atenção farmacêutica teoria e prática um diálogo possível

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447 ISSN 0326-2383 Acta Farm. Bonaerense 25 (3): 447-53 (2006) Recibido el 22 de octubre de 2005 Aceptado el 18 de diciembre de 2005 Atención farmacéutica PALAVRAS CHAVE: Atenção Farmacêutica, Prática profissional, Farmácia. KEY WORDS: Pharmaceutical Care, Pharmacy, Professional practice. * Autor a quem dirigir a correspondência. E-mail: [email protected] Atenção Farmacêutica - Teoria e Prática: um Diálogo Possível? Erika Lourenço de FREITAS *, Djenane RAMALHO-DE OLIVEIRA & Edson PERINI Departamento de Farmácia Social, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais, Avenida Presidente Antônio Carlos, 6627 - Pampulha - CEP: 31270-901 - Belo Horizonte (MG) - Brasil RESUMO. Este artigo pretende ampliar a discussão a respeito da Atenção Farmacêutica - um novo mode- lo de prática da profissão de Farmácia - e explora alguns aspectos relacionados com sua compreensão, na tentativa de contribuir para o avanço da prática. Além disso, aborda questões relacionadas com a necessi- dade social e com as habilidades farmacêuticas que justificam o seu surgimento e reforçam a sua aplicabi- lidade. No Brasil, a carência de entendimento sobre conceitos, métodos e competências na Atenção Far- macêutica resultou em um processo de implementação muito fragmentado. Isso diminui o impacto da prá- tica e inibe o desenvolvimento de estratégias de ação mais efetivas. SUMMARY. “Pharmaceutical Care. Theory and Practice: a Possible Dialogue?”. This article aims to broaden the discussion about Pharmaceutical Care - a new practice model in the Pharmacy profession - and explores some as- pects related to its comprehension, in an attempt to contribute to the advancement of the practice. Moreover, this article approaches some questions about the social need and professional competencies that justify its emergence and reinforce its applicability. In Brazil, the lack of agreement about Pharmaceutical Care’s concepts, methods and competencies results in a very fragmented process of implementation. This diminishes the impact of the practice and inhibits the development of more effective strategies. INTRODUÇÃO A Atenção Farmacêutica chegou ao topo dos debates em um artigo publicado em 1990 por Hepler & Strand 1 , que a definiram como “a pro- visão responsável do tratamento farmacológico com o objetivo de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos pacien- tes”. Desde então, ela tem sido considerada por muitos autores como a nova missão da profissão farmacêutica 2,3 . Pela primeira vez na Farmácia, o farmacêuti- co tem à sua disposição um método que lhe permite padronizar sua atuação clínica e realizar intervenções baseadas em um processo racional de tomada de decisões 2 . Entretanto, desde a sua origem até a atualidade, a Atenção Far- macêutica vem sendo introduzida no Brasil com diferentes vertentes e compreensões, muitas ve- zes sem diretrizes técnicas sistematizadas e sem levar em conta todo o conteúdo filosófico pre- conizado pelos seus idealizadores. Esse proces- so dificulta o reconhecimento do impacto desse modelo de prática na saúde da população aten- dida, ao mesmo tempo em que inviabiliza o de- senho de estratégias de ação para o avanço da mesma no país. O objetivo do presente estudo é explorar a necessidade social que justifica o surgimento da Atenção Farmacêutica e as habilidades do far- macêutico que sugerem que ele seja a melhor alternativa de solução no atual contexto sanitá- rio. Além disso, pretendemos contribuir com as discussões a respeito dos componentes desse novo modelo de prática, na tentativa de homo- geneizar conceitos e somar as iniciativas já to- madas nesse campo. A NECESSIDADE SOCIAL Após o advento dos medicamentos industria- lizados, a variedade de produtos farmacêuticos e a vasta gama de ações farmacológicas que sur- giram no mercado fizeram emergir também a necessidade de que alguém, com sólidos conhe- cimentos profissionais, assumisse a responsabili-

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Page 1: Atenção farmacêutica   teoria e prática um diálogo possível

447ISSN 0326-2383

Acta Farm. Bonaerense 25 (3): 447-53 (2006)Recibido el 22 de octubre de 2005Aceptado el 18 de diciembre de 2005

Atención farmacéutica

PALAVRAS CHAVE: Atenção Farmacêutica, Prática profissional, Farmácia.KEY WORDS: Pharmaceutical Care, Pharmacy, Professional practice.

