aula 03: resposta completa é fundamental nas provas · tanto dos fragmentos quanto dos enunciados...

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1 Professora Lana Data: Aluno(a):________________________________________ AULA 03: Resposta completa é fundamental nas provas Paulo César Bacelar Pinheiro* Especial para a Folha A 2ª fase dos vestibulares da Fuvest e da Unicamp é a hora de redobrar a atenção e manter o pique de estudos, a fim de estar com tudo na ponta da língua - como diria qualquer avó que se preze. É bom lembrar que a concorrência quantitativa ficou para trás, ela agora é qualitativa. A preparação para a próxima etapa envolve, além do estudo da gramática normativa, estar constantemente refrescando a memória para alguns mandamentos mais típicos de provas de redação. Parece estranho, mas ajuda mesmo! Tome-se como pressuposto o fato de que todas as questões da prova de português da 2ª fase são discursivas e geradas a partir de textos ou fragmentos de textos. Assim, qualquer esforço de resposta terá de passar pela etapa da boa e significativa leitura tanto dos fragmentos quanto dos enunciados propostos e pela produção de texto. O grau de compreensão advindo dessa leitura é que vai determinar as chances da produção de uma resposta mais - ou menos - pertinente. O candidato vai ter que mostrar sua habilidade de compreender as ideias e de manusear adequadamente as informações que os textos apresentam. Deverá saber entrelaçar corretamente todas essas informações com o enunciado da questão. Apenas após todo esse processo é que se estará apto para organizar uma resposta. Neste ponto, entra em jogo aquelas dicas preciosas para as provas de redação. A adequação ao tema proposto, que é fundamental, traveste-se em adequação ao comando da questão, sem deixar de considerar os textos correspondentes, é óbvio! A coesão e a coerência atuam como personagens principais. Já que na 2ª fase da Fuvest cada resposta é, na verdade, uma produção de texto, esses elementos são os que vão assegurar a sua clareza. O mote citado, o de ser cada resposta uma produção de texto, é útil para lembrar a fórmula definitiva que conduz à tão almejada clareza. É possível ser coerente e ter um texto coeso dando uma resposta completa, com sujeito claro e escrito na oração, iniciando-a devidamente, construindo frases inteiras. Nunca perca de mira que se fazer comunicar é o objetivo primeiro. Não comece sua resposta com conectivo; como o próprio nome diz, é uma partícula de conexão entre dois elementos. Desse modo, iniciar um texto com conectivo é o mesmo que iniciar algo pelo meio. Evite também começar com verbos que não se refiram a um sujeito determinado e escrito. Se sua resposta só fizer sentido se confrontada com a questão é porque ela está formalmente mal elaborada. Trate-a como um todo único e independente, ela tem que ser um texto eficaz na transmissão de uma mensagem completa, sem o auxílio de nenhum elemento externo. Identifique os comandos de cada questão e responda-lhes separadamente. Esse procedimento demonstra compreensão cabal da pergunta e organização de ideias suficientemente objetiva para atender na medida exata ao que foi solicitado. Caso uma pergunta da prova apresente comandos como, por exemplo, "citar", "explicar" e "exemplificar", sua resposta só estará plenamente certa se os três pedidos forem atendidos. Utilize o bom senso. Para citar algo, é necessário apresentar a informação concreta pedida. A explicação exige um texto maior, que deve ser elaborado com palavras próprias. De preferência, explique o que for necessário em parágrafo separado do que responde ao comando anterior.

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Page 1: AULA 03: Resposta completa é fundamental nas provas · tanto dos fragmentos quanto dos enunciados propostos e pela produção de texto. O grau de ... Segundo o Dicionário Houaiss

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Professora Lana

Data:

Aluno(a):________________________________________

AULA 03: Resposta completa é fundamental nas provas

Paulo César Bacelar Pinheiro* Especial para a Folha

A 2ª fase dos vestibulares da Fuvest e da Unicamp é a hora de redobrar a atenção e manter o

pique de estudos, a fim de estar com tudo na ponta da língua - como diria qualquer avó que se preze.

É bom lembrar que a concorrência quantitativa ficou para trás, ela agora é qualitativa.

A preparação para a próxima etapa envolve, além do estudo da gramática normativa, estar

constantemente refrescando a memória para alguns mandamentos mais típicos de provas de redação.

Parece estranho, mas ajuda mesmo! Tome-se como pressuposto o fato de que todas as

questões da prova de português da 2ª fase são discursivas e geradas a partir de textos ou fragmentos de

textos.

Assim, qualquer esforço de resposta terá de passar pela etapa da boa e significativa leitura

tanto dos fragmentos quanto dos enunciados propostos e pela produção de texto.

O grau de compreensão advindo dessa leitura é que vai determinar as chances da produção de

uma resposta mais - ou menos - pertinente.

O candidato vai ter que mostrar sua habilidade de compreender as ideias e de manusear

adequadamente as informações que os textos apresentam. Deverá saber entrelaçar corretamente todas essas

informações com o enunciado da questão.

Apenas após todo esse processo é que se estará apto para organizar uma resposta.

