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CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL Aula 4 4. Das Provas Iniciemos por um artigo já conhecido e estudado desde o tema inquérito policial: Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil Perceba que a prova forma-se pela participação dialética das partes, ou seja, a prova é o resultado, aquilo que se retira de um confronto das partes no processo, logo, o inquérito não produz provas, mas produz elementos de informação, por não ser submetido ao contraditório ou ampla defesa; Com o parágrafo acima, sepultada fica a possibilidade de utilização do IP como elemento único a nortear uma decisão do magistrado. Claro que há exceções: as provas cautelares, antecipadas e não repetíveis. 4.1 Quem tem o ônus de provar alguma coisa no processo penal? Nos termos do art. 156, do CPP: Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer(...) O fato de a prova incumbir àquele que a alega, não significa que o juiz, excepcionalmente, não possa produzir a prova ou determinar

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CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Aula 4

4. Das Provas

Iniciemos por um artigo já conhecido e estudado desde o tema

inquérito policial:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre

apreciação da prova produzida em contraditório

judicial, não podendo fundamentar sua decisão

exclusivamente nos elementos informativos

colhidos na investigação, ressalvadas as provas

cautelares, não repetíveis e antecipadas.

(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Parágrafo único. Somente quanto ao estado das

pessoas serão observadas as restrições

estabelecidas na lei civil

Perceba que a prova forma-se pela participação dialética das partes,

ou seja, a prova é o resultado, aquilo que se retira de um confronto

das partes no processo, logo, o inquérito não produz provas, mas

produz elementos de informação, por não ser submetido ao

contraditório ou ampla defesa;

Com o parágrafo acima, sepultada fica a possibilidade de utilização do

IP como elemento único a nortear uma decisão do magistrado. Claro

que há exceções: as provas cautelares, antecipadas e não repetíveis.

4.1 Quem tem o ônus de provar alguma coisa no processo

penal?

Nos termos do art. 156, do CPP:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a

fizer(...)

O fato de a prova incumbir àquele que a alega, não significa que o juiz,

excepcionalmente, não possa produzir a prova ou determinar

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

diligências não requeridas pelas partes, pois a segunda parte do

dispositivo acima, afirma:

sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:

(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação

penal, a produção antecipada de provas

consideradas urgentes e relevantes, observando a

necessidade, adequação e proporcionalidade da

medida; (Incluído pela Lei nº 11.690,

de 2008)

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de

proferir sentença, a realização de diligências para

dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Em termos de processo penal o ônus de provar o crime é o MP, mas

diante da alegação da defesa, sobre a ocorrência de uma excludente,

de ilicitude, por exemplo, caberá prová-la.

Uma atenção especial deve ser dada a chamada inversão do ônus da

prova, pois a regra é sua impossibilidade em prejuízo da defesa.

Mesmo assim, será possível a inversão diante das medidas cautelares

assecuratórias da lei de Lavagem de Capitais, conforme dessume-se

do seu art. 4:.

Art. 4o O juiz, de ofício, a requerimento do

Ministério Público ou mediante representação do

delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em

24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios

suficientes de infração penal, poderá decretar

medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores

do investigado ou acusado, ou existentes em nome

de interpostas pessoas, que sejam instrumento,

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei

ou das infrações penais antecedentes.

(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

§ 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para

preservação do valor dos bens sempre que

estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração

ou depreciação, ou quando houver dificuldade para

sua manutenção.

§ 2º O juiz determinará a liberação total ou parcial

dos bens, direitos e valores quando comprovada

a licitude de sua origem (PERCEBA QUE PARA

DECRETAR A MEDIDA ASSECURATÓRIA BASTAM

INDÍCIOS E PARA REVERTER ISSO É NECESSÁRIA

PROVA, POR PARTE DA DEFESA), mantendo-se a

constrição dos bens, direitos e valores necessários

e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento

de prestações pecuniárias, multas e custas

decorrentes da infração penal. (Redação

dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

§ 3o Nenhum pedido de liberação será conhecido

sem o comparecimento pessoal do acusado ou de

interposta pessoa a que se refere o caput deste

artigo, podendo o juiz determinar a prática de atos

necessários à conservação de bens, direitos ou

valores, sem prejuízo do disposto no § 1o.

(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

§ 4º Poderão ser decretadas medidas assecuratórias

sobre bens, direitos ou valores para reparação do

dano decorrente da infração penal antecedente ou

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

da prevista nesta Lei ou para pagamento de

prestação pecuniária, multa e custas.

4.2 Inadmissibilidade das provas ilícitas

Liberdade probatória não é absoluta e mesmo que os meios de provas

válidos, expressos no CPP sejam exemplificativos, dando ensejo a

inúmeras outras possibilidades probatórias, em todo o caso haverá

limites.

Inicialmente, diz a CF:

Art. 5, LVI - são inadmissíveis, no processo, as

provas obtidas por meios ilícitos;

Esse comando da CF de 1988, foi regulamentado no CPP a partir de

2008, pois o CPP percebendo o enunciado constitucional como

amplíssimo respondeu as seguintes questões, não descritas pela CF:

O que é uma prova ilícita?

São aquelas obtidas com violação das normas constitucionais e legais

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser

desentranhadas do processo, as provas ilícitas,

assim entendidas as obtidas em violação a

normas constitucionais ou legais.

(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Tais provas inadmissíveis se dividem em:

a) provas ilícitas: violadoras de regras de direito material (descritas

em lei, como no código penal, ou Constituição Federal). Exemplo:

interceptação telefônica sem autorização judicial, ou ainda a confissão

mediante tortura.

Efeito da prova ilícita sobre o processo: exclusão da prova

(desentranhamento dos autos).

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

b) provas ilegítimas: violadoras de normas processuais, chamadas de

formais. Exemplo: laudo pericial subscrito por apenas um perito não

oficial.

