atasapecv26

278
Artes, Comunidade e Educação Ângela Saldanha e Marta Ornelas (orgs.)

Upload: apecv-portugal

Post on 26-Jul-2016

341 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Título: Artes, Comunidade e Educação Publicações_ APECV Orgs- Ângela Saldanha e Marta Ornelas Ano: 2014 ISBN 978-989-96384-6-4 Atas do 2.º Congresso da Rede IberoAmericana de Educação Artística/26.º Encontro Nacional da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual;

TRANSCRIPT

  • Artes, Comunidade e Educaongela Saldanha e Marta Ornelas (orgs.)

  • Atas do 2. Congresso da Rede IberoAmericana de Educao Artstica/26. Encontro Nacional da Associao de Professores de Expresso e Comunicao Visual

    Artes, Comunidade e Educao

    Associao de Professores de Expresso e Comunicao Visual

    989-20

    ngela Saldanha e Marta Ornelas

    ngela Saldanha

    978-989-96384-6-4

    Um mau exemplo- intervenes em rede, Paulo Emlio e Dori Nigro

    1 volume

    Ttulo

    Tema

    Editor

    Prefixo de editor

    Autoras

    Design

    ISBN

    Vdeo da capa

    organizao apoio

  • Ana Anglica AlbanoBelidson Dias

    Carlos CartaxoCarlos Morais

    Carminda Mendes Andr Edite Colares Oliveira Marques

    Elisabete OliveiraEstevo Fontoura

    Fbio Jos Rodrigues da CostaJoo Paulo Queiroz

    Imanol AguirreIsabel Bezelga

    Isabel M Granados ConejoJos Alberto MartinsJos da Silva Ribeiro

    Jos PaivaJos Pedro Aznrez

    Judit VidiellaJurema Luzia de Freitas Sampaio

    Leonardo CharreuLuciana Gruppelli Loponte

    Mara-Dolores Callejn-ChinchillaMara Isabel Moreno Montoro

    Manuelina Maria Duarte CndidoMaria Jesus Agra-Pardias

    Noem Pea SnchezOlga Lucia Olaya

    Ricardo ReisRosa Oliveira

    Rosvita Kolb-BernardesSamir Assaleh

    Teresa Torres de Ea

    ngela SaldanhaClia FerreiraEmilia Lopes

    Flvia Vasconcelos Isabel Trindade

    Jlia AlvesJurema Luzia de Freitas Sampaio

    Lusa VidalMarta OrnelasRui Alexandre

    Comisso Organizadora Comisso Cientfica

  • Alessandra FariaAmanda Sandim

    Amparo Alonso-SanzAna Anglica AlbanoAna Snchez Fnez

    Ana MachadoAnabela Pereira

    ngela Saldanhangeles Saura

    Brigite SilvaCristina Moreno

    Christiane BarretoDalila RodriguesElisabete OliveiraEstvo HaeserFederico Testa

    Flvia VasconcelosGuiilermo CalvioHelena Cabeleira

    Helga LoosHeloisa Leo

    Hugo CruzHugo Vieira

    Isabel BezelgaRachel de Sousa Vianna

    Ramon AguiarRita Wengorovius

    Isabel-Mara Granados-ConejoJos Pedro Aznrez

    Samir AssalehJudit Vidiella Pags

    Leda Maria de Barros GuimaresLeonardo Luigi Perotto

    Autores Lcia Garcia RibeiroLuciana Mendes Velloso

    Madalena ZaccaraMarcelo Wasem

    Mailine Bahia FernandesMara-Dolores Callejn-Chinchilla

    Maria Jesus Agra PardinasMaria Madalena Sanchez

    Mariana NovaesMarta Ornelas

    Mnica OliveiraPaula Penha

    Pilar PerezPollyanna de Oliveira Brito Melo

    Ramon Santana de AguiarRosvita Kolb Bernardes

    Silvia Capelo lvarezSusana Marques

    Teresa Torres de Ea Terezinha Lima

    Uendel de OliveiraVanessa Raquel Lambert de Souza

  • Escola Caseira de Invenes: a inveno de um laboratrio de educao,liberdades e utopias texto 11

    Exposio Do Desenho ao Designare texto 12

    El silencio de almas confundidas texto 13

    A Educao Artstica na era das Indstrias Culturais: a retrica da criatividade e a condio do artista-investigador-professor no sculo XXI texto 14

    Possvel Construir uma Nova Sensibilidade Humana Por Meio da Arte e da Educao Planetria? texto 15

    Desenho de investigao da construo de uma personagem hbrida a partir do clown texto 16

    Princpios e prticas de teatro e comunidade: Poticas, pedagogias e dramaturgias da Comunidade texto 17

    Comunidades virtuales, s, pero tambin servicio presencial a la comunidad: aprendizaje servicio y arte social texto 18

    Cuando me encuentro, cuando nos encontramos. Arte y Educacin Artstica como reflexin y agencia texto 19

    Colectivaces: construir redes de formao-aco em escolas de arte e contextos locais texto 20

    Performance, Msica e Educao: pensando o espao educativo e suas aes performativas como debate para o ensino musical texto 21

    O ensino das artes visuais texto 22

    ndice

    Guimares - Bero de Partilhas 01

    Programa do congresso 02

    Imagens da docncia: Histrias de vida e a improvisao texto 1

    Fronteiras na escoals texto 2

    O que a arte ensina a quem ensina arte: processos de pesquisa do Laborarte/Unicamp/Brasil texto 3

    Arquitectura y Multisensorialidad texto 4

    Ludobibliotecas Escolares e Comunitrias das Escolas Bsicas do Concelho de Cascais no mbito do programa da Escola por Inteiro texto 5

    Obra de arte e construo de sentido texto 6

    Exposicin enREDadas 2014: Creacin artstica intercultural para la formacin docente texto 7

    A formao do espectador para a fruio dos elementos visuais no espetculo texto 8

    A infncia da arte / A arte da infncia texto 9

    A necessidade de um referencial nacional para a educao visual de todos: das prticas efectivadas e respondendo aos desafios emergentes formao de professores e exploratrio texto 10

  • Utopia como sinnimo de esperana na renovao do olhar em espaos sociais de colonizao

    portuguesa: o movimento intercultural IDENTIDADES texto 23

    Rdio Interofnica em Cachoeira: Educao, Arte e operaes colaborativas. texto 24

    A Ilustrao Atual e as suas Potencialidades Pedaggicas texto 25

    O ensino do design grfico e a articulao com a comunidade local texto 26

    Inter-Relaes Entre Arte, Comunidade e Educao Ambiental texto 27

    A reinveno de Julieta... e Romeu. texto 28

    Para qu ter ps se tenho asas para voar? texto 29

    El Arte Fractal como proyecto educativo transversal texto 30

    PICTGRAFOS - Apresentao do projeto texto 31

    O autorretrato ampliado texto 32

    A imagem-objeto como estmulo visual para a produo do discurso potico: anlise de uma experincia artstico-pedaggica em Artes Cnicas. texto 33

    Arte e identidade afro-brasileira na educao no-formal: possibilidades de reconstruo de uma histria de protagonismo negro texto 34

    Miradas al aula de enseanzas artsticas texto 35

    PROGRAMAS EDUCATIVOS EM INSTITUIES MUSEAIS E CULTURAIS: um olhar sobre os educadores e sua perspectiva profissional. texto 36

    gua da Rua: Um projeto de arte e educao para descobrir a rede subterrnea que conecta a cidade aos rios texto 37

    As artes visuais na formao profissional poster 1

    Em COMO NO Nos ESTAMOS NAS TINTAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! concluses

  • Guimares - Bero de Partilhasngela Saldanha e Marta Ornelas

    A Associao de Professores de Expresso e Comunicao Visual (APECV) organiza todos os anos um encontro que permite, no s o contato presencial e o convvio entre os seus associados, aos quais se juntam outros participantes com apreo por esta associao e pelo que a mesma defende, como tambm a partilha de ideias, projetos, convices, sugestes, derivas e questionamentos respeitantes ao processo da educao artstica. Professores, investigadores, artistas, bem como outros interessados nestes temas, contribuem ativamente para a dinamizao e ampliao desta rede de conhecimento, na qual se discute aquilo que se relaciona sobretudo com o seu quotidiano profissional. Acrescente-se que estes encontros anuais se pautam sempre por um acolhimento de cariz muito familiar, amigvel, onde se tenta que os interesses e necessidades de todos sejam atendidos. Respeitando a amplitude geogrfica do nosso pas, a APECV esfora-se tambm por diversificar os lugares destes encontros, que j se realizaram de norte a sul. Neste ano de 2014, no seu 26 encontro, a APECV elegeu a cidade de Guimares, no norte de Portugal, que havia sido Capital Europeia da Cultura dois anos antes. Da cidade bero de Portugal as anfitris Clia Ferreira e Jlia Alves prepararam-nos, recheados de afetos e profissionalismo, os diversos momentos do encontro.Ao 26 encontro da APECV juntou-se ao II Congresso da Rede Iberoamericana de Educao Artstica (RIAEA). Trata-se de uma rede criada por afinidades profissionais entre pessoas localizadas em diferentes pases e continentes que teve o seu I Congresso no ano de 2008, tambm em Portugal, na cidade de Beja.Neste 26 encontro da APECV e II Congresso da RIAEA foram utilizadas tecnologias para que fosse possvel que o evento se expandisse alm fronteiras, atravs da internet. Assim, alm da vertente presencial, os participantes puderam acompanhar o evento online, facto que ampliou consideravelmente o nmero de participantes interessados que no tiveram possibilidade de estar presentes em Guimares. O evento online contou tambm com participaes exclusivas, atravs de fruns participativos, que no fizeram parte do programa presencial, as chamadas participaes virtuais, o que abriu uma possibilidade que ainda no tinha sido experimentada nos encontros da APECV. Talvez se possa ter aberto uma porta para repensar os futuros encontros da APECV. Contamos com um largo numero de apresentaes em vrios formatos, desde simpsios, mesas redondas, grupos de debate, fruns virtuais e workshops.

    01

    Fisicamente, foi o Agrupamento de Escolas Joo Meira que acolheu o evento, que decorreu nos dias 30 e 31 de maio e 1 de junho.O tema geral do encontro denominou-se Artes, Educao e Comunidade e, mais especificamente, foram propostos para debate os assuntos que seguidamente se enumeram.1. Artes, Educao e Comunidade: projetos e experincias de artes e de educao artstica socialmente comprometidos em contextos de educao no formal e informal;2. Artes Visuais na Educao: prticas demonstrativas do papel crucial da educao artstica e da educao atravs das artes visuais na educao formal;3. Artes e Educao para a Sustentabilidade: debates, projetos e experincias que de algum modo demonstrem os benefcios de abordagens baseadas nas artes, promotoras da educao ambiental e para a sustentabilidade em geral;4. Artes em Movimento (multimdia): questes que se ligam compreenso crtica, manuseamento e transformao de imagens produzidas por tecnologias multimodais e digitais;5. Educao Artstica nos vrios nveis (primeira infncia; infncia, adolescncia, idade adulta, terceira idade);6. Formao Inicial de Educadores e Professores de Educao Artstica;7. Prticas Transdisciplinares: prticas que cruzam fronteiras permeveis das disciplinas artsticas, tornando-se difcil situ-las dentro do espartilho disciplinar, ocupando-se do conhecimento como um todo.

