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Direitos Humanos para Polícia Rodoviária Federal Teoria & Exercícios Rafael Fernandez – Aula 00 Rafael Fernandez Página 1 de 41 AULA 00 Conceito, evolução histórica e características dos Direitos Humanos Curso de Direitos Humanos e Cidadania Rafael Fernandez SUMÁRIO PÁGINA 1 Conceito 3 2 Terminologia 4 3 A dignidade da pessoa humana e os valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade 8 4 O conceito de cidadania e sua origem 11 5 Evolução histórica 12 5.1 Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais? 14 5.2 Classificação tradicional 15 5.2.1 Primeira geração 16 5.2.2 Segunda geração 20 5.2.3 Terceira geração 21 5.2.4 Quarta geração 23 5.2.5 O porvir dos direitos humanos 25 6 Características 26 7 Questões Comentadas 33 8 Questões de Fixação 37 9 Gabarito das questões de fixação 41

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Direitos Humanos para Polícia Rodoviária Federal Teoria & Exercícios

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AULA 00

Conceito, evolução histórica e

características dos Direitos Humanos

Curso de Direitos Humanos e Cidadania

Rafael Fernandez

SUMÁRIO

PÁGINA

1 Conceito 3

2 Terminologia 4

3 A dignidade da pessoa humana e os valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade

8

4 O conceito de cidadania e sua origem 11

5 Evolução histórica 12

5.1 Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais? 14

5.2 Classificação tradicional 15

5.2.1 Primeira geração 16

5.2.2 Segunda geração 20

5.2.3 Terceira geração 21

5.2.4 Quarta geração 23

5.2.5 O porvir dos direitos humanos 25

6 Características 26

7 Questões Comentadas 33

8 Questões de Fixação 37

9 Gabarito das questões de fixação 41

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Aula 00

Conceito, características e evolução histórica dos Direitos

Humanos.

Aula 01

Princípios Básicos para utilização da força e armas de fogo, adotado pela ONU em 07/07/1990.

Aula 02

Código de conduta para os encarregados da aplicação da lei, adotado pela ONU pela Resolução 34/169 de 17/12/1979.

Olá caro amigo(a), seja bem-vindo(a) ao Curso de Direitos

Humanos e Cidadania que vai te ajudar a garantir uma das 1.500 vagas

para o próximo concurso de Agente da Polícia Rodoviária Federal.

Antes de começar a estudar este agradável assunto chamado

Direitos Humanos, vou aproveitar para falar um pouco sobre mim:

Sou Rafael Fernandez, Oficial das Forças Armadas há 15 anos,

Bacharel em Ciências Navais pela Escola Naval e pós-graduado em Direito

Constitucional pela Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.

Leciono Direito Constitucional e Direitos Humanos em diversos cursos

preparatórios presenciais e on-line no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília,

Belo Horizonte, Bahia etc. Já fui aprovado em diversos concursos públicos

desde que decidi entrar para a carreira pública, entre eles: Escola Naval

(35º classificado para 64 vagas, 1997); Academia da Força Aérea (4º

classificado para 30 vagas, 1997); Escola de Formação de Oficiais da

Marinha Mercante (3º classificado de 60 vagas, 1997); Escrivão da Polícia

Civil do DF (118º classificado para 120 vagas, 2008); Polícia Rodoviária

Federal, MT (6º classificado na prova objetiva para 146 vagas, 2008);

Oficial de Inteligência da ABIN (59º classificado na prova objetiva para

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160 vagas, 2008); Polícia Rodoviária Federal, RJ (7º classificado na prova

objetiva para 30 vagas, 2009)...

Logo, conte comigo! Um professor “concurseiro”! São 1.500

vagas e você terá a sua! Estamos juntos nessa!

Este material abordará todo o conteúdo de Direitos Humanos e

Cidadania previsto no edital publicado pela organizadora do último

concurso da PRF, utilizando linguagem acessível e de fácil entendimento.

Nosso curso mistura teoria com exercícios de diversas bancas

organizadoras e ao final de cada capítulo apresentarei exercícios

comentados ou gabaritados, com o objetivo de fixar os conhecimentos

adquiridos durante cada aula.

Também agradeço, inicialmente, a forte colaboração da Dra.

Sabrina Guimarães, estudiosa das leis e profissional do Direito Privado e

Empresarial, sem contudo perder sua paixão pela seara pública onde

escreve em Direito Constitucional e Direitos Humanos.

1) Conceito

De maneira bastante abrangente, os direitos humanos são o

somatório de valores, atitudes e regras, representado por um conjunto

mínimo de direitos e garantias necessárias para assegurar uma existência

livre e digna a todos os seres humanos.

A materialização de tais direitos acaba consolidando normas

jurídicas externas e internas que representam verdadeiros instrumentos e

mecanismos de proteção da pessoa humana, tais como tratados,

declarações, cartas, convenções, acordos, protocolos, pactos

internacionais, estatutos, regulamentos, bem como as Cartas Políticas e

Constituições dos Estados e suas respectivas legislações pátrias

infraconstitucionais.

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Por fim, resumimos como direitos inerentes à pessoa humana,

independentemente de normas regulamentadoras, entre estes: vida,

igualdade, liberdade e segurança pessoal. São direitos universais e

indivisíveis.

2) Terminologia

Quanto à terminologia dos direitos humanos, o professor Norberto

Bobbio retrata que a especificação se produz em relação aos titulares dos

direitos e também com o conteúdo dos mesmos, tendo uma conexão

indiscutível com sua consideração como um conceito histórico, ou seja,

está inserto na cultura política e jurídica moderna. E podem alcançar o

sentido do consenso que integra a moralidade tradicional do direito.

Diante desta terminologia destaca-se que o referido professor

italiano demonstra a impossibilidade de lidar com os direitos humanos de

forma absoluta e suprema, pelo menos no que diz respeito a sua

definição, ressaltando algumas dificuldades: ser um fenômeno

heterogêneo e a terminologia dos direitos humanos ser extremamente

vaga e uma antinomia entre os direitos invocados pelas pessoas. Logo,

essa contribuição torna-se base para a democracia e para a cidadania.

A questão fundamental sobre os direitos do homem, atualmente,

não é justificar sua aplicação, mas protegê-los. Trata-se de um problema

basicamente político.

Direitos Individuais

Direitos do Homem: direitos inerentes a todos os seres humanos (Ex.: vida, igualdade, liberdade, segurança pessoal...).

Direitos Fundamentais: direitos positivados em uma Constituição ou Carta Política.

Direitos Humanos: direitos positivados em tratados de direitos humanos.

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Para a identificação desta liberdade identificamos a liberdade

promocional, sendo o método mais adequado o das necessidades básicas,

preconizado por Norberto Bobbio, “a necessidade é um critério que

satisfaz melhor que a capacidade e a qualidade das necessidades, que

não a quantidade ou a qualidade da necessidade demonstrada nesta ou

naquela atividade ou trabalho realizado nesta ou naquela obra”.

A terminologia dos direitos humanos tem seu começo na 2ª Guerra

Mundial e, foi criada num contexto a trazer os países para uma nova

concepção de relacionamento interestatal.

Fruto de uma realidade cultural da vida social, os direitos humanos

buscam a eficácia para a realização de objetivos.

Relacionando-os com a realidade do poder político do Estado, e

limitado por este, mas que é capaz de assumir estes valores de apoio

moral a ideia de direitos, e convertê-los em valores políticos, metas e

ações para conduzir e orientar a vida em uma dada sociedade.

São Tomás de Aquino, doutor da Igreja Católica, importante

estudioso para a elaboração do conceito de direitos humanos estabeleceu

a definição Boeciana de pessoa, adotada pela Igreja Católica Apostólica

Romana, tendo como foco a tese do bem comum e de uma vida digna

para todos os homens, e que ao mesmo tempo dá ênfase à dignidade do

trabalho e do trabalhador. Tal é uma das contribuições do Cristianismo

para a criação de uma definição dos direitos humanos.

O cristianismo fortalece o ensino da igualdade quando afirma que

nenhum ser humano detém mais dignidade que seus pares, estando

todas as pessoas em um mesmo nível, sem quaisquer discriminações.

