Texto 4Texto 4Carlos LuzardoAtividades Complementares

A BATALHA DE HIGIENÓPOLIS01. Higienópolis está para São Paulo mais ou menos como o Moinhos está para Porto Alegre. Com bons02. restaurantes, áreas verdes e uma elegância que não nasceu ontem, o bairro tem resistido bravamente 03. ao tipo de mau gosto arquitetônico que enche os olhos (e esvazia os bolsos) do novo-riquismo nacio-04. nal. Na vizinhança que um dia abrigou os palacetes franceses dos barões do café, não é chique ostentar 05. “materiais nobres” na fachada ou anunciar “um novo conceito” em qualquer coisa. Em Higienópolis, 06. ainda se paga pelo “velho conceito” de riqueza.07. Pois esse bairro discretamente elegante virou palco de um sanguíneo embate de classes esta semana 08. – travado principalmente nas redes sociais. A batalha de Higienópolis começou a esquentar na quarta-09. feira, quando o governo paulista divulgou que havia desistido de instalar uma estação de metrô no 10. coração do bairro. O anúncio do engavetamento do projeto inicial acendeu o alerta de que o governo 11. estaria cedendo às pressões dos moradores, que assinaram um manifesto pedindo que a estação não 12. fosse instalada ali. Uma moradora cunhou a frase que viraria o bordão da polêmica: “Você já viu o tipo 13. de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada...”. A 14. expressão “gente diferenciada” tornou-se rapidamente uma das mais populares no Twitter, e na quarta-15. feira já estava sendo convocado para hoje o “churrascão da gente diferenciada” – um grande protesto-16. evento pró-metrô.17. Para quem está de fora (e pode apenas lamentar o fato de nem sequer ter metrô para esnobar...), cha-18. ma a atenção como polêmicas como essa, turbinadas pelo canhão de comunicação instantânea e oni-19. presente que são as redes sociais, tendem a cumprir uma trajetória mais ou menos previsível: começa20. com uma denúncia, se espalha com a indignação e se dilui na falta de bom senso. A boa informação a 21. ser investigada (a decisão do governo de limar a estação foi técnica ou política?) pegou fogo com a de-22. claração preconceituosa da moradora e logo em seguida começaram os debates raivosos – em que até23. o fato de o bairro ter um grande número de judeus foi pretexto para comentários e piadas antissemitas.24. A democracia no Brasil é relativamente jovem. As redes sociais, mais jovens ainda. Como instrumento 25. de expressão da opinião pública, ferramentas como Twitter e Facebook são uma conquista preciosa, 26. mas têm sido usadas com frequência para dar vazão a raivas coletivas e desequilíbrios individuais. O 27. grande risco, nesses casos, é acabar confundindo uma desinformação infinitamente repetida com os 28. fatos verdadeiros e bem apurados.29. Em um país de tradição democrática curta e errática como o nosso, o exercício da discussão pública 30. ainda não se tornou um hábito culturalmente assimilado. Resta torcer para que a baixaria travestida de 31. debate não chegue antes para ocupar seu lugar.

TEMAS DE REDAÇÃO SEMELHANTES

Em que alternativa abaixo a preposição marca uma função diferente das demais?

Higienópolis está para São Paulo mais ou menos como o Moinhos está para Porto Alegre. Com (a) bons restau-rantes, áreas verdes e uma elegância que não nasceu ontem, o bairro tem resistido bravamente ao (b) tipo de mau gosto arquitetônico que enche os olhos (e esvazia os bolsos) do novo-riquismo nacional. Na (c) vizinhança que um dia abrigou os palacetes franceses dos barões do café, não é chique ostentar “materiais nobres” na (d) fachada ou anunciar “um novo conceito” em qualquer coisa. Em (e) Higienópolis, ainda se paga pelo “velho conceito” de riqueza.

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