aula dia 30 09-13 - dr. paulo aires barreto
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Segurança Jurídica em Matéria Tributária
Paulo Ayres BarretoDoutor PUC/SP e Livre docente USP
Professor Associado USP
Roteiro da Exposição
• Princípio de segurança jurídica
• Desconsideração de atos, fatos e negócios jurídicos
pelas autoridades fiscais
• Estabilidade das relações jurídicas, boa fé do
contribuinte e mutação jurisprudencial.
Segurança Jurídica
• Paulo de Barros Carvalho: segurança jurídica é
verdadeiro sobreprincípio.
• Define-se o princípio da segurança jurídica tributária, em uma
proposta funcional, como princípio-garantia constitucional
que tem por finalidade proteger expectativas de confiança
legítima nos atos de criação ou de aplicação de normas,
mediante certeza jurídica, estabilidade do ordenamento e
confiabilidade na efetividade de direitos e liberdades,
assegurada como direito público fundamental.
Direito Constitucional Tributário e Segurança Jurídica – Heleno Taveira Torres –
Pág. 186
• O direito positivo
• O tema na doutrina
• O tema no Direito Comparado
Desconsideração de atos, fatos enegócios jurídicos por autoridadesfiscais
O Direito Positivo
• Art. 149 do CTN
O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos:
VII- quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação.
Direito positivoParágrafo único do art. 116 do CTN
A autoridade administrativa poderá desconsideraratos ou negócios jurídicos praticados com a finalidadede dissimular a ocorrência do fato gerador do tributoou a natureza dos elementos constitutivos daobrigação tributária, observados os procedimentos aserem estabelecidos em lei ordinária.
O Direito Positivo
• Exposição de motivos da L.C. 104/2001
- abuso de forma e abuso de direito
- a inclusão do parágrafo único ao art. 116 faz-se necessária para estabelecer, no âmbito da legislação brasileira, norma que permita à autoridade tributária desconsiderar atos ou negócios jurídicos com finalidade de elisão, constituindo-se, dessa forma, em instrumento eficaz para o combate aos procedimentos de planejamento eficaz para o combate aos procedimentos de planejamento tributário praticados com abuso de forma ou de direito.
O Direito Positivo
• O novo Código Civil brasileiro
- abuso de direito como ilícito
- princípios da eticidade, socialidade e boa-fé
Planejamento Tributário na Doutrina
Corrente “Tradicional”
- legalidade
- tipicidade
Corrente “Moderna”
- eficácia positiva do princípio da capacidade contributiva
- solidariedade social
- na elisão, o fingimento ocorreria em relação
ao fato gerador abstrato, que é distorcido no processo
subsuntivo. Haveria a dissimulação do fato gerador
abstrato, e não simulação do fato gerador concreto;
O cerne da postura científica é a recusa em considerar nossos próprios desejos, gostos e interesses como capazes de fornecer a chave para a compreensão do mundo.
Bertrand Russel (1913)
Planejamento Tributário
Dupla refutação por parte do legislador
- art. 74 do projeto que deu origem ao CTN
- MP 66/2002, convertida na Lei 10.637/2002
Art. 14. São passíveis de desconsideração os atos ou negócios jurídicosque visem a reduzir o valor de tributo, a evitar ou a postergar o seupagamento ou a ocultar os verdadeiros aspectos do fato gerador ou areal natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária. §1º Para a desconsideração de ato ou negócio jurídico dever-se-álevar em conta, entre outras, a ocorrência de: I – falta de propósitonegocial; ou II – abuso de forma. § 2º Considera-se indicativo defalta de propósito negocial a opção pela forma mais complexa oumais onerosa, para os envolvidos, entre duas ou mais formas para aprática de determinado ato. § 3º Para o efeito do disposto no inciso IIdo § 1º, considera-se abuso de forma jurídica a prática de ato ounegócio jurídico indireto que produza o mesmo resultado econômicodo ato ou negócio jurídico dissimulado.
Planejamento Tributário
Art. 15. A desconsideração será efetuada após a instauração deprocedimento de fiscalização, mediante ato da autoridadeadminstrativa que tenha determinado a instauração desseprocedimento.
