aula voltametria
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VOLTAMETRIA
Métodos VoltamétricosDentre o grupo de técnicas que se baseiam na aplicação de um programa de potencial aplicado aos eletrodos e a corrente faradaica que resulta neste processo, destacam-se:
PolarografiaPolarografia de pulso normal Polarografia de pulso diferencialVoltametria de redissolução anódicaVoltametria de onda quadrada Voltametria cíclica
BREVE HISTÓRICO:
- Século VI a.c. – Gregos: âmbar atritado em peles gerava carga eletrostática
- Século XVI – Gilbert – Verificou também que outros sólidos acumulam cargas eletrostáticas
- 1747 – Franklin (EUA) e Watson (Inglaterra): Todos os sólidos tem “fluído elétrico”
- 1752 – Franklin comprova que os raios correspondem a descargas elétricas
Um dos primeiros relatos que envolve um experimento eletroquímico foi descrito por Luigi Galvani em 1791:
“Havia dessecado uma rã, que fora colocada sobre uma mesa, próximo a uma “máquina elétrica”. Um dos assistentes colocou em contato o terminal da
máquina com os nervos da rã, ocorrendo uma pronta contração dos músculos das pernas.
Galvani concluiu: “...there is a profound connection between biological and electrochemical events”
Em 1800, a pilha de Volta é descrita.
Em 1834, Michael Faraday estabeleceu as leis que regem os princípios dos processos voltamétricos:
- A passagem de uma determinada quantidade de corrente, deposita uma determinada massa de um
dado elemento.
- A mesma corrente deposita igual número de mols de material diferente, cujo processo envolva
igual número de elétrons.
Em 1859 Planté apresenta as primeiras baterias chumbo/ácido sulfúrico, que foram utilizadas na Telefonia.
Em 1880 foi iniciada a fabricação de baterias comerciais.
E a eletroquímica? Não evoluiu como poderia, por conta do domínio da termodinâmica no final do século 19 e início do século 20. A cinética dos processos havia sido esquecida....
POLAROGRAFIA
A polarografia se enquadra dentro da voltametria. (Koltoff e Laitinen)
Em 1922, Jaromir Heyrowsky (Nobel 1959) apresentou pela primeira vez a polarografia.
Inicialmente, uma célula de dois eletrodos (indicador ou de trabalho e referência) era
utilizada. O potencial era variado linearmente entre o potencial inicial e o final e a corrente
que fluía entre os dois eletrodos era monitorada.
Célula Polarográfica em “H”(adaptada para FIA, com um eletrodo de Pt em lugar do EGHg)
a
b
c
de
f
g
hii
j k
l
m
n
op
q
Polarógrafo construido por Heirowski e Shikata
EGHg
chem.ch.huji.ac.il/~eugeniik/instruments/
Na célula com dois eletrodos, o processo eletroquímico que ocorre sobre o eletrodo de trabalho, requer uma reação complementar no
compartimento do eletrodo de referência.
Assim, se no eletrodo de mercúrio estiver sendo reduzido chumbo, no eletrodo de referência o
mercúrio metálico é oxidado a Hg+, que rapidamente será precipitado na forma de Hg2Cl2 (calomelano).
Se a reação principal for uma oxidação, no eletrodo de referência Hg2Cl2 é que será reduzido (a Hgo).
Pelo fato de haver um eletrodo de Hg muito pequeno - área máxima da ordem de poucos mm2
ao passo que o eletrodo de referência tem área de muitos cm2 - o fluxo de corrente por unidade de
área é baixo e pouco afeta o seu potencial.
Nos anos 50/60, surgiram os potenciostatos, que utilizam células de três eletrodos, sendo que a corrente flui entre o eletrodo de trabalho e o
auxiliar, ao passo que o potencial é medido entre o eletrodo de trabalho e o de referência.
Medições muito mais precisas e bem mais rápidas podem ser feitas desta maneira.
