atividades extrativas e os danos ambientais gerados: o...

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Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Geociências Laboratório de Geografia Aplicada Setor de Informações Geográficas Aplicadas 1 1 Atividades Extrativas e os Danos Ambientais Gerados: o caso de Pilar e São Miguel de Taipu - PB Em atendimento à solicitação feita pela Promotoria de Justiça da Comarca de Pilar do Estado da Paraíba, estamos nos posicionando sobre a questão do possível dano ambiental gerado por atividades mineradoras neste município e no município de São Miguel de Taipu. O argumento contido no ofício da referida Promotoria denotou conhecimento dos pareceres que anteriormente emitimos para o Ministério Público da Paraíba cujos conteúdos apresentam o mesmo sentido do atual laudo, pois assim aponta a Promotoria no Ofício P/JP/nº021/02 sobre o assunto em que solicita ao Magnífico Reitor da UFPB a convocação de minha presença para efetuar o estudo: Referida solicitação prende-se ao fato de que o eminente professor já realizou estudo que robusteceu uma Ação Civil Pública na Comarca de Itabaiana, sobre o mesmo assunto ora em disceptação. Esses conteúdos trazem a leitura geográfica tanto da franja costeira do litoral paraibano quanto do próprio baixo rio Paraíba, sendo este o motivo pelo qual a Promotoria solicita o nosso estudo. Os pareceres que emitimos sobre os “Danos Causados pela Atividade Areeira no rio Paraíba” (Anexo 1) e “Recursos Naturais: equívocos e erros sobre a natureza como ente dadivoso” (Anexo 2) especificamente no Distrito de Guarita no Município de Itabaiana -PB, ambos trabalhos foram resultado de estudos com critérios científicos e serviram juntamente com outros laudos já emitidos ao Ministério Público (MP), como instrumento para consubstanciar a Ação Civil Pública contra o empreendimento extrativo do mineral areia, pois provocam Danos ao Meio Ambiente. No sentido de dar maior aprofundamento à leitura 1 da paisagem que está sendo alterada naturalmente 2 e acelerada por atividades antrópicas impactantes 3 , 1 Para a Leitura e interpretação de uma paisagem, considerando o rigor da ciência geográfica, fez-se presente o estabelecimento de informações teóricas e, neste sentido indicamos para este documento referências que já estão abordadas nos pareceres em Anexo.

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1

Atividades Extrativas e os Danos Ambientais Gerados: o caso de Pilar e São Miguel de Taipu - PB

Em atendimento à solicitação feita pela Promotoria de Justiça da Comarca de

Pilar do Estado da Paraíba, estamos nos posicionando sobre a questão do possível

dano ambiental gerado por atividades mineradoras neste município e no

município de São Miguel de Taipu. O argumento contido no ofício da referida

Promotoria denotou conhecimento dos pareceres que anteriormente emitimos para o

Ministério Público da Paraíba cujos conteúdos apresentam o mesmo sentido do atual

laudo, pois assim aponta a Promotoria no Ofício P/JP/nº021/02 sobre o assunto em que

solicita ao Magnífico Reitor da UFPB a convocação de minha presença para efetuar o

estudo: Referida solicitação prende-se ao fato de que o eminente professor já

realizou estudo que robusteceu uma Ação Civil Pública na Comarca de Itabaiana,

sobre o mesmo assunto ora em disceptação. Esses conteúdos trazem a leitura

geográfica tanto da franja costeira do litoral paraibano quanto do próprio baixo rio

Paraíba, sendo este o motivo pelo qual a Promotoria solicita o nosso estudo.

Os pareceres que emitimos sobre os “Danos Causados pela Atividade Areeira

no rio Paraíba” (Anexo 1) e “Recursos Naturais: equívocos e erros sobre a natureza

como ente dadivoso” (Anexo 2) especificamente no Distrito de Guarita no Município de

Itabaiana -PB, ambos trabalhos foram resultado de estudos com critérios científicos e

serviram juntamente com outros laudos já emitidos ao Ministério Público (MP), como

instrumento para consubstanciar a Ação Civil Pública contra o empreendimento

extrativo do mineral areia, pois provocam Danos ao Meio Ambiente.

No sentido de dar maior aprofundamento à leitura1 da paisagem que está sendo

alterada naturalmente2 e acelerada por atividades antrópicas impactantes3,

1 Para a Leitura e interpretação de uma paisagem, considerando o rigor da ciência geográfica, fez-se presente o estabelecimento de informações teóricas e, neste sentido indicamos para este documento referências que já estão abordadas nos pareceres em Anexo.

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trazemos à tona um maior número de peças comprobatórias sobre a questão dano e

lesão, ou seja, degradação4 à natureza. Nessa direção acreditamos que o nosso

argumento aponta para um processo de continuidade aos diagnósticos ambientais já

elaborados anteriormente e entregues ao MP, cujo conteúdo se refere à atividade de

extração do material de aluvião, a “areia”, para construção civil. Esta atividade está

sendo realizada no leito do baixo rio Paraíba, nos municípios de Pilar e São Miguel de

Taipu – PB. Nesta secção do rio o manto deposicional dos sedimentos argilo-arenosos

está em baixa altitude no rio em relação à sua foz, (próximo ao nível de base), em que

sua erodiblidade é zero (Penteado, 1983: 83).