  • programa30 de maio

    a partir das 16h00 Receo, no trio principal

    Momento Musical (trio principal)Alunos do ensino articulado (Orquestra Joo de Meira) e maestro Jorge Fernandes (Academia Valentim Moreira de S)

    Abertura (sala do aluno)Clia Ferreira (APECV e Agrupamento de Escolas de Pedome) e Jlia Alves (APECV e Agrupamento de Escolas Prof. Joo de Meira), Manuela Ferreira (Direo do Agrupamento de Escolas Prof. Joo de Meira), Adelina Paula Pinto (Vereao da Cultura da Cmara Municipal de Guimares), Jurema Sampaio (Rede Ibero-Americana de Educao Artstica) e Teresa Ea (International Society for Education through Art)

    20h00/20h45 Mesa inaugural Colocando questes, na sala do aluno, moderada por Teresa Ea (APECV e International Society for Education through Art- InSEA)

    Cuando me encuentro, cuando nos encontramos: Arte y educacin artstica como reflexin y agenciaJos Pedro Aznrez Lpez (Universidade de Huelva e Escuela de Arte de Huelva) e Samir Assaleh (Universidade de Huelva)C3: Y como no somos anti-sistema...Maria Jess Agra Pardias (Universidade de Santiago de Compostela)

    20h00/20h45 Sesso paralela #1, na sala 22moderada por Estvo Haeser (Casa Grande)

    Educao esttica e artstica: Uma viso europeiaRaquel Mateus, Helena Damio e Isabel Festas (Universidade de Coimbra)

    A reinveno de Julieta... e RomeuRamon Aguiar (Associao Brasileira de Pesquisae Ps-graduao em Artes Cnicas e Laboratrio de Estudos Teatrais e Memria Urbana/Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; CAPES/MEC - Brasil)

    31 de maio

    8h30/10h00 Sesso paralela #2, na sala do aluno, moderada por Isabel Bezelga (Universidade de vora)

    A necessidade de um referencial nacional para a educao visual de todos: Das prticas efectivadas e para continuar a responder aos desafios emergentes formao de professores e exploratrioElisabete Oliveira (Centro de Investigao e de Estudos em Belas-Artes/Universidade de Lisboa)

    A arte sustenta o qu?Eliana Pougy (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo)

    Obra de arte e construo de sentidoAnabela Pereira (Agrupamento de Escolas General Humberto Delgado)

    A educao artstica na era das indstrias culturais: a retrica da criatividade e a condio do artista-investigador-professor no sculo XXIHelena Cabeleira (Instituto de Educao da Universidade de Lisboa)

    Pictgrafos: Apresentao do projetoSusana Marques

    12h00/12h30 Apresentao das concluses das sesses paralelas #1, #2, #3, #, na sala do aluno

    10h00/10h30 Intervalo

    Oficina paralela #1, na sala 2

    Imagens da docncia: Histrias de vida e improvisaoAlessandra Ancona de Faria (Universidade Estadual de Campinas)

    10h30/12h00 Sesso para lela #3, na sala 22, moderada por oemi Pea Sanchez(Universidade Complutense de Madrid)

    Desenho de investigao da construo de uma personagemhbrida a partir do clonHugo Vieira (Universidade do Porto)

    Estratgia de mediao em arte na educao no-formal: Um estudo de caso das oficinas artsticas do SESC BelenzinhoVanessa de Souza (Universidade Estadual Paulista)

    Arquitectura y multisensorialidadAna Snchez Fnez

    14h00/15h30 Mesa redonda paralela #1, na sala 2 moderada por Ana Anglica Albano (Universidade Estadual de Campinas)

    O que a arte ensina a quem ensina arte: Processos de pesquisado Laborarte/ Universidade Estadual de CampinasLuciana Esmeralda Ostetto (Universidade Federal Fluminense), Rosvita olb (Universidade do Estado de Minas de Gerais) e Alessandra Ancona de Faria (Universidade Estadual de Campinas)

    Sesso paralela #, na sala 22, moderada por Ana Marqus Ibez (Universidade Complutense de Madrid)

    Bisbilhotando, fazendo e acontecendo: Mltiplas linguagens do ensino da arte na educao infantiladia elson (Creche Municipal aldir Roberto da Conceio)

    A educao no formal e informal nas ludobibliotecas escolares e comunitrias das escolas bsicas do concelho de CascaisAna Rocha

    Inrer-relaes: Entre arte, comunidade e educao ambientalPollyanna Brito e Leda Guimares (Federao de Arte-Educadores do Brasil)

    Fronteiras na escolaAmanda Sandim (Federao de Arte-Educadores do Brasil)

    Oficina paralela #3, na sala 2

    El otro que habita en nuestras miradas: Percepcin y mediacin en la visualidad contemporneaValesa Bernardo Rangel (Instituto Federal de Santa Catarina e Universidade de Barcelona)

    arrativas visuais: Conciliar o dirio grfico com tecnologias digitaisEduardo Salavisa

    1h30/18h00 Apresentao das concluses da mesa redonda paralela #1 e das sesses paralelas #, # e #, na sala do Aluno

    Sesso paralela #, na sala 1, moderada por Mara-Dolores Callejn Chinchilla (Universidade de Jan)

    Caando pingos: Arte educao e meio ambiente, contexto interdisciplinar no cuidado com a guaClotildes Maria de Jesus Oliveira Caz (Colgio Militar de Salvador, Escola Municipal Adroaldo Ribeiro Costa e Universidade Federal da Bahia), Joane Macieira e Priscila Menezes (Universidade Federal da Bahia)

    Utopia como sinnimo de esperan a na renovao do olhar em espaos sociais de colonizao portuguesa: O movimento intercultural IdentidadesMadalena accara (Universidade Federal de Pernambuco)

    Dana com papelClara Encarnao (Agrupamento de Escolas da Boa gua)

    A ilustrao atual e as suas potencialidades pedaggicasMnica Oliveira (Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano/Universidade Catlica Portuguesa e Escola Superior de Educao de Paula Frassinetti)

    15h30/16h00 Intervalo

    16h00/1h30 Sesso paralela # , na sala 1, moderada por Judit Vidiella Pags (Universidade de vora)

    possvel construir uma nova sensibilidade humana por meio da arte e da educao planetria?Heloisa Leo (Pontifcia Universidade de So Paulo)

    20h30/23h30 Festa, na sala do aluno

    Boi fuleiro: Um boi improvisadoPaulo Pinto e Doriedson Roque (Coletivo Tuia de Artifcios)

    Danas do MundoMirjam Deer e Coreto

    18h30 Sesso de abertura, no trio principal e na sala do aluno

    Evocao de Elliot Eisner; Ceclia Menano e Rui Mrio Gonalves Elisabete Oliveira

    18h30/1h00

    1h00/1h15

    1h30/20h00 Palestra InauguralFilosofia e educao artsticaCarlos Morais (Universidade Catlica Portuguesa)

    Inspirar a aprender, a cuidar e a agirAntonieta Costa (Jardim oolgico de Lisboa)

    Casa Grande: Arte e educao enquanto polticas de resistnciaMichele giet e Estvo Haeser (Casa Grande)

    20h00/20h45 Performance, na sala do alunoUm mau exemplo: Intervenes em redePaulo Pinto e Doriedson Roque (Coletivo Tuia de Artifcios)

    21h00 Jantar, no Restaurante Histrico (com reserva)

    Arte e educao: Uma experincia cnica da memria e cultura popular de So Francisco do CondeJoane Macieira (Universidade Federal da Bahia)

    10h30/12h00 Sesso paralela #, na sala 1, moderada por Jos Carlos de Paiva (i2ADS/Universidade do Porto)

    Oficina paralela #2, na sala 21

    Memria: Uma expresso cnica da improvisaoJoane Macieira (Universidade Federal da Bahia)

    1h00/20h00 Performance, na sala do aluno

    02

  • 03

    1 de junho

    08h30/10h15 Colectivac es: Construir redes de forma o-ac o em escolas

    de arte e contextos locaisJudit Vidiella Pag s (Universidade de vora)

    Sesso paralela #8, na sala do aluno, moderada por Est vo Haeser

    Escola Caseira de Inven es: A inven o de um laboratrio

    de educa o, liberdades e utopiasEst vo Haeser e Federico Testa (Universidade Federal

    do Rio Grande do Sul)

    O ensino do design grfico e a articula o com

    a comunidade localPaula Penha (Escola Secundria de Cacilhas)

    Rdio interofnica em Cachoeira: Educa o, arte e opera es colaborativasMarcelo Wasem e Mariana Novaes (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

    Deriva nmero tr sTeresa E a (APECV e INSEA), ngela Saldanha (APECV e i2ADS/Universidade do Porto) e Pilar Prez (Universidade Autnoma de Madrid)

    Oficina paralela #4, trio principal

    A infncia da arte / A arte da infnciaDalila d'Alte (Universidade Lusfona de Lisboa)

    10h15/10h30 Intervalo

    As artes visuais na forma o profissionalMadalena Sanchez (Universidade Lusfona)

    La caja del practicum: Una mirada hacia el interiorMara Jos Ramos Estvez (Centro de Estudios Universitarios Cardenal Spinola/Universidade de Sevilha)

    Creacin artstica entre universidades y de manera inter-nivelarMara-Dolores Callejn Chinchilla (Universidade de Jan),

    Mara-Paz Lpez-Pelez Casellas (Universidade de Jan) e Jos-Antonio Asensio Fernndez (Universidade de Barcelona)

    14h00/15h30

    Mesa redonda paralela #2, na sala do aluno, moderada por Isabel Bezelga

    (Universidade de vora)

    Teatro e comunidade em Portugal: Aproxima es terico-prticasHugo Cruz (Pele_Espa o de Contato Social e Cultural e

    Escola Superior de Msica e Artes do Espectculo), Ramon Aguiar (Associa o Brasileira de Pesquisa e

    Ps-gradua o em Artes C nicas e Laboratrio de Estudos

    Teatrais e Memria Urbana/Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; CAPES/MEC - Brasil) e Rita Wengorovius (Teatro Umano e Escola Superior de Teatro e Cinema)

    Comunidades virtuales, s, pero tambin servicio a la comunidadIsabel Granados Conejo (Centro de Estudios Universitarios

    Cardenal Spinola/Universidade de Sevilha) e Mara-Dolores CallejnChinchilla (Universidade de Jan)

    17h30/18h00

    15h30/16h00 Intervalo

    TIC em 3D: Projeto 3D AlphaArtur Coelho (Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro

    e Unidade de Investiga o Educa o e Desenvolvimento/Universidade Nova de Lisboa)

    O jogo dramtico como mediador de aprendizagens no

    processo de desenvolvimento das crian as no jardim de infnciaAlexandra Guerreiro e Isabel Bezelga (Universidade de vora)

    Performance e educa o: Pensando o espa o educativo e suas a es performativas como debate para o ensino musicalLeonardo Perotto (Universidade de Barcelona)

    A imagem-objeto como estmulo visual para a produ o

    do discurso potico: Anlise de uma experi ncia

    artstico-pedaggica em artes c nicasUendel Silva (Universidade Federal da Bahia)

    Concluindo... e colocando novas questes

    Sesso paralela #11, na sala 19, moderada por Rosvita Kolb (Universidade do

    Estado de Minas de Gerais)

    A forma o do espectador para a frui o dos elementos visuaisno espetculo.Cristiane Barreto (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

    18h00/18h30

    Apresenta o das concluses da mesa redonda paralela #2 e das sesses paralelas #8, #9, #10 e #11, na sala do aluno

    Narrativas autobiogrficas: Para qu ter ps se tenho asas para voar?Luciana Velloso (Universidade do Estado de Minas Gerais)

