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Direitos Humanos para Polícia Rodoviária Federal Teoria & Exercícios
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AULA 00
Conceito, evolução histórica e
características dos Direitos Humanos
Curso de Direitos Humanos e Cidadania
Rafael Fernandez
SUMÁRIO
PÁGINA
1 Conceito 3
2 Terminologia 4
3 A dignidade da pessoa humana e os valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade
8
4 O conceito de cidadania e sua origem 11
5 Evolução histórica 12
5.1 Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais? 14
5.2 Classificação tradicional 15
5.2.1 Primeira geração 16
5.2.2 Segunda geração 20
5.2.3 Terceira geração 21
5.2.4 Quarta geração 23
5.2.5 O porvir dos direitos humanos 25
6 Características 26
7 Questões Comentadas 33
8 Questões de Fixação 37
9 Gabarito das questões de fixação 41
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Aula 00
Conceito, características e evolução histórica dos Direitos
Humanos.
Aula 01
Princípios Básicos para utilização da força e armas de fogo, adotado pela ONU em 07/07/1990.
Aula 02
Código de conduta para os encarregados da aplicação da lei, adotado pela ONU pela Resolução 34/169 de 17/12/1979.
Olá caro amigo(a), seja bem-vindo(a) ao Curso de Direitos
Humanos e Cidadania que vai te ajudar a garantir uma das 1.500 vagas
para o próximo concurso de Agente da Polícia Rodoviária Federal.
Antes de começar a estudar este agradável assunto chamado
Direitos Humanos, vou aproveitar para falar um pouco sobre mim:
Sou Rafael Fernandez, Oficial das Forças Armadas há 15 anos,
Bacharel em Ciências Navais pela Escola Naval e pós-graduado em Direito
Constitucional pela Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.
Leciono Direito Constitucional e Direitos Humanos em diversos cursos
preparatórios presenciais e on-line no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília,
Belo Horizonte, Bahia etc. Já fui aprovado em diversos concursos públicos
desde que decidi entrar para a carreira pública, entre eles: Escola Naval
(35º classificado para 64 vagas, 1997); Academia da Força Aérea (4º
classificado para 30 vagas, 1997); Escola de Formação de Oficiais da
Marinha Mercante (3º classificado de 60 vagas, 1997); Escrivão da Polícia
Civil do DF (118º classificado para 120 vagas, 2008); Polícia Rodoviária
Federal, MT (6º classificado na prova objetiva para 146 vagas, 2008);
Oficial de Inteligência da ABIN (59º classificado na prova objetiva para
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160 vagas, 2008); Polícia Rodoviária Federal, RJ (7º classificado na prova
objetiva para 30 vagas, 2009)...
Logo, conte comigo! Um professor “concurseiro”! São 1.500
vagas e você terá a sua! Estamos juntos nessa!
Este material abordará todo o conteúdo de Direitos Humanos e
Cidadania previsto no edital publicado pela organizadora do último
concurso da PRF, utilizando linguagem acessível e de fácil entendimento.
Nosso curso mistura teoria com exercícios de diversas bancas
organizadoras e ao final de cada capítulo apresentarei exercícios
comentados ou gabaritados, com o objetivo de fixar os conhecimentos
adquiridos durante cada aula.
Também agradeço, inicialmente, a forte colaboração da Dra.
Sabrina Guimarães, estudiosa das leis e profissional do Direito Privado e
Empresarial, sem contudo perder sua paixão pela seara pública onde
escreve em Direito Constitucional e Direitos Humanos.
1) Conceito
De maneira bastante abrangente, os direitos humanos são o
somatório de valores, atitudes e regras, representado por um conjunto
mínimo de direitos e garantias necessárias para assegurar uma existência
livre e digna a todos os seres humanos.
A materialização de tais direitos acaba consolidando normas
jurídicas externas e internas que representam verdadeiros instrumentos e
mecanismos de proteção da pessoa humana, tais como tratados,
declarações, cartas, convenções, acordos, protocolos, pactos
internacionais, estatutos, regulamentos, bem como as Cartas Políticas e
Constituições dos Estados e suas respectivas legislações pátrias
infraconstitucionais.
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Por fim, resumimos como direitos inerentes à pessoa humana,
independentemente de normas regulamentadoras, entre estes: vida,
igualdade, liberdade e segurança pessoal. São direitos universais e
indivisíveis.
2) Terminologia
Quanto à terminologia dos direitos humanos, o professor Norberto
Bobbio retrata que a especificação se produz em relação aos titulares dos
direitos e também com o conteúdo dos mesmos, tendo uma conexão
indiscutível com sua consideração como um conceito histórico, ou seja,
está inserto na cultura política e jurídica moderna. E podem alcançar o
sentido do consenso que integra a moralidade tradicional do direito.
Diante desta terminologia destaca-se que o referido professor
italiano demonstra a impossibilidade de lidar com os direitos humanos de
forma absoluta e suprema, pelo menos no que diz respeito a sua
definição, ressaltando algumas dificuldades: ser um fenômeno
heterogêneo e a terminologia dos direitos humanos ser extremamente
vaga e uma antinomia entre os direitos invocados pelas pessoas. Logo,
essa contribuição torna-se base para a democracia e para a cidadania.
A questão fundamental sobre os direitos do homem, atualmente,
não é justificar sua aplicação, mas protegê-los. Trata-se de um problema
basicamente político.
Direitos Individuais
Direitos do Homem: direitos inerentes a todos os seres humanos (Ex.: vida, igualdade, liberdade, segurança pessoal...).
Direitos Fundamentais: direitos positivados em uma Constituição ou Carta Política.
Direitos Humanos: direitos positivados em tratados de direitos humanos.
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Para a identificação desta liberdade identificamos a liberdade
promocional, sendo o método mais adequado o das necessidades básicas,
preconizado por Norberto Bobbio, “a necessidade é um critério que
satisfaz melhor que a capacidade e a qualidade das necessidades, que
não a quantidade ou a qualidade da necessidade demonstrada nesta ou
naquela atividade ou trabalho realizado nesta ou naquela obra”.
A terminologia dos direitos humanos tem seu começo na 2ª Guerra
Mundial e, foi criada num contexto a trazer os países para uma nova
concepção de relacionamento interestatal.
Fruto de uma realidade cultural da vida social, os direitos humanos
buscam a eficácia para a realização de objetivos.
Relacionando-os com a realidade do poder político do Estado, e
limitado por este, mas que é capaz de assumir estes valores de apoio
moral a ideia de direitos, e convertê-los em valores políticos, metas e
ações para conduzir e orientar a vida em uma dada sociedade.
São Tomás de Aquino, doutor da Igreja Católica, importante
estudioso para a elaboração do conceito de direitos humanos estabeleceu
a definição Boeciana de pessoa, adotada pela Igreja Católica Apostólica
Romana, tendo como foco a tese do bem comum e de uma vida digna
para todos os homens, e que ao mesmo tempo dá ênfase à dignidade do
trabalho e do trabalhador. Tal é uma das contribuições do Cristianismo
para a criação de uma definição dos direitos humanos.
O cristianismo fortalece o ensino da igualdade quando afirma que
nenhum ser humano detém mais dignidade que seus pares, estando
todas as pessoas em um mesmo nível, sem quaisquer discriminações.
Historicamente, os direitos humanos ratificam o desenvolvimento da
dignidade da pessoa humana consistindo no principal direito fundamental
fixado em quatro valores interdependentes:
a) Liberdade;
b) Igualdade;
c) Segurança Pessoal; e
d) Solidariedade ou Fraternidade.
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Estes quatro valores supracitados prolongam a vida social dos
indivíduos dando verdadeira dignidade à pessoa humana.
A dignidade é algo inerente a todo ser humano e dele não se
desprende em nenhuma situação ou hipótese, sempre dotada de
universalidade e indivisibilidade.