Nesse momento é indispensável uma breve revisão nos conteúdos dos

documentos supra citados, anexos 1 e 2, no que se referem às bases geográficas e

geomorfológicas pertinentes aos conjuntos hidrográfico e topográfico que envolvem a

área. Esta revisão nos permite, ainda, executar cortes e recortes nos seus argumentos

para assim realizar a leitura da paisagem sob um outro prisma de valores, pertinentes

aos custos ambientais e benefícios sociais da atividade extrativa.

Como justificativa dessa mudança de eixo de observação, saindo de uma leitura

geoecológica da paisagem para uma leitura sócio-ambiental da situação contextualizada

que comprove à ação lesiva ao meio ambiente pela referida atividade econômica,

procuramos trazer neste parecer um número significativo de provas sobre aquilo que é

considerado como alteração danosa à natureza.

2 Strahler assim caracteriza a atividade(erosiva) de um rio quando está próximo ao seu estado de equilíbrio: “Devido a que o rio está muito próximo ao estado de equilíbrio em todo o momento, sua atividade dominante é a erosão lateral, realizada através do crescimento dos meandros”. (Strahler, 1994: 291) 3 Impacto Ambiental é, portanto “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam(...) V - a qualidade dos recursos ambientais” (Resolução do CONAMA nº 001/1986. In Édis Milaré, 1993) 4 Dano é um termo definido no Dicionário Aurélio Buarque de Holanda como “S.m. 3 - Estrago, deterioração, danificação”. Já o Código Civil, à luz de minha interpretação, como sendo a conseqüência de um Ato Ilícito. Assim conceitua “Ato Ilícito” o art. 159 do referido Código “ Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Lesão, segundo a obra de referência supra citada, “S.f. (...)3.Dano, prejuízo. Degradação (op. cit) S.f. 2. Deterioração, desgaste, estrago.

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Partindo dessa justificativa, acreditamos que a ação extrativa é de elevado

teor lesivo à paisagem, conseqüentemente à sociedade no seu entorno que dela se

beneficia, tanto na forma de recurso como na forma estética. Enfatizamos que os

benefícios econômicos auferidos dizem mais respeito ao agente empreendedor da

atividade extrativa que ao coletivo social, estando este último apartado desse benefício,

o que acaba por agravar ainda mais a relação social anacrônica e diacrônica pois as

gerações presente e futuras não são contempladas.

O deslocamento do ponto de observação demanda inevitavelmente um outro

questionamento, cujo objeto de análise não será somente o meio ambiente mas também

os valores determinados pela direção dada pela ação política e econômica na gestão dos

recursos pertinentes à paisagem: Quais os equívocos políticos e econômicos

referentes à gestão dos recursos naturais ao longo do baixo rio Paraíba? Nesse

novo direcionamento procuramos responder de forma mais retórica, sem a necessária

carga hipotética já que o problema contém em si essa dita carga, pois o que está em

conflito são os pontos valorativos e bem subjetivos sobre um mesmo objeto: a

natureza enquanto suprimento à vida e à sobrevida (vida futura).

Há, portanto, no cenário contextual diversos pontos de vista cujos valores

divergem em grau, gênero e número sobre a questão ambiental, e que acabam

provocando uma situação difusa. Os pontos de vista passam a ser o objeto que será

manipulado enquanto elemento a ser pesquisado, e a natureza como recurso natural será

posta como fator independente: se há natureza, há ação sobre ela. A ação é resultado

daquilo que se tem como valor5 objetivo e subjetivo, e o que deve prevalecer é o valor

5 Sobre o conceito de Valor optamos por observar o sentido contido na Filosofia, pois sua denotação conduz a uma generalização de maior abrangência. Conforme Teles (1990: 85), “Todo valor é, por definição, uma não indiferença (...). Por conseguinte, quando se constitui um valor, este situa-se sempre num dos dois pólos: no positivo ou no negativo. Os positivos são buscados ao passo que os negativos são evitados ”. Ainda na mesma obra há o realce sobre “O homem age impulsionado por necessidades de sobrevivência, para satisfazer seus apetites e desejos, pela necessidade de crescer como pessoas ou de sobrepujar-se aos outros. Nesta batalha, luta, foge, blefa e, algumas vezes, sucumbe. Em toda sua ação, está sempre perseguindo algo valioso para ele (...)”. (id).

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de ordem social (valor coletivo), considerando a diacronia uma realidade do porvir em

que a sociedade futura não deve ser negligenciada.

Antes de iniciar a leitura sobre os valores que se imputam à ação do homem

sobre o ambiente, acreditamos ser necessária a revisão textual da base geográfica

levantada nos documentos que antecedem a este (Anexo 1, 2 e 3), e cujo caráter foi

delimitado por um parecer técnico-científico, que buscou abarcar não só conceitos mas

também, quantificações numéricas e provas cabais daquilo que se dissertava.

