atuaÇÃo dos assistentes sociais frente Às ... · esse trabalho é de grande relevância ......

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL MARIA DO SOCORRO DAVID DE ANDRADE ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE ÀS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) Natal/RN 2016

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

    CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

    DEPARTAMENTO DE SERVIO SOCIAL - DESSO

    CURSO DE GRADUAO EM SERVIO SOCIAL

    MARIA DO SOCORRO DAVID DE ANDRADE

    ATUAO DOS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE S

    CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA NO

    CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL (CRAS)

    Natal/RN 2016

  • 1

    MARIA DO SOCORRO DAVID DE ANDRADE

    ATUAO DOS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE S

    CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA NO

    CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL

    Trabalho de concluso de curso apresentado Coordenao de Graduao de Servio Social, da Universidade Federal do Rio Grande Norte, como requisito para obteno do ttulo de Bacharel em Servio Social. Orientadora: Ms. Mnica Maria Calixto de Farias Alves

    Natal/RN 2016

  • 2

    Catalogao da Publicao na Fonte.

    UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

    Andrade, Maria do Socorro David de.

    Atuao dos assistentes sociais frente s condicionalidades do programa

    bolsa famlia no centro de referncia de assistncia social/ Maria do Socorro

    David de Andrade. - Natal, RN, 2016.

    95f.

    Orientadora: Profa. Me. Mnica Maria Calixto de Farias Alves.

    Monografia (Graduao em Servio Social) - Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte. Centro de Cincias Sociais Aplicadas. Departamento de

    Servio social.

  • 3

  • 4

    Dedico este trabalho com muito amor e carinho a Deus, que

    me proporcionou essa oportunidade; aos meus pais, Severina

    Maria dos Santos Andrade e Andr David de Andrade (Ambos,

    In Memorian), s minhas irms Luzia David de Andrade, Maria

    Santana David de Andrade e Andreza David de Andrade e ao

    meu irmo Orlando David de Andrade.

  • 5

    AGRADECIMENTO

    Ao meu Deus, pelas foras necessrias para enfrentar todos os obstculos.

    Agradeo aos meus pais Andr David de Andrade e Severina Maria dos

    Santos Andrade (Ambos, In Memorian), que no se encontram presentes

    fisicamente, mas sei o quanto ficariam felizes por essa vitria.

    Seus olhos e suas vozes eram sempre cheios de orgulhos em falar para

    seus amigos e familiares s vitorias de seus filhos. Mesmo com poucos estudos e

    com poucas condies financeiras sempre deu seu melhor para os seus filhos.

    As minhas amigas irms Daniele, Lcia, Lgia, Pmela, Jussara e Gabi.

    As minhas irms Luzia, Santana e Andreza e meu irmo Orlando, que so

    minha famlia que tanto amo e quero cuidar sempre.

    A minha famlia, em especial minha tia Adriana, que dentre todos os valores

    ensinados, me exps a f e ao amor.

    Ao meu esposo, que mesmo sem entender o que tanto estudo, compreende

    meu empenho.

    Aos professores da UFRN, aos profissionais e usurios do campo de estgio

    e os entrevistados por toda disponibilidade e colaborao.

    A minha orientadora professora Mnica, que um anjo que Deus colocou

    em minha vida. Mesmo eu vivenciado momentos to difceis, sempre me

    compreende. Chorou o meu luto, quando eu no tinha um colo de uma me para

    chorar, e quanto a perca de meu pai, ela estava ali.

  • 6

    Mudar difcil

    Mas possvel.

    (PAULO FREIRE, 1970)

  • 7

    RESUMO

    O presente trabalho tem como objetivo realizar uma anlise sobre a atuao dos profissionais assistentes sociais frente s condicionalidades do Programa Bolsa Famlia (PBF) no Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS) Elba Valentim da Rocha na cidade de Montanhas, o CRAS Centro e o CRAS Frei Damio na cidade de Nova Cruz, assim como possibilitar uma reflexo acerca das perspectivas dos usurios frente a essa temtica. O Programa Bolsa Famlia o maior programa de transferncia de renda do Brasil, mas para permanecer no grupo as famlias devem cumprir as condicionalidades atravs das parcerias entre as polticas de sade, educao e assistncia social. Diante da estrutura do PBF, as condicionalidades so alvo de muitos debates, em que o Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome enxerga como uma oportunidade das famlias a insero s diferentes polticas, assim como elevar a qualidade de vida das pessoas. Mas para muitas famlias entrevistadas, as condicionalidades no passam de condies que as mesmas devem cumprir para poder permanecer e no ter seu benefcio cancelado. Conforme os profissionais entrevistados, alguns enfatizam o trabalho na perspectiva da linha governamental, mas em algumas falas pode-se verificar que argumentam sobre a importncia de um trabalho planejado a partir das necessidades dos usurios. Entende-se que as condicionalidades devem ser uma estratgia positiva para as pessoas, mas para isso, as famlias necessitam se sentirem estimuladas a conhecer a sua prpria realidade e seus direitos. O trabalho utilizou-se de alguns momentos para realizao das entrevistas e acompanhamento nos grupos dos CRAS em que houve a coleta de dados de forma flexvel em que tanto os profissionais quanto os usurios analisaram sua prpria conjuntura. Esse trabalho de grande relevncia pessoal, pois possibilita contar um pouco da histria pessoal e acadmica.

    Palavras-Chave: Assistncia Social. Programa Bolsa Famlia (PBF). Servio Social.

    Condicionalidades.

  • 8

    ABSTRACT

    This study aims to conduct analysis of the work of professional social workers face the conditionalities of the Programa Bolsa Famlia (PBF) in CRAS Elba Valentine da Rocha in the city Montanhas, the center CRAS and the CRAS Frei Damio in the city of Nova Cruz as well as enable a reflection on the perspective of users facing this is sue. The Programa Bolsa Famlia is Brazil's largest cash transfer program, but to stay in the group families must do the conditionalities through associations between health policy, education and assistance. Given the PBF structure, conditionalities are subject to much discussion, where the Ministrio Social and Combate Fome see it as a familys opportunity to enter the various policies and improve the quality of life. But for many families interviewed, conditionalities are only conditions that they must to accomplish in order to stay and not have your canceled benefit. According to professionals interviewed, some empha size the work from the perspective of the government line, but some speeches argue the important of a planned work based on the needs of users. It is unders tood that conditionalities should be a positive strategy for people, but for this, families need to feel encouraged to know their own reality and their rights. Its understood that conditionalities should be a positive strategy for the people, but to find it, families need to feel encouraged to know their own reality and their rights. The work was based in a few moments to do interview and accompaniment of the CRAS groups where the data were collected, on a flexible way, in which both professionals and users analyzed their own situation. This study is of great personal significance, because it enable to tell a little personal and academic history.

    Key Words: Social Assistence. Programa Bolsa Famlia (PBF). Social Service. Conditionalities.

  • 9

    LISTA DE SIGLAS

    ASG Agente de Servios Gerais

    BJV Benefcio Varivel Vinculado ao Adolescente

    BPC Benefcio de Prestao Continuada

    CADUNICO Cadastro nico para Programas Sociais

    CF Constituio Federal

    CE Cdigo de tica

    CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social

    CRAS Centro de Referncia de Assistncia Social

    CREAS Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social

    DF Distrito Federal

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INSS Instituto Nacional do Seguro Social

    LOAS Lei Orgnica de Assistncia Social

    MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    MEC Ministrio da Educao

    MS Ministrio da Sade

    NOB-AS Norma Operacional Bsica da Assistncia Social

    NOB-RH SUAS Norma de Operao Bsica de Recursos Humanos do Sistema

    PAIF Programa de Ateno Famlia

    PBF Programa Bolsa Famlia

    PETI Programa de Erradicao do Trabalho Infantil

    PNAS Programa Nacional de Assistncia Social

    PT Partido dos Trabalhadores

    SCFV Servio de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos

    SEMAS Secretaria Municipal de Assistncia Social

    SUAS Sistema nico de Assistncia Social

    TCC Trabalho de Concluso de Curso

  • 10

    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................... 10

    2 ATUAO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ENFRENTAMENTO DAS

    DESIGUALDADES SOCIAIS .................................................................... 16

    2.1 O CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS:

    ESPAO DE SOCIALIZAO DE DIREITOS ........................................... 17

    2.2 A IMPORTNCIA DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA PARA AS FAMLIAS

    BENEFICIADAS ........................................................................................ 18

    2.3 O PERFIL DOS MUNICPIOS: NA ESTRUTURA DO CENTRO DE

    REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS ................................. 36

    2.3.1 O Municpio de Montanhas (RN) ............................................................. 36

    2.3.2 O CRAS Elba Valentim da Rocha ........................................................... 37

    2.3.3 O Municpio de Nova Cruz (RN) .............................................................. 42

    2.3.4 O CRAS Centro e o CRAS Frei Damio .................................................. 43

    3 AS CONDICIONALIDADES DO PBF: UMA AMPLIAO OU

    RESTRIO DE DIREITOS? ................................................................... 47

    3.1 A ATUAO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NOS GRUPOS DO CENTRO

    DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS: ESPAO DE

    DISCUSSES DE DIREITOS .................................................................. 48

    3.2 AS ATRIBUIES DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROGRAMA BOLSA

    FAMLIA ..................................................................................................... 54

    3.3 AS DIFERENTES PERSPECTIVAS FRENTE S CONDICIONALIDADES

    DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA ............................................................ 59

    4 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 78

    REFERNCIAS ......................................................................................... 81

    APENDICE .............................................................................................. 84

    ANEXO ..................................................................................................... 89

  • 11

    1 INTRODUO

    A pobreza apresenta-se como um dos perversos problemas a ser enfrentado

    em nossa sociedade, resultante de uma combinao de fatores sociais, polticos e

    econmicos.

    Nesse contexto de desigualdade social, surge no Brasil s polticas pblicas

    de transferncia de renda para uma parcela da populao, caracterizada em

    situao de pobreza e vulnerabilidade social. Surgem vrios programas de

    transferncia de renda, dentre eles, o maior programa de transferncia de Renda da

    histria do Brasil, o Programa Bolsa Famlia (doravante, PBF), do Governo Federal.

    O programa introduzido, segundo a inteno governamental, com o

    objetivo de enfrentar um grande desafio que o combate fome e misria,

    mediando promoo e emancipao das famlias mais pobres do Brasil. No

    entanto, o PBF se apresenta de forma seletista, atravs da realizao de anlises

    sociais e econmicas das famlias como condio para o acesso ao benefcio para

    aquelas que a eles recorrem.

