atividades em áreas naturais - rita mendonça

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    RITAMENDONA

    Atividadesem reasnaturais

    RITAMENDONA

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    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    ndices para catlogo sistemtico:

    Mendona, RitaAtividades em reas naturais [livro eletrnico] /Rita Mendona. -- So Paulo : InstitutoEcofuturo, 2015.5 Mb ; PDF

    CDD-304.215-02848

    Bibliografia.ISBN 978-85-60833-19-1

    1. Atividades estudantis 2. Educao ambiental3. Educao ambiental - Pesquisa 4. Estudosambientais 5. Homem - Influncia na natureza6. Meio ambiente 7. Natureza I. Ttulo.

    1. Atividades em reas naturais :Educao ambiental 304.2

    FICHA TCNICA

    Organizao: Instituto EcofuturoTexto:Rita MendonaDireo: Paulo Henrique Groke JuniorProduo e disseminao de contedos:Palmira Petrocelli NascimentoComunicao:Marina Franciulli Santos

    Apoio conceituall:Christine Fontelles,Michelle Martins e Julia de Lima Krahenbuhl

    Projeto Grfico:Laika DesignIlustrao capa:Laika DesignEdio do texto:Maria Cludia BaimaReviso e preparao de texto: Vanessa Ferrer

    2014

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    NCCaptulo IRECIPROCIDADE

    Captulo IISOBRE A DELICADEZAE A POTNCIA

    Captulo IIIO CORPO HUMANOE A APRENDIZAGEM

    Captulo IVCONHECENDO-SE A SI MESMO

    Captulo VA NATUREZA NO SALA DE AULA

    Captulo VICOMO PLANEJAR UM PROGRAMADE VIVNCIAS COM A NATUREZA

    Captulo VIIO APRENDIZADO SEQUENCIAL

    Captulo VIII

    ESPAOS EDUCADORESOs parques naturaisOs parques urbanosAs praasO jardim no entorno dos edifcios

    Captulo IXA TRANSVERSALIDADE NAEDUCAO AO AR LIVRE

    Captulo XATIVIDADESPrimeiras aproximaesChegando pertoIntimidadeReflexes e finalizaes

    Captulo XICONSIDERAES FINAIS:O PAPEL DO EDUCADOR

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    7

    11

    19

    25

    31

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    43 160

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    RITA MENDONAATIVIDADES EM

    REAS NATURAIS 7

    Quem vive em uma cidade sabe o que viver em meio a ruas asfaltadas, caladas

    de cimento e quintais sem um centmetro sequer de terra. Mas mesmo com a predomi-

    nncia do concreto e do cinza tem sempre rvores nas ruas, canteiros verdes nas cal-

    adas, vasos nas varandas, nos quintais e nos escritrios, e parques para o lazer e bem-

    estar da populao. Ningum aguenta viver na ausncia absoluta das plantas, uma vez

    que sua presena traz beleza, conforto e harmonia para o ambiente. Hoje em dia h um

    movimento crescente de estmulo implantao de pequenas hortas nos apartamentos

    e em pequenas reas pblicas, para que as pessoas de vida urbana possam ter a oportu-

    nidade de mexer na terra e conhecer o prazer de se alimentar de algo que plantou.

    Quem vive em zona rural tambm gosta de ter seu pequeno jardim com florese ervas para alegrar e suavizar a vida. O desejo de conviver com outros seres vivos toca

    tanto as pessoas que vivem na cidade como as que vivem no campo. Tanto umas como

    outras, apesar de termos um modo de vida cercado de muitos objetos e de estarmos

    convencidos da necessidade de absorver tecnologias cada vez mais atuais, no pode-

    mos abrir mo de nossa fonte de recursos, de inspirao e de sentido que a natureza.

    RIODECAPTULO I

    FOTOKRIZKNACKVISITAESCOLAGRACINHA

    COMLUIZMENDES

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    INSTITUTOECOFUTURO

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    verdade que hoje em dia observa-se que a maioria das pessoas no cuida

    verdadeiramente dessa natureza presente em seu cotidiano, e se relaciona com ela de

    forma distanciada e utilitria. As plantas so colocadas para embelezarem os locais, e

    so muito poucas as pessoas que realmente gostam, conseguem olhar para elas com

    ateno, e sabem o que fazer para atender as suas necessidades, criando com elas

    uma relao de reciprocidade. Em nossa cultura, no priorizamos o desenvolvimento

    do olhar sobre os outros seres vivos e nos relacionamos com senso prtico como se

    eles no fossem vivos. No damos importncia vida que flui neles. Se nos servem

    para algo, timo. Se no nos servem, descartamos.

    Se somos assim no dia a dia, como vamos nos relacionar de forma diferente

    com a enorme quantidade e variedade de plantas e animais existentes nas praas,

    parques urbanos e parques naturais destinados conservao da natureza? Nossa

    cultura brasileira, to rica e diversificada na msica, na dana, nas artes plsticas, nas

    crenas, nos artesanatos, pouco a pouco afastou-se da fonte que nutre e inspira a to-dos, deixando de dar importncia a cada galho que cresce, flor que floresce, pssaro

    que canta ao nosso redor todos os dias. Donos de um dos acervos de maior biodi-

    versidade do planeta, estamos desprezando nossa maior riqueza. Da a importncia

    do trabalho conjunto: pais, professores, monitores ambientais, gestores das reas de

    educao, sade, conservao da natureza, sustentabilidade, etc. Precisamos resgatar

    o prazer profundo e o sentido de nossas aes

    cotidianas, e fazer da natureza a nossa princi-

    pal mestra, nos indicando os caminhos pelos

    quais a fora da vida possa se expressar com

    delicadeza e potncia.

    Destinado a educadores em geral o

    que inclui todo adulto que ensina por suas

    atitudes este livro oferece um farto material

    de reflexes sobre os motivos que nos levam

    a cuidar e conservar a natureza, e atividades

    vivenciais, que estimulam o desenvolvimento

    da sensibilidade e a construo de uma rela-

    o de reciprocidade com ela, e podem ser

    praticadas sozinho, em pequenos ou grandesgrupos amadores e profissionais.

    ACERVOECOFUTURO

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    SRA ECEE TNA

    As atividades em reas naturais tm suscitado muitas reflexes que, a partir da ex-

    perincia, levam-me a explorar e a compreender campos cada vez mais sutis e delicados.

    Visitas sensveis e reflexivas so completamente diferentes das visitas tcnicas ou cientficas

    aos espaos naturais, mas podem ser planejadas de forma que uma complemente a outra.

    As vivncias consideram o visitante por inteiro, acolhe suas percepes e sentimentos e

    busca orient-lo de forma a perceber aspectos muito sutis da mata. J as visitas cientficas

    priorizam as informaes sobre aquilo que j se descobriu sobre a natureza, seja o saber

    cientfico seja o das culturas tradicionais. Nessas ltimas, os visitantes ocupam uma posturamenos ativa, podendo se encantar com o conhecimento que lhes transmitido. Se planeja-

    das de forma que uma complemente a outra, podem oferecer uma experincia fascinante

    aos participantes. O importante que haja encantamento, seja pela natureza em si, seja pelo

    conhecimento sobre ela que o educador compartilha com seu grupo.

    O encantamento fundamental para formar os alicerces de qualquer conhecimento.

    CAPTULO II

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    Sem encantamento o conhecimento no nos afeta de verdade. importante aqui fazer-

    mos as devidas distines entre o encantar-se com o conhecimento e o encantar-se com

    o fenmeno natural propriamente dito. Se ambos so muito importantes, reconhecer a

    diferena entre eles mais importante ainda. comum darmos importncia muito maior ao

    conhecimento do que experincia. Mas quando entramos no campo das vivncias com a

    natureza, somos desafiados a rever essa posio. H muitas pesquisas bem fundamentadas

    que afirmam que, para melhores resultados na aprendizagem, a experincia aparece como

    to importante quanto o conhecimento.

    Para nos encantarmos com o conhecimento no preciso ter experincia com o

    elemento sobre o qual se aprende. Basta um bom professor, um bom filme, um bom livro.

    Mas para nos encantarmos com a natureza, precisamos passar por uma experincia direta

    com ela, o que exige participao de corpo e alma. E isso no uma metfora! Claro, po-

    demos apreciar e nos encantar com incrveis fotos e filmes de natureza. A diferena entre

    esse encantamento e aquele despertado pela experincia direta muito sutil e delicada.Pois podemos, em uma visita a uma rea natural, nos relacionarmos com as coisas vivas

    como se elas fossem formas estticas e, ainda assim, belas. Mas h algo a mais nelas que

    s percebemos quando nos abrimos a uma disposio especial para essa conexo. que

    as coisas vivas esto em permanente mudana. Nunca esto paradas, como usualmente

    as vemos. Observar esse movimento o fenmeno mais impressionante para se entrar

    em contato e que afeta diretamente nosso olhar e forma de pensar.

    O mais incrvel que, como ns tambm estamos nesse processo de permanente

    mutao, colocamos intencionalmente o nosso processo vivo em contato com o daquela

    planta ou daquele animal e algo invisvel para os nossos olhos comea a ser perceptvel, pois

    nossas qualidades mais vibrantes passam a ser sentidas e colocadas a servio desse dilogo.

    Para ter experincias diretas com as coisas vivas, somos chamados a participar com o corpo

    inteiro, aguando cada um dos nossos sentidos e, mais do que isso, nos dando conta de que

    nossa capacidade de percepo muito maior do que aquela que costumamos atribuir aos

    sentidos. Diversos pesquisadores apontam que temos muito mais que os conhecidos cinco

    sentidos da viso, olfato, paladar, audio e tato. Os demais sentidos esto difusos em nosso

    corpo inteiro. Podemos constatar a sua presena analisando a lista abaixo, adaptada dos es-

    tudos do educador Michael Cohen, norte-americano vinculado Ecopsicologia. Segundo

    ele, ns temos 53 sentidos. Eis alguns deles:

    1. Sentidos das radiaes

    Percepo da luz mesmo de olhos fechados.

    Percepo das cores.

    Percepo da prpria visibilidade e sua consequente camuflagem.

    Percepo de radiaes alm da luz.

    MICHAEL COHEN, RECONNECTING WITH NATURE; FINDING WELLNESS THROUGH RESTORING YOUR BOND WITH THEEARTH, LAKEVILLE, ECOPRESS, 2007.

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    Percepo de temperaturas e das mudanas de temperatura.

    Percepo das estaes do ano.

    Percepo das ondas eletromagnticas.

    2. Sentidos das sensaes

    Audio, incluindo ressonncia, vibrao, sonar e frequncias ultrassnicas.

    Percepo da presso, particularmente no subsolo, sob a gua e sob o vento.

