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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS
O LATIM DAS INSCRIÇÕES ROMANAS
EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO
Susana Gabriela Mendes dos Santos
MESTRADO EM ESTUDOS CLÁSSICOS
NA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA LATINA
2005
1
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS
O LATIM DAS INSCRIÇÕES ROMANAS EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS
ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO
Dissertação orientada pelo
Prof. Doutor António Rodrigues de Almeida
Susana Gabriela Mendes dos Santos
MESTRADO EM ESTUDOS CLÁSSICOS
NA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA LATINA
2005
2
Ao Prof. Doutor António Rodrigues de Almeida, pela cadeira de Linguística
Latina, e à Prof. Doutora Esperança Cardeira, pela cadeira de História da Língua
Portuguesa, no último ano da licenciatura em Línguas e Literaturas Clássicas;
Ao Prof. Doutor Amílcar Guerra, por me ajudar a abrir a porta do
conhecimento da epigrafia romana em Portugal;
Ao orientador deste trabalho, mais uma vez o nome do Prof. Doutor
António Rodrigues de Almeida, pelos seus ensinamentos e pelo seu empenho;
Aos meus pais, amigos e colegas, que acompanharam a concretização
deste trabalho;
A todos eles,
o meu profundo e sincero agradecimento.
3
Resumo
O latim das inscrições romanas no território português não foi até à data
alvo de um estudo individualizado. A única obra na qual o assunto foi tratado
analisa o latim de toda a Península Ibérica e foi publicada há pouco mais de cem
anos, estando desactualizada.
As inscrições romanas do território português estão publicadas em
diferentes obras. O Corpus Inscriptionum Latinarum continua a ser uma referência
fundamental, mas, ao longo do século XX, foram publicados novos estudos, que
actualizam leituras ou divulgam novas epígrafes. Desta forma, para caracterizar o
latim das inscrições romanas no território português, é necessário constituir um
corpus que inevitavelmente terá de incluir epígrafes provenientes de diversas
publicações.
A análise do latim das inscrições compreende aspectos fonéticos,
morfológicos, sintácticos e lexicais. São seleccionados apenas aspectos
relevantes para o estudo do texto epigráfico. O tratamento de cada um dos
aspectos está dividido numa componente teórica, na qual se faz um balanço das
conclusões da literatura científica, e numa componente prática, na qual se relatam
os dados das inscrições do território português.
O latim das inscrições do território português pode ser caracterizado como
conservador, predominando nele o respeito pela correcção da língua. Para esta
caracterização conservadora, contribui a presença de arcaísmos nas desinências
nominais e verbais, alguns no século II. Por outro lado, não deixa de manifestar, à
semelhança do latim de outras regiões, nomeadamente de Pompeios, algumas
particularidades inovadoras, como a monotongação do ditongo ae ou a oscilação
na grafia das vogais. Além destes aspectos, são ainda perceptíveis ténues
diferenças internas, visto que há fenómenos documentados apenas em algumas
regiões.
4
Abstract
The Latin in the Roman inscriptions in Portuguese territory hasn’t been
object of an individualized study until the present time. The only work in which the
subject was dealt with analyses the Latin of the whole Iberian Peninsula and was
published about one hundred years ago, thus being out of date.
The Roman inscriptions in Portuguese territory are published in different
works. Corpus Inscriptionum Latinarum is still a main reference, but new studies
were published throughout the twentieth century which update readings and
divulge new epigraphs. In order to characterise the Latin of the Roman inscriptions
in Portuguese territory, it is necessary to constitute a corpus which inevitably will
include epigraphs from several published works.
The analysis of the Latin in the inscriptions includes phonetic,
morphological, syntactical and lexical aspects. Only the aspects which are relevant
for the study of the epigraphic text are selected. In dealing with each aspect, there
will be a division in a theoretical and a practical component. The first concerns a
balance of the conclusions presented in the scientific literature, while the second
concerns the presentation of the data found in the inscriptions in Portuguese
territory.
The Latin of the inscriptions mentioned above can be classified as
conservative and the conformity to correctness in the language is predominant.
The presence of archaisms in the nominal and verbal endings, some in the second
century, contributes for that classification. On the other hand, like the Latin in other
regions, namely Pompeii, it also shows some innovating particularities, such as
the monophthongization of the diphthong ae or the oscillation in the graphic
representation of vowels. In addition to these aspects, slight internal differences
are still perceptible, since there are phenomena which are documented only in
some regions.
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Palavras chave:
língua latina
epigrafia romana
território português
Portugal
análise de inscrições
Key words:
Latin language
Roman epigraphy
Portuguese territory
Portugal
inscriptions analysis
6
Índice geral
Introdução 8
Capítulo I – Constituição do corpus 11 1. Delimitação de área e de época 12 2. Bibliografia existente 13 2.1. Critérios da selecção da bibliografia 13 2.2. Apresentação da bibliografia e sistema de referência das
inscrições
14 3. Constituição do corpus 15 3.1. O Sul de Portugal 16 3.2. O Centro de Portugal 17 3.3. O Norte de Portugal 22 3.4. Os miliários 24 4. Bibliografia não considerada 24 5. Organização das epígrafes para análise 25 Capítulo II – Fonética 27 1. Vogais 28 1.1. A vogal a 28 1.2. As vogais e e i 29 1.3. As vogais o e u 32 1.4. As vogais i e u 34 2. Ditongos 36 2.1. O ditongo ae 36 2.2. O ditongo au 39 2.3. O ditongo oe 41 3. Consoantes 44 3.1. A consoante b e a semivogal u 44 3.2. A consoante c e a consoante g 46 3.3. A consoante m em posição final 50 3.4. A consoante s em posição final 52 3.5. As consoantes duplas 54 3.6. Os grupos consonânticos 58 3.6.1. O grupo cs 58 3.6.2. O grupo ct 59 3.6.3. O grupo nct 60 3.6.4. O grupo ns 60 3.6.5. Os grupos ps, pt e rs 62 3.6.6. Os prefixos 63
7
Capítulo III – Morfologia 67 1. Nomes 68 1.1. A declinação 68 1.1.1. O género 68 1.1.2. Os temas 69 1.2. As declinações estrangeiras 73 2. Pronomes 75 3. Numerais 77 4. Verbos 78 Capítulo IV – Sintaxe 81 1. Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos 90 6. Coordenação e subordinação 91 Capítulo V – Léxico 93 1. Derivação 94 1.1. Os prefixos 94 1.2. Os sufixos 96 1.2.1. Os sufixos nominais 96 1.2.2. Os sufixos verbais 100 2. Composição 101 2.1. A composição propriamente dita 101 2.2. A justaposição 103 3. Renovação lexical 104 4. Empréstimos 107 5. Mudanças de sentido 109 Conclusão 111 Bibliografia 113 Índice remissivo de formas documentadas nas inscrições romanas do território português
125
Anexos
8
Introdução
Desde a primeira publicação da obra de Carnoy, Le latin d’Espagne d’après
les inscriptions, passaram cerca de cem anos. O Corpus Inscriptionum Latinarum
é anterior a este trabalho. Desde a publicação das duas obras, foram feitos
progressos na área do estudo da língua latina e da epigrafia.
Em relação a esta última, em Portugal, destacamos a descoberta de novos
achados, durante o século XX, alguns resultantes de novos trabalhos de
escavações, como é o caso de Conimbriga. Ao trabalho da descoberta,
associou-se o do estudo e da divulgação, mais acentuado nestes últimos vinte
anos, com a publicação de várias obras, nas quais são feitas releituras de
inscrições e edição de novas. Em alguns casos, foram divulgados monumentos
que já se julgavam perdidos, tendo sido o seu texto alvo de nova leitura, depois
de estes terem sido descobertos. Este trabalho de divulgação e releitura já foi
feito para a região sul do país, para algumas zonas da região centro e para parte
da região norte. A ele, acresce o início de uma publicação em série (Ficheiro
Epigráfico) que divulga os monumentos epigráficos encontrados.
Quanto ao estudo da língua latina, várias obras foram publicadas nos
últimos cem anos, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado acerca
da mesma. Ao nível da análise da língua latina em epígrafes, o trabalho de
Väänänen sobre as inscrições de Pompeios continua a ser um marco
incontornável.
O nosso trabalho integra-se neste panorama científico. O principal objectivo
deste estudo é caracterizar o latim das inscrições romanas em território
português, considerando que a obra de Carnoy é demasiado ampla, por
considerar toda a Península Ibérica, além de se encontrar desactualizada, visto
que, durante o século XX, foram encontradas novas inscrições e outras foram
alvo de novas leituras, como referimos.
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Esta análise do latim das inscrições do território português, permite
determinar, em relação àquilo que era a norma, se existe manutenção ou não de
correcção na língua latina, nesta zona específica; permite determinar se a
epigrafia do território português tem semelhanças com a epigrafia de outros
locais; permite determinar se existe diferenciação do território, já que a zona
correspondente a Portugal pertencia a diferentes províncias e a diferentes
conuentus; e, por último, permite determinar eventuais influências, quer
indígenas, quer gregas.
Para se proceder à análise, torna-se necessário de elaborar um corpus, já
que as inscrições romanas do território português estão dispersas por diferentes
obras. O corpus será dividido em três partes de forma a facilitar o tratamento e
apresentação dos dados, tal como a determinação de conclusões. Estas
correspondem a três grande regiões de Portugal: região sul, a sul do Tejo; região
centro, entre os rios Tejo e Douro; e região norte, a norte do rio Douro.
O trabalho está dividido em capítulos distintos consoante a matéria
apresentada. O primeiro é dedicado à constituição do corpus e aos critérios
utilizados. Nele, são justificadas opções, sobretudo ao nível da bibliografia
(selecção e apresentação), assim como é descrita a constituição do corpus e a
organização dos dados para análise. Os seguintes são dedicados à análise do
latim das inscrições. Esta análise está dividida em quatro secções: fonética,
morfologia, sintaxe e léxico. Em cada uma destas secções, são apresentados
pontos relativos à língua latina. Na apresentação de cada um deles, é feito um
balanço do que a literatura científica tem estabelecido e, seguidamente, são
apresentados os dados documentados nas inscrições romanas do território
português.
Devemos, desde já, salientar que não são abordados todos os pontos
relativos à fonética, à morfologia, à sintaxe e ao léxico da língua latina, só os mais
relevantes para a análise do texto epigráfico. Quanto à apresentação dos dados
documentados nas inscrições, a apresentação dos resultados é feita de duas
formas: quando o número de exemplos é muito grande, é feita uma descrição
10
mais abreviada, salientando-se a distribuição de formas pelo território e os
exemplos mais antigos, para cada uma das zonas (sul, centro e norte); quando o
número de exemplos é mais reduzido, a sua descrição é mais pormenorizada,
fazendo-se referência às inscrições e a datas para todos os casos. A descrição
mais abreviada, no entanto, não omite dados relevantes para o ponto que está a
ser analisado.
Salientamos, ainda, que certas particularidades relacionadas com a grafia
de nomes indígenas, sobretudo, de divindades, não foram consideradas na
apresentação dos resultados. Tal deve-se ao facto de, pela sua especificidade, o
seu estudo não se integrar plenamente no âmbito do nosso trabalho, havendo
bibliografia especializada sobre o assunto.
Em relação à análise das epígrafes, resta-nos acentuar que foram
preteridas palavras que se encontravam reconstituídas, isto é, considerámos para
exemplo formas que não oferecessem dúvidas de leitura. Quando a reconstituição
não afectava directamente o aspecto que estava a ser analisado, considerámos
algumas delas.
11
Capítulo I
Constituição do corpus
12
1. Delimitação de área e de época
O corpus sujeito a análise é constituído por inscrições romanas
pertencentes ao actual território português.
Temos notícia de que, na sequência das Guerras Púnicas, os Romanos
chegaram à Península Ibérica em 218 a.C. (Alarcão, 1983, p. 26). Desde logo,
começaram a espalhar-se e a apoderar-se da região, por questões defensivas. O
território que corresponde a Portugal Continental começou a ser ocupado pelo
Algarve e pelo Alentejo em 202 a.C.. A conquista da totalidade do território
demorou anos, sobretudo devido à resistência dos povos autóctones, e só foi
concluída na época de Augusto. A Península Ibérica ficou conhecida como
Hispania e foi dividida administrativamente várias vezes: primeiro, em duas
províncias, depois, em três e, finalmente, entre 284 e 288, em cinco (Alarcão,
1983, p. 27, 49 e 61). Para além da divisão em províncias, o poder romano
procedeu a divisões territoriais mais pequenas: os conuentus. Deste modo, uma
província estava dividida em vários conuentus (Alarcão, 1983, p. 55), para uma
correcta e mais eficiente governação do território.
À maior parte do território português correspondiam três conuentus: o
conuentus Pacensis, o conuentus Scallabitanus e o conuentus Bracaraugustanus
(Alarcão, 1983, p. 55-56). Acontece que a definição da área a que correspondiam
estas divisões administrativas ainda hoje é discutida e os limites das fronteiras
dos conuentus ainda levantam dúvidas. Neste trabalho, vamos deixar de lado a
definição das áreas administrativas romanas. O que se irá considerar é a
totalidade do actual território de Portugal Continental, sem exaustivas
preocupações em relação aos limites dos conuentus romanos.
As inscrições a considerar para o corpus correspondem ao período que vai
desde o início da romanização até à queda do Império Romano do Ocidente, já
que o objectivo principal do trabalho é caracterizar o latim do território português.
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As inscrições de carácter cristão, paleocristãs, por apresentarem características
diferentes, não são consideradas.
2. Bibliografia existente
2.1. Critérios da selecção da bibliografia
Para se proceder ao levantamento das inscrições, houve necessidade de
recorrer a diferentes estudos epigráficos. A referência mais importante nesta área
científica é o Corpus Inscriptionum Latinarum, levantamento generalizado das
inscrições latinas, levado a cabo no século XIX. Acontece que esta obra está
desactualizada1 tendo em conta as descobertas epigráficas que ocorreram
durante o século XX, sobretudo na área portuguesa. Por este motivo, recorremos
a outras obras que, para muitas zonas, fazem uma actualização dos dados
daquela recolha. Muitas destas obras foram publicadas nos últimos anos e
correspondem a estudos epigráficos de âmbito local e regional2 (teses, catálogos
de museus, publicações municipais).
O critério utilizado na escolha destas obras foi o da autoridade. Quando
determinada zona não apresentava um estudo cientificamente seguro, utilizámos
o critério da actualidade. Desta forma, escolhemos as recolhas mais fidedignas,
ou, na sua falta, as mais recentes. Convém salientar que existem áreas que
apresentam lacunas: umas por terem sido pouco estudadas, outras por
apresentarem estudos desactualizados ou duvidosos.
1 O CIL, na área que corresponde à Península Ibérica, está a ser alvo de uma actualização. Os dados já publicados estão disponíveis, em linha, no sítio da especialidade com a seguinte morada: http://www2.uah.es/imagines_cilii/. 2 Keay, num artigo publicado no Journal of Roman Studies (2003, p. 146-211), divulga as últimas descobertas arqueológicas ocorridas na Península Ibérica e, na introdução do artigo, refere os principais títulos relativos à epigrafia do território espanhol e do território português. Este ponto da situação no âmbito das publicações epigráficas é relevante e digno de interesse. No mesmo número do Journal of Roman Studies, R. Gordon e J. Reynolds (2003, p. 212-294) mencionam as principais publicações epigráficas, a nível internacional, fazendo referência a sítios da especialidade, nos quais se pode fazer pesquisa, já que estes contêm bases de dados. Podem, ainda, ser consultados os artigos anteriores a estes, visto que, tanto num caso, como no outro, há regularidade na publicação.
14
Para além das recolhas, recorremos a duas publicações em série actuais,
de forma a serem colmatadas eventuais falhas para determinadas zonas: o
Ficheiro Epigráfico, suplemento da revista Conimbriga, e “Para um repertório das
inscrições romanas do território português”, de M. M. Alves Dias, publicado na
revista Euphrosyne de 1988 a 1999. Como o Ficheiro Epigráfico continua ainda a
ser publicado, definimos o ano de 2000 como último de consulta para o
levantamento.
2.2. Apresentação da bibliografia e sistema de referência das inscrições
Antes de passarmos à descrição da constituição do corpus, convém
esclarecer alguns aspectos práticos relativos à apresentação da bibliografia.
Nas obras de carácter epigráfico é comum a utilização de abreviaturas para
designar grandes recolhas. O Corpus Inscriptionum Latinarum é um exemplo
disso e a ele corresponde a abreviatura CIL. Este sistema facilita a referência a
determinada inscrição. Por exemplo, CIL 236 remete para a inscrição 236. A
indicação de volume surge suprimida, já que recorremos, exclusivamente, ao
volume II. Para as outras recolhas é, também, utilizada uma abreviatura. De modo
a facilitarmos a leitura, quando apresentamos a obra pela primeira vez,
apresentamos, entre parêntesis3, a sua abreviatura: A ciuitas de Viseu (CV).
Desta forma, quando nos referirmos a uma determinada inscrição da recolha
basta referir CV seguido do número da inscrição: CV 98.
Visto que as inscrições do território português estão dispersas por várias
publicações, decidimos alterar também o modelo de elaboração da bibliografia
final. Em vez de apresentarmos uma listagem de todos os títulos, decidimos
agrupar separadamente as obras de carácter epigráfico que forneceram dados
para a constituição do corpus. Desta forma, é mais fácil e mais rápido identificar
3 Constituem uma excepção as abreviaturas do catálogo do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas. Estas não aparecem entre parêntesis (v. 1.3.2.).
15
em que publicações estão as inscrições. Esta bibliografia do corpus é
acompanhada de uma lista das abreviaturas usadas.
Quando nos referimos a determinada inscrição, apenas utilizamos a
referência a uma obra, ou seja, não são usadas duas ou mais referências para
designar a mesma inscrição. Mesmo que a inscrição tenha sido publicada em
diferentes obras, só será designada através de uma referência de uma dessas
obras, normalmente a mais recente. Quando uma inscrição tem a referência de
que foi recolhida do Corpus Inscriptionum Latinarum (CIL) ou do Ficheiro
Epigráfico (FE) ou de “Para um repertório das inscrições romanas do território
português” (RIRP), tal indica que a inscrição só aparece publicada nessas obras.
Quando tem a referência de uma das outras recolhas, pode ter sido publicada em
várias. Para anular as repetições, elaborámos tábuas de correspondência que
podem ser consultadas nos anexos. A referência da direita será sempre a usada
para citar a inscrição.
3. Constituição do corpus
Apresentamos, agora, para cada região do país os estudos escolhidos, a
sua representatividade no mundo da epigrafia, as razões que nos levaram a
excluir algumas inscrições e o porquê de preferirmos algumas recolhas. A
informação é apresentada segundo a ordem do CIL, isto é, de sul para norte e de
forma tripartida. Na verdade, aquando da constituição do corpus dividimos as
inscrições em três grandes grupos, de forma a facilitar a sua análise e o
tratamento dos dados.
16
3.1. O Sul de Portugal
Para o Sul de Portugal, região localizada a sul do rio Tejo, foi considerado,
sobretudo, um dos principais levantamentos epigráficos existentes para o território
português: Inscrições Romanas do conuentus Pacensis (IRCP). O trabalho da
autoria de J. d’Encarnação (1984) consiste no estudo das epígrafes romanas da
região a sul do rio Tejo, excluindo a margem esquerda do Guadiana, por esta se
inserir noutro conuentus, conuentus Hispalensis, e até noutra província romana, a
Bética.
Resolvemos seguir as indicações de IRCP, incluindo aquelas que fornece
em relação ao CIL, já que o CIL em relação a esta área do país foi todo revisto e
muitas informações foram actualizadas por J. d’Encarnação. Desta forma,
excluímos, como também é indicado na obra, por apresentarem uma
autenticidade duvidosa ou por não parecerem de época romana as inscrições:
CIL 10 (Encarnação, 1984, p. 39), CIL 11 (id., p. 40), CIL 57a (id., p. 294), CIL 69
(a, b) (id., p. 295), CIL 84c (id., p. 436), CIL 85c (id., p. 295), CIL 114 (id., p. 442),
CIL 115 (id., p. 443), CIL 122 (= 5189) (id., p. 443), CIL 152 (id., p. 631), CIL 153
(id., p. 632), CIL 4629 (id., p. 296), CIL 4634 (id., p. 719) e CIL 5171 (id., p. 817).
Excluída apenas por pertencer à categoria de instrumentum que J. d’Encarnação
não considera neste trabalho (id., p. 294), e não tendo nós motivo para a excluir,
resolvemos considerar no corpus a inscrição CIL 54.
Tendo sido o CIL revisto, houve inscrições pertencentes a outras zonas
que foram correctamente localizadas. Também seguimos estas indicações. As
inscrições CIL 63 (= 5225) (Encarnação, 1984, p. 294), CIL 103 (id., p. 252) e
CIL 157 (id., p. 632) pertencem à zona de Lisboa. De facto, elas já estão
presentes na recolha que temos para a cidade: Epigrafia de Olisipo (EO) da
autoria de A. Vieira da Silva (1944). A inscrição CIL 63 (= 5225) aparece com o
número 43, a CIL 103 com o número 92 e a CIL 157 corresponde a CIL 236 e
surge, em EO, com o número 50. A inscrição CIL 73 ainda teve número no
IRCP (349), mas antes da conclusão do trabalho descobriu-se que era de Vila
17
Nova de Ourém (Encarnação, 1984, p. 425). A inscrição CIL 79 corresponde a
CIL 346 e é originária de Collippo, actual S. Sebastião do Freixo, perto da Batalha
(id., p. 295). A inscrição CIL 93 pertence ao concelho de Moura (id., p. 295) de
que trataremos a seguir. As inscrições CIL 4642 e CIL 4643 pertencem ao
concelho de Belmonte, distrito de Castelo Branco (id., p. 719).
Visto que a obra IRCP data de 1984, considerámos, como actualização,
inscrições publicadas posteriormente em FE e em RIRP. Para as inscrições que
foram publicadas em FE e em IRCP, deve consultar-se a Tábua de
correspondência 1, em anexo.
Para a margem esquerda do Guadiana, foram consideradas várias obras.
Como não há uma recolha que englobe todas as inscrições desta zona e como
ainda não foi publicada a actualização do CIL para o conuentus Hispalensis,
considerámos as inscrições que foram divulgadas em diferentes publicações de
modo a constituirmos um corpus bem definido para esta zona. Desta forma, do
CIL foram consideradas as inscrições: 93, 963, 968, 969, 970 e 971. De FE as
inscrições: 84, 118 e 119. De RIRP as inscrições: 1, 83, 176, 177, 191, 284, 285,
286, 287 e 288. Foi ainda utilizada a obra Arqueologia do Concelho de Serpa
(ACS) que conta com a colaboração de J. Alarcão e J. d’Encarnação (Lopes,
Carvalho e Gomes, 1997). Desta recolha, não considerámos a inscrição 41, por
ser cristã. Para anular as repetições e ajudar a clarificar a constituição desta parte
do corpus, encontra-se em anexo a Tábua 14.
3.2. O Centro de Portugal
Em relação ao Centro de Portugal, região entre o rio Tejo e o rio Douro, a
constituição do corpus revelou-se mais complicada, devido ao elevado número de
estudos existentes para esta área do território. Devemos salientar que alguns
destes estudos se encontram desactualizados e necessitam de revisão urgente. 4 Na tábua, a recolha ACS surge com interrupções na numeração. Os números que faltam correspondem a monumentos anepígrafos.
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Para o concelho de Cascais, seguimos a obra de J. d’Encarnação (2001)
Roteiro epigráfico romano de Cascais (RERC). Nesta obra, Encarnação
apresenta, como sendo do concelho de Cascais, algumas epígrafes que A. Vieira
da Silva (1944) ou não conseguira localizar com total certeza ou não localizara
correctamente. Em anexo, duas tábuas fazem a correspondência entre as
epígrafes coincidentes nas duas obras e entre as epígrafes publicadas em RERC
e em FE (v. Tábua de correspondência 2 e 3).
Em relação a Lisboa, seguimos a já mencionada obra de A. Vieira da Silva
(1944): Epigrafia de Olisipo. Esta obra, bastante desactualizada, deve ser
utilizada com precaução, já que inclui algumas inscrições de autenticidade
duvidosa e outras que, como mais tarde se confirmou, não pertencem à cidade de
Lisboa ou, até mesmo, a Portugal (Silva, 1944, p. 274-275). Por estes dois
motivos, houve algumas inscrições que rejeitámos. Por serem possivelmente
falsas, excluímos as inscrições 13, 29, 104 e 128. Por serem oriundas de Itália, as
inscrições 126 e 144. Por ser de proveniência incerta, a inscrição 141. Por se
referirem apenas a pessoas de Lisboa e serem de outros locais, as inscrições
144A a 144D.
Existem inscrições que, depois da publicação da obra, foram referidas em
outros estudos. A inscrição 120 surge em IRCP com o número 105, pertencendo
à região sul. Algumas inscrições surgem em RERC (v. Tábua de
correspondência 2). A inscrição 119 corresponde a CIL 325, integrando-se na
zona de Santarém.
Apesar de não se ter a certeza absoluta se serão de Lisboa, considerámos
as inscrições 133, 134, 136 a 140. Convém lembrar que na recolha olissiponense
surgem três inscrições que Hübner considerara serem da região sul, tal como
lembrámos na abordagem de IRCP (v. 3.1.). Estas surgem em EO com os
números 43, 50 e 92.
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O Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas tem o seu catálogo feito
por M. Cardozo5, em três artigos com diferentes datas (1956, 1958, 1961). Estes
três artigos estão reunidos no segundo volume da colectânea de trabalhos deste
autor: Obras de Mário Cardozo (1999)6. A catalogação foi feita em três fases
porque ocorreu na época de organização do museu, ao qual iam chegando
constantemente novas peças. No primeiro artigo, Cardozo (1956) adopta a
numeração da peça no museu, em caracteres romanos, não havendo uma
sequência no número das epígrafes. No segundo e terceiro artigos, Cardozo
(1958; 1961) adopta uma numeração sequencial, em caracteres árabes, à medida
que vai apresentado as inscrições. Por terem sido publicados em datas diferentes
e para não haver confusão com as numerações, apresentamos três abreviaturas
diferentes para os artigos: Odr. 1, para o primeiro; Odr. 2, para o segundo; e
Odr. 3, para o terceiro. Considerámos todas as inscrições presentes nos artigos.
Aquando do levantamento das inscrições de Odrinhas, pareceu-nos existir
uma correspondência não assinalada no artigo entre duas inscrições: CIL 297 e
Odr. 2 13. Deixamos aqui a informação.
O Museu Municipal de Torres Vedras também tem as suas inscrições
publicadas. O estudo foi feito por V. Mantas (1982) e publicado na revista
Conimbriga: “Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras” (IRTV).
As treze inscrições divulgadas pelo artigo foram consideradas para o corpus7.
Resultado das escavações efectuadas em Conimbriga, o segundo volume
da obra Fouilles de Conimbriga (FC) trata da epigrafia desta antiga localidade
romana. Passamos a explicar quais as inscrições consideradas para o corpus,
quais as excluídas e que correspondências existem.
Até à inscrição número 105, excluímos as inscrições 7 e 24, por serem de
Mérida, a inscrição 28, por ser de Ávila, e as inscrições 83 e 84, por serem
possivelmente cristãs e de data avançada (século V ou século VI). A inscrição 25, 5 As inscrições de Odrinhas foram também tratadas por J. Fontes. Uma das edições do seu estudo conta com o contributo de F. de Almeida (1979). A obra, no entanto, não inclui o texto latino, somente a tradução. 6 O primeiro artigo foi publicado pela Câmara Municipal de Sintra. O segundo e o terceiro foram publicados na Revista de Guimarães. 7 V. Mantas publicou mais três inscrições de Torres Vedras na revista Conimbriga, em 1985. Estas serão consideradas para o corpus, mas são recolhidas de RIRP.
20
apesar de ser apresentada por Hübner como duvidosa (CIL 41*), é considerada
para o nosso corpus, já que a explicação a confirmar a sua autenticidade está
bastante bem fundamentada (Etienne [et al.], 1976, p. 51-52). A inscrição que
surge no apêndice I, apesar de ser de Mortágua, distrito de Viseu, também foi
considerada (Etienne [et al.], 1976, p. 47-48). A inscrição 29 surge na obra de
F. de Almeida (1956), Egitânia (Egit.), com o número 143 e no trabalho de
A. P. Ramos Ferreira (2004),8 Epigrafia funerária romana da Beira Interior
(EFRBI), com o número 111.
As inscrições 106 a 111 foram excluídas por serem cristãs. A inscrição 112
foi considerada (Etienne [et al.], 1976, p. 76)9. As inscrições gravadas em peças
de cerâmica ou de vidro (113 a 305) foram excluídas, à excepção do grupo 294 a
304. A exclusão deve-se ao facto de as epígrafes serem gravadas no local de
produção dos artigos, fora de Portugal (Delgado, Mayet e Alarcão, 1975; Alarcão
[et al.], 1976). O grupo que foi considerado para o corpus corresponde a produtos
originários das oficinas de Conimbriga ou de localidades da região (Alarcão,
1975).
Em relação ao grupo 306 a 443, o grupo dos grafitos, sobretudo em
cerâmica, há um aspecto que de tem de se ter em conta: se o grafito é feito antes
ou depois da cozedura. Se é feito antes da cozedura, é feito no local de produção
do artigo. Se é feito depois, é feito no local de uso e tal marca, algumas vezes,
indica o proprietário de uma determinada peça (Etienne [et al.], 1976, p. 218).
Deste grupo (306 a 443), excluímos as inscrições 322, 352, 353, 354, 355,
356 por serem grafitos feitos antes da cozedura em objectos não produzidos em
território português. Excluímos, também, as inscrições 343 e 429, por serem de
época suevo-visigótica.
Para a zona de Viseu, recorremos ao trabalho de J. L. Inês Vaz (1997)10
A ciuitas de Viseu (CV). Desta recolha, excluímos a inscrição 10, por ser uma
8 O trabalho de A. P. Ramos Ferreira corresponde à sua tese de mestrado apresentada em 2000 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi elaborada sob a orientação do Doutor José d’Encarnação. 9 Esta inscrição aparece fora de ordem, surgindo entre as inscrições FC 48 e FC 49. 10 O trabalho de J. L. Inês Vaz corresponde à sua tese de doutoramento apresentada à Universidade de Coimbra, em 1993.
