aula 6b weber_brasil - estado e relações de poder - ufabc

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1 Weber e a Interpretação do Brasil Prof. Giorgio Romano 6a aula_2 http://tidia.ufabc.edu.br:8080/ Membership: Prof. Giorgio Romano

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Weber e a Interpretação do Brasil

Prof. Giorgio Romano6a aula_2

http://tidia.ufabc.edu.br:8080/Membership: Prof. Giorgio Romano

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Metodo weberiano: explicar a singularidade da

formação social brasileira = explicar o atraso No Brasil não houve revolução burguesia

(plutocracia?) Núcleo capitalista motor da história (centro de

decisão), mas não revoluciona a sociedade

(ex. persistência da velha oligarquia) Capitalismo moderno adaptou-se a estruturas

sócio-economicas de origem colonial/ pré-

capitalista/ dependente=>

capitalismo selvagem (tendência à exclusão).

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Modernização do arcaico + arcaização do

moderno:

  transformação superficial da realidade socio-

econômica degradação material/moral do trabalho despotismo nas relações humanas privilegiamento classes possuidores modernização controlada de fora (crescimento

dependente)

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Interpretação tradicional singularidade: Estado

ibérico como “despotismo oriental” do Weber

Estado ao abafar o mundo dos interesses privados

e inibir a livre iniciativa, teria comprometido a

história das instituições com concepções

organicistas da vida social e levado à afirmação da

racionalidade burocrática em detrimento da

racional-legal =>

Estado parasitário/ neopatrimonial

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Patrimonialismo –forma de dominação tradicional o aparelho do Estado funciona como umaextensão do poder soberano, e os servidorespossuem status de nobreza. A res publica não édiferenciada das res principis. Por causa disso, onepotismo e a corrupção são inerentes a essesistema de dominação. o trato da coisa pública pela autoridade como se

privado fosse o exercício do poder originário do cargo público para

buscar fins estritamente particulares

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Raiz do patrimoniliamo no Brasil ?

A sua natureza pretensamente quase oriental?

Outra interpretação: na origem recursos públicos

escassos => funcionário público tornar-se um

executivo que apenas gere os meios da

administração, manteve-se preservada a situação

em que ele detinha sua propriedade. Isto significa,

evidentemente, que ele os podia controlar

autonomamente, pois ele os possuía.

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Interpretação Revolução 1930:

teria retomado o velho fio ibérico de precedência

do Estado sobre a sociedade civil, a era Vargas

entendida como contínua ao ciclo dominado pelo

eixo Pombal—D. Pedro II, uma projeção do

Império, uma vez que expressaria as mesmas

"vigas mestras da estrutura" ao traduzirem a

realidade patrimonialista na ordem estatal

centralizada (Faoro)

=> Revolução 9 de julho: a Prússia Paulista x

Estado parasitário

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Ou: Revolução de 1930 como resposta à

crise de legitimidade da Primeira República,

ampliando o alcance da universalização do

Estado, impondo-lhe maior autonomia quanto à

esfera dos interesses — no caso, os dominantes

em São Paulo —, a fim de permitir a incorporação

ao sistema da ordem dos personagens emergentes

da vida urbana, como militares, empresários,

operários e intelectuais.

=> Revolução 9 de julho como reacionário

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Paradigma paulista, longe de representar uma

linha de oposição entre moderno/atraso,

representação/cooptação, ordem racional-legal/

patrimonialismo, na verdade, aponta para uma

composição ambígua dessas polaridades,

imprimindo à matriz do interesse a marca de um

particularismo privatista antípoda à formação da

cultura cívica=> estratos sociais privilegiados: apropriação externa de parte substancial do excedente

econômico transferir p/ classes baixas custo do privilegiamento

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No plano estrutural: interesses intocáveis iniquidades exorbitantes

Complexo padrão de mercantilização do trabalho: assalariados integrados assalariados semi-integrados excluídos >>

dificuldade de organização de classe.

