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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 72 [ 19/1/2012 a 25/1/2011 ]

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 72[ 19/1/2012 a 25/1/2011 ]

Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................4Bravo! - Um Banquinho, Um Avião..................................................................................................4O Estado de S. Paulo - Drama do Brasil compete no Festival Sundance 2012..............................5Folha de S. Paulo – Tom Jobim ganha biografia só com músicas e parceiros...............................6Folha de S. Paulo - Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim apostam na magia que dispensa palavras...........................................................................................................................................7Brasil Econômico – “Mostra testemunhou as mudanças do audiovisual”........................................7Folha de S. Paulo - Mostra de Tiradentes aposta em novatos........................................................8Carta Capital - Um pensador do Brasil nas telas.............................................................................9Brasil Econômico – Cinema nacional ganha sotaque hollywoodiano ..........................................11Brasil Econômico – Brasil vira cenário para produções de grandes estúdios...............................12Folha de S. Paulo – Indústria do cinema passa a fazer trailer para o Brasil ................................13Folha de S. Paulo – Made in Brazil...............................................................................................13Folha de S. Paulo – Televisão na internet investe na produção de conteúdo nacional.................14Folha de S. Paulo – Belmonte arrisca-se no cinema comercial.....................................................15Folha de S. Paulo – Brasileiro veterano exibe em Sundance seu primeiro longa.........................16Folha de S. Paulo – 'Corações Feridos', do SBT, investe em 'padrão Globo de qualidade', mas ainda tem deslizes.........................................................................................................................16Correio Braziliense – É coisa nossa .............................................................................................17O Globo - Bigode em busca das imagens perdidas......................................................................18International Herald Tribune (Estados Unidos) - Brazil’s Ruling Family of Film.............................20

TEATRO E DANÇA....................................................................................................23Folha de S. Paulo – Kafka inspira peça de grupo brasileiro na Bélgica........................................23Agência de Notícias Brasil-Árabe - Palco árabe em São Paulo....................................................23Correio Braziliense – Garimpeiro de sonhos.................................................................................25El Universal (Venezuela) - Francia y Brasil en el Festival Internacional de Teatro de Caracas....26

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................27Bravo! - Cessar-fogo.....................................................................................................................27Correio Braziliense – Coluna / 360 graus .....................................................................................28O Globo – Arte brasileira para superar catástrofe.........................................................................29O Globo - Mostra busca expandir fronteiras latino-americanas.....................................................31O Globo - Contra o direito de sequência.......................................................................................32Folha de S. Paulo – Mostras frisam pluralidade do acervo do MAC..............................................32

FOTOGRAFIA............................................................................................................33Folha de S. Paulo – Folha lança coleção de fotos antigas do Brasil.............................................33

MÚSICA......................................................................................................................34Zero Hora – Um ano para lembrar de Elis Regina.........................................................................34O Estado de S. Paulo - Brega cult do Pará...................................................................................34Jornal de Brasília - Homenagem à Divina ....................................................................................36Folha de S. Paulo – Depois da tempestade..................................................................................37

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................38Folha de S. Paulo - Revista de 1812 é tema de edição fac-similar...............................................38O Globo - A língua de Lenora de Barros ......................................................................................38O Estado de S. Paulo - Parceria aberta ao mundo .......................................................................40O Globo - A literatura embarca nos trens do Rio...........................................................................41O Estado de S. Paulo - Releituras de Coralina..............................................................................43Bravo! - Lúcido Alucinado..............................................................................................................44

QUADRINHOS............................................................................................................46Folha de S. Paulo – Mônica se mistura a personagens japoneses...............................................46

MODA.........................................................................................................................47Folha de S. Paulo – O fim do Brasil exótico?................................................................................47Folha de S. Paulo – Cavalera desfila na região da cracolândia....................................................48

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CINEMA E TVBravo! - Um Banquinho, Um Avião

Alheias ao medo de voar que perseguia Tom Jobim, suas canções viajaram para os Estados Unidos e, depois, cruzaram o mundo, como demonstra o novo filme de Nelson Pereira dos Santos

por Sérgio Cabral

Dueto dos Sonhos Frank Sinatra e Tom Jobim em 1967, quando gravaram um disco juntos. O cantor norte-americano foi um dos grandes divulgadores do músico brasileiro

(Janeiro / 2012) A trajetória internacional do autor de Garota de Ipanema – retratada no documentário A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, que estreia neste mês – teve início em 1961. Foi quando, involuntariamente, o maestro e pianista carioca virou pelo avesso a política de divulgação das produções musicais norte-americanas, implantada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Naquela época, o governo de lá patrocinava excursões de renomados instrumentistas do jazz pelo mundo, e o Brasil os recebeu em grande número. Eles rapidamente se apaixonaram por nossa música e saíram daqui com as malas repletas de discos. Assim, as criações de Antonio Carlos Jobim (1927-1994) acabaram conquistando tanto êxito na América que, dali a pouco tempo, o brasileiro seria considerado pela crítica e pelos músicos locais um compositor tão importante quanto George Gershwin e Cole Porter.

A isca foi o Samba de Uma Nota Só, canção de Tom e Newton Mendonça, que o trompetista Shorty Rogers e o trombonista Curtis Fuller gravaram em 1961. Logo depois, o genial trompetista Dizzy Gillespie ouviu o disco de João Gilberto lançado nos Estados Unidos e incluiu Desafinado (também da dupla Tom e Newton Mendonça) nas apresentações que fazia em Chicago, no Sutherland Lounge. Mas o sucesso mesmo só chegou quando o guitarrista Charlie Byrd, após se apresentar no Brasil, telefonou para Creed Taylor, produtor da gravadora Verve, e sugeriu realizar um disco apenas com músicas da bossa nova. Taylor lhe propôs dividir o álbum com o saxofonista Stan Getz. A gravação ocorreu no dia 13 de fevereiro de 1962, data em que o produtor, os dois músicos e mais alguns instrumentistas se reuniram num estúdio improvisado, na Sala Pierce, da Igreja Unitária de Todas as Almas, em Washington. Com um equipamento paupérrimo – um modesto gravador Ampex, cuja fita

rodava na velocidade nada recomendada de 7 ½ –, conceberam o long play Jazz Samba. O disco vendeu mais de 1 milhão de cópias, número espantoso para a Verve na época (e ainda hoje).

Quatro contra um

Em julho de 1962, outro motivo fez com que as composições de Tom Jobim ficassem ainda mais conhecidas nos Estados Unidos: a exibição por lá do filme ítalo-franco-brasileiro Orfeu Negro, adaptação da peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. Tom assinava tanto a trilha do espetáculo quanto a do longa. Em agosto do mesmo ano, ele, Vinicius, João Gilberto e Os Cariocas protagonizaram um show no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana, que chamou a atenção de empresários norte-americanos. Resultado: em novembro, parte da turma se apresentaria no Carnegie Hall, principal casa de espetáculos de Nova York.

Também em agosto daquele ano, Stan Getz gravou o disco Big Band Bossa Nova, incluindo nele Chega de Saudade (de Tom e Vinicius), que logo seria registrada por diversos cantores norte-americanos. No entanto, a versão criada pela dupla Hendricks-Cavanaugh provocou em Tom o primeiro de muitos desgostos com as transposições para o inglês das letras de suas músicas. Ele quase brigou, por exemplo, com o amigo Norman Gimbel porque o parceiro não queria colocar o nome da praia ao traduzir Garota de Ipanema. O pretexto era que o norte-americano comum não tinha a menor ideia do significado dessa palavra. Tom venceu a discussão e o planeta inteiro aprendeu que existe um lugar chamado Ipanema. A música, aliás, se tornou uma das mais gravadas e tocadas em todo o século 20.

O medo de avião quase impediu Tom de participar do espetáculo no Carnegie Hall. Na véspera da viagem, o artista acabou convencido a embarcar pelo escritor Fernando Sabino, que foi à casa dele especialmente para tratar do assunto. “Você garante que o avião não vai cair, Fernando?”, perguntou. “Garanto”, respondeu o cronista. “Então eu vou.” O fato é que ele driblou a fobia e permaneceu vários meses nos Estados Unidos, onde fez diversos amigos entre os nomes mais famosos do jazz, além de gravar o álbum instrumental The Composer of Desafinado, Plays, considerado por muitos o melhor de sua carreira. Em 1967, retornou à América especialmente para dividir um disco com o mito Frank Sinatra.

Converteu-se, assim, num dos músicos mais executados naquele país durante a década de 1960. A partir de 1964, só perdia para os Beatles, desvantagem que encarava com realismo e bom humor: “Eu sou apenas um. Eles são quatro”.

Sérgio Cabral é jornalista, compositor e autor de Antonio Carlos Jobim – Uma Biografia.

O FILME

A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim. Estreia prevista para este mês.

O Estado de S. Paulo - Drama do Brasil compete no Festival Sundance 2012

Flavia Guerra

(19/1/2012) Produzido pela O2 Filmes, rodado em Paulínia em 2011, A Cadeira do Pai marca a estreia de Luciano Moura na direção de longas-metragens. Com roteiro do próprio diretor e de Elena Soarez (Nome Próprio, Os Desafinados, Redentor) será o único filme brasileiro em competição no Festival de Sundance 2012, na categoria World Cinema Dramatic Competition.

O longa marca também o primeiro 'drama-thriller-road movie' e, ao mesmo tempo, principal papel como pai de Wagner Moura. Na trama, o ator é o médico Theo, que cresceu com um pai ausente (Lima Duarte), até se tornar um controlador: não consegue se entender com o filho adolescente Pedro (Brás Antunes) e ainda passa por uma separação complicada. Tudo vai mal até que o filho ganha uma cadeira, que pertenceu ao pai de Theo. Nessa hora, ele perde a razão e quebra a cadeira. O rapaz foge de casa. E Theo parte em uma jornada em busca do filho.

"Ele é um cara que está acostumado a controlar tudo. Mas o buraco do Theo é não ter um pai. E tudo que ele criou para ter estabilidade emocional rui quando a mulher pede o divórcio e o filho some. Ele, que nunca prestou muita atenção no garoto, passa a conhecê-lo melhor ao longo da jornada. Não vemos o menino, só seus rastros. O menino vai encontrando seu caminho. E Theo descobre que o filho foi encontrar o avô. Ele se transforma ao longo da viagem, das porradas que toma", explicou Wagner ao Estado em um dos dias de filmagem, em junho de 2011.

Entre os outros latinos em destaque nesta edição do festival, estão Violeta se Fue a Los Cielos, coprodução entre Chile, Argentina, Brasil e Espanha. E o argentino O Último Elvis, de Armando Bos.

Folha de S. Paulo – Tom Jobim ganha biografia só com músicas e parceiros

Filme dispensa depoimentos e se torna espécie de videoclipe com 43 artistas

João Gilberto faz 'ponta' no documentário, que tem imagens raras, como as de Judy Garland cantando 'Insensatez'

Marcus Preto

(20/1/2012) Em "A Música Segundo Tom Jobim", o diretor Nelson Pereira dos Santos quis fugir do padrão "programa de televisão" que norteia a maior parte dos documentários musicais recentes do país. Fez um filme sem prosa. As palavras surgem em verso, nas canções. Versos de Vinicius de Moraes, Dolores Duran, Newton Teixeira, Chico Buarque e outros parceiros de Jobim -além do próprio, grande letrista, autor de, entre tantas, "Águas de Março". Nelson optou por não colocar legendas indicando quem é quem à medida em que as personagens surgem. "A presença de qualquer legenda naquela tela pode cortar a relação do espectador com a imagem, com a música", diz. "Não fizemos um filme para informar. Fizemos um filme para ser contemplado, como são os de ficção." Em linhas gerais, resultou em um videoclipe de 86 minutos, montado a partir de interpretações de 43 artistas, nacionais e internacionais, para a obra do compositor. A lista contempla todas as gerações que, desde os anos 1950, conviveram com esse repertório: Elizeth Cardoso e Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr. e Sylvia Telles, Elis Regina e Sarah Vaughan, Fernanda Takai e Diana Krall. Inclui imagens raras, como Maysa interpretando "Por Causa de Você" e Judy Garland cantando versão em inglês de "Insensatez". "O fator que mais eliminou artistas na edição foi a qualidade técnica do material", diz Dora Jobim, neta de Tom e codiretora. "Mas o brilho nos olhos do intérprete determinava qual versão da mesma música seria escolhida." Trata-se, portanto, de um filme de edição. Nelson afirma que o trabalho do diretor é mais organizar o material e amarrá-lo em um conceito. Irmã de Chico Buarque e parceira de Tom em dois álbuns no final dos 1970, a cantora Miúcha assina o roteiro. "A parte de procurar as coisas no YouTube foi a que mais adorei", diz. "De resto, encontrava o Nelson uma ou duas vezes por semana e contava tudo o que lembrasse." Estopim da criação da bossa nova em 1958, João Gilberto não aparece no filme. Ou quase. O melhor intérprete de Jobim surge de raspão, tocando violão para Elizeth em "Eu Não Existo sem Você". "Mas é João mesmo? Sabe que eu nem tinha reparado", pergunta o diretor, piscando e sorrindo para sua parceira Dora. É que nenhuma imagem de João foi autorizada para o filme. Essa escapou do veto porque o cantor não é o protagonista. "A Música Segundo Tom Jobim" tem um filme-irmão. Já finalizado, "A Luz de Tom" deve estrear entre o final deste ano e o começo do outro. Para ele, Nelson colheu depoimentos inéditos de três mulheres importantes na vida de Jobim: a irmã Helena e duas mulheres com quem foi casado, Tereza e Ana Lontra. A partir da memória delas, constrói outro Antonio Carlos Jobim. E ainda há muitos a serem descobertos.

Folha de S. Paulo - Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim apostam na magia que dispensa palavras

Ruy Castro, colunista da Folha

(20/1/2012) Caso raro no cinema brasileiro, as palavras não têm do que se queixar nos filmes de Nelson Pereira dos Santos. Eles são escritos com capricho, há uma permanente busca de verniz "literário" por trás da dinâmica visual e, não por acaso, ninguém até hoje adaptou tão bem Machado de Assis, Graciliano Ramos e Nelson Rodrigues. Aliás, trata-se de um cineasta com assento na Academia Brasileira de Letras, e perfeitamente à vontade nela.

O paradoxal é que, quando Nelson resolve fazer filmes sem palavras, também atinge pontos altos. Foi o caso de "Vidas Secas" (1963), em que 90% do filme transcorre em opressor silêncio -e poucas vezes um filme brasileiro "disse" tanto. Agora é "A Música Segundo Tom Jobim", com imagens de arquivo em que cantores e instrumentistas interpretam Jobim, sem uma única linha de texto.

Não há narração em "off", nem "talking heads" dizendo platitudes, nem os artistas dialogando banalidades. Não há nem sequer caracteres com os nomes dos intérpretes, títulos das músicas e datas das imagens, exceto no final, quando rolam os créditos. As únicas palavras no filme são as das letras das canções. Foi uma opção de Nelson e de sua codiretora Dora Jobim, neta de Tom -apostaram tudo na força da música.

Apostaram e ganharam. A ordem das canções é cronológica ou quase, mas a alternância de interpretações antigas e modernas provoca surpresa e encantamento durante 86 minutos -são constantes os suspiros e exclamações da plateia. Revela também a eternidade daquela música e de seus intérpretes. Os cortes de cabelo, o estilo das sobrancelhas, a largura das lapelas, tudo pode ter mudado, mas não há ninguém datado ali.

Como pode ficar datada Elizeth Cardoso cantando "Eu Não Existo sem Você", tendo ao violão um jovem e atento João Gilberto? Ou Sylvinha Telles em "Samba de uma Nota Só", Nara Leão em "Dindi", Maysa em "Por Causa de Você"? Ou o pianista Erroll Garner em "Garota de Ipanema"? E qual o melhor "Insensatez"? O de Alayde Costa, na aurora da bossa nova, em 1959, ou o de Judy Garland, perto de sua morte, dez anos depois? Os pontos altos são muitos. O "Águas de Março" de Tom e Elis Regina. Cynara e Cybele cantando "Sabiá" no Maracanãzinho, em 1968. Diana Krall, Jane Monheit e Stacey Kent provando a perene contemporaneidade de Jobim. E o próprio Tom, em muitas sequências, buscando a magia secreta de cada acorde, como se não tivesse sido ele que a produzira.

A MÚSICA SEGUNDO TOM JOBIM

DIREÇÃO Nelson Pereira dos Santos e Dora JobimPRODUÇÃO Brasil, 2011ONDE a partir de hoje no Espaço Unibanco Augusta, Kinoplex Itaim, Frei Caneca Unibanco Arteplex e Espaço Unibanco Pompeia

Brasil Econômico – “Mostra testemunhou as mudanças do audiovisual”

Quatro perguntas a Raquel Hallak, Coordenadora-geral da Mostra de Cinema de Tiradentes

(20/1/2012) De hoje até o dia 28, só se fala em cinema na cidade de Tiradentes, no interior de Minas Gerais. Por lá acontece a 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, um dos principais eventos do gênero no país. Raquel Hallak, coordenadora-geral do evento, diz que a Mostra acompanhou momentos cruciais da indústria de cinema brasileiro como a revolução da tecnologia.

Qual o balanço desses 15 anos de Mostra?

A Mostra foi um dos principais eventos que testemunhou as mudanças no audiovisual. Presenciamos uma nova configuração do cinema, vimos o digital como ferramenta central, discutimos a expansão e o personagem como tema no documentário e a internacionalização do

cinema brasileiro. E um dos grandes marcos foi presenciar o surgimento de uma nova geração, sobretudo a partir de 2005.

Existem mais de 200 festivais de cinema pelo país. Como manter a relevância?

Desde que a Mostra nasceu, em 98, imprimimos uma identidade e conceito. Isso faz uma grande diferença nesse circuito. A proposta é de ser uma grande aliada do cinema brasileiro. Ela traz uma programação inédita : pensar a formação, a reflexão, a exibição e a difusão. Sempre trabalhamos com a ideia de que não éramos um evento só para exibir filme, mas a de discutir a estética e a linguagem. Não temos como falar em indústria cinematográfica se não pensarmos em políticas públicas de fomento à mão de obra.

Quais os desafios mais importantes para a fomentação da indústria para os próximos anos?

Temos hoje uma grande produção cinematográfica. Digamos que isso não seja mais um problema pois há vários editais de fomento. Mas falta incentivo para essa distribuição.

Um velho problema, não é?

Sim. Um dos grandes desafios é esse. A gente não pode só pensar em filmar. Ninguém faz filme para ficar guardado na prateleira. Mas também temos que pensar em como preservar para que no futuro as novas gerações possam ter acesso. Fazemos também a Mostra de Ouro Preto, que é o único evento do gênero que discute um plano nacional de preservação.