21
inscrição em língua lusitana, a inscrição de Lamas de Moledo (Vaz, 1997,
p. 188-192). Vaz (1997) recorre a muitas inscrições já publicadas no FE. Para
uma correspondência entre as duas obras, deve consultar-se a Tábua de
correspondência 4, em anexo. A inscrição FE 79 corresponde a CV 53 e a
EFRBI 218. A inscrição CV 75 corresponde a EFRBI 125.
Relativamente à zona de Castelo Branco, foram consideradas duas obras,
tratadas em simultâneo: Egitânia (Almeida, 1956) e Epigrafia funerária romana da
Beira Interior (Ferreira, 2004). A última abarca também o distrito da Guarda.
Como a obra de A. P. Ramos Ferreira é mais actual e corresponde a um estudo
que oferece segurança, preferimos segui-la nas inscrições que F. de Almeida
tinha já tratado. Para se perceber quais são as inscrições publicadas nas duas
obras, apresentamos, em anexo, a Tábua de correspondência 5. Ferreira (2004)
também divulga inscrições publicadas no FE. Para verificar as coincidentes, deve
consultar-se a Tábua de correspondência 6. Como já foi referido, a inscrição
FC 29 corresponde a Egit. 143 e a EFRBI 111, a inscrição FE 79 a CV 53 e a
EFRBI 218 e a inscrição CV 75 a EFRBI 125. A inscrição CIL 455 corresponde a
FE 101 e a EFRBI 229.
No seu trabalho, F. de Almeida (1956) tinha incluído inscrições que Hübner
considerara de natureza duvidosa11, por razões de autenticidade. Ferreira (2004)
acaba por incluir também algumas destas na sua obra. Não as considerámos para
o corpus. Deste modo, excluímos as inscrições: Egit. 3, Egit. 5, Egit. 6,
Egit. 33 (= EFRBI 68), Egit. 74 (= EFRBI 172) e Egit. 102 (= EFRBI 51). De igual
forma, por não se enquadrarem na época que pretendemos estudar, excluímos a
inscrição visigoda (Egit. 178) e as inscrições portuguesas (Egit. 179, Egit. 180).
A obra de Almeida inclui uma secção com inscrições de fora de
Idanha-a-Velha (1956, p. 255-273). Destas, só considerámos as que
correspondem a território português12 e que se integram na época a estudar: I,
11 J. M. Garcia (1991, p. 568) também analisa a autenticidade de três inscrições: Egit. 3, Egit. 5 e Egit. 6. Acaba por considerá-las falsas. 12 A numeração destas inscrições vai em números romanos para evitar confusões, como o próprio Almeida frisa (Almeida, 1956, p. 255).
22
VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XVI. Para a correspondência entre estas e EFRBI,
consultar a tábua já referida, nos anexos.
Para a região centro, foram ainda utilizadas três obras de carácter geral:
CIL, FE e RIRP. Destas, seleccionámos as inscrições que não surgem em
nenhuma das recolhas apresentadas. Como já tinha sido referido na análise de
IRCP, integrámos na região centro a inscrição CIL 73. Relembramos que CIL 79
corresponde a CIL 346 e que os miliários CIL 4642 e CIL 4643 pertencem a
Belmonte, Castelo Branco (v. 3.1.).
3.3. O Norte de Portugal
Em relação ao Norte de Portugal, o levantamento foi mais complicado do
que para o Centro. Na verdade, poucos estudos existem para esta região e um
dos existentes levanta problemas.
Para a zona de Braga, recorremos a um artigo de Tranoy e Le Roux
(1989-1990) publicado em Cadernos de Arqueologia, “As necrópoles de Bracara
Augusta, B. Les inscriptions funéraires” (NBA), e ao estudo de J. M. Garcia (1991)
Religiões Antigas de Portugal (RAP). Com o primeiro pretendemos recolher as
inscrições funerárias, com a segundo as inscrições votivas desta área, já que não
existe uma recolha que as considere em conjunto ou com outro tipo de inscrições.
Em anexo, apresentamos uma lista das inscrições, consideradas para o corpus,
retiradas da obra de J. M. Garcia (1991), já que esta é de âmbito nacional
(v. Quadro 1).
Relativamente à zona de Chaves, recorremos à obra de A. Rodríguez
(1997) Aquae Flaviae (AF). Esta recolha inclui a zona de Chaves, grande parte do
distrito de Vila Real, parte do distrito de Bragança e, ainda, parte da actual Galiza.
A primeira tarefa foi excluir as inscrições localizadas em território espanhol. A
segunda foi confrontar a recolha com a obra de A. Redentor (2002) Epigrafia
23
romana da região de Bragança (ERRB)13. Sendo o trabalho de Redentor mais
recente e mais fiável, preferimos segui-lo nas inscrições que Rodríguez também
trata. Desta forma, o número de inscrições levantadas somente a partir da obra de
Rodríguez ficou relativamente reduzido.
Existe em AF uma inscrição anteriormente publicada em FE. Esta inscrição
surge com o número 125 e corresponde a FE 179.
Importa referir que o trabalho de A. Rodríguez (1997) apresenta problemas.
Em primeiro lugar, graficamente não segue as normas da maior parte das
recolhas epigráficas. Em segundo lugar, as informações apresentadas nem
sempre são fidedignas. Na verdade, é frequente encontrarem-se nesta obra erros
gráficos, correspondência entre inscrições não feita, duplicação de inscrições por
uso de duas fontes distintas, informações pouco seguras em relação aos
achados, enfim, um sem número de falhas que torna a consulta da obra pouco
segura. Importa referir, também, que a obra foi utilizada com o máximo cuidado
possível, tendo nós corrigido erros gráficos, feito correspondências e anulado
duplicações, sempre que tínhamos dados seguros, fornecidos por outras obras,
como o CIL.
O trabalho de Redentor (2002), como o próprio nome indica (Epigrafia
romana da região de Bragança), trata da epigrafia bragançana e actualiza os
trabalhos efectuados pelo Abade de Baçal. A obra, entre uma série de
informações relevantes de carácter epigráfico, apresenta várias tábuas de
correspondência entre o estudo e outras recolhas (Redentor, 2002, p. 281-289).
Considerámos para o corpus todas as inscrições incluídas na obra.
À semelhança do que fizemos em relação à região centro, CIL, FE e RIRP
forneceram inscrições não presentes nas recolhas mencionadas acima. Seguindo
uma indicação de Garcia (1991, p. 566), não considerámos a inscrição CIL 2418,
originária da Aquitânia.
A zona de Miranda do Douro também foi incluída no nosso levantamento.
As inscrições consideradas foram fornecidas, sobretudo, pelo CIL. Relativamente 13 Este estudo de Redentor corresponde à sua tese de mestrado apresentada em 2000 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi elaborada sob a orientação do Doutor José d’Encarnação.
24
a esta zona, foram incluídas no corpus as inscrições CIL 5657 a CIL 5661 e
AF 215. Apesar de não estudar a zona de Miranda, Rodríguez (1997) acaba por
incluir esta inscrição na sua recolha.
3.4. Os miliários
Os miliários também foram incluídos no corpus. Os que aparecem em
recolhas ficaram com a referência da recolha. Os outros ficaram com a referência
do CIL. Importa salientar que, nas vias que ligavam a actual Braga à actual
Astorga, só foram considerados os miliários que correspondem a território
português. Neste aspecto, a recolha de Rodríguez (1997) forneceu algumas
informações.
4. Bibliografia não considerada
Houve algumas partes do CIL que não considerámos para a constituição
do corpus, assim como algumas obras. Estas surgem citadas na bibliografia geral,
pois foram consultadas e podem fornecer informações a quem queira aprofundar
o assunto. De seguida, indicamos esta bibliografia não considerada e as razões
pelas quais a excluímos.
Em relação ao CIL, não considerámos inscrições de proveniência incerta, à
excepção de uma que Encarnação (1984) inclui no seu trabalho, IRCP 328. Tal
indica que também não considerámos as inscrições de lugares incertos da
Gallaecia, apesar de Rodríguez (1997) as localizar na recolha feita para a zona de
Chaves. A secção do CIL intitulada Instrumentum domesticum, por não fornecer
indicações completas acerca do local de fabrico das peças, também não foi
25
incluída. As inscrições de autenticidade duvidosa ou que levantavam problemas,
assinaladas por Hübner com *, também não foram consideradas14.
Algumas recolhas de âmbito local não foram consideradas para a
constituição do corpus devido ao já elevado número de obras a partir das quais
procederíamos ao levantamento de inscrições. Além disso, a utilização destas
recolhas não iria fornecer muitos dados novos.
As publicações Année Epigraphique e Hispania Epigraphica também não
foram consideradas. Temos consciência da importância das duas no panorama
da divulgação de textos epigráficos. No entanto, à medida que consultávamos as
recolhas utilizadas e estas publicações, percebemos que havia um elevado
número de repetições, isto é, muitas inscrições presentes nas recolhas já tinham
sido ou eram, mais tarde, divulgadas nestas publicações, sobretudo no Année
Epigraphique. Importa referir que, relativamente, aos últimos anos as inscrições
inéditas divulgadas nestas duas publicações foram, também, divulgadas no FE ou
em RIRP.
Tal como as publicações Année Epigraphique e Hispania Epigraphica, a
obra de Vives Inscripciones latinas de la Espãna Romana (1971-1972) não foi
utilizada. À semelhança das obras mencionadas, temos consciência da
importância desta no panorama epigráfico. No entanto, a obra não iria fornecer
muitos mais dados novos, em relação aos que já tinham sido recolhidos.
5. Organização das epígrafes para análise
A epigrafia tem como principal objectivo estudar inscrições. Em relação às
inscrições romanas, existe uma forma já bem definida de as apresentar. Para
além da descrição das condições em que foi encontrada a epígrafe, é descrito o
14 Algumas inscrições pertencentes a esta secção do CIL foram incluídas em recolhas. Na análise das recolhas, em 3., indicamos quais as inscrições que considerámos.
26
suporte desta, feita a leitura ou a reconstituição da leitura, caso o material se
encontre danificado, e elaborado um pequeno comentário acerca dos nomes que
possam aparecer no texto. No final, costuma datar-se a inscrição.
O corpus para análise corresponde a um levantamento das inscrições
latinas em território português. Das recolhas epigráficas, foi considerado,
sobretudo, o texto epigráfico, a existência de várias leituras feitas por diferentes
autores, quando a inscrição é pouco clara, a datação e a localização. O estudo
onomástico, normalmente, foi consultado.
As inscrições foram todas inseridas em computador. Cada uma apresenta:
um número, uma referência ou referências que remetem para a obra ou obras em
que a inscrição foi publicada, a possível datação, o local onde foi encontrada e o
texto epigráfico. Para ajudar no processo de as inserir no computador, recorremos
a sítios da especialidade indicados na bibliografia. O texto da inscrição e os outros
dados foram retirados das obras epigráficas que mencionamos ou, por vezes,
retirados dos sítios e conferidos. Não houve informação, no entanto, que não
fosse confrontada com as obras epigráficas.
27
Capítulo II
Fonética
28
1. Vogais
O sistema vocálico latino sofreu transformações na evolução do latim para
as línguas românicas. As transformações mais profundas foram a perda de
quantidade e a alteração de timbre. Na análise que faz da evolução do sistema
vocálico latino15, Bartonek (1996, p. 117-124) conclui que a noção de quantidade
já não existiria no século V. Quanto à alteração de timbre, Väänänen (1981, p. 30)
também apresenta um esquema ilustrativo das alterações.
1.1. A vogal a
A vogal a foi das que sofreu menos transformações na passagem do latim
para as línguas românicas. A vogal mantém, regra geral, o seu timbre inalterado.
Há, no entanto, uma tendência que deve ser registada: a flutuação entre a e e, em
posição átona e antes da consoante r. Um exemplo é a oscilação entre Caesar e
Caeser. Esta tendência está documentada na epigrafia da Península Ibérica e de
Pompeios (Carnoy, 1906, p. 17-18; Väänänen, 1966, p. 19). A epigrafia de
Pompeios16 permite datar estas oscilações, pelo menos, da segunda metade do
século I. O Appendix Probi17 também as documenta, com o exemplo: cithara non
citera (Väänänen, 1981, p. 200). Os exemplos seguintes também atestam a
confusão: carcer non carcar, camera non cammara, passer non passar, anser non
ansar, nouerca non nouarca (Väänänen, 1981, p. 201-202). A palavra pássaro,
em português, confirma a opção pela versão passar e a generalização da
tendência de oscilação.
15 Segundo o mesmo autor (ibid.), na evolução do sistema vocálico, entre o século I a.C. e o século IV, há uma tendência verificável para aumentar o número de vogais longas e para baixar o de vogais breves, ao contrário do equilíbrio verificado anteriormente entre umas e outras. 16 Exceptuando alguns exemplos mais antigos, a epigrafia de Pompeios data da segunda metade do século I, sobretudo dos últimos anos que antecederam a erupção do Vesúvio em 79. 17 Flobert analisa diversos factores, de modo a precisar a data do Appendix Probi, que situa em meados do século V (1987, p. 315 e 318).
29
A epigrafia do território português confirma a manutenção da vogal a.
Vários são os exemplos que registam esta manutenção: AERARIAS,
APPARVERIT, CAPITVLARIVM, DIANAE, DIARIAS, FERRAMENTA, MARITA,
PIETATIS, TRACTARE.
A oscilação entre a vogal a e a vogal e, em posição átona e antes da
consoante r, está atestada apenas uma vez, num exemplo com reconstituição da
vogal final: CAESER[I] (ERRB 128). A forma encontra-se num miliário que data do
ano 133 ou 134.
Mesmo em palavras que poderiam documentar, inversamente, a flutuação
entre a vogal a e a vogal e, a grafia que surge é a correcta: CRATERA
(IRCP 339). A inscrição a que pertence a forma não está datada.
1.2. As vogais e e i
Das quatro vogais, ĕ, ē, ĭ e ī, a vogal ĭ é a que vai ter a alteração de timbre
mais marcada, em posição tónica, aproximando-se da articulação de ē, na
passagem do latim para as línguas românicas. Esta alteração de timbre acabará
por originar oscilações na grafia entre as duas vogais. Mariné (1952, p. 21) refere
que a alteração de timbre de ĭ era comum no século III. Carnoy documenta a
confusão gráfica entre e e i, em posição tónica, na Península Ibérica e regista
exemplos já do século I18 (1906, p. 21). A epigrafia de Pompeios (Väänänen,
1966, p. 21) também apresenta exemplos desta data.
Para além do contexto de ĭ em sílaba tónica, há outras situações de escrita
de e por i. A epigrafia documenta largamente estas situações de oscilação.
Carnoy delimita vários contextos de oscilação na epigrafia da Península Ibérica.
Destes contextos, salientamos a escrita de e por i em posição pretónica, com
exemplos do século III (Carnoy, 1906, p. 22), em posição postónica, com
exemplos do século II (id., p. 23) e em posição de hiato, com um exemplo de 18 Em relação a estas duas vogais, o trabalho de Carnoy (1906) é bastante exaustivo e o número de exemplos apresentados é superior ao número de exemplos da epigrafia de Pompeios.
30
finais do século I (id., p. 39). Väänänen (1966, p. 21 e 23) apresenta exemplos
mais antigos, também em diferentes contextos, embora em menor número.
Inversamente, a epigrafia também documenta a escrita de i por e. Carnoy
apresenta-a em vários contextos na epigrafia da Península Ibérica. Destes,
destacamos a escrita de i por e em posição tónica, em átona inicial livre, em
posição postónica e em posição de hiato (Carnoy, 1906, p. 32-33 e 36-38). Em
todos os casos o número de exemplos é menor do que para a escrita de e por i.
Väänänen (1966, p. 19-20) também apresenta alguns exemplos.
Carnoy apresenta ainda exemplos para a troca entre e e i em posição de
sílaba final. Para este contexto específico, são apresentados, para além de
outros, exemplos de formas verbais. As datações apresentadas correspondem ao
século II e, sobretudo, ao século III (Carnoy, 1906, p.18-19). Mais uma vez, o
número de casos de escrita de e por i é superior ao de i por e (id., p. 18-20). A
epigrafia de Pompeios apresenta exemplos já do século I, para estes casos
(Väänänen, 1966, p. 21-22).
O Appendix Probi documenta, com um grande número de exemplos, a
confusão entre as vogais e e i, em diferentes contextos. Alguns dos exemplos
são: delirus non delerus, effiminatus non imfimenatus, dimidius non demidius,
sirena non serena, senatus non sinatus, festuca non fistuca, fames non famis e
aedes non aedis (Väänänen, 1981, p. 201-202).
Na evolução do latim para o português, como já foi referido, em posição
tónica, a vogal ĕ mantém o timbre, a vogal ē também, a vogal ĭ altera o timbre,
aproximando-se do da vogal ē, e a vogal ī mantém também o seu timbre.
Exemplo desta evolução é a passagem de petram a pedra, de acetum a azedo,
de pirum a pêro e de tristem a triste.
Nas inscrições do território português, observa-se uma tendência inversa
quanto à distribuição da vogal e e da vogal i. Nestas inscrições, há mais exemplos
de escrita de i por e do que de e por i.
Quanto a exemplos da grafia e em vez de i, temos, de sul para norte: HEC
(IRCP 109), RELEGIONE (IRCP 522), CARESSIME (RIRP 54), AVEAE
31
(ERFBI 16), DOMENO (RAP 50). Destes, só há indicações cronológicas para os
da zona sul e da zona centro. O mais antigo, a sul, data de finais do século II
(IRCP 109). O mais antigo, na zona centro, da segunda metade do século I
(EFRBI 16). A norte há ainda outro exemplo, sem data e com uma particularidade
gráfica, sendo os ii equivalentes a um e19: LARIIBVS (RAP 382). Para além da
vogal i, a semivogal i também surge representada com um e num exemplo,
igualmente sem data, que apresenta a mesma particularidade gráfica do anterior:
EVENTVTII (IRCP 230).
A escrita de e está, ainda, patente em nomes próprios que apresentam a
grafia i num maior número de exemplos: MARCEA (EFRBI 16), ENTARAMICO
(EFRBI 55), APONEVS (CV 8), LECENIO e LECENIANO (CV 92), BOVTEAE
(CIL 2380). Destes, destacamos o facto de dois serem nomes de imperadores
romanos, de inícios do século IV: LECENIO, LECENIANO. Em outras inscrições,
pode observar-se a grafia correcta destes nomes. Além destes, ainda surge o
nome de outro, em miliários do ano 283 ou 284: NVMEREANO (CV 87 e CV 95).
Quanto a este nome não há registos de grafia com i, já que, à excepção deste
exemplo, surge sob a forma de abreviatura.
Em relação à grafia de i em vez de e, temos, de sul para norte: MISOLIO
(IRCP 16), CALCIAMENTORVM e CALCIAMENTA (IRCP 142.4.), CONIACTIA
(IRCP 298), VTERI (IRCP 602), MAESOLIVM (EO 35), MILIS (Egit. XIII),
PRINCIPS (CIL 4816), MIIS (AF 611). Só há indicações cronológicas para os
exemplos da zona sul e da zona norte. Os mais antigos, a sul, datam de finais do
século I ou de inícios do século II e encontram-se na mesma inscrição
(IRCP 142). O mais antigo, a norte, data do ano 238 (CIL 4816), embora haja
dúvidas quanto a esta indicação.
Em alguns nomes próprios que apresentam, normalmente, a grafia e, surge
a escrita de i: AVINTINA (IRCP 41), HIRINIANA (IRCP 46), IRINAEI (IRCP 289),
NIVIVS (AF 146), RIBVRRA (ERRB 81), MISSIO (CIL 4812 e 6219). Em outros, é
visível a oscilação entre as duas vogais, estando registadas formas duplas: 19 Redentor (2002, p. 210) realça o carácter cursivo dos ii e desvaloriza a hipótese de se poder considerar uma particularidade de linguagem.
32
Cilea/Cilia, Coelea/Coelia. Existe, ainda, a grafia CELEA (RAP 62). A inscrição em
que se encontra o exemplo não está datada. O nome de uma divindade também
aparece alterado com a grafia INDOVELLICO (IRCP 507, 513, 520). Não existem
indicações cronológicas para qualquer uma destas inscrições.
1.3. As vogais o e u
À semelhança do que acontece com as vogais e e i, das quatro vogais ŏ, ō,
ŭ, ū, é a vogal ŭ que, em posição tónica, tem uma alteração de timbre mais
marcada na passagem do latim para as línguas românicas, aproximando-se da
articulação de ō. Também à semelhança do que acontece com e e i, esta
alteração de timbre vai originar confusões entre a grafia de o e de u. Mariné
(1952, p. 26) refere que a oscilação está atestada em grafias do século IV e que
es exemplos de escrita de o por u são mais numerosos do que os exemplos da
escrita de u por o. Situação semelhante verificava-se com a oscilação entre e e i.
A vogal mais baixa é a que surge escrita mais vezes.
Para a Península Ibérica, Carnoy delimita outros contextos de troca entre o
e u. Destes destacamos a oscilação entre o e u em posição final (Carnoy, 1906,
p. 49-50). Mariné recorda a generalização desta tendência por todo o Império e
refere que esta ocorreu mais tardiamente do que a oscilação entre e e i na
mesma posição, apontando o século II (1952, p. 25). Carnoy apresenta exemplos
já do século I na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 49).
A epigrafia de Pompeios documenta também a confusão entre as vogais o
e u, em diferentes contextos (Väänänen, 1966, p. 27-30). Para além dos
exemplos da segunda metade do século I, Väänänen apresenta alguns do
século I a.C. (1966, p. 29-30).
Tal como acontece com as vogais e e i, o Appendix Probi apresenta um
grande número de exemplos da confusão entre o e u, em vários contextos:
columna non colomna, turma non torma, coluber non colober, formica non
33
furmica, sobrius non suber e formosus non formunsus (Väänänen, 1981,
p. 200-202).
Exemplo da evolução do latim para o português das vogais ŏ, ō, ŭ e ū, em
posição tónica, é a passagem de mortem a morte, de amorem a amor, de lutum a
lodo e de nudum a nu, respectivamente.
Destacamos ainda a tendência para escrever o grupo uu como uo20, nos
casos nominativo singular e acusativo singular dos nomes de tema em -o-. Esta
tendência pretendia eliminar ambiguidades, por exemplo, entre o grupo uu e a
vogal ū que se grafava uu21. A grafia está documentada na Península Ibérica por
Carnoy, com os exemplos mais antigos a datarem do século I (1906, p. 52-53).
Para além desta tendência, o grupo uu surge, por vezes, abreviado: serus
em vez de seruus. Este tipo de grafias surge atestado no século I pelas inscrições
de Pompeios (Väänänen, 1966, p. 50). O Appendix Probi também documenta a
grafia abreviada: auus non aus, flauus non flaus, riuus non rius (Väänänen, 1981,
p. 200-202). Väänänen (1966, p. 49-50; 1981, p. 51) refere que o fenómeno está
relacionado com uma tendência do latim, que se verificava desde a época
arcaica, de simplificar este tipo de grupo22 e sublinha que na evolução para as
línguas românicas, em alguns casos, o u acabou por ser reposto. Um exemplo,
em português, é a evolução de seruum para servo.
Nas inscrições do território português, quanto à distribuição da vogal o e da
vogal u, dá-se uma tendência inversa à habitual, como acontece na distribuição
das vogais e e i: há mais exemplos da escrita de u por o do que de o por u.
Em relação à grafia de o em vez de u, temos três exemplos: MISOLIO
(IRCP 16), VOCTO (CV 19), FILIO (FE 241). O primeiro data da segunda metade
do século II; o segundo do século II ou século III; o terceiro de finais do século II.
20 Faria (1970, p. 121-122) refere que a grafia uo é a grafia usual até ao período dos Flávios. 21 A duplicação das vogais é uma das formas de representar a quantidade longa. Faria (1970, p. 117-118) indica que é um costume introduzido por Ácio e apresenta, como primeiro exemplo epigráfico, uma inscrição de 132 a.C.. Niedermann (1997, p. 7) situa a duplicação das vogais nos séculos II e I a.C. e menciona que esta é a imitação de uma prática usada pelos Oscos. 22 Na época arcaica, as palavras que apresentavam a semivogal u e a outra consoante recuada, o o, sofreram também uma redução: deiuos evoluiu para deus.
34
Quanto à escrita de u em vez de o, temos, de sul para norte: VOTV
(IRCP 58), RENSPONSV (IRCP 484), MVNIMENTVM (IRCP 468; CIL 266),
MVNIMENTVS (CIL 266), MVNIMENTV (EFRBI 107), AVGVSTV (RIRP 18),
AFINATV (RIRP 59). Os mais antigos são os registados em EFRBI 107 e
RIRP 18: segunda metade do século I e ano 23 a.C., respectivamente. O primeiro
data de finais do século II e o terceiro, em IRCP, assim como o último (RIRP 59),
do século III. Para os outros, não existe indicação.
No que se refere à grafia do grupo uu como uo, nos casos nominativo
singular e acusativo singular dos nomes de tema em -o-, temos, como exemplos,
de sul para norte: CLAVOM (IRCP 142.4.), SERVOS (IRCP 143.10., 143.13. e
143.17.), SVOS (EFRBI 230) e FLAVOS (CIL 2502). O mais antigo é o primeiro: é
de finais do século I ou de inícios do século II. O segundo é do período entre o
ano 117 e o ano 138 e o terceiro de finais do século II. Para o último, não há
indicação cronológica.
A redução do grupo uu a u também está atestada. Temos, de sul para
norte: EVENTVTII (IRCP 230), IVAT (IRCP 270), PERPETVM (EO 41),
IVENTVTIS (AF 410, 411 e 414; CIL 4756 e 4757). O mais antigo é o terceiro:
data de inícios do século I. Na categoria dos nomes próprios, existe a variante
FLAVS a par de FLAVVS. O exemplo mais antigo data do século I (IRCP 445).
Esta forma do nome é, sobretudo, frequente a norte. Inversamente, temos a grafia
uu em vez de u: POSVVIT (FE 238), CONVENTVVS (RAP 454). Só existe
indicação cronológica do segundo exemplo: século II.
1.4. As vogais i e u
A vogal i, antes de uma consoante bilabial e em posição postónica,
apresenta a tendência para ser grafada u. Exemplo disto é a oscilação entre
optimus e optumus. Esta tendência é relativamente comum e existe um grande
número de exemplos epigráficos que a documentam. Carnoy apresenta uma série
35
de exemplos na epigrafia da Península Ibérica, datando os mais antigos do
século I (1906, p. 66). A epigrafia de Pompeios também documenta esta data
(Väänänen, 1966, p. 26).
Mariné afirma que esta tendência para as duas vogais mais altas oscilarem
antes de bilabial é visível nos textos epigráficos desde o século II a.C. (1952,
p. 33). O mesmo autor afirma que se pode concluir ter sido, primeiramente, u a
grafia mais comum. A partir de dada altura, a grafia i terá começado a difundir-se
e a surgir mais vezes. Esta ideia é confirmada por Faria (1970, p. 186). Numa
época mais arcaica da língua, antes de bilabial a vogal que existia era um u. O
que terá acontecido foi a passagem desta vogal a i, como atesta uma citação de
Quintiliano. Kent (1959, p. XXII) refere que a grafia i passa a ser a norma na
época de César23. Estes dados apontam, assim, para a ideia de que a tendência
para escrever u antes de bilabial é mais antiga e a tendência para usar o i é mais
inovadora e explicam a oscilação entre as duas vogais.
Nas inscrições do território português, a oscilação gráfica entre u e i está
documentada. Comparativamente, é maior o número de exemplos em que se
optou pela grafia i antes de bilabial. No entanto, há uma série de palavras que
apresenta a grafia u: MAXVMA, MAXVMVS, com as variantes MAXSVMA e
MAXSVMVS, MAXVMINA, MAXVMINVS, OPTVMA, OPTVMVS, PIISSVMA.
Algumas destas surgem declinadas em diferentes casos. Como se pode observar
pelos exemplos, a escrita de u está predominantemente documentada apenas
antes de uma bilabial: m.
A grafia u surge em inscrições das três zonas do país. Para a zona sul, os
exemplos mais antigos são de inícios do Império e do ano 5 ou 4 a.C.: MAXVMVS
(IRCP 267) e MAXVMO (IRCP 184), respectivamente. Quanto à zona centro, dos
exemplos datados, os mais antigos são de inícios do século I: OPTVMO e
MAXVMO (FE 266). Em relação à zona norte, é reduzido o número de exemplos
datados. O mais antigo é da segunda metade do século II ou do século III:
MAXVMO (ERRB 5). No que respeita à zona sul, aquela que apresenta o maior 23 Kent já confirmara esta ideia em outra obra (1945, p. 47), na qual refere que, na época de Júlio César, se nota uma preferência, nas inscrições oficiais, pela grafia i.
36
número de exemplos com data, as restantes formas são, sobretudo, do século I e
do século II. O mesmo acontece em relação aos exemplos datados da zona
centro.
É vulgar na mesma inscrição mais do que uma forma com a grafia u:
IRCP 594, FC 67, FE 266, RAP 341, AF 414. Tal deve-se ao facto de as palavras
que apresentam contexto para a grafia de u surgirem, muitas vezes, em conjunto:
OPTIMVS MAXIMVS.
Existe, ainda, outro exemplo que documenta a oscilação gráfica entre u e i,
mas esta não se dá em posição postónica: LVBEN[S] (EO 144E). A inscrição em
que se encontra não está datada.
Inversamente, a grafia da palavra monumentum também apresenta uma
oscilação gráfica. Existem seis formas que apresentam a grafia i24 em vez de u,
registando estas simultaneamente alterações na escrita da primeira vogal
(v. 1.3.). Temos, por ordem alfabética: MONIMENTVM (EFRBI 88; EFRBI 230),
MVNIMENTV (EFRBI 107), MVNIMENTVM (IRCP 468; CIL 266), MVNIMENTVS
(CIL 266). O exemplo mais antigo é da primeira metade do século I (EFRBI 88).
