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Atenção social aos usuários com lesão de pele Profa. Míriam Dias - 17 de julho de 2015 UFRGS - EENF Curso de Especialização “Cuidado Integral com a Pele no Âmbito da Atenção Básica”

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Atenção social aos

usuários com

lesão de pele

Profa. Míriam Dias - 17 de julho de 2015

UFRGS - EENF Curso de Especialização

“Cuidado Integral com a Pele no Âmbito da Atenção Básica”

A família na política de

Saúde e Assistência Social: modos e condições de vida e

seu papel nas políticas públicas

• Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro havia uma escada e, no topo da escada, um cacho de bananas.

• Toda vez que um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato forte de água fria nos que estavam no chão. Depois de várias tentativas e de vários banhos de água fria, quando qualquer macaco tentasse subir a escada para pegar as bananas, os outros o agrediam, de forma a inibi-lo em sua intenção de pegar as bananas. Dessa forma, após algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.

• Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos por um outro macaco, cuja primeira atitude foi subir a escada para pegar as bananas. Essa tentativa foi imediatamente coibida pelos outros, que o agrediram. Depois de algumas “surras”, o novo integrante do grupo “desistiu” das bananas. Um segundo macaco foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto também participado da agressão ao novato. Dessa forma, foram substituídos o terceiro, o quarto e o quinto macacos.

• Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo experimentado o banho frio, não tentaram mais pegar as bananas e não deixaram que qualquer um tentasse.

• Se fosse possível perguntar a algum dos macacos por que batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “– Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...”

“É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito” (Albert Einstein).

Reproduzindo a cultura institucional

A sociabilidade do homem simples

• “O senso comum é comum não porque seja banal ou mero e exterior conhecimento. Mas porque é conhecimento compartilhado entre sujeitos da relação social.

• Nela o significado a precede, pois é condição de seu estabelecimento e ocorrência.

• Sem significado compartilhado não há interação” (Martins, 2015, p. 54)

A sociabilidade do homem simples

• “[...] os envolvidos na circunstância de privação repentina de significados e, portanto, de orientação e referência, são capazes de criar significados substitutivos e restabelecer as relações sociais interrompidas ou, mais que isso, ameaçadas de ruptura.

• Portanto, mais do que uma coleção de significados compartilhados, o senso comum decorre da partilha, entre atores, de um mesmo método de produção de significados” (Martins, 2015, p. 55)

FAMÍLIA

Famílias (Moreira, 2006, p. 41)

• Construções socioculturais, inseridas em determinado contexto histórico e que por este motivo são dinâmicas e mutáveis

• “Família é um grupo de pessoas unidas que se gostam” [conceito de menina de 9 anos].

Família

• Representa sentimentos ambivalentes, agregador/desagregador, associada à imagem de família real e sonhada construída a partir da interação dos sujeitos no seu cotidiano, influenciando e sendo influenciada por relações familiares conflituosas, geradas a partir da pobreza a que estão sujeitas as famílias (Gomes; Pereira, 2005).

Família, IBGE

• Conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que mora só em uma unidade domiciliar.

• Entende-se por dependência doméstica a relação estabelecida entre a pessoa de referência e os empregados domésticos e agregados da família, e por normas de convivência as regras estabelecidas para o convívio de pessoas que moram juntas, sem estarem ligadas por laços de parentesco ou dependência doméstica.

• Situação das famílias no Brasil, 2012.

Novas Feições da Família

• Estão intrínseca e dialeticamente condicionadas

às transformações societárias contemporâneas, ou seja, às transformações econômicas e sociais, de hábitos e costumes e ao avanço da ciência e da tecnologia.

• As três dimensões clássicas de sua definição - sexualidade, procriação e convivência - já não são suficientes para sua definição.

• Família = um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e, ou, de solidariedade. (Brasil, PNAS, 2004, p. 35)

Funções Básicas das Famílias

• prover a proteção e a socialização dos seus membros;

• constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais;

• de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado.

(Brasil, PNAS, 2004, p. 29)

Refletir!!!!