    El arte fractal como proyecto educativo transversalSilvia Capelo lvarez (Universidade de Santiago de Compostela)

    10h30/12h30 Visita orientada, no Centro Internacional das Artes Jos de Guimares

    Comunica o/Apresenta o de Livro, na sala do aluno

    Apresenta o de psteres, na sala 20

    Visiones de escuelaMara Luisa Moreno Gutirrez (Centro de Estudios Superiores Cardenal Spinola/Universidade de Sevilha) e Mara-Dolores

    Callejn Chinchilla (Universidade de Jan)

    Sesso paralel a #9, na sala 19, moderada por Jos da Silva Ribeiro(Universidade Aberta)

    16h00/17h30 Sesso paralela #10, na sala 17, moderada por Isabel Bezelga

    (Universidade de vora)

    Intervalo

    18h30/19h00

    Sesso de encerramento, na sala do aluno

    enREDadasngeles Saura e Cristina Moreno (Universidade Autnoma de Madrid)

    EXPOSIES, no trio intermdio

    Linha Sonora, Ilustra o e Design de ModaLcia Garcia Ribeiro

    (Escola Bsica de Alfornelos)

    Do desenho ao designareFlvia Pedrosa (Estudos Multi, Inter e Trans em ArtesUniversidade Federal do Vale do So Francisco e I2ADS/Universidadedo Porto e Sociedade/Universidade do Porto)

    Genealogia do tra oEst vo Haese r, Giuliano Lucas, Leandro Machado,

    Lusa Gabriela, Marcelo Monteiro, Michele Zgiet, Rafael Silveira, Silvana Rodrigues e Waldemar Max (Casa Grande)

    Logtipo de autor 2014Tiago Barros

    Bartleby, el fotgrafoGuillermo Calvio Santos (Unidad de Atencin Educativa en

    Altas Capacidades/Universidade de Santiago de Compostela)

    Processo de cria o nas redes: Crise como hiptese aoaumento de conectividade no ambiente virtualIara Cerqueira (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo)

    Interpreducart in 820fManuel Miguns Prez (Universidade de Santiago de Compostela), Ana Mara Miguns Prez (Galensigna) e Ivn Laxe

  • Imagens da docncia: Histrias de vida e a improvisaoProfa. Dra. Alessandra Ancona de Faria

    UNICAMP [email protected]

    resumo

    Este workshop tem a inteno de investigar as imagens sobre o significado da profisso docente para estudantes e professores em exerccio. Proponho uma reflexo sobre a escolha docente que se d por intermdio da criao pela cena teatral, partindo da narrativa sobre as histrias de vida e da improvisao sobre as mesmas. A possibilidade de falar sobre suas experincias permite ao aluno/professor dar sentido ao vivido, percebendo aspectos que constituram sua imagem docente. A escolha pela improvisao sobre as narrativas de histria de vida ocorre pelo entendimento de que tal vivncia permite uma nova percepo sobre o fato narrado, estabelecendo dilogo com possibilidades de encenao do mesmo. A percepo desta histria no fixa, imutvel, o que d sentido ao processo de revisit-la. Entendemos que neste olhar para os professores com os quais conviveu, este grupo de alunos/professores poder fazer escolhas, repensar prticas, reelaborar a maneira pela qual se v professor. Esta proposta de formao de professores explora a linguagem teatral, que uma linguagem essencialmente corporal. pelo gesto do ator que a cena se configura, e acreditamos que tambm no gesto do professor que a aula se elabora. A escolha por trabalhar o corpo no se deve exclusivamente ao fato de ser um trabalho teatral, mas, tambm, a razo de que uma melhor compreenso de seu corpo, d ao professor, muitos recursos expressivos.A linguagem teatral, assim como a dana, possibilitam um conhecimento do prprio corpo e uma ampliao das possibilidades de vivncia dele e com ele. Ao descobrir maneiras pelas quais podemos nos expressar corporalmente, descobrimos novas formas de nos movimentarmos, novas expresses e recursos que podemos utilizar na relao com outros corpos, nas relaes sociais. (FARIA, 2011)

    Perceber que a maneira pela qual nos expressamos uma, dentre as muitas possibilidades, que nossos gestos podem ser ampliados, que podemos aumentar a conscincia sobre as formas de nos expressarmos corporalmente a base para a percepo de como eu, professor, me expresso e de como posso ler nos corpos dos meus alunos aspectos que no so ditos por palavras. O trabalho aqui proposto estar estruturado com trs enfoques: o de conhecer melhor as possibilidades expressivas individuais, o de se relacionar coletivamente pelo corpo e o de expressar as memrias docentes corporalmente.

    01

    palavras-chave

    Formao de professores, improvisao, teatro, memria.

  • O trabalho aqui apresentado parte de uma pesquisa de ps-doutorado, intitulada Imagens da docncia: histrias de vida e a escrita espetacular, que tem a inteno de investigar as semelhanas e diferenas da imagem sobre o significado da profisso docente para estudantes de licenciatura e professores em exerccio, partindo da narrativa sobre as histrias de vida e da improvisao teatral sobre as mesmas. Tal improvisao partiu dos elementos da cena e das memrias dos participantes sobre seus professores. Esta pesquisa qualitativa e se configura como uma investigao-formao. Teve como base a retomada de lembranas sobre os professores com os quais os participantes conviveram, recriadas na explorao teatral. As propostas desenvolvidas tendo a histria de vida dos estudantes/professores como possibilidade de reflexo e formao do professor so inmeras e caminham por diferentes percursos, mas em todas elas temos a referncia das experincias vividas como fonte de reflexo. A escolha pela improvisao sobre as narrativas de histria de vida ocorre pelo entendimento de que tal vivncia permite uma nova percepo sobre o fato narrado, estabelecendo dilogo com possibilidades de encenao do mesmo.

    Ao narrar sua prpria histria, a pessoa procura dar sentido s suas experincias e, nesse percurso, constri outra representao de si: reinventa-se. Como sugere Larrosa, na epgrafe, somos a narrativa aberta e contingente da histria de nossas vidas, a histria de quem somos em relao ao que nos acontece. (PASSEGI, 2011, p.147) A possibilidade de falar sobre suas experincias, sobre as lembranas de seus professores permite ao aluno/professor dar sentido ao vivido. Entendemos que ao se recordar de situaes passadas, como aluno, ser possvel perceber aspectos passados que constituram a imagem docente.Como nos fala Passegi, a percepo desta histria no fixa, imutvel, o que d sentido ao processo de revisit-la. Entendemos que neste olhar para os professores com os quais conviveu, este grupo de alunos/professores poder fazer escolhas, repensar prticas, reelaborar a maneira pela qual se v professor.Investigamos a seguinte hiptese: tornar o professor(a) consciente, atravs do ato criativo, dos elementos da cena que compe o cotidiano escolar, pode possibilitar reflexes, reviso e recriao da sua imagem sobre a docncia?

    01

    O corpo

    Acho que a minha mais sincera inteno me sentir confortvel, o mximo que eu puder, estando na minha prpria pele. Estarmos na nossa prpria pele no fcil e essa percepo capaz de nos humanizar o bastante para nos aproximarmos, com o corao do entendimento, do quanto tambm no seria fcil estarmos na pele de nenhum outro. Por maiores que sejam as diferenas, as singularidades de enredo, as particularidades de cenrio, no nos enganemos: toda gente bem parecida com toda gente. Toda gente promessa de florescimento, anseia por amor, costuma ter um medo absurdo e se atrapalhar bea nessa vida sem ensaio. (JCOMO, 2011)

    Trabalharmos corporalmente buscando a possibilidade de perceber o prprio corpo e de se relacionar com os demais corpos do grupo possibilitou uma aproximao, uma maneira diferente de que cada um conhecesse o outro, alm da descobertas de coisas de si.Esta proposta de formao de professores explora a linguagem teatral, que uma linguagem essencialmente corporal. pelo gesto do ator que a cena se configura, e acreditamos ser tambm no gesto do professor que a aula se elabora. A escolha por trabalhar o corpo no se deve exclusivamente ao fato de ser um trabalho teatral, mas, tambm, a razo de que uma melhor compreenso de seu corpo d ao professor, muitos recursos expressivos.

    A linguagem teatral, assim como a dana, possibilitam um conhecimento do prprio corpo e uma ampliao das possibilidades de vivncia dele e com ele. Ao descobrir maneiras pelas quais podemos nos expressar corporalmente, descobrimos novas formas de nos movimentarmos, novas expresses e recursos que podemos utilizar na relao com outros corpos, nas relaes sociais. (FARIA, 2011, p.127)

    A descoberta das possibilidades de dilogo que o contato corporal traz, perpassou todos os momentos desta formao. A dificuldade de entrar em contato com o prprio corpo, assim como com os outros corpos tambm foi sentida, porm, aos poucos, a alegria do jogo, do movimento e do se conhecer desta outra maneira permitiu que o estranhamento abrisse espao a esta descoberta, a esta nova forma de se relacionar.

    Lo que somos es la elaboracin narrativa (particular, contingente, abierta, interminable) de la historia de nuestras vidas, de quin somos en relacin a lo que nos pasa (Jorge Larrosa).

    1

    1

  • O trabalho corporal esteve estruturado com trs enfoques: o de conhecer melhor as possibilidades expressivas individuais, o de se relacionar coletivamente pelo corpo e o de expressar as memrias docentes corporalmente.

    Pesquisa de Campo

    A pesquisa de campo, que coletou os dados aqui analisados, aconteceu em dois momentos. O primeiro momento, ocorrido no segundo semestre de 2012, com dois grupos, tendo a durao de um semestre letivo. Um dos grupos foi formado por alunos da Faculdade de Educao da UNICAMP Universidade de Campinas e o outro por professores da FAACG - Fundao Antnio e Antonieta Cintra Gordinho.O grupo da UNICAMP foi composto por 35 mulheres e 1 homem, 85% do curso de pedagogia, sendo que apenas 11% tinha experincia docente. O grupo da FAACG composto por 18 professores, estava dividido em 4 homens e 14 mulheres, sendo 41% de graduados, 53% de especialistas e 6% de mestres. 35% havia cursado pedagogia e o restante diferentes graduaes, como: moda, letras, sistema de informao, fsica, matemtica, qumica, artes visuais, artes cnicas, cincias sociais e educao fsica. As disciplinas lecionadas estavam diretamente relacionadas s suas formaes especificas, o que possibilitou um grupo bastante diversificado. O segundo momento aconteceu em novembro de 2013, com dois grupos de estudantes no Mxico, um deles da Escuela Nacional para Maestras de Jardines de Nios na cidade do Mxico e o outro da Universidade Veracruzana, na cidade de Poza Rica.O grupo de alunas da Escuela Nacional para Maestras de Jardines de Nios foi composto por 13 mulheres, 100% do curso de licenciatura em Educao Pr-escolar, sendo que 50% tinha experincia docente. O grupo de alunas da Universidade Veracruzana, foi composto por 8 mulheres, 100% do curso de licenciatura em Pedagogia, das quais uma delas tinha experincia docente h dois anos e duas relataram trabalhar com educao especial.

