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1 A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA A SAÚDE DO MILITAR DA MARINHA Prof. Dr. Fernando A . C. Garrido (Escola Naval) Prof. Esp. Vitor Barreto Paravidino (Escola Naval) 1 . O contexto histórico A difusão das práticas físicas como promoção da saúde e do bem estar físico, psicológico e social tem sido uma preocupação cada vez maior de organizações internacionais, governos e empresas privadas, visando à prevenção e à redução das doenças. Nesse sentido, compreende-se que a atividade física, a alimentação adequada, o combate ao tabagismo, o álcool e as drogas devem ser alvos das ações de dirigentes, organizações e das políticas públicas. Esse movimento internacional é promovido por instituições como a Organização das Nações Unidas – ONU, e diversas organizações de abrangência mundial como: Americam College of Sport Medicine – ACSM, a Organização Mundial da Saúde – OMS, a Federação Internacional de Medicina Esportiva – FIMS, o Conselho Internacional de Ciências do Esporte e Educação Física – ICSSPE, a Federação Internacional de Educação Física - FIEP, entre outras, que acompanham trabalhos científicos elaborados nos últimos anos sobre atividade física, saúde e qualidade de vida. Afinal a atividade física tem influência sobre a saúde? Uma grande quantidade de pesquisas científicas e estudos de natureza quantitativa e qualitativa realizadas no mundo demonstram os benefícios da atividade física para a saúde e qualidade de vida. Elas são descritas em livros e revistas científicas ao longo das últimas décadas, principalmente desde 1960, estampando os benefícios da atividade física desde que realizada de forma regular e tenha orientação correta e adequada. A tese central é de que a sociedade contemporânea encontra-se caracterizada por tendências ao sedentarismo devido: o surgimento dos controles remotos, a robotização das indústrias, as ocupações estáticas e repetitivas, o uso de aparelhos domésticos, do carro e da

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A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA A SAÚDE DO

MILITAR DA MARINHA

Prof. Dr. Fernando A . C. Garrido (Escola Naval)

Prof. Esp. Vitor Barreto Paravidino (Escola Naval)

1 . O contexto histórico

A difusão das práticas físicas como promoção da saúde e do bem estar físico, psicológico

e social tem sido uma preocupação cada vez maior de organizações internacionais, governos e

empresas privadas, visando à prevenção e à redução das doenças. Nesse sentido, compreende-se

que a atividade física, a alimentação adequada, o combate ao tabagismo, o álcool e as drogas

devem ser alvos das ações de dirigentes, organizações e das políticas públicas.

Esse movimento internacional é promovido por instituições como a Organização das

Nações Unidas – ONU, e diversas organizações de abrangência mundial como: Americam

College of Sport Medicine – ACSM, a Organização Mundial da Saúde – OMS, a Federação

Internacional de Medicina Esportiva – FIMS, o Conselho Internacional de Ciências do Esporte e

Educação Física – ICSSPE, a Federação Internacional de Educação Física - FIEP, entre outras,

que acompanham trabalhos científicos elaborados nos últimos anos sobre atividade física, saúde e

qualidade de vida.

Afinal a atividade física tem influência sobre a saúde? Uma grande quantidade de

pesquisas científicas e estudos de natureza quantitativa e qualitativa realizadas no mundo

demonstram os benefícios da atividade física para a saúde e qualidade de vida. Elas são descritas

em livros e revistas científicas ao longo das últimas décadas, principalmente desde 1960,

estampando os benefícios da atividade física desde que realizada de forma regular e tenha

orientação correta e adequada.

A tese central é de que a sociedade contemporânea encontra-se caracterizada por

tendências ao sedentarismo devido: o surgimento dos controles remotos, a robotização das

indústrias, as ocupações estáticas e repetitivas, o uso de aparelhos domésticos, do carro e da

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internet, entre outros. Isto tem provocado o desenvolvimento de doenças hipocinéticas, que

afetam a expectativa e a qualidade de vida das pessoas.