Além da revisão, faz-se necessária a contextualização não só em nível regional,

mas considerando também o acréscimo de outras categorias conjunturais, onde as

correlações e interrelações formam a totalidade que se apresenta de forma panorâmica

aos nossos sentidos e à nossa intelectualidade. Para complementar essa realização

contextual, analisaremos um terceiro documento6 (Anexo III), certificando-nos dos

processos erosivos nas planícies litorâneas ao sul do Cabo Branco. A partir dessa

análise, podemos enuniciar que estes processos estão vinculados à contenção dos

sedimentos na barragem dos rios Gramame -Mamuaba, afetando assim a dinâmica

natural na linha de costa.

A base operacional textual passa a ter como referência os três pareceres já

anteriormente emitidos e seguem anexos a este texto. O primeiro e o segundo

documentos são referentes ao Distrito de Guarita no município de Itabaiana-PB, onde se

deu o antropismo com a mesma relevância do que está ocorrendo em Pilar e São Miguel

de Taipu. O terceiro é também um parecer que destaca a estrutura sistêmica ambiental,

porém distante da base geográfica onde está ocorrendo o fato da mineração. No entanto,

por analogia, há variáveis e atributos comuns que servem para o esclarecimento

elucidativo referente à estrutura em que ocorre a dinâmica produzida tanto pelo agente

fluvial como elemento modelador da paisagem quanto pela presença da intervenção

humana acentuada como agente degradador.

6 Parecer emitido por nós ao MP sobre Projeto de Contenção da Falésia do Cabo Branco, 1999.

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A argumentação elaborada até o momento mostrou o caráter elucidativo sobre

conceitos e categorias pertinentes à interpretação dada por leitores da paisagem,

abordando termos que venham permitir uma compreensão denotativa do que é a

paisagem, ou mesmo que é a natureza. Na direção de se estabelecer uma leitura com um

mesmo sentido daquilo que está diante da percepção não podemos negligenciar as

instruções determinadas nos diplomas legais, ou seja, no que está estabelecido na lei que

dita o sentido moral e ético da sociedade.

Tomando como parâmetros de representatividade conceitos e categorias

científicas, assim como a legislação que dá sustentação ao Estado Nacional,

procuramos deduzir desses conteúdos aquilo que está ditado enquanto instrução

normativa, e estabelecer de forma direta o que está se passando no leito do baixo

rio Paraíba, especificamente nos municípios de Pilar e São Miguel de Taipu – PB.

Será elencado, a seguir, um considerável número de argumentos contidos na

legislação federal, estadual e municipal que não só apontam, mas principalmente

disciplinam as relações sociedade natureza:

Legislação Federal

Constituição /federal Art. 30 Compete aos Municípios.

I – legislar sobre assuntos de interesse local; VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e ação fiscalizadora federal e estadual;

Art. 225 – Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamante equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de

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vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Decreto nº 24643/07/1934

Art. 1º - As águas públicas podem ser de uso comum ou dominicais.

Lei nº 4771 de 15/09/1965

Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta

lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo de rios ou de qualquer curso d´água desde o seu nível mais alto em faixa marginal (...);

Art. 3º Consideram-se ainda, de preservação permanente, quando assim

decalaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de

vegetação natural destinadas:

a) a atenuar a erosão das terras;

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Lei nº 6513 de 20/12/1977

Art. 1º Consideram-se de interesse turístico as Áreas Especiais e os

locais instituídos na forma da presente lei, assim como os bens de valor

cultual e natural, protegidos por legislação específica, e especificamente:

I – os bens de valor histórico, artístico, arqueológico ou pré-histórico; V – as paisagens notáveis; VI – as localidades e os acidentes naturais adequados ao repouso e à prática de atividades recreativas, desportivas ou de lazer;

Lei nº 6938 de 31/08/1981

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia

à vida visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento

socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da

dignidade da vida humana, (...)

Art. 3º Para os fins previstos nesta lei, entende-se por:

I – Meio Ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adeversa das características do meio ambiente; III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem às condições estéticas ou sanitárias do meio

ambiente;

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Lei nº 9433 de 08/01/1997

Art 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

III – a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

Constituição Estadual

Art. 8º Formam o domínio público patrimonial do Estado (...).

§ 1º - Incluem-se entre os bens do Estado (...):

II – os lagos em terreno do seu domínio e os rios que têm

nascente foz no seu território;

Art. 178º (...) o desenvolvimento econômico e social, (...) visando à

elevação do nível de vida e ao bem-estar da população.

Parágrafo Único – Para atingir esse objetivo, o Estado:

e) fomentará o reflorestamento, protegerá a fauna, a flora e o

solo, e assegurará a preservação e o aproveitamento

adequado dos recursos minerais e hídricos;

f) (...);

g) (...);

h) protegerá o meio ambiente;

Art. 240 – O Estado e os Municípios, de comum acordo com a União

zelarão pelos recursos hídricos e minerais.