Historicamente, os direitos humanos ratificam o desenvolvimento da

dignidade da pessoa humana consistindo no principal direito fundamental

fixado em quatro valores interdependentes:

a) Liberdade;

b) Igualdade;

c) Segurança Pessoal; e

d) Solidariedade ou Fraternidade.

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Estes quatro valores supracitados prolongam a vida social dos

indivíduos dando verdadeira dignidade à pessoa humana.

A dignidade é algo inerente a todo ser humano e dele não se

desprende em nenhuma situação ou hipótese, sempre dotada de

universalidade e indivisibilidade.

A ideia base que já se tinha, até mesmo no pensamento clássico, é

que a dignidade da pessoa humana era uma qualidade intrínseca do

indivíduo irrenunciável e inalienável, constituindo elemento que

qualifica o ser humano como tal e dele não pode ser separado, de tal

sorte que não se pode cogitar na possibilidade de determinada pessoa ser

titular de uma pretensão a que lhe seja concedida dignidade. Esta,

portanto, como qualidade integrante e irrenunciável da própria condição

humana.

Caso exista universalidade em relação à terminologia dos direitos

humanos, este é o caminho da dignidade da pessoa humana. Pode-se

dizer que esta dignidade não se diferencia em nenhum lugar do mundo e,

portanto, é dotada de universalidade, sendo esta uma das principais

características dos direitos humanos já em sua concepção

contemporânea, ou seja, a que conhecemos nos dias atuais.

Kant ensina que o ser humano está acima de tudo e que nele se

centra o sentido de todo o sentido da existência e afirmando a qualidade

peculiar e insubstituível deste ser, diz-nos também que no reino dos fins

tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço,

pode pôr-se em vez dela qualquer outra coisa equivalente; mas quando

uma coisa está cima de todo o preço e, portanto não permite equivalente,

então ela tem dignidade.

O conceito de direitos humanos teve seu crescimento histórico de

maneira sucessiva e gradual. Em verdade, a noção de direitos humanos

expandiu-se historicamente.

Como já estudado na aula anterior, é possível entender os direitos

humanos em dimensões ou gerações sucessivas que foram se

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acumulando e aglutinado umas às outras, sendo a primeira tratando

sobre direitos referentes às liberdade públicas (direitos civis e políticos),

sucedendo-se de outra relacionada à igualdade (direitos sociais,

econômicos e culturais) e uma terceira, vinculada à solidariedade ou

fraternidade (direito ao desenvolvimento, à paz e à autodeterminação dos

povos, por exemplo).

Os direitos humanos não são uma informação ou um dado, mas

uma invenção, uma construção humana, em permanente processo de

construção e reconstrução.

Consoante a lição do excelso mestre italiano Norberto Bobbio, na

obra, A Era dos Direitos, “os direitos humanos nascem como direitos

naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos

particulares (quando cada Constituição incorpora Declarações de

Direitos), para finalmente encontrarem sua plena realização como

direitos positivos universais”.

Este processo de internacionalização dos direitos humanos

constitui um movimento muito recente na história, emergindo no pós 2ª

Guerra Mundial, como resposta dos povos aos crimes, atrocidades e

horrores praticados pelo nazismo. Nas palavras de Flávia Piovesan, “Se

a 2ª Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o Pós-Guerra

deveria significar a sua reconstrução. É neste cenário que se desenha o

esforço de reconstrução dos direitos humanos, como paradigma e

referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea.

Fortalece-se a ideia de que a proteção dos direitos humanos não deve se

reduzir ao domínio reservado do Estado, isto é, não deve se restringir à

competência nacional exclusiva ou à jurisdição doméstica exclusiva,

porque revela tema de legítimo interesse internacional.”

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3) A dignidade da pessoa humana e os valores da liberdade, da

igualdade e da solidariedade.

Desde Aristóteles, na Grécia antiga, a dignidade é tema que serviu

de reflexão para diversos pensadores em todo o mundo. Todavia, o

conceito de dignidade era relativo, pois os escravos (geralmente

indivíduos de povos derrotados em guerras ou batalhas) não eram

considerados titulares ou destinatários do princípio da dignidade.

Contudo, essa concepção evoluiu. Vejamos as contribuições de alguns

filósofos e pensadores ao longo da história:

Pensador

Contribuição

São Tomás de Aquino Fixou-se na abordagem teológica e ainda na Idade Média foi

o principal pensador a dedicar-se ao assunto.

Pico Della Mirandola

Florentino, que aproximadamente em 1490, escreveu Oratio

hominis dignitate (Discurso sobre a Dignidade do Homem) desenvolvendo o princípio da dignidade fora da visão teológica, até então predominante.

Francisco de Vitória

De nacionalidade espanhola e quase contemporâneo Mirandola, Francisco defendeu em suas obras a universalidade da dignidade, ou seja, todos os seres humanos seriam dotados e teriam direito à dignidade decorrendo, consequentemente, que a escravidão era um crime, conflitando fortemente com o pensamento predominante da

época. Sua principal obra foi Os Índios e o Direito da Guerra.

Samuel Pufendorf

Pensador alemão, que no século XVII, defendeu que todos devem respeitar a dignidade da pessoa humana, inclusive um monarca, deverá ter o entendimento que seus súditos e cidadãos têm o direito de agir livremente e determinar-se

conforme sua razão e entendimento, mesmo os mais pobres e hipossuficientes.

Immanuel Kant

Filósofo alemão, que no século XVIII, propôs a teoria do imperativo categórico: o homem é um fim em si mesmo e, por isso, não pode ser tratado como objeto nem usado como meio de obtenção de qualquer objetivo, como a servidão. Entre

suas obras mais importantes está a Crítica da Razão Pura, que, ainda hoje, é um dos livros mais importantes para a definição de conceitos jurídicos modernos.

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Ironicamente, foram os nazistas com as barbáries cometidas

durante a 2ª Guerra Mundial, os responsáveis diretos pela

promulgação, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, da Declaração

Universal dos Direitos Humanos, pela Organização das Nações Unidas,

que estudaremos adiante em momento oportuno.

“Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a

todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e

inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no

mundo, (...)

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na

Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e

no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos

homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso

social e melhores condições de vida em uma liberdade mais

ampla, (...)

Artigo I

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação

umas às outras com espírito de fraternidade. (...)

Artigo XXII

Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à

segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela

cooperação internacional e de acordo com a organização e

recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e

culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre

desenvolvimento da sua personalidade. (...)

Artigo XXIII (...)

3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa

e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma

existência compatível com a dignidade humana, e a que se

acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.”

(Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948)

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Após breve retrospectiva histórica, tem-se que a dignidade da

pessoa humana nada mais é do que um dos princípios que constituem um

grande conjunto de princípios formadores dos Direitos Humanos, estes na

concepção conforme já vista anteriormente, ou seja, são direitos naturais

não positivados em Constituições ou ordenamentos pátrios embora já

possam estar presentes em tratados ou convenções internacionais

firmados entre Estados diversos.

A partir da Magna Carta1 inglesa, em 1215, os jusfilósofos e juristas

começaram a consolidar o princípio da dignidade da pessoa humana, que

por sua vez, tal princípio, é objeto de estudo da Filosofia do Direito.

Etimologicamente, dignidade vem do latim dignitate, que quer

dizer honra ou virtude, sendo a dignidade um valor ou bem em si mesma,

em que é obrigação do Estado, enquanto Poder Público, garantir através

de meios efetivos e condições mínimas de existência uma vida digna para

todo indivíduo.

No caso brasileiro, tal valor está gravado constitucionalmente como

princípio fundamental já no artigo 1º do Texto Magno de 1988, in verbis:

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,

constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como

fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político. (...)”

Por fim, cabe ressaltar que alguns autores, entre eles Paulo

Hamilton Siqueira Júnior e Miguel Augusto Machado de Oliveira, defendem

1 Magna Carta Libertatum Concordiam inter regem Johannen at barones pro concessione

libertatum ecclesiae et regni angliae (Carta magna das liberdades ou Concórdia entre o

Rei João e os Barões para a outorga das liberdades da Igreja e do rei inglês).

