aula 1 - seminário avançado mediação pedagógica
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Seminário avançado mediação pedagógica
Curso de Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
Lílian Anna Wachowicz
Aula 1
www.grupouninter.com.br
Dezembro/2009
Coordenação Geral do Projeto Gráfico
Coordenação Geral e autoria do projeto
Juliana Cristina Faggion Bergmann
Onilza Borges Martins
Revisão Editorial Juliana Cristina Faggion Bergmann
Autoria Lílian Anna Wachowicz
Diagramação Elaine Yanaguiak
Diretor-Presidente Wilson Picler
Capa
Análise Pedagógica Onilza Borges Martins
Projeto Gráfico Marcelo Weige Camargo
Marcelo Weige Camargo
Mauro do Couto Costa Filho
Elaine Yanaguiak
Elaine Yanagui
Titulação:
Principais experiências profissionais em educação:
Livros publicados:
Pós-doutorado (1991):
Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), Espanha.
Doutorado em Educação (1981):
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Brasil.
Mestrado em Educação (1977):
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Brasil.
Magistério no Ensino Médio — Curso de habilitação para o magistério/Instituto de Educação
do Paraná — 18 anos
Magistério nos cursos de Pedagogia e Licenciatura — UFPR — 12 anos
Magistério no Mestrado em Educação — UFPR — 12 anos
Magistério no Mestrado em Educação — PUCPR — 12 anos
Magistério no Ccrso de Pedagogia — PUCPR — 2 anos
Magistério no Mestrado em Educação — UEPG — 6 anos
Diretora superintendente da FUNDEPAR — 2 anos
Diretora do Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais da SEEDPR
Membro titular do Conselho Estadual de Educação do Paraná, terceiro mandato em vigência.
O método dialético na didática. 4. ed. Campinas: Editora Papirus, 2001.
A relação professor/Estado. São Paulo: Editora Cortez, 1984.
A interdisciplinaridade na universidade (Org.) Curitiba: Editora Champagnat, 1998.
Pedagogia mediadora: a reforma de uma ilusão. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2009.
Apresentação do professor
Plano de ensino
Curso de especialização para formação de docentes e de orientadores acadêmicos em EaD
Ementa: Concepção de mediação pedagógica nos processos educativos. A educação a distância e os proces-
sos interdependentes e interativos na (re)construção do conhecimento.
Docente:
Lílian Anna Wachowicz
Disciplina: Seminário avançado mediação pedagógica
1Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
Seminário Avançado Mediação Pedagógica1Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
Seminário Avançado Mediação Pedagógica
Atividade Inicial:
Objetivos:
Essa aula se propõe a introduzir, no pensamento dos alunos, os conceitos de mediação pedagógica
no contexto da cultura escolar e da sociedade na qual a escola é mantida como instituição. Para
isso, utiliza o método histórico e a lógica dialética.
Concepção de mediação pedagógica nos processos educativos.
Ao fi nal da aula, os alunos serão capazes de apresentar o conceito de mediação pedagógica e
os principais elementos que constituem esse processo, a saber: diversidade, conhecimento,
complexidade, aprendizagem e desenvolvimento da inteligência.
Titulo:
Meta da Aula 1:
Leitura de todo o texto por duas pessoas, na forma de diálogo. Ou por dois grupos
de pessoas, alternados, como numa espécie de jogral, sem interrupção para a
realização das atividades.
MEIRIEU, P. (1998) Aprender... sim, mas como? 7. ed. Porto Alegre: Artes Médicas.
POZO, J. I. (1998) Teorias cognitivas de aprendizagem. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas.
SOUZA, A. M. M., DEPRESBITERIS, L.; MACHADO, O. T. T. A mediação como princípio educacional.
Bases teóricas das abordagens de REUVEN FEUERSTEIN. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2004.
WACHOWICZ, Lílian Anna. Pedagogia mediadora – a reforma de uma ilusão. Petrópolis, RJ: Vozes,
2009.
Leitura complementar da aula 1:
Referências bibliográfi cas
Aula 1
2Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
Seminário Avançado Mediação Pedagógica2Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
Seminário Avançado Mediação Pedagógica
Índice das seções
Introdução:
Seção 1:
Seção 2:
Seção 3:
Seção 4:
Seção 5:
Seção 6:
Seção 7:
Seção 8:
Seção 9:
Seção 10:
O objeto do trabalho do professor é o conhecimento..................................................p. 3
A diversidade e a cultura....................................................................................p. 5
A história da escola como instituição social...............................................................p. 7
O método para entender as contradições na história...................................................p. 9
A lei do mercado e as escolas brasileiras.................................................................p. 12
A educação a distância e a mediação pedagógica.......................................................p. 16
As fontes para o ensino......................................................................................p. 18
Os instrumentos para a mediação pedagógica...........................................................p. 20
Uma teoria de aprendizagem fundamentada na mediação.............................................p. 21
Categorias da teoria de aprendizagem....................................................................p. 23
O desenvolvimento humano é social.......................................................................p. 24
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica3Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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O que é aprendizagem mediada?
Quem faz a mediação, o professor ou o aluno?
Então o aluno é o mediado e o professor o mediador?
Já ouvi dizer que a melhor maneira de aprender é ensinar.
O que são nexos internos?
Por exemplo?
É a conquista do conhecimento realizada pelas pessoas individualmente, ou seja, cada
pessoa aprende por si mesma.
Mediado é quem aprende ou quem realiza o processo da mediação. Mediador é quem
promove a mediação.
Pode ser. Mas é preciso lembrar que o professor também aprende enquanto ensina.
É bem isso, porque, para ensinar, é preciso compreender os nexos internos do conteúdo
que se está aprendendo.
São as conexões que existem entre os conhecimentos, em todas as áreas do conteúdo da
cultura. Só quando você consegue compreender como se relacionam os conhecimentos
de determinado tema é que aprende aquele conteúdo.
A chuva. Por que chove? É um fenômeno natural, mas existe uma explicação teórica
que, em si mesma, não faz sentido. Só faz sentido quando relacionamos a explicação
com suas várias causas.