    Sensibilidade ao peso, gravidade e ao equilbrio.

    Sentir, em especial o toque na pele.

    Espao ou proximidade.

    Sentido do movimento, sensaes do movimento do corpo e senso de mobilidade.

    3. Sentidos qumicos

    Olfato, atravs ou no do nariz. Paladar, com ou sem a lngua.

    Apetite ou busca de alimento, gua e ar.

    Percepo da urgncia da busca de alimento, caa.

    Sentido da umidade incluindo sede, controle da evaporao e habilidade para

    encontrar gua.

    Percepo da ao dos hormnios, como os feromnios, e outros estmulos qumicos.

    4. Sentidos mentais

    Dor externa ou interna.

    Desequilbrio mental ou espiritual.

    Sentido do medo, percepo de perigo, morte ou ameaa.

    Necessidade de procriao, incluindo percepo do sexo, da corte, do acasala

    mento e do cuidado com os filhotes.

    Humor, prazer, riso, esportes e brincadeiras.

    Sentido de orientao fsica, de localizao, incluindo percepo detalhada da

    terra e das paisagens marinhas, das posies do Sol, da Lua e das estrelas.

    Percepo do tempo.

    Percepo dos campos eletromagnticos.

    Percepo das mudanas de tempo/clima. Percepo emocional, de comunidade, de apoio, verdade e gratido.

    Percepo de si mesmo, incluindo amizade, companheirismo e poder.

    Sentido de dominao e de territorialidade.

    Sentido de colonizao, incluindo percepo receptiva dos seres amigos.

    Sentido horticultural e habilidade de cultivar e produzir na terra, tal como as

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    formigas que cultivam fungos, fungos que cultivam algas e pssaros que deixam

    alimento para atrair suas presas.

    Sentido da linguagem e de articulao usado para expressar sentimentos e trocar

    informaes em cada meio, desde a dana das abelhas at a literatura humana.

    Sentido de humildade, apreciao e tica.

    Sentido da forma e do desenho.

    Racionalidade, incluindo memria e capacidade para a lgica e para a cincia.

    Percepo da mente e da conscincia.

    Senso esttico, incluindo criatividade e fruio do belo na msica, na literatura,

    nas artes plsticas, no design e no teatro.

    Capacidades psquicas, como premonies, clarividncia, clariaudio, projeo

    astral, certos instintos animais e sensitividade das plantas.

    Sentido do tempo biolgico e astral, percepo do passado, do presente e do

    futuro. Capacidade de hipnotizar outras criaturas. Sentido de relaxamento e sono, incluindo sonho, meditao e percepo das

    ondas cerebrais.

    Sentido da formao da pupa, incluindo a formao da lagarta, do casulo

    e da metamorfose.

    Percepo do estresse excessivo.

    Sentido de sobrevivncia, juntando-se a organismos mais estveis.

    Sentido da espiritualidade, incluindo a conscincia, a capacidade de amor

    sublime, xtase, pecado, tristeza profunda e sacrifcio.

    Quando estamos imersos em uma rea natural e buscamos equilibrar os pensa-

    mentos e as sensaes, percebemos como podemos nos dar conta de uma infinida-

    de de fenmenos que acontecem simultaneamente. Essas percepes so delicadas e

    muitas vezes temos dificuldade at de verbaliz-las. Isso no quer dizer que elas sejam

    pouco importantes ou imaginrias, mas apenas que no damos a mesma importncia

    entre o que material, palpvel e visvel, e o que delicado, sensvel e perceptvel sob

    determinadas condies de silncio, concentrao e ateno. Identificar as palavras que

    correspondem a essas percepes ajuda a fortalec-las e a dar-lhes uma existncia con-

    creta, sem diminuir a sua potncia.

    Insistir nessas experincias faz com que percebamos a potncia e a energia dosfenmenos sutis e delicados. Embora saibamos que a vida que nos governa forte e po-

    derosa, no estamos acostumados a v-la se expressar, a se apresentar sutilmente diante

    de ns. Quando o conseguimos porque entramos em contato com a potncia da vida,

    tornando-nos assim mais potentes. No se trata de adquirir poder pela fora. Negar a

    potncia da delicadeza com a fora da matria travar uma luta desnecessria entre o

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    que podemos controlar dentro e fora de ns.

    Para fazer contato com a potncia sutil da vida

    precisamos saber controlar a fora dominante

    das nossas emoes costumeiras e dos pensa-

    mentos agitados.

    Todos os seres vivos so formados dessa

    fora delicada e sutil que se desenvolve auto-

    nomamente, sem comandos externos. Perce-

    ber essa fora depender do quanto formos

    capazes de comandar internamente, e com

    determinao, os pensamentos e emoes

    aleatrios que confundem nossa percepo.

    Por isso, a experincia sensvel com o mundo

    natural pode nos ajudar a nos tornar mais po-tentes e capazes de transformar o mundo agin-

    do em favor da vida.

    H mais de 4.000 anos, comeamos a

    refletir, dialogar e registrar por meio da escrita

    os processos de tomada de conscincia. Passa-

    mos por diferentes fases do pensamento, desde

    a percepo de estarmos imersos em uma na-

    tureza que nos antecede, assusta e domina, at

    a percepo de estarmos separados dela. Isso

    nos permitiu modific-la at sua mais profunda

    intimidade, domin-la e a destru-la em nomede um desenvolvimento idealizado de forma in-

    dependente das foras naturais. Ao nos afastar-

    mos da natureza para construir um mundo que

    fosse mais controlado e confortvel, nos afas-

    O OO UNE RDAM

    CAPTULO III

    ACERVOECOFUTURO

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    tamos tambm do nosso corpo, que a natureza que somos, dando mais importncia

    ao pensamento, s descobertas cientficas e ao conhecimento consolidado. Apesar das

    ondas crescentes de estmulos boa forma, aos exerccios fsicos nas academias, s

    dietas, esses esforos nem sempre conduzem a uma tomada de conscincia do prprio

    corpo. Ns ainda vivemos de forma alheia a ele, e j podemos sentir diversos tipos de

    desconforto e de doenas.

    Ainda que nossas emoes e escolhas definam as formas que o corpo pode to-

    mar, ele essencialmente natural. Tudo o que acontece com ele acontece tambm

    com as plantas e animais: os processos de desenvolvimento, as necessidades fisiolgi-

    cas, as influncias dos ciclos terrestres, da lua e dos astros. Por meio do nosso corpo vi-

    vemos um dilogo inconsciente com a Terra, pois para nos desenvolvermos precisamos

    interagir intimamente com ela por meio da gua, da respirao e dos alimentos. O modo

    como fazemos isso varia de um povo para outro.

    Dentro de uma mesma cultura, as variaes se devem aos aspectos psicolgicos,socioeconmicos, emocionais e espirituais de cada pessoa. Ns vivemos em uma cultura

    moderna, ocidental e globalizada, a princpio liberal, onde cada indivduo pode se tornar um

    cidado e fazer escolhas de acordo com seu livre arbtrio, seguindo apenas as restries le-

    gais e de regulamentos formais. Vivemos dentro de um abrangente leque de possibilidades,

    e sabemos que este pode se abrir cada vez mais e incluir os anseios de todas as pessoas.

    Seja l como fazemos essas escolhas, as fazemos de forma limitada e coerente

    com nossas caractersticas corpreas. Nosso corpo um forte elemento da nossa iden-

    tidade. No confortvel viver considerando o corpo como algo ao lado de ns. Por

    menor que seja a conscincia corporal, o corpo ainda vai funcionar de forma coerente

    com a da nossa espcie. Por mais que o clima mude, s vamos conseguir respirar de

    acordo com as concentraes de gases, sobretudo oxignio, a partir do qual nosso

    corpo evoluiu. Isso ocorreu a partir de uma rede complexa de interaes com milhes

    de outras espcies, que estavam ao mesmo tempo regulando os ciclos de todos os

    elementos, tornando as concentraes de gases muito especficas para que a Terra pu-

    desse acolher tanta variedade de espcies. Os seres vivos produzem, a todo instante,

    quase todos os gases que compem a atmosfera, realimentando-a permanentemente,

    de forma a manter o equilbrio exato e necessrio para a vida na Terra. A taxa de oxignio

    da atmosfera constante, em torno dos 21%. Um pouco mais que isso haveria incndios

    por toda parte; um pouco menos, morreramos.E se os seres vivos no transformassem os nitratos salgados em nitrognio, e no

    lanassem esse nitrognio no ar, os mares se tornariam muito salgados para que a vida

    continuasse a existir neles, e a atmosfera perderia seu equilbrio. (Elisabeth Sahtouris)

    Mas o que isso tem a ver com o aprendizado? Nosso crebro evoluiu a partir des-

    sas interaes e precisaremos sempre delas para continuar evoluindo. Todas as espcies

    ELISABET SAHTOURIS,A VIDA OCULTA DE GAIA, SO PAULO, GAIA, 1997, IN ANA AUGUSTA ROCHA, SOMOS TERRA,SO PAULO, AUANA EDITORA, 2011.

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    coevoluem. No possvel seguirmos nosso caminho evolutivo de forma independente

    das outras espcies. Quanto mais espcies conseguirmos conservar, mais espcies tere-

    mos para interagir, mais ricas sero as trocas biolgicas e maiores possibilidades teremos

    para o futuro. fundamental refletirmos sobre isso ao discutirmos o papel da educao

    e ao pensar uma outra educao que considere a evoluo biolgica humana.

    Segundo Elisabeth Sahtouris, a inteligncia fonte, e no resultado da evoluo. A

    vida um processo inteligente. Ns, humanos, somos capazes de criar conscientemente

    mundos muito diferentes dos ambientes a partir dos quais emergimos, mas ainda assim

    nossa inteligncia segue sendo um fenmeno biolgico. Nunca deixamos de interagir

    com todos os seres vivos, como acontece com todos os processos vivos desde o incio

    da vida na Terra. Por isso, mais do que nunca to necessrio aprender a ouvir a natu-

    reza para seguir criando mundos integrados evoluo dos processos vivos. Podemos

    optar pela vida ao escolher os caminhos do desenvolvimento social, se quisermos.

    Acreditamos que podemos desenvolver a inteligncia de uma forma integral, pormeio de uma educao que enfatize os processos vivos e que seja aberta s interaes e

    cuidados com outros seres. Acreditamos, tambm, que o aprendizado pela experincia

    fundamental para embasar o conhecimento que se quer transmitir na educao. A

    experincia consegue trazer nossa ateno para a percepo do agora nico tempo

    em que o vivo pode ser realmente sentido/percebido. Assim como na metamorfose,

    no agora que o velho e o novo coexistem, ou seja, o conhecimento pr-existente e

    o aprendizado pela experincia juntos possibilitam que cada passo no aprendizado

    seja um passo biologicamente evolutivo.

