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1 ASSENTAMENTO PALMARES II EM NINA RODRIGUES-MA: REFLEXÕES SOBRE A DINÂMICA TERRITORIAL E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO CAMPO Adriana Araujo Coelho¹ Jose Sampaio de Mattos Junior² RESUMO Este estudo destaca o Projeto de Assentamento Palmares II em Nina Rodrigues MA, refletindo sobre a dinâmica territorial, as políticas educacionais do Campo e suas contribuições para o desenvolvimento local. O Projeto de Assentamento surgiu no bojo da implementação do Plano Nacional de Reforma Agrária Federal e foi criado em 2000, Possui uma área de 12.364 hectares com 380 famílias assentadas e fica localizado em Nina Rodrigues-MA , especificamente no Território da Cidadania Vale do Itapecuru, segundo regionalização do MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário. Dados do MDA (2012) revelam que o Vale do Itapecuru apresenta uma área de 8.932,20 Km² onde estão localizados 10 municipios maranhenses. Nesta região residem 268.335 habitantes, dos quais 127.814 vivem na área rural, o que corresponde a 47,63% do total. Possui 16.865 agricultores familiares, 6.130 famílias assentadas e 54 comunidades quilombolas. As atividades econômicas realizadas no assentamento em estudo estão voltadas para a agricultura familiar, destacando-se como principais produtos o arroz, feijão e milho. O estudo destaca ainda que no Estado do Maranhão, a concretização do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária PRONERA deu-se através de parcerias envolvendo os Movimentos Sociais MST, Federação dos trabalhadores e trabalhadoras da agricultura do estado do Maranhão (FETAEMA), bem como Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA) e as Instituições Superiores de Ensino: Universidade Federal do maranhão, Instituto Federal do Maranhão e Universidade Estadual do Maranhão. Palavras chaves: Educação do Campo. Dinâmica Territorial. Assentamentos Rurais. ¹Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional da Universidade Estadual do Maranhão. e-mail: [email protected] ² Doutor em Geografia Professor Adjunto do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão e Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional. E-mail: [email protected] Abstract

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ASSENTAMENTO PALMARES II EM NINA RODRIGUES-MA: REFLEXÕES

SOBRE A DINÂMICA TERRITORIAL E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO

CAMPO

Adriana Araujo Coelho¹

Jose Sampaio de Mattos Junior²

RESUMO

Este estudo destaca o Projeto de Assentamento Palmares II em Nina Rodrigues – MA,

refletindo sobre a dinâmica territorial, as políticas educacionais do Campo e suas

contribuições para o desenvolvimento local. O Projeto de Assentamento surgiu no bojo da

implementação do Plano Nacional de Reforma Agrária Federal e foi criado em 2000,

Possui uma área de 12.364 hectares com 380 famílias assentadas e fica localizado em Nina

Rodrigues-MA , especificamente no Território da Cidadania Vale do Itapecuru, segundo

regionalização do MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário. Dados do MDA (2012)

revelam que o Vale do Itapecuru apresenta uma área de 8.932,20 Km² onde estão

localizados 10 municipios maranhenses. Nesta região residem 268.335 habitantes, dos

quais 127.814 vivem na área rural, o que corresponde a 47,63% do total. Possui 16.865

agricultores familiares, 6.130 famílias assentadas e 54 comunidades quilombolas. As

atividades econômicas realizadas no assentamento em estudo estão voltadas para a

agricultura familiar, destacando-se como principais produtos o arroz, feijão e milho. O

estudo destaca ainda que no Estado do Maranhão, a concretização do Programa Nacional

de Educação na Reforma Agrária PRONERA deu-se através de parcerias envolvendo os

Movimentos Sociais MST, Federação dos trabalhadores e trabalhadoras da agricultura do

estado do Maranhão (FETAEMA), bem como Associação em Áreas de Assentamento no

Estado do Maranhão (ASSEMA) e as Instituições Superiores de Ensino: Universidade

Federal do maranhão, Instituto Federal do Maranhão e Universidade Estadual do

Maranhão.