Folha de S. Paulo - Mostra de Tiradentes aposta em novatos

Entre hoje e o dia 28, serão exibidos 116 filmes; mostra competitiva reúne sete longas de jovens cineastas do país

Neste ano, evento recebe olheiros de Cannes e Veneza em busca de nomes promissores da produção nacional

MATHEUS MAGENTADE SÃO PAULO

(20/1/2012) A 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes (MG) abre hoje o calendário brasileiro de festivais disposta a se consolidar como celeiro de jovens cineastas e vitrine para o exterior dessa nova produção. Para isso, apresentará 116 títulos, com os quais espera atrair 30 mil pessoas até o próximo dia 28.Olheiros de festivais internacionais de cinema como Cannes, San Sebastián e Veneza irão à cidade mineira em busca de filmes de diretores novatos para exibir sobretudo em suas mostras paralelas. A visita da delegação estrangeira de programadores acontece desde 2009, quando se celebrou o Ano da França no Brasil."Eles querem o novo, desejam descobrir cineastas. Querem apadrinhar, a exemplo do que ocorreu com o cinema romeno contemporâneo em Cannes", afirma o curador Cléber Eduardo.Na quarta-feira, os convidados estrangeiros participarão de um debate sobre a imagem do cinema brasileiro no exterior, onde "Cidade de Deus" parece ainda ser a grande referência da última década.Apesar de ter selecionado trabalhos inéditos de nomes famosos, como o filme de abertura "Billi Pig", de José Eduardo Belmonte ("A Concepção", "Se Nada Mais Der Certo") e estrelado por Selton Mello (homenageado da vez), a curadoria diz estar cada vez mais dedicada a encontrar novos talentos.

FOCO NAS ESTREIAS

Em sua quinta edição, a mostra competitiva Aurora exibe obras de diretores com até dois longas-metragens.

Cléber Eduardo explica que, enquanto festivais como os de Brasília, Paulínia e Rio dão mais visibilidade a películas inéditas de diretores consagrados, Tiradentes se distinguiu ao mirar a base da produção cinematográfica nacional: obras de estreia de realizadores.

"Com o maior acesso a tecnologias e ferramentas, há uma nova geração que vai se reciclando e, a cada ano, há uma base maior. É só ver a quantidade de cursos de cinema e workshops se espalhando pelo país", afirma ele.

Segundo Raquel Hallak, coordenadora-geral de Tiradentes, esse critério de inscrição contribuiu para o surgimento de coletivos de novos cineastas, que trabalham em esquema de rodízio e de forma colaborativa.

"É uma produção totalmente independente que acontece em lugares como Minas, Rio e Ceará. O diretor de fotografia de um filme dirige o trabalho seguinte, faz o roteiro, produz", conta.

Filmado com R$ 10 mil, o longa "A Fuga da Mulher Gorila", de Felipe Bragança e Marina Meliande, foi exibido na mostra Aurora de 2009 e levou naquela ocasião o prêmio do júri jovem.No ano seguinte, a dupla carioca viu o filme "A Alegria" ser selecionado para a Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes.

Carta Capital - Um pensador do Brasil nas telas

PERFIL 2 / Nelson Pereira dos Santos vê Tom Jobim como personagem central do País

POR ORLANDO MARGARIDO

(22/1/2012) CERTA VEZ, o cineasta Roberto Santos definiu assim a reputação de que ainda goza seu colega Nelson Pereira dos Santos. "É muito chato falar sobre Nelson. Tudo já foi dito e só resta fazer elogios." Referia-se, claro, de forma afetiva e amigável, à trajetória de quem efetivou o Cinema Novo e contribui de modo decisivo para entender melhor o Brasil, explorando-o em sua riqueza na tela. São palavras conformadas, ditas não por algum interesse bajulador (não há parentesco entre esses Santos, diga-se), mas pela parceria profissional desses dois paulistanos nascidos em 1928 e que auxiliaram um ao outro em suas respectivas estréias como diretor. Roberto integrou a equipe de Rio 40 Graus, título fundador de uma nova estética e temática no País, e Nelson respondeu 'a esse apoio ao seu filme com a produção de O Grande Momento, não por acaso filmado no Brás, onde ambos cresceram.

Roberto Santos morreu em 1987 e Nelson prossegue atuante. Aos 83 anos, com vitalidade e desembaraço impressionantes, lança na sexta 20 o documentário A Música Segundo Tom Jobim. O ex-parceiro por certo enxergaria ecos de suas sábias palavras na decisão que norteou a realização desse fiIme sobre o cantor e compositor carioca Antonio Carlos Jobim (1927-1994), a qual somente um mestre respeitado e investido do papel de renovador do cinema brasileiro poderia fazer valer. Porque aqui também temos uma daquelas reputações unânimes da qual pode ser aborrecido e desnecessário falar ou, pior, ouvir outros explorarem sobre ela. "Há um imenso rastro de estudiosos sobre o músico para quem quiser seguir", diz a CartaCapital. Ele acha graça ao ser lembrado da citação do companheiro de primeira hora e arrisca uma comparação. "Cinema e música têm de falar por si sós. Quando se encontram, então, aí mesmo é melhor ficar de fora, só apreciando, sem muita intromissão”.

E foi o que sua longa experiência sugeriu. Ao se dar conta da difícil tarefa, experimentada em formato mais tradicional num especial homônimo para a TV Manchete em 1984, Nelson agora radicalizou. Não incluiu depoimentos, conversas ou qualquer tipo de entrevista no trato desse também precursor que não lhe era distante. Pelo contrário. Cinema Novo e bossa nova rimaram com prazer nos anos 50 e nos seguintes, com vantagens para o primeiro, que dela bebeu para suas trilhas sonoras. Com essa intimidade, bastou para Nelson deixar a música falar numa sucessão de interpretações do próprio homenageado, com quem se sentava em bares cariocas para conversar, além de quem mais o cantou, nomes como Gal Costa e Elis Regina aqui, ou Frank Sinatra lá fora. São 90 minutos de imagens musicais preciosas saídas do baú familiar, mas também de uma pesquisa com demanda internacional, dos Estados Unidos ao Japão. Nelson divide a direção com uma neta de Tom, Dora Jobim. Seu pai, Paulo Jobim, músico e um dos integrantes do clã que melhor conhecem o legado paterno, supervisionou o projeto.

Um time privilegiado e uma direção redonda, mas não livre de limitações. A opção em trabalhar apenas com arquivos já existentes determinou que a representatividade de canções como Desafinado e Águas de Março deveria ressoar na qualidade do registro visual. A segunda música, por exemplo, é um dos momentos mais cativantes, com Jobim e Elis desafiando-se em seu talento e versatilidade, sob a fotografia de Fernando Duarte. Outra questão recaiu sob o custo dos direitos autorais e a raridade de ver Judy Garland interpretando Insensatez. Foi uma das negociações mais demoradas e caras do projeto, segundo os realizadores.

Mas essas são informações que chegaram à platéia a posteriori, quando sobem os créditos. Não há referências durante a exibição. O público maduro facilmente reconhecerá o que vê e ouve, tanto no passado com Ella Fitzgerald como no presente com Diana Krall. Os mais jovens partirão muitas vezes para descobertas, embora um diálogo se faça com Fernanda Takai e Carlinhos Brown, ruído talvez necessário para demonstrar a tese, expressão que os diretores talvez refutassem, de que a música de Tom continua a viajar no tempo e a instigar. "Informar é para a televisão, que tem obrigações com o público. Eu quis criar outra relação com o espectador, não interferir, que ele acrescente sua visão às imagens e embarque na felicidade daquelas canções."

Nelson, é bom relembrar, não irrompe nesse universo por casualidade. "A música está comigo desde as raízes caipiras da minha família, do meu pai nascido no oeste paulista." Junto veio a apreciação do cinema ainda no Brás, quando o clã frequentava as matinês do Cine Teatro Colombo. Influências que deram samba de imediato na estreia do cineasta, com a voz do morro de Zé Kéti, em atuação também, embalando a trilha sonora de Rio 40 Graus (1955). Nos anos 80, mesmo período do trabalho sobre Tom Jobim para a tevê. Nelson realizaria o documentário Eu Sou o Samba. O sambista ainda mereceria um retrato exclusivo em 2003, Meu Compadre Zé Kéti. De maneira geral, a cinematografia de Nelson ressoa a música com frequência, por vezes diretamente e com alguma surpresa pela temática, como foi o caso de Estrada da Vida (1979), biografia romanceada da dupla sertaneja Milionário e José Rico. Críticos o cobraram. Nelson jamais desdenhou do projeto. As raízes familiares do interior lhe bastavam para justificar.

A década de 70 marcou uma virada na trajetória do cineasta. Ele vinha de uma fase experimental, que tem em Quem É Beta? (1972) o principal representante, e decidira partir para um cinema de teor mais popular. Ficou famosa a frase que oficializou a ruptura: "Chega de sociologismo". Parecia uma ironia com os grandes nomes da literatura que já havia filmado, e continuaria a filmar, o Graciliano Ramos de Vidas Secas (1963) e o Machado de Assis de O Alienista, numa adaptação livre para Azyllo Muito Louco (1969). Em parte o recado era esse, mas a origem da expressão é mais prosaica, como Nelson já contou em entrevistas. Chamado por um escritório de seguridade social para realizar um documentário, ele ouviu de seu interlocutor a frase numa conversa de telefone. Pediu-lhe o significado e obteve: "É para interromper alguém que erra e depois não para de se explicar".

Nelson talvez tenha precisado dar algumas explicações sobre os rumos de seu cinema desde que Rodolfi Nanni o chamou para ser assistente em O Saci (1951), mas nunca os encarou como erro. Com seu díptico dedicado à compreensão das religiões afro e à situação de preconceito que essas viviam no Brasil da época, a umbanda em O Amuleto de Ogum (1974) e o candomblé de Tenda dos Milagres (1977), ele preconizava uma aproximação com o grande público e para isso se valia de escritores populares como Jorge Amado. A partir daí, seria perceptível e recorrente a preocupação com o País, seus personagens do valor cultural e histórico, a investigação de períodos de transformação política, vertente na qual Tom Jobim se inscreve agora. Pois é também de um Rio de Janeiro idílico dos anos 50 que se fala no documentário, em suas primeiras cenas com imagens de arquivo sobre uma cidade em expansão de modernidade, a exemplo das obras do Aterro do Flamengo.

O diretor não estimula comparações atuais, com uma possível melhora do cotidiano e aumento de estima do carioca que agora ocorre, mas é inevitável pensar no contraste. Seus filmes autorizam a tanto, por serem muitas vezes retratos de contexto social e político, porque também ele foi homem de atividade próxima ao Partido Comunista da época. São títulos como El Justiceiro (l966) e Fome de Amor (l968), visões sarcástica e de crítica engajada, respectivamente, a ditadura militar, e o premiado Memórias do Cárcere (1983), novamente um Graciliano para lembrar então a abertura democrática pelo viés do Estado Novo. Tanto a literatura, ainda marcada por Guimarães Rosa em A Terceira Margem do Rio (1994), como o interesse por estudiosos do Brasil, a exemplo de Sérgio Buarque de Holanda, que mereceu o documentário Raízes do Brasil em 2003, Nelson credita a primeira formação

no colégio e mais tarde a convivência na Faculdade de Direito paulistana. "Eu cresci sob a conflagração da Segunda Guerra Mundial, e isso fazia diferença por que se queria entender o que estava acontecendo. Havia bons professores e um público interessado em ler", resume.

Uma das qualidades de A Música Segundo Tom Jobim é o evidente afeto com que os realizadores tratam o legado do músico e sua condição de representante do País no exterior, não abrindo mão, por exemplo, de interpretações por vezes folclóricas ou mesmo cafonas. Esses personagens, sejam aqueles de fama em casa, sejam os que também a exportaram, sempre mereceram o olhar atento de Nelson. "Eles revelam muito da gente, às vezes fatos desconhecidos para nós mesmos", diz. Entre as surpresas na pesquisa para o filme, revela Dora Jobim, estavam gravações desconhecidas. "Não sabíamos, por exemplo, que Sammy Davis Jr. havia cantado Jobim" Nessa perspectiva, Nelson quer aprofundar o Brasil aos brasileiros. Seu intento agora é levar à tela uma visão ficcional da vida de dom Pedro II, baseado na biografia de José Murilo de Carvalho, enquanto ainda embala antigo sonho de promover Castro Alves para os dias atuais. Antes lança um novo encontro com a família Jobim, numa espécie de segunda parte já finalizada do filme, a respeito das mulheres da vida do músico. Se não resta muito a falar sobre Nelson, ainda há muito o que ver de seu cinema.

Brasil Econômico – Cinema nacional ganha sotaque hollywoodiano

Quarta edição do Hollywood Brazilian Film Festival vira “vitrine” das produções brasileiras em Los Angeles

Thais Moreira

(23/01/12) Há quatro anos, o cinema brasileiro iniciou o seu processo de internacionalização e, desde então, vem ganhando espaço em Hollywood. Neste cenário, a agência Puzzle, comandada por Guilherme Trementócio, anuncia a quarta edição do Hollywood Brazilian Film Festival, que vai acontecer entre os dias 6 e 10 de junho de 2012 no Hotel Roosevelt, em Los Angeles, na Califórnia.

“O cinema brasileiro está em um nível equiparado ao internacional e está sendo visto como um mercado potencial pelos grandes estúdios de Hollywood”, afirma Trementócio, e diretor da Agência Puzzle. Segundo o publicitário, o festival é a porta de entrada para a comercialização de filmes nacionais em cenário internacional.

Exemplo disso foi o longa metragem “Riscado”, do brasileiro Gustavo Pizzi, que foi apresentado na última edição do festival e ganhou visibilidade. Este ano, o produtor vendeu o longa que será exibido nas telonas americanas e canadenses.

Para a fundadora e idealizadora do evento, a brasileira Talize Sayegh, o plano é ser a vitrine do cinema nacional para o mundo. “O festival vem se tornando cada vez mais um palco de oportunidades de negócios”, diz Sayegh, que vive em Los Angeles há 23 anos e conta com a parceria do diretor artístico Sandro Fiorin. A empresária também é dona da Lis Productions, empresa de promoção e divulgação de cultura brasileira nos Estados Unidos.

Destaque do Hollywood Brazilian Film Festival Em 2011

Recife Frio, de Kleber Mendonça - Selecionado no festival em 2011, o filme inspirou o longa “O Som ao Redor” (Neighbouring Sounds), do mesmo autor, para o festival de Roterdã, na Holanda.

Patrocínio

Na edição de 2011, o Hollywood Brazilian Film Festival teve como patrocinadora a sul-coreana LG Electronics, que aproveitou o momento para lançar sua televisão Cinema 3D. O retorno do patrocínio foi de US$ 6 milhões. “A terceira edição mostrou que o festival se encaixou nos trilhos”, diz Sayegh.

Segundo a produtora, este ano, para a quarta edição, as negociações com empresas para o patrocínio estão em andamento, e prometem crescer. “Não estamos pedindo passagem, estamos chegando para ficar, porque o Brasil é umdos poucos países que investem no cinema nacional”, complementa.

Em seus três primeiros anos de história, o festival promoveu um total de 150 sessões de cinema, 5 seminários e outros eventos correlacionados. O balanço dos três primeiro eventos do cinema brasileiro em território americano atingiram um público de 200 mil pessoas, incluindo o público online.

Segundo a Agência Puzzle, promotora do evento, nos últimos 3 anos, o aumento das coproduções internacionais filmadas no Brasil ficou acima de 100% ao ano.

Destaques

No ano passado, comissão julgadora do evento, que contou com Ernest Hardy, Shaz Bennett, Pedro Kos, Hebe Tabachnik, Ellen Pittleman e Claudio Marcelo Reis, avaliou 18 produções independentes, que são o primeiro filme de cada diretor. O longa-metragem brasileiro Por el Camino, de Charly Braun, foi o vencedor da categoria Melhor Filme. No elenco, os atores Esteban Feune de Colombi, Jill Mulleady Jill, Guilhermina Guinle e Naomi Campbell. O filme foi rodado no Brasil e no Uruguai, em 2010 e conta a aventura de um jovem argentino, chamado Santiago, que decide ir ao Uruguai conhecer um terreno deixado por seus pais.

Já o vencedor do Melhor Curta foi Contagem, dos diretores Gabriel Martins eMaurílio Martins. Tem 18 minutos de duração, e conta com os atores Kelly Crifer, Leo Pyrata, Bárbara Colen, Osman Rocha Alcântara e Robert Fran em seu elenco. Retrata umacontecimento, quatro pessoas e a cidade de Contagem, em Minas Gerais.

Brasil Econômico – Brasil vira cenário para produções de grandes estúdios

No ano passado, foram rodados no país o animação Rio, Velozes e Furiosos 5 e a primeira parte de Amanhecer, da saga Crepúsculo

(23/1/2012) O Brasil não chama a atenção dos americanos apenas pelos filmes. O cenário nacional também está nos holofotes do cinema hollywoodiano. Os grandes estúdios, como Fox, Warner, Universal, Disney, Paramount, investem 20% da renda na produção de filmes no Brasil.

“Isso marca a força do cinema brasileiro no exterior fortalece a ponte entre Brasil e Hollywood, que é o berço do cinema mundial”, afirma Guilherme Trementócio, produtor executivo do Hollywood Brazilian Film Festival e diretor da Agência Puzzle.

O país já foi tema do filme Rio, animação em 3D norteamericano dos gêneros musical e comédia produzido pela 20th Century Fox e pela Blue Sky Studios. Dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, conta a história da arara azul na cidade maravilhosa. No início de abril de 2011, no final de semana de estreia em 72 países, Rio decolou nas bilheterias mundiais e arrecadou cerca de US$ 55 milhões.

Destaque do Hollywood Brazilian Film Festival Em 2011

Riscado, de Gustavo Pizzi - O longa ganhou destaque ao abrir a edição do Hollywood Brazilian Film Festival 2011 e este ano estreia nas bilheterias dos EUA e Canadá.

Entre as maiores vendas estavam a Rússia (US$ 10,4 milhões) e, naturalmente, o Brasil (US$ 8,3 milhões).

Velozes e Furiosos

Algumas semanas depois, o Rio de Janeiro foi sede do lançamento da quinta edição do longa Velozes e Furiosos, que tem no elenco Vin Diesel, Paul Walker e Jordana Brewster e Justin Lin na direção.Aprodução americana traz uma visão violenta da capital carioca, dominada por traficantes fortemente armados, uma polícia corrupta e mulheres sensuais.

Outro exemplo foi o filme Amanhecer—Parte 1, da saga Crepúsculo, que teve parte gravada na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. Em novembro a estreia foi marcada pelo maior público de um final de semana na história do cinema no Brasil. Segundo dados da distribuidora Paris Filmes, 1,7 milhão de pessoas assistiram ao filme entre os dias 18 e 20. ■ T.M.

Folha de S. Paulo – Indústria do cinema passa a fazer trailer para o Brasil Maria Cristina Frias

(23/1/2012) Ao se tornar o maior mercado de cinema da América Latina, com 135 milhões de espectadores em 2011, o Brasil começa a atrair a atenção da indústria cinematográfica mundial, que passou a encomendar a produção de trailers exclusivamente para o público do país.

O mercado americano costuma produzir, para cada filme, um trailer a ser distribuído no mercado interno e outro para ser exibido no exterior.

Três produções recentes (uma espanhola e duas americanas), porém, mostram o início de uma mudança.

"A Pele que Habito", "The Runaways - Garotas do Rock" e "Jogos Vorazes" ganharam trailers feitos só para o Brasil. "Mas é um mercado ainda muito incipiente se comparado com o dos EUA", diz Marcos Horácio Azevedo, sócio da produtora Tatuí, que produziu os três trailers, além de comerciais para oito filmes estrangeiros -entre eles, o do megasucesso "Crepúsculo".

Antes, diz Horácio, o material vinha pronto. Aqui era feita apenas a dublagem.

Azevedo conta que sua produtora vem trabalhando com encomendas feitas pela distribuidora brasileira Paris Filmes, mas afirma que multinacionais já começam a se interessar em produzir peças locais e a procurar a empresa.