    Por isso to importante trabalhar com as crianas fora da sala de aula. Lev-los

    para aprendizagens ao ar livre resgatar os aspectos essenciais da inteligncia humana

    e coloc-los disposio da evoluo da vida. Ao mesmo tempo, proporciona a profes-

    sores, educadores e pais, momentos prazerosos de intenso estmulo sensorial, quando

    todos participam como seres integrais com o que tm de melhor. Nessas situaes,

    professores, alunos e pais se tornam aprendizes e podem melhorar e aprofundar suas

    relaes pessoais. Os padres pr-estabelecidos se flexibilizam e todos caminham jun-

    tos com confiana e afeto.

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    24 25RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

    CHEO AA I EO

    O que fazer para conhecer mais nossa prpria natureza? Todos sabemos que

    somos diferentes uns dos outros. Embora tenhamos noo de nossa singularidade, mui-

    tas vezes agimos como se tivssemos as mesmas necessidades, temperamentos ou

    reaes. Nossa cultura nos faz ter a impresso de sermos homogneos, com metabo-

    lismos, medidas e estilos iguais; como se reagssemos da mesma forma aos estmulos

    da propaganda. importante pararmos para nos auto-observar e reconhecer o nosso

    perfil especfico, de forma a afirmar nossa potncia no mundo. Precisamos desenvolver

    o senso crtico e cultivar discernimento das coisas, pessoas e lugares.

    Quanto mais sabemos de ns mesmos, mais podemos ser autnticos e nos mos-trar inteiros a todos. Para os educadores, e nessa categoria incluo os pais e todos que

    se relacionam com crianas, isso especialmente importante, pois o que elas mais pre-

    cisam de adultos que se relacionam com a vida de forma consciente e genuna, que

    observam, refletem e reagem de forma coerente. Apesar de estarmos to perto de ns

    mesmos, nem sempre fcil saber quem somos. Isso requer tempo, disponibilidade

    CAPTULO IV

    ACERVOECOFUTURO

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    para ver tanto nossa luz quanto nossa sombra e coragem para assumir quem somos.

    As dicas deste captulo podem ajud-lo a seguir um caminho de permanente

    ampliao da conscincia e de aceitao de si, mesmo quando estiver vivendo um

    importante processo de mudana.

    Entenda que, para se conhecer, voc no precisa mudar de trabalho. Toda ati-

    vidade tem prs e contras, uma vez que todos temos muitos lados. Mas quando

    observamos, com pacincia e cuidado, como reagimos aos desafios do dia a dia pro-

    fissional, aprendemos a passar mais tempo fazendo o que nos apraz e menos tempo

    naquilo que nos incomoda. Algumas pessoas que gostam muito do que fazem no

    conseguem distinguir momentos de frias dos momentos de rotina diria, pois tm

    uma relao to estimulante com o trabalho que ele se torna um prazer, tanto quanto

    estar na praia ou na montanha!

    Quando perguntavam ao Mahatma Gandhi, que trabalhou to intensamente para

    libertar a ndia de forma pacfica, se ele no deveria tirar umas frias de vez em quando,

    ele respondia: Mas eu estou sempre de frias!. Acredito ser este o estado ideal a ser

    buscado em relao ao que fazemos. Outro aspecto importante garantir que haja

    sempre aprendizado em suas atividades. Aprender uma das caractersticas que nos

    faz humanos. Permanecer numa situao de repetio e monotonia no torna nossa

    vida significativa, nem nos faz sermos o melhor que poderamos ser. Todos estamos

    em evoluo, e nos seres humanos a evoluo se d na conscincia, que s se expan-

    de enquanto se mantm aprendendo. No basta aumentar os conhecimentos sobre o

    que nos interessa. preciso tambm aprimorar incessantemente nossa compreenso

    do mundo, da razo das coisas serem como so. Procure compreend-las. Use a lin-

    guagem do corao para fazer contato com o que precisa ser compreendido.

    Evite a comodidade de repetir o que j conhece e fez no ano passado. Mes-

    mo sobre um tema conhecido possvel um olhar inusitado e coerente com seu

    estado emocional. Isso vai ficando mais fcil pelo contato com a natureza. Voc se

    perceber diferente a cada dia, com novos humores, necessidades e disposio. Tire

    proveito dessas variaes tornando seu dia agradvel. Sinta respeito por si mesmo e

    tudo fluir harmonicamente.

    A fim de atender vrias demandas, comum deixarmos de respeitar nossos pr-

    prios limites. Com o tempo, isso gera doenas e estresse. Seria bom reconhecermos

    que a maioria das doenas so reaes da alma ao no atendimento de suas neces-

    sidades mais profundas. Por isso, importante a auto-observao e os momentos de

    cuidar de si mesmo.

  • 7/23/2019 Atividades em reas naturais - Rita Mendona

    16/84

    INSTITUTOECOFUTURO

    28RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

    29

    Se voc quiser levar a srio o seu pro-

    cesso de auto-conhecimento, faa um Dirio

    de Campo. Por que de campo, se voc no

    um cientista em viagem de explorao? Bem,

    na minha viso, voc , sim, um cientista. A

    vida uma grande aventura que merece ser

    observada, como fazem os exploradores. Pe-

    gue um caderno pequeno e deixe-o na cabe-

    ceira da cama. No o trate como um dirio no

    sentido convencional, mas escreva somente o

    que sente que importante: os aprendizados

    do dia, o que te tirou do lugar, o que invisvel,

    mas que voc conseguiu observar. Garanto

    que nada disso ocupa tempo. Uns 10 minutos,

    no mximo. Quando isso fizer parte de sua ro-

    tina voc poder sentir os benefcios. Apenas

    anote e deixe fluir. A vida fluxo. Tanto a nos-

    sa como a da Terra, que so a mesma, afinal!

    Nunca teremos certeza sobre como foi o seu

    Sente-se e respire calmamente. Bastamalguns minutos de auto-observao, atmesmo cinco minutos, todos os dias.Observe a respirao, os pensamentos.Apenas observe-os, criando umaintimidade com eles. Procure fazer issotodos os dias, de manh e noite, antesde dormir. Pela manh, defina umainteno para o seu dia. Algo como umaemoo ou imagem que possa permeartudo que fizer. E noite, antes deapagar a luz, reveja a influncia que suainteno teve nas atividades, relaes ereaes do dia. Com o tempo possvelperceber que a mente capaz de

    muito mais do que se imagina. Uma dasprimeiras concluses que essa prticatraz que a felicidade e o bem-estar sofundamentais para que haja harmoniaem nossa vida.

    DICAS PARA COMBATER O ESTRESSE:

    comeo e como ser o seu fim. O melhor que podemos fazer

    honrar e cuidar desse fluxo que passa por ns neste momento.

    O que tudo isso tem a ver com as atividades em rea natu-

    rais? Se tivermos um bom trabalho interior poderemos desfrutar

    das atividades com a natureza de forma muito mais proveitosa, re-

    conhecendo as qualidades sutis que nos unem a todas as plantas

    e animais, e fazendo dessas visitas verdadeiros encontros de reco-

    nhecimento da fonte que nos une e nos distingue. As experincias

    sero momentos de celebrao e afeto.

    ACERVOECOFVUTURO

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    31

    A ARA O LDAA

    Para trabalhar fora da sala de aula preciso reconhecer as caractersticas de um

    espao aberto e fazer proposies educativas coerentes com ele. Sair da sala de aula

    para dar aulas da mesma forma que entre quatro paredes o mesmo que ficar em

    uma piscina como se estivesse em uma banheira! preciso aproveitar ao mximo essa

    sada, que vai requerer do professor o uso de outras estratgias e um posicionamento

    diferente. O espao fechado da sala de aula permite que o professor controle o com-

    portamento dos alunos. No espao aberto, a atitude controladora precisa ser substituda

    pela de coaprendiz, corresponsvel e orientador, pois nada na natureza passvel de

    controle; ela radicalmente espontnea e influencia os visitantes instantaneamente!

    Para promover essa mudana, o professor deve criar reciprocidade e confiana

    com seu grupo. Antes de sair da sala, recomendo a prtica de Jogos Cooperativos para

    desenvolver o senso de coletividade, de cooperao e complementaridade, favorecen-

    do relaes harmoniosas por todo o ano.

    saiba mais sobre jogos cooperativos em www.Jogoscooperativos.Net. Tambm recomendo o livro JOGOS COOPERATIVOS:

    SE O IMPORTANTE COMPETIR, O FUNDAMENTAL COOPERAR! , DE FBIO OTUZI BROTTO, publicado pelo projeto

    cooperao, em 1997.

    CAPTULO V

    RITA MENDONAATIVIDADES EM

    REAS NATURAIS

    ACERVOECOFUTURO

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    INSTITUTOECOFUTURO

    32RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

    33

    Um outro estilo de jogos proposto por David Earl Platts, que facilitou incontveis

    processos de integrao de grupos na ecovila de Findhorn, na Esccia. Seus jogos, no

    livroAutodescoberta divertida uma abordagem da Fundao Findhorn para desenvolver

    a confiana nos grupos,so delicados, simples e muito eficazes. Recomendo-os para a

    construo e fortalecimento de grupos, mesmo quando permanentes, como os de estu-

    dantes. Tanto os jogos cooperativos quanto os de Findhorn no so voltados para expe-

    rincias com a natureza, mas so importantes para a percepo individual de si mesmo e

    do grupo, e para desenvolver o senso de pertencimento e vnculo, fundamentais para o

    comportamento ambientalmente engajado que desejamos que todos desenvolvam.

    A metodologia desenvolvida pela Sharing Nature Worldwide, chamada em ingls

    de Flow Learninge, em portugus, de Aprendizado Sequencial, inteiramente dedicada

    s vivncias com a natureza. Excelente para o educador que decide sair da sala de aula

    com os alunos, parte do pressuposto de que, por mais que o professor tenha uma tem-

    tica central a desenvolver, o reconhecimento e a interao com os elementos vivos do

    ambiente devem ser priorizados dentro dos contedos a serem trabalhados. Estes so

    contedos imprevisveis, assim como imprevisvel o que mais vai chamar a ateno e

    atrair o interesse dos alunos.

    Para trabalhar fora da sala de aula, o professor deve conhecer a si mesmo e mo-

    dificar, pouco a pouco, suas relaes com a classe. Estas precisam ser verdadeiras, olho

    no olho, sob uma atmosfera de confiana, entusiasmo e alegria. As aulas podem seguir

    os temas planejados ou no. O professor pode intercalar as aulas temticas com aulas

    de explorao do mundo sua volta. Todas as disciplinas podem ser trabalhadas fora

    da sala de aula e com a natureza. Mais do que um tema a mais, a natureza vai estimular

    os sentidos, o senso de interesse pelo conhecimento e o entusiasmo de aprender pela

    experincia. Alunos com dificuldades em temas especficos podem super-las sendo

    levados a um local aberto, possivelmente mais coerente com seu ambiente interno.

