” dos líderes da Revolução Francesa.

Rousseau admite ainda mais explicitamente a existência do estado de nature-za, uma época primitiva em que o homem vivia feliz e livre fora da sociedade. Segundo o autor, o homem nasceu livre, feliz e bom; a sociedade o tornou escravo, mau e desgraçado.

Para Rousseau, o estado de natureza se divide em dois momentos. No primeiro deles, a felicidade humana se constituíra plenamente e o “bom selvagem” é seu habitante. Os homens viviam isoladamente, de acordo com seus instintos. Não existiam relações sociais, por isso os homens não se obrigavam a nada nem deviam obediência a ninguém, a não ser a própria razão. Não havia coa-ção.

A época de ouro do estado de natureza terminou devido ao progresso da civili-zação. No progresso, a instituição da sociedade seria um estágio decadente do estado de natureza. A sociedade e a propriedade seriam fundadas na desigual-dade:

O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou de dizer “isto é meu” e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo.

O homem civilizado, que vive em sociedade, é infeliz. O estado de natureza é perpetuado em condições maléficas ao ser humano. O progresso, ao contrário do que se pode imaginar, traz benefícios apenas aparentes à vida humana: as ciências e as artes não colaboram para aprimorar o homem, mas para acelerar sua decadência.

Do Contrato Social se inicia com a constatação de que o homem se encontra em servidão:

O homem nasce livre e por toda a parte encontra-se a ferros. O que crê senhor dos demais não deixa de ser mais escravo do que eles. Como adveio tal mu-dança? Ignoro-o. O que poderá legitimá-la? Creio poder resolver esta questão.

Page 12: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 12

Para manter a ordem e evitar maiores desigualdades, os homens criaram a sociedade política, a autoridade e o Estado, mediante um contrato. Por esse contrato o homem cede ao Estado parte de seus direitos naturais, criando as-sim uma organização política com vontade própria, que é a vontade geral. Mas dentro dessa organização, cada indivíduo possui uma parcela de poder, e, por-tanto, recupera a liberdade perdida em consequência do contrato social.

No texto, ele está empenhado, sobretudo, em criar e fundamentar uma nova forma de autoridade política. Tradicionalmente, esta autoridade estava concen-trada no monarca. Os outros teóricos contratualistas procuravam afirmar a existência de um pacto de submissão, entre o povo e o governante, em que este garantiria a segurança e aquele concordava em obedecer. Rousseau rejei-ta o pacto de submissão. Para ele, há apenas o pacto entre os homens, o pacto de associação, em que cada um obedece apenas a si próprio, dentro de uma “vontade geral”.

O corpo político, moral e coletivo surgido do pacto toma a forma de uma pes-soa pública, artificial, mas que tem a mesma sensibilidade de uma pessoa co-mum. Assim como a natureza forjou os homens, estes formaram o Estado. Rousseau concebe a ordem social pós-pacto como aquela em que os papeis sociais são definidos em torno de responsabilidade e compromissos com o bem comum.

O quadro abaixo faz um resumo da visão desses três autores:

Hobbes Locke Rousseau

1) Defensor do absolutismo;

2) Via o estado de natureza como um período de caos e violência;

3) O contrato social represen-taria a abdicação da liberdade e não poderia se rescindido jamais;

4) Os homens cediam seus direitos em benefício do Estado.

1) Defensor do libera-lismo;

2) Via o estado de natureza de uma forma melhor, mas a falta de uma ordem política poderia traz violações ao direito de propriedade;

3) Os homens não cedem seus direitos em favor do Estado.

1) Teórico iluminista, suas ideias influenciaram a revolu-ção francesa;

2) No estado de natureza, primeiro, o homem era livre, vivia só e era feliz; quando foi criada a propriedade, surgiu a desgraça do homem.

4) O Estado representa a vontade geral e cada indiví-duo mantém uma parcela de poder.

Page 13: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 13

11..33.. EEssttaaddoo MMooddeerrnnoo

A Paz de Westfália corresponde a uma série de tratados que foram assinados na Alemanha em 1648, pondo fim na guerra dos 30 anos. Através dela foi ins-tituído o moderno sistema de relações internacionais, e este momento é consi-derado como o instaurador do Estado Moderno, entendido como uma unidade territorial soberana.

O Estado Moderno tem origem com o absolutismo (século XIV), quando o mo-narca centraliza o poder político dentro de um determinado território. Até en-tão, na Idade Média, o poder estava distribuído entre vários “feudos”, cada um mandando em seu pedaço de chão. Nesse período, o Rei concentra todo o po-der, administrando o Estado de forma arbitrária.

a) Antes do Estado Moderno

O Estado Moderno – aquele composto por um território, um povo e uma sobe-rania – surgiu com o absolutismo. Porém, isso não significa que não existiu nenhuma forma de Estado anteriormente. Segundo Dalmo Dallari, com peque-nas variações, os autores que tratam da evolução do Estado adotaram uma sequência cronológica que compreende as seguintes fases:

���� Estado Antigo: com a designação de Estado Antigo, Oriental ou Teocráti-co, os autores se referem às formas de Estado mais recuadas no tempo, que apenas começavam a definir-se entre as antigas civilizações do Orien-te propriamente dito ou do Mediterrâneo. A família, a religião, o Estado, a organização econômica formavam um conjunto confuso, sem distinção aparente. Há duas marcas fundamentais do Estado deste período: a natu-reza unitária e a religiosidade. O Estado Antigo aparece como uma unida-de geral, não admitindo qualquer divisão interior, nem territorial, nem de funções;

���� Estado Grego: na realidade não havia um Estado único, envolvendo toda a civilização helênica, mas várias cidades-Estado, que apresentavam ca-racterísticas comuns. O ideal visado era a autossuficiência, a formação de uma cidade completa, com todos os meios de se abastecer por si.

���� Estado Romano: uma das peculiaridades mais importantes do Estado Romano é a base familiar da organização, razão pela qual se concediam privilégios especiais aos membros das famílias patrícias, compostas pelos descendentes dos fundadores do Estado. Assim como no Estado Grego, durante muitos séculos, o povo participava diretamente do governo, mas aqui também devemos considerar apenas uma faixa restrita da população.

Page 14: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 14

� Estado Medieval: surge com as diversas invasões bárbaras e o esface-lamento do Estado Romano. Apesar da presença do Imperador, havia uma pluralidade sem definição hierárquica de poderes menores e a variedade imensa de ordens jurídicas, que formavam um quadro de instabilidade. Existiam os feudos, uma terra outorgada pelo suserano ao vassalo, onde ele poderia exercer seu poder de forma autônoma.

b) Estado Moderno

O Estado Moderno surge justamente em oposição a esta fragmentação do po-der no Estado Medieval, quando o monarca concentra o poder dentro do terri-tório, criando a soberania, no sentido de supremo, o mais alto de todos dentro de uma precisa delimitação territorial. A burguesia ascendente necessitava da ordem para ter segurança em suas rotas comerciais e da unidade para ter uma moeda comum que permitisse o comércio em maior escala. Por isso patrocinou a ascensão da primeira versão do Estado Moderno, o Estado Absolutista.

O Estado Moderno, no que tange à sua organização, constituiu-se na passagem dos meios reais de autoridade e administração, que eram de domínio privado, para a propriedade pública; e o poder de mando, que vinha sendo exercido como um direito do indivíduo, fosse expropriado – primeiro, em benefício do príncipe absoluto e, depois, do Estado. Segundo Bobbio:

A história do surgimento do Estado moderno é a história dessa tensão: do sistema policêntrico e complexo dos senhorios de origem feudal se chega ao Estado territorial concentrado e unitário por meio da chamada racionaliza-ção da gestão do poder e da própria organização política imposta pela evo-lução das condições históricas materiais.

Para Weber, as características essenciais do Estado Moderno são:

���� a ordem legal,

���� a burocracia,

���� a jurisdição compulsória sobre um território

���� a monopolização do uso legítimo da força

Essa última característica é importante, bastante cobrada. Somente o Estado tem a legitimidade para usar a força dentro de seu território, ele suprime a possibilidade de outras instâncias exercerem a violência. De acordo com Max Weber, o Estado moderno, ao se constituir, foi retirando dos diversos elemen-tos da sociedade o direito de uso da força e da violência que antes era exercido por várias instâncias sociais, e foi concentrando para si este direito, utilizando-o apenas de conformidade com as leis vigentes. Hoje, o Estado moderno rei-

Page 15: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 15

vindica para si "o monopólio da violência física legítima", exercendo-o como o seu único detentor. E o uso da força e da violência pelo Estado é legítimo por-que está fundado em lei socialmente reconhecida. Só o Estado detém a autori-dade e o poder de prender, de sustar o direito de ir e vir e de algemar e punir o cidadão de várias formas.

Outra característica apontada por Weber é a burocracia. Aqui, temos que to-mar cuidado, pois as monarquias absolutistas da Europa vão manter o patri-monialismo como modelo de gestão predominante até meados do Século XIX. Nesse caso, temos que entender que Weber vê a burocratização como uma tendência inevitável, burocratização sendo usada aqui no sentido de criação de normas e uso de um quadro administrativo profissional. Com o crescimento do Estado e a maior complexidade das funções exercidas por ele, torna-se cada vez mais imprescindível a existência de uma estrutura racional.

Sobre a necessidade do Estado Moderno para a burguesia, Bobbio afirma que:

É fácil de entender, nesse processo, o papel desenvolvido pelas chamadas premissas necessárias para o nascimento da nova forma de organização do poder. A unidade de comando, a territorialidade do mesmo, o seu exercício através de um corpo qualificado de auxiliares “técnicos” são exigências de segurança e eficiência para os extratos de população que de uma parte não conseguem desenvolver suas relações sociais e econômicas no esquema das antigas estruturas organizacionais.

Podemos ver aqui três características que ele chama de “necessárias”: unidade de comando, territorialidade e corpo técnico.

c) Etapas

Vamos ver agora a classificação proposta por Norberto Bobbio para a evolução do Estado, que já foi usada pela ESAF em questões. Para o autor, teríamos a seguinte sequência de formas de Estado consagradas junto aos historiadores:

1. Estado feudal

2. Estado estamental

3. Estado absoluto

4. Estado representativo.

Vamos ver as definições de Bobbio para cada um deles.

O Estado feudal é caracterizado pelo exercício acumulativo das diversas funções diretivas por parte das mesmas pessoas e pela fragmentação do poder central em pequenos agregados sociais.

Page 16: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 16

No Estado Feudal há uma fragmentação do poder. É só lembrarmos que no feudalismo os nobres possuidores de terra detinham um elevado poder sobre seus feudos. Ele está se referindo ao período anterior ao Estado Moderno, na Idade Média.

Ainda antes do Estado Moderno, antes do absolutismo, ele fala em Estado Estamental:

Por Estado estamental entende-se a organização política na qual se foram formando órgãos colegiados que reúnem indivíduos possuidores da mesma posição social, precisamente os estamentos, e enquanto tais fruidores de di-reitos e privilégios que fazem valer contra o detentor do poder soberano através das assembleias deliberantes como os parlamentos.

Estamento, segundo o Dicionário Houaiss, significa: “grupo de indivíduos com análoga função social ou com influência em determinado campo de atividade”. Uma sociedade estamental é uma “ordem de status” baseada em “prestígio social” para qualificar positiva ou negativamente os grupos sociais. Uma socie-dade dividida em estamentos diferencia-se de uma sociedade dividida em clas-ses sociais porque, nesta, o critério de separação das classes é econômico, é a posse ou não de riqueza, de um bem. Já nos estamentos, o critério é status, é o pertencimento a determinado grupo. A pessoa é nobre porque nasceu com “sangue azul”. Por mais que um burguês viesse a adquirir riqueza, não faria parte da nobreza.

Os grupos positivamente qualificados costumam manter um estilo de vida que desvalora o trabalho físico, o esforço premeditado e contínuo, o interesse lu-crativo, e buscam, através de monopólios sociais e econômicos, a manutenção de um modus vivendi exclusivo, diferenciado, traduzido em privilégios de con-sumo. A razão de ser dos estamentos, portanto, é a desigualdade calcada na diferenciação da honra pessoal, no exclusivismo social.

Enquanto a mobilidade social numa sociedade dividida em classes é possível, pois basta uma pessoa adquirir riqueza para mudar de classe, na sociedade estamental quase não há mobilidade, pois as pessoas já nascem dentro de determinado estamento. Um exemplo próximo são as castas, na Índia.