2. Ditongos
2.1. O ditongo ae
O ditongo ae corresponde à evolução de ai. Em indo-europeu existia o
ditongo ai, que se mantém em latim na época arcaica (Faria, 1970, p. 171). A
partir do século III a.C., esta grafia altera-se para ae25. Vários exemplos da
epigrafia documentam a forma arcaica do ditongo26 e os gramáticos latinos
confirmam, igualmente, a pronúncia. Mais tarde, numa atitude de
24 Não estamos a incluir nestes a forma abreviada que surge em IRCP 566. 25 Faria e Niedermann tomam posições diferentes em relação a esta data: o primeiro (1970, p. 171) indica o século II a.C. como o século da transformação; o segundo (1997, p. 59) o século III a.C.. 26 Um dos exemplos epigráficos encontra-se no Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C.. Niedermann, no entanto, defende que a grafia ai, nesta inscrição, já não corresponderia à realidade fonética (1997, p. 60).
37
conservadorismo linguístico e de gosto pelas formas arcaicas, a forma ai é
recuperada por alguns escritores e o imperador Cláudio exige que o seu título
seja escrito Caisar.
A forma ae está atestada pelos gramáticos, com o registo da pronúncia.
Paralelamente, há notícias de que, em algumas regiões rurais, o ditongo começa
a ser pronunciado de forma diferente: e. Esta tendência tende a difundir-se,
sobretudo nas classes mais populares (Faria, 1970, p. 172), e, rapidamente, o
ditongo é pronunciado, cada vez mais, como se se tratasse de uma vogal só27.
Niedermann aponta o início do século II a.C. como data da transformação e
comprova-a com exemplos das peças de Plauto28 (1997, p. 59). Exemplos da
evolução de ae para e também estão presentes nas inscrições de Pompeios
(Väänänen, 1966, p. 23-24), sendo os mais antigos do século I a.C.. Kent (1959,
p. XIX) refere que há exemplos da monotongação em inscrições rurais bastante
antigas e refere que esta tendência se generaliza, sobretudo, depois de finais do
século I. Carnoy (1906, p. 71-72) apresenta, para a Península Ibérica, exemplos,
sobretudo, do século II.
O e resultante da monotongação de ae é diferente dos outros e latinos:
trata-se de um ē aberto, ao contrário do ē primitivo, que era fechado, e do ĕ
primitivo, que era aberto. A grafia ae mantém-se, por vezes, para distinguir este
som diferente, mas as formas em que ae é substituído por e, à medida que o
tempo passa, começam a ser cada vez mais comuns.
A grafia ae vai servir ainda para registar as palavras importadas. Nas
palavras em que o som ē aberto se verifica, os latinos optam por grafá-lo com ae
(ex.: scaena, raeda). Em relação aos empréstimos gregos, a grafia ae é utilizada
para representar este som desde a época arcaica. Biville (1987, p. 13) apresenta
um exemplo de Névio. O mesmo autor (1987, p. 17) refere que a grafia ae está
atestada para empréstimos gregos desde o início do século II a.C., em inscrições.
27 A monotongação do ditongo ae tem paralelo no úmbrico, já que ai indo-europeu evoluiu, nessa língua, para e. 28 Plauto era natural da Úmbria.
38
Com a perda de noção de quantidade das vogais, há notícias de que as
pessoas começaram a confundir o ē aberto com o ĕ e o ē. Uma prova disso é o
esforço dos gramáticos na distinção entre aequus e equus (Niedermann, 1997,
p. 61). Outra prova é a substituição, em epigrafia, de ĕ e de ē por ae, já no
século I (Carnoy, 1906, p. 71-72; Väänänen, 1966, p. 24-25).
A redução de ae a e está patente na evolução do latim para as línguas
românicas (Väänänen, 1981, p. 38). Um dos exemplos é a passagem de caelum a
céu, em português.
Nas inscrições do território português, temos exemplos da grafia arcaica do
ditongo ae. Três exemplos encontram-se na mesma inscrição, de Lamego, sem
data: IVLIAI, MARCELLAI e SCAIVIVS (CIL 5251). Exemplo datado é o de uma
inscrição da zona sul, do século III29: QVAI (IRCP 430). A manutenção da forma
arcaica do ditongo está, também, presente nas formas duplas de nomes:
Ammaia/Ammaea, Caino/Caeno, Maila/Maela, Mailo/Maelo. Estes estão
registados na zona sul e centro. A grafia ai está, ainda, presente em nomes de
divindades de carácter indígena que surgem apenas uma vez no corpus:
OILIENAICO, PAISICAICOEO, SAISABRO, TIAVRANCEAICO. Apontamos uma
forma curiosa, já que apresenta o ditongo num contexto em que não era
esperado: MAIRITO (AF 247).
A manutenção do ditongo ae, na grafia, é predominante: FILIAE, MARITAE,
MAXIMAE, MERENTISSIMAE, PIAE, PIENTISSIMAE, PIISSIMAE, PIISSVMAE,
SANCTAE. Há, no entanto, formas que documentam a sua monotongação:
AEMERITE, CARESSIME, CARISSIME, DEE, DESIDERATISSIME, FILIE,
KARISSIME, LEDERE, MARITE, MERENTISSIME, PATRIE, PIENTISSIME,
PIISSIME, QVE, SANCTE, SVE, TRIBVNICIE. Estas formas são mais frequentes
a sul do Tejo, mas também surgem em inscrições do Centro e do Norte de
Portugal. O exemplos datados mais antigos são: MARITE, para a zona sul, da
segunda metade do século I (IRCP 585); CARESSIME, para a zona centro, de
finais do século II ou da primeira metade do século III (RIRP 54) e CARISSIME,
29 A mesma inscrição apresenta uma forma que documenta a monotongação do ditongo ae: SVE.
39
para a zona norte, da segunda metade do século I ou da primeira do século II
(NBA 2.6.). É frequente mais do que uma forma monotongada na mesma
inscrição: IRCP 114, IRCP 181, IRCP 566, FE 102a, NBA 5.1.. Nos nomes
próprios, também há registo da monotongação de ae. Esta é mais comum na
zona centro e norte: AVITE (FC 36), CELI (CV 39), CECILIVS (NBA 5.1.).
No registo de empréstimos gregos, a grafia ae está atestada numa
inscrição, do ano 57: PROSCAENIVM (EO 70).
Inversamente, a epigrafia documenta a escrita de ae por e. Temos, de sul
para norte: AEMERITE (IRCP 114), do século III; NAERVAE (CV 94), do ano 213
ou 214; e DAEAE (RAP 570), sem data.
2.2. O ditongo au
O ditongo au provém do indo-europeu au. A forma indo-europeia
mantém-se em latim, mas em algumas línguas itálicas evolui para um o fechado30
(Faria, 1970, p. 172). Esta característica regional afecta a pronunciação do
ditongo em latim e há notícias de que em alguns casos au é pronunciado como
o31. Um dos exemplos é a forma auriculas pronunciada, por vezes, como oriculas
(Väänänen, 1981, p. 39). Esta tendência é datada por Väänänen (1966, p. 31),
recorrendo a um estudo de Jeanneret sobre inscrições de Roma, do século I a.C..
A epigrafia de Pompeios também documenta a grafia o e situa-a na segunda
metade do século I (Väänänen, 1966, p. 31). Carnoy (1906, p. 85) apresenta um
exemplo do final do século II. A redução de au a o acaba por estar presente na
evolução do latim para as línguas românicas. No Appendix Probi, temos a
referência auris non oricla (Väänänen, 1981, p. 201) e, em português, a evolução
de auriculam para orelha.
30 Faria (1970, p. 172) refere o úmbrico, o prenestino e o falisco como as línguas em que au se reduz a o. 31 Väänänen (1966, p. 30-31) define dois contextos para a monotongação em latim: palavras que designam objectos do campo e nomes em diminutivo.
40
Ao mesmo tempo que a redução de au a o surge em algumas formas
latinas, há uma preocupação conservadora de travar esta tendência. Devido a
esta preocupação, surgem hiperurbanismos, ou seja, palavras restauradas pela
classe culta de Roma. Nas palavras que se pronunciavam com o, recupera-se a
pronúncia au. Tentava-se, desta forma, combater na cidade a tendência rural de
monotongação (Faria, 1970, p. 172-173; Niedermann, 1997, p. 66). Um caso
exagerado destes é a pronúncia e a escrita de scauria em vez de scōria
(Niedermann, 1997, p. 66). A palavra corresponde à adaptação do vocábulo grego
(Carnoy, 1906, p. 86).
Apesar de esta característica regional para a redução de au em o, o
ditongo au está bem patente em latim e a sua pronúncia atestada. A transcrição
de palavras latinas em grego também confirma a pronúncia de au como um
ditongo (Faria, 1970, p. 75).
Na passagem para as línguas românicas, au foi o ditongo latino que mais
se conservou, havendo exemplos da manutenção de au em várias línguas
(Väänänen, 1981, p. 39). Em português, evoluiu, regra geral, para ou. Exemplifica
esta situação a passagem de audire a ouvir, de aurum a ouro e de taurum a touro.
Convém salientar que, em alguns casos, este ditongo ou, resultante da evolução
de au, em português, oscila com oi: oiro, toiro.
Nas línguas românicas, regista-se ainda a evolução de au para a. Tal
situação ocorre quando o ditongo, em posição inicial, corresponde a uma sílaba
átona e a sílaba seguinte é tónica e contém um u (Faria, 1970, p. 173; Väänänen,
1981, p. 39). Exemplo do processo é a palavra Agosto, em português. A
dissimilação neste contexto verifica-se, primeiramente, em latim, já que um
gramático do século II aconselhava a forma auscultare em vez de ascultare
(Niedermann, 1997, p. 67). A epigrafia também documenta este processo,
havendo exemplos de Pompeios da segunda metade do século I (Väänänen,
1966, p. 32) e da Península Ibérica do século II (Carnoy, 1906, p. 87).
41
A epigrafia do território português confirma a manutenção do ditongo au:
AVGMENTVM, AVGVSTANVS, AVGVSTVS, AVRAVIT, AVT, CAVSA,
CLAVDIVS, FAVSTVS, TAVRVM.
Quanto à redução do ditongo au a o, não há registos a documentar esta
tendência no território português. No entanto, está atestada a tendência inversa
para grafar o ditongo em contexto onde seria esperado o. Temos, na mesma
inscrição, de finais do século I ou inícios do século II, três exemplos:
SCAVRARIORVM, SCAVREIS, SCAVRIAE (IRCP 142.7.). Os vocábulos
pertencem à mesma família de palavras. Os dois últimos correspondem a duas
formas da palavra scauria. O primeiro corresponde a uma palavra derivada desta.
A palavra scauria deveria ser grafada, como se refere acima, com o.
Em relação à redução de au a a, temos um exemplo, do ano 275, registado
no Centro de Portugal: CLADIO (FE 102a). Apesar de o exemplo não
corresponder ao contexto em que se dá a redução, fica registada a forma pela
sua singularidade.
Um exemplo curioso e fora do comum é a grafia do ditongo au como ae:
MAESOLIVM (EO 35). Este exemplo, sem data, pode ser associado a um outro,
da segunda metade do século II: MISOLIO (IRCP 16). A grafia i pode ser
entendida, neste caso, como uma redução do ditongo ae. O ditongo ae terá sido
entendido como monotongado em e e este e foi confundido, pelas alterações de
timbre existentes, com um i.
2.3. O ditongo oe
O ditongo oe corresponde à evolução de oi. O ditongo oi do indo-europeu
mantém-se em latim arcaico, como está atestado em várias inscrições latinas. Os
gramáticos também confirmam a existência do ditongo na forma oi (Faria, 1970,
p. 175).
42
Niedermann (1997, p. 61) defende que o ditongo passa a oe na mesma
época em que ai passa a ae32. Depois desta mudança, o mesmo autor afirma que
o ditongo, nuns casos, mantém a grafia, noutros, o que corresponde à maior parte
das situações, evolui para ū (Niedermann, 1997, p. 61). Esta última evolução terá
ocorrido a partir do início do século II a.C.. Niedermann (1997, p. 62) confirma
esta data, recorrendo à grafia do Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C., e a
formas das últimas peças de Plauto.
Com a evolução do ditongo oe para ū, poucas foram as palavras de origem
latina que o conservaram. Faria (1970, p. 176) refere que oe se mantém apenas
em palavras pertencentes à linguagem técnica de certas áreas.
A grafia oe era utilizada, também, para registar palavras importadas do
grego: comoedia, tragoedia. Nos empréstimos gregos, esta grafia foi usada
durante bastante tempo. Há exemplos de Plauto a Plínio (Biville, 1987, p. 19), ou
seja, do século III a.C. ao século I. Oe registava, desta forma, o ditongo grego .
Faria (1970, p. 75) refere que este processo é um sinal de que oe, nos casos em
que era grafado, era pronunciado como um ditongo.
À semelhança do que acontece com o ditongo ae, o ditongo acaba por
monotongar. Deixa de ser pronunciado como oe e começa a ser pronunciado
como se fosse uma vogal apenas: ē fechado, à semelhança do ē primitivo. Antes
da monotongação em e, Niedermann (1997, p. 63) aponta uma fase intermédia de
monotongação em o, apenas na pronúncia, não afectando a grafia, e data-a de
inícios do século II a.C.. Väänänen (1966, p. 25; 1981, p. 38) refere que o
processo é posterior à monotongação de ae em e e apresenta exemplos nas
inscrições de Pompeios, ou seja, da segunda metade do século I. Na epigrafia da
Península Ibérica, Carnoy (1906, p. 84) apresenta, como exemplo mais antigo,
uma forma também da segunda metade do século I. Depois de os ditongos ae e
oe terem monotongado em e e depois de o e resultante da monotongação de ae
se ter começado a confundir com os outros, começou também a haver oscilação
na grafia de ae e oe. Quando se devia escrever ae, escrevia-se oe e, quando se
32 Niedermann (1997, p. 59) aponta o século III a.C. como a data do fenómeno (v. nota 25).
43
devia escrever oe, escrevia-se ae. Biville (1987, p. 19) ilustra esta confusão com a
grafia de empréstimos gregos, numa época mais tardia.
A monotongação de oe em e está patente na evolução do latim para as
línguas românicas. Poenam, por exemplo, em português, passa a pena.
Nas inscrições do território português, os registos da grafia oi restringem-se
a nomes próprios ou de divindades indígenas. A grafia é muito mais frequente a
sul do que no centro ou a norte. De nomes próprios, existem os exemplos, todos
registados a sul: COILICVS, COIMIA, EVNOIDE, LETOIDES, TROILVS33. De
divindades indígenas, o exemplo não datado: OILIENAICO (CV 18). Os exemplos
mais antigos são de inícios do Império: COILICVS (IRCP 139), COIMIA
(IRCP 131). Um exemplo curioso é a grafia oi onde se esperaria ai, embora este
caso seja diferente, já que i corresponde à semivogal: TROIANI (CV 103),
TROIANVS (CV 101). As duas datam do período entre o dia 10 de Dezembro de
120 e o dia 9 de Dezembro de 121.
A manutenção do ditongo oe, na grafia, está registada, sobretudo em
nomes próprios: AMOENA, AMOENVS, BLOENA. Os dois primeiros estão
registados, sobretudo, na zona centro, embora haja alguns registos a sul. O
terceiro surge, apenas, na zona norte. O ditongo oe está, ainda, atestado em
formas verbais do verbo coepi, como COEPERIT (IRCP 143.4.) e COEPTVM
(IRCP 142.1. e 142.7.), e no vocábulo POENAS (IRCP 647). No registo de
empréstimos gregos, a grafia oe está atestada no exemplo POETA
(IRCP 482d-e), sem data. Um exemplo curioso é o da forma AMOENE, do
século II (EFRBI 67). Esta apresenta a monotongação do ditongo ae e a
manutenção de oe.
A monotongação do ditongo oe está reduzidamente documentada. Temos
dois exemplos na região norte: AMENA (CIL 5570), BLIINA34 (ERRB 31). Só há
indicação cronológica para o segundo: século II ou século III.
33 Salientamos o cariz grego de LETOIDES (IRCP 431) e de EVNOIDE (IRCP 572), com o ditongo oi a grafar o correspondente grego. Só o primeiro exemplo está datado: segunda metade do século II (v. Cap. III, 1.2.). 34 Sobre o valor dos ii, remetemos para o ponto 1.2. deste capítulo.
44
Poder-se-ia considerar as seguintes formas como um resultado da
oscilação gráfica entre os ditongos ae e oe: COELEA, COELIA, COELIVS. No
entanto, a etimologia celta destes nomes (Albertos, 1966, p. 91) e a existência de
formas como Coilia (Abascal, 1994, p. 115) parecem afastar a hipótese.
Salientamos que estas formas surgem, sobretudo, em inscrições da zona centro e
que o exemplo mais antigo é a forma COELEA, registada uma vez no século I
(EFRBI 43) e duas na segunda metade do século I (EFRBI 65; EFRBI 104).
Também está registado o derivado COELIANVS (CIL 259), numa inscrição sem
data (v. Cap. V, 1.2.1.).
3. Consoantes
3.1. A consoante b e a semivogal u
No século I, a consoante b, entre vogais, deixa de se articular como era
costume e passa a ter o som de uma fricativa bilabial sonora: [] (Niedermann,
1997, p. 87). Na mesma época, a semivogal u, entre vogais, passa a
pronunciar-se também como uma fricativa bilabial sonora, desfazendo o hiato
entre as vogais. Esta alteração de pronúncia da consoante e da semivogal vai
originar uma confusão entre as duas, documentada ao nível da grafia. A
consoante b passa a ser escrita em palavras que era normal grafar com u e o
contrário também acontece. A epigrafia documenta esta confusão já no século I
(Niedermann, 1997, p. 88). Da mesma forma, a confusão também se dá quando b
ou u estão em posição inicial e a palavra anterior termina em vogal. Outras vezes,
a terminação da palavra anterior é irrelevante, registando-se a oscilação entre b e
u, em início de palavra, independentemente desse contexto. Para o primeiro
destes casos, Niedermann (1997, p. 88) apresenta exemplos epigráficos.
Väänänen (1966, p. 50-51) e Carnoy (1906, p. 128-133) apresentam exemplos
45
epigráficos para diferentes contextos35. O Appendix Probi também documenta as
confusões gráficas entre a consoante b e a semivogal u em diferentes contextos:
baculus non uaclus, uapulo non baplo, plebes non pleuis, tabes non tauis,
tolerabilis non tolerauilis (Väänänen, 1981, p. 200-203).
Na evolução do latim para as línguas românicas, à excepção de algumas
zonas, esta transformação da pronúncia da consoante e da semivogal vai mais
longe ainda, tendo a fricativa bilabial sonora passado a []36, em ambos os casos.
Deste modo, a grafia v passou a representar a semivogal latina u e a consoante b.
Um dos exemplos é a evolução de iuuenem para jovem e de probare para provar,
em português. Em posição inicial, houve a tendência para conservar a grafia b:
bibere evoluiu, em português, para beber e bonum para bom.
À semelhança dos contextos já citados, a consoante b e a semivogal u
também sofreram alteração na pronúncia depois de l e de r, mas, neste contexto,
a tendência foi para grafar as palavras com b. Algumas formas das línguas
românicas documentam esta tendência excepcional de prevalência de b
(Väänänen, 1981, p. 51; Niedermann, 1997, p. 110-111). O Appendix Probi já
recomendava alueus non albeus (Väänänen, 1981, p. 201).
Nas inscrições do território português, vários são os exemplos que
documentam a manutenção da grafia da consoante b e da semivogal u, entre
vogais. Para documentar o primeiro contexto, temos exemplos como: AMABILI,
CONLIBERTO, DEBENT, HABERE, INCOMPARABILIS, INPVBERES, LIBENS.
Para documentar o segundo, temos: AVIA, AVVNCVLO, CIVITAS, CVRAVIT,
DIVVS, EVENTVM, IVVENTVTIS.
A grafia da consoante b em vez da semivogal u está atestada. Os
exemplos existentes restringem-se a um nome de uma divindade e a um nome
próprio. Em relação ao primeiro caso, temos ENOBOLICO (IRCP 519) por
35 Os exemplos de Väänänen são das inscrições de Pompeios, ou seja, da segunda metade do século I. Carnoy apresenta exemplos do século III. Kent (1945, p. 61) situa só no século III a confusão entre a consoante b e a semivogal u. Este autor refere que ambas se foram transformando e só no século III se pronunciavam da mesma maneira, o que levou os gramáticos a sentirem necessidade de corrigir e de esclarecer os falantes. 36 Väänänen, apoiado em Lausberg, indica a data do século II para esta transformação (1981, p. 50).
46
ENDOVELLICO numa inscrição sem data. Quanto ao segundo, temos três formas
do mesmo nome: LOBESA (IRCP 459), LOBESSA (FC 62) e LOBESSAE (FC 56).
Os exemplos datam do século I, do século II e de finais do século II,
respectivamente. Na epigrafia romana de Portugal, existem nomes próprios como
Louesius e Louesia. Os exemplos com b parecem ser, desta forma, variantes
destes nomes. Palomar (1957, p. 77-78) e Albertos (1966, p. 136-137) confirmam
esta ligação. Um outro possível exemplo é a grafia, numa abreviatura, de b em
contexto de u: B(otum) A(nimo) L(ibens) S(oluit) (IRCP 374). Pelo contexto, a
grafia esperada seria u, como abreviatura de uotum. Não há indicação
cronológica para a inscrição.
A grafia da semivogal u pela consoante b está atestada numa inscrição em
muito mau estado. Nesta, surge a forma NOVI[LI]SSIMVS, com a reconstituição
de uma sílaba interior, por NOBILISSIMVS. A inscrição data do período entre o
ano 293 e o ano 305 (AF 422).
Em relação à tendência para grafar b em detrimento de u depois da
consoante l ou da consoante r, não há exemplos a registar nas inscrições do
território português.
3.2. A consoante c e a consoante g
Primitivamente, o som [k] chegou a ser grafado de três maneiras: com c,
quando seguido de i ou e (ex.: citra, censor): com k, quando seguido de a ou
consoante (ex.: kaput, sakros); e com q, quando seguido de o ou u (ex.: qomes,
qura) (Niedermann, 1997, p. 9).
Este sistema de representação gráfica simplificou-se e o som [k] passou a
grafar-se, geralmente, com c, excepto quando era seguido de [u] e vogal. Nestes
casos, a grafia usada era q: aqua. Além do som [k], a grafia c representava o som
[g], ou seja, a mesma grafia representava as consoantes oclusivas palatais surda
e sonora.
47
No século III a.C., esta situação alterou-se. Ao C acrescentou-se um traço
e criou-se a grafia G. Desta forma, a consoante oclusiva palatal surda continuou
com a grafia C e a consoante palatal sonora começou a grafar-se com G. Esta
inovação é atribuída a Espúrio Carvílio Ruga cerca do ano 293 a.C., mas também
há quem defenda que o seu autor foi Ápio Cláudio (Kent, 1945, p. 36-37; Faria,
1970, p. 58). Um vestígio que ficou da época em que os dois sons tinham uma
grafia comum foi a manutenção das abreviaturas C. e Cn. para Gaius e Gnaeus.
Apesar de o som [k] e de o som [g] começarem a ter uma grafia própria,
muitas pessoas ainda grafavam, de forma errada, o som [g] com c. A epigrafia
documenta estas incorrecções e também uma confusão generalizada entre a
grafia das duas consoantes (Carnoy, 1906, 153-154; Väänänen, 1966, p. 53).
Depois da época de grafia comum, algumas pessoas fariam confusão e grafavam
o c com g e o g com c. Além de situar este fenómeno na segunda metade do
século I, a epigrafia de Pompeios mostra ainda a tendência para, nos
empréstimos gregos, se usar g em vez de c. Biville (1987, p. 25) refere que este é
um processo comum durante alguns séculos. O autor afirma que se trata de uma
sonorização ocasional, delimita o seu contexto37 e apresenta exemplos desde
Plauto até ao século IV. O Appendix Probi documenta a confusão entre as grafias
c e g, incluindo os casos dos empréstimos gregos: calatus non galatus, digitus
non dicitus, plasta non blasta (Väänänen, 1981, p. 201-202).
Na evolução do latim para as línguas românicas, a consoante c, em
posição intervocálica, tem tendência a sonorizar, à semelhança do que acontece
com as outras consoantes oclusivas surdas38. O século V é apontado como a data
da sonorização (Dottin, 1918, p. 47; Väänänen, 1981, p. 57). Um exemplo é a
passagem de securum a seguro, em português.
Nas inscrições do território português, temos grafias semelhantes às
antigas grafias que representavam o som [k], como a grafia k que, na zona norte,
surge em KARISSIME (CIL 5559), numa inscrição sem data. Em outras duas
37 A sonorização ocorreria quando o som [k] entrava em contacto com as vogais a, o ou u ou com as consoantes l, r, m ou n (Biville, 1987, p. 25). 38 É uma excepção a este contexto a consoante c seguida de e ou i.
48
inscrições, temos a letra k como abreviatura de palavras em que se esperaria a
grafia c: K(apita) (IRCP 142.2.), K(urauit) (CV 60). Só existe indicação cronológica
para o primeiro: finais do século I ou inícios do século II. Importa salientar que, no
caso do segundo exemplo, a grafia é inesperada, já que k só era usado antes da
vogal a ou antes de consoante. A grafia k surge, ainda, na abreviatura K(alendas).
Com a grafia q, temos exemplos fora do comum, já que q surge antes de i: QIS
(AF 611), SALQIV (RIRP 13), TRANQILLI e TRANQILLO (EFRBI 14). A indicação
cronológica mais antiga corresponde aos últimos: primeira metade do século I.
À excepção dos casos apresentados, a grafia do som [k] mantém-se dentro
dos parâmetros normativos: c, para a maioria dos contextos; q, antes de [u] e
vogal. Exemplos são: ARTIFICES, BARCARVM, CONCORDIAE, DELICIVM,
FACVNDVS; AQVAE, QVIRINA. Paralelamente, a grafia de g surge de forma
clara: COGITATA, DELIGANDA, FRIGIDVS, LEGEM, SINGVLA. É de salientar a
grafia QVIVS em vez de CVIVS. Esta oscilação gráfica entre q e c no genitivo
singular do pronome relativo está atestada na zona centro: IRTV 7 (v. Cap. III, 2.).
O exemplo data da primeira metade do século I. Uma hipótese que poderá
justificar a oscilação, neste caso particular, é a interpretação do i como uma vogal
e não como uma semivogal.
Apesar de os sons [k] e [g] apresentarem grafias próprias, estão
documentadas oscilações na sua representação. Uma das oscilações é visível
nas abreviaturas. Além de surgirem as formas C. e CN., surgem G. e GN. como
abreviaturas de Gaius e Gnaeus.
Em relação a G., a grafia surge como abreviatura de Gaius nos três casos:
nominativo, genitivo a dativo. O mesmo acontece com C.. No entanto, os
exemplos com C. são em maior número, em qualquer um dos três casos, ou seja,
C. é a grafia preferencial e G. surge num menor número de inscrições. A grafia G.
está atestada em todo o território português de um modo, em geral, uniforme,
existindo exemplos em número semelhante para cada uma das zonas. A sul, os
exemplos mais antigos datam de inícios do Império (IRCP 267) e de inícios do
século I (IRCP 425 e 428). Na zona centro, os mais antigos datam de inícios do
49
século I (FE 222) e da primeira metade do mesmo século (RERC 13) e, a norte,
do ano 80 (CIL 4803) e de inícios do século II (FE 196). Por vezes, surge mais do
que uma forma na mesma inscrição: IRCP 664; RERC 13 e 21; CIL 4756, 4757 e
6228. Também acontece, na mesma inscrição, estarem documentadas as duas
abreviaturas C. e G.: IRCP 151. Existe, ainda, um caso em que o nome surge
grafado com g, sem abreviatura: GAIVS (CIL 4816). Há dúvidas na datação da
inscrição. No entanto, é apontado o ano de 238.
Quanto a GN., os dois únicos exemplos surgem na mesma inscrição:
IRCP 580. A abreviatura é usada em dois contextos diferentes: no caso
nominativo e no caso genitivo. A inscrição data do século I. Tal como acontece
com C. e G., há mais exemplos de CN. do que GN..
Outra situação de oscilação entre a grafia c e a grafia g está documentada
nos nomes próprios, estando registadas formas duplas: PAGVSICV /
PAGVSIGAE, TANCINVS / TANGINVS, TONCETA / TONGETA, TONCIVS /
TONGIVS, VALCIA / VALGIAE. Os exemplos estão atestados, sobretudo, na zona
centro. Em relação à oscilação entre -brig- e -bric-, na designação de localidades,
não temos um exemplo directo. A oscilação é visível apenas comparando a
designação da localidade com a designação dos habitantes: CONIMBRICA
(FC 71), da segunda metade do século II, e CONIMBRICAE (FC 6 e 10), da
primeira metade do século I e de finais do século I ou de inícios do século II,
respectivamente; CONIMBRIGENSIS (EFRBI 111), do século I.
Um último caso que documenta a oscilação entre a grafia c e a grafia g é a
forma GOGNATIO por COGNATIO. A forma encontra-se numa inscrição, não
datada, da zona norte: AF 215.
Inversamente, temos exemplos de palavras grafadas com um c em
contexto onde se esperaria um g: COCNATAE (IRCP 404), ICAEDITANORVM
(Egit. 8), CONIVCI (NBA 2.6.). Só há indicação cronológica para o primeiro e para
o último exemplo. O primeiro é de cerca do ano 50 e o último do período entre o
ano 150 e o ano 250.
50
3.3. A consoante m em posição final
Os gramáticos e os oradores latinos atestam a pronúncia de m em posição
final de palavra (Faria, 1970, p. 95-97; Niedermann, 1997, p. 101-102).
Distinguem, também, o som resultante da articulação de m em posição final do
som resultante da articulação de m em início e em meio de palavra (Faria, 1970,
p. 95; Niedermann, 1997, p. 101), o que confirma a pronúncia diferente de m
consoante a posição.