Tipos de Composição Familiar

• Nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos;

• Extensas, incluindo três ou quatro gerações;

• Adotivas temporárias;

• Adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiculturais;

• Casais;

• Monoparentais, chefiadas por pai ou mãe;

• Homossexuais com ou sem crianças;

• Reconstituídas após divórcio;

• Várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo (Kaslow, 2001 apud Szymanski, 2002)

Concepções de Família nas Políticas Sociais

• Familismo – defendem a centralidade da família, apostando na sua capacidade imanente de cuidado e proteção, considerando que a família deve assumir a principal responsabilidade pelo bem-estar de seus membros.

• Protetivas – consideram que a capacidade de cuidado e proteção família está diretamente relacionada à proteção que lhe é garantia pelas políticas públicas (Esping-Anderson, 1999 apud Mioto, 2010, p. 6-57).

Trajetória Histórica da Família nas Políticas Sociais (Teixeira, 2015)

• Entre 1930 a 1980 – políticas orientadas para indivíduos, categorias profissionais e segmentos da população (crianças, adolescentes, idosos, deficientes), em situação de trabalho infantil, abandono, exploração sexual, violências, etc.

– A Família não era contemplada na sua totalidade.

– Paradigma da incapacidade familiar e da institucionalização de seus membros: crianças, adolescentes, idosos, deficientes, com transtorno mental.

As ações dirigidas às famílias instalam ou aprofundam a vivência do paradoxo entre

• família idealizada e formalmente reconhecida

–Normal, nuclear, heterosexual e patriacal,

• Família real e efetivamente vivida pelas camadas mais empobrecidas e que os profissionais desqualificam como desestruturadas ou irregulares.

Nesta perspectiva....

• O trabalho social dirige-se, sob o paradigma da patologia social, para os recursos terapêuticos psicossocial individualizado.

• Nas práticas socioeducativas, o trabalho dirigido é na dimensão normatizadora e disciplinadora, principalmente para a mulher, nas dimensões moralistas e domésticas.

• Mesma conduta para aqueles segmentos institucionalizados (hospícios, asilos, abrigos)

Trajetória Histórica da Família nas Políticas Sociais (Teixeira, 2015)

• Desde Constituição Federal e criação dos sistemas de políticas públicas, a família assume centralidade,

– Seja como objeto

– Seja como instrumento ou estratégias das políticas

– Seja como sujeitos

– Constitucional e juridicamente, se avança na compreensão do grupo familiar em sua diversidade de organização.

Assim, as famílias...

• Tem novas perspectivas de terem garantidos seus direitos, de inclusão social e serviços que promovam a convivência familiar e comunitária.

• “Formalmente tomam a família como sujeito coletivo e protagonista de direitos, com demandas e expectativas de que o trabalho socio-educativo ou educação em saúde promova cidadania, autonomia e protagonismo” (Teixeira, 2015 p. 230).

Para isto, se faz necessário que...

• Haja condições objetivas de: – investimentos sociais para a ampliação de serviços

que apoiem a família,

– trabalho socioeducativo com famílias que superem as perspectivas disciplinadoras e normatizadoras,

– trabalho interdisciplinar,

– educação em saúde que supere a centralidade na doença e no repasse de informações sobre o cuidado, e avance na capacidade geradora de reflexão para a formação de uma consciência sanitária e crítica da realidade.

Nessa perspectiva

• “O foco das ações socioassistenciais, socio-educativas e de educação em saúde deve ser as necessidades das famílias e a garantia dos direitos de cidadania, cujas propostas e ações ultrapassem o âmbito específico de uma política para uma perspectiva intersetorial, integrada e articulada” (Teixeira, 2015, p. 234).

Princípios para políticas de atendimento à família (Gomes; Pereira, 2005)

• Romper com a ideia de família sonhada e ter a família real como alvo. A família pode ser fonte de afeto e também de conflito, o que significa considerá-la um sistema aberto, vivo, em constante transformação.

• Olhar a família no seu movimento, sua vulnerabilidade e sua fragilidade, ampliando o foco sobre a mesma.

• Trabalhar com a escuta da família, reconhecendo sua heterogeneidade.

• Não olhar a família de forma fragmentada, mas trabalhar com o conjunto de seus membros; se um membro está precisando de assistência, sua família estará também.