* Autor a quem dirigir a correspondência. E-mail: [email protected]

Atenção Farmacêutica - Teoria e Prática: um Diálogo Possível?

Erika Lourenço de FREITAS *, Djenane RAMALHO-DE OLIVEIRA & Edson PERINI

Departamento de Farmácia Social, Faculdade de Farmácia,Universidade Federal de Minas Gerais,

Avenida Presidente Antônio Carlos, 6627 - Pampulha -CEP: 31270-901 - Belo Horizonte (MG) - Brasil

RESUMO. Este artigo pretende ampliar a discussão a respeito da Atenção Farmacêutica - um novo mode-lo de prática da profissão de Farmácia - e explora alguns aspectos relacionados com sua compreensão, natentativa de contribuir para o avanço da prática. Além disso, aborda questões relacionadas com a necessi-dade social e com as habilidades farmacêuticas que justificam o seu surgimento e reforçam a sua aplicabi-lidade. No Brasil, a carência de entendimento sobre conceitos, métodos e competências na Atenção Far-macêutica resultou em um processo de implementação muito fragmentado. Isso diminui o impacto da prá-tica e inibe o desenvolvimento de estratégias de ação mais efetivas.SUMMARY. “Pharmaceutical Care. Theory and Practice: a Possible Dialogue?”. This article aims to broaden thediscussion about Pharmaceutical Care - a new practice model in the Pharmacy profession - and explores some as-pects related to its comprehension, in an attempt to contribute to the advancement of the practice. Moreover, thisarticle approaches some questions about the social need and professional competencies that justify its emergenceand reinforce its applicability. In Brazil, the lack of agreement about Pharmaceutical Care’s concepts, methodsand competencies results in a very fragmented process of implementation. This diminishes the impact of thepractice and inhibits the development of more effective strategies.

INTRODUÇÃOA Atenção Farmacêutica chegou ao topo dos

debates em um artigo publicado em 1990 porHepler & Strand 1, que a definiram como “a pro-visão responsável do tratamento farmacológicocom o objetivo de alcançar resultados concretosque melhorem a qualidade de vida dos pacien-tes”. Desde então, ela tem sido considerada pormuitos autores como a nova missão da profissãofarmacêutica 2,3.

Pela primeira vez na Farmácia, o farmacêuti-co tem à sua disposição um método que lhepermite padronizar sua atuação clínica e realizarintervenções baseadas em um processo racionalde tomada de decisões 2. Entretanto, desde asua origem até a atualidade, a Atenção Far-macêutica vem sendo introduzida no Brasil comdiferentes vertentes e compreensões, muitas ve-zes sem diretrizes técnicas sistematizadas e semlevar em conta todo o conteúdo filosófico pre-conizado pelos seus idealizadores. Esse proces-so dificulta o reconhecimento do impacto desse

modelo de prática na saúde da população aten-dida, ao mesmo tempo em que inviabiliza o de-senho de estratégias de ação para o avanço damesma no país.

O objetivo do presente estudo é explorar anecessidade social que justifica o surgimento daAtenção Farmacêutica e as habilidades do far-macêutico que sugerem que ele seja a melhoralternativa de solução no atual contexto sanitá-rio. Além disso, pretendemos contribuir com asdiscussões a respeito dos componentes dessenovo modelo de prática, na tentativa de homo-geneizar conceitos e somar as iniciativas já to-madas nesse campo.

A NECESSIDADE SOCIALApós o advento dos medicamentos industria-

lizados, a variedade de produtos farmacêuticose a vasta gama de ações farmacológicas que sur-giram no mercado fizeram emergir também anecessidade de que alguém, com sólidos conhe-cimentos profissionais, assumisse a responsabili-

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dade pelo uso necessário, efetivo, seguro e con-veniente desses medicamentos 4. Na atualidade,essa necessidade é ainda mais evidente.

No cenário de medicalização da sociedadeem que vivemos, com a abundância e superva-lorização dos aparatos tecnológicos e a pene-tração da medicina no cotidiano humano, o usoabusivo e indiscriminado de medicamentos as-sumiu papel de destaque 5. Observa-se que asociedade atual deposita uma crença ingênua eexcessiva no poder dos produtos farmacêuticosque contribui para incorporá-los a essa dinâmi-ca do mercado consumista, transformando-osem bens de consumo e afastando-os cada vezmais da sua finalidade original na prevenção,diagnóstico e tratamento de doenças 5-7. Lefèvre8 acrescenta ainda que o medicamento vem sen-do fabricado, prescrito, comercializado e utiliza-do como uma “mercadoria-símbolo”, produzin-do indevidamente a idéia de que a saúde podeser alcançada por uma abordagem unidimensio-nal, apenas com a utilização desse produto datecnologia científica.