A ideia base que já se tinha, até mesmo no pensamento clássico, é
que a dignidade da pessoa humana era uma qualidade intrínseca do
indivíduo irrenunciável e inalienável, constituindo elemento que
qualifica o ser humano como tal e dele não pode ser separado, de tal
sorte que não se pode cogitar na possibilidade de determinada pessoa ser
titular de uma pretensão a que lhe seja concedida dignidade. Esta,
portanto, como qualidade integrante e irrenunciável da própria condição
humana.
Caso exista universalidade em relação à terminologia dos direitos
humanos, este é o caminho da dignidade da pessoa humana. Pode-se
dizer que esta dignidade não se diferencia em nenhum lugar do mundo e,
portanto, é dotada de universalidade, sendo esta uma das principais
características dos direitos humanos já em sua concepção
contemporânea, ou seja, a que conhecemos nos dias atuais.
Kant ensina que o ser humano está acima de tudo e que nele se
centra o sentido de todo o sentido da existência e afirmando a qualidade
peculiar e insubstituível deste ser, diz-nos também que no reino dos fins
tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço,
pode pôr-se em vez dela qualquer outra coisa equivalente; mas quando
uma coisa está cima de todo o preço e, portanto não permite equivalente,
então ela tem dignidade.
O conceito de direitos humanos teve seu crescimento histórico de
maneira sucessiva e gradual. Em verdade, a noção de direitos humanos
expandiu-se historicamente.
Como já estudado na aula anterior, é possível entender os direitos
humanos em dimensões ou gerações sucessivas que foram se
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acumulando e aglutinado umas às outras, sendo a primeira tratando
sobre direitos referentes às liberdade públicas (direitos civis e políticos),
sucedendo-se de outra relacionada à igualdade (direitos sociais,
econômicos e culturais) e uma terceira, vinculada à solidariedade ou
fraternidade (direito ao desenvolvimento, à paz e à autodeterminação dos
povos, por exemplo).
Os direitos humanos não são uma informação ou um dado, mas
uma invenção, uma construção humana, em permanente processo de
construção e reconstrução.
Consoante a lição do excelso mestre italiano Norberto Bobbio, na
obra, A Era dos Direitos, “os direitos humanos nascem como direitos
naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos
particulares (quando cada Constituição incorpora Declarações de
Direitos), para finalmente encontrarem sua plena realização como
direitos positivos universais”.
Este processo de internacionalização dos direitos humanos
constitui um movimento muito recente na história, emergindo no pós 2ª
Guerra Mundial, como resposta dos povos aos crimes, atrocidades e
horrores praticados pelo nazismo. Nas palavras de Flávia Piovesan, “Se
a 2ª Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o Pós-Guerra
deveria significar a sua reconstrução. É neste cenário que se desenha o
esforço de reconstrução dos direitos humanos, como paradigma e
referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea.
Fortalece-se a ideia de que a proteção dos direitos humanos não deve se
reduzir ao domínio reservado do Estado, isto é, não deve se restringir à
competência nacional exclusiva ou à jurisdição doméstica exclusiva,
porque revela tema de legítimo interesse internacional.”
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3) A dignidade da pessoa humana e os valores da liberdade, da
igualdade e da solidariedade.
Desde Aristóteles, na Grécia antiga, a dignidade é tema que serviu
de reflexão para diversos pensadores em todo o mundo. Todavia, o
conceito de dignidade era relativo, pois os escravos (geralmente
indivíduos de povos derrotados em guerras ou batalhas) não eram
considerados titulares ou destinatários do princípio da dignidade.
Contudo, essa concepção evoluiu. Vejamos as contribuições de alguns
filósofos e pensadores ao longo da história:
Pensador
Contribuição
São Tomás de Aquino Fixou-se na abordagem teológica e ainda na Idade Média foi
o principal pensador a dedicar-se ao assunto.
Pico Della Mirandola
Florentino, que aproximadamente em 1490, escreveu Oratio
hominis dignitate (Discurso sobre a Dignidade do Homem) desenvolvendo o princípio da dignidade fora da visão teológica, até então predominante.
Francisco de Vitória
De nacionalidade espanhola e quase contemporâneo Mirandola, Francisco defendeu em suas obras a universalidade da dignidade, ou seja, todos os seres humanos seriam dotados e teriam direito à dignidade decorrendo, consequentemente, que a escravidão era um crime, conflitando fortemente com o pensamento predominante da
época. Sua principal obra foi Os Índios e o Direito da Guerra.
Samuel Pufendorf
Pensador alemão, que no século XVII, defendeu que todos devem respeitar a dignidade da pessoa humana, inclusive um monarca, deverá ter o entendimento que seus súditos e cidadãos têm o direito de agir livremente e determinar-se
conforme sua razão e entendimento, mesmo os mais pobres e hipossuficientes.
Immanuel Kant
Filósofo alemão, que no século XVIII, propôs a teoria do imperativo categórico: o homem é um fim em si mesmo e, por isso, não pode ser tratado como objeto nem usado como meio de obtenção de qualquer objetivo, como a servidão. Entre
suas obras mais importantes está a Crítica da Razão Pura, que, ainda hoje, é um dos livros mais importantes para a definição de conceitos jurídicos modernos.
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Ironicamente, foram os nazistas com as barbáries cometidas
durante a 2ª Guerra Mundial, os responsáveis diretos pela
promulgação, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, pela Organização das Nações Unidas,
que estudaremos adiante em momento oportuno.
“Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a
todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no
mundo, (...)
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na
Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e
no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos
homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso
social e melhores condições de vida em uma liberdade mais
ampla, (...)
Artigo I
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação
umas às outras com espírito de fraternidade. (...)
Artigo XXII
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à
segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela
cooperação internacional e de acordo com a organização e
recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e
culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento da sua personalidade. (...)
Artigo XXIII (...)
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa
e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma
existência compatível com a dignidade humana, e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.”
(Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948)
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Após breve retrospectiva histórica, tem-se que a dignidade da
pessoa humana nada mais é do que um dos princípios que constituem um
grande conjunto de princípios formadores dos Direitos Humanos, estes na
concepção conforme já vista anteriormente, ou seja, são direitos naturais
não positivados em Constituições ou ordenamentos pátrios embora já
possam estar presentes em tratados ou convenções internacionais
firmados entre Estados diversos.
A partir da Magna Carta1 inglesa, em 1215, os jusfilósofos e juristas
começaram a consolidar o princípio da dignidade da pessoa humana, que
por sua vez, tal princípio, é objeto de estudo da Filosofia do Direito.
Etimologicamente, dignidade vem do latim dignitate, que quer
dizer honra ou virtude, sendo a dignidade um valor ou bem em si mesma,
em que é obrigação do Estado, enquanto Poder Público, garantir através
de meios efetivos e condições mínimas de existência uma vida digna para
todo indivíduo.
No caso brasileiro, tal valor está gravado constitucionalmente como
princípio fundamental já no artigo 1º do Texto Magno de 1988, in verbis:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político. (...)”
Por fim, cabe ressaltar que alguns autores, entre eles Paulo
Hamilton Siqueira Júnior e Miguel Augusto Machado de Oliveira, defendem
1 Magna Carta Libertatum Concordiam inter regem Johannen at barones pro concessione
libertatum ecclesiae et regni angliae (Carta magna das liberdades ou Concórdia entre o
Rei João e os Barões para a outorga das liberdades da Igreja e do rei inglês).
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que a dignidade da pessoa humana é o mais importante
fundamento constitucional do Estado brasileiro.
4) O conceito de cidadania e sua origem
Cidadania seria o conjunto de direitos e deveres que permite que
o indivíduo tome parte na gestão pública, e também cria obrigações para
ele em relação à sociedade em que vive, submetendo-o ao poder de
império do Estado.
Etimologicamente, “cidadania” é uma expressão originária do latim
civitas , fazendo referência ao homem habitante da cidade, e que na
Roma antiga indicava a condição política de uma pessoa (excetuando
mulheres, escravos, crianças e outros) e seus direitos e deveres para com
o Império Romano.