• Centrar as políticas públicas na família, reconhecendo-a como potencializadora dessas ações e como sujeito capaz de maximizar recursos.

• O Estado não pode substituir a família; portanto a família tem de ser ajudada.

• Não dá para falar de políticas públicas sem falar em parceria com a família.

• Compete à equipe problematizar com a família suas questões, contextos e opções colocadas, mantendo-se de forma dinâmica entre a aproximação e o distanciamento.

Aproximação – que possibilita, de modo empático, ver, perceber, sentir e compreender de perto como aquela família está vivendo.

Distanciamento – que possibilita o olhar crítico e reflexivo a partir do qual pequenas rupturas e transformações no cotidiano tornam-se possíveis (Moreira, 2006, p. 55).

FAMÍLIA

Território

SUAS

Proteção Social Básica

CRAS

e Especial

CREAS PTS

e

Trabalho Social

Atenção Básica

ESF - UBS

SUS

Território

• O território é espaço recheado pelas relações sociais passadas e presentes, a forma específica de apropriação e interação com o ambiente físico, as ofertas e as ausências de políticas públicas, as relações políticas e econômicas que o perpassam, os conflitos e os laços de solidariedade nele existentes (Brasil, 2013, p. 12).

Território

• Por território, compreendemos não apenas uma área geográfica delimitada, com características de relevo, vegetação e clima próprios, mas, também, um espaço social onde vive uma população definida e onde a organização da vida dessas pessoas em sociedade obedece a um processo historicamente construído. Cada território apresenta características próprias, conformando uma realidade que, a cada momento, lhe é peculiar e única (Santos, 1990).

FAMÍLIA

Território

SUAS

Proteção Social Básica

CRAS

e Especial

CREAS PTS

e

Trabalho Social

Atenção Básica

ESF - UBS

SUS

POLÍTICA NACIONAL DA ATENÇÃO BÁSICA Portaria do MS n. 2.448, 21/10/2011

• Conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.

• É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitária.

PNAB

Fundamentos e diretrizes

IV - Coordenar a integralidade em seus vários aspectos, a saber:

• integração de ações programáticas e demanda espontânea;

• articulação das ações de promoção à saúde, prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e reabilitação e manejo das diversas tecnologias de cuidado e de gestão necessárias a estes fins e à ampliação da autonomia dos usuários e coletividades;

• trabalhando de forma multiprofissional, interdisciplinar e em equipe;

• realizando a gestão do cuidado integral do usuário e coordenando-o no conjunto da rede de atenção.

Essa organização pressupõe o deslocamento do processo de trabalho centrado em procedimentos profissionais para um processo centrado no usuário, onde o cuidado do usuário é o imperativo ético-político que organiza a intervenção técnico-científica.

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Entre as Funções da ABS na Rede de Atenção à Saúde

III - Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e gerir projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RA

• Atuando como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários em qualquer destes pontos através de uma relação horizontal, contínua e integrada com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral.

• Articulando também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais.

Educação Permanente das equipes de Atenção Básica

• A consolidação e o aprimoramento da Atenção Básica como importante reorientadora do modelo de atenção à saúde no Brasil requer um saber e um fazer em educação permanente que sejam encarnados na prática concreta dos serviços de saúde.

• A educação permanente deve ser constitutiva, portanto, da qualificação das práticas de cuidado, gestão e participação popular.

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• O redirecionamento do modelo de atenção impõe claramente a necessidade de transformação permanente do funcionamento dos serviços e do processo de trabalho das equipes exigindo de seus atores (trabalhadores, gestores e usuários) maior capacidade de análise, intervenção e autonomia para o estabelecimento de práticas transformadoras, a gestão das mudanças e o estreitamento dos elos entre concepção e execução do trabalho.

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Processo Pedagógico da Educação Permanente

• Que contemple desde a aquisição/atualização de conhecimentos e habilidades até o aprendizado que parte dos problemas e desafios enfrentados no processo de trabalho, envolvendo práticas que possam ser definidas por múltiplos fatores (conhecimento, valores, relações de poder, planejamento e organização do trabalho, etc.) e que considerem elementos que façam sentido para os atores envolvidos (Aprendizagem Significativa).