    Todos podemos reconhecer o que o nosso ambiente interno e o externo. Um

    est dialogando com o outro o tempo todo. Quanto mais diversificado o ambiente ex-

    terno, mais oportunidades cada um ter de criar um rico ambiente interno. As salas de

    aula estimulam o plano mental. O ambiente ao ar livre estimula o ser integral, com o

    corpo, sentidos, sentimentos em equilbrio com o plano mental.

    As crianas so a natureza tornando-se humana. importante que elas tenham o

    direito convivncia com os outros seres vivos com os quais elas sentem grande proxi-

    midade. As vivncias com a natureza devem, nesse sentido, conservar o vnculo que as

    crianas j tm, conservando assim sua essncia, e so uma forte aliada da educao

    do ser humano integral.

    A natureza tambm pode ser escolhida como o ambiente mais favorvel apren-

    dizagem, permitindo que os alunos aprendam de forma orgnica e respeitosa de suas

    SHARING NATURE WORLDWIDE WWW.SHARINGNATURE.COM, INICIATIVA REPRESENTADA NO BRASIL PELO INSTITUTO ROM

    WWW.INSTITUTOROMA.COM.BR.

    RITA MENDONA

  • 7/23/2019 Atividades em reas naturais - Rita Mendona

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    INSTITUTOECOFUTURO

    34RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

    35

    caractersticas individuais. Em espaos abertos, os alunos podero caminhar devagar

    com o grupo em duplas ou em pequenos grupos , ou ficar sentados no cho em

    crculo para compartilhar descobertas e se encantar com o que quer que os atraiam.

    Com o tempo, o professor poder reconhecer aprendizagens igualmente impor-

    tantes, despertando o interesse para outros contedos, melhorando as relaes sociais

    dos alunos entre si e com ele, aumentando a capacidade de aprender, desenvolvendo

    a capacidade de ter autonomia e reflexo, mobilizando-se na reparao ou construo

    de algo de interesse coletivo.

    O dentro e o fora , na verdade, um gradiente de situaes entre as mais internas

    e as mais externas. Mas estamos acostumados a ver que uma coisa dentro da sala de

    aula, outra coisa fora dela. Uma coisa o que pulsa dentro de mim, outra coisa o que

    vibra fora. Uma coisa o que acontece no mbito escolar, outra coisa o que acontece

    na sociedade.

    Podemos integrar esses campos. Est na hora de fazermos as pontes e colocar-

    mos abertamente, em nossas relaes, aquilo que somos interiormente. Fazer a ponte

    entre a sala de aula e o mundo. Fazer a ponte da escola como vetor de construo da

    sociedade. Fazer a ponte entre a sociedade e a natureza, em que uma aspecto essen-

    cial da outra.

    Sair da sala de aula pode ter um papel poltico-social muito maior do que se pode

    imaginar. Significa posicionar-se pela construo de uma sociedade que inclua as dife-

    renas e oposies. E que, em todas as situaes da vida, mesmo as mais difceis, sejam

    momentos privilegiados de aprendizagem

    Aula fora da sala diferentede sala de aula ao ar livre?

    RITA MENDONA

  • 7/23/2019 Atividades em reas naturais - Rita Mendona

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    RITA MENDONAATIVIDADES EM

    REAS NATURAIS 37

    CO LER M RRADVNAC NUZ

    Para conduzir um grupo de Vivncias com a Natureza recomenda-se que o edu-

    cador planeje as atividades em detalhes. Costuma-se dizer que ele se torna um artista

    que dispe de trs elementos:

    a si mesmo, com suas disposies e inspiraes;

    a rea natural e suas caractersticas prprias;

    o perfil do grupo

    Quanto mais conhecimento tiver sobre esses trs elementos, mais chances ter de

    realizar uma atividade prazerosa e rica em aprendizagens para todos. Para isso bom que:

    O educador faa uma visita prvia ao local, percorrendo todo o percurso que

    far com o grupo, mesmo que conhea a rea e a visite com frequncia. A natureza

    muda todos os dias e quanto mais bem informado, (galho que caiu, nova toca de tatu,

    rvore que floriu, pegadas de animais, etc.) melhor proveito poder tirar delas. Entre em

    CAPTULO VI

    ACERVOECOFUTURO

    RITA MENDONA

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    INSTITUTOECOFUTURO

    38 ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

    39

    contato com as qualidades nicas daquela mata, percebendo as nuances que a fazem

    ser quem . Por exemplo, cada trilha de Mata Atlntica tem suas prprias singularidades

    e importante que possa perceb-las, muito mais do que saber quais so suas carac-

    tersticas comuns. So essas qualidades prprias que sero suas aliadas ao conduzir um

    programa com seu grupo.

    Enquanto percorre a trilha, anote os locais onde pretende fazer cada atividade.

    Programe o tempo delas e o tempo total que levar para percorrer a trilha com todas

    as atividades. importante esse planejamento para ter a segurana de, no momento

    em que estiver com o grupo, poder modific-lo inteiramente, caso as demandas do

    momento exijam.

    Conhea o perfil do pblico: sua mdia de idade, a experincia com esse tipo

    de atividade, o motivo da visita, entre outros aspectos. Isso importante para que o edu-

    cador planeje as atividades de forma coerente e alinhada com o pblico que ir conduzir.

    Sempre que possvel, prepare uma ficha de inscrio, que deve ser preenchida e enviada

    antes da visita, para que estude o perfil do grupo e escolha as dinmicas adequadas.

    Tenha o material adequado. Algumas atividades precisam de materiais como

    papel, lpis, vendas, atividades impressas. essencial que o educador tenha os materiais

    adequados para a atividade que quer propor. Aconselha-se que leve os materiais consigo

    e os distribua apenas no momento de cada exerccio.

    Faa o planejamento das atividades. O planejamento prvio serve para deixar o

    educador seguro e preparado. Deve planejar mais atividades do que conseguir aplicar,

    eliminando algumas durante a visita. O fato de no conseguir aplicar tudo o que plane-

    jou no sinal de fracasso, apenas sinaliza que o educador foi sensvel para atender as

    necessidades do momento e no ficou apegado ao roteiro. Mais vale ter um olhar atento

    para as necessidades do grupo. E ainda, se sentir que deve propor algo no previsto,

    deve tentar atender. Com a prtica percebe-se ser este um trabalho que traz grande

    aprendizagem ao educador, que serve ao propsito maior das vivncias, ou seja, de

    proporcionar momentos de forte interao e integrao das pessoas consigo mesmas,

    umas com as outras, e com a natureza.

    Tenha algum como assistente. possvel conduzir sozinho um programa de

    vivncias com a natureza, mas com algum para ajudar melhor. Um assistente d su-

    porte nos cuidados, distribuio e recolhimento dos materiais, pode evitar a disperso

    da trilha, pode dar mais ateno aos participantes e atender em outras situaes que o

    educador precisar.

    Prepare-se e concentre-se antes de comear. Reserve um tempo para isso, da

    maneira que achar mais conveniente. Este momento serve para o educador focar sua

    ateno, renovar suas intenes e se conectar com o lugar onde realizar as atividades.

    Aprenda a lidar com o imprevisvel. Saber que os fatos da vida so imprevisveis

    INSTITUTO40RITA MENDONA

    ATIVIDADES EM 41

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    INSTITUTOECOFUTURO

    40 ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

    41

    um passo. O seguinte perceber como cada

    pessoa reage diante do imprevisvel. Caminhar

    na natureza contatar o imprevisvel. As matas

    em geral tm um microclima diferente do que

    pode ser previsto pela meteorologia de uma

    dada regio. Podemos ser surpreendidos por

    chuva em poca de seca e caminhar sob um

    sol escaldante em tempos de chuva. Portan-

    to, fundamental aprendermos como reagir

    diante desse fato da vida. Explorar essa ques-

    to criar alicerces slidos e educativos na

    psique nos estudantes. Ao expor-se ao tempo,

    o visitante pode abandonar a antiga postura de

    querer planejar e controlar tudo para aceitar e

    ampliar sua percepo do que acontece. Para

    que lado sopra o vento? Que mudanas ocor-

    reram durante o dia? Quais variaes de luz?

    Que grfico cada um faria sobre as oscilaes

    da prpria percepo trmica? A temperatura

    muda durante um dia e, com ela, a sua percepo. O que acontece quando chove?

    Que tipo de modificaes a chuva provoca ao planejamento da visita? Visitar um lugar

    tambm significa visitar a sua chuva? Abandonar o desejo de controlar o incontrolvel

    um gesto transformador. Preparar as pessoas para isso muito mais realista do que

    criar ou reproduzir realidades imaginadas sem conexo com a realidade da vida.

    Estas orientaes auxiliam o educador para uma conduo bem sucedida de

    um programa de atividades com a natureza. Tudo para que os participantes tenham

    uma experincia profunda e intensa, por meio de uma atmosfera leve e alegre criada

    pelo educador, de forma que todos se coloquem a servio da vida, cumprindo cada

    um o seu propsito com entusiasmo e inteireza.

    ACERVOECOFUTURO

    RITA MENDONAATIVIDADES EM 43

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

    43

    O PNZO EEI O nome original em ingls da metodologia Aprendizado Sequencial Flow Learning.

    Criada para ser aplicada em rea ao ar livre, de preferncia rica em natureza, foi de-

    senvolvida pelo professor Joseph Cornell, fundador da organizao Sharing Nature

    Worldwide.No Brasil, suas atividades so coordenadas pelo Instituto Rom de Vivn-

    cias com a Natureza. Segundo Cornell, essa metodologia serve para as pessoas apren-

    derem por meio da experincia com a natureza, saindo do mbito das ideias, infor-

    maes e conceitos, ou para que ao menos possam formul-los a partir da prpria

    experincia. Ele empenhou-se em criar atividades delicadas com grande potencial de

    levar as pessoas a percepes sutis do mundo natural. Acreditando que a sensibilidade

    o fruto mais precioso da educao, suas atividades Sharing Naturepermitem que

    todos educadores e participantes aprendam com o corao.

