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Turma e Ano: Master A (2015) – 16/03/2015
Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 06
Professor: Edward Carlyle Silva
Monitor: Alexandre Paiol
AULA 06
CONTEÚDO DA AULA: Competência: Busca do Juiz Competente (4 fases): Jurisdição Interna e
Internacional; Critérios de Definição de Competência (Objetiva, Funcional e Territorial). Competência Absoluta x Relativa.
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COMPETÊNCIA
Vamos agora começar a ver com se dá a homologação de sentença estrangeira
Na hipótese em que a competência é concorrente, você tem a possibilidade
bastante concreta de que a mesma demanda esteja tramitando no Brasil e em algum outro
país, digamos na Itália. Aí você irão me perguntar, mas não é hipótese de litispendência?
Vamos ao art. 90:
Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz
litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária
brasileira conheça da mesma causa e das que Ihe são
conexas.
De acordo com o art. 90 do CPC/1973 e art. 24 do CPC/2015 (lei 13.105/2015)
não a litispendência, essa afirmação é tecnicamente incorreta, por quê? Porque litispendência
é o tramite simultâneo de duas demandas que possuam as mesmas partes, mesmo pedido e
mesma causa de pedir. Se você tem duas demandas tramitando simultaneamente com
mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir você está diante de hipótese de
litispendência, não há como negar. Então na verdade existe litispendência, o que não vai
ocorrer é efeito principal da litispendência, que é a extinção do processo sem resolução do
mérito com base no 267, V CPC/1973 e 485, V NCPC/2015
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
Então quando o art. 90 diz que não existe litispendência, está querendo dizer
que não ocorre o 267, V do CPC, ou seja, as duas demandas podem tramitar paralelamente.
Surge um problema, afinal de contas, qual das duas será executada ao final? Então você tem
uma demanda de A contra B, tramitando simultaneamente no Brasil e na Itália, duas demandas
idênticas, mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir. Só que acontece o
seguinte, para que a sentença transitada em julgado na Itália produza efeitos o Brasil vai
precisar ocorrer à chamada homologação de sentença estrangeira, da competência do STJ e
ela tem natureza jurídica de ação. As duas demandas são idênticas, problema é saber qual
delas será executada em primeiro lugar.
Então o que você vai precisar saber é seguinte, em primeiro lugar, qual das duas
irá transitar em julgado em primeiro lugar?
Primeiro ponto é definir qual das duas irá transitar em julgado em primeiro lugar,
porque transitou em julgado, você já sabe que a sentença proferida em pais que não seja no
Brasil no exterior, vai precisar ser homologada pelo STJ, e aí você tem natureza jurídica de
ação.
Existe litispendência entre a demanda que tramita no Brasil e ação de
homologação de sentença estrangeira? Não, porque o pedido é diferente, a causa de pedir é
diferente. Na ação de homologação, você tem o A pedido a homologação de sentença
estrangeira em face do B, qual é pedido? É a homologação de sentença estrangeira. Qual é
causa de pedir? É cumprimento de todos os requisitos estabelecido em lei para homologação
de sentença estrangeira. Causa de pedir e pedido são distintos da causa de pedir e pedido da
demanda original, a demanda original pedia a anulação de um contrato pelo inadimplemento
contratual. No exterior, já foi julgada, você quer agora a homologação no Brasil para que ela
produza efeitos, seja efetivado no Brasil.
Então na verdade quando a competência é concorrente, você que saber qual
delas irá produzir efeitos aqui dentro do Brasil se é a sentença proferida pelo juiz nacional, ou
se é homologação de sentença estrangeira. O que vai definir qual das duas irá produzir
efeitos? De acordo com a doutrina é aquela que transitar em julgado em primeiro lugar,
transitar em julgado a demanda nacional, ou transitar em julgado a homologação de sentença
estrangeira, não é transitar em julgado a sentença proferida no outro país. Então a corrida pra
ver qual das duas será executada em primeiro lugar é entre a demanda que tramita no
Brasil e a homologação de sentença estrangeira realizada pelo STJ no que diz respeito à
sentença proferida em país interior.