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Lei Orgânica do Município de Pilar Art. 6º Ao Município compete prover (...).

XX – planejar o uso e ocupação do solo em seu território, especialmente em sua zona urbana;

Art. 7º - É da competência administrativa (...)

III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor

histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens

naturais e os sítios arqueológicos;

V – proteger o meio ambiente e combater a poluição em

qualquer de suas formas;

Art. 123 – O Município apoiará o incentivo as práticas esportivas da

comunidade, (...)

Art. 124 – O Município porporcionará meios de recreação, (...)

mediante:

III – aproveitamento de lagos e matas e outros recursos

naturais como locais de passeio e distração;

Art. 125 O Município promoverá os meios necessários para a satisfação

do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, nos

termos da Constituição da república.

Parágrafo 2º - As escolas municipais manterão disciplinas de

educação ambiental e de conscientização pública para a preservação

da natureza.

Art. 126º - O Município tomar, (...) tomará todas as providências (...)

para:

III _ prevenir e controlar a poluição nos rios;

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Art. 127º - A política de desenvolvimento urbano (...) tem por

finalidade -(...):

IV – proteção, preservação e recuperação do patrimônio

histórico, artístico, cultural e paisagístico;

V – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente;

Lei Orgânica do Município de São Miguel de Taipu Art. 11 – Ao Município compete (...):

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em

qualquer de suas formas;

VII – preservar as florestas, fauna e a flora;

Art. 140 – Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao Poder Público e à comunidade o dever de defendê-

lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Município:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies e ecossistema;

III – exigir, na forma da lei, para instalação de obra, atividade ou

parcelamento do solo potencialmente causadora de significativa

degradação do meio ambiente, estudos práticos de impacto

ambiental.

VI – proteger a flora e a fauna, vedada, na forma da lei, as

práticas que coloquem em risco sua função ecológica,

provoquem a extinção de espécie ou submetam animais à

crueldade.

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§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais, inclusive extração de

areia, cascalho ou pedreira, fica obrigado a recuperar o meio

ambiente, na forma da lei.

Conforme assinalado anteriormente, o raciocínio passa a ter o formato da lógica

dedutiva, tomando-se as determinações contidas em lei como síntese estabelecida nas

três dimensões do Estado brasileiro, e estas devem ser cumpridas.

Num primeiro momento é necessário ressaltar o comportamento de elevado teor

de cidadania, cuja preocupação das Políticas Públicas do Município de Pilar em relação

ao Meio Ambiente, foi emitir o projeto de lei nº 001/2002 (Anexo 4), observando o que

está previsto no artigo 225 da Constituição Federal, que aponta para “o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Essa preocupação

coletiva, por iniciativa da Câmara de Vereadores do Município de Pilar, teve votação

por unanimidade (Ver Ata no Anexo 5), e determina sobre o patrimônio disciplinando

o uso dos recursos naturais, especificamente sobre a retirada de areia do rio Paraíba.

Essa decisão da Câmara de Vereadores tem sua sustentação no que está disposto no

artigo trinta da Constituição Federal: Compete aos Municípios legislar sobre assuntos de

interesse local como ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do

uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, promovendo a proteção do

patrimônio histórico-cultural local.

Ressaltamos agora a nossa interpretação sobre a legislação vigente e que trata da

matéria em pauta, ou seja, dano ambiental gerado por atividades mineradoras

especificamente no leito7 do rio Paraíba no Município de Pilar e São Miguel de Taipu -

PB.

Lei nº 4771 de 15/09/1965

7 É conveniente consultar os documentos que estão anexos, que são referentes aos pareceres por nós emitidos e que tratam da mesma matéria, pois nestes documentos procuramos demonstrar por meio de quantificações geométricas e diagramações os conceitos como leito maior, menor, erosão, degradação, meandros, alto, médio e baixo curso do Rio Paraíba.

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Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo de rios ou de qualquer curso d´água desde o seu nível mais alto em faixa marginal (...);

Figura 1 – Vegetação devastada na margem do Rio Paraíba, a montante da cidade de Pilar – 02/24/2002.

Figura 2 – Área abandonada de extração do mineral areia, com vegetação devastada: Município de Pilar 23/03/2002

Art. 3º Consideram-se ainda, de preservação permanente, quando assim

declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de

vegetação natural destinadas:

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a) a atenuar a erosão das terras;

Figura 3 – Vegetação devastada pela atividade mineradora permite erosão mais acentuada do solo: Município de Pilar 14/04/2002.