A morbi-mortalidade relacionada com o usode medicamentos é uma das conseqüências des-se processo e constitui, atualmente, um graveproblema de saúde coletiva, tanto no Brasil co-mo em vários outros países 1,9. O uso desneces-sário, assim como a utilização de fármacos emsituações contra-indicadas, expõe os pacientesaos riscos de ocorrência de reações adversas,mascaramento de condições clínicas mais gravese/ou evolutivas, interações medicamentosas eintoxicações, constituindo-se em causa impor-tante de morbidade e mortalidade 9.

A automedicação firmou-se como prática cor-riqueira e, exercida de maneira inapropriada,pode contribuir para o agravamento deste qua-dro. Podemos pensá-la como resultado de res-trições econômicas e de infra-estrutura que difi-cultam o acesso aos serviços de saúde, comoconseqüência da conversão crescente de fárma-cos de venda condicionada à prescrição em me-dicamentos de venda livre ou de uma aceitaçãocada vez maior de valores ético-culturais fomen-tadores de uma responsabilidade individualiza-da para com a atenção à saúde 10. Entretanto, oempoderamento do paciente nessa tendência doautocuidado e os possíveis avanços relaciona-dos ao maior acesso à automedicação precisamser cuidadosamente administrados para que sejauma prática cujos benefícios superem os riscos11. Ressalta-se a preocupação, bastante pertinen-te, com os seus perigos implícitos, que expõema população ao risco de ocorrência de eventosindesejados que podem ser causa expressiva de

morbi-mortalidade relacionada ao uso de medi-camentos 6,9,12.

Aliado a isso existe outro fator importante:os atuais sistemas de cobertura de saúde, tantono plano público quanto no privado, estão con-tribuindo para a deterioração da relação médi-co-paciente 4. Não há tempo para se criar umlaço afetivo, as consultas são cada vez mais bre-ves e impessoais, o que reduz ou mesmo elimi-na a comunicação a respeito de problemas po-tenciais com os medicamentos 13,14. Esse fato,aliado à desestruturação do sistema de saúde,contribui para que não haja o estabelecimentode uma relação empática entre tais atores so-ciais e a consulta médica acaba tornando-se“uma mera busca de sintomas para a prescriçãode medicamentos adequados às queixas aponta-das” 15.

Faus 3 coloca outra questão relevante naatualidade: a expectativa de vida da populaçãosofreu um grande aumento nos últimos 50 anose isso vem acompanhado de uma grande pre-valência de enfermidades crônicas que levam,em última instância, à utilização de muitos me-dicamentos. Assim, com o envelhecimento po-pulacional, o aumento da prevalência de do-enças crônicas e a ampliação da gama de fárma-cos disponíveis, a farmacoterapia passa a ser aforma de intervenção médica mais freqüente-mente utilizada na prática profissional 16. Nestascondições, aumenta-se o risco de aparecimentode efeitos colaterais indesejáveis e a prevalênciade morbidade e mortalidade pelo uso de medi-camentos, além do desperdício de altas cifras dedinheiro.

A “NECESSIDADE” PROFISSIONALHoje, com uma atuação fragmentada e uma

formação acadêmica tecnicista, o farmacêuticodistanciou-se dos demais integrantes da assimchamada equipe de saúde e dos usuários demedicamentos. A Farmácia, como profissão, temsido vista como um conjunto de grupos dissi-dentes, cada qual voltado e definido pelos res-pectivos ambientes de trabalho, interesses co-merciais, especializações e pontos de vista 2,14.

Ao longo das transformações que sofreu des-de a época do boticário, desenvolveu diversasatividades que ampliaram seu papel na socieda-de e legitimaram, de certa forma, sua competên-cia. Entretanto, a profissão ainda não estabele-ceu um compromisso social claro que reflitasuas responsabilidades na provisão de um ser-viço clínico direcionado ao bem-estar do pa-ciente 1. A perspectiva sociológica da Farmáciacomo uma profissão incompleta ou marginal

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ainda prevalece em algumas linhas de pensa-mento, baseada na baixa coesão profissional, naforte ligação com a atividade comercial e nacarência de autonomia e definição de atividadesrelacionadas à profissão 12.

