através dos portais da morte

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1 B i b l i o t e c a E s o t é r i c a V i r t u a l http://www.pgem.hpg.com.br ATRAVÉS DOS PORTAIS DA MORTE Dion Fortune SUMÁRIO A GRANDE ANESTESISTA ................................................... 2 TRANSPONDO O LIMIAR .................................................... 5 AJUDANDO OU ESTORVANDO OS MORTOS ....................................... 8 VENCENDO O PESAR ...................................................... 11 O TEMPO DETERMINADO ................................................... 14 COSTUME TRADICIONAL E FATO PSÍQUICO ................................... 16 A MORTE DO CORPO ...................................................... 19 INDO AO ENCONTRO DA MORTE ............................................. 21 O LADO OCULTO DA MORTE ................................................ 23 O PURGATÓRIO .......................................................... 26 O MUNDO CELESTIAL ..................................................... 29 A COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS ........................................... 32 AS PATOLOGIAS DA MORTE – I ............................................ 35 AS PATOLOGIAS DA MORTE – II ........................................... 38 Ritual Para a Paz da Alma Que Passou Por Morte Súbita ou Violenta .... 39 COMO O ADEPTO ENFRENTA A MORTE ........................................ 41 [email protected] [email protected]

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Page 1: Através Dos Portais Da Morte

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Biblioteca Esotérica Virtual

http://www.pgem.hpg.com.br

ATRAVÉS DOS PORTAIS DA MORTE Dion Fortune

SUMÁRIO

A GRANDE ANESTESISTA ................................................... 2 TRANSPONDO O LIMIAR .................................................... 5 AJUDANDO OU ESTORVANDO OS MORTOS ....................................... 8 VENCENDO O PESAR ...................................................... 11 O TEMPO DETERMINADO ................................................... 14 COSTUME TRADICIONAL E FATO PSÍQUICO ................................... 16 A MORTE DO CORPO ...................................................... 19 INDO AO ENCONTRO DA MORTE ............................................. 21 O LADO OCULTO DA MORTE ................................................ 23 O PURGATÓRIO .......................................................... 26 O MUNDO CELESTIAL ..................................................... 29 A COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS ........................................... 32 AS PATOLOGIAS DA MORTE – I ............................................ 35 AS PATOLOGIAS DA MORTE – II ........................................... 38 Ritual Para a Paz da Alma Que Passou Por Morte Súbita ou Violenta.... 39

COMO O ADEPTO ENFRENTA A MORTE ........................................ 41

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A GRANDE ANESTESISTA A morte é uma experiência universal. Ninguém pode pretender escapar-lhe. Ë apenas uma questão de tempo, até que ela chegue para nós e para aqueles a quem amamos. No entanto, ela é chamada Rainha dos Terrores e é a suprema ameaça da lei ao malfeitor. Que é que torna um processo natural tão terrível? Será a dor de morrer? Não, porque os anódinos podem amortecê-la. Muitos leitos de morte estão em paz quando a hora de seu ocupante chega, e poucas almas se retiram em luta. O que é, então, que tememos na morte, que a torna para nós um motivo de pesar e de medo? Primeiramente, tememos o Desconhecido. "Quem sabe se virá sonho importuno ainda perturbar da morte o sono?" Em segundo lugar, tememos a separação daqueles a quem amamos. Essas são as coisas que tornam a morte algo terrível. Se nossas mentes estivessem em paz com relação a esses dois pontos, como seria diferente a nossa transposição desse Limiar! Temos registros de que o grande benefício dos Mistérios Gregos era libertar seus iniciados do temor da morte. Diz-se que nenhum iniciado teme a morte. O que era ensinado naqueles ritos secretos que fosse capaz de tirar da morte os seus terrores?No centro da Grande Pirâmide de Gizé há um ataúde de pedra vazio. Os egiptólogos nos dizem que estava preparado para um Faraó que nunca chegou a ocupá-lo. Falou-se também que era uma medida para trigo. Não era nenhuma dessas coisas, mas sim o altar da Câmara de Iniciação. Nela deitava-se o candidato enquanto sua alma era despedida na jornada da morte e recuperada, e isso constituía o grau supremo dos Mistérios. Após essa experiência, ele nunca tornaria a temer a morte. Ele saberia o que ela é. É o conhecimento guardado nos Mistérios o que nestas páginas me proponho revelar. Para o homem que tem esse conhecimento, a morte é como o embarque de um homem rico num transatlântico. Ele é educado, sabe para onde vai, aquiesce com a jornada, compreendendo sua necessidade e vantagens. Seus conhecimentos e recursos o habilitam a viajar com conforto e segurança. Ele pode manter contato com os amigos a seu talante e voltar para eles sempre que desejar. Para ele não há separação definitiva de sua terra natal. Coisa bem diferente é o que se passa com o pobre camponês emigrante. Ignorante e desvalido, para ele a jornada é perigosa e arriscada, e a terra para onde ele vai pode estar cheia de animais ferozes ou devorada por fogos vulcânicos. Sua imaginação ignorante representa todos os terrores que pode conceber e aplica-os ao Desconhecido. Os antigos egípcios depunham em todo ataúde um livro chamado O livro dos mortos, o ritual de Osíris no Mundo Subterrâneo, que instruía a alma em relação à sua jornada pelo reino das sombras. Deveria chamar-se, com mais propriedade, O livro dos sempre vivos, pois a alma era concebida como passando por certas etapas nesse ciclo de vida que transcorre no Invisível. Seria bom que fôssemos ensinados, desde a infância, a pensar na nossa vida como um sobe-e-desce semelhante ao de um barco que se ache na crista de uma onda. Ora descendo até a matéria pela porta do nascimento; ora tornando a ascender ao mundo invisível pelos portais da morte, para, de vez em quando, voltar e afastar-se novamente ao ritmo cíclico do fluxo da vida em evolução. Sem a instrução dos Mistérios, nossas vidas estão limitadas pelo horror do nascimento e o terror da morte. Quão generosa, porém, é a dádiva da

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sabedoria oculta que revela a estrada da evolução da vida a estender-se diante de nossos pés e que dissipa as sombras do Invisível. Paremos de conceber a Morte como a Fúria com sua odiosa gadanha e imaginemo-la como a Grande Anestesista, que, por mercê de Deus, nos provoca um sono profundo enquanto o cordão prateado se desata e a alma é libertada. Desse sono despertamos refeitos, com os problemas terrenos ultrapassados, como as lembranças do dia anterior de uma criancinha, e embarcamos numa nova fase da existência. É bom que nossos amigos nos dêem o adeus e permitam à nossa alma ir livremente para seu devido lugar. Será ruim para nós se a dor dos que deixamos para trás anuviar o brilho desse despertar matutino. Assim como cremos ter o direito de, na enfermidade, contar com o desvelo daqueles que nos são aparentados, assim também deveríamos ter o direito de esperar, da parte deles, ânimo na aflição. Porque o pesar é deles, não nosso. Por quem nos condoemos num funeral? Pelo Morto Eternamente Vivo, em seu brilhante despertar? Ou por nós mesmos, em nossa solidão? Por certo não nos condoemos senão por nós mesmos, pois tudo vai bem com os mortos; eles partiram para o seu devido lugar e estão em paz. Os que ficaram é que sofrem, não os que antes de nós se dirigiram para a Galiléia. E que diremos acerca de seus sofrimentos? Que, como acontece com todo tipo de dor, eles devem ser suportados com bravura, e especialmente neste caso, pois suas reverberações podem afetar os outros tanto quanto a nós próprios, e podem ser como uma pedra de moinho atada no pescoço da alma que está procurando elevar-se nas asas vigorosas da aspiração. Que pensamentos de amor e não de pesar sigam essa alma em sua jornada, como as gaivotas acompanham um navio. Desejemos-lhe feliz viagem e boa sorte e aguardemos uma nova reunião. Pois há muito que podemos fazer pelos que partem. Nosso trabalho não termina quando o esquife é retirado da casa e nos desfazemos da triste parafernália da doença. Se eles souberem mais que nós sobre a antiga Sabedoria oculta, pode bem ser que voltem para nos confortar e dar-nos bons conselhos. Mas, se soubermos mais do que eles, se a alma partiu em perplexidade e temor, ou se era a alma de uma criancinha, será nosso dever inalienável acompanhá-la no mundo Invisível até onde pudermos, até pressentirmos a chegada dos Anjos (sobre o que, posteriormente, falaremos mais), e sabermos que nosso ente querido passou aos cuidados deles e que tudo já está bem. E poderá vir a nós, se o pedirmos, esse Anjo que proporciona o amado sono, o profundo sono que, ao que se sabe, sobrevêm aos veladores dos mortos e que não é semelhante a nenhum outro; e desse sono nós também deveremos despertar para a calma matinal, pois nos foi dado enxergar pelos portais entreabertos e ver que além do Limiar não há terror nem esquecimento, mas sim outro mundo, outra fase de vida. Desse sono que o Anjo da Morte proporciona ao ente querido provém segurança e confiança; porquanto, vimos, ainda que não nos lembremos. Em chegando a hora, portanto, peçamos à Grande Anestesista essa menor mercê; que possamos sobrepujar o primeiro impacto da separação e estar mais preparados para assumir o encargo da vida e cumprir nosso dever para com aqueles que amamos e que ficam sob nosso cuidado, dependendo e necessitando de nós. E, sobretudo, não nos esqueçamos nunca que no devido tempo os mortos voltarão, e nunca sabemos quando veremos, mirando-nos através dos olhos de uma criancinha, uma alma que havíamos conhecido antes. Portanto, buscando expressão para o amor que agora já não tem expressão terrena, voltemos esse amor para a tarefa de tornar o mundo um lugar melhor para o regresso daqueles que amamos.

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Ao menos esse serviço poderemos prestar-lhes. Que nenhuma lamentação de nossa parte lhes amargure a jornada e que, no que depender de nós, os lugares rudes do mundo sejam, tanto quanto esteja ao nosso alcance, suavizados para o seu retorno.

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TRANSPONDO O LIMIAR Quando tudo o que a ciência médica pode fazer já foi feito, os que se encontram junto ao leito do moribundo, aguardando o desenlace, são tomados de uma avassaladora sensação de impotência; eles têm o desejo de ajudar, mas vêem-se totalmente impossibilitados de encontrar qualquer meio prático e adequado de fazê-lo. O consolo da religião pode confortar aqueles para quem a vida espiritual é uma realidade, mas para muitos isso não passa de uma vaga esperança, e para alguns é uma negação. Temos alguma coisa para oferecer a esses? Temos sim. Podemos oferecer-lhes conhecimento. Conhecimento derivado da experiência de muitas, muitas almas que cruzaram o grande abismo e voltaram para nos narrar suas aventuras; e também da experiência de outros, que talvez constituam um menor número mas que, para nós, são mais convincentes e que conseguem recordar-se de suas vidas passadas. Na Europa, é raro encontrar tais pessoas entre adultos, mas muitas crianças, antes que as sombras do cárcere das coisas mundanas se fechem sobre elas, podem brindar-nos com lembranças de suas vidas passadas se lhas soubermos pedir sensatamente. No Oriente, essas lembranças são comuns, sendo antes regra que exceção. Esse conhecimento referente à vida oculta da alma pode não só proporcionar encorajamento e conforto aos que duvidam, mas também pode constituir-se num meio de ajudar ativamente os moribundos. Já não precisamos estar de mãos vazias ao lado de seu leito de morte. Conquanto nossas mãos possam não ter mais o que fazer, nossa mente deve estar ativa, e devemos estar prontos para acompanhar nossos amigos na primeira etapa de sua jornada. Podemos literalmente "pô-los a caminho", como o faríamos a um visitante que se vai. Mas antes que consideremos exatamente o que pode ser feito para aquele que nos deixa, devemos compreender primeiro o processo da desencarnação. Há dois tipos de morte: morte natural e morte violenta; e há também dois tipos de passamento: o passamento tranquilo, que é o normal, e o tumultuoso, que é patológico. Porquanto, morrer não é um processo menos natural do que nascer, e tem sua norma e suas patologias. A morte natural é aquela que se verifica gradativa-mente, soltando-se a alma do corpo antes de partir, assim como os dentes de leite de uma criança amolecem em seus alvéolos e caem sem provocar dor. A morte violenta, entretanto, é como o arrancar de um dente pelo dentista. Há um repelão, um traumatismo, algum sangramento e dor. Normalmente, porém, a Grande Anestesista assume rapidamente sua função, e com o primeiro sinal de separação entre alma e corpo, o Grande Sono desce sobre nós e perdemos a consciência. Mas onde há muito medo da morte ou um desesperado apego à vida, a obra da Grande Anestesista é frustrada, e é, então, que se vêem aqueles terríveis leitos de morte em que a alma parte se debatendo. Isso nunca deveria acontecer, e não precisa acontecer nunca onde há adequado conhecimento dos processos da morte e da vida após a morte. O moribundo deve submeter-se às mãos do Anjo Misericordioso com a mesma confiança e gratidão com que se submeteria à obra do médico que ministra o anestésico que lhe poupará à consciência o trabalho do cirurgião. Tão logo o éter inicie sua obra de misericórdia, a dor e o medo se desvanescerão e ele dormirá por algum tempo, não tendo consciência de nada. O mesmo ocorre com a morte, o Anjo das Trevas fecha uma a uma as vias da consciência, e nós dormimos enquanto os processos da separação do corpo e da alma prosseguem. Quando tudo estiver acabado, estaremos livres do corpo; o Anjo reabrirá as portas da consciência num plano superior, e

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viveremos de novo, ainda que em outra dimensão. Podemos achar difícil compreender o tipo de vida para o qual venhamos a abrir os olhos à medida que o dia ressurgir novamente, mas podemos ficar tranquilos, pois quando acordarmos na próxima vida, essa vida nos parecerá tão normal e natural quanto a vida terrena a que' estamos acostumados, porque veremos que estaremos adaptados a ela. A alma que recebe a morte com entendimento, invocando os ofícios misericordiosos do Anjo Cinzento e dando boa acolhida a seus cuidados curativos, retirar-se-á dos limites de tempo e espaço com a mesma tranquilidade e firmeza com que um grande navio se faz ao mar. As mudanças ocorrem gradativamente, não há traumatismos nem surpresas, e, à medida que uma praia desaparece, outra começa a despontar na linha do horizonte. Insensivelmente, sem o notar, nos distanciamos do corpo. A consciência inferior está agora profundamente anestesiada. A consciência superior está desperta e nós nos encontramos no que tem sido chamado por vários nomes, mas que chamaremos de Corpo de Luz. Não se trata do Duplo Etéreo, ou do aspecto sutil, magnético do corpo físico. Mas sim do que é anestesiado pelo Anjo Cinzento, pois é nele que ocorre o processo de morte; mas não tomamos consciência desses processos, da mesma forma que não temos consciência da operação que se efetua em nós enquanto estamos sob a ação do clorofórmio. Todavia, não são todos que caem em profundo sono ao transpor os Portais da Morte. Almas dotadas de algum grau de desenvolvimento psíquico passam pela morte em estado de consciência plena. Pois, embora o corpo físico mergulhe na insensibilidade, não devemos ter certeza de que a alma esteja inconsciente. Qualquer pessoa que tenha experimentado um transe sabe que isso não é necessariamente assim, e que a consciência pode ser transferida do corpo para a alma e permanecer intacta. é isso o que acontece na morte. A consciência é transferida do corpo para a alma, e a alma parte para seu devido lugar nos Planos Interiores, levando consigo a consciência. Poder-se-á indagar se a alma não se sentirá solitária e desamparada quando chega pela primeira vez ao Mundo Celeste. Mas todos quantos têm retornado para nos prestar testemunho da trilha da morte, e são muitos, concordam em que isso não acontece. O Mundo Celeste se afigura familiar ao recém-chegado, e por uma simples razão: todos estamos acostumados a ir lá durante o sono, todas as noites! Há uma vida da alma durante o sono da qual as pessoas comuns não têm consciência porque, ao despertar, não trazem dela nenhuma lembrança. Está além do reino do sonho, que é puramente subconsciente, e a alma com pouco desenvolvimento psíquico permanece em profundo sono enquanto está fora do corpo, ou, quando muito, sonolenta e difícil de acordar. é o despertar da alma para a consciência nesse plano o que produz os sonhos diferentes dos sonhos ordinários, que muitas pessoas têm experimentado. A pessoa psiquicamente desenvolvida está em grande vantagem quando chega o momento de transpor os Portais da Morte, pois ela o faz em estado de consciência plena. Ela não dorme o sono da morte, apenas perde a consciência do plano físico mas conserva todas as suas faculdades. Qualquer um que já tenha experimentado um transe com conservação de memória, ou um sonho lúcido, que já tenha morrido e tornado a viver, verificará que a morte é exatamente a mesma coisa. Mas, embora o Mundo Celeste nos venha a parecer familiar, como o revisitado lar da infância, mesmo assim não ficaremos sem ser confortados. Há caridade organizada no mundo vindouro, tal como a há aqui, e há almas desencarnadas que se dedicam à tarefa de receber e servir os recém-chegados, fazendo-lhes companhia até que se sintam à vontade.