Conforme Dalmo Dallari, “a cidadania expressa um conjunto de
direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida
e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado
ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição
de inferioridade dentro do grupo social”.
A concepção de cidadania sempre esteve vinculada à ideia de
direitos e garantias, especialmente dos direitos políticos (1ª geração), que
permitem ao indivíduo participar direta e/ou indiretamente da coisa
pública, ou seja, gerir politicamente seu país, através do sufrágio ou de
inúmeros instrumentos diretos de democracia colocados à disposição do
cidadão, não excluindo, por exemplo, a possibilidade, também, de ter
acesso a cargos e funções públicas por concurso público ou aqueles de
livre nomeação.
Contudo, na democracia, a destinação de direitos pressupõe,
automaticamente, a contrapartida de deveres, uma vez que em uma
coletividade, que no nosso caso convencionamos denominar “povo”, os
direitos de determinado indivíduo são assegurados a partir da execução
dos deveres dos demais componentes desta “massa cidadã”.
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O conceito de cidadania originou-se na Grécia clássica, até então
aplicado para indicar os direitos inerentes ao cidadão, por conseguinte,
aquele que habitava na cidade e tomava parte das questões políticas.
Logo, cidadania pressupunha as implicações originadas da vida em grupo,
a partir do momento que o homem resolveu se organizar como tal. No
decorrer da história, esta concepção foi estendida, passando a
compreender o rol de valores sociais que pressupõem todos os
direitos e deveres do cidadão.
A cidadania sempre esteve em constante desenvolvimento e
é um dos parâmetros de referência das conquistas feitas pela humanidade
desde a antiguidade até agora.
5) Evolução Histórica
Podemos apontar a origem dos direitos individuais do homem na
antiguidade, precisamente entre 1000 e 2000 anos a.C., na
Mesopotâmia e no antigo Egito, onde surgiram instrumentos de proteção
individual em relação ao poder político do Estado.
Exemplificando o parágrafo anterior, o Código de Hammurabi (1690
a.C.), reconhecido por alguns historiadores como a primeira codificação a
estabelecer um rol de direitos humanos, previa comumente a todos os
homens, o direito a vida, propriedade, honra, dignidade, família,
estabelecendo inclusive, a supremacia das normas em relação ao Estado
e seus governantes.
Buda (500 a.C.), como o príncipe Siddhartha Gautama, abdicou de
sua realeza, e propagou a mensagem de igualdade entre todos os
homens.
Futuramente, mas ainda na Grécia antiga, emergiram diversos
estudos sobre a necessidade da liberdade e igualdade do ser humano,
destacando a importância conferida à participação política dos cidadãos
(democracia direta de Péricles); a defesa de um direito natural superior e
anterior às leis escritas e estabelecidas pela sociedade e pelo Estado,
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defendida por sofistas e estoicos, como por exemplo, na tragédia grega
Antígona (Sófocles, 421 ou 422 a.C.).
E foi no Direito Romano que nasceram instrumentos capazes de
tutelar os direitos do indivíduo em sua relação vertical com o Estado,
em que consideramos a Lei das Doze Tábuas a gênese escrita onde se
consagra a liberdade, a propriedade e a proteção dos direitos do cidadão.
Não se esquecendo do papel do Cristianismo e sua influência direta,
que propagou o pensamento de igualdade entre os homens,
independentemente de suas diferenças, em muito patrocinado pelo
avanço e domínio dos romanos.
Contudo, alguns autores indicam como marco inicial dos
direitos humanos a Magna Cartha Libertatum inglesa de 1215,
assinada pelo rei “João Sem Terra”, que mesmo não visando criar um
campo irredutível de liberdades individuais, garantiu poder político aos
barões e homens livres, limitando os poderes monárquicos.
A positivação dos direitos humanos iniciou-se ao final do século
XVIII, marcado indelevelmente pela Revolução Francesa, originando a
Déclaration dês Droits de l’Homme et du Citoyen (Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão) de 1789, e a Virginia Bill of Rights de 1776
(Declaração de Direitos da Virgínia), sendo esta última uma das
declarações de direitos feitas pelos Estados estadunidenses, ao
assumirem sua independência frente à coroa britânica.
O surgimento dos direitos humanos ocorre pela necessidade
de limitar o poder e autoridade do Estado, emergindo como uma
tutela às liberdades individuais frente aos abusos e ilegalidades
perpetrados pelo poder estatal e sua ingerência abusiva na esfera
particular. Logo, em um primeiro instante, exigiu-se do Estado a omissão,
ou seja, um não fazer (abstenção) em relação às liberdades individuais,
que podemos nominar como liberdades negativas, direitos negativos ou
direitos de defesa.
Resumindo, a necessidade de obrigar o Estado a criar um
comportamento de abstenção (não fazer), em relação às
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liberdades individuais, fez nascer os direitos humanos, aumentando
o domínio da autonomia do indivíduo em sua relação vertical com o
Estado.
Adiante, no século XX, observou-se uma mudança de ângulo nos
direitos humanos, com o reconhecimento da sua segunda dimensão ou
“geração” – direitos sociais, econômicos e culturais -, quando o
indivíduo e a coletividade passaram a exigir uma atuação comissiva do
poder estatal, ou seja, prestações positivas do poder público em
benefício do indivíduo, conforme noticia o artigo 6º da Constituição
Federal, nos seguintes termos: São direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
5.1) Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais?
Embora direitos humanos e direitos fundamentais sejam expressões
utilizadas, na maioria das vezes, como sinônimas, há diferenças entre
elas e cabe-nos aqui fazer esta distinção.
O termo direitos humanos deve ser resguardado para as
reinvindicações e direitos primários do homem, baseados no
jusnaturalismo e possuidores de caráter filosófico, desprovidos de
positivação num ordenamento jurídico específico, positivação esta que
seria característica marcante dos direitos fundamentais. Tal termo
também é utilizado para indicar pretensões de reconhecimento da
dignidade da pessoa humana, contidas em instrumentos e mecanismos de
direito internacional.
Já o termo direitos fundamentais é indicado para referenciar os
direitos e garantias relacionadas às pessoas, e já materializados pelo
Direito de cada Estado. Seriam direitos que já produzem efeitos em um
ordenamento jurídico específico e já são assegurados tanto na ordem
espacial quanto temporal, porque são garantidos na proporção em que
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cada Estado os normatiza internamente, principalmente por intermédio de
Cartas Políticas e Constituições.
Contudo, uma parcela dos autores não distingue direitos humanos
de direitos fundamentais, tratando-os como sinônimos e semelhantes.
5.2) Classificação tradicional
Há classificações e mais classificações dos direitos humanos, sob os
mais variados critérios2, diz-nos José Afonso da Silva.
Entre os mais diversos critérios, a doutrina tradicional costuma
classificar os direitos humanos em “gerações”. Todavia a doutrina
moderna optou pela nomenclatura “dimensão de direitos”,
considerando-se o momento de seu surgimento e reconhecimento pelos
ordenamentos constitucionais.
Como dito anteriormente, esta classificação tradicional em
“gerações de direitos” tem sido objeto de recentes críticas, haja vista o
termo “geração” torna-se impróprio quando analisamos todo o processo
histórico de surgimento e desenvolvimento dos direitos humanos.
Se as gerações traduzem o conceito de sucessão, o que
importaria o fim de uma linhagem em benefício do surgimento de outra, é
fácil imaginarmos o porquê da predileção moderna por “dimensões de
direitos” uma vez que a realidade histórica dos direitos humanos indica a
simultaneidade ou concomitância do surgimento de documentos
jurídicos referentes a direitos humanos, de uma ou outra espécie, seja de
primeira ou segunda dimensão, como por exemplo, a falta de sincronia
existente entre os ordenamentos jurídicos internos dos países e o Direito
Internacional Público, pois as Constituições nacionais, em sua maioria,
reconheceram, primeiramente, os direitos civis e políticos (primeira
dimensão) para ulteriormente constitucionalizarem os direitos sociais
(segunda dimensão) enquanto que no campo internacional, regido pelo
Direito Internacional Público, o surgimento da Organização Internacional 2 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo.