Nesse sentido, as práticas físicas desenvolvidas na Marinha do Brasil - MB, sob a

denominação de Treinamento Físico Militar – TFM ou educação física militar, ao longo de anos,

têm buscado promover a melhoria da aptidão física visando à saúde do pessoal, com atividades

inerentes às peculiaridades e características da vida militar.

Não se pode deixar de ressaltar que os primeiros registros das práticas físicas no Brasil

aparecem, com a chegada da Corte portuguesa em 1808, na criação da Academia Real (atual

Escola Naval) e do Corpo de Artilharia (atual Corpo de Fuzileiros Navais), instituições da

Marinha de Guerra. Diante disso, a Marinha do Brasil - MB, torna-se a precursora das práticas

físicas, inclusive já realizando essas atividades sob o enfoque da saúde, higidez física, lazer e de

preparação à guerra.

Os séculos XIX e XX marcam a continuidade do pioneirismo da MB nas atividades

físicas no Brasil. Alguns fatos marcantes registrados são: as regatas na baía de Guanabara entre

baleeiras e navios estrangeiros e brasileiros na década de 1840, assistidas pelo Imperador D.

Pedro I, sua corte e grande público; a criação da Liga de Sports da MB em 1915; a criação da

Escola de Educação Física da MB em 1925, formando os primeiros 11 instrutores em 1927; a

realização de exames médicos na atividade física nos anos de 1920, 1930 e 1940 respaldada em

princípios do treinamento desportivo apoiados por anamnese, testes de resistência física e

medidas antropométricas.

Além disso, os grandes feitos esportivos, entre as décadas de 1940 e 1960, de militares-

atletas em competições regionais, nacionais e internacionais distingue aspirantes à epoca: o

Contra-Almirante Francisco Aripena Leão Feitosa (natação), os Almirantes Gualter (tênis e

atletismo), Façanha (travessias aquáticas) e Halpern (natação) e os Capitães-de-Mar e Guerra

Bernard Davis Blower (atletismo), Mário Jorge da Fonseca Hermes (basquetebol), Adaury

Rocha (tiro). Um dos destaques do esporte na MB é Barnabé, campeão mundial de pentatlo

militar em diversas ocasiões.

Outro fato marcante é a criação do “Circuito do Marinheiro”, idealizado por Manoel

Tubino, em 1970, a partir do método de treinamento esportivo conhecido por “Circuito

Training”, e que compreendia uma coletânea de exercícios físicos dirigidos aos meios flutuantes.

Esses exercícios foram empregados com êxito, na época, pelo Capitão-Tenente Waldemar de

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Araújo Filho nos navios da esquadra. O Teste de Cooper, implantado pela primeira vez no Brasil,

na Escola Naval em 1969; a presença de grandes desportistas em geral nas delegações e

organizações desportivas como dirigentes, entre eles: o Comandante Grego e o Almirante Heleno

Nunes.

Finalmente, na década de 1970, a atuação da Escola Naval como pólo difusor das novas

concepções sobre a atividade física no Brasil, apoiada por oficiais-professores que detinham

grande conhecimento e influência sobre a educação física e o esporte na sociedade brasileira.

Entre eles encontravam-se: Manoel José Gomes Tubino, Ayrton Brandão, Lamartine Pereira da

Costa, Dante Rocha, Célio Cordeiro e Heitor Alves Barreira Junior, que haviam realizado seus

cursos de Educação Física da Es. EF. Ex.

Esses fatos marcam a história da educação física e do esporte na MB, na sua essência,

como elementos impulsionadores de uma prática carreadora de valores éticos e morais. As

manifestações das práticas físicas sob a abrangência da formação, lazer e rendimento estão

presentes ao longo do processo de desenvolvimento da educação física e do esporte na MB.

Porém, o fio condutor das práticas físicas na MB, independentemente da prevalência de uma

concepção sobre a outra em determinada época, ao longo de cerca de 200 anos, é sua orientação

sob os enfoques da higidez física, higiene, saúde e preparação à guerra.