Ravinas provocadas pela erosão das enxurradas

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As três imagens apresentadas denotam de forma incontestável que o rastro

deixado pela mineração de areia no leito do rio Paraíba degradou de forma poluidora o

meio ambiente a partir da alteração profunda da retirada da vegetação, contrariando

assim o que está determinado pela legislação federal no que tange à questão relativa à

vegetação ao longo das margens dos rios e que, uma dentre outras finalidades, é a de

conter a erosão nas margens. Faz-se necessário consubstanciar essa enunciação numa

breve complementação, pois o fenômeno erosivo na superfície geográfica é o resultado

das diferenças topográficas entre níveis maiores e menores; neste sentido é conveniente

ressaltar que o leito do rio Paraíba é ladeado por um terraço fluvial (Ver diagrama no

Anexo 2, página 49) que permite a meandrificação do rio no momento em que o mesmo

perde a força erosiva de montante para jusante. Mas essa é uma situação no leito do rio,

porém o mesmo fenômeno não acontece com as vertentes, posto que essas têm uma

diferenciação topográfica acentuada no lugar e nesse sentido as precipitações

pluviométricas concentradas são um fato típico na região intensificando a ação erosiva

nas encostas8 . Esse desgaste da margem do rio por ação erosiva acentuada devido a

ausência da vegetação, provoca um crédito excessivo de material sedimentar para o leito

do rio. Em detrimento do desgaste da margem imediata surgem desgaste e acumulação

excessivos, que provocam ao mesmo tempo o ravinamento das encostas e o

assoreamento do rio, diminuindo assim a possibilidade do equilíbrio dinâmico entre

crédito e débito de sedimentos. A explanação feita procura corroborar a lei instituída.

8 Encostas são desníveis com mais de dois graus de declividade até 45º, daí em diante é considerado penhasco, inferior a 2º é considerado o relevo como uma planura.

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Decreto nº 24643/07/1934

Art. 1º - As águas públicas podem ser de uso comum ou dominicais.

Lei nº 6513 de 20/12/1977

Art. 1º Consideram-se de interesse turístico as Áreas Especiais e os

locais instituídos na forma da presente lei, assim como os bens de valor

cultual e natural, protegidos por legislação específica, e

especificamente:

I – os bens de valor histórico, artístico, arqueológico ou pré-histórico; V – as paisagens notáveis; VI – as localidades e os acidentes naturais adequados ao repouso e à prática de atividades recreativas, desportivas ou de lazer;

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Figura 4 – Área urbana que abriga o Museu da cidade de Pilar, lugar onde os caminhões carregados de areia fazem manobras, pondo em risco a estrutura predial da instituição: 02/04/2002.

Figura 4.1 – Placa do Museu que confere o tombamento pelo IPHAN.

14/04/2002

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Figura 5 – Paisagem notável, Rio Paraíba, cidade de Pilar, com fluxo hídrico “aparentemente” elevado: 02/04/2002.

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Figura 6 – Banhistas ao lado da barragem, antiga área minerária, próxima ao sítio urbano de Pilar: 14/04/2002.

Nesta delimitação do argumento, procuramos usar imagens que atestam a não

observação do que está enunciado na legislação federal e direcionam o comportamento

sócio-econômico dentro de parâmetros qualificados como referência à qualidade de vida

da população, considerando que a área alagada não estabelece segurança para o banho

dominical, pois o fundo é composto de material argiloso (lamacento).

banhistas barragem

tubulação

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A figura 4 mostra o desrespeito à Instituição que contém a Memória da Cidade

de Pilar. Como é nítido na imagem, a praça calçada diante do prédio que abriga o

Museu e conseqüentemente o Acervo Histórico, ressalte-se Acervo este tombado pelo

Patrimônio Histórico (Ver Fig. 4.1), pois a cidade de Pilar foi sede de um Município que

foi sendo desmembrado cedendo lugar para que outros Municípios também importantes

fossem constituídos, entre eles Itabaiana, Mogeiro, Campina Grande. A história da

cidade está arquivada no prédio que está sendo desrespeitado pelo trânsito intenso de

caminhões. No intervalo entre às 9:00hs e 9:30hs do dia 02 de abril de 2002, em um

prazo de 30 minutos foram inventariados de forma assistemática cinco caminhões

carregados do mineral areia (ver Figuras 7; 8; 9; 10 e 11).

Figuras 7;8;9;10 e 11 – Tráfego intenso de caminhões na área em frente ao Museu da cidade de Pilar: 02/-4/2002.

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Ainda pertinente ao enunciado na lei e que destacamos como elemento de

elevado teor de referência são as paisagens notáveis. É conveniente conceituar tanto

um termo quanto o outro, pois a interpretação deve estar mais próxima possível do real,

não permitindo conotações ou mesmo subjetividades, e neste sentido o termo paisagem,

se for interpretado de forma subjetiva, caberá uma diversidade de valores pessoais

descaracterizando assim o que o conceito realmente indica. Para melhor elucidação

deste termo sugerimos que seja feita uma revisão conceitual, apontada no documento

em anexo 1, nas páginas 3, 4 e 5. A partir dessa revisão fica patente que o conceito de

paisagem é uma complexidade que representa conjuntos interativos cujo sistema é de

interdependência, e neste caso, quando se mexe em um desses conjuntos os outros irão

se alterar9.