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Como se sabe, é muito frequente pessoas moribundas exclamarem que estão vendo uma grande luz, e nessa luz estão os rostos de amigos e parentes que morreram antes delas. Sempre que há um forte laço de amor entre as almas, nos diferentes lados do golfo da morte, as que estão do lado oposto invariavelmente descem até a praia para dar as boas-vindas ao recém-chegado. É uma grande coisa saber que, à proporção que o mundo físico se retira de nós, a costa do mundo futuro se eleva sobre o horizonte da consciência, e nessa praia estarão esperando nossa chegada todos os que nos amaram e que foram antes de nós para o Invisível. Aportaremos em meio a faces familiares gritando uma saudação, como o indicam as últimas palavras de muitas almas que já cruzaram o golfo. Mas, o que será daqueles que não têm laços estreitos com ninguém no mundo vindouro? Ficarão sem ser confortados? Não, de modo algum. Serão recebidos por aqueles que conheceram o amor não correspondido na Terra e que dedicaram ao serviço de todos, o amor que não foi exigido por alguém em particular. Os que não têm amigos serão recebidos pêlos que, em suas vidas, alcançaram os ideais embora obscuramente compreendidos e raramente vislumbrados , que se apresentam para cada alma como sendo o objetivo mais nobre da vida; e mediante seu auxílio a alma prossegue no caminho de suas lições e realizações.

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AJUDANDO OU ESTORVANDO OS MORTOS A questão da comunicação com os que'já se foram sempre foi muito controversa. De um lado, temos os que negam a sua possibilidade e afirmam que todas as assim chamadas comunicações são fraude, ilusão ou fruto de credulidade; de outra parte estão os que admitem a possibilidade de comunicação com os mortos, mas a chamam de necromancia e a condenam francamente. Entretanto, os que perderam seus entes queridos têm recorrido a médiuns que, em número cada vez maior, atuam, ou afirmam atuar, como telefones psíquicos entre este mundo e o outro. Os que têm extensa experiência na matéria estão de acordo em que, embora a comunicação com os mortos não deva ser universalmente condenada, ela deve ser abordada com cautela sob condições cuidadosamente selecio-nadas; e um estado de extremo pesar e de grande transtorno emocional com certeza não constitui a condição ideal para se tentar uma comunicação. Por vezes o estado de espírito de uma pessoa enlutada é tal que é aconselhável que o morto retorne para proporcionar a desejada tranqüilização, mas fazer isso é um ato de sacrifício da parte dele, e nada pode ser pior para a alma que parte do que ser chamada repetidamente de volta para comunicar-se com os que ficaram para trás. Reter a alma no plano físico dessa maneira é um ato de grande egoísmo, ainda que seja, sem dúvida, não intencional; isso perturba aquele que entrou na luz, e impede que ele se instale em suas novas condições. ê como se uma mulher matriculasse o filho num internato e depois o ficasse chamando constan-temente, chorando a sua solidão e lamentando a partida do filho. Qual seria o estado de espírito de uma criança tratada dessa maneira? Ela não teria nenhum prazer na companhia das outras crianças nem nos esportes, como também não tiraria proveito de suas aulas. Se ficarmos cons-tantemente chamando de volta os que já se foram, com o auxílio de um médium, estaremos agindo tão insensata e egoisticamente como essa mãe insensata. Tão logo termina esta vida, a vida seguinte se inicia, e os mortos têm seu próprio trabalho a fazer. Devemos nos contentar em deixá-los realizá-lo livremente à sua própria maneira, da mesma forma que uma mulher, por mais amorosa e amada que seja, deve permitir o marido ou o filho partir para cumprir sua missão no mundo. Nas comunicações recebidas dos que já se foram, é notável o fato de que os recém-falecidos são bastante acessíveis à comunicação, e depois de algum tempo eles parecem ir para um plano mais distante, onde a comunicação deixa de ser possível. Se os ficarmos invocando, eles não poderão realizar a transição e tornam-se presos à Terra. O processo da morte é incompleto e eles não podem entrar em repouso. Portanto, embora seja justificável, ou mesmo aconselhável, restabelecer comunicação com aqueles que apenas acabaram de falecer, é absolutamente indesejável manter injustificadamente essa comunicação. Basta que os que faleceram nos enviem um recado sobre terem chegado a salvo na outra margem. Recebido isso, deveríamos contentar-nos. O estado em que os mortos entram, imediatamente após sua partida, é intermediário e transicional, e nesse estado algumas patologias post-mortem definidas podem ocorrer. Casos em que nem tudo correu bem ficam aí retidos, aguardando a solução de seus problemas. Normalmente, a alma passa rapidamente por essa fase a deixa para trás. Qualquer demora nesse estado é muito indesejável. A alma deveria ter sua jornada desembaraçada, e é para esse fim que a Igreja Católica reza missas pêlos mortos; essas missas são de grande valor, e o mesmo princípio devia ser reintroduzido na liturgia de todos os credos. Não devemos pensar que prestamos o último

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ofício aos mortos quando as orações fúnebres em favor deles houverem sido ditas, mas o consolo da religião deve acompanhá-los durante toda essa etapa de transição, até que estejam bem instalados em sua nova vida. Enquanto subsistirem quaisquer fiapos de laços terrenos, a proteção e a orientação da religião organizada devem ser oferecidas à alma. Essa etapa intermediária entre a vida e a morte não é a mesma coisa que o Purgatório. Ê, antes, uma etapa em que a alma faz uma escala e reúne as bagagens e saúda os amigos. O Purgatório poderia ser descrito como uma quarentena psíquica. Só depois que a consciência se acostumou com a vida desencarnada é que a alma prossegue para enfrentar a purificação do Purgatório. Mas fique bem entendido que o Purgatório não é uma etapa punitiva nem é uma situação eterna, mas consiste em forçar a alma a enfrentar a sua própria história. São as reações da alma a esse registro histórico que constituem os fogos purificadores. O Purgatório não é um lugar, e sim um estado de consciência, mas, porque, nos Planos Interiores, todos os que têm a mesma aparência se aproximam uns dos outros, o Purgatório, para todos os fins psíquicos práticos, tem uma localização astral definida. ë quando as almas estão passando por seu purgatório que as linhas de comunicação com este mundo são cortadas. Cada alma deve entrar no silêncio, a fim de passar pêlos fogos purificadores. Aí, ninguém as pode ajudar. Elas precisam depender de si próprias e caminhar de acordo com as suas próprias capacidades. De nenhuma outra forma poderão aprender as suas lições. Não podemos aprender pêlos outros, da mesma forma como não podemos comer pêlos outros. Quando se chega a esse ponto, devemos entregar os nossos entes queridos nas mãos dos Senhores do Karma. Entretanto, temos esse conforto, que o seu objetivo é edificar e não destruir a alma, e a ninguém é dado mais do que pode suportar, nem mais do que possa assimilar e converter em útil. O esotérico não concordaria com o ensino católico segundo o qual as missas pêlos mortos podem ajudar as almas no Purgatório. Ele sustenta que o valor das preces do padre e dos amigos está na influência que têm sobre a alma durante o período intermediário; uma vez que a alma tenha ultrapassado essa fase, encontra seu lugar no grande ciclo da vida nos Planos Interiores e terá quem dela cuide. Depois que a alma saiu do Purgatório não só é possível mas legítimo restabelecer comunicação com ela, contanto que se usem os métodos certos. Se formos capazes de elevar a consciência até os planos psíquicos superiores, poderemos voluntariamente entrar em contato telepático com os que já se foram e ouvir-lhes a voz com o ouvido interior. Não é aconselhável procurar vê-los com a visão psíquica, porque isto pertence a um subplano inferior do Astral relativamente ao plano em que a alma bem-aventurada, limpa de seu pecados, tem o privilégio de habitar. A clariaudiência é o método certo para ser usado na comunicação com os que passaram para o Mundo Celestial. Notar-se-á que as descrições do Mundo Celestial são quase sempre de segunda mão; o médium é informado de como esse mundo é, mas ele não chega realmente a vê-lo. Há, é claro, excecões a essa regra geral, no caso de médiuns excepcionalmente bem-dotados ou de circunstâncias excepcionais, mas de um modo geral é a regra que prevalece, e podemos saber que se virmos uma pessoa falecida, com visão psíquica, tal pessoa ainda estará no mundo intermediário, e que, quando ela chegar com segurança ao Mundo Celestial, poderemos ouvi-la, mas não vê-la, quando tenta uma comunicação direta. Quando tentarmos estabelecer contato com ela, devemos, portanto, ouvir, mas não olhar; e na voz ainda fra-.ca da consciência interior podemos sensatamente esperar ouvir ao menos uma palavra de saudação; uma vez que

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se tenha estabelecido contato, haverá ocasiões em que teremos a distinta impressão de uma presença tão tangível que nos parecerá só termos que estender a mão para tocá-la; mas se abrirmos os olhos nada encontraremos ali. Os mortos, em seu plano, são mentes sem corpos, e, quando falam, eles o fazem aos nossos sentidos mentais e não aos corpóreos. Vale dizer, é a intuição que os percebe e não a vista. É bom que a comunicação normal, intuitiva, seja estabelecida entre os mortos e os vivos, pois isso priva a morte dos seus terrores. Devemos considerar os mortos como gente que vive em outro estado de consciência, não em outro lugar. Se pudermos "sintonizar" sua vibração, poderemos ouvi-los e falar com eles. Na verdade, podemos falar-lhes muito mais prontamente do que os podemos ouvir, pois os mortos, sendo incorpóreos, são normalmente psíquicos. é por essa razão que devemos guardar cuidadosamente nossos pensamentos em relação aos mortos, e especialmente lutar por vencer a nossa dor e aprender a nos conformar com a sua partida. Nossa atitude para com os mortos deve ser a mesma que assumiríamos se eles tivessem partido para ultra-mar em busca de fortuna. Mandaríamos a um filho ou a algum outro ente querido assim emigrado uma palavra de encorajamento para animá-lo em sua empreitada distante. Se continuamente lhe mandássemos uma lamúria, estendendo-nos sobre nossos sofrimentos em sua ausência, acaso poderíamos esperar que nossas cartas fossem aguardadas com ansiedade? Não seriam, antes, receadas como uma provação? Qual deveria ser o nosso objetivo? Ajudar, encorajar e animar o morto, ou dar largas a nossa dor e aliviar nosso sofrimento às custas dele? A separação e a solidão, a perda do esteio da família, de um protetor ou do companheiro de uma vida inteira, é de fato um grande pesar, mas é um pesar que deve ser enfrentado com bravura, para que nossa escuridão não ensombre nosso ente amado. Devemos aceitar alegremente o nosso destino, de modo que a pessoa falecida esteja livre para passar pelas maravilhosas experiências que a aguardam e ingressar em seu repouso com a mente tranquila.

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VENCENDO O PESAR O modo como enfrentamos o luto constitui um dos maiores testes de nosso entendimento espiritual. Nossa atitude para com a morte do corpo, quer seja o nosso, ou de algum ente querido, depende do que realmente acreditemos ser a vida. Será que encaramos, em nosso íntimo, o corpo físico como sendo o homem real, e tudo o que ele significa para nós no plano físico como constituindo nossa relação com a alma que amamos, encarnada nesse corpo? Então que outra coisa poderemos fazer, senão lamentar nossa perda irreparável quando a morte quebra o frágil vaso que contém o nosso ser amado? Mas sabemos realmente, com base em nossa experiência de coisas interiores, que o homem é um ente espiritual, eterno e imortal? Nesse caso seremos capazes de enxergar, além da morte do corpo, a vida que está oculta com Cristo em Deus. Há mais de um tipo de amor, e o luto revelará de qual tipo é o nosso. A qualidade mais baixa de amor é mais uma fome do que qualquer outra coisa. Temos fome de afeto e de atenção. Reduzidos subitamente a contar unicamente com nossos próprios recursos por causa do luto, sentimos as aflições da inanicão emocional. Outra espécie de amor, e não tão superior â espécie obviamente egoísta, alivia uma tensão emocional derramando demonstrações de afeto e de cooperação sobre a pessoa amada, sem parar para indagar muito acuradamente quais possam ser as necessidades dela. Este tipo de amor, subitamente privado de sua válvula de escape e entregue a si mesmo, abala os próprios fundamentos da Natureza e é responsável por muitos colapsos após o luto. Pode parecer estranho dizê-lo, mas o verdadeiro amor não é de natureza emocional, mas sim uma atitude da alma para com a vida. O verdadeiro amor é uma radiação espiritual, como a da luz solar, e como o Sol ela brilha sobre o mau e o bom, sobre o justo e o injusto, não sendo cego à sua condição, mas amando-os por igual. Este é o amor mais nobre, e traz a salvação em suas asas. O verdadeiro amor procede de uma natureza amorosa, não de emoções estimuladas. é o único tipo que proporciona felicidade no casamento ou em qualquer outra relação na vida, e não é esse tipo de amor que leva a colapsos mentais e a extremos de pesar quando a pessoa amada é ceifada pela morte. É claro que sempre haverá choque e sensação de vazio quando alguém de cujo amor dependemos durante anos nos é tirado, pois então toda a nossa vida precisará ser reajustada à nova situação; mas o choque não deve ser tão grande a ponto de despedaçar toda a estrutura de nossa existência. Se isto ocorrer, saberemos que transgredimos o Segundo Mandamento. Erigimos um ídolo e o adoramos, em vez de conhecer e servir ao único Deus verdadeiro. Não pode haver mais que um único e verdadeiro centro de vida, e este centro é Deus. Podemos ter companheiros e caros camaradas na senda da vida, mas a vida em si mesma tem somente um centro. Se o eixo de uma roda situar-se em qualquer outro lugar que não o seu centro exato, a roda será imperfeita e será inútil. Nós e nossos entes queridos somos como os raios na roda da vida, mas tanto para nós como para eles o eixo deve ser Deus. Quando procuramos atirar o peso de nossa vida sobre um desses raios, e não sobre o eixo, estamos cometendo um erro radical, um erro que nos desequilibra em todos os planos. Se nós e aqueles a quem amamos tivermos por centro a Deus, a morte não nos acarretará nenhuma sensação de isolamento interior, pois saberemos