    O PBF estruturado atravs das condicionalidades, as quais permitem que

    os usurios sejam contemplados por outras polticas, como de Sade e Educao,

    alm da Assistncia Social. As condicionalidades, tambm, so visualizadas como

    norma as quais as famlias devem obedecer para permanecer beneficiria do

    Programa Bolsa Famlia.

    O presente Trabalho de Concluso de Curso (TCC), que tem como tema a

    atuao dos assistentes sociais frente s condicionalidades do Programa Bolsa

    Famlia (PBF), direciona uma discusso para a atuao dos profissionais assistentes

    sociais frente s condicionalidades do PBF nos CRAS Elba Valentim da Rocha, da

    cidade de Montanhas (RN) e os CRAS Centro e o CRAS Frei Damio, na cidade de

    Nova Cruz (RN).

    O trabalho tem como objetivo geral refletir como acontece a atuao dos

    profissionais assistentes sociais diante das controvrsias das condicionalidades do

    Programa Bolsa Famlia. A partir da, particularizou-se alguns aspectos como o

    enfrentamento destes em situaes que muitas vezes contradizem os objetivos

    profissionais. Associada aos objetivos buscou-se analisar a percepo dos usurios

    atravs do PBF.

  • 12

    Diante da perspectiva de atuao nas condicionalidades do Programa Bolsa

    Famlia, a pesquisa apresenta a seguinte questo: como acontecem as atuaes

    das assistentes sociais dos CRAS Elba Valetim da Rocha, da cidade de Montanhas

    (RN) no CRAS Centro e o CRAS Frei Damio da cidade de Nova Cruz RN nas

    condicionalidades do PBF?

    A pesquisa foi desenvolvida no CRAS Elba Valentim da Rocha, na cidade de

    Montanhas (RN) no CRAS Centro e o no CRAS Frei Damio da cidade de Nova

    Cruz (RN), tem como metodologia o desenvolvimento de uma pesquisa de carter

    exploratrio, em que foi realizado entrevistas a 3 (trs) assistentes sociais e 4

    (quatro) usurios do PBF que estavam com seus benefcios bloqueados, no intuito

    de compreender, como, tanto os profissionais, quanto os usurios enxergam as

    condicionalidades do programa.

    Assim DENCKER (1998, p.156), enfatiza que os estudos exploratrios

    compreendem, alm do levantamento das fontes secundrias, estudos de casos

    selecionados e a observao informal e que a pesquisa pode se dar atravs de

    uma srie de tcnicas de levantamentos de dados, como questionrio.

    A coleta dos dados foi construda de forma flexvel na tentativa de uma

    compreenso detalhada dos significados e caractersticas situacionais pelos

    entrevistados, assim, oportunizando momentos de dilogos sobre a temtica do

    PBF, pois as realidades dos CRAS assim como do programa so originadas de

    situaes subjetivas que ultrapassam a coleta de dados de forma numrica.

    Segundo Neto, Gomes e Minayo (1994, p.26) esse processo acontece

    atravs de um momento relacional e prtico de fundamental importncia

    exploratrio, de confirmao ou refutao de hipteses e construo de teorias.

    Alm da entrevista foi necessrio realizar um levantamento de dados nos

    Pronturios do Sistema nico da Assistncia Social (SUAS), assim como nos livros

    de anotaes de visitas alm dos planejamentos das profissionais para execuo

    das tarefas dos grupos.

    Nessa perspectiva, abordam-se algumas categorias que aliceram as

    temticas como: pobreza, desigualdade social, programas de transferncias de

    renda, PBF e as condicionalidades do maior programa do pas. Alguns documentos

    do Ministrio Desenvolvimento Social e Combate Fome e do CFESS assim como

    os pesquisadores como Sposati (1992), Iamamoto (2007) e Yazbek (2006), deram

  • 13

    suporte ao trabalho, conduzindo uma discusso muito importante para entender a

    estrutura e a efetivao do PBF.

    A estrutura e a lei que regulamentam o Programa Bolsa Famlia so algumas

    das documentaes necessrias que o profissional que atua no PBF deve conhecer

    para construir estratgia coerente com seus conhecimentos e necessidades dos

    usurios.

    A atuao do assistente social no incio da profisso surge como forma de

    apaziguar as relaes sociais que advinham de conflitos sociais, polticos e,

    principalmente, econmico. Com a Constituio Federal de 1988 e com a

    promulgao da Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS) de 1993, de fato,

    contribuiu-se para diferenciar a profisso de Servio Social, nesse contexto social a

    profisso busca articulao no intuito da efetivao de direitos.

    O assistente social deve estar capacitado teoricamente com aprofundamento

    nas balizas da profisso para assumir atribuies e competncias e, assim, realizar

    funes coerentes com o Cdigo de tica com a Lei de Regulamentao e o Projeto

    tico Poltico, para assim atuar em quaisquer instituio e servio.

    O Centro de Referncia de Assistncia Social (doravante, CRAS) uma

    unidade pblica estatal descentralizada da poltica de assistncia social responsvel

    pela organizao e oferta dos servios socioassistenciais da Proteo Bsica do

    Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) que favorece a oferta de servios e

    programas nas reas de vulnerabilidade e risco social. Na instituio CRAS so

    realizadas diversos atendimentos, nos quais no deve haver violao de direitos. O

    espao trabalha com projetos, e vrios programas. Mas o PBF o programa mais

    solicitado pela populao.

    A Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) atravs do Sistema nico

    de Assistncia Social (SUAS) enfatiza a importncia do papel da Poltica de

    Assistncia Social como caminho e oportunidades para os interesses e direitos dos

    usurios.

    As motivaes para realizao da pesquisa na temtica de Assistncia

    Social, com nfase nas condicionalidades do PBF surgiram em razo das

    indagaes que ocorreram no perodo do estgio obrigatrio, assim como na

    construo no Projeto de Interveno. O qual foi realizado com o Grupo das

    condicionalidades do PBF no CRAS Elba Valentim da Rocha na cidade de

  • 14

    Montanhas (RN) tendo como intuito analisar e intervir na realidade de mulheres que

    no se percebiam como sujeitos de direitos.

    O Projeto de Interveno tinha como objetivo realizar um trabalho com o

    Grupo em Descumprimento das Condicionalidades do Programa Bolsa Famlia do

    CRAS Elba Valentim da Rocha, na cidade de Montanhas, diante dos encontros no

    grupo, percebe-se o descontentamento das mulheres em ser rotuladas como

    pessoas que descumpriram as condicionalidades do programa.

    A pesquisa tem grande importncia acadmica, pois possibilita o

    aprofundamento terico acerca da Poltica de Assistncia Social e uma anlise nas

    condicionalidades do PBF.

    O presente Trabalho de Concluso de Curso (TCC) estruturado em dois

    captulos. No primeiro captulo, apresentada a atuao dos assistentes sociais na

    materializao do Servio Social, realizando uma anlise sobre a importncia PBF

    na instituio do CRAS.

    No ltimo captulo, aponta-se a caracterizao de cada CRAS, uma anlise

    das questes acerca da atuao dos profissionais assistentes sociais nas

    condicionalidades do Programa Bolsa Famlia, e aspectos tericos realizados neste

    estudo, expressando as indagaes e os resultados alcanados referentes

    atuao das assistentes sociais no acompanhamento das condicionalidades do PBF.

    Foram realizados encontros quinzenalmente. O primeiro encontro foi

    realizado na cidade de Nova Cruz (RN) com as assistentes sociais, em que foi

    enfatizada a importncia da pesquisa, aplicando-se a primeira entrevista.

    Nesse primeiro momento, abordou-se o histrico das instituies; as

    principais demandas que chegam aos CRAS; os perfis dos usurios do PBF; o

    atendimento dos assistentes sociais atravs do acolhimento, do atendimento

    individual em grupo; como constri os planejamentos e estratgias na assistncia

    social do municpio; qual a percepo dos profissionais e como acontece as Buscas

    Ativas.1

    1A busca ativa uma estratgia do Plano Brasil Sem Misria e significa levar o Estado ao cidado, sem esperar

    que as pessoas mais pobres cheguem at o poder pblico. A Busca Ativa se desdobra em trs estratgias: 1)Busca Ativa para incluso no Cadastro nico: trata-se de localizar as famlias extremamente pobres, inclu-las no cadastro e manter suas informaes sempre atualizadas; 2) Busca Ativa para Acessar Benefcio: incluir no Bolsa Famlia, no Bolsa Verde, no fomento a atividades produtivas, no Programa de Erradicao do Trabalho Infantil e no Beneficio de Prestao Continuada todas as famlias que atendem os critrios de elegibilidade; 3)Busca Ativa para Acessar Servios: nesse caso, o Estado assegura que as famlias extremamente pobres tenham acesso aos servios sociais bsicos de sade, saneamento, educao, assistncia social, trabalho e segurana alimentar e nutricional, entre outros. (mds.gov.br/assuntos/busca-ativa).

  • 15

    No segundo momento da pesquisa, realizou-se na cidade de Montanhas

    (RN), de incio, com a assistente social e, posteriormente, com o dialogo com alguns

    profissionais do PBF, em que os respectivos entrevistados sero nomeados por

    nmeros, por exemplo, a assistente social da cidade mencionada ser classificada

    por Assistente Social I, a profissional do CRAS Centro, ser Assistente Social II e a

    do CRAS Frei Damio nomeada por Assistente Social III.

    Como j havia operacionalizado o Projeto de Interveno no grupo, houve

    uma abertura maior dos participantes em dialogar sobre o tema da pesquisa. Foram

    coletados os dados tanto dos usurios quanto da assistente social - sobre o que

    acham do servio do PBF; o que mudaria no atendimento da instituio; se os

    usurios gostam do grupo que participam e se gostariam de permanecerem no

    grupo por mais tempo.

    O terceiro encontro efetivou-se no Cadastro do Programa Bolsa Famlia2

    (CADNICO). Nesse momento, realizou-se uma conversa individual com dois

    usurios que estavam com os benefcios bloqueados, sendo questionado o motivo

    que os levou a procurarem a gesto do PBF; o que achava do PBF; se conheciam

    as condicionalidades do programa; se j participaram de algum grupo por

    descumprimento das condicionalidades do PBF. O quarto encontro utilizou-se o

    questionrio realizado anteriormente no CRAS de Montanhas (RN), aplicando-se s

    assistentes sociais no municpio de Nova Cruz (RN).