Típico polarograma obtido para a reduçãode um metal com eletrodo gotejante de mercúrio
Sinal registrado para a oxidação de um analito utilizando um eletrodo rotatório ou microeletrodo
Vantagens da utilização do eletrodo de mercúrio:- Eletrodo é renovável- Eletrodo com excelente reprodutibilidade- Superfície extremamente lisa e uniforme- Metal: pode ser purificado (99,99999%)- Apresenta elevada sobretensão à redução de H+
Desvantagens:- O metal é tóxico - A faixa de trabalho na região anódica é estreita
A princípio, a corrente registrada em um polarograma, é a soma de diversas componentes.
a) Corrente residual: É a corrente presente em todos os polarogramas, e se constitui na soma da corrente faradaica, provinda de processos redox de impurezas da solução (traços de espécies eletro-ativas e ainda do oxigênio dissolvido) e de corrente capacitiva, provinda do processo de carga da dupla camada elétrica.
b) Corrente de migração: Provém da oxidação ou redução da parcela de analito que alcança a superfície do eletrodo por efeito da atração eletrostática. É “eliminada” pela adição de ~50 ou 100 vezes mais eletrólito suporte.
c) Corrente de difusão : Provém da oxidação ou redução de material eletroativo que alcança a superfície do eletrodo apenas por difusão.
Minimizadas as correntes residual e de migração, Ilkovic pode derivar a equação da polarografia:
Id= 607 n D1/2 m2/3 t1/6 C
Onde:607: inclui o Faraday, densidade Hg e outros fatoresn = Número de elétrons envolvidos no processoD = Coeficiente de difusão da esp. reagente (cm2s)m = Velocidade de escoamento do mercúrio (mg/s)t = Tempo de vida da gota (s)C = Concentração do reagente
As técnicas polarográficas tiveram grande importância na primeira metade do século 20 por
permitirem a quantificação de dezenas de metais, na faixa de concentração típica de 10-3 a 10-5 mol/L.
A metalurgia, a mineração e muitas outras atividades foram beneficiadas com esta técnica.
Em meados da década de 50, surge a absorção atômica e a polarografia perde terreno...
Houve até quem considerasse a técnica “morta”.
Com o advento dos potenciostatos, novas técnicas puderam ser implementadas.
As técnicas de pulso e o desenvolvimento de eletrodos com destacamento sincronizado de gotas e de eletrodos de gota estática permitiram minimizar a contribuição da corrente capacitiva.
Os limites de quantificação alcançaram a faixa de 10-7 a 10-9 mol/L, superando em muitos casos a absorção atômica, com as vantagens adicionais de:- Permitir a especiação de elementos - Quantificar múltiplos elementos num experimento
TÉCNICAS DE PULSO
Com o desenvolvimento dos potenciostatos, modernos, surgiu a possibilidade de controlar
de forma mais adequada a aplicação do potencial e a realização das medidas em
condição mais favoráveis.
Passou-se então a aplicar degraus de potencial e a realizar as medições de corrente no tempo mais favorável, onde a corrente capacitiva já
estava reduzida significativamente, como pode ser visto na figura que segue.
Polarografia de pulso normal (PPN)
corr
ente
i capacitivai faradaica
16,6ms
56,6ms
As medidas de corrente passaram a ser realizadas no final do pulso de potencial,
condição onde a corrente capacitiva já decaiu significativamente, ao passo que acorrente
faradaica é menor, mas ainda é significativa.
Adicionalmente, o experimento é feito no final da vida da gota, condição onde a área do
eletrodo é maior e a corrente capacitiva é proporcionalmente menor.
A Polarografia de Pulso Normal permitiu que os limites de detecção, anteriormente situados na
faixa de 10-5 mol/L, passasse à faixa de 5 x 10-7
mol/L.
Considerando a época em que esta condição foi atingida, significou um grande avanço para a
quantificação de diversas espécies químicas, em particular os metais pesados.
Na década de 70, estava apenas nascendo a consciência ecológica
Polarografia de Pulso Diferencial (PPD)
Segunda amostragem de corrente
Primeira amostragem de corrente
Inícioda gota
T = 0.5 a 5 s
A polarografia de pulso diferencial veio a melhorar ainda mais o desempenho das técnicas de pulso.
Nesta técnica, todos os pulsos tem a mesma magnitude e a corrente é medida antes da aplicação
do pulso e no final do período de cada pulso.
A primeira corrente é subtraída da segunda, o que gera uma curva derivativa, em “forma de sino”.
Os limites de detecção passaram a alcançar a faixa de 10-8
mol/L com EGHg ou 5 x 10-7 para eletrodos sólidos.