Para esclarecimento do termo notável recorremos ao Novo Dicionário Básico da

Língua Portuguesa: Folha/Aurélio para dar um sentido mais definido à sua possibilidade

de aparência. O termo notável, conforme Aurélio B. de Holanda (op. cit) significa

Digno de nota; atenção ou reparo. 2 – Digno de apreço ou louvor. 3 – Essencial;

importante. 4 – Eminente; Insigne; louvor. 5 – Extraordinário, considerável. (...). Esses

significados corroboram a qualificação de aparência como sendo aquilo que aparece,

por isso a necessidade da combinação dos termos estabelecidos na lei, pois paisagem

notável é aquela que aparece e tem um significado não desprezível. O Rio Paraíba é

um curso d´água que se torna responsável por todo um conjunto de atividades tanto de

ordem natural quanto social. Historicamente o curso do Rio permitiu aos colonizadores

penetrarem para o interior da Capitania, podendo assim instalar sedes que mais tarde

viessem se tornar cidades, como é o caso de Pilar.

A Paisagem Notável passa a ser interpretada como a interação de conjuntos

interdependentes, ajustados naturalmente e permitem que o sistema crie condições e

recrie possibilidades dinâmicas, tanto no contexto natural quanto no social assim como

9 “Pequenos erros se acumulam com o tempo (...) uma pequena mudança nas condições iniciais (...) pode produzir uma catástrofe mais a frente. Um fenômeno cujo nome técnico é dependência sensível das condições iniciais” GODOI, Norton. Fractais: a geometria do caos. Ver. Globo Ciência, nº 31, p.16-23.

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no econômico. A Paisagem que se torna essencial e importante, é porque tem em seu

interior elementos de valor10, como é o caso do rio Paraíba, que é um elemento do

conjunto hídrico mas dependente diretamente do conjunto climático (Ver referência

Anexo 1, página 4). Os componentes que estão diretamente interligados ao rio passam a

ser elementos de sustentação da paisagem, e quando se mexe em um conjunto os outros

acabam alterados, neste caso o rio é um elemento geográfico constituído de outros

elementos sendo o principal a água.

O rio Paraíba por si só é um conjunto constituído de diversos elementos e esses

passam a completar morfologicamente a estrutura da paisagem. Alguns desses

elementos que contextualizam a paisagem são os que estão em evidência no litígio que

deu origem a esta argumentação. Os traços peculiares que formam a fisionomia da

paisagem do próprio Rio Paraíba são além da água, o álveo11, o aluvião12, a

margem, os terraços fluviais, o curso (alto, médio e baixo) do rio, a vegetação do

terraço e de encosta, assim como toda a vida natural contida no ambiente. Neste

sentido de paisagem constituída de uma estrutura de conjuntos de elementos interativos

é que interpretamos a lei no que designa paisagens notáveis de valor cultural e

natural protegidos pela legislação cuja função precípua na legislação apontada é

que estas paisagens notáveis são “as localidades e os acidentes naturais adequados

ao repouso e à prática de atividades recreativas, desportivas ou de lazer” (Lei nº

6513 de 20/12/1977 -Art. 1º - VI). A partir do exposto, e demonstrado pelas

figuras apresentadas está evidente que o Rio Paraíba e todo o seu conjunto paisagístico

não está sendo visto pelas empresas de extração de areia como uma paisagem notável

e sim um recurso natural de fomento, única e exclusivamente, econômico e neste

sentido a lei não está sendo observada nem cumprida.

10 O conceito VALOR foi tratado como base conceitual no documento contido no Anexo 2, página 3. 11 Álveo segundo o art. 9º do Decreto nª 24643/07/1934, é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e ordinariamente enxuto. 12 Aluvião (id. Art. 16) - Constituem aluvião os acréscimos que sucessiva e impercepitivelmente se formares (...) do ponto médio das encehentes ordinárias, bem como parte do álveo que se descobrir pelo afastamento das águas.

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A exposição antecedente nos remete para a leitura da paisagem enquanto uma

realidade, assim sendo o uso do termo Paisagem Notável nos permitiu maior

aproximação do conteúdo concreto e acompanhado pelo raciocínio lógico e dedutivo,

não permitindo devaneios subjetivos. Considerando paisagem um termo que exprime

um complexo de atividades interativas e que são classificados em conjuntos,

procuramos elucidar a relação que há entre esses conjuntos a partir da observação do

que está previsto na lei nº 6938 de 31/08/1981 que aponta no

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental

propícia à vida visando assegurar, no País, condições ao

desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e

à proteção da dignidade da vida humana, (...)

Art. 3º Para os fins previstos nesta lei, entende-se por:

I – Meio Ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

i) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

j) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

k) afetem desfavoravelmente a biota; l) afetem às condições estéticas ou sanitárias do meio

ambiente;

Antes de estabelecer as evidências da atividade mineradora que contrapõem a

esta instrução legal, procuramos nos apoiar em alguns conceitos que serviram de

balizamentos para compreensão mais justa daquilo que está determinado pela lei

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enquanto meio ambiente, conforme aponta Fonseca13 (1992, p. 79)“Vizinhança ou meio

ambiente: é a porção do universo próxima às fronteiras do sistema, que pode, na

maioria dos casos, interagir com o sistema”. Nesse sentido de vizinhança ser aquilo que

está próximo, podemos considerar que o conjunto que forma o sistema hídrico rio

Paraíba, não apenas se restringe a água mas a todo conjunto de elementos que compõem

diretamente a paisagem hídrica, conforme apontado nesse documento na página vinte e

dois; por degradação, o que aponta o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda refere-se à

Deterioração, ao desgaste, estrago (verificar nota página três desse documento). O

conceito de meio ambiente, entendido a partir da lei, passa a ser relação do elemento em

tela, no caso a aluvião contida na margem do rio Paraíba, com seus vizinhos de contato

imediato, como a água e a vegetação natural no terraço fluvial que sustenta a encosta da

margem do rio (Ver Fig. 12).