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que a dignidade da pessoa humana é o mais importante

fundamento constitucional do Estado brasileiro.

4) O conceito de cidadania e sua origem

Cidadania seria o conjunto de direitos e deveres que permite que

o indivíduo tome parte na gestão pública, e também cria obrigações para

ele em relação à sociedade em que vive, submetendo-o ao poder de

império do Estado.

Etimologicamente, “cidadania” é uma expressão originária do latim

civitas , fazendo referência ao homem habitante da cidade, e que na

Roma antiga indicava a condição política de uma pessoa (excetuando

mulheres, escravos, crianças e outros) e seus direitos e deveres para com

o Império Romano.

Conforme Dalmo Dallari, “a cidadania expressa um conjunto de

direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida

e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado

ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição

de inferioridade dentro do grupo social”.

A concepção de cidadania sempre esteve vinculada à ideia de

direitos e garantias, especialmente dos direitos políticos (1ª geração), que

permitem ao indivíduo participar direta e/ou indiretamente da coisa

pública, ou seja, gerir politicamente seu país, através do sufrágio ou de

inúmeros instrumentos diretos de democracia colocados à disposição do

cidadão, não excluindo, por exemplo, a possibilidade, também, de ter

acesso a cargos e funções públicas por concurso público ou aqueles de

livre nomeação.

Contudo, na democracia, a destinação de direitos pressupõe,

automaticamente, a contrapartida de deveres, uma vez que em uma

coletividade, que no nosso caso convencionamos denominar “povo”, os

direitos de determinado indivíduo são assegurados a partir da execução

dos deveres dos demais componentes desta “massa cidadã”.

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O conceito de cidadania originou-se na Grécia clássica, até então

aplicado para indicar os direitos inerentes ao cidadão, por conseguinte,

aquele que habitava na cidade e tomava parte das questões políticas.

Logo, cidadania pressupunha as implicações originadas da vida em grupo,

a partir do momento que o homem resolveu se organizar como tal. No

decorrer da história, esta concepção foi estendida, passando a

compreender o rol de valores sociais que pressupõem todos os

direitos e deveres do cidadão.

A cidadania sempre esteve em constante desenvolvimento e

é um dos parâmetros de referência das conquistas feitas pela humanidade

desde a antiguidade até agora.

5) Evolução Histórica

Podemos apontar a origem dos direitos individuais do homem na

antiguidade, precisamente entre 1000 e 2000 anos a.C., na

Mesopotâmia e no antigo Egito, onde surgiram instrumentos de proteção

individual em relação ao poder político do Estado.

Exemplificando o parágrafo anterior, o Código de Hammurabi (1690

a.C.), reconhecido por alguns historiadores como a primeira codificação a

estabelecer um rol de direitos humanos, previa comumente a todos os

homens, o direito a vida, propriedade, honra, dignidade, família,

estabelecendo inclusive, a supremacia das normas em relação ao Estado

e seus governantes.

Buda (500 a.C.), como o príncipe Siddhartha Gautama, abdicou de

sua realeza, e propagou a mensagem de igualdade entre todos os

homens.

Futuramente, mas ainda na Grécia antiga, emergiram diversos

estudos sobre a necessidade da liberdade e igualdade do ser humano,

destacando a importância conferida à participação política dos cidadãos

(democracia direta de Péricles); a defesa de um direito natural superior e

anterior às leis escritas e estabelecidas pela sociedade e pelo Estado,

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defendida por sofistas e estoicos, como por exemplo, na tragédia grega

Antígona (Sófocles, 421 ou 422 a.C.).

E foi no Direito Romano que nasceram instrumentos capazes de

tutelar os direitos do indivíduo em sua relação vertical com o Estado,

em que consideramos a Lei das Doze Tábuas a gênese escrita onde se

consagra a liberdade, a propriedade e a proteção dos direitos do cidadão.

Não se esquecendo do papel do Cristianismo e sua influência direta,

que propagou o pensamento de igualdade entre os homens,

independentemente de suas diferenças, em muito patrocinado pelo

avanço e domínio dos romanos.

Contudo, alguns autores indicam como marco inicial dos

direitos humanos a Magna Cartha Libertatum inglesa de 1215,

assinada pelo rei “João Sem Terra”, que mesmo não visando criar um

campo irredutível de liberdades individuais, garantiu poder político aos

barões e homens livres, limitando os poderes monárquicos.

A positivação dos direitos humanos iniciou-se ao final do século

XVIII, marcado indelevelmente pela Revolução Francesa, originando a

Déclaration dês Droits de l’Homme et du Citoyen (Declaração dos Direitos

do Homem e do Cidadão) de 1789, e a Virginia Bill of Rights de 1776

(Declaração de Direitos da Virgínia), sendo esta última uma das

declarações de direitos feitas pelos Estados estadunidenses, ao

assumirem sua independência frente à coroa britânica.

O surgimento dos direitos humanos ocorre pela necessidade

de limitar o poder e autoridade do Estado, emergindo como uma

tutela às liberdades individuais frente aos abusos e ilegalidades

perpetrados pelo poder estatal e sua ingerência abusiva na esfera

particular. Logo, em um primeiro instante, exigiu-se do Estado a omissão,

ou seja, um não fazer (abstenção) em relação às liberdades individuais,

que podemos nominar como liberdades negativas, direitos negativos ou

direitos de defesa.

Resumindo, a necessidade de obrigar o Estado a criar um

comportamento de abstenção (não fazer), em relação às

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liberdades individuais, fez nascer os direitos humanos, aumentando

o domínio da autonomia do indivíduo em sua relação vertical com o

Estado.

Adiante, no século XX, observou-se uma mudança de ângulo nos

direitos humanos, com o reconhecimento da sua segunda dimensão ou

“geração” – direitos sociais, econômicos e culturais -, quando o

indivíduo e a coletividade passaram a exigir uma atuação comissiva do

poder estatal, ou seja, prestações positivas do poder público em

benefício do indivíduo, conforme noticia o artigo 6º da Constituição

Federal, nos seguintes termos: São direitos sociais a educação, a saúde, a

alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência

social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados, na forma desta Constituição.

5.1) Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais?

Embora direitos humanos e direitos fundamentais sejam expressões

utilizadas, na maioria das vezes, como sinônimas, há diferenças entre

elas e cabe-nos aqui fazer esta distinção.

O termo direitos humanos deve ser resguardado para as

reinvindicações e direitos primários do homem, baseados no

jusnaturalismo e possuidores de caráter filosófico, desprovidos de

positivação num ordenamento jurídico específico, positivação esta que

seria característica marcante dos direitos fundamentais. Tal termo

também é utilizado para indicar pretensões de reconhecimento da

dignidade da pessoa humana, contidas em instrumentos e mecanismos de

direito internacional.

Já o termo direitos fundamentais é indicado para referenciar os

direitos e garantias relacionadas às pessoas, e já materializados pelo

Direito de cada Estado. Seriam direitos que já produzem efeitos em um

ordenamento jurídico específico e já são assegurados tanto na ordem

espacial quanto temporal, porque são garantidos na proporção em que

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cada Estado os normatiza internamente, principalmente por intermédio de

Cartas Políticas e Constituições.

Contudo, uma parcela dos autores não distingue direitos humanos

de direitos fundamentais, tratando-os como sinônimos e semelhantes.

5.2) Classificação tradicional

Há classificações e mais classificações dos direitos humanos, sob os

mais variados critérios2, diz-nos José Afonso da Silva.

Entre os mais diversos critérios, a doutrina tradicional costuma

classificar os direitos humanos em “gerações”. Todavia a doutrina

moderna optou pela nomenclatura “dimensão de direitos”,

considerando-se o momento de seu surgimento e reconhecimento pelos

ordenamentos constitucionais.

Como dito anteriormente, esta classificação tradicional em

“gerações de direitos” tem sido objeto de recentes críticas, haja vista o

termo “geração” torna-se impróprio quando analisamos todo o processo

histórico de surgimento e desenvolvimento dos direitos humanos.