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que eles foram adiante de nós em direção da meta a que todos nos destinamos. Se eles retomassem a nós, depois de transpor os Portais da Morte, diriam, como o fez Cristo Ressuscitado aos discípulos que estavam lamentando Sua perda: "Eis que vou adiante de vós para a Galiléia." Para aqueles que estão unidos em espírito, a morte não passa de um separação temporária. Haverá solidão e a pessoa passará a arcar sozinha com encargos que antes eram partilhados com o outro, mas não haverá aquela sensação de aniquilação espiritual que debasta os que ajuntaram seu tesouro onde a traça e a ferrugem corroem. É esta certeza interior de um elo duradouro que constitui a âncora-mestra em tempos de luto. Para muitos, essa é uma certeza que nenhuma filosofia materialista, nenhuma demonstração lógica de mortalidade pode afetar. Eles podem não compreender as bases em que se assenta sua certeza. Para eles, isso pode ser uma crença cega, reconhecidamente ilógica. Não obstante, ela existe, é um fato da vida interior. O místico, porém, com seu conhecimento dos Planos Interiores, é capaz de explicar esse sentimento e de mostrar que se trata de uma verdadeira intuição psíquica, e que de modo algum é desprovida de lógica. Nos Planos Interiores não há tempo nem espaço como os entendemos. Estamos próximos daqueles com quem estamos em relação emocional, e distantes daqueles com quem estamos fora de sintonia. Quando há verdadeira sintonia de duas almas, elas estão literalmente juntas nos Planos Interiores, onde ter uma mesma mente é estar num mesmo lugar. Acaso não estamos cansados de saber que é possível duas pessoas viverem juntas e, no entanto, estarem tão separadas como as estrelas? é igualmente um fato da experiência interior que, se houver verdadeira união espiritual, duas pessoas permanecem em contato, não importando onde possam estar os seus corpos. Se observarmos a vida, veremos quão verdadeiro é isto. Há uma sutil diferença entre uma pessoa, homem ou mulher, bem casada e alguém que não o é. Eles não precisam estar juntos para isto transparecer, pois tal fato constitui uma sutil diferença psicológica, e a separação não a afeta. A pessoa que ama e que é amada conserva essa sensação de realização espiritual, mesmo quando separada por longo tempo de seu par. Os psicólogos bem sabem que a falta dessa união, que os esotéricos chamam de Polarização, é responsável por muitas doenças nervosas, e que tais doenças podem ocorrer mesmo em pessoas casadas, se não tiverem nenhuma afinidade e comunhão com o parceiro. Se continuarmos a amar e a ser amados, mesmo após a perda da pessoa amada, essa viuvez espiritual não acontece, e não ficamos descasados. A influência intangível do amor continua a se fazer sentir, e a personalidade continua polarizada. O vínculo da união física se enfraquece com o passar da juventude. O vínculo da união emocional se rompe com o desaparecimento da personalidade da visão física, mas o vínculo da união espiritual sobrevive a toda separação, seja de espaço ou de tempo, e continua a inspirar e a proteger aqueles a quem liga, qualquer que seja o plano em que se encontrem. O laço da união espiritual revela-se num comum idealismo, numa camaradagem nas coisas do espírito. Onde isto existir, perdurará enquanto o espírito durar, pois é tão eterno quanto Deus, que o proporcionou. Essa comunhão espiritual continua ininterrupta através da morte do corpo e de todas as experiências da alma após a morte. Não é preciso poderes psíquicos para trazê-la ao âmbito da consciência mundana. é como o som de um regato; podemos não dar por ele quando estamos ocupados com nossas tarefas do dia, mas na quietude da noite, quando todos os ruídos são abafados, ouvimos o rumor da água corrente, regular, hora após hora, e sabemos que esteve soando o dia todo, embora não o ouvíssemos.

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Quando o amor espiritual vem a nós dos Planos Interiores, só temos que aquietar nossos sentidos externos por um momento para ouvi-lo rumorejar como um regato, num fluxo regular, vindo até nós continuamente, desde a alma eterna e inabalável que adentrou antes de nós a Futura Morada. E nós, de nosso lado, se ainda amarmos, poderemos emitir também um fluxo igualmente inabalável para confortar nosso ente querido. Reunamos, pois, toda a nossa coragem para que o regato do amor não carregue consigo os detritos das esperanças mortas para os Planos Interiores, de modo a serem percebidos psiquicamente pelo nosso ente amado, vindo a contristá-lo. Mantenhamos vivas as nossas esperanças, lutando pêlos ideais que nos eram caros a ambos. Assim abriremos uma via pela qual esses ideais ainda possam ser fruídos, pois nossa convivência com nosso ente amado pode continuar na Senda do Serviço.

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O TEMPO DETERMINADO Não queremos ter para com a morte a atitude fatalista dos muçulmanos, por muito que lhes admiremos a coragem; nem tampouco o apego à vida, cheio de pânico, de muitos que se consideram cristãos. Quem quer que tenha algum conhecimento de astrologia sabe que o tempo em que a morte pode provavelmente ocorrer pode ser predito com considerável grau de segurança; mas se a pessoa teve alguma experiência prática dessa mesma arte, saberá também que aquilo que se prevê não acontece necessariamente. Há muitos fatores que devem ser tomados em consideração num horóscopo, e o julgamento é, acima de tudo, não o resultado de uma soma aritmética, da qual só pode haver um total, mas sim a opinião do astrólogo referente ao resultado final de um número indefinido de fatores que se contrabalançam. A astrologia é muito mais uma arte do que uma ciência, e o fator pessoal, tanto no consulente como no astrólogo, é muito importante. Mas ninguém pode negar que há marés de morte em todos os horóscopos, marés em que a alma pode facilmente transpor a barra e ganhar o Grande Além. As cordas, nessa ocasião, estão frouxas, e se surgir uma tensão súbita, elas podem partir-se. Por outro lado, uma força com-pensatória pode entrar em ação; a fé ou a força de vontade do próprio interessado ou de alguém que lhe seja próximo pode ser suficiente para manter a alma no corpo até que a maré tenha passado e o nó da vida se refaça automaticamente. Nesse caso, podemos literalmente dizer que se entrou numa nova vida e que haverá pouca probabilidade de morte enquanto os planetas não tornarem a assumir uma posição fatídica. é muito instrutivo examinar retrospectivamente um horóscopo, para observar como estavam os planetas durante períodos de crise no passado. Veremos que pode ter havido mais de uma ocasião em que o Anjo da Morte se aproximou de nós, mas passou ao largo. O que aconteceu uma vez pode acontecer de novo, e é tão insensato contar com a morte antes de se exalar o último suspiro como é insensato contar com os pintos antes de seus ovos terem sido chocados. Uma coisa é certa se a vida estiver pendendo na balança, o fato de se saber que um astrólogo já nos deu sentença de morte será um poderoso fator de depressão e pode servir para fazer virar a balança. A meu ver, por muito nítida que a ameaça de morte apareça num horóscopo a ser escrito, nenhum astrólogo deveria revelar esse fato, mas deve antes contentar-se em dizer que o período em questão será crítico para a saúde do consulente. Isto bastará para servir de advertência, sem induzir nenhuma auto-sugestão paralisadora. Podemos presumir, então, que há períodos em que a alma está sujeita, mas não necessariamente condenada, a sair do corpo. Esses períodos são necessariamente épocas de ansiedade, mas não precisamos adotar uma atitude fatalista relativamente a eles, deitando-nos e nos deixando morrer sem luta, só porque nossos planetas são adversos. Marte pode ter algo a dizer a Saturno, e pode dizê-lo eficazmente. Mas será uma infelicidade se a morte ocorrer antes da idade de setenta anos, porquanto, em cada encarnação, tem-se que passar por um longo período de preparação antes de atingir o amadurecimento das faculdades e de podermos começar a ceifar aquilo que semeamos. Ter de passar por outro período de infância, meninice e juventude antes que se tenha obtido pleno retorno dos valores vitais investidos no presente período é uma verdadeira desgraça, conquanto não seja necessariamente uma tragédia quando encarada sob o prisma amplo da evolução da vida. Devemos, portanto, reforçar por todos os meios a nosso alcance a batalha contra uma morte prematura; mas, esgotado nosso prazo, a menos que tenhamos

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alguma obra a terminar, bem faremos em partir tranquilamente com a maré, seguros de que nossa vida está escondida com Cristo em Deus. é melhor ir e assumir um novo corpo do que apegarmo-nos a um que está, rapidamente, se tornando inabitável. Se passarmos do nosso prazo, bem poderemos dizer como Simeão: Senhor, despede agora em paz a teu servo. Não quero com isso dar a entender que devamos evitar precauções e medidas terapêuticas comuns. é nosso dever cumprir as leis da Natureza enquanto estivermos sob a jurisdição dessas leis. E à atitude mental que me refiro. Podemos lutar ferozmente contra a morte, até a última trincheira, mantendo corpo e alma unidos pelo poder de uma vontade concentrada; ou podemos voltar nossos pensamentos para o Mundo Celestial e estender as mãos para agarrá-lo. Antes dos setenta anos, é nosso dever lutar contra a morte com recursos espirituais e materiais; mas após esse tempo, a não ser que haja alguma razão definida para continuar essa luta, como, por exemplo, obrigações não cumpridas ou obra inacabada, melhor faríamos em nos colocar nas mãos de Deus, pois ele não tornará a chamar seu servo enquanto a obra deste não estiver concluída e tiver chegado o tempo do descanso. Nunca devemos esquecer que a lei espiritual e o kar-ma não são a mesma coisa. ê o karma que provoca a morte prematura do corpo, mas é a lei espiritual que retira a alma de sua condição de encarnada quando o tempo é chegado. Forças espirituais podem ser usadas para contrabalançar um mau karma, mas não há nada que possa ou deva ser usado para contrariar a lei espiritual. Nosso maior bem está em cumpri-la. Precisamos deixar de pensar que a morte é a tragédia final. Há condições em que ela pode ser uma desgraça para todos os envolvidos; tanto para a alma que se vai como para os que estão em torno dela. Mas, por outro lado, isso pode ser o estágio seguinte na vida! Só o indivíduo atolado na matéria é que considera o Anjo da Morte como seu Grande Inimigo. Seu nome esotérico é o que abre os Portais da Vida.

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COSTUME TRADICIONAL E FATO PSÍQUICO Há muitos costumes antigos relacionados com o passamento de uma alma que se enraízam no fato psíquico e não são mera superstição. Alguns, é claro, são pré-cris-tãos e perderam sua utilidade; outros ainda são válidos e é útil observá-los. Entre estes últimos está o belo costume de pôr velas e flores frescas na câmara mortuária assim que a alma partiu. Há um breve intervalo entre a desvitalização do corpo físico e a retirada da alma do duplo etéreo. Durante esse período, a alma permanece próxima de seu veículo físico, desembarançando-se aos poucos da prisão da matéria e reorientando-se para seu novo estado. O duplo etéreo, privado de seu suprimento de prana ou vitalidade etérea, que absorve do Sol durante seu período de encarnação, e ainda não ajustado a sua nova condição, com certeza absorverá essa vitalidade de qualquer fonte de que disponha. Esse fato explica a súbita sensação de fadiga ou medo que, com certa frequência, sobrevêm aos que, por dever de ofício, têm de estar nas imediações de corpos mortos, a não ser que se tenham se escudado atrás da blindagem da insensibilidade. Os que amaram o morto são particularmente suscetíveis a essa forma de exaustão. Ora, é sem dúvida um gesto humano o de acompanhar as almas que se foram com pensamentos de amor e proteção enquanto elas estão passando por um período de ajustamento; e, em certos casos, até podemos permitir que uma alma que partiu com medo e angustiada se apegue durante algum tempo a nossa vitalidade física antes de persuadi-la a assumir o encargo de viver sua nova vida. Essas coisas devem ser ajuizadas com sabedoria e compaixão. Sempre devemos ter em mente, porém, que a ajuda que prestarmos aos mortos deverá ter por objeti-vo facilitar-lhes a transição para sua nova vida, e não para mante-los num estado intermediário, o que poderá levá-los à aquisição do hábito de mortos-vivos e, assim, ficarem presos à Terra. Há uma grande diferença entre uma relação mental e uma relação etérea. Esta última não é coisa desejável; torna-se rapidamente patológica tanto para o vivo como para o morto e nunca devemos permitir que se estabeleça. Entretanto, sempre haverá uma busca instintiva e involuntária de vitalidade etérea por parte do duplo etéreo durante o início de sua desintegração, e podemos não só proteger os vivos mas também ajudar os mortos, compreendendo a natureza desse fenómeno e agindo de conformidade com tal compreensão. O fogo é uma forma elementar de vida etérea, e a chama desprotegida de uma vela, totalmente exposta ao ar, emana uma proporção considerável de substância etérea. Se colocarmos velas acesas em torno do leito de morte de alguém e o cobrirmos com flores frescas, haverá aí suficientes emanações etéreas para satisfazer as necessidades do duplo etéreo, ajudando-o a vencer a sua etapa de transição e evitando que absorva a vitalidade dos vivos. Isso é, sem dúvida, mais natural do que permitir que o morto inicie o que pode acabar se tornando uma relação perniciosa com os que ficaram para trás, e é, ao mesmo tempo, mais humano do que não lhe proporcionar nenhuma ajuda. Não é justo deixar o morto sozinho e desprezá-lo no intervalo entre seu passamento e o funeral de seu corpo, quando a despedida final ocorre; nem é desejável ou necessário manter uma vigília contínua junto dele; mas três vezes ao dia, de manhã, ao meio-dia e à noite, é bom ajoelharmo-nos para rezar junto do corpo, ou, se isto não for possível, projetar pensamentos em direção do lugar onde ele se encontre, e imaginar-nos como