13 Fonseca, Martha Reis Marques da. Química: físico-química. São Paulo: FTD, 1992

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Figura 12 – Deterioração ambiental do leito maior do Rio Paraíba no Município de Pilar, pela extração de areia – 10/04/2002.

O corte transversal sobre o Rio Paraíba demonstra de forma evidente a

disposição em que se encontra ainda a aluvião que foi depositada por acréscimos

resultantes de enchentes ordinárias; essa área é denominada geograficamente de

planície fluvial que abriga o terraço fluvial por onde o rio serpenteia em meandros,

ocasionado pela baixa energia potencial devido à diferença que há entre a altitude em

relação distância desse ponto até a foz estuarina do rio (Ver diagrama indicado como

figura 3 na peça anexa do Anexo 1). As enchentes ordinárias ou mesmo as excepcionais

não mais ocorrerão a partir da regularização imposta pela Barragem de Acauã, neste

caso os sedimentos oriundos da superfície do Planalto cristalino da Borborema, grande

responsável pelo estoque sedimentar da planície fluvial em tela, não mais acontecerá no

mesmo teor pois o suprimento será drásticamente reduzido pela contenção da barragem,

Aluvião no Terraço Fluvial

Terraço abandonado

Talude

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ficando a deposição apenas como resultante de depósitos desses suprimentos os

originários dos poucos afluentes a jusante da barragem de Acauã.

A barragem agirá como corte drástico nos suprimentos de sedimentos, porém a

sua causa é, neste momento, louvável devido à sua função de dessedentação das

populações urbanas e rurais vizinhas. No entanto os sedimentos contidos na planície

fluvial que foram depositados no álveo ao longo das últimas enchentes ordinárias e da

enchente excepcional que houve na década de 1980, fenômenos estes ocorridos antes da

obstrução da barragem, deram uma configuração geométrica ao leito do Rio Paraíba,

conformando uma estética14 espacial bem definida e que passou a fazer parte do

complexo cultural das populações vizinhas. Isso nos leva a considerar como qualidade

ambiental o contexto rio, álveo aluvião, água vegetação e a própria presença humana,

pois a convivência da sociedade humana com a natureza depreende de um ritmo natural

com baixo teores de ruído15 no cotidiano.

As intervenções que desestabilizam o ritmo de um ambiente qualquer acabam

por causar ruídos, sendo estes transtornos que quanto maior forem impõem sobre o

sistema dificuldades de reajustamento. A barragem de Acauã é um desses ruídos

referentes à reposição do estoque sedimentar no baixo Rio Paraíba, e a retirada da areia

amplia esse ruído de tal maneira que a geometria da paisagem fica totalmente alterada.

14 Estética era definida como a Filosofia do Belo (...) uma propriedade do objeto (Suassuna, Ariano. A Estética: p. 19). O Belo, nome que fica reservado àquele tipo especial de Beleza que se fundamenta na harmonia e na medida e que é fruída serenamente (op. cit. 23) 15 Ruído é um termo muito utilizado na teoria da Comunicação, e que a obra de referência supra citada nos indica S.m 7 Teor. Com. Toda fonte de erro, distúrbio ou deformação de fidelidade na transmissão de uma mensagem.

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Podemos considerar a geometria da paisagem como sendo o resultado do arranjo

em que os elementos naturais se organizam espontaneamente e aparecem às nossas

vistas. A figura 21 e o diagrama 4 são peças que constam no anexo 2 e servem como

elementos de evidência para a questão de geometria espacial do rio Paraíba no

Município de Pilar, no entanto para melhor instruir esse documento trouxemos a figura

21 (op. cit.) como Fig. 13 e trabalhamos o realce da geometria espacial no terraço

fluvial (Ver Fig. 14).

Figura 13 – Geometria espacial da calha fluvial do Rio Paraíba, próximo à cidade de Pilar: ano 2000.

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Terraço abandonado Terraço fluvial Leito do rio

Figura 14 – Esquema geométrico do Rio Paraíba baseado na imagem referente à Figura

13.

A geometria da natureza como arranjo organizado de forma espontânea dos

elementos naturais contém uma configuração côncava, e neste caso há a possibilidade

de inundação dessa área, tanto de forma ordinária quanto excepcional. No entanto, a

excepcionalidade que está acontecendo no Rio Paraíba nos Municípios de Pilar e São

Miguel de Taipu não é a que tem um período curto como uma enchente decorrente de

uma enxurrada, mas sim pela retirada de material sedimentar do terraço fluvial

permitindo que a acumulação de água tenha um estoque aparente. Porém as áreas que

estão sendo retirados os aluviões, estão sendo preenchidos com a água do próprio lençol

freático que está muito próximo à superfície, ou seja, imediatamente na sub-superfície.