Com a transformação tecnológica pela qualpassou o medicamento e o conseqüente desen-volvimento das atuais técnicas de sua comercia-lização, o farmacêutico assumiu um papel demero dispensador de produtos pré-fabricados1,4. Aliado a isso, sua formação excessivamentetecnicista e clinicamente incipiente o afastouainda mais da equipe multiprofissional da saú-de. Tudo isso contribuiu para que o farmacêuti-co não represente hoje um referencial comoprofissional da saúde na farmácia, o que priva ousuário de medicamentos dos potenciais benefí-cios de suas orientações e tem reflexo direto nafalta de reconhecimento social da profissão 4,17.A dispensação farmacêutica não é percebida co-mo uma atividade importante pela população e,geralmente, os pacientes/ clientes nem sequeresperam o contato com o farmacêutico 7. Demaneira geral, as pessoas procuram a farmáciacom o intuito de comprar um produto e não deobter um serviço profissional qualificado, prove-dor de informações específicas sobre medica-mentos 12,18.

Romano-Lieber et al. 19, em uma revisão dopapel da intervenção farmacêutica no uso demedicamentos por pacientes idosos, encontra-ram, no período de 1970 a 1999, apenas 15 tra-balhos que atendiam ao tema proposto, caracte-rizando uma surpreendente escassez de pro-dução na área, dada a relevância social do tema.Esses autores observaram que as intervençõesmostraram contribuição positiva na maioria dosestudos, mas que a natureza das mesmas limi-tou-se muito ao aconselhamento do usuárioe/ou do prescritor, ou seja, as intervenções res-tringiam-se ao processo de “capacitação ao uso”do medicamento ou das suas informações, sim-plesmente apoiando decisões já tomadas de an-temão. Isso coincide com as idéias de Morley 20,quando ele afirma que a Farmácia ainda exibemuitas características ultrapassadas, baseadasem crenças antigas de que toda ação clínica queenvolva a participação do farmacêutico deve seriniciada por um médico.

Alguns afirmam que o ambiente tipicamentecomercial da farmácia impede que o farmacêuti-co se integre e seja reconhecido como partícipeda equipe de profissionais provedores deatenção primária à saúde; outros acreditam queesta é uma questão muito mais teórica do queprática 11,18. O certo é que ao longo do caminho

o farmacêutico perdeu o domínio de sua ativi-dade junto ao paciente, ocupando-se principal-mente do medicamento - enquanto instrumentoterapêutico descontextualizado - e das questõesadministrativas da farmácia 4.

Atualmente se faz presente de forma bem es-truturada uma preocupação e um posiciona-mento profissional que ganha aos poucos visibi-lidade e legitimidade: existe um problema social- a morbi-mortalidade relacionada com o uso demedicamentos - causa de grandes prejuízos paraa saúde da população e perdas econômicas vul-tuosas, para o qual o profissional farmacêuticopode ser, por diversos motivos, a melhor alter-nativa de solução. Geralmente o farmacêutico é,ou deveria ser, o último profissional da saúde aentrar em contato com o paciente antes que es-te utilize um medicamento e, além disso, elefreqüentemente vê o paciente em diversas oca-siões entre uma consulta médica e outra. Alémdessa acessibilidade, podemos citar também asua formação específica e seu vasto conheci-mento técnico sobre medicamentos e a necessi-dade de seu melhor aproveitamento enquantoprofissional da saúde 3. Aqui se faz necessárioesclarecer que não acreditamos que a vasta for-mação técnica do profissional farmacêutico sejaum aspecto negativo. Aliás, somente um profis-sional com uma formação técnica que possibili-te discutir questões terapêuticas e entender asquestões clínicas poderia assumir esse papel 21.A questão é entender o medicamento enquantoinstrumento contextualizado, numa sociedadeem que o consumo de tais produtos pode terfunções muito mais amplas e muito mais com-plexas do que simplesmente combater um pro-cesso fisiopatológico. E, especificamente na ati-vidade de orientação aos usuários de medica-mentos, conforme todos os argumentos acimacolocados, o farmacêutico pode ter um papelprivilegiado.

Aceitar esse papel social e adotar a AtençãoFarmacêutica como sua missão profissional, semdúvida, é uma das grandes questões que movi-menta as discussões da profissão farmacêuticana atualidade.

