Aula 2 - As organizações no taylorismo

Sociologia das Organizações

Faculdade Piaget - Suzano - 1º semestre de 2020Profº Me Antonio Gracias Vieira Filho

Bibliografia utilizada nesta apresentaçãoCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: Edição compacta. 4ª ed. Barueri (SP), Manole, 2014. Disponível na biblioteca eletrônica: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788520440452>

DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho. Rio de Janeiro, José Olympio, 2001 [1999].

MORRIS, Charles R. Os magnatas. Porto Alegre (RS), L&PM, 2009.

WOOD JR, Thomaz. Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. In: Revista de Administração de Empresas. São Paulo, EAESP/FGV, vol.32, n.4, 1992, pp. 6-18.

Tópicos que vamos abordar

O objetivo desta aula é o de entender as profundas mudanças sociais propiciadas pela primeira das teorias da administração - a Teoria da Administração Científica, de Frederick Taylor. Ao impacto dessa teoria nos processos gerenciais e, por extensão, nas sociedades, foi dado o nome de taylorismo. Ao analisar tal fenômeno, vamos responder a três perguntas:1. O que é a Teoria da Administração Científica?2. Qual seu impacto no universo do trabalho e das estruturas

produtivas?3. Como tais ideias ultrapassam os muros da fábrica e afetam o

conjunto das relações sociais?

1. A biografia de Frederick W. Taylor (1856-1915)Imagens: Taylor por volta de 1920, à esquerda (domínio público). Capa de uma edição em língua inglesa de sua obra The principles of Scientific Management [Princípios da Administração Científica]. Dover Publications, 1997 [1911].

Frederick Wislow Taylor [1]

A grande figura da Administração Científica foi o engenheiro Frederick W. Taylor (1856-1915). Vejamos sua biografia:● Aprendiz de maquinista na Enterprise Hydraulic Works entre 1874 e

1878 (fabricação de bombas hidráulicas) na Philadelphia (EUA);● Começou como trabalhador de máquinas na Midvale Steel Works

(metalúrgica) e terminou como Engenheiro Chefe (1878 – anos 1880);

● Taylor se tornou estudante do Instituto de Tecnologia Stevens, realizou seus estudos por correspondência e obteve o título de engenheiro mecânico (1883);

● Trabalhou como consultor independente de 1893 em diante;

Frederick Wislow Taylor [2]

● Recebeu o título honorário de Doutor em Ciências pela Universidade da Pensilvânia (1906). Também se tornou professor na Tuck School of Business (Dartmouth College).

● Trabalhos publicados por Taylor:○ Shop Management (Administração de Oficinas), 1903;○ Princípios de Administração Científica, 1911.

Taylor, engenheiro por experiência e formação, pode ser considerado um dos pais da moderna Administração. Desse modo, a Administração, como área do conhecimento, foi fundada com influência direta da engenharia.

2. Características fundamentais da Administração Científica

A ascensão da Administração Científica e do taylorismo

Período de ascensão da Administração Científica e taylorismo: início do século XX, entre as décadas de 1900 e 1930. Esse período corresponde à transição do modelo artesanal, com trabalhadores autônomos e altamente capacitados PARA:● Trabalhadores adestrados para posterior integração em

processos produtivos disciplinados;● Operários desprovidos de qualificações e dos meios de

produção;● Produção com partes intercambiáveis;● Linha de montagem (destaque para Henry Ford).

Características fundamentais da Administração Científica [1]

Os problemas que Taylor queria atacar:

● “Vadiagem”/estratégias defensivas dos operários;● Desconhecimento pela gerência das rotinas de

trabalho e do tempo necessário para sua realização;

● Falta de uniformidade das técnicas e métodos de trabalho.

Características fundamentais da Administração Científica [2]

Abordagem de Taylor para solução desses problemas:● Foco nos operários/indivíduos e nas tarefas de uma organização;● Divisão do trabalho e especialização do operário;● Quebra/fragmentação de tarefas até a mais simples possível;● Separação radical entre trabalho mental e físico;● Padronização de métodos e de máquinas:

○ Há um modo e apenas um modo correto de realização de cada atividade produtiva;

○ Correta calibragem e disposição das máquinas em uma sequência lógica (ainda não se trata da linha de montagem);

● Incentivos salariais e prêmios de produção;● Supervisão constante.

Na imagem ao lado, do filme Tempos Modernos (1936), temos uma representação caricatural da ideia de fiscalização opressiva do trabalho em regimes tayloristas de produção. Imagem: domínio público.