 

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Interpretação/ilusão weberiana:

A transição da ordem senhorial-escravocrata

para a ordem social competitiva =>

revoluções passivas =>

processo progressivo da realização do moderno=>

o sistema de orientação racional da ação tende a se

generalizar, tornando-se, por fim, hegemônico

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Ambigüidade constitutiva à formação brasileira:

Do lado econômico: o "cálculo exato" do homo œconomicus da cultura capitalista do café e dos tipos sociais emergentes com a expansão dos negócios e da industrialização

De lado político: a preservação do estilo senhorial, a extração do consentimento e o exercício da coerção por métodos e formas patrimoniais

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Singularidade do Brasil: coexistência moderno

com a ordem patrimonial =>

criando para a burguesia a possibilidade de extrair

vantagem tanto do moderno como do atraso: a

burguesia se compromete, por igual, com tudo

que lhe fosse vantajoso: e, para ela, era vantajoso

tirar proveito dos tempos desiguais e da

heterogeneidade da sociedade brasileira,

Capitalismo como estilo de vida (ethos)?

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Werneck: problema não parte do Estado, mas das

relações sociais de padrão patrimonial vigência do

princípio de dominação pessoal, base pouco

propícia para a orientação racional da ação da

sociedade civil => a vida privada prolongando-se

para dentro da vida pública, "mantendo, também

nesta, a dominação pessoal" =>

Não analisar o Estado como instância

autônoma da sociedade: caracterizar

a natureza efetiva de Estado Instrumento.

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Leitura (neo)liberal do problema do

patrimonialismo: Ação paristária do Estado e sua elite (estamento) sobre a

sociedade Falsa oposição entre mercado “ideal” e o Estado

“corrupto” Se torna de forma implícita um equivalente funcional

para à crítica à intervenção estatal

Outra visão: Estado pode agir das mais diversas

maneiras, dependendo da correlação de forças

políticas que esteja no controle do Estado

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Werneck: Projeto de modernização:

1) erradicar as formas de patrimonialismo societal

preservadas no processo de modernização da

sociedade brasileira, e

2) por um fim na tradicional capacidade da esfera

privada de invadir a esfera pública, convertendo-a

em um instrumento seu.

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Como avaliar o populismo do Getúlio Vargas?

1) como um fiat do novo, cumprindo o seu papel em um processo de conservação com mudança controlada, pondo o interesse — e não apenas dos trabalhadores — sob a tutela da racionalização burocrática do Estado

ou

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2) um recurso do atraso (e contra ele se deveria

insurgir o interesse do trabalhador) manipulação

das massas trabalhadoras, mediatizada pela ação

carismática de um líder, as quais seriam

incorporadas ao sistema da ordem pelo duplo

caminho de acesso aos direitos sociais e pelo uso

de cursos simbólicos de integração, com o que se

procurava levá-las à abdicação da autonomia

enquanto classe e à perda de distinção dos seus

interesses em favor dos interesses da coalizão de

elites à testa do Estado

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Nacional-desenvolvimentismo: atraso/moderno

industrialização politicamente induzida, mas sem

liberar a manifestação da estrutura de classes e

sem deslocar as elites tradicionais do interior do

Estado =>

compatibilizando os ideais de modernização

econômica das novas elites com a preservação do

domínio das oligarquias tradicionais

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Até hoje (?): moderno interesse das elites

econômicas de São Paulo, agora como antes, na

Primeira República, somente se faz hegemônico

no campo da política ao se coligar com as

oligarquias (utilizam do Estado e dos seus

recursos a fim de reciclar e atualizar o seu

domínio e identidade de classe) =>

reprodução exclusão/ fragmentação social

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Referências:

Florestan Fernandes. • Capitalismo Dependente e classes sociais na AL• A revolução burguesa no Brasil

Raimundo Faoro• Os donos do poder

Luiz Werneck Vianna• A revolução passiva: iberismo e americanismo no

Brasil• Weber e a interpretação do Brasil

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