Efeito da prova ilegítima sobre o processo: reconhecimento de uma

nulidade, seja absoluta ou relativa, ou ainda, reconhecimento de mera

irregularidade.

Sabido que a prova inadmissível é gênero do qual resultam as espécies,

prova ilícita e ilegítima, vejamos um caso concreto:

Imagine que a polícia, por meio de uma interceptação telefônica ilegal,

descubra o paradeiro de alguns quilos de drogas. Ao invadir o local,

realiza apreensão histórica. Diante das circunstâncias, várias pessoas

são presas, inclusive no local descobrem-se indícios de outros imóveis,

igualmente invadidos e nos quais ao invés de drogas, haviam armas

de fogo.

Enfim, a interceptação é juntada aos autos, junto com as apreensões

de drogas e apreensões das armas descobertas.

Temos inicialmente uma prova ilícita, a interceptação, claro, não

contou com autorização judicial e a CF deixa evidente serem

inadmissíveis as provas ilícitas, sendo esse o princípio da

inadmissibilidade das provas ilícitas.

Todavia, a CF não diz mais nada sobre o tema, criando uma certa

dúvida sobre se tal enunciado aplica-se, também, às provas derivadas

das ilícitas.

Como possibilidade de extensão do comando constitucional sobre as

provas derivadas das ilícitas, o CPP consagrou a inadmissibilidade das

provas derivadas das ilícitas.

Art. 157, § 1º São também inadmissíveis as provas

derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado

o nexo de causalidade entre umas e outras, ou

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

quando as derivadas puderem ser obtidas por uma

fonte independente das primeiras.

4.2.1 Quais são as teorias sobre provas ilícitas

4.2.1.1 A teoria dos frutos da árvore envenenada

Esse parágrafo anterior, demonstra que o CPP adotou a

teoria dos frutos da árvore envenenada, chamada de teoria

da ilicitude derivada, ou ainda, teoria da mácula.

Se a interceptação é ilícita (árvore), tudo o que for decorrente dela,

também será ilícito, como as apreensões de drogas e armas (frutos).

4.2.1.1.1 A teoria dos frutos da árvore envenenada não é

absoluta (as teorias da fonte independente e da descoberta

inevitável)

Tal teoria sofre limitações que vão depender da falta de nexo causal

entre a prova ilícita e as outras, supostamente derivadas (teoria da

fonte independente), ou da independência da obtenção de uma prova

frente as outras, concretamente derivadas (teoria da descoberta

inevitável).

No exemplo utilizado acima, imaginemos que a interceptação ilegal

tenha sido fundamento para que determinadas autoridades entrassem

no imóvel no qual foram descobertos vários quilos de drogas, mas que

antes mesmo de chegarem ao imóvel, outro grupo de policiais estavam

na casa, após arrombá-la, pois haviam ouvido um disparo de arma de

fogo.

No caso concreto, o advogado que representaria aqueles que foram

presos, poderia alegar que as drogas descobertas são derivadas das

ilícitas, já que frutos de uma interceptação ilegal.

Para evitar tal situação o legislador demonstra que, nessa

hipótese, os objetos da apreensão, drogas, não tem nexo

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

causal (prova absolutamente independente ou teoria da fonte

independente) com a interceptação, já que descoberto em

contexto ligado a um disparo de arma de fogo e não a

interceptação.

Outra situação que pode ocorrer é a seguinte. Imagine que no processo

vários réus apontem um mesmo endereço como local da distribuição

para venda de drogas, juntamente a isso, outros elementos concretos

subsidiariam um mandado de busca e apreensão. Concorda? Claro,

com tantos indícios, nada mais razoável que o mandado de busca e

apreensão.

Paralelo ao fato e antes da existência de um decreto judicial, na forma

de mandado de busca e apreensão, agentes de polícia promovem uma

interceptação ilegal e diante da revelação de que naquele dia chegaria

um enorme carregamento de drogas que seria somado as drogas já

existentes, invadem o local.

Será que a apreensão das drogas será lícita ou ilícita? Primeiro perceba,

que as drogas são em relação a interceptação ilegal, uma prova

derivada da ilícita, portanto, aplicar-se-ia a ela a teoria da derivação

da prova ilícita.

Contudo, vale acentuar que tal teoria convive com formas que a

mitigam, como por exemplo a teoria da fonte independente, estudada

anteriormente e a teoria da descoberta inevitável ou exceção da fonte

hipotética independente, que podemos extrair do caso concreto acima.

Sobre o exemplo acima, a prova derivada da ilícita seria descoberta

mesmo que não ocorresse a ilicitude?

Certamente, já que aquela casa, inevitavelmente, seria objeto

de mandado de busca e apreensão, tanto por ser apontada por

todos os réus, quanto por outros elementos concretos, seria

uma consequência natural do processo a expedição de um

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

mandado que traria êxito em termos de apreensão. Neste

cenário surge a teoria da fonte independente.

A teoria da descoberta inevitável está expressa no CPP:

§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas

das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de

causalidade entre umas e outras (teoria da fonte

independente), ou quando as derivadas

puderem ser obtidas por uma fonte

independente das primeiras (descoberta

inevitável).

Neste ponto poderá ocorrer certa confusão na cabeça no aluno, pois no

fundamento da teoria da descoberta inevitável, ocorre a palavra a

expressão “fonte independente” e o desavisado pode entender que isto

significa teoria da fonte independente. Então, cuidado na prova.

Até esse momento vimos que o CPP regulamentou a CF, ofertando as

seguintes minucias:

- conceito de provas ilícitas e ilegítimas

- extensão da vedação das provas ilícitas, também as derivadas das

ilícitas (teoria dos frutos da árvore envenenada)

- exceções ao alcance da teoria dos frutos da árvore envenenada

(teoria da fonte independente e da descoberta inevitável)

Resta perceber que o CPP também oferta solução quanto ao

procedimento em relação a prova ilícita e o resultado de seu

reconhecimento (conclusão).