    No quinto e sexto momento realizou-se uma observao e tambm

    participao no grupo Descumprimento das Condicionalidades do Programa Bolsa

    Famlias em ambos os CRAS, no sentido de construir momentos de aproximao

    com os usurios.

    No stimo e oitavo momento realizou-se questionrios com as assistentes

    sociais de Nova Cruz (RN) e Montanhas (RN) buscando coletar informaes acerca

    da atuao profissional e dos servios das instituies.

    O dcimo momento, efetuou-se a coleta de dados dos documentos3 da

    instituio como: Pronturios do SUAS, Livro de Acompanhamento, Livro de Vistas e

    2 O Responsvel Familiar RF deve procurar o setor responsvel pelo Cadastro nico ou pelo

    Programa Bolsa Famlia na cidade em que mora. Se no souber onde fica o local de cadastramento, pode buscar essa orientao no Centro de Referncia no Centro de Assistncia Social (CRAS) mais prximo de sua casa. Em muitas localidades, o prprio CRAS realiza o cadastramento das famlias. (mds.gov.br; assuntos/cadasro-nico) 3Para executar um bom servio na instituio CRAS, necessrio conhecer os documentos o MDS

    utilizados como referencias para construir o GESUAS Formulrio Pronturio SUAS; Tipificao

  • 16

    Sistema do Programa Bolsa Famlia. A coleta desses dados fundamental para

    entender quais demandas e a forma de atuao dos profissionais dos CRAS.

    Espera-se, ento, que o presente estudo possa contribuir para a

    compreenso e anlise das condicionalidades do maior programa de transferncia

    de renda que o Programa Bolsa Famlia.

    Nacional dos Servios Socioassistenciais; NOB/SUAS 2012 Norma Operacional do Sistema nico da Assistncia Social; SUAS e Populao em Situao de Rua; Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS) Orientao Tcnicas; Orientao Tcnicas para operacionalizao dos Servios de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos; Orientao Tcnicas para os Centros de Referncias Especializados de Assistncia Social CREAS; Manual censo CRAS; LOAS Lei Orgnica de Assistncia Social; Poltica Nacional da Assistncia Social e entre outros documentos. (www.gesuas.com.br)

  • 17

    2 ATUAO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ENFRENTAMENTO DAS

    DESIGUALDADES SOCIAIS

    Este captulo objetiva realizar uma discusso sobre os programas de

    transferncia de renda e tambm sobre as condicionalidades do Programa Bolsa

    Famlia (PBF) que se tornou um grande mediador no enfrentamento das

    desigualdades sociais atravs das polticas sociais no Brasil.

    O capitulo visa compreender como acontece a participao dos usurios na

    Poltica de Assistncia Social; como se estrutura o Centro de Referncia de

    Assistncia Social (CRAS) e como se sucede a atuao dos profissionais

    assistentes sociais nesses espaos.

    Recorrer a documentos como a Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS),

    a Constituio Federal e outros, assim como a reflexo terica a partir de autores

    que abordam a temtica como Martins (2009), Yazbek (2006), Iamamoto (2009),

    dentre outros.

    Entende-se que a contribuio e implementao das Polticas Sociais so

    muito importantes na participao dos usurios como sujeitos de direitos que tm a

    liberdade e autonomia de opinar e refletir sobre a sua realidade para, assim,

    acontecer um trabalho participativo e democrtico. Um profissional consciente de

    suas competncias, que, reconhece o usurio como um sujeito que tem seu espao

    na poltica, compreende que seu trabalho se efetiva quando existe dialogo nas

    atividades, atravs da comunicao entre profissionais, usurios e servios.

    A instituio CRAS um local que deve oferecer abertura para a

    participao dos usurios, por ser espao que enfatiza a conquista de direitos.

    Atravs do CRAS existem muitos programas que constroem junto com as famlias

    momentos de reflexes sobre diversas temticas. Nessa direo, ser abordado de

    forma especial o PBF, dando nfase em sua estrutura e como as famlias

    beneficirias participam da execuo desse programa que desenvolvido na

    instituio do CRAS.

    Em seguida ser relatada a importncia do Programa Bolsa Famlia para as

    famlias beneficirias, configurando a questo econmica do pas e as construes

    dos programas de transferncias de rendas, com nfase no PBF. Em seguida ser

    abordado a consolidao da pesquisa, de forma inicial, atravs da caracterizao

  • 18

    dos municpios de Montanas (RN) e Nova Cruz (RN) e seus respectivos CRAS

    Elba Valentin da Rocha e os CRAS Centro e Frei Damio.

    2.1 O CENTRO DE REFERNCIA DE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS: ESPAO

    DE SOCIALIZAO DE DIREITOS

    O Brasil um pas que ainda vivencia uma profunda desigualdade social,

    poltica e econmica. Enquanto muitas pessoas desfrutam de um montante de

    riqueza, de oportunidades, ainda existem muitas pessoas que sobrevivem com to

    pouco. Que so submetidas a vrias situaes de humilhao, descaso e

    desrespeito que se expressam em uma profunda pobreza.

    A pobreza uma das expresses da questo social que destri nas pessoas

    seus direitos liberdade, informao, educao, sade, assistncia entre

    tantos outros direitos que lhes so negados.

    As consequncias dessas expresses so visualizadas por muitas pessoas

    usurias do PBF como infindveis e naturais. Em que sempre existir uma classe

    dominante e uma subordinada, que por diversas necessidades precisar ser

    submetida e, possivelmente, a comprovaes vexatrias de suas condies para

    conquistar o mnimo para sua vida. As expresses da pobreza s iro retrair e

    inexistir quando os direitos dos indivduos forem assegurados.

    Durante os momentos com os usurios e os profissionais surgiram algumas

    inquietaes e questionamentos o que fazem as pessoas se perceberem em

    situao de pobreza e desigualdade social e como lidam com essas situaes.

    Diante das conversas percebe-se que muitas pessoas constroem conceitos

    expressos em uma situao naturalizada, atravs de vivencias de sua cultura,

    acredita-se que porque seus pais passam (ou passaram) por essa realidade

    normal vivenciarem essas etapas da vida.

    A pobreza no um destino, no falta de competncias dos pobres nem

    to pouco, preguia de lutar por condies melhores como ressaltam Jovchelovitch e

    Werthein (2003, p.29) a pobreza no pode ser defendida como um padro de vida:

    ela , simultaneamente, a causa e o efeito da sonegao, total ou parcial, dos

    direitos humanos.

  • 19

    Da mesma forma, Martins (2009, p.14) contribui com sua afirmao: A

    pobreza constitui-se em um dos maiores problemas a ser enfrentado em nossa

    sociedade. o resultado de uma combinao de fatores socioeconmicos e polticos

    diversos, sendo, portanto a caracterstica mais marcante de nossa civilizao.

    Os beneficirios do PBF que se colocam nesses locais de excluso, no

    por gostarem de se sentir inferiores ou pobres, mas a prpria sociedade constri e

    reproduz um conceito de habitat para cada classe social. Que a pobreza

    expresso e uma consolidao socialmente construda atravs das relaes sociais,

    assim Yazbek (2006, p. 22 - 23) afirma que: produto dessas relaes que, na

    sociedade brasileira, produzem a pobreza enquanto tal quer no plano socioeconmico, quer

    no plano poltico, constitudo mltiplos mecanismos que fixam os pobres em seu lugar na

    sociedade.

    Diante dos entraves sociais, polticos e econmicos que se expressam

    atravs da desigualdade social e da negao de direito que constrangem muitas

    pessoas, mas, e, ao mesmo tempo despertam seres humanos que se questionam e

    indagam a sua prpria realidade. No aceitam as condies impostas por um

    sistema que objetiva ditar e delimita as regras da sociedade.

    Nesse cenrio, surgem os interesses da classe dominante, que detm o

    poder de persuadir, principalmente, sobre a vida das pessoas menos abastadas

    social e economicamente.

    A efetivao das aes do assistente social surgem com inteno de intervir

    e realizar as mediaes de conflitos, como preparar a grande massa operria para

    os interesses do capitalismo industrial e conduzir essa populao para o sistema

    scio econmico poltico da poca.

    Em contrapartida, o trabalhador que no aceitava continuar vivendo em

    condies de explorao, comea a incomodar o sossego da classe capitalista

    atravs das reivindicaes em busca dos seus direitos, como por exemplo, melhores

    condies de vida.

    Atravs do contexto de fracasso econmico e crescimento no nvel de

    pauperizao da populao surge o interesse do governo em construir estratgias

    como diversos programas, que buscam atender o mnimo das necessidades das

    pessoas que sempre foram enxergadas como seres inferiores.

    Assim, diante de muitas reivindicaes dos diversos segmentos sociais

    organizados e representados, o poder pblico reconhece a Assistncia Social,

  • 20

    dentro da Seguridade Social, como um direito do cidado e no mais um favor do

    Estado ou das entidades filantrpicas.

    A Constituio Federal de 1988 se consolidou como pea fundamental para

    a organizao e implementao dos direitos e garantias dos cidados. Assim os

    assistentes sociais utilizam o documento como instrumento para identificar a

    dinmica do cotidiano social e contribuir para a transformao das condies de vida

    e de trabalho da populao.

    Afirmando a Constituio Federal de 1988 como um documento muito

    importante para direcionar a temtica dos direitos, Couto (2004, p.16) expressa: A

    Poltica de Assistncia Social concebida como Poltica Pblica no Brasil a partir da

    Constituio Federal de 1988, compondo, com a Poltica de Sade e Previdncia

    Social Brasileira.

    , atravs da Constituio Federal que os cidados se apegam para verem

    seus direitos assegurados, reivindicados o direito igualdade. Como cita o artigo 5

    Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se

    aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pas, liberdade, igualdade,

    segurana e a propriedade (BRASIL, 1988, p. 5), e, no artigo 6, que descreve

    sobre os direitos as diversas reas que as pessoas necessitam usufruir, como:

    educao, a sade, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo,

    maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma da

    constituio.

    Neste sentido Mestrine (2005, p. 44) apresenta a profisso de servio social4

    como possibilidade de efetivao dos direitos sociais. Enfatiza tambm o papel da

    sociedade na construo e efetivao de seus direitos. Ampliar a participao da

    sociedade civil no significa descobrir o Estado e esvazi-lo das suas competncias,

    mas antes permitir-lhe maior alcance, maior diversidade de ateno.