    01

    Primeiro encontro com a professora, a memria submergindo

    Lembrar-se do primeiro professor! Tarefa rdua mesmo para os mais jovens, que ainda esto na faculdade. Mas extremamente prazerosa, quando acontece. No foram todos que se lembraram da primeira professora, mas todos se lembraram de alguma.Neste artigo apresento o trabalho realizado nos dois primeiros encontros de minha pesquisa de campo realizada no Brasil, j que ambos se aproximaram desta lembrana. Nos grupos do Mxico foi feita uma atividade semelhante, porm devido ao nmero de horas para a realizao do trabalho, apenas parte da proposta se desenvolveu.A escolha por explorar os sentidos como forma de acessar as lembranas mais antigas deveu-se ao entendimento de que muito do que vivemos na infncia pode ser acessado pelo corpo, pelas sensaes da pele, do olfato, do paladar, da audio e da viso.Comecei por pedir que aquietassem os corpos e sassem sozinhos para andar pelo espao com os sentidos apurados, percebendo o espao com os sentidos, sem falar. Na volta cada um se deitou em um colchonete e solicitei que se lembrassem de cheiros, sabores, cores, lugares, formas, texturas da infncia. Que se lembrassem das lembranas mais antigas, da primeira infncia.Estas lembranas foram compartilhadas de duas formas, inicialmente falando em pequenos grupos e depois com os jogos O que estou comendo?; O que estou ouvindo?; O que estou tocando?; e Qual cheiro sinto? Este momento de andar pelo espao, um espao com o qual esto acostumados, mas percebendo-o de outra forma possibilitou o acesso a sensaes que ficam esquecidas no cotidiano, mas que so muito presentes na infncia. Compartilhar estas lembranas possibilitou uma aproximao diferenciada da j existente, j que muitos no haviam tido trocas sobre suas memrias dentro do convvio de colega de faculdade ou de colega de profisso. interessante observar que embora todos os participantes estejam dentro de um ambiente que pensa sobre o ato de educar e que, no caso dos professores, atua diretamente com crianas e jovens, a lembrana sobre como foi ser aluno no se faz presente. possvel que muitas situaes e causos sejam compartilhados entre os colegas, porm no como um material de reflexo, no como uma possibilidade de percepo das

    Para nenhum dos sujeitos da pesquisa o primeiro professor foi um homem, mesmo os que no se lembraram dela, sabiam que era uma mulher.

    2

    2

    3

  • 01

    2

    marcas que a experincia de ser aluno deixou em cada um.Retomamos as lembranas no segundo encontro, tendo feito um aquecimento no qual cada um percebeu o prprio corpo e depois comparou seu corpo com o corpo dos demais, aproximando e observando as diversas partes do corpo. Este jogo causou certo constrangimento no grupo de professores. Conforme eu solicitava que comparassem diferentes partes do corpo, os professores se afastavam cada vez mais do local onde eu estava, de tal forma que tive que caminhar para o lado oposto da sala para que pudesse ser ouvida.Este fato foi comentado por mim ao final do encontro, o que permitiu que todos se sentissem melhor, j que puderam expressar a dificuldade desta aproximao corporal. No ignorar os limites e as dificuldades expressas pelo grupo condio para que qualquer trabalho teatral acontea sem agresses aos participantes. O teatro solicita uma disponibilidade de dilogo corporal, de maneira geral, muito superior ao dilogo estabelecido nas nossas relaes sociais, tais como esto estabelecidas atualmente na sociedade brasileira.Observar o corpo do outro, tocar a barriga ou as costas de um colega com a prpria barriga, sentir pela pele a temperatura e o formato corporal causa uma sensao de intimidade que pode ser muito maior do que o grupo suporta. Neste trabalho, embora tenha sugerido propostas que pediam um envolvimento e uma exposio corporal difcil para alguns, tomei o cuidado de dimension-las conforme as reaes demonstradas.Neste primeiro momento, assim como em todos os demais, foi evidente a existncia de uma maior facilidade na realizao das propostas por parte dos alunos da UNICAMP, se comparados aos professores da FAACG. Podemos identificar diversas razes para tais diferenas e aponto algumas delas: um dos grupos era composto por estudantes na universidade e outro por profissionais em seu espao de trabalho, a relao tanto com o grupo, como com a instituio bastante diversa, j que na Fundao uma relao trabalhista e na Universidade no.A faixa etria dos participantes tambm outro fator, embora algumas professoras da FAACG fossem jovens, todos j estavam formados e boa parte j era professor h mais de dez anos. O momento do encontro era outro fator a ser considerado, j que na UNICAMP os encontros aconteciam como primeira atividade da manh e na FAACG os encontros eram aps o almoo, depois de uma manh na qual estiveram em sala de aula. O tempo de durao dos encontros tambm interferiu em todo o processo, pois os alunos da UNICAMP tinham muito mais tempo para a realizao do aquecimento e dos jogos, j que a durao do encontro era de quatro

    horas e de duas na Fundao.Todos estes fatores interferem na disponibilidade para o trabalho corporal e so dados desta pesquisa. As condies formativas de alunos de graduao e de professores em exerccio so diferentes e estas diferenas devem ser consideradas na anlise dos dados.A escolha por trabalhar um jogo que comparasse partes do corpo deveu-se a dois fatores, um deles foi a possibilidade de que estes grupos se conhecessem melhor, se conhecessem corporalmente, observassem as diferenas e semelhanas existentes e percebidas em seus corpos. O outro foi a percepo da diferena do tamanho corporal de um adulto para com uma criana. A lembrana da primeira professora era uma lembrana infantil, de uma criana que se relacionava com um adulto e perceber estas diferenas corporais tambm poderia possibilitar a memria desta diferena sentida, quando criana, para com seus professores, to maiores e mais altos.Uma aluna comentou haver-se dado conta de que ela, no momento da pesquisa, deveria ter a idade de sua primeira professora. Este comentrio demonstra certa surpresa com o fato dela j ser to grande quanto era sua professora, possivelmente recordada como algum muito maior do que ela.Em grupos, compartilharam as lembranas e criaram uma imagem congelada, uma sequncia fotogrfica de cada uma das memrias relatadas no grupo, podendo ser uma nica imagem ou uma sequncia. Muitas imagens so de acolhimento, professoras chamando as alunas para vir para a escola, imagens de abrao, lembrana do beijo, do cabelo da professora, de proximidade. No dilogo logo aps a realizao da imagem pelo grupo, boa parte das alunas comentou que a professora era muito fofa, muito carinhosa. Muitas se lembram das professoras da Educao Infantil.

    ...a autobiografia tem um outro objetivo examinar uma atordoante confuso de impresses incompletas e indiscriminadas, nunca bem isso, nem bem aquilo, na tentativa de saber se, a partir de um ponto de vista posterior, alguma ordem pode emergir. (...) coloco-me ao lado de Hamlet, quando ele pede por uma flauta e protesta contra a tentativa de se perscrutar o mistrio de um ser humano, como se fosse possvel conhecer todos os seus refgios e obstculos. (BROOK, 2000, pp11/12)

    Estes quatro jogos simulam a situao de estar comendo, ouvindo, tocando e cheirando algo imaginrio. O jogador deve ter como foco sentir aquilo que se relaciona de forma imaginria, porm seus gestos so reais. So jogos propostos por Viola Spolin (1977, 2001).

    3

    4

    Estabeleo relao somente destes dois grupos, pois somente neles que este trabalho foi desenvolvido da forma como relatada. Nos grupos do Mxico foi solicitado o caminhar e o lembrar-se do primeiro professor, porm no trabalhamos com cenas que partissem desta lembrana.

    4

  • 01

    A escolha por trabalhar com lembranas sobre os professores traz uma proposta que pode parecer contraditria, j que se prope a dar alguma ordem aos muitos momentos que ficaram guardados na memria, porm tendo-se em conta a impossibilidade de que todos os mistrios que fazem parte da humanidade sejam conhecidos e dominados.No pretendemos que este lembrar e explorar cenicamente as histrias de cada um seja uma maneira de desvendar todas as escolhas e aes dos professores que so ou que sero, mas sim, poder perceber caractersticas e sentimentos de algumas vivncias, refletindo sobre os caminhos a serem seguidos, sabendo que continuaremos com refgios escondidos e obstculos intransponveis.

    assim que em minha tese de doutorado j se encontra essa ideia de que o relato de vida , decerto, uma fico baseada sobre fatos reais, mas que esse relato ficcional que permitir, se a pessoa capaz de assumir esse risco, a inveno de um si autntico. Sem esquecer que a inveno de si tem necessidade no somente de um discurso sobre si, mas de projetos de si. (JOSSO, 2006, p.10)

    Olhar a sua histria de aluno ou a de professor e poder observar dentro desta histria qual a forma que cada um quer se contar. Qual a narrativa, quais os enfoques a serem valorizados, o que vai para a cena e o que fica fora dela. Esta possibilidade que a narrativa (auto)biogrfica estabelece se mostrou neste trabalho como uma maneira de recriar o professor que sou ou rever o que quero ser.

    Acolher: a escuta de si e do outro.

    Embora em muitos momentos desta pesquisa a lembrana tenha sido registrada por escrito, em textos individuais, foi na construo coletiva das cenas que ela se expressou. Estabeleo aqui um paralelo entre um aspecto necessrio para o fazer teatral, especificamente, para a improvisao e para ouvir o relato do outro. Em ambas as atividades so necessrias posturas de acolhimento, j que a escuta no acontece se no estou aberta para o que o outro tem a me dizer. Da mesma forma, a interao necessria para uma improvisao tem como premissa esta mesma abertura, esta predisposio para estar com.

    s um senhor to bonitoQuanto a cara do meu filhoTempo, tempo, tempo, tempoVou te fazer um pedidoTempo, tempo, tempo, tempo(Caetano Veloso, Orao ao Tempo)

    Como professora e pesquisadora, dentro de escolas, nas salas de aula, nas reunies, nas conferncias, mesas-redondas e quase todos os espaos de educao dos quais participo, pede-se tempo, reclama-se pela falta dele, pela permanente sensao de pressa, de que o tempo no suficiente para a realizao daquilo a que se pretende.Nestes encontros, nas propostas realizadas tivemos tempo. Tempo para ouvir as histrias contadas, para comentar a histria do outro, relacionando-a sua; tempo para estabelecer contato corporal, para se perceber e perceber o gesto do outro; tempo para criar juntos uma cena e poder coment-la.No digo com isso que o nmero de horas foi todo o que poderamos necessitar, com trs dos quatro grupos, teria sido muito bom termos mais horas de trabalho conjunto, mas no falo de horas, e tampouco de poder realizar tudo o que um grupo ou uma formao comporta. Falo de tempo para si e para o outro, o tempo onde cabe a beleza da cara da minha filha, o tempo de olhar para ela ou para os colegas com quem trabalho. Tempo de ver, de ouvir, de sentir, se emocionar e pensar.O teatro, a improvisao pede tempo. No consigo improvisar se no coloco toda a minha ateno na cena, nos demais jogadores, atores que esto comigo na experincia de viver a fico a que nos dispusemos a criar juntos.A criao de situaes e personagens pede envolvimento, pede entrega. Da mesma forma, necessito estar inteira para poder ouvir as histrias do outro, alm das minhas. Criar personagens que sejam verses das histrias que o grupo viveu, dos sentimentos comuns demandam estar junto, manter este olhar que para dentro e para fora ao mesmo tempo, manter a ateno solicitada por um salto, por um pulo, por um movimento que me projeta, que me permite compreender quem quero ser a partir daquilo que fui e do que estou sendo

  • 01

    com este grupo.O primeiro momento com os quatro grupos de trabalho partiram das sensaes. Ao caminharmos pelos espaos das escolas ou das universidades, atentos aos cheiros, cores, temperaturas, formas, sentindo com os ps descalos e com o toque das mos este lugar de formao, anunciamos aos grupos a possibilidade de ter tempo, de se ver, se conhecer, respirar.Em todos os quatro grupos foi observado pelos participantes o quanto este passeio pelo espao, com os sentidos acordados, permitiu a lembrana de momentos importantes, podendo perceber caractersticas que estavam despercebidas.Pelo corpo, pelos sentidos iniciamos este trabalho de cumplicidade. Foi o comeo de uma conversa, mas que deixou clara a importncia de que estejamos presentes no processo educativo.