Segundo as descrições feitas, a consoante era pronunciada de forma
bastante débil em posição final, causando o som até alguma estranheza. Esta
articulação débil é referida quando a palavra seguinte começa por vogal. Neste
contexto, m deveria deixar, sobretudo, uma marca de nasalidade na vogal
anterior. As descrições feitas insistem nesta ideia, referindo que m quase
corresponde a um sinal que existe para impedir as duas vogais de contrair39
(Faria, 1970, p. 96; Niedermann, 1997, p. 101). Os gramáticos latinos também
apontam pistas para esta ser a pronúncia quando a palavra seguinte começava
por consoante, mas em relação a este contexto ainda subsistem dúvidas quanto à
articulação da consoante40.
Na epigrafia, confirma-se a debilidade de m em posição final. Já no
século III a.C., a consoante aparece omitida no epitáfio de Lúcio Cornélio Cipião,
independentemente de ser antes de palavra iniciada por vogal ou por consoante
(Niedermann, 1997, p. 102-103). Esta tendência para a omissão de m mantém-se
pelos séculos seguintes, sobretudo em inscrições de carácter popular41. Na
39 A métrica também confirma esta teoria, já que m em posição final seguido de palavra iniciada por vogal é elidido. 40 A métrica aponta, neste caso, um caminho diferente, pois a sílaba final, quando a palavra terminava em m e era seguida de uma palavra iniciada por consoante, era considerada longa. Niedermann (1997, p. 104) indica que, independentemente do contexto, m em posição final, no período pré-literário romano já era sentido apenas como um traço de nasalidade da vogal anterior. 41 Niedermann (1997, p. 103) confirma esta ideia, referindo que nas inscrições oficiais começa a fazer -se a reposição da consoante. O autor exemplifica com o texto do Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C.. Väänänen (1966, p. 71) refere que a reposição de m em posição final de palavra é um cuidado do falar urbano e situa-a na época clássica. Kent (1959, p. XXI), por seu turno, situa a reposição de m cerca do ano de 130 a.C..
51
epigrafia do século I (Väänänen, 1966, p. 72-75; Flobert, 1992, p. 107), esta
tendência está atestada, por vezes em diferentes contextos, como é o caso da
epigrafia de Pompeios. Carnoy (1906, p. 205-209) também a documenta
amplamente na Península Ibérica, apresentando exemplos ainda da época da
República42.
Na passagem do latim para as línguas românicas, a tendência para a
queda de m em posição final mantém-se. O Appendix Probi (Väänänen,
1981, p. 202-203) apresenta exemplos desta situação: triclinium non triclinu,
numquam non numqua, pridem non pride, olim non oli, idem non ide. A tendência
em algumas línguas românicas, como o português, foi para a queda de m no final
de polissílabos. Em alguns monossílabos, a consoante manteve-se (Väänänen,
1981, p. 67; Niedermann, 1997, p. 104). Como exemplo da queda na evolução
para português, temos a queda de m final no caso acusativo, caso etimológico do
português: caelum > céu; oriculam > orelha; poenam > pena. Como exemplo da
manutenção, temos a passagem de cum a com.
A epigrafia do território português confirma a manutenção da consoante m
em posição final. Numerosos exemplos documentam a manutenção. Destes,
destacamos alguns, como: ADMINISTRATAM, AMPLISSIMVM, ANNORVM,
CAPIENTEM, ETIAM, HONOREM, PONTEM, SIGNVM.
Apesar da manutenção estar indubitavelmente atestada, há exemplos de
omissão de m em posição final de palavra. Temos, por ordem alfabética,
exemplos como: ANNORV, ANORV, ARA, DEV, MENSE, MISOLIO, QVA,
SACRV, SVORV, VIA, VOCTO, VOTV. Pelos exemplos apresentados, pode
perceber-se que a consoante é omitida, tanto nas desinências de acusativo
singular, como nas desinências de genitivo plural. A omissão ocorre em diferentes
contextos: antes de vogal, antes de consoante ou no final de uma linha ou de uma
inscrição.
42 Ao analisar os materiais de Bu Njem, Adams (1994, p. 106) demonstra que m em posição final, no caso acusativo, é mais frequentemente omitido depois de a do que depois de u ou e, ou seja, a consoante surge omitida mais vezes no acusativo singular da primeira declinação, em comparação com a segunda e a terceira.
52
As ocorrências existentes estão repartidas de modo uniforme pelas três
zonas do país. Na zona sul, o exemplo mais antigo data do século I: STATVA
(IRCP 92). Na zona centro, data da segunda metade do século I: MVNIMENTV
(ERFBI 107). Na norte, diferentes exemplos encontram-se na inscrição mais
antiga: AGNV, BOVE, VACCA (RAP 469). A inscrição tem a data precisa de 9 de
Abril de 147. Existe, ainda, uma outra, a norte, do século II, com o exemplo
SACRV: AF 5.
3.4. A consoante s em posição final
Na época arcaica, a consoante s em posição final aparece frequentemente
omitida nas inscrições (Faria, 1970, p. 109; Niedermann, 1997, p. 96). A omissão
ocorria quando a consoante era precedida de uma vogal breve e a palavra
seguinte começava por consoante. Faria (1970, p. 109) restringe praticamente
este processo à terminação -os, antes de esta evoluir para -us. Tal tendência para
a omissão neste contexto é confirmada pela métrica de peças de Plauto e de
Terêncio (Faria, 1970, p. 229; Niedermann, 1997, p. 96). Em outros contextos, a
omissão não se dava43. Segundo Faria (1970, p. 107), a omissão de s estava
relacionada com uma articulação débil da consoante em contexto de final de
palavra.
No século II a.C., há uma mudança: a consoante deixa de ser omitida44.
Este esforço para a reposição da consoante está atestado pela epigrafia e pela
métrica de alguns autores latinos45 (Niedermann, 1997, p. 97).
Cícero atesta a omissão de s, definindo claramente o contexto, na época
arcaica, e a sua reposição (Faria, 1970, p. 107-108; Niedermann, 1997, p. 96). O
orador latino refere que a tendência para a omissão, na sua época, era 43Faria (1970, p. 109) e Niedermann (1997, p. 97) referem que a omissão não ocorria quando a consoante s em posição final era precedida de uma vogal longa ou seguida de uma palavra iniciada por vogal. 44 Kent (1959, p. XXI) precisa que cerca do ano 130 a.C. esta mudança começa a estar patente nas inscrições. 45 Niedermann (1997, p. 97) aponta uma data anterior, referindo o Senatusconsulto das Bacanais de 186 a.C..
53
considerada rústica. Esta informação confirma a teoria de que a reposição da
consoante terá sido um cuidado do falar urbano.
A epigrafia de Pompeios documenta, no século I, a reposição de s no
contexto em que se omitia na época arcaica (Väänänen, 1966, p. 77-81). Carnoy
(1906, p. 187), embora apresente vários exemplos da omissão de s, em posição
final de palavra, na epigrafia da Península Ibérica, insiste na ideia de que se trata
de uma abreviatura gráfica e não de uma característica com valor fonético.
Analisando os materiais de Bu Njem, Adams (1994, p. 106-107) explicita que as
consoantes finais -m e -s apresentam tratamentos diferentes. Enquanto é
frequente omitir -m, a consoante -s, por contraste, é notavelmente mantida. O
autor não regista um único caso de omissão de -s46 e refere que o tratamento
diferenciado destas duas consoantes finais é típico em muitos textos47.
Na passagem para as línguas românicas, s em posição final é tratado de
duas maneiras: a Leste, acaba por ser eliminado; a Oeste, é mantido (Väänänen,
1981, p. 68; Niedermann, 1997, p. 97). Niedermann aponta, como factores para a
manutenção, a influência da escola e a tendência da pronunciação indígena
(1997, p. 97). Em português, há inúmeros exemplos de s em posição final, como a
formação do plural dos nomes ou certas palavras como menos e mais.
Nas inscrições do território português, a manutenção da consoante s em
posição final está atestada. Temos exemplos como: AERARIAS, AETATIS,
ANNIS, ASINOS, AVGVSTALES, CARIORES, CIVIBVS, CIVITAS, CONSERVVS,
FACVNDVS, FILIVS, PIVS.
A par da manutenção da consoante, surgem alguns exemplos da sua
omissão em final de palavra. A sul, temos: PEREGRINV (IRCP 105), CHRESIMV
(IRCP 435). O mais antigo é o primeiro: data da segunda metade do século II.
Ambos ocorrem em final de linha. A linha seguinte começa por consoante,
também nos dois casos. No centro, temos, de sul para norte: VETIARV
(CIL 5231), FILIV (FC 357b), APANONI (EFRBI 34), FILIO (FE 241). O exemplo 46 Adams (1994, p. 107) apresenta um universo de 363 casos de s em posição final. 47 Uma das excepções, já sugerida por Adams (1994, p. 107), é a de Graufesenque. Nos grafitos desta localidade, as duas consoantes m e s, em posição final, apresentam um tratamento semelhante, estando, por vezes, omitidas (Flobert, 1992, p. 107-108).
54
mais antigo é o terceiro: inícios do século I. O primeiro e o terceiro ocorrem em
final de linha, sendo a linha seguinte iniciada, no primeiro caso, por vogal e, no
segundo, por consoante. O segundo e o quarto são seguidos de consoante. A
norte, temos o mesmo exemplo em duas inscrições: ANNI (ERRB 19 e 58). As
duas têm a mesma data: segunda metade do século II ou século III. O primeiro
exemplo ocorre em final de linha. Os dois são seguidos de algarismos que
indicam idade. Existe, ainda, outro, a norte, sem data: CORINTHV (AF 77a). A
forma ocorre em final de linha, sendo seguida, na linha seguinte, de consoante.
3.5. As consoantes duplas
Durante algum tempo, não era costume grafar as consoantes duplas,
havendo documentação epigráfica que o comprova (Faria, 1970, p. 117). Só nos
inícios do século II a.C. há notícias de alteração desse costume. O primeiro
exemplo existente de grafia das consoantes duplas é o Decreto de Paulo Emílio,
em 189 a.C.48 (Faria, 1970, p. 117; Niedermann, 1997, p. 112). A tendência para
grafar as consoantes duplas é atribuído a Énio por Festo. No entanto, o costume
para grafar as consoantes duplas parece ter demorado a generalizar-se, como
comprova Niedermann, ao analisar uma inscrição de 117 a.C. (1997, p. 112).
Alguns autores defendem diferentes modos de articulação em relação às
consoantes duplas (Mariné, 1952, p. 42). Niedermann (1997, p. 112) e Väänänen
(1966, p. 58) referem uma tensão particularmente enérgica na articulação destas
consoantes. O ouvinte conseguiria distingui-las das simples, já que teria a
sensação de estar a ouvir um som duplo, com dois tempos de articulação. As
consoantes duplas seriam, assim, pronunciadas com uma só articulação forte e
prolongada (Niedermann, 1997, p. 112).
Na evolução do latim para as línguas românicas, houve a tendência geral
para as consoantes duplas se simplificarem e se tornarem simples. O italiano 48 Kent (1959, p. XXIII) dá um exemplo anterior a este numa inscrição em que se pretendia transliterar uma palavra grega. A inscrição data de 211 a.C..
55
constitui uma excepção nesta tendência, já que mantém as consoantes duplas.
Como as consoantes simples oclusivas surdas em posição intervocálica tiveram
tendência para sonorizar, Väänänen (1981, p. 58) refere que as consoantes
duplas só se simplificaram depois de as oclusivas surdas terem sonorizado, o que
terá evitado ambiguidades. O mesmo autor refere que as consoantes duplas
líquidas, rr e ll, resistiram mais tempo do que as outras, sobretudo na zona
ocidental da Europa, e exemplifica esta ideia, em português, com a palavra terra.
A consoante ll terá resistido melhor em castelhano. A tendência para a
simplificação das consoantes simples está documentada na epigrafia do século I
(Väänänen, 1966, p. 59-60; Flobert, 1992, p. 107) e é visível, por exemplo, na
evolução de flammam para chama, em português. O Appendix Probi documenta a
confusão entre consoantes simples e duplas: capsesis non capsessis, suppellex
non superlex, caligo non calligo, garrulus non garulus (Väänänen, 1981,
p. 201-202).
Antes de se ter dado esta simplificação das consoantes duplas, em latim, já
se tinha dado a simplificação de algumas consoantes. A consoante dupla ss, no
início do Império, simplifica-se depois de vogal longa ou de ditongo. A inscrição
conhecida como Laudatio Turiae documenta, ainda no final do século I a.C., a
antiga tendência, antes da simplificação49. Na inscrição pode observar-se as
formas caussam (I, 18) e caussa (II, 32). A consoante dupla ll também se
simplifica, depois de ditongo ou depois de uma vogal longa, se ll for seguida de i.
A palavra paulum, em latim, confirma o primeiro contexto. Para além destes dois
casos, também se simplificam as consoantes duplas que são seguidas de uma
sílaba acentuada longa. A palavra canalis formada a partir de canna exemplifica
este caso.
Inversamente, em latim, também se dá o caso inverso: a tendência para
tornar dupla uma consoante que era simples. Este fenómeno é designado por
geminação expressiva (Väänänen, 1981, p. 59) e ocorre, sobretudo, em palavras
utilizadas com valor afectivo. Väänänen refere que tal ocorria com palavras que
49 O epitáfio foi gravado entre o ano 8 a.C. e o ano 2 a.C. (Introduction, p. LIV).
56
traduziam interpelação ou nomes, com adjectivos que indicavam deformidades e
defeitos e com termos infantis e exemplifica com Iuppiter, Varro, flaccus, lippus,
atta e mamma (1981, p. 59-60). O mesmo autor refere que a tendência para
tornar dupla uma consoante simples, por vezes, originava duas versões da
mesma palavra: uma com consoante simples, a outra com consoante dupla. O
Appendix Probi também chama a atenção para esta tendência ao apresentar a
forma draco non dracco (Väänänen, 1981, p. 201).
Na epigrafia do território português, a escrita de duas consoantes é a
norma seguida, na maior parte das situações, quando se pretende grafar uma
consoante dupla. Vários são os exemplos que confirmam esta tendência: ACCAE,
ANNIS, ANNOS, APOLLINI, CARISSIMAE, CIPPVM, ENDOVELLICO,
FERRAMENTA, METALLIS, MISSIONE, MITTENT, NVMMOS, OFFICINA,
OFFICIS, SVMMAE, TELLVS, TERRA, VACCA.
Em algumas situações, no entanto, verifica-se a escrita de uma consoante
dupla como se fosse uma simples. Temos exemplos da redução gráfica das
consoantes cc, ll, mm, nn, pp, rr, ss.
De cc, existe o exemplo FLACVS, registado a norte e sem data (AF 223).
De ll, diferentes exemplos, ocorrendo alguns mais do que uma vez, e todos
registados a sul: ENDOVELICO, ENDOVOLICO, ENOBOLICO, GALIO, NOVELA,
TESSELAM, TITVLI. Das três ocorrências datadas, uma suscita dúvidas:
NOVELA (IRCP 611), talvez do século II. As outras duas datam do século I:
GALIO (IRCP 446) e ENDOVOLICO (IRCP 517). No centro, existe mais um
exemplo, do período entre o ano 98 e o ano 117: FELAT (FC 357b). De mm,
apenas existem dois exemplos da redução da consoante, ocorrendo os dois na
mesma inscrição, do século III: MVMIA e MVMIVS (IRCP 333).
A consoante nn é aquela que apresenta uma maior número de casos de
simplificação. Os exemplos são mais numerosos a sul do Tejo. Nesta zona,
temos: ANIS, ANO, ANONIVS, ANORVM, ANORVN, ANORV, HIRINIANA,
PERENIA. Os exemplos mais antigos datam do século I e da segunda metade do
século I: ANORVM (IRCP 628 e 646) e ANONIVS (IRCP 578), respectivamente.
57
Na zona centro, existe apenas um exemplo, com a data do século III:
HERENIANVS (CV 44b). A norte, a mesma forma surge repetida duas vezes:
ANORVM (AF 294; ERRB 33). Só existe indicação cronológica para a segunda
ocorrência: século II ou século III.
Em relação às restantes consoantes duplas, de pp apenas há dois
exemplos de redução: EPOLITA (IRCP 301), HYPOLITVS (IRCP 643). Só o
primeiro está datado: segunda metade do século II. De rr, também há dois: TERA
(IRCP 399) e REBVRO (Odr. 1 III). Só existe indicação de data para o primeiro:
inícios do século III. De ss, há três exemplos: CASIANA e CASIANAE (EO 69) e
MESALA (ERRB 68). Só o último é datado: século I ou século II.
Inversamente, está registada a grafia de consoantes duplas em vez de
consoantes simples. Tal acontece com as consoantes c, d, l, p, r, s, t.
A consoante c está grafada com cc, de sul para norte, nos seguintes
exemplos: ORICCLO (IRCP 259), PRECCIA e PRECCIVS (IRCP 595a), LVCCIVS
(Odr. 3 8). O primeiro exemplo data do século III; o segundo de finais do século II
ou inícios do século III. Para os restantes não existe indicação cronológica. A
consoante d surge grafada duplamente no nome próprio HADDRIANVS (CV 103)
e na abreviatura da expressão DIS MANIBVS SACRVM: DD (IRCP 358). O
primeiro exemplo, o único datado, é do período entre o dia 10 de Dezembro de
120 e o dia 9 de Dezembro de 121. A consoante l surge como ll, de sul para norte,
em: IVLLIA (IRCP 502), VALLERIA (FE 194), SALLVIA (CIL 5220) e FILLI
(EFRBI 227). Datados são apenas o segundo e o quarto exemplos: finais do
século III e século I, respectivamente. De p grafado pp, apenas existe um
exemplo, sem data: CVPPIDINI (RAP 470). Para a consoante r, também só existe
uma forma, igualmente sem data: PRETORRIO (AF 451). A consoante s aparece
duplicada na mesma abreviatura em que surge DD: SS (IRCP 358). Para t
grafado como tt, temos dois exemplos: CVRAVITT (IRCP 585) e CATTIA (CV 29).
O primeiro data da segunda metade do século I; o segundo do século II.
58
3.6. Os grupos consonânticos
3.6.1. O grupo cs
O grupo cs era grafado, normalmente, através de uma só consoante: x. No
entanto, desde o Senatusconsulto das Bacanais que parece ser corrente na
epigrafia latina grafar o som de maneira diferente, através das consoantes xs
(Väänänen, 1966, p. 64). Desta forma, pretendia-se notar melhor a consoante
dupla. Kent (1959, p. XXIII) refere que a grafia xs começa a ser cada vez mais
comum a partir da época de Augusto. Na epigrafia de Pompeios, esta tendência
gráfica inovadora está atestada num grande número de formas (Väänänen, 1966,
p. 64).
Carnoy refere que o grupo cs evolui de maneira diferente na passagem do
latim para as línguas românicas, apoiando-se em exemplos epigráficos (1906,
p. 161). Na Itália, terá perdido o elemento palatal, visto que no século V abundam
os exemplos em que o grupo era grafado com ss. Väänänen também documenta
esta tendência para o italiano e para o francês (1981, p. 65). Na Península
Ibérica, o grupo terá mantido o elemento palatal, que terá semivocalizado. Um
exemplo desta evolução é a passagem de laxare a leixar, em português medieval.
Esta forma terá evoluído depois para deixar.
Na epigrafia do território português, a manutenção da grafia x para o grupo
cs está atestada: ALEXANDER, IVXTA, MAXIMA, MAXIMVS, SEXTA, VXOR. No
entanto, diferentes exemplos documentam a grafia xs para registar o grupo: EXS,
MAXSIMIANVS, MAXSIMINVS, MAXSVMA, MAXSVMVS, VIXSIT, VXSOR. Os
exemplos estão registados de modo uniforme pelas regiões sul, centro e norte. A
sul, os exemplos datados mais antigos são: MAXSVMA (IRCP 592, 594 e 597),
MAXSVMI (IRCP 594), VXSOR (IRCP 92 e 592), do século I. Na zona centro,
são: EXS (CV 12), MAXSVMA (IRTV 7), VXSORI (EFRBI 236), da primeira
metade do século I, e VXSORI (EFRBI 61), do século I. A norte, o exemplo mais
59
antigo data do ano 3 ou 2 a.C.: MAXSIMI (RAP 477). Por vezes, surge mais do
que um exemplo na mesma inscrição: IRCP 451, 592 e 594; RAP 338.
Paralelamente, surgem outras formas de grafar o grupo cs. Numa inscrição
da zona sul, temos SESTIAE (IRCP 114). A inscrição data do século III. Ainda a
sul, temos VISSIT (IRCP 346) e, também, VCXORIS (IRCP 569). A primeira forma
data de finais do século III. Para a segunda, não existe indicação cronológica. Na
região centro, temos, numa inscrição sem data, VCSORI (CIL 349).
3.6.2. O grupo ct
O grupo ct apresenta, em latim, tendência para se reduzir a t. Esta
tendência está documentada pela epigrafia (Väänänen, 1966, p. 63-64), na
segunda metade do século I, e pelo Appendix Probi: auctor non autor e auctoritas
non autoritas (Väänänen, 1981, p. 202). Carnoy refere que esta tendência é
bastante antiga (1906, p. 159). Na evolução do latim para as línguas românicas, o
grupo tem, no entanto, um tratamento diferente: enquanto que no italiano evolui
para tt, no português e nas outras línguas da Península Ibérica o c semivocaliza.
A passagem de octo a oito e de noctem a noite, em português, ilustra a
semivocalização.
Nas inscrições do território português, está documentada a manutenção do
grupo ct: ACTOR, ACTVM, CONDVCTA, CONDVCTOR, INVICTO, NOCTIS,
OCTAVA, VICTOR.
A redução do grupo a t não está registada, mas existe uma forma que
documenta a grafia ct em vez de t: VOCTO (CV 19). O exemplo encontra-se
numa inscrição que data do século I ou do século II. Existe, ainda, outro exemplo
que pode ser interpretado da mesma maneira: ACTRIVM (CIL 4824). No entanto,
o contexto da inscrição, sem data, não é esclarecedor, para se perceber se se
trata de uma forma inversa.
60
3.6.3. O grupo nct
O grupo nct, em latim, reduz-se a nt. Uma confirmação dessa tendência é a
grafia nt comum na epigrafia de diversas regiões (Väänänen, 1981, p. 62).
Exemplo concreto é a grafia santus em vez de sanctus. Väänänen aponta como
tardios os dados epigráficos (1981, p. 62) e Carnoy, na Península Ibérica, regista
apenas um exemplo anterior ao século IV (1906, p. 166). No entanto, este último
autor nota que, numa inscrição do início do século I, surge uma grafia ao
contrário, com nct em vez de nt. Na evolução para as línguas românicas este
grupo teve tratamentos diferentes. O português, o castelhano e o italiano
confirmam a redução do grupo a nt, não apresentando vestígios da consoante
palatal. Exemplos, em português, são as palavras santo e defunto. Em francês, a
consoante palatal terá deixado vestígios, levando à presença de um i antes do
grupo: saint.
Nas inscrições do território português, a manutenção do grupo nct está
documentada: CVNCTA, DEFVNCTO, SANCTAE, SANCTISSIMO, SANCTO.
Quanto à redução do grupo em nt, não há formas a assinalar. Também, não há
formas com a grafia nct por nt.
3.6.4. O grupo ns
O grupo ns apresenta tendência para se reduzir. Na época arcaica, já há
notícias em relação a essa tendência. No século III a.C., num dos epitáfios dos
Cipiões, as palavras em que devia estar ns aparecem grafadas apenas com s:
cosol, cesor (Väänänen, 1966, p. 68; Väänänen, 1981, p. 64).
Na época arcaica, o n já correspondia a um débil som nasal quando se
pronunciava o grupo (Mariné, 1952, p. 44). Com o passar do tempo, a consoante
nasal acaba por perder a força e deixa de se articular, fazendo-se o alongamento
da vogal anterior. Esta tendência para a redução do grupo está atestada por
vários gramáticos e autores latinos (Väänänen, 1981, p. 64).
61
Numa tentativa de correcção etimológica, ainda se fez um esforço para a
reposição da consoante n, sobretudo na grafia. Tal tentativa relaciona-se, desde o
seu início, com a influência de uma classe mais culta. A reposição de n, na grafia
e na pronúncia, acaba por não se generalizar, correspondendo apenas a um
estrato da população. Os outros continuam a articular o grupo já sem a presença
do elemento nasal.
A tendência para a redução de ns está documentada na epigrafia do
século I (Carnoy, 1906, p. 171; Väänänen, 1966, p. 68-69; Flobert, 1992, p. 107) e
na evolução do latim para as línguas românicas. O Appendix Probi apresenta as
formas ansa non asa e tensa non tesa (Väänänen, 1981, p. 201-202).
Inversamente, apresenta, também, as formas Hercules non Herculens, formosus
non formunsus e occasio non accansio (Väänänen, 1981, 200-202). Na evolução
para o português, temos, por exemplo, a passagem de mensam a mesa, de
pensare a pesar e de sponsum a esposo.
Na epigrafia do território português, está registada a grafia ns:
AMMAIENSIS, AQVIFLAVIENSES, BALSENSIS, CENSORI, CONSVL, LIBENS,
MENSIBVS, OLISIPONENSIS.
A par da manutenção do grupo, está igualmente registada a sua redução,
sem o elemento nasal: CALANTICESI, COLLIPPONESIVM, COSTANTINO,
LAQVINIESI, LIBES, ROMVLESIS, SERMACELESIS. Apesar de a diferença não
ser muita, há mais exemplos nas regiões centro e norte do que a sul. Quanto a
datas, o exemplo mais antigo, a sul, é do século I: IMPESAM (IRCP 187). Na
zona centro, é do mesmo século: LANCIESI (EFRBI 37). A norte, o exemplo mais
antigo data do período entre o ano 80 e o ano 150: PVDES (NBA 2.9.).
Inversamente, estão registadas duas formas que apresentam a grafia ns
em vez de s: RENSPONSV (IRCP 484), INSIDI (AF 87). A primeira não está
datada. A segunda está numa inscrição que é posterior ao ano 150. Podemos,
ainda, destacar que a par da abreviatura CONS surge COS, para a palavra
consul. A segunda é aquela que surge mais vezes, mesmo na abreviatura da
derivada proconsul.
62
3.6.5. Os grupos ps, pt e rs
Os grupos ps e pt apresentam uma tendência para a assimilação, o
primeiro para ss e o segundo para tt. A epigrafia documenta a assimilação do
primeiro, na segunda metade do século I (Väänänen, 1966, p. 65-66). A evolução
do latim para as línguas românicas atesta a assimilação dos dois. Ipse evolui, em
português, para esse e septem para sete, tendo, neste último caso, ocorrido uma
simplificação do grupo tt.
O grupo rs também apresenta uma tendência para a assimilação. Numa
fase primitiva, a assimilação terá transformado o grupo em rr. Esta ter-se-á dado
num estádio muito antigo da língua, numa época que Väänänen designa de
pré-histórica (1981, p. 62). Um exemplo deste tipo de assimilação é a formação
do infinitivo do verbo fero. Ao radical fer ter-se-á juntado se e a forma evoluiu para
ferre. Numa época bem posterior, o grupo terá sofrido outra tendência de
assimilação, que Väänänen classifica de popular (ibid.). Esta segunda tendência
de assimilação leva o grupo a grafar-se com ss. Carnoy refere que esta tendência
se terá operado em latim vulgar antigo e apresenta exemplos do século II na
epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 160). Por vezes, o grupo é grafado
apenas com s.
Na evolução do latim para as línguas românicas, confirma-se a evolução de
rs para ss. O Appendix Probi faz referência a persica non pessica50 (Väänänen,
1981, p. 202) e persicum evoluiu, no português, para pêssego.
Em relação ao grupo ps, na epigrafia do território português, está
documentada a grafia do grupo: CONLAPSOS, IPSE, IPSO, SCRIPSI. Quanto à
sua tendência para a assimilação não há registos a assinalar, exceptuando o caso
de um exemplo fragmentado do ano 238, no qual se pode perceber a assimilação
do grupo em s: ONL[A]SOS por CONLAPSOS (AF 414). Existe uma forma que
documenta uma transformação do grupo, mas uma transformação de outro tipo: 50 Väänänen refere a existência de formas, em diferentes línguas românicas, provenientes das duas variantes (1981, p. 62).
63
TERSPICORE (IRCP 263). A forma está por TERPSICHORE. O que ocorre no
exemplo é a deslocação da consoante s (metátese), formando esta um grupo
com r. A inscrição em que se encontra data de finais do século II ou de inícios do
século III.
Em relação ao grupo pt, na epigrafia do território português, está registada
a manutenção da grafia pt: APTO, COEPTVM, EMPTOR, NEPTI, OPTIMAE,
OPTIMVS, SEPTIMI, SCRIPTVM. Quanto à sua tendência para a assimilação em
tt, não há casos a assinalar. Temos, apenas, a registar uma forma com a
transformação de p na sua correspondente sonora b: SCRIBTVM (IRCP 143.3.).
O exemplo data do período entre o ano 117 e o ano 138.
Em relação ao grupo rs, a sua grafia está igualmente atestada, nas
inscrições do território português: ADVERSVS, PERSAE, VNIVERSVM, VRSA.
Quanto à tendência do grupo para assimilar, não há formas registadas.
3.6.6. Os prefixos
Na língua latina, são numerosas as palavras derivadas através de
prefixação. Devido a este processo de formação de palavras, muitas vezes o
prefixo entra em contacto com uma consoante. Um exemplo disto é a junção do
prefixo ad com o verbo fero. Quando o prefixo termina em consoante e a palavra
a que se vai juntar inicia por consoante, como é o caso do exemplo, há a
tendência para a assimilação, que consiste no nivelamento dos traços
articulatórios das duas consoantes, caso estas sejam diferentes. Desta forma,
torna-se mais fácil a articulação dos segmentos. A assimilação pode ser total ou
parcial. No caso do exemplo apresentado, a assimilação que se dá é total: affero.
A assimilação pode, ainda, ser progressiva, quando a primeira consoante modifica
a segunda, ou regressiva, quando é a segunda a modificar a primeira. O processo
de assimilação acontece, sobretudo, quando as consoantes se encontram entre
vogais.
