assombrações de tabira - vol 1 - poeta felipe amaral - cordel de malassombro

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Page 1: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro
Page 2: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

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Índice RemissivoA Inflação do Além

U Assombramento da Praça

U Véi do Beco do Arnaldo

A Aima de Zé de Zuza

“Na Rua do Cemitéro”

O Boneco Encapetado

A Câmara “Malassombrada”

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Page 3: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

A Inflação do Além1

Fui passiá na madruga

Após tê pirdido o sono.

Cheguei na praça pra vê

Se achava argum cão sem dono.

Már num achei foi ninguém.

Parti de vorta sem nem

Tê cum quem me acumpanhá.

Porém, na vorta, eu sinti

Um medo grande e previ

Que a coisa ia piorá.

2

Deu-me um frii nos ispinhaço

Que me gelô pu compreto.

Pensei num tá mais sozin,

Már num quis sê indiscreto.

Cotinuei prossiguino,

Imbora, um negóço fino

Já caminhasse a meu lado.

Era franzino o isprito,

Tinha um andado isquisito,

Már caminhava calado.

3

E eu num quis puxá cunvessa

3

Page 4: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Cum aquela assombração.

Tarvêiz tivesse vortano

Lá da sua ocupação

E se mostrasse cansada,

Num quereno falá nada

Nem pará pra coisa arguma.

Intão dicidi ficá

Im silenço e só andá

Sem tentá coisa ninhuma.

4

Már num é que, após uns passo,

Ela isboçô uma ação!

Gesticulô, fez careta,

Tentano aproximação

E adispois chegô pra mim,

Dixe como tava ruim

O negóço prus fantasma.

Tava ajuntano uns “reá”,

Már num pudia comprá

Um televisô de plasma.

5

Ao que falei: - É a crise!

Tá duro pra todo mundo!

Dizem que, até no Além,

Já passam cheque sem fundo!

E o isprito arrematô:

- É verdade sim, sinhô!

Eu já sufri desse gópe.

4

Page 5: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Que fantasma brasilêro,

É quáij tudin trambiquêro.

Pra robá num tem “istópe”.

6

Eu balancei a cabeça

E preguntei sem pensá:

- Quá mansão você assombra

Ô tá pensano assombrá?

E ele arrespondeu, traqüilo:

- Tô assombrano um asilo.

Már o saláro é piqueno.

Bem antes dessa inflação,

Eu assombrava mansão,

Már num tão mais me quereno.

7

-Três boca pra’alimentá

E esse meu útmo patrão

Me dispensô do imprego

Sem quaiqué tramitação.

Nem me pagô os direito.

Falô “Isso eu num aceito!”

“Procure um adevogado!”

Tenho um, até, na famia.

Tô só isperano o dia

Do peste virá finado.

8

Cunvessei umas três hora

Cum aquele falecido.

5

Page 6: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Preguntei dos presidente

Que pra lá tem, presidido.

Ele me falô uns nome

Duma cambada de home

Que já passô nesse chão,

Que eu chega fiquei irado…

E, hoje, eu só viro finado,

Se fô numa’ôta nação!

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Page 7: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

U Assombramento da Praça1

No dia nove do sete

Do ano de noventa e três,

Eu fui passá pela praça,

Repasso a todos vocês,

Já era de madrugada,

Topei cuma’ aima penada

Se virano im lubizômi.

Nu’iniço era inguál a gente,

Dispois passô de serpente

Pra’ argo que eu nem sei dá nome.

2

Se arrastava pelo chão

Quá cara toda invergada.

Se conturcia dum jeito

Que ár mão ficava virada.

Tinha os pé chein de pêlo,

No côipo tanto cabelo

Que num sei nem a que ponto...

Uma mistura de fera,

De lubizômi e pantera

Que eu nem sei cumé que conto.

3

O bicho pegô uivano

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Page 8: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

E, cum pôco, a cachorrada

Tava todinha ali perto

E a praça já rudiada.

Era tanto do cadélo,

Que a contage eu nem revelo

Pra num passá pu mintira.

E eu ali no mêi do lote,

Já cum medo do magote,

Tumado de ziquizira.

4

Apariceu-se ôtos troço

Virado no “mói de quento”

E eu sem pudê nem corrê,

Preso na praça, ali dento.

Até lembrei do “Pai-Nosso” -

Mas, cum barui eu num posso

Me cuncentrá na’oração.