    Referncias Bibliogrficas

    BROOK, Peter. (2000) Fios do tempo. Rio de Janeiro: Bertrand.FARIA, Alessandra Ancona de. (2011) Contar histrias com o jogo teatral. So Paulo: Perspectiva.JCOMO, Ana. Minha maior inteno. Publicado em 22/07/2011. Disponvel em: . Acesso em: 14 abr. 2014.JOSSO, Marie-Christine. (2006) Os relatos de histrias de vida como desvelamento dos desafios existenciais de formao e do conhecimento: destinos scio-culturais e projetos de vida programados na inveno de si. In SOUZA, E. C. e ABRAHO, M.H.M.B. Tempos, narrativas e fices: a inveno de si. Porto Alegre: EDIPUCRS.PASSEGI, Maria da Conceio. (2011) A experincia em formao. Revista Educao Vol. 34, N 2 Dossi - Pesquisa (Auto)biogrfica e Formao.SPOLIN, Viola. (2001) O fichrio de Viola Spolin. So Paulo: Perspectiva.__________. (1977) Improvisao para o teatro. So Paulo: Perspectiva.

  • Fronteiras na escolaSANDIM, Amanda V.

    Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) - [email protected]

    resumo

    Atravs deste trabalho, venho relatar minha experincia como pesquisadora dentro de escola no indgena e indgena no permetro urbano em Campo Grande MS. Mato Grosso do Sul o segundo Estado brasileiro com maior nmero de populao indgena; dentro do PIBIC-AF sou bolsista do projeto O AGENTE CULTURAL: estudos e prticas tnico culturais em espaos socioeducativos, sendo minha orientadora a Prof. M. Aline Sesti Cerutti .Fiz um bate papo com os alunos do 2 ano do ensino mdio na Escola Estadual Severino de Queiroz em 2013, a pergunta principal era o que eles pensavam quando ouviam a palavra ndio, vrios esteretipos vieram como resposta, sendo que esses j era o que previa, a inteno no era mostrar somente uma etnia isolada, mas sim ressaltar uma etnia e compara-la com outras.No Brasil existem centenas de etnias, cada uma com suas respectivas singularidades, sou integrante do Grupo de Pesquisas em Populaes Indgenas (GEPPI), sendo que este grupo estuda uma comunidade indgena Terena (Terra Indgena Buriti) h 15 anos, atravs das atividades desenvolvidas no GEPPI tive uma base terica e prtica para falar um pouco sobre a os Terena aos alunos da Escola Estadual Severino de Queiroz.No nosso segundo encontro, levei aos aluno o filme Terra Vermelha que fala sobre os Guarani Kaiow, no terceiro encontro fomos a Aldeia Urbana Maral de Souza, l tivemos uma roda de bate papo com professores indgenas (Terena) da Escola Municipal Sulivan Silvestre Oliveira, onde esses contaram a histria da comunidade e como se veem inseridos na comunidade campo-grandense em questes sociais, culturais e polticas.No quarto e ltimo encontro com os alunos, fizemos um seminrio, onde cada grupo fez uma pesquisa sobre os Terena e sua cultura. A partir dessa pesquisa pude perceber o quo grande so as fronteiras culturais dentro de uma cidade.

    palavras-chave

    Escola, Fronteira, ndio

    02

  • Mediao Cultural

    Rousseau, John Dewey, Vyggotsky, atribuam natureza, ao sujeito ou ao grupo social o encargo da aprendizagem, funcionando o professor como organizador, estimulador, questionador, aglutinador. Paulo Freire consagra valida a ideia de que ningum aprende sozinho e ningum ensina nada a ningum, aprendemos uns com os outros sendo o mediador o mundo .O olhar crtico da mediao ento posto em presena pela distncia. Ele procura restituir o questionamento existente na origem da obra, precisar as questes, os debates e as controvrsias que permitiram obra e ao pensamento serem formulados e coloc-los em narrativas. A histria contada pela mediao absolutamente inerente quela da obra, ele descreve a verdade sob uma forma ficcional, o que alguns nomeiam de fico verdadeira a fim de elaborar o trabalho de cientifico.

    Mato Grosso do Sul e o ndio

    Em busca de melhores condies de vida e oportunidades de trabalho, os indgenas de Mato Grosso do Sul, comearam a sair das reas de origem (interior do Estado) para a periferia dos centros urbanos.

    O movimento comeou a partir de 1960, mas intensificou-se na dcada de 1990. Atualmente, existem cinco aldeias urbanas em Campo Grande, capital do estado: Maral de Souza, gua Bonita, Tarsila do Amaral, Darci Ribeiro e a comunidade indgena do Ncleo Industrial. Essas reas so basicamente conjuntos habitacionais horizontais, bairros comuns da periferia, as trs maiores etnias respectivamente so: Guarani Kaiow, Terena e Kadiwu. Maral de Souza a primeira aldeia urbana do Brasil e foi construda em meados de 1990. Mesmo o Estado de Mato Grosso do Sul sendo o 2 maior do Brasil (IBGE, 2010) em nmero de populaes indgenas, a populao no indgena continua vendo os ndio como seres de outro mundo, e penso que nas escolas que podemos comear essa mudanas tendo como eixo de interpretao os processos histricos que produzem sentidos e os significados que realam ainda mais as relaes de poder que hierarquizam as diferentes culturas.

    02

    A maioria dos livros didticos desde o ensino infantil at o ensino mdio trazem imagens que colocam o ndio como subalterno; o que aprendemos na disciplina de Histria sobre a trajetria de nossos antepassados africanos e indgenas, nos enxergamos sob a tica do colonizador e no do colonizado. Sabemos quem so os europeus portugueses, franceses, espanhis, mas quem so nossos ndios, nossos negros? Esta uma pergunta que chega tardia, mas com eloquente voracidade nos cenrios escolares. A academia e consequentemente o cerne da intelectualidade expande seus horizontes pela dita - Histria dos Vencidos. no fervor das lutas por uma valorizao tnica que surge a lei 11.645, tornando obrigatrio o estudo dos povos africanos e indgenas no currculo escolar. Nosso estudo visa problematizar as possveis aplicaes da referida lei, refletindo sobre inmeras questes como: o carter de obrigatoriedade, a formao qualificada ou no dos profissionais de ensino, a representao da temtica nos livros didticos, entre tantas outras problemticas.A partir de um de tour em nossas memrias, constatamos facilmente que o nosso ento estatuto de realidade narrado a partir da Histria dos Vencedores. Este nobre personagem das aulas de histria omite a cultura dos povos colonizados, restringem personagens polticos apenas figura de Zumbi. De acordo com Grupioni (1996), essa uma lei que chega atrasada, o que mostra a existncia do preconceito na nossa sociedade. Os livros didticos, como os que existem at o momento, so um exemplo crucial disso: omitem a histria negra e restringem personagens polticos apenas figura de Zumbi. (...) Que criana vai querer se identificar com uma figura que s apanha? Manolo Garcia Florentino (GIS, 2007).Povos negros e indgenas so muitas vezes apresentados por iconografias da poca, fatos etnogrficos descontextualizados, criando um quadro de exotismo, de detalhes incompreensveis, de uma diferena impossvel de ser compreendida. Nas palavras de Grupioni (1996, p.425):Os livros didticos produzem a mgica de fazer aparecer e desaparecer os ndios na histria do Brasil. O que parece mais grave neste procedimento que, ao jogar os ndios no passado, os livros didticos no preparam os alunos para entenderem a presena dos ndios no presente e no futuro. E isto acontece, muito embora, as crianas sejam cotidianamente bombardeadas pelos meios de comunicao com informaes sobre os ndios hoje. Deste modo, elas no so preparadas para enfrentar uma sociedade pluritnica, onde o ndio parte de nosso presente e tambm de nosso futuro, enfrentam problemas que so vivenciados por outras parcelas da sociedade brasileira. O papel do professor em sala de aula seria questionar a ideia de seus alunos, recriando assim uma nova

  • 02

    viso, se a histria nos conta a derrota de um povo, de vrios povos, vencidos pela tecnologia, pelas doenas, pela explorao, a arte nos devolve todos eles como antepassados, cheios de vitalidade e de potencial, e explora suas contradies com a liberdade da releitura. Transforma-os, ou melhor, devora-os, alimento mgico das crnicas modernas. Dessa forma, a escrita, fundamentada nessa perspectiva terica permite o autor desconstruir a noo de cultura como algo fixo e naturalizado e compreender que as populaes indgenas se deslocam no tempo e no espao e, no entanto, em diferentes espaos e latitudes, as particularidades se reafirmam, [...] reivindicam um lugar prprio e singular, fazendo de nosso tempo um tempo aparentemente esquizofrnico (GUSMO, 2008, p.48).

    Experiencia na Escola Estadual Severino de Queiroz, 2 ano do ensino mdio, 2013.

    Em sala havia em mdia 35 alunos, de faixa etria entre 15 a 17 anos, o primeiro contato que tive com os alunos, foi mais um bate papo, a inteno era mais ouvir do que falar a respeito dos indgenas, o mais interessante que foi um trabalho Interdisciplinar, dentro da disciplina de Biologia, inserido no Programa Ensino Mdio Inovador/Jovem de Futuro (ProEMI/JF).

    O Programa Ensino Mdio Inovador/Jovem de Futuro (ProEMI/JF) reflete uma parceria pblico privada entre o Ministrio da Educao (MEC), cinco Secretarias Estaduais de Educao e o Instituto Unibanco, que permitir, at 2016, universalizar o programa nas escolas pblicas de Ensino Mdio do Cear, Gois, Mato Grosso do Sul, Par e Piau, atendendo cerca de 2.500 unidades de ensino e mais de 2 milhes de alunos.Resultado da convergncia entre a orientao estratgica do MEC para o Ensino Mdio e o Projeto Jovem de Futuro, desenvolvido pelo Instituto Unibanco, o ProEMI/JF tem como objetivo central promover o redesenho curricular das escolas e fortalecer a gesto escolar, com foco na melhoria da aprendizagem dos estudantes. Assim, as aes do ProEMI/JF buscam colaborar o acesso, a permanncia e a concluso, com sucesso, dos jovens na escola.Como poltica pblica nacional, o ProEMI prope o redesenho curricular do Ensino Mdio, focado em um

    currculo dinmico, flexvel e compatvel com as exigncias da sociedade contempornea, contemplando uma ampliao do tempo dos estudantes na escola e uma diversidade de prticas pedaggicas que atendam s expectativas e s necessidades dos jovens.J imaginava ouvi muitas coisas que foi falada no bate papo com os alunos, a minha pergunta inicial e nica, foi: o que vem na sua mente quando ouve a palavra ndio?Deu a entender que a muitos tinham a imagem dos ndios, registrados nos livros didticos de quando os portugueses aqui chegaram no final do sc. XV.

    Gravura de Jean-Baptiste Debretretratando uma famlia camac no incio do perodo colonial.