64
Quando se opera a formação de palavras com os prefixos ad e con e a
palavra seguinte começa por consoante, a tendência preferencial do latim é a
ocorrência da assimilação total (Väänänen, 1981, p. 61). No entanto, é comum a
existência de formas não assimiladas: adficio. Estas seriam preconizadas e
defendidas pelos gramáticos. Väänänen, analisando vários materiais, chega à
conclusão de que as formas assimiladas seriam mais comuns nas inscrições e as
formas não assimiladas nos manuscritos (1981, p. 61). A junção de ad com os
verbos mitto e moueo, normalmente, não dava origem a assimilação, para não
haver confusão, oralmente, com amitto a amoueo. Carnoy (1906, p. 165)
documenta na epigrafia formas assimiladas e refere que estas eram preferenciais
a formas não assimiladas (ex.: astans em vez de adstans).
Considerando os prefixos que terminam em consoante, nas inscrições do
território português, há diferentes situações a assinalar. Em relação ao prefixo ab,
não existem exemplos a documentar a assimilação. Os existentes não
apresentam alterações fonéticas: ABNEPOTI.
Quanto ao prefixo ad, está registada, igualmente, a prefixação sem
alterações fonéticas: ADDICTA, ADDIXERIT, ADIVTOREM, ADIVTAM,
ADMINISTRATAM. Mesmo antes de n ou s, o prefixo mantém-se sem alterações:
ADNEPOTI, ADSIGNATA, ADSIGNATOS. A assimilação está registada antes
de c, ACCEPERIT, ACCIPITO, e antes de t, ATTINGERE. Existem duas formas
não assimiladas, num contexto em que se esperaria o fenómeno. Uma
encontra-se na zona sul, a outra na zona centro: ADLECTO (IRCP 151),
ADLECTVS (Odr. 1 XIII). Só há indicação cronológica para a segunda: século II.
Existe, ainda, outra forma que documenta a assimilação incompleta do prefixo.
Neste caso, trata-se de uma assimilação regressiva incompleta, já que o d passa
a t, adquirindo a característica de consoante surda à semelhança de f: ATFINIS
(EO 125). A inscrição em que se encontra o exemplo não tem indicação
cronológica.
O prefixo con está documentado, por vezes com alterações. Está registada
a forma com, antes de bilabial: COMMISSA, COMMODA, COMMVNES,
65
COMPETRI. A forma con, em outros contextos: CONCESSERVNT,
CONCORDIAE, CONDICIONE, CONDVCTA, CONDVCTOR, CONFERAT,
CONIVGI, CONSERVANDA, CONSERVVS, CONSOBRINI, CONTVBERNALES,
CONVICTVS. A forma co antes de gn: COGNATO, COGNOVERO. As formas
assimiladas, antes de l: COLLEGIVM, COLLIGITO. Existem, no entanto, formas
não assimiladas, em contexto de assimilação. De sul para norte, temos:
CONLATO (IRCP 187 e 241), CONLIBERTO (AF 245), CONLAPSOS (ERRB 131;
CIL 4756). A primeira ocorrência do primeiro exemplo data do século I. O terceiro
exemplo, na primeira ocorrência, tem a data do período entre o ano 235 e o ano
238 e, na segunda ocorrência, tem a data de 238. Para as restantes, não existem
indicações cronológicas. Há, ainda, três formas que, pelas particularidades
apresentadas, são dignas de registo. A primeira é COIVGI (NBA 3.2.).
Assinalamos, neste caso, a ausência de n. A forma data do século II. A segunda é
COMFISCATO (IRCP 143.10.). Destacamos a consoante m, num contexto em
que se esperaria n. O exemplo encontra-se numa inscrição que data do período
entre o ano 117 e o ano 138. A terceira é CONIACTIA (IRCP 298). Neste caso,
destacamos a vogal i, em vez da consoante l, e a não assimilação do n final do
prefixo. A forma data do século II.
No que respeita ao prefixo in, temos a forma im antes de bilabial:
IMMORTALES, IMMVNES, IMPENSA, IMPERATO. A forma in surge em outros
contextos: INCOLA, INCOMPARABILIS, INDOMITAS, INDVLGENTISSIMO,
INFERET, INIMICVS, INSTAT, INSTRVENDVM, INTITVLO, INVENTAS,
INVICTO, INVOLAVERIT. A forma i aparece antes de gn: IGNOTVS. Tal como
acontece com os prefixos ad e con, há registo de formas não assimiladas, em
contexto de assimilação. Temos para este caso apenas um exemplo: INLATA
(IRCP 239). A forma data da primeira metade do século I. Paralelamente, há
formas que apresentam n, em contexto de m, ou seja, antes de bilabial:
INMOLANTVR, INPENSA, INPVBERES. Os exemplos ocorrem a norte e,
sobretudo, a sul, nas Tábuas de Aljustrel: IRCP 142 e 143. A norte, não há
66
exemplos datados. A sul, os mais antigos encontram-se na inscrição IRCP 142 e
datam de finais do século I ou inícios do século II: INPENSA, INPVBERES.
Em relação ao prefixo ob, temos exemplos da prefixação sem ocorrência
de assimilação: OBIT, OBSEQVENTISSIMAE, OBSERVABVNTVR. Temos,
igualmente, exemplos de assimilação: OCCASVM, OCCVPABIT, OCCVPANDI.
Existe, ainda, uma forma que apresenta a assimilação incompleta regressiva da
consoante do prefixo, já que b se transforma na correspondente surda, por
influência de s: OPSEQVENTISSIMO (FC 71). A forma data da segunda metade
do século II.
O prefixo per só está documentado em formas em que não ocorre
assimilação: PERACTA, PERCIPIENT, PERDVXERIT, PERMISERIT,
PERMITTITO, PERSOLVERIT, PERTINEBIT, PERTINETO. Mesmo antes de l,
prevalece a não assimilação: PERLEGISTI.
Quanto ao prefixo sub, está registado em formas não assimiladas, nos
seguintes contextos: SVBDVCET, SVBICITO, SVBIECERIT. Em situação de
assimilação, o prefixo está documentado antes de c: SVCCESSIS. Surge, ainda,
na forma sus, antes de t: SVSTVLISSE. Em vez de sus, já que esta forma do
prefixo também surge antes de c, temos documentadas as seguintes formas:
SVCCEPTO e SVCCEPTVM (IRCP 514). A inscrição em que se encontram não
tem indicação cronológica.
67
Capítulo III
Morfologia
68
1. Nomes
1.1. A declinação
1.1.1. O género
O latim apresentava três géneros: masculino, feminino e neutro. Desde
cedo, o neutro apresenta a tendência para desaparecer e para se confundir com o
feminino e, sobretudo, com o masculino (Ernout, 1953, p. 2). Esta confusão está
documentada com a existência de algumas formas duplas: forma feminina e
forma neutra da mesma palavra ou forma masculina e forma neutra ( id., p. 2-3).
As formas duplas demonstram a hesitação do povo latino entre os géneros e
comprovam a ideia de declínio do neutro. Em relação às formas duplas femininas
e neutras, Väänänen (1981, p. 102) apresenta exemplos de Énio e de Plauto.
Quanto às formas duplas masculinas e neutras, Ernout (1953, p. 2) apresenta
como exemplos mais antigos os de Plauto e de Catão51.
A confusão do neutro com o masculino e com o feminino e o declínio deste
género estão, também, documentados em epigrafia. Exemplos da época de
Augusto e do século I estão patentes nas inscrições da Península Ibérica (Carnoy,
1906, p. 226) e da segunda metade do século I nas inscrições de Pompeios
(Väänänen, 1966, p. 82).
Na evolução do latim para as línguas românicas, o género neutro
desapareceu, tendo grande parte das palavras neutras sido absorvidas pelo
género masculino. A evolução de algumas em diferentes línguas românicas
comprova a existência de duplas formas já em latim52 (Väänänen, 1981, p. 102).
51 Para este caso, são abundantes os exemplos em Petrónio (Väänänen, 1981, p. 102). 52 Väänänen (1981, p. 102) apresenta o exemplo de persicum. Esta palavra tinha a variante persica, já registada no Appendix Probi. Numas línguas românicas, o fruto designa-se com um vocábulo que evoluiu a partir da forma correcta. Noutras, com um vocábulo que evoluiu a partir da variante.
69
Nas inscrições do território português, existem dois exemplos de palavras
neutras que são tratadas como se fossem masculinas. Os dois encontram-se
zona centro.
O primeiro exemplo é: MVNIMENTVS (CIL 266). O nome vem
acompanhado de HIC, o que reforça a ideia de a palavra ser tratada como se
fosse masculina. Um aspecto curioso é, na mesma inscrição, surgir a forma
MVNIMENTVM. Não há indicação cronológica para a inscrição. O segundo é
semelhante: HIC FATVS (CV 44b). Também, neste caso, uma palavra neutra é
tratada como se fosse masculina e é precedida de HIC. A inscrição onde se
encontra o exemplo data do século III.
Na zona sul, está registada uma forma que pode documentar a confusão
entre o neutro e feminino: FATE (IRCP 430). Pelo contexto da inscrição,
percebe-se nitidamente que a palavra desempenha a função de sujeito: QVAI
FATE CONCESSERVNT VIVERE. A desinência -e pode ser explicada pelo
tratamento da palavra neutra como feminina pertencente à primeira declinação. A
vogal -e resultaria da monotongação da desinência -ae. A inscrição data do
século III.
1.1.2. Os temas
Os nomes latinos dividiam-se em cinco declinações diferentes, consoante
os seus temas. As diferentes desinências são o resultado de uma evolução, que
está documentada, ainda, nas inscrições arcaicas. Kent (1959, p. XXIV-XXV)
apresenta exemplos de formas que reflectem a evolução.
Na época clássica, é vulgar surgirem, por vezes, estas desinências
arcaicas: na obra de alguns escritores, na declinação de certos vocábulos ou em
inscrições. Para o primeiro caso, temos o exemplo de Vergílio que usa a forma -ai
como desinência de nominativo plural da primeira declinação. Para o segundo
caso, temos a palavra paterfamilias que apresenta um antigo genitivo singular
(Kent, 1959, p. XXIV) . Para o terceiro caso, temos algumas formas nas inscrições
70
da Península Ibérica. Recorrendo a inscrições da época da República, do século I
e do século II, Carnoy apresenta uma série de arcaísmos (1906, p. 215-222).
Nas inscrições, para além dos arcaísmos, surgem, por vezes, formas
anómalas, isto é, vocábulos que apresentam desinências fora do comum,
apresentando, por vezes, desinências de outros temas53. Algumas destas
anomalias foram registadas por Carnoy (1906, p. 228-233) para a Península
Ibérica, com exemplos do século I e do século II, e por Väänänen (1966, p. 83-85)
para Pompeios, com exemplos do século I a.C. e do século I.
Na evolução do latim para as línguas românicas, há a tendência para
aumentar a confusão entre vocábulos e temas: as palavras de tema em -e- da
quinta declinação passam a temas em -a- da primeira; as de tema em -u- da
quarta passam a temas em -o- da segunda e algumas de tema em consoante
passam a seguir a primeira ou a segunda declinação (Väänänen, 1981,
p. 106-108). Gaeng (1977), recorrendo a inscrições, sobretudo, dos séculos IV a
VII, comprova esta tendência e apresenta uma sistematização das desinências
em três declinações. Carnoy documenta esta situação na epigrafia, mostrando
confusão na declinação de alguns vocábulos (1906, p. 222-226).
A par da redução do sistema de declinações, dá-se também a tendência
para o desuso de certos casos (Väänänen, 1981, p. 110-117). O acusativo acaba
por ser aquele que se conservou melhor, deixando vestígios em diferentes línguas
românicas. Dos outros casos, apenas subsistem alguns resquícios ( id., p. 110).
Em português, o acusativo é o caso etimológico, a partir do qual se formou o
singular e o plural dos nomes comuns.
Nas inscrições do território português, existem formas que apresentam
arcaísmos. Um dos exemplos é: SCAVREIS (IRCP 142.7.). A forma esperada
seria SCAVRIIS e parece haver, apenas, uma troca de i por e. No entanto,
podemos considerar -eis como a grafia arcaica da desinência -is e o i que integra
53 Esta situação pode ter como origem a influência da flexão de outros temas ou de outros vocábulos (Väänänen, 1981, p. 107).
71
o radical estar suprimido54. O exemplo data de finais do século I ou de inícios do
século II. Outra forma que apresenta a mesma grafia é: QVIETEI (EFRBI 93).
Apesar de se tratar de um particípio com valor de adjectivo, seria de esperar uma
desinência semelhante à do nominativo plural dos nomes da segunda declinação:
QVIETI55. A forma concorda com o nome CINERES, na mencionada inscrição. O
exemplo data do século II56.
Ao nível dos arcaísmos, temos ainda documentada a desinência -ai para o
dativo singular dos nomes da primeira declinação: IVLIAI MARCELLAI (CIL 5251).
A inscrição onde se encontram os exemplos não está datada.
Pode ser considerada uma atitude de conservadorismo a existência de
formas de nominativo singular e acusativo singular que apresentam a grafia o em
vez de u, mesmo que seja para evitar ambiguidades, como no caso do grupo uu.
Temos, de sul para norte: CLAVOM (IRCP 142.4.), SERVOS (IRCP 143.10.,
143.13. e 143.17.), SVOS (EFRBI 230) e FLAVOS (CIL 2502). À excepção do
último, para o qual não existe indicação cronológica, os exemplos datam do
século I e II (v. Cap. II, 1.3.).
Algumas formas documentam particularidades em relação à flexão de
certos nomes, como deus. Quanto à declinação deste vocábulo temos registadas
formas como DEVM por DEORVM (EO 25 e 26; AF 88) e DIBVS (EO 119;
CIL 5255). O primeiro exemplo apenas tem datadas as duas primeiras
ocorrências, no ano 108, embora no segundo caso haja dúvidas. Para o segundo,
não existem indicações cronológicas. O correspondente feminino dea apresenta a
forma DEABVS (FC 3; AF 86 e 163) para a distinção com o masculino.
Quanto à flexão temos, ainda, formas que apresentam desinências
anómalas. Por ordem alfabética, temos: ANORVN (FE 66), de finais do século I
ou inícios do século II; CONVENTVVS (RAP 454), do século II; NOMEM 54 Ernout (1953, p. 22-23) refere que a desinência -is do ablativo plural dos nomes da primeira declinação, numa fase anterior, considerada intermédia em termos de evolução, se grafou -eis. 55 Ernout (1953, p. 31) refere que a grafia -ei como desinência de nominativo plural dos nomes da segunda declinação corresponde à evolução de -oi e durou até ao começo do século II a.C.. É comum encontrar a grafia ainda em inscrições da época da República, visto que ela se manteve durante bastante tempo, devido à influência dos gramáticos. 56 Existe ainda outro exemplo de um arcaísmo num adjectivo, mas não ao nível das desinências: DEIVI (ERRB 128). A forma encontra-se repetida duas vezes na referida inscrição e data do ano 133 ou 134.
72
(CV 44b), do século III; e PERPETVM (EO 41), de inícios do século I.
Registamos, também, a forma PATERI (EFRBI 74). Esta, apesar de não
apresentar anomalias ao nível das desinências, documenta uma alteração ao
nível do radical. O exemplo data do século II.
Em relação à confusão entre temas e declinações, vários são os exemplos
que demonstram nomes declinados como se pertencentes a outras declinações,
tendo para alguns destes casos contribuído também alterações de timbre das
vogais (v. Cap. II, 1.3.). De sul para norte, temos: (EX) VOTV pelo ablativo
singular VOTO (IRCP 58), de finais do século II; (EX) RENSPONSV pelo ablativo
singular RESPONSO57 (IRCP 484), sem data; AFINATV58 pelo dativo singular
AFINATO (RIRP 59), de cerca do ano 250; e AVGVSTV pelo dativo singular
AVGVSTO (RIRP 18), do ano 23 a.C..
Além destes, temos quatro nomes da segunda declinação no genitivo
singular com desinências da terceira. Os exemplos encontram-se nas zonas
centro e norte. Por ordem alfabética, temos: ACILIS por ACILI (CV 36), do
século II; AVITIS por AVITI (RAP 383), sem data; BOVTIS por BOVTI59 (CV 58),
do século I; e VIRIATIS por VIRIATI (CV 54; AF 236), datando as duas
ocorrências do século II, embora haja dúvidas no caso da primeira.
Existem, ainda, um exemplo que, pela sua curiosidade, deve ser tratado de
forma individualizada: MARINE (IRCP 145), da segunda metade do século II. A
desinência -e surge em vez de -a, para o nominativo singular. Esta situação é
invulgar. O que poderá ter ocorrido foi uma confusão entre a declinação latina e a
declinação de palavras gregas integradas na primeira declinação, que
apresentam como desinência de nominativo -e.
Para o desuso do sistema de casos, para a confusão entre alguns deles,
como o acusativo e o ablativo, e para a confusão entre declinações, contribuiu a
incorrecta flexão dos nomes. Um exemplo disto é a omissão de -m e de -s: ANNI, 57 Para a grafia ns em vez de s, consultar Cap. II, 3.6.4.. 58 Abascal (1994, p. 261) apenas documenta esta forma do nome na Península Ibérica. 59 A grafia de genitivo singular que surge nas inscrições do território português para o nome próprio Boutius é BOVTI, com a contracção dos -ii. A propósito da contracção dos -ii, Redentor (2002, p. 210) refere ser uma particularidade generalizada, um hábito que está presente na epigrafia da zona noroeste da Península Ibérica.
73
ARA, DEV, MENSE, MVNIMENTV, PEREGRINV, VIA, VOTV (v. Cap. II, 3.3.
e 3.4.). À omissão de -m e de -s, por vezes, acresce a alteração de timbre, o que
faz aumentar a confusão: MISOLIO (IRCP 16), VOCTO (CV 19), FILIO (FE 241)
(v. Cap. II, 1.3., 3.3. e 3.4.).
1.2. As declinações estrangeiras
Algumas palavras de origem grega mantêm marcas da sua declinação
original em alguns casos. Em relação a estes vocábulos que apresentam
desinências de carácter grego e de carácter latino, Ernout diz tratar-se de uma
declinação mista, metade latina, metade grega, por vezes artificial, usada,
sobretudo, com os nomes próprios (1953, p. 23-24). O mesmo autor refere que foi
Ácio, no século II a.C., que introduziu a tendência de transcrever os nomes
gregos na sua declinação original. O mesmo costume manteve-se nos poetas do
final da República e do tempo de Augusto. Como era difícil transcrever em latim a
declinação grega, estes nomes acabaram por seguir, em alguns casos, as
desinências gregas e, noutros, as latinas. Os nomes deste tipo integram-se na
primeira, segunda e terceira declinações (Ernout, 1953, p. 23-24, 34-35 e 61-63).
Na epigrafia latina há exemplos destes nomes. Väänänen apresenta
alguns, da segunda metade do século I, na epigrafia de Pompeios (1966, p. 83).
Carnoy apresenta exemplos na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 236-238).
Além destes exemplos, Carnoy apresenta outros, nomeadamente de palavras que
apresentam vestígios da declinação osca (id., p. 235-236) e da declinação céltica
(id., p. 239-240).
Na epigrafia do território português, são várias as palavras de cariz grego
que apresentam marcas da sua flexão original. Temos diferentes grupos, tendo
em conta o seu nominativo: nomes femininos terminados em -e, nomes
masculinos terminados em -es, em -us e um reduzido número de nomes
femininos terminados em -is e masculinos terminados em -os. Temos ainda outro
74
grupo que apresenta particularidades ao nível das desinências: o dos nomes
masculinos terminados em -on.
Os nomes femininos terminados em -e são os mais numerosos, em
comparação com os outros grupos. Temos como exemplos60: ACTE, AGATE,
ANCHIALE, CALETYCHE, CALLIOPE, CHRESTE, DAPHINE, HELENE, MVSICE,
SYCECALE, TERSPICORE, THYMELE, TYCHE. Os exemplos são mais
frequentes na zona sul, sendo mais raros no centro e mais ainda a norte. A sul,
os exemplos mais antigos são: NICE (IRCP 270) e HEGESISTRATE (IRCP 448).
Ambos datam de finais do século I ou de inícios do século II. No centro, são
GAMICE (RERC 9) e NYMPHE (EFRBI 30). O primeiro data de cerca do ano 50;
o segundo da segunda metade do século I. Dos poucos exemplos registados a
norte, nenhum é datado: SELENE (AF 177), SINETHE (AF 245), CABVRENE
(AF 605).
Os nomes masculinos cujo nominativo termina em -es também apresentam
um número considerável de exemplos, embora não sejam tantos como os nomes
femininos acima referidos. A sua distribuição é semelhante: mais a sul, menos no
centro e menos ainda a norte. Temos como exemplos: ASCLEPIADES, HERMES,
LETOIDES, ORESTES, PHILOGENES, PILIDES e PYLADES. Os exemplos
datados mais antigos são: EVPREPES (IRCP 93), para a zona sul, de meados do
século II, e EVTYCHES (EFRBI 81), para a zona centro, de finais do século I ou
inícios do século II. Na zona norte não existem exemplos datados.
Quanto a nomes masculinos terminados em -us, temos, de sul para norte:
PARTHENOPAEVS (IRCP 571), THESEVS (FE 167), MVSAEVS (CIL 368) e
NEREVS (CIL 5559). Não existe indicação cronológica para as inscrições em que
se encontram.
Dos nomes terminados em -is e em -os, existem poucos exemplos. Temos,
por ordem alfabética: CHRYSEROS (Egit. 8), CHRYSIS (CIL 374, FC 112),
CRYSEROS (IRCP 419), CRYSIS (IRCP 262), ELPIS (EO 71), HELPIS (FE 66).
60 Em relação aos exemplos há um aspecto que deve ser salientado: alguns deles encontram -se em dativo singular com a terminação -e. Esta tanto pode ser a desinência grega, como a desinência latina com a monotongação de -ae.
75
O exemplo mais antigo a sul é CRYSIS (IRCP 262), do século II, e na zona centro
é CHRYSIS (FC 112), do período entre o ano 12 e o ano 68.
Relativamente aos nomes masculinos terminados em -on, temos uma
ressalva a fazer: nem sempre a desinência de nominativo -on é a correcta. Alguns
destes nomes parecem ter sofrido adaptações. Em vez de apresentarem -o no
nominativo singular, como seria esperado, dá-se a inserção de n, e os nomes
apresentam -on no nominativo singular. Os exemplos estão maioritariamente a
sul. Temos, de sul para norte: THEMISON (IRCP 10), PRISCION (IRCP 86),
EVREMON (IRCP 114), PAEZON (IRCP 151), AGATHON (IRCP 249), MOLON
(IRCP 250), PHILON (IRCP 333a), CHARITON (IRCP 347), ELICON (IRCP 394),
TRYPHON (IRCP 450) e LANGON (EFRBI 29). O exemplo mais antigo a sul é
MOLON, de inícios do século II, e o exemplo registado na região centro data do
século I.
2. Pronomes
O sistema de pronomes latinos divide-se, segundo Ernout, em dois grupos:
por um lado, os pronomes demonstrativos hic, iste, ille, assim como is, o pronome
relativo qui e o interrogativo-indefinido quis; pelo outro, os pronomes pessoais
(1953, p. 79).
Na evolução do latim para as línguas românicas, alguns destes pronomes
sofreram uma mudança de sentido e certas alterações fonéticas.
Morfologicamente, também sofreram transformações. Os pronomes ille e iste
começaram a ser reforçados com a partícula ecce, anteposta. Väänänen (1981,
p. 123) documenta esta tendência já em Plauto. Este tipo de reforço acabou por
originar formas como aquele, em português. Outra transformação foi a de ille, a
partir do qual se formou, nas línguas românicas, o artigo definido e o pronome
pessoal ele. Outra, ainda, foi o reforço, em final de palavra, dos pronomes hic, iste
76
e ille com -i ou -ce. Este -ce surge por vezes abreviado: -c (Ernout, 1953, p. 80).
Väänänen apresenta exemplos deste reforço na segunda metade do século I
(1966, p. 86).
Destacamos, também, a evolução do pronome pessoal ego na sua forma
de dativo, mihi. Esta forma apresenta uma redução, sendo grafada mi. Carnoy
regista-a na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 246).
Nas inscrições do território português, os pronomes demonstrativos e o
relativo estão documentados, embora não sejam muito frequentes. O pronome hic
não surge muitas vezes e não apresenta muitas formas documentadas: HAC,
HIC, HOC, HORVM, HVIVS, HVNC. Salientamos o facto de os poucos exemplos
de HIC ocorrerem com nomes neutros interpretados como masculinos (v. 1.1.1.).
De ille, registamos a forma ILLIVS. Is apresenta variedade de formas, embora
algumas não sejam muito frequentes: EA, EAE, EAS, EIVS, EO, EORVM, EOS,
EVM, ID, IS. Grande parte das ocorrências encontra-se nas Tábuas de Aljustrel:
IRCP 142 e 143. O pronome relativo apresenta, de igual modo, diversidade de
formas e está registado frequentemente nessas mesmas inscrições: QVA, QVAE,
QVAM, QVAS, QVI, QVIBVS, QVO, QVOD, QVORVM.
Os pronomes pessoais encontram-se documentados através de algumas
formas: EGO, ME, MIHI; TV, TE, TIBI; SE, SIBI; VOBIS. Algumas destas, como
TIBI e VOBIS, estão relacionadas com as fórmulas epigráficas de carácter
funerário.
Quanto ao reforço dos pronomes, quer com a partícula ecce, anteposta,
quer com -i, com -ce ou -c, pospostos, não há registo de exemplos.
Estão documentadas formas diferentes do comum, com grafias
inesperadas, em alguns pronomes. De hic, temos o exemplo, sem data, HAC por
HANC (CV 31). Além da confusão a nível morfológico, a forma contribui para a
confusão entre casos. Noutra inscrição, encontramos um exemplo, com duas
ocorrências, do pronome sem o h inicial: AC (AF 611). A inscrição em que se
encontra o exemplo é do século IV, embora a datação levante dúvidas. Do
pronome relativo, existem vários exemplos de formas anómalas. Temos, de sul
77
para norte: QVAM por QVA (IRCP 259), do século III; QVE por QVAE (IRCP 314),
de finais do século II ou inícios do século III, resultante da monotongação do
ditongo; QVOT por QVOD (IRCP 571), sem data; QVIVS por CVIVS (IRTV 7), da
primeira metade do século I (v. Cap. II, 3.2.). Está ainda registado o arcaísmo
QVAI por QVAE (IRCP 430). No entanto, a forma está por CVI (v. Cap. II, 2.1. e
Cap. IV, 1.1.). O exemplo data do século III. Dos pronomes pessoais, temos os
seguintes exemplos: MI por MIHI (IRCP 270), de finais do século I ou inícios do
século II, e MIGI por MIHI (AF 611), do século IV, embora a datação levante
dúvidas.
3. Numerais
O sistema de numerais latinos era um sistema bastante coeso. Tal
característica pressupõe que cada uma das formas estava exposta às influências
analógicas das outras (Mariné, 1952, p. 56). Segundo o mesmo autor, esta
característica explica as transformações morfológicas ocorridas nos numerais que
aproximavam setuagesima e octogesima das outras designações ordinais de
dezenas, terminadas em -agesimus, através das formas septagesima e
octagesima.
Outra transformação registada nos numerais, também explicada pelo
processo de analogia, é a substituição de formas subtractivas por formas aditivas:
decem et octo por duodeuiginti (Väänänen, 1981, p. 119).
O numeral unus, -a, -um, que deu origem em português ao artigo
indefinido, apresenta, também, transformações na sua flexão. Nos casos genitivo
singular e dativo singular tende a seguir a flexão dos adjectivos terminados
em -us, -a, -um, normalizando as formas mais irregulares (Väänänen, 1981,
p. 119).
78
Na epigrafia do território português, a noção de número surge, sobretudo,
sob a forma de algarismos. Este dado pressupõe que não haja um registo
alargado de numerais. No entanto, temos alguns exemplos que representam os
diferentes tipos: VNO, VNVM, QVINQVE, SEX, DECEM; PRIMVS, SECVNDAM;
SINGVLA, BINI; BIS. Parte considerável destes exemplos ocorre nas Tábuas de
Aljustrel: IRCP 142 e 143.
Como se pode perceber pelos exemplos apresentados, há o respeito pela
correcção das formas. A confirmar este dado, acresce o facto de não estarem
registadas transformações ou alterações morfológicas nas formas de numerais
documentadas.
4. Verbos
Uma das principais transformações no sistema verbal, na evolução do latim
para as línguas românicas, foi a substituição das desinências passivas dos verbos
depoentes por desinências activas, ou seja, o tratamento dos verbos depoentes
como verbos activos. Este processo levou ao desuso das desinências passivas
nos depoentes, com exemplos já em Plauto (Ernout, 1953, p. 115; Väänänen,
1981, p.128). Por outro lado, a voz passiva também sofre alterações: as formas
sintéticas são preteridas e, em vez destas, surgem formas compostas (Väänänen,
1981, p. 129-130). Na epigrafia, há exemplos dos depoentes com desinências
activas, no século I, em Pompeios (1966, p. 87) e na Península Ibérica (Carnoy,
1906, p. 252).
Além desta transformação, houve outras (Väänänen, 1981, p. 129-145).
Das documentadas em epigrafia, destacamos a grafia dos tempos do perfectum.
Estes tempos, sobretudo o pretérito perfeito do indicativo activo, apresentam
tendência para a contracção, surgindo formas como amasti ou amarunt
(Väänänen, 1981, p. 142). Mariné (1952, p. 59-60), apoiado em outros autores,
79
afirma que estas formas contraídas são as que prevalecem na evolução do latim
para as línguas românicas61. Na Península Ibérica, Carnoy atesta a tendência,
apresentando diferentes grafias de pretérito perfeito do indicativo activo, terceira
pessoa do singular, do verbo pono62 (1906, p. 252-253).
Outra transformação é a confusão entre temas e conjugações. Carnoy
documenta uma forma de particípio passado que apresenta uma vogal temática
diferente da esperada (1906, p. 249-250). Väänänen (1981, p. 87-88) regista uma
forma que denuncia uma tendência arcaica, já documentada em Plauto, de
eliminar os verbos de tema em -ĭ- a favor dos de tema em -ī-, ou seja, uma
tendência para integrar os primeiros na conjugação dos segundos. Em português,
o sistema de conjugações latino acabou por se simplificar. De quatro
conjugações, em latim, passou-se, em português, a três.