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser

desentranhadas do processo, as provas ilícitas,

assim entendidas as obtidas em violação a normas

constitucionais ou legais. (Redação

dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas

das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de

causalidade entre umas e outras, ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte

independente das primeiras. (Incluído

pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 2º Considera-se fonte independente aquela que

por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,

próprios da investigação ou instrução criminal, seria

capaz de conduzir ao fato objeto da prova.

(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento

da prova declarada inadmissível, esta será

inutilizada por decisão judicial, facultado às

partes acompanhar o incidente.

Abaixo o gráfico sobre as teorias adotadas no Brasil, com as devidas

referências legais.

Descoberta a prova 

ilícita, a conclusão será o 

desentranhamento 

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Sobre a análise dos parágrafos do art. 157, temos ainda que verificar

o parágrafo segundo, para o qual há duas correntes que tentam

explicá-lo.

§ 2º Considera-se fonte independente aquela que

por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,

próprios da investigação ou instrução criminal, seria

capaz de conduzir ao fato objeto da prova.

(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

A primeira sustenta que de fato o parágrafo 2º conceitua a fonte

independente (com conceito diverso da teoria norte americana); A

TEORIAS SOBRE AS PROVAS 

ADOTADAS PELO BRASIL 

CONSTITUIÇÃO FEDERAL 

TEORIA DA INADMISSIBILIDADE 

DA PROVA ILÍCITA 

CÓDIGO DE PROCESSO 

PENAL (lei 11690/2008) 

TEORIAS DA INADMISSIBILIDADE 

DA PROVA ILÍCITA  

CONCEITO:  art.  157,  CPP  .”..  as 

obtidas  em  violação  a  normas 

constitucionais ou legais.” 

DA PROVA ILÍCITA POR 

DERIVAÇÃO 

EXTENSÃO  DO  CONCEITO  SOBRE 

AS  PROVAS  DERIVADAS  DAS 

ILÍCITAS:  “§  1º    São  também 

inadmissíveis  as  provas  derivadas 

das ilícitas,...” 

TEORIA DA FONTE INDEPENDENTE 

 LIMITAÇÃO À PROVA  ILÍCITA POR 

DERIVARAÇÃO:  §1º  ...  salvo quando não evidenciado o nexo de 

causalidade  entre  umas  e  outras, 

(...) 

TEORIA DA DESCOBERTA 

INEVITÁVEL 

LIMITAÇÃO  À  PROVA  ILÍCITA  POR 

DERIVAÇÃO: §1º  ...  ou quando as derivadas puderem ser obtidas por 

uma  fonte  independente  das 

primeiras. 

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

segunda corrente entende que o parágrafo 2º refere-se à exceção da

descoberta inevitável (ou fonte hipoteticamente independente,

compatível com a doutrina norte americana).

Qual devemos adotar?

Repare que textualmente o paragrafo segundo fala “fonte

independente”, mas o resultado total da interpretação do parágrafo

segundo nos leva em direção a fonte inevitável.

Majoritariamente, o parágrafo segundo se refere a descoberta

inevitável, mas se disser no seu concurso, de acordo com a letra da lei

considera-se fonte independente.... Claro que você não o poderá

discordar.

Outras teorias que são descritas pela doutrina:

4.2.1.1.2 Teoria da contaminação expurgada, conexão

atenuada, tinta diluída ou doutrina da mancha purgada

Tal teoria tenta de demonstrar que apesar de uma relação entre a

prova ilícita e a derivada da ilícita, às vezes, essa relação é tênue

demais, tão superficial que deve ser expurgada.

Um exemplo é quando a prova ilícita é de data muito remota em

relação a prova derivada.

4.2.1.1.3 Teoria da limitação da boa fé, ou apenas boa fé

Garante que a prova não deverá ser considerada ilícita quando a

atuação dos agente, apesar de objetivamente ilegal, pois confrontada

com a lei significa ofensa, é subjetivamente superável, já que as

autoridades não teriam atuado com dolo de infringir a lei.

Exemplo de Nestor Távora e Rosmas Rodrigues Alencar é aquele em

que a “polícia que cumpre mandado de busca residencial para

apreender animais silvestres mantidos irregularmente em cativeiro,

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

mas acaba apreendendo computadores que poderiam revelar um

esquema de sonegação fiscal.”

A boa fé enfrentaria a ilicitude na apreensão dos computadores

utilizando-se do recurso da teoria do erro, ou seja, os policiais, naquela

ocasião, acreditavam, sinceramente, que poderiam agir daquele modo.

4.2.1.1.4 Teoria da exclusão da prova ilícita

Tal teoria é utilizada a favor do réu, quando a prova produzida será

catalogada como “aparentemente ilícita”, já que produzida em um

contexto de excludente de ilicitude.

Imagine que a prova da inocência do réu esteja na casa de uma

determinada pessoa. Certamente, para que não se ultime uma prisão

o réu ao invadir a casa e pegar a prova está em verdadeiro estado de

necessidade, onde há conflito entre a sua liberdade e o domicílio alheio.

O bem de maior valor irá preponderar, a liberdade.

4.2.1.1.5 Serendipidade

Significa o encontro casual, fortuito, de provas, ocorrente ao longo de

investigação de fato delituoso diverso daquele as quais as provas se

referem.

A palavra serendipidade vem do termo Serendip, cunhado pelo escritor

inglês Horace Walpole, no conto de fadas Os três príncipes de Serendip,

que sempre faziam descobertas de coisas que não procuravam.

Temos dois tipos de situações aqui, a serendipidade de primeiro grau

e a serendipidade de segundo grau

a) Serendipidade de primeiro grau: quando no curso de uma

investigação descobre-se fato ou pessoa com a qual há relação de

conexão ou continência.

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Por exemplo, realizada interceptação telefônica para apuração de

tráfico de drogas descobre-se homicídio praticado para facilitar a

execução do tráfico de drogas diante da briga entre duas facções.