Dicidi ficá calado,

Já veno o piso babado,

Foimano pôça no chão.

5

Intão a tá critura,

Queu num sei nem discrevê,

Cumeçô falá cumigo

E eu arrispondi sem crê…

Que aquilo era um troço estrãi,

Tinha um linguajá mêi fãi

Cum fungado de nariz…

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Page 9: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

A coisa era muito fêa.

Chega o côipo se arrupêa

Só de pensá na’infiliz.

6

Dixe pra mim: - Você, hoje,

Vai pu’inferno, cidadão!

Eu arrispondi: - Discurpe,

Már hoje eu num posso não.

Tenho uns troço a risorvê.

Nôto dia, pode sê,

Már hoje, tá compricado.

Nem avisei a famia.

Fica pra um ôto dia.

Desde já, muito obrigado!

7

O bicho, intão, se irritô

Ante a justificativa.

“Meteu o pau” a rosná,

Cuns ói já im brasa viva.

Dixe: - Você vai quá gente!

Eu dixe, educadamente:

“Seu bicho”, é que num dá não!

Fosse, ao meno, feriado,

Eu ia, cum todo agrado,

Visitá a região!

8

Nessa hora, o bicho pegô-me

Pela “gargola” e puxô.

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Page 10: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Nóis entremo pelo chão,

Que, logo, se iscancarô.

Aí eu fui cunhicê

Quá era o tipo de sê

Que habitava aquela “praça”.

A cachorrada fui junto

E mais um mói de difunto,

Que era um cambôi da disgraça!

9

Chegano lá, incontrei

Cum Tunico Trapacêro,

Cum Zé Dadô de Calote,

Cum Arfredo Trambiquêro…

Pulítco, tinha de lote,

Que arreparei o magote,

Nadano no chumbo quente.

Era tanto desse lodo,

Que eu pensei que’o’inferno todo

Só era só pressa gente.

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Do Senado e do Congresso,

Tinha a corja toda quage.

De presidente daqui,

Perdi até a contage.

Passei lá um dia intêro

Contano pulitiquêro

No chumbo quente queimano.

Era tanto salafráro,

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Page 11: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Que eu excidíi o horáro

Que eu era pra tá vortano.

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Adispois dessa viage,

Agradici o fantasma,

Que foi me dexá de carro

Invôrto de “equitoplasma”.

Saí e me dispidi

E ele dixe que prali,

Quando eu morrê, num iria.

Que só me levô pra lá

Preu pudê arrepará

Quá era o povo que ia.

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Dixe preu falá pru povo

Que correligionáro

De pulítco inganadô

Tem esse destinatáro

Bem como é cum seu patrão,

Que róba e mata a nação

Cum ação discomedida.

E, ali, pru meu interesse,

Falô que prum traste desse

A viage é só de ida.

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Page 12: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

U Véi do Beco do Arnaldo1

Em Tabira há uma istóra

Que o povo conta na rua

De um véi que sai de noitinha,

Já no quilaro da lua,

Pra assustá as pessoa,

Que acha de passá à toa

Lá no beco dessa escola.

Ele se vira em cachorro,

Sobe morro e desce morro,

Dispois avôa e se evola.

2

Sá Bernadete de Donga

Já me contô do fantasma.

Ela tava ali, passano,

Quando ficô de aima pasma

Cum essa visão terrive.

O véi tinha a cara horrive

E os dente tudo aguçado.

Correu pra cima de Berna

E agarrô-la pelas perna.

Le dano um susto danado.

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Már, dispois desse agarrão,

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Page 13: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Pu sorte, sortô-le os pé.

Aí, ela se apressô,

Correu, fazeno banzé,

E todo mundo iscutô.

Zé de Inoque até chegô

Pra ajudá a bendita,

Mas, chegano, num viu nada,

Que o fantasma, im debandada,

Fugiu de fóima isquisita.

4

Ninguém sabia ispricá

O qué que tinha ocurrido,

Intão fôro tudo imbora

E o caso foi isquicido…

Até que, um dia, Mané,

Sôgo de Dona Izabé,

Viu u véi no mêrmo canto

Fumano um pacai de paia,

Correno cuma navaia

E isso causô-le ispanto.

5

O caso é que o tá do véi

Vuava um paimo do chão

E se muvia cum tanta,

Tanta da aceleração

Que num tem hôme que pegue -

Nem besta, pôrdo, nem jegue

Curria daquele jeito!