• Diversificar o repertório por meio de:

– trocas de experiências e discussão de situações entre trabalhadores, grupos de estudos, momentos de apoio matricial, visitas e estudos sistemáticos de experiências inovadoras, etc.

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NASF – Diferenças entre o modelo tradicional de encaminhamento de usuários e a proposta

do apoio matricial (Brasil, MS, 2014)

Processo de Trabalho em Saúde (Faria, 2009)

Qual a finalidade do trabalho?

• Se definirmos que a finalidade do trabalho de uma organização de saúde são apenas o diagnóstico e o tratamento de agravos, podemos imaginar que os produtos esperados da atuação dos agentes sejam consultas, exames, internações, etc.

• Então o objeto da intervenção será o corpo dos indivíduos “doentes”.

• Os agentes serão, principalmente, os profissionais de saúde; e os meios serão as estruturas de saúde (unidades de saúde), os insumos e as tecnologias que se voltam para o diagnóstico e tratamento; e as competências serão aquelas também relacionadas ao diagnóstico e tratamento. (p. 45)

Processo de Trabalho em Saúde

(Faria, 2009)

Contudo...

• O objeto no processo de trabalho em saúde está constituído por processos ou estados sociais, psíquicos ou biológicos cuja alteração pode ter impacto positivo sobre a saúde de indivíduos, grupos de pessoas ou comunidades.

• As condições sociais e psíquicas têm muita relevância na determinação das condições de saúde e nos resultados das intervenções dos profissionais e, portanto, constituem objetos fundamentais das intervenções, requerendo, para isso capacidades, habilidades e tecnologias específicas.

O resultado desejado da atenção à saúde

• Então,

• Podemos concluir que, apesar de não resultar em um produto de consumo determinado, como no caso da produção industrial, nem por isso o trabalho nos serviços de saúde deixa de ter um produto definido, aqui entendido como “o efeito positivo de tais alterações sobre a saúde das pessoas” (Faria, 2009).

Dicas de postura para Acolhimento

• Tente compreender exatamente o que o outro quer

lhe comunicar;

• Coloque-se em frente à pessoa que está falando e olhe para ela, de preferência olhe nos olhos;

• Andes de dar sua opinião, certifique-se de que compreendeu. Você poder fazer isso repetindo o que ouviu para o outro confirmar ou não;

• Não antecipe o que o outro vai dizer. A pessoa sente-se desrespeitada e desvalorizada;

• Quando estiver ouvindo, distinga fatos de opiniões e impressões (Correia, 2010, p. 152).

FAMÍLIA

Território

SUAS

Proteção Social Básica

CRAS

e Especial

CREAS PTS

e

Trabalho Social

Atenção Básica

ESF - UBS

SUS

PARA DIFERENCIAR E NÃO CONFUNDIR

Serviço Social: É a profissão de nível superior

regulamentada pela Lei 8.662/1993;

Assistente Social: Profissional com graduação em Serviço

Social (em curso reconhecido pelo MEC) e registro no

CRESS do estado em que trabalha;

Assistência Social: Política Pública prevista na

Constituição Federal e direito de cidadãs e cidadãos. É

regulamentada pela Lei Orgânica de Assistência Social

(LOAS), constituindo-se como UMA das áreas de trabalho

de assistentes sociais.

Assistencialismo: Forma de oferta de um serviço por meio

de uma doação, favor, boa vontade ou interesse e não

como um direito.

Sistema Único da Assistência Social

Vínculos Familiares e

Comunitários

PSB

PSE Média

PSE Alta

Ausência de

Vínculos

Familiares e

Comunitários

- PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA - SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO

INTEGRAL À FAMÍLIA – PAIF (Brasil, MDS, 2012)

Nos CRAS, por meio do trabalho social com famílias • Fortalecer a função protetiva das famílias; • Prevenir a ruptura dos vínculos; • Promover aquisições sociais e materiais; • Promover acessos a benefícios, programas de transferência de renda e serviços socioassistenciais; • Promover acesso aos demais serviços setoriais; • Apoiar famílias que possuem indivíduos que necessitam de cuidados.

