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  • 8/8/2019 Audincia 27 de Outubro de 2010 - Catequese do Papa - Santa Brgida da Sucia, co-padroeira da Europa

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    Catequese do Papa: Santa Brgida da Sucia, co-padroeira da Europa

    Interveno na audincia geral de hoje

    CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010 (ZENIT.org) Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de

    peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praa de So Pedro para a audinciageral.

    ***Queridos irmos e irms:

    Na fervente viglia do Grande Jubileu do ano 2000, o Venervel Servo d e DeusJoo Paulo II proclamou Santa Brgida da Sucia como co -padroeira de toda aEuropa. Nesta manh, gostaria de apresentar a sua figura, a sua mensagem eas razes pelas quais esta santa mulher tem muito a ensinar ainda hoje Igreja e ao mundo.

    Conhecemos bem os acontecimentos da vida de Santa Brgida, porque os seuspais espirituais redigiram a sua biografia para promover o seu processo decanonizao imediatamente depois da sua morte, ocorrida em 1373. Brgidahavia nascido 70 anos antes, em 1303, em Finster, na Sucia, uma nao donorte da Europa que, trs anos antes, havia acolhido a f crist com o mesmoentusiasmo com que a santa a havia recebido dos seus pais, pessoas muitopiedosas, pertencentes a famlias nobres, prximas da casa reinante .

    Podemos distinguir dois perodos na vida desta santa. O primeiro caracterizou -se pela sua condio de mulher felizmente casada. O seu marido chamava-seUlf e era governador de um importante distrito do reino da Sucia. Omatrimnio durou 28 anos, at morte de Ulf. Nasceram 8 filhos, dos quais asegunda, Karin (Catarina), venerada como santa. Isso um sinal eloquentedo compromisso educativo de Brgida com relao aos seus prprios filhos. Noresto, a sua sabedoria pedaggica era to apreciada, que o rei da Sucia,Magnus, chamou-a corte por certo tempo, com o fim de introduzir a suajovem esposa, Branca de Namur, na cultura sueca.

    Brgida, espiritualmente guiada por um doutor religioso que a iniciou no estudodas Escrituras, exerceu uma influncia muito positiva na sua prpria famliaque, graas sua presena, converteu-se numa verdadeira "igreja domstica".Junto ao seu marido, adoptou a Regra dos tercirios franciscanos. Praticavacom generosidade obras de caridade com os indigentes; tambm fundou um

    hospital. Junto sua esposa, Ulf aprendeu a melhorar seu carcter e aprogredir na vida crist. Ao voltar de uma longa peregrinao a Santiago deCompostela, em 1341, junto a outros membros da famlia, os espososamadureceram o projecto de viver em continncia; mas pouco depois, na pazde um mosteiro no qual se havia retirado, Ulf concluiu a sua vida terrena.

    Este primeiro perodo da vida de Brgida ajuda -nosa valorizar o que hojepoderamos definir como uma autntica "espiritualidade conjugal": jun tos, osesposos cristos podem percorrer um caminho de santidade, sustentados pela

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    graa do sacramento do Matrimnio. Muitas vezes, precisamente comoaconteceu na vida de Santa Brgida e de Ulf, a mulher quem, com a suasensibilidade religiosa, com a delicadeza e a doura, consegue fazer que omarido percorra um caminho de f. Penso, com admirao, em tantas mulheresque, dia a dia, ainda hoje iluminam as suas prprias famlias com o seutestemunho de vida crist. Que o Esprito do Senhor possa suscitar tambm

    hoje a santidade dos esposos cristos, para mostrar ao mundo a beleza domatrimnio vivido segundo os valores do Evangelho: o amor, a ternura, a ajudarecproca, a fecundidade em gerar e educar filhos, a abertura e a solidariedadecom o mundo, a participao na vida da Igreja.

    Quando Brgida ficou viva, comeou o segundo perodo da sua vida.Renunciou a outro casamento para aprofundar na unio com o Senhor atravsda orao, da penitncia e das obras de caridade. Tambm as vivas crists,portanto, podem encontrar nesta santa um modelo a seguir. De facto, Brgida,quando o seu marido morreu, aps ter distribudo os seus prprios bens aospobres, ainda sem ter pensado na consagrao religiosa, estabeleceu -se nomosteiro cisterciense de Alvastra. L comearam as revelaes divinas, que a

    acompanharam pelo resto da vida. Estas foram ditadas por Brgida aos seussecretrios-confessores, que as traduziram do sueco ao latim e recolheram-nasnuma edio de oito livros, intitulados Revelationes (Revelaes). A esseslivros acrescentou-seum suplemento, que tem como ttulo Revelationes extravagantes (Revelaes complementares).

    As Revelaes de Santa Brgida apresentam um contedo e um estilo muitovariados. s vezes, a revelao apresenta-sesob a forma de dilogos entre asPessoas divinas, Nossa Senhora, os santos e tambm os demnios; sodilogos nos quais tambm Brgida intervm. Outras vezes, no entanto, trata -seda narrao de uma viso particular; noutras, narra-se o que a Virgem Marialhe revela sobre a vida e os mistrios do seu Filho. O valor das Revelaes desanta Brgida, s vezes objecto de dvida, foi reconhecido pelo Venervel JooPaulo II na carta SpesAedificandi: "Reconhecendo a santidade de Brgida escreve meu amado predecessor , a Igreja, ainda sem se pronunciar sobrecada uma das revelaes, acolheu a autenticidade conjunta da sua experinciainterior" (n. 5).