    4O Servio Social como profisso, em sete dcadas de existncia no Brasil e no mundo, ampliou e

    vem ampliando o seu raio ocupacional para todos os espaos e recantos onde a questo social explode com repercusses no campo dos direitos, no universo da famlia, do trabalho e do no trabalho, da sade, a educao, dos/as idosos/as, da criana e dos/as, da criana e dos/as adolescentes, de grupos tnicos que enfrentam a investida avassaladora do preconceito, da expropriao da terra, das questes ambientais resultantes da socializao do nus do setor produtivo, da discriminao de gnero, raa, etnia, entre outras formas de violao dos direitos (PARMETROS PARA ATUAO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL, 2011, P.11)

  • 21

    A partir desse marco conjuntural a populao passou a ser assegurada por

    leis que concretizam os direitos que antes no existiam, mesmo diante de muitas

    conquistas, o dia a dia demonstra que a luta ainda continua.

    Art. 203. A Assistncia Social ser prestada a quem dela necessitar, independente de contribuies seguridade social, e tem por objetivo. I A proteo famlia, a maternidade, infncia, a adolescncia e velhice; II O amparo a criana e adolescente carente; III A promoo de sua integrao vida comunitria; V Garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia; conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988, p. 34).

    Mesmo sabendo que o Brasil ainda um pas de muitas desigualdades

    sociais e elevados ndices de pobreza, a poltica de assistncia foi construda para

    apenas uma parcela de pessoas que so submetidas a um filtro social, chamada

    tambm de entrevista social, que delimitam suas condies sociais e polticas,

    tornando assim, parte de um perfil de populao que sero beneficiadas pela

    Poltica de Assistncia Social.

    Nesse sentido, Yazbek (2006 p. 54-55) assegura:

    Historicamente, a assistncia social pblica o mais importante mecanismo pelo qual so estendidos aos segmentos mais pauperizados de uma classe servios e recursos como creches, programas de profissionalizao, programa de gerao de renda, de moradia, de atendimento os direitos da criana, do adolescente, da maternidade, do idoso, do portador de deficincia, do homem de rua e de muitos outros.

    A Poltica de Assistncia abarca muitas pessoas para serem inseridas no

    Cadastro nico (CADNICO) e assim avaliadas pelo Ministrio Social de

    Desenvolvimento e Combate Fome (MDS). Mas, com tantos momentos de

    constrangimentos que as famlias so submetidas a passar, necessrio que no

    mnimo existam profissionais comprometidos com a efetivao de direitos.

    A expanso da poltica de assistncia social vem demandando cada vez mais a insero de assistentes sociais comprometidos/as com a consolidao do Estado democrtico dos direitos, a universalizao da seguridade social e das polticas pblicas e o fortalecimento de uma interveno profissional crtica, autnoma, tica e politicamente comprometida com a classe trabalhadora e com as organizaes populares de defesa de direitos. (PARMETROS PARA ATUAO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLTICA DE ASSISTNCIA SOCIAL, 2011, p.3).

  • 22

    A poltica de Assistncia Social, assim como as demais polticas

    consequncia de muitas conquistas e lutas sociais, h necessidade de se integrar

    com as demais polticas sociais para assim articularem seus servios e benefcios

    aos direitos assegurados pelas demais polticas sociais5. A Poltica de Assistncia

    Social tem um papel fundamental em um pas com enormes desigualdades e

    concentrao de riquezas. O Conselho Federal de Servio Social (CFESS) vem

    reiterar que no se pode permitir o retrocesso, ou seja, que os direitos conquistados

    e reafirmados na Poltica de Assistncia sejam visualizados como uma afirmao de

    assistencialismo.

    No podemos permitir a consolidao do que vem sendo denominado por alguns autores como assistencializao das polticas sociais, sob o risco de termos um retorno das perspectivas profissionais que foram superadas pela histria, pela conjuntura e pela organizao poltica dos/as assistentes sociais. (CFESS, 2011, p. 18).

    Outro documento, tambm, que realizou grandes inovaes, ao propor o

    controle da sociedade na formulao, gesto e execuo das polticas assistncias

    foi a Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS), indicando caminhos e

    oportunidades para os interesses e direitos dos usurios. Mas, esse acesso ao

    usurio em intervir em sua prpria realidade se concretiza, quando se viabiliza o

    acesso ao direito informao. Muitas pessoas ainda no so conhecedoras de

    seus direitos e, principalmente, desse poder de penetrar na prpria poltica e

    construir com os profissionais e outras pessoas a sua realidade atravs da Poltica

    de Assistncia6.

    5 Isso significa que a complexificao e diferenciao das necessidades sociais, conforme apontado

    no SUAS e na PNAS, e que atribui Assistncia Social as funes de proteo bsica e especial, com foco de atuao na matricialidade sciofamiliar, no deve restringir a interveno profissional, sobretudo a do/a assistente social, s abordagens que tratam as necessidades sociais como problemas e responsabilidades individuais e grupais. Isso porque todas as situaes sociais vividas pelos sujeitos que demandam a poltica de Assistncia Social tm a mesma estrutura e histrica na desigualdade de classe e suas determinaes, que se expressam pela ausncia e precariedade de um conjunto de direitos como emprego, sade, educao, moradias, transporte, distribuio de renda, entre outras formas de expresso da questo social (Parmetros para atuao de Assistentes Sociais na Poltica de Assistncia Social, 2011, p.7). 6O Conselho Municipal de Assistncia Social (CMAS) o espao perfeito para dialogar sobre as

    realidades do municpio atravs dos interesses do coletivo - dos usurios, profissionais e representantes do governo.

  • 23

    Yazbek (2006, p.40) argumenta que de suma importncia participao

    do usurio7 nas Polticas Sociais, porm, torna-se uma luta e exerccios

    contraditrios, pois so reivindicaes que permeiam tanto os interesses da

    acumulao quanto a busca de legitimidade. Assim argumenta, nesse sentido que

    se afirma que as polticas sociais reproduzem a luta poltica mais geral da sociedade

    e as contradies e ambiguidades que permeiam os diversos interesses em

    contraposio.

    Diante desse contexto, a autora defende a necessidade da ampliao da

    fatia dos investimentos na reduo dos efeitos perversos da explorao do capital

    sobre o trabalho. Todo espao em que o capitalismo8 atua transforma-se em locais

    de poder e contradies, e a arrecadao de impostos para a efetivao das

    polticas sociais, tambm no so executadas de forma diferenciada.

    de crucial importncia a interveno do Assistente Social na execuo das

    polticas. Nessa direo, Sposati (1992, p.39) vem reafirmar que a atuao do

    Assistente Social: uma expresso especializada da prtica social e se insere da

    dinmica contraditria das relaes sociais. O profissional Assistente Social atua,

    nessa perspectiva, ao mesmo tempo em que em sua formao busca compreender

    e mediar direitos para os sujeitos sociais.

    Percebe-se a materializao desse confronto interno e externo do

    profissional, quando o Assistente Social executa seu trabalho9 em instituio que

    tem normas em sua poltica, por exemplo, o Centro de Referncia de Assistncia

    Social mencionado anteriormente um dos espaos de atuao do assistente social

    que o objetivo assegurar direitos, mas ao mesmo tempo, o profissional segue

    regras do espao, como realizar bloqueios e cancelamentos de benefcios de

    pessoas que necessitam muito dos programas de transferncia de renda.

    7 Bravo (s/a, p.3)o controle social enquanto direito conquistado pela Constituio Federal de 1988,

    mais precisamente do principio participao popular, pretende ampliar a democracia representativa para a democracia participativa, de base. Esto previstas duas instancias de participao nas polticas sociais: os conselhos e as conferencias. 8Iamamoto (2010, p.53) O capital, em seu movimento de valorizao, produz a sua invisibilidade do

    trabalho e a banalizao do humano, condizente com a indiferena ante a esfera das necessidades dos valores de uso. 9O assistente social tem como atribuies e competncias para realizar um atendimento coerente

    com as balizas de sua profisso exposto em seu Cdigo de tica de Lei Federal 8.662/93, a Lei de Regulamentao e entre outros documentos que norteiam a profisso.

  • 24

    Conforme suas funes o CRAS10 se organiza atravs dos Servios de

    Proteo e Atendimento Integral Famlia (PAIF) com objetivo de trabalhar com as

    famlias e seus membros a garantia de direitos. Juntamente ao PAIF o CRAS

    executa suas aes atravs dos diversos servios, programas, projetos, reunies e

    atendimentos.

    O CRAS tem o dever de funcionar, no mnimo, de 40 (quarenta) horas

    semanais, durante 8 (oito) horas por dia, o horrio pode ser flexvel, podendo ser

    alterado dependendo da necessidade e realidade das famlias referenciadas,

    necessrio o funcionamento nos horrios que a prpria populao j conhea.

    A instituio um dos instrumentos da Poltica de Assistncia Social, que

    tem como necessidade ser instalado em locais de maior concentrao de famlias

    em situao de vulnerabilidade, aproximando os servios aos usurios. Em

    municpios de pequeno porte I e II, a instituio poder ser instalada em reas

    centrais, de maior convergncia da populao, sendo um fator positivo para

    favorecer a populao uma comodidade. Segundo o mdulo I, Orientaes Tcnicas

    de Desenvolvimento dos CRAS (2011, p. 26) no perodo de 2010/2011, o servio

    deve favorecer reflexo sobre temas de interesses e necessidades das famlias.

    Processo de problematizao e reflexo crtica de questes muitas vezes cristalizadas, naturalizadas e individualizadas, possibilitando o atendimento de que os problemas vivenciados particularmente ou por uma famlia so problemas que atingem outros indivduos e outras famlias; e assegura a reflexo sobre direitos sociais, possibilitando uma nova compreenso e interao com a realidade vivida, negando-se a condio de passividade, favorecendo processos de mudanas e de desenvolvimento do protagonismo e da autonomia e preveno ocorrncia de situao de risco social [...] constituem, assim, uma ao socioeducativa, na medida em que contribuem para a construo de novos conhecimentos; favorecem o dilogo e o convvio com as diferenas de risco e vulnerabilidade no territrio, estimula capacidade de participao, comunicao, negociao, tomada de decises, estabelecem espaos de difuso de informao e reconhecem o papel de transformao social dos sujeitos.

    10

    Por meio do CRAS, as famlias em situao de extrema pobreza passam a ter acesso a servio como cadastramento e acompanhamento em programas de transferncia de renda. O Pas conta, atualmente, 7.669 unidades distribudas pelo territrio nacional. O principal servio do CRAS o Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia. Dentre os objetivos desses servios esto a preveno da ruptura dos vnculos familiares e comunitrios, a promoo de ganhos sociais e materiais das famlias e o acesso a benefcios, programas de referncia de renda e servios socioassistenciais. As aes so todas implementadas por meio de trabalho de assistncias social. (www.brasil.gov.br)

  • 25

    O atendimento de forma individual ou coletivo deve proporcionar reflexes

    s famlias acerca de temas que muitas vezes so naturalizadas, vistas por muitos

    profissionais como normais e consequentemente proibidos de trabalhar com as

    famlias para no serem conhecedoras de seus direitos.