Bobbio diferencia a evolução do Estado Moderno em duas fases: sociedade por camadas e moderna sociedade civil. A primeira era caracterizada pela presença de uma articulação social por camadas (baseadas no reconhecimento jurídico dos "direitos" e das "liberdades" tradicionais e no prestígio da posição social adquirida). Já a segunda, uma configuração contemporânea, constitui um mo-do diferente de articulação social, horizontal e não vertical, fundada sobre a posição de classes no confronto das relações de produção capitalista.

Page 17: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 17

Num primeiro momento as relações sociais tinham um caráter muito mais es-tamental, baseadas no prestígio, enquanto no segundo, o capitalismo havia transformado essas relações para algo mais próximo das classes sociais, base-ado na posição econômica dos indivíduos.

Podemos dizer que esta sociedade por camadas era caracterizada pela força dos antigos grupos feudais, os nobres, que ainda detinham muito poder e limi-tavam a atuação do príncipe, já que este, num primeiro momento, dependia das categorias ou camadas sociais para criar e manter o quadro administrativo e um exército permanente. Segundo Bobbio:

A origem "senhoril" do poder monárquico foi na verdade de tal maneira marcada que depressa condicionou o processo de formação do aparelho es-tatal por causa da absoluta insuficiência das entradas privadas do príncipe para a instauração de uma administração eficiente e, sobretudo, para a cri-ação de um exército estável. Daí resultou a absoluta necessidade do prínci-pe de recorrer à ajuda do "país", por meio de suas expressões políticas e sociais: as categorias sociais reunidas em assembleia.

A ajuda financeira era subordinada a um prévio “conselho” por parte das pró-prias camadas sociais, em torno dos fins para os quais o príncipe tinha sido obrigado a solicitar sua ajuda financeira. Junte-se a isso o fato de a posição de força ocupada por essas camadas sociais, que detinham participação nos mais altos cargos administrativos e políticos que paulatinamente iam surgindo para acompanhar o crescimento da dimensão estatal.

Isso constituía um aspecto contraditório em relação à tendência centralizadora do Estado Moderno, uma tendência para a gestão monopolista do poder por parte de uma instância unitária e monocrática. O desenvolvimento constitucio-nal do Estado moderno devia desenvolver-se contra as categorias sociais, em razão da eliminação do seu poder político e administrativo.

Pouco a pouco, o príncipe superou a dependência de financiamento junto a estas camadas e eliminou o "direito de aprovação dos impostos" dos grupos sociais, inventando modos e canais de arrecadação das contribuições controla-das e administradas diretamente por ele. O principie ganhou poder, em detri-mento das camadas sociais. Segundo Bobbio:

Esse processo foi possível, conforme se acentuou, graças à progressiva conquista, por parte do príncipe e de seu aparelho administrativo, da esfera financeira, à qual estava intimamente ligada a esfera econômica do país. Is-so pode acontecer, em primeiro lugar, graças ao apoio que o príncipe facil-mente encontrou, na sua luta contra os privilégios, até fiscais, da mais importante das categorias sociais: a nobreza. Esse apoio veio da parte dos estratos mais empenhados da população e particularmente da burguesia urbana, na mira de uma distribuição dos encargos fiscais mais justa entre

Page 18: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 18

as várias forças do país e, também, de uma ativa política de defesa, de sus-tentação e de estímulo do príncipe em relação à atividade.

O principie ganha o apoio da burguesia na luta contra o poder da nobreza, principalmente contra os privilégios dessa classe, buscando uma tributação mais justa. Além disso, buscava-se uma delimitação de um espaço das rela-ções sociais. Bobbio afirma que:

O Estado moderno significava precisamente a negação de tudo isso: a ins-tauração de um nível diferente da vida social, a delimitação de uma esfera rigidamente separada de relações sociais, gerenciada exclusivamente de uma forma política.

A negação a que o autor se refere é a estrutura da sociedade de camadas soci-ais, em que não havia uma separação entre o social e o político e persistia uma articulação policêntrica, com base na prevalência senhorial ou "pessoal" do poder. Portanto, o Estado Moderno surge como uma forma de diferenciação do Estado e da sociedade civil. A gestão do Estado deverá se dar de forma exclu-sivamente política, excluindo-se a influência das categorias sociais.

O Estado Moderno nasceu da passagem do feudalismo para a Idade Moderna, possuindo como característica marcante a centralização e a personalização na figura do monarca que detinha o poder com exclusividade. A unidade dos Es-tados Nacionais convergia para o soberano, que era o elemento de integração, consolidação e poder. Nascia a primeira versão do Estado Moderno, o Estado Absolutista.

A formação do Estado absoluto ocorre através de um duplo processo parale-lo de concentração e de centralização do poder num determinado território.

Percebam que o autor fala em concentração e centralização do poder. A pri-meira corresponde ao fato de somente o Rei poderia exercer o poder, ele seria o único poder dentro do território. A centralização corresponde ao fato de as cidades e outras formas de associação perderem sua autonomia.

Quando o Estado se tornou monopolista na esfera política, os interlocutores diretos deixaram de ser as categorias, passando a ser os indivíduos, instalando o princípio do individualismo, um dos marcos do Estado Moderno Liberal.

A excessiva centralização de poder nas mãos do rei, cujo poder era ilimitado e arbitrário, passou a se tornar um empecilho para a classe burguesa. O Estado Absoluto, de incentivador da burguesia, passou a ser seu obstrutor. No início, havia o apoio a uma política mercantilista na qual a burguesia comercial era privilegiada com uma estreita regulamentação das atividades econômicas, o que era uma necessidade para a consolidação e o acúmulo de capitais. Porém, o Estado Absolutista passou a ser considerado um empecilho ao desenvolvi-

Page 19: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 19

mento das atividades econômicas quando houve a necessidade de expansão do capital para além das fronteiras nacionais.

Com a Revolução Francesa, em 1789, uma nova fase do Estado Moderno tem início. Sob os auspícios de Rousseau e tendo como propulsor o desejo da bur-guesia de ir além do poder econômico que já possuía, tomando para si o poder político que era privilégio da aristocracia, nasce o Estado Liberal. Se durante o regime absolutista havia a concentração do poder nas mãos do monarca, no Estado Liberal o poder foi transferido ao povo. A determinação da política eco-nômica era no sentido de não intervenção nos negócios privados, deixando-os fluir ao sabor do mercado.

Em relação ao Estado Representativo, Bobbio afirma que ele surgiu:

sob a forma de monarquia constitucional e depois parlamentar, na Inglater-ra após a ‘grande rebelião’, no resto da Europa após a revolução francesa, e sob a forma de república presidencial nos Estados Unidos da América após a revolta das treze colônias contra a pátria-mãe.

O que diferencia o Estado representativo dos demais é a presença de represen-tantes do “povo”, reconhecendo-se direitos políticos aos indivíduos. No Estado representativo os sujeitos soberanos não são mais o príncipe investido por Deus, nem o povo como sujeito coletivo e indiferenciado. É o cidadão, que possui direitos naturais, direitos que cada indivíduo tem por natureza e por lei e que, precisamente porque originários e não adquiridos, podem fazer valer contra o Estado.

Vimos acima que Bobbio colocou uma sequência reconhecida pela doutrina que contém quatro tipos de Estado: feudal, estamental, absolutista e representati-vo. Mas o autor afirma que a última fase da sequencia histórica não exaure certamente a variedade de estados hoje existentes. Os Estados que escapam da fase dos Estados representativos são os Estados Socialistas (Bobbio es-creve ainda na época da URSS). Contudo, não é fácil dizer qual é a forma de Estado que eles representam, sendo muito amplo o contraste entre os princí-pios constitucionais oficialmente proclamados e a realidade de fato.

Um traço marcante que diferencia os Estados socialistas, em contraste com as democracias representativas é que, nestas, nós temos sistemas multipartidá-rios e, naqueles, monopartidários. É só lembrarmos-nos da China, que até hoje mantém um sistema de partido único.

Page 20: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 20

Estado Feudal

Estado Estamental

Estado Absoluto

Estado Representativo

Estado Socialista

Exercício acumulativo das diversas funções diretivas por parte das mesmas pessoas e pela frag-mentação do poder central em peque-nos agrega-dos sociais.

Composto por ór-gãos colegiados que reúnem indivíduos possuidores da mesma posição social, precisamen-te os estamentos, e enquanto tais frui-dores de direitos e privilégios que fazem valer contra o detentor do poder soberano através das assembleias deliberantes como os parlamentos.

Duplo proces-so paralelo de concentração e de centrali-zação do poder num determinado território. Centrava-se na figura do rei, que era a fonte da qual emanavam todas as de-terminações.

Presença de representantes do “povo”, reco-nhecendo-se direitos políticos aos indivíduos. O soberano não é mais o príncipe investido por Deus, nem o povo como sujei-to coletivo e indiferenciado, mas sim o cida-dão, que possui direitos naturais.

O domínio de um partido único reintroduz no sistema político o princípio mono-crático dos gover-nos monárquicos do passado e talvez constitua o verdadeiro ele-mento caracterís-tico dos Estados socialistas, em confronto com os sistemas poliár-quicos das demo-cracias ocidentais

11..44.. GGoovveerrnnoo ee AAppaarreellhhoo ddoo EEssttaaddoo

Vamos ver uma questão da ESAF:

4. (ESAF/MPOG/2003) O governo é o grupo legítimo que mantém o poder, sendo o

Estado a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada. No caso das

democracias liberais, o Estado tem que manter a legitimidade desse grupo atendendo

de forma diferenciada ao seu público de apoio:

Essa questão foi tirada do glossário de um curso da ENAP:

Governo: Grupo legítimo que mantém o poder, sendo o Estado a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada. É formado por todos os poderes e funções da autoridade pública.

Dessa forma, temos que entender que esta parte da alternativa está correta, já que é cópia. É um tanto vago dizer que o Estado é a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada, mas também não podemos dizer que isto esteja errado. A questão é errada porque, nas democracias liberais, o Es-tado não deve atender determinados grupos de forma diferenciada. Ele deve obedecer ao princípio do universalismo de procedimentos. Veremos isso me-

Page 21: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 21

lhor na burocracia e no item do “aparelho do Estado nas democracias liberais”, na Aula 02. Como a alternativa fala em democracias liberais, temos que anali-sar a questão sob a ótica do Estado democrático, a inclusão das demais classes sociais na política.

O Estado contemporâneo é visto como uma organização que está sob a in-fluência de três tipos de agentes sociais: a burocracia operando no seu interi-or; as classes ou elites dirigentes, formadas pelos grandes empresários, pelos intelectuais, pelos políticos, pelos líderes corporativos; e, finalmente, a socie-dade civil como um todo, que engloba os dois primeiros, mas é mais ampla que os mesmos. Segundo Maria das Graças Rua:

Esta tensão entre o ideal e o mundo real da política, entre o bem público e o interesse particular, tem sido objeto da reflexão política e do esforço de construção de mecanismos institucionais que configuram o que hoje conhe-cemos como democracia liberal: a regra da maioria, a separação e indepen-dência dos poderes, o mandato representativo limitado, as eleições livres e regulares, e outras.

A ação do Estado não é apenas a expressão da vontade das classes dominan-tes, nem é o resultado da autonomia da burocracia pública. Em contrapartida, também não é a manifestação de interesses gerais. Ao invés disso, é o resul-tado contraditório e sempre em mudança das coalizões de classe que se for-mam na sociedade civil e da autonomia relativa do Estado garantida por sua burocracia interna. Portanto, a legitimidade do governo, nas democracias libe-rais, não é mantida atendendo-se de forma diferenciada ao seu público de apoio, mas uma relação como diversos atores, inclusive toda a sociedade.

Bobbio conceitua governo como:

O conjunto de pessoas que exercem o poder político e que determinam a ori-entação política de uma determinada sociedade. É preciso, porém, acrescentar que o poder de Governo, sendo habitualmente institucionalizado, sobretudo na sociedade moderna, está normalmente associado à noção de Estado.

Existe uma segunda acepção do termo Governo, mais própria da realidade do Estado moderno, a qual não indica apenas o conjunto de pessoas que detêm o poder de Governo, mas o complexo dos órgãos que institucionalmente têm o exercício do poder. Neste sentido, o Governo constitui um aspecto do Estado. Segundo Maria das Graças Rua:

O Governo, por sua vez, é o núcleo decisório do Estado, formado por membros da elite política, e encarregado da gestão da coisa pública. Enquanto o Estado é permanente, o governo é transitório porque, ao menos nas democracias, os que ocupam os cargos governamentais devem, por princípio, ser substituídos periodicamente de acordo com as preferências da sociedade.