Se as gerações traduzem o conceito de sucessão, o que

importaria o fim de uma linhagem em benefício do surgimento de outra, é

fácil imaginarmos o porquê da predileção moderna por “dimensões de

direitos” uma vez que a realidade histórica dos direitos humanos indica a

simultaneidade ou concomitância do surgimento de documentos

jurídicos referentes a direitos humanos, de uma ou outra espécie, seja de

primeira ou segunda dimensão, como por exemplo, a falta de sincronia

existente entre os ordenamentos jurídicos internos dos países e o Direito

Internacional Público, pois as Constituições nacionais, em sua maioria,

reconheceram, primeiramente, os direitos civis e políticos (primeira

dimensão) para ulteriormente constitucionalizarem os direitos sociais

(segunda dimensão) enquanto que no campo internacional, regido pelo

Direito Internacional Público, o surgimento da Organização Internacional 2 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo.

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do Trabalho (OIT), em 1919, criou bases para o surgimento de diversos

tratados e convenções normatizando os direitos sociais dos trabalhadores

(segunda dimensão), e só, posteriormente, os direitos civis e políticos

(primeira dimensão) foram internacionalizados.

5.2.1) Primeira geração

Traduzindo o valor de liberdade, são direitos humanos de

primeira dimensão aqueles inspirados nas doutrinas iluministas e do

jusnaturalismo racional, cujo pensamento influenciou as revoluções

burguesas dos séculos XVII e XVIII. São as liberdades públicas, como os

direitos políticos e civis, reconhecidos na Revolução Francesa e

Estadunidense, e as liberdades clássicas como, por exemplo, o direito à

vida, à segurança, à propriedade e à liberdade, tornando sua matéria um

privilégio para o ser humano abstrato ou descontextualizado. Tratam-se

de direitos de oposição diante da abusividade do poder estatal,

circunscrevendo uma área de não intervenção do Estado perante a

independência e autonomia do indivíduo, ou seja, são liberdades

negativas onde o Estado deve permanecer no campo do não fazer ou

da não interferência (omissão).

Surgiram no final do século XVIII, como oposição do liberalismo

ao absolutismo, e preencheram todo o século XIX, haja vista os direitos

de segunda dimensão somente vieram a se desenvolver no século XX.

Materializam os instrumentos de defesa das liberdades

individuais, a partir da urgência da não intervenção opressora do Estado

absoluto no campo particular do indivíduo, preocupando-se em delimitar

fronteiras para as ações dos poderes públicos em benefício do indivíduo.

Denominam-se direitos negativos, liberdades negativas ou direitos

de defesa do particular contra o poder político estatal.

Como exemplos de direitos de primeira dimensão: vida, liberdade,

propriedade, segurança, liberdade de expressar o pensamento, liberdade

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de crença religiosa, liberdade de reunião, inviolabilidade de domicílio,

associação política, liberdade de locomoção etc.

Entre os documentos históricos que mais contribuíram para o

surgimento e a configuração dos direitos humanos de primeira dimensão,

podemos citar:

a) Magna Cartha Libertatum (15 de junho de 1215), firmada pelo rei

inglês “João Sem-Terra”, foi feita para proteger, essencialmente, os

privilégios dos barões e os direitos dos homens livres. Entre diversos

outros direitos e garantias, a Magna Cartha estabelecia: limitações

tributárias para o Estado, liberdade da Igreja da Inglaterra,

proporcionalidade entre o delito cometido e a sanção a ser aplicada pelo

poder público, previsão do devido processo legal, liberdade de locomoção,

liberdade para entrar e sair do país e livre acesso à Justiça.

b) Petition of Rights3 (1628), requeria o reconhecimento de direitos e

liberdades para os súditos e previa, entre outros direitos, que nenhum

homem livre ficasse sob prisão ou detido ilegalmente e que ninguém seria

obrigado a contribuir com qualquer dádiva, empréstimo ou benevolência e

a pagar qualquer taxa ou imposto, sem o consentimento de todos,

manifestado por ato do Parlamento.

c) Habeas Corpus Amendment Act4 (1679), instituído no reinado de

Carlos II na Inglaterra, foi uma das maiores conquistas da liberdade

individual em face do Estado como remédio judicial destinado a evitar ou

a fazer cessar violência ou a coação na liberdade de locomoção, por

ilegalidade ou abuso de poder, mesmo embora, tal mecanismo já se

encontrasse existente no Direito romano (interdictum de libero homine

exhibendo). O Habeas Corpus Amendment Act normatizou o referido

remédio que já existia na common law e entre outras previsões de

3 Petição dos Direitos. 4 Emenda de Habeas Corpus

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direitos e garantias, estabelecia até multa de £500 para o indivíduo que

tornasse a prender, pelo mesmo fato, o cidadão que já tivesse obtido a

ordem de soltura;

d) Bill of Rights5 (13 de fevereiro de 1689), decorrente da abdicação do

rei Jaime II e outorgada pelo Príncipe de Orange, efetivou o surgimento

da Monarquia Constitucional na Inglaterra, submetendo enormemente a

autoridade real à soberania popular, prevendo, por exemplo, o

fortalecimento do princípio da legalidade, criação do direito de petição,

liberdade de eleição dos membros do Parlamento, imunidades

parlamentares, vedação à aplicação de penas cruéis e convocação

periódica do Parlamento. Apesar da Bill of Rights ter constituído,

indubitavelmente, um enorme avanço no que tange à declaração de

direitos, esta, em seu item de número IX, cerceava a liberdade de crença

religiosa e promovia indiretamente uma “perseguição” protestante em

detrimento dos cidadãos católicos;

e) Act of Settlement6 (12 de junho de 1701), proibia que fosse

escolhido pela Câmara dos Comuns (Poder Legislativo) algum indicado

que tivesse cargo ou recebesse proventos do monarca (rei ou rainha) ou

que fosse pensionista da coroa. Temia-se a subordinação de um Poder ao

outro e visava reforçar a separação dos poderes, tal qual defendeu

Charles Louis de Secondat Montesquieu em L’Esprit des lois (1748).

Basicamente, foi um ato regulamentador que reafirmou o princípio da

legalidade e da responsabilização política dos agentes públicos, inclusive

prevendo a possibilidade de impeachment dos magistrados.

f) Virginia Bill of Rights (16 de junho de 1776), juntamente com a

Declaração de Independência dos Estados Unidos da América e a sua

primeira Constituição, constituiu um importante documento histórico na

5 Declaração de Direitos 6 Ato de Regulamentação

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evolução dos direitos humanos. Objetivou proclamar o direito à vida, à

liberdade, e à propriedade. Outros direitos humanos foram expressos na

declaração, como o princípio da legalidade, a liberdade de imprensa, o

devido processo legal, o júri popular, o princípio do juiz natural e a

liberdade religiosa, esta última na Seção XVI da declaração;

g) Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (4

de julho de 1776), produzida quase que inteiramente por Thomas

Jefferson, declarou a limitação do poder político do Estado frente as

liberdades individuais;

h) Constituição dos Estados Unidos da América e suas emendas (17

de setembro de 1787), visou limitar o Estado consagrando a separação

dos poderes e direitos humanos: ampla defesa, devido processo legal, júri

popular, liberdade de crença religiosa, vedação à aplicação de penas

cruéis ou aberrantes e inviolabilidade de domicílio.

i) Déclaration dês Droits de l’Homme et du Citoyen7 (26 de agosto

de 1789), promulgada pela Assembleia Nacional com dezessete artigos,

apresenta verdadeiro breviário do Constitucionalismo, entre os

direitos e garantias mais importantes declarados estão: princípio da

legalidade, princípio da igualdade, princípio da reserva legal e

anterioridade em matéria penal, princípio da presunção de inocência,

liberdade, propriedade, segurança, associação política, liberdade de

crença religiosa, livre manifestação do pensamento e o direito de

resistência à opressão e tem como pressuposto o conceito de cidadão.