A pedagogia trabalha com a aprendizagem e a mediação
pedagógica trabalha com a aprendizagem mediada.
Sim, mas nunca existe somente uma reposta. Sempre são várias e é por isso que a
aprendizagem não é simples. A aprendizagem é complexa não só porque trabalha com
várias respostas, mas também porque se passa na mente das pessoas.
Então a explicação é a resposta a um porquê?
Introdução: O objeto do trabalho do professor é o conhecimento
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Atividade 1:
Dá muito trabalho para a inteligência das pessoas. Seria mais fácil fazer como os povos
antigos faziam. Eles diziam que os deuses estavam com raiva das pessoas e as castigavam
com esses fenômenos naturais...
Sim, a televisão dá a notícia dos fatos. Mas as explicações para esses fatos só a escola
pode dar, porque depende do entendimento.
E não dá muito trabalho entender o porquê?
É o que os psicanalistas chamam de pensamento mágico. É muito mais fácil do que tentar
compreender as explicações da ciência... Então existem muitos tipos de pensamento.
É verdade. Mas isso foi há mais de mil anos. Só que até hoje há pessoas
que pensam assim.
Isso mesmo. E é por esse e por outros motivos que as culturas de cada povo são
diferentes.
Como? Já sei: mais de cinco bilhões de pessoas no planeta não podem
pensar todas do mesmo jeito.
Escreva um exemplo de conhecimento explicado pelos seus nexos internos.
Pode ser qualquer conhecimento sobre o qual você já tenha domínio. Por
exemplo: por que é preciso deixar o feijão de molho antes de cozinhar?
As notícias que são transmitidas pela televisão...
No mesmo caso, da chuva, não basta explicar o fenômeno da condensação do vapor. É
melhor começar pelo que está acontecendo no mundo: chuvas torrenciais em algumas
regiões, secas em outras, enchentes, frio ou calor intenso.
Por exemplo?
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica5Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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É a capacidade de ser diferente, inerente a todas as pessoas e também a todas as
culturas, porque estas são compostas de pessoas que vivem em sociedade. Ao longo dos
anos e séculos, o signifi cado da vida em cada sociedade é construído por pessoas que
têm uma identidade comum em cada local.
Há cinco bilhões de pessoas no planeta, vivendo em cinco continentes diferentes. Cada povo
tem sua maneira de ser, a que chamamos cultura, e as culturas de cada povo são determinantes
do sistema de educação. É uma das manifestações da chamada diversidade.
Veja o exemplo da escola. A escola, tal como a conhecemos hoje, tem uma longa
história, que foi preparada por acontecimentos anteriores a ela. O primeiro desses
acontecimentos foram as invenções e as descobertas marítimas do século XV no
Ocidente. Com elas, surgiu uma nova classe social, a dos comerciantes, que viviam
da atividade de trazer do Oriente e vender mercadorias necessárias e não existentes
nas terras conhecidas, como as especiarias. Os povos orientais conheciam muito mais
do que os do Ocidente. Das Índias vieram as especiarias e os tecidos, da China veio a
pólvora, e assim por diante.
Na verdade, foram três fatos, mas estou apresentando os dois primeiros, os
descobrimentos e as invenções, como um só, porque os efeitos desses dois fatos é que
produziram um grande acontecimento no século XV: a possibilidade de expandir o mundo
conhecido para outros continentes, para um espaço muito maior. E a nova classe social
levou pelo menos dois séculos para consolidar-se e fortalecer-se. Surgiram os burgos
como núcleos de população junto às aldeias existentes, principalmente nos territórios
que hoje correspondem à França, à Inglaterra, à Alemanha, à Espanha e a Portugal. O
mundo inteiro foi fi cando diferente. Até então, a organização social era extremamente
fechada em duas classes das quais não se podia sair e às quais se pertencia desde o
nascimento: a nobreza, com os senhores feudais e suas famílias, ou os servos, que
trabalhavam em condições de extrema exploração, quase como escravos, nas terras
dos senhores feudais.
Espere, espere! Você já me deu três acontecimentos importantes: as
invenções, as descobertas e o aparecimento de uma nova classe social.
Vamos mais devagar?
O que é diversidade?
Também é por isso que a ciência mãe de todas as outras é a história?
Seção 1: A diversidade e a cultura
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica6Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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Tudo a ver, você vai ver. E também tem tudo a ver com o método histórico. Como
eu já disse antes, nunca um acontecimento tem uma só causa. São vários fatores
que acontecem num tempo determinado, e a forma como esses acontecimentos se
relacionam é que faz surgir um acontecimento novo, que chamamos histórico.
Em geral, um historiador. Pode ser um jornalista... Ou uma pessoa que tenha o
conhecimento dos fatos e seja capaz de interpretá-los. Mas vamos em frente: com o
fortalecimento da classe dos comerciantes ou burgueses, organizaram-se reações a tal
ordem de coisas, sendo a Revolução Francesa, que ocorreu em 1789, a máxima expressão
da nova ordem social, por esse motivo também chamada de Revolução Burguesa.
Não. Fatos são o que acontecem, sem interpretação. Acontecimentos são o registro
histórico dos fatos interpretados pela pessoa que os registra.
Claro que sim! E em história o surgimento da escola é considerado recente, porque tem
só cerca de 200 anos...
Na história, é preciso muito mais para se formar uma cultura.
Sim, mas, como toda cultura, sempre está sendo transformada.
Exatamente. É a chamada metáfora da chave da anatomia do macaco: a humanidade
somente compreendeu a anatomia do macaco quando estudou a anatomia do homem.
O que tem isso a ver com a história da escola?
A escola é um acontecimento histórico?
Mas é muito tempo!
A cultura escolar já está formada?
Por isso é que é preciso entender como ela surgiu?
E por que voltar?
Porque a versão atual de uma cultura contém todas as versões anteriores e por isso uma
cultura é tão complexa que, para entendê-la, é preciso recorrer às suas origens.
