aula 30 - concordância verbal ii

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Curso on-line PARA BEM ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESA Prof. Carlos Nougué © 2014 I Todos os direitos reservados. 1 TRIGÉSIMA AULA DO CURSO “PARA BEM ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESACONCORDÂNCIA VERBAL (II) «10. SUJEITOS UNIDOS POR COM» Em verdade, trata-se de núcleos do mesmo sujeito composto unidos por com com valor aditivo, como já vimos em alguma aula. Mas demos ainda a palavra a Rocha Lima. «O mais frequente é usar-se o verbo no plural, visto que ambos os sujeitos [sic; núcleos do sujeito composto] “aparecem em pé de igualdade tal, que se podem considerar como enlaçados por e”.1 Exemplos: “D. Maria da Glória firmou a doação, e a milanesa com seu filho partiram para a Itália.” (CAMILO CASTELO BRANCO) “Eu com o abade entramos corajosamente num coelho guisado.” (CAMILO CASTELO BRANCO) “E atravessaram a serra, o noivo com a noiva dele cada qual no seu cavalo.” (MÁRIO DE ANDRADE) Emprega-se (mas raramente) o verbo no singular quando o segundo sujeito é posto em plano tão inferior, que se degrada à simples condição de um complemento adverbial de companhia. Por este meio — mais pertencente à linguagem afetiva — dá-se relevo especial ao primeiro sujeito, como fez Camões no seguinte lanço, referindo-se a Vênus: “Convoca as alvas filhas de Nereu, Com toda a mais cerúlea companhia: Que, porque no salgado mar nasceu, Das águas o poder lhe obedecia: 1 Mário Barreto, Novíssimos estudos da língua portuguesa, op. cit., p. 93; e Novos estudos da língua portuguesa, op. cit., p. 201-4.

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  • Curso on-line PARA BEM ESCREVER NA LNGUA PORTUGUESA Prof. Carlos Nougu

    2014 I Todos os direitos reservados.

    1

    TRIGSIMA AULA DO CURSO

    PARA BEM ESCREVER NA LNGUA PORTUGUESA

    C ONC OR DNC IA VERBAL (II)

    10. SUJEITOS UNIDOS POR COM

    Em verdade, trata-se de ncleos do mesmo sujeito composto unidos por

    com com valor aditivo, como j vimos em alguma aula. Mas demos ainda a

    palavra a Rocha Lima.

    O mais frequente usar-se o verbo no plural, visto que ambos os sujeitos

    [sic; ncleos do sujeito composto] aparecem em p de igualdade tal, que se

    podem considerar como enlaados por e.1

    Exemplos:

    D. Maria da Glria firmou a doao, e a milanesa com seu filho partiram

    para a Itlia. (CAMILO CASTELO BRANCO)

    Eu com o abade entramos corajosamente num coelho guisado. (CAMILO

    CASTELO BRANCO)

    E atravessaram a serra,

    o noivo com a noiva dele

    cada qual no seu cavalo. (MRIO DE ANDRADE)

    Emprega-se (mas raramente) o verbo no singular quando o segundo sujeito

    posto em plano to inferior, que se degrada simples condio de um

    complemento adverbial de companhia. Por este meio mais pertencente

    linguagem afetiva d-se relevo especial ao primeiro sujeito, como fez Cames

    no seguinte lano, referindo-se a Vnus:

    Convoca as alvas filhas de Nereu,

    Com toda a mais cerlea companhia:

    Que, porque no salgado mar nasceu,

    Das guas o poder lhe obedecia:

    1 Mrio Barreto, Novssimos estudos da lngua portuguesa, op. cit., p. 93; e Novos estudos da

    lngua portuguesa, op. cit., p. 201-4.

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    E propondo-lhe a causa a que desceu

    Com todas juntamente se partia,

    Pera estorvar que a armada no chegasse

    Aonde pera sempre se acabasse. (Os Lusadas, II, 19)

    Ao pressentir a cilada traioeira que os mouros armavam gente portuguesa,

    Vnus figura central de todo o trecho, e cujo auxlio faz Cames questo de

    realar convoca as alvas filhas de Nereu para, juntamente com elas, impedir

    o desastre iminente.

    Pondo o verbo no singular, ao dizer que Vnus

    Com todas juntamente se PARTIA,

    consegue o poeta alcanar o efeito que buscava, isto , encarecer principalmente

    a ao da formosa deusa, deixando na penumbra as que com ela se foram

    tambm em auxlio aos bravos nautas do Gama. Do mesmo tipo esta

    construo de Cyro dos Anjos:

    A viva de Aguinaldo, com os dois filhos, est conseguindo arrombar a

    caixa-forte (...)11.

    No pode deixar de impressionar o desleixo terico de nossa tradio

    gramatical. O que se deve dizer que, se o verbo vai para o plural, porque se

    trata, como dito mais acima, de sujeito composto cujos ncleos se ligam pela

    preposio com com valor aditivo. Se o verbo vai para o singular, porque o que

    se inicia por com no parte do sujeito, mas adjunto adverbial de companhia

    nada degradado.

    Este adjunto vem o mais das vezes separado do sujeito por vrgula, como

    no exemplo de Cyro dos Anjos. Mas pode vir meramente anteposto ao sujeito e

    ao verbo, como no belo exemplo de Cames, ou posposto ao verbo e tampouco

    separado dele por vrgula: Partia com todas.2

    De notar, ainda, o erro de pontuao no exemplo de Mrio de Andrade:

    no se separam por vrgula sujeito e verbo.

    11. TANTO... COMO, ASSIM... COMO, NO S... MAS TAMBM, ETC.

    2 O uso de partir como pronominal da linguagem renascentista; mas ainda pode encontrar-se

    na literatura da fase atual de nossa lngua, e mais correntemente na lngua espanhola.

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    Se o sujeito, prossegue Lima, construdo com a presena de uma

    frmula correlativa, deve preferir-se o verbo no plural.

    Assim Saul como Davi, debaixo do seu saial, eram homens de to grandes

    espritos, como logo mostraram suas obras. (ANTNIO VIEIRA)

    No s a nao, mas tambm o prncipe, estariam pobres. (ALEXANDRE

    HERCULANO)

    Tanto a mulata como a criana o observavam dissimuladas de longe sem se

    aproximar. (CLARICE LISPECTOR)

    raro aparecer o verbo no singular:

    (...) tanto uma, como a outra, suplicava-lhe que esperasse at passar a

    maior correnteza. (JOS DE ALENCAR)

    Estas frmulas correlativas, faltou-lhe dizer a Rocha Lima, so de carter

    ADITIVO, razo por que o verbo tem de vir, necessariamente, no PLURAL. Quanto

    aos exemplos postos, devemos considerar:

    que o de Vieira e o de Lispector tm sujeito composto e verbo corretamente

    posto no plural:

    Assim [= Tanto] SAUL como DAVI eram...;

    Tanto A MULATA como A CRIANA o observavam...;

    que o de Alencar tem sujeito simples e verbo corretamente posto no

    singular, alm de uma orao elptica:

    ... tanto UMA lhe suplicava como A OUTRA [lhe suplicava]...;

    e que o de Herculano est pura e simplesmente errado, porque no tem

    que fazer a a vrgula, que mal lhe separa os nccleos do sujeito composto:

    No s A NAO mas tambm O PRNCIPE estariam pobres... seria a

    maneira correta, conquanto sempre se pudesse pr, ao modo de Vieira e de

    Lispector:

    No s A NAO, mas tambm o prncipe, estaria pobre...