Trabalho social com famílias do PAIF por meio de dois processos

a) Atendimento - ação imediata de prestação ou oferta de atenção a uma demanda da família ou do território. Inserção em alguma das ações do PAIF: acolhida, ações particularizadas, ações comunitárias, oficinas com famílias e encaminhamentos.

b) Acompanhamento - conjunto de intervenções continuadas, a partir da construção de um Plano de Acompanhamento Familiar - com objetivos a serem alcançados, a realização de mediações periódicas, a inserção em ações do PAIF, buscando a superação gradativa das vulnerabilidades vivenciadas.

Constituem seguranças afiançadas pela Assistência Social

• Acolhida,

• Convívio familiar e comunitário,

• Renda,

• Desenvolvimento da autonomia,

• Sobrevivência a riscos circunstanciais.

• As ações do PAIF não devem possuir caráter terapêutico - práticas psicoterapêuticas, psicodiagnósticas e psicopedagógicas, ou seja, PRÁTICAS CLÍNICAS no âmbito do PAIF, pois não correspondem às seguranças afiançadas pela política de assistência social.

Considerações sobre a Subjetividade

• A subjetividade é o mundo interno de qualquer ser humano. Este mundo interno é composto por emoções, sentimentos e pensamentos.

• É por meio da subjetividade que se constrói um espaço relacional, ou seja, é por meio da subjetividade que é possível relacionar-se com o "outro".

• Tal fato justifica o trabalho com as famílias e seus membros no âmbito da Assistência Social, respeitando o espaço individual, relacional e de desenvolvimento, mas não de cunho psicoterapêutico.

Trabalho Social com Famílias

• Se faz necessário romper com a imagem da família somente como espaço de proteção e cuidado mútuos, contemplando-a também como lugar onde podem existir conflitos e violências, que podem ser reflexo das desigualdades sociais vigentes na sociedade.

• É preciso compreender as famílias como um conjunto de seres históricos, que tiveram experiências diferenciadas, em contextos diversos, e que respondem, por isso, de forma distinta às atuais vivências, o que interfere e modifica as dinâmicas e relações familiares

Trabalho Social com Famílias

• Assim, é necessário atentar-se para não desencadear ou naturalizar um processo de culpabilização da família, pois a acentuada valorização da família e a idealização do núcleo familiar cooperaram para se pensar erroneamente que “(...) se tudo se remete à família, tudo é culpa da família”.

• O trabalho social com famílias deve garantir apoio e proteção às famílias, promovendo maiores graus de autonomia, negando uma ação moralizadora ou modeladora dos modos de vida e das crenças dos grupos familiares.

SERVIÇO DE PROTEÇÃ O E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA (PAIF)

TRABALHO SOCIAL ESSENCIAL AO SERVIÇO • Acolhida - estudo social - visita domiciliar; • orientação e encaminhamentos - grupos de famílias; • acompanhamento familiar - atividades comunitárias; • campanhas socioeducativas - informação, comunicação e defesa de direitos - promoção ao acesso à documentação pessoal - mobilização e fortalecimento de redes sociais de apoio - desenvolvimento do convívio familiar e comunitário; mobilização para a cidadania - conhecimento do território - cadastramento socioeconômico - elaboração de relatórios e/ou prontuários - notificação da ocorrência de situações de vulnerabilidade e risco social - busca ativa.

PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL

SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO ESPECIALIZADO A FAMÍLIAS E INDIVÍDUOS –

PAEFI nos CREAS

• Serviço de apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos.

• Violência física, psicológica e negligência;

• Violência sexual: abuso e/ou exploração sexual;

• Tráfico de pessoas;

• Situação de rua e mendicância;

• Abandono;

• Vivência de trabalho infantil;

• Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC).