Responda a duas perguntas: Por que os descobrimentos e as invenções do século XVI
fi zeram aparecer a escola? E por que a escola somente apareceu depois da Revolu-
ção Burguesa, dois séculos depois?
Atividade 2:
Que pessoa?
Fatos e acontecimentos não são a mesma coisa?
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica7Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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Seção 2: A história da escola como instituição social
Ao mesmo tempo em que a classe burguesa se afi rmava como mais forte, em outro país
do Ocidente, na Alemanha, preparava-se a Reforma Protestante, liderada por um frade
chamado Martin Luther, Lutero para nós.
Então, além do surgimento dos burgos, o que aconteceu para que
a escola surgisse?
Mas a Reforma Protestante é um acontecimento religioso. E a formação
dos burgos é geográfi ca...
Aí é que começa a complexidade: nós separamos as áreas do conhecimento em vários
campos: geografi a, economia, religião, política..., porém, os acontecimentos envolvem
todas elas, ou melhor, não se alinham uma na outra. Nós é que alinhamos a realidade
nesse ou naquele campo do conhecimento. E justamente com essa separação dos
campos de estudo é que trabalhamos nas escolas, pensando que estamos trabalhando
com a realidade.
Nunca se esqueça do que já vimos: nunca é só uma causa. Essa é apenas uma das
causas, mas existem muitas outras. E também nunca se esqueça de que não são as
causas que fazem os acontecimentos aparecerem num tempo determinado, mas sim as
relações entre elas.
Então é por isso que o que aprendemos na escola é tão diferente do que
presenciamos na vida?
É mesmo: as perguntas que temos podem ser simples, mas as respostas nunca o são.
Se quisermos dar respostas simples, vamos reduzir o entendimento da realidade a uma
coisa artifi cial.
É muito complicado...
E por que precisamos tanto conhecer?
Para não apelar para as soluções mágicas, como as dos povos antigos. É preciso um
pouco de magia para viver bem, mas não do tipo que aprisiona nossa inteligência aos
azares da sorte...
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica8Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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A Reforma Protestante aconteceu no primeiro quartil do século XVI e pregava, contra
a Igreja Católica, que a salvação das almas dependia de cada pessoa, e não das
indulgências que a Igreja preparava e vendia na época para as pessoas que podiam
comprá-las. De acordo com os protestantes, para conquistar a salvação de sua alma,
cada pessoa deveria ler a Bíblia, principalmente os evangelhos, e orientar-se pelos seus
ensinamentos.
Mas a leitura individual da Bíblia não era possível sem sua tradução para a língua natural
de cada país e principalmente sem sua publicação em grande escala, o que somente
foi possível pela invenção da imprensa por Gutemberg, no século XV. Antes disso, os
livros eram escritos à mão e copiados em pergaminhos apenas nos mosteiros, pelos
copistas (monges cujo trabalho era copiar livros), que reproduziam principalmente
livros sagrados. Por esse motivo, a população, em sua quase totalidade, não sabia ler
nem tinha acesso aos livros.
Então vamos em frente.
Espere: agora já apareceu outro acontecimento, a invenção da imprensa.
Isso mesmo: esses três fatores, que aconteceram na história ao mesmo tempo, fi zeram
surgir uma instituição social chamada escola. Por um lado, a classe burguesa, ao se
fortalecer, tomou a instrução como uma forma de ascensão social, a qual somente se
tornou possível com a Revolução Francesa e a nova ordem social que, aos poucos, foi
sendo estabelecida nos países do Ocidente.
Atividade 3:
Em que aspectos a Reforma Protestante contribuiu para o
aparecimento da escola? O primeiro fator foram as invenções e
descobertas, porque o mundo fi cou maior e a imprensa permitiu
que os livros fossem impressos e multiplicados. O segundo foi a
Revolução Francesa, ao criar uma nova ordem social, na qual as
pessoas podiam mudar de classe. E a Reforma Protestante, em que
contribuiu?
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica9Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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Correto. Mas não esqueça que o registro dos fatos tem a interpretação de um sujeito,
e por isso a história é objetiva porque aconteceu, mas também é subjetiva porque é
interpretada por um sujeito.
Agora é que eu entendi a diferença entre fatos e acontecimentos.
Os acontecimentos são o que fazem a história, que você chamou de
fatores.
Por favor, não complique mais ainda! Objetiva e subjetiva ao mesmo
tempo? Como a história pode ser assim?
Instituições?
E a escola?
Porque ela registra a vida da sociedade no tempo. Imagine a vida de uma pessoa, que
já é tão complexa. Agora imagine a vida de uma sociedade, que tem múltiplas relações
entre as pessoas e cria ao longo do tempo instituições para cuidar disso...
Sim, instituições sociais como a família, a escola, a igreja, os hospitais... São formas
sociais que existem para regular as relações entre as pessoas na sociedade. E tem mais
um detalhe: cada sociedade faz suas instituições segundo sua cultura. Por isso é que
a família, por exemplo, tem um signifi cado aqui no Brasil, outro na Índia, outro na
China.
Também. A história que estou lhe contando é a história da escola no Ocidente. Estou
fazendo isso porque é nesse contexto que vivemos.
Cada grupo social faz uma seleção dos signifi cados de sua vida para compor uma cultura.
Com o tempo, esses signifi cados se consolidam e se tornam senso comum, como se
fossem naturais.
O que é a cultura?
E não são naturais?
Não, eles são culturais.
Qual a diferença entre natureza e cultura?
Natureza é o que existe antes e independentemente das pessoas. Cultura é o signifi cado
que se atribui ao que acontece na sociedade, ao longo do tempo.
Seção 3: O método para entender as contradições na história
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Vamos voltar à história da escola?
Dizemos que, por um lado, a instrução virou bandeira da nova ordem social, no sentido
de fazer as pessoas acreditarem que poderiam ascender socialmente por meio da
escola. Por outro lado, a Reforma Protestante valorizou o aprendizado da leitura, para
que a população tivesse condições de estudar individualmente as Sagradas Escrituras.