    Que Rocha Lima e tantos outros no o assinalem resulta do beletrismo (ou

    seja, no sentido que damos a este termo, o considerar correta qualquer

    construo pelo simples fato de ter sado da pena de algum literato), do

    beletrismo que acomete nossa tradio gramatical. o que vimos dizendo desde

    o princpio deste curso.

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    12. SUJEITOS UNIDOS POR E

    Quando concorrem vrios sujeitos [sic; ncleos de sujeito composto] de 3a

    pessoa, coordenados assindeticamente ou unidos pela conjuno e, a regra

    normal (j estudada) pr-se o verbo na 3a pessoa do plural se os sujeitos esto

    antepostos.

    De fato, isto j se estudou. Note-se porm o acrscimo: vrios ncleos de

    3a pessoa coordenados assindeticamente. D-se um par de exemplos:

    CARMEM, MARTA, RODRIGO partiram cedo;

    O LIVRO SOBRE AS ARTES, O OPSCULO SOBRE OS HBITOS constituem o melhor

    de sua obra.

    OBSERVAO. Note-se que o ltimo ncleo no se separa do verbo por

    vrgula, tal como se se introduzisse por e:

    CARMEM, MARTA E RODRIGO partiram cedo;

    O LIVRO SOBRE AS ARTES E O OPSCULO SOBRE OS HBITOS constituem o

    melhor de sua obra.

    No entanto, continua Lima, quebra-se este princpio, ficando o verbo na

    3a pessoa do singular, nos casos seguintes:

    a) Quando os sujeitos [sic; ncleos de sujeito composto] se dispem numa

    escala gradativa, de tal forma que a ateno do leitor se concentre no ltimo.

    Exemplo:

    Que alegria, pois, que gozo, que admirao ser a de um Bem-aventurado,

    quando se vir semelhante a Deus...! (MANUEL BERNARDES)

    J vimos isto de gradao, mas mostremos mais detidamente, agora, a

    falcia que pode implicar. Com efeito, no se v gradao em alegria gozo

    admirao. Por que admirao seria gradativamente superior a gozo o que

    no se diz. Pois bem, provavelmente o que levou Bernardes a pr o verbo no

    singular no foi nenhuma ideia de gradao, mas a de que os trs substantivos

    (alegria, gozo, admirao) constituem neste contexto algo uno e, como

    vimos, neste caso o verbo fica no singular.

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    b) Quando os sujeitos esto de tal maneira unidos, que formam como um

    todo indivisvel, expressando uma ideia nica.

    Em tal sorriso o passado e o futuro estava impresso. (ALEXANDRE

    HERCULANO)

    Neste exemplo, o passado e o futuro so manifestaes de uma ideia nica:

    o tempo distante.3

    Perfeito. Agregue-se apenas que a escolha de pr o verbo no singular em

    casos como estes ou se dar conscienciosa e escrupulosamente, ou constituir

    puro erro.

    So menos encontradios, diz ainda Lima, os exemplos nos quais o

    segundo sujeito [sic; ncleo de sujeito composto] est precedido de artigo. Com

    efeito, a funo do artigo definido a de particularizar o objeto; e, para que dois

    ou mais elementos possam formar um todo, necessrio que no se acentuem

    as particularidades que os distinguem.4

    Exemplos, com o segundo sujeito [sic; ncleo de sujeito composto] sem

    artigo:

    A coragem e afoiteza com que eu lhe respondi perturbou-o de tal modo, que

    no teve mais que dissesse. (CAMILO CASTELO BRANCO)

    (...) e este cuidado e temor nos ajudar a obrar com exao e pontualidade.

    (MANUEL BERNARDES)

    Perfeito, em particular pela observao de Rodrigues Lapa (de quem, por

    outro lado, discrepamos em muitos pontos). Agregue-se apenas que os

    exemplos com o segundo ncleo antecedido de artigo tangenciam o erro.

    13. SUJEITOS ORACIONAIS

    Fica no singular, afirma Lima, o verbo que se refere a vrios sujeitos [sic;

    ncleos de sujeito composto] expressos por oraes, quer iniciadas por

    conectivo, quer reduzidas. Exemplos:

    3 J. Matoso Cmara Jr., Elementos da lngua ptria, op. cit., p. 185, nota.

    4 M. Rodrigues Lapa, Estilstica da lngua portuguesa, 6. ed., Rio de Janeiro: Acadmica,

    1970, p. 171.

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    [Que Scrates nada escreveu] e [que Plato exps as doutrinas de Scrates]

    sabido. (JOO RIBEIRO)

    [Humilhar a aristocracia,] [refrear o clero,] [cercear-lhe os privilgios e

    imunidades] e [for-los a igualar-se com o povo]... equivalia a exalar a plebe.

    (LATINO COELHO)

    [E dizer] [e fazer] era um relmpago. (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

    No caso de os sujeitos exprimirem contraste de ideias, usa-se o plural:

    [Usar de razo] e [amar] so duas coisas que no se ajuntam. (ANTNIO

    VIEIRA)

    Quanto se trata de ORAES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS SUBJETIVAS

    DESENVOLVIDAS (porque disto que se trata) LIGADAS POR CONECTIVO, nada que

    acrescentar: pura e simplesmente o verbo fica no SINGULAR, como se v pelo

    exemplo.

    Quando porm se trata de ORAES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS

    SUBJETIVAS REDUZIDAS DE INFINITIVO (porque disto que se trata) LIGADAS POR

    CONECTIVO, ento h que explic-lo.

    . Vai o verbo para o singular quando as duas oraes constituem, na

    inteno do escritor, algo uno.

    . Vai o verbo para o plural quando as duas oraes no constituem, na

    inteno do escritor, algo uno. Neste caso, lcito e elegante anteceder de

    artigo cada uma das oraes reduzidas:

    E o DIZER e o FAZER eram um relmpago.