Neste ponto, entra em jogo aquelas dicas preciosas para as provas de redação. A adequação

ao tema proposto, que é fundamental, traveste-se em adequação ao comando da questão, sem deixar de

considerar os textos correspondentes, é óbvio!

A coesão e a coerência atuam como personagens principais. Já que na 2ª fase da Fuvest cada

resposta é, na verdade, uma produção de texto, esses elementos são os que vão assegurar a sua clareza. O

mote citado, o de ser cada resposta uma produção de texto, é útil para lembrar a fórmula definitiva que

conduz à tão almejada clareza.

É possível ser coerente e ter um texto coeso dando uma resposta completa, com sujeito claro

e escrito na oração, iniciando-a devidamente, construindo frases inteiras. Nunca perca de mira que se fazer

comunicar é o objetivo primeiro.

Não comece sua resposta com conectivo; como o próprio nome diz, é uma partícula de

conexão entre dois elementos. Desse modo, iniciar um texto com conectivo é o mesmo que iniciar algo pelo

meio.

Evite também começar com verbos que não se refiram a um sujeito determinado e escrito. Se

sua resposta só fizer sentido se confrontada com a questão é porque ela está formalmente mal elaborada.

Trate-a como um todo único e independente, ela tem que ser um texto eficaz na transmissão de uma

mensagem completa, sem o auxílio de nenhum elemento externo.

Identifique os comandos de cada questão e responda-lhes separadamente. Esse procedimento

demonstra compreensão cabal da pergunta e organização de ideias suficientemente objetiva para atender na

medida exata ao que foi solicitado.

Caso uma pergunta da prova apresente comandos como, por exemplo, "citar", "explicar" e

"exemplificar", sua resposta só estará plenamente certa se os três pedidos forem atendidos.

Utilize o bom senso. Para citar algo, é necessário apresentar a informação concreta pedida. A

explicação exige um texto maior, que deve ser elaborado com palavras próprias. De preferência, explique o

que for necessário em parágrafo separado do que responde ao comando anterior.

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A exemplificação também deve vir em parágrafo próprio e, se envolver transcrição de texto,

não esqueça o emprego correto das aspas.

Ah! Explicar é diferente de exemplificar e, tem mais, explicar exemplificando não existe, é papo furado de

quem não consegue elaborar um bom parágrafo argumentativo.

Uma resposta de conteúdo incompleto e superficial, contudo bem estruturada, é mais

valorizada do que outra com conteúdo adequado, mas confusa na forma.

Não basta apenas dizer o que se quer. No mundo de hoje, mais vale dizer bem e

organizadamente o pouco que se sabe do que acertar em cheio uma matéria com a flecha de um discurso

caótico.

O ser humano é, sobretudo, um ser de linguagem, mas não a telegráfica e lacônica, e sim a

clara, eficiente e expressiva. A resposta completa garante isso!

*Paulo César Bacelar Pinheiro é professor de português do Colégio Agostiniano Mendel

Questões Unicamp com resposta acima da média e resposta abaixo da média.

1. Leia os seguintes artigos do Capítulo VIII do novo Código Civil (Lei no. 10.406, de 10 de janeiro de

2002):

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:

I – pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil;

II – por infringência de impedimento.

(...)

Art. 1.550. É anulável o casamento:

I – de quem não completou a idade mínima para casar;

(...)

VI – por incompetência da autoridade celebrante.

a) Os enunciados que introduzem os artigos 1.548 e 1.550 têm sentido diferente. Explique essa diferença,

comparando, do ponto de vista morfológico, as palavras nulo e anulável.

b) Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), infringência vem de infringir (violar,

transgredir,

desrespeitar) + ência. Compare o processo de formação dessa palavra com o de incompetência, indicando

eventuais diferenças e semelhanças.

Resposta Esperada a) (2 pontos)

No artigo 1.548, o casamento é considerado inexistente, isto é, sem efeito, desde que ocorram as

condições arroladas. Já no artigo 1.550, o casamento é passível de ser tornado sem valor, desde que

solicitado e observadas determinadas condições. Essa diferença é produzida pelo acréscimo do sufixo –ável

(que tem o sentido de possibilidade de praticar ou sofrer uma ação) ao verbo anular. Com isso, anulável tem

o sentido de “aquilo que pode ser anulado”, implicando assim a possibilidade de realização de um processo.

Já em nulo, a idéia de processo inexiste, pois o seu sentido é de um evento sem validade. Portanto, conforme

o artigo 1548, o casamento não se realiza juridicamente; pelo artigo 1550, o casamento é dado como

realizado, porém, é passível de anulação.

b) (2 pontos)

Diferentemente de infringência, palavra formada a partir de infringir por meio do acréscimo do sufixo –

ência (que transforma um verbo em substantivo), incompetência apresenta um processo suplementar, já que

inexiste o verbo incompetir. O verbo competir recebe igualmente o sufixo -ência e, posteriormente, a

palavra formada (competência) recebe o prefixo in-, produzindo o sentido de ‘ausência de competência’.

Espera-se que o candidato seja capaz de perceber a relação entre competência, incompetência e o verbo

competir (que, nessa relação específica, tem um sentido associado ao de atribuição, menos usual do que

aquele associado a rivalidade e competições).