Há uma conexão objetiva, por óbvio e portanto, a prova será válida.

b) Serendipidade de segundo grau: é o encontro fortuito de fato não

conexos.

Por exemplo, nas mesmas condições do exemplo anterior, descobre-

se um homicídio praticado por ciúmes. Enfim, a interceptação era para

conseguir informações sobreo tráfico e descobre-se homicídio sem

qualquer conexão.

As seguintes situações são reveladoras de serendipidade de primeiro

grau:

a) a descoberta de prova relativa a outro crime, com relação de

conexão e continência com aquele que é objeto de apuração.

Sobre conexão e continência vejamos o que diz o CPP:

Art. 76. A competência será determinada pela

conexão:

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem

sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias

pessoas reunidas, ou por várias pessoas em

concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por

várias pessoas, umas contra as outras;

II - se, no mesmo caso, houverem sido umas

praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou

para conseguir impunidade ou vantagem em relação

a qualquer delas;

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

III - quando a prova de uma infração ou de qualquer

de suas circunstâncias elementares influir na prova

de outra infração.

Art. 77. A competência será determinada pela

continência quando:

I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela

mesma infração;

II - no caso de infração cometida nas condições

previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e

54 do

b) a descoberta de provas ou fontes de provas relacionadas a crime

diverso do objeto da investigação, sem relação de conexão ou

continência;

c) a descoberta de que o crime apurado foi praticado em coautoria,

com inclusão de pessoas que ainda não eram investigadas;

d) descoberta de participação de pessoa diversa no crime e que ela

detém foro por prerrogativa de função, seja em coautoria, seja em

crime diverso, com ou sem relação de conexão ou continência.

4.3 Sistemas de apreciação da prova

Diga-se que que o adotado pelo CPP é o sistema do livre convencimento

motivado, cujo o nome reflete uma liberdade da autoridade judicante

na avaliação das provas, podendo utilizar um conteúdo de prova, desde

que de modo fundamentado.

É um regramento que não deve ser interpretado de modo absoluto,

sob pena de que o juiz possa valorar, por exemplo, provas ilícitas, o

que é vedado pela CF.

Neste aspecto de limitação quanto a liberdade de valoração das provas,

temos as seguintes exceções:

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

a) vedação a utilização do IP de modo exclusivo

b) vedação à desconsideração da prova relativa ao estado de pessoas.

Por exemplo: Imagine que Amanda, casada com Jorge, resolva contrair

casamento com Frederico. Certamente, há o crime de bigamia, mas, o

juiz resolve desconsiderar a segunda certidão de casamento como

prova da bigamia ,em razão da explicação da mulher, de que o rapaz,

Frederico, era impotente.

É fácil entender que o a prova quanto ao estado de pessoas, nesse

caso, estado civil, não pode ser desconsiderada pelo juiz de direito,

pois já tem força impositiva estabelecida pela lei civil.

c) vedação à desconsideração do exame de corpo de delito nos crimes

que deixam vestígios.

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será

indispensável o exame de corpo de delito,

direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão

do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do

exame de corpo de delito quando se tratar de crime

que envolva: (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de

2018)

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

(Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou

pessoa com deficiência. (Incluído dada pela Lei nº

13.721, de 2018)

Fora o sistema do livre convencimento motivado, é utilizado

excepcionalmente, o sistema da íntima convicção, no âmbito do

Tribunal do Júri. Nele o jurado convencido de algo, não tem o dever de

fundamentar sua escolha, decisão.

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Abaixo o gráfico representativo dos tipos de sistemas probatórios.

4.4 Provas em espécie

4.4.1 Procedimentos dos exames periciais

Um dos temas mais cobrados, em termos de prova, é o exame pericial

que pode ser uma perícia qualquer, ou uma perícia diante dos crimes

que deixam vestígios, o exame de corpo de delito.

Portanto, cuidado para não fazer confusão, pois a lei evidencia o exame

de corpo de delito e outras periciais no mesmo artigo.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras

perícias serão realizados por perito oficial, portador

de diploma de curso superior

Indiferente a ser uma perícia qualquer, ou uma perícia específica,

exame de corpo de delito, o procedimento é iniciado do mesmo modo:

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

1º realização por perito oficial, portador de diploma de curso

superior

2º o perito pode ser questionado (quesitado) pelo Ministério

Público, assistente de acusação, ofendido, querelante e pelo

acusado, podendo estes, inclusive, indicarem assistentes técnicos

(atenção: o assistente técnico atuará a partir de sua

admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames

e elaboração do laudo pelos peritos oficiais,

sendo as partes intimadas dessa decisão)

Art.159, §5º Durante o curso do processo

judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

I – requerer a oitiva dos peritos para

esclarecerem a prova ou para responderem a

quesitos, desde que o mandado de intimação

e os quesitos ou questões a serem

esclarecidas sejam encaminhados com

antecedência mínima de 10 (dez) dias,

podendo apresentar as respostas em laudo

complementar; (Incluído pela Lei

nº 11.690, de 2008)

II – indicar assistentes técnicos que poderão

apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo

juiz ou ser inquiridos em audiência.

§ 6º Havendo requerimento das partes, o

material probatório que serviu de base à perícia

será disponibilizado no ambiente do órgão

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

oficial, que manterá sempre sua guarda, e na

presença de perito oficial, para exame pelos

assistentes, salvo se for impossível a sua

conservação.

Superada as questões procedimentais acima, vamos aos

questionamentos que trazem respostas que interessam na

resolução de questões de múltipla escolha

Qual o prazo para elaboração do laudo pericial?

Art. 160, parágrafo único O laudo pericial será

elaborado no prazo máximo de 10 dias,

podendo este prazo ser prorrogado, em casos

excepcionais, a requerimento dos peritos.

A lei fala em um perito oficial. Quer dizer que nunca poderá

ocorrer mais de um perito oficial?