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Page 14: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Már quando chegô lá perto,

Se evolô no céu aberto,

Que nem Mané viu direito.

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Coisa pu coisa, o que importa

É que o beco é assombrado.

Num passe lá de noitinha

Pra num baté cum danado,

Que o troço é discunhicido,

Ataca muié, marido,

Fii, genro, nora e subrin.

É mió mantê distança

Que infrentá aquela istança

E batê cum coisa-ruim.

7

Um dia desses, Zuleide,

Subrinha de seu Tunico,

Num acreditano em nada,

Risorveu abri o bico.

Dixe que aquilo era troça

E acho que o Cão que se apossa

Daquele beco iscutô.

Quando ela passô á noite,

Levô nas costa um açoite

Que quage mijô da dô.

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Saiu gritano no beco,

Sem ninguém pra le acudi.

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Page 15: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

E o fantasma cum chicote,

Correno e dano assuvi.

U istalado de chibata

Inda se uviu nessa data,

Mas ninguém deu atenção.

Inda bem que ela iscapô

E o bicho se isvuaçô

Pr’ôta localização.

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Dispois disso, nem pastô

Nem pade disacredita.

Todo mundo evita o beco,

Pruque u que num evita

Sofre da aima tinhosa

Persiguição assombrosa

Que num tem reza que acabe.

Mió circundá pur ôto

Lugá pra num vê u iscrôto,

Antes que a coisa disabe.

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Já faz uns dez, onze ano

Que os negóço acunticeu.

De lá pra cá, nunca mais

O mêrmo fato ocorreu.

Már eu, que num só de ferro,

Evito carrêra e berro

Onde o vento dá de açoite.

Que eu num nasci pra “pacheco”:

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Page 16: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Num qué vê o véi do beco?

Num passe no beco á noite!

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Page 17: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

A Aima de Zé de Zuza1

Já tinha uvido falá

Daquela istóra contada

Lá pras bandas de Tabira,

Terrinha por mim prezada.

Como a praça do Carlota

E o comérço do véi Tota,

E, ainda, o beco do Arnaldo,

O camim da Incruzilhada,

Im frente a Casa Caiada,

Guarda um terrô sem respaldo.

2

Uns fala que Zé Tenóro,

Que viveu lá doze ano,

Já viu coisa sem capricho,

Do caba perdê o prano.

Hoje mora em Surubim,

Da vida, já tá no fim,

Num qué mais tocá no assunto.

É que vê coisa do além

Num traz sorte pra ninguém

E, ainda mais, sé difunto!...

3

É que, quando Zé de Zuza,

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Page 18: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Amigo de Zé Tenóro,

“Bateu as bota”, inda achô

De aparicê no velóro.

Már vô contá a istóra

De modo que haja mióra

No intindimento do fato.

Não que o mêrmo apariceu

Na sala e o povo correu…

Foi ôto o seu disacato.

4

Quando Zé Tenóro foi

No banhêro pra mijá,

Zé de Zuza, o falecido,

Achô de ví se banhá…

Tava Tenóro mijano,

Quando iscutô argo andano

Im direção ao chuvêro.

Olhô pra trás, era Zuza,

Surrino, tirano a brusa

Pra tumá bãi no banhêro.

5

Saiu em toda carrêra,

Puxano as carça ligêro.

Passô pelo mêi do povo,

Que entrô logo im disispêro.

Cabô que, no “trololó”,

O caixão terminô só

Na’habitação do finado.

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Page 19: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Corrêro até os parente.

Ninguém ficô nem de frente

Do velóro do coitado.

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A puliça apariceu

Pra recolhê o caixão.

Sinão ninguém interrava

O corpo do cidadão.

No sepucro destinado

Foi interrado o finado

E acabô-se a ladainha.

Már o povo deu de achá

Que o difunto ia vortá,

Porém certeza num tinha.

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Só sei que, adispois duns dia,

Num é que o danado achô

De aparicê lá na casa

De Ari de de Zé de Dodô!

Dessa vez foi pra usá

A cuzinha e isquentá

Água pra fazê café.

Ari deu um disimbêsto

Que nem jegue sem cabresto,

Do mêrmo jeito, a mulé.

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Já na casa de Tenóro,

Dixe que tinha iscutado

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Page 20: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Uns passo lá na cozinha.

Foi oiá, era o finado.

Tava fazeno café.

No mêrmo instante a mulé

Foi oiá quem tava lá.