Voltametria de onda quadrada
∆E
A voltametria de onda quadrada é uma técnica que permite varreduras rápidas com excelente discriminação entre a corrente capacitiva e a
faradaica.
Apresenta sensibilidade um pouco superior que a obtida na polarografia de pulso diferencial, com a
vantagem adicional de permitir medições com altas velocidades.
Em muitos casos, a interferência do O2 dissolvido é pouco significativa em medidas com SWV.
Paralelamente aos avanços instrumentais, os eletrodos de mercúrio também foram
modernizados.
Em 1980 a PAR lançou o HMDE (Hanging mercury drop electrode) e em 1983 a
Metrohm lançou o seu SMDE (pressurizado).
Tais eletrodos significaram um grande avanço para as técnicas de pulso, mas forma de
fundamental importância para os processos envolvendo pré-concentração por adsorção
ELETRODO DE GOTA PENDENTE DE MERCÚRIO FABRICADO PELA EMPRESA PAR
IMAGEM DE UMA CÉLULA POLARO-GRÁFICA
GOTA EM EGHg
Eletrodo de mercúrio desenvolvido no IQ-USP, cujo desempenho é superior ao dos eletrodos comerciais.
Pré-concentração
Os novos eletrodos de mercúrio de gota pendente permitiram que se passasse a explorar longos períodos de “coleta” do analito de interesse, denominada de etapa de pré-concentração.
Após este período, através de uma varredura rápida (de poucos segundos) todo o material
coletado é re-oxidado para a solução (stripping).
Isto possibilitou que se alcançasse limites ainda menores de concentração.
Stripping anódico
Mn+Mn+Mn+Mn+
t
-E
E1/2 CuE1/2 Hg
+ E
I
Mn+ + ne- M0
M 0
M n++ ne-
REDUÇÃOPRÉ-CONCENTRAÇÃO
Cu Hg
RE-OXIDAÇÃODETERMINAÇÃO
+E
-E
M0
Mn+Mn+Mn+Mn+
Stripping Catódico
Xn- + M MX + ne-MX +
n e-
M + X
n-
t
-E
I
E1/2
Oxidação Redução+E
MX
X-X-X-X-
X-
X- X-X-
+E
Metal ASV AAS ETAAS ICP-MSAl 0,03* 45 0,15 0.16Cd < 0,0002 0,7 0,006 0,03Co < 0,005* 9 0,15 0,01Cr 0,02 3 0,06 0,01Cu 0,002 1,5 1,5 0,02Fe < 0,04 7,5 0,06 0,20Hg 0,005 300 1,2 0,02Mn 40 1,5 0,03 0,03Ni 0,001* 6 0,3 0,04Pb 0,001 15 0,15 0,01Sn < 0,03* 30 0,6 0,06Ti 100 75 1,2 0,32V 100 60 0,6 0,03Zn 0,02 1,5 0,03 0,01
* Stripping voltamétrico de adsorção
Limites de detecção para metais (µg.L-1)
Métodos de “Stripping”
Os métodos de stripping anódico com EGPM baseiam se na formação de amálgamas dos metais a serem
determinados, dentre os quais, Cu, Pb, Cd, Zn, Tl...
Já os processos catódicos baseiam-se na formação de filmes insolúveis de HgX, dentre os quais cloreto,
brometo, iodeto, sulfeto...
Em suma, pouco mais de duas dezenas de metais e espécies que formam sais insolúveis com Hg+ ou
Hg++ podem ser determinados por stripping.Os eletrodos sólidos passam a ser utilizados para stripping a seguir.
Pré-concentração por adsorção
Diversas espécies orgânicas tem grande afinidade por adsorver sobre eletrodos de mercúrio.
Esta propriedade pode ser explorada para a determinação direta de baixíssimas concentrações
de tais compostos.
Alternativamente, ligantes que não são eletroativos, também foram explorados para
complexar e pré-concentrar metais sobre eletrodos de mercúrio.