    De facto, lendo estas Revelaes, somos interpelados sobre muitos temasimportantes. Por exemplo, descreve frequentemente, com detalhes muitorealistas, a Paixo de Cristo, qual Brgida teve sempre uma devooprivilegiada, contemplando nela o amor infinito de Deus pelos homens. Na bocado Senhor que lhe fala, ela coloca com audcia estas comoventes palavras: "

    amigos meus, eu amo to ternamente as minhas ovelhas que, se fossepossvel, eu gostaria de morrer muitas outras vezes por cada uma delas, damesma morte que sofri pela redeno de todas" (Revelationes, Livro I, c. 59).Tambm a dolorosa maternidade de Maria, que fez dela a Mediadora e Me demisericrdia, um tema que se repete com frequncia nas Revelaes.

    Recebendo esse carisma, Brgida era consciente de ser destinatria de umdom de grande predileco por parte do Senhor: "Minha filha lemos noprimeiro livro das revelaes , Eu escolhi-apara mim, ama-me com todo o teu

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    corao, (...) mais do que tudo o que existe no mundo" (c. 1). No demais,Brgida sabia bem e estava firmemente convencida disso que todo ocarisma est destinado edificao da Igreja. Precisamente por esse motivo,muitas das suas revelaes estavam dirigidas, em forma de advertnciasinclusive severas, aos fiis da sua poca, incluindo as autoridades religiosas epolticas, para que vivessem coerentemente a sua vida crist; mas fazia isso

    com uma atitude de respeito e de fidelidade plena ao Magistrio da Igreja, emparticular ao Sucessor do apstolo Pedro.

    Em 1349, Brgida deixou para sempre a Sucia e dirigiu -se em peregrinao aRoma. No queria somente participar do Jubileu de 1350, mas tamb mdesejava obter do Papa a aprovao da Regra de uma ordem religiosa quequeria fundar, dedicada ao Santo Salvador e composta por monges e monjassob a autoridade da abadessa. Este um elemento que no nos devesurpreender: na Idade Mdia, existiam fundaes monsticas com um ramomasculino e um ramo feminino, mas com a prtica da mesma regra monstica,que previa a direco da abadessa. De facto, na grande tradio crist, amulher reconhecida com dignidade prpria e a exemplo de Maria, Rainha

    dos apstolos um lugar prprio na Igreja, que, sem coincidir com osacerdcio ordenado, tambm importante para o crescimento espiritual dacomunidade. Alm disso, a colaborao de consagrados e consagradas,sempre no respeito pela sua vocao especfica, de grande importncia nomundo de hoje.

    Em Roma, em companhia da sua filha Karin, Brgida dedicou-sea uma vida deintenso apostolado e de orao. E de Roma foi, em peregrinao, a vriossanturios italianos, em particular a Assis, ptria de So Francisco, a quemBrgida sempre teve grande devoo. Finalmente, em 1371, realizou o seumaior desejo: a viagem Terra Santa, aonde se dirigiu em companhia dosseus filhos espirituais, um grupo ao qual Brgida chamava de "os amigos deDeus".

    Durante esses anos, os pontfices encontravam-seem Avinho, longe de Roma:Brgida dirigiu-se-lhes encarecidamente, para que voltassem S de Pedro, naCidade Eterna.

    Faleceu em 1373, antes que o Papa Gregrio XI voltasse definitivamente aRoma. Foi sepultada provisoriamente na igreja romana de San LorenzoinPanisperna, mas em 1374, os seus filhos Birger e Karin levaram-na suaptria, ao mosteiro de Vadstena, sede da ordem religiosa fundada por SantaBrgida, que logo depois teve uma notvel expanso. Em 1391, o Papa

    Bonifcio IX canonizou-a solenemente. A santidade de Brgida, caracterizada pela multiplicidade dos dons e dasexperincias que eu quis recordar neste breve perfil biogrfico-espiritual, fazdela uma figura eminente na histria da Europa. Procedente da Escandin via,Santa Brgida testemunha como o cristianismo havia permeado profundamentea vida de todos os povos desse continente. Declarando -a co-padroeira daEuropa, o Papa Joo Paulo II desejou que Santa Brgida que viveu no sculoXIV, quando a cristandade ocidental ainda no tinha sido ferida pela diviso

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    possa interceder eficazmente diante de Deus, para obter a graa to esperadada plena unidade de todos os cristos. Por esta mesma inteno, queconsideramos to importante, e para que a Europa saiba alimentar-se sempredas suas prprias razes crists, queremos rezar, queridos irmos e irms,invocando a poderosa intercesso de Santa Brgida da Sucia, fiel discpula deDeus, co-padroeira da Europa.

    [Traduo: Aline BanchieriLibreria Editrice Vaticana]