2. Os benefícios da atividade física para a saúde e qualidade de vida A literatura científica descreve de forma clara que a atividade física provoca

modificações morfológicas, fisiológicas e psicológicas, o que traz benefícios à saúde e ao bem

estar geral e garante uma eficiência funcional conhecida por aptidão física. A aptidão física, por

sua vez, tem sido referenciada como atributo desejável e positivo à saúde e à qualidade de vida.

Considera-se que quanto mais alto o degrau alcançado na escala da aptidão física, maior a

autonomia do indivíduo quanto à prática do exercício.

Sabe-se, contudo que a sociedade apresenta-se dividida em classes sociais e que, nem

todas as pessoas têm condições econômicas de adotar um estilo de vida ativo e saudável. Há

desigualdades estruturais com raízes políticas, econômicas e sociais que dificultam a adoção

desses estilos de vida. Porém, ressalta-se que a aptidão física relacionada à saúde deve contar

com uma educação física que crie o prazer e o gosto pelas atividades físicas em geral. A tarefa

central da educação física atual é possibilitar que as pessoas compreendam na prática das

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atividades físicas, os seus aspectos fisiológicos, biomecânicos, sóciopolítico-econômicos e

culturais. Somente assim, as pessoas podem ser levadas de uma situação inicial de hábitos

sedentários para um estilo de vida saudável e ativo, contribuindo de forma decisiva na melhoria

da saúde e da qualidade de vida.

Ainda, de acordo com Matsudo (2004), estudos em diferentes países do mundo mostram

que cerca de 70% da população é próxima de sedentária e 90% seria insuficientemente ativa. No

Brasil, apesar da limitação dos levantamentos populacionais, os dados existentes apontam para

índices semelhantes. Cabe afirmar que, o sedentarismo, é um dos principais fatores ou mesmo o

principal, que predispõe o organismo a diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia, obesidade e

depressão, entre outros.

Dentre os inúmeros benefícios (ANEXO), o exercício físico atua no combate a obesidade,

câncer, hipertensão pela vascularização dos tecidos corporais e melhoria da eficiência cardíaca

por meio do aumento das cavidades do coração e da hipertrofia do miocárdio. Os dados do

Ministério da Saúde, por exemplo, indicam que o excesso de peso já atinge mais de 32% da

população adulta no Brasil em 1989. Atualmente, entra em cena a mídia para ajudar no alerta de

que a obesidade é considerada uma epidemia mundial.

A atividade física regular, também, promove o aumento da capacidade respiratória, a

melhoria da flexibilidade e da força muscular (musculação), permitindo reduzir as dores nas

costas e o risco de lesões articulares. Isto garante ao indivíduo desprendimento nas tarefas

cotidianas com menos absentismo (falta ao trabalho). As melhorias não param por aí, pois

estudos também indicam que os benefícios da atividade física são encontrados na esfera

psicológica, favorecendo a redução da ansiedade, depressão, estresse e a melhoria do humor,

promovendo assim renovação emocional e bem estar geral.

3. O envolvimento de organizações, empresas e governos com a atividade física

visando à saúde e qualidade de vida.

A difusão da importância das práticas físicas na prevenção e promoção da saúde e do bem

estar das pessoas, tem sido implementado pelos governos, organizações governamentais e

empresas privadas, visando a prevenção e a redução das doenças. Compreende-se que a atividade

física, a alimentação adequada, o combate ao tabagismo, álcool e drogas devem ser alvos das

ações de dirigentes, organizações e das políticas públicas.

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Ressalta-se que a inatividade física, tem causado a morte de 2 milhões de pessoas em todo

o mundo (Matsudo/2004). Essas mortes, segundo Matsudo, são parte do incremento de

enfermidades e incapacidades causadas pelas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como

doenças cardiovasculares, cânceres e diabetes.