Objetivou proteger o homem em face do Estado. Representa,

inegavelmente, o mais importante estatuto de reconhecimento dos

Direitos Humanos, influenciando todo o movimento de positivação de

tais direitos, que aconteceu nas democracias do Ocidente, bem como na

Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. 7 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

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5.2.2) Segunda geração

A segunda dimensão trata dos direitos referentes à igualdade,

que surgiram impulsionados e inspirados pelos movimentos sociais e

pela primeira Revolução Industrial na Europa do século XIX, decorrentes

das péssimas e precárias condições trabalhistas e humanitárias em que se

encontrava o proletariado. Tais condições de trabalho contribuíram para a

eclosão de movimentos como o Cartista na Inglaterra, e a Comuna de

Paris (1848), que buscaram reivindicações de cunho trabalhista e

assistencial, em prol do indivíduo concreto e situado.

Logo após, observamos o início do século XX ser marcado pela

Primeira Guerra Mundial e pelo reconhecimento dos direitos sociais, que

são o cerne da segunda dimensão. Comprovamos essa forte presença

de direitos sociais no Tratado de Versalhes (1919) e na Constituição de

Weimar (1919), na Alemanha, além de outros textos. Tal dimensão,

relacionada ao século XX, comporta direitos coletivos, próprios dos

seres humanos, como os sociais, econômicos e culturais, referentes

aos direitos de igualdade. São liberdades positivas, reais, concretas

e objetivas, pois conduzem indivíduos materialmente desiguais aos

conteúdos dos direitos através de instrumentos do Estado presente e

intervencionista. Reclamam a igualdade material, através da

intervenção positiva do Estado, para sua efetiva concretização.

Realçou a lenta passagem do Estado liberal (individualista)

para o Estado social, voltado para a tutela de direitos e garantias dos

hipossuficientes e na busca da igualdade material entre os indivíduos,

ao contrário do estabelecimento da igualdade formal, como se garantiu no

Liberalismo.

Correspondem aos direitos de participação assegurados pela

implementação de serviços e políticas públicas, exigindo-se do poder

estatal, prestações sociais positivas. Logo, são denominados

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liberdades positivas, direitos positivos, direitos do bem-estar ou direitos

dos desamparados.

Entre alguns exemplos de direitos de segunda dimensão, há que

se destacar: saúde, educação, lazer, trabalho, alimentação, moradia,

previdência social, habitação, assistência social, proteção à maternidade e

à infância etc.

Todavia, nem todos os direitos humanos de segunda dimensão são

liberdades ou direitos positivos, Há também direitos sociais

negativos, como o direito à liberdade sindical e de greve,

respectivamente, previstos nos artigos 8º e 9º da Constituição Federal de

1988. Logo, se utilizarmos o critério de natureza do Estado, ou seja,

positivo (atuação) ou negativo (omissão), poderemos ser levados a erro,

fazendo-se necessário avaliar a essência da finalidade do mecanismo ou

instituto que estabeleceu determinado direito social.

Então, os direitos sociais (negativos ou positivos) têm em seu

cerne a urgência da promoção de igualdade material ou substantiva,

através da interferência do Estado em defesa dos hipossuficientes,

enquanto os direitos individuais são aqueles que tutelam as liberdades

públicas, impedindo a interferência autoritária e abusiva do poder estatal

no campo individual.

5.2.3) Terceira geração

Cuidando dos denominados “direitos humanos globais”, a

terceira dimensão contempla direitos metaindividuais e

supraindividuais materializando poderes de titularidade coletiva

atribuídos genericamente a todas as formações sociais. Temos como

melhores exemplos desses direitos, os difusos e os coletivos.

Os direitos de terceira dimensão consagram o princípio da

solidariedade ou fraternidade e emergem no instante em que a

sociedade necessita fortalecer seus conceitos de preservação ambiental

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e das dificuldades que envolvem a proteção do mercado consumidor,

por exemplo.

A sociedade encontra-se marcada por grandes mudanças e novas

preocupações na ordem mundial, como globalização, crise econômica

internacional, consumo de massa, crescente desenvolvimento científico e

tecnológico, sustentabilidade etc. O indivíduo e a coletividade começam a

reclamar para si e para as gerações futuras o direito a um meio

ambiente sadio8, não poluído e equilibrado, ao desenvolvimento

econômico sustentável, à busca pela paz, a normatização das regras de

mercado, ao progresso, a uma qualidade de vida saudável, à

autodeterminação dos povos, à proteção do consumidor e a outros

direitos difusos que são os interesses de classes menos determinadas

de indivíduos, sendo que entre eles não existe vínculo jurídico ou fático.

A terceira dimensão, além de fortemente humanizada, busca

atingir valores e princípios universais, pois não se destina apenas à

proteção de interesses individuais, nem de grupos específicos ou de um

espaço temporal fixo e determinado, mas reflete temas destinados à

coletividade como um todo, englobando tanto a atual sociedade quanto as

gerações futuras.

É muito interessante notar a presença da tríade iluminista como

núcleo da esfera de proteção dos direitos humanos de primeira,

segunda e terceira dimensões: Liberté, Egalité e Fraternité9.

8O caput do art. 225 da CF/1988 (Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-

se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações) prevê um direito tipicamente de terceira dimensão. 9 Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

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5.2.4) Quarta geração

Atualmente, muito se debate sobre o reconhecimento da 4ª e

da 5ª dimensão de direitos humanos em complemento as três

primeiras e tradicionais dimensões supracitadas. Contudo, este

tema ainda é desprovido de consenso entre os principais autores de

Direito Constitucional e Direitos Humanos no que diz respeito aos direitos

e garantias tutelados com exatidão por essas duas novas dimensões de

direitos humanos.

De acordo com uma visão conservadora de Norberto Bobbio, a 4ª

dimensão advém dos avanços tecnológicos alcançados na

Classificação Tradicional dos Direitos Humanos

1a Geração

ou

Dimensão

Princípio da Liberdade

Liberdades Negativas, Clássicas ou Formais

Estado Liberal

Direitos Civis e Políticos

Direito a vida, propriedade, liberdade, segurança pessoal...

2a Geração

ou

Dimensão

Princípio da Igualdade

Liberdades Positivas, Reais ou Concretas

Estado Social

Direitos Sociais, Econômicos e Culturais

Direito a saúde, educação, lazer, trabalho, assistência aos desamparados, previdência social, moradia, alimentação...

3a Geração

ou

Dimensão

Princípio da Fraternidade ou Solidariedade

Direitos universais de titularidade coletiva

Direitos Difusos e Coletivos

Direito a um meio ambiente sadio e equilibrado, a paz, ao progresso, a defesa do consumidor, ao desenvolvimento, a comunicação...

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engenharia genética, quando coloca em risco a própria existência

humana, em função da manipulação do patrimônio genético.

Conforme Bobbio: “... já se apresentam novas exigências que só

poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos

efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá

manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”.10

A 4ª dimensão também trataria de direitos relativos à

biossegurança, à biotecnologia e à bioengenharia, e deliberando

sobre vida e morte, sempre pressupondo um debate ético-prévio a

exemplo do julgamento da ADI-3510/DF proposta pelo Procurador-Geral

da República sobre a inconstitucionalidade do artigo 5º da Lei de

Biossegurança (Lei 11.105/2005). A consolidação desta dimensão faz-se

de extrema necessidade e irreversibilidade para que se estabeleçam as

bases jurídicas dos avanços tecnológicos no campo da engenharia

genética e suas fronteiras constitucionais.

Já Paulo Bonavides, por exemplo, ensina que a 4ª dimensão

tutela o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao

pluralismo jurídico, para que a sociedade aberta ao futuro seja

materializada, maximizando a universalização.

10 Norberto Bobbio, A era dos direitos.

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5.2.5) O porvir dos direitos humanos

Não obstante já se falar na recente e polêmica 4ª dimensão dos direitos

fundamentais, presenciou-se no 9º Congresso Ibero-Americano e no 7º

Simpósio Nacional de Direito Constitucional (Curitiba/PR, 2006) além do

2º Congresso Latino-Americano de Estudos Constitucionais (Fortaleza/CE,

2008) que o jurista e constitucionalista Paulo Bonavides fez alusões

expressas à 5ª dimensão dos direitos humanos fundamentais

colocando-os no campo do direito à paz embora suas doutrinas já

tivessem situado a busca pela paz na seara dos direitos de 3ª dimensão.