Finalmente, a invenção da imprensa tornou possível essa difusão da Bíblia e, aos poucos,
de muitos outros livros.
Mas você disse antes que o tempo é que estabelece as relações entre
os fatos. Então, como pode um acontecimento do século XV, que foi a
invenção da imprensa, juntar-se a outro acontecimento do primeiro
quartil do século XVI, que foi a Reforma Protestante, para fazer aparecer
a escola?
É que estamos falando do tempo histórico, não do tempo de cada um. O tempo histórico
se expressa em séculos, é o tempo que a sociedade precisa para ter as condições reais
para os fatos acontecerem.
Mas a Revolução Burguesa foi somente no fi nal do século XVIII!
É que a Revolução Burguesa ocasionou uma grande mudança na ordem social e política,
que é mais complexa ainda do que as mudanças técnicas e religiosas. A escola depende
de uma política pública, por isso é que somente a nova ordem social permitiu o
aparecimento da escola para todos, ou melhor, pelo menos na proposta, era para ser
para todos...
E não foi para todos? Se era para cada um salvar a sua alma, tinha que ser
para todos...
Pois aí está o que apontamos como outra categoria central do método histórico: a
contradição. A revolução tinha por lema a igualdade, a liberdade e a fraternidade. Foi
uma grande inovação para a época, mas no decorrer desses mais de duzentos anos, a
história se revelou cheia de contradições.
A cultura parece ser importante para a existência da escola...
É a primeira instância da mediação pedagógica: a mediação da cultura. Tudo passa por
ela.
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A escola foi usada para deixar as pessoas pensarem que poderiam ascender
socialmente por meio do estudo?
Exatamente. E de certa forma é verdade, podemos ascender socialmente pelo
conhecimento. Mas não é assim automaticamente, porque a ordem social tem
desigualdades, a liberdade não dá conta de superá-las e a fraternidade não existe em
nível importante, para ser modelo de sociedade.
Por exemplo?
As leis do mercado: todo mundo sabe que para vencer uma concorrência é preciso antes
derrubar os concorrentes. Mas isso é o contrário do que dizia o ideal de fraternidade,
igualdade e liberdade.
O que é liberal?
A nova ordem social era o liberalismo, segundo o qual cada pessoa poderia ascender
socialmente. Não era mais como antes, quando quem nascia servo morria na servidão e
quem nascia nobre morria na nobreza.
A escola não obedece às leis do mercado?
Em geral, não. Mas no Brasil apareceu um tipo de escola-empresa que segue, sim, as
leis do mercado.
E como é que fi ca?
Não fi ca. O que se faz ali não tem mais a mesma natureza da educação escolar que
fez a escola aparecer na sociedade e fortalecer-se como instituição social. Por isso
nos limitamos somente a compreender a história, para ao menos nos libertarmos dos
enganos que nos cercam.
E como fi ca a história da escola?
Durante muito tempo, a escola fi cou no discurso dos políticos. Até mesmo usada como
uma bandeira para conseguir o apoio da população, a escola aparece na história como
uma ilusão liberal.
Por quê?
Porque o motivo principal da Revolução Burguesa foi o comércio e o surgimento de uma
nova classe, a dos burgueses ou comerciantes. E o que tinha valor para essa nova classe
era a moeda de troca e não a salvação da alma...
Atividade 4:
Por que é necessário
destacar as contra-
dições para utilizar
o método histórico?
E a crítica que disso
resulta, para que
serve?
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica12Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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Voltando ao século XVIII!
O século XVIII foi chamado de século das luzes, porque a fé, que antes era vista como
determinante para o destino das pessoas, foi substituída pela razão, que a partir da
Revolução Francesa passou a ser o parâmetro da organização social.
Isso tudo é muito complicado...
Claro está que nenhum desses acontecimentos foi simples na sua expressão social, e
principalmente nas relações que se estabeleceram entre eles. Essas relações no tempo
e no espaço se revelaram extremamente complexas. As consequências foram muito
fortes e até hoje se podem perceber os resultados dessas relações estabelecidas séculos
atrás. Uma dessas consequências históricas é que, nos países que adotaram a Reforma
Protestante, o Estado e a Igreja Luterana sempre se mantiveram associados nas políticas
públicas, entre as quais situamos a da educação escolar.
Por isso é que até hoje, na Alemanha, não existem escolas particulares?
Em países de tradição católica, como a Espanha, existem escolas particulares
confessionais, escolas concertadas e escolas públicas. Nas escolas concertadas, toda a
estrutura do ensino é particular, menos o pagamento dos professores, que é feito pelo
Estado, que assim controla a política pública da educação. As relações de trabalho do
professor são mantidas nessa esfera, das políticas públicas.
Isso pode ser bom...Na verdade, é uma grande diferença, porque o professor fi ca mais livre para cumprir o
papel de mediador.
Mais livre?
Sim, a escola tem sempre um ideário e, por natureza, esse ideário é voltado para
a educação, que é o contexto no qual o professor trabalha. Se as leis do mercado
atingirem o trabalho do professor, não há como ele ter liberdade para cumprir o ideário
da educação.
Seção 4: A lei do mercado e as escolas brasileiras
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica13Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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É isso que acontece? As leis do mercado mandam no trabalho do
professor?
Então no Brasil a escola tem uma boa história...
Agora a criança tem de fi car na escola durante nove anos?
Em algumas escolas, sim. No Brasil, desde sua colonização pelos portugueses, a escola foi
mantida por ordens religiosas no princípio católicas, principalmente jesuítas. Somente
no século XIX as escolas foram sendo organizadas pelo Estado na época imperial e, desde
a proclamação da República em 1889, por um governo leigo e adepto das proposições
do século das luzes, voltado para a racionalidade e para a caracterização da educação
escolar como forma de ascensão social.