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Não se espera, por outro lado, que o candidato faça qualquer consideração de ordem etimológica

sobre fring-como um eventual radical latino. Como falante da língua, ele dispõe do conhecimento sincrônico

de que fringir não é um radical de verbo existente.

Não se cobrará o uso de metalinguagem na referência aos fenômenos aqui mencionados.

Exemplo Acima da Média

Exemplo Abaixo da Média

Comentários O item a pedia a explicação da diferença de sentido entre os dois artigos do Código Civil, a partir da

comparação morfológica entre as palavras nulo e anulável. No primeiro artigo, o casamento não é

considerado válido, enquanto no segundo existe a possibilidade de sua anulação. Essa diferença se deve à

palavra anulável, que carrega em seu sufixo –ável a idéia de ´possível, passível de´, não existente em nulo,

que traz a idéia de um evento acabado e sem validade. Muitas respostas conseguiram explicar a diferença de

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sentido entre os dois artigos da lei, mas não através de sua morfologia, tendo recebido apenas metade dos

pontos desse item (como pode ser visto no exemplo abaixo da média). Outros candidatos deram a

classificação morfológica das duas palavras, e disseram que nulo e anulável eram adjetivos, não tendo assim

explicado a diferença de sentido através da morfologia, como pedia o enunciado. No item b era fundamental

que o candidato percebesse, mesmo sem usar termos técnicos em sua resposta, que as duas palavras

passaram por processos de formação diferentes, sendo que incompetência possui uma etapa a mais. Para

infringência temos o verbo infringir mais o sufixo -ência, e para incompetência temos o prefixo in- mais o

verbo competir mais o sufixo -ência. Esperava-se também a indicação de uma semelhança ou uma diferença

entre as duas palavras, que poderia ser a presença de –ência nas duas palavras ou a presença de in-, que só é

prefixo em incompetência. O equívoco mais cometido foi não perceber que incompetência vem do verbo

competir, considerando o processo de formação das duas palavras como igual, com as duas palavras

classificadas como substantivos e ambas contendo o sufixo –ência. Essa questão pode ser considerada

difícil, com um baixo índice de notas máximas, principalmente por conta do aspecto morfológico, não

contemplado por muitos candidatos.

1.

a) No primeiro quadrinho, a menção a ‘palavrões’ constrói uma expectativa que é quebrada no segundo

quadrinho. Mostre como ela é produzida, apontando uma expressão relacionada a ‘palavrões’, presente no

primeiro quadrinho, que ajuda na construção dessa expectativa.

b) No segundo quadrinho, o cômico se constrói justamente pela quebra da expectativa produzida no

quadrinho anterior. Entretanto, embora a relação pressuposta no primeiro quadrinho se mantenha, ela passa

a ser entendida num outro sentido, o que produz o riso. Explique o que se mantém e o que é alterado no

segundo quadrinho em termos de pressupostos e relações entre as palavras.

Resposta Esperada a) (2 pontos)

No primeiro quadrinho é estabelecida uma relação entre ‘palavrões’ e ‘passar vergonha’. Essa relação é de

causalidade, ou seja, o pronunciamento de palavras de baixo calão pelo papagaio e uma respectiva reação

indignada por parte dos ouvintes seriam a razão pela qual o menino, dono do papagaio, passaria vergonha. O

candidato não precisará nomear a relação como de causalidade, mas deverá mostrar que reconhece essa

relação.

b) (2 pontos)

A relação de causalidade e a inadequação das palavras usadas pelo papagaio, referidas como ‘palavrões’, se

mantêm, pois, de fato, é a natureza dos ‘palavrões’ que faz com que o menino se envergonhe. O que se

altera são as causas da vergonha. Pressupunha-se no primeiro quadrinho que a agressividade dos palavrões

era a causa da inadequação e, portanto, de se ‘passar vergonha’. No segundo quadrinho, entretanto, pelo fato

de o papagaio falar ‘xixi’, ‘cocô’, etc., altera-se a razão da inadequação. Trata-se de expressões

normalmente usadas por crianças muito pequenas, expressões inócuas, que causam riso nos ouvintes e,

portanto, constrangem o dono do papagaio. A premissa de que o papagaio costuma repetir apenas aquilo que

ouve na casa em que vive torna mais contundente a imagem de que seu dono é quem seria infantil, motivo

do embaraço.