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do Trabalho (OIT), em 1919, criou bases para o surgimento de diversos
tratados e convenções normatizando os direitos sociais dos trabalhadores
(segunda dimensão), e só, posteriormente, os direitos civis e políticos
(primeira dimensão) foram internacionalizados.
5.2.1) Primeira geração
Traduzindo o valor de liberdade, são direitos humanos de
primeira dimensão aqueles inspirados nas doutrinas iluministas e do
jusnaturalismo racional, cujo pensamento influenciou as revoluções
burguesas dos séculos XVII e XVIII. São as liberdades públicas, como os
direitos políticos e civis, reconhecidos na Revolução Francesa e
Estadunidense, e as liberdades clássicas como, por exemplo, o direito à
vida, à segurança, à propriedade e à liberdade, tornando sua matéria um
privilégio para o ser humano abstrato ou descontextualizado. Tratam-se
de direitos de oposição diante da abusividade do poder estatal,
circunscrevendo uma área de não intervenção do Estado perante a
independência e autonomia do indivíduo, ou seja, são liberdades
negativas onde o Estado deve permanecer no campo do não fazer ou
da não interferência (omissão).
Surgiram no final do século XVIII, como oposição do liberalismo
ao absolutismo, e preencheram todo o século XIX, haja vista os direitos
de segunda dimensão somente vieram a se desenvolver no século XX.
Materializam os instrumentos de defesa das liberdades
individuais, a partir da urgência da não intervenção opressora do Estado
absoluto no campo particular do indivíduo, preocupando-se em delimitar
fronteiras para as ações dos poderes públicos em benefício do indivíduo.
Denominam-se direitos negativos, liberdades negativas ou direitos
de defesa do particular contra o poder político estatal.
Como exemplos de direitos de primeira dimensão: vida, liberdade,
propriedade, segurança, liberdade de expressar o pensamento, liberdade
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de crença religiosa, liberdade de reunião, inviolabilidade de domicílio,
associação política, liberdade de locomoção etc.
Entre os documentos históricos que mais contribuíram para o
surgimento e a configuração dos direitos humanos de primeira dimensão,
podemos citar:
a) Magna Cartha Libertatum (15 de junho de 1215), firmada pelo rei
inglês “João Sem-Terra”, foi feita para proteger, essencialmente, os
privilégios dos barões e os direitos dos homens livres. Entre diversos
outros direitos e garantias, a Magna Cartha estabelecia: limitações
tributárias para o Estado, liberdade da Igreja da Inglaterra,
proporcionalidade entre o delito cometido e a sanção a ser aplicada pelo
poder público, previsão do devido processo legal, liberdade de locomoção,
liberdade para entrar e sair do país e livre acesso à Justiça.
b) Petition of Rights3 (1628), requeria o reconhecimento de direitos e
liberdades para os súditos e previa, entre outros direitos, que nenhum
homem livre ficasse sob prisão ou detido ilegalmente e que ninguém seria
obrigado a contribuir com qualquer dádiva, empréstimo ou benevolência e
a pagar qualquer taxa ou imposto, sem o consentimento de todos,
manifestado por ato do Parlamento.
c) Habeas Corpus Amendment Act4 (1679), instituído no reinado de
Carlos II na Inglaterra, foi uma das maiores conquistas da liberdade
individual em face do Estado como remédio judicial destinado a evitar ou
a fazer cessar violência ou a coação na liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder, mesmo embora, tal mecanismo já se
encontrasse existente no Direito romano (interdictum de libero homine
exhibendo). O Habeas Corpus Amendment Act normatizou o referido
remédio que já existia na common law e entre outras previsões de
3 Petição dos Direitos. 4 Emenda de Habeas Corpus
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direitos e garantias, estabelecia até multa de £500 para o indivíduo que
tornasse a prender, pelo mesmo fato, o cidadão que já tivesse obtido a
ordem de soltura;
d) Bill of Rights5 (13 de fevereiro de 1689), decorrente da abdicação do
rei Jaime II e outorgada pelo Príncipe de Orange, efetivou o surgimento
da Monarquia Constitucional na Inglaterra, submetendo enormemente a
autoridade real à soberania popular, prevendo, por exemplo, o
fortalecimento do princípio da legalidade, criação do direito de petição,
liberdade de eleição dos membros do Parlamento, imunidades
parlamentares, vedação à aplicação de penas cruéis e convocação
periódica do Parlamento. Apesar da Bill of Rights ter constituído,
indubitavelmente, um enorme avanço no que tange à declaração de
direitos, esta, em seu item de número IX, cerceava a liberdade de crença
religiosa e promovia indiretamente uma “perseguição” protestante em
detrimento dos cidadãos católicos;
e) Act of Settlement6 (12 de junho de 1701), proibia que fosse
escolhido pela Câmara dos Comuns (Poder Legislativo) algum indicado
que tivesse cargo ou recebesse proventos do monarca (rei ou rainha) ou
que fosse pensionista da coroa. Temia-se a subordinação de um Poder ao
outro e visava reforçar a separação dos poderes, tal qual defendeu
Charles Louis de Secondat Montesquieu em L’Esprit des lois (1748).
Basicamente, foi um ato regulamentador que reafirmou o princípio da
legalidade e da responsabilização política dos agentes públicos, inclusive
prevendo a possibilidade de impeachment dos magistrados.
f) Virginia Bill of Rights (16 de junho de 1776), juntamente com a
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América e a sua
primeira Constituição, constituiu um importante documento histórico na
5 Declaração de Direitos 6 Ato de Regulamentação
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evolução dos direitos humanos. Objetivou proclamar o direito à vida, à
liberdade, e à propriedade. Outros direitos humanos foram expressos na
declaração, como o princípio da legalidade, a liberdade de imprensa, o
devido processo legal, o júri popular, o princípio do juiz natural e a
liberdade religiosa, esta última na Seção XVI da declaração;
g) Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (4
de julho de 1776), produzida quase que inteiramente por Thomas
Jefferson, declarou a limitação do poder político do Estado frente as
liberdades individuais;
h) Constituição dos Estados Unidos da América e suas emendas (17
de setembro de 1787), visou limitar o Estado consagrando a separação
dos poderes e direitos humanos: ampla defesa, devido processo legal, júri
popular, liberdade de crença religiosa, vedação à aplicação de penas
cruéis ou aberrantes e inviolabilidade de domicílio.
i) Déclaration dês Droits de l’Homme et du Citoyen7 (26 de agosto
de 1789), promulgada pela Assembleia Nacional com dezessete artigos,
apresenta verdadeiro breviário do Constitucionalismo, entre os
direitos e garantias mais importantes declarados estão: princípio da
legalidade, princípio da igualdade, princípio da reserva legal e
anterioridade em matéria penal, princípio da presunção de inocência,
liberdade, propriedade, segurança, associação política, liberdade de
crença religiosa, livre manifestação do pensamento e o direito de
resistência à opressão e tem como pressuposto o conceito de cidadão.
Objetivou proteger o homem em face do Estado. Representa,
inegavelmente, o mais importante estatuto de reconhecimento dos
Direitos Humanos, influenciando todo o movimento de positivação de
tais direitos, que aconteceu nas democracias do Ocidente, bem como na
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. 7 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
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5.2.2) Segunda geração
A segunda dimensão trata dos direitos referentes à igualdade,
que surgiram impulsionados e inspirados pelos movimentos sociais e
pela primeira Revolução Industrial na Europa do século XIX, decorrentes
das péssimas e precárias condições trabalhistas e humanitárias em que se
encontrava o proletariado. Tais condições de trabalho contribuíram para a
eclosão de movimentos como o Cartista na Inglaterra, e a Comuna de
Paris (1848), que buscaram reivindicações de cunho trabalhista e
assistencial, em prol do indivíduo concreto e situado.