Como fazer a homologação de sentença estrangeira então?
Inicialmente com a EC/45 o STJ ganhou a competência para a homologação de
sentenças estrangeiras conforme art. 105 i CRFB/1988. Antigamente era competência do STF.
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
No STJ a homologação de sentença estrangeira é tratada em uma resolução
que é a Resolução n⁰ 9 do STJ de 5 de maio de 2005. (tem o procedimento que deve ser feito
na homologação)
A natureza jurídica da homologação de sentença estrangeira é de ação de
natureza constitutiva. Aqui o STJ vai observar se foram observados todos os requisitos para
julgamento da causa e se tem os requisitos pra serem homologados no Brasil. O STJ não
reexamina o mérito da sentença no exterior.
Voltando a explicação
Duas possibilidades se abrem, primeiro a sentença brasileira transitou em
julgado em primeiro lugar. Se a sentença brasileira transitou em julgado em primeiro lugar, a
sentença estrangeira não será homologada. Se ela não será homologada, não produz efeito
algum.
Segunda possibilidade a homologação de sentença estrangeira transita em
julgado em primeiro lugar. A demanda que está tramitando no Brasil, será extinta sem
julgamento do mérito com base no art. 267, V, violação a coisa julgada superveniente. Então
você só vai precisar saber qual das duas transitou em julgado em primeiro lugar.
E se a competência internacional for exclusiva? Essa sentença proferida na Itália
pode ser homologada no Brasil? De maneira nenhuma, pouco importa se existe ou não
processo em andamento. Se a competência é exclusiva do Brasil, do juiz nacional, pouco
importa se existe ou não processo em tramite no Brasil, sentença estrangeira não pode ser
homologada pelo STJ porque a competência seria exclusiva do juiz brasileiro. Aqui a sentença
estrangeira não é homologada.
Hoje em dia inclusive na jurisprudência do STJ, há uma predisposição se você
tem o andamento da sentença nacional e qual decisão tenha sido proferida, antecipação de
tutela, cautelar, se há alguma decisão nessa demanda nacional, há uma predisposição do STJ
a privilegiar a demanda nacional em detrimento da homologação da sentença estrangeira.
Então embora eu tenha colocada aqui para você observar o transito em julgado, a
jurisprudência do STJ tem ido além, tem se manifestado no sentido de que se há qualquer
decisão jurisdicional, antecipação de tutela, cautelar, liminar, o que quer seja proferida no
processo nacional, este tem proteção, a sentença estrangeira sofrerá uma serie de atos mais
rigorosos no controle para que ela possa ser homologada. E volta e meia ela é extinta, sob o
argumento de que já existe processo nacional em curso decidindo aquela questão.
2ª fase: Competência Comum: Justiça Estadual X Justiça Federal
Critérios de Determinação da Competência:
1) Critério Objetivo (art. 91 CPC):
2) Critério Funcional (art. 93 CPC):
3) Critério Territorial (art. 94 e seguintes CPC)
Da Competência em Razão do Valor e da matéria
Art. 91. Regem a competência em razão do valor e da matéria
as normas de organização judiciária, ressalvados os casos
expressos neste Código.
Então, o critério objetivo trata expressamente da competência em razão da
matéria e da competência em razão do valor da causa. O legislador brasileiro copiou esses
critérios do direito italiano, o direito italiano quando estabeleceu esses critérios, a base dos
critérios foi feita pelo Chiovenda importou os critérios do direito alemão. Só que quando
Chiovenda importou os critérios do direito alemão, ele adaptou ao direito italiano, foi verificando
critério por critério analisando o que tinha a ver no direito alemão com o direito italiano. O
legislador brasileiro copiou e não adaptou nada, como ele não adaptou, se esqueceu de fazer
algumas menções, outros critérios que existem no nosso sistema. Um dos critérios que
esqueceu de mencionar é outra hipótese do critério objetivo que é competência em razão da
pessoa.