Pré-concentração por adsorção de moléculas orgânicas
Molécula Eletrodo L.D./mol.L-1
Tiouréia Hg 2. 10-11
Bilirubina Hg 5. 10-10
Digoxina Hg 2. 10-10
Digitoxina Hg 2. 10-10
Testosterona Hg 2. 10-10
Progesterona Hg 2.10-10
Pesticidas c/ nitrogrupos Hg 5. 10-10
Cloropromazina Pasta de carbono 5. 10-9
Diazepam Nitrazepam Hg 5. 10-9
Cimetina Hg 4. 10-9
Dopamina Pt/Au 5.10-8
Adriamicina Pasta de carbono 10-8
Codeína/Cocaína Hg 10-8
Associação de pré-concentração por adsorção com processos catalíticos
Limites ainda menores puderam ser alcançados quando uma reação catalítica pode ser associado
ao processo em questão.
Este processo catalítico regenera rapidamente o metal junto ao eletrodo, podendo este ser
novamente oxidado (ou reduzido), o que torna o sinal analítico ainda maior.
Exemplos de determinações envolvendo pré-concentração por adsorção +catálise
IonMetálico
Ligante +Catalisador
Limite de detecção
Cr DTPA Nitrato
5 x 10-10 mol L-1
Mo Tropolone Clorato
1 x 10-1 mol L-1
U FormiatoNitrato
8 x 10-11 Mol L-1
W VMA-OxinaClorato
2 x 10-11 mol L-1
Ti Ácido MandélicoClorato
7 x 10-12 mol L-1
Pt Formazona H+
4 x 10-13 mol L-1
Eletrodos Sólidos
A partir de 1950, os eletrodos sólidos passaram a ser explorados, especialmente na região anódica,
região inadequada para utilizar eletrodos de mercúrio.
Dentre os eletrodos mais utilizados, encontram-se os eletrodos de metais nobres (platina, ouro, prata, irídio....) e diversas formas de carbono
(grafite pirolítico, carbono vítreo, pasta de grafite...)
Potenciais limites (V)(vs /calomelano)
Eletrodo Anódico CatódicoPlatina 1,25 - 1,0Ouro 1,5 - 1,28
Grafite Pirolítico 1,35 - 1,61Pasta de carbono 1,30 - 1,4Carbeto de boro 1,13 - 1,7
Mercúrio 0,3 - 2,2
(Os valores acima são muito dependentes do meio de trabalho).
Eletrodos sólidos comerciais
Vantagens dos eletrodos sólidos (frente a Hg)- Janela de potencial mais ampla- Simplicidade de operação- Facilidade de operação- Robustez
Desvantagens- Não apresentam sobrepotencial à redução de H+
- Superfície menos reprodutível- Renovação da superfície é mais trabalhosa
Voltametria
O termo voltametria engloba um grupo de métodos eletroanalíticos nos quais a
informação sobre o analito deriva das medidas de corrente em função do potencial aplicado,
sob condições onde o eletrodo de trabalho (ou indicador) encontra-se polarizado.
i
E(V)
A forma mais utilizada é a varredura linear de potencial, utilizada desde os primórdios da
polarografia.A faixa de potencial é “varrida” em uma única direção, iniciando no potencial inicial (t = 0)
e terminando no potencial final (t = tf).
E
t
A figura ao lado representa o perfil de uma rampa de potencial em uma varredura linear de potencial
Já na voltametria cíclica, a direção do potencial é invertido ao final da primeira varredura. Então,
geralmente a varredura tem a forma de um triângulo isósceles.
Este processo traz a vantagem de que o produto da reação redox que ocorreu na primeira etapa de
varredura (na ida), pode ser avaliado novamente na varredura reversa (na volta).
t
E E
t
A ciclovoltametria possibilita uma série de aplicações, dentre as quais:
- Avaliar o potencial formal de pares redox- Determinar processos químicos que precedem
ou sucedem reações eletroquímicas- Avaliar a cinética de transferência eletrônica - Investigar a reatividade química das mais
diferentes espécies
A voltametria cíclica é uma ferramenta muito favorável para estudos exploratórios.
Processos reversíveis
Sistemas cujo processo redox seguem exatamente as condições previstas pela equação de Nernst, apresentam voltamogramas cujas características podem ser verificadas por:
a) A separação entre os potenciais de pico (Epa - Epc) é igual a 57/n mV, para qualquer velocidade de varredura (n = no de eletrons).
b) O número de elétrons envolvidos em um processo reversível pode ser determinado por CV (vide ítem a).
c) A relação de correntes (ipa/ipc) é igual a 1, independente da velocidade de varredura (ν) utilizada.
d) A corrente de pico cresce linearmente em função da raiz quadrada da velocidade de varredura.