    Para acontecer a implantao do CRAS preciso que o gestor municipal

    realize uma anlise das condies sociais do municpio proporcionando a instalao

    em local de maior vulnerabilidade e risco social. Segundo a Norma Operacional

    Bsica de Recursos Humanos do Sistema nico da Assistncia da Sade NOB

    RH/SUAS, at 2.500 famlias referenciadas fazem parte do porte I sendo preciso 2

    (dois) tcnicos de nvel superior Assistente Social, um Psiclogo, e 2 (dois) de

    nvel mdio. J O CRAS de porte II atende at 3.500 famlias, sendo trs tcnicos

    superiores, dois Assistentes Sociais e um Psiclogo e trs profissionais de nvel

    mdio. O porte mdio, grande metropolitano, abarca a cada 5.000 famlias, com uma

    quantificao de quatro tcnicos de nvel superior, dois Assistente Social, um

    Psiclogo, um profissional do Sistema nico da Assistncia Social (SUAS) e quatro

    tcnicos de nvel mdio.

    necessrio que a equipe esteja completa para atender as demandas.

    Sendo assim, o Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome (2005)

    relatam sobre a importncia das atribuies e instrumentalidades dos profissionais

    de nvel superior dentro do CRAS.

  • 26

    Acolhida, oferta de informaes e realizao de encaminhamentos s famlias usurias do CRAS; Planejamento e implementao do PAIF, de acordo com as caractersticas do territrio de abrangncia do CRAS; Mediao de grupos de famlias dos PAIF; Realizao de atendimento particularizado e visitas domiciliares s famlias referenciadas ao CRAS; Desenvolvimento de atividades coletivas e comunitrias no territrio; Apoio tcnico continuado aos profissionais responsveis pelo(s) servio(s) de convivncia e fortalecimento de vnculos desenvolvidos no territrio ou no CRAS; Acompanhamento de famlias encaminhadas pelos servios de convivncia e fortalecimento de vnculos ofertados no territrio ou no CRAS; Realizao da busca ativa no territrio de abrangncia do CRAS e desenvolvimento de projetos que visam prevenir aumento de incidncia de situaes de risco; Acompanhamento das famlias em descumprimento de condicionalidades; Alimentao de sistema de informao, registro das aes desenvolvidas e planejamento do trabalho de forma coletiva; Articulao de aes que potencializem as boas experincias no territrio de abrangncia; Realizao de encaminhamento, com acompanhamento, para a rede socioassistencial; Realizao de encaminhamentos para servios setoriais; Participao das reunies preparatrias ao planejamento municipal ou do DF; Participao de reunies sistemticas no CRAS, para planejamento das aes semanais a serem desenvolvidas, definio de fluxos, instituio de rotina de atendimento e acolhimento dos usurios; organizao dos encaminhamentos, fluxos de informaes com outros setores, procedimentos, estratgias de resposta s demandas e de fortalecimento das potencialidades do territrio.

    A primeira atribuio do assistente social o acolhimento, pois o incio de

    qualquer atendimento. O usurio ao chegar instituio de crucial importncia ser

    bem acolhido com respostas para as suas indagaes. Some-se a essa

    competncia do profissional o dever de construir estratgias planejadas, para assim

    garantir um atendimento de qualidade nos programas, projetos e grupos do CRAS.

    Outro aspecto, que, afeta muito a relao dos profissionais com os usurios

    e a prpria a instituio, a burocratizao das execues dos servios, muitas

    pessoas ao se depararem com tantos empecilhos, desacreditam da credibilidade do

    atendimento, receando voltar instituio.

    Para realizar estratgias que no distanciem das balizas11 da profisso, o

    assistente social necessita obter conhecimentos tericos, e tambm a sua insero

    com a prtica, como o contato com a poltica da instituio, com os usurios e com

    os demais funcionrios. esse cotidiano que o profissional deve atuar e refletir

    11

    O profissional deve estar capacitado teoricamente, com aprofundamento nas balizas da profisso

    para assumir suas atribuies e competncias, assim como a profisso exige.

  • 27

    sobre as suas aes, para no se tornar pessoas que executem aes de forma

    mecnica e que terminam por naturalizar as situaes vivenciadas.

    atravs da conjuntura nos espaos de atuao, que o profissional constri

    estratgias para contribuir com as diversas demandas com as quais trabalha.

    Yazbek (2006, p. 10) afirma que o real, o cotidiano do assistente social no mera

    derivao da teoria. muito mais complexo e surpreendente.

    Iamamoto (2007, p. 64), tambm, enfatiza a importncia do atendimento do

    profissional do Assistente Social:

    um sujeito profissional que tem competncias para propor, para negociar com a instituio dos seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificaes e funes profissionais. Requer, pois, ir alm das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendncias e possibilidades nela presentes possveis de serem impulsionadas pelo profissional.

    O trabalho do Assistente Social se concretiza com eficincia quando existe

    uma parceria com outros profissionais e com a rede de apoio nas execues das

    atividades.

    O exerccio da profisso acontece de forma coletiva, ou seja, atravs de um

    trabalho em redes. Em um CRAS, por exemplo, quando a equipe estar desfalcada,

    faltando profissionais, a instituio consequentemente no realiza suas funes de

    forma eficaz. O profissional fica sobrecarregado em funes que, na maioria das

    vezes, no so de sua competncia. Porm, o mais penalizado na inexistncia de

    algum profissional o prprio usurio.

    Muitas famlias deixam de usufruir alguns de seus direitos, porque na

    instituio no consegue resolver, pela falta de profissionais. A comunicao entre

    redes muito significativa, pois quando as profissionais entre os servios no

    dialogam, logo acontece um bloqueio e at inexistncias das informaes. Nesse

    sentido, recorrendo a Iamamoto (2007, p.64), refora que o Assistente social no

    realiza seu trabalho isoladamente, mas como parte de um trabalho combinado ou de

    um trabalho coletivo que forma uma grande equipe de trabalho.

    Os Parmetros para a Atuao de Servio Social (2011, p.14) relatam a

    importncia da atuao profissional do Assistente Social atravs dos compromissos:

  • 28

    tico, poltico e profissional dos/as [...], reconhecimento da liberdade, autonomia, emancipao e plena expanso dos indivduos sociais; defesa intransigente dos direitos humanos e na recusa do arbtrio e do autoritarismo; na ampliao e consolidao da cidadania, com vistas garantia dos direitos das classes trabalhadora; na defesa da radicalizao da democracia, enquanto socializao da participao poltica e da riqueza socialmente produzida; no posicionamento em favor da equidade e justia social, que assegurem universalidade de acesso os bens e servios, bem como sua gesto democrtica e no empenho para a eliminao de todas as formas de preconceitos.

    Conforme mencionam Barroco e Terra (2012, p. 121) os Princpios

    Fundamentais do Cdigo de tica, tem como objetivo representar o alicerce do

    conjunto do regramento estabelecido, que o fundamento da concepo do projeto

    tico-poltico adotado pelo Cdigo.

    I Reconhecimento da liberdade como valor tico e das demandas polticas a ela inerentes autonomia, emancipao e plena expanso dos indivduos sociais.

    O assistente social deve obter conhecimento e apropriao dos documentos

    que permeiam sua profisso, para assim conseguir realizar suas atribuies e

    competncias, sempre aliceradas nas reflexes crticas12. Exemplo dessa atuao

    quando o profissional consegue perceber o usurio como sujeito de direitos que

    merece respeito a sua cultura, liberdade e escolhas e assim seja assegurada a

    universalizao de acesso aos bens e servios. Nessa liberdade de escolha Barroco

    e Terra (2012, p. 121) relata:

    O assistente social na sua prtica profissional, na relao que estabelece com os usurios do Servio Social, com outros profissionais e com qualquer pessoa, deve pautar sua conduta no reconhecimento da liberdade e de suas possibilidades, eis que esse valor tico central. Qualquer conduta que viole esse princpio estar sujeita ao enquadramento no Cdigo de tica e sua apurao.

    Esse atendimento norteado pelos princpios da profisso deve ser realizado

    em qualquer espao de atuao do assistente social, seja em uma grande empresa

    ou em um CRAS no interior de uma cidade. O atendimento deve obter a mesma

    qualidade e o objetivo de mediar e efetivar direitos

    12

    Katlysis (2006, p.145) A reflexo crtica do Servio Social (ou a busca de um Servio Social crtico)

    sustenha-se nas teorias crticas (aquelas que buscam a verdade a partir do reflexo terico apropriado da realidade sobre a estrutura e as dinmicas sociais. contra esta reflexo (crtica) que se desenvolve uma crtica, com sentido de rechao, censura, juzo de valor. nesse ltimo sentido que textos/autores contestadores sero referidos, no como crticos, mas como crticas

  • 29

    necessrio que a atuao profissional seja no cenrio de lutas a favor do

    direito para a classe que sofre o descaso e abandono social. Sendo assim, sua

    atuao deve assegurar e efetivar direitos atravs de mediaes de diferentes

    interesses, em contrapartida, o Estado tem o dever de desenvolver aes que

    viabilizem esses direitos.

    2.2 A IMPORTNCIA DO PROGRAMA BOLSA FAMLIA PARA AS FAMLIAS

    BENEFICIADAS

    No Brasil, as questes econmicas e seus efeitos sociais tm sido muito

    marcantes no campo das polticas pblicas com o objetivo de propiciar s famlias

    que so privadas do direito ao trabalho e renda, uma alternativa de sobrevivncia.

    Este tpico objetiva analisar a estrutura do Programa Bolsa Famlia e suas

    consequncias para a vida das famlias beneficiadas.

    O pas vivencia um cenrio de discusses acerca das transformaes

    econmicas, sociais, polticas e a restrio dos trabalhos impostos pelo sistema

    capitalista. Com base nessa realidade, o Estado constri estratgias de

    implementaes dos programas de transferncia de renda para a soluo dos

    problemas de desemprego.

    Como estratgia foi instituda a primeira forma de transferncia de renda

    direta do pas de abrangncia nacional; com o Benefcio de Prestao Continuada

    (BPC) foi regulamentada com a Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS), em

    1993. O benefcio destinado a pessoas com deficincia severa, de qualquer idade,

    e idosos maiores de 65 anos.