    O educador que conduz uma vivncia com o Aprendizado Sequencial se i nspira

    nas seguintes recomendaes:

    Ensine menos e compartilhe mais.O educador se mantm aberto para que a

    natureza seja a mestra e que ele seja um facilitador desse processo. Espera que os par-

    ticipantes se surpreendam com os fenmenos naturais, e se encantem com tudo que

    Esta metodologia apresentada detalhadamente no livro VIVNCIAS COM A NATUREZA 2, DE JOSEPH CORNELL, SO

    PAULO, EDITORA AQUARIANA, 2008. Os comentrios e recomendaes aqui propostos so baseados nas experincias do

    Instituto Rom de Vivncias com a Natureza, www.institutoroma.com.br

    CAPTULO VII

    FOTO:JULIANACOUTINHOACERVOECOFUTURO

    INSTITUTO44RITA MENDONA

    ATIVIDADES EM 45

  • 7/23/2019 Atividades em reas naturais - Rita Mendona

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    ECOFUTURO44

    REAS NATURAIS 45

    ele compartilhar. No vai ensinar coisas, passar contedos, mas compartilhar as ex-perincias que ele prprio vivenciar. E, claro, como o faz sempre e profissionalmente,

    pode ser que ele tenha mais i ntimidade com a natureza e mais repertrio, chamando

    ateno para aspectos que o atrarem durante a visita.

    Seja receptivo.O educador no est ali para julgar o que as pessoas sabem

    ou deveriam saber sobre a natureza, nem como deveriam se comportar. Deve ser

    receptivo tanto s pessoas organizando de forma a conduzi-las para um estado de

    encantamento quanto aos fenmenos naturais.

    Concentre a ateno das pessoas.Todos aproveitaro melhor a visita se as

    pessoas acalmarem a mente e atentarem para o que a natureza apresenta naque-

    le instante. Isso no fcil, mas o educador ter ferramentas que o ajudaro nessa

    etapa fundamental da metodologia, pois sem esse aquietamento no d para afinar

    a percepo e a observao, bloqueando o acesso ao campo sutil e fascinante dos

    processos vivos.

    Observe e sinta primeiro, fale depois.Os fenmenos naturais podem nos sur-

    preender a qualquer momento e serem apreciados com profundidade e detalhe.

    comum que, como educadores, tenhamos o impulso de comentar, exclamar. No

    deixa de ser bom comunicar o espanto, mas falar logo tambm diminui as possibili-

    dades de uma apreciao mais profunda, de internalizao e identificao no prprio

    corpo de como certo fenmeno afeta cada um. Quanto mais identificarmos como equanto aquilo verdadeiramente nos afeta, mais impresses positivas se enraizaro em

    ns. Isso especialmente importante pois no podemos perder a capacidade de con-

    templar, de nos encantarmos com o belo e de sustentar o espanto diante do milagre

    da vida. Com essa vivncia, criamos um espao interno capaz de conviver com o que

    bom, belo e verdadeiro, ampliando-o e fortalecendo-o.

    Crie um ambiente leve, alegre e receptivo. Toda experincia com a natureza

    pode ser leve, de forma que os fluxos vivos sejam compartilhados tal qual uma dana

    suave ao sabor do vento. A alegria, que inicialmente costuma ser agitada e animada,

    pode tornar-se profunda, no decorrer da experincia. Conhecemos pelo menos essas

    duas possibilidades de alegria e ambas precisam ser experimentadas, e suas impres-

    ses marcadas em nossa experincia corporal. A terra, as plantas e os animais so na-

    turalmente receptivos nossa visita. Nossas imagens e emoes que os tornam, s

    vezes, assustadores. Existe uma relao direta entre o comportamento das pessoas e

    os riscos de se machucarem de alguma forma. preciso criar um ambiente receptivo

    para sermos acolhidos pela natureza e assim desfrutar de sua hospitalidade, evitando

    aes agressivas ou desatentas, caminhando com cuidado e interesse.

    Trabalhe COM a natureza e no para ela.O grande diferencial do Aprendizado

    Sequencial possibilitar um dilogo intenso com a natureza. O tom de parceria e

    INSTITUTOECOFUTURO

    46RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    ECOFUTURO REAS NATURAIS

    no com a postura de quem vai salv-la ou de quem generoso e

    deseja sua sobrevivncia. A vida se mantm por meio de fluxos invisveis

    e sutis, porm fortes, potentes e cheios de energia. Ela tambm flui em

    ns, embora isso no seja to evidente.

    O Aprendizado Sequencial prev um conjunto diverso de ativi-

    dades, jogos e dinmicas que seguem um fluxo de energia, da mais

    agitada para a mais concentrada, depois para a contemplativa e em

    seguida para a potica. O educador escolhe as atividades que preferir,

    de acordo com o local e com o grupo.

    As quatro fases do Aprendizado Sequencial sero descritas a se-

    guir. Algumas atividades sero apresentadas nos diferentes captulos, de

    acordo com o grau de intimidade com a natureza que elas requerem.

    FASE 1 DESPERTAR O ENTUSIASMO Para comear, o educador deve criar uma atmosfera de grupo, ou seja, que cada

    participante tenha percepo clara de que est em grupo e de que a visita trar experi-

    ncias individuais, mas dentro de um contexto coletivo. As disposies e atmosferas dos

    participantes tendem a variar, e esta primeira fase excelente para harmonizar e para criar

    uma atmosfera prpria daquele grupo naquele momento. No caso de j terem passado

    por outras atividades que contriburam para os objetivos acima citados (como atividades

    corporais, danas circulares ou jogos cooperativos), ento o educador poder decidir se

    ainda inclui alguma atividade da Fase 1. Caso queira muito propor algumas delas, sugerimos

    que escolha apenas uma ou duas.

    Qualidades:

    Divertimento, ateno, conscincia de pertencimento ao grupo, harmonizao das

    disposies dos participantes.

    Objetivos:

    Criar atmosfera de entusiasmo.

    Tornar dinmico o incio e estimular a receptividade. Superar a passividade.

    Criar envolvimento.

    ACERVOECOFVUTURO

    INSTITUTOECOFUTURO

    48RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    ECOFUTURO REAS NATURAIS

    Minimizar problemas de disciplina.Desenvolver conexo e afeto pelo educador.

    Criar boa dinmica de grupo.

    Proporcionar direcionamento e estrutura: revela ao grupo que as vivncias esto

    organizadas e tm objetivos claros.

    Preparar para as prximas atividades, mais sensveis.

    De um modo geral, no h um nmero definido de atividades. O educador deve

    estar pronto para conduzir trs ou quatro atividades para cada fase, sempre observando se

    o grupo j alcanou os objetivos daquela fase. Nesse caso, deve abrir mo das atividades

    restantes planejadas, indo para a fase seguinte. O importante que ele esteja flexvel e

    atento aos movimentos do grupo. Por outro lado, se o educador no conseguir alcanar

    os objetivos acima, deve propor mais atividades desta fase at consegui-los. Como quase

    sempre existe restrio de tempo, no deve se preocupar se no conseguir passar pelas

    quatro fases. melhor permanecer no ponto em que as pessoas esto e atend-las no queprecisam e podem naquele momento, do que propor atividades mais sensveis e o grupo

    no conseguir concentrao e aproveitamento. No recomendamos entrar em uma trilha

    com as pessoas ainda agitadas e dispersas. Alm de no aproveitarem, no conseguiro

    ouvir as orientaes do educador e isso pode significar situaes de perigo.

    FASE 2 CONCENTRAR A ATENONos programas do Instituto Rom, realizados em ambientes brasileiros, comum

    que as atividades da Fase 1 aconteam em rea aberta e com menos elementos naturais,

    e que as atividades da Fase 2 em diante sejam feitas nas trilhas. Antes de entrar na trilha

    recomendamos que faam uma roda e que o educador retome com o grupo o que acon-

    tece no momento presente: o grupo, as atividades, a busca da conexo com a natureza,

    a evoluo das espcies, em quais etapas a espcie humana se desenvolveu junto com

    todas as demais espcies, o que distingue os humanos dos outros seres vivos, o que nos

    une, enfim, tudo o que o educador possa trazer para que o grupo atinja o mximo grau de

    conscincia do agora possvel. Pode tambm fazer observaes sobre o corpo e sugerir

    que observem como esto sentindo as diferentes partes do corpo e que emoes pulsam

    mais forte naquele momento. Aqui inclumos tambm alguns exerccios de alongamento

    e conscincia corporal, a fim de criar um ambiente propcio para o que vem a seguir. Da

    Fase 2 em diante, todos tendem a estar mais atentos aos eventos da natureza e a falar cada

    vez menos, naturalmente. O educador deve concentrar as suas falas nas explicaes dasatividades; quando for o caso, facilitar o dilogo sobre as experincias no final daquela

    atividade especfica. Isso deve ocorrer sem proibies ou in ibies.

    INSTITUTOECOFUTURO

    50RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    Qualidades:Desenvolver a receptividade.

    Objetivos:

    Aumentar o nvel de ateno.

    Ampliar a percepo pelo aumento da ateno.

    Canalizar positivamente a energia do entusiasmo trabalhada na Fase 1. Desenvolver

    habilidades de observao.

    Acalmar a mente e mant-la alerta.

    Desenvolver a receptividade para experincias mais sensveis com a natureza.

    Assim como na Fase 1, desejvel que os objetivos desta fase sejam atendidos antes

    de ingressar na prxima. Esta metodologia parte do pressuposto de que no possvel

    ampliar a percepo e entrar em conexo profunda com a natureza sem um trabalho de

    acalmar a mente, como proposto na Fase 2. A natureza tende a no se mostrar paraquem est agitado, desinteressado e sem vitalidade. As atividades desta fase so preciosas

    para resgatar a percepo e conexo consigo mesmas, uma vez que hoje as pessoas vivem

    agitadas e dispersas, com dificuldade de concentrao.

    FASE 3 EXPERINCIA DIRETAAs atividades da Fase 3 so as mais sensveis e delicadas. As anteriores preparam o

    grupo para este momento especial, em que a natureza, com toda sua plenitude e beleza,

    pode se revelar. Poucas so as pessoas que sempre esto em estados de calma e alinha-

    mento interior, a ponto de j estarem prontas para a Fase 3. Mas pode ocorrer de um grupo

    optar pela meditao, yoga ou atividades marciais orientais, ento no ser preciso propor

    atividades das Fases 1 e 2.

    Qualidades:

    Absoro, intuio, conexo, empatia, vnculo.

    Objetivos:

    Aprender com o corao.

    Aprender pela experincia direta, intuitiva, vivida.

    Estimular o encantamento, a empatia e o amor.Compreender com profundidade os ideais ecolgicos.

    Permitir que a natureza se revele.

    O fato de algum j ter feito uma atividade de experincia direta no quer dizer que

    INSTITUTOECOFUTURO

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    no possa fazer novamente, pois tudo o que est vivo est em movimento. Nenhuma plan-ta ou animal, nem mesmo ns, estamos estticos. As transformaes so lentas e cons-

    tantes, de modo que tais atividades sempre podem revelar alguma surpresa, por mais que

    as pessoas j as tenham praticado em um mesmo ambiente. No se navega duas vezes

    em um mesmo rio j dizia Herclito! Por tambm vivermos em processo vivo, e por estas

    atividades proporcionarem o contato com fluxos vivos, tem-se a uma maravilhosa oportu-

    nidade para estabelecer vnculos, que se tornaro, em muitos casos, indissolveis.