Palavras chaves: Educação do Campo. Dinâmica Territorial. Assentamentos Rurais.

¹Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional da Universidade

Estadual do Maranhão. e-mail: [email protected]

² Doutor em Geografia Professor Adjunto do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual

do Maranhão e Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioespacial e

Regional. E-mail: [email protected]

Abstract

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This study highlights the Proposed Settlement of Palmares II Rodrigues - MA, reflecting

on the dynamics of territorial policies of the educational field and their contributions to

local development. The Settlement Project emerged in the midst of implementing the

National Plan for Agrarian Reform and Federal was established in 2000, has an area of

12,364 hectares with 380 families settled and is located in Nina Rodrigues, MA,

specifically in the Territory of Citizenship Valley Itapecuru regionalization of the second

MDA - Ministry of Agrarian Development. Data from MDA (2012) show that the

Itapecuru Valley has an area of 8932.20 square kilometers where 10 municipalities are

located in Maranhão. 268,335 people reside in this region, of which 127,814 live in rural

areas, which corresponds to 47.63% of the total. It has 16,865 farmers, 6,130 settler

families and 54 maroon communities. The economic activities undertaken in the settlement

under consideration are focused on the family farm, especially as main products as rice,

beans and corn. The study also notes that the State of Maranhão, the implementation of the

National Agrarian Reform Education PRONERA took place through partnerships

involving MST Social Movements, Federation of workers of agriculture in the state of

Maranhão (FETAEMA) and Settlement Areas association in the State of Maranhão

(ASSEMA) and the Higher Education Institutions: Federal University of Maranhão,

Federal Institute of Maranhão Maranhão State University.

Keywords: Rural Education. Territorial Dynamics. Rural Settlements.

INTRODUÇÃO

Este artigo faz uma reflexão sobre a dinâmica territorial e as políticas

educacionais do campo que atenderam ao Projeto de Assentamento Palmares II que fica

localizado no município de Nina Rodrigues – MA (figura 1) a 184 km de São Luís capital

do estado. Esse município faz parte do Território da Cidadania Vale do Itapecuru segundo

regionalização do MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário (Territórios da

Cidadania) figura 2.

Compreender a dinâmica territorial do campo a partir do contexto educacional não

é tarefa fácil, principalmente quando esta compreensão precisa considerar as complexas

categorias de análise que envolve os sujeitos sociais que compõem o espaço campesino.

Nesse sentido, faz-se necessário dialogar com os autores que tratam das concepções de

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território e, sobretudo relacionar esse entendimento com as políticas educacionais do

campo.

Figura 1 – Mapa de localização do município de Nina Rodrigues

Fonte: IMESC 2011

Sobre as concepções de território Saquet (2007, p.8) destaca que “o território

resulta como conteúdo, meio e processo de relações sociais. Essas relações sociais que são,

ao mesmo tempo, materiais, substantivam o território.”

Para se entender as relações sociais existentes no campo faz-se necessário

considerar a diversidade dos atores sociais, as especificidades inseridas no espaço

campesino, as políticas educacionais que atendam as necessidades dos povos que habitam

o campo, bem como, as diferenças étnicas e raciais que estão enraizadas no campo.

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Figura 2 – Território Vale do Itapecuru-MA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA

Outra questão que fortalece estas discussões está relacionada ao contexto histórico,

que vem mostrando que o modo de vida urbano sempre foi tratado com mais cuidado

quando comparado ao campo e formou-se a ideia de que tudo o que pertence ao espaço

urbano pode ser considerado como desenvolvido, em contrapartida, tudo o que é do campo

é visualizado como atrasado.

O conhecimento de um contínuo cidade/campo não pressupõe o desparecimento

da cidade e do campo como unidades espaciais distintas, mas a constituição de

ares de transição e contato entre esses espaços que se caracterizam pelo

compartilhamento, no mesmo território ou em micro parcelas territoriais

justapostas e sobrepostas, de usos de solo, de praticas socioespaciais e de

interesses políticos e econômicos associados ao mundo rural e ao urbano.