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Exemplo Acima da Média

Exemplo Abaixo da Média

Comentários Essa questão pode ser considerada fácil, e teve um grande número de notas máximas. No primeiro

item, o

candidato deveria cumprir duas etapas para obter a nota completa: indicar a expressão relacionada a

‘palavrões´ e explicar como se produzia, no primeiro quadrinho, uma expectativa quebrada pelo segundo. A

expressão era ‘passar vergonha’, que, ligada a ´palavrões´, fazia com que se esperassem termos fortes e

chulos ditos pelo papagaio, o que causaria vergonha ao seu dono. Alguns candidatos escolheram,

equivocadamente, a onomatopéia ´crr´, querendo estabelecer uma relação inexistente entre palavras

pequenas e grandes (palavrões) ditas pelo papagaio, como se o papagaio fosse mais inteligente que seu dono

por saber falar palavras grandes. Outro equívoco foi escolher a palavra ‘seus’ e tentar estabelecer uma

ambigüidade (também não existente) nesse pronome, que poderia se referir tanto ao dono quanto ao

papagaio. Não era necessário explicar a quebra da expectativa, já que essa questão foi trabalhada no item b,

que perguntava o que permanecia igual e o que era modificado no segundo quadrinho na relação entre as

expectativas e as palavras. O candidato poderia escolher dois caminhos: dizer que o fato de passar vergonha

se mantinha, o que mudava era o motivo dessa vergonha: não porque o papagaio falasse palavrões fortes,

mas por produzir palavras inócuas, infantis; ou explicar que permanecia igual o fato de o animal falar

palavrões, mudando a intensidade/gravidade dos palavrões esperados. O erro mais comum nesse item foi

mencionar apenas o que se mantinha ou somente o que foi alterado, não estabelecendo a relação completa, o

que garantiu apenas a metade dos pontos para esses caso

2.A carta abaixo reproduzida foi publicada em outubro de 2007, após declaração sobre a legalização do

aborto feita por Sérgio Cabral, governador do Estado do Rio de Janeiro.

Sobre a declaração do governador fluminense, Sérgio Cabral, de que

“as mães faveladas são uma fábrica de produzir marginais”,

cabe indagar: essas mães produzem marginais apenas quando dão

à luz ou também quando votam? (Juarez R. Venitez, Sacramento-MG, seção Painel do Leitor, Folha de São Paulo,

29/10/2007.)

a) Há uma forte ironia produzida no texto da carta. Destaque a parte do texto em que se expressa essa ironia.

Justifique.

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b) Nessa ironia, marca-se uma crítica à declaração do governador do Rio de Janeiro. Entretanto, em função

da presença de uma construção sintática, a crítica não incorre em uma oposição. Indique a construção

sintática que relativiza essa crítica. Justifique.

Resposta Esperada

a) (2 pontos)

A ironia está expressa em ‘também quando votam’. O sentido construído com ‘também quando votam’

evoca aquele a que o governador se referia com ‘(fábrica de) produzir marginais’, caracterizando os filhos

de pobres como marginais. A ironia é construída, assim, ao se acrescentar ‘também quando votam’ à

retomada da fala do governador. Esse acréscimo caracteriza como marginais os políticos, não se excluindo o

governador, eleitos pelas mesmas mães referidas por Sérgio Cabral.

b) (2 pontos)

A construção sintática responsável pela relativização da crítica é “apenas X, ou também Y”. Isso porque

essa construção mantém o pressuposto estabelecido na primeira das duas orações (“apenas quando dão à

luz”).

Ou seja, essa construção sintática estabelece uma relação aditiva (do tipo “não só, como também”), ao invés de

adversativa. Por isso, na crítica construída pela carta não há efetivamente uma negação da proposição de que

os filhos de mães faveladas seriam marginais, mas sim um acréscimo de outra possibilidade de interpretação

da expressão ‘fábrica de marginais’. Dessa forma, mantém-se como pressuposto a interpretação produzida

pelo governador do Rio de Janeiro, apesar da crítica a ele dirigida.

Exemplo Acima da Média

Exemplo Abaixo da Média

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Comentários Dentre todas as questões de língua, essa foi a que obteve o maior número de acertos, com muitos

candidatos atingindo a nota máxima. No item a, novamente, eram duas as tarefas: mostrar em que parte do

texto podia ser observada uma ironia e explicar tal ocorrência. A maioria dos candidatos selecionou

adequadamente a expressão “também quando votam”. Foram aceitas também citações de trechos maiores do

texto, contanto que “também quando votam” estivesse presente. A ironia ficava patente ao se relacionar

marginais e políticos, incluindo na categoria de marginal o próprio governador Sérgio Cabral. Já no item b,

a resposta deveria indicar que construção sintática amenizava a crítica presente no texto e o motivo dessa

atenuação. Com o uso de (“apenas...ou também”) o autor não negou que mães faveladas produzissem

marginais (“apenas quando dão à luz”); mas acrescentou uma outra possibilidade para essa produção

(“também quando votam”). Dessa maneira, não se perdeu a crítica, mas ela se relativizou diante da

concordância com a fala do governador. Muitos candidatos apresentaram dificuldade em selecionar a

construção sintática adequada, tendo feito escolhas inadequadas como “cabe indagar”, “fábrica de produzir

marginais” e a forma interrogativa, com o argumento de que dessa maneira deixava-se para o leitor decidir a

resposta. Todas essas opções acabavam por invalidar também as justificativas derivadas dessas escolhas.