Não, pois a artigo com disposição contrária, tudo a depender da

complexidade da perícia a ser realizada. Há perícias que exigem

vários campos do saber.

Art. 159, § 7º Tratando-se de perícia complexa

que abranja mais de uma área de conhecimento

especializado, poder-se-á designar a atuação de

mais de um perito oficial, e a parte indicar mais

de um assistente técnico.

Caso falte perito oficial, o que ocorrerá?

Art. 159, § 1º Na falta de perito oficial, o exame

será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,

portadoras de diploma de curso superior

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

preferencialmente na área específica, dentre as

que tiverem habilitação técnica relacionada com

a natureza do exame. (Redação dada

pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o

compromisso de bem e fielmente desempenhar

o encargo. (Redação dada pela

Lei nº 11.690, de 2008)

A súmula 361 do STF reforça o fato de que não pode ser realizada

a perícia, por apenas um perito não oficial.

No processo penal, é nulo o exame realizado por

um só perito, considerando-se impedido o que

tiver funcionado, anteriormente, na diligência

de apreensão.

É nulo o exame realizado por um só perito não oficial,

considerando-se impedido aquele que tiver funcionado,

anteriormente na diligência de apreensão.

A súmula 361 não se aplica aos peritos oficiais.

Excepcionalmente, na lei de Drogas, ocorre flexibilização

legal quanto ao número de peritos não oficiais e quanto ao

impedimento daquele que tenha atuado na fase préprocessual.

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a

autoridade de polícia judiciária fará,

imediatamente, comunicação ao juiz

competente, remetendo-lhe cópia do auto

lavrado, do qual será dada vista ao órgão do

Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão

em flagrante e estabelecimento da

materialidade do delito, é suficiente o laudo de

constatação da natureza e quantidade da droga,

firmado por perito oficial ou, na falta deste,

por pessoa idônea.

§ 2º O perito que subscrever o laudo a que

se refere o § 1o deste artigo não ficará

impedido de participar da elaboração do

laudo definitivo.

§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em

flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias,

certificará a regularidade formal do laudo de

constatação e determinará a destruição das

drogas apreendidas, guardando-se amostra

necessária à realização do laudo definitivo.

(Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)

§ 4º A destruição das drogas será executada

pelo delegado de polícia competente no prazo

de 15 (quinze) dias na presença do Ministério

Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela

Lei nº 12.961, de 2014)

§ 5º O local será vistoriado antes e depois de

efetivada a destruição das drogas referida no §

3o, sendo lavrado auto circunstanciado pelo

delegado de polícia, certificando-se neste a

destruição total delas. (Incluído pela Lei nº

12.961, de 2014)

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas

sem a ocorrência de prisão em flagrante será

feita por incineração, no prazo máximo de 30

(trinta) dias contado da data da apreensão,

guardando-se amostra necessária à realização

do laudo definitivo, aplicando-se, no que

couber, o procedimento dos §§ 3o a 5o do art.

50.

4.1.2 O exame de corpo de delito

Corpo de delito é o objeto sobre o qual recai o exame de corpo

de delito e por esse motivo é um exame especial, que ocorre

sobre os crimes que deixam vestígios.

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios,

será indispensável o exame de corpo de delito,

direto (quando os peritos atuam diretamente

sobre os vestígios, como no exemplo da

vítima de lesões comparecer) ou

indireto (quando os peritos não atuam

diretamente sobre os vestígios, já que, por

exemplo, pelo decurso do tempo, não mais

subsistem os vestígios, como a vítima de

lesões que comparece meses depois e

apresenta apenas fotos de lesões que não

são mais perceptíveis),

não podendo supri-lo a confissão do acusado.

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

E se não for possível a realização de exame de corpo de

delito direto ou indireto?

Ocorrerá a prova testemunhal, portanto, NÃO CONFUNDA, em

sua prova pode ocorrer de dizerem que

“na falta do exame de corpo de delito direto, teremos a

prova testemunhal que é o exame de corpo de delito

indireto”

Está errada a afirmação acima, já que a prova testemunhal

não é exame de corpo de delito indireto, outrossim, a lei

diz:

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo

de delito, por haverem desaparecido os

vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-

lhe a falta.

Obs.: O exame de corpo de delito indireto não tem qualquer rigor

formal, dispensando a elaboração de laudo.

Será que nas infrações que deixam vestígios é essencial para

o recebimento da denúncia ou queixa o exame de corpo de delito?

Não! Pois os exames ainda podem ser feitos ao tempo da ação

penal. MASSSSSS, CUIDADO, QUANDO O EXAME FOR, POR

LEI, CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE, A SUA PRESENÇA

NA DENÚNCIA OU QUEIXA SERÁ OBRIGATÓRIA.

OCORRE ISSO, POR EXEMPLO, NA LEI DE DROGAS:

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a

autoridade de polícia judiciária fará,

imediatamente, comunicação ao juiz

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

competente, remetendo-lhe cópia do auto

lavrado, do qual será dada vista ao órgão do

Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão

em flagrante e estabelecimento da

materialidade do delito, é suficiente o laudo

de constatação da natureza e quantidade

da droga, firmado por perito oficial ou, na falta

deste, por pessoa idônea.

Art. CARÍSSIMO, NADA DE ESQUECER DA INOVAÇÕES

LEGISLATIVAS. ISSO VAI CAIR NA SUA PROVA.

158. Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à

realização do exame de corpo de delito quando

se tratar de crime que envolva: (Incluído dada

pela Lei nº 13.721, de 2018)

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

(Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

II - violência contra criança, adolescente, idoso

ou pessoa com deficiência. (Incluído dada pela

Lei nº 13.721, de 2018)

4.1.3 Perícia sobre lesões corporais

Nesse caso temos que nos atentar, inicialmente, para o fato que

existe o exame para se permitir o reconhecimento de uma lesão

leve, grave ou gravíssima.