Page 22: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 22

Hely Lopes Meirelles traz o conceito de Governo:

Governo – Em sentido formal, é o conjunto de poderes e órgãos constitucio-nais; em sentido material, é o complexo de funções estatais básicas; em sen-tido operacional, é a condução política dos negócios públicos. Na verdade, o Governo ora se identifica com os Poderes e órgãos supremos do Estado, ora se apresenta nas funções originárias desses Poderes e órgãos como manifestação da soberania. A constante, porém, do Governo é a sua expressão política de comando, de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente.

Podemos perceber que o governo é aquele que exerce a soberania. É impor-tante destacar que esta pertence ao povo, como afirma a Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º:

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Portanto, como já afirmava Rousseau, o poder tem origem no povo, é nele que reside a soberania. Porém, apesar de pertencer ao povo, ela é exercida por seus representantes, que formam o governo. Meirelles diferencia governo de Administração Pública.

Administração Pública – Em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituí-dos para consecução dos objetivos do Governo; em sentido material, é o conjunto das funções necessária aos serviços públicos em geral; em acep-ção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletivi-dade. Numa visão global, a Administração é, pois, todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das ne-cessidades coletivas.

Neste conceito de administração pública temos o que chamamos de aparelho de Estado. Este corresponde à estrutura do Estado encarregada de colocar os servi-ços públicos em prática. No Plano Dire-tor da Reforma do Aparelho do Estado, a definição é a seguinte:

Entende-se por aparelho do Estado a administração pública em sentido am-plo, ou seja, a estrutura organizacional do Estado, em seus três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e três níveis (União, Estados-membros e Municípios). O aparelho do Estado é constituído pelo governo, isto é, pela cúpula dirigente nos Três Poderes, por um corpo de funcionários, e pela for-ça militar. O Estado, por sua vez, é mais abrangente que o aparelho, por-que compreende adicionalmente o sistema constitucional-legal, que regula a

O Plano Diretor é um documento do

Governo FHC, de 1995, e que trazia a base

da reforma gerencial que seria promovida.

Está disponível no site:

http://www.bresserpereira.org.br/Docum

ents/MARE/PlanoDiretor/planodiretor.pdf

Page 23: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 23

população nos limites de um território. O Estado é a organização burocrática que tem o monopólio da violência legal, é o aparelho que tem o poder de legislar e tributar a população de um determinado território.

Com base nesta distinção entre Estado e Aparelho do Estado, o plano justifica porque se chama Reforma do Aparelho do Estado e não Reforma do Estado. A segunda seria um projeto amplo que diz respeito às varias áreas do governo e, ainda, ao conjunto da sociedade brasileira; enquanto que a reforma do apare-lho do Estado tem um escopo mais restrito: está orientada para tornar a admi-nistração pública mais eficiente e mais voltada para a cidadania.

Quando se quer reformar o Estado, o objetivo é melhorar a governabilidade; quando se quer reformar o aparelho do Estado, o objetivo é melhorar a gover-nança, conceitos que estudaremos na Aula 04. A governabilidade pode ser entendida como a capacidade de governar, envolve o relacionamento do Esta-do com a sociedade, sua legitimidade. Já a governança pode ser entendida como a capacidade de gestão, a capacidade técnica, financeira e gerencial de implementar as políticas públicas.

Segundo Maria das Graças Rua:

O que hoje entendemos como “Administração Pública” consiste em um con-junto de agências e de servidores profissionais, mantidos com recursos pú-blicos e encarregados da decisão e implementação das normas necessárias ao bem-estar social e das ações necessárias à gestão da coisa pública.

Na ótica marxista, o Estado é um aparelho repressivo, isto é, o Estado é uma máquina, um aparato técnico que garante à classe dominante seu poder sobre as classes dominadas. O Estado é, antes de tudo, composto de aparelhos re-pressivos, que são a política, os tribunais, as prisões, a polícias, o exército, o Governo. Estes aparelhos trabalham a serviço das classes dominantes perpe-tuando sua dominação através da força. Existem ainda os aparelhos ideológi-cos do Estado, que são usados para que o capitalismo possa se reproduzir, como a escola, a igreja, a família, sindicatos, o direito e outros.

11..55.. CCoonncceeiittooss FFuunnddaammeennttaaiiss ddoo DDiirreeiittoo PPúúbblliiccoo

Podemos conceituar o Direito Público como o conjunto de normas que possuem natureza pública, ou seja, na qual o Estado atua com seu poder extroverso, por se tratarem de temas de relevante caráter social e organizacional da socie-dade. São ramos do Direito Público: Direito Constitucional, Administrativo, Financeiro, Penal, Internacional Público, Internacional Privado e Processual.

Page 24: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 24

Segundo Norberto Bobbio, durante séculos o direito privado foi o direito por excelência. O primado do direito privado se afirmou com a difusão e recepção no Ocidente do direito romano, cujos institutos principais são a família, a pro-priedade, o contrato e os testamentos.

O direito público como corpo sistemático de normas nasce muito tarde com respeito ao direito privado: apenas na formação do Estado Moderno, embora possam ser encontradas as origens dele entre os comentadores do século XIV. Com a dissolução do Estado antigo e com a formação das monarquias germâ-nicas, as relações políticas sofreram uma transformação tão profunda e surgi-ram na sociedade medieval problemas tão diversos – como aqueles das relações Estado e Igreja, entre o Império e os reinos, entre os reinos e as ci-dades – que o direito romano passou a oferecer poucos instrumentos de inter-pretação e análise. O Estado Liberal manteve o primado do privado sobre o público, mas segundo Bobbio:

O primado do público assumiu várias formas segundo os vários modos atra-vés dos quais se manifestou, sobretudo no último século, a reação contra a concepção liberal do Estado e se configurou a derrota histórica, embora não definitiva, do Estado Mínimo. Ele se funda sobre a contraposição do interes-se coletivo ao interesse individual e sobre a necessária subordinação, até a eventual supressão, do segundo ao primeiro, bem como a irredutibilidade do bem comum à soma dos bens individuais, e, portanto sobre a crítica de uma das teses mais correntes do utilitarismo elementar.

Mais a frente, Bobbio afirma que:

Praticamente, o primado do público significa o aumento da intervenção es-tatal na regulação coativa dos comportamentos dos indivíduos e dos grupos infra-estatais, ou seja, o caminho inverso ao da emancipação da sociedade civil em relação ao Estado, emancipação que fora uma das consequências históricas do nascimento, crescimento e hegemonia da classe burguesa.

Com a derrubada dos limites impostos à atuação estatal, o Estado foi pouco a pouco se reapropriando do espaço conquistado pela sociedade civil burguesa até absorvê-lo completamente na experiência extrema do Estado total.

O primado do público sobre o privado representa também o primado da política sobre a economia, ou seja, da ordem dirigida do alto sobre a ordem espontâ-nea, da organização vertical da sociedade sobre a organização horizontal. Pro-va disso é que o processo de intervenção dos poderes públicos na regulação da economia é também designado como processo de “publicização do privado”.

Contudo, o processo de publicização do privado é apenas uma das faces do processo de transformação das sociedades industriais mais avançadas. Ele é acompanhado e complicado por um processo inverso que Bobbio chama de

Page 25: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 25

“privatização do público”. O Estado Moderno é caracterizado por uma socieda-de civil constituída por grupos organizados cada vez mais fortes e atravessada por conflitos grupais que se renovam continuamente. Estes grupos são consi-derados como organizações semi-soberanas, como as grandes empresas, as associações sindicais, os partidos, dotadas de grande poder de influência nos rumos do Estado.

Assim, a publicização do privado representa o processo de subordinação dos interesses do privado aos interesses da coletividade, representada pelo Estado que invade e engloba progressivamente a sociedade civil. Já a privatização do público é caracterizada pela revanche dos interesses privados através da for-mação de grandes grupos que se servem dos aparatos públicos para o alcance dos próprios objetivos.

Ao mesmo tempo em que surge o Estado Liberal, temos também o apareci-mento da primeira noção de Estado de Direito. Ganha força o movimento polí-tico do Constitucionalismo, que tinha como objetivo estabelecer em toda parte regimes constitucionais, governos limitados em seus poderes, submetidos a constituições escritas. Este movimento confunde-se, no plano político, com o liberalismo e, como este, sua marcha no século XIX e nas três primeiras déca-das do século XX foi triunfal.

Uma das principais inovações do Estado Moderno foi a separação da esfera pública da privada. Ele surge como uma forma de diferenciação do Estado e da sociedade civil. Segundo Bobbio:

Através da concepção liberal do Estado tornam-se finalmente conhecidas e constitucionalizadas, isto é, fixadas em regras fundamentais, a contraposição e a linha de demarcação entre o Estado e o não-Estado, por não-Estado en-tendendo-se a sociedade religiosa e em geral a vida intelectual e moral dos indivíduos e dos grupos.

Bobbio, para melhor conceituar o Estado de Direito, faz uma distinção entre a limitação dos poderes do Estado e a limitação das funções do Estado:

O liberalismo é uma doutrina do Estado limitado tanto com respeito aos seus poderes quanto às suas funções. A noção corrente que serve para represen-tar o primeiro é Estado de direito; a noção corrente para representar o se-gundo é Estado mínimo. Enquanto o Estado de direito se contrapõe ao Estado absoluto entendido como legitibus solutus, o Estado mínimo se contrapõe ao Estado máximo: deve-se, então, dizer que o Estado liberal se afirma na luta contra o Estado absoluto em defesa do Estado de direito e contra o Estado máximo em defesa do Estado mínimo, ainda que nem sempre os dois movi-mentos de emancipação coincidam histórica e praticamente.

Podemos afirmar que os principais elementos do Estado de Direito são:

Page 26: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 26

���� a submissão do império a lei,

���� a separação dos poderes

���� a definição de direitos e garantias individuais.

A submissão ao império da lei se dá com o estabelecimento das primeiras Constituições, a sujeição do poder estatal ao ordenamento jurídico. Os liberais se enquadram na teoria jusnaturalista, defendendo que há uma série de direi-tos que precedem o Estado e que este deve obedecê-los. O Estado de Direito é aquele em que apenas as leis podem definir qual é o Direito que competirá ao governante aplicar.

Em relação à separação de poderes, Montesquieu ganhou notoriedade com a criação da teoria da colaboração de funções, apontando a existência de três formas: o Legislativo, que fazia e corrigia as leis; o Executivo das coisas que dependem dos direitos das gentes que promovia a paz ou a guerra e ações ligadas a outros Estados; e, por último, o Executivo das coisas que dependem do Direito civil, ou seja, aquele que possui o poder de julgar porque punia os crimes e julgava os litígios entre os indivíduos, dando este último origem ao Poder Judiciário.

O poder na realidade é uno, e tem titular único – o povo. A separação de pode-res estabelece uma divisão de caráter funcional e orgânico quanto ao exercício das três funções estatais: a legislativa, a jurisdicional e a administrativa.

Por fim, a enunciação dos direitos fundamentais refere-se justamente ao reco-nhecimento dos direitos que devem ser obedecidos pelo Estado. O objetivo das primeiras constituições liberais era assegurar à sociedade certos direitos e garantias mínimos, destinados a conferir-lhes um espaço de liberdade perante o Estado. Foram previstos, então, os direitos à liberdade de locomoção, de reunião, de manifestação do pensamento, o direito à vida e à propriedade, entre outros, bem como garantias relacionadas a estes direitos, a exemplo do habeas-corpus, remédio constitucional destinado a assegurar o direito à liber-dade de locomoção.

Estes direitos e garantias correspondem ao que chamamos de direitos funda-mentais de primeira geração. Sua característica principal é que exigem uma não-ação do Estado, no sentido de respeitar as esferas jurídicas por eles pro-tegidas. Por isso que estas Constituições são conhecidas também como negati-vas, dando ênfase ao objetivo construir um espaço de liberdade individual sem intervenção estatal.