Cada trailer de dois minutos e meio pode custar R$ 50 mil. Por enquanto, poucas empresas no Brasil fazem esse tipo de trabalho. Nos EUA, há em torno de 30 companhias especializadas.

Folha de S. Paulo – Made in BrazilNova lei da TV paga, aumento do número de assinantes do serviço e acesso sob demanda promovem produção nacional

Nelson de Sá, articulista da Folha

(23/1/2012) Quando a Band afastou Rafinha Bastos por uma piada, abriu a porta para o desconhecido. Na entrada do ano, o comediante fechou com o Netflix -serviço de vídeo por demanda, recém-chegado ao país- e estreou três especiais de "stand-up". A contratação deve ser anunciada hoje pela programadora de TV paga Fox, que investe em conteúdo nacional para ser concorrente de fato da Globosat. "Ainda não posso comentar", diz Marcelo Cataldi, vice-presidente da Fox Brasil.

Rafinha é parte de um movimento maior da TV por assinatura em 2012, cujos motores são a nova lei da TV paga, a maior competição tanto entre programadoras como operadoras e o avanço do vídeo por demanda, via web.

MOMENTO NACIONAL

A Fox estreia o Fox Sports no dia 5 e enfrenta resistência de operadoras que controlam a TV paga, Sky (satélite) e Net (cabo), que pertencem a grupos associados à Globo. Anunciou que seu canal Speed dará lugar ao de esportes -que tem exclusividade da Libertadores na TV paga.

Na última sexta, o "Meio & Mensagem" noticiou que a Fox deu novo passo ao comprar o BandSports, que tem direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos de Londres com SporTV, da Globosat, e ESPN, da Disney. A concorrência fez o SporTV escalar Galvão Bueno para os jogos.

A aposta no Fox Sports "por si só já sinaliza que a perspectiva é muito boa para a TV paga", diz Cataldi.

A Fox investe no país em resposta ao aumento de demanda por TV paga, que credita "em boa parte" à classe C, que agora tem "condições de experimentar [a TV por assinatura] e está gostando".

O novo canal "está alinhado com o momento da TV por assinatura", diz Cataldi. Em 2011, a Fox já lançou o Bem Simples, "100% produção local", e fez as séries "9 MM" e "Bicho Papão", o documentário "Across the Amazon" e programas como "O Guia", de gastronomia, "sucessos" de outros canais seus.

Mas esporte é o foco em 2012. "Os anos pares tendem a ser anos em que a TV paga tem ganhos de participação no bolo publicitário, em função de grandes eventos como os Jogos Olímpicos", diz Alberto Pecegueiro, presidente da Globosat. "A perspectiva é manter em 2012 um crescimento do faturamento acima da média do mercado."

Ele diz que a nova lei da TV paga (12.485), que entra em vigor neste ano e estabelece cotas de conteúdo nacional, "vai acelerar o processo, principalmente nos canais internacionais", de maior atenção à produção brasileira.

Pecegueiro critica o que avalia como "benefício" ao programador internacional de TV paga: normas fiscais estipulam que, "do imposto sobre a remessa de dinheiro, parte pode ser usada para produzir conteúdo no país", o que favoreceria Fox, HBO e Turner. "O programador brasileiro fica em desvantagem. Toda a nossa produção é feita com dinheiro de verdade."

Neste ano de mais concorrência, o grande lançamento da Globosat é o canal infantil Gloob. A nova programação só entra no ar depois do Carnaval.

Folha de S. Paulo – Televisão na internet investe na produção de conteúdo nacionalDe olho na audiência, serviços de vídeo sob demanda encomendam programas brasileiros

Executivo do Netflix diz que vai às compras em fevereiro em evento no Rio que terá palestra do diretor da série 'Lost'

O ator Norival Rizzo, o policial Horácio na série "9 MM: São Paulo" da Fox

(23/01/12) Um produtor de São Paulo, que pede anonimato, relata que seus negócios estão sendo alavancados não pela TV paga, mas por um novo ator: o vídeo por demanda, via internet. Serviços como o Netflix passaram a investir em produção nacional. Criado há quatro anos nos EUA e instalado há quatro meses no Brasil, o Netflix cobra R$ 14,99 por mês para permitir o acesso, de início, a 1.300 títulos, entre filmes e séries. O acesso pelo televisor é feito hoje com consoles de games (PS3, Wii, Xbox) e outros aparelhos, além das novas "smarTVs", televisores com navegação on-line.

Jonathan Friedland, vice-presidente global de comunicação e marketing do Netflix, diz que o avanço inicial no Brasil, "nosso primeiro serviço em língua estrangeira", foi lento, melhorando perto do Natal com a viabilização do acesso por mais consoles.

Não dá números, mas em carta aos acionistas o Netflix disse estar "servindo centenas de milhares de latino-americanos", 40% brasileiros.

Segundo seu presidente, Reed Hastings, "é cedo para dizer se vamos chegar ao equilíbrio entre receita e despesa [break even] em dois anos, como gostaríamos". Ele e Friedland preferem destacar que é hora de "aprender".

No Brasil, o Netflix já aprendeu que, embora a classe C queira filmes e séries dubladas, a maioria dos assinantes iniciais tem renda maior, é jovem e quer legendas.

E quer conteúdo nacional, mas "alternativo, diferente", daí o investimento em produções como os especiais de Rafinha e do UFC. "Estamos falando com produtores e também com redes. Licenciamos conteúdo da Globo para o resto da América Latina. Rafinha está na América Latina, nos EUA e no Canadá."

Friedland avisa que vai às compras em fevereiro no Rio Content, feira criada em 2011 pelos produtores independentes que acabou atraindo 2.000 pessoas. Neste ano, a palestra central será de Jack Bender, diretor de "Lost".

"A gente pensa sobre isso o tempo inteiro, acompanha de perto", diz Alberto Pecegueiro, da Globosat, sobre a chegada do vídeo sob demanda.

No início de 2011, nos EUA, as operadoras de cabo sofreram sua primeira queda na base de assinantes. "Pela primeira vez, a conexão do domicílio poderia estar sendo abalada pela oferta de conteúdo da internet", diz ele. "Mas o ano fechou, e a conclusão foi que a queda se deu mais em função da recessão."

Pecegueiro diz que "é claro que se constata, nas pesquisas, aumento no consumo de vídeos", daí a resposta de operadoras e programadoras, nos EUA e agora no Brasil, com a "TV everywhere", permitindo acesso aos programas via internet, em qualquer tela. "Até aqui não há nenhuma 'disrupção' no negócio de TV paga."

Friedland diz que "todos se movem nessa direção. Em dez anos, todos vão estar lá, até a Globo". (NELSON DE SÁ)

Folha de S. Paulo – Belmonte arrisca-se no cinema comercial"Billi Pig" estreou na Mostra de Tiradentes Matheus Magenta, enviado especial a Tiradentes (MG)

(23/1/2012) Cansado de ser visto por um pequeno nicho, o diretor José Eduardo Belmonte decidiu que seu quinto longa seria uma incursão no cinema comercial brasileiro. O resultado é uma comédia caricatural com ares de chanchada chamada "Billi Pig", exibida pela primeira vez na abertura da 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na última sexta-feira. O longa é estrelado por Selton Mello e Grazi Massafera.

"Não queria fazer filmes à la Belmonte o tempo inteiro. É importante não bater numa tecla só. A maturidade não está na repetição, mas na mudança", disse à Folha.

"É um projeto de tentar dar uma elevada no nível do cinema comercial", afirmou a produtora Vânia Catani.

O repórter viajou a convite da organização da 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

Folha de S. Paulo – Brasileiro veterano exibe em Sundance seu primeiro longa"A Cadeira do Pai" tem o ator Wagner Moura como protagonista Fernanda Ezabella, enviada especial e Park City, Utah

(23/1/2012) "Como você vê, não sou nenhuma criança", responde com uma risada o diretor Luciano Moura, 48, sobre os desafios do primeiro longa-metragem, "A Cadeira do Pai", um filme de estrada protagonizado por Wagner Moura. A estreia veio em grande estilo, no final de semana, na competição do Sundance Film Festival.

Wagner (sem parentesco com o diretor) faz o médico Theo, que, no meio de uma crise com a mulher, precisa procurar o filho adolescente que foge de casa. Aos poucos, detalhes da fuga vão surgindo, como o aparecimento de um cavalo, a travessia por dois Estados e uma série de personagens pitorescos.

"Theo é o cara que tenta fazer tudo certo, que tenta controlar a vida, mas tudo desmorona ao seu redor. O desaparecimento do filho é um xeque-mate", disse à Folha Luciano, que também assina o roteiro, ao lado da mulher, Elena Soárez.

"O filme tem o thriller, porque a gente não sabe se o menino está vivo, e tem a viagem interna do Theo", afirma.

Luciano, que nasceu em São Paulo e mora no Rio, tem na bagagem um curta premiado, "Os Moradores da Rua Humboldt", direção de alguns episódios da série "Filhos do Carnaval" e muitos filmes de publicidade, na O2, de Fernando Meirelles, produtor de "A Cadeira do Pai".

"O desafio principal é cumprir. Cruzar a linha final. E cruzar bem", disse.

Para Wagner, o filme prova a diversidade do cinema brasileiro: "Este filme não se encaixa no que se vê do Brasil nos festivais internacionais", disse. "Não discute questões políticas ou diferenças sociais. É um filme sobre a gente aqui, sobre um filho. Os argentinos já fazem isso há um tempão."

É a segunda vez de Wagner em Sundance, após "Tropa de Elite 2" em 2011. A primeira visita rendeu frutos: foi escalado para seu primeiro filme internacional, a ficção científica "Elysium", de Neill Blomkamp ("Distrito 9"), cujas filmagens terminaram.

Folha de S. Paulo – 'Corações Feridos', do SBT, investe em 'padrão Globo de qualidade', mas ainda tem deslizesCrítica novela Dolores Orosco, colaboração para a Folha

(23/1/2012) "Corações Feridos", de Íris Abravanel, inaugurou no SBT estratégia que a Record já adotou: copiar à risca o "padrão Globo de qualidade" na teledramaturgia. Desde a estreia, na semana passada, a novela tem mostrado iluminação bem cuidada, edição ágil e cenários caprichados. Não fossem alguns diálogos pobres, com de clichês românticos -herança da Televisa, parceira do SBT-, "Corações Feridos" não causaria estranhamento se estivesse na grade global.

Com direção de Del Rangel, que trabalhou na Globo por mais de 15 anos, a novela teve a sorte de eleger como trilha sonora hits do gênero que é campeão da vez: o sertanejo universitário.

Tal trunfo lhe confere frescor e até disfarça o fato de a "nova" trama do SBT ter sido gravada há quase dois anos.

Na Record, a tática da "clonagem global" deu certo. "Prova de Amor" (2005) chegou a superar a audiência da concorrente e consolidou a produção de novelas no canal de Edir Macedo. Se "Corações Feridos" cair no gosto popular, a estratégia vai mostrar que ainda tem fôlego.

Correio Braziliense – É coisa nossa

Celebração candanga Evento promovido pelo Correio homenageia o cineasta Vladimir Carvalho, com exibição de trechos do documentário O país de São Saruê. Clodo Ferreira e Alexandre Ribondi animam a festa com música e humor

Ricardo Daehn

O período, se comparado àquele opressor dos tempos dominados pelo regime militar instaurado a partir de 1964, seguramente, é outro — com a reforma agrária em curso, usinas de açúcar absolutamente desativadas e agitação nas frentes de trabalho da transposição do Rio São Francisco. Quem observa as transformações é o cineasta paraibano Vladimir Carvalho, às vésperas de completar 77 anos. Ainda que sobrem mudanças em curso, uma parte do passado (registrado por ele, há 40 anos no longa O país de São Saruê) teima em não mudar: “Há três semanas, fiz uma viagem de recomposição do filme, em que captei o centro do Polígono da Seca, que incluía Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Pela intuição e pelo que vi no sertão onde filmei, piorou — está mais devastado e a economia, desestruturada”, conta o documentarista.

Quando começou a filmar, em 1966, ele alcançou a fase forte do ciclo do algodão. “Agora, o campo está desativado, deserto. São traços que deixaram o filme bastante atual, sob o enfoque inicial”, observa o diretor, que será homenageado no 2ª Sarau Chatô, Hoje, a partir das 19h, no Auditório da sede do Correio.

Numa conjuntura atual em que, pelas contas de Vladimir, “as crianças pensam que algodão nasce nas farmácias” e “as feiras nordestinas se tornaram museus a céu aberto, sem a antiga pujança”, o filme O país de São Saruê permanece um símbolo de resistência. Irmanado pelo relato de condições subumanas de vida do cultuado longa-metragem Cabra marcado para morrer (do qual ele foi assistente e coprodutor), São Saruê passou nove anos interditado pelo Serviço de Censura. “Ensaio balbuciante”, como o autor define (no texto batizado de A heresia de São Saruê), a fita expôs “pessoas no limite das condições de sobrevivência, com fome”. A “subprodução” foi abafada pelo governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, por suposta afronta dos “interesses e dignidade nacionais”, numa época em que, “deslavada mentira”, era apregoado um “novo Nordeste, de repente, próspero e justo”.

ArtimanhaUma espécie de ajuste de contas com o calendário se dará com o andamento do 2ª Sarau Chatô, uma vez que apazigua consequências fortes para a obra de Vladimir Carvalho: escolhido pela comissão de seleção do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e, em seguida, censurado, o filme foi substituído pela exibição de Brasil bom de bola. O Los Angeles Times, em publicação de 1972, chegou a denunciar o caso, piorado em 1974, quando, por artimanha do pesquisador Cosme Alves

Cena de O país de São Saruê: fragmentos do clássico no Sarau Chatô (Vladimir Carvalho/Divulgação)

Netto, comporia (mas foi ceifado, pela interdição) a Semana da Crítica do Festival de Cannes. Quatro anos de suspensão do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi o custo das vaias e da agitação promovidas, em nome da liberdade, em tumultuada sessão do evento. Primeiro longa realizado por Vladimir Carvalho, O País de São Saruê obteve a liberação, às vésperas dos anos de 1980, integrado a banquete cultural, no menu da “pretensa abertura”, como o diretor pontua.

“Toda homenagem conforta e dá força para continuar trabalhando”, comemora o diretor, ao falar da lembrança no cardápio de atrações do 2ª Sarau Chatô. Com fé numa utopia (“que venha a se realizar, na prática”), ele acredita no potencial de Eldorado, de “terra prometida, sob céu coberto de prata”, reservado ao Nordeste.

Igualmente, no futuro (dentro de uns dois anos), projeta a conclusão do atual documentário, ainda sem captação, em torno do pintor, gravador e ilustrador pernambucano Cicero Dias, morto em 2003. Imagens de uma exposição em Paris; conversas com parentes do artista (entre os quais, uma afilhada de Picasso) e um emblemático passeio do retratado, captado no média-metragem Eu vi o mundo… ele começava no Recife (de Mário Carneiro) já estão em ebulição, na cinematográfica cabeça de Carvalho.

Diversidade criativaPara além dos corredores da UnB, em que muitas vezes esbarrou com o mestre Vladimir Carvalho, ou ainda na autoria da trilha de um documentário detido na figura de Vladimir, o cantor piauiense Clodo Ferreira, 60 anos, guarda outra aproximação com o cineasta: 1971 também foi ano cabal para o músico, que, à época, faturou o primeiro lugar no Festival de Música do Ceub. Na segunda edição do Sarau Chatô, Ferreira — em companhia dos filhos João (violão) e Pedro (percussão) — fará pocket show acústico com músicas dele, popularizadas por Fagner e MPB4, entre outros. “Honrado”, pela participação no evento, Clodo, que está na capital desde os 13 anos, promete incluir, no repertório, Cebola cortada e Revelação.

Ainda no cardápio cultural do Sarau Chatô, o mágico Luan, 21 anos, desfilará 10 números da “forte paixão” que o liga ao universo do ídolo, o ilusionista Harry Houdini. Ex-assistente de palco, e, desde criança, aficionado por estojos de mágicas, o morador de Vicente Pires largou até o curso de direito para atender à nova demanda com a atual profissão. “Teremos interação com o público e até levitação de mesa — que sai voando mesmo”, adianta ele. Completando as atrações, o ator e diretor Alexandre Ribondi criou, especialmente para o evento, o esquete O mundo encantado da redação, no qual expõe experiências da vida cotidiana dos jornalistas.

O Globo - Bigode em busca das imagens perdidas

Diretor realiza documentário a partir de cenas da estreia interrompida do escritor Lúcio Cardoso como cineasta

LUIZ CARLOS Lacerda, o Bigode: o diretor vai a Itaipu tentar reconstituir o clima das filmagens de “A mulher de longe”

Rodrigo Fonseca

(23/1/2012) Desaparecido por quatro décadas, o longametragem “A mulher de longe”, iniciado em 1949 para marcar a estreia do escritor mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968) como realizador, vai sair do limbo. Em meio às comemorações do centenário de nascimento do autor de “Crônica da casa assassinada” (1959), trechos da produção, interrompida por falta de verba, foram encontrados nos acervos da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. As sequências vão integrar um documentário que o diretor carioca Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, ex-namorado de Cardoso, já começou a produzir, em parceria com o Canal Brasil. Bigode começou o garimpo dos negativos ainda nos anos 1970. Foi o pai dele, o produtor João Tinoco de Freitas, quem financiou o projeto. A trama é um mistério tão grande quanto os que permeiam a literatura de Cardoso.

Elenco tinha Fernando Torres

— Lúcio só falava do filme quando estava muito bêbado. Já Nelson Dantas, o ator, que foi assistente do Lúcio no set, dizia que ele escrevia o roteiro de um dia para o outro e que ninguém sabia que história estavam contando. Era um poeta sem experiência com cinema experimentando fazer um filme, bancado por outro poeta, o meu pai — conta Bigode, lembrando que o filme foi depositado na Cinemateca Brasileira em 1968, mas ficou esquecido. — Foi o pesquisador Arthur Sens quem achou o material. Por anos, quando a Cinemateca funcionava no Ibirapuera, diziam que o filme estava perdido. Mas eu teimei.

Diretor de “For all — O trampolim da vitória” (1997), Bigode diz que o filme foi rodado em Itaipu, Niterói, com atores como Orlando Guy, Iracema Vitória, Fernando Torres e Maria Fernanda, filha da poetisa Cecília Meireles. — Lúcio era uma figura de muita luminosidade, mas tivemos pouco convívio. Eu me lembro de ter feito umas duas sequências com ele, e logo o filme foi interrompido — diz Maria Fernanda. Fotografadas por Ruy Santos (1916–1989), diretor de “Onde a terra começa” (1965), as imagens reencontradas, totalizando 12 minutos, não estão sonorizadas, o que dificulta mais ainda o entendimento da trama.

— Passei a vida ouvindo papai falar de “A mulher de longe”. Ele dizia que era um filme lindo, influenciado pelo expressionismo alemão. Lúcio escreveu muito sobre sua frustração com o fato de não ter concluído aquele filme — conta Bigode.

Do pouco que sobrou do longa de Cardoso entende-se que a trama se passa em uma aldeia de pescadores, cuja rotina é alterada quando o corpo de uma moça é encontrado na praia. — Seria ela a “mulher de longe” do título? — pergunta Bigode. — Não há como saber.