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estando ali ajoelhados enquanto rezamos. Isto representa um grande auxílio para o defunto e nunca deveria deixar de ser feito, porquanto, depois de um sepultamento cristão, este é o maior serviço que podemos prestar aos mortos. Não convém queimar incenso na câmara mortuária, porque os fumos do incenso prestam-se facilmente a uma materialização, e nosso objetivo é ajudar a alma que parte a passar mais depressa e facilmente possível pelas fases da morte e ingressar na vida espiritual, de modo que não se retarde na atmosfera da Terra, onde ocorrem as patologias da morte. Fechar as cortinas quando ocorre alguma morte é outro costume enraizado no fato psíquico. Nada dispersa um duplo etéreo tão depressa quanto a luz solar, e é para que o processo que se segue imediatamente à retirada de uma alma de seu corpo não seja indevidamente apressado que as cortinas são fechadas, impedindo-se a entrada de luz solar, e somente as chamas das velas são utilizadas para iluminar o quarto do morto. Há uma excecão a esta regra, porém, quando a natureza da enfermidade seja tal que tenha ocorrido a morte parcial dos tecidos antes da morte do corpo todo, ou quando processos de desintegração se seguem rapidamente ao passamento da alma, como é o caso de certas doenças. Pois isto significa que o duplo etéreo já estava quase fora do corpo antes da morte propriamente dita; não é, portanto, necessário esperar que a alma se desembarace do corpo; e quanto antes a substância etérea retornar à alma da Natureza, melhor. O uso de luto pesado tem um efeito marcadamente psíquico. O preto isola aqueles que o usam das vibrações etéreas, e uma pessoa assim trajada é mais prontamente capaz de entrar em contato com os planos mais sutis do que alguém vestido com roupas coloridas, pois cada cor atrai sua vibração correspondente. O costume de dobrar os sinos da igreja, no entanto, é tão pagão quanto as endechas e lamentações de um velório irlandês. Isso destina-se a afastar os maus espíritos e não ocorre num funeral cristão. Trata-se de um grande engano, e, mais que isso, de uma blasfémia, pensar em nossos entes queridos como estando mortos, ou associá-los ao pó que está voltando para a Terra de onde proveio. Devemos pensar na mente vital, no espírito eternamente vivo e que se eleva, prosseguindo em sua evolução e convidando-nos ao companheirismo com eles nessa grande aventura. é por essa razão que, do ponto de vista esotérico, a cremação é muito melhor que o sepultamento, pois liberta não só a alma do morto como também a dos vivos. Não podemos apegar-nos a um punhado de poeira impelida pelo vento como o fazemos a um corpo confiado ao chão, retornando lentamente à Mãe Terra. O último serviço terreno de amor deve ser transportar as cinzas do ente querido a algum lugar consagrado à memória da felicidade, e ali espargi-las ao vento, restituindo à Natureza aquilo que a Natureza mesma deu. Aí, como junto a um altar dedicado à memória do amor, podemos procurar restabelecer nosso contato, não com o morto, mas com o eternamente vivo, emitindo os nossos pensamentos como pássaros em direção ao Invisível. Raramente eles voltarão para nós sem a folha verde da esperança. Mas não podemos fazer isso enquanto, em pensamento, identificarmos nosso ente amado com o seu corpo morto. Restituamos esse corpo o mais cedo possível aos elementos a fim de libertarmos nosso amor da sensação de morte. Quando a cremação não fosse possível, eu então plantaria sobre a sepultura alguma árvore ou arbusto resistentes para haurir a vida etérea da Terra e despedi-la no ar. Tenho visto sepulturas que são pequenos jardins; não seladas com uma laje, mas plenas de vida e de beleza. Entre a edificação da sepultura e a deposição da laje deve decorrer um período de pelo menos um ano, e o que pode ser mais belo do que semear trigo

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sobre a terra nua para simbolizar a vida que é dada por Deus? Pois há uma lenda segundo a qual o trigo não pertence à evolução de nossa Terra, mas foi aqui trazido de outro planeta pelo Grande Uno que veio sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo nem princípio de dias nem fim de vida. Em algum lugar da decoração de uma sepultura ou de um esquife encontra-se invariavelmente a Cruz. Infelizmente, em nossa ignorância da ciência do simbolismo, é quase invariavelmente a Cruz do Calvário que é representada. Há, porém, muitas formas diferentes de Cruzes, e a Cruz do Calvário representa o sacrifício e a renúncia; é a Cruz Céltica, com sua longa haste afilada e pequenos braços, sobre a qual se sobrepõe um círculo, que é o signo da Vida Triunfante para a Salvação. Esta é a Cruz sob a qual todos os restos mortais de um iniciado deveriam repousar. Encerrar um corpo num envoltório de chumbo é um resquício de barbarismo. A alma terminou sua relação com o corpo e o abandonou. Por que haveríamos de tentar preservá-lo? O melhor esquife para os restos daqueles a quem amamos é aquele que os restitua à Terra, o mais depressa possível. Por esse motivo, o tradicional olmo é melhor do que o carvalho, pois este último é muito durável. Se não for possível confiar o corpo ao fogo rápido e purificador, deixe-se a boa Terra fazer o seu trabalho à sua própria maneira, devolvendo cada um dos elementos de mortalidade a seu devido lugar na Natureza. A alma não estará verdadeiramente livre enquanto isto não for feito. Alguma sombra da Terra permanecerá para toldar seu despertar.

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A MORTE DO CORPO O corpo humano é uma máquina cuja totalidade de seus componentes e bom funcionamento dependem, como qualquer outra máquina, de combustível. E uma máquina para gerar energia, a energia que é empregada pela personalidade no processo do desdobramento espiritual; pois é por meio das experiências, tidas durante o tempo que passa no corpo, que a alma reúne a matéria-prima que influi no processo de sua própria evolução. O ocultista que sabe estas coisas não é, portanto, um sentimental com relação ao corpo físico, mas procura mante-lo em boas condições de funcionamento enquanto o possui, porque não é possível fazer um bom trabalho com uma má ferramenta. Deveríamos aprender a pensar na morte como parte do processo de evolução. A lagarta morre na sua condição de verme para renascer como borboleta. Em muitas formas inferiores de existência, o ciclo da vida se realiza diante de nossos olhos. Nas formas superiores, no entanto, parte do ciclo transcorre na esfera visível da matéria e parte na esfera invisível da mente. O que chamamos de nascimento é o processo de assumir um corpo físico, e o que chamamos de morte é um processo de despoja-mento desse corpo; e assim como o processo do nascimento envolve mais coisas do que o trabalho de parto, assim também o processo da morte inclui mais coisas do que o passamento do alento vital. É claro que, se por morte apenas entendemos a paralisação da máquina humana, então a morte é uma ocorrência instantânea, tal como popularmente se crê. Mas, se por morte entendemos a soma total dos processos que constituem a transição de uma fase da existência para outra, estaremos falando da morte tal como o esotérico a entende, e é neste sentido que a consideraremos nestas páginas. Há duas maneiras em que a morte pode ocorrer: de maneira natural e de acordo com a lei divina; ou de maneira não natural, como quebra dessa lei. Por estranho que pareça, o esotérico não classifica a morte por doença entre as mortes naturais. As doenças são uma consequência de quebra da lei divina; de alguma forma fez-se violência à Natureza, e isto teve por resultado o colapso da máquina humana. A morte natural, a morte provocada pelas operações da lei divina, só ocorre quando o karma designado para essa encarnação foi esgotado. Enquanto isso não acontece, as forças vitais conservarão a vida da pessoa até uma idade bem avançada, como o demonstram muitos exemplos de homens e mulheres vigorosos que permanecem a serviço de Deus muito além dos setenta anos de idade. A morte natural só ocorre em consequência do desgaste das partes vitais da máquina, ou, mudando a metáfora para torná-la mais precisa, em consequência da obstrução dos tecidos. O funcionamento da máquina depende do equilíbrio entre a energia absorvida e a energia gasta, processo tecnicamente conhecido como metabolismo. A energia absorvida é sempre maior que a normalmente consumida, a fim de que haja uma reserva disponível para as emergências. Na infância e na adolescência, essa absorcão extra de energia é consumida com o crescimento; durante a maturidade, ela é empregada na reprodução. A energia não absorvida na reprodução física é, ou deveria ser, consumida na busca de alguma satisfação emocional, seja no trabalho ou no lazer. Logo que termine a fase do amadurecimento físico, o excesso de energia assumida ou expendida passa a ser armazenado nos tecidos em suas formas químicas mais compactas. Daí, o sábio refrão segundo o qual o ser humano é tão velho quanto as suas artérias.

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Há vários modos pêlos quais a morte natural pode sobrevir. À medida que o tempo passa, o coração encontra dificuldade cada vez maior para bombear o sangue pêlos canais cada vez menos elásticos das artérias; o suprimento de sangue para os vários órgãos torna-se inadequado, e um ou outro pode, conseqüentemente, desarranjar-se ou deixar de funcionar, privando assim o sistema de algum produto ou serviço essenciais e, desse modo, paralisando a máquina. Ou uma das menores artérias, geralmente no cérebro, pode ficar tão enfraquecida que não possa mais fazer face à pressão cada vez maior do sangue bombeado por um coração ainda adequado, vindo finalmente a romper-se, provocando o conhecido fenómeno do "derrame". Da mesma forma, o coração, por sua vez, talvez não consiga mais vencer a resistência das artérias, e finalmente pare seus impulsos rítmicos no momento de mais baixa vitalidade, geralmente nas primeiras horas da madrugada, e, então, a pessoa "morre durante o sono". Essa é a forma verdadeira, normal e harmoniosa de morte. Ela sobrevêm, não por alguma doença definida, mas pela tendência gradativamente crescente da fadiga, revelada (e compensada) pelo aumento regular do ciclo do sono, com uma proporção cada vez maior do dia passada em tranquilo esquecimento, até que finalmente a consciência se esvai e não retorna mais. ê assim que ocorre o passamento da alma quando cumpriu suas tarefas e já não tem o que fazer na vida terrena, nessa encarnação. A morte não natural ou patológica do corpo é produzida por algum motivo externo; seja o comprometimento mecânico de uma parte vital, seja o envenenamento dos processos vitais por alguma substância absorvida pelo corpo ou por excreções de bactérias que se alojaram nos tecidos, seja a privação de um adequado suprimento de algum fator necessário ao fornecimento de combustível para a máquina, isto é, alimentos, vitaminas, água, ar ou luz solar. Toda doença que afeta o corpo se enquadrará numa dessas três categorias, e o esotério as considera todas como formas de morte patológica, já que, sob diferentes condições, poderiam ser evitadas. Se o mal não ocorresse, a pessoa continuaria viva. Se não entrasse em contato com o germe virulento, o problema não teria tido início. Se tivesse o suprimento adequado do necessário à vida, nem demais, de modo a sobrecarregar os tecidos, nem de menos, de modo a enfraquecê-los, a pessoa estaria viva ainda hoje. Sempre podemos dizer acerca dessas formas patológicas de morte que, se tal ou qual coisa não tivesse ocorrido, o óbito não se consumaria. Por conseguinte, dizemos que essas mortes não são naturais, e se estivéssemos vivendo na idade de ouro da perfeição terrestre, elas não teriam ocorrido. A forma normal de morrer é durante o sono, em idade extremamente avançada.

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INDO AO ENCONTRO DA MORTE Se a ideia de a Morte vir ao nosso encontro nos enche de terror, tratemos nós de ir calmamente ao encontro dela. Essa ideia pode parecer estranha, mas há nela muita sensatez e tem bastante valor prático. Existem várias religiões, notadamente a Católica Romana e a Budista, que instruem seus seguidores a meditar regularmente sobre a sua própria morte. Trata-se de uma disciplina muito valiosa, e todos faríamos bem em praticá-la. Essa meditação em nossa própria morte, todavia, não deve dizer respeito à dissolução do corpo. O corpo não é o verdadeiro eu. Quando dele nos despojamos, não passa de argila comum e nós não mais estamos, de modo algum, relacionados com ele. Que os vivos cuidem bem dele por razões sanitárias, não por motivos supersticiosos. Devemos pensar em nós como escapando do corpo, como libertando-nos de suas limitações, e passar a imaginar o tipo de vida que levaremos quando isso acontecer. Podemos ver-nos encontrando-nos com os amigos que nos precederam na transposição dos Portais da Morte. Se a morte nos parece iminente, podemos enviar-lhes mensagens telepáticas solicitando que venham ao nosso encontro. Se realmente estivermos nos aproximando do Limiar, não é improvável que obtenhamos alguma resposta da parte deles. Podemos estar certos de que farão o melhor que puderem para nos enviar algum sinal do outro lado do golfo, no sentido de nos encorajar; mas, a menos que tenhamos algum grau de desenvolvimento psíquico, podemos deixar de perceber a resposta. Eu mesmo, por exemplo, testemunhei um caso em que uma mulher que perdera recentemente uma irmã a quem muito amava estava sentada junto ao fogo, certa noite, procurando entrar em conta-to com ela, por telepatia. Ela experimentou fazê-lo durante algum tempo sem êxito, quando suas tentativas de concentração foram perturbadas pelo cão da irmã, que estava deitado a seus pés e que parecia estar caçando em sonhos, como os cães costumam fazer. De súbito, ele despertou e olhou em redor surpreso como se esperasse ver alguém, e depois pôs-se a correr de um cómodo para outro da casa latindo alegremente. Era a primeira vez que mostrava qualquer interesse ou animação desde que sua dona falecera. Minha amiga era de opinião que tinha conseguido invocar a irmã mas não fora capaz de percebê-la; os cães, no entanto, são notoriamente psíquicos, e o animal de estimação da mulher morta tinha-lhe pressentido a presença, tendo sua experiência sido interpretada em sonho, como as nossas também o são, e ele acordou firmemente convencido de que vira a dona, a ponto de correr pela casa, latindo, à sua procura. Minha amiga disse-me que nada poderia ser para ela mais convincente do que essa simples manifestação da experiência de um cão. Mas, além dos amigos pessoais em cuja afeição confiamos, há outros, nos Planos Interiores, cuja companhia podemos procurar e com os quais podemos travar conhecimento, mesmo antes de nossa morte. Podemos recordar a promessa de Nosso Senhor: "Não vos deixarei sem conforto", e rezar a Ele para que nosso guia nos seja dado a conhecer ainda em vida, para que possamos transpor o Limiar com confiança, quando chegar a nossa hora. Mas não tem sentido fazer isto, a menos que a morte esteja próxima, porque os guias mudam de tarefa nos Planos Interiores, sendo a de encontrar-se com os mortos uma das primeiras de que são encarregados, dedicando-se depois a outros misteres. Eles só vêm à praia aguardar nossa chegada quando o barco da alma já soltou as amarras. Uma pesquisa feita pêlos espiritualistas revelou quão importante obra é feita nessa parte do mundo espiritual contíguo ao plano terreno. Há

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fartos indícios de inúmeras fontes de que os bandos de auxiliares invisíveis são altamente organizados, e que nenhuma alma transpõe sozinha o Limiar, sem ser assistida. Quando um barco está para partir, ergue a bandeira, e toda sua tripulação sobe apressadamente a bordo. Quando a alma está para partir do corpo, também dá um sinal, e há aqueles nos Planos Interiores cuja função é observar esses sinais e cuidar para que toda alma que faz essa travessia seja guiada, guardada e bem acolhida, à proporção que se liberta dos limites do tempo e do espaço. Mesmo quando a Estrela da Morte está abaixo do horizonte, faremos bem em nos familiarizar com a natureza dos estados de além-túmulo, a fim de podermos nos acostumar com a ideia de que eles existem e para que não nos pareçam estranhos ou terríveis. Desse modo, podemos despojar a morte de seus terrores de uma maneira mais eficaz do que qualquer outra. De mais a mais, podemos encontrar alguém que esteja atormentado pelo terrível e cruel medo da morte, que secretamente aflige tantas pessoas que foram educadas segundo os velhos conceitos de Morte e Inferno. é algo que pouquíssimas pessoas confessarão espontaneamente, e o fato de conhecer alguém que escapou dessa escravidão pode ser como uma luz brilhando nas trevas sobre elas. Em nossas meditações sobre nossa própria morte, não nos concentremos tanto sobre o passamento como sobre a vida em que estaremos entrando. Pensemos alegremente sobre as novas esperanças e novas atividades que se estarão descortinando diante de nós. Estaremos livres do estorvo do corpo que, à medida que nossa hora se aproxima, torna-se cada vez mais um empecilho para o desempenho de nossas atividades; ressuscitaremos no Corpo de Luz, como era chamado pêlos antigos; o fardo da velhice e da saúde precária se afastarão de nós e seremos vigorosos de forma e teremos uma consciência clara e eufórica. Por ocasião da morte, nós assumimos literalmente uma nova etapa de vida. Entraremos nessa nova vida com todo vigor e entusiasmo da juventude, pois teremos, na verdade, renascido.