Realizado o primeiro exame e tendo sido : - incompleto

- ou insuficiente

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Teremos um exame complementar.

Exemplo: Imaginemos que em uma briga alguém tenha sido

perfurado. O agressor utilizara uma faca, o que resultou em

debilidade permanente de um membro.

Nesse caso, sabemos se tratar de uma lesão corporal grave, nos

termos do art. 129 do CP.

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a

saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais,

por mais de trinta dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro,

sentido ou função;

IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de um a cinco anos

Agora imagine que em razão dessa perfuração mediante uso de

faca, ocorra complicações no estão de saúde da vítima, a

debilidade tornou-se perda do membro.

Nesse caso, a mesma situação viabilizou a piora, levando a lesão

corporal gravíssima.

§ 2° Se resulta:

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

I - Incapacidade permanente para o trabalho;

II - enfermidade incuravel;

III perda ou inutilização do membro, sentido ou

função;

IV - deformidade permanente;

V - aborto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Nesse caso, o exame inicial deve ser complementado para

aferição dessa piora.

Das perícias, em caso de lesão corporal, há expressão

legal, que diz respeito a OBRIGAÇÃO DE REALIZAÇÃO DE EXAME

COMPLEMENTAR, NO CASO DO art. 129, §1º, inciso I, do CP (I -

Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta

dias). Logo, há uma perícia inicial e uma após os trinta dias para

atestar a lesão corporal grave.

Obs.: a perícia complementar anterior aos 30 dias é considerada

ineficaz.

4.1.4 Outras perícias

4.1.4.1 Exame necroscópico

Nada de muita dificuldade por aqui, se for cair exigirá a mera letra

da lei, em concursos ligados a carreiras policiais, agente.

Art. 162. (QUANDO SERÁ FEITA A

AUTÓPSIA?)A autópsia será feita pelo menos

seis horas depois do óbito,

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

(PODERÁ SER REALIZADA EM PERÍODO

MENOR?) salvo se os peritos, pela evidência

dos sinais de morte, julgarem que possa ser

feita antes daquele prazo, o que declararão

no auto.

(PODERÁ DEIXAR DE SER REALIZADA)

Parágrafo único. Nos casos de morte

violenta, bastará o simples exame externo do

cadáver, quando não houver infração penal

que apurar, ou quando as lesões externas

permitirem precisar a causa da morte e não

houver necessidade de exame interno para a

verificação de alguma circunstância

relevante.

4.1.4.2 Exumação

Primeiramente vale diferenciar exumação de inumação, o

primeiro é desenterrar, o segundo, enterrar

Art. 163. Em caso de exumação para exame

cadavérico, a autoridade providenciará para

que, em dia e hora previamente marcados, se

realize a diligência, da qual se lavrará auto

circunstanciado.

Parágrafo único. O administrador de cemitério

público ou particular indicará o lugar da

sepultura, sob pena de desobediência. No caso

de recusa ou de falta de quem indique a

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em

lugar não destinado a inumações, a autoridade

procederá às pesquisas necessárias, o que tudo

constará do auto.

Art. 164. Os cadáveres serão sempre

fotografados na posição em que forem

encontrados, bem como, na medida do possível,

todas as lesões externas e vestígios deixados no

local do crime. (Redação dada

pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

Art. 165. Para representar as lesões

encontradas no cadáver, os peritos, quando

possível, juntarão ao laudo do exame provas

fotográficas, esquemas ou desenhos,

devidamente rubricados.

Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do

cadáver exumado, proceder-se-á ao

reconhecimento pelo Instituto de Identificação

e Estatística ou repartição congênere ou pela

inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de

reconhecimento e de identidade, no qual se

descreverá o cadáver, com todos os sinais e

indicações.

Parágrafo único. Em qualquer caso, serão

arrecadados e autenticados todos os objetos

encontrados, que possam ser úteis para a

identificação do cadáver.

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

4.1.4.3 Perícia no caso de incêndio

Art. 173. No caso de incêndio, os peritos

verificarão a causa e o lugar em que houver

começado, o perigo que dele tiver resultado

para a vida ou para o patrimônio alheio, a

extensão do dano e o seu valor e as demais

circunstâncias que interessarem à elucidação do

fato.

4.1.4.4 Exame grafotécnico

É possível até a condução coercitiva para tal finalidade, devendo,

portanto, o intimado, comparecer.

O fato de existir condução coercitiva, não significa que a pessoa

da qual se requer uma escrita para comparação tenha que

colaborar nesse sentido, pois, ninguém pode ser obrigado a

produzir prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere).

Conclusão: Não haverá imputação por crime de

desobediência, daquele que não escrever o que o juiz ditar para

posterior comparação, como também não haverá presunção de

culpa.

E se o réu fingir ser canhoto, ou disfarçar a letra no momento

do ditado do juiz, só para dificultar futura perícia? Há crime?

Não! Mais uma vez digo que “ninguém é obrigado a produzir

prova contra si mesmo.”

O réu, igualmente, deve ser intimado para acompanhar o feito,

mesmo que não seja imputado a ele a escrita no documento.

4.1.5 Interrogatório do acusado

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

De acordo com o CPP é meio de prova

Art. 185. O acusado que comparecer perante a

autoridade judiciária, no curso do processo

penal, será qualificado e interrogado na

presença de seu defensor, constituído ou

nomeado.

§ 1º O interrogatório do réu preso será

realizado, em sala própria, no estabelecimento

em que estiver recolhido, desde que estejam

garantidas a segurança do juiz, do membro do

Ministério Público e dos auxiliares bem como a

presença do defensor e a publicidade do ato.

§ 10. Do interrogatório deverá constar a

informação sobre a existência de filhos,

respectivas idades e se possuem alguma

deficiência e o nome e o contato de eventual

responsável pelos cuidados dos filhos, indicado

pela pessoa presa

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e

cientificado do inteiro teor da acusação, o

acusado será informado pelo juiz, antes de

iniciar o interrogatório, do seu direito de

permanecer calado e de não responder

perguntas que lhe forem formuladas.