Os dois tremêro do susto

E déro um pique robusto

Prali, pra pudê contá.

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Drumiro pur ali mêrmo.

Só vortaro de manhã.

A casa tava vazia

Sem disórde e sem afã.

Intão todo mundo vêi,

Sentô-se sem aperrêi,

Dispois vortô pra rotina.

Már num passô muito não,

E a peste da’assombração

Foi visitá Sivirina.

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Tava ela dento do quarto,

Quando o traste apariceu.

Entrô, já abrino o armáro,

O que ela num intendeu.

Se arrastô pela parede,

Disprendeu do gancho a rede

E partiu com todo o gás.

Isqueceu feijão no fogo -

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Page 21: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Que, pra tê um desafogo,

Nós deixa tudo pra trás.

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Foi procurá Zé Tenóro

E, quando achô, contô tudo.

O pessuá se arrumô

Pra infrentá o imbate agudo

Contra aquele vurto mau.

Se armaro de péda e pau,

Faca, facão, foice e estaca…

Té cruz pra ispantá vampiro.

Arma de corte e de tiro,

Que a coisa num era fraca.

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Metêro os pés na carrêra

Pra casa de Sivirina.

Só cinco entraro na casa,

Os fii de Zé de Cristina.

Quando fôro na cozinha,

Tava o isprito da tinha

Obisservano o fugão.

Dixe ele: - Ela sai sem rôgo

E isquece o fejão no fogo.

E eu tem que olhá o fejão!

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Quando os cinco ouviro isso,

Quage mijaro nos qüêro.

Dois se iscondero no quarto.

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Page 22: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Três entraro no banhêro.

E, aí, foi o jeito Zé

Entrá e falá cum fé

Cum isprito maluvido.

Zé Tenóro dixe: - Zuuuuza!

Aima de morto num usa

Cuzinha de cunhicido!

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- Trata de vortá pra cova

Ô pru canto onde tu tava.

Dêxa a gente aqui em paz

Sinão a coisa se agrava!

Vorta lá pra teu cantin

E dêxa os vivo sozin,

Que aqui ninguém qué visita!

Ari num qué vê difunto.

Sivirina, eu nem pregunto,

Que ela já tá de aima aflita!

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- Eu era um amigo seu

Só quando tu tava vivo.

Dispois de morto é difice,

Pruque num tem mais mutivo.

Tu fica na tua tumba.

Quando eu fô pra catacumba,

A gente vortá a se vê.

Már agora num dá não.

Fica lá no teu caixão

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Page 23: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

E dêxa o povo vivê!

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Már o povo diz que a aima

Num era seu Zé de Zuza.

Era um vurto encapetado

Daqueles que os vivo abusa

Se passano ali pur Zé.

E Tenóro sem dá fé

Num viu o bicho mudano.

Ele inchô feito um balão.

Tumô a forma do Cão

E cumeçô praguejano…

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Daí, quando Zé Tenóro

Viu num sê mais Zé de Zuza,

Quage se cagô de medo,

Correu sem vê quem conduza

E nunca mais quis ficá

Naquele dado lugá

Onde infesta o Coisa-Ruim.

Mudô-se no mêrmo dia,

Ele cum toda a famia

Pra terra de Surubim.

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Do fato restô a lenda.

Da casa restô o escombro.

Do povo restô lembrança.

Do isprito, o tal malassombro.

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Page 24: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Nos que fica, resta o medo,

O silênço e o segredo

De quem num qué mardição.

E os morto leva a memóra

Dessa nossa istóra imbora

Pra uma’ôta dimensão.

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Page 25: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

“Na Rua do Cemitéro”1

Vi um isprito rondano

Casa véa e casa nova.

Morto que fugiu da cova

Pra ficá perambulano.

Aima vadia assombrano

O povo que eu considero.

E uns isqueleto funéro

Correno no vilarejo…

Porém, tudo isso eu só vejo

“Na Rua do Cemitéro”.

2

Eu vi uma’aima penada,

Se pariceno a disgraça,

Correno no mêi da praça

Num ôto vurto amuntada.

E uma’ôta dipindurada

Num gai, rezano um “mistéro”.

Chega me fartô critéro

Pra’avaliá o negóço,

Que tem tudo o qué de troço

“Na Rua do Cemitéro”.

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Passa mulé sem cabeça

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Page 26: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Ô cum cabeça demais,

Vurto na frente e atráis

De fantasmada travêssa.