Nas inscrições do território português, temos documentados, ainda,
arcaísmos nas desinências verbais: TVLEI (EFRBI 93). A forma corresponde à
primeira pessoa do singular do pretérito perfeito activo e, segundo Ernout (1953,
p. 213), é comum encontrar a desinência -ei em inscrições da época arcaica,
porque nessa época existia confusão, ao nível da grafia, entre ī e ei. A inscrição
onde se encontra o exemplo data do século II. Existe outra forma que apresenta,
igualmente, a grafia arcaica ei, embora não ao nível das desinências: FEICIT
(EFRBI 230). Neste caso, ter-se-á dado uma confusão ao nível da grafia e terá
sido grafado ei por erro de contexto63. A inscrição data de finais do século II.
Outra forma verbal de cariz arcaico é FAXINT (IRCP 647). Esta encontra-se numa
inscrição com uma data bastante precisa: 11 de Maio de 37.
A maioria das formas verbais apresenta correcção ao nível morfológico.
Um dado que confirma esta ideia é a grafia de tempos, como o futuro imperfeito
61 Väänänen (1981, p. 142) apresenta uma síntese das desinências de pretérito perfeito do indicativo activo que terão evoluído nas línguas românicas. 62 Algumas destas grafias estão relacionadas com a tendência para a contracção, outras com a própria morfologia do verbo. 63 Niedermann (1997, p. 58) refere que o ditongo ei passou a ī, na primeira metade do século II a.C.. No entanto, terá havido uma fase intermédia, por volta dos primeiros anos do século II a.C., em que ei se terá escrito ē. Esta fase intermédia deu, nesta época, por erro, origem a grafias inversas, já que em contextos de ē surge a grafia ei.
80
do indicativo e o imperativo futuro, ambos documentados nas Tábuas de Aljustrel
(IRCP 142 e 143), e de formas irregulares também de imperativo, como DIC.
Apesar da correcção, há particularidades a assinalar. Estão documentadas
formas sincopadas, dos tempos do perfectum. Temos, de sul para norte:
EMERINT (IRCP 143.8.), VITIASSE, LABEFACTASSE e DECAPITASSE64
(IRCP 143.13.), CVRARVNT (EFRBI 113 e AF 414). Os quatro primeiros
exemplos datam do período entre o ano 117 e o ano 138. A primeira ocorrência
do último data da segunda metade do século I ou de inícios do século II; a
segunda data do ano 238.
Há outras formas, ainda, que se destacam pela sua singularidade. Numa
inscrição de Conimbriga, temos TACIM por TACEAM (FC 357b). O exemplo data
do período entre o ano 98 e o ano 117. Temos algumas formas que apresentam a
queda de -t. FECI (IRCP 513), SI (ACS 27), RETVLI (AF 126), REFECI (AF 404).
O segundo exemplo data do século III; o último do ano 135. Para os outros não
existe indicação cronológica. Inversamente, temos uma forma com a duplicação
da consoante: CVRAVITT (IRCP 585). Esta data da segunda metade do século I
(v. Cap. II, 3.5.). Do mesmo verbo, temos duas formas que apresentam
tratamentos diferentes da mesma vogal. No primeiro exemplo, registado a sul, a
vogal surge duplicada: POSVVIT (FE 238). No segundo, registado na zona centro,
surge omitida: POSIT (EFRBI 23). Não existe indicação cronológica para os
exemplos. Está, ainda, registada uma forma de um derivado de eo, que, pela
supressão de um dos i do pretérito perfeito, neutraliza a distinção entre terceira
pessoa do singular do presente do indicativo e terceira pessoa do singular do
pretérito perfeito: OBIT (CIL 5238). A inscrição em que se encontra o exemplo
data do século I.
64 A propósito desta forma consultar Cap. V, 1.1..
81
Capítulo IV
Sintaxe
82
1. Casos
1.1. Os casos
O latim tinha seis casos: nominativo, vocativo, acusativo, genitivo, dativo e
ablativo. O instrumental e o locativo apenas deixaram alguns vestígios na língua
latina. O primeiro fundiu-se com o ablativo. O segundo está patente em algumas
indicações de lugar como domi ou belli (Ernout e Thomas, 1984, p. 7-8).
Na evolução do latim para as línguas românicas, o sistema de casos latino
sofreu profundas transformações (Väänänen, 1981, p. 110-117). O resultado
destas transformações foi a abolição deste sistema nas diferentes línguas
românicas. As palavras começaram, na frase, a ter um lugar fixo que marcava a
sua função sintáctica e deixaram de se declinar. Antes, contudo, deste resultado
final, as transformações ocorreram de forma gradual. Além das desinências
comuns que muitas palavras apresentavam e que poderiam suscitar dúvidas
quanto à identificação de alguns casos, mudanças de ordem fonética vieram
dificultar, ainda mais, a distinção, como a queda da consoante m em posição final,
no acusativo singular, causando confusão entre acusativo e ablativo, e a alteração
de timbre das vogais, originando ambiguidades, por exemplo, na terceira
declinação. Estas e outras transformações levaram a que se começasse a
confundir os casos. A consequência deste processo é a tendência para a redução
do número de casos. Esta transformação gradual culmina na redução dos seis
existentes a apenas dois: o caso sujeito e o caso regime (Ernout e Thomas, 1984,
p. 9). A acompanhar a transformação, as palavras começaram a ter um lugar mais
fixo na frase, já visível na época tardia. Nas línguas românicas a noção destes
dois casos acaba por desaparecer.
Os textos epigráficos documentam o processo de decadência do sistema
latino de casos, exemplificando algumas das ambiguidades ou dos usos indevidos
de determinado caso, antes do seu final. Na epigrafia da Península Ibérica,
Carnoy (1906, p. 270-271) documenta, por exemplo, o uso de dativo em vez de
83
acusativo e o complemento de fruor em acusativo em vez de ablativo. Väänänen
(1966, p. 115-119) apresenta um maior número de exemplos, registando
situações como nominativo em vez de vocativo, uso excessivo de acusativo em
detrimento de outros casos ou escrita de ablativo em vez de locativo.
Nas inscrições do território português, está documentado o uso de alguns
casos em vez de outros. Começamos pelo nominativo. O nominativo está
registado uma vez por vocativo e duas por dativo. Temos nominativo por vocativo
numa inscrição da região centro: DVATIVS (FC 357b). O exemplo data do período
entre o ano 98 o e ano 117. Nominativo por dativo está documentado a sul e a
norte. A sul, temos o exemplo: MARIA EVPREPIA QVAI FATE CONCESSERVNT
VIVERE (IRCP 430). A forma do pronome relativo parece ser arcaica e estar por
QVAE. No entanto, sintacticamente o que estaria correcto era CVI (v. Cap. II, 2.1.
e Cap. III, 2.). A inscrição data do século III. A norte, temos o exemplo:
PRONIIPOS (ERRB 129). O nominativo encontra-se num miliário cujo texto
principal está em dativo. A inscrição data do ano 213 ou 214. Está registado,
também, o uso de acusativo por nominativo: FILIAS MATRI PIISSIME
POSVERVNT (IRCP 331). A inscrição data do século III. O genitivo surge por
ablativo em POTESTATIS (IRCP 665 e 666), numa fórmula epigráfica habitual:
TRIBVNICIA POTESTATE. As duas ocorrências datam do mesmo ano: 275.
Semelhante a este exemplo é TRIBVNICIE POTESTATIS (FE 102a), também do
mesmo ano. A situação será a mesma: genitivo por ablativo, aqui com
monotongação do ditongo ae em TRIBVNICIE. Dativo por nominativo surge num
texto de um miliário, do ano 218: PRINCIPI (CIL 4834). Por último, temos o registo
de ablativo em vez de dativo: PONTIFICE (CIL 4801) e FELICE (ERRB 130). O
ablativo surge em de miliários que apresentam o texto principal em dativo. Os
exemplos datam de 214, o primeiro, e 213 ou 214, o segundo.
Além da confusão no uso dos casos, temos as já registadas alterações de
ordem fonética, como a omissão de -m e de -s ou a mudança de timbre de
algumas vogais (v. Cap. II, 1.3., 3.3., 3.4.). Estas, além de originarem a incorrecta
flexão das palavras (v. Cap. III, 1.1.2.), levam a que a distinção entre os diferentes
84
casos e até mesmo entre as diferentes declinações se torne cada vez mais difícil.
Temos, como exemplo destas situações: DVATIVS APINIVS F(ilius) BANDI
TATIBIIAICVI VOCTO TOLIT I(ussu) (CV 19); TERTVLA ARCI(i) F(ilia) ET
PRISCVS MAXILLONIS F(ilius) TVOVTAE TONGI F(iliae) MATRI MVNIMENTV
STATVERVNT H(ic) S(ita) E(st) (EFRBI 107); D(iis) M(anibus) S(acrum)
VAL(eriae) AMOENAE A(nnorum) LXX FILIO F(ecit) (FE 241); IMP(eratori)
CAESAR(i) DIVI F(ilio) AVGVSTV CO(n)S(uli) XI IMP(eratori) VIII (RIRP 18);
AFINATV F(ilio) A(nnorum) XX S(it) T(ibi) T(erra) L(evis) M(ater) F(aciendum)
C(uravit) (RIRP 59).
1.2. As preposições e os casos
A circunstância de tempo e de lugar é expressa, em latim,
preferencialmente, através do caso acusativo ou do caso ablativo, regidos,
algumas vezes, por preposições (Ernout e Thomas, 1984, p. 106-107). Com as
alterações fonéticas registadas e com a confusão generalizada no uso dos casos,
começaram a surgir formas diferentes do habitual para registar estas
circunstâncias: as preposições que costumavam reger acusativo começaram a
aparecer com ablativo; ou o contrário; quando uma preposição regia acusativo e
ablativo e expressava circunstâncias diferentes com cada um dos casos, pode ser
encontrada com o caso incorrecto65.
Esta situação é paralela à ruína do sistema casual e acabará por culminar
na perda da noção do valor dos casos. As preposições passarão, nas línguas
românicas, a definir a circunstância e o sentido circunstancial que o caso
encerrava perder-se-á, assim como o próprio.
A confusão entre preposições e regência de casos está registada. Na
epigrafia de Pompeios, Väänänen (1966, p. 120-121) documenta, com exemplos 65 Um exemplo concreto é a preposição in. Com acusativo, expressa o movimento. Com ablativo, a localização. É comum encontrar a preposição com ablativo a expressar o movimento. Väänänen (1966, p. 121), apoiado noutros autores, refere que, nestes casos, a queda da consoante m em posição final, no acusativo singular, ajuda a criar a confusão entre os dois casos.
85
dos séculos I a.C. e I, situações como as preposições a, cum, pro e sine com
acusativo ou a preposição in com ablativo a expressar a ideia de direcção. O
autor refere que, salvo erro, os exemplos mais antigos que se conhecem serão os
de a e de cum com acusativo. Carnoy (1906, p. 269-270) também apresenta
alguns casos de desvio no uso das preposições na epigrafia da Península Ibérica.
Na epigrafia do território português, está documentado o uso de
preposições com casos diferentes do habitual. Cum surge com acusativo, uma
vez, na expressão do complemento circunstancial de companhia: CVM QVAM
VIXIT COMMVNES ANNOS (IRCP 259). A inscrição data do século III. Ex surge,
também uma vez com acusativo numa inscrição sem data: EX RESPONSVM
(IRCP 513). Pro surge com acusativo em diferentes exemplos. Com a palavra
salus, surge duas vezes, a primeira com reconstituição da última letra da
preposição: PR[O] SALVTEM (IRCP 516); PRO SALVTEM (EO 81). Não há
indicação cronológica para os exemplos. Com a palavra uotum, surge uma vez,
num exemplo, sem data, que apresenta uma das vogais da palavra reposta: PRO
V<O>TVM (IRCP 523). Pro surge, ainda, duas vezes com nomes de pessoas:
PRO IVL(iam) MARCELLAM (IRCP 504); PRO VERNACLAM (IRCP 515). Só o
segundo exemplo está datado: século I.
2. Concordância
A concordância está relacionada com a relação de dependência entre
diferentes elementos de uma frase que constituam um grupo. Neste, a forma de
um comanda a dos outros, estabelecendo-se, assim, uma relação de hierarquia e
de dependência (Ernout e Thomas, 1984, p. 125). A concordância pode
estabelecer-se ao nível do caso, do género, do número ou da pessoa. Ela pode
ser estabelecida entre o sujeito e o verbo, entre um nome e o predicativo, entre
um nome e o atributo, entre um nome e o aposto e entre o pronome relativo e o
86
seu antecedente. Existe, ainda, outro tipo de concordância: a concordância ad
sensum (id., p. 138-142). Esta implica uma concordância que respeita, sobretudo,
o sentido das palavras e não a sua forma.
A concordância, em latim, nem sempre foi respeitada. Este desrespeito é
visível, sobretudo, nos textos epigráficos. Carnoy (1906, p. 268) e Väänänen
(1966, p. 114) apresentam alguns exemplos de falta de concordância na epigrafia
da Península Ibérica e de Pompeios, respectivamente.
Nas inscrições do território português, existem alguns exemplos de falta de
concordância. Temos, de sul para norte: SERVOS [...] CAESVS (IRCP 143.13.
e 143.17.), do período entre os anos 117 e 138, pela grafia -os em SERVOS;
SODALICIV [...] FECERVNT (IRCP 339), sem data, pela falta de concordância
entre sujeito, com omissão de -m, e verbo; QVINTILLA [...] DELICATAE
(EFRBI 94), do século II; LIBERTVS SVOS (EFRBI 230), de finais do século II,
também pela grafia -os; e FILIAE PIENTISSIMA (NBA 2.12.), de finais do século II
ou inícios do século III. Em miliários da zona norte, cujo texto principal está em
dativo, encontramos supostamente a concordar: PONTIFICE (CIL 4801),
PRONIIPOS (ERRB 129), FELICE (ERRB 130). O primeiro exemplo data do ano
214; os dois últimos de 213 ou 214. Noutro miliário, também da zona norte, surge
o dativo supostamente a concordar com grande parte do texto que está em
nominativo: PRINCIPI (CIL 4834). O exemplo data do ano 238.
A falta de concordância está documenta igualmente em abreviaturas: H(ic)
S(ita) S(unt) S(it) T(ibi) T(erra) L(euis) (IRCP 87). A expressão aplica-se apenas a
uma pessoa. A inscrição data da segunda metade do século II.
Registamos, por outro lado, duas tentativas, semelhantes, de
concordância. As duas ocorrem no mesmo contexto: escrita de HIC a concordar
com palavra neutra tratada como masculina (v. Cap. III, 1.1.1.). Temos: HIC
MVNIMENTVS (CIL 266) e HIC FATVS (CV 44b). Só existe indicação cronológica
para o segundo exemplo: século III.
87
3. Pronomes
Os pronomes, em latim, sofreram transformações a diferentes níveis. Em
relação à sintaxe, destacamos uma transformação ocorrida nos possessivos.
A ideia de posse era expressa pelos pronomes possessivos. Acontece que
na terceira pessoa do singular, o possessivo só é utilizado em situações
particulares e bem definidas (Ernout e Thomas, 1984, p. 179-180). Na maior parte
das situações, é o pronome is na sua forma de genitivo singular, eius, que
expressa a posse66. Na evolução do latim para as línguas românicas esta
situação altera-se. O uso do pronome possessivo, na terceira pessoa do singular,
generaliza-se e cai em desuso a construção com eius. Acaba por ser a
construção com o possessivo que passa para as línguas românicas (id., p. 186).
Há, ainda, outras alterações documentadas em epigrafia e relacionadas
com a alteração de sentido de alguns pronomes. Väänänen regista exemplos, na
segunda metade do século I, do uso fora do comum de alguns pronomes (1966,
p. 122-123). Nestes exemplos, alguns pronomes são substituídos por outros que
não correspondem com os outros elementos da frase, denunciando alterações de
sentido, como é o caso de hic e ille que surgem a substituir is.
Nas inscrições do território português, o sistema de possessivos está
claramente definido. Devido à natureza do texto epigráfico, funerário e votivo na
sua maior parte, a posse, na terceira pessoa do singular, é expressa, sobretudo,
através do pronome possessivo, já que nestas inscrições a ideia reflexa de posse
é maioritária. Além disto, o pronome possessivo surge no formulário epigráfico,
em expressões como DE SVO FACIENDVM CVRAVIT e SVA IMPENSA. O
genitivo de is está documentado, mas com um menor número de ocorrências. Dos
poucos exemplos, muitos encontram-se no texto de uma das Tábuas de Aljustrel:
IRCP 142.
66 Em vez de is pode ser usado um pronome demonstrativo.
88
Em relação aos outros pronomes e a alterações documentadas, temos
alguns exemplos. Na zona sul, encontramos dois exemplos do pronome relativo a
denunciar mudanças. No primeiro, o relativo apresenta monotongação do
ditongo ae, o que não torna o seu caso claro e causa problemas na identificação
da forma e da sua relação com o antecedente: MODESTIN[A]E QVE [V]IX(it)
ANN(is) (IRCP 314). A inscrição data de finais do século II ou inícios do século III.
No segundo, o relativo apresenta uma forma aparentemente arcaica de
nominativo, QVAI por QVAE, mas o nominativo está por dativo, CVI (v. Cap. II,
2.1. e Cap. III, 2.). A inscrição apresenta ainda uma forma anómala de nominativo
plural de fatum, FATE por FATA (v. Cap. III, 1.1.1.). O texto data do século III:
MARIA EVPREPIA QVAI FATE CONCESSERVNT VIVERE ANIS XXXXV
(IRCP 430). Por este exemplo, mais claramente do que pelo primeiro, podemos
perceber uma alteração no pronome relativo: a tentativa de uniformização da sua
flexão, no sentido de uma forma representar mais do que um caso. É esta a ideia
que a forma inusitada para dativo indicia.
Numa inscrição da zona centro, temos um exemplo relativo ao pronome
hic. Nessa inscrição encontramos hic, no genitivo plural, utilizado de forma
inesperada: LARES LVBANC(os) DOVILONICOR(um) HORVM ALBVI(us)
CAMAL(i) F(ilius) SACR(um) (FC 11). A inscrição data do início do século I.
4. Numerais
Os numerais dividiam-se em quatro categorias: cardinais, ordinais,
distributivos e advérbios numerais (Ernout e Thomas, 1984, p. 175-178). Na
evolução do latim para as línguas românicas, estes sofrem transformações, como
a alteração do caso em que estes deviam surgir, nas expressões de datas ou de
idade. Mariné (1952, p. 105-109) alerta para o facto de não se respeitarem as
construções clássicas na expressão de uma data ou de uma idade na epigrafia.
89
Para a data, o autor refere que são usadas, sobretudo, as construções die e
acusativo ou die precedido de uma preposição (in, de ou sub). Quanto à idade, o
autor salienta, em vez da construção natus e acusativo, os genitivos de qualidade
e diz serem raras as construções de uiuo com acusativo ou com ablativo.
Na epigrafia do território português, há um maior número de expressões
que indicam a idade do que expressões de datas. Tal situação deve-se ao
carácter da epigrafia, maioritariamente funerária.
Em relação a datas, temos dois tipos de ideias: a ideia de data,
propriamente dita, e a ideia concreta de um determinado tempo. A maioria dos
exemplos encontra-se nas Tábuas de Aljustrel: IRCP 142 e 143. Aí está
documentada a manutenção das construções clássicas na expressão de ideias
como: tempo em que, tempo desde que ou tempo até que. Como está
documentada, sobretudo, a manutenção de construções, não há registo de
exemplos de die e acusativo ou die precedido de uma preposição (in, de ou sub).
Quanto à idade, não estão documentados exemplos de natus e acusativo.
A maioria das construções para expressar a idade corresponde ao genitivo de
qualidade dependente do nome da pessoa. Esta construção está registada,
uniformemente, nas zonas sul, centro e norte. Por vezes, surge abreviada, como
é usual no registo epigráfico. Encontramos, também, embora em número muito
mais reduzido, a construção de uiuo, através da forma VIXIT, pelo carácter dos
textos funerários, com acusativo e com ablativo. A construção com ablativo surge
mais vezes do que a com acusativo. Este tipo de construções está registado
maioritariamente a sul. Temos dois exemplos de incorrecção nestas expressões,
com uso de ablativo e de acusativo simultaneamente. O primeiro encontra-se
numa inscrição muito danificada e data de finais do século II ou de inícios do
século III (IRCP 83). O segundo apresenta anomalias na grafia do verbo
(v. Cap. II, 3.6.1.) e data de finais do século III: VISSIT ANNIS XIII DIES XV
(IRCP 346).
90
5. Verbos
Os verbos apresentam três categorias essenciais: a voz, o modo e o
tempo. A voz precisa a posição do sujeito em relação à acção. O modo e o tempo
representam as particularidades da acção (Ernout e Thomas, 1984, p. 215).
Quando se aplica a uma determinada acção que ocorreu num determinado
tempo e de uma determinada forma, uma forma verbal deve fazer as
correspondências correctas em relação ao modo e ao tempo, respeitando a
concordância em pessoa e número com o sujeito. Acontece que nem sempre
acontece desta forma. Em epigrafia, Väänänen apresenta exemplos de desvios,
como o presente do conjuntivo em vez de futuro ou o presente do indicativo em
vez de imperativo (1966, p. 123-124). Mariné (1952, p. 109-121) apresenta,
também, desvios, sobretudo em relação ao número e à pessoa e sistematiza o
uso dos tempos verbais em inscrições. Estes desvios estariam relacionados com
particularidades de certas inscrições ou com uma certa confusão na selecção de
tempo e modo. Tal como aconteceu com os casos, as ideias que determinado
tempo ou modo verbal expressavam deixaram de ser claras e esta confusão deu
origem a uso incorrecto das formas.
Nas inscrições do território português, o uso dos verbos não é muito
diversificado, ou seja, devido ao carácter das inscrições, muitas vezes
obedecendo a um formulário, os verbos utilizados são quase sempre os mesmos,
nos mesmos contextos, e, muitas vezes, surgem abreviados. No entanto, há
algumas excepções. Nestes casos, o que se regista é a manutenção do uso
correcto das categorias verbais. Um dos exemplos mais significativos é o das
Tábuas de Aljustrel: IRCP 142 e 143. Nestas duas inscrições, é possível
encontrar verbos em diferentes contextos, o que na prática corresponde a
diversidade de tempos e modos, como o futuro imperfeito do indicativo, o perfeito
do conjuntivo, o imperativo futuro ou o infinitivo presente.
91
Apesar da correcção verificada, há uma particularidade que destacamos.
Numa inscrição da região sul, feita num mosaico, existe uma fórmula de
imperativo, com a ideia de ordem negativa: TESSELAM LEDERE NOLI
(IRCP 602). Destacamos este exemplo por a fórmula de ordem negativa utilizada
ser a mais cerimoniosa, o que não deixa de ser curioso tendo em conta que foi
feita num mosaico. Não existe indicação cronológica para a inscrição.
6. Coordenação e subordinação
Quando uma oração forma um período complexo, agregando-se a outra ou
a mais, distinguem-se dois tipos de uniões: a coordenação e a subordinação.
Consoante a conjunção que une as orações e outras características, temos
diferentes tipos de orações coordenadas e subordinadas. Se as coordenadas,
pelo seu carácter independente, são menos complexas, as subordinadas
obedecem a uma série de regras, já que diferentes conjunções seleccionam ou o
indicativo ou o conjuntivo.
Pelo seu carácter complexo, a subordinação adequa-se mais a uma
linguagem elaborada, como a literária. No entanto, ela surge noutros registos. Na
epigrafia, há exemplos de subordinação (Mariné, 1952, p. 122-124; Väänänen,
1966, p. 126-127). Nestes casos, as construções nem sempre estão expressas de
forma correcta, sendo visível a confusão entre diferentes conjunções. Para
Väänänen, casos destes podem denunciar uma sintaxe menos rígida e própria da
linguagem oral (1981, p. 158-159), já que o sistema de subordinação apresentou
uma tendência para a simplificação na evolução do latim para as línguas
românicas.
Na epigrafia do território português, à semelhança do que acontece com o
uso dos verbos, pelo carácter das inscrições, não existem muitos exemplos de
frases complexas. Predominam as frases simples, muitas vezes reduzidas a
92
fórmulas com abreviaturas, como é usual nas epígrafes funerárias, nas votivas e
nos miliários. No entanto, há registo de subordinação, mais do que de
coordenação. A subordinação está presente nas Tábuas de Aljustrel (IRCP 142
e 143), pela especificidade do seu conteúdo, e em outras inscrições que
apresentam textos diferentes do habitual, divergindo da estilizada linguagem
epigráfica, por particularidades relacionadas, por exemplo com a posição social
de um defunto ou com as circunstâncias que levaram à existência de determinada
epígrafe (IRCP 98 e 647; RAP 38).
Na subordinação documentada, registamos o correcto uso de construções.
Temos exemplos de orações subordinadas relativas e de orações circunstanciais
condicionais, temporais, finais e consecutivas. Também está documentado o uso
de uolo com infinitivo.
Destacamos duas construções frásicas pela sua singularidade. Estas estão
documentadas em inscrições funerárias. A primeira é DIC ROGO QVI TRANSIS e
acompanha SIT TIBI TERRA LEVIS (FC 36 e 46; CIL 5241). A primeira ocorrência
data de finais do século II ou do século III; a segunda de finais do século II. Para a
terceira não existe indicação cronológica. São todas do mesmo local: Conimbriga.
A segunda construção também é fora do comum, tendo em conta as outras
epígrafes: TV QVI LEGIS AVE QVI PERLEGISTI VALE (EFRBI 58). Esta surge
com a variante: TV QVI LEGIS AVE PERLEGISTI VALE (EFRBI 126). Ambas
aparecem no final de inscrições funerárias, depois de H(ic) S(itus) E(st) S(it) T(ibi)
T(erra) L(evis), a primeira, e de H(ic) S(itus) ES[T], a segunda. Ambas datam do
século I: a primeira da segunda metade; a segunda da primeira metade.
93
Capítulo V
Léxico
94
1. Derivação
A derivação é um dos processos de enriquecimento lexical de uma língua,
quer através da prefixação, quer através da sufixação, ou, ainda, da combinação
das duas. A uma determinada palavra primitiva junta-se um prefixo ou um sufixo
ou, ainda, ambos para expressar um novo sentido.
1.1. Os prefixos
A prefixação, em latim, é um processo usual para os verbos e para os
nomes comuns. O uso de prefixos tinha como objectivo alargar o campo
semântico de uma determinada palavra, conferindo-lhe sentidos que esta não
apresentava. Este processo é bastante vulgar nos verbos. Por exemplo, os verbos
ineo e redeo são verbos derivados de eo. Os falantes, no dia a dia, deram
preferência a estas formas verbais derivadas, muitas vezes pelas particularidades
de sentido que estas apresentavam, mais adequadas a certas situações próprias
do quotidiano. Isto leva a que as formas derivadas dos verbos, por exemplo,
comecem a substituir as formas simples, começando o prefixo a ser apenas um
reforço da ideia do verbo simples: comedere, conducere. Alguns verbos derivados
deixam mesmo de ser sentidos como tal: cogere, separare. Com estas
transformações, os prefixos deixam de ter os seus sentidos primitivos e sente-se
a necessidade de os acumular: compromittere. Väänänen (1981, p. 95) regista
esta forma no Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C., e apresenta também
um exemplo de Plauto. Nas inscrições de Pompeios, na segunda metade do
século I, surgem exemplos de formas pouco usuais ou com novos sentidos de
verbos derivados através da prefixação (Väänänen, 1966, p. 107). Numa fase
mais tardia, há registo de que os verbos derivados através da acumulação de
95
prefixos são cada vez mais comuns, apresentando Väänänen alguns exemplos
(1981, p. 95).
Nas inscrições do território português, temos registo de palavras derivadas
por prefixação, podendo estas sofrer o processo de assimilação, quando os
prefixos terminam em consoante (v. Cap. II, 3.6.6.). Estão documentadas, nas
inscrições, palavras derivadas de diferentes prefixos: ABNEPOTI, ADDIXERIT,
ADMINISTRATAM, COMMISSA, CONCORDIAE, DEDICANTE, DESIGNATO,
DILIGENTER, DILIGENTISSIMO, EXCEPTA, EXPERTEM, IMPENSA, INIMICVS,
NEGOTIANTVR, OBSEQVENTISSIMAE, OBSERVABVNTVR, PERACTA,
PERTINEBIT, PRAECEPTO, PRAESTARE, PROFERENTVR, PROMISIT,
RECEPTVS, REDDERE, SVBDVCET, SVBIECERIT. Muitas destas encontram-se
nas Tábuas de Aljustrel (IRCP 142 e 143), pela natureza do texto, já que as ideias
têm de ser expressas de forma clara e precisa.
Estão documentadas, ainda, algumas formas que se destacam pela sua
singularidade, quer por serem palavras derivadas fora do comum, quer por serem
aplicadas num contexto em que a palavra simples teria o mesmo sentido. Temos,
de sul para norte: INFERET (IRCP 142.7.), de finais do século I ou inícios do
século II; DECAPITASSE (IRCP 143.13.), do período entre o ano 117 e
o ano 138; PERVIXS(it) (FE 119), com abreviatura na última sílaba, de finais do
século II; e INTITVLO (FC 71), da segunda metade do século II. Destacamos,
ainda a forma PERLEGISTI (EFRBI 58 e 126), pela sua oposição com LEGIS, na
mesma inscrição. As duas ocorrências datam do mesmo século: século I. A
primeira da segunda metade; a segunda da primeira.
Quanto a acumulação de prefixos, não há muitos exemplos registados e os
existentes não se tornam redundantes, em termos de sentido. INCOMPARABILIS
(NBA 5.5.) é um desses exemplos.
96
1.2. Os sufixos
Em relação aos sufixos, há dois grupos que importa distinguir: os sufixos
nominais e os sufixos verbais. Como o próprio nome indica, os sufixos nominais
são os sufixos que se juntam a um nome e os sufixos verbais são aqueles que se
juntam a um verbo.