Com o surgimento do Estado Representativo, assistiu-se ao surgimento do Estado Democrático de Direito, que reúne os princípios do Estado Democrático

Page 27: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 27

e o do Estado de Direito. Bobbio afirma que o Estado Representativo, surgiu “sob a forma de monarquia constitucional e depois parlamentar, na Inglaterra após a ‘grande rebelião’, no resto da Europa após a revolução francesa, e sob a forma de república presidencial nos Estados Unidos da América após a revol-ta das treze colônias contra a pátria-mãe”. No entanto, apesar de as primeiras constituições preverem a participação popular por meio do voto, esta partici-pação era ainda restrita. Segundo Darcy Azambuja:

As primeiras Constituições escritas e leis que se lhes seguiram, ainda que inspiradas nas ideias igualitárias das doutrinas do Contrato Social, não deram o direito de voto a todos os membros da sociedade. A primeira grande exclu-são foi das mulheres, até bem recentemente ainda. Os legisladores da Revo-lução Francesa, em contradição com as ideias de igualdade que pregavam, partiram do axioma de que sociedade deve ser dirigida pelos mais sensatos, mais inteligentes, mais capazes, pelos melhores, por uma elite enfim. É o que se denomina sufrágio restrito. Para descobrir essa elite dois critérios fo-ram adotados: 1º) são mais capazes os indivíduos que possuem bens de for-tuna; 2º) são mais capazes os que possuem mais instrução. É o sistema do senso alto, do voto restrito pelas condições de fortuna ou de instrução.

Além disso, o termo democrático não significa apenas que há uma maior parti-cipação da sociedade por meio do voto. O Estado de Direito durante o início do Estado Liberal tece como consequência a distorção do princípio da legalidade. Restringiu-se o exame da validade de uma lei aos seus aspectos meramente formais, permitindo a subsistência no ordenamento jurídico estatal de qualquer regra posta em vigor, uma vez observado o procedimento próprio para sua instituição.

Por causa disso, o Estado de Direito evoluiu em direção ao Estado Democrático de Direito, no qual se considera a lei não só pelo ângulo formal, mas também pelo material, reconhecendo-se a legitimidade tão somente daquelas que apre-sentarem conteúdo democrático, em conformidade com os interesses e aspira-ções do povo.

Segundo Macpherson, a expressão “democracia liberal” também apresenta esta dualidade de conceitos. Num primeiro sentido, ela pode ser considerada como a democracia de uma sociedade de mercado capitalista, onde a liberdade é um valor de suma importância. Num segundo sentido, ela expressa uma sociedade empenhada em garantir que todos os seus membros sejam igual-mente livres para concretizar suas capacidades, ou seja, ao lado da liberdade, a igualdade torna-se um valor imprescindível. Segundo o autor:

“Liberal” pode significar a liberdade do mais forte para derrubar o mais fra-co de acordo com regras do mercado; ou pode significar de fato igual liber-

Page 28: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 28

dade para todos empregarem e desenvolverem suas capacidades. Esta úl-tima definição é contraditória em relação à primeira.

Como teoria, a democracia liberal começou a surgir em princípios do século XIX. Mas é em meados do mesmo século que uma mudança na sociedade irá exigir um modelo muito diferente de democracia. A classe trabalhadora come-çava a parecer perigosa à propriedade, uma vez que as suas condições de vida e trabalho se tornavam tão ostensivamente desumanas. Começa a ganhar força o socialismo, colocando em alerta a burguesia.

Assim, numa segunda fase do Estado Liberal, no século XIX, buscou-se sua legitimação, através de lutas políticas e sociais, com a ampliação do conceito de cidadania, mediante expansão dos direitos políticos (como voto secreto, periódico e universal) a outros segmentos sociais e o resgate da ideia da igual-dade jurídica como o marco dos direitos fundamentais. Percebe-se uma mu-dança de rumos e de conteúdos no Estado Liberal, quando este passa a assumir tarefas positivas, prestações públicas, a serem asseguradas ao cida-dão como direitos peculiares à cidadania, ou agir como ator privilegiado do jogo sócio-econômico.

No decorrer da evolução política das sociedades, surge um segundo tipo de Constituição, a social ou dirigente. Enquanto as liberais eram chamadas de negativas, as sociais, pelo contrário, exigem uma atuação positiva do Estado. Esta mudança de paradigma ocorreu porque se percebeu que o Estado Liberal não assegurava plenas condições de desenvolvimento para os membros eco-nomicamente mais fracos do corpo social, o que impedia a plena fruição das liberdades asseguradas pela Constituição liberal.

O antigo individualismo do liberalismo deixou de se adequar à nova realidade social. A liberdade negativa precisou ser revista, girando em torno da remoção de obstáculos para o auto-desenvolvimento dos homens. Permitindo que os indivíduos usufruíssem de um número cada vez maior de liberdades, o libera-lismo estaria valorizando igualdade de oportunidades. Essa foi a fórmula de passagem do Estado mínimo para o Estado Social, o que resultou na transfor-mação de seu perfil, deixando de ser uma atuação negativa, para promover a assunção de tarefas positivas do Estado.

Aparecem então os direitos fundamentais de segunda geração, que defendem que o Estado coloque em prática uma série de políticas públicas que busquem justamente conferir tais condições materiais, de modo a assegurar um mínimo de igualdade entre os membros da sociedade. São os chamados direitos soci-ais, como os direitos ao trabalho, à saúde, à educação, entre outros direitos que se voltam a obter uma igualdade real entre os indivíduos, em complemen-to à igualdade formal assegurada pelo modelo anterior de Constituição. Aqui nascia o Estado Social de Direito.

Page 29: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 29

A primeira consequência desse novo perfil de atuação positiva trazido pelo Estado Social de Direito foi a diminuição da atividade livre do indivíduo. Cresce a intervenção estatal, desaparece o modelo de Estado mínimo, as liberdades contratuais e econômicas são reduzidas, nascem os partidos políticos. Governo e partidos são mais suscetíveis às reivindicações sociais. A justiça social era vista como necessidade de apoiar indivíduos de uma ou de outra forma quando sua autoconfiança e iniciativa não podiam mais dar-lhes proteção, ou quando o mercado não mostrava a flexibilidade ou a sensibilidade que era suposto de-monstrar na satisfação de suas necessidades básicas.

Esta justiça social emerge como componente estatal de reivindicações igualitá-rias, dando origem a construção do Estado do Bem-Estar ou Welfare State, que veremos na próxima aula.

22.. PPoonnttooss IImmppoorrttaanntteess ddaa AAuullaa ���� Os elementos constitutivos do Estado normalmente são três: povo e terri-tório são os elementos materiais; o elemento formal pode ser o poder, a sobe-rania, o governo, a finalidade, entre outros.

���� Há três modos pelos quais historicamente se formam os Estados:

���� Originário: em que a formação é inteiramente nova, nasce diretamente da população e do país, sem derivar de outro Estado preexistente. É decorrência natural da evolução das sociedades humanas.

���� Secundários: quando vários Estados se unem para formar um novo Estado, ou quando um se fraciona para formar outros.

���� Derivados: quando a formação se produz por influências exteriores, de outros Estados.

���� O contratualismo entende que o Estado surge de um pacto entre os ho-mens, que decidem acabar com a insegurança do estado de natureza transfe-rindo o poder para uma ordem soberana.

���� São características essenciais do Estado moderno: a ordem legal, a buro-cracia, a jurisdição compulsória sobre um território e a monopolização do uso legítimo da força.

���� Governo é o grupo legítimo que mantém o poder, sendo o Estado a estrutu-ra pela qual a atividade do grupo é definida e regulada. É formado por todos os poderes e funções da autoridade pública.

Page 30: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 30

���� Entende-se por aparelho do Estado a administração pública em sentido amplo, ou seja, a estrutura organizacional do Estado, em seus três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e três níveis (União, Estados-membros e Municípios). O aparelho do Estado é constituído pelo governo, isto é, pela cú-pula dirigente nos Três Poderes, por um corpo de funcionários, e pela força militar.

���� O Estado, por sua vez, é mais abrangente que o aparelho, porque compre-ende adicionalmente o sistema constitucional-legal, que regula a população nos limites de um território. O Estado é a organização burocrática que tem o monopólio da violência legal, é o aparelho que tem o poder de legislar e tribu-tar a população de um determinado território.

���� Os principais elementos do Estado de Direito são: a submissão do império a lei, a separação dos poderes, a definição de direitos e garantias individuais.

33.. QQuueessttõõeess CCoommeennttaaddaass

1. (ESAF/CGU/2012) Conforme o Dicionário de Política de Bobbio, Matteu-cci e Pasqualino, o Estado de Direito Moderno é composto por certas estrutu-ras. Das opções abaixo apenas uma não integra as estruturas do Estado de Direito Moderno.

a) Estrutura formal do sistema jurídico.

b) Estrutura material do sistema jurídico.

c) Estrutura social do sistema jurídico.

d) Estrutura política do sistema jurídico.

e) Estrutura político-administrativa do sistema jurídico.

Segundo o Dicionário de Política:

A estrutura do Estado de direito pode ser, assim, sistematizada como:

1) Estrutura formal do sistema jurídico, garantia das liberdades fundamen-tais com a aplicação da lei geral-abstrata por parte de juizes independentes.

2) Estrutura material do sistema jurídico: liberdade de concorrência no mer-cado, reconhecida no comércio aos sujeitos da propriedade.

3) Estrutura social do sistema jurídico: a questão social e as políticas refor-mistas de integração da classe trabalhadora.

Page 31: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 31

4) Estrutura política do sistema jurídico: separação e distribuição do poder.

Gabarito: E.

2. (ESAF/APO-MPOG/2010) O termo Estado evoluiu muito em sua utiliza-ção desde Maquiavel. Escolha a opção que não está correta.

a) Bruno Bauer, criticado por Marx em ‘A Questão Judaica’ (1844), analisa o Estado sob a ótica da emancipação política e critica o Estado religioso. Para Bauer, a religião é uma inimiga da razão e, consequentemente, do progres-so, pois impede a formação de um bem comum, pautado na comunidade de homens livres, na igualdade de direitos e no desfrute das liberdades, tor-nando-se necessária sua abolição.

b) A fundamentação do Estado Rousseauniano é a vontade de todos, que surge do conflito entre as vontades particulares de todos os cidadãos.

c) Para Marx, é no Estado político que são declarados os direitos do homem, como liberdade, a propriedade, a igualdade e a segurança. No entanto, essa liberdade concedida como direito do homem não se objetiva nas relações sociais. Desse modo, a igualdade política não tem correspondência na igual-dade social.

d) Para Weber, Estado é a entidade que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva.

e) O Estado, para Durkheim, é a instituição da disciplina moral que vai orientar a conduta do homem.

Nessa questão, até do Wikipedia A ESAF copiou.

A letra “A” é correta. Ela foi copiada de um artigo disponível em: http://xivciso.kinghost.net/artigos/Artigo_979.pdf

Bauer limita sua analise na emancipação política e se contenta em fazer cri-ticas ao Estado religioso. Considera a religião uma inimiga da razão e, con-sequentemente, do progresso, pois impede a formação de um bem comum, pautada na comunidade de homens livres, na igualdade de direitos e no desfrute das liberdades, tornando-se necessário sua abolição.

Nesse contexto, Bauer acredita que suplantando a religião, superando os preceitos teológicos, o homem alcançaria uma emancipação política verda-deira. Ao contrário dessa posição, Marx afirma que não é necessário que o homem renuncie a sua religião para alcançar a emancipação política, pois

Page 32: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 32

este pressuposto se faz necessário em outro tipo de emancipação mais am-plo: a emancipação humana.

A letra “B” é errada, não é vontade de todos, mas sim vontade geral. Foi copi-ada do seguinte site:

http://www.espacoacademico.com.br/022/22and_rousseau.htm

4. A vontade de todos e a vontade geral

A fundamentação do Estado rousseauniano é a vontade geral, que surge do conflito entre as vontades particulares de todos os cidadãos. Como existe uma tendência humana em defender os interesses privados acima da von-tade coletiva, a assembleia, enquanto um processo de decisão, é o espaço da destruição das vontades particulares em proveito do interesse comum. Isto é diferente da vontade de todos, que seria apenas a soma dos interes-ses particulares dos cidadãos. “Há, às vezes, diferença entre a vontade de todos e a vontade geral: esta só atende ao interesse comum, enquanto a outra olha o interesse privado, e não é senão uma soma das vontades par-ticulares. Porém, tirando estas mesmas vontades, que se destroem entre si, resta como soma dessas diferenças a vontade geral”.

A vontade geral é, portanto, a soma das diferenças das vontades particula-res e não o conjunto das próprias vontades privadas. Percebe-se que a exis-tência de interesses particulares conflituosos entre si é a essência da vontade geral no corpo político, o que confere à política uma condição de arte construtora do interesse comum.