Outro equívoco comum nessa questão foi ater-se somente ao contexto político e particular do RJ e esquecer-

se da linguagem (como pode ser observado no exemplo abaixo da média). Vários candidatos falaram da

violência, da pobreza, dos favelados, da falta de educação, da corrupção dos políticos, etc., mas em nenhum

momento colocaram os pontos pertinentes ao uso da língua, o foco da questão. Esse é um cuidado que os

candidatos sempre devem ter na hora de ler e responder às questões: não se esquecer de que se trata de uma

prova de língua portuguesa, ou seja, o ponto central sempre são as questões de linguagem e seu uso. Claro

que a relação com o contexto maior é fundamental no entendimento completo da linguagem, mas apenas

isso não é o suficiente para entender a complexidade e o funcionamento da língua.

3. Os versos seguintes fazem parte do poema “Um chamado João” de Carlos Drummond de Andrade em

homenagem póstuma a João Guimarães Rosa. Trabalhe as questões 4 e 5 a partir da leitura do poema.

Um chamado João

João era fabulista?

fabuloso?

fábula?

Sertão místico disparando

no exílio da linguagem comum?

Projetava na gravatinha

a quinta face das coisas

inenarrável narrada?

Um estranho chamado João

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para disfarçar, para farçar

o que não ousamos compreender?

(...)

Mágico sem apetrechos,

civilmente mágico, apelador

de precípites prodígios acudindo

a chamado geral?

(...)

Ficamos sem saber o que era João

e se João existiu

deve pegar. (Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manhã,

22/11/1967, publicado em Rosa, J. G. Sagarana. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)

a) No título, ‘chamado’ sintetiza dois sentidos com que a palavra aparece no poema. Explique esses dois

sentidos,

indicando como estão presentes nas passagens em que ‘chamado’ se encontra.

b) Na primeira estrofe do poema, ‘fábula’ é derivada em ‘fabulista’ e ‘fabuloso’. Mostre de que modo a

formação morfológica e a função sintática das três palavras contribuem para a formação da imagem de

Guimarães Rosa.

Resposta Esperada a) (2 pontos)

‘Chamado’, presente no título do poema, encontra-se também na segunda estrofe, em ‘um estranho

chamado João’, e na terceira estrofe, em ‘[acudindo] a chamado geral’.

Percebemos, no título, um trabalho de síntese dos dois sentidos de ‘chamado’ presentes nessas duas

estrofes do poema. Na passagem ‘um estranho chamado João’, ‘chamado’ significa “denominado”. Não se

cobrará, mas cabe explicitar que se trata de um particípio, com função adjetiva, que atribui ao ‘(homem)

estranho’ a qualidade de ser denominado como ‘João’. Deve-se notar nesse trecho que João é um nome

próprio muito comum, muito usual, que se presta a exemplificações do tipo “um João qualquer”. Por isso,

tratar ‘João’ como um termo que designa, nomeia, qualifica o homem, ressalta a singularidade desse

específico João (Guimarães Rosa).

Na passagem ‘[acudindo] a chamado geral’, ‘chamado’ significa “evocação”, “convocação”,

“pedido”. Igualmente não se cobrará, mas é importante notar que se trata de um substantivo, ou melhor, do

mesmo particípio, substantivado na língua portuguesa.

No título, ‘chamado’ pode ser entendido na síntese dos sentidos acima descritos: pode-se ler, nesse

enunciado, ora ‘um (homem) chamado João’, isto é, um homem denominado como João; ora, ainda, ‘uma

evocação denominada João’, caracterizada como típica de João. Nesta leitura, João é quem caracteriza o

chamado, sendo assim, João passa a ser uma qualidade, em função da força de sua obra. Sobretudo a um

leitor familiarizado com o estilo de Guimarães Rosa, é lícito desenvolver mais profundamente este sentido:

em última análise, a formulação permite-nos dizer que João é o próprio chamado.

b) (2 pontos)

Em termos morfológicos, no primeiro verso, ‘fábula’, acrescido do sufixo –ista, gera ‘fabulista’

(“alguém que escreve fábulas”); no segundo verso, acrescido de –oso, gera ‘fabuloso’ (“imaginoso”, “cheio

de fábula”, ou seja, “que tem a qualidade de ser incrível”, “extraordinário”). O jogo com a formação

morfológica das palavras contribui para a construção da imagem de Guimarães Rosa no poema, visto que

sugere uma imitação do estilo do poeta homenageado.

Em termos sintáticos, as três palavras acabam por atribuir uma qualidade ao sujeito, visto que

funcionam como seu predicativo. Nos versos 2 e 3 da primeira estrofe, essa função sintática – predicativo do

sujeito – se reconhece pela percepção da elipse do verbo “era”, presente no primeiro verso.

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Desse modo, o sentido de ‘fabulista’ designa o profissional, destacando a atividade de escritor, ao

passo que o de ‘fabuloso’ remete, de modo mais geral, a uma característica pessoal desse escritor, a de ser

incrível. Já a construção ‘(era) fábula?’ identifica o escritor com sua própria obra. Forma-se assim uma

imagem do poeta como tão extraordinário, que supera o incrível (‘fabuloso’) e se confunde com o mito

(‘fábula’).