    Com a Constituio Federal de 1988, os Programas de Transferncia de

    Renda continuam fazendo parte do cenrio social e da agenda pblica. O senador

    Eduardo Matarazzo Suplicy, em 1991, constri o Projeto de Lei de n 80/1991 que

    tem como objetivo propor o Programa de Garantia de Renda Mnima (PGRM) que

    beneficia a pessoa adulta com idade superior a 25 anos, beneficiada com

    rendimentos brutos inferiores a R$ 45,00.

    Em 1996, com a Portaria do Ministrio de Desenvolvimento Social e

    Combate Fome GM/MDS n 458, de outubro de 2001 criado o Programa de

  • 30

    Erradicao do Trabalho Infantil (PETI) iniciado travs das primeiras experincias do

    Governo Federal. Construdo para famlias de crianas e adolescentes que

    trabalham de forma irregular com objetivo de erradicar todas as formas de trabalho

    infantil 13do Pas.

    Em 24 de julho de 2001, foi assinado o Decreto n 3.877, atravs do qual

    criou-se pelo Governo Federal o Cadastro nico para Programas Sociais do

    Governo (CADNICO), com nfase em cadastrar as famlias extremamente pobres

    e possibilitar o acesso s polticas de transferncia de renda, o governo unificou os

    cartes magnticos criando o carto cidado.

    Em 2001, criado o Programa Bolsa Alimentao14 atravs do Decreto n

    3.934/2001 para melhoria da alimentao e das condies de sade e nutrio das

    famlias. Mesmo diante dos avanos atravs dos Programas de Transferncia, no

    foram suficientes como estratgias de combate fome e pobreza, devido s aes

    pontuais e seletivas em que alguns grupos recebem vrios benefcios.

    Unificaram-se os programas de transferncia de renda, instituindo-se o

    Programa Bolsa Famlia (PBF)15 durante o governo do presidente Luiz Incio Lula da

    Silva. A unificao dos Programas Nacionais de Transferncia de Renda se deu

    atravs do (Bolsa Escola, Carto Alimentao, Auxlio-Gs e Bolsa Alimentao),

    destinado s famlias pobres (com renda mensal de R$70,00 a R$140,00) e

    extremamente pobres (com renda mensal por pessoa de at R$70).

    Nascimento (2012, p. 51) discorre sobre os objetivos do PBF: Combater a

    fome, a pobreza e as desigualdades socais por meio da transferncia de um

    13

    O trabalho infantil toda forma de trabalho exercido por crianas e adolescentes, abaixo da idade mnima legal permitida para o trabalho, conforme a legislao de cada pas. O trabalho infantil no Brasil um grande problema social. Milhares de crianas ainda deixam de ir escola e ter seus direitos preservados. Em torno de 4,8 de crianas e de adolescentes entre 5 e 17 anos esto trabalhando no Brasil, segundo PNAD 2007. (br.guiainfantil.com/direitos). O trabalho infantil diminuiu 13,44% no pas entre 200 e 2010, segundo dados do censo divulgados nesta tera-feira (12), Dia contra o Trabalho Infantil. mas, ao analisar as distintas faixas etrias, observa-se um aumento no grupo mais frgil: o trabalho infantil na faixa entre 10 e 13 anos voltou a subir em 1,56%, diz o estudo pelo frum. Em 2010, foram registrados 10.946 casos de trabalho infantil a mais do que em 2000. (g1.globo.com/brasil) 14

    O Programa Nacional de Renda Mnima vinculada Sade: Bolsa-Alimentao institudo pela Medida Provisria n. 2.206-1 de 6 de setembro de 2001, um instrumento de participao financeira da Unio na complementao da renda familiar para a melhoria da alimentao e destina-se promoo da melhoria das condies de sade e nutrio.(Brasil, 2002, p.1) 15

    O Programa Bolsa Famlia estar previsto em lei Lei Federal n 10.836, de 9 de janeiro de 2004 e

    regulamentado pelo Decreto n 5.209, de 17 de setembro de 2004. A gesto descentralizada, ou seja, tano a Unio, quanto os estados, o Distrito Federal e os municpios tm atribuies em sua execuo. (mds.gov.br/assuntos/bolsa-famlia).

  • 31

    benefcio financeiro associado garantia do acesso a direitos sociais bsicos

    sade, educao, assistncia social e segurana alimentar.

    Tambm vai argumentar que o benefcio contribui para promover: a incluso

    social, contribuindo para a emancipao das famlias beneficirias, construindo

    meios e condies para que elas possam sair da situao de vulnerabilidade em que

    se encontram.

    Estevo (2006, p. 59), assim como Nascimento realiza uma anlise acerca

    das precrias condies sociais e econmicas dos beneficirios do PBF,

    percebendo que os usurios necessitam lutar pelos seus direitos, que vo alm de

    condies impostas por uma vida rdua de desigualdade social, e afirma o

    brasileiro pobre aquele que quando vai a qualquer instituio pblica exerce seus

    direitos, sempre pensa e no se coloca na posio de quem vai pedir um favor e

    depende da boa vontade daquela pessoa que o atende.

    Quando o usurio chega instituio na perspectiva de favor,

    apadrinhamento e clientelismo no so por sua condio, mas por condies que

    lhes so impostas. Elas no tiveram e nem tm, comumente, o favorecimento de

    condies educacionais, particularmente, que favoream a construo do senso

    crtico e de tomada de decises. A falta de informao a maior negao de direito

    que se pode subtrair das pessoas.

    Entretanto, a renda no suficiente para qualificar a pobreza. Esse

    fenmeno engloba muitas dimenses da vulnerabilidade social, como o acesso

    sade, habitao, educao etc. No Brasil, conforme prev a Constituio

    Federal de 1988, o enfrentamento pobreza e desigualdade social de

    responsabilidade do Estado em construir estratgias para o seu enfrentamento, em

    ampliar e consolidar a cobertura das polticas sociais, somando com estratgias de

    redistribuio de renda.

    O PBF construdo por trs tipos de benefcios: O Benefcio Bsico, o

    Varivel e o Varivel Vinculado ao adolescente. A Lei n 10.836, de 9 de janeiro de

    2004, no artigo 2 prescreve os benefcios financeiros do Programa. I o benefcio

    bsico, destinado a unidades familiares que se encontrem em situao de extrema

    pobreza; II o benefcio varivel, destinado a unidades familiares que se encontrem

    em situao de pobreza e extrema pobreza.

    E que tenham em sua composio gestantes, nutrizes, crianas entre 0

    (zero) e 12 (doze) anos ou adolescente at 15 (quinze) anos.

  • 32

    O valor do benefcio mensal do inciso I ser de R$ 50, 00 (cinquenta reais) e

    concedido s famlias com renda per capita de at R$ 50,00 (cinquenta reais), no

    inciso II, o valor do benefcio mensal de R$ 15,00 (quinze reais) por beneficirio, at

    o limite de R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) por famlias beneficiadas e ser

    concedido s famlias com renda per capta de at R$ 100.00 (cem reais). Com a

    Medida Provisria n 411, de 28 de dezembro de 2007, houve alteraes nos dois

    benefcios.

    A Lei 10.836, de janeiro de 2004 passa a vigorar com as seguintes

    redaes: No art. 2 e inciso II enfatiza sobre o benefcio varivel: Destinado a

    unidades familiares que se encontram em situao de pobreza e extrema pobreza e

    que tenham em sua composio crianas entre zero e doze anos ou adolescentes

    at quinze anos, sendo pago at o limite de trs benefcios por famlias.

    No inciso III, fala-se do benefcio varivel que vinculado:

    Ao adolescente destinado a unidades familiares que se encontrem em situao de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composio adolescente com idade entre dezesseis e dezessete anos, nesse benefcio pode ser pago at o limite de dois benefcios.

    Com essa medida tambm foi alterado os valores dos benefcios. O

    benefcio bsico ficou no valor de R$58,00 (cinquenta e oito reais) por ms,

    concedido a famlias com renda mensal per capita de at R$ 60,00 (sessenta reais).

    Para as famlias com renda mensal per capita de at R$ 120,00 (cento e vinte reais)

    ser concedido, dependendo de sua composio. O benefcio varivel no valor de

    R$ 18,00 (dezoito reais); e o benefcio varivel vinculado ao adolescente no valor de

    R$ 30,00 (trinta reais).

    Os benefcios a que se referem tanto o bsico quanto a varivel, sero

    pagos mensalmente, por meio de carto magntico bancrio, disponibilizado pela

    Caixa Econmica Federal, atravs da identificao do responsvel pelo benefcio,

    mediante o Nmero de Identificao Social NIS, utilizado pelo Governo Federal.

    Segundo a Caixa Econmica em todo o Brasil, mais de 13,9 de famlias so

    atendidas pelo Programa Bolsa Famlias. Mesmo sabendo que assegurar direitos s

    famlias perpassa a esse mnimo de renda que o governo oferece aos beneficirios

    do PBF.

  • 33

    Diante do contexto de implantao dos programas de transparncia de renda,

    Mesquita (2006, p.13) afirmar que os programas tm se colocado no cenrio pblico

    contemporneo como um dos instrumentos de reduo da desigualdade e de alvio

    imediato da pobreza.

    O Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome (2016) MDS e a

    Caixa Econmica relatam as alteraes e a atualizao dos benefcios como:

    Benefcio Bsico: concedido s famlias em situao de extrema pobreza (com renda mensal de at R$ 77,00 por pessoa). O auxlio de R$ 77,00 mensais. Benefcio Varivel: para as famlias pobres e extremamente pobres, que tenham em sua composio gestantes, nutrizes (mes que amamentam), crianas e adolescentes de 0 a 16 anos incompletos. O valor de cada benefcio de R$ 35,00 e cada famlia pode acumular at 5 benefcios por ms, chegando a R$ 175,00. Benefcio Varivel de 0 a 15 anos: Destinado a famlias que tenham em sua composio, crianas e adolescentes de zero a 15 anos de idade. O valor de benefcio de R$ 35,00. Benefcio Varivel Gestante: Destinado s famlias que tenham em sua composio gestante. Podem ser pagas at nove parcelas consecutivas a contar da data do incio do pagamento do benefcio, desde que a gestante tenha sido identificada at nono ms. O valor do benefcio de R$ 35,00. Benefcio Varivel Nutriz: Destinado s famlias que tenham em sua composio crianas com idade entre 0 e 6 meses. Podem ser pagas at seis parcelas mensais consecutivas a contar da data do incio do pagamento do benefcio, desde a criana tenha sido identificada no Cadastro nico at o sexto ms de vida. O valor do benefcios, ou seja, R$ 35,00. Benefcio Varivel Jovem: Destinado s famlias que se encontram em situao de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composio adolescentes entre 16 e 17 anos. O valor do benefcio de R$ 42,00 por ms e cada famlia pode acumular at dois benefcios, ou seja R$ 84,00. Benefcio para Superao da Extrema Pobreza: Destinado s famlias que se encontram que se encontrem em situao de extrema pobreza. Cada famlia pode receber um benefcio por ms. O valor do benefcio varia em razo do clculo realizado a partir da renda por pessoa da famlia e do benefcio j no Programa Bolsa Famlia. As famlias em situao de extrema pobreza podem acumular o benefcio Bsico, Varivel e o Varivel Jovem, at o mximo de R$ 336,00 por ms. Como tambm podem acumular 1 (um) benefcio para Superao da Extrema da Extrema Pobreza.