  • 02

    Acredita-se que a passagem do homem pr-histrico pela Terra foi marcada por grandes transformaes e experincias, onde tudo o que acontecia era sempre algo novo. Desde seus primrdios o homem se serviu da imagem-desenho para se comunicar, externar seus sentimentos e at mesmo para deixar registrado uma proveniente histria. Sabe-se que a Histria, assim como a Imagem-desenho, registro, visto que esta imagem traz consigo uma srie de variantes para dar sustentao Histria. Assim, quando acontece a juno desse universo imagtico, consegue-se ento fazer uma releitura crtica de determinadas civilizaes ainda no sculo XV, com a Revoluo Comercial, fixaram-se ento as rotas de trocas continentais. Com isso, aumentou a quantidade de informaes, culminando com a inveno da imprensa. A partir da, a imagem tomou uma outra dimenso e ocupou o seu lugar nos livros, facilitando a vinculao texto/imagem vindo a se projetar em definitivo no mundo da cultura, uma vez que se expandiu para todos os nveis. A revoluo da imagem teve seu impulso em meados do sculo XIX. Com a inveno da fotografia, a iconografia apresentou um grande avano de transformaes em relao aos sculos anteriores. Acerca disso, Casass comenta que, A imagem perde sua funo religiosa ou simblica e, ao mesmo tempo, escapa ao controle do poder. (1979, pp. 74) J para Joly: (...) uma imagem, assim como o mundo, indefinidamente descritvel: das formas s cores, passando pela textura, pelo trao, pelas gradaes, pela matria pictrica ou fotogrfica, at as molculas ou tomos. O simples fato de designar unidades, de recortar a mensagem em unidades passveis de denominao, remete ao nosso modo de percepo e de recorte do real em unidades culturais (JOLY, 1996, pp. 73).Tendo assim uma grande quantidade de informaes na internet, tentei instigar os alunos a pesquisarem mais a respeito dos indgenas; tambm foquei a questo das etnias, que existem mais de 300 etnias no Brasil, e comentei sobre os Terena, que a etnia com maior nmero de populao em Campo Grande MS, porm a 2 maior do Estado, e que mesmo na mesma etnia h diferenas de cultura, principalmente na questo de ambiente espao rural e urbano.No segundo encontro levei o filme: Terra Vermelha, que fala sobra a etnia Guarani Kaiow

    SinopseMato Grosso do Sul, Brasil, 2008. O suicdio de duas meninas Guarani-Kaiow desperta a comunidade para

    a necessidade de resgatar suas prprias origens, perdidas pela interferncia do homem branco. Um dos motivos do desaparecimento gradual da cultura reside no conflito gerado pela disputa de terras entre a comunidade indgena e os fazendeiros da regio. Para os Kaiows, essas terras representam um verdadeiro patrimnio espiritual e a separao que sofreram desse espao a causa dos males que os rodeia. Uma disputa metafrica criada. A compreenso e o dilogo buscam espao nesse antigo conflito. Enquanto isso, o jovem Osvaldo, que vive um terrvel embate contra o desejo de morrer, vai furtivamente buscar gua no rio que corta a fazenda e conhece a filha do fazendeiro. Um encontro em que a fora do desejo transpassa e ao mesmo tempo acentua o desentendimento entre as civilizaes.

    Direo: Marco BechisAno: 2008Gnero: DramaDurao: 108

    No terceiro encontro, fomos a aldeia Urbana Maral de Souza, mas antes conversei com a cacique Enir Bezerra, perguntando como o ndio se v na sociedade atual? Ela me respondeu que muitas vezes e sentia desrespeitada, com perguntas do tipo: o que vocs comem, como vocs vivem?Dando a entender que eram seres de outro planeta, que muitos estudantes, acadmicos geralmente, vo pra fazer pesquisas e no retornam mais na comunidade,.

  • 02

    Os alunos da Escola Estadual Severino de Queiroz tiveram o bate papo com professores indgenas da Escola Municipal Sulivan Silvestre Oliveira que fica inserida dentro da Aldeia Urbana Maral de Souza, frequentada por alunos indgena e no indgena, com o bate papo deu pra ver um pouco do dia a dia da comunidade assim desestereotipando a viso do primeiro encontro que tive com eles.O quarto e ltimo encontro, tivemos um seminrio, onde cada grupo falou um pouco das culturas indgenas, em relao a experincia que tivemos e as pesquisas de casa que esses fizeram.

    Escola Indgena

    No sc. XVI a escola para os ndios comea a ser estruturada, quando aqui chega a 1 Misso Jesuta enviada por D. Joo III. A escola entrou na comunidade indgena como um corpo estranho, que ningum conhecia. Quem estava colocando sabia o que queria, mas os ndios no sabiam. Hoje os ndios no sabem ainda para que serve a escola. E esse o problema. A escola entra na comunidade e se apossa dela, tornando-se dona da comunidade, e no a comunidade dona dela. Agora ns ndios estamos comeando a discutir a questo (KAINGANG apud FREIRE, 2004:28).Quando a escola foi implantada em rea indgena, as lnguas, a tradio oral, o saber e a arte dos povos indgenas foram discriminados e excludos de sala de aula. A funo da escola era fazer com que estudantes indgenas desaprendessem suas culturas e deixassem de ser indivduos indgenas. Historicamente, a escola pode ter sido o instrumento de execuo de uma poltica que contribui para extino de mais de mil lnguas.

    O Servio de Proteo aos ndios (SPI) foi criado em 1910 e operou em diferentes formatos at 1967, quando foi substitudo pela Fundao Nacional do ndio (Funai), que vigora at os dias de hoje.

    Sua fundao se deu em um perodo altamente crtico para os povos indgenas. Diversas frentes de expanso para o interior, ao longo de todo o pas, faziam a guerra contra os nativos. Em meados de 1907, as disputas no interior chegaram s capitais e ao cenrio internacional em tom de acirrada polmica. O ento diretor do Museu Paulista, von Hering, defendia o extermnio dos ndios que resistissem ao avano da civilizao, promovendo grande revolta em diversos setores da sociedade civil. Em 1908, o Brasil fora publicamente acusado de massacre aos ndios no XVI Congresso dos Americanistas ocorrido em Viena (Ribeiro, 1979; Carneiro da Cunha, 1987).

    Foi este contexto que deu origem ao Servio de Proteo aos ndios e Localizao de Trabalhadores Nacionais (SPILTN), que visava tanto a proteo e integrao dos ndios, quanto a fundao de colnias agrcolas que se utilizariam da mo-de-obra encontrada pelas expedies oficiais (Decreto n. 8.072, de 20 de junho de

    Enir Bezerra. Foto: Andr Campos

  • 02

    1910). Na base da unificao destas funes estava a ideia de que o ndio era um ser em estado transitrio. Seu destino seria tornar-se trabalhador rural ou proletrio urbano. Em 1918 o SPI foi separado da Localizao de Trabalhadores Nacionais (Decreto-Lei n. 3.454, de 6 de janeiro de 1918). Entretanto, mesmo com a separao, a premissa da integrao pacfica dos ndios continuou a basear a atuao do rgo.A poltica educacional da Funai estruturou-se fundamentalmente nos Programas de desenvolvimento Comunitrio (PDC), respaldado pela ONU.

    Somentenaconstituiofederalde1988queondiosetornaumsujeitodedireito. Em1991,umconjuntodedecretosdescentralizaparaoutrosrgospblicosdiversasaesdombito indigenista. OMinistriodaEducao(MEC)em1992instituiuoComitNacionaldeEducaoIndgena,compostopor representantes de organizaes no governamentais, universidades e REPRESENTANTES INDGENAS. Em1991,foiestruturadaaCoordenaoGeraldeApoiosEscolasIndgenas(CGAEI).Campo Grande MS possui 491 estudantes indgenas (SEMED, 2011) matriculados nas 90 escola municipais da cidade, pesquisas mostram que se necessita de uma maior aproximao epistemolgica com a temtica, uma prtica pedaggica de excluso, silenciosamente, subalternizao e marginalizao do diferente, resultante de um forte preconceito historicamente construdo de parte da sociedade no indgena. J se passaram mais de meio sculo e a luta pelos direitos permanece, muito tempo, poucas mudanas, mas a persistncia prevalece.

    Referncias

    Barbosa, A. M,. & Coutinho, R. G. (2008). Arte educao como mediao cultural e social. Unesp.Bittencourt, M. C,. & Ladeira, M. E. (2000). A histria do povo Terna. Braslia, MEC.CARNEIRO DA CUNHA, M. (1987). Os direitos dos ndios, Brasiliense.CASASS, J. M. Teoria da Imagem. (1979) Rio de janeiro, Salvat.GRUPIONI, L. D. (1996) Imagens contraditrias e fragmentadas: sobre o lugar dos ndios noslivros didticos.

    Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos. Braslia, 77, p. 422-37.GUSMO, N. M. M., de. Antropologia, Estudos Culturais e Educao:desafios da modernidade. Pr-Posies, v. 19, n. 3 - set./dez, 2008. pp.48JOLY, M. Introduo Anlise da Imagem. (1996) Traduo de Maria Appenzeller.Campinas, So Paulo: Papirus.Portal do Mec, 22 abril, 2014, de http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoindigena.pdfRIBEIRO, D. 1979 [1977]. Os ndios e a Civilizao: a integrao das populaes indgenas no Brasil moderno. Petrpolis: Vozes.

  • O que a arte ensina a quem ensina arte: processos de pesquisa do Laborarte/Unicamp/BrasilAna Anglica Albano Unicamp - [email protected]; Luciana Esmeralda Ostetto UFF - [email protected]; Rosvita Kolb Bernardes UEMG - [email protected];

    Alessandra Ancona de Faria Unicamp - [email protected]

    resumo

    A ideia de propormos uma mesa redonda com o tema O que a Arte ensina a quem ensina Arte, apresenta-se como uma oportunidade de explicitar e abrir discusso uma entre diferentes formas de pesquisa desenvolvidas pelo grupo Laborarte/Unicamp. Nosso centro de interesse a formao inicial de educadores, em geral, e de professores de educao artstica, em particular, e o objetivo da mesa desvelar as motivaes e as ressonncias que inspiram, alimentam e desencadeiam nossas pesquisas, que tm como foco a arte. Apoiadas em vdeos e fotos, procuraremos expor nossa maneira particular de entender e desenvolver pesquisa em arte e ensino de arte, sublinhando as interlocues com autores e artistas que apoiam os projetos e, principalmente, as influncias mtuas, as trocas intelectuais e afetivas que acontecem durante e depois da tese. A inteno descortinar os bastidores da pesquisa: o crculo de relaes, as descobertas e criaes que apoiam o pesquisador, focando, mais nos processos de trabalho, do que nos produtos finais, isto , as teses. A mesa ser uma conversa, coordenada pela orientadora das outras trs participantes, que atravs de perguntas e observaes ir desafi-las a falar sobre as experincias estticas, as obras de arte e pesquisas que inspiraram cada uma, as trocas que aconteceram durante e depois da tese e o que pesquisam hoje.

    palavras-chave

    arte, ensino, formao de educadores e professores de educao artstica, pesquisa

    03

  • Para a criao desse texto, optamos por um procedimento familiar s artes visuais: a colagem. Recortamos e colamos partes de artigos escritos por cada uma, em diferentes pocas, imagens, narrativas, memrias, esperando compor, assim, uma imagem coletiva da nossa forma de pesquisar, que j foi chamada de metodologia errante. Errante, porque no tem um caminho definido priori, mas acompanha as indicaes apresentadas durante o percurso pelo objeto a ser pesquisado.Essa colagem pode ser, tambm, ouvida como um quarteto, cantado s vezes em unssono pelas quatro vozes, outras em polifonia, onde cada voz canta uma melodia prpria. Estamos propondo um dilogo.