Não tanto, porque a ascensão social era apenas uma bandeira utilizada pelos governos,
que na realidade não criavam escolas sufi cientes e muito menos com qualidade. Somente
no fi nal do século XX, com a aprovação da mais recente Constituição da República , em
1988, a educação escolar passou a ser vista como um direito público subjetivo, ou seja,
como uma atribuição do Estado, que deveria proporcionar a todo cidadão brasileiro
condições para frequentar a escola e ali permanecer no mínimo durante oito anos, mais
tarde ampliados para nove anos.
Desde 2006, a população brasileira tem o direito de frequentar a escola durante nove
anos. É a chamada escolaridade obrigatória: dos seis aos catorze anos de idade.
E a mediação pedagógica, mudou?
Nos conteúdos, deveria mudar, porque ocorre nesse ínterim o avanço das ciências e os
currículos escolares vão sendo modifi cados, atualizados e aperfeiçoados, porém sem
conseguir acompanhar o avanço acelerado do conhecimento. Por outro lado, as teorias
de aprendizagem e o aparecimento da pedagogia e das licenciaturas vão conseguindo
seus espaços na comunidade científi ca, que reconhece a necessidade da formação de
professores em nível superior em todo o país, desde a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), em 1996.
Essa história já está muito comprida, é difícil entender tanta coisa. O
que tem a ver tudo isso com a mediação pedagógica?
A mediação pedagógica acontece em vários níveis: o primeiro é da cultura em relação à
aprendizagem. Tudo depende da cultura, na sociedade onde está a escola. Outro nível
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica14Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
Seminário Avançado Mediação Pedagógica
A política pública depende das leis do mercado?
Deve ser por isso mesmo que algumas escolas, quando saiu a lei dos nove
anos obrigatórios, em 2006, só trocaram as plaquinhas na porta das salas:
tiraram o Pré III e colocaram o Primeiro Ano. Mas isso é como pensar que
os deuses provocam as tragédias ecológicas...
Mais ou menos.
É isso mesmo. Não há outra forma de escapar dessa ignorância se não for pelo
conhecimento, com a intencionalidade de aprender e compreender.
Lá vem você com mais um elemento nesse emaranhado:
a intencionalidade...
Pois é: se não houver a intenção, não há vontade sufi ciente para a transformação.
Estou lhe apresentando os acontecimentos nas suas relações. E não se preocupe: sua
inteligência vai se acostumando a acompanhar o movimento que o conteúdo faz, ao se
apresentarem as conexões. De repente, o signifi cado vai fi cando claro, por mais difícil
que seja.
é da escola na sociedade, como política pública. E, fi nalmente, o nível da sala de aula,
onde o mediador é o professor e os alunos são os mediados. Não adianta querer entender
a mediação que acontece na sala de aula sem compreender a escola na sociedade, nem
a sociedade sem sua cultura própria.
Quer dizer que fi camos menos inteligentes se não acompanharmos esse
tecido?
É uma boa palavra, essa do tecido: estamos tecendo as relações entre os fatos. Veja bem:
como num tecido, é preciso fazer os nós, nada pode fi car solto. O tecido é um só, mas
os fi os são muitos, de muitas cores e espessuras. Tudo junto. Estou agora introduzindo a
história da formação de professores no Brasil, porque tenho uma intenção clara, que é
falar sobre a importância de um profi ssional formado para trabalhar na escola.
Deve ser importante mesmo, se a mediação pedagógica é feita por ele...
Não só por ele. O mediado é quem faz o processo, lembre-se disso. O professor só dirige
esse processo, é ele quem dá a direção.
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica
Então é preciso um professor para fazer a mediação pedagógica?
Então há vários personagens: pais, alunos, funcionários, professores e o
pedagogo...
Claro! Claríssimo! Veja bem: o curso de Pedagogia em nível superior surgiu no Brasil em
1939. Nos setenta anos de sua história, vem trabalhando na defi nição do papel social
do educador escolar e ultimamente ampliando o espaço desse profi ssional para outras
áreas, como administração, saúde, arte e informática. Enquanto isso, a escola vai
demonstrando modifi cações trazidas pela evolução social, porém mantendo-se como
instituição social destinada a proporcionar à população a instrução necessária para uma
vida com qualidade. Desde o início do século XX no Brasil, organizada em diferentes
grupos de alunos segundo a idade e o aproveitamento escolar, administrada por um
diretor e tendo como principais protagonistas do ensino os professores, os alunos, os
pais dos alunos e os funcionários tanto técnicos quanto administrativos, a escola é
respeitada como uma instituição importante à qual toda a população tem direito de
acesso e permanência.
Atividade 5:
Por que é importante que o trabalho do professor seja
o mais livre possível em relação ao conhecimento?
Tem de ser um pedagogo?
Não, o pedagogo é aquele que organiza o trabalho dos professores na escola. O professor
tem de entender, e muito, o conteúdo que vai ensinar e, ao mesmo tempo, como o
aluno aprende.
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Seção 5: A educação a distância e a mediação pedagógica
Por que então a escola é tão criticada? Vai ver porque ela apareceu dessa
forma já faz mais de duzentos anos...
Já sei. Você já disse: principalmente pela relação de trabalho do professor,
que nessas organizações de mercado passa a ser comandada pelas
mantenedoras, o ensino e a aprendizagem vêm sendo transformados em
mercadorias que atendem ao ideário dos clientes.
Então a fi nalidade da escola foi sendo desvirtuada...
Justamente por essa capacidade de mobilização, a escola foi alvo de muitos interesses
e nossos governos permitiram que a omissão do Estado em criar escolas públicas em
número sufi ciente e com a qualidade necessária favorecesse o aparecimento de uma
organização tipo empresa, destinada à mesma fi nalidade desta, de acesso e permanência
da população ao conhecimento.
É por isso que a questão cultural surge como determinante: porque os principais
clientes da organização particular chamada escola são os pais, na sua maioria de classe
média. Esse ideário contempla a educação escolar como meio de ascensão social e,
recentemente, com a acentuação dos efeitos da globalização, tomou como metas o
sucesso no mundo do trabalho, traduzido por dinheiro e poder, ou infl uências para obter
vantagens pessoais.