    Entretanto, as famlias ao se candidata ao programa, e ao serem analisadas

    pelo o MDS necessitam estar inscritas no Cadastro nico dos programas sociais do

    Governo Federal, com seus dados atualizados h menos de dois anos.

    O cadastramento faz parte do processo do programa, mas no assegura

    entrada imediata, nem o recebimento do benefcio. Na verdade, realizada uma

  • 34

    triagem, uma anlise pelo MDS na qual sero selecionadas aquelas famlias que

    sero inclusas no programa.

    Para as famlias saberem se foram inclusas no programa necessrio

    procurar o gestor no PBF para realizar uma averiguao no sistema, assim como

    atualizar as mudanas sociais e econmicas ocorrida como nascimento, morte,

    casamento, separao, adoo e entre outras mudanas.

    Um dos pontos mais complexos a ser enfrentado pelo PBF a elaborao

    de critrios e mecanismo de seleo, delimitando perfis de incluso e excluso, nas

    quais as famlias so selecionadas com base nas informaes inseridas no Cadastro

    nico para os Programas Sociais do Governo.

    O rgo responsvel pela avaliao das famlias inseridas ao PBF o

    prprio MDS, assim impossibilitando aes de apadrinhamento e clientelismo.

    Estratgias muito utilizadas para algumas funes clientelistas16.

    Jovchelovitch e Werthein (2003, p. 58) afirmam que o Estado constri

    estratgias para tratar a temtica da desigualdade, atravs de dois princpios

    norteadores da ao do ministrio da Assistncia Social: De um lado, a diretriz de

    substituir o carter clientelista tradicional por uma ao governamental proativa, que

    transforme o usurio da ao protetora em sujeito de direito com avista de capacit-

    lo para o exerccio da cidadania.

    Os autores reafirmam a ideologia que o Estado atravs do Programa Bolsa

    Famlia constri as estratgias baseada na Poltica Nacional de Assistncia Social

    com intuito de conhecer em profundidade as famlias. O Estado executa suas aes

    direcionadas pelas perspectivas do exerccio da competitividade individual e risco

    para as polticas sociais.

    Uma das caractersticas do PBF so as condicionalidades17 que devem ser

    cumpridas pelas famlias beneficiadas atravs das condies nas reas da sade,

    educao e assistncia social. O cumprimento de condicionalidade deve ser

    16

    Historicamente, a assistncia social tem sido vista como uma tradicionalmente paternalista e

    cientista do poder pblico, associado s primeiras Damas, com carter de benesse, transformando o usurio na condio de assistido, favorecido e nunca como cidado, usurio de um servio a que tem direito. Da mesma forma confundia-se a assistncia social com a caridade da igreja, com a ajuda aos pobres e necessitados. Assim, tradicionalmente a assistncia social era reconhecida como assistencialista. (www.cresspr.org.br). 17

    As famlias devem cumprir alguns compromissos (condicionalidades) que tm como objetivo reforar o acesso educao, sade e assistncia social. As condicionalidades no tm uma lgica de punio; e, sim, de garantia de que direitos sociais bsicos cheguem populao de pobreza e extrema pobreza. Por isso, o poder pblico, em todos os nveis, tambm tem um compromisso: assegurar a oferta de tais servios. (Mds.gov.br/assuntos/bolsa-famlia).

  • 35

    entendido como um compromisso assumido pelas famlias e pelo poder pblico.

    Castanha (2009, p.9) afirma:

    As responsabilidades das famlias em relao ao cumprimento de uma agenda de atendimento nas reas da sade e da educao, voltada melhoria das condies para que as crianas e jovens de famlias beneficirias desfrutem de maior bem estar no futuro. Essa agenda, na rea de educao, a matricula e a frequncia escolar mnima de 85 % das crianas e dos adolescentes entre seis e 15 anos e de 75% para jovens de 16 e 17 aos integrantes das famlias beneficirias. Na rea de sade, a agenda o acompanhamento da vacinao e do crescimento e desenvolvimento das crianas at seis anos de idade e, ainda, da gravidez, parto e puerprio das mulheres. Alm disto, tambm deve ser assegurado o compromisso da famlia de que as crianas no sero expostas ao trabalho infantil. competncia dos gestores acompanharem as condicionalidades e darem condies para que este acompanhamento ocorra, com atribuies especificas para cada nvel de gesto.

    O acesso aos servios de sade e educao a condio bsica

    fundamental para permitir o mnimo de rompimento do ciclo de pobreza das famlias.

    Na rea da Sade as gestantes devem realizar acompanhamento de pr-

    natal, ir s consultas no posto mais prximo de sua casa e para as purperas,

    devem levar o carto de vacinao de acordo com o calendrio de vacinao

    estabelecido pelo Ministrio da Sade. Os responsveis por crianas menores de

    sete anos devem lev-las aos locais de campanhas de vacinao e fazer o

    acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento entre outras aes

    conforme calendrio.

    A famlia enxergada no programa como: Unidade nuclear, eventualmente

    ampliada por pessoas que com ela possuem laos de parentesco ou afinidade, que

    forma um grupo domstico e assim viva sob o mesmo teto, mantendo-se pela

    contribuio de seus membros (BRASIL, 2004, p.10) Assim, o atendimento ao

    ncleo familiar tem o dever de ser realizado de forma integral, proporcionando o

    acesso nas diversas polticas.

    O programa vem sugerir a intersetoralidade para reafirmar o que est em

    evidencia na Constituio Federal de 1988, em que relata que as trs esferas de

    governo tm a responsabilidade com o combate pobreza e desigualdade social,

    para garantirem direitos e reduzir a ocorrncia de riscos social.

  • 36

    Os programas de transferncia de renda, assim como todas as polticas de

    Estado voltado para a rea social, uma conquista da sociedade, porm, ainda

    existem muitas limitaes que necessitam ser organizadas

    No caso do PBF uma conquista dentro de uma rede de proteo e

    promoo social. Telles (1998, p. 38) enfatizar que colocar os direitos da tica dos

    sujeitos que os pronunciam significa, de partida, recusa a ideia corrente de que

    esses direitos no so mais do que a resposta a um suposto mundo das

    necessidades e das carncias.

    O PBF o principal programa efetivado na instituio do CRAS, contempla

    uma das maiores demandas. O programa refere-se transferncia direta de renda

    com condicionalidades destinadas s famlias que atendam aos critrios de

    elegibilidade preconizada pelo referido programa. Ao mesmo tempo, em que

    assegura direitos s diversas polticas, tambm desenvolve um processo de

    excluso, com as selees e as regras.

    2.3 O PERFIL DOS MUNICPIOS: NA ESTRUTURA DO CENTRO DE

    REFERNCIADE ASSISTNCIA SOCIAL CRAS

    2.3.1 O Municpio de Montanhas (RN)

    O municpio de Montanhas (RN) teve sua origem no lugar chamado Lagoa

    das Queimadas, situado s margens do rio Curimata, em que o Padre Jos Afonso

    foi presenteado.

    No sculo XIX, o local passou a ser chamado Lagoa de Montanhas, em

    virtude de sua localidade, entre montanhas que lhe proporcionam um clima ameno e

    aprazvel, razo em que o poeta Ccero Moura sugeriu cham-la de Sua do

    Agreste.

    O desenvolvimento econmico foi proporcionado pelo plantio de cereais em

    suas terras frteis, e pela ligao capital do Estado. O Distrito foi criado com a

    denominao de Montanhas, pelo decreto estadual n 603, de 31 de outubro de

    1938, subordinado ao municpio de Pedro Velho (RN). A emancipao poltica com a

  • 37

    denominao de Montanhas (RN) ocorreu atravs do decreto estadual n 2727, de

    08 de janeiro de 1962, desmembrando de Pedro Velho.

    Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) de

    2010, a rea territorial de Montanhas (RN) de 82,214 km, com 11.413 populao

    residente, sendo 5.665 homens residentes e 5.748 residentes mulheres. Do total

    destes, possui apenas 7.420 pessoas residentes alfabetizadas.

    Ainda de acordo com o IBGE, o valor do rendimento nominal mediano per

    capita dos domiciliados particulares permanentes Rural de R$ 133, 3 e o valor do

    rendimento nominal mensal per capita dos domiclios particulares permanentes

    Urbanos de R$222, 0. Caractersticas que deixam evidentes o grande ndice de

    pessoas analfabetas e que ainda vivem em condies de pobrezas.

    notria a precria situao econmica de uma parcela da populao, que

    ainda sobrevive com um rendimento mnimo extrado de alguns benefcios de

    transferncia de renda. Diante de muitos contrastes sociais, polticos e econmicos

    que muitas pessoas ainda buscam os servios do CRAS para efetivar

    necessidades por informaes, cadastro nos programas e resolues de diversas

    problemticas.

    2.3.2 O CRAS Elba Valentim da Rocha

    O CRAS Elba Valentim da Rocha fica localizado na Rua Praa Costa e Silva,

    n51, no centro da cidade. E acessvel a grande parte da populao por ser

    referenciado no centro no municpio.

    O CRAS foi implantado no municpio na data de 02 de junho de 2006, porm

    no existem muitos relatos sobre o histrico da instituio, pesquisou-se em busca

    de um algum documento atravs da Prefeitura, da Cmara dos Vereadores, da

    Gesto do Programa Bolsa Famlia, da Secretaria Municipal de Assistncia Social e

    do prprio CRAS, mas em nenhum desses lugares h registros do histrico da

    instituio CRAS do municpio de Montanhas.