A atividade física, segundo a World Health Organization (WHO) da Organização Mundial

da Saúde - OMS, como um meio de prevenção de inúmeras doenças, deve ser incorporada aos

programas de saúde pública. A preocupação da WHO está concentrada nas doenças conhecidas

como não comunicáveis – cardiovasculares, câncer, diabetes e respiratórias que aumentam e

aceleram o número de mortes em 60% e a morbidade em 43%, projetando para 2020, os índices

de 73% e 60% respectivamente. (Tubino/2006)

Constata-se que, em termos econômicos, existe uma relação de um (1) dólar investido em

atividade física nos Estados Unidos da América para a economia de três (3) dólares

(Tubino/2006). Isto significa dizer que, os benefícios econômicos são altos e o estilo de vida

ativo torna possível a redução dos custos com saúde, levando as pessoas a terem uma maior

qualidade de vida.

Segundo Dias 2004 (apud Martins 2001), desde 1989, na fábrica de Tintas Renner (Porto

Alegre, RS), houve: diminuição da procura ambulatorial, diminuição do índice de absenteísmo,

aumento da disposição para o trabalho, diminuição dos problemas com o sindicato decorrentes de

reclamações sobre doenças profissionais, melhoria das dores articulares/ musculares e melhoria

do relacionamento inter- pessoal no ambiente de trabalho devido, principalmente, à implantação

do programa de ginástica na empresa.

Os benefícios da atividade física podem ser vistos, também, na diminuição nos custos

médicos, na maior produtividade e na melhoria dos lucros das empresas. Assim, em função dos

fatos descritos, governos e empresas tem implantado programas de promoção em saúde,

integrado por equipes multidisciplinares. É o caso do projeto North Karelia, iniciado em 1972 na

Finlândia, com o objetivo de diminuir a mortalidade e a morbidade por doenças cardivasculares,

reduzindo fatores de risco como fumo, colesterol sérico e hipertensão arterial. Após dez anos, há

a constatação da diminuição na prevalência das doenças cardio-vasculares. Exatamente, por isso,

empresas como a Petrobrás e o BNDES entre outras empresas no Brasil, têm programas de

promoção à saúde apoiando seus funcionários.

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Portanto, torna-se necessário um estilo de vida mais ativo em contraposição ao

sedentarismo estabelecido nos tempos modernos pela televisão, computador, meios de transporte

que solicitam menos esforço físico.

4. A importância da atividade física e do nível de aptidão física

A atividade física, conhecida como Treinamento Físico Militar (TFM) na MB, busca um

condicionamento físico direcionado à saúde, a ser alcançado por meio de desempenho mínimo

exigido do militar. Independentemente da função desempenhada, o militar é avaliado em testes

específicos, os quais se associam ao bem estar e a promoção da saúde, considerando-se o sexo e a

faixa etária.

A implantação de uma política de TFM, nome dado à educação física militar,

diferenciando-a do meio civil acontece a partir de 1976, em acompanhamento a criação do

CEFAN em 1973, um dos maiores centros esportivos da América Latina até os dias atuais. Essa

política de TFM extremamente avançada na época preconiza: o intercâmbio com entidades de

educação física e de esportes; a matrícula de oficiais nos cursos de educação física; a importância

da saúde do militar, a ampliação do número de praticantes; o aprimoramento de técnicas e

métodos, a fim de se atingir índices expressivos nas competições entre outros aspectos. Enfim, há

um processo em curso de cientificação do manual de TFM e do Teste da Aptidão Física.

Na avaliação dos níveis de aptidão física atual, existe o consenso internacionalmente

aceito do acompanhamento das capacidades funcionais, relacionadas à boa saúde global e a

prevenção das doenças de quatro componentes mais comuns. São elas: a aptidão aeróbia e/ ou

cardiovascular, a composição corporal (por exemplo: IMC e Dobras Cutâneas), a força muscular

e a flexibilidade.