ATENÇÃO FARMACÊUTICA: O CONCEITO ESUAS BASES

Atenção Farmacêutica é o componente daprática farmacêutica que envolve o cuidado di-reto ao paciente 22. Constitui uma prática profis-sional em que o farmacêutico, em cooperaçãocom o paciente e com outros profissionais dasaúde, melhora os resultados da terapia medica-mentosa do paciente pela prevenção, identifi-

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cação e resolução de algum problema relaciona-do ao uso de medicamento 14 (PRM). PRM foidefinido por Strand et al. 23 como um evento in-desejado da farmacoterapia, experienciado pelopaciente e que interfere, real ou potencialmente,no resultado esperado da mesma. Dessa forma,esse conceito inclui os problemas já detectados- e que precisam ser resolvidos - e aqueles po-tenciais - que devem ser prevenidos.

Embora Hepler & Strand 1, em 1990, tenhamdefinido a Atenção Farmacêutica como um mo-delo de prática profissional que atende especifi-camente às necessidades oriundas da farmacote-rapia aplicada ao paciente, várias outras propos-tas divergentes surgiram a partir de então. A Or-ganização Mundial de Saúde 16 ampliou esseconceito, incluindo não apenas as preocupaçõesdo farmacêutico com a prevenção, identificaçãoe resolução de PRM’s, mas também aquelas rela-cionadas com a prevenção de doenças e pro-moção da saúde no âmbito comunitário. Dessaforma, a Atenção Farmacêutica passou a serconsiderada por essa entidade como uma “atitu-de profissional” que todo farmacêutico deveadotar em sua prática diária, nas atividades diri-gidas aos pacientes. O mesmo ocorreu em di-versos outros países que se propuseram a ade-quar esse novo modelo de prática às suas reali-dades. Como exemplos, podemos citar a Espa-nha 24 e o Brasil, onde a Proposta de ConsensoBrasileiro de Atenção Farmacêutica 17 adota oseguinte conceito: “É um modelo de prática far-macêutica, desenvolvida no contexto da As-sistência Farmacêutica. Compreende atitudes,valores éticos, comportamentos, habilidades,compromissos e co-responsabilidades na pre-venção de doenças, promoção e recuperação dasaúde, de forma integrada à equipe de saúde. Éa interação direta do farmacêutico com o usuá-rio, visando uma farmacoterapia racional e a ob-tenção de resultados definidos e mensuráveis,voltados para a melhoria da qualidade de vida.Esta interação também deve envolver as con-cepções dos seus sujeitos, respeitadas as suasespecificidades bio-psico-sociais, sob a ótica daintegralidade das ações de saúde”.

Neste contexto, a Atenção Farmacêutica seriaum conjunto de atividades farmacêuticas - in-cluindo os seus serviços tradicionais, comoorientação farmacêutica, dispensação e edu-cação em saúde - todas elas agrupadas no âmbi-to do sistema sanitário e aprioristicamente dirigi-das ao paciente. Tal proposta certamente repre-senta os esforços de uma categoria no intuito depromover maior coesão profissional e impulsio-nar a Farmácia em direção a uma atividade que

tenha propósitos clínicos e morais mais clara-mente definidos e uma identidade mais bem es-tabelecida. Entretanto, no nosso entendimento,a prática da Atenção Farmacêutica surgiu nãopara resgatar uma profissão e estabelecer pautasprofissionais mais concretas que satisfaçam osinteresses da categoria, mas para atender a umademanda social específica, que requer de umprofissional - seja ele farmacêutico ou não - cer-tas habilidades e conhecimento 14.

Pode-se constatar que freqüentemente o “pa-ciente” –foco principal da Atenção Farmacêuti-ca– permanece como uma abstração, uma meraestatística na maior parte das atividades realiza-das no cotidiano da profissão. De fato, o far-macêutico raramente estabelece uma relação fa-ce-a-face com ele e, quando o faz, nem semprese baseia nos princípios humanísticos previstospela filosofia da Atenção Farmacêutica 22. As ati-vidades relacionadas à dispensação de medica-mentos e aquelas de caráter administrativo de-senvolvidas por farmacêuticos no cenário hospi-talar, embora sejam igualmente significativas enecessárias, são práticas diferentes da AtençãoFarmacêutica, embasadas cada qual em filoso-fias próprias e sistemas de gestão distintos.Agrupá-las, pois, sob a mesma égide poderianos levar a incorrer em ambigüidades e indefi-nições que em nada contribuem para o bem daprofissão ou da sociedade. Estamos cientes deque a mesma importância deve ser dada aosconceitos e à concretude das ações. Por essarazão, um vocabulário heterogêneo pode serproblemático para a compreensão de uma práti-ca nova, tanto para o farmacêutico quanto paraos pacientes e demais profissionais da saúde,além de dificultar o reconhecimento do real im-pacto de tal atividade.

