aula 24 a questão da perda da aura na obra de arte moderna
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Aula do curso de Teoria da Comunicação. prof. Fábio Fonseca de Castro.TRANSCRIPT
A Teoria Crítica A questão da perda da aura
na obra de arte moderna
Aula 24 do curso de Teoria da Comunicação.Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro,
Faculdade de Comunicação da UFPA,Dezembro de 2009
A questão da “perda da aura” no crescente moderno é um tema secundário da teoria
crítica que, no entanto, ganhou grande destaque mais contemporaneamente. Ele
surge no ensaio de Walter Benjamin denominado “A Obra de arte na era da sua
reprodutibilidade técnica”, o qual foi publicado na revista do Instituto de
Pesquisa Social.
O que Benjamin discute, em primeiro plano, é a transformação da relação entre produção e consumo da obra de arte, da
alta Idade Média ao começo do século XX.
Para estabelecer os parâmetros dessa relação, constrói duas categorias de análise: “valor de culto” e “valor de
exposição”, aplicando, ambas, à obra de arte.
Assim, na alta Idade Média, praticamente inexiste o “valor de exposição” numa obra
de arte: o que a sustenta e a define, enquanto obra de arte, é seu “valor de
culto”, ou seja, sua dimensão simbólico-sacral.
Porém, à medida em que a humanidade avança na implementação do projeto
moderno e, conseqüentemente, o mundo se desencanta, a obra de arte perde em “valor de cultuo” e passa a ganhar em
“valor de exposição”.
Essa modificação estrutural no valor da obra de arte, no entanto, não produz,
ainda, uma dessacralização da mesma. Afinal, o que se perde em “culto”, se ganha
em “exposição”. Dá-se uma espécie de fetichização da arte.
Isso ocorre porque uma dinâmica essencial a obra de arte é preservada: sua
“unicidade”.
Retornemos no conceito de Walter Benjamin, para explicar melhor essa
noção.Segundo ele, a obra de arte, na Idade
Média, centrada no seu “valor de culto”, possui duas dinâmicas essenciais: o
distanciamento e a unicidade.
Distanciamento (Entfernung)
significa que uma obra de arte parece, sempre, inacessível, intocável, distante das pessoas.
Unicidade (Einmaligkeit)
significa que ela parece inteira, coesa, íntegra aos olhos das pessoas.
É a soma do distanciamento com a unicidade que faz com que a obra tenha
uma aura.
Aura: espectro do sagrado, do sublime, do metafísico. Prova do eterno e do sagrado.
Quando a sociedade passou do período medieval para o período moderno burguês
a obra de arte se tornou mais acessível, tanto em função da mudança de sua
temática objectual, que passou a representar menos as temáticas sacras e mais a vida cotidiana, as paisagens e a
figura humana, como em função da criação de instituições como o mercado de
artes, o museu e as exposições públicas.
Assim, na evolução da modernidade, a obra de arte perdeu em distanciamento,
pois se tornou mais próxima das pessoas, mas não perdeu em unicidade, pois
continuou a ser única, referente apenas a si mesma e reprodutível, apenas, conforme cópias que, em si mesmas, eram obras tão
difíceis de fazer como a própria obra de arte.
Ou seja, a obra de arte preservava a sua aura.
No entanto, a modernidade engendrou novos processos, não apenas mercantis,
como os que assinalavam a mutação inicial da modernidade mas, também industriais.
Com o avanço da modernidade a obra de arte passou a ser reproduzida
tecnicamente por meio das indústrias gráfica, fonográfica, editorial e, mais tarde,
através dos veículos midiáticos, como rádio e televisão.
Com essa dinâmica, a obra de arte acabou perdendo sua dinâmica de unicidade.
E, assim, teria perdido a sua aura.