O taylorismo não prevê, em princípio, a linha de montagem (embora ela vá aparecer no contexto do fordismo). Trata-se, antes, da ideia mais elementar de colocação de materiais, máquinas e equipamentos em uma disposição racional. Imagem (1925): Western Electric Company Photograph Album, President and Fellows of Harvard College (reprodução para fins educacionais).

Características fundamentais da Administração Científica [3]

Um elemento fundamental para solução dos problemas de produção e para ganhos de produtividade, de acordo com Taylor, era o estudo de tempos e movimentos. Essa abordagem propunha a análise minuciosa de cada atividade desenvolvida pelos trabalhadores, com contagem do tempo gasto, esforço realizado e fadiga acumulada. A abordagem resultante dos estudos de tempos e movimentos propunha:● Tempos cronometrados e trabalhadores sempre fiscalizados;● Ênfase na sequência correta de movimentos para realização

de uma tarefa;● Reeducação do corpo do trabalhador.

Um operário na Tabor Company por volta de 1905 - empresa onde as teorias de Taylor foram aplicadas na prática. Detalhe das fichas de instruções sobre o trabalho. Imagem: Wikimedia Commons.

Estudo da eficiência de movimentos realizado por Frank Gilbreth (discípulo de Taylor), por volta de 1914. Imagem: National Museum of American History.

Ciclograma produzido por Aleksei Gastev no Laboratório do Instituto Central do Trabalho (produzido entre 1922 e 1924 em Moscou, Rússia). Uma mostra do impacto do taylorismo e do fordismo na União Soviética. Imagem: domínio público.

Administração científica: a disciplina do corpo

Assim, a abordagem da gestão proposta por Taylor estabelece a necessidade de reeducar o corpo do trabalhador. Não há espaço para improvisação ou definição de um ritmo próprio, é preciso seguir uma sequência de tempos e movimentos determinada como a ideal. Sai de cena a atividade criativa ou a noção de um esforço dotado de sentido e possibilidade de realização. Dos indivíduos rigidamente adestrados e fiscalizados, o que se espera é a obediência e o dispêndio eficiente de energia em atividades repetitivas.

3. Consequências da aplicação da Administração Científica e o surgimento do taylorismo

A charge acima mostra a “regulagem” dos trabalhadores da Ford para que se adaptem a uma jornada semanal de 5 dias. Imagem: Changing the Works in Ford Employees to Five-Day Movements. The Labor Age, February 1927, p. 1. Domínio público.

Consequências dessa forma de gerenciar o trabalho [1]

● Aumento brutal da produtividade;● Força de trabalho perde as habilidades genéricas

manuais;● Absenteísmo (ausência no trabalho);● Elevado turnover;● Em termos comportamentais:

○ Acefalia e falta de visão crítica;○ Apatia e passividade;○ Baixo grau de envolvimento e responsabilidade.

Consequências dessa forma de gerenciar o trabalho [2]

Mesmo com tantos efeitos colaterais, o sucesso da teoria de Taylor, que resultou no fenômeno social e cultural do taylorismo, foi fundamental para criação de um mercado de massa e da produção em massa:● Taylor criou o trabalhador adestrado necessário à

massificação;● Ford criou os processos produtivos necessários à

massificação (destaque para a linha de montagem).

Críticas à Administração Científica● Mecanicismo;● Superespecialização do operário;● Visão microscópica do homem;● Abordagem incompleta da organização;● Importante: ausência de comprovação científica.Trata-se de um modelo pouco dinâmico e que, em médio prazo, corrói a motivação do trabalhador - na medida em que torna seu trabalho mecânico, repetitivo e pouco significativo. Além disso, tal teoria não consegue enxergar a empresa como parte de uma rede - ela se limita a atuar dentro dos muros de cada instituição em particular.

Essa imagem, do filme Tempos Modernos (1936), contém uma crítica contundente ao taylorismo. O personagem de Chaplin não morre, ao ser engolido pelas engrenagens, justamente porque não é mais um humano: ele próprio se converteu em máquina, em mais uma peça do aparato industrial. Imagem: domínio público.

Méritos da Administração Científica

● Lançou uma pauta fundamental: a necessidade de pensar a produção industrial – e o trabalho – de modo mais amplo e científico;

● Racionalização e aumento da produção.