Aima de conde e condessa

Inda do tempo do Impéro…

E uns diz num passá de mero

Devanêi da minha mente,

Já que isso eu vejo somente

“Na Rua do Cemitéro”.

4

Tem lubisome que vem

Se transfoimá só ali,

Bicho sortano assuví,

Anjo do mau e do bem.

Papa-figo tem tombém.

Vurto da cô de minéro,

Isprito ingraçado e séro,

Aima feósa e bunita,

Tudo o qué coisa isquisita

“Na Rua do Cemitéro”.

5

Cavêra se isvuaçano,

Bruxo fazeno magia,

Catimbozêra nas guia

Se remexeno e fumano,

Isprito véi ispreitano,

Aima fazeno intrevéro,

Fantasma “bateno um léro”

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Page 27: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Cum ôto da mêrma cova.

Tem tudo e, quem vê, comprova,

“Na Rua do Cemitéro”.

6

Vampiro atráis de pescoço,

Múmia dos quarto alejado,

Bicho-papão invurtado,

Caipora im bêra de poço,

Saci procurano o osso

Da perna no necrotéro,

Pra’acabá cum disintéro

Dos pé cuns ósso dos ôto…

Só tem malassombro iscrôto

“Na Rua do Cemitéro”.

7

Difunta véa passano,

Difunto véi se bulino,

Rasga-mortaia surrino,

Na casa, as têa arranhando.

Um corvo preto intuano

O seu canto deletéro

Nu’istante que bate as zero

Hora, intrano a madrugada…

Tudo o qué de aima se agrada

“Da Rua do Cemitéro”.

8

Num agüento mais passá

Pur aquele territóro,

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Page 28: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Pur isso apelo e imploro

Pra num passá mais pur lá.

E, a quem se propõe andá

Lá pur aquele hemisféro,

Eu digo que só ispero

Que num tope cum isprito

Quando passá no isquisito

“Da Rua do Cemitéro”.

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Page 29: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

O Boneco Encapetado1

Quando ainda era criança

Recordo que recebi

Da minha mãe um presente

Que, com carinho, a pedi.

Era um boneco de lã

Que, ainda àquela manhã,

Tive em minhas mãos pequenas.

Mas não imaginaria

Que esse presente traria

À minha alma duras penas.

2

Muitos dias se passaram

Nos quais muito me alegrei

Com o boneco engraçado

Que, de minha mãe, ganhei.

Nada de estranho ocorreu

E eu muito sorri co'o meu

Bonequinho sorridente.

Até que um dia me vi

Surpreso, pois percebi

Nele algo de diferente.

3

Às doze horas da noite

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Page 30: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Eu fui andando à cozinha

Para que, co'um copo d'água,

Saciasse a sede minha.

Mas, acontece, que ao ir

À mesma, pude sentir

Que algo vinha me seguindo.

Olhei pra trás pra saber

Quem era, e não pude ver

Donde aquilo era advindo.

4

Ignorei o que fosse

E um copo d'água peguei.

Tomei dele o conteúdo

E a sede, então, saciei.

Pus o mesmo sobre a pia

E parti sem covardia

Para o quarto onde eu estava.

Mas, ao chegar ao recinto,

Senti um temor distinto

Que, antes, já me perturbava.

5

Deitei na cama com medo.

Pus o lençol sobre a face.

Só que, ao me virar de lado,

Encontrei-me em um impasse.

Ali estava o boneco...

Nessa hora deu-me um “treco”,

Ao escutá-lo falar.

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Page 31: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Gritou, dando gargalhadas,

Sacudindo as almofadas

E eu corri para escapar.

6

Fui me deitar co'os meus pais

Lá na cama de casal.

Mas, por achá-los dormindo,

Fiz um silêncio total.

Nada comentei, até

Poder vê-los já de pé

Para o café da manhã.

Fiquei ali bem quietinho.

Dormi ali num cantinho

Por sobre a colcha de lã.

7

No outro dia, bem cedo,

À minha mãe indaguei

A respeito do boneco

Que dela mesma ganhei.

Perguntei se nele havia

Pilhas que o mesmo faria

Caminhar e conversar.

Mas ela tudo negou.

O que muito me intrigou.

E eu “comecei” me assustar.

8

Passei o dia buscando

O boneco falador.

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Page 32: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Mas não o pude encontrar

No quarto ou no corredor.