ATIVIDADES ESSENCIAIS DO PAEFI

• Entrevistas de acolhida e avaliação inicial;

• Atendimento psicossocial (individual, familiar e em grupo);

• Construção do Plano de Atendimento;

• Orientação jurídico-social;

• Elaboração de relatórios técnicos sobre o acompanhamento realizado;

• Ações de mobilização e enfrentamento;

• Acompanhamento dos encaminhamentos;

• Visita domiciliar, quando necessário

SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL PARA PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA, IDOSAS E SUAS FAMÍLIAS

• Serviço para a oferta de atendimento especializado a famílias com pessoas com deficiência e idosos (as) com algum grau de dependência, que tiveram suas limitações agravadas por violações de direitos, tais como:

– exploração da imagem, isolamento, confinamento, atitudes discriminatórias e preconceituosas no seio da família, falta de cuidados adequados por parte do cuidador, alto grau de estresse do cuidador, desvalorização da potencialidade/capacidade da pessoa,

• dentre outras que agravam a dependência e comprometem o desenvolvimento da autonomia.

TRABALHO SOCIAL ESSENCIAL AO SERVIÇO

• Acolhida - escuta - informação, comunicação e defesa de direitos - articulação com os serviços de políticas públicas setoriais - articulação da rede de serviços - atividades de convívio e de organização da vida cotidiana - referência e contra referência - construção de plano individual e/ou familiar de atendimento - orientação sociofamiliar - estudo social - diagnóstico socioeconômico - cuidados pessoais - desenvolvimento do convívio familiar, grupal e social - acesso à documentação pessoal - apoio à família na sua função protetiva - mobilização de família extensa ou ampliada - mobilização e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio - mobilização para o exercício da cidadania.

Benefícios Assistenciais

• Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) - garante a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo vigente ao idoso, com idade de 65 anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial. Comprovar não possuir meios de prover a própria manutenção, nem tê-la provida por sua família.

• Os Benefícios Eventuais caracterizam-se por seu caráter suplementar e provisório, prestados aos cidadãos e às famílias em virtude de nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública.

Bolsa Família

• Programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país.

• Tem como foco de atuação os milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 77 mensais e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos.

– R$ 35 = pago por gestante, criança ou adolescente até 15 anos de idade, até o limite de R$ 175 mensais por família.

– R$ 42 mensais = benefício variável vinculado ao adolescente até 17 anos, até o limite de R$ 84 mensais por família.

Cadastro Único

• O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal é um instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, entendidas como aquelas que têm: renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa; ou

• renda mensal total de até três salários mínimos.

Projeto Terapêutico Singular (Kinoshita, 2014)

• O Projeto Terapêutico Singular é uma forma de organizar os processos de trabalho nos serviços de saúde.

• Parte-se da ideia de que se precisa compreender que a experiência do adoecer não é somente um processo biológico ou orgânico, mas é fundamentalmente uma vivência complexa de mal estar, desconforto, dor ou sofrimento.

• Não se trabalha mais com um cardápio de soluções padronizadas, em que os mesmos procedimentos e ações são indicados para as pessoas sob o mesmo diagnóstico.

• Pelo contrário, porque o adoecimento está relacionado a uma série de fatores combinados de um certo modo na vida de cada pessoa, exigindo uma resposta igualmente complexa e diversificada de cuidado.

• Projeto Terapêutico significa um plano de ação voltado ao futuro de alguém, que cuida do

sofrimento que precisa ser curado ou minimizado, que acompanha e está presente na busca da realização dos sonhos de uma pessoa.

• Significa que as ações de hoje devem ser orientadas a pavimentar o caminho para uma vida melhor.

• Singular porque cada pessoa, família ou comunidade é o produto das interações que teve durante a sua história e contexto de vida. E aqui para que seja na medida justa, o principal parâmetro de justeza é a participação da própria pessoa/família/comunidade na elaboração do PTS.

Três etapas de ação do PTS

• Forma de organização do processo de trabalho nos serviços de saúde e plano voltado para o futuro de cada pessoa.

1 - O primeiro contato – Contratualidade;

2 - Conhecendo estórias e construindo um mapa;

3 - O serviço, o contexto, os recursos. • KINOSHITA, Roberto Tykanori. Projeto terapêutico singular. In:

Curso de Atualização em Álcool e Outras Drogas, da Coerção à Coesão. Disponível em: https://unasus.ufsc.br/alcooleoutrasdrogas/

A intersetorialidade entre Saúde e Assistência Social (Pansini, 2011)

Em relação ao CRAS

• Os técnicos buscam realizar suas atividades em articulações com outros setores, sendo estas caracterizadas por encaminhamentos aos serviços da rede socioassistencial do território e através do desenvolvimento de palestras que acabam focando o desenvolvimento de capacidades e habilitações dos usuários.