    . No exemplo de Antnio Vieira (USAR DE RAZO e AMAR so duas coisas

    que no se ajuntam), seu autor no escolheu pr o verbo no plural, seno que

    foi obrigado a tal pelo prprio predicativo (duas coisas...). E isto decorre da

    regra especial da concordncia do verbo ser enquanto verbo de cpula, regra

    que trataremos mais adiante. Mas Antnio Viera poderia haver elegido, isto

    sim, fazer os dois ncleos oracionais anteceder-se de artigo:

    O USAR DE RAZO e o AMAR so duas coisas que no se ajuntam.5

    5 Em espanhol, possvel fazer anteceder-se de artigo as mesmas oraes desenvolvidas

    subjetivas: El que Scrates no haya escrito nada...

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    14. SUJEITOS UNIDOS POR NEM

    a) caso difcil de disciplinar, comea Lima; mas pode-se ter por norma

    empregar o verbo no plural quando os sujeitos so da 3a pessoa. Exemplos:

    Nem a natureza, nem o demnio deixaram a sua antiga posse. (MANUEL

    BERNARDES)

    Nem a resignao, nem o consolo so possveis para ti neste momento.

    (ALEXANDRE HERCULANO)

    Em todo caso, nem o coadjutor nem o sacristo lhe perguntaram nada.

    (MACHADO DE ASSIS)

    Perfeito quanto teoria, quanto qual o problema comea no que vem a

    seguir. Mas no se pode deixar de assinalar o erro ainda de vrgula tanto no

    exemplo de Bernardes como no de Herculano:6 expurge-se o indevido sinal de

    pontuao, seguindo o exemplo de Machado de Assis.

    b) Querendo-se, todavia, pr em relevo so palavras de Said Ali que

    a mesma ao se repete para cada um dos sujeitos, sucessivamente ou em

    pocas diferentes, d-se ao verbo a forma do singular, desde que no singular

    tambm estejam os diversos sujeitos.7 Exemplos:

    Nem a lisonja, nem a razo, nem o exemplo, nem a esperana bastava a lhe

    moderar as nsias... (ANTNIO VIEIRA)

    Nem a vista, nem o ouvido, nem o gosto pode discernir entre cor, som e

    sabor. (MANUEL BERNARDES)

    A explicao de Said Ali incompleta e algo confusa. Antes de tudo, h

    que aplicar aqui o dito na aula passada com respeito a outra situao: a

    concordncia faz-se no singular porque a sequncia iniciada, no exemplo de

    Vieira, por nem a lisonja supe uma sequncia de elipses: Nem a lisonja

    [bastava a lhe moderar as nsias], nem a razo [bastava a isso], nem o

    6 Mas o de Bernardes provavelmente no constitui efetivo erro, e sim maneira de pontuar do

    antigo padro culto a que o escritor pertencia. Sirva isto de ressalva para todos os casos

    semelhantes que se mostrarem doravante.

    7 Said Ali, Gramtica secundria da lngua portuguesa, op. cit., p. 153.

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    exemplo [bastava a isso], nem a esperana bastava a isso.8 Diga-se o mesmo

    do exemplo de Bernardes. isso, insista-se, o que parece justificar tal

    concordncia. Se no se supusesse tal sequncia de elipses, a concordncia no

    singular apareceria como puro e simples erro. Por isso que, no suposta tal

    sequncia de elipses, a sequncia de ncleos introduzidos por nem assume

    ntido carter aditivo, o que j sabemos faz o verbo ir para o plural. Mas aduz

    Rocha Lima:

    A verdade que h certo descritrio no uso do singular ou do plural. No

    desejo de traarem regras, tm os gramticos fixado (como Alfredo Gomes, por

    exemplo) que os sujeitos reunidos por nem querem o verbo no singular ou no

    plural, segundo exprimem especialmente concomitncia ou alternativa.

    Mas a exemplificao que aduzem no esclarece devidamente o assunto, por

    se prestarem muitas frases a mais de uma interpretao. Posto que um tanto

    sutil, parece-nos corresponder melhor realidade dos fatos a observao de

    Said Ali, por ns esposada.

    Insistimos, de nossa parte, em que ou se supe aquela sequncia de

    elipses, ou o verbo haver de pr-se no plural necessariamente.

    c) Se algum dos sujeitos pronome pessoal, a concordncia se faz de

    acordo com os princpios da primazia, salvo se o verbo anteceder os sujeitos.

    Exemplos:

    Nem meu primo, nem eu frequentamos tal sociedade.

    Nem ns, nem eles nos esqueceremos disso.

    Nem vs, nem ele perdereis em tal negcio.

    Com o sujeito depois do verbo:

    No seriam eles, nem eu quem pusesse esse remate. (ALEXANDRE

    HERCULANO)

    8 Naturalmente, o rearranjo da frase, com a antecipao da orao final para o primeiro

    membro, resultado da explicitao das mesmas oraes elpticas. Implcitas tais oraes, a

    frase tem de arranjar-se como no exemplo de Vieira e no de Bernardes.

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    Uma vez mais, impressiona o desleixo terico. Pusesse est no singular

    porque tem por sujeito quem, ponto que j tratamos em alguma aula do curso.

    Logo, meramente inexiste a ltima regra (Com o sujeito depois do verbo)

    ditada por Lima e por multido de gramticos.

    Em verdade, no h problema no exemplo de Herculano, se se supem as

    devidas elipses: No seriam eles [quem pusesse esse remate], nem [seria] eu

    quem o fizesse.

    Quanto aos demais exemplos (Nem meu primo, nem eu frequentamos tal

    sociedade, Nem ns, nem eles nos esqueceremos disso, Nem vs, nem ele

    perdereis em tal negcio), tire-se-lhes a vrgula, que aparecero perfeitos; com

    ela, porm, a dividir os ncleos do sujeito, temos puro e simples erro.9

    d) Terminando a srie negativa por palavra ou expresso que resuma

    alguns dos sujeitos anteriores ou todos eles, concorda o verbo com esta palavra

    ou expresso.

    Exemplos:

    Nem eles, nem outrem h de possuir nada. (ANTNIO VIEIRA)

    Nem eu, nem tu, nem ela, nem qualquer outra pessoa desta histria poderia

    responder mais. (MACHADO DE ASSIS)

    Se fosse como diz Lima, ento no o seria seno porque a palavra (ou a

    expresso) que resumisse os sujeitos anteriores teria carter de aposto

    resumitivo.10

    Mas tal no se v no exemplo de Machado, no qual qualquer (o melhor

    seria nenhuma) outra pessoa no pode de modo algum resumir eu, tu, ela.

    Tampouco se v carter algum de aposto resumitivo no exemplo de

    Vieira: com efeito, outrem no pode resumir eles. Por isso a explicao deve

    buscar-se em outra parte.

    Assim, para nos atermos apenas ao exemplo de Vieira, pode supor-se nele

    uma elipse: Nem eles [ho de possuir nada], nem outrem h de possuir nada.

    9 Por outro lado, se se multiplicam os membros de construes como No fui eu nem [foi] ele

    quem o fez, pode pospor-se-lhes [ou no pospor-se-lhes] vrgula, menos ao ltimo: No fui eu[,]

    nem [foi] ele[,] nem [foi] ela quem o fez [ou o que o fez]).