Deu-me um pavor gradual

Que, de uma forma anormal,

Em surtos, “se fez” crescente.

“Peguei” a querer chorar,

Mas resolvi controlar

O choro em meu ambiente.

9

Saí de casa pra ver

Se um amigo encontraria

Que me pudesse explicar

Tudo o que me acontecia.

Fred, um amigo de escola,

Que não era de “dar bola”

Pra coisa assim como aquela,

Topou dormir em meu lar,

A fim de poder filmar

O que achava ser balela.

10

Dei um pretexto qualquer

Pra meus pais, na' habitação,

E o Fred pôde dormir

Conosco na' ocasião.

Colocou no pedestal

A câmera digital

E a virou pra o corredor.

Depois “pegou a” forrar

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Page 33: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

O colchonete e aprontar

Com zelo o seu cobertor.

11

Tudo pronto, foi dormir.

E eu fiquei observando.

“A gente dormiu tranqüilo*”

Um sono profundo e brando...

Todavia, no' outro dia,

Começou a agonia,

Pelo fato registrado.

Que a câmera colocada

Gravou uma “trapalhada”,

Que me deixou perturbado.

*tipo de silepse

(concorda com o sentido,

não com a forma)

12

O troço estava filmando,

Quando, de repente, um bicho

“Pegou a” se remexer

Sem pose e sem ter capricho.

Tinha o boneco, mas mãos

E, entre movimentos vãos,

Palavras vãs proferia.

Depois surgiu outro vulto

E, aí, virou um tumulto

Que explicar ninguém podia.

13

33

Page 34: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Coisa voando do chão,

O boneco a saltitar;

Fantasma em pé e sentado

No sofá a relaxar;

Cachorro e gato fantasma;

Risada que a alma pasma;

Som de festa e foguetão...

Só que a gente não ouvia

Nadinha enquanto dormia

Naquela situação.

14

Mostramos pra “todo mundo”

Da' escola, mas ninguém deu

Crédito aquele registro

Do que, em meu lar, ocorreu.

Fomos, então, ao meu lar

Para tentarmos achar

O boneco de uma vez.

No entanto, “foi” só chegarmos

Para, ali, nos depararmos

Com algo sem placidez*.

*(Ou: “Co'o maior dos fuzuês”).

15

O boneco endiabrado

Tinha feito de refém

O meu pai e a minha mãe

Tratara com vil desdém.

Telefonei pra polícia,

34

Page 35: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Que interpretou a notícia

Como um trote, nada mais.

E, aí, eu fiquei na bosta,

Mas Fred fez-me a proposta

Que salvaria meus pais.

16

Ele negociaria

Co'o boneco meliante.

Falou da “sala de estar”

Com o brinquedo falante...

O danado respondeu

Que, pelo desejo seu,

Caro o resgate seria.

Eu disse não me importar,

Pois eu podia pagar

Na hora qualquer quantia.

17

Peguei o talão de cheques

Do meu pai numa gaveta,

Rabisquei uma quantia,

Ligeiro, com a caneta.

Mostrei pra o Fred e parei.

Ele me disse: - Eu não sei

Se só isso irá bastar.

Mas quando o boneco ouviu

A notícia, consentiu

Co' a quantia regular.

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Page 36: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Logo me mandou sacar

No banco o seu pagamento

E voltar trazendo tudo

Sem ter qualquer outro intento.

Fui ligeiro e trouxe tudo

E o bicho saiu sisudo

Co' o seu lucro financeiro.

Fred foi pra casa sua,

Lento, andando pela rua,

Depois eu entrei ligeiro.

19

E um belo dia, de tarde,

Dei de querer escutar

No rádio o noticiário.

Veja o que estava a passar:

- Programa Notícia Urgente

Noticia urgentemente

Que, hoje, pela manhã

Foi detido o foragido

Seqüestrador conhecido

Como “Boneco de Lã”.

20

“Por ser de baixa estatura,

Se passa por um brinquedo

E, à noite, ilude as crianças

Com outros pra causar medo...

Depois lhes rouba os pertences

E, devido aos seus suspenses,

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Page 37: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Desacredita os infantes

Pra que ninguém os escute,

Depois foge co'o desfrute

Dos bens dos tais reclamantes”.

21

“Alertamos que os comparsas

Desse cruel meliante

Ainda estão foragidos

E, ao achá-los, não se espante.

Ligue pra o “Nove Um Um”.