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O LADO OCULTO DA MORTE Até mesmo os processos da morte física não são, nem de longe, tão simples como crê a imaginação popular, e foi o conhecimento dos aspectos mais sutis da morte que deu origem a muitas práticas fúnebres dos antigos, que hoje consideramos mera superstição. Com o passamento do alento vital, a própria alma se vai e não está mais relacionada com o despojo do corpo do que o pinto com a casca do ovo. Mas aqueles que ficaram ainda estão relacionados com esse corpo, e alguns dos problemas mais sutis do choque do falecimento se devem aos processos pouco compreendidos por que passa a argila descartada. Temos duas tarefas a realizar antes que nosso auxílio a nosso ente querido seja dado por concluído; devemos tomar providências para que o pó torne ao pó o mais rápido e harmoniosamente possível, não dando ocasião a nenhum daqueles acontecimentos que se pode chamar de patologias da morte, e devemos acompanhar a alma que se retira com o tipo certo de comunicação telepática, até que ela se estabeleça em segurança no Outro Lado e queira entrar em seu descanso por certo período. Esses dois aspectos dos últimos serviços prestados ao que se foi são de muito grande importância, merecendo de nossa parte a mais séria atenção. Além disso, nada nos ajudará mais em nossa dor do que sentir que ainda há algo a fazer por aqueles que nos deixaram, e que não estamos livres para embarcar numa imoderada demonstração de emoção, como o faríamos se não tivéssemos que pensar mais do que em nós mesmos. Estudemos primeiro o que acontece com o corpo abandonado e vazio imediatamente após a partida da alma, pois isso orientará nossa atitude para com ele e nossa maneira de com ele lidar. Em primeiro lugar, a partida da alma significa apenas a morte do sistema nervoso central, pois ainda resta muita vida orgânica no corpo. Ele não morre todo de uma vez. Na verdade, já alguns dias antes da morte, ou mesmo muito antes, a alma pode ter estado fora do corpo, flutuando no fim do cordão prateado, alguns centímetros acima da cama, com aparência de fantasma adormecido e claramente visível a qualquer médium. Enquanto perdura essa condição, há profunda inconsciência em todos os planos è nenhum sofrimento. Só quando o cordão prateado é rompido é que a alma parte e a morte efetivamente ocorre. A súbita recuperação das forças e o retorno da consciência no final se devem ao fato de que a alma, que recobra a consciência em seu próprio plano à medida que o fim se aproxima, faz um último esforço para se concentrar no corpo a fim de que o processo conhecido pêlos ocultistas como gravação do átomo-semente possa ocorrer com eficiência. Esse átomo-semente é um núcleo de força, do mesmo tipo existente no plano físico, que é conservado pela alma em todo o decorrer de sua evolução e que representa um papel importante no processo do renascimento. O termo gravação é obviamente metafórico e representa a sintonia desse núcleo com um certo tipo de vibração e sua impressão com certas imagens. Se isto já tiver ocorrido, a alma está madura para morrer e a última recuperação de forças pode não ocorrer; portanto, a ausência desse derradeiro esforço não significa que o processo de morte não esteja ocorrendo como deveria. Por outro lado, quando ocorre uma morte violenta, se o corpo for de tal modo destroçado que a morte venha a ser instantânea, nenhuma gravação do átomo-semente será possível. Por conseguinte, os esotéricos sustentam que a alma busca de imediato o renascimento, antes que a segunda morte ocorra, e de maneira igualmente rápida torna a passar, tendo assumido um corpo físico pelo tempo apenas necessário para permitir-lhe deixar a vida na devida forma. Mães e parteiras costumam dizer que recém-nascidos com

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extraordinária aparência de inteligência e maturidade nos olhos não vingam. São olhos de uma alma adulta que elas ali vêem e tudo o que essa alma deseja delas são os ritos fúnebres de acordo com sua fé. Seu objetivo não é viver, e sim morrer adequadamente. Pode parecer que isso inflige um grande sofrimento à mãe que fez um grande sacrifício para trazer essa criança ao mundo apenas para, em seguida, perdê-la; mas, se examinarmos os registros kármicos do caso, e nenhum ocultista jamais tentaria julgar a questão à luz de uma única encarnação, veremos que ou há uma dívida kármica no passivo, que dessa forma é quitada, ou então, se nenhuma dívida desse tipo puder ser rastreada, foi aberta uma linha de crédito kármico. A questão do crédito kár-mico é um ponto frequentemente esquecido. Por vezes, os Senhores do Karma têm uma dívida para conosco que nos permite termos um daqueles súbitos golpes de sorte que não podemos explicar por meio de qualquer hipótese que apenas leve em conta uma única vida. O Bom Sa-maritano, o estrangeiro que nos presta um serviço totalmente inesperado, pode ser uma alma para quem abrimos as portas do nascimento e da morte numa vida anterior. Logo, porém, que a alma tenha se retirado em segurança, ocorre uma mudança. Qualquer pessoa sensível pode perceber a diferença entre a atmosfera da câmara mortuária^ por mais pacífica que seja, e a atmosfera do quarto do morto. Durante a vida, o homem está sob o domínio do Arcanjo de sua raça e do Salvador de sua religião; mas após a morte esse domínio é abolido; ou antes, ele segue a alma e deixa o corpo entregue a seus próprios enganos como coisa já sem nenhum préstimo. O corpo desocupado passa então ao domínio dos Regentes dos Elementos, e as forças elementares da Terra, do ar, do fogo e da água tiram cada qual o que lhes pertence e o restituem a seus próprios reinos. Nesse processo, eles são assistidos por certo tipo de vida que pertence ao mais primitivo tipo de existência e que depressa vai deixando de se manifestar; refiro-me aos organismos unicelulares que vivem na matéria morta, as bactérias saprofí-ticas que causam a decomposição. As bactérias parasitas que se nutrem de tecidos vivos e provocam doenças são outra coisa. Elas pertencem a certas formas de vida do passado que, desafiando a lei da evolução, recusam-se a retirar-se do plano físico. São rebeldes às leis cósmicas, e o conhecimento progressivo lhes está gradativamente tolhendo a manifestação. A estranha "sensação" da câmara mortuária e o medo que muita gente experimenta de um corpo morto são provocados por essa abertura das portas dos reinos elementares. Os seres dos elementos estão presentes e ativos quando a matéria orgânica precisa se desintegrar e voltar a suas respectivas esferas. Pessoas sensíveis sentem a presença deles, e como os elementos pertencem a uma forma de vida muito primitiva, acham-nos perturbadores. é por essa razão que não convém que os vivos permaneçam na vizinhança imediata dos mortos. Existem, porém, quatro poderosos Arcanjos, denominados Arcanjos dos Elementos, que governam os reinos elementares como senhores supremos em nome de Deus. São eles Rafael, Miguel, Gabriel e Uriel, e equivalem aos quatro Evangelistas da tradição cristã. Daí a oração infantil: "Quatro anjos rodeiam meu leito, / Dois aos pés e dois à cabeceira. / Mateus, Marcos, Lucas e João, / Guardam a cama em que me deito." * Todo rito fúnebre deve encomendar o corpo aos cuidados desses quatro grandes espíritos que assistem perante o Trono. Quando são invocados, verifica-se que a atmosfera algo sinistra, que às vezes se sente numa câmara mortuária, imediatamente se ergue e clareia. A volta ao pó por parte do corpo, entretanto, é apenas metade do processo da morte física, pois há um outro corpo, igualmente físico, igualmente

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mortal, que se chama duplo etéreo. Pode-se muito bem chamá-lo de corpo de eletricidade, pois é um sistema organizado de tensões ele-tromagnéticas e em suas malhas toda célula e fibra do corpo físico está como uma garrafa numa prateleira. Ele transmite a toda molécula do corpo a força vital que impede a desintegração e mantém os compostos instáveis de matéria orgânica em suas formas elaboradas e fugidias. A retirada desse duplo etéreo é que marca o momento crítico da morte, em que se vê cessar o alento vital. Incorporada nele, a alma permanece em estado de inconsciência durante um breve período, de algumas horas a três dias; se a retenção do corpo etéreo se prolongar além desse prazo, ou se a alma despertar para a consciência enquanto ainda estiver no duplo etéreo, terá ocorrido uma das patologias da morte. É esse despertar da alma ainda no duplo etéreo que, na fraseologia popular, faz o seu fantasma vagar no espaço. Mas, no tempo determinado, a menos que aconteça alguma coisa anormal, as forças magnéticas desse corpo de eletricidade ter-se-ão esgotado; será como uma bateria que se gastou e a alma deslizará para fora de suas malhas, não tendo mais nenhum elo de ligação com a matéria. Mas não é a isto que chamamos de Segunda Morte; é, antes, a segunda metade da morte física, e, enquanto ela se processa, a alma está adormecida no mais profundo estado de inconsciência. Ver-se-á agora por que não convém tentar entrar em contato com uma alma logo que ela tenha partido, pois poderemos despertá-la de seu sono etéreo e fazê-la "vagar". Não se conclua daí que os esotéricos condenem a comunicação com os mortos; mas há uma forma certa e uma errada de efetuar essa comunicação. Há ocasiões em que ela pode ser feita com segurança e utilidade, e há ocasiões em que seria melhor adiá-la, e precisamos saber essas coisas para podermos lidar com a morte da maneira certa. Nosso pensamento moderno coloca os adultos em relação com os mistérios da morte, na mesma posição que as crianças em relação com os mistérios do nascimento; há uma conspiração de silêncio que confunde a questão e nos põe em grave desvantagem no trato de nossos problemas. * Ou, no original: "Four angels round my bed, / Two at the foot and two at the head. / Matthew, Mark, Luke and John, / Guard the bed that I lie on."

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O PURGATÓRIO Já mencionamos o trabalho misericordioso da Grande Anestesista, que faz cair um profundo sono sobre a alma enquanto esta sai pêlos portões do corpo. O corpo etéreo se enfraquece e dela se desprende imperceptivel-mente, e ela dorme naquele estado de consciência que os ocultistas chamam de plano astral. Mas, logo a alma começa a sonhar. As lembranças de sua vida terrena ainda estão presentes nela, embora enfraquecidas e distantes, como as recordações da primeira infância. Mas ela não sonha com esses acontecimentos assim como eles parecem a nós, que participamos deles; em vez disso, ela os revê do ponto de vista de seu atual estado de existência. Ela está no Mundo do Desejo, e vê esses fatos do ponto de vista dos desejos realizados ou frustrados. Mas, como o cérebro já não estorva a consciência, a alma não só está consciente no plano de sua existência atual como a consciência superior também está desperta e ativa, e durante todo o tempo em que essa fantasmagoria onírica se processa, o ser superior exibe o espelho para a consciência e pede que a alma nele se mire. Durante todo esse tempo, os modelos espirituais inexoráveis lhe são mantidos diante dos olhos. A alma, forçada a contemplá-los, inicia uma luta severa em proporção com o seu afastamento dos padrões espirituais. Nada explica tão bem esses estados quanto a terminologia da psicologia analítica. A alma está convulsionada por um conflito entre os seus aspectos superior e inferior. Esse conflito é subjeti-vo e se exprime pelas imagens do sonho astral, e então se diz que a alma está no Purgatório. Pois o Purgatório é simplesmente a compreensão forçada da importância de nossos próprios erros. Seu cenário, tantas vezes descrito por santos e médiuns é, "da mesma matéria de que se fazem os sonhos", os sonhos das almas obrigadas a encarar a verdade. Esse cenário, portanto, não é, de modo algum, puramente fantástico, mas tem relação simbólica definida com os problemas da alma, da evolução e das reações cósmicas. Toda alma tem seu próprio simbolis-mo pessoal, derivado das experiências de sua própria história, precisamente como vemos na psicanálise dos sonhos. Além disso, ela possui o simbolismo dos tipos de sua crença religiosa, que partilha com todos, os membros de sua mesma fé. Assim sendo, o inferno do cristão diferirá de muitas maneiras do inferno do muçulmano. Por outro lado, ambos terão muito em comum, porquanto há certos tipos de símbolos que são comuns a todos os seres humanos sensíveis, sendo formados por sua experiência comum, como a dor de sofrer uma queimadura e a agonia da sede. A cada alma individual é ensinado, por essas imagens oníricas, que o pecado acarreta sofrimento inevitável, pois lhe são mostradas as consequências de sua maldade ou loucura, sem que possa desviar os olhos disso. Ela sente em imaginação como sentiria se efetivamente passasse para o estado representado por seus sonhos. O ambicioso Sísifo rola a sua pedra eterna morro acima e não descansa; Tân-talo, o sedento, vê a água fugir-lhe dos lábios. Assim, cada qual aprende a reconhecer a inutilidade de suas fraquezas. Os iniciados jamais acreditaram na terrível doutrina do castigo eterno. Nenhum médium jamais confirmou essa crença, nenhum espírito ao retornar do além-túmulo jamais a noticiou. Que poderia o homem fazer, no breve espaço de tempo entre nascimento e morte, para merecê-lo? Mas todo espírito indica a existência do Purgatório e manifesta um sadio respeito por ele. Mas o que nele existe não são as chamas do tormento eterno e sim os fogos purificadores que depuram a alma, da mesma forma