Algumas pistas estão nos diários de Cardoso, iniciados em 1942 e hoje guardados na Casa de Rui Barbosa. Este ano, suas anotações serão compiladas pelo pesquisador Ésio Macedo Ribeiro, autor de “O riso escuro ou O pavão de luto — Um percurso pela poesia de Lúcio Cardoso”. Elas serão publicadas em forma de livro, chamado “Diários”, pela Civilização Brasileira. Ésio incluirá no volume prosas inéditas, além de textos da coluna diária que Lúcio manteve por dois anos no jornal “A Noite”.

— Há partes do “Diário I”, editado em 1961, que ajudam a elucidar dados sobre o filme. Ele pretendia fazer uma caderneta com registros dos takes. Em 1949, escreveu: “Hoje, procurando alguns locais que ainda me faltam para ‘A mulher de longe’, achei-me no alto de uma encosta que descia bruscamente para o mar, em torrentes, grutas e socavões de terra vermelha, num colorido tão belo e violento que quase parecia artificial” — cita Ésio.

Ajuda com leitura labial

Preparando-se para lançar o longa “Casa 9”, com memórias do lugar onde viveu nos anos 1970, Bigode conta que Cardoso embarcou na empreitada de dirigir um longa após ter escrito um

MARIA FERNANDA e Lúcio Cardoso no set, em 1949

argumento, o de “Almas adversas” (1949). Tratava-se de um filme do cineasta Leo Marten com Bibi Ferreira em cena.

— Quero colocar alguém que entenda de leitura labial para tentar traduzir os diálogos. A ideia do documentário, também batizado de “A mulher de longe”, é que eu vá às locações de Itaipu com o fotógrafo Alysson Prodlik e cace os remanescentes daquela época para entender o que se passou — diz o cineasta. — Vendo esse pedaço de “A mulher de longe”, chama a atenção o clima de tragédia e de romances de introspecção psicológica. É a cara da literatura do Lúcio. E o visual evoca as imagens que ele viria a fazer como pintor a partir de 1962, após um derrame que paralisou parte de seu corpo. Familiares do escritor dão apoio ao cineasta.

— A montagem teatral recente de “Crônica da casa assassinada”, por exemplo, foi concebida inteiramente pelo autor, Dib Carneiro, e pelo diretor, Gabriel Vilela, sem interferência nossa. Não queremos que a obra de Lúcio tenha dono. Ela pertence à posteridade e a quem gosta dela.

E no caso do Bigode, ele já é da família — explica Rafael Cardoso, sobrinho-neto de Lúcio e autor dos romances “À maneira negra” e “Controle remoto”. Administrador do espólio do tio, Rafael lembra que, até o fim do ano, a Civilização Brasileira editará dois volumes de crônicas e contos inéditos dele, organizados pela jornalista Valéria Lamego, e a editora da UFMG, um livro sobre a pintura de Lúcio, organizado por Andréa Vilela.

Paralelamente ao trabalho de “A mulher de longe”, Bigode lembra que Cardoso deixou para ele de herança um roteiro inédito: “Introdução à música do sangue”.

— Parece um Bergman em ambiente caipira — avalia o cineasta. — Agora, como sobrevivente da confraria cardosiana, eu me empenho em realizar um projeto que deu a Lúcio muito prazer: levar seu olhar ao cinema.

International Herald Tribune (Estados Unidos) - Brazil’s Ruling Family of Film

Chad Batka, for The New York Times

Paula Barreto (left), with her parents, Luiz Carlos and Lucy Barreto at their Manhattan apartment. By LARRY ROHTER

(25/1/2012) SOMETIMES they limit themselves simply to producing movies, though on many other occasions they have also written, directed or actually filmed them. But by any standard the Barretos —

Luiz Carlos and Lucy and their children, Bruno, Fábio and Paula — are the first family of cinema in Brazil.

Since the founding of the family production company, LCBarreto, 50 years ago, the Barretos have, in one capacity or another, helped make more than 80 films, the latest of which, “Lula, Son of Brazil,” opened in the United States this month. Those films — in a variety of styles and genres ranging from romantic comedies like “Bossa Nova” to political dramas like “Memoirs of Prison” — have won prizes at Cannes, been nominated for Academy Awards, jump-started the careers of actors and directors and set box-office records.

In the history of Brazilian cinema, “there is before the Barretos and after,” said the actress Sonia Braga, who first came to international prominence in the mid-1970s in “Dona Flor and Her Two Husbands,” directed by Bruno Barreto and produced by his parents. “They are people who live, breathe and eat cinema, and the result is that they’ve built up a patrimony that continues to endure.” Born in Brazil’s arid northeast, the family patriarch, Luiz Carlos Barreto, now 83, was raised in the coastal city Fortaleza. He has a boyhood memory of watching Orson Welles filming the never-released “Four Men on a Raft” at a beach there and being “fascinated by all that equipment.” But when he moved to Rio de Janeiro at the age of 17, it was to play soccer semiprofessionally and work as a journalist.

From the late 1940s on he worked for Cruzeiro magazine, similar to Life or Look, first as a reporter and then also as a photographer. He met Lucy, then a music student, while on an assignment, and they married in 1954.

Crucially, Mr. Barreto covered movie stories and got to know directors like Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha and Carlos Diegues, associated with what by the early 1960s was evolving into the Cinema Novo movement. That eventually led to an invitation to write the screenplay of “Assault on the Pay Train,” a commercial success in 1962 and one of the first films of the gritty, socially engaged Cinema Novo to win attention and awards at international festivals.

“From the beginning the Cinema Novo was a movement that was as much political and ideological as cinematic,” Mr. Barreto, his bushy eyebrows rising and falling, said during an interview this month at the family’s New York apartment on the Upper West Side. “When ‘Assault on the Pay Train,’ which had all those elements, exploded at the box office, that gave us credibility.”

He was then enlisted as the cinematographer on Mr. Pereira dos Santos’s “Barren Lives” and as cinematographer and producer of Mr. Rocha’s “Earth Entranced,” both of which won prizes at the Cannes Film Festival. True to the Cinema Novo’s motto that all that is necessary to make a film is “an idea in the head and a camera in the hand,” both of those influential works, as well as many others that went on to great success in Brazil and abroad, were edited in the small guest house behind the Barretos’ home in Rio.

“Luiz Carlos was 10 or 12 years older than most of the rest of us, which meant he was one of the few to have a home and wife, the normal life of a married man,” Mr. Diegues recalled. “So his house became a home away from home for all of us, a place where we not only worked, but plotted and planned on behalf of Brazilian cinema.”

Attentively observing all this were the Barretos’ children. Bruno, the oldest, born in 1955, has vivid memories of afternoons like one when he was 10 and sitting in the backyard listening to a conversation between the Italian neo-realist director Roberto Rossellini, in Rio for a film festival, and Glauber Rocha and other leading figures of the Cinema Novo.

“It was very exciting, like a seminar on film, to hear them discussing Eisenstein’s films and all of that,” Bruno Barreto said of those days during a telephone interview from Rio. “They were always very encouraging to me and gave me tips. Glauber in particular would always stop and explain things to me, like the dialectic of editing, perhaps because that was a way of explaining things to himself.” By the mid-1960s Lucy Barreto, now 78, was also getting involved in the production company, which eventually also set up a distribution arm. Directors and actors who have worked with the Barretos describe her as the most pragmatic member of the team, a characterization she embraces.

“For me everything is a question of cost and benefit,” she said emphatically, shaking her head and her flaming red hair. “I’m a details person. If you think a film is going to gross X, then its cost can’t exceed Y. This is a risky business, and you can’t be guessing.”

Both Luiz Carlos and Lucy Barreto have also tried their hand at directing, he with a documentary, “This Is Pelé,” and she with “Grupo Corpo: A Brazilian Family,” about the dance troupe of that name. But both say they prefer producing.

“I don’t have the temperament to be a director,” he said. “I don’t have that obsession, that neurosis you have to have. I don’t want to define the temperament of a director —— ” His daughter, Paula, laughingly broke in to say, “so as not to complicate things with your sons.” But, Mr. Barreto continued, being a director “creates a deformity in people’s souls. You become the inventor of lives, situations. You become an alchemist.”

His shift from cinematographer and screenwriter to producer was more the result of circumstance than design. During his years as a reporter, he had come to know many politicians and bankers — the people who held the key to obtaining the money needed to make films — and so was able to “open doors for the rest of us,” as Mr. Diegues put it.

When the Cinema Novo period ended, its finish hastened by political repression, some of the movement’s leading figures, like Glauber Rocha, had difficulty adapting. But not the Barretos: in the 1970s and 1980s their production company had global hits like “Dona Flor” and Mr. Diegues’s “Bye Bye Brazil,” and in the 1990s they twice won Oscar nominations for best foreign-language film, for Fábio Barreto’s “O Quatrilho” and Bruno Barreto’s “Four Days in September” (1997).

“The boys are both very fine directors, and sweethearts to work with, but they are very different in their approach,” Ms. Braga, who has filmed with both brothers, said of them. “Fábio is more intuitive, while Bruno is more cerebral in his approach to cinema. He has an incredible technical knowledge, and even when he was 20, when we were making ‘Dona Flor,’ he had the bearing of a person who was older.”

For “Lula,” a biopic about Luiz Inácio Lula da Silva, a former president of Brazil, Fábio Barreto took pains to give the actress Glória Pires a more intense scene with her real-life daughter. Ms. Pires, who plays Lula’s mother, recalled that she was scheduled to be in scenes with her daughter Cléo, a rising star who plays Lula’s first wife, but they had no dialogue — until Fábio Barreto revised the script.

“He gave that scene to me as a gift, created it so we could be together, and I was touched by that,” Glória Pires said. “As the director he has so many details to attend to, so many things to keep in mind. So only somebody with a big heart would have paid such close attention and thought of a detail like that.”

But in December 2009, less than a month before “Lula” had its premiere in Brazil, Fábio Barreto, who is two years younger than his brother, was in a serious car accident that left him in a coma. Though he now responds to some external stimuli, after installation of a brain pacemaker in May 2011, he remains incapacitated. “I’m religious, so I have a lot of hope and faith,” his mother said. “I think that if he survived the trauma, which was so severe, it was so that he can return to us.”

Though Luiz Carlos and Lucy have been giving more authority to Paula in recent years, both remain active. He wants to move the company into animated films and has been seeking partners for one that would take place in the Amazon; Lucy and Paula are at work on a film about the American poet Elizabeth Bishop’s 16-year sojourn in Brazil, with Bruno Barreto as the director.

Ms. Pires has already signed on to play the aristocratic landscape architect Carlota de Macedo Soares, Bishop’s lover, in the film, which is scheduled to begin shooting in May. This will be Ms. Pires’s fifth movie with the Barretos, so by now she knows what to expect.

“They speak frankly to each other, without subterfuge,” she said. “There’s always a clarity that I think ends up improving the film, which is, after all, their common point of interest. When there are divergences, they seek a consensus. But they never stop being a family, so at times it’s mother talking

to sons, husband talking to wife. That aspect is always there, and in the end, you get caught up in their passion.”

TEATRO E DANÇA

Folha de S. Paulo – Kafka inspira peça de grupo brasileiro na Bélgica

Ueinzz Theatre Group une dramaturgia a reflexão psiquiátrica em "The Double of Rossman"

Gustavo FiorattiColaboração para a Folha

(19/1/2012) Nas experimentações da arte contemporânea com pacientes psiquiátricos, são recorrentes os projetos que tentam desenvolver soluções de fundo terapêutico.

Não é esse o caso do trabalho do Ueinzz Theatre Group, companhia dirigida pelos brasileiros Cássio Santiago e Elisa Band cuja produção encontrou, nos últimos anos, forte repercussão em instituições acadêmicas e festivais da Europa.

Em entrevista por vídeo pela internet, Santiago diz que o grupo sempre buscou colocar a psiquiatria a serviço da criação artística, e nunca o contrário. Ele e Band estão em Bruxelas para a apresentação de um novo trabalho, "The Double of Rossman" (o duplo de Rossman), que acontece hoje e amanhã no Le Chien Perdu, teatro de 50 lugares voltado para as artes performáticas.

Os espetáculos do Ueinzz costumam colocar pacientes psiquiátricos em cena, ao lado dos atores. Em "Rossman", que tem por base a obra de Franz Kafka (1883-1924), excepcionalmente, Band surge sozinha no palco.

Rossman é o protagonista de "Amerika", novela de Kafka sobre um adolescente que imigra para os Estados Unidos em busca de oportunidade e liberdade, ou seja, enfeitiçado pelo sonho americano. Ali, sua trajetória será marcada por desilusões. É dessa desolação que saem as imagens vistas em cena.O trecho do livro que descreve o personagem praticando equitação vira, no teatro, uma metáfora da errância dele no novo país. "Pensamos na representação de alguém que vai cavalgar pela América, mas que acaba sendo cavalgado pela América", exemplifica Band.

KAFKA MACHINE

O texto kafkiano já foi tratado pelo grupo em outro experimento artístico, "Kafka Machine", realizado em parceria com grupos da França e da Finlândia em um barco que cruzou o Oceano Atlântico, em novembro do ano passado. Além da proposição artística, a viagem deu suporte a um projeto acadêmico que busca na arte soluções para problemas políticos e econômicos. Parte do material criado durante aquele périplo foi utilizada no novo projeto, que pode ser descrito como uma performance feita a partir da colagem de cenas, textos, pensamentos e vídeos. Há também na composição do gestual de Band, marcado pela improvisação, uma relação clara com a dança.

Agência de Notícias Brasil-Árabe - Palco árabe em São Paulo

Peça sobre guerras no Iraque entra em cartaz na capital paulista. A atriz Vera Holtz precisou até aprender um pouco de árabe para interpretar sua personagem.

Marcos Carrieri

(20/1/2012) São Paulo – A atriz Vera Holtz já foi vilã, mocinha e feirante na TV e até uma mulher em busca de ascensão social na peça “Pérola” (1995), mas pela primeira vez ela interpreta uma personagem árabe, no espetáculo “Palácio do Fim”, que passou pelo Rio de Janeiro e agora está em

cartaz em São Paulo. A atriz precisou até aprender algumas palavras árabes para dar vida a uma opositora de Saddam Hussein neste drama que tem também Camila Morgado e Antonio Petrin.

Escrita pela canadense Judith Thompson, a peça é dividida em três monólogos e retrata o drama de três personagens durante os conflitos no Iraque. Camila Morgado interpreta a soldado norte-americana Lynndie England. Fotos em que ela leva pela coleira detentos na prisão de Abu Ghraib circularam o mundo em 2003. Neste monólogo, a personagem reflete as imagens que mostraram ao mundo a realidade das prisões iraquianas.

Antonio Petrin retrata o drama do inspetor de armas inglês David Kelly, que revelou à rede britânica BBC que não existiam armas de destruição em massa no Iraque, motivo que os Estados Unidos e o Reino Unido usaram para invadir o país em março de 2003. Durante sua passagem pelo palco, Petrin revela as angústias do cientista pouco antes de ele ser encontrado morto no bosque perto da sua casa, na Inglaterra.

A personagem de Vera Holtz é a integrante do Partido Comunista iraquiano Nehrjas Al Saffarh. A interpretação de Vera é atemporal, pois sua personagem morreu em um bombardeio na Guerra do Golfo, em 1993. Depois da sua morte, ela revela os horrores que viveu sob o regime de Hussein e os sofrimentos por que passou: um deles, a tortura do filho de oito anos no Palácio do Fim, que era, na verdade, a câmara de tortura dos opositores do regime.

Durante sua apresentação, Vera fala palavras em árabe, mas não muitas. “Senão as pessoas perdem o foco no espetáculo, pois não conhecem o idioma”, diz. Ela também recita um poema da iraquiana Nazik Al Malaika, morta em 2007. Além de pesquisar sobre a história e a realidade dos países árabes na internet, Vera teve encontros com amigas que lhe ensinaram o idioma.

“Me encontrei com as donas do restaurante Tenda do Nilo, no Paraíso, que durante uma tarde inteira me ensinaram algumas palavras, falaram da cultura, da culinária. Depois, uma amiga da [Organização Não Governamental] Médicos Sem Fronteiras, que vive viajando pelos países da África, me falou sobre a poesia árabe”, diz Vera.

Vera teve quatro semanas para estudar o idioma. “Estudei até em alguns livros, mas confesso que eram os infantis”, diz. Ela aprendeu a escrever algumas letras e até decorou poemas de Nazik Al Malaika. “É um idioma lindo e muito rico. Mas tem uma acentuação muito diferente.”

A ideia de adaptar “Palácio do Fim” para o português é do diretor da peça, José Wilker. Ele ficou surpreso com o texto quando assistiu ao espetáculo há três anos, em Nova York. Vera demorou cerca de um ano para aceitar o papel. “O Zé [Wilker] se impressionou de ver como a autora retrata um tema tão cruel com tanta poesia. Eu, no entanto, não conseguia nem ler a tortura de um filho, porque sou uma pessoa absolutamente alegre”, diz.

Ela se convenceu a participar do elenco porque, segundo Vera, Wilker tinha uma única atriz em mente para este papel quando adaptou o espetáculo: ela. “O Zé disse que comprou a peça pensando em mim. Eu li, reli. A personagem me pegou e comecei até a sentir ciúmes dela”, revela a atriz.

Serviço

“Palácio do Fim”. De 20/01 a 11/03. Sexta-feira e sábado, às 21 horas e, domingo, às 18 horas, no Teatro Anchieta, Sesc Consolação, Rua Dr. Vila Nova, 245, Consolação. Duração: 90 minutos.

Ingressos: R$ 32, R$ 16 (usuários matriculados no Sesc e dependentes, maiores de 60 anos, professores da rede pública e estudantes) e R$ 8 (trabalhador do comércio e serviços e dependentes matriculados no Sesc).

Vera, Camila e Petrin: drama no palco

Correio Braziliense – Garimpeiro de sonhos

O ator, diretor e palhaço Otani Carlo corre o país em uma kombi para semear esperança em jovens infratores e disseminar a estima pelo poder do teatro

Ricardo Daehn

Otani D,Carlo e Karin Lima enchem de brilho os olhos dos internos da Unidade de Internação do Plano Piloto (Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

(21/01/2012); “Vai ser uma mudança construída”. A avaliação de Lauro, um adolescente em conflito com a lei, confirma a eficiência do objetivo do teatrólogo Otani D’Carlo, que, em mais uma passagem por Brasília (“quartel-general” da arte propagada por ele desde 1966), apostou na criatividade de 24 (dos 336) jovens integrados à Unidade de Internação do Plano Piloto (UIPP), antigo Caje. É pelo projeto, denominado Piracema Cultural, no qual Otani diz “desovar arte e lapidar os diamantes brutos”, que adolescentes como Josias, saído de Sobradinho 2, trilham um caminho de transformação.

Num primeiro exercício de abstração, realizado há pouco mais de 10 dias, nessa unidade (localizada no fim da Asa Norte), Josias descreveu o pátio de casa: era simples, com um pé de manga, e crivado com material de construção e entulhos. “Ele, agora, enriqueceu: tem gramado, uma piscina e um carro na garagem”, observa, meio acanhado, o jovem tocado pela arte de Otani D’Carlo, um professor, ainda que rejeite o título, ao repassar lições aprendidas, nos idos anos 1970, com mestres como Jaime Barcelos e Ziembinski.