A letra “C” é certa, também foi copiada do artigo da letra “A”:

Marx, partindo de uma relação entre emancipação política e emancipação humana, busca, ao contrário de Bauer, um apoio para suas explicações na própria “imperfeição” do Estado político em geral, não apenas do cristão. O Estado, para ele, pode se desprender da religião sem implicar numa liber-dade efetiva para os homens, pois, o Estado moderno suprime a proprieda-de privada, mas tal supressão pressupõe a sua existência. A priori, não admite nenhuma distinção de fortuna, nascimento, de posição social, etc. Mas, na verdade, não suprime as distinções, diferenças e desigualdades, porque o Estado político só existe na medida em que os pressupõe. Para ele, mesmo que os indivíduos possam ser “espiritualmente” e “politicamen-te” livres num estado secular, ainda podem estar presos á restrições mate-riais sobre sua liberdade pela desigualdade de renda.

É no Estado político que são declarados os direitos do homem, como liber-dade, a propriedade, a igualdade e a segurança. No entanto, essa liberdade concedida como direito do homem não se objetiva nas relações sociais. Desse modo, a igualdade política não tem correspondência na igualdade so-cial.

Page 33: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 33

Portanto, a emancipação política faz parte do privado, do particular, está “fechada”, enquanto que a emancipação humana, de acordo com Marx, é algo que transcende essa “igualdade” política, consistindo em algo muito distinto da cidadania. A política faz parte da esfera do particular, do limita-do, sendo o social a dimensão do humano, ou seja, do universal, e apenas a emancipação humano-social, permite que os homens sejam efetivamente li-vres. Esse tipo de emancipação supõe a erradicação da religião e do capital, assim como de suas categorias. Nesse sentido, a emancipação política não requer que os judeus renunciem á religião, pois não é uma emancipação completa, mas limitada a esfera política. Só a emancipação humana, por ser completa, é que pressupõe a erradicação de todas essas formas de grilhões sociais.

As letras “D” e “E” foram copiadas do Wikipédia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber

O Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem, para ele só o Estado pode fazer uso da força da violência, e essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de normas (constituição). O Estado para Durkheim é a instituição da disciplina moral que vai orientar a conduta do homem.

Gabarito: B.

3. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O monopólio do uso da força pelo Estado e seus agentes é uma característica do poder político. Identifique o enunciado correto.

a) Somente em países onde existe uma constituição escrita o Estado tem legitimidade para impor o monopólio do uso da força.

b) Todo grupo organizado e com uma liderança constituída tem legitimidade para usar a força.

c) É preciso que exista um sistema legal para que a violência seja usada le-gitimamente pelos agentes do Estado.

d) A legitimidade do monopólio da força exclui a dominação ideológica.

e) O Estado que abre mão de manter forças armadas deixa de ter o monopólio da força.

O monopólio no uso da força é uma das características do Estado Moderno. Contudo, a constituição escrita não é indispensável. O constitucionalismo vai ganhar força apenas com o liberalismo, e o Estado Moderno iniciou com o Ab-solutismo. Além disso, até hoje existem países com constituições não escritas,

Page 34: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 34

como é o caso da Inglaterra. Essas constituições não escritas dão legitimidade ao uso da força da mesma forma que as escritas. A letra “A” é errada.

Somente o Estado tem legitimidade para usar a força. A letra “B” é errada.

A letra “C” foi dada como certa, mas discordo dela. Max Weber conceitua Esta-do pelo monopólio no uso legítimo da força. Segundo o autor:

Hoje, o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de um determina-do território – este, o ‘território’, faz parte da qualidade característica –, re-clama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima, pois o específico da atualidade é que todas as demais associações ou pessoas indi-viduais somente se atribui o direito de exercer a coação física na medida em que o Estado permita.

Weber afirma também que:

O Estado, do mesmo modo que as associações políticas historicamente pre-cedentes, é uma relação de dominação de homens, apoiada no meio da co-ação legítima

E então o autor diferencia três tipos de justificações, de legitimidade de uma dominação:

Primeiro, a autoridade do ‘eterno ontem’, do costume sagrado por validade imemorável e pela disposição habitual de respeitá-lo: dominação ‘tradicio-nal’. Segundo, a autoridade do dom de graça pessoal, extracotidiano (ca-risma): a entrega pessoal e a confiança pessoal em revelações, heroísmo ou outras qualidades de líder de um indivíduo: dominação carismática. Por fim, a dominação, em virtude de ‘legalidade’, da crença na validade de estatutos legais e da ‘competência’ objetiva, fundamentada em regras racionalmente criadas.

Portanto, na minha opinião, a letra “C” seria errada, pois afirma que a violên-cia, para ser legítima, precisa de um sistema legal. A legitimidade da violência pode advir também da tradição e do carisma. A legitimidade com base na lei é só abrange uma das formas de dominação. Mas essa alternativa foi dada como correta.

A letra “D” é errada porque a dominação ideológica permite que haja legitimi-dade no monopólio do uso da força.

A letra “E” é errada porque o uso da força não ocorre só pelas forças armadas.

Gabarito: C.

Page 35: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 35

4. (ESAF/ANA/2009) Assinale a opção que preenche corretamente a lacu-na da seguinte frase: “Segundo Hauriou (in Droit Constitutionnel), é com a _______________________ que começam a civilização e a história, assim como a maior parte das instituições que nos são familiares; por exemplo, do ponto de vista político, o regime de Estado, e do ponto de vista social, a propriedade privada e o comércio jurídico individualista.”

a) Revolução Comercial

b) humanidade sedentária

c) Globalização dos Mercados (3ª Onda)

d) humanidade nômade

e) Revolução Industrial

Essa questão foi copiada do Livro “Introdução à Ciência Política”, de Darcy Azambuja, outro autor que a ESAF gosta muito de usar. O livro ranscreve a seguinte passagem de Hauriou:

Houve sucessivamente duas variedades humanas: a humanidade nômade e a humanidade sedentária, o Homo vagus e o Homo manes. É com a huma-nidade sedentária que começam a civilização e a história, assim como a maior parte das instituições que nos são familiares; por exemplo, do ponto de vista político, o regime de Estado, e do ponto de vista social, a proprie-dade privada e o comércio jurídico individualista.

Essa questão poderia ser resolvida com uma dedução. A propriedade privada já existe há muito, mas muiiiiiito tempo mesmo. Isso elimina as letras “A”, “C” e “E”. Ficamos entre a humanidade sedentária e a nômade. É quando o ho-mem se fixa no solo que surge a propriedade e o Estado, ou seja, com a hu-manidade sedentária.

Gabarito: B.

5. (ESAF/ANA/2009) Segundo as teorias não contratualistas, em sua for-ma originária, o Estado teria uma entre as seguintes origens, exceto:

a) a ampliação do núcleo familial ou patriarcal.

b) os atos de força, violência ou conquista.

c) as causas econômicas ou patrimoniais.

d) o desenvolvimento interno da sociedade.

e) o fracionamento de Estados preexistentes.

Page 36: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 36

Vimos que Dalmo Dallari agrupou as teorias não contratualistas da seguinte forma:

� Origem familiar ou patriarcal: as teorias situam o núcleo social fundamental na família. Segundo essa explicação, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado;

� Origem em atos de força, de violência ou conquista: essas teorias sustentam que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco;

� Origem em causas econômicas: o Estado teria se formado para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho, suprir as necessidades de trocas dos indivíduos, integrando-se as diferentes atividades profissionais;

� Origem no desenvolvimento interno da sociedade: segundo essas teorias, o estado é um germe, uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, entretanto, prescindem dele enquanto se mantêm simples e pouco desenvolvidas. Mas aquelas sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento e alcançam uma forma mais complexa têm absoluta necessidade do Estado, então ele se constitui.

O fracionamento de Estados preexistentes não é uma formação originária de um Estado, mas sim secundária.

Gabarito: E.

6. (ESAF/ANA/2009) Acerca das chamadas teorias contratualistas do Esta-do, é incorreto afirmar:

a) podem ser explicadas sob os enfoques antropológico, filosófico ou político.

b) em sentido amplo, vem o fundamento do Estado em um contrato, aceito pela maioria dos indivíduos, assinalando o fim do estado natural e o início do estado social.

c) algumas de suas correntes foram utilizadas para justificar o absolutismo, ao passo que outras o foram para contradizê-lo.

d) têm por expoente máximo a obra legada por Nicolau Maquiavel.

e) em comum, nas teorias contratualistas, encontra-se a ênfase no caráter racional e laico da origem do poder.

Page 37: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 37

Essa questão, assim como a maioria das que abordam o contratualismo, foi tirada do “Dicionário de Política”, de Norberto Bobbio. O trecho sobre o contra-tualismo está transcrito no seguinte site:

http://leonildoc.orgfree.com/enci/bobbio8.htm

A letra “A” é certa. A antropologia é a ciência que tem como objeto de estudo o homem e a humanidade. Os contratualistas, influenciados pela ideia do Direito Natural, foram os primeiros a aplicar os princípios da antropologia cultural no estudo do Estado. Segundo Norberto Bobbio:

É igualmente necessário fazer uma distinção analítica entre três possíveis níveis explicativos: há aqueles pensadores que sustentam que a passagem do estado de natureza ao estado de sociedade é um fato histórico realmente ocorrido, isto é, estão dominados pelo problema antropológico da origem do homem civilizado; outros, pelo contrário, fazem do estado de natureza me-ra hipótese lógica, a fim de ressaltar a ideia racional ou jurídica do Estado, do Estado tal qual deve ser, e de colocar assim o fundamento da obrigação política no consenso expresso ou tácito dos indivíduos a uma autoridade que os representa e encarna; outros ainda, prescindindo totalmente do pro-blema antropológico da origem do homem civilizado e do problema filosófico e jurídico do Estado racional, vêem no contrato um instrumento de ação po-lítica capaz de impor limites a quem detém o poder.

A letra “B” é certa. Segundo Bobbio:

Em sentido muito amplo o contratualismo compreende todas aquelas teorias políticas que vêem a origem da sociedade e o fundamento do poder político (chamado, de quando em quando, potestas, imperium, Governo, soberania, Estado) num contrato, isto é, num acordo tácito ou expresso entre a maio-ria dos indivíduos, acordo que assinalaria o fim do estado natural e o início do estado social e político.

A letra “C” é certa, segundo Bobbio:

Se a estrutura do pensamento dos contratualistas usa a mesma sintaxe, as soluções políticas a que eles chegaram são profundamente diversas; é pos-sível indicar três correntes claramente diferençadas. Temos, em primeiro lugar, a corrente absolutista (Hobbes, Spinoza, Pufendorf); trata-se de um absolutismo que pretende ser claramente diferente do despotismo, pois vê nas ordenações do Estado não a expressão de uma vontade caprichosa e arbitrária, mas a conseqüência de uma lógica necessária, enquanto racional, relativa aos fins, visando ao bem de cada cidadão. Na vertente oposta, en-contramos a corrente liberal (Locke, Kant) que propõe o controle e limitação do poder do monarca pelas assembleias representativas, às quais é confia-do o poder de legislar. A corrente democrática é minoritária; teoricamente aprofundada apenas por Rousseau, apresenta uma solução que, em certos

Page 38: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 38

aspectos, está muito mais próxima da absolutista do que da liberal, por-quanto tende a conformar os indivíduos com a racionalidade da soberana vontade geral.

A letra “D” é errada, Maquiavel não foi um contratualista. Bobbio cita os se-guintes autores como expoentes dessa corrente: J. Althusius (1557-1638), T. Hobbes (1588-1679), B. Spinoza (1632-1677), S. Pufendorf (1632-1694), J. Locke (1632-1704), J.-J. Rousseau (1712-1778), I. Kant (1724-1804).

A letra “E” é certa. A instituição da ordem política por meio de um contrato foi um ato racional dos homens, e não algo espontâneo. Segundo Bobbio:

O Estado, nascido de um contrato, não acrescenta nada à racionalidade e sociabilidade da sociedade civil: é só um instrumento coativo cuja função é não tanto criar quanto executar o direito que a sociedade racionalmente ex-pressou.

Gabarito: D.

7. (ESAF/PSS/2008) Um dos temas centrais da discussão em torno da formação do Estado Moderno, sobre o qual existem algumas correntes teóri-cas bem definidas, é a origem da autoridade e os fundamentos da obediên-cia. Entre as teorias existentes, destaca-se aquela que defende a formação contratual do Estado. Identifique, entre os enunciados abaixo, aquele que não é característico dessa vertente teórica.

a) Uma generalizada condição de liberdade, entendida como independência, domínio de si próprio.

b) Uma história e uma cultura comuns, como fundamento dos pactos entre os homens.

c) A capacidade dos homens de realizar escolhas racionais.

d) Uma situação de vida coletiva.

e) Uma generalizada capacidade de uso da força, que torna os homens relativamente iguais.