Planejamento Tributário
At. 16. O ato de desconsideração será precedido derepresentação do servidor competente para efetuar olançamento do tributo à autoridade de que trata o art. 15.§ 1º Antes de formalizar a representação, o servidor expediránotificação fiscal ao sujeito passivo, na qual relatará os fatosque justificam a desconsideração. § 2º O sujeito passivopoderá apresentar, no prazo de trinta dias, osesclarecimentos e provas que julgar necessários. § 3º Arepresentação de que trata este artigo : I – deverá conterrelatório circunstancial do ato ou negócio praticado e adescrição dos atos ou negócios equivalentes ao praticado; II– será instruída com os elementos de prova colhidos peloservidor, o curso do procedimento de fiscalização, até a datada formalização da representação e os esclarecimentos eprovas apresentados pelo sujeito passivo.
Direito Comparado
Espanha: - conflito normativo em face de negócios notoriamente
artificiais - Elusão Tributária
Articulo 15. Conflicto em la aplicacioón de la normatributaria. 1. Se entenderá que existe conflicto em la aplicación de lanorma tributaria cuando se evite o total o parcialmentoe larealización del hecho imponible o se minore la base o la deudatributaria mediante actos o negocios em los que concurran lassiguientes circustancias: a) Que, individualmente considerados o ensu conjunto, sean notoriamente artificiosos o improprios para laconsecución del resultado obtenido. b) Que de su utilización noresulten efectos jurídicos o económicos relevantes, distintos delahorro fiscal y de los efectos que se hubieran obtenido com los actoso negocios usualeso proprios.
Direito Comparado
2. Para que la Administración tributaria pueda declarar elconflicto em la aplicacion de la norma tributaria séránecesario el previo informe favorable de la Comisiónconsultiva a que se refiere el artículo 159 de esta ley. 3. Enlas liquidaciones que se realicen como resultado de lodispuesto em este artículo se exigirá el tributo aplicando lanorma que hubiera correspondido a los actos o negociosusuales o propios o eliminando las ventajas fiscalesobtenidas, y se liquidarán intereses de demora, sin queproceda la imposición de sanciones.
Direito Comparado
Articulo 16. Simulación. 1. Em los actos o negocios em los que exista simulación, el hecho imponible gravado será el efectivamente realizado por las partes. 2. La existencia de simulación será declarada por la Administración tributaria em el correspondiente acto de liquidación, sin que dicha calificación produzca otros efectos que los exclusivamente tributarios. 3. En la regularización que proceda como consecuencia de la existencia de simulación se exigirán los intereses de demora y, em su caso, la sanción pertinente.
Direito Comparado
EUA: - “business purpose test” – 1.935
- Gitlitz v. Comissioner – novo milênio
Prejuízo fiscal, sem o correspectivo prejuízo
societário. Legitimidade
Direito Comparado
Portugal: -
a cláusula geral antiabuso foi introduzida, no direitoportuguês, em 1999, inicialmente com o artigo 32º-A doCódigo de Processo tributário e, depois, no nº 2 do artigo dalei Geral Tributária, nos seguintes termos: “são ineficazes osactos ou negócios jurídicos quando se demonstre qwue foramrealizados como o único ou principal objectivo de redução oueliminação dos impostos que seriam devidos em virtude deactos ou negócios jurídicos de resultado económicoequivalente, caso em que a tributação recai sobre esteúltimos”.
Direito Comparado
São ineficazes no âmbito tributário os actos ou negóciosjurídicos essencial ou principalmente dirigidos, por meiosartificiosos ou fraudulentos e com abuso da formas jurídicas,à redução, eliminação ou diferimento temporal de impostosque seriam devidos em resultado de factos, actos ou negóciosjurídicos, de idêntico fim econômico, ou à obtenção devantagens fiscais que não seriam alcançadas, total ouparcialmente, sem utilização desses meios, efectuando-seentão a tributação de acordo com as normas aplicáveis na suaausência e não se produzindo as vantagens fiscais referidas.