Essa é a palavra certa: se a escola foi criada para que as pessoas compreendessem a
realidade e pudessem situar-se nela, imagine agora querer que a escola faça as pessoas
terem sucesso e ganharem dinheiro!
O ensino e a aprendizagem do conhecimento pelos alunos são a principal fi nalidade da escola. No decorrer da
existência desta, essa fi nalidade foi sendo clarifi cada, apontando-se hoje a enorme capacidade que a escola
tem na formação integral das pessoas, tanto em conhecimentos como em atitudes. Não existe outra instituição
social que mobilize tantas pessoas durante 200 dias letivos e 800 horas de trabalho por ano em nosso país.
Se a escola obedecer a essa fi nalidade, servirá apenas para prender a
inteligência dessas pessoas dentro de uma gaiola cheia de pretensões que
raramente se concretizam.
E se ela continuar a trabalhar pela libertação da mente das pessoas, então sua fi nalidade
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E até salvar essas pessoas, pelo menos do estresse.
Que, além do campo específi co do conhecimento, tenha aprendido como
acontece o processo de aprendizagem.
Qual é o papel do mediador pedagógico?
É por isso que pretendo explicar como funciona a escola e nela a mediação pedagógica.
Recentemente, com o avanço das tecnologias, foi criada a modalidade de educação
a distância. E a informática é considerada hoje tão importante quanto a invenção da
imprensa.
Exatamente. E é por isso também que a educação a distância no Brasil foi desvirtuada:
o negócio deixa de ser lucrativo se for necessário manter, em cada sala de transmissão,
um professor preparado para dirigir a aprendizagem e ser o mediador pedagógico.
Dirigir o processo de aprendizagem dos alunos. Não é possível descrever esse processo,
porque cada pessoa tem sua própria estratégia de aprendizagem.
Então a escola vai desaparecer, restando só a tecnologia?Não esqueça que existem outros fatores. A escola não vai desaparecer, apenas se
transformar, como já vem fazendo.
Na educação a distância, por exemplo, não existe mais o professor,
apenas um conferencista e a televisão; como pode acontecer a mediação
pedagógica?
A televisão é só um instrumento. O conferencista também não pode ser o mediador, porque
traz somente as fontes. O mediador, nesse caso, é o tutor. É por isso que a normatização
da educação a distância, no Paraná, exige que o tutor seja um professor.
Mas, então, como é que a mediação pedagógica pode ser feita por uma só
pessoa?
Essa pessoa está presente na sala que recebe as informações e tem sensibilidade o
bastante para movimentar essas informações no pensamento dos alunos, pela palavra
e pelo silêncio.
Atividade 6:
Por que o tutor tem
de ser professor?
será cumprida. Inicialmente criada para que as pessoas pudessem compreender a
Bíblia e salvar suas almas, mais de duzentos anos depois a escola pode libertar, pelo
conhecimento, a inteligência das pessoas.
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Isso está parecendo uma aula...
E é mesmo uma aula: por ela ser construída pelo grupo e dirigida pelo professor, partindo
das fontes que ele tem na sala, não dizemos mais que os professores estão na escola
para dar aulas.
Palavra e silêncio não são contrários?
Sim. E por isso mesmo ambos são necessários. Um grande autor de Didática, Philippe
Meirieu, já dizia que “é preciso despertar no aluno o desejo de aprender e mostrar-lhe
as bases do conhecimento, mas calar-se a tempo, para que os alunos possam decifrar
os enigmas do conhecimento” (MEIRIEU 1998).
E eles vão fazer isso sozinhos?
Então para que eles estão lá?
Aulas não são dadas, mas feitas?
Não, é muito difícil decifrar o conhecimento individualmente. Em geral, eles discutem
em grupo e assim nasce a compreensão daquelas relações entre os fatos.
Para fazer as aulas com os alunos. Em algumas áreas, já é comum dizer “Vou fazer uma
aula de natação” ou “de piano” ou “de direção de carro” na autoescola.
E nunca estão totalmente prontas. Cada aula é feita na hora, durante a mediação
pedagógica.
Os livros, os fi lmes, as teleconferências, o que são?
Fontes para o mediador pedagógico movimentar a inteligência dos alunos. São muito
importantes, mas não podem fazer a mediação pedagógica.
Por quê?
É como uma fonte de água: está lá, jorrando sem parar. Se a água estiver limpa, pode
ser bebida. Mas é preciso ter um copo, um instrumento para pegar a água e beber. E
alguém que saiba se a água está realmente limpa.
Seção 6: As fontes para o ensino
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O que são esses instrumentos?
Já ouvi dizer que os alunos se apropriam dos conhecimentos.
Então o melhor seria dizer que o conhecimento tem de ser conquistado,
não apropriado.
São os procedimentos usados pelo professor para que os alunos tomem os ensinamentos
e os transformem em pensamento próprio.
Sim, é comum dizer isso, mas não é a expressão mais adequada, porque, se você toma
um conteúdo e pensa que se apropriou dele, então você acredita que ele está pronto.
Mas nunca um conhecimento pode ser apropriado de forma pronta. É próprio da natureza
do conhecimento transformar-se quando um aluno se defronta com ele e começa a
processá-lo por meio de sua inteligência. Faz parte da natureza do conhecimento a
transformação em pensamento.
Isso mesmo: conquistar é diferente de apropriar-se, que pode mais parecer capturar do
que conquistar.
Atividade 7:
Agora você já sabe dizer o que é uma aula?
As fontes para o ensino têm de ser “limpas”?
É uma boa palavra, limpas. Os materiais para o ensino têm de estar livres de toda sujeira,
que são os erros de conteúdo. Mas não podemos tomá-los diretamente; precisamos de
instrumentos para isso.
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Seção 7:Os instrumentos para a mediação pedagógica
Posso saber quais são os procedimentos para a mediação pedagógica?Então vamos falar sobre a interação em sala de aula. Esse diálogo que estamos fazendo,
por exemplo, é um procedimento para a mediação pedagógica.