Há 25 anos na estrada, literalmente, numa kombi, Otani segue, em companhia do filho Édipo e do neto Edvaldo, o circuito “onde os moradores nem imaginem que exista a palavra teatro”. No caminho, desfila os dotes de ator, diretor e palhaço. Tudo nos moldes da arte mambembe conferida em Bye bye Brasil, filme exibido no Cine Brasília e que o inspirou. “Minha casa, minha vida, está aí”, diz o ativista cultural potiguar, ao apontar a kombi que permitiu ao rodoteatro fechar um circuito de 1,7 mil cidades. Operário da arte de representar, na recente experiência com a UIPP, aos 65 anos, ele não se limitou a repassar, mas captou, aprendizado. “Ele sabe como interagir, no limite, respeitando o espaço dos outros. Foi muito legal, essa aproximação entre a gente, feita pelo Otani, em tão pouco tempo. A passagem dele contou para meu relatório: foi uma experiência nova de vida”, observou Genésio, 18 anos, “mais tranquilo”, depois do contato com a arte.

Plateia orgulhosaParaibano, Genésio aproveitou ao máximo a exposição da nova capacidade descoberta com o teatro. Ao fim do curso, breves esquetes foram montados, numa tarde de visitas atípica, com parentes dos

internos, na plateia. “A gente mostra, para pessoas importantes, que, com esforço, existe recuperação possível”, disse o jovem, enquanto acertava detalhes da fantasia de palhaço a ser vestida. Na plateia ocupada por cerca de 60 pessoas, a técnica de enfermagem Sandra veio de Valparaíso para seguir no “papel de protagonista”, como mãe de um dos jovens. “Ele está tentando mudar, há um bocado de tempo”, observou, ao lado do filho Jamyson, que também veio prestigiar a performance fraterna. “E isso é um sinal que me faz feliz”, resumiu.

Dividindo o tablado com jovens que cometeram delitos, a atriz Karin Lima, 24 anos exercia ofício para além da composição da fogosa personagem Chifronilda. “A arte traz desapego e pode funcionar como válvula de escape. No palco, eles não pagam dívidas: há liberdade. Aqui, não há frustrações e medos — o que se tem de mais forte é a experimentação do novo”, comentou a atriz, parceira artística de Otani, há 12 anos. No entender de Karin, pouco importava a grande quantidade de cadeiras vazias, ao redor das apresentações. “A plateia traz o encanto de momento, mas, no aluno, a gente planta uma semente que fica para sempre”, considerou.

“Ele acordou. Meu filho estava dormindo, por causa do envolvimento com drogas”, observou, atento, o pai de Teotônio. Vigilante aposentado, Dilson Santos, 58 anos, não escondia a ponta de orgulho: “Ele amadureceu aqui”. “Com o teatro, a gente fica entretido em outra coisa: futuramente, pode servir de alguma coisa”, reforça Teotônio. Há seis meses vinculado à Unidade de Internação do Plano Piloto, o jovem se prende ao destino. “Prefiro deixar o passado pra trás, vivendo o presente e melhorando meu futuro”, comenta ele, num exemplo de desapego com o passado, que se reproduz entre muitos dos jovens entrevistados.

A postos, um representante da Subsecretaria do Sistema Socioeducativo observava, a distância, o grupo, a fim de estudar formas de desdobrar a ressocialização, com dispositivos de benefícios e fomentos educativos para os internos voluntários. Dona de casa, Catarina Vidal, aos 42 anos, estende o entendimento da ajuda, para além do isolado caso do filho, interno há dois meses: “Não é só para ele, é por todos eles”. Na sexta autuação, por infração, Fernando, o filho, esboça a reação positiva. “Tem que erguer a cabeça, e sair caminhando.”

El Universal (Venezuela) - Francia y Brasil en el Festival Internacional de Teatro de Caracas

La importante programación regresa del 29 de marzo al 8 de abril (20/1/2012) Una actriz de origen marroquí lleva a la escena el libro de una belga radicada en Japón, que escribe en francés. Tal es uno de los platos que ofrecerá el Festival Internacional de Teatro de Caracas, a celebrarse del 29 de marzo al 8 de abril. Layla Metssitane da vida a un monólogo titulado Estupor y temblores, basado en el libro homónimo de Amélie Nothomb, que ganó el Gran Premio de Novela de la Academia Francesa. En el unipersonal, la autora muestra la experiencia de una extranjera en una empresa nipona. "No es un ataque o juicio de valor a las costumbres y forma de vida japonesas. Por el contrario, es una visión humilde, divertida e inteligente, de una joven que se enfrenta a un mundo nuevo", ha dicho la actriz. Otras dos compañías de Francia y Brasil podrían venir al país en el marco del importante festival. Les Philébulistes, que en 2010 participó en el Festival Iberoamericano de Teatro de Bogotá, estaría negociando con Fundateneofestival su Arcana, espectáculo que se desarrolla en una rueda doble de acero inoxidable, de 5 metros de diámetro.Por su parte, Galpao de Brasil traería también un espectáculo de calle. La compañía ya ha venido a las ediciones de 1997 y 2000.El Festival, que tendrá como sede principal el Teatro de Chacao, agrupará en total colectivos de cinco países, además de Venezuela.

ARTES PLÁSTICAS

Bravo! - Cessar-fogo

Como artistas da periferia paulistana fizeram Mônica Nador retornar à pintura de telas e se reaproximar das galerias

por Gisele Kato

Da esq. para a dir., Cristiano Percídio, Cristiane da Silva, Paulo Meira, Mônica Nador, Daniela Vidueiros, Fábio Cruz e Mauro de Castro, com os cachorros Xuxa e Zé. Os integrantes do Jamac assinam as obras em conjunto

(Janeiro / 2012) Em 1996, pode-se dizer que Mônica Nador era uma artista do “circuitão”, ou seja, uma vez por ano apresentava uma individual em uma galeria de prestígio do país, como a Luisa Strina, em São Paulo, e tinha no currículo participações em duas bienais paulistanas – a de 1983 e a de 1991 –, além de coletivas em alguns dos principais museus brasileiros. Sua trajetória seguia o termômetro do grupo que ficou conhecido como Geração 80, com os jovens que, saídos da faculdade naquela década, encontraram o mercado sedento para acolhê-los sem reservas. Em pouco tempo, desfrutavam de visibilidade e dinheiro. Por 13 anos, Mônica esteve no meio deles. Até que um ensaio, escrito pelo historiador norte-americano Douglas Crimp em 1981, caiu em suas mãos. Intitulado O Fim da Pintura, o texto questionava o formalismo acadêmico e expunha uma espécie de impasse a que a atividade estritamente pictórica estaria submetida. Pouco importa aqui se muita gente depois de Crimp voltaria a declarar a morte da pintura e a pintura insistiria – sempre com louvor – em provar sua vivacidade. Na história de Mônica, as palavras do crítico tiveram um efeito definitivo. A paulista de Ribeirão Preto abandonou por anos as telas. Em busca de uma arte mais próxima do mundo, foi pintar paredes.É bem verdade que a primeira delas ainda não era lá muito distante do tal “circuitão”. Naquele ano de 1996, Mônica Nador ocupou o estreito corredor em frente ao restaurante do Museu de Arte Moderna de São Paulo: “Foi ali que me dei conta de que conseguia pintar uma parede e de que era isso o que queria fazer dali para a frente”. Para concluir a obra no MAM, a artista aprendeu a usar estêncil – os moldes vazados com padronagens – e spray. Teve de tirar o foco das referências clássicas e olhar para a rua. Mas hoje, 15 anos depois, a artista já não exibe uma atitude e um discurso muito radicais. Graças ao convívio com jovens e adultos do bairro Jardim Miriam, na periferia da Zona Sul paulistana, fez as pazes com as galerias e... voltou às telas. Pode-se dizer que os integrantes do Jardim Miriam Arte Clube, o Jamac, coletivo que fundou em 2004, diluíram seu preconceito em relação ao mercado.

Prova disso é a exposição Mônica Nador – Autoria Compartilhada, em cartaz neste mês na galeria Luciana Brito, em São Paulo. Depois de romper de forma um tanto brusca com os endereços tradicionais, Mônica retorna a esses espaços de um jeito leve: “Eu tenho uma tese que é a da beleza pura, de enfeitar os lugares e com isso mexer com as pessoas”. Na mostra, as quatro paredes da principal sala expositiva estão tomadas por padronagens criadas pelo Jamac. Ao todo, oito pessoas trabalharam por três semanas no endereço, decidindo em parceria as cores – predominam o vermelho e o verde – e o número de sobreposições dos desenhos – em alguns casos, até quatro camadas foram pintadas. Integram a individual ainda nove obras em papel, quatro telas e um videodocumentário com parte da história do grupo.

PANO DE PRATO E MUSEU

Até chegar à inauguração do Jamac, no entanto, o caminho em nada se pareceu com aquele início de carreira, tão facilitado por um mercado em ebulição. Depois de 1996, com o projeto Paredes Pinturas formatado, Mônica viajou para diversos estados do país, realizando trabalhos ainda pontuais. Em 1998, tomou conta de um coreto em Coração de Maria, na Bahia, e de uma casa de palafita no Amazonas. No ano seguinte, transformou as fachadas de residências da Vila Rhodia, em São José dos Campos (SP). E em 2001 entrou pela primeira vez em contato com a comunidade do Jardim Miriam, a convite na época de uma ONG dirigida pela empresária Milú Villela. A parceria não deu certo, mas Mônica não saiu mais do bairro.

O Jamac propriamente dito funciona atualmente em um galpão que pode ser descrito como um misto de ateliê aberto e espaço cultural para jovens e adultos da comunidade local. Sem um apoio oficial, Mônica mudou-se em definitivo para o endereço no mesmo ano de sua abertura, em 2004: “Morar lá faz toda a diferença. Não sou mais uma pessoa de fora que chega definindo regras. Estou lá de igual para igual”, diz. A afinidade entre os dez frequentadores mais assíduos do galpão é tanta que o nome de Mônica nem aparece mais sozinho na assinatura de uma peça. Juntos, eles criam novas padronagens e transformam paredes aplicando várias camadas de estêncil, em um processo criativo que fica visível ao espectador. E os trabalhos são registrados como “Mônica Nador + Jamac”. Quem conhece suas peças do fim dos anos 80 e início dos 90 percebe as mudanças que a produção incorporou com o deslocamento dos circuitos protegidos das galerias e dos museus para as ruas. O uso das cores é mais atrevido. A aplicação dos traços é mais solta. Por outro lado, a artista não deixa de falar para os companheiros de ateliê sobre nomes como Josef Albers (1888-1976) e sua série Homenagem ao Quadrado, por exemplo. Há muito do legado do mestre alemão nas peças do grupo.

“Tenho hoje outra percepção do mundo e da arte. Porque nosso principal intuito aqui não é mercado, e sim o efeito que teremos na vida das pessoas. A gente usa uma técnica que pode pintar pano de prato e estar ao mesmo tempo em museu”, diz Paulo César Meira, 26 anos, artista do Jamac desde seu início e que hoje cursa arquitetura na Faculdade Anhembi Morumbi. Já Cristiane Aparecida Alves da Silva, 33 anos, também artista do coletivo, produz tudo de forma mais intuitiva. “Vou testando cores, vendo o que funciona. Fiz as máscaras de duas paredes da galeria Luciana Brito, em exibição agora”, diz a jovem. Na busca pela “beleza pura” e por uma arte capaz de ser entendida por um número maior de pessoas, Mônica faz hoje uma revolução de caráter mais inclusivo: mantém um pé no circuito e outro na periferia.

Correio Braziliense – Coluna / 360 graus

Brasil homenageado na Bélgica

(19/1/2012) Os brasileiros que foram a Bruxelas até o último domingo se sensibilizaram e se surpreenderam com a homenagem que aquele país fez ao Brasil: havia painéis espalhados pela

As paredes pintadas pelo Jamac na galeria Luciana Brito, em São Paulo. Oito artistas trabalharam no local por três semanas

cidade, divulgando a arte brasileira. O país foi tema de uma grande exposição, com obras que dificilmente estarão novamente juntas.

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz(na foto, ao lado de André Amado), em visita à cidade, fez questão de conferir a mostra, que apresentava obras de Tarsila do Amaral, Aleijadinho e Volpi, entre outros. A visita foi conduzida pelo embaixador do Brasil na Bélgica, André Amado, grande conhecedor da arte brasileira. O 23º Europalia, um dos maiores festivais de cultura da Europa — que neste ano homenageou o Brasil, inclusive —, foi aberto pela presidente Dilma Rousseff e pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, em 4 de outubro. A exposição se estendeu até o dia 15, passando ainda por Luxemburgo, França, Alemanha e Holanda.

O Globo – Arte brasileira para superar catástrofe

No Japão, o grafiteiro paulistano Titi Freak dá vida a uma das áreas mais arrasadas pela tsunami do ano passado

Claudia Sarmento Correspondente • TÓQUIO

GRAFITES de Titi Freak no complexo de abrigos de Ishinomaki, onde vivem duas mil pessoas que perderam tudo na tragédia: cidade do Nordeste do Japão vive da pesca e da agricultura

(22/01/2012) Quando viu as imagens medonhas da tsunami engolindo a costa do Japão em 2011, o grafiteiro paulistano Titi Freak, pseudônimo de Hamilton Yokota, neto de imigrantes japoneses, sentiu que precisava fazer alguma coisa para ajudar a terra dos avós. Produziu uma série limitada de gravuras e enviou o dinheiro da venda às vítimas, mas queria tentar atenuar a dor através da arte de rua. Só não sabia como.

Desembarcar em Tóquio com um spray na mão para colorir uma fachada é cadeia na certa, e intervenções urbanas levam um bom tempo para serem aprovadas. A saída, como diz, “veio do céu”: um convite da Fundação Japão para pintar um complexo onde vivem desabrigados de uma das áreas mais arrasadas pela catástrofe.

Foram duas semanas de trabalho, em dezembro, na cidade de Ishinomaki, ainda traumatizada pelo horror. O grafite de Titi — um dos mais aplaudidos no cenário da arte urbana brasileira — deixou o lugar menos cinzento e melancólico. Mas ele também saiu de lá com marcas. — Foi muito mais do que um trabalho. É uma experiência que fica para sempre. É como se várias trilhas tivessem se emendado num único caminho — conta o artista, referindo- se à sua ascendência e à influência da cultura japonesa sobre seus desenhos.

Choque culturalOs abrigos temporários de Ishinomaki, onde estão instaladas duas mil pessoas que perderam tudo quando a terra tremeu em 11 de março, são contêineres idênticos. A ideia da fundação, com o apoio da embaixada do Brasil em Tóquio, era dar uma identidade visual a cada residência, facilitando a localização dos moradores e a entrega de mercadorias e correspondências. Mas era necessário envolver a comunidade.

A cidade, no Nordeste do Japão, não tem nada a ver com a modernidade da capital. É um lugar que vive da pesca e da agricultura. Os mais jovens partem para os grandes centros, deixando ali uma população idosa, que não está acostumada a murais grafitados. Soltar o traço em espaços públicos soa como subversão.

O choque cultural era inevitável. Titi e seu estilo de astro do hip-hop foram recebidos com desconfiança. — Eles me estranharam. Deviam estar se perguntando o que queria aquele “magrão”. Mas eu apostei no dia a dia, dei o tempo de que eles precisavam para me entender — lembra o artista, de 37 anos, que começou fazendo quadrinhos para o estúdio de Mauricio de Sousa, aos 13, e hoje tem desenhos espalhados por fachadas e galerias da Europa e dos EUA.

Embora não tenha sido amor à primeira vista, a comunidade foi se aproximando, dando um palpite aqui e outro ali, levando um café para que o brasileiro suportasse o frio que faz na região. À medida em que as cores iam aparecendo, o “magrão” ia recebendo sorrisos e convites para trocar o café por um saquê e um bom papo. Uma senhora que estava entre as mais céticas avisou que só ficaria feliz se ele pintasse uma flor.

O pedido não combinava com suas ilustrações, mais abstratas, ligadas à linguagem das ruas e das HQs, mas ele atendeu o desejo. O resultado enterrou as diferenças. Ao todo, o grafiteiro pintou 15 blocos de residências, que hoje exibem imensas figuras, como peixes e nuvens. A senhora que pediu a flor (“Era uma japonesa fechada, rígida”, lembra ele) virou fã e convenceu os vizinhos a permitir que o artista criasse livremente.

Um dia, ela chamou Titi para ver as fotos que conseguira salvar na tarde em que o mar varreu a costa, deixando mais de 20 mil mortos e uma usina nuclear descontrolada. — Eram fotografias antigas, manchadas pela água, de quadros que ela própria havia pintado. Ela era uma artista. Ver a maneira como ela foi mudando e revelando a personalidade me encheu de energia — relembra ele, emocionado.

Casado com uma japonesa, a pintora Yumi Takatsuka, Titi — cujo apelido saiu de um personagem da “Turma da Mônica” — já havia decidido trocar São Paulo por Osaka por pelo menos um ano. A experiência com os desabrigados, que não sabem quando terão casas definitivas, reforçou a certeza de que a mudança pode abrir portas. — O Japão tem grandes artistas, mas é um lugar onde as pessoas não se arriscam. Grafite ainda é visto como manifestação marginal. Queria tentar mudar essa visão — diz ele, que voltará a São Paulo em março para fazer uma palestra sobre o projeto.

Depois disso, Titi retornará a Ishinomaki para rever os novos amigos e conversar com comerciantes que tiveram seus negócios destruídos. Eles agora também querem que o grafiteiro coloque um pouco de cor nas lojas e na vida que tentam reconstruir.

TITI FREAK, neto de japoneses, volta a SP em março para falar do projeto

O Globo - Mostra busca expandir fronteiras latino-americanas

Mexicano Pablo León de la Barra assina a curadoria da 9a- exposição de verão da galeria Silvia Cintra + Box 4

Catharina Wrede

(23/1/2012) O curador mexicano Pablo León de la Barra é um homem hiperativo. Enquanto dá entrevista ao GLOBO por telefone, sua voz ofegante denuncia que caminha apressado pelas ruas de Londres — cidade onde mora há 15 anos. Corre para chegar a tempo de mais uma vernissage, desta vez na Royal Academy. Entre um quadro e outro que admira — e comenta — fala sobre seu mais recente trabalho, que será inaugurado nesta quintafeira: a 9aedição da já tradicional exposição de verão da galeria Silvia Cintra + Box 4, da qual é curador, intitulada “Esquemas para uma ode tropical”, cujo tema central é a jovem produção de arte latino-americana.

No Rio em setembro do ano passado por conta do “Solo projects” — projeto da ArtRio cuja curadoria foi assinada por ele e por Julieta González, responsável pelo setor de arte latinoamericana da Tate Modern —, Pablo foi abordado por Juliana Cintra, filha de Silvia. Ela propôs a realização da exposição de verão, que pela primeira vez traz 16 artistas estrangeiros.

— Na hora eu pensei: “ah não, mais uma exposição de arte latino- americana...” — lembra Pablo. — Não queria fazer algo convencional, por isso a mostra tem a ver com uma pesquisa que já vinha fazendo sobre a relação entre México e Brasil.

O episódio histórico que guiou Pablo para estruturar a exposição foi a celebração do centenário da independência do Brasil, em 1922, no Rio. Na ocasião, o México enviou uma comitiva de intelectuais e jovens talentos para o país, entre eles o poeta Carlos Pellicer.

— Ele ficou muito impressionado ao perceber semelhanças entre os países da região e se deu conta de que eram muito mais do que apenas nações divididas por fronteiras — explica o curador. — Pellicer constatou que as fronteiras reais não são as geopolíticas, e sim as da paisagem. E é disso que se trata a exposição.