Direito Civil: aplicação restrita
- Previsão constitucional
- Matéria reservada à lei complementar
- Matéria regrada por lei especial tributária
Interpretação Constitucional
- Direitos e garantias individuais como cláusula pétrea
- Rígida demarcação da competência
- Capacidade contributiva como garantia individual
- Legalidade isônoma
- Caráter subótimo das regras
Razão da alteração legislativa (par. único do art. 116)
- Eficácia social
- Ato perlocucionário de fala
- Dois fatos vertidos em linguagem
- Teoria das provas
- Procedimento (ineficácia técnico-sintática)
Paulo de Barros Carvalho
E1 Fj1
N1 E2 Fj2
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N2 Fj4
E4
N3 Fj5
________________________Direito Tributário Linguagem e Método, p. 153
Principais Conclusões
• A diferença semântica que se verifica entre a simulação e adissimulação é que justifica a inserção do parágrafo único doartigo 116 do Código Tributário Nacional. Na dissimulação, hádois fatos: o construído pelo contribuinte e o que sepretendeu ocultar. Há duas manifestações de linguagempossíveis para reportar um único acontecimento. Cabe aofisco provar a ocorrência do fato jurídico tributário que alegater sido ocultado. Compete ao contribuinte demonstrar quenada foi dissimulado. Há que se estabelecer um procedimentopara a verificação da verdade lógica: que relato lingüísticoprevalecerá após o cotejo das provas de sua ocorrência.
Principais Conclusões
• Não há enunciado prescritivo que proíba, direta ouindiretamente, a estruturação, por meios lícitos, de operaçãotributária com o único propósito de reduzir ou mesmo nãopagar tributos. Não há regra específica que vede talprocedimento, nem qualquer princípio que possa servir defundamento para impedir esse comportamento. Oordenamento jurídico brasileiro não positivou a regra dopropósito negocial (business purpose).
Principais Conclusões
• Às autoridades fazendárias compete, a partir do indício,demonstrar a ocorrência do fato que se quer provar e, aomesmo tempo, robustecer de tal forma essa prova, com oescopo de impedir que a relação de causalidade possa serinfirmada mediante demonstração de que outro fato tambémpoderia ter ocorrido.
• É por intermédio de alterações legislativas específicas que secoíbe eficazmente a evasão tributária. Inexistindo previsãonormativa, abre-se espaço à elisão tributária, que haverá deser admitida.
Defesa do direito positivo
“Quando um juiz, ou tribunal, se afasta do Direito afirmado
pelos textos normativos, do direito positivo, para tomar
decisões conforme a razoabilidade ou proporcionalidade,
estamos perdidos...”
“Precisamos promover a defesa do direito positivo.”
Eros Roberto Grau, RDT, 113, P 225
Miguel Reale
Ao jurista, advogado ou juiz, não é dado recusar vigência à lei sobalegação de sua injustiça, muito embora possa e deva reclamar a suailegitimidade ética no ato mesmo de dar-lhe execução. Mesmo porquepoderá tratar-se de ponto de vista pessoal, em contraste com asvalorações prevalecentes na comunidade a que ele pertence, etambém porque permanece intocável a lição de Sócrates, recusando-se a evadir-se da prisão, subtraindo-se à iníqua pena de morte quelhe fora imposta: “é preciso que os homens bons respeitem as leismás, para que os maus não aprendam a desrespeitar as boas leis”.1
1 Lições Preliminares de direito, p. 314
• Proclamemos a ilegitimidade das leis tributárias que
sejam más. Exaltemos as boas. Enquanto nenhuma
alteração vier à lume, cumpramos ambas.
• Modulação de efeitos
• Argumentos consequencialistas
• Presunção absoluta de validade
• Proteção da confiança e boa- fé
• Necessária modulação protetiva da confiança legítima.
• Necessário respeito à coisa julgada.
LEALDADE E PROTEÇÃO DA CONFIANÇA
Com maior razão, em matéria tributária a lealdade surge
como incontornável exigência. Se, como ensina Pontes de
Miranda, é “o povo que se tributa a si mesmo”, não há como
aceitar-se qualquer ato implicante de deslealdade, que é
despropositado ao conceber-se que alguém seja desleal
consigo mesmo. Daí a justificada ênfase que a doutrina dos
melhores autores alemães põe no princípio da proteção da
confiança. (Paulick, H. Kruse, Hensel)