(Redação dada pela Lei nº 10.792, de

1º.12.2003)

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Parágrafo único. O silêncio, que não importará

em confissão, não poderá ser interpretado em

prejuízo da defesa. (Incluído pela

Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

QUAIS SÃO AS PARTES DO INTERROGATÓRIO?

Art. 187. O interrogatório será constituído de

duas partes:

-sobre a pessoa do acusado: § 1o Na primeira

parte o interrogando será perguntado sobre a

residência, meios de vida ou profissão,

oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua

atividade, vida pregressa, notadamente se foi

preso ou processado alguma vez e, em caso

afirmativo, qual o juízo do processo, se houve

suspensão condicional ou condenação, qual a

pena imposta, se a cumpriu e outros dados

familiares e sociais

-sobre os fatos: § 2o Na segunda parte será

perguntado sobre:

I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;

(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

II - não sendo verdadeira a acusação, se tem

algum motivo particular a que atribuí-la, se

conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser

imputada a prática do crime, e quais sejam, e

se com elas esteve antes da prática da infração

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

ou depois dela; (Incluído pela Lei

nº 10.792, de 1º.12.2003)

III - onde estava ao tempo em que foi cometida

a infração e se teve notícia desta;

(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

IV - as provas já apuradas; (Incluído

pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

V - se conhece as vítimas e testemunhas já

inquiridas ou por inquirir, e desde quando, e se

tem o que alegar contra elas;

(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

VI - se conhece o instrumento com que foi

praticada a infração, ou qualquer objeto que

com esta se relacione e tenha sido apreendido;

(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

VII - todos os demais fatos e pormenores que

conduzam à elucidação dos antecedentes e

circunstâncias da infração; (Incluído

pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.

COMO SERÁ REALIZADO O INTERROGATÓRIO DO

SURDO MUDO?

Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou

do surdo-mudo será feito pela forma seguinte:

(Redação dada pela Lei nº 10.792, de

1º.12.2003)

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

I - ao surdo serão apresentadas por escrito as

perguntas, que ele responderá oralmente;

(Redação dada pela Lei nº 10.792, de

1º.12.2003)

II - ao mudo as perguntas serão feitas

oralmente, respondendo-as por escrito;

(Redação dada pela Lei nº 10.792, de

1º.12.2003)

III - ao surdo-mudo as perguntas serão

formuladas por escrito e do mesmo modo dará

as respostas. (Redação dada

pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

COMO SERÁ REALIZADO O INTERROGATÓRIO DE

QUEM NÃO SABE LER E ESCREVER?

Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba

ler ou escrever, intervirá no ato, como

intérprete e sob compromisso, pessoa

habilitada a entendê-lo.

Art. 195. Se o interrogado não souber escrever,

não puder ou não quiser assinar, tal fato será

consignado no termo.

COMO SERÁ REALIZADO O INTERROGATÓRIO DE

QUEM NÃO FALA A LÍNGUA NACIONAL?

Art. 193. Quando o interrogando não falar a

língua nacional, o interrogatório será feito por

meio de intérprete.

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a

novo interrogatório de ofício ou a pedido

fundamentado de qualquer das partes.

PODERÁ OCORRER O INTERROGATÓRIO POR VÍDEO

CONFERÊNCIA?

Art. 185 § 2º Excepcionalmente, o juiz, por

decisão fundamentada, de ofício ou a

requerimento das partes, poderá realizar o

interrogatório do réu preso por sistema de

videoconferência ou outro recurso tecnológico

de transmissão de sons e imagens em tempo

real, desde que a medida seja necessária para

atender a uma das seguintes finalidades:

(Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009)

I - prevenir risco à segurança pública, quando

exista fundada suspeita de que o preso integre

organização criminosa ou de que, por outra

razão, possa fugir durante o deslocamento;

(Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

II - viabilizar a participação do réu no referido

ato processual, quando haja relevante

dificuldade para seu comparecimento em juízo,

por enfermidade ou outra circunstância pessoal;

(Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

III - impedir a influência do réu no ânimo de

testemunha ou da vítima, desde que não seja

possível colher o depoimento destas por

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

videoconferência, nos termos do art. 217 deste

Código; (Incluído pela Lei nº 11.900,

de 2009)

IV - responder à gravíssima questão de ordem

pública. (Incluído pela Lei nº 11.900,

de 2009)

§ 3º Da decisão que determinar a realização de

interrogatório por videoconferência, as partes

serão intimadas com 10 (dez) dias de

antecedência. (Incluído pela Lei nº 11.900,

de 2009)

§4º Antes do interrogatório por

videoconferência, o preso poderá acompanhar,

pelo mesmo sistema tecnológico, a realização

de todos os atos da audiência única de instrução

e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e

531 deste Código. (Incluído pela

Lei nº 11.900, de 2009)

§ 5º Em qualquer modalidade de interrogatório,

o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista

prévia e reservada com o seu defensor; se

realizado por videoconferência, fica também

garantido o acesso a canais telefônicos

reservados para comunicação entre o defensor

que esteja no presídio e o advogado presente

na sala de audiência do Fórum, e entre este e o

preso. (Incluído pela Lei nº 11.900,

de 2009)

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

§ 6º A sala reservada no estabelecimento

prisional para a realização de atos processuais

por sistema de videoconferência será fiscalizada

pelos corregedores e pelo juiz de cada causa,

como também pelo Ministério Público e pela

Ordem dos Advogados do Brasil.

(Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

§ 7º Será requisitada a apresentação do réu

preso em juízo nas hipóteses em que o

interrogatório não se realizar na forma prevista

nos §§ 1º (O interrogatório do réu preso será

realizado, em sala própria, no estabelecimento

em que estiver recolhido, desde que estejam

garantidas a segurança do juiz, do membro do

Ministério Público e dos auxiliares bem como a

presença do defensor e a publicidade do ato.