Taylor merece reconhecimento por ter sido pioneiro ao tentar pensar a produção de modo racional e a administração como uma disciplina científica. Embora sua obra possua grandes limitações, é inegável que todos que lhe sucederam, nos campos da administração e gestão, são devedores das suas ideias.

Organizações resultantes do taylorismo [1]

O taylorismo é o movimento social e cultural que se espalha pela sociedade a partir da transformação da gestão operada pelas teorias de Taylor:● Aprofunda-se a racionalização e modernização das práticas

produtivas - e, consequentemente, das práticas sociais. Sai de cena a improvisação e começa a ganhar corpo a prática do cálculo e planejamento;

● A atividade produtiva passa a ser formalizada: há um método; cartões explicativos das atividades dos operários; métricas para medição da produtividade; etc.

Organizações resultantes do taylorismo [2]

A maior preocupação de Taylor estava voltada ao chão da fábrica, de modo que ele não se aprofundou em modelos mais amplos de organização corporativa. Ele trata do operário, do fiscal e do engenheiro, não avançando muito além disso. De seus textos não resulta um tipo definido de organização, mas um tipo específico de chão de fábrica. Ele “cria” o trabalhador que será o padrão a preencher as linhas de montagem do fordismo: dedicado a tarefas repetitivas e pouco significativas, de muito esforço físico e pouca atividade mental, em uma estrutura de comunicação autoritária.

Organizações resultantes do taylorismo [3]

Assim, a “organização taylorista” não se define tanto por um organograma específico. Não emerge, dos postulados de Taylor, uma visão clara das empresas e/ou uma estrutura definida. O taylorismo se debruça sobre a gestão do trabalho e a criação de um tipo específico de trabalhador - daí, portanto, sua maior preocupação com as figuras do operário, do supervisor e do engenheiro. A definição da organização formal e a proposição de modelos de burocracias administrativas virão posteriormente. Por um lado, temos a contribuição de teóricos da administração como Henri Fayol. De outro, as organizações derivadas do paradigma fordista e seus desdobramentos.

4. O taylorismo como fenômeno social e cultural de amplo alcance

O que é, enfim, o taylorismo? [1]

O taylorismo é um resultado direto da racionalização dos processos econômicos durante a consolidação do capitalismo industrial e sua articulação com o capitalismo financeiro. Essa racionalização, no entanto, carece de conteúdo ético. A busca de eficiência global, pelo ganho sobre o trabalho de cada indivíduo, impõe uma perda existencial relevante. O trabalho torna-se radicalmente fracionado, fiscalizado e orientado, com demandas de produtividade muito exigentes. O termo taylorismo passou a ser associado a atividades laborais desgastantes e pouco significativas. Organizações tayloristas enxergam o homem como um autômato, não um ser de criação.

O que é, enfim, o taylorismo? [2]

O taylorismo gerou reações entre trabalhadores e suas entidades representativas. Para os sindicatos, ficou evidente se tratar de um modo de aumentar as margens de lucro das empresas às custas do aumento da exploração do trabalho. De fato, esse modelo disciplinar e disciplinador converte o chão de fábrica em um espaço de acefalia e sofrimento. Trata-se do sofrimento do corpo que oferece crescente energia à produção e do cérebro que não recebe recompensa nem estímulo adequados.

O que é, enfim, o taylorismo? [3]

O taylorismo é, por fim, um produto de seu tempo - quando o ímpeto empreendedor percebeu a necessidade de organização da produção. Fruto do ganho de complexidade das atividades econômicas - na transição entre os séculos XIX e XX - e da urgência de formação de mão de obra, ele deixou marcas que extrapolaram os processos de gestão e os muros das fábricas:● Criação de uma rotina de vida dependente dos horários e

necessidades das empresas;● Formação de laços de solidariedade entre trabalhadores;● Início da preocupação com a formação dos filhos para

ocupações mais significativas e rentáveis.

Bibliografia

BibliografiaCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: Edição compacta. 4ª ed. Barueri (SP), Manole, 2014. Disponível na biblioteca eletrônica: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788520440452>

DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho. Rio de Janeiro, José Olympio, 2001 [1999].

MORRIS, Charles R. Os magnatas. Porto Alegre (RS), L&PM, 2009.

WOOD JR, Thomaz. Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. In: Revista de Administração de Empresas. São Paulo, EAESP/FGV, vol.32, n.4, 1992, pp. 6-18.

Muito obrigado por sua atenção!

Profº Me Antonio Gracias Vieira Filho

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