E, qualquer coisa incomum,

Chame a polícia ao seu lar.

Aqui acrescentaremos

Seus nomes, que deixaremos

Pra o ouvinte se informar”.

22

“O primeiro dos comparsas

É 'chamado' 'Alma Penada';

O segundo já se chama

'Fantasminha Camarada';

Os outros são: 'Capiroto',

'Visagem', 'Boca de Esgoto',

'Malassombro' e 'Aparição'.

Boca de Esgoto é menor,

Todavia é o pior,

Não tente aproximação!”

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Page 38: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

A Câmara “Malassombrada”1

Em Tabira há uma história

Que é necessário contar.

Dizem que existe na Câmara

Algo de espetacular:

Uma assombração que vive

“Malassombrando” o lugar.

2

Então eu fui confirmar

Se aquilo era uma invenção.

Fui atrás do vigilante

Daquela edificação

Pra fazer uma entrevista

Com aquele cidadão.

3

E, ao fazer locomoção

Pra ir àquele lugar,

Eu me encontrei com Genildo,

Um companheiro exemplar,

E, assim fomos eu e ele

A fim de o guarda encontrar.

4

Chegando àquele lugar,

Apertei a sua mão.

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Page 39: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

E o vigilante me disse

Seu nome na’ocasião.

E eu lhe expliquei o motivo

Da minha apresentação.

5

Após falar a razão

Porque eu fui me apresentar,

Ele, em consideração,

Se dispôs a me contar

As coisas que aconteciam

Ali naquele lugar.

6

Disse que, à luz do luar,

Todo tipo de visão

Dava pra se constatar

Ali naquele salão,

Que era onde os vereadores

Faziam reunião.

7

Falou de uma aparição

De uma mulher singular

Que tinha vindo da rua

E quis entrar no lugar.

Botou a cara pra dentro,

Mas não queria falar.

8

Ele foi lhe perguntar

Se ela estava bem ou não.

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Page 40: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Mas ela não respondeu

A sua interrogação.

Fechou a porta e desceu

Pegada no corrimão.

9

Sua esposa Conceição,

Que dormia no lugar,

Levantou e disse a ele

Pra não se preocupar

Que “aquilo” era uma pessoa,

Não algo “pra se assustar”.

10

Mas ele quis constatar.

Puxou a porta co’a mão

Num impulso exagerado

E desceu sem lentidão

Pra ver se aquela mulher

Era ou não assombração.

11

Notara a sua feição

Muito pálida, pra pensar

Que era uma mulher comum

Que ali queria adentrar.

E, já que saiu calada,

Ele correu pra olhar.

12

Ali pôde comprovar

Que aquilo era uma visão.

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Page 41: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Ela “se desfez” no ar

Qual fumaça de fogão

E ele, aí, correu pra dentro

Com medo da’aparição.

13

Disse outra situação

Que também veio a passar,

Quando, já tarde da noite,

Resolveu ir descansar

Num colchão perto da’escada

Que “dá” pra o primeiro andar.

14

Já estando a ressonar,

Veio “como que” uma mão

E puxou na sua calça,

Pra’arrastá-lo pelo chão

E ele acordou assustado

Com aquele repuxão.

15

Mas, devido’à’irritação

Pelo “vulto” o acordar,

Quis enfrentar o danado,

Então se pôs a puxar

A sua perna de volta

Pra voltar a descansar.

16

Porém foi só inventar

De enfrentar aquele “Cão”,

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Page 42: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Pra’ele virar-se na “peste”

E “dar-lhe” mais um puxão.

Mas, naquele “puxa-puxa”,

Ninguém achou solução.

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Até que o guarda em questão

Resolveu “de” revidar

Com um golpe diferente,

Pois que um chute ele quis dar

No fantasma “puxador

De calça”, pra’ele parar.

18

Só que, quando foi chutar

O traste da’assombração,

Não “se tocou” que a danada

Não tava num corpo não.

Meteu o pé na parede,

Que ficou co’uma lesão.

19

Acabou-se a confusão

Quando ela pôde passar.

E ele ficou “se ardendo”

No colchão a praguejar

E ela passou pra o banheiro,

Fechando a porta ao entrar.

20

O guarda inda quis contar

Da’estranha reunião

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Page 43: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

De vozes fantasmagóricas

Que se dava no salão

Justo onde os vereadores

Uniam-se em comissão.

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Era um barulho do “Cão”

Dentro daquele lugar.