1.2.1. Os sufixos nominais
Quanto aos sufixos nominais, a sua diversidade é bastante grande em
latim. Um grande número destes sufixos está atestado na epigrafia, sobretudo nas
inscrições de Pompeios. Ao contrário, por exemplo da epigrafia da Península
Ibérica, Väänänen (1966, p. 89-103) apresenta um grande número de exemplos
devido à diversidade do vocabulário. Como refere Mariné (1952, p. 74), a
escassez de sufixos nominais nas inscrições da Península Ibérica deve-se ao
carácter estereotipado das mesmas, correspondendo, muitas vezes, o texto a
fórmulas constantemente repetidas.
Dos vários sufixos nominais latinos, destacamos -anus, -arius, -ensis,
-osus, -tor e -trix e, ainda, os sufixos que entram na formação dos diminutivos e
os dos nomes em -o e em -onis.
O sufixo -anus, assim como -inus e -unus, serve para designar os
habitantes de um determinado lugar: Romanus. Além de se juntar a nomes de
cidades, este sufixo também se junta a nomes de pessoas: Octauianus e
Caesarianus. Em latim, existia, ainda, um reduzido número de palavras que
apresentava este sufixo e que expressava, também, a origem: urbanus,
montanus, primanus, ueteranus (Väänänen, 1966, p. 97).
O sufixo -arius serve para formar adjectivos, normalmente a partir do nome
de objectos (ex.: asinus moliarius), e para formar nomes que designam uma
determinada ocupação ou profissão. Na epigrafia da segunda metade do século I,
há um maior número de exemplos do sufixo para o segundo tipo de palavras
97
(Väänänen, 1966, p. 92-94). O Appendix Probi documenta a preferência deste
sufixo em relação a outro de valor equivalente: primipilaris non primipilarius
(Väänänen, 1981, p. 201). O uso do sufixo para designar ocupações acaba,
também, por estar presente na evolução do latim para as línguas românicas. Em
português, evoluiu para -eiro e encontra-se em palavras como oleiro, moleiro ou
ferreiro.
O sufixo -ensis, também com a grafia -iensis, entra na formação de
palavras que designam os habitantes de um local. À semelhança de -anus indica
a origem. Em português, temos a presença deste sufixo, depois de este ter
evoluído, para designar os habitantes de algumas cidades ou vilas: bracarense e
pacense.
O sufixo -osus expressa a ideia de abundância de uma característica ou de
uma substância. Juntava-se a nomes para formar adjectivos: aquosus, formosus,
otiosus, pretiosus. Väänänen (1981, p. 88) refere que é bastante comum. No
Appendix Probi, temos documentada a preferência por este sufixo: rabidus non
rabiosus (Väänänen, 1981, p. 203).
Os sufixos -tor e -trix têm o mesmo valor: servem para formar palavras que
designam um agente, à semelhança de -arius. Os dois sufixos eram
correntemente utilizados, mas começam a ser preteridos em detrimento de -arius
e do particípio presente, numa época mais tardia. Väänänen refere que os sufixos
-tor e -trix acabam por se restringir a palavras do domínio do comércio e das
ocupações públicas (1966, p. 89).
Na formação dos diminutivos eram utilizados, sobretudo, dois sufixos. O
primeiro, mais comum, tinha a forma -ulo, para o masculino, e -ula, para o
feminino. Quando a palavra primitiva pertencia à terceira, quarta ou quinta
declinação, o sufixo era precedido de um c: -culo, -cula (Väänänen, 1966, p. 100).
Exemplos deste são as formas casula, filiolus, aedicula e articulus. O segundo
sufixo, menos comum, utilizava-se para temas em -l-, em -n- e em -r-. Este sufixo
tinha as formas -ello, -ella e -illo, -illa. Exemplos são as formas porcellus (tema
em -l-), corolla (tema em -n-) e agellus (tema em -r-). Estas formas de diminutivo
98
estavam relacionadas com estes três temas, sendo fruto de uma evolução
particular e restrita. No entanto, as pessoas começaram a generalizar o seu uso e
começaram a aplicá-las nos casos em que se devia usar -ulo e -ula (Väänänen,
1966, p. 100). Desta forma, estes últimos começaram a perder o sentido de
diminutivos, sendo substituídos, em muitos casos, por -ello, -ella ou -illo, -illa. Esta
situação levou ao aparecimento de formas duplas de diminutivos, a mesma
palavra com os dois sufixos diferentes, e de confusões, como está registado no
Appendix Probi: catulus non catellus (Väänänen, 1981, p. 201).
O sufixo -o, -onis, com a variante -io, -ionis, entrava na formação de nomes
que tinham, como correspondentes, adjectivos terminados em -us, -a, -um:
manducus, manduco, strabus, strabo (Väänänen, 1981, p. 88). Na formação de
cognomina derivados de nomes comuns (ex.: Strabo, Naso), o sufixo salienta uma
determinada característica, mas também pode ser utilizado para designar
ocupações e profissões (ex.: caupo, mulio). Tanto num caso, como no outro, o
sufixo tem um sentido pejorativo e depreciativo que acaba por passar para as
línguas românicas. Nas línguas românicas, o sufixo acaba, também, por encerrar
a ideia de aumentativo (Väänänen, 1966, p. 96).
Nas inscrições do território português, está documentado o uso do
sufixo -anus. A designar origem, o sufixo reduz-se ao exemplo: ROMANVS. Como
parte integrante de nomes próprios, é mais comum: AELIANVS, ARRIANVS,
AVGVSTANVS, CASSIANVS, CLAVDIANVS, COELIANVS, FABIANVS,
FLORIANVS, IVLIANVS, LABERIANVS, LVCIANVS, MARIANVS,
MODESTIANVS, TERENTIANVS. Surge mesmo em nomes de cariz grego:
DIONYSIANVS. Alguns vocábulos que apresentam o sufixo designam
simultaneamente o nome e a origem do indivíduo: AFRICANVS, HISPANVS,
IGAEDITANVS. Em relação a outras palavras que também documentavam a
origem, estas apenas surgem como parte integrante do nome do indivíduo:
MONTANVS, VETERANVS, VRBANVS. Existe um nome registado na zona sul de
Portugal que poderá ser integrado neste grupo, já que pode ser interpretado como
99
um derivado de Lucceius: LVCCEIIANVS67 (IRCP 266). A inscrição em que se
encontra data de finais do século II ou inícios do século III.
O sufixo -inus, ao contrário de -unus, também se encontra documentado,
se bem que com um menor número de exemplos: ANTONINVS, FLACCINVS,
FLAVINVS, FLORINVS, MAXIMINVS, MODESTINVS, REBVRRINVS, RVFINVS,
SCAEVINVS.
O sufixo -arius surge em adjectivos, formados a partir de nomes comuns,
como AERARIAS, ARGENTARIAS e DIARIAS, e em nomes que designam
profissões: SCAVRARIORVM, TESTARIORVM. Por vezes, o nome da profissão
passava a integrar o nome da pessoa: LAPIDARIVS.
O sufixo -ensis está largamente documentado em formas que designam a
origem: AQVIFLAVIENSES, ARCOBRIGENSIS, ARITIENSE, BALSENSIS,
CLVNIENSI, COLLIPPONENSIVM, CONIMBRIGENSIS, EBORENSIS,
ITALICENSI, LANCIENSES, OLISIPONENSIS, PACENSIS, VIPASCENSIS,
VTICENSIS.
O sufixo -osus não está registado, à excepção de um epíteto de uma
divindade: L(ari) COVTIOSO.
O sufixo -tor, designando o agente, está documentado em diversos
exemplos, alguns dos quais correspondem a nomes de ocupações: ACTOR,
CIRCITORIBVS, CONDVCTOR, CVLTORES, CVRATOR, DEBITOR, EMPTOR,
IMPERATOR, PROCVRATOR, VENDITOR. A designar a ocupação e o nome da
pessoa surge uma vez: MERCATOR. O sufixo -trix também está documentado,
mas com um muito menor número de exemplos: NVTRICI, SERVATRICI.
Os sufixos que entram na formação dos diminutivos estão ambos
documentados. De -ulo e -ula, apenas temos exemplos do sufixo precedido
de c, -culo, -cula: AVVNCVLO, VERSVCVLOS. O sufixo está também
documentado em nomes próprios: FELICVLAE, PRIMVLAE. De -ello, -ella, temos
como exemplos: FLAGELLIS, TESSELAM, com redução da consoante dupla ll, e
TESSELLAS. De -illo, -illa, só temos exemplos em nomes próprios, como 67 Abascal (1994, p. 403) a propósito da forma Lucceiianus refere ser igual a Lucceianus. O mesmo autor (1994, p. 174) regista os nomes Lucceia e Lucceius.
100
CANDIDILLA, CLARILLA, FLACCILLAE, FVSCILLA, LVPERCILLA, VICTORILLA.
Pelos exemplos, pode comprovar-se a generalização deste sufixo e o seu uso
com palavras sem ser as de temas em -l-, em -n- e em -r-.
O sufixo -o, -onis está documentado em palavras que marcam uma
determinada característica da pessoa e a designam: CAPITONIS, FRONTONIS,
NIGELLIONIS, SILONIS.
1.2.2. Os sufixos verbais
Os sufixos verbais surgem, na epigrafia, em menor número do que os
sufixos nominais, como é o caso das inscrições de Pompeios, com um número de
exemplos significativamente inferior em comparação com os sufixos nominais
(Väänänen, 1966, p. 103-104). Observando os exemplos apresentados, também
podemos constatar que a diversidade de sufixos verbais não é muita.
Numa outra obra, Väänänen (1981, p. 90-91) apresenta alguns dos sufixos
verbais do latim. Destes, destacamos os sufixos: -are e -ire, -icare e -illare. Os
sufixos -are, também com a forma -iare, e -ire juntavam-se a nomes comuns ou a
adjectivos de forma a criar verbos: laus, laudare; breuis, breuiare. Encontram-se
atestados na epigrafia do século I (Väänänen, 1966, p. 103). O sufixo -icare tem
um sentido frequentativo: claudicare. Em alguns casos, os verbos derivados que
apresentavam este sufixo substituíram o verbo primitivo no qual tinham tido
origem: claudicare substitui claudere (Väänänen, 1981, p. 91). O sufixo -illare
também tem um sentido frequentativo, mas confere a ideia de pouca importância
da acção, aproximando-se da de diminutivo: murmurillare.
Na epigrafia do território português, o sufixo verbal -are está documentado
em verbos derivados de nomes e de adjectivos. Temos atestado o verbo aurare,
derivado de aurum, num exemplo, de finais do século I ou de inícios do século II:
AVRAVIT (EFRBI 116). O verbo curare, derivado de cura, está amplamente
documentado em todo o território, muitas vezes de forma abreviada, por fazer
parte do formulário epigráfico. Temos exemplos de formas como CVRAVERIT,
101
CVRAVERVNT e CVRAVIT. O verbo donare, derivado de donum, apresenta
diferentes exemplos, registados nas regiões sul e centro: DONARE, DONAVIT. O
verbo legare, derivado de lex, está documentado uma vez: LEGAVIT (IRCP 144).
A inscrição em que se encontra data do século II. O verbo renouare é derivado
por prefixação do verbo nouare. Este, por sua vez, é derivado do adjectivo
nouus, -a, -um. Temos dois exemplos de renouare: RENOVATE (EO 22), do
ano 336, e RENOVARVNT (CIL 2420), sem data. O verbo sacrare, derivado do
adjectivo sacer, -cra, -crum, aparece documentado através da forma SACRAVIT,
por vezes abreviada, registada, sobretudo, a norte. O verbo uocare, derivado de
uox, surge registado através de um exemplo de finais do século I a.C. ou de
inícios do século I: VOCATVR (CV 78). Quanto aos outros sufixos, não há
exemplos a apresentar.
2. Composição
A composição é o processo de formação de palavras através do qual se
juntam, normalmente, dois vocábulos. Se as palavras se juntam formando uma
unidade coesa, temos a composição propriamente dita. Se, pelo contrário, as
palavras formam uma unidade semântica, mas mantêm a sua unidade, seguindo,
por vezes, cada uma a sua declinação, temos a composição por justaposição
(Faria, 1958, p. 283). Tanto num caso, como no outro, o processo é mais
frequente nos nomes comuns.
2.1. A composição propriamente dita
A composição propriamente dita não é muito frequente em latim. O
processo é comentado por autores latinos como Quintiliano e Cícero, mostrando
102
estes desagrado em relação a algumas palavras compostas (Väänänen, 1981,
p. 92). No entanto, na linguagem do quotidiano e na poesia, o processo vai
originando algumas palavras.
Desde a época arcaica que há exemplos de palavras compostas em latim,
como suouetaurilia e stultiloquus e até nomes de algumas localidades (Väänänen,
1981, p. 92). Os poetas latinos e os autores que recorrem a linguagens técnicas
utilizam igualmente este processo de formação de palavras, à semelhança do
grego, para criarem termos novos. Na linguagem do quotidiano, também são
formados alguns compostos. Plínio, o Antigo, relata que as pessoas, na sua
época, começam a dizer sanguisuga em vez de hirudo68. A epigrafia de Pompeios
apresenta exemplos para a segunda metade do século I (Väänänen, 1966, p. 105-
106). O Appendix Probi documenta, ainda, alguns destes compostos de carácter
popular: aquae ductus non aquiductus, terrae motus non terrimotium (Väänänen,
1981, p. 202 e 202).
Como se pode observar pelos exemplos, os falantes começam a criar
compostos, preferindo-os a palavras simples, como é o caso do exemplo dado por
Plínio, ou consideram duas palavras que surgem juntas uma palavra composta,
como no caso dos exemplos do Appendix Probi. Esta tendência popular para a
criação e para a valorização de palavras compostas mantém-se na passagem do
latim para as línguas românicas. Voltando ao exemplo de Plínio, foi a forma
sanguessuga que passou para português.
Nas inscrições do território português, não existem muitos exemplos de
palavras compostas. Temos, de sul para norte: MANCIPIA (IRCP 142.2.), de
finais do século I ou inícios do século II, forma de mancipium, palavra derivada de
manceps, que, por sua vez, é um composto de manus e capio; CALFACERE
(IRCP 142.3.) e ARTIFICES (IRCP 142.5.), da mesma data; AQVILIFER (CIL 266)
sem data; e SIGNIFER (Egit. XIV; AF 223), com a variante SIGINIFERO (AF 215),
sem indicação cronológica em qualquer uma das ocorrências.
68 Naturalis Historia, 8, 29.
103
Está documentada uma palavra que apresenta um tipo de composição
curioso: VBERTVMBIS (IRCP 142.7.). A palavra, com a função de adjectivo,
parece ser resultante de dois compostos: um de origem latina, uber; outro de
origem grega, tumba. A inscrição data de finais do século I ou inícios do século II.
Além destes exemplos, estão registados nomes próprios resultantes do
processo de composição. Temos, por ordem alfabética: AENOBARBO (Egit. 1),
do ano 16 a.C., e ALTECINIRIS (CIL 265), sem data.
Existe, ainda, um grupo de nomes próprios de cariz grego, que resulta
igualmente deste processo de formação de palavras. Temos, por ordem
alfabética: CALEMERA (IRCP 42), da segunda metade do século II; CALETYCHE
(IRCP 299 e 309), ambas do século II; CALIMERVS (FC 100), do século IV;
EVTYCHES (IRCP 80; EFRBI 81), datando a primeira ocorrência de finais do
século II e a segunda de finais do século I ou de inícios do século II; e
POLYCARPVS (AF 72), sem data.
2.2. A justaposição
Devido à natureza do processo, algumas palavras compostas por
justaposição surgem separadas na grafia, percebendo-se, deste modo, o carácter
independente de cada um dos vocábulos que as formam. É o caso, por exemplo,
de duo uiri, de pater familias e de res publica, que em algumas inscrições mais
antigas surgem registadas de forma separada (Väänänen, 1981, p. 93).
A tendência para justapor palavras que, normalmente, são utilizadas em
conjunto, formando uma unidade semântica, vai alargar-se aos nomes próprios e,
com o cristianismo, são vários os que surgem, tendo como formação este
processo (ex.: Deodatus). De época tardia são, ainda, os compostos de carácter
popular como maledicere.
A justaposição engloba, também, grupos de palavras de natureza diferente,
nomes comuns e preposições, que, em conjunto, designavam, sobretudo,
104
profissões: seruus a pedibus, a manu seruus ou, simplesmente, a ueste.
Exemplos destes encontram-se na obra de Cícero e na de escritores do século I
(Väänänen, 1981, p. 94). Também no século I, na segunda metade, as inscrições
de Pompeios documentam compostos deste tipo: aqua in manus, ex sanguine
(Väänänen, 1966, p. 106).
Algumas palavras invariáveis mostram, também, a tendência para a
justaposição. Esta justaposição ocorre, sobretudo, com os advérbios, que surgem
acumulados, reforçando o sentido. Já em Lucílio surge um destes exemplos:
demagis. Na sua obra, Cícero fornece mais alguns: derepente, desubito
(Väänänen, 1981, p. 95). As inscrições de Pompeios, na segunda metade do
século I, também documentam o fenómeno (Väänänen, 1966, p. 108).
Na passagem do latim para as línguas românicas, manteve-se a tendência
para a justaposição, sobretudo, de vocábulos de índole popular. Por exemplo, a
justaposição de palavras invariáveis deu origem a vários advérbios. De inter
evoluiu para dentro, em português, e depost para depois.
Na epigrafia do território português, não há muitos registos de palavras
compostas por justaposição. Temos, apenas, o caso da designação de duas
cidades importantes. A sua designação surge em formas separadas graficamente:
AQVIS FLAVIS, BRACARA AVG(usta). A dos seus habitantes em formas já não
separadas: AQVIFLAVIENSES, BRACARAVGVSTANI.
3. Renovação lexical
Durante a história da língua latina, foram surgindo novos vocábulos de
carácter popular. Estes começaram a ser utilizados, frequentemente, e
começaram a substituir outros69. É o caso de vadere que suplanta ire em algumas
69 Ernout (1954, p. 185-192) analisa esta questão, apresentado mais exemplos. Na mesma obra, o autor relaciona a substituição de alguns verbos irregulares por outros com uma tentativa de normalização e de eliminação de formas anómalas (id., p. 151-162).
105
formas. É também o caso de edere substituído por comedere e manducare. E,
ainda, de sapere, que surge em vez de scire, já nas Cartas de Cícero (Väänänen,
1981, p. 76).
Esta tendência não se restringe só aos verbos. Os nomes comuns e os
adjectivos são também suplantados por vocábulos de sentido equivalente. Equus
é substituído por caballus, os por bucca, caput por testa. Grandis surge por
magnus, infirmus por aeger e formosus por pulcher.
O fenómeno de substituição, como se pode observar pelos exemplos, dá a
preferência a vocábulos mais extensos. Este ponto pode ser confirmado por uma
tendência semelhante, documentada no Appendix Probi, que consiste na
substituição de nomes comuns no grau normal pelo correspondente diminutivo:
auris non oricla, fax non facla, mergus non mergulus (Väänänen, 1981,
p. 201-202).
Na epigrafia, a substituição de algumas palavras por outras novas está
documentada na epigrafia da Península Ibérica e na de Pompeios, com exemplos
do século I para ambos os casos (Carnoy, 1906, p. 259-260; Väänänen, 1966,
p. 108-110). Os vocábulos que suplantaram outros, em muitas situações,
acabaram por passar para as línguas românicas: boca tem como étimo buccam e
orelha auriculam.
Nas inscrições do território português, temos exemplos de novos vocábulos
que começaram a suplantar outros já existentes. Em relação a nomes comuns,
temos dois exemplos: BARCARVM (IRCP 73), do século III, com barca em vez de
nauis; e CABALLOS numa clara relação com o feminino EQVAS (IRCP 142.2.),
de finais do século I ou inícios do século II, com caballus em vez de equus. O
vocábulo VACCA, com omissão de -m (RAP 469), também está documentado
para fazer a distinção entre o feminino e o masculino. A inscrição em que se
encontra tem uma data bastante precisa: 9 de Abril de 147.
No âmbito dos adjectivos, registamos o uso de sanctus, -a, -um com deus
ou dea, numa fórmula que não era a mais habitual, em inscrições votivas,
maioritariamente a sul, em formas como DEAE SANCTAE e DEO SANCTO. Por
106
vezes, estas expressões eram seguidas do nome da divindade. Noutros casos,
surgem isoladas.
Quanto a verbos, temos alguns que suplantam outros ou expressões
equivalentes. O verbo debere surge a marcar a ideia de obrigação nas duas
Tábuas de Aljustrel (IRCP 142 e 143), em detrimento da construção tradicional da
perifrástica passiva. O verbo donare surge em alguns exemplos, sendo preterido
o uso de dare ou suplantando outras construções: DONARE (IRCP 142.2.) e
DONAVIT (IRCP 339; EO 31; EFRBI 206; Egit. 1). O exemplo mais antigo é o
último: ano 16 a.C.. O verbo statuere, através da forma STATVERVNT e
STATVIT, está registado, em inscrições funerárias em contexto de ponere ou da
expressão faciendum curauit. Estes exemplos registam-se, maioritariamente, em
inscrições da zona centro. Está documentado, ainda, um caso em que a
expressão hic situs est surge alterada: STATVS HI(c) EST (EFRBI 7). O exemplo
data da primeira metade do século I. Também está registada outra alteração, mas
esta mais anómala: HIC STITVS EST (EFRBI 216). A inscrição em que se
encontra o exemplo data do século I. O verbo tractare está documentado num
contexto em que o sentido poderia ser representado por outro, visto que
representa a ideia de negociar: TRACTARE (IRCP 142.4.). A inscrição em que se
encontra o exemplo data de finais do século I ou inícios do século II.
Destacamos, ainda, uma palavra extremamente comum em toda a
epigrafia funerária, que, apesar de estar a suplantar outra, acabou por ser
suplantada na evolução do latim para o português. Esta palavra é MARITA.
Derivada de maritus, ela surge em algumas epígrafes, sobretudo da zona sul, em
vez de uxor. O exemplo mais antigo data da segunda metade do século I
(IRCP 585). Os outros, no caso dos que estão datados, são dos séculos II e III.
Em grande parte dos exemplos, quando a palavra está em dativo, surge a forma
monotongada: MARITE (v. Cap. II, 2.1.)
Em relação a diminutivos, estão documentados exemplos que estão em
vez do nome no grau normal. Temos, por ordem alfabética: FLAGELLIS
(IRCP 143.10., 143.13. e 143.17), do período entre os anos 117 e 138;
107
TESSELAM (IRCP 602), sem data, e a forma de plural TESSELLAS (IRCP 35), do
século III; e VERSVCVLOS (FC 71), da segunda metade do século II (v. 1.2.1.).
4. Empréstimos
O latim recebeu a contribuição de várias línguas, através de empréstimos
lexicais. Com estes novos vocábulos, pretendia-se designar, sobretudo, novas
realidades: a designação de uma técnica dominada por outro povo ou a
designação de algo desconhecido para os Romanos, por exemplo. As palavras
importadas poderiam, também, designar realidades já conhecidas, mas
adoptava-se a palavra estrangeira, por razões de prestígio.
O latim recebeu empréstimos do etrusco e, sobretudo, do grego, mas os
povos celtas e os povos germânicos também foram responsáveis por alguns70. De
origem etrusca são palavras com um certo valor depreciativo, como, por exemplo,
scurra e uerna (Ernout, 1954, p. 91).
O grego foi a língua que deu uma maior contribuição ao latim, através de
diferentes tipos de empréstimos71. Sob a forma de empréstimo directo, temos
palavras como camera, machina ou scaena. O vocabulário de algumas áreas,
nomeadamente técnicas, é de origem grega. A influência grega fez-se sentir em
duas fases: a primeira, numa época mais antiga, no designado período
pré-literário (Ernout, 1954, p. 57-72); a segunda, numa fase posterior, a partir do
século III a.C. (id., p. 72-84). Um dos elementos que distingue estas duas fases é
o facto de as palavras pertencentes à primeira terem sofrido uma maior
70 Além destes, Ernout demonstra que parte dos empréstimos relacionados com os nomes de vegetais, de legumes, de flores e de frutos, com o vocabulário marítimo e com a designação de elementos da fauna tem origem mediterrânica (1954, p. 17-57). 71 Dentro do grupo dos empréstimos gregos, pode distinguir-se dois tipos: o empréstimo directo, que implica a adopção de uma nova palavra com o sentido que esta tem na língua estrangeira (Ernout, 1954, p. 57-86), e o empréstimo semântico, que consiste na atribuição de um novo sentido, estrangeiro, a uma palavra já existente no vocabulário (id., p. 86-91).
108
transformação fonética. A influência grega veio, de novo, a verificar-se, depois do
período clássico, impulsionada, sobretudo, pelo cristianismo (id., p. 84-86).
As línguas célticas também emprestaram algumas palavras ao latim.
Carpentum e sagum são vocábulos importados na época de Lívio Andronico e de
Énio. Plínio, o Antigo, regista alauda e betulla e, numa fase mais tardia, camisia e
leuca são adoptadas (Väänänen, 1981, p. 83). Os povos germânicos contribuíram
para o latim com palavras como brutis, burgus ou ganta, surgindo esta última na
obra de Plínio, o Antigo.
Na epigrafia da Gália, surgem documentados empréstimos gregos,
empréstimos de origem celta e empréstimos de origem germânica (Pirson, 1901,
p. 229-237). Para a Península Ibérica, Carnoy apresenta um reduzido número de
empréstimos gregos e de empréstimos, como o próprio designa, de origem
bárbara (1906, p. 255-257). Nas inscrições de Pompeios, na segunda metade do
século I, devido à localização da cidade, estão, sobretudo, documentados
empréstimos gregos, nomeadamente termos técnicos (Väänänen, 1966,
p. 110-111).
Na evolução do latim muitos destes empréstimos passaram para as línguas
românicas. Camisiam, empréstimo celta, em português, evoluiu para camisa.
Nas inscrições do território português, os empréstimos registados são de
origem grega. No entanto, apesar de estar registado um número razoável de
nomes próprios que segue a declinação original (v. Cap. III, 1.2.) e de outros que
apresentam elementos gregos (v. 2.1.), o número de empréstimos registado não é
muito elevado. Temos, por ordem alfabética: BASI (IRCP 121; EFRBI 116), do
século II, possivelmente do ano 173, e de finais do século I ou inícios do século II,
respectivamente; HYPOCAVSTIS (IRCP 142.3.), de finais do século I ou inícios
do século II; POETA (IRCP 482d-e), sem data; PROSCAENIVM e
ORCHESTRAM (EO 70), do ano 57; e SCAVRARIORVM, SCAVREIS e
SCAVRIAE (IRCP 142.7.) (v. Cap. II, 2.2.), com a mesma data que
HYPOCAVSTIS.
109
5. Mudanças de sentido
Algumas palavras, em latim, sofreram mudança de sentido. O processo de
mudança ocorreu de duas formas: ou a palavra sofreu uma restrição de sentido e
a sua utilização começou a ser particularizada, ou, contrariamente, sofreu um
alargamento de sentido, utilizando-se de forma generalizada para designar
diferentes realidades. Em relação à primeira situação, temos, como exemplo, o
verbo collocare, que deixa de significar colocar para significar deitar, já na obra de
Cícero, e os nomes comuns cognatus e cognata, que passam a designar o irmão
da mulher e a irmã do marido em vez de parente próximo (Väänänen, 1981,
p. 96). Quanto ao segundo caso, apresentamos, como exemplo, o verbo laxare,
que de afrouxar passou a significar deixar, e o nome comum poena, que, além de
designar punição (ex.: pena a ser cumprida), passou a designar sentimento de
compaixão (ex.: ter pena de alguém).
Em relação à generalização de sentido, Mariné (1952, p. 76-77) refere as
alterações de significado que os pronomes sofreram, sobretudo os
demonstrativos, ilustrando com exemplos. O autor salienta que os
demonstrativos, nos exemplos apresentados, parecem comportar-se como
artigos. Na evolução do latim para as línguas românicas, o sistema de
demonstrativos sofreu algumas alterações: uma delas é o significado de ipse. O
pronome deixou de significar o próprio para passar a significar esse. O pronome
iste, que assegurara este sentido, passa a designar este, enquanto que hic cai em
desuso72. Quanto ao numeral unus, -a, -um, o sentido também se altera. De
numeral a palavra passa a ter um valor de artigo indefinido. Väänänen (1981,
p. 119) regista esta alteração já em Plauto.
Na epigrafia, as alterações de significado estão atestadas, tanto na
Península Ibérica, como em Pompeios, com exemplos do século I (Carnoy, 1906,
p. 265-266; Väänänen, 1966, p. 112-113). As alterações de sentido acabaram por
72 Väänänen (1981, p. 121) apresenta um esquema ilustrativo das mudanças de sentido dos pronomes.
110
passar para as línguas românicas. Exemplos são os sentidos de cunhado, de
cunhada, do verbo deixar e de pena.
Nas inscrições do território português, não temos registadas muitas
alterações de sentido. As que temos estão registadas a sul. O primeiro exemplo
apresenta a alteração de sentido de um numeral: L(ucii) ANNII P(ublii) F(ilii) BINI
ANNORVM LXXXV H(ic) S(iti) S(unt) (IRCP 91). A inscrição data da segunda
metade do século II. O segundo exemplo apresenta a alteração de sentido de um
adjectivo: CVM QVAM VIXIT COMMVNES ANNOS (IRCP 259). Neste caso,
COMMVNES encerra a ideia de anos em comum. A inscrição data do século III.
Quanto ao terceiro exemplo é um pouco diferente, já que se trata de uma
expressão pouco comum nas epígrafes portuguesas e altera o uso habitual de
plus: PLVS MINVS. Surge no seguinte contexto: SEX(tus) N(umisius) EROS
VIX(it) AN(nis) PLVS MINVS LV (IRCP 23). Este exemplo encontra-se numa
inscrição do século II. A expressão surge, abreviada, em mais duas inscrições do
século II: IRCP 134 e FC 63.