As normas de organização e divisão judiciária auxiliam a definição do foro
competente ou do juízo competente? É utilizada para definição do juízo competente, estamos
falando de competência absoluta, então o critério objetivo, quando falamos em competência em
razão da matéria, valor da causa e em razão da pessoa, nós estamos falando em juízo
competente, logo estamos falando de hipótese de competência absoluta.
Da Competência Funcional
Art. 93. Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada neste Código.
Vejam, a competência funcional de acordo com a doutrina majoritária, aqui
no nosso ordenamento é baseada nos ensinamentos do Chiovenda, e quando examinava a
competência funcional fazia uma distinção, primeiro hipótese de competência funcional para o
Chiovenda é aquela em que você tem um só processo, mas com atuação de mais de um juiz,
mais de um órgão jurisdicional. Isso dá ensejo ao surgimento da chamada competência
funcional horizontal e competência funcional vertical.
Competência funcional horizontal é aquela em que você tem um único processo,
mas você tem mais de um juiz da mesma hierarquia atuando nesse processo, hipótese clássica
de cara precatória. Então eu juiz de primeiro grau expeço uma carta precatória para juiz de
primeiro grau em João Pessoa, para que realize um ato executivo, uma penhora do imóvel e
uma futura alienação desse imóvel. Então vejam, a carta precatória é um exemplo de
competência funcional horizontal porque o processo é um só.
Competência funcional vertical em que o processo é um só mas a atuação
desses diferentes juízes passa por graus distintos. É caso clássico de recurso, especialmente
recurso tipo apelação. Porque o juiz de primeiro grau profere uma sentença, proferida a
sentença, a parte que sucumbiu recorre através da apelação, e a apelação leva ao tribunal de
segundo grau o reexame da matéria impugnada. Então o recurso acaba por levar a discussão
do âmbito do primeiro grau para o segundo grau. Competência funcional vertical, também
chamada por alguns de competência hierárquica. Cuidado porque alguns chamam de
competência hierárquica como sinônimo da Competência funcional vertical, não é sinônimo, é
uma das hipóteses.
A outra situação que o Chivenda mencionou é aquela em que você tem mais de
um processo, mas você tem uma mesma vontade de atuação da lei. Então perceba, você tem
mais de um processo, mas a pretensão é a mesma, a vontade aplicar a lei ao caso concreto é
a mesma, hipótese clássica é do art. 800 do CPC, de quem é a competência para o julgamento
de uma cautelar preparatória? A cautelar preparatória é da competência do futuro juiz da ação
de conhecimento. Então você tem dois processos: processo cautelar e no futuro o processo de
conhecimento, mas o legislador estabelece que o processamento e julgamento da cautelar é do
futuro juízo competente para o processamento e julgamento da ação de conhecimento.
Outra hipótese, 736 e seguintes do CPC, hipótese de embargos a execução.
Então você tem um processo de execução autônomo, e diante de determinadas circunstancias
o executado pode se defender através de embargos A execução possui natureza jurídica de
ação de conhecimento incidental. Embora hoje em dia seja extremamente discutida a natureza
dos embargos a execução, antes da reforma era tranquilo, mas no quis diz respeito aqui,
vamos adotar que possui natureza jurídica de ação de conhecimento incidental. Então, você
tem dois processo, um de execução, um de conhecimento, mas uma mesma vontade de aplicar
a lei. De quem é a competência para o julgamento dos embargos à execução? Do juízo
competente para o processamento da execução em si.
A competência funcional é estabelecida por normas de organização e divisão
judiciária, ou então pela constituição, trata-se de competência, então, absoluta.
Da Competência Territorial
Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.
Então de acordo com o art. 94, se você tem uma ação fundada em direito
pessoal, ou direito real sobre bens móveis a competência como regra é a do foro do
domicilio do réu. Essa é a regra, mas vocês percebam que a partir daí o legislador abre uma
série de possibilidade para que esse foro possa sofrer modificação. Então o próprio dispositivo
já começa:
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
Perceba o seguinte, o próprio legislador já abre um leque de possibilidades para
que o foro do domicílio do réu possa ser afastado, sem qualquer tipo de problema. E essas
possibilidades vão seguindo após o art. 94, mas percebam, no art.95 começa surgir detalhes
que temos que tomar cuidado.
Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar (aqui é competência relativa) pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.(a parte final é competência é absoluta).................. No novo código continua assim
Na primeira parte do art. 95, então nas ações fundadas em direito real sobre
bens imóveis é competente o foro da situação da coisa, o chamado fórum rei sitae. E continua
aqui pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, mesmo sendo o foro
da situação da coisa o competente, pode optar foro de domicilio do réu ou pelo foro de eleição,
aquele que ele e o réu estabeleceram como competente para o julgamento da causa. Vejam,
quando nós falamos em critério territorial você tem uma maleabilidade estabelecida pelo CPC.
A regra é foro do domicilio do réu, mas você tem várias situações em que o foro não será do
domicilio competente. Isso significa que o critério territorial é hipótese de competência relativa.
Essa é a regra.
Aqui vocês devem começar a tomar cuidado com certas situações. Por exemplo,
primeira situação que vocês tem que tomar cuidado que é exatamente essa do art. 95 que
acabamos de examinar, de acordo com o art. 95 na primeira parte, nas ações fundadas em
direitos reais sobre bens imóveis, a competência é do foro da situação da coisa, chamado de
foro rei sitae, e esse foro pode ser deixado de lado escolhendo o autor ajuizar a demanda
perante o foro do domicílio do réu ou até mesmo o foro de eleição.
Só que nesse mesmo art. 95 na parte final, in fine, do CPC o legislador
estabelece outra regra:. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro
da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não
recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e
demarcação de terras e nunciação de obra nova. Em outras palavras a contrario sensu o
que legislador que dizer é seguinte, nas hipóteses em que você tem ações fundadas em
direito real sobre imóveis a competência é do foro da situação da coisa, mas se essa versar
sobre propriedade, posse, divisão e demarcação de terras, etc., como diz a parte final, a
hipótese será de competência absoluta. Porque nessas hipóteses o legislador está dizendo que
o autor não pode optar pelo foro do domicilio do réu ou de eleição, ele tem que ajuizar a
demanda no foro da situação da coisa. Aqui surge um tema extremamente relevante, essa
hipótese do art. 95 para final, a hipótese do art. 2º da lei 7347/85, de ação civil pública, e a
hipótese do art. 80 do estatuto do idoso, essas três hipóteses possuem o mesmo problema. O
problema é que o legislador deu ênfase a necessidade de que demanda seja ajuizada no foto
da situação por ele elencada em cada dispositivo.
Art. 95 – foro da situação da coisa.
Art. 2º é o foro em que ocorreu o dano ou evento lesivo.
Art. 80 é foto onde o idoso possui domicilio.
Essas três hipóteses são consideradas hipóteses de competência absoluta, qual
é critério que foi utilizado? Você no mínimo 3 correntes hoje em dia sobre o assunto.
Para uma primeira corrente, a hipótese é de critério ou competência funcional. A
ideia é seguinte, mas o critério é territorial, eles estão falando aí de território, é local onde a
demanda deve ser ajuizada, mas para a corrente clássica de pensamento, a hipótese é de
competência funcional, porque se a competência é absoluta, não pode ser hipótese de
competência territorial. Ora, competência absoluta tem que ser competência em razão da
matéria, em razão da pessoa, em razão do valor, segundo lei ou competência funcional.
Defende-se a competência funcional sob o argumento de que o que interessa nessas hipóteses
são as funções que o juiz vai realizar no processo. Ele vai ter maior facilidade na obtenção de
provas, ele vai ter maior facilidade para visualizar o que está ocorrendo, qual é o teor da
discussão, vai ter maior facilidade para entender o que está acontecendo naquele caso, vai ter
mais possibilidade de prestar a função jurisdicional adequada, a competência é funcional. O
raciocínio é seguinte se a competência é absoluta é porque ela é funcional, o correto seria
fazer o inverso, seria definir que tipo de critério foi utilizado para depois saber que tipo de
competência é, mas o legislador já definiu de cara competência absoluta, e não, eles vão no
sentido inverso, competência funcional. Essa é corrente clássica, Vicente Greco, Tereza
Arruda.