Um resmungado indistinto

No plenário popular,

Como em ambas as bancadas,

Deixando medo no ar.

22

Ninguém pode decifrar

Aquela murmuração.

Então o jeito é dormir

Ouvindo a reunião,

Mesmo sem entender nada

Daquela conversação.

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A pôr fim na comissão

Que ali veio a se instaurar

Ninguém é assim tão doido

Que se disponha a tentar.

Também... Ninguém vê ninguém.

Nem adianta se arriscar.

24

O guarda quis me mostrar

A foto de um cidadão

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Page 44: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Chamado Manoel Paulino,

Que já’estivera em sessão

Naquela casa alguns anos,

Quando em sua atuação.

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Quis me mostrar, por razão

De ter algo pra contar

Sobre a tal fotografia,

Que eu entrei pra’observar.

Que havia ocorrido um fato

Co’aquela imagem sem par.

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Um cara pediu pra’olhar

Praquela foto em questão.

Subiu pra o primeiro andar.

Só que, na ocasião

Que olhou pra foto, assustou-se,

Porém ninguém viu razão.

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“Ficou que era só tensão”,

Não sabia o que falar.

Só quando saiu da Câmara

É que pôde revelar

Que a foto havia piscado,

Mas ninguém pôde notar.

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Nunca mais “que” quis voltar

Pra ver o “quadro” em questão.

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Page 45: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Se o retrato se mexeu,

Ninguém ali notou não,

A não ser o tal rapaz

Que fez tal alegação.

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Em outra situação,

O guarda veio a contar

Que avistou uma velhinha

Caminhando no lugar.

Perguntou algumas coisas,

Mas ela não quis falar.

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Três vezes veio a achar

A velha ali no salão.

Da terceira vez que viu,

Quis segurá-la co’a mão,

No entanto, não conseguiu

Nem tocar na’assombração.

31

Lembrou que um tal Damião

Quis ficar no seu lugar,

Enquanto estava de férias,

Mas só queria ficar

Até dez horas da noite,

Depois ia passear.

32

Ia mesmo era tomar

Umas “canas” no balcão

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Page 46: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

De qualquer bar inda aberto

Diante da ocasião

De já ser bastante tarde

Pra despachar beberrão.

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Falou da ocasião

De uns que foram trabalhar

De vigia no local,

Mas não quiseram ficar

Por não poderem dormir

Ali naquele lugar.

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“Caca” até quis enfrentar

Aquele horrível rojão.

Mas não passou quinze dias,

Pediu logo demissão,

Pois não se agüentava mais

Com tanta da’assombração.

35

“Solon”, da’edificação,

Fez o seu lar familiar.

Trouxe a mulher e os filhos

Pra o espanto afugentar.

Mas “acaba” que os meninos

Mijaram todo o lugar.

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Nem coveiro quis topar

Aquela dura missão.

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Page 47: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Por certo, nem macumbeiro

Tinha visto tanta ação

“Malassombrosa” num canto

De tão pequena extensão.

37

“Zé do guarda-chuva” não

Inventa nem de ficar

Nos degraus ali sentado,

Que é pra não ter o azar

De ver a “velha-fantasma”

Que, por lá, gosta de andar.

38

“Zé de Mirôcha” pra’usar

O “vaso” não vem mais não.

Prefere mijar nas calças

A ver uma assombração

Vir trancá-lo no banheiro

Daquela edificação.

39

Ao ouvir a narração

Do vigilante exemplar,

Eu fui usar o banheiro

Ali daquele lugar.

Bati na porta e ouvi

Uma assombração gritar:

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- Será que eu não posso usar

Esta “misera” aqui não?

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Page 48: Assombrações de Tabira - Vol 1 - Poeta Felipe Amaral - Cordel de Malassombro

Ao que eu respondi urgente:

- Quando for lavar a mão,

Por favor, feche a torneira!

Mostre ter educação!

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- Geraldo, que é nosso irmão,

Já cansou de reclamar

Que o senhor, “seu” “Malassombro”

É danado pra deixar

A torneira aí ligada.

E assim não dá pra ficar.

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- Disse ele que vai botar

Uma admoestação

Afixada na parede

Com a seguinte inscrição:

“Pedimos, com toda calma,

Para o “vulto” e para a alma

Que utilizar o banheiro,

Dê descarga, até se banhe,

Mas, ao sair, não se acanhe,

Feche a torneira primeiro”.

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