O conceito agradou Juliana Cintra:

— É isso que acontece na arte. Não se tem uma nacionalidade muito definida hoje. As obras podem ser de artistas de qualquer parte do mundo.

Na mostra, obras de jovens latino- americanos, como a mexicana Mariana Castillo Deball, apontada por Pablo como uma promessa e que na galeria exibe a escultura em papel machê “Todo es igual, se suicida la brújula”; o chileno Felipe Mujica, com a série “Obra cibernética e sociedade”, e a dupla equatoriana Julia Rometti e Victor Costales.

— Há um mercado global que tende para uma produção mais internacionalizada, mas, ao mesmo tempo, existe um esforço de se explorar as diferença de cada local. Os trabalhos interessantes são os que conseguem existir entre as duas fórmulas, e é preciso deslatinoamericanizarmos para inventarmos uma forma de ser e de nos relacionar — observa Pablo.

— O Brasil, por exemplo, é provinciano ao estimular uma rivalidade boba entre Rio e SP nas artes plásticas. Parece uma ilha gigante que olha muito para o próprio umbigo e esquece de olhar para fora. A ArtRio foi

O CURADOR Pablo León de la Barra

COLAGEM DE Felipe Mujica

OBRA DE Rometti e Costales

interessante nesse sentido, porque proporcionou um diálogo. Editor da revista sobre arte e comportamento “Pablo Magazine”, autor do blog Centre For The Aesthetic Revolution e dono de empreendimentos como o White Cubicle (espécie de minigaleria dentro de um pub londrino), Pablo não encontra uma palavra para se definir:

— Gosto de trabalhar com artistas inventando situações que nos permita repensar a condição humana. E acredito que com uma exposição transmitimos conhecimento da mesma forma que um filme ou livro. ■

O Globo - Contra o direito de sequência

Aos 94 anos, Enrico Bianco quer abrir mão de percentual sobre a revenda de suas obras

Audrey Furlaneto

(24/1/2012) Aos 94 anos, o artista Enrico Bianco quer assinar um documento para deixar registrado seu desejo: ele abre mão do direito de sequência, aquele que prevê pagamento de 5% sobre o lucro na revenda de obras aos artistas ou a seus herdeiros. Atualmente em revisão, a lei pode passar a estabelecer um percentual de 3% a 5% sobre o valor absoluto da venda, e não mais sobre o lucro na revenda. Preocupados com a mudança, Bianco e o filho procuraram um advogado para se informar e antecipar o desejo de abrir mão do direito.

— Eu parto do princípio de que arte é sinônimo de liberdade. Sou contra qualquer lei que a restrinja ou regule. Um bom profissional não precisa de ajuda.

Sua obra lhe dá sustento — diz Bianco, que pinta todos os dias e vende seus trabalhos diretamente a colecionadores no ateliê. Nascido na Itália, ele se mudou para o Brasil nos anos 1930 e logo conheceu Candido Portinari, de quem se tornou aluno e, em seguida, assistente. Bianco, aliás, é padrinho de João Candido Portinari, único herdeiro do artista e que reclamou, com medida judicial, o direito de sequência em leilão que vendia obras de seu pai, no fim de 2011. — Cada um defende seu interesse, e não tenho opinião sobre os interesses dele — diz.

Bianco, no entanto, vive um impasse: na lei 9.610, o artigo 38, que estabelece o direito de sequência, usa os termos “irrenunciável e inalienável”. Ou seja, pelo texto, o artista não pode abrir mão do direito. Assim, Bianco e herdeiros aguardam a revisão da lei para oficializar o desejo.

— Parece inconstitucional o Estado não nos permitir abrir mão disso — defende Paulo Bianco, filho do artista, que cuida de certificar e preservar a obra do pai desde 2004. Paulo Bianco usa papel-moeda para certificar cada obra que sai do ateliê do pai. Até hoje, cerca de 600 foram certificadas. — O trabalho do herdeiro é esse: garantir a preservação da obra e protegê-la de falsificações — defende o filho do artista. ■

Folha de S. Paulo – Mostras frisam pluralidade do acervo do MACCrítica artes plásticas

"Modernismos no Brasil" e "MAC em Obras" mostram bastidores do museu e revelam funções além da exposição Fabio Cypriano, crítico da folha

ENRICO BIANCO, que foi assistente de Portinari: críticas à lei 9.610

(25/01/12) Duas mostras em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), em sua sede no parque Ibirapuera, são um bom sinal do que pode ocorrer com a ocupação do novo prédio, o antigo Detran, a apenas algumas dezenas de metros do atual espaço. O convênio de cessão do novo local, concedido pelo Governo do Estado, deve ser assinado no próximo sábado.

"Modernismos no Brasil" e "MAC em Obras" abordam o acervo do museu de formas distintas, mas complementares.

Em "Modernismos", com curadoria de Tadeu Chiarelli, diretor da instituição e responsável pela transferência para a nova sede, busca-se relativizar o papel de Anita Malfatti (1889-1964) e da cidade de São Paulo, por conta da Semana de 22, como foco da produção moderna brasileira -tese que já vem sendo contestada há certo tempo.

O importante na mostra é aproximar 150 obras-primas da coleção, tanto nacionais como estrangeiras, questionando também o caráter derivativo da produção brasileira, ou seja, que o que aqui se realizou até os anos 1950 seria mera cópia do modernismo europeu.

Ao colocar, por exemplo, lado a lado, obra de artistas como Geraldo de Barros (1923-88), Lasar Segall (1891-1957) e Paul Klee (1879-1940), o curador aponta não apenas as influências que importam, mas como as relações que se criam entre elas podem geram novas narrativas.

Já "MAC em Obras" observa o acervo da instituição a partir das dificuldades e desafios de conservação da produção contemporânea.

Durante a exposição, 19 objetos e instalações podem ser vistos em seu processo de documentação, conservação e restauro, em obras de Alex Vallauri (1949-87) e León Ferrari, entre outros.

Com "Aparelho Cinecromático" (1956), de Abraham Palatnik, por exemplo, é exibido um laudo que relata os problemas de conservação, como a inexistência de lâmpadas iguais às utilizadas inicialmente pelo artista, o que dificulta, hoje, alcançar-se o efeito original. Também é apresentado o conjunto de intervenções realizadas para a conservação da obra.

Dessa forma, o MAC expõe seus bastidores, revelando que exibir é apenas uma das funções do museu, mas preservar e conservar, frente às mudanças tecnológicas e dos materiais artísticos, é também missão fundamental.

FOTOGRAFIA

Folha de S. Paulo – Folha lança coleção de fotos antigas do Brasil

Publicação com 20 volumes traz fotografias que contam parte da história do Brasil entre os anos de 1840 e 1960

(22/1/12) DE SÃO PAULO - No próximo domingo, chegam às bancas os dois primeiros títulos da coleção Folha Fotos Antigas do Brasil. Os 20 volumes da coleção trazem uma seleção das mais importantes fotografias feitas no país desde a chegada da técnica fotográfica, em 1840, até a inauguração da cidade de Brasília, em 1960. O primeiro volume se dedica a mostrar o processo de transformação urbana de São Paulo, que passou de uma pequena vila de 30 mil habitantes a uma metrópole. A coleção inédita de imagens antigas, organizada de forma temática, procura mostrar grandes acontecimentos e cenas do cotidiano do país. Trata-se, portanto, de uma história ilustrada -uma história da sociedade, do cotidiano, da economia e da política do país contada por intermédio da fotografia. As cenas foram captadas com maestria pelas lentes de fotógrafos renomados e anônimos que, pelo pioneirismo, entraram para a história como testemunhas oculares. Entre eles estão Marc Ferrez (1843-1923), Thomas Farkas (1924-2011) e Pierre Verger (1902-1996), que protagonizaram o processo de difusão e consolidação da fotografia como arte no Brasil. As cerca de 900 imagens que compõem a coleção fazem parte dos principais acervos públicos e privados do país, como o Instituto Moreira Salles (Rio de Janeiro), o Arquivo do Estado de São Paulo

(São Paulo), a Fundação Pierre Verger (Bahia), a Biblioteca Nacional e o Arquivo Nacional (Rio de Janeiro).

MÚSICA

Zero Hora – Um ano para lembrar de Elis Regina

(19/1/2012) Neste mês, Maria Rita tem uma difícil tarefa: escolher entre os antológicos e numerosos sucessos da mãe, Elis Regina, as canções que vão compor o espetáculo que estreia dia 17 de março em São Paulo. A turnê por cinco capitais, incluindo Porto Alegre, integra as homenagens programadas para este ano, marcando os 30 anos de morte de Elis, completados hoje.

Intitulado Viva Elis, o projeto é encabeçado pelo filho mais velho de Elis Regina, João Marcello Bôscoli, um dos fundadores da gravadora Trama. Com patrocínio da Nívea, a iniciativa inclui, além dos shows, uma exposição itinerante multimídia, com vídeos, especiais de TV, discos, fotografias, documentos, roupas, objetos pessoais, pôsteres de shows, reportagens e entrevistas em jornais e revistas, entre outras lembranças amealhadas pela família com a colaboração de fãs e colecionadores que voluntariamente se organizaram e cederam seus acervos para compor a mostra.

Esse esforço coletivo deverá ficar para a posteridade: a ideia é que, finda a turnê, a mostra se estabeleça de forma permanente em um Instituto Elis Regina a ser criado com sede em São Paulo, Rio de Janeiro (ambas cidades onde Elis morou) ou em sua cidade natal, Porto Alegre. E também das pesquisas e entrevistas empreendidas por um dos envolvidos no projeto, Allen Guimarães, deverá resultar um livro a ser enviado para bibliotecas.

Enquanto a programação não começa, a grande expectativa é quais músicas de Elis farão parte do show, que deverá ser exibido na Capital, no meio do ano. João Marcello já afirmou que esta decisão cabe à irmã, que já estaria selecionando as canções neste mês para começar os ensaios em fevereiro, acompanhada de um quarteto de músicos (piano, baixo, bateria e guitarra).

Em depoimento por e-mail, na terça-feira, João Marcello comentou que também está ansioso para saber quais serão as escolhidas de Maria Rita:

– Ainda não sei nada do repertório, mas estou curioso.

As novidades para marcar os 30 anos sem Elis não se resumem à iniciativa dos filhos da cantora. Confira no quadro ao lado outros lançamentos previstos para este ano.

O Estado de S. Paulo - Brega cult do Pará

Cantor e compositor faz show em SP em março para lançar seu disco

Lauro Lisboa Garcia

(21/01/2012) O novo é o reciclado. O brega é moderno. Como o kitsch é imitação de gosto duvidoso de uma estética mais valiosa, a música de Felipe Cordeiro, compositor paraense que por acaso também canta e toca guitarra, tange essa questão. Como ser original e criativo fazendo cópia da cópia da cópia da cópia. Como ele mesmo diz, sua música não tem nada de espontânea. "Tudo é calculado."

Um dos nomes de ponta da nova e agitada cena musical de Belém, ele finalmente torna público o aguardado e já bem comentado álbum Kitsch Pop Cult (selo Na Music), com show de lançamento no

dia 15 de março, no Sesc Vila Mariana. O Estado teve acesso em primeira mão ao CD e disponibiliza com exclusividade duas faixas inteiras para streaming: Legal e Ilegal e Lambada com Farinha.

A primeira, baseada numa entrevista em que o punk João Gordo falava sobre drogas, faz associações bem-humoradas de diversos gêneros musicais com seus respectivos aditivos: "Aguardente no bom samba-canção/ Uisquinho da bossa nova/ Caspa do diabo no rock’n’roll/ Erva do amor no reggae night". A instrumental Lambada com Farinha é uma parceria de Felipe e seu pai, Manoel Cordeiro. O melhor exemplo de reciclagem no trabalho de Felipe é a regravação de Fim de Festa, outra instrumental, recuperada dos anos 1980, em que valoriza a linha melódica do tema na guitarra, atualizando-o com a batida eletrônica do tecnobrega.

Produzido por André Abujamra (ex-Os Mulheres Negras e Karnak) e coproduzido por Felipe e Manoel Cordeiro, Kitsch Pop Cult, cujo título já é "um pouco publicitário" e ao mesmo tempo tem tom provocador, une o brega, a lambada, o carimbó e a guitarrada do Pará, reggae, surf music e cúmbia do Caribe com a estética da vanguarda paulistana.

Junta extremos contrastantes que vigoraram acentuadamente na década de 1980: pop comercial e o trabalho artístico. Contudo, Cordeiro, que estudou Filosofia, não quis fazer um disco conceitual, nem que fosse de mero entretenimento. São canções alegres que contrastam com letras carregadas de questões existenciais. "Queria que fosse um disco que tocasse tanto na aparelhagem da periferia de Belém como no universo de experimentação", diz.

A primeira faixa, Legal e Ilegal, foi influenciada por Alma Não Tem Cor, do Karnak, uma das bandas de Abujamra. Os vocais femininos remetem às bandas Sabor de Veneno (Arrigo Barnabé) e Isca de Polícia (Itamar Assumpção). O canto falado de Luiz Tatit e do Grupo Rumo se destaca especialmente em Café Pequeno (parceria de Felipe com Dand M). "Ninguém percebe isso por aí, e nem eu fico falando. Digo em São Paulo porque aqui as pessoas percebem o quanto esse disco deve à estética paulistana", diz Felipe.

Kitsch Pop Cult nasceu de suas inquietações por observar quanto a música popular - e em particular o tecnobrega - vive de copiar, "até que uma hora soa uma coisa singular". "Não é um disco sobre o brega, mas sobre o processo de cópia, que é a tradução mais próxima do conceito de kitsch. A década de 80 é uma década chave para surfar nessas inquietações. Porque de um lado tem o universo cult do Arrigo, do Itamar, dos Mulheres Negras e isso coexiste com a música brega e a lambada do Pará. E do ponto de vista estético musical existem aproximações inusitadas, como os vocais femininos."

Hoje ser brega também é ser moderno. "A música brega no Pará é um gênero, não é um adjetivo, não é um ritmo, é uma maneira de tocar guitarra, é uma levada, é uma dança. Então me apropriando disso e pelo fato de eu ter vivido isso bem de perto ao longo dos anos, porque meu pai foi produtor de muitos discos de brega e de lambada, quis fazer um disco que não fosse moderno ao ponto de ser caricato, mas também que fosse ousado, tentando fazer algo criativo." Nascido em 1984, Felipe veio se aprofundar na vanguarda paulistana na adolescência, quando morou em São Paulo em 2001. "Luiz Tatit é uma referência muito forte e essa poética em prosa urbana da música paulistana me interessa muito, e todas as letras desse disco têm esse perfil."

Fala-se já há algum tempo da cena crescente em Belém, constantemente comparada com o que foi Recife há 20 anos, com o mangue beat. Até porque os paraenses perceberam a tempo, que poderiam tomar atitude semelhante, tendo um manancial gigante de música tradicional na mão para ser reaproveitado, e hoje jovens aprendizes convivem com mestres veteranos, o que fortalece a cena. Reflexos de lá batem na sonoridade de bandas como Baiana System (Salvador), Do Amor (Rio), Cidadão Instigado (Fortaleza) e da cantora Andreia Dias (São Paulo).

"Não é de hoje que se anuncia essa força da música do Pará, mas sem dúvida o momento é muito especial, porque têm coincidido muitas coisas, tem uma geração mais consciente, mais profissional, o próprio Brasil mudou seu olhar sobre o Brasil", diz Felipe. "O que faço é música brasileira feita no Pará. A grande singularidade da Amazônia em geral e do Pará é a aproximação com o Caribe, que é pop e processada da música europeia e africana. Aí vem o kitsch de novo. A música do Pará já é reprocessada disso", reconhece.

No entanto, para além da mistura - "que sem dúvida é bem importante, mas é detalhe, porque afinal a música brasileira toda é misturada" - a liberdade de comportamento, a quebra de fronteiras "que indica para a tolerância, para a ousadia", é o que para ele tem sido "o grande barato da produção do Pará".

NOVIDADES PARAENSES

Gaby AmarantosCom cacife para desbancar Ivete Sangalo, a musa do tecnobrega canta quinta-feira em São Paulo no Beco 203 (Rua Augusta, 609, 2339-0358) e prepara-se para lançar outro dos álbuns mais aguardados de 2012, Treme, com produção de Carlos Eduardo Miranda e participação de Fernanda Takai.

Gang do EletroUma das atrações paraenses do festival Rec-Beat no carnaval do Recife este ano, a gang ("não banda") da periferia de Belém é liderada pelo DJ Waldo Squash, que faz o estilo eletromelody. Prepara-se para lançar o primeiro álbum e contagia pela atuação no palco, com influências de Kraftwerk e Daft Punk.

Luê SoaresFilha do músico Júnior Soares, cantora, compositora, violinista e tocadora de rabeca é uma das novas promessas da cena paraense. Ex-integrante da Sinfônica da Escola de Música da UFPA, está gravando o primeiro álbum solo com produção do baixista Betão Aguiar. Vai participar do show de Dona Onete no Rec-Beat ao lado de Felipe Cordeiro e Lia Sophia.

Lia SophiaNascida na Guiana Francesa e criada em Macapá, a cantora e compositora tem três discos lançados, e começou a cantar em coral de igreja ainda menina. Alinhando carimbó, brega, bolero, zouk e marabaixo, ela está prestes a voar mais alto, "em sua melhor fase", como diz Felipe Cordeiro.

Jornal de Brasília - Homenagem à Divina

Rosa Passos lança álbum formado por músicas do repertório da diva Elizeth Cardoso

Michel Toronaga

(22/1/2012) Depois de três anos sem lançar um CD e concentrar shows no exterior, a cantora, compositora e violonista Rosa Passos quer se dedicar agora à carreira no Brasil. E o primeiro passo foi a gravação do CD É Luxo Só, primeiro trabalho da artista com a gravadora Biscoito Fino. No álbum, ela canta clássicos gravados por Elizeth Cardoso – con - siderada a Divina da MPB.

"Eu quis fazer uma homenagem que não fosse óbvia. E para mim foi bom porque pude escolher com tranquilidade. Foi uma pesquisa muito boa e vi como ela foi versátil com toda a música brasileira", contou ao Jornal de Brasília.

Rosa Passos sobre a escolha das dez faixas que fazem parte do repertório. "Tudo começou com um presente de um amigo que, no final do ano passado, me mandou discos e vídeos da Elizeth", lembra. "Ele disse que ela estava esquecida do público e eu poderia trazer às pessoas a lembrança da Divina".

Mesmo antes de receber o convite para a gravação do CD – que é o 16º de sua trajetória musical –, Rosa já admirava Elizeth Cardoso. "Ela sempre foi uma referência na minha vida. Eu tenho minhas divas, como Elis Regina e Dalva de Oliveira. A Elizeth Cardoso eu ouvia desde pequena porque meu pai escutava. É uma voz belíssima que se desafiava na versatilidade de cantar tudo. Ela gravou contemporâneos e me influenciou muito", declara.

AS CANÇÕES

"Eu não procurei o óbvio. Procurei as canções que as pessoas nem sabiam", conta Rosa sobre o repertório. Ela decidiu ir pelo "caminho da surpresa" e escolheu as músicas que mais a influenciavam. O resultado foi uma fina seleção, que inclui As Rosas Não Falam, de Cartola, Olhos Verdes, composição de Vicente Paiva, entre outras. Rosa dedicou o álbum ao neto, de um ano e meio de idade. "Ele adora Palhaçada. Quando toca ele começa a dançar", diverte-se.