Logo após, observamos o início do século XX ser marcado pela
Primeira Guerra Mundial e pelo reconhecimento dos direitos sociais, que
são o cerne da segunda dimensão. Comprovamos essa forte presença
de direitos sociais no Tratado de Versalhes (1919) e na Constituição de
Weimar (1919), na Alemanha, além de outros textos. Tal dimensão,
relacionada ao século XX, comporta direitos coletivos, próprios dos
seres humanos, como os sociais, econômicos e culturais, referentes
aos direitos de igualdade. São liberdades positivas, reais, concretas
e objetivas, pois conduzem indivíduos materialmente desiguais aos
conteúdos dos direitos através de instrumentos do Estado presente e
intervencionista. Reclamam a igualdade material, através da
intervenção positiva do Estado, para sua efetiva concretização.
Realçou a lenta passagem do Estado liberal (individualista)
para o Estado social, voltado para a tutela de direitos e garantias dos
hipossuficientes e na busca da igualdade material entre os indivíduos,
ao contrário do estabelecimento da igualdade formal, como se garantiu no
Liberalismo.
Correspondem aos direitos de participação assegurados pela
implementação de serviços e políticas públicas, exigindo-se do poder
estatal, prestações sociais positivas. Logo, são denominados
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liberdades positivas, direitos positivos, direitos do bem-estar ou direitos
dos desamparados.
Entre alguns exemplos de direitos de segunda dimensão, há que
se destacar: saúde, educação, lazer, trabalho, alimentação, moradia,
previdência social, habitação, assistência social, proteção à maternidade e
à infância etc.
Todavia, nem todos os direitos humanos de segunda dimensão são
liberdades ou direitos positivos, Há também direitos sociais
negativos, como o direito à liberdade sindical e de greve,
respectivamente, previstos nos artigos 8º e 9º da Constituição Federal de
1988. Logo, se utilizarmos o critério de natureza do Estado, ou seja,
positivo (atuação) ou negativo (omissão), poderemos ser levados a erro,
fazendo-se necessário avaliar a essência da finalidade do mecanismo ou
instituto que estabeleceu determinado direito social.
Então, os direitos sociais (negativos ou positivos) têm em seu
cerne a urgência da promoção de igualdade material ou substantiva,
através da interferência do Estado em defesa dos hipossuficientes,
enquanto os direitos individuais são aqueles que tutelam as liberdades
públicas, impedindo a interferência autoritária e abusiva do poder estatal
no campo individual.
5.2.3) Terceira geração
Cuidando dos denominados “direitos humanos globais”, a
terceira dimensão contempla direitos metaindividuais e
supraindividuais materializando poderes de titularidade coletiva
atribuídos genericamente a todas as formações sociais. Temos como
melhores exemplos desses direitos, os difusos e os coletivos.
Os direitos de terceira dimensão consagram o princípio da
solidariedade ou fraternidade e emergem no instante em que a
sociedade necessita fortalecer seus conceitos de preservação ambiental
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e das dificuldades que envolvem a proteção do mercado consumidor,
por exemplo.
A sociedade encontra-se marcada por grandes mudanças e novas
preocupações na ordem mundial, como globalização, crise econômica
internacional, consumo de massa, crescente desenvolvimento científico e
tecnológico, sustentabilidade etc. O indivíduo e a coletividade começam a
reclamar para si e para as gerações futuras o direito a um meio
ambiente sadio8, não poluído e equilibrado, ao desenvolvimento
econômico sustentável, à busca pela paz, a normatização das regras de
mercado, ao progresso, a uma qualidade de vida saudável, à
autodeterminação dos povos, à proteção do consumidor e a outros
direitos difusos que são os interesses de classes menos determinadas
de indivíduos, sendo que entre eles não existe vínculo jurídico ou fático.
A terceira dimensão, além de fortemente humanizada, busca
atingir valores e princípios universais, pois não se destina apenas à
proteção de interesses individuais, nem de grupos específicos ou de um
espaço temporal fixo e determinado, mas reflete temas destinados à
coletividade como um todo, englobando tanto a atual sociedade quanto as
gerações futuras.
É muito interessante notar a presença da tríade iluminista como
núcleo da esfera de proteção dos direitos humanos de primeira,
segunda e terceira dimensões: Liberté, Egalité e Fraternité9.
8O caput do art. 225 da CF/1988 (Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações) prevê um direito tipicamente de terceira dimensão. 9 Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
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5.2.4) Quarta geração
Atualmente, muito se debate sobre o reconhecimento da 4ª e
da 5ª dimensão de direitos humanos em complemento as três
primeiras e tradicionais dimensões supracitadas. Contudo, este
tema ainda é desprovido de consenso entre os principais autores de
Direito Constitucional e Direitos Humanos no que diz respeito aos direitos
e garantias tutelados com exatidão por essas duas novas dimensões de
direitos humanos.
De acordo com uma visão conservadora de Norberto Bobbio, a 4ª
dimensão advém dos avanços tecnológicos alcançados na
Classificação Tradicional dos Direitos Humanos
1a Geração
ou
Dimensão
Princípio da Liberdade
Liberdades Negativas, Clássicas ou Formais
Estado Liberal
Direitos Civis e Políticos
Direito a vida, propriedade, liberdade, segurança pessoal...
2a Geração
ou
Dimensão
Princípio da Igualdade
Liberdades Positivas, Reais ou Concretas
Estado Social
Direitos Sociais, Econômicos e Culturais
Direito a saúde, educação, lazer, trabalho, assistência aos desamparados, previdência social, moradia, alimentação...
3a Geração
ou
Dimensão
Princípio da Fraternidade ou Solidariedade
Direitos universais de titularidade coletiva
Direitos Difusos e Coletivos
Direito a um meio ambiente sadio e equilibrado, a paz, ao progresso, a defesa do consumidor, ao desenvolvimento, a comunicação...
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engenharia genética, quando coloca em risco a própria existência
humana, em função da manipulação do patrimônio genético.
Conforme Bobbio: “... já se apresentam novas exigências que só
poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos
efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá
manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”.10
A 4ª dimensão também trataria de direitos relativos à
biossegurança, à biotecnologia e à bioengenharia, e deliberando
sobre vida e morte, sempre pressupondo um debate ético-prévio a
exemplo do julgamento da ADI-3510/DF proposta pelo Procurador-Geral
da República sobre a inconstitucionalidade do artigo 5º da Lei de
Biossegurança (Lei 11.105/2005). A consolidação desta dimensão faz-se
de extrema necessidade e irreversibilidade para que se estabeleçam as
bases jurídicas dos avanços tecnológicos no campo da engenharia
genética e suas fronteiras constitucionais.
Já Paulo Bonavides, por exemplo, ensina que a 4ª dimensão
tutela o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao
pluralismo jurídico, para que a sociedade aberta ao futuro seja
materializada, maximizando a universalização.
10 Norberto Bobbio, A era dos direitos.
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5.2.5) O porvir dos direitos humanos
Não obstante já se falar na recente e polêmica 4ª dimensão dos direitos
fundamentais, presenciou-se no 9º Congresso Ibero-Americano e no 7º
Simpósio Nacional de Direito Constitucional (Curitiba/PR, 2006) além do
2º Congresso Latino-Americano de Estudos Constitucionais (Fortaleza/CE,
2008) que o jurista e constitucionalista Paulo Bonavides fez alusões
expressas à 5ª dimensão dos direitos humanos fundamentais
colocando-os no campo do direito à paz embora suas doutrinas já
tivessem situado a busca pela paz na seara dos direitos de 3ª dimensão.
Neste aspecto, Bonavides difere de outros autores, haja vista
alguns têm associado os direitos de 5ª dimensão aos direitos
provenientes da realidade virtual.
4a Geração ou Dimensão dos Direitos Humanos
Norberto Bobbio
A 4a dimensão advém dos avanços tecnológicos alcançados na
engenharia genética, quando coloca em risco a própria existência humana,
em função da manipulação do patrimônio genético.