Existe outra corrente que defende o seguinte, na verdade a hipótese é de do
critério territorial c/c com critério material. Segundo os adeptos dessa segunda linha de
pensamento, o que está sendo definido é que o foro competente é aquele, mas a competência
absoluta é oriunda em razão da natureza do objeto da demanda. O objeto, a natureza do objeto
da demanda é que caracteriza a competência com sendo absoluta. Vejam, no 95, parte final
qual é natureza do objeto da demanda? Propriedade, posse, demarcação de terras, etc.; então
o legislador quis fazer com que o foro da situação da coisa prevalecesse, ficasse
expressamente definido, não pudesse ser modificado. É a natureza do objeto da demanda, o
critério material que define a competência absoluta, eles pegam emprestado o critério material,
natureza em razão da matéria para justificar o critério material adequado. Ela é absoluta por
conta do critério material, não por conta do território.
Só que hoje em dia existe uma terceira corrente, que fala em competência
territorial absoluta. É a posição do José Carlos Barbosa Moreira, Daniel Amorim Assumpção
Neves, Fredie Didier. O que eles falam é a competência nesses casos é territorial, o que
interessa é o foro da situação da coisa, o foro onde ocorreu o evento lesivo, o foro onde está
domiciliado a coisa. Só que o legislador, embora todas essas hipóteses sejam de utilização do
critério territorial, o legislador quis deixar claro que a competência é absoluta. Então, embora o
critério seja territorial a competência é absoluta, as partes não podem dispor a seu respeito,
não há possibilidade de nenhum tipo de modificação daquele foro.
Embora você tenha uma competência territorial, uma competência de foro, é de
natureza absoluta porque o legislador quis fazer questão que a demanda tramitasse perante
aquele foro.
Na doutrina, se a competência é absoluta como é que eles vão justificar,
competência funcional, mas você já sabe que modernamente se fala em competência territorial
absoluta. Não importa as funções que o juiz vai realizar, o que importa é que o legislador quis
deixar claro que a competência era daquele foro especificamente, por força das circunstancias
estabelecidas na própria lei.
Diante de tudo isso que eu falei, cumpre agora esclarecer quais são as
características da competência absoluta e quais são as características da competência
relativa? São temas muito comum de indagação em concursos, especialmente provas de
múltipla escolha.
Características da competência absoluta
- indisponibilidade, na competência absoluta prevalece o interesse público, as
partes não podem dispor a seu respeito, o primeiro sujeito que deve zelar pela sua observância
é o juiz, diante disso, o juiz deve declarar de oficio a incompetência absoluta. Caso ele não o
faça as partes podem alegá-la a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição. Vejam se
as partes podem alegar a incompetência absoluta em qualquer momento e em qualquer grau
de jurisdição isso significa que elas podem alegar a incompetência absoluta como preliminar de
contestação que é o mais obvio, pode alegar mera petição, em embargos de declaração, pode
alegar na fase recursal seja ela qual for. Pode alegar a incompetência absoluta em RESP e
RE? Pela jurisprudência majoritária do STJ e do STF não, porque haveria necessidade de pré-
questionamento. Se a incompetência absoluta não foi debatida previamente, préquestionada,
não poderia ser alegada em sede de RESP e RE, mas se vocês adotarem uma corrente
bastante moderna, chamada teoria da jurisdição aberta, a incompetência absoluta é considera
matéria de ordem pública, significa dizer que se o RESP ou o RE forem admitidos por qualquer
motivo que seja distinto da incompetência absoluta, se o RESP e o RE são admitidos pelo STF
e pelo STJ, terão o mérito examinado, de acordo com a teoria da jurisdição aberta, os ministros
do STJ e do STF, poderiam examinar a incompetência absoluta inclusive de ofício. Porque uma
vez que foi aberta a jurisdição dos tribunais superiores STJ e STF, pela admissibilidade do
especial e do extraordinário poderiam examinar de oficio qualquer matéria de ordem pública,
dentre elas a incompetência absoluta.