) e 2º deste artigo. (Incluído pela

Lei nº 11.900, de 2009)

§ 8º Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o

deste artigo, no que couber, à realização de

outros atos processuais que dependam da

participação de pessoa que esteja presa, como

acareação, reconhecimento de pessoas e coisas,

e inquirição de testemunha ou tomada de

declarações do ofendido. (Incluído

pela Lei nº 11.900, de 2009)

§ 9º Na hipótese do § 8o deste artigo, fica

garantido o acompanhamento do ato processual

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

pelo acusado e seu defensor.

(Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)

COMO SÃO FEITAS AS PERGUNTAS, NO CASO DO

INTERROGATÓRIO?

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas

partes diretamente à testemunha, não

admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a

resposta, não tiverem relação com a causa ou

importarem na repetição de outra já

respondida.

4.1.5 Reconhecimento de pessoas e coisas

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-

se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á

pela seguinte forma:

I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento

será convidada a descrever a pessoa que deva

ser reconhecida;

Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender,

será colocada, se possível, ao lado de outras

que com ela tiverem qualquer semelhança,

convidando-se quem tiver de fazer o

reconhecimento a apontá-la;

III - se houver razão para recear que a pessoa

chamada para o reconhecimento, por efeito de

intimidação ou outra influência, não diga a

verdade em face da pessoa que deve ser

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

reconhecida, a autoridade providenciará para

que esta não veja aquela;

IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto

pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela

pessoa chamada para proceder ao

reconhecimento e por duas testemunhas

presenciais.

Parágrafo único. O disposto no no III deste

artigo não terá aplicação na fase da instrução

criminal ou em plenário de julgamento.

Art. 227. No reconhecimento de objeto,

proceder-se-á com as cautelas estabelecidas no

artigo anterior, no que for aplicável.

Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas

a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de

objeto, cada uma fará a prova em separado,

evitando-se qualquer comunicação entre elas.

Procedimento:

Em caso de receio de intimidação ou influência, a autoridade providenciará que a pessoa que fará o reconhecimento não seja vista pela pessoa a ser reconhecida (não se aplica a instrução, nem ao plenário do Júri)

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

4.1.6 Acareação

Pode ocorrer tanto na fase do inquérito quanto na fase do

processo.

Art. 229. A acareação será admitida entre

acusados,

entre acusado e testemunha,

entre testemunhas,

entre acusado ou testemunha e a pessoa

ofendida,

e entre as pessoas ofendidas, sempre que

divergirem, em suas declarações, sobre fatos

ou circunstâncias relevantes.

Parágrafo único. Os acareados serão

reperguntados, para que expliquem os pontos

de divergências, reduzindo-se a termo o ato de

acareação.

Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas

declarações divirjam das de outra, que esteja

presente, a esta se darão a conhecer os pontos

da divergência, consignando-se no auto o que

explicar ou observar. Se subsistir a

discordância, expedir-se-á precatória à

autoridade do lugar onde resida a testemunha

ausente, transcrevendo-se as declarações desta

e as da testemunha presente, nos pontos em

que divergirem, bem como o texto do referido

auto, a fim de que se complete a diligência,

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma

forma estabelecida para a testemunha

presente. Esta diligência só se realizará quando

não importe demora prejudicial ao processo e o

juiz a entenda conveniente.

4.1.7 Prova documental

Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as

partes poderão apresentar documentos em

qualquer fase do processo.

Art. 232. Consideram-se documentos

quaisquer escritos, instrumentos ou papéis,

públicos ou particulares.

Parágrafo único. À fotografia do documento,

devidamente autenticada, se dará o mesmo

valor do original.

Art. 233. As cartas particulares, interceptadas

ou obtidas por meios criminosos, não serão

admitidas em juízo.

Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas

em juízo pelo respectivo destinatário, para a

defesa de seu direito, ainda que não haja

consentimento do signatário.

Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de

documento relativo a ponto relevante da

acusação ou da defesa, providenciará,

independentemente de requerimento de

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

qualquer das partes, para sua juntada aos

autos, se possível.

Art. 235. A letra e firma dos documentos

particulares serão submetidas a exame pericial,

quando contestada a sua autenticidade.

Art. 236. Os documentos em língua

estrangeira, sem prejuízo de sua juntada

imediata, serão, se necessário, traduzidos por

tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea

nomeada pela autoridade.

Art. 237. As públicas-formas só terão valor

quando conferidas com o original, em presença

da autoridade.

Art. 238. Os documentos originais, juntos a

processo findo, quando não exista motivo

relevante que justifique a sua conservação nos

autos, poderão, mediante requerimento, e

ouvido o Ministério Público, ser entregues à

parte que os produziu, ficando traslado nos

autos.

Existe restrição para apresentação de documentos na

segunda fase do Tribunal do Júri, nos termos do dispositivo

abaixo:

Art. 479. Durante o julgamento não será

permitida a leitura de documento ou a exibição

de objeto que não tiver sido juntado aos autos

com a antecedência mínima de 3 (três) dias

CADERNO SIFFERMANN DE PROCESSO PENAL 

 

úteis, dando-se ciência à outra parte.

(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. Compreende-se na proibição

deste artigo a leitura de jornais ou qualquer

outro escrito, bem como a exibição de vídeos,

gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui

ou qualquer outro meio assemelhado, cujo

conteúdo versar sobre a matéria de fato

submetida à apreciação e julgamento dos

jurados.

4.1.8 Indícios e presunções

Art. 239. Considera-se indício a circunstância

conhecida e provada, que, tendo relação com o

fato, autorize, por indução, concluir-se a

existência de outra ou outras circunstâncias.

ATENÇÃO: ESSE MATERIAL CONTARÁ COM COMPLEMENTAÇÃO....