“... já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de
direitos de quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá
manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”.
Paulo Bonavides
A 4a dimensão tutela o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo jurídico, para que a sociedade aberta ao futuro seja
materializada, maximizando a universalização.
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Longe de haver consenso, a maioria dos tradicionais
constitucionalistas ainda não aborda a 4ª nem a 5ª dimensão em suas
obras, o que nos faz pensar que tais matérias ainda necessitam de tempo
para amadurecer até que se tornem temas pacíficos.
6) Características
Imprescritibilidade
Somente os direitos de caráter econômico-patrimonial poderiam ser
atingidos pelo instituto jurídico da prescrição e não a exigibilidade dos
direitos personalíssimos, ainda que não individualistas, como é o caso dos
direitos do homem.
Direitos humanos não desaparecem pelo decurso do tempo e
o exercício de grande parte dos direitos do homem ocorre só no fato de
existirem reconhecidos na ordem jurídica. Considerando que, se são
sempre exercíveis e exercidos, não há intercorrência temporal de não
exercício que fundamente a perda da exigibilidade pela
prescrição, conforme os apontamentos de José Afonso da Silva.
Inalienabilidade
Tanto a título gratuito quanto oneroso, tais direitos são
intransferíveis e inegociáveis, porque não possuem conteúdo
econômico-patrimonial. Se a ordem constitucional os confere a todos,
deles não se pode desfazer, porque são indisponíveis.
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Irrenunciabilidade
Os direitos humanos são irrenunciáveis, contudo alguns deles
podem deixar de ser exercidos, mas seria inadmissível sua renúncia, o
que nos conduz a debates doutrinários polêmicos e importantes como a
renúncia ao direito à vida e a eutanásia, o suicídio e o aborto.
A banca CESPE/UnB considera que direitos humanos ou direitos
fundamentais podem ser renunciados ou autolimitados desde que tal
renúncia ou autolimitação não lese ou ameace de lesão a dignidade
da pessoa humana.
Inviolabilidade
Trata-se da impossibilidade de não serem observados ou
desrespeitados pela legislação infraconstitucional ou por atos das
autoridades públicas, sob pena de responsabilização penal, civil e
administrativa.
Faz-se importante registrar que a inviolabilidade não se
confunde com a irrenunciabilidade, porque enquanto esta protege o
direito contra o seu próprio titular aquela consiste na violação de
direitos por parte de terceiros.
Historicidade
Direitos humanos são históricos como quaisquer direitos. Nascem,
modificam-se e desaparecem. Eles apareceram na antiguidade,
passando pelas diversas revoluções, evoluindo e sempre se
ampliando, com o decorrer das eras e gerações até a chegada aos
dias atuais.
Alguns autores defendem que eles surgiram com o cristianismo,
mas na verdade, os direitos humanos são muito anteriores a era cristã.
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Universalidade
Destinam-se, de maneira indiscriminada, a todos os seres
humanos. Os direitos humanos devem alcançar a todos,
independentemente de orientação sexual, cor, raça, etnia, origem,
procedência nacional, sexo, idade, crença religiosa, convicção política ou
filosófica, nacionalidade ou quaisquer outras formas de discriminação.
Limitabilidade ou Relatividade
Desprovidos de caráter absoluto (relatividade), os direitos
humanos, envolvidos num caso concreto em que haja confronto ou
conflito de interesses, deverão ser conjugados levando em consideração a
regra da máxima observância dos direitos humanos fundamentais
envolvidos com a mínima restrição possível, pelo intérprete ou
magistrado, certo de que a solução já não venha discriminada na própria
Constituição (ex.: direito de propriedade versus desapropriação).
Direitos humanos não são absolutos!!!
Concorrência
Podem ser exercidos cumulativamente, quando, por exemplo, o
professor, no exercício de seu poder de cátedra11, transmite um conteúdo
(direito de informação) e juntamente, emite uma opinião (direito de
opinião).
11 O poder de cátedra do docente compreende a liberdade para expressar sua opinião
acerca do conteúdo transmitido consoante o art. 206, II, da Constituição Federal de
1988 (O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber).
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Efetividade
A atuação do Estado deverá ser no sentido de assegurar a
efetivação dos direitos humanos, com instrumentos e mecanismos
coercitivos que viabilizem seu exercício por todos os seus
destinatários, uma vez que a Carta Magna não se basta tão somente
com o reconhecimento abstrato dos direitos humanos fundamentais.
Interdependência
As previsões constitucionais, embora autônomas, possuem
inúmeras intersecções para atingirem seus objetivos, logo, a
liberdade de locomoção está fortemente ligada ao habeas corpus tal qual
a liberdade de expressão artística está vinculada à vedação a censura
prévia, e assim por diante.
Indivisibilidade
A indivisibilidade dos direitos humanos está associada ao maior
objetivo do sistema internacional de direitos humanos, a
promoção e garantia da dignidade da pessoa humana.
Afirmando-se que tais direitos são indivisíveis, diz-se que não há o
meio-termo, pois somente há vida digna se todos os direitos
materializados em uma Constituição, por exemplo, estiverem sendo
providos de efetividade, sejam civis e políticos, sejam sociais, econômico
e culturais.
Complementaridade
Os direitos do homem não devem ser interpretados de
maneira isolada, mas sempre que possível, de forma conjunta para
alcançar as finalidades do constituinte e atender os objetivos almejados.
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Individualidade e/ou Coletividade
Os direitos humanos possuem a peculiaridade da individualidade
e/ou coletividade e vice-versa, uma vez que são individuais porque são
portados pelo indivíduo, como o direito à alimentação e à moradia12 e
doutra pertencem a toda coletividade, como o acesso à informação13
e a democracia participativa.
Inerência
O primeiro parágrafo do preâmbulo da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1948) traz que “a dignidade inerente a todos os
membros da família humana e seus direitos iguais e inalienáveis é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”, e decorre do
fundamento jusnaturalista de base racional adotado pelo direito
internacional dos direitos humanos estabelecendo a ideia de que os
12 O art. 6º da Constituição Federal de 1988 (São direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição) traz direitos prestacionais ou de promoção para o indivíduo, pois exigem
uma postura positiva do poder público na sua consecução mediante a implementação de
políticas sociais, visando à eliminação ou redução das desigualdades regionais e
nacionais no território brasileiro.
13 A garantia constitucional da liberdade de informação trazida pelo art. 5º, XIV, da
Constituição Federal de 1988 (é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional) abrange o
direito de informar, de se informar e de ser informado, garantindo a todo indivíduo o
direito público subjetivo de requerer a órgãos e entidades públicas informações de seu
interesse particular, coletivo ou geral. Como expressão deste direito, o Supremo Tribunal
Federal, no julgamento da Arguição por Descumprimento de Preceito Fundamental no
130/DF, entendeu pela não-recepção da Lei de Imprensa, de 1967, pela atual Carta
Magna.
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direitos humanos são inerentes a cada indivíduo, pelo simples fato
de existir como ser humano.
Transnacionalidade
Os direitos humanos são reconhecidos e tutelados em todos os
Estados, mesmo que haja diferenças quanto à sua enumeração e ao
modo de tutelá-los. Tais direitos independem da nacionalidade ou
cidadania e são garantidos a qualquer indivíduo.
Dentre as principais características apresentadas, as mais cobradas pela
banca Cespe são: Imprescritibilidade, Irrenunciabilidade, Universalidade,
Interdependência, Indivisibilidade e Inerência.
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Por fim, vamos resumir as características apresentadas?
CARACTERÍSTICAS
COMENTÁRIOS
IMPRESCRITIBILIDADE Os Direitos Humanos não prescrevem, ou seja, não se perdem com o decurso do tempo.
INALIENABILIDADE
Os Direitos Humanos são intransferíveis e inegociáveis, porque
não possuem conteúdo econômico-patrimonial.