111
Conclusão
Considerando os dados que foram apresentados, importa sistematizar
algumas ideias, de modo a traçar uma caracterização do latim das inscrições
romanas do território português, atendendo às hipóteses que foram estabelecidas
no início do estudo.
Quanto à manutenção ou não da correcção na língua das epígrafes, os
dados apontam maioritariamente para o respeito das formas correctas,
documentado, por exemplo, na manutenção de alguns grupos consonânticos,
sem assimilação, no uso adequado dos tempos e modos verbais ou na
conservação das construções adequadas na subordinação. Este cumprimento
das regras da língua pode ser associado a uma atitude conservadora, confirmada
pela presença de arcaísmos nas desinências nominais e verbais, datando alguns
destes do século II.
Comparando a epigrafia do território português com a de outras regiões,
nomeadamente a de Pompeios, podemos observar, ao nível dos desvios, várias
semelhanças, como a oscilação na grafia das vogais, a monotongação do ditongo
ae, a confusão entre b e a semivogal u ou o uso de formas derivadas por
prefixação. Normalmente, os exemplos de desvios mais antigos registados em
território português são um pouco mais tardios do que os de Pompeios, datando
grande parte de finais do século I e do século II.
No que se refere à diferenciação geográfica do latim das inscrições,
verifica-se que, de facto, certas particularidades ocorrem predominantemente em
determinadas zonas do território: a monotongação de ae e a manutenção da
declinação original em nomes de origem grega estão documentadas sobretudo na
zona sul; o tratamento de nomes próprios da segunda declinação como se fossem
da terceira e a redução do grupo ns estão atestados nas zonas centro e norte; a
oscilação entre c e g nos nomes próprios ocorre, sobretudo, na zona centro. No
112
entanto, parece-nos que o número de tais ocorrências não é suficiente para definir
com clareza variantes linguísticas distintas.
Relativamente a influências externas, é evidente a presença indígena nos
nomes próprios e de divindades, sobretudo na zona centro e também na norte. A
presença grega está fortemente documentada na zona sul, através de um grande
número de nomes próprios, mantendo parte destes a declinação original. No
entanto, estas presenças exteriores circunscrevem-se à designação de pessoas e
de divindades, não parecendo influenciar outros vocábulos. Um aspecto
interessante a aprofundar e que não tratámos por não se enquadrar no âmbito do
nosso trabalho seria o estudo da presença grega no território português,
tratando-se a onomástica e caracterizando-se essa população.
No que se refere à distribuição de alguns aspectos, salientamos, ainda,
dois que não aprofundámos, pela natureza do trabalho: a distribuição de nomes
próprios e a variação do tipo de texto epigráfico. Em relação aos nomes próprios,
a distribuição ajuda a perceber o tipo de habitantes que vivia no território
português. É nítida na zona centro a predominância de nomes de origem
indígena. O texto epigráfico varia de estilo consoante a região. Na zona sul, é
frequente encontrar textos mais extensos e com algum grau de elaboração. O
mesmo acontece na zona de Lisboa ou de S. Miguel de Odrinhas. No entanto,
noutras regiões da zona centro, sobretudo na região interior ou na zona de Viseu,
o texto epigráfico é mais curto e as dedicatórias, funerárias ou votivas, reduzidas
ao mínimo de caracteres. Para tal, pode contribuir a natureza do material ou a
literacia dos habitantes.
Em traços gerais, podemos concluir que o latim das inscrições romanas do
território português se caracteriza pela manutenção de construções e pelo
conservadorismo. No entanto, tal não implica que ele não partilhe características
e fenómenos comuns à epigrafia de outros locais e que não se integre no latim de
todo o Império, apesar de algumas particularidades internas.
113
Bibliografia
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Índice remissivo de formas documentadas
nas inscrições romanas do território português
ABNEPOTI ............................... 64, 95 AC .................................................. 76 ACCAE........................................... 56 ACCEPERIT .................................. 64 ACCIPITO ...................................... 64 ACILIS............................................ 72 ACTE ............................................. 74 ACTOR .................................... 59, 99 ACTRIVM ....................................... 59 ACTVM .......................................... 59 ADDICTA ....................................... 64 ADDIXERIT .............................. 64, 95 ADIVTAM ....................................... 64 ADIVTOREM .................................. 64 ADLECTO ...................................... 64 ADLECTVS .................................... 64 ADMINISTRATAM ............. 51, 64, 95 ADNEPOTI..................................... 64 ADSIGNATA .................................. 64 ADSIGNATOS ............................... 64 ADVERSVS ................................... 63 AELIANVS ..................................... 98 AEMERITE............................... 38, 39 AENOBARBO .............................. 103 AERARIAS ......................... 29, 53, 99 AETATIS ........................................ 53 AFINATV ............................ 34, 72, 84 AFRICANVS .................................. 98 AGATE ........................................... 74 AGATHON ..................................... 75 AGNV ............................................. 52 ALEXANDER ................................. 58 ALTECINIRIS ............................... 103 AMABILI ......................................... 45 AMENA .......................................... 43 AMMAIENSIS ................................ 61 AMOENA ....................................... 43 AMOENE ....................................... 43 AMOENVS ..................................... 43
AMPLISSIMVM ..............................51 ANCHIALE .....................................74 ANIS ...............................................56 ANNI.........................................54, 72 ANNIS ......................................53, 56 ANNORV ........................................51 ANNORVM .....................................51 ANNOS ..........................................56 ANO ...............................................56 ANONIVS .......................................56 ANORV ....................................51, 56 ANORVM .................................56, 57 ANORVN ..................................56, 71 ANTONINVS ..................................99 APANONI .......................................53 APOLLINI .......................................56 APONEVS ......................................31 APPARVERIT ................................29 APTO .............................................63 AQVAE ...........................................48 AQVIFLAVIENSES...........61, 99, 104 AQVILIFER ..................................102 AQVIS FLAVIS .............................104 ARA ..........................................51, 73 ARCOBRIGENSIS .........................99 ARGENTARIAS..............................99 ARITIENSE ....................................99 ARRIANVS .....................................98 ARTIFICES ............................48, 102 ASCLEPIADES ..............................74 ASINOS..........................................53 ATFINIS .........................................64 ATTINGERE...................................64 AVEAE ...........................................30 AVGMENTVM ................................41 AVGVSTALES ...............................53 AVGVSTANVS .........................41, 98 AVGVSTV ..........................34, 72, 84 AVGVSTVS ....................................41
126
AVIA ............................................... 45 AVINTINA ...................................... 31 AVITE............................................. 39 AVITIS............................................ 72 AVRAVIT................................ 41, 100 AVT ................................................ 41 AVVNCVLO ............................. 45, 99 BALSENSIS ............................. 61, 99 BARCARVM ........................... 48, 105 BASI ............................................. 108 BINI ........................................ 78, 110 BLIINA............................................ 43 BLOENA ........................................ 43 BOVE ............................................. 52 BOVTEAE ...................................... 31 BOVTIS .......................................... 72 BRACARA AVG(usta) .................. 104 BRACARAVGVSTANI.................. 104 C. ................................................... 48 CABALLOS .................................. 105 CABVRENE ................................... 74 CAESER[I] ..................................... 29 CALANTICESI ............................... 61 CALCIAMENTA ............................. 31 CALCIAMENTORVM ..................... 31 CALEMERA ................................. 103 CALETYCHE ......................... 74, 103 CALFACERE ............................... 102 CALIMERVS ................................ 103 CALLIOPE ..................................... 74 CANDIDILLA ................................ 100 CAPIENTEM .................................. 51 CAPITONIS.................................. 100 CAPITVLARIVM ............................. 29 CARESSIME ............................ 30, 38 CARIORES .................................... 53 CARISSIMAE ................................. 56 CARISSIME ................................... 38 CASIANA ....................................... 57 CASIANAE ..................................... 57 CASSIANVS .................................. 98 CATTIA .......................................... 57 CAVSA ........................................... 41 CECILIVS....................................... 39 CELEA ........................................... 32
CELI ...............................................39 CENSORI .......................................61 CHARITON ....................................75 CHRESIMV ....................................53 CHRESTE ......................................74 CHRYSEROS ................................74 CHRYSIS .................................74, 75 CIPPVM .........................................56 CIRCITORIBVS ..............................99 CIVIBVS .........................................53 CIVITAS ...................................45, 53 CLADIO ..........................................41 CLARILLA ....................................100 CLAVDIANVS ................................98 CLAVDIVS .....................................41 CLAVOM ..................................34, 71 CLVNIENSI ....................................99 CN. .................................................48 COCNATAE ...................................49 COELEA.........................................44 COELIA ..........................................44 COELIANVS .............................44, 98 COELIVS........................................44 COEPERIT .....................................43 COEPTVM ...............................43, 63 COGITATA .....................................48 COGNATO .....................................65 COGNOVERO ...............................65 COILICVS ......................................43 COIMIA ..........................................43 COIVGI...........................................65 COLLEGIVM ..................................65 COLLIGITO ....................................65 COLLIPPONENSIVM .....................99 COLLIPPONESIVM........................61 COMFISCATO ...............................65 COMMISSA..............................64, 95 COMMODA ....................................64 COMMVNES ..................................64 COMMVNES ANNOS ..................110 COMPETRI ....................................65 CONCESSERVNT .........................65 CONCORDIAE ...................48, 65, 95 CONDICIONE ................................65 CONDVCTA .............................59, 65
127
CONDVCTOR .................... 59, 65, 99 CONFERAT ................................... 65 CONIACTIA ............................. 31, 65 CONIMBRICA ................................ 49 CONIMBRICAE .............................. 49 CONIMBRIGENSIS.................. 49, 99 CONIVCI ........................................ 49 CONIVGI ........................................ 65 CONLAPSOS ........................... 62, 65 CONLATO...................................... 65 CONLIBERTO .......................... 45, 65 CONS............................................. 61 CONSERVANDA ........................... 65 CONSERVVS .......................... 53, 65 CONSOBRINI ................................ 65 CONSVL ........................................ 61 CONTVBERNALES ....................... 65 CONVENTVVS ........................ 34, 71 CONVICTVS .................................. 65 CORINTHV .................................... 54 COS ............................................... 61 COSTANTINO ............................... 61 COVTIOSO .................................... 99 CRATERA ...................................... 29 CRYSEROS ................................... 74 CRYSIS.................................... 74, 75 CVLTORES.................................... 99 CVM QVAM ................................... 85 CVNCTA ........................................ 60 CVPPIDINI ..................................... 57 CVRARVNT ................................... 80 CVRATOR ..................................... 99 CVRAVERIT ................................ 100 CVRAVERVNT ............................ 101 CVRAVIT ............................... 45, 101 CVRAVITT ............................... 57, 80 DAEAE ........................................... 39 DAPHINE ....................................... 74 DD .................................................. 57 DEABVS ........................................ 71 DEAE SANCTAE ......................... 105 DEBENT ........................................ 45 DEBITOR ....................................... 99 DECAPITASSE ........................ 80, 95 DECEM .......................................... 78
DEDICANTE ..................................95 DEE ................................................38 DEFVNCTO ...................................60 DELICIVM ......................................48 DELIGANDA ..................................48 DEO SANCTO .............................105 DESIDERATISSIME.......................38 DESIGNATO ..................................95 DEV ..........................................51, 73 DEVM .............................................71 DIANAE ..........................................29 DIARIAS ...................................29, 99 DIBVS ............................................71 DIC .................................................80 DILIGENTER..................................95 DILIGENTISSIMO ..........................95 DIONYSIANVS ...............................98 DIVVS ............................................45 DOMENO .......................................31 DONARE ..............................101, 106 DONAVIT .............................101, 106 DVATIVS ........................................83 EA ..................................................76 EAE ................................................76 EAS ................................................76 EBORENSIS ..................................99 EGO ...............................................76 EIVS ...............................................76 ELICON ..........................................75 ELPIS .............................................74 EMERINT .......................................80 EMPTOR ..................................63, 99 ENDOVELICO ................................56 ENDOVELLICO ..............................56 ENDOVOLICO ...............................56 ENOBOLICO ............................45, 56 ENTARAMICO ...............................31 EO ..................................................76 EORVM ..........................................76 EOS................................................76 EPOLITA ........................................57 EQVAS .........................................105 ETIAM ............................................51 EVENTVM ......................................45 EVENTVTII...............................31, 34
128
EVM ............................................... 76 EVNOIDE ....................................... 43 EVPREPES.................................... 74 EVREMON ..................................... 75 EVTYCHES ............................ 74, 103 EX RESPONSVM .......................... 85 EXCEPTA ...................................... 95 EXPERTEM ................................... 95 EXS ................................................ 58 FABIANVS ..................................... 98 FACVNDVS ............................. 48, 53 FATE ........................................ 69, 88 FATVS ........................................... 69 FAVSTVS....................................... 41 FAXINT .......................................... 79 FECI............................................... 80 FEICIT............................................ 79 FELAT ............................................ 56 FELICE .................................... 83, 86 FELICVLAE.................................... 99 FERRAMENTA ........................ 29, 56 FILIAE ............................................ 38 FILIAE PIENTISSIMA .................... 86 FILIAS ............................................ 83 FILIE .............................................. 38 FILIO ............................ 33, 53, 73, 84 FILIV .............................................. 53 FILIVS ............................................ 53 FILLI............................................... 57 FLACCILLAE ............................... 100 FLACCINVS ................................... 99 FLACVS ......................................... 56 FLAGELLIS ............................ 99, 106 FLAVINVS...................................... 99 FLAVOS ................................... 34, 71 FLAVS............................................ 34 FLAVVS ......................................... 34 FLORIANVS................................... 98 FLORINVS ..................................... 99 FRIGIDVS ...................................... 48 FRONTONIS ................................ 100 FVSCILLA .................................... 100 G. ................................................... 48 GAIVS ............................................ 49 GALIO ............................................ 56
GAMICE .........................................74 GN..................................................49 GOGNATIO ....................................49 HABERE ........................................45 HAC................................................76 HADDRIANVS ................................57 HEC................................................30 HEGESISTRATE............................74 HELENE .........................................74 HELPIS ..........................................74 HERENIANVS ................................57 HERMES ........................................74 HIC .................................................76 HIC FATVS ....................................86 HIC MVNIMENTVS ........................86 HIRINIANA ...............................31, 56 HISPANVS .....................................98 HOC ...............................................76 HONOREM ....................................51 HORVM ....................................76, 88 HVIVS ............................................76 HVNC .............................................76 HYPOCAVSTIS ............................108 HYPOLITVS ...................................57 ICAEDITANORVM .........................49 ID....................................................76 IGAEDITANVS ...............................98 IGNOTVS .......................................65 ILLIVS ............................................76 IMMORTALES ...............................65 IMMVNES ......................................65 IMPENSA .................................65, 95 IMPERATO ....................................65 IMPERATOR ..................................99 IMPESAM .......................................61 INCOLA ..........................................65 INCOMPARABILIS .............45, 65, 95 INDOMITAS ...................................65 INDOVELLICO ...............................32 INDVLGENTISSIMO ......................65 INFERET ..................................65, 95 INIMICVS .................................65, 95 INLATA...........................................65 INMOLANTVR................................65 INPENSA .................................65, 66
129
INPVBERES ...................... 45, 65, 66 INSIDI ............................................ 61 INSTAT .......................................... 65 INSTRVENDVM ............................. 65 INTITVLO ................................. 65, 95 INVENTAS ..................................... 65 INVICTO .................................. 59, 65 INVOLAVERIT ............................... 65 IPSE ............................................... 62 IPSO .............................................. 62 IRINAEI .......................................... 31 IS ....................................................76 ITALICENSI ................................... 99 IVAT ............................................... 34 IVENTVTIS .................................... 34 IVLIAI ....................................... 38, 71 IVLIANVS ....................................... 98 IVLLIA ............................................ 57 IVVENTVTIS .................................. 45 IVXTA............................................. 58 KARISSIME ............................. 38, 47 LABEFACTASSE ........................... 80 LABERIANVS ................................ 98 LANCIENSES ................................ 99 LANCIESI....................................... 61 LANGON ........................................ 75 LAPIDARIVS .................................. 99 LAQVINIESI ................................... 61 LARIIBVS ....................................... 31 LECENIANO .................................. 31 LECENIO ....................................... 31 LEDERE......................................... 38 LEDERE NOLI ............................... 91 LEGAVIT ...................................... 101 LEGEM .......................................... 48 LETOIDES ............................... 43, 74 LIBENS .................................... 45, 61 LIBERTVS SVOS ........................... 86 LIBES ............................................. 61 LOBESA......................................... 46 LOBESSA ...................................... 46 LOBESSAE .................................... 46 LVBEN[S] ....................................... 36 LVCCEIIANVS ............................... 99 LVCCIVS........................................ 57
LVCIANVS .....................................98 LVPERCILLA ...............................100 MAESOLIVM ............................31, 41 MAIRITO ........................................38 MANCIPIA ....................................102 MARCEA ........................................31 MARCELLAI .............................38, 71 MARIANVS ....................................98 MARINE .........................................72 MARITA..................................29, 106 MARITAE .......................................38 MARITE..................................38, 106 MAXIMA .........................................58 MAXIMAE.......................................38 MAXIMINVS ...................................99 MAXIMVS.......................................58 MAXSIMI ........................................59 MAXSIMIANVS ..............................58 MAXSIMINVS .................................58 MAXSVMA ...............................35, 58 MAXSVMI.......................................58 MAXSVMVS .............................35, 58 MAXVMA........................................35 MAXVMINA ....................................35 MAXVMINVS ..................................35 MAXVMO .......................................35 MAXVMVS .....................................35 ME ..................................................76 MENSE ....................................51, 73 MENSIBVS .....................................61 MERCATOR...................................99 MERENTISSIMAE..........................38 MERENTISSIME ............................38 MESALA.........................................57 METALLIS ......................................56 MI ...................................................77 MIGI ...............................................77 MIHI................................................76 MIIS ................................................31 MILIS ..............................................31 MISOLIO ................ 31, 33, 41, 51, 73 MISSIO...........................................31 MISSIONE......................................56 MITTENT........................................56 MODESTIANVS .............................98
130
MODESTINVS ............................... 99 MOLON .......................................... 75 MONIMENTVM .............................. 36 MONTANVS................................... 98 MVMIA ........................................... 56 MVMIVS ......................................... 56 MVNIMENTV ......... 34, 36, 52, 73, 84 MVNIMENTVM ........................ 34, 36 MVNIMENTVS ................... 34, 36, 69 MVSAEVS...................................... 74 MVSICE ......................................... 74 NAERVAE ...................................... 39 NEGOTIANTVR ............................. 95 NEPTI ............................................ 63 NEREVS ........................................ 74 NICE .............................................. 74 NIGELLIONIS .............................. 100 NIVIVS ........................................... 31 NOCTIS ......................................... 59 NOMEM ......................................... 71 NOVELA ........................................ 56 NOVI[LI]SSIMVS ............................ 46 NVMEREANO ................................ 31 NVMMOS ....................................... 56 NVTRICI......................................... 99 NYMPHE........................................ 74 OBIT......................................... 66, 80 OBSEQVENTISSIMAE ............ 66, 95 OBSERVABVNTVR ................. 66, 95 OCCASVM ..................................... 66 OCCVPABIT .................................. 66 OCCVPANDI.................................. 66 OCTAVA ........................................ 59 OFFICINA ...................................... 56 OFFICIS ......................................... 56 OILIENAICO ............................ 38, 43 OLISIPONENSIS ..................... 61, 99 ONL[A]SOS.................................... 62 OPSEQVENTISSIMO .................... 66 OPTIMAE ....................................... 63 OPTIMVS ....................................... 63 OPTVMA ........................................ 35 OPTVMO ....................................... 35 OPTVMVS ..................................... 35 ORCHESTRAM ........................... 108
ORESTES ......................................74 ORICCLO .......................................57 PACENSIS .....................................99 PAEZON ........................................75 PAGVSICV .....................................49 PAGVSIGAE ..................................49 PAISICAICOEO..............................38 PARTHENOPAEVS .......................74 PATERI ..........................................72 PATRIE ..........................................38 PERACTA ................................66, 95 PERCIPIENT ..................................66 PERDVXERIT ................................66 PEREGRINV ............................53, 73 PERENIA .......................................56 PERLEGISTI ............................66, 95 PERMISERIT .................................66 PERMITTITO .................................66 PERPETVM .............................34, 72 PERSAE.........................................63 PERSOLVERIT ..............................66 PERTINEBIT ............................66, 95 PERTINETO...................................66 PERVIXS(it) ...................................95 PHILOGENES ................................74 PHILON ..........................................75 PIAE ...............................................38 PIENTISSIMAE ..............................38 PIENTISSIME ................................38 PIETATIS .......................................29 PIISSIMAE .....................................38 PIISSIME........................................38 PIISSVMA ......................................35 PIISSVMAE ....................................38 PILIDES .........................................74 PIVS ...............................................53 PLVS MINVS ................................110 POENAS ........................................43 POETA ...................................43, 108 POLYCARPVS .............................103 PONTEM ........................................51 PONTIFICE ..............................83, 86 POSIT ............................................80 POSVVIT..................................34, 80 POTESTATIS .................................83
131
PR[O] SALVTEM............................ 85 PRAECEPTO ................................. 95 PRAESTARE ................................. 95 PRECCIA ....................................... 57 PRECCIVS..................................... 57 PRETORRIO .................................. 57 PRIMVLAE ..................................... 99 PRIMVS ......................................... 78 PRINCIPI ................................. 83, 86 PRINCIPS ...................................... 31 PRISCION...................................... 75 PRO IVL(iam) MARCELLAM ......... 85 PRO SALVTEM ............................. 85 PRO V<O>TVM ............................. 85 PRO VERNACLAM ........................ 85 PROCVRATOR .............................. 99 PROFERENTVR ............................ 95 PROMISIT...................................... 95 PRONIIPOS ............................. 83, 86 PROSCAENIVM..................... 39, 108 PVDES ........................................... 61 PYLADES ...................................... 74 QIS ................................................. 48 QVA ......................................... 51, 76 QVAE ............................................. 76 QVAI ............................ 38, 77, 83, 88 QVAM ...................................... 76, 77 QVAS ............................................. 76 QVE ................................... 38, 77, 88 QVI................................................. 76 QVIBVS.......................................... 76 QVIETEI ......................................... 71 QVINQVE....................................... 78 QVINTILLA [...] DELICATAE .......... 86 QVIRINA ........................................ 48 QVIVS ...................................... 48, 77 QVO ............................................... 76 QVOD ............................................ 76 QVORVM ....................................... 76 QVOT ............................................. 77 REBVRO ........................................ 57 REBVRRINVS ................................ 99 RECEPTVS .................................... 95 REDDERE ..................................... 95 REFECI .......................................... 80
RELEGIONE ..................................30 RENOVARVNT ............................101 RENOVATE .................................101 RENSPONSV .....................34, 61, 72 RETVLI...........................................80 RIBVRRA .......................................31 ROMANVS .....................................98 ROMVLESIS ..................................61 RVFINVS........................................99 SACRAVIT ...................................101 SACRV .....................................51, 52 SAISABRO .....................................38 SALLVIA.........................................57 SALQIV ..........................................48 SANCTAE ................................38, 60 SANCTE.........................................38 SANCTISSIMO...............................60 SANCTO ........................................60 SCAEVINVS ...................................99 SCAIVIVS.......................................38 SCAVRARIORVM ............41, 99, 108 SCAVREIS .......................41, 70, 108 SCAVRIAE .............................41, 108 SCRIBTVM .....................................63 SCRIPSI .........................................62 SCRIPTVM .....................................63 SE ..................................................76 SECVNDAM ...................................78 SELENE .........................................74 SEPTIMI .........................................63 SERMACELESIS ...........................61 SERVATRICI..................................99 SERVOS ..................................34, 71 SERVOS [...] CAESVS ...................86 SESTIAE ........................................59 SEX ................................................78 SEXTA ...........................................58 SI ....................................................80 SIBI ................................................76 SIGINIFERO ................................102 SIGNIFER ....................................102 SIGNVM .........................................51 SILONIS .......................................100 SINETHE........................................74 SINGVLA..................................48, 78
132
SODALICIV [...] FECERVNT.......... 86 SS .................................................. 57 STATVA ......................................... 52 STATVERVNT ............................. 106 STATVIT ...................................... 106 STATVS ....................................... 106 STITVS ........................................ 106 SVBDVCET.............................. 66, 95 SVBICITO ...................................... 66 SVBIECERIT............................ 66, 95 SVCCEPTO ................................... 66 SVCCEPTVM ................................. 66 SVCCESSIS .................................. 66 SVE ................................................ 38 SVMMAE ....................................... 56 SVORV .......................................... 51 SVOS ....................................... 34, 71 SVSTVLISSE ................................. 66 SYCECALE .................................... 74 TACIM ............................................ 80 TANCINVS ..................................... 49 TANGINVS..................................... 49 TAVRVM ........................................ 41 TE .................................................. 76 TELLVS.......................................... 56 TERA ............................................. 57 TERENTIANVS .............................. 98 TERRA ........................................... 56 TERSPICORE .......................... 63, 74 TESSELAM ...................... 56, 99, 107 TESSELLAS .......................... 99, 107 TESTARIORVM ............................. 99 THEMISON .................................... 75 THESEVS ...................................... 74 THYMELE ...................................... 74 TIAVRANCEAICO .......................... 38 TIBI ................................................ 76 TITVLI ............................................ 56 TONCETA ...................................... 49 TONCIVS ....................................... 49 TONGETA...................................... 49 TONGIVS ....................................... 49 TRACTARE............................ 29, 106 TRANQILLI .................................... 48
TRANQILLO ...................................48 TRIBVNICIE ...................................38 TRIBVNICIE POTESTATIS ............83 TROIANI.........................................43 TROIANVS .....................................43 TROILVS ........................................43 TRYPHON......................................75 TV...................................................76 TVLEI .............................................79 TYCHE ...........................................74 VACCA .............................52, 56, 105 VALCIA ..........................................49 VALGIAE ........................................49 VALLERIA ......................................57 VBERTVMBIS ..............................103 VCSORI .........................................59 VCXORIS .......................................59 VENDITOR.....................................99 VERSVCVLOS .......................99, 107 VETERANVS .................................98 VETIARV ........................................53 VIA ...........................................51, 73 VICTOR..........................................59 VICTORILLA ................................100 VIPASCENSIS ...............................99 VIRIATIS ........................................72 VISSIT ............................................59 VITIASSE .......................................80 VIXSIT ............................................58 VNIVERSVM ..................................63 VNO ...............................................78 VNVM .............................................78 VOBIS ............................................76 VOCATVR ....................................101 VOCTO .................. 33, 51, 59, 73, 84 VOTV ...........................34, 51, 72, 73 VRBANVS ......................................98 VRSA .............................................63 VTERI.............................................31 VTICENSIS ....................................99 VXOR .............................................58 VXSOR...........................................58 VXSORI..........................................58
133
Anexos
134
Anexos
Tábua de correspondência 1
FE IRCP
1 95
25 139
13 186
40 188
41 205
18 296
20 310
22 314
12 359
11 416
14 417
73 460
10.4 506
10.1 532
10.2 541
10.3 548
10.5 552
10.6 554
10.7 555
10.8 559
10.9 563
9 624
Tábua de correspondência 2
EO RERC
121 1
109 5
122 8
113 9
124 19
Tábua de correspondência 3
FE RERC
59 2
24 3
68 13
137 25
Tábua de correspondência 4
FE CV
69 2
90 3
157 11
158 12
159.1 13
159.2 14
138 20
135
FE CV
139.1 22
139.2 23
140 25
54 26
71 29
74 33
55 34
135 37
56 45
52 47
142 52
79 53
160 57
53 61
141 62
129 112
143 116
Tábua de correspondência 5
Egit. EFRBI
XVI 33
28 36
27 37
29 38
31 39
32 40
36 41
Egit. EFRBI
37 42
35 43
38 44
39 45
40 46
44 47
45 48
76 49
81 50
139 52
140 53
47 54
51 55
49 56
52 57
57 58
61 59
62 60
63 61
64 62
67 63
68 64
71 65
98 66
100 67
126 69
145 70
78 71
136
Egit. EFRBI
80 72
82 73
85 74
88 75
92 76
96 77
97 78
99 79
101 80
70 81
72 82
103 83
104 84
105 85
43 86
41 87
106 88
107 89
134 90
110 91
112 92
60 93
113 94
115 95
189 96
116 98
119 99
120 101
Egit. EFRBI
121 102
124 104
132 105
129 106
133 107
66 108
136 109
137 110
143 111
144 112
147 113
148 114
21 115
93 116
108 117
53 118
87 119
127 120
46 121
111 122
183 123
130 124
117 126
48 127
54 128
83 130
58 133
142 134
137
Egit. EFRBI
26 135
188 136
55 137
177 138
86 139
125 143
128 144
138 145
69 147
75 148
73 150
22 151
131 152
95 153
91 154
118 155
34 156
185 157
30 158
65 160
90 161
89 162
163 164
123 165
114 167
42 168
190 169
59 171
Egit. EFRBI
50 174
79 176
135 177
165 178
77 179
146 180
171 182
164 183
169 184
109 187
84 188
122 189
184 190
175 192
187 193
181 194
182 195
174 196
94 199
172 200
167 202
186 203
56 236
Tábua de correspondência 6
FE EFRBI
60 5
138
FE EFRBI
177 8
209 9
19 12
21 13
23 14
128 15
15 29
51 35
153 131
8 132
154 185
227 204
126 210
58 211
127 213
125 215
61 216
79 218
47 223
272 224
30 226
31 227
101 229
123.1 230
123.2 231
62 235
130 241
139
Tábua 1
CIL FE RIRP ACS
93
963
970
118
119
176
177
191
284
285
286
288
1 1
2
4
6
7
8
9
11
12
13
17
18
19
969 20
CIL FE RIRP ACS
23
24
25
287 26
83 27
971 29
30
31
32
33
34
35
37
38
84 39
968 40
Quadro 1
Inscrições utilizadas a partir de
RAP
1, 6, 8, 9, 37-41, 44-46, 48, 50, 51,
61, 214-216, 265, 316-342, 382-385,
402, 409, 413-416, 454, 461, 468-
470, 477, 478, 483, 485, 497, 503,
509, 512, 549, 550, 559, 570-575,
599-607, 640-642