Concordamos com Ramalho de Oliveira 2

quando afirma que a Atenção Farmacêutica éuma alternativa - senão a melhor delas - para seaplicar todo o conhecimento do farmacêuticoem prol de uma causa que realmente o compro-meta com a sociedade: a redução da morbi-mor-talidade relacionada com o uso de medicamen-tos. É essa, portanto, a concepção de AtençãoFarmacêutica adotada neste estudo: um modelode prática profissional que envolve a relação fa-ce-a-face entre farmacêutico e paciente, onde oprimeiro se responsabiliza pela satisfação dasnecessidades farmacoterapêuticas do segundo,guiado por uma filosofia de prática profissional,embasado em um método ou processo de cui-dado específico e respaldado por um sistema degestão de prática bem definido.

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A filosofia da práticaA filosofia dessa prática é um conjunto de

valores que guia os comportamentos e defineregras, papéis, relacionamentos e responsabili-dades do profissional 14. É ela quem ajuda oprofissional a determinar o que é importante pa-ra a sua prática diária, estabelecer prioridades eefetuar julgamentos e decisões clínicas 25. Con-siste em uma série de elementos que se iniciamcom o estabelecimento ou a especificação deuma necessidade social. É a satisfação destacondição que justifica sua posição e privilégiosna sociedade e que deve estar no centro dessafilosofia.

No caso da Atenção Farmacêutica, o profis-sional tem a obrigação social de esforçar-se con-tinuamente para reduzir a morbi-mortalidade re-lacionada ao uso de medicamentos, responsabi-lizando-se por atender às necessidades farmaco-terapêuticas de seus pacientes. Assim, a primei-ra premissa filosófica da Atenção Farmacêutica éque a responsabilidade essencial do farmacêuti-co nesta prática é garantir que toda a terapiamedicamentosa do paciente é apropriadamenteindicada para tratar seus problemas de saúde,que os medicamentos que o mesmo utiliza sãoos mais efetivos disponíveis, os mais segurospossíveis e que o paciente está disposto e é ca-paz de utilizá-los como recomendado 25.

Para que essa premissa seja efetivamenteaplicada é necessário que o profissional utilizeuma abordagem de prática centrada no paciente14. Neste sentido, o último se torna o principalbeneficiário das ações do farmacêutico 3 e deveser visto como um indivíduo com conhecimen-to, experiência e princípios, todos esses essen-ciais para que o profissional cumpra com suaresponsabilidade. O paciente torna-se um com-panheiro no planejamento de ações relativas àsua saúde e a ele devem caber sempre as de-cisões finais acerca da sua terapia medicamento-sa, já que será ele quem irá vivenciar as conse-qüências desse processo 14.

A ênfase nesta abordagem é dada ao respei-to e à participação mútua de ambos nas de-cisões relacionadas à saúde. Tanto o profissionalquanto o paciente são especialistas em seu pró-prio campo: o primeiro nos assuntos clínicos eno conhecimento técnico e o segundo em suaexperiência, sentimentos, medos, esperanças edesejos. Cuidar, nesse contexto, requer que am-bas as partes reconheçam e respeitem a área dehabilidades do outro 26. Isso é fruto de uma no-va visão do paciente, agora capaz e autônomo,com um papel protagônico na relação 13,20.

Com relação ao uso de medicamentos, por

exemplo, cada vez mais se rejeita a noção de“adesão” do paciente às recomendações médi-cas, buscando-se descobrir como esses dois ti-pos de conhecimentos podem ser mais bemcompartilhados em um relacionamento maisharmonioso 12. Hepler 27 fala de concordância,que requer uma negociação entre profissional epaciente a respeito dos objetivos a serem al-cançados e dos métodos a serem utilizados eaprovação, compreensão e compromisso do pa-ciente.