Como vimos, o contrato social surge da necessidade de os homens instaura-rem a ordem, transferirem o poder para uma entidade soberana que defenderá o interesse coletivo e promoverá a justiça. Esse contrato social não tem como fundamento uma história e uma cultura comuns. A ideia de que o Estado surge de uma história e cultura comuns está nas teorias da Origem familiar ou patri-arcal, teorias que situam o núcleo social fundamental na família. Segundo essa

Page 39: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 39

explicação, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado, ou então nas teorias da origem no desenvolvimento interno da sociedade.

As demais alternativas trazem aspectos do estado de natureza, quando o ho-mem tinha o domínio de si próprio, capacidade de realizar escolhas racionais, uma situação de vida coletiva (estado social), e uma generalizada capacidade de uso da força. Hobbes que afirma que nenhum homem era tão forte que não temesse os outros, nem tão fraco que não fosse perigoso aos demais, por isso os homens eram relativamente iguais.

Gabarito: B.

8. (ESAF/APO-MPOG/2008) Na civilização ocidental, os diversos aspectos do Estado moderno só apareceram gradualmente, quando a legitimidade passou a ser atribuída ao conjunto de normas que governava o exercício da autoridade. São características essenciais do Estado moderno todas as que se seguem, exceto:

a) um ordenamento jurídico impositivo.

b) a cidadania: relação de direitos e deveres.

c) o monopólio do uso legítimo da violência.

d) um quadro administrativo ou uma burocracia.

e) a jurisdição compulsória sobre um território.

Esta questão foi tirada de Weber, segundo o qual:

A ordem legal, a burocracia, a jurisdição compulsória sobre um território e a monopolização do uso legítimo da força são as características essenciais do Estado moderno.

Só faltou a letra ‘b’, que é justamente o gabarito da questão. A cidadania não é uma condição para o Estado Moderno, podemos ter Estados Totalitários.

Gabarito: B.

9. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Um dos objetos de grande atenção do pen-samento e da teoria política moderna é a constituição da ordem política. So-bre essa temática, uma das tradições de reflexão mais destacadas sustenta que a ordem tem origem contratual. Todos os elementos abaixo são comuns a todos os pensadores da matriz contratualista da ordem política, exceto:

Page 40: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 40

a) o estado de natureza.

b) a existência de direitos previamente à ordem política.

c) a presença de sujeitos capazes de fazer escolhas racionais.

d) um pacto de associação.

e) um pacto de subordinação.

Vimos que os autores que sustentam a formação contratual dos Estados são chamados de contratualistas. Eles apresentam em comum, apesar de divergi-rem quanto às causas, a crença em que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os homens, que levou à criação do Estado.

Todos estes autores acreditavam no estado de natureza, um período, em épo-cas primitivas, em que o homem, vivia fora da sociedade, sendo todos os ho-mens iguais e essencialmente egoístas, tendo todos os mesmos direitos naturais e não existindo nenhuma autoridade ou lei. Estes autores se enqua-dram também nas teorias jusnaturalistas, defendendo a existência de direitos naturais preexistentes à ordem política. A terceira alternativa também é co-mum a todos os pensadores contratualistas, já que, para realizar o pacto, os homens deveriam ser capazes de fazer escolhas racionais.

Alguns autores defendem que o contrato social tem dois desdobramentos: um "pacto de associação" pelo qual vários indivíduos reúnem-se para viver em sociedade; e um "pacto de submissão" que instaura o poder político e ao qual o indivíduo promete obedecer. O pacto de associação é comum a todos os con-tratualistas, já que o contrato social surge desse pacto. Já o de subordinação não é unânime, como no caso de Rousseau.

Gabarito: E.

10. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Embora não seja a única abordagem sobre a origem do Estado moderno, o contratualismo tem destacada importância para a reflexão sobre a ordem democrática. Examine os enunciados abaixo sobre essa corrente da ciência política e marque a resposta correta.

1. Todos os contratualistas veem no pacto um instrumento de emancipação do indivíduo e de sua transformação de súdito em cidadão.

2. Todos os contratualistas apontam a obediência como elemento central para a manutenção da ordem política, mas também reconhecem o direito de rebelião contra o poder tirânico.

Page 41: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 41

3. Do mesmo modo que consideram o contrato uma relação obrigatória en-tre as partes, todos os contratualistas também indicam as sanções para quem o infringe.

4. Para os contratualistas, a constituição da ordem política não altera a es-trutura social, nem a racionalidade individual, nem a sociabilidade da socie-dade civil.

a) Todos os enunciados estão corretos.

b) Somente o enunciado 4 está correto.

c) Somente o enunciado 1 está correto.

d) Somente o enunciado 2 está correto.

e) Estão corretos os enunciados 1, 3 e 4.

A primeira afirmação é errada. Segundo Bobbio:

Todos os contratualistas vêem assim no contrato um instrumento de eman-cipação do homem, emancipação política apenas, que deixa inalterada e até garante a estrutura social, baseada precisamente na família e na proprieda-de privada, mantendo uma clara distinção entre o poder político e o poder social, entre o Governo e a sociedade civil.

Assim, todos os contratualistas veem no contrato um instrumento de emanci-pação do homem, mas é uma emancipação política. Como vimos, a cidadania não é uma condição para o Estado Moderno.

A segunda afirmação é errada, já que Hobbes não reconhece o direito à rebe-lião.

A terceira afirmação é errada. Segundo Bobbio:

Se o contrato é uma relação obrigatória entre as partes, é necessário tam-bém saber quais as sanções previstas para quem os infringe. As soluções são as mais diversas. De um lado estão os que afirmam que, estabelecido o pacto pela vontade, torna-se depois necessário, os povos não o podem re-vogar. De outro, estão as teses de que cabe ao povo agir contra o monarca que violou o pacto.

A quarta afirmação é correta.

Gabarito: B.

Page 42: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 42

11. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) A formação do Estado moderno, entre os séculos XII/ XIII e XVIII/XIX, consistiu em um longo e complexo processo que levou à normatização das relações de força por meio do exercício mono-polístico do poder pelo soberano. Todos os enunciados abaixo sobre a for-mação do Estado estão corretos, exceto:

a) além do desenvolvimento do Estado territorial institucional, a formação do Estado moderno envolveu a passagem do poder personificado do príncipe para o primado dos esquemas universalistas e abstratos da norma jurídica, que mais tarde daria origem ao Estado de Direito.

b) o processo de formação do Estado foi marcado pela tensão entre, de um lado, a expropriação dos poderes privados locais; e, de outro, a necessidade do soberano de recorrer às categorias ou camadas sociais para dispor de fundos para criar e manter seu quadro administrativo e um exército perma-nente.

c) além da distinção entre o espaço público e o privado, a formação do Esta-do implicou em substituir gradualmente a supremacia da dimensão individu-al do senhor feudal e do príncipe pelo princípio das categorias sociais como núcleos da sociedade civil, novos interlocutores do soberano.

d) a delimitação de um espaço das relações sociais, gerenciado de forma ex-clusivamente política, tornou-se possível graças à conquista, pelo príncipe, do apoio da esfera financeira à luta contra os privilégios, inclusive fiscais, da aristocracia.

e) a distinção entre o mundo espiritual e o mundano, sobre a qual se assentava o primado da Igreja e de sua concepção universalista da república cristã, acabou por fundamentar a supremacia da política.

A primeira alternativa trata da passagem do Estado Absolutista para o Estado Liberal. Vimos que, para Weber, uma característica do Estado Moderno é do-minação racional-legal, ou o modelo burocrático. Isto porque o capitalismo e a democracia exigiam uma administração mais imparcial e racional. Portanto, mesmo que o Estado Moderno tenha iniciado com a dominação tradicional do absolutismo, a sua evolução envolveu sim a passagem para a dominação raci-onal-legal. A letra “A” é correta.

Essa questão foi tirada do livro “Dicionário de Política”, do Norberto Bobbio. Segundo o autor:

A história do surgimento do Estado moderno é a história dessa tensão: do sistema policêntrico e complexo dos senhorios de origem feudal se chega ao Estado territorial concentrado e unitário por meio da chamada racionaliza-

Page 43: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 43

ção da gestão do poder e da própria organização política imposta pela evo-lução das condições históricas materiais.

Vimos que Bobbio diferencia a evolução do Estado Moderno em duas fases: sociedade por camadas e moderna sociedade civil. Num primeiro momento as relações sociais tinham um caráter muito mais estamental, baseadas no pres-tígio, enquanto no segundo, o capitalismo havia transformado essas relações para algo mais próximo das classes sociais, baseado na posição econômica dos indivíduos. Esta sociedade por camadas era caracterizada pela força dos anti-gos grupos feudais, os nobres, que ainda detinham muito poder e limitavam a atuação do príncipe, já que este, num primeiro momento, como afirma a letra ‗b‘, dependia das categorias ou camadas sociais para criar e manter o quadro administrativo e um exército permanente. A letra “B” é correta.

Pouco a pouco, o príncipe superou a dependência de financiamento junto a estas camadas. A letra “C” é incorreta porque não houve uma substituição do poder do príncipe pelo princípio das categorias sociais como núcleos da socie-dade civil, mas justamente o contrário. Além disso, não foram estas que pas-saram a ser os novos interlocutores do soberano. Logo que o Estado – o príncipe e seu aparelho de poder – se tornou monopolista na esfera política, – os seus interlocutores diretos não foram mais as categorias, mas os indivíduos.

O principie ganhou poder, em detrimento das camadas sociais. Segundo Bob-bio:

Esse processo foi possível, conforme se acentuou, graças à progressiva conquista, por parte do príncipe e de seu aparelho administrativo, da esfera financeira, à qual estava intimamente ligada a esfera econômica do país. Is-so pode acontecer, em primeiro lugar, graças ao apoio que o príncipe facil-mente encontrou, na sua luta contra os privilégios, até fiscais, da mais importante das categorias sociais: a nobreza. Esse apoio veio da parte dos estratos mais empenhados da população e particularmente da burguesia urbana, na mira de uma distribuição dos encargos fiscais mais justa entre as várias forças do país e, também, de uma ativa política de defesa, de sus-tentação e de estímulo do príncipe em relação à atividade.

A letra “D” é correta já que o principie ganha o apoio da burguesia na luta contra o poder da nobreza, principalmente contra os privilégios dessa classe, buscando uma tributação mais justa. A alternativa “D” ainda fala em “delimita-ção de um espaço das relações sociais, gerenciado de forma exclusivamente política”. Bobbio afirma que:

O Estado moderno significava precisamente a negação de tudo isso: a ins-tauração de um nível diferente da vida social, a delimitação de uma esfera rigidamente separada de relações sociais, gerenciada exclusivamente de uma forma política.

Page 44: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 44

Por fim, a letra “E” é correta, também foi tirada do texto de Bobbio, segundo o qual:

A distinção entre o espiritual e o mundano, inicialmente introduzida pelos papas para fundamentar o primado da Igreja, desencadeou agora sua força na direção do primado e da supremacia da política.

Gabarito: C.

12. (ESAF/CGU/2008) Indique a opção que completa corretamente as lacu-nas das frases a seguir:

Há três modos pelos quais historicamente se formam os Estados: Os modos ______________ em que a formação é inteiramente nova, o Estado nasce diretamente da população e do país; os modos _____________, quando a formação se produz por influências externas e os modos ______________, quando vários Estados se unem para formar um novo Estado ou quando um se fraciona para formar um outro.

a) originários – derivados – secundários.

b) derivados – contratuais – originários.

c) contratuais – derivados – naturais

d) naturais – originários – derivados

e) secundários – naturais – originários.

Esta questão foi copiada de Darcy Azambuja, segundo o qual os três modos são:

� Originário: em que a formação é inteiramente nova, nasce diretamente da população e do país, sem derivar de outro Estado preexistente. É decorrência natural da evolução das sociedades humanas.

� Secundários: quando vários Estados se unem para formar um novo Estado, ou quando um se fraciona para formar outros. Derivados: quando a formação se produz por influências exteriores, de outros Estados.

Gabarito: A.