IRRENUNCIABILIDADE
Os direitos humanos são irrenunciáveis. Alguns deles podem
deixar de ser exercidos, mas seria inadmissível sua renúncia.
INVIOLABILIDADE
Trata-se da impossibilidade de não
serem observados ou desrespeitados pela legislação infraconstitucional ou
por atos das autoridades públicas
HISTORICIDADE Os Direitos humanos são históricos
como quaisquer direitos.
UNIVERSALIDADE
Os Direitos Humanos destinam-se, de
maneira indiscriminada, a todos os seres humanos.
INTERDEPENDÊNCIA
As previsões constitucionais, embora autônomas, possuem inúmeras intersecções para atingirem seus
objetivos.
INDIVISIBILIDADE
A indivisibilidade dos direitos humanos
está associada a promoção e garantia da dignidade da pessoa humana.
COMPLEMENTARIDADE
Os Direitos Humanos não devem ser interpretados de maneira isolada, mas
sempre que possível, de forma conjunta.
INDIVIDUALIDADE e/ou
COLETIVIDADE
São individuais porque são portados pelo indivíduo e doutra pertencem a toda coletividade.
INERÊNCIA Os Direitos Humanos são inerentes a cada indivíduo, pelo simples fato de
existir como ser humano.
TRANSNACIONALIDADE
Os direitos humanos são reconhecidos
e tutelados em todos os Estados independem da nacionalidade ou
cidadania e são garantidos a qualquer indivíduo.
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7) Questões comentadas
1. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) A Magna Carta, de 1215, instituiu a separação dos poderes ao declarar que o funcionamento
do parlamento, um órgão que visa defender os súditos perante o rei, não pode estar sujeito ao arbítrio deste.
2. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) A importância
histórica do habeas corpus, de 1679, consiste no fato de que essa garantia judicial, instituída na Inglaterra para proteger a liberdade de
locomoção, serviu de modelo para a criação de outras formas de proteção das liberdades fundamentais, como o juicio de amparo, na América
Latina.
3. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) A Constituição de
Weimar foi o primeiro documento a afirmar os princípios democráticos na
história política moderna.
4. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Os direitos
fundamentais podem ser restringidos tanto por expressa disposição
constitucional quanto por norma infraconstitucional com fundamento na
CF.
5. (CESPE/2007/TSE/Técnico Judiciário - Adaptada) A propriedade
é um direito social, logo não está entre os direitos humanos.
6. (CESPE/2007/TSE/Técnico Judiciário) Os direitos e garantias
individuais só podem ser invocados contra o Estado, pois foram
concebidos em relação a ele.
7. (CESPE/2007/TSE/Técnico Judiciário - Adaptada) Os direitos
sociais, como o próprio nome indica, não figuram entre os direitos
humanos.
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8. (CESPE/2007/Oficial do CBM-DF) Enquanto os direitos de 1ª
geração são (civis e políticos) – que compreendem as liberdades
clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade, os
direitos de 2ª geração (econômicos, sociais e culturais) – que se
identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o
princípio da igualdade.
9. (CESPE/2007/Prefeitura de Rio Branco-AC/Técnico de Gestão
Pública - Adaptada) Os direitos humanos, previstos na CF/88 na forma
de direitos fundamentais, não são imputáveis aos estrangeiros que
estejam em território brasileiro em viagem de turismo.
10. (CESPE/2008/Hemobrás/Advogado - Adaptada) De acordo com
o posicionamento majoritário na doutrina, os direitos sociais integram os
denominados direitos humanos de segunda geração.
11. (CESPE/2008/STF/Analista Judiciário - Adaptada) Os direitos
humanos não podem ser reconhecidos e aplicados aos estrangeiros em
trânsito pelo território nacional.
12. (CESPE/2007/TJ-DFT/Analista Judiciário - Adaptada) Os
direitos humanos de segunda geração se caracterizam por impor ao
Estado uma obrigação positiva de atuação em favor dos administrados,
com vistas a diminuir as diferenças materiais existentes entre eles.
13. (CESPE/2009/SEGER/Contador - Adaptada) Na evolução
histórica dos direitos humanos em gerações, entende-se que o direito de
propriedade é um direito de primeira geração.
14. (CESPE/2009/SEGER/Contador) O direito de propriedade é
limitado. Um exemplo dessa limitação é a previsão constitucional da
desapropriação por interesse social.
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15. (CEFET-BA - 2008 - PC-BA - Delegado de Polícia)
“Cidadania, portanto, engloba mais que direitos humanos, porque, além
de incluir os direitos que a todos são atribuídos (em virtude da sua
condição humana), abrange, ainda, os direitos políticos. Correto, por
seguinte, falar-se numa dimensão política, numa dimensão civil e numa
dimensão social da cidadania”. (Prof. J. J. Calmon de Passos).
Ao alargar a compreensão da cidadania para as três dimensões supra-
referidas, o prof. Calmon de Passos:
a) inova, ao focar somente o caráter educacional da cidadania plena na
Grécia.
b) contribui, doutrinariamente, para que a noção da cidadania ultrapasse
a clássica concepção que a restringia tão-somente ao exercício dos
direitos políticos.
c) restringe o entendimento da cidadania ao exercício dos direitos de
primeira geração – especialmente quanto à igualdade.
d) promove reflexão crítica em torno dos interditos proibitivos à
construção de uma sociedade respeitosa para com as nuanças de
sexo, gênero, raça e idade.
e) contradiz a noção fundamental de extensão da cidadania a todos sem
distinção – mulheres especialmente.
COMENTÁRIOS
1. Errado. A Magna Carta de 1215 estabeleceu o princípio constitucional
de que o rei governa de acordo com a lei. A Carta Magna foi o
documento que criou as condições para que liberdades e direitos civis pudessem cada vez mais se estabelecer. Primeiramente na Grã-
Bretanha e, mais tarde, no continente europeu.
2. Certo. A importância histórica do habeas-corpus, tal como regulado pela lei inglesa de 1679, consistiu no fato de que essa garantia
judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção, tornou-se a
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matriz de todas as que vieram a ser criadas posteriormente, para a
proteção de outras liberdades fundamentais. (COMPARATO, Fabio Konder. “A afirmação história dos direitos humanos. 7 ed. rev e atual. – São
Paulo: Saraiva, 2010).
3. Errado. Destaque-se a Declaração dos Direitos editada pela Virgínia em 2/06/1776, antes mesmo da independência das treze
colônias inglesas da América do Norte. Comparato a respeito dela ensina: “A característica mais notável da Declaração de Independência dos
Estados Unidos reside no fato de ser ela o primeiro documento a afirmar os princípios democráticos, na história política moderna.”
4. Certo. Devido à posição que ocupam no sistema jurídico, os direitos
fundamentais somente podem ser restringidos por normas de hierarquia constitucional ou por normas infraconstitucionais,
quando o próprio texto constitucional assim autorizar de forma expressa a
restrição. Por isso, as restrições de direitos fundamentais só podem ser diretamente constitucionais ou indiretamente constitucionais. Conforme
salienta Rolim: “A restrição de um direito fundamental é uma limitação do âmbito de proteção desse direito fundamental. Um exemplo de restrição
de direito fundamental é o art. 5º, inciso IV, da Constituição Federal em vigor (é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato)
alcança todas as hipóteses práticas de se manifestar o pensamento. A proibição do anonimato na referida disposição de direito fundamental
constitui uma restrição porque limita a proteção constitucional da manifestação do pensamento àquelas hipóteses em que o titular do
direito não omite a sua idade.”
5. Errado. A propriedade é um direito individual que figura entre os direitos humanos de 1ª geração (civis e políticos). Outro erro da
questão é inserir a propriedade entre os direitos sociais que são direitos
de 2ª geração (sociais, econômicos e culturais) enquanto ela é um direito de 1ª geração, como já dito.