    FASE 4 COMPARTILHAR A INSPIRAO

    Aps a imerso gerada pelas atividades da Fase 3, muitos tero feito contato com

    aspectos da natureza e de si prprios antes desconhecidos, com uma impresso interior

    fcil de se dissipar, mesmo que tenha sido muito agradvel. Por isso, a Fase 4 muito im-

    portante: ajuda os participantes a terem conscincia e a darem nome experincia que

    tiveram, de forma que ela passe a fazer parte de sua histria. Ao ouvir as inspiraes dos

    outros, a aprendizagem de cada um se amplia, permitindo, muitas vezes, identificar aspec-tos da prpria experincia.

    Qualidades:

    Ampliao, enraizamento, expresso.

    Objetivos:Clarificar e intensificar as experincias pessoais

    Reforar o sentimento de equidade.

    Nomear experincias profundas.

    Estimular a expresso artstica.

    Criar vnculo.

    Dar um feedbackpara o educador, para que perceba se alcanou seus

    objetivos pelo nvel de inspirao das expresses dos participantes.

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    EAOECOSOs espaos educadores so os ambien-

    tes naturais, em seu gradiente de presena de

    uma variedade de seres vivos. O educador que

    vai trabalhar ao ar livre encontrar pelo menos

    um desses ambientes; parques naturais, par-

    ques urbanos, praas e jardins.

    CAPTULO VIII

    ACERVOECOFUTURO

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    OPQS ARSOs parques naturais so as reas naturais que foram escolhidas para serem protegidas,onde no permitido nenhum tipo de explorao que afete a sade de seus ecossistemas.

    So tambm conhecidas como Unidades de Conservao da Natureza. Este o termo

    tcnico utilizado pelos rgos gestores. Podem ser particulares ou pblicas, municipais,

    estaduais ou federais. Estas reas foram definidas como UC (Unidade de Conservao) por

    apresentarem caractersticas ecolgicas fundamentais para a proteo das espcies. Os

    ecossistemas ali protegidos se desenvolvem expressando ao mximo as suas caractersticas

    naturais. Em comparao, nos parques urbanos ou jardins, as plantas, principalmente, foram

    escolhidas e plantadas segundo algum critrio paisagstico.

    Numa UC no h expectativas nem definies sobre onde e como devem crescer

    as plantas. Nessas reas, a natureza quem dita as regras. Em geral, so reas extensas,

    pois um ecossistema exige uma rea grande para que as espcies possam se reproduzir,

    amadurecer e garantir a sade, a diversidade e a vitalidade de seus componentes. Muitasescolas levam os alunos para UCs, que costumam receber visitas escolares. Algumas moni-

    torias so especializadas em vivncias com a natureza e conduzem crianas e jovens a uma

    aventura de aprendizagem sensvel com a natureza. Dentre estes ltimos podemos citar:

    Parque das Neblinas, do Instituto Ecofuturo, em Taiaupeba, SP; Projeto Viva a Mata, da Co-

    opercitrus, em Bebedouro, SP; Centro de Experimentos Florestais, da SOS Mata Atlntica,em Itu, SP; Estao Veracel, em Porto Seguro/Eunpolis, BA, entre outros.

    A experincia direta e sensvel em parques naturais inigualvel. Ao entrar em conta-

    to com uma diversidade imensa de outros seres vivos, nossos corpos ficam ativados, nos-

    sos sentidos despertos e capacidades que nem imaginvamos ter comeam a se revelar,

    sobretudo se nos abrimos para atividades sensveis, atentas e delicadas.

    OPQS RNOs parques urbanos so tambm locais apropriados para aprendizagem ao ar

    livre. Algumas cidades tm parques que incluem monumentos histricos e contam

    algo da histria do lugar. Todo parque tem espcies variadas de rvores de grande

    O Brasil tem 313 Unidades de Conservao Federais, geridas pelo Instituto ChicoMendes de Conservao da Biodiversidade. Elas esto distribudas por todosos principais biomas brasileiros: Amaznia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlntica,Pampa, Pantanal e Marinho. Precisamos visitar essas reas e desfrutar ao mximodessa luxuosa convivncia com seres nicos.

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    porte que merecem ser observadas e estudadas. Desenvolver atividades debaixo de

    uma delas pode ser agradvel e reservar boas surpresas. Quando estiver tratando de

    algum contedo com os alunos em espaos abertos, e passar uma borboleta, pssaros

    cantarem ou um envoltrio de sementes se abrir e despejar no solo sementes aladas,

    acolha esses eventos e integre-os sua fala. Acolha as impresses e sentimentos dos

    alunos em relao a esses fenmenos. Isso far toda diferena. A vida cheia de eventos

    imprevisveis. Aprender a lidar com eles um contedo dos mais importantes na vida.

    Quando os parques urbanos so visitados pelas escolas, em geral professores

    e coordenadores tm uma programao definida, em especial se o parque tem

    equipamentos histricos ou um jardim botnico, viveiro ou planetrio. So visitas ricas

    em aprendizado e inesquecveis para as crianas. Mas o que sugerimos que o educador

    possa dar aulas no parque, sobretudo se for prximo escola. Em outras situaes, em que

    a cidade dispe de um parque com caractersticas naturais, com uma mata de tamanho

    que permita imerses, sugerimos que utilizem as atividades aqui propostas como se

    estivessem em parques naturais, pois apesar do ambiente urbano, do oportunidade de

    uma interao mais sensvel e profunda com os seres vivos no humanos. Na cidade de

    So Paulo, por exemplo, o Parque Alfredo Volpi (conhecido como Parque do Morumbi)

    tem caractersticas similares s da Mata Atlntica, com rvores de grande porte cujas

    copas formam coberturas semelhantes s da Mata original, com trepadeiras e cips,

    sendo inclusive esta rea considerada um remanescente dela.

    As pequenas praas prximas s escolas so ambientes tambm muito favorveis a

    aprendizagens. Assim como dentro da escola, a maioria das praas precisa de um

    primeiro movimento de observao muito atenta, e a partir disso saber quais as

    intervenes possveis. Se a praa bem cuidada, com plantas e lixo sob os cuidados

    da prefeitura local, ento bastar seu olhar entusiasmado de educador para dar aulas

    nesse espao aberto e livre. Aproveite para dar aulas especficas da sua disciplina e/ou

    para relacion-la com os aspectos mais amplos da vida, e de como os alunos podero

    empregar esses conhecimentos na vida prtica. A vantagem das praas prximas s

    escolas que podem ser visitadas com mais frequncia do que os parques, o que

    favorece a formao de vnculos.

    As escolas que aderiram ao projeto Coletivos Verdes da prefeitura de Porto

    Alegre, RS, em 2013, ocuparam as praas revitalizadas da redondeza de diversas maneiras.Algumas colocaram placas com os nomes cientficos e populares das rvores, outras

    definiram um espao com bancos em crculo para contao de histrias, outras ainda

    passaram a realizar as festas da escola na praa. A Diretoria de Educao Ambiental

    da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Porto Alegre promoveu antes uma

    APA

    Informaes fornecidas por Jaqueline Lessa Maciel, Diretora de Educao Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente da

    Prefeitura de Porto Alegre, em outubro de 2013. Nesse projeto, das 608 praas existentes na cidade de Porto Alegre, 168 foram

    revitalizadas e, dentre estas, 50 foram adotadas por escolas que decidiram aderir ao projeto.

    INSTITUTOECOFUTURO

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    formao dos professores, que fizeram caminhadas no entorno da escola percebendo

    o quanto essas reas eram invisveis a eles. Passaram a visit-las para observaes mais

    atentas e depois fizeram o mesmo com os alunos. A partir disso que decidiram o que

    fazer para ocupar de fato essas reas, desenvolvendo projetos de acordo com suas

    motivaes e com as necessidades da escola. A ocupao das praas pelas escolas

    acabou com as frequentes depredaes das praas.

    Esta uma iniciativa que poderia ser levada para todas as cidades, pois traz benefcios

    recprocos, tanto para a escola, ampliando as possibilidades de ensino/aprendizagem,

    como para a rea ambiental, ampliando suas parcerias com os cidados, que ajudam a

    cuidar enquanto aprendem a interagir com os espaos pblicos.

    O AINEOO OEFCSO ambiente externo dentro dos muros da escola (qualquer instituio educacional,

    como creche, um projeto de contra turno, uma organizao da sociedade civil para aeducao ou educao ambiental, etc.) pode apresentar um mundo de possibilidades,

    tanto para serem exploradas como para serem implantadas. Se a escola tem um pequeno

    jardim, alguns vasinhos na entrada ou apenas uma rvore no quintal, j so suficientes

    para iniciar um programa de vivncias com a natureza.

    Dependendo do espao, o professor

    vai encontrar um recanto onde possa dar suas

    aulas fora da sala de aula, de forma simples

    e direta, mesmo que ali s tenha uma rvore

    como elemento de conexo com os demais

    seres vivos da Terra. Alguns ou todos os

    professores podem se organizar para usar essa

    rea com frequncia, melhorando as relaes

    professor-aluno e ensino-aprendizagem.

    O padro arquitetnico que predomina

    nas escolas, pblicas ou privadas, de

    espaos frios, retilneos, com muita rea

    construda, longos corredores, estimulando

    a homogeneidade, a ordem e a hierarquia.

    O movimento de sair da sala de aula est

    relacionado tambm ao desejo de reverter

    essa ordem e abrir-se para formas de ensinar

    e aprender mais orgnicas e eficientes.

    DICA DE LEITURA:Lcia Legan fazum trabalho extraordinrio de levara permacultura para as escolas.Seus livros A Escola Sustentvel ecoalfabetizando pelo ambientee Criando Habitats na EscolaSustentvel livro do educadore livro de atividades podem serencontrados em http://www.ecocentro.org/publicacoes.Trazem um passo a passo de comotransformar a rea externa da escolaem um ambiente ecologicamenteequilibrado e gostoso de estar, deintervir e de aprender. Segue outradica de um pequeno vdeo sobre asustentabilidade praticada em umaescola da cidade de Pirenpolis,GO:http://www.ecocentro.org/vidasustentavel/habitats.

    RITA MENDONAATIVIDADES EM

    REAS NATURAIS 63

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    A RSRLANECO O R IE

    O ensino formal baseado em muitas disciplinas, e isso exige que cada professor

    seja um especialista. Paralelamente muitos esforos vm sendo feitos para promover o

    dilogo entre as disciplinas e a conexo entre os temas. Assim, fala-se de multidisciplina-

    ridade, em transdisciplinaridade e em transversalidade.