    A imagem como guia

    Ana Anglica Albano, sobre a orientao da pesquisa Aprendendo a ver, alfabetizando o olhar, realizada por Caroline Silva, estudante de Pedagogia da Faculdade de Educao da UNICAMP (2003).

    Muitos estudantes, especialmente os da Pedagogia, quando buscam orientao para pesquisa em arte, seja na graduao, no mestrado ou doutorado, vm procura de bibliografia e poucos tm alguma experincia artstica. Sem a vivncia no assunto, lem e repetem apenas o que j foi escrito e, assim, dificilmente acontece alguma transformao no modo de ver e compreender o problema que se propuseram estudar. Dizem acreditar que a arte importante para a educao, mas no conseguem ir muito alm da resposta padro de que serve para desenvolver criatividade e sensibilidade.Quando Caroline me procurou para orientar sua pesquisa de concluso de curso, disse-me que queria entender, finalmente, essa tal de arte. Ela havia frequentado minhas aulas na disciplina Educao, Corpo e Arte, obrigatria para os alunos do curso de Pedagogia. Uma disciplina essencialmente prtica, que no prope um manual de atividades a serem repassadas na escola, mas cujo objetivo promover vivncias que possibilitem aos alunos reverem e re-significarem sua relao com a arte e, posteriormente, refletirem por que e como inclu-la (ou no) no currculo. Ela havia comentado, durante as aulas, sua dificuldade em entender e

    03

    se relacionar com os professores de arte do projeto onde atuava como coordenadora.No incio da orientao adotei o mesmo procedimento que adoto com todos os alunos da pedagogia: pedi que frequentasse minhas aulas de didtica para o ensino de arte no curso de licenciatura em artes visuais. Como estas aulas aconteciam no 2 semestre, e estvamos no incio do ano, havia tempo para um trabalho preliminar. Ao invs de indicar uma bibliografia especfica, sugeri que exercitasse seu olhar para a arte, visitando exposies, assistindo filmes e observando as aulas de arte no projeto em que trabalhava. Queria verificar o que a impressionava neste universo, sem um roteiro prvio. Depois de um semestre observando, ela chegou para assistir minhas aulas com mais interrogaes e nenhuma resposta. E com os colegas do Instituto de Arte, repetiu o exerccio, que j havia feito comigo no curso de Pedagogia, de se perguntar: O que arte para voc? Como a arte entra na sua vida? Depois dessa primeira aula, ofereci vrios textos para os alunos, que deviam escolher um para trabalhar individualmente ou em dupla e, posteriormente, apresentarem sua leitura para os colegas. Caroline escolheu um texto do artista catalo Antoni Tpies, dizendo que j havia visto um vdeo sobre ele e fora surpreendida ao perceber muita semelhana entre suas pinturas e aquelas das crianas com quem trabalhava. Como assistira o vdeo em catalo, sem legendas, o grande impacto havia sido, realmente, as imagens. Foi o primeiro movimento, ainda que tmido, para o entendimento de que as pinturas podiam falar... Quando percebi quanto a pintura de Tpies a havia impressionado, encontrei a primeira via de acesso para orientar o trabalho. Christian Gaillard (2010) ajudou-me a identificar alguns procedimentos que utilizo na orientao, enquanto mtodo, que ainda no havia conseguido explicitar com a mesma clareza. Prope que diante de uma obra de arte, a atitude junguiana fazer uma pausa, to longa quanto for necessrio, para deixar emergir tudo que for preciso ser descoberto. Realmente o termo apropriado deixar acontecer. Ele diz, que Jung tem uma palavra para descrever o primeiro estgio na anlise de uma obra, o primeiro passo em seu mtodo: ele usa o verbo dual alemo geschehen lassen - em francs se diz laisser advenir; em ingls, to let happen - deixar acontecer.Deixar acontecer implica tambm deixar-se impressionar, permitir que a obra se apresente diante de voc e em voc, dar-lhe espao e, ento, abrir sua percepo e sua conscincia para que as impresses, as sensaes e os sentimentos venham, gradualmente, superfcie ou imponham-se o mais emocionalmente

  • 03

    quanto possvel, claro.O que procurei, durante a orientao, foi acolher as perguntas de Caroline e, ao mesmo tempo, incentiv-la para que se detivesse nelas, permitindo-se dar o tempo necessrio para olhar e perceber o que a impressionava. Perceber o que acontecia, enquanto observava as imagens que se apresentavam diante de seus olhos. Fossem estas pinturas de um artista ou de crianas. E, para isto, tivemos o tempo a nosso favor. Digo a nosso favor, porque o tempo da academia muito curto para o amadurecimento de um trabalho de pesquisa. Nem sempre posso sugerir que o aluno detenha-se tanto tempo em uma imagem. Mas, no caso desta aluna, por um problema de demanda de horrio do projeto onde trabalhava, a orientao se estendeu por dois anos. Como ela j havia assistido o vdeo em catalo e identificado na obra de Tpies a mesma gestualidade que encontrava nas pinturas das crianas que coordenava, apresentei-lhe o vdeo novamente, mas desta vez com legendas em portugus. Lendo as falas ficou surpresa ao perceber que suas impresses se confirmavam e constatou, pela primeira vez, que imagem e escrita podiam dizer coisas semelhantes. Sugeri, ento, que copiasse todas as legendas e as estudasse em conjunto com o texto de Tpies, que j tinha em mos. Assim como as imagens onricas, aquelas provindas das obras de arte, quando nos capturam, tem o poder de colocar-nos frente s nossas questes mais profundas, embora muitas vezes inconscientes.O trabalho havia comeado e a partir deste momento definimos uma rotina: observar as crianas trabalhando, anotar as observaes num caderno de campo, registrar em fotos as situaes que capturavam sua ateno e nossas conversas, a partir de ento, giravam em torno destes registros. Deixando-nos guiar pelas pinturas de Tpies, encontramos o fio condutor que a levou, finalmente, observao das crianas pintando e ao reconhecimento da singularidade que se manifestava em cada projeto. Pode, ento, comear a refletir sobre essa tal de arte e suas implicaes no projeto educacional que coordenava.Orientando este trabalho compreendi um modo junguiano de orientao, que corresponde maneira como fui formada, como ensino e pesquiso. E com Christian Gaillard (2010) pude dar forma a este entendimento. As histrias que apresentamos em seguida, falam dos primeiros movimentos de pesquisas que foram por mim orientadas aps a concluso do trabalho de Caroline. Sero apresentadas na seqncia em que entraram no Laborarte e trazem reflexes que esperamos possam auxiliar nossa discusso.

    Convidei a figura para danar

    Luciana Esmeralda Ostetto, sobre encontros, imagens e palavras traadas no incio de sua pesquisa de doutorado, que resultou na tese Educadores na roda da dana: formao-transformao (2006).

    Lembro-me daquele dia. Entrei no museu. Em meio a um significativo e incrvel acervo de arte brasileira, l estava a pintura de uma figura, sentada. Pelo traado das linhas, entre pedaos de brancos, rosas e cinzas-azulados, compondo um mosaico, sou capturada. Faz uma pose a figura? Qui pensa na vida. Abandona-se? Qui viaja na solido... De sua cadeira, olha para mim. De onde estou, olho para ela. Sigo as cores, linhas, formas. Componho intrigas: menina ou mulher, de frente ou de lado, presente ou passado, sonho ou tristeza, revelada ou escondida, achada ou perdida? Parada, procuro quero os olhos! e me vejo. No silncio, pergunto quero as vozes! e ouo o poeta: Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, no seria uma soluo. (Drummond de Andrade, 1990, p.14). Digo ento: mundo, mundo, paro no! E vou. Meu olhar, de razo e emoo, junta pedaos, convida a figura para danar, com prazer, ao sabor da contemplao. E vamos. Mos dadas. Lentamente. Inventando passos. Misturando cores. Confundindo linhas. Recriando poses. Desfazendo normas. Recompondo formas. Atravs de olhares viajantes, a figura segue comigo, danando a vida. Criao e sonho, depois da provocao do olhar.No tempo do depois, j agora, que penso: ao contemplar aquele quadro (Figura sentada, do artista brasileiro Milton Dacosta), ao conversar com a figura-imagem-pintura, ao ouvir o que ela tinha a me dizer, tomei contato com pontos distanciados da minha experincia sensvel. Certo ar de divagao, certa atitude de pensar na vida, buscando algo alm da inrcia da posio sentada, certa melancolia, traos e caractersticas identificadas na pintura fizeram-me olhar para mim mesma. Passei em revista minhas figuras internas. Nada definido ou claro. Misturas. Pedaos. Fragmentos. Sombras. Um fundo: luzes de lembranas, memrias. Contemplar aquela Figura sentada me impelia ao movimento, dentro e fora de mim. Busca. Ao olhar a pintura, ouvi perguntas existenciais, que ecoavam no fundo do meu existir: Para onde vais? O

  • 03

    que fazes a? Por que a tristeza? Vai! Reinventa-te!. Aquela imagem refletiu-me e revelou indcios de um caminho que eu viria a percorrer, na pesquisa de meu doutoramento e na vida acadmica de um modo geral: no encontro com a arte, anunciava-se a possibilidade de um reencontro comigo, de reinveno da minha vida, integrando outras dimenses at ento secundarizadas ou negadas. Depois do dilogo com a Figura sentada, com a mediao da orientadora, redefini o traado da pesquisa de doutorado. Reencontrei outras figuras, como o crculo desenhado pelas danas de roda dos povos, as quais praticava, mas deixara fora dos meus planos de pesquisa. Compreendi, afinal: tudo se move. Presente passado e futuro. Na memria fui tranando histrias, visualizando caminhos percorridos e projetando caminhos a percorrer. O movimento a vida. O que aconteceria, j perguntara o filsofo se, em vez de apenas construirmos nossa vida, tissemos a loucura ou a sabedoria de dan-la? (Garaudy, 1980, p.13). O que aconteceria, penso ento, se ns educadores tivssemos a ousadia e a sabedoria de danar a educao? Na continuidade, convidei os educadores para a dana... e para a pesquisa. O crculo como princpio. Mandala integradora. Outras histrias.

    A mala e os dirios de bordo

    Rosvita Kolb Bernardes, sobre histrias, memrias, imagens, tramas que permearam sua pesquisa de doutorado Tornar Visveis prticas invisveis de professoras de arte (2011).