    10 Vejam-se, porm, as ressalvas a respeito do aposto feitas em aula de Sintaxe Geral.

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    Por outro lado, porm, no vemos nada que possa impedir a concordncia

    no plural (supressa, como devido, a vrgula): Nem eles nem outrem ho de

    possuir nada.

    O mesmo com respeito ao exemplo de Machado: Nem eu, nem tu, nem

    ela, nem qualquer [melhor nenhuma] outra pessoa desta histria poderamos

    responder mais embora, dada a distncia que medeia entre eu e o verbo,

    talvez fosse prefervel dar outro torneio orao.

    15. CERCA DE, PERTO DE, MAIS DE, MENOS DE, OBRA DE...

    Postas antes de um nmero no plural, prossegue Lima, para indicar

    quantidade aproximada, estas expresses requerem a concordncia no plural,

    exceto com o verbo ser, em que h vacilao.

    Exemplos:

    Saram praia obra de oito mil homens. (JOO DE BARROS)

    Mais de sete sculos so passados depois que tu, Cristo, vieste visitar a

    terra. (ALEXANDRE HERCULANO)

    Eram perto de seis horas da tarde. (ALEXANDRE HERCULANO)

    Era perto das cinco quando sa. (EA DE QUEIRS)

    De fato aqui se requer concordncia no plural, mas no pela razo

    apontada pelo nosso gramtico (e por multido de outros). O que requer o

    plural , como quase sempre, o ncleo do sujeito:

    Saram praia obra de OITO MIL HOMENS;

    Mais de SETE SCULOS so passados depois que tu, Cristo, vieste visitar

    a terra;

    Eram perto de SEIS HORAS DA TARDE.

    Se em a maioria dos homens (e em correlatos) o substantivo (a) maioria

    que o ncleo do sujeito, em cerca de mil homens (e em correlatos) a locuo

    cerca de no pode ser ncleo do sujeito, pela simples razo de que prepositiva

    de fundo adverbial (= aproximadamente) e, como se sabe, no podem ser

    ncleo de sujeito seno palavras substantivas.

    No h, ademais, nenhuma razo por que se deva aceitar o exemplo de

    Ea de Queiroz. Diga-se: Eram perto das cinco quando sa.

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    16. DAR, BATER, SOAR (HORAS)

    Em frases assim, estabelece Rocha Lima, estes verbos tm por sujeito o

    nmero que indica as horas.

    Exemplos:

    Eram dadas cinco da tarde. (ALMEIDA GARRETT)

    Deram dez horas. (EA DE QUEIRS)

    Deram agora mesmo as trs da madrugada. (GUERRA JUNQUEIRO)

    Deram trs horas da tarde. (ALUZIO AZEVEDO)

    Iam dar seis horas. (MACHADO DE ASSIS)

    Na igreja, ao lado, bateram devagar dez horas. (EA DE QUEIRS)

    Cinco horas fanhosas soam no velho relgio do pensionato. (CYRO DOS

    ANJOS)

    Nada que retorquir ao estabelecido por Lima: assim em toda a linha do

    padro culto atual. Mas devemos explic-lo.

    Obviamente, a construo original O RELGIO deu ou bateu dez horas.

    Mas esta orao ativa na figura e no sentido, e permite, pois, perfeita

    converso, igualmente em figura e em sentido, voz passiva: DEZ HORAS foram

    dadas ou batidas pelo relgio. Como si suceder, todavia, esta voz passiva

    passou a usar-se sem seu agente (pelo relgio), como no exemplo de Almeida

    Garret: Eram dadas cinco da tarde. Da a que casse ou o particpio (no caso,

    dadas) uo verbo (ser), foi s um passo: ou Deram cinco da tarde ou Eram cinco

    da tarde.

    A partir da, menor ainda foi o passo para julgar que cinco da tarde fosse

    o sujeito da orao, e que ou Deram ou Eram resultasse da normal

    concordncia com um sujeito plural.

    Chegou assim a cristalizar-se o estabelecido por Lima. Nada impede,

    porm, a construo antiga:

    O RELGIO deu dez horas ou

    DEZ HORAS foram dadas pelo relgio.

    [...] 18. SUJEITOS UNIDOS POR OU

    1) Impe-se, diz ainda Lima, o emprego do verbo no singular em dois

    casos:

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    a) Quando, coordenando dois ou mais substantivos no singular, a partcula

    [sic] ou for alternativa, de tal forma que o verbo s se refira a um dos sujeitos,

    com excluso dos demais.

    Exemplos:

    (...) crendo que Fainam ou alguma de suas irms era morta. (JOO DE

    BARROS)

    Ningum soube jamais se fora desgosto ou doidice que o levara quela

    vida. (RACHEL DE QUEIROZ)

    No poderamos diz-lo melhor (ressalvada a impropriedade de chamar

    partcula conjuno ou).

    b) Quando, coordenando dois ou mais substantivos no singular, a partcula

    [sic] ou exprimir equivalncia, de tal forma que o verbo se possa igualmente

    referir a qualquer um desses sujeitos. Exemplos:

    Um cardeal, ou um papa, enquanto homem, no mais do que uma

    pessoa... (MANUEL BERNARDES)

    O leitor ou espectador que acredita em histrias do Bicho-Tatu, murmura

    interiormente: Castigo. (RICO VERSSIMO)

    Aqui j no feliz o nosso gramtico. Explique-se por partes este ponto

    rduo.

    . No a conjuno ou o que solitariamente indica, no exemplo,

    equivalncia: contribui para tal, principalmente, a expresso enquanto homem

    seguida de por no mais do que uma pessoa.

    . Mas no pode compreender-se que neste exemplo o verbo esteja no

    singular seno porque outra vez se d elipse, que, se explicitada, fora ao

    seguinte rearranjo: Um cardeal e diga-se o mesmo de um papa , enquanto

    homem, no mais do que uma pessoa. E isso assim porque a conjuno ou

    do exemplo tem antes carter aditivo, razo porque ou um papa significa

    exatamente isto: e diga-se o mesmo de um papa. Por isso mesmo, alis, que as

    vrgulas usadas por Bernardes esto muitssimo bem postas em torno de ou um

    papa. Tirem-se tais vrgulas, e ou um papa tornar-se- ncleo de sujeito

    composto, o que far que o verbo v, necessariamente, para o plural: UM

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    13

    CARDEAL OU UM PAPA, enquanto homens, no so mais que pessoas como

    qualquer outra.