    O CRAS no tem sede prpria. Utiliza-se de uma casa adaptada e

    disponibilizada pela prefeitura para realizar a oferta de seus servios. A instituio

  • 38

    busca acomodar os atendimentos tanto individuais quanto coletivos nos prprios

    espaos internos, os quais ainda so insuficientes.

    Diante dessa circunstncia, os servios realizados no local so muito

    restritos. Na aproximao com as assistentes sociais para coletar dados foi

    percebido como elas esboavam opinies acerca das condies de instalaes

    fsicas do CRAS e se estas repercutiam na realizao das suas funes ou

    dificultava-as.

    Dificulta muito. Porque quando muda de gesto, os locais tambm mudam, assim sendo, h uma grande dificuldade para encontrar os materiais da instituio, porque muitas coisas se perdem. Tambm complicado para os usurios para tentar se adaptar novamente os novos espaos. Aqui o espao no o melhor possvel, pois no forrado, os portes no tm proteo, assim entra muito lixos da rua dentro do CRAS. Tem muitos ninhos de pssaros. Tem tempo que dar at cafife, eu ligo para a prefeitura e peo para dedetizar. Mas mesmo diante das diversas dificuldades, eu como profissional tento dar o meu melhor para o servio no CRAS. (ASSISTENTE SOCIAL I. 2016).

    De acordo com o documento de Orientao Tcnicas da Proteo Social

    Bsica do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), o Centro de Referncia de

    Assistncia Social (CRAS) uma unidade de proteo social bsica, que objetiva

    prevenir a ocorrncia de situaes de vulnerabilidade e risco social nos territrios,

    desenvolvendo aes para o fortalecimento dos vnculos familiares e comunitrios e

    da ampliao do acesso aos direitos. Mas muitas vezes, as famlias que procuram o

    CRAS no podem usufruir de um espao confortvel, que zele por um atendimento

    qualificado.

    A Lei Orgnica de Assistncia Social (LOAS) afirma que os servios

    socioassistenciais so atividades continuadas que objetivam a melhoria da

    qualidade de vida da populao com aes focadas no atendimento das

    necessidades bsicas e na proteo social bsica, essas atividades so

    desenvolvidas nos CRAS em seus territrios de abrangncias. Possui as funes

    exclusivas de oferta pblica de trabalho social com famlias de Proteo e

    Atendimento Integral Famlia (PAIF). A LOAS assim como o PAIF, novamente,

    afirmam a necessidade de um atendimento qualificado para as pessoas que buscam

    o servio do CRAS.

  • 39

    O cadastramento e o recadastramento das famlias beneficirias do

    Programa Bolsa Famlia (PBF) so realizados atravs do Cadastro nico que ficam

    sob a gesto da Secretaria Municipal de Assistncia Social (SEMAS), do municpio

    de Montanhas.

    O principal objetivo do CRAS o atendimento e acolhimento de famlias em

    situao de vulnerabilidade social e quantos dele precisar, desenvolvendo aes

    para o fortalecimento dos vnculos comunitrios e familiares. Executa diversas

    orientaes e encaminhamentos para os demais servios oferecidos pela rede de

    servios socioassistenciais; com aes socioeducativas realiza atendimento

    psicossocial, individual e coletivo - oficinas e grupo educativo com crianas,

    adolescentes, mulheres e idosos. E, de acordo com as demandas locais com um

    trabalho de acompanhamento das famlias.

    O CRAS Elba Valentim da Rocha sente um grande desfalque na sua

    estrutura devido ausncia de um profissional recepcionista, assim fica

    impossibilitado de realizar o acolhimento s famlias de forma adequada. Quem

    acaba realizando essa competncia so os tcnicos do PAIF, a assistente social e a

    psicloga e at mesmo a auxiliar de servios gerais. Com a falta do recepcionista, o

    atendimento torna-se incompleto e insatisfatrio, visto que quando o usurio chega

    instituio, logo adentra ao local, sem antes ser orientado e encaminhado ao

    atendimento adequado.

    Diante dessa situao a assistente social foi questionada e depois um

    usurio, se a ausncia de um recepcionista acarreta problemas para o atendimento

    no CRAS, obtendo-se as falas:

    muito ruim sem recepcionista no CRAS, quando chega algum aqui, e eu estou atendendo na sala, pedindo para esperar o atendimento acabar ou eu peo para entrar. Ento fica uma relao meio constrangedora, mas isso que posso fazer. (ASSISTENTE SOCIAL, 2016).

    A ausncia de profissional recepcionista no CRAS dificulta o atendimento

    dos demais profissionais, somando para a ausncia de privacidade dos usurios,

    pois quando os usurios chegam ao CRAS I, logo entram na instituio sem ser

    pronunciado e acolhido. Eu acho que se tivesse uma pessoa aqui, seria melhor

    para dar informao e no seria preciso esperar muito algum se desocupar para

    nos atender, mais assim mesmo. (USURIO I, 2016).

  • 40

    O Centro de Referncia de Assistncia Social I estar com deficincia de

    profissionais, contando com apenas um assistente social; um psiclogo e um ASG.

    H ausncia de um coordenador, recepcionista e um profissional que se

    responsabilize pelas tarefas de informtica. Com a inexistncia desses servios, o

    atendimento sofre consequncias negativas inevitveis.

    Entretanto, mesmo diante da falta de recursos humanos, a equipe do CRAS

    busca realizar um atendimento que desenvolva aes para a superao da

    desigualdade social e a efetivao de direitos, atravs dos atendimentos com os

    grupos em que so realizados encontros mensais, devido a grande demanda da

    instituio e o dficit de profissionais. As temticas trabalhadas nos grupos so na

    sua maioria direcionadas para as necessidades do MDS em reafirmar as

    condicionalidades do PBF.

    Em consonncia com o grupo do PBF existe O Grupo de Mulheres, neste

    atendido principalmente as gestantes, que no final do semestre recebe Kit de

    gestantes. Percebe-se que os materiais tornam-se mais importantes que as

    informaes que essas mulheres necessitam receber para se tornarem pessoas que

    conheam e lutem por seus direitos.

    No grupo de Idosos acontece no Centro de Mltiplos Usos (CCI) so

    encontros mensalmente com temtica de lazer, porm, o grupo deixa de lado as

    inmeras necessidades do idoso, como o dilogo sobre violncias, abandonos e sua

    importncia para a sociedade.

    O Servio de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos (SCFV)

    anteriormente chamado de PETI suas atividades acontecem diariamente atravs de

    programaes de estudos e recreaes; e j o Grupo ldico atende as crianas,

    atravs de dinmicas com temas voltadas para educao, nesse ltimo grupo h

    fortes caractersticas de reforos escolares.

    Os grupos deveriam ser espaos para discusses e anlises entre

    profissionais e usurios sobre inmeros problemas que a populao enfrenta em seu

    dia a dia. Mas isso no estar se efetivando na prtica de alguns CRAS.

    A populao necessita de um espao de debate e reflexo de temas, sendo

    assim o Conselho de Assistncia Social (CMAS) o rgo que rene representantes

    do governo e da sociedade civil para discutir, estabelecer normas e fiscalizar a

    prestao de servios socioassistenciais estatais e no estatais no municpio. A

    criao dos conselhos municipais de assistncia social est definida na Lei Orgnica

  • 41

    da Assistncia Social Lei n 8.742/1993. O Conselho deve ter o compromisso

    voltado para a populao, com aes ligadas s polticas sociais e econmicas,

    como Assistncia Social; Sade; Educao; Trabalho e emprego; Finanas;

    Planejamento.

    O MDS enfatiza suas principais atribuies:

    Tm como principais atribuies no seu respectivo mbito de atuao: deliberar e fiscalizar a execuo da Poltica de Assistncia Social e seu funcionamento; convocar e encaminhar as deliberaes das conferncias de assistncia social; apreciar e aprovar o Plano da Assistncia Social; apreciar e aprovar a proposta oramentria dos recursos da assistncia social a ser encaminhada ao Poder Legislativo; apreciar e aprovar a execuo oramentria e financeira do Fundo de Assistncia a ser apresentada regularmente pelo gestor do Fundo; acompanhar os processos de pactuao da Comisso Intergestores Tripartite CIT e Comisso IntergestoresBipartite CIB; divulgar e promover a defesa dos direitos socioassistenciais; inscrever entidades de Assistncia Social, bem como servios, programas, projetos socioassistenciais; fiscalizar a rede socioassistencial (executada pelo poder pblico e pela rede privada) zelando pela qualidade da prestao de servios; eleger entre seus membros a sua mesa diretora (presidente e vice- presidente paritariamente); aprovar o seu regimento interno; fiscalizar e acompanhar o Benefcio de Prestao Continuada BPC e o Programa Bolsa Famlia PBF e outras. (MDS, 2015).

    Uma das atribuies do MDS determinar o financiamento do Centro de

    Referncia de Assistncia Social, em que acontece atravs do governo Federal, o

    Estadual e o Municipal, ou seja, atravs da Comisso Intergestora tripartite, faz-se a

    transferncia dos recursos para o servio atravs do FNAS transferncia regular e

    automtica dos recursos oriundos do PBV aos fundos de assistncia social dos

    municpios e do Distrito Federal.

    O repasse necessrio para acontecer a resolutividade das funes da

    instituio. Quando essa transferncia no vivenciada de forma contnua e certa,

    favorece a desorganizao e, consequentemente, prejudica a funcionalidade das

    tarefas. O municpio se encontra diante dessa preocupao em relao ao repasse

    financeiro, atuando sem a transferncia de recursos, ocasionando vrios problemas,

    como por exemplo, compras de recurso materiais.

    Dentre os grupos e aes desenvolvidas no CRAS Elba Valentim da Rocha,

    foi observado durante o processo de estgio que todos os grupos funcionam

    conforme o cronograma da instituio. Porm, as aes desenvolvidas nos grupos,

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    principalmente, o do PBF, de Gestantes e de Crianas ocorriam de forma limitadas

    em termos de recursos materiais e profissionais. Os planejamentos e execues das

    tarefas sempre voltadas para seguir as orientaes do Ministrio de

    Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS).

    2.3.3 O Municpio de Nova Cruz (RN)

    Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2012), a

    construo histrica do municpio de Nova Cruz teve incio no sculo XVII, quando

    um ncleo populacional s margens do rio Curimata, resultando da instalao de

    uma hospedaria que pertencia aos primeiros moradores do local. A hospedaria

    destinava-se ao descanso dos boiadeiros, vindo da Paraba e de Pernambuco,

    quando passavam pela regio com seus rebanhos. O crescimento da populao foi