Page 45: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 45

13. (ESAF/STN/2005) Sobre teoria geral do Estado, processo evolutivo do ente estatal, poderes e funções do Estado e formas de governo e de Estado, assinale a única opção correta.

a) O Estado moderno de tipo europeu, quando do seu surgimento, tinha co-mo características próprias: ser um Estado nacional, correspondente a uma nação ou comunidade histórico-cultural, possuir soberania e ter por uma de suas bases o poder religioso.

b) O poder político ou poder estatal é o instrumento de que se vale o Estado moderno para coordenar e impor regras e limites à sociedade civil, sendo a delegabilidade uma das características fundamentais desse poder.

c) A função executiva, uma das funções do poder político, pode ser dividida em função administrativa e função de governo, sendo que esta última com-porta atribuições políticas, mas não comporta atribuições co-legislativas.

d) Forma de governo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, especialmente os Poderes Legislativo e Executivo, sendo os Estados, segun-do a classificação dualista de Maquiavel, divididos em repúblicas ou monar-quias.

e) A divisão fundamental de formas de Estados dá-se entre Estado simples ou unitário e Estado composto ou complexo, sendo que o primeiro tanto pode ser Estado unitário centralizado como Estado unitário descentralizado ou regional.

A letra “A” é errada porque o Estado moderno só pode ser compreendido se antes visualizarmos que este Estado deva ser laico e soberano. Este caráter secular deve ser entendido não apenas como uma forma republicana de reali-zação do poder, mas como uma maneira de entender o próprio caráter sobera-no do Estado. Se por soberania entendemos a existência de uma autoridade suprema, devemos, por outro lado, entender que nenhuma outra força sobera-na (que não tipicamente estatal, como um líder religioso, por exemplo) exerça influencia nos assuntos políticos. Ou seja, não pode haver confronto de sobe-ranias dentro de um mesmo Estado. Assim, para o poder ser soberano a sobe-rania deve ser una e indivisível. Por isso o Estado moderno é secular: pois expulsou da esfera de poder o poder religioso.

A letra “B” é errada porque o poder político é indelegável, ou inalienável, por-que a vontade é personalíssima: não se transfere a outros. O corpo social é uma entidade coletiva dotada de vontade própria, constituída pela soma das vontades individuais. Os delegados e representantes eleitos terão de exercer o

Page 46: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 46

poder de soberania segundo a vontade do corpo social consubstanciada na Constituição e nas leis.

Na separação de poderes, temos três funções estatais – a legislativa, a jurisdi-cional e a administrativa – que são exercidas com precipuidade, mas não com exclusividade, pelos três poderes. Dessa forma, a letra “C” é errada já que em determinados casos a função de governo comporta sim funções co-legislativas.

Na letra “D”, a ESAF quis nos confundir misturando os conceitos de forma e de sistema de governo. A letra “D” é errada porque a forma de governo não diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, especialmente os Poderes Legislativo e Executivo. Isto é sistema de governo (presidencialismo e parla-mentarismo). A forma de Governo refere-se à maneira como se dá a institui-ção e o exercício do poder na sociedade, e como se dá a relação entre governantes e governados (monarquia X república)

Na letra “E” temos as formas de Estado. Os Estados Moderno e Contemporâ-neo têm assumido, basicamente, duas formas: a forma federada, quando se conjugam vários centros de poder autônomo; e a forma unitária, caracterizada por um poder central, que conjuga o poder político. Dallari afirma que alguns autores têm sustentado a existência de uma terceira forma, o Estado Regional, menos centralizado do que o unitário, mas sem chegar aos extremos de des-centralização do federalismo.

Contudo, Dallari afirma que, para a maioria dos autores que tratam do assun-to, o Estado Regional é apenas uma forma unitária um pouco descentralizada, pois não elimina a completa superioridade política e jurídica do poder central. A letra “E” segue Dallari, e coloca o Estado Regional como uma forma de Esta-do Unitário descentralizado. A letra “E” é correta, portanto a resposta da ques-tão.

Gabarito: E.

14. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Do ponto de vista histórico podemos verifi-car várias definições de Estado, com características específicas. Indique a opção correta.

a) O Estado feudal caracteriza-se por uma concentração de poder, em um determinado território nacional, na figura do rei.

b) O Estado estamental caracteriza-se por uma divisão de classes entre os detentores, ou não, dos meios de produção.

Page 47: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 47

c) O Estado socialista caracteriza-se por desconcentrar o poder entre a po-pulação por meio de um sistema multipartidário.

d) O Estado absolutista caracteriza-se por um duplo processo de concentra-ção e centralização de poder em um determinado território.

e) O Estado representativo caracteriza-se por ser exclusivo a sociedades democráticas modernas, não existindo em monarquias.

Esta questão foi tirada de Norberto Bobbio, segundo o qual teríamos a seguinte seqUência de formas de Estado consagrada junto aos historiadores: Estado feudal, Estado estamental, Estado absoluto, Estado representativo. Vamos comparar as definições de Bobbio com as alternativas:

O Estado feudal é caracterizado pelo exercício acumulativo das diversas funções diretivas por parte das mesmas pessoas e pela fragmentação do poder central em pequenos agregados sociais.

Portanto, a letra “A” é incorreta porque no Estado Feudal não há concentração, mas sim fragmentação do poder.

Por Estado estamental entende-se a organização política na qual se foram formando órgãos colegiados que reúnem indivíduos possuidores da mesma posição social, precisamente os estamentos, e enquanto tais fruidores de di-reitos e privilégios que fazem valer contra o detentor do poder soberano através das assembleias deliberantes como os parlamentos.

A letra “B” é incorreta por afirmar que o Estado estamental se baseia na sepa-ração de classes entre os detentores ou não dos meios de produção. Como vimos, a sociedade estamental tem como critério o pertencimento ou não a determinado grupo, o status. na sociedade por classes o critério é econômico.

O domínio de um partido único reintroduz no sistema político o princípio monocrático dos governos monárquicos do passado e talvez constitua o verdadeiro elemento característico dos Estados socialistas de inspiração le-ninista direta ou indireta, em confronto com os sistemas poliárquicos das democracias ocidentais.

A letra “C” é incorreta porque o Estado Socialista é caracterizado pelo partido único, e não por um sistema multipartidário.

A formação do Estado absoluto ocorre através de um duplo processo parale-lo de concentração e de centralização do poder num determinado território.

A letra “D” é correta, cópia da definição de Weber. É só lembrarmos que no absolutismo, os reis concentraram todo o poder sobre o Estado.

Page 48: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 48

Em relação ao Estado Representativo, Bobbio afirma que ele surgiu:

sob a forma de monarquia constitucional e depois parlamentar, na Inglater-ra após a “grande rebelião”, no resto da Europa após a revolução francesa, e sob a forma de república presidencial nos Estados Unidos da América após a revolta das treze colônias contra a pátria-mãe.

Podemos ver, portanto, que a letra “E” é incorreta porque o Estado representa-tivo existe também em monarquias.

Gabarito: D.

15. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Os jusnaturalistas marcaram o pensamento político da Idade Moderna. Entre seus principais autores temos Hobbes, Locke e Rousseau. Em relação às obras desses autores, julgue as sentenças abaixo:

I. Locke e Rousseau, inseridos no contexto do Iluminismo, resgatam o pen-samento clássico aristotélico, no qual concebem o Estado como um prosse-guimento natural da sociedade familiar.

II. Rousseau e Hobbes defendem que o estado de natureza - onde os indiví-duos são iguais e donos de sua liberdade - é melhor que o Estado de Direito, visto que a desigualdade entre os homens surge com a criação deste e com o direito de propriedade.

III. Locke e Rousseau guardam semelhanças em suas descrições sobre o es-tado de natureza, no qual os indivíduos viviam em relativa paz. Porém para Locke, o direito de propriedade é natural, entanto que, para Rousseau, não era natural e apenas consolidou a desigualdade entre os homens.

IV. Os três autores defendem a existência de um estado de natureza que precede o Estado de Direito, este criado por meio de um contrato firmado entre os indivíduos. Entretanto, as motivações que levaram os indivíduos a fundarem o Estado, são distintas em cada autor.

Estão corretas:

a) As afirmativas I e III.

b) As afirmativas I e IV.

c) As afirmativas II e III.

d) As afirmativas II e IV.

e) As afirmativas III e IV.

Page 49: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 49

A afirmação I é errada. Locke e Rousseau são contratualistas, se contrapõe às teorias da origem familiar do Estado.

A segunda afirmação é errada, pois somente Rousseau considera o estado de natureza melhor.

A terceira afirmação é certa. Locke é um defensor do direito de propriedade, enquanto para Rousseau o problema começou a instituição da propriedade.

A quarta afirmação é certa, o estado de natureza é comum aos contratualistas.

Gabarito: E.

16. (ESAF/APO-MPOG/2002) Assinale como verdadeira (V) ou falsa (F) as definições sobre o Estado, seu conceito e sua evolução, relacionadas a se-guir.

( ) Por Estado entende-se um grupo de pessoas que vivem num território definido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são designadas para controlar uma série mais ou menos restrita de atividades do grupo, com base em valores reais ou socialmente reconhecidos e, se necessário, na força.

( ) Um Estado é caracterizado por quatro elementos: povo, território, gover-no e independência.

( ) Um Estado é caracterizado pela participação da população nas decisões de governo, seja diretamente ou através de representantes.

( ) O Estado moderno surgiu na Idade Média, como uma resposta ao fim do Império Romano e às invasões constantes dos bárbaros na Europa Ociden-tal.

( ) Uma das características de um Estado é o monopólio do uso da violência em seu território, bem como o de taxar seus habitantes e emitir moeda.

Escolha a opção correta.

a) V, F, V, V, F

b) F, V, F, V, V

c) V, V, F, F, V

d) V, F, V, F, F

e) F, F, V, V, V

Page 50: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 50

A primeira afirmação foi tirada do Dicionário de Ciências Sociais, da FGV, se-gundo o qual:

Por Estado entende-se um agrupamento de pessoas que vivem num territó-rio definido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são desig-nadas para controlar, direta ou indiretamente, uma série mais ou menos restrita de atividades desse mesmo grupo, com base em valores reais ou socialmente reconhecidos e, se necessário, na força.

Podemos ver que a questão é correta, já que é quase que uma cópia literal da defini-ção da FGV.

Já vimos a segunda afirmação, na Questão 02 da teoria. Ela também é verda-deira.

A terceira afirmativa coloca como um dos elementos do Estado a participação da população nas decisões do governo, seja diretamente, ou por meio de re-presentantes. Não vimos ninguém citar tal elemento como constitutivo do Es-tado, ou seja, como indispensável à existência do Estado. Isso porque ele é dispensável, há Estados em que não há participação da população nas deci-sões, como os Estados Absolutistas, onde apenas o rei manda. Portanto, a afirmativa é falsa.

O Estado Moderno não surge como uma resposta ao fim do Império Romano e às invasões constantes dos bárbaros na Europa Ocidental. Aqui surgiu o Estado Medieval. Por isso a quarta afirmação é falsa.

Vimos que as definições sociológicas de Estado são fortemente marcadas pela noção de força, coerção, institucionalização da violência. Tanto que muitos consideram o poder político como um dos elementos constitutivos do Estado. É verdadeiro dizer que uma das características de um Estado é o monopólio do uso da violência em seu território, bem como o de taxar seus habitantes e emitir moeda. Cabe ao Estado impor o ordenamento jurídico. A quinta afirma-ção é verdadeira.

Gabarito: C.

33..11 LLiissttaa ddaass QQuueessttõõeess

1. (ESAF/CGU/2012) Conforme o Dicionário de Política de Bobbio, Matteucci e Pasqualino, o Estado de Direito Moderno é composto por certas estruturas. Das opções abaixo apenas uma não integra as estruturas do Estado de Direito Moderno.

Page 51: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 51

a) Estrutura formal do sistema jurídico.

b) Estrutura material do sistema jurídico.

c) Estrutura social do sistema jurídico.

d) Estrutura política do sistema jurídico.

e) Estrutura político-administrativa do sistema jurídico.

2. (ESAF/APO-MPOG/2010) O termo Estado evoluiu muito em sua utilização desde Maquiavel. Escolha a opção que não está correta.

a) Bruno Bauer, criticado por Marx em ‘A Questão Judaica’ (1844), analisa o Estado sob a ótica da emancipação política e critica o Estado religioso. Para Bauer, a religião é uma inimiga da razão e, consequentemente, do progresso, pois impede a formação de um bem comum, pautado na comunidade de ho-mens livres, na igualdade de direitos e no desfrute das liberdades, tornando-se necessária sua abolição.

b) A fundamentação do Estado Rousseauniano é a vontade de todos, que surge do conflito entre as vontades particulares de todos os cidadãos.

c) Para Marx, é no Estado político que são declarados os direitos do homem, como liberdade, a propriedade, a igualdade e a segurança. No entanto, essa liberdade concedida como direito do homem não se objetiva nas relações soci-ais. Desse modo, a igualdade política não tem correspondência na igualdade social.

d) Para Weber, Estado é a entidade que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva.

e) O Estado, para Durkheim, é a instituição da disciplina moral que vai orientar a conduta do homem.

3. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O monopólio do uso da força pelo Estado e seus agentes é uma característica do poder político. Identifique o enunciado correto.

a) Somente em países onde existe uma constituição escrita o Estado tem legi-timidade para impor o monopólio do uso da força.

b) Todo grupo organizado e com uma liderança constituída tem legitimidade para usar a força.

c) É preciso que exista um sistema legal para que a violência seja usada legi-timamente pelos agentes do Estado.

Page 52: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 52

d) A legitimidade do monopólio da força exclui a dominação ideológica.

e) O Estado que abre mão de manter forças armadas deixa de ter o monopólio da força.

4. (ESAF/ANA/2009) Assinale a opção que preenche corretamente a lacuna da seguinte frase: “Segundo Hauriou (in Droit Constitutionnel), é com a _______________________ que começam a civilização e a história, assim como a maior parte das instituições que nos são familiares; por exemplo, do ponto de vista político, o regime de Estado, e do ponto de vista social, a pro-priedade privada e o comércio jurídico individualista.”

a) Revolução Comercial

b) humanidade sedentária

c) Globalização dos Mercados (3ª Onda)

d) humanidade nômade

e) Revolução Industrial

5. (ESAF/ANA/2009) Segundo as teorias não contratualistas, em sua forma originária, o Estado teria uma entre as seguintes origens, exceto:

a) a ampliação do núcleo familial ou patriarcal.

b) os atos de força, violência ou conquista.

c) as causas econômicas ou patrimoniais.

d) o desenvolvimento interno da sociedade.

e) o fracionamento de Estados preexistentes.

6. (ESAF/ANA/2009) Acerca das chamadas teorias contratualistas do Estado, é incorreto afirmar:

a) podem ser explicadas sob os enfoques antropológico, filosófico ou político.

b) em sentido amplo, vem o fundamento do Estado em um contrato, aceito pela maioria dos indivíduos, assinalando o fim do estado natural e o início do estado social.

c) algumas de suas correntes foram utilizadas para justificar o absolutismo, ao passo que outras o foram para contradizê-lo.

d) têm por expoente máximo a obra legada por Nicolau Maquiavel.

Page 53: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 53

e) em comum, nas teorias contratualistas, encontra-se a ênfase no caráter racional e laico da origem do poder.

7. (ESAF/PSS/2008) Um dos temas centrais da discussão em torno da for-mação do Estado Moderno, sobre o qual existem algumas correntes teóricas bem definidas, é a origem da autoridade e os fundamentos da obediência. En-tre as teorias existentes, destaca-se aquela que defende a formação contratual do Estado. Identifique, entre os enunciados abaixo, aquele que não é caracte-rístico dessa vertente teórica.

a) Uma generalizada condição de liberdade, entendida como independência, domínio de si próprio.

b) Uma história e uma cultura comuns, como fundamento dos pactos entre os homens.

c) A capacidade dos homens de realizar escolhas racionais.

d) Uma situação de vida coletiva.

e) Uma generalizada capacidade de uso da força, que torna os homens relati-vamente iguais.

8. (ESAF/APO-MPOG/2008) Na civilização ocidental, os diversos aspectos do Estado moderno só apareceram gradualmente, quando a legitimidade passou a ser atribuída ao conjunto de normas que governava o exercício da autoridade. São características essenciais do Estado moderno todas as que se seguem, exceto:

a) um ordenamento jurídico impositivo.

b) a cidadania: relação de direitos e deveres.

c) o monopólio do uso legítimo da violência.

d) um quadro administrativo ou uma burocracia.

e) a jurisdição compulsória sobre um território.

9. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Um dos objetos de grande atenção do pensa-mento e da teoria política moderna é a constituição da ordem política. Sobre essa temática, uma das tradições de reflexão mais destacadas sustenta que a ordem tem origem contratual. Todos os elementos abaixo são comuns a todos os pensadores da matriz contratualista da ordem política, exceto:

Page 54: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 54

a) o estado de natureza.

b) a existência de direitos previamente à ordem política.

c) a presença de sujeitos capazes de fazer escolhas racionais.

d) um pacto de associação.

e) um pacto de subordinação.

10. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Embora não seja a única abordagem sobre a origem do Estado moderno, o contratualismo tem destacada importância para a reflexão sobre a ordem democrática. Examine os enunciados abaixo sobre essa corrente da ciência política e marque a resposta correta.

1. Todos os contratualistas veem no pacto um instrumento de emancipação do indivíduo e de sua transformação de súdito em cidadão.

2. Todos os contratualistas apontam a obediência como elemento central para a manutenção da ordem política, mas também reconhecem o direito de rebe-lião contra o poder tirânico.

3. Do mesmo modo que consideram o contrato uma relação obrigatória entre as partes, todos os contratualistas também indicam as sanções para quem o infringe.

4. Para os contratualistas, a constituição da ordem política não altera a estru-tura social, nem a racionalidade individual, nem a sociabilidade da sociedade civil.

a) Todos os enunciados estão corretos.

b) Somente o enunciado 4 está correto.

c) Somente o enunciado 1 está correto.

d) Somente o enunciado 2 está correto.

e) Estão corretos os enunciados 1, 3 e 4.

11. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) A formação do Estado moderno, entre os sé-culos XII/ XIII e XVIII/XIX, consistiu em um longo e complexo processo que levou à normatização das relações de força por meio do exercício monopolísti-co do poder pelo soberano. Todos os enunciados abaixo sobre a formação do Estado estão corretos, exceto:

a) além do desenvolvimento do Estado territorial institucional, a formação do Estado moderno envolveu a passagem do poder personificado do príncipe para

Page 55: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 55

o primado dos esquemas universalistas e abstratos da norma jurídica, que mais tarde daria origem ao Estado de Direito.

b) o processo de formação do Estado foi marcado pela tensão entre, de um lado, a expropriação dos poderes privados locais; e, de outro, a necessidade do soberano de recorrer às categorias ou camadas sociais para dispor de fun-dos para criar e manter seu quadro administrativo e um exército permanente.

c) além da distinção entre o espaço público e o privado, a formação do Estado implicou em substituir gradualmente a supremacia da dimensão individual do senhor feudal e do príncipe pelo princípio das categorias sociais como núcleos da sociedade civil, novos interlocutores do soberano.

d) a delimitação de um espaço das relações sociais, gerenciado de forma ex-clusivamente política, tornou-se possível graças à conquista, pelo príncipe, do apoio da esfera financeira à luta contra os privilégios, inclusive fiscais, da aris-tocracia.

e) a distinção entre o mundo espiritual e o mundano, sobre a qual se assenta-va o primado da Igreja e de sua concepção universalista da república cristã, acabou por fundamentar a supremacia da política.

12. (ESAF/CGU/2008) Indique a opção que completa corretamente as lacunas das frases a seguir:

Há três modos pelos quais historicamente se formam os Estados: Os modos ______________ em que a formação é inteiramente nova, o Estado nasce diretamente da população e do país; os modos _____________, quando a formação se produz por influências externas e os modos ______________, quando vários Estados se unem para formar um novo Estado ou quando um se fraciona para formar um outro.

a) originários – derivados – secundários.

b) derivados – contratuais – originários.

c) contratuais – derivados – naturais

d) naturais – originários – derivados

e) secundários – naturais – originários.

13. (ESAF/STN/2005) Sobre teoria geral do Estado, processo evolutivo do ente estatal, poderes e funções do Estado e formas de governo e de Estado, assinale a única opção correta.

Page 56: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 56

a) O Estado moderno de tipo europeu, quando do seu surgimento, tinha como características próprias: ser um Estado nacional, correspondente a uma nação ou comunidade histórico-cultural, possuir soberania e ter por uma de suas bases o poder religioso.

b) O poder político ou poder estatal é o instrumento de que se vale o Estado moderno para coordenar e impor regras e limites à sociedade civil, sendo a delegabilidade uma das características fundamentais desse poder.

c) A função executiva, uma das funções do poder político, pode ser dividida em função administrativa e função de governo, sendo que esta última comporta atribuições políticas, mas não comporta atribuições co-legislativas.

d) Forma de governo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, especialmente os Poderes Legislativo e Executivo, sendo os Estados, segundo a classificação dualista de Maquiavel, divididos em repúblicas ou monarquias.

e) A divisão fundamental de formas de Estados dá-se entre Estado simples ou unitário e Estado composto ou complexo, sendo que o primeiro tanto pode ser Estado unitário centralizado como Estado unitário descentralizado ou regional.

14. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Do ponto de vista histórico podemos verificar várias definições de Estado, com características específicas. Indique a opção correta.

a) O Estado feudal caracteriza-se por uma concentração de poder, em um de-terminado território nacional, na figura do rei.

b) O Estado estamental caracteriza-se por uma divisão de classes entre os detentores, ou não, dos meios de produção.

c) O Estado socialista caracteriza-se por desconcentrar o poder entre a popula-ção por meio de um sistema multipartidário.

d) O Estado absolutista caracteriza-se por um duplo processo de concentração e centralização de poder em um determinado território.

e) O Estado representativo caracteriza-se por ser exclusivo a sociedades de-mocráticas modernas, não existindo em monarquias.

15. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Os jusnaturalistas marcaram o pensamento político da Idade Moderna. Entre seus principais autores temos Hobbes, Locke e Rousseau. Em relação às obras desses autores, julgue as sentenças abaixo:

Page 57: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 57

I. Locke e Rousseau, inseridos no contexto do Iluminismo, resgatam o pensa-mento clássico aristotélico, no qual concebem o Estado como um prossegui-mento natural da sociedade familiar.

II. Rousseau e Hobbes defendem que o estado de natureza - onde os indiví-duos são iguais e donos de sua liberdade - é melhor que o Estado de Direito, visto que a desigualdade entre os homens surge com a criação deste e com o direito de propriedade.

III. Locke e Rousseau guardam semelhanças em suas descrições sobre o esta-do de natureza, no qual os indivíduos viviam em relativa paz. Porém para Locke, o direito de propriedade é natural, entanto que, para Rousseau, não era natural e apenas consolidou a desigualdade entre os homens.

IV. Os três autores defendem a existência de um estado de natureza que pre-cede o Estado de Direito, este criado por meio de um contrato firmado entre os indivíduos. Entretanto, as motivações que levaram os indivíduos a fundarem o Estado, são distintas em cada autor.

Estão corretas:

a) As afirmativas I e III.

b) As afirmativas I e IV.

c) As afirmativas II e III.

d) As afirmativas II e IV.

e) As afirmativas III e IV.

16. (ESAF/APO-MPOG/2002) Assinale como verdadeira (V) ou falsa (F) as definições sobre o Estado, seu conceito e sua evolução, relacionadas a seguir.

( ) Por Estado entende-se um grupo de pessoas que vivem num território defi-nido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são designadas para controlar uma série mais ou menos restrita de atividades do grupo, com base em valores reais ou socialmente reconhecidos e, se necessário, na força.

( ) Um Estado é caracterizado por quatro elementos: povo, território, governo e independência.

( ) Um Estado é caracterizado pela participação da população nas decisões de governo, seja diretamente ou através de representantes.

( ) O Estado moderno surgiu na Idade Média, como uma resposta ao fim do Império Romano e às invasões constantes dos bárbaros na Europa Ocidental.

( ) Uma das características de um Estado é o monopólio do uso da violência em seu território, bem como o de taxar seus habitantes e emitir moeda.

Page 58: aula0_politica_APU_STN_45446.pdf

CURSO ON-LINE – POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P/ STN PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 58

Escolha a opção correta.

a) V, F, V, V, F

b) F, V, F, V, V

c) V, V, F, F, V

d) V, F, V, F, F

e) F, F, V, V, V

33..22.. GGaabbaarriittoo

1. E

2. B

3. C

4. B

5. E

6. D

7. B

8. B

9. E

10. B

11. C

12. A

13. E

14. D

15. E

16. C

44.. LLeeiittuurraa SSuuggeerriiddaa “Estado, Sociedade Civil e Legitimidade Democrática”, Luiz Carlos Bresser Pe-reira. http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=338