    . Mais complexo o exemplo de Verssimo. Note-se-lhe, em primeiro lugar,

    a ausncia de artigo antes de espectador. Ponha-se a o artigo, e o verbo ir

    obrigatoriamente para o plural: O leitor ou O espectador que acreditam em

    histrias do Bicho-Tatu... E note-se-lhe, em segundo lugar, a ausncia de

    vrgulas que cingissem ou espectador. Pois bem, aqui que se pode falar, mais

    propriamente ainda que s de certo modo, de equivalncia, que porm no

    dada to somente por ou, mas pelo triplo recurso de conjuno ou + ausncia de

    artigo + ausncia de vrgulas. Se, como visto, no podemos impugnar esta

    construo, no devemos us-la, porm, seno com suficiente escrpulo e

    cautela.

    2) Vai, ao revs, o verbo para o plural:

    a) Quando, coordenando dois ou mais substantivos no singular, a partcula

    [sic] ou for aditiva (= e), de tal forma que a noo indicada pelo verbo abranja,

    ao mesmo tempo, todos os sujeitos. Exemplo:

    O calor forte ou frio excessivo eram temperaturas igualmente nocivas ao

    doente. (JLIO NOGUEIRA)

    Perfeito, ressalvado isto de partcula, alm de que falta ao exemplo de

    Jlio Nogueira o artigo o antes de frio excessivo.

    b) Quando um dos sujeitos estiver no plural. Exemplo:

    As penas que so Pedro ou seus sucessores fulminam contra os homens...

    (ANTNIO VIEIRA)

    Repetindo-se depois de ou a palavra precedente, porm na forma do

    plural, para denotar que se admite retificao de nmero, o verbo concordar

    com o termo mais prximo, isto , ficar no singular, se vier antes dos dous

    sujeitos, e no plural se vier depois:

    O poder ou poderes do homem eram sobre todos os peixes. (ANTNIO

    VIEIRA)

    A parte ou partes contrrias viro presena do juiz.

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    14

    Nenhum vestgio de sua presena deixou o autor ou autores do crime.11

    Perfeito, especialmente pelas palavras de Said Ali.

    OBSERVAO. Surpreende, porm, que Lima no haja tratado a variao de

    concordncia verbal que envolve o uso mais prprio de ou: quando este

    perfeitamente DISJUNTIVO, ou seja, perfeitamente EXCLUDENTE:

    Faltava pouco para que ele OU o rival vencesse a disputa, ou seja:

    Faltava pouco para que UM OU OUTRO vencesse a disputa.

    Note-se que, se s um poderia vencer a disputa, ento obviamente o verbo

    no pode vir seno no singular.

    E note-se por fim que, se sem a conjuno ou no se poderia dar orao

    sentido disjuntivo ou excludente, tampouco capaz de dar-lho por si a mesma

    conjuno: necessita-se para tal de que o mesmo sentido de vencer a disputa

    seja disjuntivo ou excludente. Tal concorrncia de fatores para determinado fim

    lingustico ainda est a exigir o devido estudo. Na Suma, no fazemos mais que

    preparar o caminho para tal.

    Quase todas as demais variaes da regra de concordncia verbal j as

    expusemos ao longo do curso. Resta-nos estudar, no entanto, uma variao e

    uma exceo, antes de passarmos regra especial de concordncia do verbo

    ser:12 a VARIAO concernente aos NOMES PRPRIOS PLURAIs e a EXCEO

    constituda pela expresso HAJA VISTA.

    CONCORDNCIA COM OS NOMES PRPRIOS PLURAIS.

    . Se o nome prprio plural (excetuados os ttulos de obras) estiver

    precedido de artigo, levar o verbo ao PLURAL:

    OS ANDES tm neves perptuas;

    OS ESTADOS UNIDOS pertencem ao mundo anglo-saxo.

    . Se no estiver antecedido de artigo, o verbo ficar no SINGULAR:

    MINAS GERAIS deu-nos grandes compositores;

    ALAGOAS tem belas praias.

    . Quando o artigo integra o ttulo de uma obra (ou seja, quando no pode

    ser-lhe retirado), em princpio a concordncia se faz no PLURAL:

    11 Said Ali, Gramtica secundria da lngua portuguesa, op. cit., p. 153.

    12 A partir daqui, j no nos confrontaremos com nenhum outro gramtico, e tudo quanto se ler

    ter sado de nossa pena.

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    15

    OS SERTES so de leitura obrigatria;

    AS QUATRO ESTAES foram compostas por Vivaldi.

    Mas pode usar-se o singular, se se quer assinalar a unidade da obra:

    OS LUSADAS o canto de um povo.

    HAJA VISTA.

    . Antes de tudo: a palavra vista aqui indubitavelmente substantivo, do

    mesmo campo semntico que viso ou olho e por vezes comutvel por estes.

    . Haja vista no o mesmo que haja visto (= tenha visto), primeira e

    terceira pessoa do singular do pretrito perfeito do subjuntivo do verbo ver.

    . A expresso haja vista (em, por exemplo, Haja vista estes problemas)

    pode haver resultado do antigo emprego do verbo haver com o sentido de ter ou

    possuir, ao qual j nos referimos em alguma aula. Se assim , dir-se-ia ento

    Hajam VISTA a estes problemas com o sentido de Tenham eles VISTA (= ateno,

    olho) a estes problemas.

    . Mas pode ser outra sua origem: ao dizer-se Hajam VISTA estes problemas,

    o verbo haver teria o sentido de merecer, razo por que a orao equivaleria a

    Merecem VISTA (= ateno) estes problemas, em que estes problemas o sujeito

    de merecem, e vista seu objeto direto.

    . E h ainda outra possibilidade, em que o verbo de Haver VISTA (=

    ateno) a estes problemas se usaria como hoje o usamos em, por exemplo,

    Haja ( exista) pacincia!.

    . Qualquer que seja sua origem, porm, o fato que, tal como se usa hoje, a

    expresso altamente irregular: resultante de alguma grave corruptela, tornou-

    se praticamente irredutvel a algo coerente. Mas constitui exceo consagrada,

    razo por que no h nada que impugnar a oraes como Haja vista estes

    problemas.

    . No obstante, alguns escritores, como alguns gramticos, tentam fazer

    voltar a expresso a uma de suas possveis origens, e escrevem ou Hajam (=

    Merecem) vista estes problemas ou Haja vista (ateno) a estes problemas.

    Inclumo-nos entre estes gramticos, e preferimos especialmente a ltima

    forma.

    8. A REGRA ESPECIAL: A CONCORDNCIA DO VERBO SER ENQUANTO VERBO

    DE CPULA.

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    16

    a. Ei-la: O VERBO SER ENQUANTO DE CPULA CONCORDA J COM O SUJEITO J

    COM O PREDICATIVO. As causas de to radical infrao regra geral da

    concordncia verbal requerem muitas pginas de estudo e explanao, e damos-

    lhas na Suma Gramatical. Aqui, portanto, limitar-nos-emos ao normativo, ou

    seja, a em que situaes o verbo ser concorda com o sujeito e em que situaes o

    faz com o predicativo.