Exemplo Acima da Média

Exemplo Abaixo da Média

Comentários

Primeiro, ‘chamado’ com o sentido de denominado, designado como João e depois, ‘chamado’ como

apelo, pedido, convocação. Esses eram os dois sentidos de ‘chamado’ no poema, resposta ao item a dessa

questão. Não eram necessárias explicações longas, nem a interpretação do poema, apenas deixar claros os

dois sentidos possíveis para ‘chamado’, diferenciando-os bem, e não somente mencionando o segundo

‘chamado’ no sentido de ‘chamar’, porque tal resposta não explica a diferença entre os dois (como ilustra o

exemplo abaixo da média). Já o item b era mais complexo, o que tornou essa questão difícil para muitos

candidatos. É sempre fundamental uma boa leitura das questões, atentando bem aos enunciados, ao que foi

pedido, ao que a resposta deve conter para ser considerada completa. Muitos candidatos perdem pontos em

razão de uma leitura apressada e/ou equivocada dos enunciados, o que acarreta respostas inadequadas ou

incompletas. O pedido nesse item era que se mostrasse como a formação morfológica e a função sintática

das três palavras contribuíam para a construção da imagem de Guimarães Rosa. O primeiro equívoco dos

candidatos foi confundir ‘formação morfológica’ com ´classificação morfológica´. Assim, ao invés de

apontarem a inclusão de sufixos na palavra ‘fábula’, e as mudanças de sentido acarretadas por essas

mudanças, classificaram as palavras ‘fábula’ como substantivo e ‘fabulista’ e ‘fabuloso’ como adjetivos. O

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segundo equívoco foi tratar apenas das relações entre as palavras, sem discutir como tal relação contribuía

para a formação da imagem de Guimarães Rosa. O terceiro engano foi apenas citar quais os sentidos das três

palavras, sem relacioná-los à morfologia e à sintaxe. E um último erro foi apenas interpretar o poema e/ou

discorrer sobre a obra de Rosa, esquecendo-se do que era solicitado na questão. A resposta completa a esse

item passava então pela indicação: da morfologia das palavras, mencionando-se o acréscimo de ‘-oso’ e

‘ista’ como alterador e ampliador do sentido de ‘fábula’; da sintaxe, que classifica as três palavras como

predicativos do sujeito, atribuindo assim qualidades ao sujeito nas orações respectivas e, finalmente, do

modo como esse jogo de relações caracteriza no poema o escritor Guimarães e sua obra. O candidato, em

sua resposta, não precisava usar nomenclatura gramatical como ‘sufixos’ ou ‘predicativo do sujeito’, por

exemplo. O importante era demonstrar o reconhecimento do funcionamento dessas palavras no poema,

quais as diferenças de sentido entre elas e as semelhanças de suas funções.

4. Na segunda estrofe, há dois processos muito interessantes de associação de palavras. Em

“inenarrável/narrada” encontramos claramente um processo de derivação. Em “disfarçar/farçar”, temos a

sugestão de um processo semelhante, embora ‘farçar’ não conste dos dicionários modernos.

a) Relacione o significado de ‘inenarrável’ com o processo de sua formação; e o de ‘farçar’, na relação

sugerida no poema, com ‘disfarçar’.

b) Explique como esses processos contribuem na construção dos sentidos dessa estrofe.

Resposta Esperada

a) (2 pontos)

O adjetivo ‘inenarrável’, derivado do verbo “narrar”, é formado por um duplo acréscimo: o do sufixo –vel

(que atribui ao adjetivo formado o sentido de uma possibilidade de praticar ou de sofrer uma ação), e o do

prefixo in- (de valor privativo ou negativo). A conjunção dos dois afixos resulta na negação da possibilidade

de algo ser narrado. Em ‘farçar’ temos um verbo que, no poema, se constrói a partir de ‘disfarçar’, do qual

se retira o segmento dis-. Obtém-se, com isso, um termo não dicionarizado, que, por semelhança com outros

termos, pode sugerir, ou a “ação de criar farsas”, “falsear”, “ludibriar”, ou, ainda, interpretando-se dis- como

privativo, “a ação de não disfarçar”, isto é, “revelar”, “mostrar”.

b) (2 pontos)

‘Inenarrável’ qualifica, junto com ‘narrada’, o mesmo sintagma: ‘a quinta face das coisas’ (2º. verso da

estrofe). Precisamente por ser justaposto a um termo contrário, e de mesma raiz, ‘inenarrável’ assinala um

absurdo, ou melhor, explicita o extraordinário da narrativa alcançada por Guimarães Rosa. Em ‘farçar’,

imitam-se procedimentos lingüísticos típicos do escritor homenageado, ao se estimular uma associação

etimológica não dicionarizada. A justaposição ‘disfarçar’/‘farçar’ chama a atenção para o elemento de farsa,

de simulação, presente em ‘disfarçar’, estratégia ilusória necessária para enfrentar a resistência em ver ‘o

que não ousamos compreender’ (último verso da estrofe).