    (...) pode-se dizer que a multidisciplinaridade envolve vrias disciplinas, in-

    tervindo no estudo do mesmo objeto mas sem interaes; a interdisciplina-

    ridade, alm de justapor, provoca a colaborao entre as disciplinas plurais

    no estudo de um objeto ou de um campo do saber ou em um objetivo, e

    h transferncia de mtodos de uma disciplina para a outra; e a transdisci-plinaridade atravessa o contedo comum e o que est alm das disciplinas,

    tentando extrair da colaborao entre disciplinas um fio condutor, uma fi-

    losofia epistemolgica. (Mendona & Neiman, 2013, pg. 72).

    CAPTULO IX

    FOTO:KRIZKNAKACERVOECOFUTURO

    INSTITUTOECOFUTURO

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    As vivncias com a natureza fazem parte de uma viso transdisciplinar, pois no con-texto escolar h que se fazer referncia s disciplinas que o estruturam. Fora do contexto

    escolar, pode-se transcender os compartimentos do saber, e, a parti r da experincia, reco-

    nhecer as grandes perguntas que emergem, buscando respostas de forma orgnica e inte-

    rativa. Dessa forma, pode-se vivenciar os diferentes nveis da realidade e compreend-la a

    partir da prpria experincia individual. Acolhendo novos olhares e incluindo com cuidado

    as expresses subjetivas naquilo que, em sua essncia, so universais.

    Segundo o professor Ubiratan DAmbrsio:

    (...) as reflexes transdisciplinares navegam por ideias vindas de todas as

    regies do planeta, de tradies culturais diferentes. (...) A essncia de sua

    mensagem o reconhecimento de que a atual proliferao das disciplinas

    e especialidades, acadmicas e no acadmicas, conduz a um crescimen-

    to incontestvel do poder associado a detentores desses conhecimentos

    fragmentados. Essa fragmentao agrava a crescente inequidade entre in-divduos, comunidades, naes e pases. Alm disso, a transdiscipinaridade

    entende que o conhecimento fragmentado dificilmente poder dar a seus

    detentores a capacidade de reconhecer e enfrentar as situaes novas,

    que emergem de um mundo a cuja complexidade natural acrescenta-se a

    complexidade resultante desse prprio conhecimento transformado emao que incorpora novos fatos realidade, atravs da tecnologia. (...)

    Eliminar a arrogncia, a inveja e a prepotncia, adotando em seu lugar o

    respeito, a solidariedade, a cooperao, o objetivo maior da transdiscipli-

    naridade. (DAmbrsio, 1997).

    Quando o tema Meio Ambiente foi includo como transversal nos Parmetros Cur-

    riculares Nacionais, em 1998, entendeu-se que trabalhar de forma transversal significa

    buscar a transformao dos conceitos, a explicitao de valores e a incluso de proce-

    dimentos, sempre vinculados realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha

    cidados mais participantes. Cada professor, dentro da especificidade de sua rea, deve

    adequar o tratamento dos contedos para contemplar o tema Meio Ambiente, assim

    como os demais Temas Transversais. (Parmetros Curriculares Nacionais, 1998).

    Assim, vemos que os conceitos de transversalidade e de transdisciplinaridade so mui-

    to prximos. A relevncia da questo ambiental ultrapassa as fronteiras da viso disciplinar edeve ser abraada por todos, inclusive por outros profissionais da instituio educacional. A

    dimenso ambiental da realidade, mesmo trabalhada de diferentes formas, continua a ser fun-

    damental para qualquer rea. Ela atua na percepo de si como ser humano, do que significa

    ser humano, do que a natureza, e na reformulao do prprio conceito de natureza.

    INSTITUTOECOFUTURO

    66RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    A incluso e difuso do tema ambiental na escola ou fora dela um fator de trans-formao cultural, fazendo, inclusive, conexo entre todas as culturas, uma vez que o

    cuidado com o meio ambiente percebido como necessidade vital para todos. O con-

    tedo curricular de educao ambiental pode nos levar compreenso de que somos

    todos UM, de que somos seres interdependentes e de que estamos inexoravelmente

    interligados. A transversalidade essencialmente transcultural.

    A educao para o meio ambiente ou educao ambiental melhor ancorada

    nas mentes e corpos quando realizada ao ar livre, em meio a outros seres vivos cuja

    realidade queremos aprender a incluir. Essa educao de aprendizagem viva prioriza a

    experincia e se complementa pelas informaes e teorizaes. Ela faz parte de uma

    educao para a vida, onde a formao de valores e sua aplicao emergem natural-

    mente, a partir da necessidade humana de convivermos uns com os outros.

    Pessoas oriundas de diversos contextos sociais, culturais e naturais, quando tm

    suas naturezas respeitadas e vivenciam o que emerge das interaes entre as diferenas,

    tornam-se mais preparadas para atuar nos processos de desenvolvimento da sociedade.Existem algumas experincias revolucionrias da educao ao redor do mundo que co-

    locam em prtica a transversalidade de formas incrveis. O livro Volta ao mundo em 13

    escolasapresenta experincias que podem nos inspirar e orientar. Espero que a educa-

    o cada vez mais tenha menos a ver com os educadores e mais a ver com viver a vida. A

    educao no pode ser separada da vida, ela a prpria vida. (Jonah

    Meyer, 18 anos, ex-aluno, membro do Conselho da North Star, escola

    em Massachussets, Estados Unidos)

    A Green School uma dessas escolas, na Indonsia. L, to-

    das as atividades buscam fazer com que a natureza seja vista, ouvida,

    cheirada, provada, tateada e que os estudantes olhem para a naturezae digam: Uau!. Vale a pena conferir experincias como essas no Li-

    vro Volta ao Mundo em 13 Escolas.

    Volta ao mundo em 13 escolas, de Andr Gravat, Camila Pisa, Carla Mayumi e Eduardo Shimahara. Os autores

    visitaram 13 escolas ao redor do mundo que fazem um trabalho inovador. Pode ser baixado gratuitamente pela internet:

    http://educ-acao.com/o-livro

    ACERVOECOFUTURO

    RITA MENDONAATIVIDADES EM

    REAS NATURAIS 69

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    AVASPara facilitar a prtica, as atividades foram classificadas pelo nvel de intimidade

    que o educador percebe que tem com a natureza:

    A - Primeiras aproximaes

    B - Chegando perto

    C - Intimidade

    D - Reflexes e finalizaes

    Assim, qualquer pessoa, mesmo sem experincia com plantas e animais, pode execut-

    las e conduzir grupos com sucesso. E as que j o fazem com frequncia, podem ir alm, com

    atividades mais avanadas. As atividades que fazem parte das que so propostas pela Sharing

    Nature, tero indicao Aprendizado Sequencial, seguida do nmero da fase, por exemploAS1.Ao clicar na sigla, voc ser direcionado para a explicao da fase correspondente do

    Aprendizado Sequencial. As atividades que no tiverem a sigla no final da explicao so novas

    ou provenientes de outras fontes. Com a experincia, voc mesmo identificar a qual fase do

    Aprendizado Sequencial aquela atividade corresponde, se quiser praticar esse mtodo.

    CAPTULO X

    FOTO:MICHELEMARTINSPROGRAMAEDUCAO

    AMBIENTAL2012ACERVOECOFUTURO

    RITA MENDONAATIVIDADES EM

    REAS NATURAIS 71

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    Pmr rieAConfira, nesta seo, atividades simples de serem praticadas em um jardim, par-

    que urbano ou mesmo rea silvestre protegida. Ideais para o educador que deseja ir

    a campo com seus grupos mas tem pouca familiaridade com a natureza, bem como

    para os que trabalham com criana pequena ou pais que desejam brincar na natureza

    com os filhos. Em alguns trechos supe-se que voc as esteja praticando sozinho, masbasta adaptar a linguagem para seu jeito de falar e conduzir. Se possvel, pratique-as

    sozinho antes de prop-las ao grupo. No se esquea das dicas apresentadas no cap-

    tulo O Aprendizado Sequencial.

    FOTO:KRIZ KNACKDILOGODAMATAATLNTICA

    INSTITUTOECOFUTURO

    72RITA MENDONA

    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    2. A FORMADAS FOLHAS1. CHEIRAR

    Quantos tipos, cores e formas de folhas voc pode encontrar? Pegue do

    cho algumas diferentes e desenhe-as. Observe os mnimos detalhes da fo-

    lha e registre tudo o que ver. Depois de desenhar algumas delas, caminhe

    pela rea e identifique de qual planta cada folha caiu. Veja se uma mesma

    planta tem diferentes tipos de folha. Se voc educador, pea aos alunos

    que conversem com os pais, outros professores, moradores tradicionais ou

    com guias de parque, e pergunte se eles tm uma histria para contar sobre

    as plantas cujas folhas voc desenhou. Pea aos alunos para transformarem

    essa histria em uma narrativa e crie um ambiente para que elas possam ser

    compartilhadas no grupo.

    Sente-se, respire e feche os olhos. Preste ateno s nos cheiros. Quantos

    aromas diferentes percebe nesse momento? Se vem uma brisa, observe

    se ela traz outros cheiros. Procure entrar no cheiro deixando-o chegar at

    voc. Os cheiros da mata costumam ser gostosos. Dedique-se a perceb-

    los com nitidez, respirando fundo. Agora caminhe um pouco. Que cheiros

    as rvores tm? E o solo? E as pedras? No se preocupe em gostar ou no

    deles. Nesse dia, para melhor aproveitar esta atividade, evite usar perfume,

    desodorante ou cremes de cheiro forte.

    Se voc puder visitar os quatro diferentes tipos de reas comentados (jar-

    dim, praas, parques urbanos e parques naturais) compare como se perce-

    be os cheiros em cada um deles. Qual desses ambientes apresenta uma va-

    riedade maior de cheiros? Por que? Qual a poca do ano com mais cheiros

    em sua regio? No se esquea de que falamos de experincias. Resista tentao de adivinhar e dizer a si mesmo que j sabe a resposta, desistindo

    de experimentar. Com a natureza sempre nos surpreendemos! Essa ativida-

    de torna-se mais especial ainda depois de uma boa chuva.

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    comum que as rvores sejam mais velhas do que as casas. Procure uma r-

    vore que voc goste, prxima sua casa ou escola. Desenhe as observaes

    de sua rvore pelo menos uma vez por semana, em que meses do ano perde

    mais folhas, em que poca d flores, quando est mais cheia de folhas e tem

    mais pssaros, etc. No fim do ano poder escolher seus melhores desenhos

    para mostrar aos colegas. Se voc for professor, proponha esta atividade aos

    alunos no incio do ano. Estimule-os a anotar, a desenhar cada vez com mais

    detalhes e a conversar entre eles sobre as descobertas.