• Essas ações, nessa concepção, contribuem para a responsabilização das famílias pela busca de sua própria inserção no mercado de trabalho e pelo seu próprio bem-estar como se sua condição de pobreza fosse resultado meramente individual e pessoal, e não um aspecto inerente ao modo de produção capitalista e às transformações sofridas pelo mesmo.

A intersetorialidade entre Saúde e Assistência Social

• Nas ações dos técnicos da ESF

• o que predominou foi a ênfase aos entraves à realização da intersetorialidade, relacionadas à grande demanda por atendimento existente no território, à falta de profissionais, de espaço físico inadequado, o que, por sua vez, obstaculizam o desenvolvimento do trabalho das equipes, e principalmente, o planejamento intersetorial.

A intersetorialidade entre Saúde e Assistência Social

• Há uma tentativa, por parte dos técnicos do CRAS e da ESF, para a realização das ações intersetoriais, mas esta ainda não ocorre efetivamente, enquanto planejamento, execução e avaliação conjunta da ação.

• Os técnicos reconhecem a importância da intersetorialidade, mas apontam a falta de diálogo entre os setores como empecilho ao desenvolvimento do trabalho conjunto.

Situação de Acesso ao SUS (MS, IBGE 2015)

• 71,1% da população foram a estabelecimentos públicos de saúde para serem atendidos.

• Deste total, 47,9% apontaram as UBS como sua principal porta de entrada aos serviços SUS.

• Do total, 33,2% conseguiram pelo menos um dos medicamentos no SUS e 21,9%, por meio do Programa Farmácia Popular.

• A proporção de indivíduos que mais tiveram acesso a medicamentos nos serviços públicos sobe para 41,4% na população sem instrução ou com fundamental incompleto e para 36,7% entre os de cor parda.

• Depois das Unidades Básicas de Saúde, os serviços públicos mais procurados pela população são os de emergências -

– Unidades de Pronto Atendimento Público ou Emergência de Hospital Público, 11,3%.

• Os consultórios e clínicas particulares atraem 20,6% dos brasileiros e 4,9% buscam emergências privadas.

• Saúde da Família - Ao todo, 112,5 milhões de brasileiros (56,2%) estão cadastrados.

• PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/IBGE),

– em 2008, a iniciativa atingia 96,5 milhões de pessoas.

– em 2015, cerca de 16 milhões de pessoas passaram a ser atendidas pelo Saúde da Família

Então, iniciando o trabalho de Atenção às nossas Famílias, na

perspectiva dos conceitos debatidos

• Suporte do NASF

• Buscar os serviços de assistência social, saúde mental, escolas, ONGs do território.

• Estabelecer uma pauta de assuntos de interesses comuns: os usuários e/ou família em situação de vulnerabilidade clínica, social, emocional.

• Preparar estudos de casos destes usuários para discussão e integração com demais setores.

• Elaborar com os demais setores o PTS dos usuários e/ou famílias

Referências • BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS).

Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Brasília – DF, 2004.

• BRASIL. MS. SAS. DAB. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Série E. Legislação em Saúde).

• _____. MDS. Orientações Técnicas sobre o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF, segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Vol. 1. Brasília: MDS, 2012.

• _____. MDS. Orientações Técnicas sobre o PAIF: Trabalho social com famílias do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF. Vol. 2. Brasília: MDS, 2012.

• _____. MDS. Orientações Técnicas da Vigilância Socioassistencial. Brasília, 2013.

• _____. MS. SAS. DAB. Núcleo de Apoio à Saúde da Família Vol 1: Ferramentas para a gestão e para o trabalho cotidiano. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. (Cadernos de Atenção Básica, n. 39)

• CORREIA, Adélia Delfina da Motta S. et al.(orgs). Políticas públicas de saúde e processo de trabalho em saúde da família, vol. 1. Campo Grande, MS : Ed. UFMS : Fiocruz Unidade Cerrado Pantanal, 2010.

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