    A primeira imagem que me veio mente na feitura da minha pesquisa de doutorado, foi uma mala. Carrego comigo, h anos uma mala que ganhei dos meus avs, vindos em 1930 da Alemanha para o Brasil. Ela minha companheira nos cursos de formao, dentro e fora da universidade, em minhas andanas pela arte e pela educao. Na mala carrego panos de algodo, de seda, retalhos, tecidos. Botes. Linhas, novelos, agulhas. um universo que me pertence. So coisas ligadas ao meu jeito de ser, ver, sentir o mundo, a vida. Nada est pronto. Tudo por fazer. Quando abro a mala, puxo uma linha, um fio. Uma imagem. Um pensamento. s vezes,

    um tecido, macio. Outras vezes, aveludado, transparente. Uma nuvem. A imagem da mala atravessou o meu trabalho, convertendo-se em uma metfora do meu processo vivido com a pesquisa. Em 1995 morei na cidade de Colnia, na Alemanha, onde tive a oportunidade de participar de vrios seminrios sobre Arte e Educao na universidade. Foi durante estes seminrios que conheci as professoras Irmgard Zepf e Barbara Riehle, que trabalhavam no curso de Licenciatura de Arte com os cadernos estticos. Nas suas aulas, tive o privilegio de acompanhar um grupo de alunos da graduao em arte e educao que trabalhava, tambm, com cadernos de bordo, cadernos de artista. Estas aulas, as conversas e parceria com a professora Barbara Riehle foram fundamentais para mim. Se, at ento, trabalhava intuitivamente com os cadernos de bordo, dirios estticos nos cursos de formao, o contato com esta professora me ajudou a colocar o meu trabalho num outro lugar. Ajudou-me, no retorno a Belo Horizonte a valorizar a prtica do registro visual e esttico e por fim, trazer conscincia, para afirmar, a experincia construda. Penso que tudo que vivi naquela poca, refora a opo do meu trabalho com as histrias de vida, autobiografias e memria, nos cursos de formao de professores. Hoje, ao ver os meus alunos do curso de Licenciatura narrando e desenhando as suas memrias, percebo indcios potencializadores e autoformadores do exerccio de elaborao dos cadernos de artista na construo do seu caminho de ser professor. Ainda na universidade: Lembro-me de ter participado de um outro seminrio, onde me encontrei novamente envolvida com a obra do artista alemo Josef Beuys. Meu primeiro contato com este artista se deu em conversas com o professor Norval Baitelllo, da PUC/SP, na poca do mestrado. Tambm havia apreciado algumas obras suas, na poca da graduao. A sua proposio de que cada ser humano um artista, defendendo que a nica fora revolucionria no mundo a fora da criao humana, chamou a minha ateno. O fato de ter sido, alm de artista, professor de escultura na Academia de Arte de Dusseldorf foi outro fator de interesse meu. Ele era um artista-professor e pesquisador. Um artista dedicado ao ensino que, contrariando as normas das instituies alems de ensino, no via problema em lecionar para 400 alunos na mesma sala de aula. Essa lucidez generosa fez de Joseph Beuys um incansvel militante da liberdade e da criatividade.

  • 03

    Com a preocupao de imprimir uma outra relao entre o artista e as pessoas, ele defendeu a ideia de que possvel ensinar a partir das coisas simples da vida. Como por exemplo, o que podemos aprender ao descascar uma batata? Algumas vezes, ao ler seus textos, principalmente sobre educao, quando discute a relao professor-aluno, pensei que ele deveria ter conhecido Paulo Freire. No sei se isso aconteceu. Imagino que no. Mas ele continua provocando-me, ao eleger a arte como nico caminho possvel para a criao de um novo homem e ao colocar, na sua concepo de educao, uma relao de igualdade entre quem ensina e quem aprende, podendo, assim, aprender com uma criana, no importando a sua idade. Ainda no tempo de Alemanha, tambm tive contato com a obra autobiogrfica da artista judia Charlotte Salomon, ao visitar a sua exposio Leben oder Theater? Life or Theatre?, na cidade de Bonn, Alemanha. Nessa visita, percebi que alguns eventos em nossa vida tem uma dimenso maior do que aquela que possvel ser narrada. Como diz Luciana Ostetto (2006, p. 45), a experincia ser sempre maior do que a explicao e, talvez, as palavras possam empobrecer a experincia. Fiquei, por algumas horas, mergulhada num silncio quase absoluto, envolvida na histria e obra dessa artista, jovem estudante de Belas Artes, que morreu em 1943 em Auschwitz. A artista vai contando a sua histria de vida atravs de pequenos desenhos, pinturas e escritas; como se fosse uma pequena histria ilustrada com dilogos. Em alguns momentos, ela nos deixa na dvida sobre o que real ou o que imaginrio na sua obra: o que vida, o que teatro? Talvez, hoje, diria que uma obra interdisciplinar. Uma obra que busca uma integrao entre a imagem visual e escrita. Ver, sentir de perto a sua intensidade e a densidade da sua histria e a forma imaginria de reencenar a sua prpria vida, deixou-me impactada por algum tempo ainda. Quando me deparei novamente com seu trabalho, em 2008 (a imagem de uma das suas obras foi citada no Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)biogrfica, na cidade de Natal, Brasil), veio-me a lembrana aquela histria sofrida, de desespero e solido que a artista viveu, o que me remeteu, tambm, histria dos meus antepassados, na Alemanha. A minha histria.

    De histrias da av e espetculos teatrais

    Alessandra Ancona de Faria, sobre memrias de encontros

    com algumas obras de teatro que motivaram sua pesquisa de ps-doutorado Imagens da docncia: Histrias de vida e a escrita espetacular (2011).

    Sempre gostei de ouvir e de contar histrias. Desde muito pequena ouvi histrias contadas por minha av e o potencial imagtico trazido em sua fala, em uma lngua familiar que misturava italiano e portugus trazia um encanto especial para estes momentos. Tenho a impresso, ainda que possa ser uma impresso fantasiosa, de que criei cenas em minha cabea desde muito pequena. Fazer teatro, na adolescncia e depois em minha vida profissional, alimentou esta capacidade de criar cenas. Pesquisar a imagem docente partindo das lembranas dos professores, relacionada aos elementos da cena teatral teve como motivao alm do meu envolvimento com a ao de contar/ouvir histrias, a forte impresso causada por algumas apresentaes teatrais. Dois espetculos, especialmente, colocaram em movimento o desejo pela pesquisa. O primeiro deles, assistido alguns anos antes do trabalho comear foi a montagem da pea Hysteria, pelo Grupo XIX de Teatro, apresentado na Vila Operria Maria Zlia, em So Paulo.

    Dissecando as intrincadas relaes sociais da mulher brasileira apresentou-se, de forma latente, o mote da pesquisa: a condio do feminino. No intuito de enraizarmos nossa pesquisa em um solo mais frtil, optamos pela histria no oficial. A histria da mulher supe especialmente rememorao, tradio oral. Na busca de fazer ecoar a voz embargada da mulher, somamos boletins de ocorrncia, laudos mdicos, jornais da poca, anotaes ntimas, retratos posados e tirados por mulheres, dirios publicados e cartas esquecidas, valorizando tambm a longevidade das vozes roucas de nossas mes, tias e avs.

    Alm da temtica se tratar da memria de mulheres brasileiras, o que j estabelece relao direta com a situao escolar no Brasil, no qual o corpo docente composto maioritariamente por mulheres, a opo esttica da montagem foi marcante. A cena criada com o toque de mos, com o olhar de perto, com o sentar ao lado, o segredar que buscava cumplicidade demonstrou a potncia destes relatos, destas vidas encenadas

  • 03

    por e para mulheres. O segundo espetculo, Pretrito Imperfeito, da Cia. Teatro Documentrio, assisti em So Paulo, no momento que esta pesquisa j havia comeado.

    Dentre as vrias aes de uma proposta que objetivava investigar a cidade como casa, como um lugar de trocas entre os seus residentes, uma delas se destacava: a documentao cnica das relaes de moradores com o espao/residncia e o espao/cidade para posterior apresentao de uma interveno no prprio espao/residncia do morador documentado. Os convidados: vizinhos e familiares. No final do encontro, caf, bolo, conversa. (...) Num mundo no qual a imagem vale por mil palavras, ou melhor, a palavra perdeu sua verdade; dar voz, narrar no intuito de documentar, passa a ser uma opo no esperada... e a palavra gravada, escrita ou proferida torna-se lugar, morada do sentido.

    Da mesma forma que em Histeria, este espetculo se props a uma temtica que possui diversos aspectos de interseco com minha pesquisa: a voz dada narrativa, o interesse em ouvir histrias e a transformao destas em cenas. Porm, foi a escolha esttica de Pretrito Imperfeito, que mais me provocou. Representada em uma casa, que se parecia muito com a casa na qual passei minha vida at me casar, as cenas eram representadas para pequenos grupos nos seus diversos cmodos. Novamente vivi a intimidade da cena, com uma narrativa que misturou histrias pesquisadas com a dos atores e, consequentemente, com a dos espectadores, que podiam dialogar com estas narrativas, fosse pelas emoes provocadas, fosse pela conversa estabelecida em vrios momentos das cenas, assim como no final, com caf, bolo e conversa.

    Das vozes do quarteto, concluses, sempre provisrias

    Nossa apresentao vai chegando ao final em unssono, sem nenhuma inteno de encerrarmos a discusso.

    Vimos refletindo sobre como a experincia com a arte pode trazer de volta memrias esquecidas,

    Texto retirado do programa do espetculo, apresentado no outono de 2011.1

    1

    levantar questes familiares e outras totalmente inesperadas, abrindo-nos para o desconhecido, para o campo de todas as possibilidades: a imaginao. A experincia com a arte, para ns, , sobretudo, a experincia com o outro. O outro que est dentro de ns mesmos e do outro que est nossa frente, manifesto em uma obra. Mas, para isso, necessrio dar tempo para que a experincia acontea. preciso dar tempo para deixarmo-nos impressionar pela obra que nos convida observao, abrindo-nos para as questes que emanam dela e pensar. Dessa reflexo talvez possa vir a ideia da pesquisa, ou a indicao para a questo que clamava por uma resposta. Jung usa o termo religio como relegere, como reler, observar atentamente, considerar, reconsiderar e pensar (Gaillard, 2010), levando-nos a refletir sobre a importncia de dedicarmos um tempo vagaroso apreciao de uma obra de arte, como um tempo de contemplao, de possibilidade de produo de conhecimento e recriao de ns mesmos. Em entrevista a Suzi Gablik (1997), Thomas Moore considera que, no Ocidente, perdemos a capacidade de contemplao enquanto cultura, porque achamos que, enquanto contemplamos, no estamos realizando nada. O processo de criao, seja de criao intelectual, seja de criao artstica, requer tempo, assim como observar a si mesmo, observar as coisas, confrontar a si mesmo, contemplar. A investigao acadmica deveria ser, exatamente, essa oportunidade de confrontar-nos, reconsiderarmos posies e, finalmente, abrirmo-nos para olhar o outro, que se apresenta como nosso objeto de pesquisa. A pesquisa em arte e/ou ensino de arte, deveria ser, acima de tudo, a oportunidade de refletirmos sobre a funo da arte como experincia. Experincia esta que pode abrir os sentidos e a percepo para o reconhecimento do(s) outro(s), quando h disponibilidade para deixarmo-nos impressionar, dando tempo para emergir tudo o que for necessrio ser descoberto. Acreditamos que as pesquisas que vimos desenvolvendo no Laborarte tm-nos possibilitado, at o momento, essa forma de experincia. At quando? Essa a pergunta sem resposta.Referindo-se s imagens onricas, Hillman (1991) recomenda: Detenham-se na imagem!. Acredita que devemos levar a srio as imagens que nos tocam, devemos ter com elas uma aproximao olfativa, reconhec-las pelo cheiro. Pois elas trazem consigo um apelo sutil, mas complexo, que pode nos conduzir a um conhecimento mais profundo das coisas e de ns mesmos. Creio que podemos aplicar o mesmo princpio

  • 03

    Futuros amantes, msica de Chico Buarque.2

    s obras artsticas que nos impressionam: elas falam de ns, para ns e para alm de ns mesmos

    No se afobe, no Que nada pra j O amor no tem pressa Ele pode esperar em silncio Num fundo de armrio Na posta-restante Milnios, milnios no ar Referncias

    Albano, A. A.(1998). Tuneu, Tarsila e outros mestreso aprendizado da arte como um rito de iniciao. So