    No final de cada semestre, sugira uma caminhada para que todos conhe-

    am pelo menos algumas das rvores estudadas. Cada aluno poder con-

    tar aos outros sobre suas observaes sombra de sua rvore. Deixe que

    se atenham aos detalhes que quiserem e diga que no se preocupem com

    o certo e o errado. Neste exerccio, o importante despertar o encanta-mento, desenvolver a capacidade de observar e de expressar o que est

    sendo observado, e compreender o mundo pela observao. importan-

    te que eles tenham suas prprias experincias e possam compartilh-las

    por meio de uma boa narrativa. Esse ser um treino til e importante para

    Providencie uma cartolina. Corte-a em retngulos de 15cm x 10cm e faa

    um crculo em um dos cantos, como abaixo, e recorte, formando uma

    mscara. Caminhe entre as plantas at se sentir atrado por uma delas.

    Aproxime a mscara como se fosse uma lente de ampliao. Coloque-a

    apoiada em uma planta ou sobre diversos elementos. Procure no mexer

    no que est focando, apenas d contorno sobre um conjunto de elemen-

    tos para observar mais de perto. Com uma prancheta, papel e lpis, dese-

    nhe o que v pela lente. Preste ateno aos detalhes. Deixe-se levar pelo

    que v; olhe cada vez com mais concentrao e desenhe os mnimos de-

    talhes. No se preocupe com o resultado do desenho. provvel que fique

    bem abstrato, mas o importante aqui que voc exercite sua concentrao

    e aprimore sua capacidade de observar. Enquanto desenha, perceba suasemoes, seu corpo. Quando praticar essa atividade em grupo, reserve um

    tempo no final para todos conversarem sobre a experincia. AS2

    3. DESENHANDOOS DETALHES 4. AS RVORES

    INSTITUTOECOFUTURO

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    ATIVIDADES EMREAS NATURAIS

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    Nesta variao, em lugar de desenhar, o pedido para escrever a histria

    de vida da rvore. Desde quando ela est nesse lugar? Quem a plantou?

    Quais os pssaros que a visitam ou fazem ninhos? Ela tem galhos com

    mais folhas que outros? Tem buracos feitos pelos bichos? Tem musgos

    ou liquens? Que impresses tem dela? Acha que ela est feliz? Na sua

    percepo, quais so os melhores momentos da vida para ela? Para es-

    crever, primeiro considere os fatos que voc pode observar. Depois, con-sulte pessoas que a conhecem e podem te ajudar a saber mais, e s ento

    consulte a internet para mais detalhes. Um bom site sobre rvores www.

    umpedeque.com.br. Por fim, apure sua escuta e sinta se sua rvore tem

    algo a lhe dizer.

    4. AS RVORES VARIAO

    inmeras outras atividades escolares e posteriormente, profissionais. Essaatividade pode ser desenvolvida por professores de todas as disciplinas e

    tambm recomendada para os pais desenvolverem junto com seus filhos.5. AS LETRAS

    Num passeio com as crianas em uma rea natural, proponha que algum

    diga uma frase qualquer, por exemplo: passear divertido. A partir da,

    todos devem procurar algo que comece com as inicias das palavras dessa

    frase, ou seja, P (e encontrar um pato selvagem, um pau-brasil, uma paca

    ou uma paineira), com E (e encontrar um elemento estranho, um esconde-

    rijo) ou um D (e encontrar um dente-de-leo).

    6. A IDADEDAS COISAS

    Observe as coisas vivas ao seu redor e pense que idade tm. Desenhe-asem sequncia, por exemplo: a gota de chuva a mais jovem, depois vem o

    boto de flor, a flor, o passarinho, a criana, a rvore, o sol.

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    Onde os animais moram e dormem? Caminhe em busca de diferentes ca-

    sas de animais. Como eles dormem? Eles vm todo dia para o mesmo lu-

    gar? Ou mudam de casa o tempo todo? Procure pesquisar com as pessoas

    do lugar sobre as moradas dos bichos antes de fazer sua prpria caminhada

    de reconhecimento. Essa atividade surpreendente quando realizada na ci-

    dade, onde no prestamos ateno na presena de animais. E quando feita

    em rea natural, pode surpreender pela quantidade de seres que interagem,

    mesmo em uma pequena rea. O importante nesta atividade ver o local

    de morada daquele animal.

    7. AS CASAS

    Sente-se em lugar confortvel na trilha de uma mata ou num recanto mais

    reservado de um parque. Aquiete-se, em silncio. Comece a focar sua

    ateno nos diferentes sons sua volta. Conforme vai silenciando seus

    8. OUVIR SONS

    pensamentos, mais sons vo ficando ntidos para voc. Est ouvindo o

    vento? E os pssaros? Consegue identificar conversas entre pssaros? E

    os insetos? Feche as mos e levante um dedo para cada som natural di-

    ferente que identificar. Se quiser refinar sua audio, preste ateno se as

    rvores sua volta fazem sons diferentes conforme o vento sopra sobre

    elas. Se estiver perto de um rio, oua seus sons. Quantos sons diferentes

    da gua voc consegue perceber? AS2

    Caminhe por um parque com papel e lpis. Encontre 10 coisas naturais

    com diferentes texturas cada uma. Escreva seus nomes com uma palavra

    que descreva sua textura. Por exemplo: casca da paineira espinhosa, mus-go macio sobre a pedra...

    9. TEXTURAS

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    Existem muitos padres na natureza que se repetem infinitas vezes. Por

    exemplo, certas folhas sempre tm trs pontas. Outras tm duas. Os pssa-

    ros tm sempre duas asas. Os insetos tm trs pares de patas. Comeando

    pelo nmero um, enumere todos os animais e plantas que tm o mes-

    mo nmero de partes, indo at 10 ou at o maior nmero que conseguir

    encontrar. Essa atividade estimula a observao e pode ser bem divertida.

    Enfatize que os participantes devem encontrar os elementos na natureza,

    evitando o saber desconectado da experincia.

    10. PADRES

    Pea aos participantes para se acalmarem, respirando e fechando os olhos,

    mesmo que seja por alguns segundos. Pea que se observem e pergunte:

    se voc fosse algum ser da natureza como voc seria? Com o que se pare-

    ceria? O que comeria e o que faria todo o dia? Quais seriam seus predado-

    11. E VOC?

    res naturais e seus melhores amigos? Enfatize que so as qualidades desse

    ser da natureza que devem ser identificadas.

    Caminhe procurando sementes. Desenhe uma de cada tipo que encon-

    trar. No as colete para no prejudicar a dinmica do ecossistema em que

    voc est. Pense qual a melhor forma de disperso de cada uma. Algumas

    sementes tm asas que as permitem voar com o vento. Outras so re-

    dondas e pesadas e podem ser dispersas pelos animais que as comem.

    Outras grudam nas roupas e pelos dos animais e so levadas para germi-

    nar em outros lugares (carrapichos). Veja na sua roupa se alguma delas te

    achou primeiro! Essa atividade pode ser realizada em qualquer rea, masos parques com uma boa diversidade de rvores e arbustos ou as reas

    silvestres so as melhores para encontrar uma boa variedade de sementes.

    Por fim, conversem sobre a importncia dessas estratgias das sementes

    de caminhar pela rea.

    12. AS SEMENTES

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    Quais as formas geomtricas que voc conhece? Quais as que consegue

    encontrar na natureza? Que tendncias que percebe? As formas naturais

    tendem a ser mais redondas e macias ou pontudas e speras? Observe

    bem! Essa atividade mais interessante se os participantes desenharem as

    formas e padres, e puderem comparar e conversar sobre suas descober-

    tas no final..

    13. AS FORMASGEOMTRICAS

    Ao caminhar, toque as rvores e arbustos que encontrar pelo caminho. Re-

    pare como cada um tem uma temperatura. Qual a rvore mais gelada que

    encontrou? E a mais quente? Por que existem essas diferenas?

    14. TEMPERATURAS

    Elaborada para reas externas dos edifcios, seja de escola ou de organi-

    zao educacional, esta atividade ajuda a desenvolver a capacidade de

    observao e o interesse pelo espao da escola, e a relacionar tudo isso

    com as questes ambientais. Pode ser proposta para crianas a partir de

    11 anos, jovens e adultos. Prepare um roteiro e d uma cpia a cada par-

    ticipante. Antes faa duas ou trs visitas ao ptio da escola ou rea a ser

    estudada. Atente para as caractersticas, a presena de plantas e animais,

    locais sombreados, construdos, limpeza, beleza, arrumao, cuidado. O

    roteiro abaixo genrico e deve ser adaptado.

    Divida sua classe em grupos. Cada grupo deve estudar uma rea que

    voc definiu previamente. Faa tantas reas quantos grupos houver.

    Nesse tipo de atividade, o processo em si j o resultado, ou seja, as

    perguntas e as respostas so apenas motivos para que desenvol-

    vam um olhar atento e revejam seu jeito de interagir com o espao.

    15. CONHECENDO OESPAO DA ESCOLA

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    ROTEIRO DE REFERNCIA

    Primeiras observaes

    A primeira coisa a fazer reconhecer os limites da rea de trabalho do grupo.

    Observe atentamente e responda:

    1- Quais suas primeiras impresses sobre o seu lugar?

    2- Como se sente neste lugar?

    3- Seu lugar aberto ou fechado?

    4- Seu lugar abafado ou arejado?

    5- Seu lugar quente ou frio?

    6- Seu lugar escuro ou claro?

    7- Seu lugar confortvel ou desconfortvel?

    8- Seu lugar une as pessoas ou desune as pessoas?

    9- Seu lugar muda sempre ou no muda?

    10- Seu lugar barulhento ou silencioso?

    11- Seu lugar colorido ou sem cor?

    12- Seu lugar alegre ou triste?

    13- Seu lugar espaoso ou apertado?

    14- Seu lugar bom para conversar ou ruim para conversar?

    Agora observe as coisas vivas do seu lugar.

    15- No seu lugar existem muitas plantas ou poucas plantas? Explique.

    16-O seu lugar preservado ou no preservado? Explique.

    17- O seu lugar bonito ou feio? Explique.

    18- O seu lugar cuidado ou depredado? Explique.

    19- No seu lugar d vontade de ficar ou no d vontade de ficar? Explique.

    20- O seu lugar tem flor ou no tem flor? Explique

    21- O seu lugar tem grama ou o solo exposto? Explique..

    22- O seu lugar mido ou seco? Explique.

    23-No seu lugar tem rvores ou no tem rvores? Explique.

    24-No seu lugar tem animais (pssaros, inse