Neste aspecto, Bonavides difere de outros autores, haja vista

alguns têm associado os direitos de 5ª dimensão aos direitos

provenientes da realidade virtual.

4a Geração ou Dimensão dos Direitos Humanos

Norberto Bobbio

A 4a dimensão advém dos avanços tecnológicos alcançados na

engenharia genética, quando coloca em risco a própria existência humana,

em função da manipulação do patrimônio genético.

“... já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de

direitos de quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá

manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”.

Paulo Bonavides

A 4a dimensão tutela o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo jurídico, para que a sociedade aberta ao futuro seja

materializada, maximizando a universalização.

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Longe de haver consenso, a maioria dos tradicionais

constitucionalistas ainda não aborda a 4ª nem a 5ª dimensão em suas

obras, o que nos faz pensar que tais matérias ainda necessitam de tempo

para amadurecer até que se tornem temas pacíficos.

6) Características

Imprescritibilidade

Somente os direitos de caráter econômico-patrimonial poderiam ser

atingidos pelo instituto jurídico da prescrição e não a exigibilidade dos

direitos personalíssimos, ainda que não individualistas, como é o caso dos

direitos do homem.

Direitos humanos não desaparecem pelo decurso do tempo e

o exercício de grande parte dos direitos do homem ocorre só no fato de

existirem reconhecidos na ordem jurídica. Considerando que, se são

sempre exercíveis e exercidos, não há intercorrência temporal de não

exercício que fundamente a perda da exigibilidade pela

prescrição, conforme os apontamentos de José Afonso da Silva.

Inalienabilidade

Tanto a título gratuito quanto oneroso, tais direitos são

intransferíveis e inegociáveis, porque não possuem conteúdo

econômico-patrimonial. Se a ordem constitucional os confere a todos,

deles não se pode desfazer, porque são indisponíveis.

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Irrenunciabilidade

Os direitos humanos são irrenunciáveis, contudo alguns deles

podem deixar de ser exercidos, mas seria inadmissível sua renúncia, o

que nos conduz a debates doutrinários polêmicos e importantes como a

renúncia ao direito à vida e a eutanásia, o suicídio e o aborto.

A banca CESPE/UnB considera que direitos humanos ou direitos

fundamentais podem ser renunciados ou autolimitados desde que tal

renúncia ou autolimitação não lese ou ameace de lesão a dignidade

da pessoa humana.

Inviolabilidade

Trata-se da impossibilidade de não serem observados ou

desrespeitados pela legislação infraconstitucional ou por atos das

autoridades públicas, sob pena de responsabilização penal, civil e

administrativa.

Faz-se importante registrar que a inviolabilidade não se

confunde com a irrenunciabilidade, porque enquanto esta protege o

direito contra o seu próprio titular aquela consiste na violação de

direitos por parte de terceiros.

Historicidade

Direitos humanos são históricos como quaisquer direitos. Nascem,

modificam-se e desaparecem. Eles apareceram na antiguidade,

passando pelas diversas revoluções, evoluindo e sempre se

ampliando, com o decorrer das eras e gerações até a chegada aos

dias atuais.

Alguns autores defendem que eles surgiram com o cristianismo,

mas na verdade, os direitos humanos são muito anteriores a era cristã.

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Universalidade

Destinam-se, de maneira indiscriminada, a todos os seres

humanos. Os direitos humanos devem alcançar a todos,

independentemente de orientação sexual, cor, raça, etnia, origem,

procedência nacional, sexo, idade, crença religiosa, convicção política ou

filosófica, nacionalidade ou quaisquer outras formas de discriminação.

Limitabilidade ou Relatividade

Desprovidos de caráter absoluto (relatividade), os direitos

humanos, envolvidos num caso concreto em que haja confronto ou

conflito de interesses, deverão ser conjugados levando em consideração a

regra da máxima observância dos direitos humanos fundamentais

envolvidos com a mínima restrição possível, pelo intérprete ou

magistrado, certo de que a solução já não venha discriminada na própria

Constituição (ex.: direito de propriedade versus desapropriação).

Direitos humanos não são absolutos!!!

Concorrência

Podem ser exercidos cumulativamente, quando, por exemplo, o

professor, no exercício de seu poder de cátedra11, transmite um conteúdo

(direito de informação) e juntamente, emite uma opinião (direito de

opinião).

11 O poder de cátedra do docente compreende a liberdade para expressar sua opinião

acerca do conteúdo transmitido consoante o art. 206, II, da Constituição Federal de

1988 (O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) liberdade de

aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber).

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Efetividade

A atuação do Estado deverá ser no sentido de assegurar a

efetivação dos direitos humanos, com instrumentos e mecanismos

coercitivos que viabilizem seu exercício por todos os seus

destinatários, uma vez que a Carta Magna não se basta tão somente

com o reconhecimento abstrato dos direitos humanos fundamentais.

Interdependência

As previsões constitucionais, embora autônomas, possuem

inúmeras intersecções para atingirem seus objetivos, logo, a

liberdade de locomoção está fortemente ligada ao habeas corpus tal qual

a liberdade de expressão artística está vinculada à vedação a censura

prévia, e assim por diante.

Indivisibilidade

A indivisibilidade dos direitos humanos está associada ao maior

objetivo do sistema internacional de direitos humanos, a

promoção e garantia da dignidade da pessoa humana.

Afirmando-se que tais direitos são indivisíveis, diz-se que não há o

meio-termo, pois somente há vida digna se todos os direitos

materializados em uma Constituição, por exemplo, estiverem sendo

providos de efetividade, sejam civis e políticos, sejam sociais, econômico

e culturais.

Complementaridade

Os direitos do homem não devem ser interpretados de

maneira isolada, mas sempre que possível, de forma conjunta para

alcançar as finalidades do constituinte e atender os objetivos almejados.

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Individualidade e/ou Coletividade

Os direitos humanos possuem a peculiaridade da individualidade

e/ou coletividade e vice-versa, uma vez que são individuais porque são

portados pelo indivíduo, como o direito à alimentação e à moradia12 e

doutra pertencem a toda coletividade, como o acesso à informação13

e a democracia participativa.

Inerência

O primeiro parágrafo do preâmbulo da Declaração Universal dos

Direitos Humanos (1948) traz que “a dignidade inerente a todos os

membros da família humana e seus direitos iguais e inalienáveis é o

fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”, e decorre do

fundamento jusnaturalista de base racional adotado pelo direito

internacional dos direitos humanos estabelecendo a ideia de que os

12 O art. 6º da Constituição Federal de 1988 (São direitos sociais a educação, a saúde, a

alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição) traz direitos prestacionais ou de promoção para o indivíduo, pois exigem

uma postura positiva do poder público na sua consecução mediante a implementação de

políticas sociais, visando à eliminação ou redução das desigualdades regionais e

nacionais no território brasileiro.

13 A garantia constitucional da liberdade de informação trazida pelo art. 5º, XIV, da

Constituição Federal de 1988 (é assegurado a todos o acesso à informação e

resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional) abrange o

direito de informar, de se informar e de ser informado, garantindo a todo indivíduo o

direito público subjetivo de requerer a órgãos e entidades públicas informações de seu

interesse particular, coletivo ou geral. Como expressão deste direito, o Supremo Tribunal

Federal, no julgamento da Arguição por Descumprimento de Preceito Fundamental no

130/DF, entendeu pela não-recepção da Lei de Imprensa, de 1967, pela atual Carta

Magna.

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direitos humanos são inerentes a cada indivíduo, pelo simples fato

de existir como ser humano.

Transnacionalidade

Os direitos humanos são reconhecidos e tutelados em todos os

Estados, mesmo que haja diferenças quanto à sua enumeração e ao

modo de tutelá-los. Tais direitos independem da nacionalidade ou

cidadania e são garantidos a qualquer indivíduo.

Dentre as principais características apresentadas, as mais cobradas pela

banca Cespe são: Imprescritibilidade, Irrenunciabilidade, Universalidade,

Interdependência, Indivisibilidade e Inerência.

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Por fim, vamos resumir as características apresentadas?