Exemplo Abaixo da Média

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Exemplo Abaixo da Média

Comentários A questão 5 também se referia ao poema de Drummond e pode ser considerada como uma questão de nível

de dificuldade mediano. Mais uma vez, leituras desatentas apareceram como a causa mais provável dos

enganos cometidos pelos candidatos. O item a pedia a relação entre o significado de ‘inenarrável’ com o seu

processo de formação, e o de ‘farçar’, na relação com ‘disfarçar’, sugerida pelo poema. Eram duas palavras

diferentes, com duas relações diferentes. Em ‘inenarrável’, partia-se da palavra primitiva “narrar”,

acrescentando-se afixos, para se chegar ao sentido de “não possível de ser contado”. Alguns candidatos só

mencionaram a colocação de prefixos e sufixos, ao passo que outros só disseram que ‘inenarrável’ é o não

narrável, ou seja, em ambos os casos não foi trabalhada a significação dessa palavra. Já em ‘farçar’, o

candidato poderia, por analogia, considerar ‘dis’ como um “prefixo” e assim tornar ‘farçar’ o contrário de

‘disfarçar’, ou seja, revelar, mostrar, tornar visível. Embora, a rigor, etimologicamente, não se verifique esse

processo, a relação, no poema, permite fazer esse jogo. Outro caminho era considerar ‘disfarçar’ e ‘farçar’

com sentidos próximos, quase sinônimos; ‘farçar’ sendo a criação de farsas, o ludibriar, o esconder, o não

revelar. Ambos os sentidos são construídos a partir do poema e da relação com ‘disfarçar’, o que foi

claramente pedido na questão. Candidatos que apenas mencionaram ‘farçar’ como o contrário de ‘disfarçar’

não esclareceram o sentido da palavra, e aqueles que não fizeram referência à palavra ‘disfarçar’ também

não responderam à questão de maneira adequada. O item b pedia a explicação da contribuição dos processos

tratados no item a para a construção dos sentidos na estrofe do poema de Drummond. O candidato precisava

ter cuidado em garantir que sua resposta estivesse baseada no poema em questão e nas palavras discutidas

no item anterior. Não adiantava apenas uma interpretação geral da obra de Guimarães Rosa, homenageado

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por Drummond nesse poema. E algumas respostas pareceram desconsiderar o fato de Guimarães ser um

escritor, e de todo o poema tratar de suas habilidades justamente como escritor. Isto é, não um João

qualquer, que seria maravilhoso e espetacular em geral, mas sim, o João presente em suas obras, o que ele

fazia ao escrever, isso sim é o que está sendo referido nos versos. Remeter à questão 4 também não ajudaria

o candidato, já que lá se estava chamando a atenção para outras palavras do poema, para outros versos.

UFG TEXTO 1

HAMLET (1948)

Disponível em: <www.65anosdecinema.pro.br/Hamlet.htm>. Acesso em: 5 mai. 2009.

Direção: Laurence Olivier

Roteiro: Laurence Olivier

Produção: Laurence Olivier, Reginald Beck, Anthony Bushell

Música original: William Walton

Fotografia: Desmond Dickinson

Edição: Helga Cranston

Design de produção: Roger K. Furse

Direção de arte: Carmen Dillon

Figurino: Roger K. Furse, Elizabeth Hennings

Efeitos especiais: Henry Harris, Paul Sheriff, Jack Whitehead

País: UK

Gênero: Drama, Romance, Crime

Sinopse O príncipe Hamlet, filho do rei da Dinamarca, sente-se deprimido quando perde o pai. Seu tio, Claudius,

casase logo a seguir com sua mãe, a rainha Gertrude, e se torna o novo rei.

Pouco tempo depois, Hamlet se depara com o fantasma do pai, que lhe revela ter sido assassinado por

Claudius e lhe pede vingança. Atormentado com tanta tristeza, é ainda alvo de membros da família que tentam

convencê-lo de que está ficando louco.

Paralelamente, ele se sente apaixonado pela jovem Ophelia, filha de Polonius, conselheiro de Claudius e

Gertrude, e irmã mais nova de seu grande amigo, Laertes. Ao tomar conhecimento do romance, Polonius tenta intrigá-

lo com o fim de fazer com que o príncipe deixe de fazer a corte à sua filha.

Quando Hamlet procura a mãe para falar de suas suspeitas, segundo as quais Claudius teria assassinado seu

pai, ele termina matando acidentalmente Polonius, que a tudo escutava às escondidas. A infeliz morte do conselheiro

de Claudius dá a este o pretexto para afastá-lo do reino. Hamlet é, então, enviado para a Inglaterra.

Ao mesmo tempo, Laertes regressa do exterior, onde estudava, quando toma conhecimento da morte do pai e

da doença da irmã que, não suportando o fato de seu pai ter sido morto pelo seu grande amor, vive mergulhada numa

profunda tristeza e sofrendo de desmaios.

Ao retornar à Dinamarca, Hamlet se depara com o funeral de Ophelia. Aproveitando-se da situação, o rei

Claudius convence Laertes a convidar Hamlet para uma exibição, onde os dois lutariam com espadas. Por orientação

do rei, Laertes prepara sua espada com veneno em sua extremidade.

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No dia combinado, com a Corte reunida, inicia-se a luta. Após alguns passos, Laertes fere Hamlet no ombro

com sua espada envenenada. Enraivecido, este consegue igualmente ferir seu oponente com a mesma espada.

Nesse instante, a rainha Gertrude grita que fora envenenada. Ela tinha inadvertidamente bebido um vinho com

veneno, preparado por Claudius para Hamlet, caso este saísse com vida da luta.