Então já estamos fazendo mediação?
Você pode me dar uma defi nição científi ca da mediação pedagógica?
Vamos por partes: o que quer dizer “exposição direta ao estímulo”?
Então não existe aprendizagem que não seja mediada?
Acredito que sim, e isso é ótimo, porque não adianta apenas falar sobre a mediação;
é preciso vivenciá-la primeiro e depois tirar dessa vivência as explicações teóricas
necessárias.
Claro! Tirei de um livro recente: Na aprendizagem por mediação, a criança não aprende
apenas pela exposição direta ao estímulo, mas por intermédio de alguém que serve de
mediador entre ela e o meio ambiente. A situação mediada consiste numa interação
interpessoal que possui características estruturais especiais. Em vez de relações
causais com diversos componentes fragmentados do meio ambiente, na experiência
de aprendizagem mediada existe um mediador, desempenhando o papel educacional
de atuar sobre o estímulo. O mediador seleciona, assinala, organiza e planeja o
aparecimento do estímulo, de acordo com a situação estabelecida por ele e com a meta
de interação desejada. Pela mediação, o mediado adquire os pré-requisitos cognitivos
necessários para aprender, benefi ciar-se da experiência e conseguir modifi car-se. Dessa
maneira, a aprendizagem mediada caracteriza-se como um processo intencional e
planejado (SOUZA, DEPRESBITERIS e MACHADO 2004: 40).
Quer dizer que uma pessoa tem contato direto com a fonte de aprendizagem, no
nosso caso, um livro, um fi lme, um texto no computador, um vídeo. Mesmo assim, esse
contato já tem a mediação da cultura, porque alguém escreveu o livro, produziu o
fi lme, programou o computador, editou o vídeo.
Difi cilmente. Só mesmo as aprendizagens muito simples, quase instintivas, como retirar
a mão de um objeto muito quente. A pessoa olha e não coloca a mão. Sabe que se
colocar a mão vai se queimar. Nem precisa um mediador para dizer-lhe que não ponha
a mão no fogo.
Mas eu já ouvi dizer: por ele, ou ela, eu ponho minha mão no fogo.Isso já é uma expressão simbólica. Você sabe o que quer dizer?
Sei, quer dizer que tenho confi ança na pessoa de quem se fala.
Os símbolos são instrumentos de mediação culturais. Existem instrumentos de mediação
simples. Quem explica a diferença entre esses instrumentos é Vygotsky.
Atividade 8:
Você pode dar exemplo
de um instrumento
de mediação simples
e outro de mediação
simbólica?
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Seção 8: Uma teoria de aprendizagem fundamentada na mediação
Quem é VYGOTSKY?
E o que é categoria?
E como é que Vygotsky conseguiu tudo isso, se morreu tão cedo?
Então a mediação é a forma de organização que Vygotsky encontrou para
criar sua teoria de aprendizagem?
É o autor de uma teoria de aprendizagem. Nasceu em 1896, na
Rússia, e morreu em 1934, com 38 anos de idade. Sua teoria
tem a mediação como principal categoria.
É o conjunto de elementos que organizam nosso pensamento
em torno de uma interpretação. Nós pensamos sobre um
assunto usando essa organização.
É uma das formas, a principal. A mediação é a categoria central da teoria de Vygotsky.
Mas lembre-se que, para criar uma teoria, são necessárias várias categorias, assim como
para a história registrar acontecimentos são necessários estudos de vários fatores.
É verdade. A teoria de Vygotsky não foi completamente elaborada por ele. Mas suas
ideias foram tão importantes que um grupo de seguidores conseguiu elaborar a teoria
completa. Até hoje suas ideias continuam sendo a base de várias pesquisas sobre
a aprendizagem. Pode-se dizer que a teoria dele é muito atual, mesmo não sendo
completa.
Atual? Mas ele viveu no começo do século passado!
Na época em que ele viveu, a psicologia soviética (assim conhecida a psicologia
russa), que sempre foi muito desenvolvida, tinha uma orientação essencialmente
associacionista, e por motivos políticos.
O que é associacionismo?
É uma corrente da psicologia que afi rma ser o estímulo, atuando diretamente sobre o
sujeito, o que provoca a resposta de aprendizagem.
Vygotsky
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica22Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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Pavlov não era aquele que fazia os cachorros salivarem?
Isso mesmo. Suas experiências consistiam em estimular cachorros trazendo carne para
eles e tocando uma campainha. Com a repetição do toque da campainha, sempre
no mesmo momento de trazer a carne, os cães começavam a salivar mesmo sem ver
nem sentir o cheiro da carne. Isso foi chamado refl exo condicionado, e para qualquer
regime totalitário, interessa mais o condicionamento do indivíduo que a aprendizagem
mediada.
E quais foram os motivos políticos
para a oposição a Vygotsky?
Havia, na mesma época na Rússia, outra
corrente, a de Pavlov, que servia melhor
aos interesses do governo soviético,
porque era mecanicista. O estímulo
atuava sobre o sujeito, que produzia
uma resposta.
Pavlov
Atividade 9:
Por que o condicionamento é diferente
da aprendizagem mediada?
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Seminário Avançado Mediação Pedagógica23Especialização para Formação de Docentes e de Orientadores Acadêmicos em EaD
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Seção 9: Categorias da teoria de aprendizagem
Entendi... E além da mediação, quais são as outras categorias da teoria
de Vygotsky?
E a linguagem, como entra nesse processo?
Então voltamos aos instrumentos. Como é que a linguagem pode ser um
instrumento?
Linguagem e atividade são as principais. Vygotsky rejeita totalmente os enfoques que
reduzem a psicologia – e em nosso caso a aprendizagem – a uma simples acumulação de
refl exos ou associações entre estímulos e respostas. Existem aspectos especifi camente
humanos que não se reduzem a associações, como a consciência e a linguagem, que não
podem ser desprezados pela psicologia (POZO 1998). Então ele propõe uma psicologia
baseada na atividade: o aprender como fazer.