CARACTERÍSTICAS

COMENTÁRIOS

IMPRESCRITIBILIDADE Os Direitos Humanos não prescrevem, ou seja, não se perdem com o decurso do tempo.

INALIENABILIDADE

Os Direitos Humanos são intransferíveis e inegociáveis, porque

não possuem conteúdo econômico-patrimonial.

IRRENUNCIABILIDADE

Os direitos humanos são irrenunciáveis. Alguns deles podem

deixar de ser exercidos, mas seria inadmissível sua renúncia.

INVIOLABILIDADE

Trata-se da impossibilidade de não

serem observados ou desrespeitados pela legislação infraconstitucional ou

por atos das autoridades públicas

HISTORICIDADE Os Direitos humanos são históricos

como quaisquer direitos.

UNIVERSALIDADE

Os Direitos Humanos destinam-se, de

maneira indiscriminada, a todos os seres humanos.

INTERDEPENDÊNCIA

As previsões constitucionais, embora autônomas, possuem inúmeras intersecções para atingirem seus

objetivos.

INDIVISIBILIDADE

A indivisibilidade dos direitos humanos

está associada a promoção e garantia da dignidade da pessoa humana.

COMPLEMENTARIDADE

Os Direitos Humanos não devem ser interpretados de maneira isolada, mas

sempre que possível, de forma conjunta.

INDIVIDUALIDADE e/ou

COLETIVIDADE

São individuais porque são portados pelo indivíduo e doutra pertencem a toda coletividade.

INERÊNCIA Os Direitos Humanos são inerentes a cada indivíduo, pelo simples fato de

existir como ser humano.

TRANSNACIONALIDADE

Os direitos humanos são reconhecidos

e tutelados em todos os Estados independem da nacionalidade ou

cidadania e são garantidos a qualquer indivíduo.

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7) Questões comentadas

1. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) A Magna Carta, de 1215, instituiu a separação dos poderes ao declarar que o funcionamento

do parlamento, um órgão que visa defender os súditos perante o rei, não pode estar sujeito ao arbítrio deste.

2. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) A importância

histórica do habeas corpus, de 1679, consiste no fato de que essa garantia judicial, instituída na Inglaterra para proteger a liberdade de

locomoção, serviu de modelo para a criação de outras formas de proteção das liberdades fundamentais, como o juicio de amparo, na América

Latina.

3. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) A Constituição de

Weimar foi o primeiro documento a afirmar os princípios democráticos na

história política moderna.

4. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Os direitos

fundamentais podem ser restringidos tanto por expressa disposição

constitucional quanto por norma infraconstitucional com fundamento na

CF.

5. (CESPE/2007/TSE/Técnico Judiciário - Adaptada) A propriedade

é um direito social, logo não está entre os direitos humanos.

6. (CESPE/2007/TSE/Técnico Judiciário) Os direitos e garantias

individuais só podem ser invocados contra o Estado, pois foram

concebidos em relação a ele.

7. (CESPE/2007/TSE/Técnico Judiciário - Adaptada) Os direitos

sociais, como o próprio nome indica, não figuram entre os direitos

humanos.

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8. (CESPE/2007/Oficial do CBM-DF) Enquanto os direitos de 1ª

geração são (civis e políticos) – que compreendem as liberdades

clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade, os

direitos de 2ª geração (econômicos, sociais e culturais) – que se

identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o

princípio da igualdade.

9. (CESPE/2007/Prefeitura de Rio Branco-AC/Técnico de Gestão

Pública - Adaptada) Os direitos humanos, previstos na CF/88 na forma

de direitos fundamentais, não são imputáveis aos estrangeiros que

estejam em território brasileiro em viagem de turismo.

10. (CESPE/2008/Hemobrás/Advogado - Adaptada) De acordo com

o posicionamento majoritário na doutrina, os direitos sociais integram os

denominados direitos humanos de segunda geração.

11. (CESPE/2008/STF/Analista Judiciário - Adaptada) Os direitos

humanos não podem ser reconhecidos e aplicados aos estrangeiros em

trânsito pelo território nacional.

12. (CESPE/2007/TJ-DFT/Analista Judiciário - Adaptada) Os

direitos humanos de segunda geração se caracterizam por impor ao

Estado uma obrigação positiva de atuação em favor dos administrados,

com vistas a diminuir as diferenças materiais existentes entre eles.

13. (CESPE/2009/SEGER/Contador - Adaptada) Na evolução

histórica dos direitos humanos em gerações, entende-se que o direito de

propriedade é um direito de primeira geração.

14. (CESPE/2009/SEGER/Contador) O direito de propriedade é

limitado. Um exemplo dessa limitação é a previsão constitucional da

desapropriação por interesse social.

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15. (CEFET-BA - 2008 - PC-BA - Delegado de Polícia)

“Cidadania, portanto, engloba mais que direitos humanos, porque, além

de incluir os direitos que a todos são atribuídos (em virtude da sua

condição humana), abrange, ainda, os direitos políticos. Correto, por

seguinte, falar-se numa dimensão política, numa dimensão civil e numa

dimensão social da cidadania”. (Prof. J. J. Calmon de Passos).

Ao alargar a compreensão da cidadania para as três dimensões supra-

referidas, o prof. Calmon de Passos:

a) inova, ao focar somente o caráter educacional da cidadania plena na

Grécia.

b) contribui, doutrinariamente, para que a noção da cidadania ultrapasse

a clássica concepção que a restringia tão-somente ao exercício dos

direitos políticos.

c) restringe o entendimento da cidadania ao exercício dos direitos de

primeira geração – especialmente quanto à igualdade.

d) promove reflexão crítica em torno dos interditos proibitivos à

construção de uma sociedade respeitosa para com as nuanças de

sexo, gênero, raça e idade.

e) contradiz a noção fundamental de extensão da cidadania a todos sem

distinção – mulheres especialmente.

COMENTÁRIOS

1. Errado. A Magna Carta de 1215 estabeleceu o princípio constitucional

de que o rei governa de acordo com a lei. A Carta Magna foi o

documento que criou as condições para que liberdades e direitos civis pudessem cada vez mais se estabelecer. Primeiramente na Grã-

Bretanha e, mais tarde, no continente europeu.

2. Certo. A importância histórica do habeas-corpus, tal como regulado pela lei inglesa de 1679, consistiu no fato de que essa garantia

judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção, tornou-se a

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matriz de todas as que vieram a ser criadas posteriormente, para a

proteção de outras liberdades fundamentais. (COMPARATO, Fabio Konder. “A afirmação história dos direitos humanos. 7 ed. rev e atual. – São

Paulo: Saraiva, 2010).

3. Errado. Destaque-se a Declaração dos Direitos editada pela Virgínia em 2/06/1776, antes mesmo da independência das treze

colônias inglesas da América do Norte. Comparato a respeito dela ensina: “A característica mais notável da Declaração de Independência dos

Estados Unidos reside no fato de ser ela o primeiro documento a afirmar os princípios democráticos, na história política moderna.”

4. Certo. Devido à posição que ocupam no sistema jurídico, os direitos

fundamentais somente podem ser restringidos por normas de hierarquia constitucional ou por normas infraconstitucionais,

quando o próprio texto constitucional assim autorizar de forma expressa a

restrição. Por isso, as restrições de direitos fundamentais só podem ser diretamente constitucionais ou indiretamente constitucionais. Conforme

salienta Rolim: “A restrição de um direito fundamental é uma limitação do âmbito de proteção desse direito fundamental. Um exemplo de restrição

de direito fundamental é o art. 5º, inciso IV, da Constituição Federal em vigor (é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato)

alcança todas as hipóteses práticas de se manifestar o pensamento. A proibição do anonimato na referida disposição de direito fundamental

constitui uma restrição porque limita a proteção constitucional da manifestação do pensamento àquelas hipóteses em que o titular do

direito não omite a sua idade.”

5. Errado. A propriedade é um direito individual que figura entre os direitos humanos de 1ª geração (civis e políticos). Outro erro da

questão é inserir a propriedade entre os direitos sociais que são direitos

de 2ª geração (sociais, econômicos e culturais) enquanto ela é um direito de 1ª geração, como já dito.