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que o ouro é provado na fornalha até que toda sua escória seja consumida pelo fogo e o metal se torne puro e precioso. Não se afirma, entretanto, que a escória de uma evolução possa, toda ela, ser consumida no purgatório de uma única morte. Poucas almas serão tão puras e vigorosas que possam suportar uma provação tão severa sem que suas fibras se desintegrem. Por isso, num único processo de purificação não nos é mostrado mais do que podemos suportar e aproveitar. É-nos permitido desfazer certa proporção de nosso Karma, e depois voltarmos à Terra com o karma restante ainda atado ao pescoço, e é esse karma ainda não expiado que causa os nossos sofrimentos na vida seguinte. E assim, gradativamente, com o que compreendemos no Purgatório e com o que corrigimos na Terra, compensamos o nosso karma e ajustamos o equilíbrio. Assim a alma promove o seu desenvolvimento. Mas, conquanto o Purgatório seja antes de tudo uma experiência subjetiva, ela não é totalmente subjetiva. Os sonhos e as sensações vívidas das almas submetidas a essa experiência criam uma atmosfera muito definida em seu redor. No plano astral não há tempo e espaço como os compreendemos, mas um estado de espírito representa um lugar, e aqueles que estão no mesmo estado emocional são atraídos mutuamente. Acaso não podemos facilmente entender que a atmosfera criada por todas as almas, atualmente desencarnadas, que estão lutando com o ódio frustrado ou com a luxúria insaciada, compõe o cenário do seu próprio Inferno com os éteres plásticos astrais? Todos os que odeiam, todos os que cobiçam, se congregam entre si, e é em grande parte a atmosfera cumulativa que eles criam o que causa a catarse do tipo superior de alma, a alma com possibilidades de redenção. A menor transgressão, que parece desculpável para nós, afigura-se muito diferente quando nos vemos no meio de uma esfera onde inúmeras almas a levam a todos os extremos e nos vemos obrigados a viver em sua atmosfera. Os prazeres da carne, que podem não parecer nocivos quando praticados por uma pessoa num ambiente de outra forma imaculado, provocarão náuseas até a seu mais empedernido habitue quando este é compelido a praticar o vício de sua escolha em companhia de milhares de outros que estão fazendo exatamente a mesma coisa, e não lhe é permitido parar quando saciado, porque o impulso irresistível o impele, quer queira quer não. Este é o meio mais eficaz de curar os pecados da carne, e os Senhores do Karma fazem pleno uso dele. Se, entretanto, uma alma se colocou em grande parte acima de suas fraquezas durante a vida, ou se não estiver profundamente imbuída delas, sua visita ao ardente remoinho do Purgatório será breve, pois sua luta para resistir à corrente, depressa fará que seja atirada à praia, livre. Mas, ninguém pode escapar à experiência de encarar as próprias fraquezas em companhia de outros com pendores semelhantes. Nenhuma quantidade de missas, velas e orações lhe poupará isso. Podemos, no entanto, concentrar sobre as almas uma corrente telepática que focalizará as forças espirituais sobre elas, assim fazendo-as chegar à compreensão e a reagir mais rapidamente. Em suma, podemos aplicar a cura espiritual às almas no Purgatório. Muitas pessoas experimentam grande ansiedade com relação ao destino de algum ente querido que morreu em pecado e sem arrependimento. Talvez lhes sirva de conforto saber que forças espirituais curativas podem ser aplicadas de maneira tão eficaz às almas do Purgatório quanto o "tratamento ausente" pode ser ministrado às almas encarnadas. Recordemos sempre que, se podemos nos comunicar telepaticamente durante a vida, não teremos dificuldade em fazê-lo após a morte. Pois, se as mentes podem comunicar-se sem meios materiais enquanto estão sobre a Terra, essa faculdade não será materialmente afe-tada quando qualquer delas não mais

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dispuser de nenhum meio material com que comunicar-se, tendo de depender exclusivamente da mente para isso. Uma das disciplinas ocultistas consiste em recordar cada noite os acontecimentos do dia em ordem inversa, isto é, da noite para a manhã. Embora isto possa ser, a princípio, um pouco confuso, pois a mente, por certo, procura seguir sua sequência habitual de causa e efeito, a pessoa logo se acostuma ao processo e não experimenta nenhuma dificuldade. Há duas razões para a prática dessa operação. A primeira é acostumar a mente a operar fora de sua sequência normal e, desse modo, capacitá-la a penetrar o véu do nascimento e recuperar memórias de encarnações passadas, e a outra é manter a dívida kár-mica dentro de limites. Efetuando diariamente a catarse, ou depuração, de quaisquer erros que tenhamos praticado, evitaremos que nossa dívida espiritual se acumule. é claro, no entanto, que se meramente fizermos essa catarse cada dia, e no dia seguinte repetirmos os mesmos erros, não estaremos obtendo nenhum benefício, pois embora possamos ter neutralizado aquela porção específica de karma, estaremos adquirindo muito mais de uma natureza ainda mais desagradável, pois estaremos garantindo para nós lugar no inferno reservado aos hipócritas, e é difícil imaginar algo mais penoso do que o desmascaramento de um hipócrita até as profundezas de sua alma egoísta e covarde. Os moinhos de Deus moem muito fino e não tão devagar, se considerarmos bem as coisas. Tenhamos em mente, porém, que o Purgatório não é nem punitivo nem retributivo, mas tem uma função essencialmente restauradora para a alma. O cautério do fogo do inferno faz a assepsia dos ferimentos que a vida nos infligiu. Há cura após essa cauterização. Procuremos, pois, limpar-nos, durante nossa época de vida terrena, de todas as coisas que praticamos de errado, por maldade, erro, ou fraqueza. Se nos pudermos livrar de nossas tendências malignas, o inferno não precisará nos ensinar nossas lições, pois já as teremos aprendido. E, finalmente, quando chegar nossa hora de morrer, partamos com coragem, sabendo que nosso sonho mau não durará muito; indo ao Purgatório como iríamos ao dentista, sabendo que vai ser mais ou menos doloroso, mas não mais do que se pode humanamente suportar e sem grande prejuízo. E acima de tudo, devemos entender que estamos em mãos competentes.

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O MUNDO CELESTIAL Ouvimos muita coisa acerca do Mundo Celestial em comunicações espiritualistas, e muita gente acha essa ideia repulsiva, pois considera que tudo é representado como sendo muito material. Essas pessoas lêem que um certo Raymond estava fumando charutos e tomando champanhe, e sentem que o Céu está abaixo das expectativas. Ou lêem a respeito de um chão de ouro e um perpétuo entoar de harpas, e acham que isto tampouco lhes é atraente. Um tipo muito superior de Céu é descrito pêlos espíritos, que nos dizem que o artista pinta maravilhosos quadros sobre telas ilimitáveis; ou o cientista penetra os segredos da Natureza simplesmente olhando para eles. Apesar de tudo isto nos parecer propositadamente deleitoso, sentimos instintivamente que há algo errado, pois toda essa história não parece verdadeira. De mais a mais, achamos que nos aborreceríamos muito, mesmo que fosse verdadeira, pois não há prazer num estado de perfeição eterno e sem obstáculos. ê que grande parte de nossa alegria de conseguir realizar algo está no triunfo sobre as dificuldades enfrentadas. Não pode haver essa alegria num Céu em que não se precise fazer nenhum esforço. Para muita gente, também, não poderia haver alegria alguma num Céu que não incluísse os seus entes queridos. Ora, que temos a dizer em face de todos esses enunciados contraditórios que violentam os nossos instintos mais profundos? Não podem ser todos verdadeiros. Mas, serão todos mentirosos? Como fazer para entendê-los? Primeiramente, temos de compreender que o Céu é um estado de consciência, não um lugar. A mente pura é independente de tempo e espaço, como sabemos por nossos sonhos, tanto os sonhos do sono como os da fantasia diurna. Podemos imaginar que estamos no antigo Egito ou na velha China, e para todos os propósitos de consciência estaremos lá durante esse tempo. Contemplamos as cenas, ouvimos os sons desses tempos e lugares em proporção à vivacidade de nossa imaginação. Quando morremos, somos apenas mentes desencarnadas e obedecemos às leis da consciência onírica. O Purgatório é o nosso sonho de remorso e purificação, e o mundo do Céu é a realização de nosso desejo. Freud conta a história do menino cuja ração de cerejas foi limitada por sua mãe cuidadosa, e que, despertando na manhã seguinte, anunciou que "Hermann comeu todas as cerejas". Seu sonho satisfizera o desejo insatisfeito da véspera. Portanto, no sono da morte, os sonhos que nos vêm durante nossa fase celestial são realizações de desejos. Mas são algo mais que a simples satisfação da fantasia. Surgem da profunda ruminação que a mente faz de suas esperanças e ideais. Estes podem não nos parecer muito elevados, mas representam a fase de experiência através da qual essa alma específica está passando em sua evolução, e pode ser preciso que essa alma passe pela realização de suas esperanças a fim de que isso lhe sirva de lição. O Céu muçulmano com suas huris pode não oferecer atra-tivos para os ocidentais, mas tem sido potente para enviar milhares de devotos fanáticos à morte sacrificial para que sua fé pudesse se espalhar entre os infiéis, e essa fé tem representado uma grande força para o bem entre tribos tão primitivas que não podiam reagir a um atrativo mais requintado. Não devemos julgar o Céu alheio por nossos próprios padrões. O Céu de nosso próximo é a realização de seus desejos, não dos nossos. Precisamos encarar o fato de que o Céu de um ventanista seria repleto de facilidades para o furto em residências.

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Quando invocamos os espíritos dos que já se foram desta vida, a fim de nos falarem sobre suas experiências no Mundo Celestial para o qual foram, estamos ouvindo o relato de seus sonhos durante o sono da morte. Só quando temos a sorte de nos deparar com alguma alma já livre do ciclo de nascimento e morte, e que esteja dando prosseguimento a sua obra de benemerência para a humanidade nos Planos Interiores, em vez de entrar em seu repouso, em outras palavras, só quando entramos em con-tato com um Mestre, é que ouviremos um relato do Mundo Celestial que nos proporcionará uma real compreensão da natureza desse mundo e da relação de suas partes com o todo. A narração fornecida por uma pessoa recém-falecida é comparável ao relato feito sobre o funcionamento de um grande hospital por um de seus internados. Ele só vê uma pequeníssima porção do todo e não tem meios de avaliar-lhe a importância. O relato fornecido pêlos guias, espíritos-amigos que nos auxiliam e por outros que têm por função assistir os mortos, equivale ao que poderíamos receber das enfermeiras estagiárias do mesmo hospital. Só quando ouvimos os médicos ministrando aulas aos estudantes é que começamos a compreender a importância e o escopo da grande instituição que estamos investigando. O Purgatório é um hospital de almas doentes, onde estas sofrem operações. O Mundo dos Céus é antes um lar para convalescentes e depois uma escola. Para alguns pode até ser uma Faculdade. Nas partes baixas do Céu, tão frequentemente descritas em comunicações oriundas dos Planos Interiores, as almas descansam e se recuperam, lendo sonhos agradáveis que as acalmam e as fazem felizes. Mas, tendo preenchido sua finalidade, essa fase passa e dá lugar à seguinte. Para compreender a importância dessas fases entre as encarnações, precisamos entrar mais a fundo na filosofia do assunto. Como já observamos, o Céu, e também o Inferno, são estados de consciência, não lugares. Mas se compreendermos os fatos reais da matéria veremos que também a Terra é um estado de consciência. A física moderna está demonstrando conclusivamente que a matéria é apenas uma forma de força que, devido ao fato de estar em equilíbrio, nos parece estática. Não existe matéria densa assim como é entendida popularmente. Quando você "esfola a canela" num caixote, está realmente tropeçando em resistências elétricas. A encarnação é o estado de consciência que percebe essas formas de força. A desencarnação ou morte é o estado de consciência que não as percebe mais, que se tornou subjetivo e só percebe o conteúdo de sua própria consciência. Na morte, as portas dos sentidos se fecham. De outro modo, a pessoa não sofre alteração. Na verdade, até podemos dizer que, do ponto de vista da alma, a morte é apenas o fechamento das portas dos sentidos. Se a consciência de uma pessoa estiver inteiramente limitada aos cinco sentidos físicos, conquanto tais pessoas sejam raras, ela estará tão fechada em seus próprios pensamentos e tão inacessível quanto alguém que dorme inconsciente numa cama. Mas esse sono da morte não produz outra coisa além de sonhos agradáveis e de repouso? Não, ele faz bem mais que isso. Qualquer indivíduo familiarizado com a prática do trabalho mental e da meditação sabe quão poderosa é a concentração da mente em algum ideal espiritual. As serranias do Céu são as montanhas da meditação. A alma, apartada das impressões sensoriais, está construindo for-mas-pensamento e se auto-sugestionando. Esses processos representam um importante papel na formulação dos veículos de incorporação quando chega o tempo de reencarnar. O artista que sonha com as suas telas cósmicas está criando uma faculdade. Na Terra a realização de sua visão estava limitada pela habilidade manual e pela capacidade visual. No Mundo Celestial ele não

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sofre essas limitações, e por isso dá corpo a sua visão tal como a vê. Isso lhe adestra a faculdade, e quando ele reencarna já terá feito alguns progressos no sentido de criar para si mesmo um veículo físico em que mãos e olhos cooperarão com a visão interior para lhe darem forma. O esforço de uma vida após outra, juntamente com os períodos intervalares de meditação nos Planos Interiores, aos poucos leva a alma a tornar-se aquilo que ela deseja ser. Se os seus desejos forem indignos ou falsos, os períodos regulares que passar no Purgatório lhe neutralizarão os esforços. Como a tela de Penélope, o que foi tecido de dia é desfeito à noite. As coisas que chegamos a compreender na vida terrena, mas não obtemos, são alcançadas no Céu. Essa realização subjetiva constrói a faculdade e voltamos à reencar-nação com o poder de realização latente em nós. A vida já terá realizado sua obra em nosso favor quando proporciona compreensão, embora não sejamos capazes de alcançar essa compreensão, pois só na vida seguinte isso estará a nosso alcance.