Como um sistema de sinais ou símbolos que medeiam nossas ações, ou seja, são
mediadores entre o que fazemos e a realidade na qual vivemos. A linguagem falada é,
segundo Vygotsky, o principal instrumento simbólico na aprendizagem.
Vou utilizar as palavras de Pozo, que é um estudioso das teorias cognitivas de
aprendizagem, para você entender de uma vez por todas a questão dos instrumentos na
teoria de Vygotsky. Pozo diz o seguinte:
Vygotsky diferencia duas categorias de instrumentos em função do tipo de
atividade que a torna possível. O tipo mais simples de instrumento seria a ferramenta,
que atua materialmente sobre o estímulo, modifi cando-o. O martelo atua de maneira
direta sobre o prego, por exemplo.
Existe um segundo tipo de instrumentos mediadores, de diferente natureza. Além
de proporcionar ferramentas, a cultura está constituída fundamentalmente por sistemas
de sinais, ou símbolos que medeiam nossas ações. O sistema de sinais utilizado com
mais frequência é a linguagem falada, mas existem muitos outros sistemas simbólicos
que nos permitem atuar sobre a realidade, como os sistemas de medição, a cronologia,
a aritmética, a leitura e escrita, etc. Porém, ao contrário das ferramentas, o sinal
não modifi ca materialmente o estímulo, mas modifi ca a pessoa que o utiliza como
mediador e, defi nitivamente, atua sobre a interação dessa pessoa com seu meio (POZO
1998: 195).
Atividade 10:
Por que a linguagem
é uma categoria de
mediação simbólica?
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Seção 10: O desenvolvimento humano é social
Não estou entendendo um ponto em tudo isso: como é que se pode dizer
que o martelo atua diretamente sobre o prego, se o martelo não pode agir
sem uma pessoa?
Temos um elemento novo, o social...
Meio social é uma expressão um pouco desvirtuada, parecendo referir-se
à alta sociedade. E meio ambiente é uma expressão muito utilizada.
Ótima pergunta! Você agora matou a charada. Na teoria de Vygotsky, e parece-me que
não só nessa teoria, na verdade, nenhum instrumento pode agir sem a mediação de
uma pessoa. Por isso é que a teoria de Vygotsky se chama interacionismo e por isso
ele é chamado o teórico social da inteligência. Melhor dizendo, sua teoria se chama
sociointeracionismo.
É verdade. Vamos tentar explicar, e digo tentar porque é bem complicado: veja a última
frase na citação anterior. Ela diz que um dos instrumentos simbólicos, que é a linguagem
falada, modifi ca a pessoa que o utiliza e atua sobre a interação dessa pessoa com seu
meio. Então, ao mesmo tempo em que a linguagem atua sobre o meio, também atua
sobre a pessoa que está falando. Isso quer dizer que a pessoa, enquanto está falando,
está aprendendo e ao mesmo tempo ensinando. Melhor ainda: está interagindo com o
meio no qual vive, mas de forma social. Para Vygotsky, o meio no qual a aprendizagem
acontece é social.
Nessa teoria, a inteligência humana se faz segundo as relações da pessoa com seu meio,
e esse meio é social, porque o indivíduo vive rodeado de pessoas em um ambiente
impregnado pela cultura. Antes de ele nascer, esse ambiente já tinha os signifi cados da
cultura local.
Então é por isso que a pessoa vai adquirindo as características da sociedade
na qual vive? Se nasce no Brasil, fala de um jeito e, mais ainda, se nasce
no Sul fala de uma forma, se nasce no Nordeste fala de outra...
Mas essa pessoa também vai modifi cando seu ambiente. É por isso que se diz que a
realidade é uma construção social. E as pessoas são o que são porque se constroem
assim. Quer dizer, ao mesmo tempo em que uma pessoa se faz, também faz a sociedade
ser como é.
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O desenvolvimento da inteligência pode ser um produto dessa convivência,
não pode?
Tudo bem, mas o que tem a ver o social nessa estrada de mão dupla?
Também é preciso aprender a ser humano?
Isso quer dizer que não somos o que somos por nós mesmos...
Exatamente. Aliás, você agora atingiu a própria essência da teoria: para Vygotsky, o
desenvolvimento da inteligência e a aprendizagem não somente caminham juntos,
mas também interferem um sobre o outro. Quer dizer: a inteligência cresce com a
aprendizagem e esta cresce com aquela.
Boa ideia, chamar essa teoria de estrada de mão dupla. As outras teorias diziam que
uma pessoa nasce com um tipo de inteligência e assim vai aprendendo. Mas essa teoria
diz que quanto mais uma pessoa aprende, mais inteligente fi ca e também quanto mais
inteligente fi ca, mais aprende. O social entra no ponto em que a teoria diz que a
aprendizagem é necessária para a humanização da pessoa.
Precisa. A vida inteira a gente aprende a ser humano. Quanto mais aprende, mais
humano fi ca. Isso se chama processo de humanização. E para nos tornamos humanos,
temos de aprender numa cultura, que é social.
Isso quer dizer que somos o que somos pela mediação da cultura, da escola e do
professor. Nenhuma pessoa existe em si mesma. Mas é ela, e somente ela, quem pode
fazer o processo de mediação. Os instrumentos estão todos aí. Cada pessoa faz seu
processo. A mediação é como a aprendizagem: cada um faz a sua, não há como outra
pessoa fazer por nós. O mediado, na mediação pedagógica, é o aluno. O professor
é chamado de mediador e os materiais de ensino são os instrumentos. Assim como
para pregar um prego é preciso ter um instrumento certo, também o professor tem de
escolher os melhores instrumentos. E se a pessoa que empunha o martelo não souber
utilizá-lo, não adianta o instrumento ser bom, ela não vai conseguir pregar um prego.
Imagine então a aprendizagem mediada, que é muito mais complexa do
que pregar um prego...
Atividade Final:
Criar perguntas durante
nova leitura geral do
diálogo que envolve
todo o texto e respondê-
las.