6. Errado. O surgimento dos direitos humanos, entre eles os direitos e

garantias individuais, ocorreu pela necessidade de limitar o poder e

autoridade do Estado, emergindo como uma tutela às liberdades

individuais frente aos abusos e ilegalidades perpetrados pelo poder

estatal e sua ingerência abusiva na esfera particular, todavia em

determinados casos essa situação poderá se inverter, como por exemplo,

quando uma propriedade rural não cumpre sua função social (Ex.:

latifúndio improdutivo), poderá o Estado desapropriá-la para fins de

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reforma agrária. Lembre-se que os direitos humanos não são absolutos

e gozam de limitabilidade ou relatividade!

7. Errado. Os direitos sociais são direitos humanos de 2ª geração ou

dimensão (sociais, econômicos e culturais) que representam as

prestações positivas e assistenciais do Estado.

8. Certo. A questão está perfeita, fazendo referência às duas primeiras

gerações (das três tradicionais) dos direitos humanos presente na tríade

iluminista como núcleo da esfera de proteção dos direitos humanos de

primeira, segunda e terceira gerações, respectivamente: Liberté,

Egalité e Fraternité. Dê uma revisada no esquema demonstrativo

sobre a Classificação Tradicional dos Direitos Humanos.

9. Errado. Uma das características dos direitos humanos é a

UNIVERSALIDADE, logo tais direitos são aplicáveis a todos os seres

humanos sem quaisquer formas de discriminação.

10. Certo. A segunda geração carrega direitos coletivos, próprios dos

seres humanos, como os sociais, econômicos e culturais, referentes

aos direitos de igualdade. São liberdades positivas, reais, concretas e

objetivas, pois conduzem indivíduos materialmente desiguais aos

conteúdos dos direitos através de instrumentos do Estado Social.

11. Errado. Fruto da UNIVERSALIDADE, direitos humanos são

imputáveis a brasileiros e estrangeiros, sejam estes brasileiros natos

ou naturalizados e os estrangeiros residentes ou não, sendo que a

esta última categoria pertence turistas e estrangeiros em trânsito no

território nacional.

12. Certo. Os direitos de 2ª geração (sociais, econômicos e

culturais) conduzem indivíduos materialmente desiguais aos conteúdos

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dos direitos através de instrumentos do Estado presente e

intervencionista. Tais direitos reclamam a igualdade material, através

da intervenção positiva do Estado, para sua efetiva concretização.

Realçaram a lenta passagem do Estado Liberal (individualista) para o

Estado Social, voltado para a tutela de direitos e garantias dos

hipossuficientes e na busca da igualdade material entre os indivíduos.

Também correspondem aos direitos de participação assegurados pela

implementação de serviços e políticas públicas, exigindo-se do poder

estatal, prestações sociais positivas.

13. Certo. A 1ª geração ou dimensão dos direitos humanos trata dos

direitos civis e políticos, entre eles: vida, propriedade, liberdade,

segurança etc.

14. Certo. Os direitos humanos são desprovidos de caráter absoluto

logos são limitáveis e se ponderados num caso concreto em que haja

confronto ou conflito de interesses poderão ser restringidos conforme o

art. 5º, XXIV, da Constituição Federal, onde se lê que a lei estabelecerá o

procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública,

ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em

dinheiro, ressalvados os casos previstos no próprio texto constitucional.

15. LETRA B. Pela concepção clássica Cidadania é a condição da pessoa

natural que, como membro de um Estado, se acha no gozo dos direitos

qe lhe permitem participar da vida política. A cidadania é, segundo

essa noção, portanto, o conjunto dos direitos políticos de que goza um

indivíduo e que lhe permitem intervir na direção dos negócios públicos do

Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo

e na sua administração, seja ao votar (direto), seja ao concorrer a cargo

público (indireto).

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8) Questões de fixação

1. (CESPE - 2012 - PC-CE - Inspetor de Polícia - Civil) A dignidade da pessoa humana é um fundamento da República Federativa do Brasil.

2. (CESPE - 2012 - PC-CE - Inspetor de Polícia - Civil) O direito

internacional dos direitos humanos, fenômeno que antecedeu à Primeira Guerra Mundial, pode ser conceituado como uma construção consciente

vocacionada a assegurar a dignidade humana.

3. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado) Direitos

econômicos, sociais e culturais são direitos humanos de segunda geração, o que significa que não são juridicamente exigíveis, diferentemente do

que ocorre com os direitos civis e políticos.

4. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado) Direitos econômicos, sociais e culturais formam, juntamente com os direitos civis e

políticos, um conjunto indivisível de direitos fundamentais, entre os quais não há qualquer relação hierárquica.

5. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado) Direitos econômicos, sociais e culturais ) incluem o direito à participação no

processo eleitoral, à educação, à alimentação e à previdência social.

6. (CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Os direitos transindividuais ou difusos não podem ser exercidos senão por

coletividades, e são considerados direitos humanos de terceira geração, como os direitos à sindicalização e à previdência social.

7. (CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Os direitos humanos de primeira geração referem-se às reivindicações de condições

dignas de trabalho e originam-se das lutas sociais desencadeadas com a Revolução Industrial.

8. (CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Os direitos

humanos de segunda geração ainda não foram incorporados à legislação

nacional, permanecendo, pois, como normas programáticas do direito internacional humanitário.

9. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) Os direitos

fundamentais surgem todos de uma vez, não se originam de processo histórico paulatino.

10. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) Não há uma correlação entre o surgimento do cristianismo e o respeito à dignidade da

pessoa humana.

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11. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) As gerações de direitos humanos mais recentes substituem as gerações de direitos

fundamentais mais antigas.

12. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A proteção dos direitos fundamentais é objeto também do direito internacional.

13. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A ONU é o órgão

responsável pela UDHR e pela Declaração Americana de Direitos.

14. ( CEFET-BA - 2008 - PC-BA - Delegado de Polícia)

“126 gays, travestis e lésbicas foram assassinados no Brasil em 2002. O

Estado da Bahia foi, pela primeira vez, o campeão com 20 mortes. A

maior parte destes homicídios foram cometidos com requintes de

crueldade, incluindo espancamento, tortura, muitas facadas e diversas

declarações dos assassinos, que confirmam a sua condição de crimes

homofóbicos: “matei, porque odeio gay.” (Informações do Grupo da

Bahia- GGB).

Muitos homicídios, cujas vítimas são pessoas homossexuais têm como

lastro de motivação o sentimento de ódio, aversão, repulsa ou medo

irracional quanto à homossexualidade e suas manifestações.

Com base nessas informações, é verdadeiro o que se afirma em:

a) O sentimento denominado de homofobia está presente em todos os

setores da sociedade, inclusive nos mais conservadores ou de tradição

ideológica, com traços hierárquicos fortes (como o da segurança pública),

o que acaba dificultando, em alguns casos, a boa condução de

investigações e a própria elucidação de autores de assassinatos que

vitimam homossexuais.

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b) A prática da homofobia corresponde às posturas tidas como tolerantes

para com as pessoas de orientação afetiva homossexual, o que lhes inclui

no âmbito de uma convivência social harmoniosa.

c) Os reflexos da violência anti-homossexual têm como única motivação a

homofobia evidenciada no comportamento imediatista de agressores e de

cientistas “militantes”.

d) A luta histórica pela afirmação dos direitos humanos passa pela

conquista dos chamados direitos de cidadania por parte dos

homossexuais, uma vez que eles compõem uma das minorias mais

privilegiadas no reconhecimento dos seus atributos especiais.

e) A homofobia é único sentimento que se faz presente em matéria de

desrespeito a minorias no Brasil.

f) Com a inclusão dos direitos sociais no rol dos direitos do homem, antes

composto apenas de direitos de liberdade, os direitos do homem

passaram a constituir uma categoria homogênea.

9) GABARITO

1. Certo

2. Errado

3. Errado

4. Certo

5. Errado

6. Errado

7. Errado

8. Errado

9. Errado

10. Errado

11. Errado

12. Certo

13. Errado

14. Letra A