Ainda sobre as melodias, ela cita É Luxo Só, que dá título ao álbum. "Ary Barroso e Luis Peixoto fizeram para ela. E Elizeth é um luxo só!", justifica, rindo durante a entrevista.

As gravações aconteceram entre os dias 1 a 5 de março e Rosa contou com os arranjos de um trio de instrumentistas: Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria) e Lula Galvão (violão). "O Lula é de Brasília e toco com ele há mais de 30 anos. Foi um reencontro", disse. Para 2012, Rosa está fechando a agenda de shows. "Estou dando prioridade ao Brasil. Já recebi propostas da América Latina, mas quero investir aqui porque lá eu já tenho um trabalho consagrado e aqui é o meu País", afirma.

Entre os planos de divulgação em Brasília estão shows marcados para os dias 2 e 3 de março no Teatro Oi (Golden Tulip). "Vou cantar o reportório do disco novo e outras músicas". Ela também pretende apresentar o CD em São Paulo, Porto Alegre e Salvador.

Folha de S. Paulo – Depois da tempestadeLucas Santtana ganha destaque na Europa e nos EUA e transforma o fim do casamento em mote de seu quinto álbum

Lucas Santtana, que acaba de gravar "O Deus que Devasta Mas Também Cura" (Alexandre Rezende/Folhapress)

MARCUS PRETO, DE SÃO PAULO

(24/1/12) O casamento estava acabado. Na manhã em que Lucas Santtana deixou a casa em que vivia com a mulher, em maio de 2010, aconteceu uma das maiores tempestades da história do Rio de Janeiro. Nos dias seguintes, a areia tomou as ruas, que ficaram intransitáveis. As escolas não abriram, ninguém trabalhou.

"Tinha gente filmando com celular os carros virados em cima do alambrado", diz. "Ficava essa sensação de ser uma coisa inevitável e avassaladora -mais do que querer ou não querer. E é determinante. Sai varrendo."

O caos -pessoal e coletivo- daquele momento está impresso em canções do recém-gravado "O Deus que Devasta Mas Também Cura", quinto álbum do músico, que chega às lojas em março.

Para realizá-lo, Santtana, 42, que nasceu em Salvador, mas vive no Rio há duas décadas,

contou com um time dos sonhos interestadual: músicos que representam o melhor da nova geração carioca, paulista, pernambucana e baiana (veja ao lado).

Na vida real, juntar todos esses músicos em um único disco custaria bem caro.

"Nossa geração tem esse corporativismo. Ninguém tem muita grana, então não cobram de mim o que cobrariam da Ivete [Sangalo]. Topam porque admiram o trabalho e querem participar."

Em discos anteriores, Santtana partiu sempre de uma ideia musical. Depois, criou canções que se adequassem a ela. Assim, "3 Sessions in a Greenhouse" (2006) nasceu do desejo de usar técnica de dub em música brasileira; "Sem Nostalgia" (2009), de trabalhar com voz e violão.

Mas, em "O Deus...", os temas -as letras- se impuseram. E o processo de criação teve que ser invertido. Para ressaltar o caráter emotivo das canções, fez arranjos de cordas e usou samples de peças sinfônicas de Beethoven, Ravel e Debussy.

O fim do casamento, no entanto, não é o tema único do álbum. Santtana também fez de musas duas cidades.

Flertando de leve com o tecnobrega, "Ela É Belém" é fruto de "uma obsessão e de uma pesquisa", já que foi composta antes de o autor conhecer a capital paraense.

"Se Pá Ska SP" vem se juntar a "Não Existe Amor em SP", de Criolo, como sucessoras de "Sampa", clássico de Caetano Veloso inspirado pela cidade.

O refrão: "Mas eu disse sós, não disse sozinho/ A massa está carente em busca de carinho/ Quem é o amigo que vai te salvar?/ 5.000 torpedos sobre o céu irão cruzar".

"Em São Paulo, as pessoas não querem ficar sós nunca. Ligam e se encontram o tempo todo. É como se um salvasse a existência do outro", diz.

LÁ FORA

Enquanto Santtana mostra "O Deus que Devasta Mas Também Cura" ao Brasil, sua carreira internacional começa a decolar -mas com o CD anterior, "Sem Nostalgia".

O álbum foi eleito o melhor disco estrangeiro de 2011 pelo jornal francês "Libération" e alcançou a sexta posição na lista da "Le Inrockuptibles", a revista de música mais importante da França.

Nos Estados Unidos, "Sem Nostalgia" deve sair em abril, em edição especial, com faixas extras. No mesmo mês, ele faz uma turnê de dez shows na Europa e nos EUA.

Também sai no mercado americano um vinil com remixes de faixas mais antigas, criados por produtores como os americanos Deerhoof e Arto Lindsay, os britânicos Optimo e Paul White e o alemão Burnt Freidman.

A tempestade acabou.

LIVROS E LITERATURA

Folha de S. Paulo - Revista de 1812 é tema de edição fac-similar

(19/1/2012) Primeira revista impressa no Brasil, "As Variedades ou Ensaios de Literatura" ganhará edição em livro feita pela Fundação Pedro Calmon (BA), em parceria com a Associação Bahiana de Imprensa. O lançamento é no dia 23/1, no Quadrilátero da Biblioteca Pública do Estado (r. General Labatut, 27; Salvador; às 16h30). O livro será distribuído gratuitamente.

O Globo - A língua de Lenora de Barros

Aos 58 anos, artista que se consagrou ao unir performance e palavra lança livro sobre sua obra e prepara mostras em Buenos Aires, Miami e Porto Rico

Audrey Furlaneto

(21/01/2012) Ela havia passado quase um ano diante da máquina de escrever. Queria criar um poema, usar palavras para refletir sobre o processo de criação da poesia. Era 1979, e ela pensava: “Com esse alfabeto, quantos poemas possíveis!”

Mas foi quase dormindo que Lenora de Barros, então com 20 e poucos anos, resolveu seu projeto: imaginou sua língua na máquina. Criava, assim, “Poema”, série de fotografias em que sua língua passeia por varetas e teclas, como se pudesse “fecundar a linguagem”. Hoje, aos 58 anos, ela diz que ali “nasceu tudo”.

— Agora, mais velha, olhando para trás, vejo que tenho muito esse processo de vai e volta. A mesma ideia se repete em outras situações, e é um processo que não acontece só comigo. Mas no meu caso ele é muito claro: é a imagem da língua, a coisa simbólica.

A língua de Lenora se mistura ao concretismo, à arte pop e ao surrealismo em “Relivro” (Automatica Edições), que ela lança no dia 3 de fevereiro no Rio. É o primeiro livro que reúne boa parte de sua obra — até então, ela só havia assinado “Onde se vê” (1983), com 12 poemas visuais de sua autoria.

O início de ano segue intenso para a artista paulistana: em março, ela participa da versão da Bienal de Lyon em Buenos Aires e de uma coletiva na galeria Alejandra von Hartz, em Miami. Em abril, vai a Porto Rico, para a Trienal de San Juan.

“Relivro” é fruto da retrospectiva “Revídeo”, que Lenora apresentou no Oi Futuro Flamengo no ano passado, e também traz trabalhos seus como poeta, entre eles o delicioso “Garotas pop” (“Garotas são sempre pop/ A palavra garota é pop”) e “Há mulheres”.

“Ela se situa no front ousado dos que chamo de artistas do ‘entre’, os que não são facilmente classificáveis, que não se limitam a se expressar, mas querem também mudar”, escreve Augusto de Campos sobre ela, em texto de “Relivro”.

A palavra chega ao ouvido

Ser artista do “entre” talvez seja reflexo de sua formação. Lenora estudou Linguística na USP, viveu no que chama de “caldo cult” dos anos 1970, foi beatlemaníaca (como o marido, o jornalista Marcos Augusto Gonçalves) e, ainda menina, conviveu com a turma dos concretistas — é filha de Geraldo de Barros (1923-1998), pioneiro da arte concreta no Brasil. Herdou dele os olhos (“É o que dizem os amigos”) e o gosto pelas imagens. Da mãe, a boca e o interesse pelas palavras, pelos livros.

— Acho que consegui conciliar, de forma psicanalítica, o pai e a mãe dentro de mim. Minha trajetória, desde o início, teve sempre a palavra e a imagem.

Em 1975, fez sua primeira performance, “Homenagem a George Segal”, como trabalho de escola, que virou vídeo em 1984. Ela surge escovando os dentes e, aos poucos, cobre todo o rosto com espuma. Depois veio “Poema” — e a língua.

— Sempre gostei de, em português, ter a mesma palavra para designar língua e idioma. É uma coisa que foi se tornando reincidente no meu trabalho. A ponto de, em 2008, eu perceber que já havia fotografado minha língua em diversos momentos da vida. Então, fiz a “Língua vertebral” para a Bienal da Antropofagia (como ficou conhecida a Bienal de São Paulo de 1998, com curadoria de Paulo Herkenhoff).

Ela participou da mostra pela primeira vez em 1983, com fotopoemas. Em 1990, mudou-se para Milão e, pouco depois, de volta ao Brasil, trabalhou como editora de fotografia na “Folha de S.Paulo” e editora de arte na revista “Placar”. Em 1993, no “Jornal da Tarde”, assinou a coluna “Umas”, espaço que usava para experiências poéticas e visuais (ou as duas juntas). Ali, publicou a foto “Fogo no olho”

(1994), em que segura palitos acesos diante dos olhos, e o poema “Há mulheres”, sobre a ideia do corpo feminino.

— Particularmente, se existe algum viés politizado no meu trabalho, é um pouco nessa direção (de debater a condição feminina). Isso não era algo consciente, mas acabou me tocando naturalmente, por uma questão de geração.

Não é só a língua, mas seu rosto e corpo estão à disposição de sua arte. Lenora aparece na maioria de suas obras. Em 2005, cobriu-se com um gorro de lã no vídeo “Já vi tudo”. Mais tarde, em 2011, usou diversas perucas e arregalou os olhos nas fotos de “Procuro- me”, inspirada em imagens de procurados pelo FBI.

— Gradativamente, fui tirando a palavra da página, fui misturando com performance, fotografia, vídeos e fui gerando um trabalho, saindo do espaço da página — diz ela.

André Millan, seu galerista em São Paulo e amigo antigo (“Conheço Lenora da vida inteira”), lembra que seus pais eram amigos — Geraldo de Barros era representado pela galeria que Millan herdou do pai. Com Lenora, ele organizou uma mostra de Barros em 1986.

— Ela tem uma ligação forte com os concretos, apropriouse dessa referência e acabou desdobrando-a para a arte contemporânea — diz Millan.

Sua galeria abrigou, no ano passado, a mostra “Sonoplastia”, individual em que ela apresentou suas experiências com sons. Da língua e dos olhos, Lenora faz agora a palavra passear por ouvidos.

O Estado de S. Paulo - Parceria aberta ao mundo

Luciana Villas-Boas e Raymond Moss criam agência para exportar literatura feita no Brasil

MARIA FERNANDA RODRIGUES

(22/1/2012) Nem só da descoberta de um novo autor e da atenção diária para que ele se mantenha fiel a quem o projetou vive um diretor editorial. Há uma lista de funções burocráticas que o leitor não conhece, mas que tira o sono de quem ganha a vida fazendo livro. "Percebi que eu não tinha tempo para a parte do trabalho que mais me dá prazer, que é cuidar do autor e a apresentar a literatura brasileira no exterior", conta Luciana Villas-Boas.

Ela dirigiu, nos últimos 17 anos, o grupo Record, composto por cinco editoras e nove selos, e se lança agora em novo desafio pessoal e profissional. Ao lado do advogado americano Raymond Moss, dá

início, no segundo semestre, à Villas-Boas & Moss Consultoria e Agência Literária, com escritórios no Rio, Nova York e Atlanta. Em 2013, quer chegar a Genebra.

"Há vários anos identifiquei a necessidade de institucionalizar a função do agente literário e houve uma série de acontecimentos em 2011 que me ajudaram a reformular o projeto", diz.

O crescente interesse de editoras estrangeiras pela produção brasileira, o apoio à tradução dado pela Fundação Biblioteca Nacional e a expectativa da homenagem que será feita ao Brasil na Feira do Livro de Frankfurt em 2013 fazem deste um momento oportuno para a criação de uma agência literária.

"Conheço muito esse meio e tenho perto de 2 mil livros negociados em nome da Record. Os editores vão saber que estão falando com alguém que entende o lado deles. E o autor vai saber que farei o possível por ele." Entre os escritores que inauguram o catálogo da Villas-Boas & Moss estão Edney Silvestre, Francisco Azevedo, Alberto Mussa e Rafael Cardoso, todos autores da Record apresentados por Luciana a editores estrangeiros.

Mais um motivo para acreditar que sua saída da editora deixa mágoa? Ela garante que não. "Uma prova de que tudo foi cordial é que Sérgio Machado (dono da editora) está me passando esses contratos e toda a lista de autores da Record", conta.

Nesse caso, a favor dela está também o fato de a relação entre a Record e a Agência Riff, a principal e mais antiga do País, ter se estremecido em meados de 2011. Foi a Riff que intermediou a mudança da obra de Carlos Drummond de Andrade para a Companhia das Letras, algo que também teria acirrado os ânimos entre Luciana e a família Machado. Mas do passado ela guarda dois arrependimentos.

"Quando li Galileia, de Ronaldo Correia de Brito, eu não estava bem da cabeça. Achei a maior maravilha e não agi." O livro foi editado pela Objetiva, venceu o Prêmio SP de Literatura, já foi lançado na Argentina e na França e vai ser traduzido para o hebraico. O outro momento foi no leilão de O Código Da Vinci, eterno best-seller. Por orientação de Sérgio Machado, ela saiu da jogada. "Eu podia ter bancado o risco, mas o dinheiro não era meu."

É a ideia de exportar a obra de autores brasileiros o que motiva Luciana agora. E a curiosidade que os estrangeiros têm pelo Brasil, que ajuda muito nessa tarefa, foi comprovada em sua última viagem à Alemanha. "Quem trabalha com livro sabe que a única maneira de conhecer a psique de um povo é por meio da ficção e os editores estão procurando esse tipo de livro que revele nossa história e nossa loucura." A primeira opção tem sido por autores contemporâneos, conta. E aí começa o desafio.

A scout Carmen Pinilla contou a Luciana que o mercado estrangeiro está ávido por uma espécie de On The Road que passe por todas as regiões do Brasil, "Não temos o que oferecer e chegamos com um livro sobre as angústias de um esquizofrênico e, por melhor que seja o trabalho linguístico, ninguém quer." Aí é que entra a discrepância entre demanda internacional e o que é valorizado internamente. "Um enredo bem construído pode ser tão pungente na revelação da condição humana e das nossas contradições. Por que agora a literatura só pode ser experimentação linguística?" Outro desafio é fazer o brasileiro ler o que é produzido no País. "Um leitor de Vargas Llosa e Paul Auster não tem um equivalente aqui."

O Globo - A literatura embarca nos trens do Rio

Estação de Madureira ganha projeto de empréstimo gratuito de livros

Mauro Ventura

(24/1/2012) Por onde passa o trabalho de Cristina Oldemburg transforma o cotidiano de quem está à volta. Foi assim em Garanhuns, em Pernambuco, onde ela chegou em 2004 e implantou salas de leitura em todas as escolas municipais.

— A cidade passou a ter uma feira literária, mais dois jornais e uma academia de letras — diz ela, fundadora do Instituto Oldemburg de Desenvolvimento. Também foi assim com o principal hospital público de Florianópolis, onde Cristina criou uma sala de leitura em 2005. Quatro anos depois, virou um Ponto de Cultura do Ministério da Cultura. Em Vila Velha (ES), duas salas fizeram tanto sucesso que se transformaram em bibliotecas públicas.

Livros de leitura rápida

Agora, após implementar 728 salas em escolas públicas, hospitais e presídios de 24 estados brasileiros, ela parte para uma experiência nova: hoje, às 10h, inaugura o primeiro espaço ao ar livre, a Estação Leitura, na Estação Madureira, na Zona Norte, por onde circulam diariamente 200 mil pessoas. O local vai emprestar gratuitamente 450 livros aos passageiros da SuperVia. — Escolhemos livros de leitura rápida, que podem ser lidos durante uma viagem de trem: coletâneas, crônicas, antologias — explica.

Há desde “Os melhores poemas de Ferreira Gullar” e “As melhores crônicas de Manuel Bandeira” até “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, “Deu no New York Times”, de Larry Rohter, e “O mirante”, de Michael Connelly.

Se a pessoa quiser, pode levar para casa, já que tem sete dias para ler — prazo que pode ser estendido. Apesar de morar em Copacabana, Cristina é usuária frequente dos trens.

— Temos salas de leitura no subúrbio e na Zona Norte, e minha mãe mora no Méier. Esse deslocamento que os passageiros fazem demora muito. Às vezes, estar num trem é muito sofrido.

O espaço será uma maneira de amenizar isso — e os usuários da SuperVia costumam sofrer com atrasos das composições.

As salas de leitura completam dez anos em 2012. Até o fim de 2010, cerca de 6,5 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo projeto. Cada sala conta com mil livros, divididos em 500 títulos — um exemplar para empréstimo, outro para consulta no espaço. No caso da pioneira Estação de Leitura em Madureira, são 450 livros de 150 títulos, sendo três exemplares de cada um.

A inspiração veio da mãe, educadora e pedagoga. — Nos anos 1960, ela já trabalhava com escola aberta, e dirigia colégios em comunidades carentes. Havia bibliotecas nas escolas. Ela emprestava livros e mantinha um cadastro dos frequentadores. Com isso, conhecia a comunidade, que passava a ajudar. O colégio vivia bonito, pintado, arrumado.

Quando começou a trabalhar com marketing cultural, Cristina fez um trabalho com a Record e sugeriu à editora doar livros para um projeto social. Era o primeiro passo das salas. — Vi que poderia fazer o que minha mãe fazia: transformar livros em instrumento de relacionamento com a comunidade — diz Cristina, que é fotógrafa e já lançou “Terra brasileira”.

Ela agora vai fazer “Gente brasileira”, mas dessa vez como curadora. A ideia é valorizar nomes desconhecidos. Cristina vai selecionar dez fotógrafos de diferentes estados, e dez fotos de cada um. Eles virão ao Rio e escolherão seis fotos de cada colega. As 60 imagens farão parte do livro, e depois serão expostas.

CRISTINA OLDEMBURG: 6,5 milhões de pessoas em dez anos

O Estado de S. Paulo - Releituras de Coralina

Obra da poetisa é tema de debate em projeto que divulga a literatura nacional nos EUA

Gustavo Chacra, correspondente, Nova York

Uma homenagem para a poetisa Cora Coralina será realizada hoje em Nova York. Os trabalhos da autora goiana, que morreu em 1985, farão parte de apresentações e debates no Brazilian Endowment for the Arts em Manhattan em um projeto para difundir a literatura brasileira nos Estados Unidos.

"Dedicaremos este ano à apresentação de escritoras brasileiras para o público americano. Tivemos a Cecília Meireles. Este mês, homenagearemos Cora Coralina. Depois será a

vez da Clarice Lispector, que é muito respeitada nos Estados Unidos, e da Nísia Floresta", disse a professora Lisa Papi, responsável pela organização do evento, intitulado Quartas Literárias.