6. Errado. O surgimento dos direitos humanos, entre eles os direitos e
garantias individuais, ocorreu pela necessidade de limitar o poder e
autoridade do Estado, emergindo como uma tutela às liberdades
individuais frente aos abusos e ilegalidades perpetrados pelo poder
estatal e sua ingerência abusiva na esfera particular, todavia em
determinados casos essa situação poderá se inverter, como por exemplo,
quando uma propriedade rural não cumpre sua função social (Ex.:
latifúndio improdutivo), poderá o Estado desapropriá-la para fins de
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reforma agrária. Lembre-se que os direitos humanos não são absolutos
e gozam de limitabilidade ou relatividade!
7. Errado. Os direitos sociais são direitos humanos de 2ª geração ou
dimensão (sociais, econômicos e culturais) que representam as
prestações positivas e assistenciais do Estado.
8. Certo. A questão está perfeita, fazendo referência às duas primeiras
gerações (das três tradicionais) dos direitos humanos presente na tríade
iluminista como núcleo da esfera de proteção dos direitos humanos de
primeira, segunda e terceira gerações, respectivamente: Liberté,
Egalité e Fraternité. Dê uma revisada no esquema demonstrativo
sobre a Classificação Tradicional dos Direitos Humanos.
9. Errado. Uma das características dos direitos humanos é a
UNIVERSALIDADE, logo tais direitos são aplicáveis a todos os seres
humanos sem quaisquer formas de discriminação.
10. Certo. A segunda geração carrega direitos coletivos, próprios dos
seres humanos, como os sociais, econômicos e culturais, referentes
aos direitos de igualdade. São liberdades positivas, reais, concretas e
objetivas, pois conduzem indivíduos materialmente desiguais aos
conteúdos dos direitos através de instrumentos do Estado Social.
11. Errado. Fruto da UNIVERSALIDADE, direitos humanos são
imputáveis a brasileiros e estrangeiros, sejam estes brasileiros natos
ou naturalizados e os estrangeiros residentes ou não, sendo que a
esta última categoria pertence turistas e estrangeiros em trânsito no
território nacional.
12. Certo. Os direitos de 2ª geração (sociais, econômicos e
culturais) conduzem indivíduos materialmente desiguais aos conteúdos
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dos direitos através de instrumentos do Estado presente e
intervencionista. Tais direitos reclamam a igualdade material, através
da intervenção positiva do Estado, para sua efetiva concretização.
Realçaram a lenta passagem do Estado Liberal (individualista) para o
Estado Social, voltado para a tutela de direitos e garantias dos
hipossuficientes e na busca da igualdade material entre os indivíduos.
Também correspondem aos direitos de participação assegurados pela
implementação de serviços e políticas públicas, exigindo-se do poder
estatal, prestações sociais positivas.
13. Certo. A 1ª geração ou dimensão dos direitos humanos trata dos
direitos civis e políticos, entre eles: vida, propriedade, liberdade,
segurança etc.
14. Certo. Os direitos humanos são desprovidos de caráter absoluto
logos são limitáveis e se ponderados num caso concreto em que haja
confronto ou conflito de interesses poderão ser restringidos conforme o
art. 5º, XXIV, da Constituição Federal, onde se lê que a lei estabelecerá o
procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos no próprio texto constitucional.
15. LETRA B. Pela concepção clássica Cidadania é a condição da pessoa
natural que, como membro de um Estado, se acha no gozo dos direitos
qe lhe permitem participar da vida política. A cidadania é, segundo
essa noção, portanto, o conjunto dos direitos políticos de que goza um
indivíduo e que lhe permitem intervir na direção dos negócios públicos do
Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo
e na sua administração, seja ao votar (direto), seja ao concorrer a cargo
público (indireto).
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8) Questões de fixação
1. (CESPE - 2012 - PC-CE - Inspetor de Polícia - Civil) A dignidade da pessoa humana é um fundamento da República Federativa do Brasil.
2. (CESPE - 2012 - PC-CE - Inspetor de Polícia - Civil) O direito
internacional dos direitos humanos, fenômeno que antecedeu à Primeira Guerra Mundial, pode ser conceituado como uma construção consciente
vocacionada a assegurar a dignidade humana.
3. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado) Direitos
econômicos, sociais e culturais são direitos humanos de segunda geração, o que significa que não são juridicamente exigíveis, diferentemente do
que ocorre com os direitos civis e políticos.
4. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado) Direitos econômicos, sociais e culturais formam, juntamente com os direitos civis e
políticos, um conjunto indivisível de direitos fundamentais, entre os quais não há qualquer relação hierárquica.
5. (FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado) Direitos econômicos, sociais e culturais ) incluem o direito à participação no
processo eleitoral, à educação, à alimentação e à previdência social.
6. (CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Os direitos transindividuais ou difusos não podem ser exercidos senão por
coletividades, e são considerados direitos humanos de terceira geração, como os direitos à sindicalização e à previdência social.
7. (CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Os direitos humanos de primeira geração referem-se às reivindicações de condições
dignas de trabalho e originam-se das lutas sociais desencadeadas com a Revolução Industrial.
8. (CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Os direitos
humanos de segunda geração ainda não foram incorporados à legislação
nacional, permanecendo, pois, como normas programáticas do direito internacional humanitário.
9. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) Os direitos
fundamentais surgem todos de uma vez, não se originam de processo histórico paulatino.
10. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) Não há uma correlação entre o surgimento do cristianismo e o respeito à dignidade da
pessoa humana.
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11. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) As gerações de direitos humanos mais recentes substituem as gerações de direitos
fundamentais mais antigas.
12. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A proteção dos direitos fundamentais é objeto também do direito internacional.
13. (CESPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A ONU é o órgão
responsável pela UDHR e pela Declaração Americana de Direitos.
14. ( CEFET-BA - 2008 - PC-BA - Delegado de Polícia)
“126 gays, travestis e lésbicas foram assassinados no Brasil em 2002. O
Estado da Bahia foi, pela primeira vez, o campeão com 20 mortes. A
maior parte destes homicídios foram cometidos com requintes de
crueldade, incluindo espancamento, tortura, muitas facadas e diversas
declarações dos assassinos, que confirmam a sua condição de crimes
homofóbicos: “matei, porque odeio gay.” (Informações do Grupo da
Bahia- GGB).
Muitos homicídios, cujas vítimas são pessoas homossexuais têm como
lastro de motivação o sentimento de ódio, aversão, repulsa ou medo
irracional quanto à homossexualidade e suas manifestações.
Com base nessas informações, é verdadeiro o que se afirma em:
a) O sentimento denominado de homofobia está presente em todos os
setores da sociedade, inclusive nos mais conservadores ou de tradição
ideológica, com traços hierárquicos fortes (como o da segurança pública),
o que acaba dificultando, em alguns casos, a boa condução de
investigações e a própria elucidação de autores de assassinatos que
vitimam homossexuais.
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b) A prática da homofobia corresponde às posturas tidas como tolerantes
para com as pessoas de orientação afetiva homossexual, o que lhes inclui
no âmbito de uma convivência social harmoniosa.
c) Os reflexos da violência anti-homossexual têm como única motivação a
homofobia evidenciada no comportamento imediatista de agressores e de
cientistas “militantes”.
d) A luta histórica pela afirmação dos direitos humanos passa pela
conquista dos chamados direitos de cidadania por parte dos
homossexuais, uma vez que eles compõem uma das minorias mais
privilegiadas no reconhecimento dos seus atributos especiais.
e) A homofobia é único sentimento que se faz presente em matéria de
desrespeito a minorias no Brasil.
f) Com a inclusão dos direitos sociais no rol dos direitos do homem, antes
composto apenas de direitos de liberdade, os direitos do homem
passaram a constituir uma categoria homogênea.
9) GABARITO
1. Certo
2. Errado
3. Errado
4. Certo
5. Errado
6. Errado
7. Errado
8. Errado
9. Errado
10. Errado
11. Errado
12. Certo
13. Errado
14. Letra A