    NOTA PRVIA. Em se tratando do verbo ser enquanto de cpula,

    normalmente o substantivo (ou correlato) que lhe vem anteposto seu sujeito, e

    o substantivo (ou correlato) que lhe vem posposto o predicativo:

    Sua obra [sujeito] so dois livros [predicativo];

    Maria [sujeito] minhas preocupaes [predicativo];

    Meu filho [sujeito] sou eu quando pequeno [predicativo];

    etc.

    Sucede, todavia, que ambos os termos podem vir pospostos ao verbo, e

    ento prevalece o SENTIDO e no a ordem:

    Eram homens [predicativo] os dois [sujeito].

    Mas note-se que aqui homens no se antecede de artigo, o que lhe d certo

    carter de adjetivo.

    E, com efeito, quando um dos termos for de carter adjetivo, exercer

    sempre a funo de predicativo, independentemente da ordem da orao:

    Eram dois [predicativo] os homens [sujeito].

    E casos h de perfeita indiscernibilidade. Recorde-se que estamos em

    terreno muito resvaladio, justamente porque terreno de grande infrao

    regra geral.

    b. Pois bem, atenda-se s seguintes variaes da regra da concordncia de

    ser enquanto verbo de cpula.

    SE AMBOS OS TERMOS SO SUBSTANTIVOS.

    O NOME PRPRIO predomina sobre o nome comum. Exemplos:

    Maria minhas preocupaes, em que o verbo concorda com o sujeito

    Maria (nome prprio) e no com o predicativo minhas preocupaes (nome

    comum);

    Minhas preocupaes Maria, em que o verbo concorda com o

    predicativo Maria (nome prprio) e no com o sujeito minhas preocupaes

    (nome comum).

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    17

    O NOME CONCRETO predomina sobre o abstrato. Exemplos:

    Sua paixo eram as sinfonias, em que o verbo concorda com o predicativo

    sinfonias (nome concreto) e no com o sujeito Sua paixo (nome abstrato);

    As sinfonias eram sua paixo, em que o verbo concorda com o sujeito

    sinfonias (nome concreto) e no com o predicativo Sua paixo (nome abstrato).

    OBSERVAO. Naturalmente, se se do, um como sujeito e outro como

    predicativo, dois nomes prprios ou dois nomes comuns, ou dois nomes

    concretos ou dois nomes abstratos, prevalecer o PLURAL sobre o singular.

    O PRONOME PESSOAL RETO predomina sobre qualquer outra palavra de

    cunho substantivo:

    O professor sou EU;

    Sou EU o professor;

    O professor sers TU;

    Sers TU o professor;

    ELE suas mesmas descobertas;

    Suas mesmas descobertas ELE;

    O professor ramos NS;

    ramos NS o professor;

    Sereis VS o professor;

    O professor sereis VS;

    ELES so sua mesma descoberta;

    Sua mesma descoberta so ELES.

    O PRONOME RETO DE PRIMEIRA PESSOA predomina sobre o de segunda, e o DE

    PRIMEIRA e o DE SEGUNDA sobre o de terceira, independentemente de seu

    nmero (singular ou plural); mas o PLURAL DE TERCEIRA PESSOA predomina sobre

    o singular tambm de terceira pessoa:

    EU sou tu amanh;

    Tu sou EU amanh;

    EU sou vs amanh;

    Vs sou EU amanh;

    EU sou ele/ela amanh;

    Ele/Ela sou EU amanh;

    EU sou eles/elas amanh;

    TU s ele/ela amanh;

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    Ele/Ela s TU amanh;

    TU s eles/elas amanh;

    Eles/Elas s TU amanh;

    ELES/ELAS (= estes/estas) so ele/ela (= aquele/aquela) amanh;

    Ele/ela (= este/esta) so ELES/ELAS (= aqueles/aquelas) amanh.13

    Predomina o PREDICATIVO quando a funo de sujeito exercida por um dos

    pronomes tudo, isto, isso, aquilo:14

    Nem TUDO so flores;

    ISTO/ISSO/AQUILO so bravatas.

    OBSERVAO. Quanto a estas variaes da regra da concordncia do verbo

    ser enquanto de cpula, encontram-se aqui e ali escritores que as ferem. No se

    trata propriamente de erro, mas antes de impropriedade a no ser que se trate

    de recurso literrio-potico, e ento nem de impropriedade se tratar.

    Quanto porm a duas variaes da regra a relativa CONCORDNCIA COM

    ORAO SUBJETIVA PRECEDIDA DE ORAO ADJETIVA COM VERBO NO PLURAL e a

    relativa CONCORDNCIA QUANDO O PREDICATIVO EXERCIDO POR CERTA CLASSE DE

    ADVRBIOS , feri-las constitui erro absoluto.

    CONCORDNCIA COM ORAO SUBJETIVA PRECEDIDA DE ORAO ADJETIVA COM

    VERBO NO PLURAL.

    . Tomem-se de incio estes dois exemplos, cada um dos quais com duas

    oraes:

    Compramos os livros [orao subordinante] que so necessrios [orao

    adjetiva];

    Encontramos os documentos [orao subordinante] que so importantes

    [orao adjetiva].

    Como se v, o verbo das oraes adjetivas est no plural porque se refere,

    respectivamente, a livros e a documentos. Seu sujeito o relativo que, que

    re(a)presenta aqueles substantivos plurais.

    . Tomem-se agora outros dois exemplos, mas com trs oraes cada um:

    Compramos os livros [orao subordinante] que necessrio [orao

    adjetiva] ler [orao substantiva subjetiva (reduzida de infinitivo)];

    13 Quanto concordncia do verbo ser, voc e vocs tm prioridade sobre ele/ela e eles/elas.

    14 Nesta construo, tudo, isto, isso, aquilo constituem com respeito a pronomes uma espcie

    mista de aposto: individualizador-distributivo. Estudamo-lo na Suma.

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    19

    Encontramos os documentos [orao subordinante] que importante

    [orao adjetiva] levar ao consulado [orao substantiva subjetiva (reduzida de

    infinitivo)].

    . Se se fizer ao verbo ser presente nos dois ltimos exemplos a pergunta de

    identificar o sujeito (e que j vimos em aula de Sintaxe Geral):

    Que necessrio?,

    Que importante,

    encontrar-se-o as seguintes respostas:

    Ler (os livros),

    Levar (os documentos [ao consulado]).

    . Se assim , o pronome relativo j no sujeito do segundo verbo (), mas

    OBJETO DIRETO DO TERCEIRO VERBO (ler, levar), razo por que seriam

    absolutamente incorretas construes como Compramos os livros que so

    importantes ler e Encontramos os documentos que so importantes levar ao

    consulado.

    CONCORDNCIA QUANDO O PREDICATIVO EXERCIDO POR ADVRBIO.