Embora ferido, Hamlet, suspeitando de traição, ordena que todas as portas sejam fechadas. Laertes, então, diz

ser ele o traidor e que Hamlet não tem mais que meia hora de vida, já que não há nenhum tipo de medicamento que

possa curá-lo. Em seguida, pedindo perdão a Hamlet, morre com suas últimas palavras acusando o rei Claudius de ser

o responsável por toda essa tragédia. Hamlet, então, vira-se para o tio e crava a espada envenenada no coração do rei,

cumprindo, assim, a promessa de vingança feita ao pai. A seguir, chama seu amigo Horatio, que assistira a tudo, e lhe

pede que conte sua história para todo o mundo. Disponível em: <www.faccar.com.br/desletras/hist/2005>. Acesso em: 5 mai. 2009.

TEXTO 2

Hamlet (Uma sala do palácio do Itamarati. Hamleto entra vagarosamente e pára no meio da sala. Apóia o queixo na palma da mão esquerda, metida na abotoadura da sobrecasaca, e balança uma perna meditabundamente.) Hamleto (monologando) Ser ou não ser... Minh'alma eis o fatal problema. Que deves tu fazer nesta angústia suprema. Alma forte? Cair, degringolar no abismo? Ou bramir, ou lutar contra o federalismo? Morrer, dormir... dormir... ser deposto... mais nada. Oh, a deposição é o patamar da escada... Ser deposto: Rolar por este abismo, às tontas... (depois de longa meditação) E o câmbio? E o Vitorino? E o Tribunal de Contas (outra meditação) Morrer, dormir... dormir? Sonhar talvez, que sonho? Que sonho? A reeleição? [...] (cai numa reflexão profunda) Mas, enfim, para que ser novamente eleito? Se não fosse o terror... Se não fosse o respeito Que a morte inspira, e o horror desse sono profundo... Ah! quem suportaria os flagelos do mundo! [...] O comércio que morre; a indústria que adormece; A míngua da lavoura; o déficit que cresce Horrivelmente, como a estéril tiririca; [...] – Oh, quem resistiria a tanto, da alma forte, Se não fosse o terror do ostracismo e da morte? (Pausa) O ostracismo... região triste e desconhecida Donde nenhum viajor voltou jamais à vida... Ah! eis o que perturba... Ah! eis o que entibia Coragem maior e maior energia! (entra Ofélia) (voltando-se para ela) [...]

Hamleto Não te dei nada! Ofélia Deu! Deu-me elasticidade, Com que me transformei numa lei de borracha! Que estica à proporção que o câmbio escarrapacha! Meu Senhor! A que mais devo este prodígio, Senão ao seu amor, senão ao meu prestígio? Hamleto Dize, Constituição, és tu Republicana? Ofélia Meu Senhor. Hamleto Dize mais! És norte-americana? Ofélia Príncipe... [...] Hamleto Sou Vice-Presidente? Sou Presidente? Sou Ditador? Sou cacique? Oh! que paralisada a minha língua fique Se te minto! Não sou mais do que um homem! Parte! Que é de teu pai? Ofélia Não sei. Hamleto Devia acompanhar-te. A lei neste país, não pode andar sozinha... Parte para Chicago! A tua dor é a minha: É a dor que anda a chiar em toda a vida humana Parte para a imortal nação americana! Parte para Chicago! [...]

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TEXTO 3

Disponível em: <www.faccar.com.br/desletras/hist/2005>. Acesso em: 5 mai. 2009.

QUESTÃO 1 O filme Hamlet, de Laurence Olivier, é considerado uma adaptação exemplar da clássica peça de

Shakespeare, escrita entre 1600 e 1602, e é a grande referência pela qual as futuras versões cinematográficas são

julgadas.

Considerando a construção textual da sinopse do filme (1948) e da peça teatral Hamlet, de Shakespeare, explique

como a voz das personagens é marcada no gênero sinopse e no gênero peça teatral.

QUESTÃO 2 Como forma de despertar no leitor o interesse pelo filme, a sinopse é uma síntese informativa que antecipa

parte de seu enredo. Com base nessa afirmação e no fato de a sinopse ser um gênero narrativo, qual é o tempo verbal

predominante na sinopse do filme Hamlet e que efeito é produzido com o uso desse tempo?

QUESTÃO 3 No poema Hamlet, de Olavo Bilac, quais elementos recriam a peça de William Shakespeare e por que o

poema se configura como uma paródia?

QUESTÃO 4 Pode-se afirmar que Olavo Bilac compara o ato de governar uma república com a tragédia de Hamlet. Com

base no texto 2, explique o dilema vivido por Hamleto.

QUESTÃO 5 Com base no quadrinho (texto 3) e na história de Hamlet (texto 1), responda:

a) No quadrinho, que recursos linguísticos constroem a intertextualidade entre a fala de Magali e o dilema de Hamlet?

b) Mesmo se apropriando do dilema de Hamlet, a personagem Magali mantém traços de sua identidade, o que produz

humor. Quais são esses traços e por que o humor é produzido?