Qual a posição dominante? Não pode examinar a incompetência absoluta em
RESP e RE por falta e prequestionamento. Segunda corrente, teoria da jurisdição aberta, se o
especial e o extraordinário foram admitidos por qualquer motivo que seja, a incompetência
absoluta pode ser examinada inclusive de ofício, porque a matéria é de ordem pública.
Lembrem que a incompetência absoluta pode ser alegada até mesmo ação rescisória, mesmo
que o juiz ou o tribunal a tenham examinado e tenham afastado a alegação de incompetência
absoluta, ainda sim é cabível a ação rescisória com base na alegação de incompetência
absoluta. O fato de ela ter sido examinada no curso do processo não impede a sua alegação
em sede de ação rescisória. Art. 485, II do CPC.
Outra característica da incompetência absoluta, é incabível a eleição de foro.
Prevalece-se o interesse público, se é indisponível as partes, se as partes não podem dispor a
esse respeito, elas não podem eleger o foro, não há qualquer margem de liberdade para que
as partes possam dispor acerca da competência.
E por fim, de acordo com a doutrina, os atos decisórios são nulos, o art.
mencionado é o 113, §2º do CPC:
Art. 133: § 2o Declarada a incompetência absoluta, somente
os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz
competente.
Ora, vamos dizer que aconteça o seguinte, decreta-se a nulidade dos atos
decisórios e o juiz declina da sua competência para o juiz competente, o juízo competente, ao
analisar o processo poderia manter os atos decisórios integralmente? poderia manter todos os
atos decisórios praticados, porque eles estariam corretos, e andar com o processo daí por
diante? Você vai encontrar na jurisprudência determinados acórdãos, admitindo essa
possibilidade, embora delineada essa competência absoluta, seria possível ao juiz competente
manter os atos decisórios uma vez que eles teriam sido todos tomados de maneira correta, de
maneira adequada, mas precisa existir uma decisão do juízo competente decidindo manter o
teor daqueles atos decisórios já praticados.
E as características da competência relativa, vamos adotar como base
exatamente as características da competência absoluta, ou seja, se a característica da
competência absoluta é a prevalência do interesse público, a indisponibilidade, na competência
relativa é inverso, é a prevalência do interesse particular, interesse privado, é a disponibilidade.
Prevalece-se o interesse privado, o interesse particular, as partes podem dispor a esse
respeito. Na competência absoluta, o juiz deve declarar de oficio a competência absoluta, na
competência relativa não. O juiz não pode declarar de oficio a incompetência relativa, é o que
dispõe a sumula 33 do STJ: A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.
Tem um detalhe, nas recentes reformas do CPC, o legislador incluiu um
parágrafo único, exceção, que é para tomar cuidado. No art. 112, parágrafo único:
Art. 112. Argui-se, por meio de exceção, a incompetência
relativa.
Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro,
em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz,
que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.