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A COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS A questão da comunicação com os mortos é muito controvertida. Algumas pessoas a consideram isenta de todo elemento de risco ou mesmo de erro, e acham não só desnecessário mas até insultante tentar "provar se os espíritos são de Deus". Outros, e entre eles muitos ocul-tistas, consideram qualquer tentativa de comunicação com os mortos sujeita e grandes dificuldades e nociva tanto aos mortos como aos vivos. Como em muitas outras questões, a média entre os extremos representa o caminho da sabedoria. Examinemos essas duas posições para ver onde se encontra esse caminho mediano. Procuremos entender os fato-res envolvidos na comunicação com os que já se foram e considerar os princípios que devem governar nossas relações com eles, quer estejamos ou não em comunicação consciente com os mesmos. Enquanto viverem em nossa lembrança haverá uma relação psíquica entre nós. Enquanto sentirmos qualquer emoção com relação aos mortos, seja de amor, de pesar, de ressentimento ou de medo, estaremos ativamente em contato com eles; afetá-los-emos e eles nos afetarão. Devemos, por isso, procurar por todos os meios a nosso alcance estabelecer relações cor-retas com os que já morreram, e o meio mais eficaz de estabelecer essas relações é possuir um conhecimento preciso das condições que existem entre uma vida e outra. A pessoa que acabou de morrer ainda está no mesmo tipo de consciência em que estava no plano terreno. Ela desperta do sono da morte em que foi precipitada pela Grande Anestesista exatamente na mesma condição mental em que estava antes de seu passamento. Nesse estado, ela é facilmente acessível do plano terrestre. Essa condição porém logo se enfraquece, a não ser que suas lembranças sejam renovadas e mantidas vivas mediante comunicações através de um médium. Se a alma desencarnada tiver um caráter normal e harmonioso, não trará prejuízo algum, nem aos mortos nem aos vivos, a troca de saudações durante essa fase do período desencarnado. Na verdade, se a alma que partiu tiver algum problema não resolvido na mente, ou se estiver ansiosa a respeito de seus entes queridos, será muito vantajoso dar-lhe a oportunidade de aliviar-se e de completar quaisquer arranjos que foi incapaz de ultimar antes de morrer. Às vezes, as almas não conseguem repousar antes de fazerem isto, e permanecem nesse estado intermediário, procurando ansiosamente se fazerem ouvir no plano terreno. A tais almas, um médium pode ser de grande utilidade. No entanto, devemos sempre lembrar, ao lidar com os que já se foram, que, num processo de morte normal, essa fase é comparativamente breve, coisa de meses quando muito, e se mantivermos a atenção da alma desencarnada focalizada no plano terreno por efeito de continuamente "invocá-la" através de um médium, ela pode deixar de cair no segundo sono que anuncia a Segunda Morte. Podemos, na verdade, levá-la a desenvolver insónia astral e ela ficará "vagando", como tão expressivamente se costuma dizer. Pode acontecer de os espíritos ficarem presos à Terra simplesmente porque são impedidos por longo tempo de entrar em seu sono astral, e adaptam-se a uma situação intermediária em vez de prosseguir com os processos da morte e atingir a fase seguinte dos estados entre as vidas. Em geral, embora seja justificável que nos comuniquemos uma ou duas vezes com aqueles que amamos, depois que eles já se foram, é desaconselhávei continuar a fazê-lo indefinidamente, pois é prejudicial tanto para eles como para nós. Eles, de um lado, precisam ficar em paz para levar a cabo as tarefas de sua nova vida e mergulhar inteiramente em suas experiências; de nossa parte, também, algumas coisas devem ser levadas em

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consideração. O contato com os estados não físicos de existência exerce um efeito peculiar sobre os vivos, que tende a afastá-los do plano de vida objetiva e a descoordenar-lhes a consciência. Isto ocorre mesmo quando as entidades co-municantes são do tipo mais elevado, e é bem sabido por todos que tenham tido experiência nessa matéria que é preciso tomar precauções para fechar as portas atrás de nós toda vez que regressamos após ter saído da morada carnal. Pessoas não instruídas nessa matéria não compreendem nem a necessidade nem a técnica desses processos. O médium de alto padrão, que trabalha com bons guias, é protegido pêlos próprios guias, que cuidam do fechamento das portas do seu lado do Véu. Mas a pessoa que não tem guias que a protejam pode sair da sessão com a cabeça às voltas devido às experiências pelas quais acabou de passar, e, se for suscetível, pode até ficar, ela própria, num estado semimediúnico. Para o clarividente, ela aparecerá circundada por uma legião de seres atraídos à sua esfera durante a sessão e que não se dispersou por ocasião do encerramento. Médiuns treinados, note-se, tendem a se esquecer de suas experiências do Plano Interior logo que as portas se fecham atrás deles, e sua memória permanece suspensa até ser reevocada pela concentração mental nos Planos Interiores. Ê absolutamente necessário para a saúde e a estabilidade do médium que ele mantenha os planos de consciência estritamente separados, e essa é uma das primeiras coisas que ele aprende a fazer quando lhe ensinam a técnica dos Mistérios. A pessoa inexperiente não possui essa técnica e talvez não tenha ninguém que a aconselhe, e as consequências disso podem não ser satisfatórias ou podem mesmo vir a ser desastrosas. Ela se torna descoordenada e inquieta no plano físico, sua credulidade cresce com aquilo de que é alimentada, até que o elo de racionalidade se rompe, manifestando-se então o desequilíbrio mental. A questão da pesquisa realizada por investigadores treinados situa-se em outro plano; na maioria das vezes, eles estão lidando com um tipo de entidade diferente daquelas que vêm a chamado de pessoas enlutadas. Estão lidando com entidades que consciente e inteligentemente cooperam na pesquisa, ou que ali vieram ter a convite de entidades cooperadoras. De resto, os investigadores, sendo experientes, sabem como conduzir as pesquisas sem prejuízo dos comunicadores. Os que acabaram de perder um ente querido têm, muitas vezes, o impulso natural de correr a qualquer fonte que lhes acene com a esperança de restabelecer conta-tos, mas, para fazê-lo, é preciso cautela e discernimento; não basta obter uma mensagem comprobatória, precisamos convencer-nos de que a estamos obtendo sob condição inofensivas tanto aos vivos como aos mortos, e essas condições devem ser cuidadosamente observadas, dando-se a devida atenção a todas as circunstâncias do caso e ao temperamento da alma desencarnada. O movimento Espiritualista prestou-nos um incalculável serviço ao lançar a ponte sobre o abismo que separava os vivos dos mortos. A sobrevivência em relação à morte do corpo já foi comprovada para além de qualquer dúvida e tal fato está à disposição de qualquer pessoa que se dê ao trabalho de familiarizar-se com a evidência. A melhor coisa que podemos fazer por aqueles que amamos e que já se foram de nós é aceitar o fato da sobrevivência com base na evidência já disponível e deixá-los seguir seu caminho em paz. Se as coisas não forem bem com eles, eles mesmos poderão tomar as medidas necessárias para se comunicar conosco. Deixemo-lhes a iniciativa. ê muito melhor para todos os envolvidos não os invocar, salvo por razões muitíssimo graves. Mas, por outro lado, se um médium nos informa espontaneamente que alguém deseja entrar em contato conosco, e nos dá um sinal claro de ser genuína a mensagem, não devemos hesitar em responder. Mas, aqui, também, há necessidade de cautela, sendo a natureza humana como é, pois chegaram a nosso conhecimento alguns casos de médiuns

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que, ao saberem de um falecimento, procuram contato com os parentes e os induzem a realizar uma "sessão", igual a qualquer outra reunião.

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AS PATOLOGIAS DA MORTE – I Até aqui estivemos considerando em nossos estudos o processo normal da morte; mas, para compreender a natureza da morte e seus problemas, precisamos também considerar o que acontece quando os processos de morte não seguem seu curso normal e a alma não se liberta dos laços da matéria, demorando-se indevidamente num estado intermediário. As patologias do processo de morte podem ocorrer em dois pontos: o estado mental da pessoa moribunda pode ser tal que lhe impeça conciliar o sono da morte; ou, tendo transposto o Limiar da morte em segurança, ela pode recusar-se a sofrer a Segunda Morte ou ser incapaz de se submeter a ela, demorando-se assim, indefinidamente, num estado intermediário que se torna cada vez mais anómalo, à medida que o tempo passa. Cada uma dessas patologias tem diferentes formas, que precisamos examinar pormenorizadamente. O assunto é assustador, mas a melhor maneira de vencer o medo é enfrentá-lo, e nunca sabemos quando viremos a defrontar-nos com esses problemas. Compreender-lhes a natureza ajuda a desfazer o terror supersticioso de que os revestiu a imaginação popular, trazendo-os para a esfera das coisas que podemos encarar e tratar. O espírito com que uma pessoa encara a morte tem importância absoluta para determinar a harmonia dos processos de sua morte. Assim como a criança ainda não nascida "apresenta" às Portas da Vida a cintura óssea do arco pélvico (e o seu nascimento será ou não normal, de acordo com sua apresentação), assim também a alma do moribundo tem um tipo de "apresentação" nos Portais da Morte; e como se deve ingressar na vida apresentando primeiramente a cabeça, assim também se deve sair dela com os níveis superiores de consciência destacados das coisas terrenas e arrastando os centros inferiores após si. Para a consciência inferior, o ser expelida pelo corpo em colapso, antes que a consciência superior tenha tomado pé no Invisível, é uma experiência penosa. Os médiuns frequentemente encontram almas nos Planos Interiores que passaram por essa experiência, e elas invariavelmente se mostram confusas e angustiadas como cães perdidos, até serem capazes de fazer os necessários ajustes e consolidar-se na nova vida. Uma grande proporção do serviço prestado nos Planos Interiores está voltada para "arrebanhar" essas almas errantes e ajudá-las a encontrar seu lugar certo. É por essa razão que a Igreja reza para sermos salvos de uma morte súbita, pois a alma precisa fazer seus preparativos antes de se retirar do corpo. A alma do homem que morre instantaneamente ou que morre sem recobrar a consciência tem de vencer algumas dificuldades que não afligem a pessoa que morre natural e gradativamente. Há aqueles, nos Planos Interiores, entretanto, cujo trabalho é lidar com almas inocentes que perderam a vida violentamente, e minimizar-lhes a aflição; os médiuns nos dizem que esses vigilantes pairam como falcões no Além à espera das almas e acodem velozmente aquelas que mostram qualquer sinal de angústia. São raras as almas que adentram a vida subsequente sem ter algum amigo já falecido que lhes venha dar as boas-vindas; mas se tiverem que ser, por assim dizer, ejetadas violentamente do plano terrestre, e forem lutando e resistindo, sua face estará voltada para o plano que acabaram de deixar, e não poderão ser induzidas a se virarem e olharem para o plano em que estão ingressando. Trata-se de um caso de má apresentação no plano da morte, e é necessário cuidado especializado para restaurar a normalidade. O indivíduo, pois, que teme muito a morte está sujeito a ter uma "má apresentação", e a nascer na vida seguinte com sofrimento, dificuldade e perigo. Se ele lutar até o último suspiro, a Grande Anestesista pode ser

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incapaz de exercer sua obra de misericórdia, e essa alma passa pelo processo de morte em plena consciência. Essas almas geralmente não compreendem que faleceram. Estão acostumadas a encarar a morte como sinónimo de extinção da consciência, e ao verificar que não perderam a consciência e ainda conservam, ao menos na imaginação, o mesmo corpo que sempre tiveram, ainda que desprovido da sensação de peso, será preciso algum esforço de persuasão para convencê-las de que transpuseram os Portais da Morte e já estão desencarnadas. Elas ainda se vêem como tendo sua forma costumeira, e não será fácil convencê-las de que se trata apenas de uma forma-pensa-mento de sua própria imaginação, e que ninguém mais pode vê-la, a menos que seja um médium. Elas naturalmente associam essa forma com seus ambientes familiares, e como se acreditam lá, ipso facto, estão lá e podem ser percebidas por médiuns e pressentidas por algum de seus amigos que tenha algo de sensitivo, geralmente com resultados muito desoladores. A pessoa que vê aproximar-se a morte, no entanto, sabe o que a espera, e quando acorda do sono da morte está preparada para enxergar-se sem o corpo físico e, por isso, não tem dificuldade em fazer seu próprio ajustamento. Na verdade, pessoas que chegaram às portas da morte e escaparam, em geral, relataram que ao recobrar a consciência ficaram espantadas de se acharem vivas e, a princípio, era difícil convencê-las de que não tinham falecido. O morto que não sabe que está morto recebe naturalmente um choque quando percebe que é impalpável àqueles com quem espera entrar em contato. Ele fala aos que estão ao redor de seu leito, e estes não lhe respondem. Estende a mão para tocá-los e atrair-lhes a atenção, e ela passa através do ombro em que queria pousá-la. Para ele, os demais são fantasmas, e ele fica pasmo. Vagueia de um lugar para outro entre os lugares que lhe são familiares, procurando abordar os seus conhecidos, mas estes lhe voltam um ouvido surdo. Logo, porém, ele pode encontrar alguém que, sendo médium, pode ficar consciente de sua presença. Agora passamos a uma questão importante, especialmente para os leitores destas páginas que, interessados nesses assuntos e a eles atentos, estão geralmente na posse de peio menos algum grau de consciência do Invisível e, na verdade, geralmente mais do que supõem. Eles têm de ser extremamente cuidadosos com o seu modo de lidar com a alma desencarnada que entrou em pânico, ou poderão encontrar-se na mesma situação de quem pretenda resgatar aquele que está se afogando. O melhor a fazer, a menos que sejam médiuns experientes, é recusar qualquer tentativa de resgate, para o que estão mal preparados, e ir rapidamente em busca de auxílio, procurando os serviços de algum pessoa ou grupo dotados do necessário conhecimento e que tomarão a seu cargo a alma errante e a ajudarão a ajustar-se e a prosseguir na jornada da morte até a luz mais plena. Pois, lembre-se disso: uma vez que a alma cruzou a Grande Linha Divisória, o caminho de luz está à sua frente, não atrás; a única coisa a fazer é encorajá-la a abandonar o plano terreno e, por todos os meios a nosso alcance, impedir que tome pé naquela praia escura e escorregadia que leva às águas do Letes. Faça-a voltar-se e nadar para a margem oposta, quer queira quer não; é a coisa mais caridosa a fazer, embora ela possa clamar contra isto, e o trajeto estará bem dentro de suas possibilidades se ela ao menos tentar vencê-lo. A cada braçada que a afaste da praia escura da Morte-em-Vida, ela estará mais próxima da Vida-após-Morte. Ela estará se encaminhando da escuridão para a aurora, e o caminho se torna mais claro à medida que ela avança. Não temamos os mortos quando vêm a nós, mas não permitamos que uma entidade desencarnada e em pânico se agarre a nós, como um náufrago, em seus esforços para pemanecer no plano da forma. A covardia de uma alma que se foi pode evocar em nós a piedade, mas não pode inspirar-nos simpatia e não devemos ceder a esse sentimento. Fazê-lo

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não seria ajudá-la, e sim condená-la a um destino terrível, ao destino dos presos à Terra. A todo custo, devemos fazê-la abandonar o plano da forma e induzi-la a prosseguir sua jornada rumo à Grande Luz que iluminará até mesmo a sua consciência obscurecida. O indivíduo que sofra uma morte acidental, transpondo subitamente os Portais da Morte na plena posse de suas faculdades, fica, em geral, aturdido mas não angustiado, pelo fato de a morte lhe ter sobrevindo tão depressa. Não sente nada e sua mente é mais ou menos como uma página em branco, ou funciona de forma muito lenta e desconexa. Os jornais geralmente assinalam a força moral extraordinária daqueles que foram gravemente feridos em algum acidente; qualquer pessoa que já sofreu um acidente sabe que o choque é o seu próprio anestésico, e que a dor e a prostração só vêm depois. Em geral, ela não sabe que está ferida enquanto alguém não lhe chama a atenção para o fato. A gravidade do ferimento está invariavelmente na razão inversa da lamentação. Em alguns casos de ferimento da cabeça, uma pessoa sobreviverá durante alguns dias, ou mesmo semanas. Em tais casos, ela estará, na maioria das vezes, tão profundamente inconsciente nos Planos Interiores quanto o está no plano físico, mas por ocasião do fim, quando o corpo se prepara para libertar a alma, pode haver breves períodos de sonho em que a pessoa vislumbre, mais ou menos obscuramente, os Planos Interiores. Nesse caso, a alma que parte pode ser grandemente auxiliada pêlos ritos fúnebres, mesmo que esteja inconsciente, e deve haver orações, se possível ao pé do leito, mesmo quando houver inconsciência profunda, e isto deve ser feito continua-damente até o desenlace final. Se o leitor não puder estar fisicamente presente ao leito do moribundo, imagine-se lá, e estará presente em espírito; a alma que parte, despertando para a consciência psíquica, ve-lo-á ali, embora os circunstantes não o vejam. Muita ajuda pode ser prestada desse modo, e a alma é assim preparada subcons-cientemente para partir, mesmo quando não possa haver preparação consciente.