Ocorre que, os testes físicos atuais realizados pela MB, duas vezes ao ano, no mês de

março e setembro não contemplam algumas dessas variáveis exigidas na aptidão física. Os

relatórios estatísticos dos testes físicos da MB detalham principalmente o número de testes

realizados sem o devido tratamento qualitativo. Não são realizadas pesquisas de campo/

laboratório, ordenando-se a faixas dos níveis de aptidão física da OM/ número de militares

(padrão de desempenho físico da OM), ou mesmo da MB como um todo, visando estimular a

melhoria da aptidão física.

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Existe ainda a necessidade que os testes físicos realizados duas vezes ao ano sejam

funcionais e devem ser utilizados como método de coleta de dados visando avaliações futuras.

Esses testes não têm servido para o acompanhamento da saúde do militar, observando-se a

existência de possíveis doenças, cruzamentos de índices bioquímicos alterados e consumo de

oxigênio e se há ou não da melhoria do seu condicionamento físico, e conseqüentemente da

aptidão física.

O Teste de Cooper ou de oito voltas, por exemplo, realizado pela MB, deve estar

relacionado com o consumo máximo de oxigênio – VO2 máximo. As pesquisas indicam que

exercícios aeróbios favorecem o aumento do consumo de oxigênio, e quanto maior ele for, maior

a possibilidade do militar de cumprir as rotinas exigidas e menor o risco de doenças

cardiorespiratórias. É o caso também, da composição corporal (IMC e dobras cutâneas): as

pesquisas esclarecem que existe relação direta entre gordura corporal e doenças crônico-

degenerativas, principalmente aquelas localizadas na região da cintura. Esse componente pode ser

avaliado através do método de dobras cutâneas ou através da circunferência da cintura.

Uma análise geral da atividade física atual na MB, referenciada no Treinamento Físico

Militar – TFM, conforme estabelece a DGPM/601, pode ser obtida na pesquisa qualitativa

realizada pela Diretoria de Assistência Social da MB em 2003 e divulgada em 2004. Pelo

relatório do Perfil Sócio-Econômico e Cultural da Família Naval constata-se de forma

incontestável que a atividade física na MB não vem sendo realizada adequadamente pelos

militares. O Censo mostra que entre os 38143 entrevistados somente 45% dos militares tem

realizado atividade física regular, conforme preconiza a DGPM/601 – no mínimo três dias (23%)

e cinco dias como ideal (22%). Isso nos dá a certeza do nível de aptidão física dos militares da

MB encontra-se comprometido, pois 55% do pessoal não faz atividade física regularmente. O

Censo da DASM, ainda aponta que: a prática física regular somente ocorre de fato quando o

militar está cursando as escolas de formação (de 90 a 100%). Na passagem de aspirante para

guarda-marinha o nível de atividade física cai cerca de 50%, permanecendo inalterado e até

mesmo diminuindo com o passar dos anos até chegar a oficial-general, quando se eleva cerca de

10 a 15 pontos percentuais (60%,65%). Cabe ressaltar que, a atividade física é uma das tarefas de

rotina do militar, devendo ser o mesmo co-responsável pela sua realização. A OM e seu

comandante devem ter a responsabilidade de oferecer as condições necessárias à execução do

TFM, entre elas: horário fixo nas rotinas diárias, dias, transporte e locais comuns a todos.

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Atualmente, as principais organizações mundiais como o Colégio Americano de Medicina do

Esporte recomenda que os exercícios físicos sejam realizados, de preferência, todos os dias da

semana.

Outra recente pesquisa, inclusive de campo, sobre a capacidade de trabalho físico do

militar em atividades longas é aplicada no Centro de Instrução almirante Alexandrino - CIAA por

Wagner Queiroz, em 2003. Nela observa-se o teste de Cooper/ caminhada por 12 minutos junto

com o consumo máximo de oxigênio – VO2 máximo, avaliando-se o nível de aptidão física, na

faixa etária entre 18 e 50 anos, em ambos os sexos. Constata-se pelos resultados, em comparação

aos índices previstos de capacidade aeróbica em indivíduos saudáveis e que existe um déficit no

condicionamento aeróbico nos homens, enquanto que nas mulheres os níveis aeróbicos médios

são superiores aos previstos.