Se o juiz quiser decretar a nulidade de eleição de foro em contrato de adesão, de
acordo com o 112, parágrafo único do CPC, poderá fazê-lo de oficio, o que vai acarretar uma
decretação de oficio de incompetência relativa. Na pratica, tem que tomar cuidado com essa
situação, porque a hipótese é de contrato de adesão, então adquiri um determinado bem, uma
determinada mercadoria aqui no RJ, contrato era de adesão e a última cláusula fixava como
foro competente o foro do João Pessoa na Paraíba. Na hora de assinar o contrato, eu penso
tudo bem porque primeiro eu vou receber a mercadoria, já está tudo pago, e segundo porque
se der qualquer problema a minha família toda é do João Pessoa, tenho primos advogados,
avo desembargador, minha família está toda lá, se der qualquer problema, não há qualquer
tipo de obstáculo, vou demandar lá. Essa demanda é ajuizada observando a cláusula de
eleição de foro lá em João Pessoa. A empresa resolve me acionar, ou porque não paguei, ou
porque paguei indevidamente, o juiz verificando que eu tenho domicílio no TJ, ele na cabeça
dele vai pensar ora, trata-se de um contrato de adesão, essa cláusula de eleição de foro,
dificulta a defesa do réu, que está domiciliado no RJ, então com base no 112, parágrafo único
do CPC, decreta a nulidade de ofício e declina a competência para o RJ. Quando a causa
chega no RJ, o juiz manda me citar e eu falo não quero que minha demanda tramite em João
Pessoa, estou trabalhando no RJ, mas minha família toda é de lá, é muito mais fácil conseguir
um advogado lá, alguém que vá tratar dessa demanda lá, quando eu for para lá realizar uma
audiência ou visitar meus familiares, não quero que essa demanda tramite aqui no RJ, porque
aqui essa demanda irá me prejudicar. Vai ter que peticionar ao juiz pedir para o juiz devolver o
processo a João Pessoa, suscitando o conflito, explicando que ele quer ver a demanda dele
tramitando em João Pessoa. Para evitar essa confusão generalizada, o que é melhor fazer, na
prática? Embora o art. 112, parágrafo único permita o juiz declinar de oficio, é melhor ele
mandar citar o réu, porque se eu quiser que a demanda venha ao RJ, vou apresentar uma
exceção de incompetência alegando que essa clausula eleição de foro prejudica o meu direito
de defesa, quero a decretação de nulidade e consequentemente a remessa dos autos ao juiz
competente que do domicílio do réu, aqui no TJ. Se eu não falar nada, prorroga-se a
competência em João Pessoa e a demanda tramita por lá.
Embora, o art. 112, parágrafo único do CPC, permita uma hipótese de
decretação de oficio da incompetência relativa, na prática é melhor não fazê-lo.
Terceira característica, as partes podem alegar incompetência absoluta em
qualquer grau de jurisdição, na competência relativa não. As partes devem alegar a
incompetência relativa na primeira oportunidade que tenham para falar nos autos, sob pena de
preclusão. Essa primeira oportunidade, normalmente, é no prazo de resposta, apresenta
exceção de incompetência.
Não foi alegada incompetência relativa através de exceção de incompetência,
provavelmente vai precluir a possibilidade, prorroga-se a competência.
Quarta característica é cabível a eleição de foro. Prevalece-se o interesse
privado, se é disponível as partes, podem de comum acordo para dirimir eventuais conflitos de
uma relação jurídica. Agora percebam, elas podem eleger o foro, podem eleger juízo? não
podem eleger o juízo competente, não podem eleger que o juízo competente seja a segunda
vara de fazenda pública, a segunda vara cível da comarca da capital, não podem fazer isso. A
eleição é de foro, não é de juízo. obviamente se a comarca for de foro único, isso vai acarretar
a eleição de juízo, mas elas estão elegendo o foro.
Por fim, os atos decisórios não são nulos. O processo é remetido ao juízo
competente e ele dará andamento a partir daí. Então essa são as características principais da
competência absoluta e da competência relativa.
Diante de tudo isso que eu coloquei para vocês, dos critérios estabelecidos,
quais são as hipóteses de competência absoluta? A competência em razão da matéria, a
competência em razão da pessoa, a competência funcional, hipótese do art. 95, in fine do CPC,
e a ultima hipótese é a competência em razão do valor da causa.
A competência em razão do valor da causa, na prática, é volta meia mencionada
como hipótese de competência relativa, mas tem certos detalhes que vocês não podem se
esquecer, a competência em razão do valor da causa na hipótese dos juizados especiais dá
ensejo a um discussão. Os juizados especiais tem um teto estabelecido pelo legislador de 40
salários mínimos que limitam a atuação do juiz. Então o juiz dos juizados especiais cíveis,
somente podem chegar até o teto de 40 salários mínimos. Os juízes das varas cíveis podem
examinar as causas cujo valor seja superior a 40 salários mínimos ou inferior a 40 salários
mínimos.