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AS PATOLOGIAS DA MORTE – II O medo intenso, como já vimos, impede que a alma concilie o sono da morte e passe pêlos processos de morte de maneira normal e harmoniosa. Mas devemos ter em mente que há dois tipos de medo, o da pessoa que não quer defrontar-se com a morte quando sua hora chega, e o da pessoa que está sendo atacada. Neste último caso, o medo não é da morte, e sim do atacante. As almas que desse modo são arrancadas violentamente à vida ficam impossibilitadas de cair no sono da morte por seu medo, e não compreendem que estão desencarnadas nem que estão fora do alcance do atacante. Por algum tempo, há terror e confusão, mas a alma é logo apaziguada pêlos serviços dos Auxiliares Invisíveis. Não precisamos ficar preocupados quanto ao bem-estar das almas de vítimas inocentes da violência. Elas passam ao seu próprio lugar e são rapidamente acalmadas e restauradas à normalidade. A forma-pensamento de seu medo, porém, é outra coisa, esta pode permanecer no lugar onde o crime ocorreu como uma imagem terrivelmente vívida na atmosfera mental do local. Se ali vier alguém cujo duplo etéreo esteja frouxamente atado, de modo que tenha alguma capacidade como médium materializador, essa forma-pensamento pode até assumir uma feição espectral e os ruídos da luta ainda poderão ser ouvidos. Entendamos claramente, porém, que a infeliz vítima de um crime não está presa à Terra e não é compelida a frequentar o local de seu assassínio; o que ali permanece é somente a imagem mental formulada tanto pelo assassino como pela vítima. Ninguém está sofrendo; é uma coisa alarmante e desagradável mas não é perigosa e pode ser rapidamente dispersada pelo uso de métodos apropriados, alguns dos quais, adequados ao uso de pessoas que não sejam ocul-tistas treinadas, apresento em meu livro 'Autodefesa psíquica'. A prática de celebrar um serviço fúnebre no local em que ocorreu uma morte violenta é também de grande valor, pois decompõe quaisquer formas-pensamento que tenham ficado refletidas no éter. Em primeiro lugar, permite que o pensamento se concentre em meditação de um modo muito mais eficaz do que se não houvesse nenhum ponto focal para aplicar a mente. Em segundo lugar, permite que a meditação de várias pessoas se sincronize, reforçando, desse modo, grandemente o efeito de sua operação. Em tempos de tensão e de choque emocional não é fácil concentrar a mente e romper a trilha circular de tristes pensamentos que sempre nos assediam, mas a mente pode seguir um formulário de palavras que já tenha pronto diante de si, numa ocasião em que seria totalmente incapaz de articular qualquer meditação por si mesma. O pequeno serviço fúnebre que se segue pode vir a ser útil para levar o descanso à alma daquele que passou desta vida de modo súbito e despreparado, bem como para apaziguar e reconciliar os corações dos que aqui ficaram. Ainda que não haja ninguém para assistir à realização da cerimónia, ela deve ser feita em voz alta, com as ações apropriadas executadas tais como estão aqui instruídas. Não será nem de longe tão eficaz se for realizada em silêncio. Caso não seja possível realizar a cerimónia no local que serviu de palco à tragédia, então que alguma coisa intimamente associada ao morto seja segurado por quem exercer o papel de celebrante. O ritual pode ser realizado por uma só pessoa, mas é mais belo e eficaz se o for por duas, uma reforçando a outra. Em nossa terminologia elas são chamadas de celebrante e leitor.

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Ritual Para a Paz da Alma Que Passou Por Morte Súbita ou Violenta Celebrante: Ao entardecer haverá luz. Leitor: O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida, de quem terei medo? Ainda que um exército se apreste contra mim, meu coração não temerá; ainda que possa surgir uma guerra contra mim, com isto me contentarei. Pereceria, sem dúvida, se não acreditasse que veria a bondade do Senhor na Terra dos sem-pre-viventes. Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração. Espera, pois, no Senhor. Hino 193: (Hinos A. & M.) "Jesus, que ama a minha alma." Celebrante: (ajoelhando-se): Pai amoroso e celestial, digna-te contemplar a nossa dor por aquele(s) que se foi (foram), de nós subitamente arrebatado(s) no meio da sua vida, e fortalece-nos a fim de que tenhamos coragem e confiança em Tua infalível misericórdia. Todos: Amém. Celebrante: (erguendo a mão direita como para chamar atenção, e apertando contra o peito a relíquia daquele que se foi, com a mão esquerda): Invoquemos agora nosso amigo (pronuncia o nome completo) para que se junte a nós neste serviço, adorando conosco o Pai misericordioso de todos nós. (Todos os presentes visualizam o morto como se estivesse diante do celebrante). Celebrante: Oremos. Todos: (ajoelhando-se, visualizando o morto ajoelhando-se também): Jesus, filho de Maria, tem misericórdia de nós. Cristo, filho de Deus, tem misericórdia de nós. Jesus, filho de Maria, tem misericórdia de nós. Celebrante: O Mestre Jesus, Senhor do amor e da compaixão, que desceste à região da morte e pregaste aos espíritos em-prisão, toma, nós Te imploramos, a alma deste nosso ente querido aos Teus amorosos cuidados. O bom pastor, busca aquele que se perdeu, e leva a alma errante ao Teu aprisco. Todos: Amém. Celebrante: Rezemos todos juntos a Oração do Senhor. Todos: Pai nosso ... Leitor: Jesus diz: "Vinde a mim, vós, todos os cansados e oprimidos, e eu vos darei descanso. Em verdade, em verdade vos digo, virá a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão." O povo que se assentava em escuridão viu uma grande luz, e para os que se assentavam na região e sombra da morte a luz raiou. Celebrante: O Pai das Luzes, em quem não há trevas nem sombras de variação, envia, nós Te pedimos, os anjos da Tua Presença para ministrar perante nosso ente querido, que passou pêlos Portais da Morte despreparado, a fim de que não venha a errar como ovelha perdida sobre as montanhas, mas seja reunida em segurança ao aprisco de Teu Filho e nosso Salvador, Jesus Cristo. Todos: Amém. Hino 223 (A. & M.) "Ouve, ouve, minha alma, cânticos angelicais num crescendo." Celebrante: (ajoelhando-se): Senhor, permite agora que Teu servo parta em paz, de acordo com a Tua palavra, que ele possa entrar em Teu repouso até que sejas servido convidá-lo a sair de novo a Teu serviço. Todos: Amém.

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Celebrante: (erguendo-se e fazendo o Sinal da Cruz sobre o local em que o morto foi visualizado como presente): Parte em paz, amigo amado, marcado com o Sinal de Cristo. Hino 300 (A. & M.) "Aclamem todos o poder do Nome de Jesus." Celebrante: Que a paz de Deus seja sobre todos nós até que o dia amanheça e as sombras se dissipem. Todos: Amém. Há alguns pontos a observar para que essa cerimónia tenha eficácia mágica. Em primeiro lugar, deve haver algum elo com o morto, e esse elo pode ser de várias formas. Pode ser o elo do local, quando a cerimónia é celebrada no lugar da tragédia; ou pode ser o elo do tempo, quando é realizada no aniversário da tragédia; ou pode ser aquilo que os ocultistas conhecem como elo magnético, isto é, algum objeto intimamente associado com o morto, carregado de seu magnetismo, e que não foi manuseado por outra pessoa desde que o morto a usou pela última vez. O método mais eficaz é empregar pelo menos dois desses elos simultaneamente. Todos os que participam da cerimónia devem visualizar o morto como estando num determinado ponto do local, e imaginá-lo entrando no ritual do serviço fúnebre, ajoelhando-se quando eles se ajoelham e orando juntamente com eles. Isto constrói uma forma-pensamento que proporciona um ponto de contato com o espírito que já partiu. Não se faz isso para obter uma materialização, pois isso seria indesejável, mas para a eficácia da operação é essencial que se obtenha a presença do morto; a visualização de sua forma física e a simultânea invocação de seu nome são o meio mais rápido de fazer isto. Esse método só deve ser usado quando se deseja entrar em contato com uma alma que já partiu, que pode estar errando no plano astral, a fim de habilitá-la a passar adiante em sua jornada e completar o processo de partida que a morte violenta e não preparada pode ter desorganizado. Empregá-lo para induzir a alma do morto a voltar repetidas vezes para nos confortar em nossa aflição é injustificável, pois é muito prejudicial à alma ficar assim presa à esfera terrena. Sua condição pode ser comparada à de um homem que tentou saltar sobre um veio d'água e pisou em falso e caiu na lama e no caniçal da margem mais próxima. Nós o chamamos, atraímos sua atenção e lhe estendemos a mão e o puxamos de volta; mas só fazemos isto para que ele tenha a chance de fazer uma nova tentativa. Se, tendo agarrado sua mão, persistirmos em segurá-la, estaremos frustrando o seu propósito. Tão logo ele esteja em terra firme, será capaz de dar uma corrida e saltar, desta vez atingindo em segurança a outra margem. É preciso compreender claramente que o morto, depois de ter abandonado seu tabernáculo de carne, deve a todo custo prosseguir e completar a sua jornada antes que a noite da alma o surpreenda. Se o retardarmos indevidamente por invocá-lo constantemente para fazê-lo estabelecer contato com o plano terreno, nós o estaremos expondo ao pior mal que lhe poderia acontecer, aquele estado que os ocultistas chamam de Morte-em-Vida e os espiritualistas de Apego Terreno. Normalmente, a alma acabará conseguindo alcançar a outra margem por seus próprios recursos, mas podemos ajudá-la grandemente nessa travessia pelo modo que aí fica indicado.

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COMO O ADEPTO ENFRENTA A MORTE É máxima da Senda que aqueles que venceram são agora conhecidos por sua serenidade, o Adepto morre como viveu, serenamente. A morte não representa nenhum pavor para aquele que conhece a realidade da reen-carnacão por suas próprias recordações de vidas passadas. Ele já morreu muitas vezes e o processo lhe é familiar. Está acostumado a diariamente retirar a consciência do cérebro e entrar no Ser Superior em meditação. Ele sabe que agora chegou o momento de passar por aquela porta familiar e fechá-la após si, não tornando a voltar. Através de longos anos de disciplina na Senda para atingir a condição de Adepto ele esteve amealhando um tesouro no Céu; está acostumado a pensar em si mesmo como sendo espírito, não como corpo físico; para ele o corpo é apenas um posto de observação que, para si mesmo, ele construiu no plano terrestre. Ele sabe que o chamado para retirar-se lhe chegou por uma de duas razões: seu corpo físico pode não ser mais uma máquina obediente, e é melhor e mais barato deitá-lo fora e obter outro novo do que tentar remendar o que não tem conserto. Ou bem pode ser que tenha completado a sua tarefa na Terra e está sendo chamado a se elevar. Aceita a morte livremente e sem objeções frívolas, pois sabe que, se não fosse o mandado de seu Mestre que o chama, todos os poderes da Morte e do Inferno não poderiam prevalecer contra ele para arrastá-lo para fora de sua habitação de carne. Enquanto espera os processos do corpo que lhe abrirão as portas, mergulha mais profundamente em meditação, procurando destilar a essência das experiências da vida; observando as lições que ela lhe deu, as que aprendeu e as que ainda não foram perfeitamente aprendidas, e procurando, por um esforço intenso, completar a compreensão dessas lições, antes que chegue a hora da partida. Em breve saberá se completou sua tarefa ou se está destinado a voltar à Terra para concluir sua missão. Se verificar que a vida terrestre para ele ainda não acabou e que terá de voltar, aplicará suas energias à tarefa de construir o arquétipo do molde etéreo que dará forma ao seu corpo e direção ao seu destino quando voltar uma vez mais à Terra; ele procura gravar sobre o átomo-semente a memória dos Mistérios em que foi iniciado, circundando-os desse modo com aquele "rasto de nuvens de glória" com que a alma do Iniciado é revestida ao passar uma vez mais por aqueles Portais que, vistos de cima, são os Portais do Nascimento e, vistos de baixo, são os Portais da Morte. Clara e persistentemente, ele formula seu ideal, de modo que sua alma, ao partir, será dirigida para seu alvo e não errará sem rumo no outro mundo. Ele sabe que num ciclo de três vidas tem um completo livre-arbítrio. Se esta vida produziu os frutos de um esforço passado, então ele poderá contar, com razoável certeza, que na próxima vida verá a realização de seu objetivo. Tão logo percebe que os laços que o prendem a esta vida estão se afrouxando, o Adepto se prepara para a vida seguinte. Para ele, não há separação daqueles a quem ama; há muito ele aprendeu a amar a essência espiritual de cada alma, e o afrouxamento do cordão prateado e a quebra da taça dourada significa para ele a eliminação das barreiras que o separam de uma perfeita união com aquilo que ele ama em cada um daqueles que lhe são caros. O que será melhor: estar em contato físico com aqueles cujas almas estão remotamente afastadas de nós por falta de simpatia, ou estar em união espiritual de perfeita simpatia e compreensão com o real, imortal e indestrutível Ser Superior de alguém que nos é querido? O primeiro caso, não o segundo, representa a verdadeira separação. Aqueles que têm a

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consciência superior podem comungar entre si independentemente do corpo enquanto ainda estão nesta vida terrena, e a morte só faz aumentar a sua faculdade de comunicação. Eles estão muito mais próximos um do outro espiritualmente quando já não há nenhuma barreira erguida pelas limitações do corpo. Quando chega a hora de o Adepto partir, ele chama a si aqueles que lhe são mais caros a fim de que possam facilitar-lhe a partida e acompanhá-lo nas primeiras etapas da jornada. Os que puderem vir em pessoa reúnem-se em seu redor; os que não o puderem, ali vão ter por projeção astral; e os que já transpuseram antes dele os grandes Portais também são invocados a fim de ajudá-lo a transpor o Limiar. O Círculo Mágico é traçado em torno dele, selado em seus quadrantes com os Nomes dos quatro poderosos Arcanjos, com velas ardendo à sua cabeceira e a seus pés. Todos ficam em silêncio meditando, enquanto o moribundo trilha uma vez mais a Senda da retirada, a trilha da visão-símbolo que já trilhou tantas vezes ao subir nos planos. A medida que ele se retira, os Portais se abrem silenciosamente para lhe dar passagem, e os que estão velando vêem em espírito a chegada de um Poderoso que vem a seu encontro, o Arcanjo de sua Ordem; uma luz brilha em redor do leito, como o último raio de Sol que se põe, coruscando de sob uma nuvem, claramente visível mesmo para o olho físico, e a alma do Adepto parte. A promessa dos Mistérios a seus iniciados é de que eles passarão pêlos Portais da Morte em plena consciência e serão recebidos pelo Grande Iniciante; é também privilégio daqueles dentre seus irmãos que acompanhem o Iniciado em sua última jornada que, também eles, estejam no Limiar e contemplem o Além, e vejam por si mesmos o caminho que seguirão quando chegar sua hora. A Society of the Inner Light, fundada por Dion Fortune, ministra cursos aos que desejem seriamente empreender o estudo da Tradição Esotérica Ocidental; conta também com uma ampla Biblioteca. Eventuais consultas devem ser dirigidas a: THE SECRETARY THE SOCIETY OF THE INNER LIGHT 38,STEELE'S ROAD, LONDON, N.W.3. – ENGLAND

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