    . Quando o predicativo exercido por CERTA CLASSE DE ADVRBIOS (de

    quantidade ou de intensidade), o verbo ser permanece no singular. como se

    concordasse com o advrbio. Exemplos:

    Trs quilos POUCO;

    Dois mil reais MUITO;

    Vinte metros era DEMAIS.

    . Tal construo se justifica, pois, de certo modo, pelo fato de o predicativo

    ser exercido por advrbio e ptrea: aqui, o verbo ser no pode concordar

    com o sujeito. Sucede porm que tal construo acabou por estender-se a

    outras, similares, em que o predicativo exercido por adjetivo:

    Dois mil reais seria TIMO;

    Vinte metros INDISPENSVEL.

    . Mas a concordncia com o predicativo exercido por adjetivo singular no

    obrigatria: o verbo pode concordar com o sujeito:

    DOIS MIL REAIS seriam timos;

    VINTE METROS so indispensveis.

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    20

    OBSERVAO. Quando se diz Vinte metros indispensvel, como se se

    destacasse a ideia mesma de preo ou a de medida, sem importar sua

    quantificao ou singularizao numrica:

    ESTA QUANTIDADE indispensvel.

    Quando porm se diz Vinte metros so indispensveis, como se se

    destacasse justamente a quantificao ou singularizao numrica:

    ESTES TANTOS METROS so indispensveis.

    1. Como dito em alguma aula do curso, por vezes o verbo ser se usa

    unipessoalmente, ainda que no uninumericamente: concorda na TERCEIRA

    PESSOA DO SINGULAR OU DO PLURAL segundo seja singular ou plural o

    predicativo. construo singularssima, sem sujeito figurativo (mas com

    predicativo), e que se emprega para indicar data, tempo ou distncia:

    Hoje [dia] 10 de outubro;15

    Hoje so 10 de outubro;16

    Hoje dia 10 de outubro;

    J hora de irmos;

    J so duas horas;

    Daqui l so doze quilmetros;

    etc.

    OBSERVAO. Para a reduo desta construo a construo com sujeito,

    vide nossa Suma Gramatical.

    2. Na oralidade, no raro usamos o verbo ser para efeito de realce.

    Exemplos:

    a. Esta criana quer dormir;

    b. Visitei a Europa foi durante o vero.

    Em construes como estas, como diz Rocha Lima, o termo intensificado

    o que est direita do verbo ser; e provavelmente tero elas resultado da elipse

    de elementos requeridos pela estruturao gramatical plena das frases-fontes

    respectivas. No exemplo a), essa frase-fonte teria sido a seguinte:

    O que esta criana quer dormir.

    15 Hoje no sujeito da orao, mas ADJUNTO ADVERBIAL do verbo ser apesar da possvel

    aparncia em contrrio. Esta mesma aparncia, porm, pode contribuir para que o verbo fique

    no singular. Por aprofundar.

    16 Como se disse em alguma de nossas aulas, preferimos a primeira construo.

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    21

    No caso b), h para notar que, se o verbo ser vier ANTES do verbo principal,

    aparecer, em correlao obrigatria com ele, uma partcula [sic] que,

    igualmente parasitria [sic]:

    Foi durante o vero que visitei a Europa.

    Desta ltima forma que decorre nossa como locuo QUE, de fato muito

    expressiva, e de emprego geral quer na fala quer na escrita.17

    Por sua mesma natureza, nela o verbo ser sempre invarivel; e, onde ela

    se use, no deixa de ser regular a concordncia do efetivo verbo da orao com

    seu sujeito:

    EU que o farei;

    TU que o fars;

    ELE que o far;

    NS que o faremos;

    VS que o fareis;

    ELES que o faro.

    3. Em nossa tradio gramatical, muito se fala, justificando-a, de

    concordncia ideolgica ou silepse. O mais das vezes, porm, tal no passa de

    capa para ocultar o beletrismo, ou seja, o aceitar tudo quanto saia da pena dos

    literatos, ainda que no passe de puro erro ou, ainda, de regra vlida apenas

    para padres cultos anteriores ao atual.

    . Sem dvida, desde a mesma gramtica greco-latina sempre se falou em

    snese18 ou constructio ad sensum (construo pelo sentido, no pela figura). J

    vimos alguns casos em que isto se d, efetivamente, em nosso padro culto atual

    (Quanto a isto, no me importa A SOCIEDADE E SEUS CDIGOS, por exemplo). H

    porm que fazer as seguintes observaes:

    Desde h cerca de dois milnios e meio, a Gramtica, com raras excees,

    vem pecando por beletrismo.

    Uma coisa reconhecer que figurativamente pode dar-se silepse ou

    constructio ad sensum, e outra, muito distinta, deixar de explic-la,

    reduzindo-a a seu fundo: por exemplo, Quanto a isto, no me importa a

    17 Diz Rocha Lima que que idiotismo da lngua portuguesa. No o : compartilham-na o

    galego e o espanhol. Melhor se diria, portanto, idiotismo ibrico.

    18 Do gr. snesis ou ksnesis, e s (encontro [de dois riachos], donde reunio (de duas coisas

    em uma), e da compreenso, inteligncia), do v. sun mi (enviar ou lanar junto, e da

    aproximar pelo pensamento), pelo lat. syn sis, is [inteligncia].

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    22

    sociedade e seus cdigos reduz-se a Quanto a isto, no me importa A SOCIEDADE

    COM SEUS CDIGOS.

    E outra coisa, por fim, aceitar no atual padro culto silepses aceitas por

    padres cultos passados mas j desusadas. Por exemplo: pela tese geral da

    tradio gramatical, ficamos sem saber se podemos hoje escrever ou no

    oraes como O POVO partiram, to usada em outras fases da lngua.

    . Diz Rocha Lima: tais irregularidades includas sob o nome de silepse so

    desvios, quase sempre inconscientes, que correspondem a matizes do

    sentimento e da ideia. Mas, como vimos repetindo desde o incio de nosso

    curso, a escrita no (quase) automtica como a fala, razo por que no pode

    padecer seno minimamente desvios inconscientes. Mas grande parte dos

    exemplos de silepse dados pela tradio como justificveis, todos sempre sados

    da pena de literatos no raro pertencentes a outra fase da lngua, no pode

    aceitar-se hoje de modo algum. Vejam-se alguns deles (de concordncia verbal

    ou de concordncia nominal), pescados aqui e ali, sobretudo de Mrio Barreto,

    de Carlos Gis e de Rocha Lima:

    O POVO lhe pediram que se chamasse Regedor [em vez de O POVO lhe

    pediu que se chamasse Regedor] (FERNO LOPES, sculo XIV-XV).19

    A FORMOSURA DE PARIS E HELENA foram causa da destruio de Troia

    [em vez de A FORMOSURA DE PARIS E DE HELENA foi causa da destruio de

    Troia] (FREI HEITOR PINTO, sculo XVI).