Um outro aspecto importante dessa aborda-gem é a compreensão do indivíduo como umtodo, em uma visão holística, o que inclui consi-derar também o contexto no qual ele vive e asua influência na tomada de decisões sobre asaúde 28. Como observado por Ramalho de Oli-veira 2, o paciente quer ser ouvido, ser reconhe-cido e ter um tratamento individualizado. A pre-ocupação do farmacêutico com o paciente e ointeresse pela experiência pessoal desse ser hu-mano com os medicamentos e com a doençapodem diferenciar esse profissional dos demaise fazer com que ele assuma um papel mais hu-mano no processo de atenção à saúde. Compre-ender essa experiência pode contribuir muitopara que o tratamento farmacológico prescritoou recomendado seja compatível com as priori-dades do paciente que o recebe. O comporta-mento do profissional nesta abordagem deve in-cluir, portanto, além de um suporte técnico-diagnóstico, sensibilidade para compreender aperspectiva do paciente, ouvir suas queixas eencontrar, junto com ele, alternativas que mel-hor se adaptem à sua condição existencial, in-fluenciando positivamente a sua experiênciacom os medicamentos 29,30.

Cuidar, na Atenção Farmacêutica, significatambém ajudar o outro a cuidar de si mesmo.Requer um relacionamento onde há partici-pação efetiva de ambas as partes envolvidas euma consciência de que a necessidade particu-lar de cada paciente é o que ‘dirige’ essa práticaprofissional 14. Assim, o relacionamento naAtenção Farmacêutica deve ser baseado no es-forço mútuo do farmacêutico e do paciente paraencontrar um ponto comum na definição doPRM, no estabelecimento dos objetivos terapêu-ticos do acompanhamento e na identificação depapéis e responsabilidades a serem assumidosnessa relação. Para tanto, o relacionamento te-rapêutico deve incluir empatia, confiança, ho-nestidade, cooperação, sensibilidade e confiden-cialidade 25,28. É essa relação que facilita a ob-tenção de informações necessárias do paciente,permite que o profissional influencie positiva-

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mente nas suas decisões sobre a farmacoterapiae aprenda com ele 25.

Essencialmente, a relação terapêutica naAtenção Farmacêutica une farmacêutico e pa-ciente em um relacionamento colaborativo, on-de ambas as partes trabalham juntas rumo àprevenção e resolução dos problemas objetivose subjetivos, vivenciados ou potenciais, relacio-nados ao uso de medicamentos 14,20. Nesta pers-pectiva, o estabelecimento de uma autêntica re-lação terapêutica propõe superar a postura pa-ternalista adotada por muitos profissionais dasaúde, onde o paciente é visto como dependen-te de seus julgamentos e decisões. Propõe, ain-da, ultrapassar o modelo informativo nas re-lações terapêuticas, onde o profissional age co-mo um técnico provedor de informações cientí-ficas para o paciente. Oferece, enfim, a possibi-lidade de uma interação bidirecional, “estabele-cendo uma relação empática e participativa queofereça ao paciente a possibilidade de decidirna escolha do seu tratamento” 29.

Essencial também para a filosofia da AtençãoFarmacêutica é tratar-se de uma prática genera-lista. O profissional deve assumir a responsabili-dade de prover o mesmo padrão de cuidado atodos os pacientes, independentemente da do-ença e seu estado, idade, gênero, etnia, regimeterapêutico envolvido ou outras variáveis, taiscomo classe social, renda ou grau de escolarida-de 30. Após ampla experiência com a prática efamiliarização com o processo de cuidado, oprofissional pode especializar-se em determina-da área. O generalista e o especialista, entretan-to, precisam usar o mesmo método de cuidadoe ter um vocabulário comum, devendo referen-ciar pacientes entre si para o bom andamentoda prática. A complexidade do PRM experien-ciado pelo paciente é o elemento que definiráse a farmacoterapia do mesmo será mais bematendida por um generalista ou por um especia-lista 25.

O processo ou método de cuidadoCompreendida a filosofia da Atenção Far-

macêutica, o próximo passo é a aplicação doconhecimento para promover o bem-estar deoutros. Para isso, o profissional precisa se enga-jar em um processo cognitivo que o permita co-letar as informações necessárias do paciente,identificar necessidades farmacoterapêuticas, in-tegrá-las com seu conhecimento, efetuar julga-mentos clínicos, tomar decisões junto com o pa-ciente e documentar os resultados de suas inter-venções 14. Estas atividades compõem as trêsetapas do processo ou método de cuidado na

Atenção Farmacêutica: a avaliação inicial, o pla-no de cuidado e a avaliação de resultados que,embora estejam didaticamente descritos a seguirem uma linha temporal, ocorrem de maneira cí-clica e contínua durante todo o acompanhamen-to do paciente 14,25.