A variação de i vs raiz quadrada de ν será vista a seguir:
CV de ferroceno carboxilato em tampão fosfato (pH = 7,0) onde destaca-se o comportamento Nernstiano (reversivel)
Em um processos reversíveis, a corrente de pico (anódico e catódico) em função da raiz quadrada da
velocidade de varredura, é linear.
A reta ao lado corresponde às
correntes máximas medidas nos picos
anódicos, apresentados na figura anterior.
Para exemplificar como a ciclovoltametria pode ser uma importante ferramenta, vamos considerar o
seguinte exemplo:
O ciclovoltamograma da fenileno-diamina realizado a 100 mV/s, mostra um pico de oxidação (a ~520
mV) e um único pico de redução a ~200 mV.
Quando o mesmo CV foi feito utilizando velocidades maiores, um segundo pico de redução
surgiu, por volta de 450 mV.
Aumentando ainda mais a velocidade, houve significativo incremento deste pico (a 450 mV).
A explicação para tais resultados está esquematizada abaixo: Fenileno-diamina é eletroquimicamente oxidada a fenileno-di-imina. Esta, reage com H2O, gerando benzoquinona. No caso de varreduras “lentas”, toda a di-imina é quimicamente oxidada a benzoquinona, que por sua vez pode ser reduzida. Com velocidades de varredura maiores, é possível reduzir a fenileno-di-imina antes que esta reaja (completamente) com a água.
RESUMINDO:
A ciclovoltametria é uma “ferramenta” extremamente útil para aplicações
eletroanalíticas.
Apesar de não permitir a detecção de baixíssimas correntes (lembrar que em CV a
contribuição da corrente capacitiva não é facilmente subtraída) esta técnica via de regra é utilizada para avaliar sistemas desconhecidos.
Eletrodos modificados
A manipulação proposital e controlada das propriedades superficiais de eletrodos permitiu
que se criasse um vasto arsenal de novos sensores eletroquímicos, que apresentam características
muito diversas e atrativas.
Ao modificar um eletrodo, procura-se atribuir novas características fisico-químicas à sua superfície, visando sua utilização para uma
determinada aplicação.
Ao modificar um eletrodo, busca-se:
- Eletrocatálise de reações
- Seletividade
- Prevenção de envenenamento
- Pré-concentração
Eletrocatálise de Reações
Modificações de eletrodos podem favorecer a eletrocatálise de reações, gerando significativo
incremento de sinal eletroquímico e/ou antecipação (para potenciais mais favoráveis)
o(s) processo(s) redox de interesse.
Podem inclusive favorecer a ocorrência de processos redox que não acontecem sobre o
eletrodo não modificado.
Eletrodos modificados com porfirinas: Quantificação de NADH
Seletividade
Filmes de compostos adsorvidos (ex: tióis, lipídeos, etc) ou de polímeros com
características descriminativas (ex: náfion, acetato de celulose, polipirrol, etc) são utilizados para selecionar quais analitos
atingirão a superfície do sensor, obtendo-se assim seletividade com relação às demais
espécies presentes.
Filme de poli-1,2-diamino benzeno sobre eletrodo de carbono. Sinais para: a) H2O2; b) ácido ascórbico; c) ácido úrico; d) cisteína; e) soro humano.
Exemplo de seletividade por filmes poliméricos
Prevenção de envenenamento
Em diversos casos, o analito, outra espécie ou o produto da reação redox tende a acumular sobre o sensor, levando à perda de atividade deste, com
conseqüente diminuição do sinal analítico. A utilização de mediadores elimina ou diminui
tais problemas. No caso de amostras complexas, espécies não eletroativas podem também
adsorver e bloquear o eletrodo. A utilização de filmes poliméricos pode atuar na
prevenção deste envenenamento.
Prevenção de envenenamento por exclusão de ânions
Filmes de náfion
Pré concentração
A modificação da superfície de eletrodos com compostos capazes de adsorver fortemente e
simultaneamente induzir a adsorção da espécie a ser determinada, permite que analitos em baixas
concentrações possam ser pré-concentrados.Alternativamente, filmes (de espécies
eletroinativas) adsorvidos ou depositados sobre a superfície de eletrodos podem promover um
“ambiente” favorável para a pré-concentração do analito de interesse.