Enfim, percebe - se que o salto de qualidade na Educação Física e no Esporte na MB ao

longo dos anos, não ocorre em função do distanciamento entre normas estabelecidas e ações

empreendidas em relação à aptidão física e saúde, fundamentada nos testes físicos e pesquisas

científicas, embora fossem constatados inúmeros registros de tentativas nesse sentido. Esse

descompasso entre a atividade física e a aptidão física relacionada à saúde persiste até os dias

atuais, mesmo depois da implantação de novas normas a partir de 1989/1990 em diante. A

promoção da interdisciplinaridade de áreas afins e de pesquisas científicas deve ser encorajada

através, por exemplo, de estudos de campo e de laboratório com o cruzamento de dados

bioquímicos.

Essa ruptura da modernização da educação física e do esporte na MB com a aptidão física

voltada à saúde acontece em razão de uma série de fatores: a falta de intercâmbio, convênios e

parcerias com universidades e empresas; a não aquisição de modernos equipamentos e de

incentivo à prática das atividades físicas e esportivas por meio de palestras, artigos, sites e

informativos que divulgassem os seus benefícios à saúde.

A conseqüência natural dos fatos descritos leva ao esvaziamento das atribuições do

CEFAN, como centro de treinamento físico - desportivo, de trabalhos científicos e do curso de

Educação Física da MB. Esse afastamento da Educação Física da saúde promove a diminuição

da carga de estudo e da qualificação do corpo docente do Curso de Educação Física. Ao longo

dos anos, o CEFAN ficou à margem do processo de desenvolvimento da Educação Física por

não enfocar satisfatoriamente a aptidão física relacionada à saúde.

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Finalmente, deve-se reconhecer que as práticas físicas na MB, precisam retomar o seu

curso natural, historicamente, comprovada pelo seu valor à saúde, higidez física, higiene e

preparação à guerra. Porém, atualmente elas devem, incorporar novas atividades e áreas que

produzam maiores conhecimentos e tomadas de decisões; a melhoria da saúde e qualidade de

vida; a diminuição dos custos sociais sendo capazes de atender aos gostos e anseios visando

estilos de vida ativos.

Conclusão

A implantação de pesquisas torna-se essencial na MB, visando à promoção e prevenção da

saúde e a qualidade de vida do pessoal. Nesse sentido, deve ser criado um Centro de

Performance Humana no CEFAN, apoiado em intercâmbios, convênios e parcerias com

instituições de pesquisa, universidades e empresas em geral. Esse centro deve ser composto por

profissionais de diversas áreas do conhecimento (médicos/ nutricionistas/ psicólogos/ assistentes

sociais/ fisioterapeutas e professores de educação física), de forma a promover pesquisas em

saúde e atividade física e melhorar a qualidade de vida e saúde física, mental e social de todo o

corpo da Marinha do Brasil. Além disso:

1. O desenvolvimento de estímulos à prática de atividades físicas por meio da divulgação

de informativos, artigos e estudos da MB pela DASM e pelo CEFAN, estabelecendo-se, por

exemplo, qual OM possui o melhor padrão de aptidão física na MB;

2. O estabelecimento de comissão para propor a reformulação dos testes físicos mais

adequados à MB, visando a aptidão física relacionada à saúde, com sua realização no início

(março) e no fim do ano (outubro). Estes testes devem abranger todos os componentes: força e

resistência muscular, composição corporal, flexibilidade e aptidão cardiorespiratória.

3. A instituição de horário fixo de TFM nas rotinas diárias, comum a todos, no total de

cinco (5) dias de TFM, dando-se igualdade de condições a todos de alcançar níveis satisfatórios

de aptidão física (dias, horários, transportes, locais);

4. A inserção do esporte como atividade essencial ao TFM por ser carreadora de valores

éticos, morais e sociais imprescindíveis ao militar.

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