Nesses encontros mensais, escritores, jornalistas e poetas brasileiros com base em Nova York e acadêmicos de universidades como a Columbia, NYU e Cuny se reúnem para discutir os trabalhos de literatura do Brasil. O evento é aberto ao público, que costuma lotar a biblioteca da fundação. Os participantes, apesar de muitas vezes norte-americanos ou de outras nacionalidades, precisam falar português.

"Tudo surgiu a partir da necessidade de pessoas que vivem em Nova York e gostam de literatura brasileira. Em 1999, fundamos a Ubeny (União Brasileira dos Escritores de Nova York) no restaurante Via Brasil, na Rua 46. Em seguida, começamos a organizar reuniões na minha casa e, posteriormente, no Consulado do Brasil", explica o professor Domício Coutinho, presidente do Brazilian Endowment for the Arts.

Além das reuniões literárias, começou a ser construída uma biblioteca. Com o tempo, segundo Coutinho, eles acharam melhor se mudar para um local exclusivamente para as reuniões e para o acervo, atualmente com 4 mil obras. Em 2004, o Brazilian Endowment for the Arts foi oficialmente criado e hoje se localiza na Rua 52, a seis quarteirões da tradicional Little Brazil, na 46, conhecida por ter sido no passado o símbolo dos brasileiros em Nova York em décadas passadas - hoje a concentração de brasileiros é maior no bairro de Astoria, no Queens.

Coutinho é um dos brasileiros vivendo há mais tempo nos Estados Unidos. Ele desembarcou em Nova York em 1959 para passar uma semana. Como era religioso, tendo estudado em seminário da Itália, decidiu ir se confessar em uma igreja de Manhattan e contou seu pecado em latim para o padre americano. Este imediatamente o contratou como sacristão e, 53 anos depois, Coutinho permanece em Nova York.

"Hoje podemos organizar um evento sobre a Cora Coralina e comparecem dezenas de brasileiros. Mas nem sempre foi assim. Antigamente, ficávamos emocionados e atravessávamos a rua para dar um abraço quando víamos alguém do Brasil. Éramos poucos e vivíamos em áreas com mexicanos, dominicanos e porto-riquenhos", relembra o professor.

"Não tínhamos acesso a muitas notícias do Brasil. Dependíamos do pessoal da manutenção dos aviões, que nos traziam revistas, o Cruzeiro, a Manchete, o Estado. Todos nos reuníamos para conversar no Hotel Diplomat, perto do Times Square", acrescenta Coutinho.

Bravo! - Lúcido Alucinado

Dedicado não apenas à análise de assuntos eclesiásticos mas também a questões como o amor, a morte e a justiça, o padre Antônio Vieira ganha nova edição de seus sermões

por Inês Pedrosa

(Janeiro / 2012) Antônio Vieira (1608-1697), o padre português, foi um prestidigitador do Verbo, um teórico pragmático, um conservador revolucionário: tudo acatava e tudo subvertia. Torcia os versículos da Bíblia à medida dos seus desejos e construía com palavras o império perfeito que a vida lhe recusava. Se vivesse hoje escreveria, em jornais ou blogs, textos incendiários sobre o estado do mundo. As suas opiniões pró-israelitas o impediriam de ganhar o Nobel da Literatura, que merecia. E os críticos o desdenhariam, pelo excesso barroco da sua escrita ou pela vertigem acrobática das suas ideias – bem como pelo furor da sua intervenção pública, que o tornaria, talvez não um padre, mas um político autêntico, pregador e profeta.

Deixou-se fascinar pelas crenças milenaristas em voga no século 17 porque o empurravam para o futuro, salvando-o do nevoeiro resignado da época. Era um homem de ação, com uma vontade indômita de transformar o mundo e de restituir a Portugal a glória perdida. Dos 33 aos 44 anos, correu as cortes da Europa, como embaixador informal de dom João IV, tentando vender aos amigos da Espanha a ideia de Portugal independente. Não foi muito feliz nessas peregrinações diplomáticas. Em certo momento, chegou a aconselhar o rei a que subornasse os altos funcionários holandeses para comprar Pernambuco da Holanda (com o dinheiro dos judeus, que sempre se esforçou por fazer regressar a Portugal) ou, finalmente, que entregasse definitivamente Pernambuco a troco da paz e da independência do resto da colônia – o que fez com que o apelidassem de “o Judas do Brasil”. Mas o seu talento de orador impressionava, e os ensinamentos e contatos que foi fazendo pela Europa se revelariam extremamente úteis.

Na sua formação ideológica avultaram as conversas tidas em Amsterdã com o rabino Menasse Ben Israel, que o levaram a acreditar numa segunda vinda do Messias, para reconduzir à Palestina as Dez Tribos da Dispersão, que estariam nas Américas, e proceder assim à salvação temporal do mundo. Essas teorias atearam o espírito desesperadamente otimista de Vieira, lançando nele o projeto de um

Quinto Império português. A ideia alimentaria os seus dois magnos e heterodoxos projetos de escrita (ambos inconclusos): a História do Futuro e a Clavis Prophetarum (Chave dos Profetas). Pouco antes de morrer, definiria os seus sermões como meras “choupanas”, por contraste com os “palácios altíssimos” que sonhava edificar com a sua Clavis Prophetarum. Na magnífica introdução à nova edição dos Sermões de Vieira, escreve o crítico Alfredo Bosi, organizador do volume: “Que a sublimação de tantas decepções fosse alentada pelo desejo de um povo que viu sepultas nas areias de Alcácer Quibir as últimas esperanças de manter a glória de mais de um século de navegações, descobertas e conquistas, parece hipótese plausível”. Mas os tais “palácios” celestes foram o pretexto utilizado por aqueles que o invejavam para o perseguirem e descredibilizarem.

Ainda hoje há quem procure diminuir ideologicamente a grandeza do seu legado literário e filosófico. Mas os delírios proféticos de Vieira ajudaram-no a pensar livremente em temas então impensáveis, como o da essencial igualdade de todos os seres humanos. Consciente de que o sucesso econômico do Brasil da época dependia da escravatura, não chegou a ser antiescravagista, mas tentou convencer os senhores a deixarem de usar a tortura e escandalizou-os ao pregar aos escravos, na Bahia, comparando o martírio deles ao Calvário de Cristo: “Em um Engenho sois imitadores de Cristo crucificado”. Não hesitou sequer em xingar o próprio Deus, num sermão de valente beleza (Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda, na Bahia, em 1640), por abandonar os portugueses e dar a vitória aos “hereges” holandeses, arrasando assim os seus créditos divinos: “Quero eu, Senhor, converter-vos a vós”. Pugnou arduamente pela liberdade dos índios do Brasil (que queria catequizar, mas não destruir nem escravizar), entre os quais viveu, por longos períodos. Escreveu um catecismo elementar em seis idiomas tribais. Os índios tratavam-no por Paiaçu, isto é, “Pai Grande”.

Consciente de que, como escreveu, “só se governa pelos sentidos”, empregou os bons dinheiros que granjeara durante o seu período de agente publicitário de Portugal em “muitos sinos, muitas imagens de Cristo e de Nossa Senhora e de vários santos (…) e até máscaras e cascavéis para as danças das mesmas procissões, para mostrar aos gentios que a lei dos cristãos não é triste”. As desilusões e ataques que sofreu tornaram-no muitas vezes furioso, mas nunca o vergaram à tristeza. Nessa determinação para a alegria, Vieira foi, de fato, muito mais brasileiro do que português – e não será por acaso que o Brasil o lê e estuda muito mais do que Portugal.

RELÂMPAGO MENTAL

Além da “política do céu” (na expressão certeira do crítico Alcir Pécora), ocupou-se Vieira em analisar todos os assuntos eternos da humanidade: o amor e a morte, a ambição e a inveja, o poder e a justiça. Refletiu também, com inultrapassável clareza e brilho, sobre a própria escrita: “O melhor retrato de cada um é aquilo que escreve. O Corpo retrata-se com o Pincel, a Alma com a Pena” (Sermão de Santo Inácio, 1669). O Sermão da Sexagésima, de 1655, mais do que uma análise crítica da pregação e dos pregadores, é um tratado sobre a arte de bem escrever.

O reconhecimento que teve em vida, conquistou-o Antônio Vieira graças ao seu talento oratório – tão inquietante que acabou por ser proibido de o praticar, depois de julgado pela Inquisição. A sua única vitória política foi a criação da Companhia de Comércio para o Brasil, em 1649, que se manifestaria de grande utilidade para a reconquista de Pernambuco, em 1654. Conseguiu autorização do rei para que os cristãos-novos investissem nessa companhia os seus capitais – o que a Inquisição não lhe perdoou. Anos mais tarde, depois da morte de dom João IV (em 1656), uma carta em que profetizava a ressurreição do rei forneceria aos atentos e vingativos senhores do Santo Ofício o pretexto para a sua prisão e julgamento. Exilou-se em Roma, onde foi acarinhado pela convertida rainha Cristina da Suécia, que o convidou para permanecer como seu confessor particular. Vieira declinou os convites e as mordomias para regressar a Portugal, munido de um documento papal que o libertava de qualquer jurisdição da Inquisição portuguesa.

Em 1681, com 73 anos, Antônio Vieira embarcou pela sétima e derradeira vez para a Bahia, para se entregar novamente ao trabalho missionário. Aí morreria, 16 anos depois, desgostoso, roído por intrigas que, de novo, lhe haviam retirado o direito a pregar. Seria ilibado dessas últimas acusações – mas a notícia chegou já depois da sua morte. Desaparecia assim, no desassossego solitário que escolheu como modo de vida, o menino que aportara a São Salvador da Bahia aos 6 anos de idade e que se deixara seduzir pelo espírito empreendedor e ávido de conhecimento dos jesuítas, a ponto de fugir de casa aos 15 anos para se juntar a eles – segundo reza a lenda, depois de um “estalo”, um relâmpago mental que terá sentido diante da imagem da Senhora das Maravilhas. Foi um lúcido

alucinado. “Definir-se e arder, isso é amar”, escreveu. Afogou todas as decepções no mar sem fundo da língua portuguesa, que transfigurou: ainda hoje as suas palavras caminham diante de nós como trovões de uma verdade maior do que o tempo.

Inês Pedrosa é jornalista e escritora portuguesa, autora do romance Fazes-me Falta, entre outros.

O LIVRO

Essencial – Padre Antônio Vieira. Organização e introdução de Alfredo Bosi. Editora Penguin Classics Companhia das Letras, 760 págs., R$ 35.

QUADRINHOS

Folha de S. Paulo – Mônica se mistura a personagens japonesesMauricio de Sousa concretiza projeto com mestre do mangá em defesa da Amazônia MARCO AURÉLIO CANÔNICO, DO RIO

(23/1/2012) Mauricio de Sousa lembra-se bem da última vez que viu Osamu Tezuka. Era 1989, ele estava no Japão e o mestre do mangá, seu amigo há alguns anos, saíra do hospital para encontrá-lo.

"Ele estava com uma aparência bem maltratada. Eu não sabia da gravidade do estado dele, começamos a conversar sobre projetos futuros e ele foi ficando animado. Combinamos de fazer uma animação juntando nossos personagens."

Semanas depois, Tezuka morreria de câncer, aos 60 anos, e o projeto da dupla ficaria esquecido -até há pouco.

Nesta semana, chega às bancas uma revista da "Turma da Mônica Jovem" que concretiza a conversa de 23 anos atrás: Mônica, Magali, Cascão e Cebola unem-se a Astro Boy, princesa Safire e Kimba, o leão branco.

"Nossos heróis se misturam para enfrentar madeireiros, gente que quer acabar com a floresta amazônica. Deu uma bela família de personagens, até um pouco conflituosa", diz Mauricio.

O brasileiro celebra a HQ não só por ser um velho projeto fraterno (ainda que não mais em formato de desenho animado), mas pela raridade.

"É a primeira vez que um estrangeiro recebe autorização para desenhar os personagens de Tezuka", diz.

O roteiro e as ilustrações da história (que sai dividida em duas edições, a próxima em março) foram feitos por sua equipe no Brasil e aprovados pelo filho do japonês.

MESMA FILOSOFIA

Mauricio e Tezuka conheceram-se em 1984, quando o japonês recepcionou o brasileiro em seu país (mais tarde, a cortesia se inverteria).

"Nós tínhamos uma filosofia muito parecida sobre o que devíamos passar para a criançada. Ele gostava da pureza, da humanidade dos meus personagens."

Na ocasião, Tezuka já era idolatrado no Japão e renomado no exterior.

"A história em quadrinhos dele é um 'storyboard', é um desenho animado. O traço dele é muito gostoso", define.

No embalo do primeiro encontro entre os personagens, o brasileiro já vislumbra as possibilidades comerciais que se abrem no exterior e cogita até mesmo criar histórias apenas com os heróis japoneses -algo que ainda precisaria ser negociado.

"Os personagens dele merecem o tratamento clássico, e nós sabemos fazer isso, o traço Tezuka como ele fazia."

MODA

Folha de S. Paulo – O fim do Brasil exótico?

Luxo e design formatam nova imagem do país, diz diretor da SP Fashion Week, que começa hoje

Vivian WhitemanPedro DinizColaboração para a folha

(19/1/2012) Segundo o dicionário "Houaiss", exótico é a qualidade de algo estrangeiro em relação ao observador e também alguma coisa esquisita.

Aos olhos dos gringos, a moda e a cultura do país sempre estiveram associadas ao adjetivo, sobretudo no sentido da esquisitice.

Mas, segundo Paulo Borges, criador e diretor da São Paulo Fashion Week, essa percepção caducou. "As pessoas hoje veem nossa moda de outra forma, porque mudou o entendimento geral sobre o que é o Brasil. O exotismo foi por água abaixo."

Para Borges, os estrangeiros que acompanharão a temporada de inverno da SPFW, de hoje ao dia 24, in loco ou pela internet, não esperam mais ver uma profusão de cores e estampas vindas "da selva cheia de macacos".

"Hoje somos uma bússola econômica. Isso faz com que os estrangeiros procurem saber mais sobre nós. As grandes empresas, as marcas de luxo, o design modernista, tudo isso é o novo Brasil, cuja imagem a moda também ajudou a construir", diz.

Editado em parceria com a InBrands, grupo dono dos eventos SPFW, Fashion Rio e das marcas Alexandre Herchcovitch e Ellus, o livro de imagens "Brazilian Style" (Assouline, 208 págs., R$ 162,60), lançado no final de 2011, suscita algumas questões a esse respeito.

GISELE É A NOVA MULATA

Lá estão a selva, o samba, o biquíni, a favela, o futebol, todos os estereótipos célebres do exotismo brasileiro. Ao mesmo tempo, o livro elenca novos ícones nacionais: Gisele Bündchen, a grife Osklen, o milionário Eike Batista, a cantora Gaby Amarantos e até a rua Augusta (definida como um lugar que mistura clubes "hypes" e casas de prostituição e apresentada com a foto de uma mulher negra com traje sexy).

"A imagem exótica que o estrangeiro tinha do Brasil mudou. Ficou mais diversificada, urbana e contemporânea", diz Rony Rodrigues, da empresa Box 1824, que analisa tendências de consumo.

De acordo com Rodrigues, Gisele Bündchen, por exemplo, é a versão "sofisticada" da beleza da mulher brasileira: "É a nova mulata".

Em 2010, a Box 1824 publicou a pesquisa "O Sonho Brasileiro", que incluía entrevistas feitas no Brasil e dados coletados em outros países.

O resultado mostrava que os estereótipos da cultura nacional -da "superpotência da alegria" ao "jeitinho brasileiro", passando pela moda "feita a mão"-, atualizados dentro dos valores capitalistas, poderiam virar itens de exportação lucrativos.

Nesse contexto, seria "Ai se Eu te Pego" o novo "Chica Chica Boom Chic"?

BOOM CHIC

A cantora Carmen Miranda, capa do livro "Brazilian Style", foi uma das primeiras estrelas a divulgar a imagem do Brasil no exterior

BEYONCÉ DO PARÁ

A cantora Gaby Amarantos está listada no livro, ao lado de Joelma, do Calypso, entre as novidades da música brasileira

AI SE EU TE PEGO

O sucesso internacional crescente do cantor Michel Teló foi comparado ao de Carmen Miranda pela revista americana "Forbes"; no Brasil, muita gente torceu o nariz

BELEZA VERDE

Gisele Bündchen, uma das brasileiras mais ricas do mundo, é lembrada no livro por seu trabalho como modelo e "protetora ambiental"

ORGULHO E PRECONCEITO

Sargentelli e suas mulatas; acima, mulher negra ilustra o verbete da rua Augusta, que cita prostituição, do livro "Brazilian Style"

EIKE, O RICAÇO

Símbolo do "Brasil que dá certo", Eike Batista é citado como o empresário que pretende ser o homem mais rico do mundo até 2016

CIDADE ARMADA

As polêmicas pacificações nos morros criaram uma imagem mais segura do Rio no exterior, transformando as favelas em cenários idealizados

Folha de S. Paulo – Cavalera desfila na região da cracolândiaSPFW 2012

(23/1/2012) Alberto Hiar, dono da grife, diz que escolheu estação da Luz para transmitir ao evento ideia de "faroeste urbano"

Caubóis do asfalto e um exército de Amy Winehouses estilo "western" deram a cara da coleção apresentada VIVIAN WHITEMAN e PEDRO DINIZ, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(23/01/12) "Os fashionistas têm de experimentar sensações diferentes. Moda não é só glamour, gente!", afirmava Alberto Hiar, dono da Cavalera, logo depois do desfile de sua grife ontem, na estação da Luz, em São Paulo. Do lado de fora, os convidados chamavam a atenção dos transeuntes e comentavam a tranquilidade da região, palco recente de enfrentamentos entre a polícia e usuários de crack.

"Queríamos um lugar que passasse a ideia de faroeste urbano", disse Hiar, fazendo um link entre o tema da coleção, que falava dos contrastes e da realidade de São Paulo, e a desastrada ação de prefeitura e Estado na tentativa de acabar com a cracolândia.

Com policiamento reforçado, o evento, que abriu o quarto dia da São Paulo Fashion Week, correu calmamente, para tranquilidade dos convidados.

"Eu não viria aqui em outro dia, quero dizer, sem segurança nenhuma", disse a atleta Maurren Maggi.

Policiais que patrulhavam a entrada tratavam a presença de usuários de crack na área como "assunto controlado". Mas, segundo moradores, a história não é tão simples assim. "É uma ilusão. Antes não ficávamos com medo de andar na rua porque os drogados ficavam concentrados em certos pontos. Agora, ficam vagando irritados e desorientados, estão espalhados por toda parte", diz Maria Ferreira, 59, ambulante e moradora do bairro.

Para o vendedor de picolés Mário Araújo, 49, que trabalha na região há 24 anos, eventos como o desfile "amenizam o clima do lugar".

Caubóis do asfalto e um exército de Amy Winehouses estilo "western" deram a cara da coleção da Cavalera.

A ideia de misturar o preto e o peso do couro e da lã, os cinturões de caubói e uma estamparia com ares quase psicodélicos deu certo. E fez sentido no atual contexto.

Viver em São Paulo tem mesmo sua dose de faroeste alucinante: afinal, num intervalo de semanas, um dos pontos mais conhecidos da cidade passou de campo de batalha a passarela de moda.

Os barulhos das bombas e cacetadas foram substituídos pelos sons de aplausos e saltos altos batendo no concreto que serviu de passarela.