Eletrodos de pasta de carbono
Eletrodos de pasta de carbono tornaram-se populares devido a facilidade de preparo e
simplicidade de utilização.
Basicamente, é constituído de uma mistura de pó de grafite e óleo mineral. As quantidades variam,
tipicamente utiliza-se ~60% de pó de grafite e 40% de óleo mineral (relação m/m).
Junto à esta pasta é possível associar catalizadores, enzimas, trocadores iônicos...
Biosensores
O desenvolvimento de biossensores teve início na década de 60 e ganhou grande popularidade
com o desenvolvimento de sensores para glicose.
Definição: É um dispositivo baseado na combinação de um componente biológico
responsável pelo reconhecimento molecular do analito de interesse com um transdutor
apropriado.
Principais características dos biossensores:- Especificidade - Elevada sensibilidade
Desejável:-Alta durabilidade- Dimensão reduzida- Resposta rápida e reversível- Faixa dinâmica ampla- Baixo custo
Construção de um biossensor
Eletrodo
Solução
Enzimas Filme Poroso
Reações enzimáticas
Glicose:
Glicose + O2 H2O2 + Ácido glucônico
Glicose pode ser monitorada via:
- decréscimo de O2- pelo aparecimento de H2O2- ou ainda pela variação de pH
GOx
Na construção de biossensores, os mais variados materiais podem ser utilizados, dentre os quais:
- Enzimas- Anticorpos- Antígenos- Fungos- Bactérias- Tecidos vegetais- Tecidos animais- DNA...
Construção de biossensoresAs mais variadas formas de construção de
biossensores podem ser encontradas na literatura.
Desde os primeiros sensores que utilizavam papel de celofane como barreira para a retenção de enzimas, nos ~40 anos de desenvolvimento
destes sensores, muito se evoluiu.
Atualmente, dezenas de diferentes processos podem ser vistos, muitos dos quais envolvendo
altíssima tecnologia.
Microeletrodos
Quando as dimensões de um eletrodo são diminuídas da escala de cm ou mm para
micrômetros, verificam-se diversas mudanças no comportamento voltamétrico.
Apesar de as vantajosas propriedades de eletrodos tão pequenos serem conhecidas há muitos anos, pesquisas nesta área não eram freqüentes até o
início da década de 70.Os avanços na área da eletrônica e o desenvolvimento de materiais com microestruturas e novas formas de
construção impulsionaram esta área.
Vantagens e aplicações de microeletrodos:Menor distorção ôhmica- Análises em meio orgânico e águas naturaisMaior densidade de correnteµ-eletrodos de 100 Å: i > 100 A/cm2
Maior resolução temporalCinética: V>106 V/s - t = sub µ-segundosMaior versatilidadeAnálises em µ-volumes (10-11 L)Estudos intra-celularesEletroquímica de gasesMapeamento de pontos de corrrosãoe muitas outras aplicações...
Em solução, a rápida reposição de material à superfície do microeletrodo se deve à
contribuição da difusão não radial, que faz com que a resposta obtida seja diferente da obtida
com eletrodos de tamanho convencional.
A figura a seguir, compara respostas de eletrodos com dimensões de milímetros com a de um
microeletrodo.
Respostas de um eletrodo convencional e de microeletrodos
A busca de ferramentas para o estudo de mecanismos de reações (1970) deu início à utilização dos
microeletrodos.
No entanto, a descrição do desenvolvimento de metodologias para estudos “in vivo” (1980) chamou a atenção para este campo e impulsionou de maneira muito significativa a utilização de microeletrodos.
As vantagens de utilizar eletrodos de dimensões micrométricas permitiram que se averiguasse a
liberação de determinados neurotransmissores a nível celular, bem como a ação de fármacos.
Eletrodo de fibra de carbono
Microeletrodos para medição de pH no esôfago
Microeletrodo cônico com menos de 1 µm de diâmetro
Analytical Chemistry, 1996.
Resumindo:
Nesta aula foi possível ter uma visão de alguns dos métodos voltamétricos.
As possibilidades de aplicações na área farmacêutica são muito amplas.
As pesquisas envolvendo métodos eletroquímicos e a área farmacêutica é ainda
muito limitado em nosso contexto...