A partir dessas observações podemos destacar que o fluxo da água está modificado pela

grande cuba de acumulação deixada pela extração da areia tanto do leito quanto do

terraço fluvial.

A água acumulada e que não flui, é resultante também do barramento feito no rio

(ver Fig. 15), agente este que contribui de forma significativa para alterar a estética

geométrica da paisagem, contrariando assim o que está contido na legislação. O leito do

rio Paraíba junto à cidade de Pilar foi, no intervalo de dois anos totalmente desfigurado;

esse fato pode ser observado a partir do processo comparativo entre as duas imagens

contidas nas figuras 13 e 15, pois ambas foram feitas do mesmo lugar, na antiga ponte

danificada pela enchente excepcional que houve em meados da década de oitenta.

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Figura 15 – Geometria do terraço fluvial do Rio Paraíba, na cidade de Pilar, desfigurada em relação ao que está apresentado na figura 13 (mesmo lugar em épocas diferentes): 14/04/2002.

Barragem

Pinguela

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Diante das evidências apresentadas da desfiguração estética da paisagem

geométrica do rio Paraíba, não há como refutar que as condições atuais estão em

desarmonia com a paisagem o que deveria ser fruída serenamente. Nesse sentido de

desequilíbrio harmonioso da configuração da paisagem, interpretamos a Lei Federal que

estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, e que tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, e entende que o Meio

Ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,

química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; a

lei instrui ainda que a degradação da qualidade ambiental é a alteração adversa das

características do meio ambiente, assim como a poluição é a degradação da qualidade

ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a

saúde, a segurança e o bem-estar (ver Fig. 16) da população; ou mesmo que

intervenções que afetem às condições estéticas da paisagem não são pertinentes à

qualidade ambiental. E para ampliar a argumentação evidenciamos ainda a questão

trazida no bojo da lei nº 9433 de 08/01/1997 e que indica no art 2º que são

objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos a prevenção e a defesa contra

eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos

recursos naturais.

Estética 2000 Estética - 2002

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Figura 16 – Travessia se segurança de uma família com duas crianças Cidade de Pilar: 14/ao/2002.

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O entendimento a partir das evidências demonstradas sobre atividade minerária

no leito do Rio Paraíba passa a ser um evento hidrológico, decorrente do uso

inadequado dos recursos naturais, haja vista que, com a deterioração da estética

natural e também a grande exposição do espelho d´água às intempéries (ação do

tempo como a insolação, e vento como agente de ação sobre a evaporação efetiva), o rio

passou a ter dois tipos de leitos: o que frui normalmente ao fundo da imagem, e o leito

com a cuba de um grande alagamento, como pode ser observado na figura 17.

Figura 17 - Distúrbio decorrente de uso inadequado dos recursos naturais na cidade de Pilar: 10/04/2002.

Leito normal do Rio Paraíba sem atividade mineraria

Barragem

Vegetação que faz a contenção da erosão

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Conclusão

A partir da interpretação da legislação: Federal, Estadual e Municipal, não há

como desconsiderar o fato de que as atividades minerárias no rio Paraíba,

especificamente nos Municípios em tela, são causadoras de forte degradação

ambiental, o que acarreta a desfiguração da estética da paisagem, colocando

em risco a segurança da população a partir não somente da

desfiguração original da geometria da paisagem, mas também pela

formação de cavidades fundas que proporcionam alagamentos no leito

do rio, bem como o desrespeito ao patrimônio histórico cultural da

Cidade de Pilar, com trânsito e manobras de caminhões carregados no pátio em

frente ao museu da cidade, cujo peso corresponde a diversas toneladas16 de mineral. A

atividade mecanizada de extração de areia do leito e da margem do rio

Paraíba é uma atividade que causa danos profundos e irreversíveis à

paisagem, o que não permite recuperação ambiental devido, não somente ao

desfiguramento da paisagem, mas também pelo fato de que o sedimento extraído faz

parte do potencial abiótico que contribui de forma significativa para o equilíbrio

ecológico do conjunto hídrico e conseqüentemente para o suporte à vida.

16 Considere-se que a densidade da areia seca é de 1.8 ton. por m3 e um caminhão de dois eixos carregado, cuja capacidade é de aproximadamente 12m3 ou 21,6 toneladas.

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Anexos

Anexo 1 – Danos Causados pela Atividade Areeira no rio Paraíba.

Anexo 2 - Recursos Naturais: equívocos e erros sobre a natureza como ente

dadivoso. Anexo 3 - Parecer emitido por nós ao MP sobre Projeto de Contenção da

Falésia do Cabo Branco, 1999. Anexo 4 – Lei Ambiental de Pilar.

Anexo 5 – Ata da votação da lei ambiental de Pilar.