Então vejam, quem pode o mais pode o menor, mas quem pode o menos não
pode o mais porque fica estabelecido o teto no qual ele pode agir. Então vejam, do menos para
o mais a competência é absoluta, porque ele não pode decidir mais do que o teto estabelecido
pelo legislador. A competência em razão do valor da causa do menos para o mais é absoluta,
porque ela bate no teto e daqui não passa. No entanto, a competência do mais para o menos é
relativa porque quem pode o mais também pode o menos. Cuidado com a competência em
razão ao valor da causa porque do menos para o mais é absoluta. Se você for examinar a
competência relativa só com base nisso que nós vimos aí, vocês vão ver que a competência
relativa abrange as hipóteses de competência territorial como regra, hipótese do art. 95,
primeira parte do CPC, e agora a competência em razão do valor da causa, só que aí frisando
do mais para o menos.
Detalhe, se a hipótese for envolvendo juizados especiais federais, de acordo
com o art. 3º, §3º da lei dos juizados especiais federais, 10.259/01, a competência é absoluta
em relação ao valor de 60 salários mínimos, aí não existe competência relativa. O juiz da vara
cível federal não pode examinar causas cujo valor seja inferior a 60 salários mínimos.
Competência absoluta.
§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a
sua competência é absoluta.
OBS: Nessa matéria de competência eu acrescentei uma digitação da aula do professor Edward, quando ele deu um curso mais aprofundado no Master de Processo Civil (muita coisa aqui ele não falou em sala, ou se falou foi mais superficial, porém achei muito importante acrescentar)
Agora vamos fazer um quadro para memorizar uma regra geral sobre
competência absoluta e competência relativa
3) Competência Absoluta x Competência Relativa:
Competência Absoluta Competência Relativa
Competência em razão da matéria Competência Territorial Competência em razão da pessoa Art. 95, 1ª parte CPC Art. 95, in fine CPC Competência em razão do valor - âmbito
estadual até 40 salários mínimos Competência Funcional Competência em razão do valor - âmbito estadual > 40 salários mínimos
Competência em razão do valor - âmbito federal.
3.1 ) Características da Competência Absoluta:
● Predomínio do Interesse Público (Indisponibilidade)
● Decretação da incompetência absoluta ex officio a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição. O juiz deve zelar pela correta e fiel observância dessas normas que versão sobre a competência absoluta. No novo código de processo civil (lei 13.105/2015) ele pode realizar esse exame de oficio, porém ele tem QUE OUVIR AS PARTES em contraditório.
● As partes podem alegar o vício de incompetência absoluta a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição.
O momento adequado para arguir a incompetência absoluta é em preliminar de contestação (art. 301, II CPC ou no art. 337, II do NCPC). No entanto, a parte poderá alegar o vício no curso do processo por simples petição.
Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar:
II - incompetência absoluta;
Art. 337. (lei 13.105/2015) Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
II - incompetência absoluta e relativa;
● Incabível a eleição de foro
● Atos decisórios praticados por juiz absolutamente incompetente são considerados nulos (art. 113, §2º CPC). Na jurisprudência, defende-se a possibilidade do juiz competente ratificar os atos decisórios do juiz absolutamente incompetente.
Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção.
§ 2o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.
3.2 ) Características da Competência Relativa:
● Predomínio do Interesse Particular (Disponibilidade)
● Juiz não pode decretar de ofício a incompetência relativa - Súmula 33 do STJ
Súmula 33 STJ - A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício
Exceção: Art. 112, parágrafo único do CPCNulidade da cláusula de eleição de foro em contrato de adesão - decretação de ofício pelo juiz.
Art. 112. Argui-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.
Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.
O mais correto é que o juiz determine a citação do réu por precatória, e este deverá, se for o caso, apresentar exceção de incompetência pleiteando a nulidade da cláusula de eleição de foro e remessa para o seu domicílio.
● Partes - devem alegar a incompetência relativa na 1ª oportunidade para falar nos autos (normalmente no prazo de resposta - exceção de incompetência relativa), sob pena de preclusão e prorrogação da competência.
● Cabível a eleição de foro (# eleição de juízo - não é cabível)
● Atos decisórios são válidos e não há qualquer nulidade nos atos praticados
Fim da aula 06