    OS POVOS DESTAS ILHAS de cor baa e cabelo corredio [em vez de OS

    POVOS DESTAS ILHAS so de cor baa e de cabelo corredio] (JOO DE BARROS,

    sculo XVI).

    ALGUM andava ento bem saudosa [em vez de ALGUM andava ento

    bem saudoso] (JOO DE BARROS).20

    19 Curiosa a explicao de Rodrigues Lapa para este passo: (...) o grande escritor que era

    Ferno Lopes no via no povo uma entidade abstrata, antes qualquer coisa de muito concreto e

    de muito vivo, que fervilhava pelas ruas e praas de Lisboa, na nsia de escolher um rei. Ou

    seja, aqui j no se trata de beletrismo, mas do mais puro psicologismo distncia e distncia

    temporal considervel.

    20 Este exemplo pode resultar, ainda hoje, de infrao consciente, em ordem ao potico ou

    literrio. Mas disto, uma vez mais, no deve ocupar-se o gramtico.

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    Foi DOM DUARDOS E FLRIDA aposentados no aposento que tinha o seu

    nome [em vez de Foram DOM DUARDOS E FLRIDA aposentados no aposento

    que tinha o seu nome] (FRANCISCO DE MORAES, sculo XVI).

    Pouco importa que tenha a casa cheia de PROLAS E DIAMANTES, se se no

    aproveita delas [em vez de Pouco importa que tenha a casa cheia de PROLAS E

    DIAMANTES, se se no aproveita deles] (FREI ANTNIO DAS CHAGAS, sculo XVII).

    Est UMA PESSOA ouvindo missa, meia hora o cansa [em vez de Est

    UMA PESSOA ouvindo missa, meia hora a cansa, ou Est UM HOMEM ouvindo

    missa, meia hora o cansa] (MANUEL BERNARDES, sculo XVII-XVIII).

    (Enquanto os exemplos acima podem atribuir-se a padro culto passado, os

    que se pem a seguir no podem resultar seno de puro DESLIZE, o que pode

    acontecer a todo e qualquer escritor.)

    Conheci UMA CRIANA... mimos e castigos pouco podiam com ele [em

    vez do correto Conheci UMA CRIANA... mimos e castigos pouco podiam com

    ela, ou Conheci UM MENINO... mimos e castigos pouco podiam com ele]

    (ALMEIDA GARRET).

    O RESTO DO EXRCITO REALISTA evacua neste momento Santarm; vo em

    fuga para o Alentejo [em vez do correto O RESTO DO EXRCITO REALISTA evacua

    neste momento Santarm; vai em fuga para o Alentejo] (ALMEIDA GARRET).21

    O CASAL no tivera filhos; mas criaram dois ou trs meninos [em vez

    do correto O CASAL no tivera filhos; mas criou dois ou trs meninos]

    (AUGUSTO F. SCHMIDT).

    . Diz ainda Rocha Lima: Cumpre notar que a concordncia portuguesa

    tem caminhado no sentido de restringir cada vez mais os fenmenos ideolgicos

    e afetivos [ou seja, as silepses] em seu sistema, por fora da autocrtica

    coercitiva que a gramtica impe aos que escrevem. Isso importa, por sem

    dvida, maior ordem e nitidez de expresso, mas atesta, de outro lado, a

    escassez de grandes e audaciosos artistas, que no se arreceiam de transcender

    21 Quando se trata de irregularidade, digamos, distante, como o caso deste exemplo,

    costumam os gramticos justific-la por isto mesmo: a distncia. Diga-se porm uma vez mais: a

    escrita analtica, e permite a reflexo que a fala no permite. Por isso, se, ainda assim, na

    escrita nos escapa alguma irregularidade pela distncia, ento que se considere como o que :

    deslize, e no a queiramos introduzir, por berliques e berloques, no quadro gramatical da norma

    culta.

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    24

    limites e esquemas em seus formosos momentos de entusiasmo e de luz.

    Respondamos-lhe.

    Perfeita sua observao com respeito fora autocrtica coercitiva que a

    gramtica impe aos que escrevem. Isso importa, por sem dvida, maior ordem

    e nitidez de expresso. Mas no outra coisa o de que necessita a escrita no

    literria: ordem e nitidez de expresso. E no deveria ser outra coisa o que

    importasse ao gramtico.

    Quanto a transcender limites e esquemas em seus formosos momentos de

    entusiasmo e de luz, o mesmo modo como o diz Lima j indica de que se trata:

    assunto do mbito da Potica, do literrio. No deveria ocupar-se disto o

    gramtico, mas o poeta, o literato, ou o filsofo da arte.

    E, no entanto, no se v de onde se tira a assero de que o literato que no

    transcende tais limites necessariamente menor e arreceoso ou falto de

    ousadia. Abundam exemplos de grandes literatos que transcendem tais limites e

    de outros que no os transcendem. Assunto, uma vez mais, para a Potica.

    . Brande porm a tradio gramatical outros exemplos de silepse. Vejamo-

    los.

    (...) e possa aquele curto interesse fazer maiores e menores homens

    aqueles que Deus e a Natureza fez iguais (DOM FRANCISCO MANUEL DE MELO).

    J vimos este caso: na inteno do escritor, Deus e Natureza constituem

    algo uno, razo por que o verbo fica no SINGULAR.

    Os portugueses sois assim feitos (S DE MIRANDA);

    No nego que os Catlicos vos salvais na Igreja romana (PE. ANTNIO

    VIEIRA).

    Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins pblicos

    (MACHADO DE ASSIS).

    Os abaixo assinados requeremos a V. Ex.a...

    De fato esta silepse tambm parte do padro culto atual, ainda que, ao

    contrrio do que se d em espanhol, a usemos pouco. Nada h portanto que

    obstar a ela. Mas podemos e devemos reduzi-la:

    Vs, os portugueses, sois assim feitos.

    No nego que vs, os Catlicos, vos salvais na Igreja romana.

    Dizem que ns, os cariocas, somos pouco dados aos jardins pblicos.

    Ns, os abaixo assinados, requeremos a V. Ex.a...

  • Curso on-line PARA BEM ESCREVER NA LNGUA PORTUGUESA Prof. Carlos Nougu

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    Ou seja, trata-se de ELIPSE em que O APOSTO ASSUME O LUGAR DAQUILO DE QUE

    APOSTO.

    Todos geralmente o adoramos, porque todos nos queremos adorados (PE.

    ANTNIO VIEIRA).

    Esta, de todas a mais usada na fala e na escrita, de resoluo ou reduo

    simples: trata-se to somente de ELIPSE DO PRONOME SUBSTANTIVO DE QUE O

    PRONOME ADJETIVO ADJUNTO ADNOMINAL:

    Todos NS geralmente o adoramos, porque todos NS nos queremos

    adorados.

    CONCLUSO. Estas trs classes de silepse, conquanto o sejam, no deixam

    porm de constituir meras variaes da regra geral da corcordncia.