O profissional inicia o acompanhamento co-letando informações que permitam conhecermelhor o paciente, entre elas: a razão do encon-tro, dados sócio-demográficos, experiência commedicamentos, história clínica e medicamentosaatual e pregressa, hábitos de vida, etc. Em se-guida ele analisa sistematicamente as necessida-des farmacoterapêuticas do paciente para verifi-car se as mesmas estão sendo atendidas e paradeterminar se existe algum PRM a ser resolvidoou prevenido. Para isso, ele utiliza o processoracional de tomada de decisão próprio do méto-do, avaliando a farmacoterapia sempre na se-guinte ordem: primeiramente verifica se ela éapropriada para a indicação de uso; em seguidaavalia a efetividade do regime terapêutico paraa indicação em questão; em terceiro determinao grau de segurança do mesmo e só após secertificar que a farmacoterapia usada ou selecio-nada é apropriadamente indicada, efetiva e se-gura o profissional avalia a adesão do pacienteao regime terapêutico proposto.

Identificados os PRM e documentada a ava-liação inicial, o próximo passo é a elaboraçãodo plano de cuidado para cada condição médi-ca do paciente que esteja sendo - ou precisa ser- tratada com medicamentos. Nesta etapa, o pro-fissional, juntamente com o paciente, estabeleceos objetivos terapêuticos a serem atingidos, otempo necessário para isso e as intervençõesimplementadas, incluindo aquelas para a reso-lução e prevenção dos PRM.

Em seguida, são agendados encontros subse-qüentes para avaliar os resultados das inter-venções adotadas no alcance dos objetivos te-rapêuticos e para determinar se não houve odesenvolvimento de nenhum outro problemarelacionado com o uso de medicamentos. Resu-midamente, são esses os passos do processo decuidado proposto na Atenção Farmacêutica.

A gestão da práticaPor fim, o terceiro componente deste mode-

lo de prática profissional é o sistema de gestão,que constitui a chave do seu sucesso e inclui to-do o suporte requerido para oferecer tal serviçode maneira efetiva e eficiente. Em geral, ele in-clui uma descrição clara do serviço prestado edos recursos necessários, incluindo aqueles físi-cos, humanos e financeiros, os modos de ava-

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acta farmacéutica bonaerense - vol. 25 n° 3 - año 2006

liação do serviço e a forma de reembolso quesuporte financeiramente o serviço, entre outros14,25.

CONSIDERAÇÕES FINAISA filosofia, o processo ou método de cuida-

do e o sistema de gestão da Atenção Farmacêu-tica são componentes fundamentais dessa práti-ca, sem os quais ela não pode ser reconhecidacomo tal. O cuidado centrado no paciente, a ne-cessidade de responsabilização pela farmacote-rapia e o holismo preconizados por ela são ele-mentos importantes, que podem e devem serutilizados para informar outros serviços desen-volvidos no âmbito da Farmácia.

Por outro lado, a educação em saúde e di-versas outras atividades preconizadas pela As-sistência Farmacêutica, tais como seleção, distri-buição e dispensação de medicamentos, emboratenham valor reconhecido na prevenção de do-enças e promoção e recuperação da saúde, nãodevem ser confundidas com esse modelo deprática profissional, não sem o risco de grandesprejuízos para o avanço da mesma.

Concordamos que a Farmácia realmente pre-cisa traçar uma pauta de atuação mais coesa eexpressiva junto à sociedade, mas estamos cer-tos de que agrupar todas as suas atividades vol-tadas ao paciente em um conjunto - chamando-o de Atenção Farmacêutica - não é a melhor al-ternativa de solução. Ao contrário, essa tentativapode resultar em grandes prejuízos, primeira-mente porque impede que pacientes sejam con-cretamente beneficiados por ela e dificulta o re-conhecimento do seu impacto na saúde dessaspessoas. E em segundo lugar, porque esse fatonos impossibilita de trocar experiências com ou-tros locais onde a Atenção Farmacêutica é bemdefinida e delimitada, o que retarda o seuavanço e aprimoramento.

Definir, por fim, esse novo modelo de práti-ca a partir das “necessidades” profissionais queclamam por uma pauta de atuação mais expres-siva seria incompatível com a filosofia daAtenção Farmacêutica, que determina que asnecessidades dos pacientes guiem as ações doprofissional.

As discussões e reflexões contidas nesse arti-go representam apenas mais uma contribuiçãopara que possamos construir um novo papelprofissional para a Farmácia, que corresponda àcompetência técnica do farmacêutico ao mesmotempo em que satisfaça a necessidade social pe-lo uso indicado, efetivo, seguro e convenientede medicamentos.

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