(SPOSITO; WHITACKER, 2006 p. 121)

Desenvolver pesquisas que considere o atual contexto educacional brasileiro é um

tanto quanto complexo, preferencialmente quando se trata de Educação do Campo. Essa

complexidade pode está voltada às categorias que devem ser analisadas para se entender as

relações que envolvem os sujeitos que compõem o espaço campesino.

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Nesse sentido, desmistificar essa realidade considerando como integrante do

processo de mudanças à educação é um grande desafio para os sujeitos que sonham com

uma sociedade com oportunidades iguais.

Dessa forma, é importante destacar que os movimentos sociais se posicionam muito

bem, quando pensam para os camponeses uma educação diferenciada, que considere as

necessidades da comunidade. Os movimentos sociais visualizam a escola como um dos

lugares nos quais ocorrem o processo de (re)construção da identidade camponesa e com

isso entendem que a escola localizada no campo necessita de uma pedagogia diferenciada.

(SCHULTZ; LIRA, 2011, p. 107)

Delgado (1997) acrescenta que o movimento social que defende a reforma agrária,

oriundo de várias frentes e formas de luta objetivando a posse da terra e melhorias das

condições de trabalho no campo, ganhou repercussão nos governos federais de Getúlio

Vargas e Jango Goulart.

De fato, os Movimentos sociais se fizeram muito presente na luta pela manutenção

do campesinato, objetivando o resgate do modo de ser desses sujeitos que em muitos

momentos são esquecidos, onde discursos considerados dominantes pregavam até mesmo a

possibilidade de sua extinção.

Dinâmica territorial e o Projeto de Assentamento Palmares II em Nina Rodrigues –

MA

A sociedade sempre tentou organizar o território procurando atender as suas

necessidades e isso é abordado muito bem por Santos (1994, p.51) quando destaca que “a

configuração territorial é dada pelas obras dos homens [...] cria-se uma configuração

territorial que é cada vez mais o resultado de uma produção histórica e tende a uma

negação da natureza, substituindo-a por uma natureza itinerante humanizada.” De fato,

O território é organizado pela sociedade, que transforma (humaniza) a natureza,

controlando certas áreas e atividades, política e economicamente; significa

relações sociais e complementaridade; processualidade histórica e relacional [...]

é entendido para além de área, superfície e palco de ações: significa um lugar de

relações, internas e externas (em pequenas e grandes escalas), como espaço

aberto em constante transformação. SAQUET (2007, p.51)

Haesbaert (2007) destaca três vertentes básicas sobre as concepções de territórios: a

política que faz referência as relações que envolvem espaço e poder em geral e se

apresenta como a mais difundida onde se percebe o espaço como delimitado e controlado;

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a cultural que tende a priorizar a dimensão simbólica e mais subjetiva, considerando que

destaca o território como produto da apropriação e valorização simbólica e a econômica

tratada como a menos difundida que ver o território como fonte de recurso e as vezes

incorporado em classes sociais e na relação capital-trabalho.

As vertentes apontadas por Haesbaert são fundamentais para se entender a dinâmica

territorial. Fortalecendo estas discussões Fernandes (2000) destaca que: as categorias

Educação, cultura, produção, trabalho, organização política, mercado etc., devem ser

consideradas como relações sociais constituintes das dimensões territoriais. O autor afirma que

Elas não existem em separado, ou seja, a educação não existe fora do território, assim como a

cultura, a economia e todas as outras dimensões.

O assentamento em estudo foi criado em 2000, Possui uma área de 12.364 hectares

com 380 famílias assentadas e fica localizado em Nina Rodrigues-MA aproximadamente

20 km da sede. A figura 3 mostra o Rio Munin que separa o Projeto de Assentamento da

sede.

Figura 3 – Área que separa a sede de Nina Rodrigues do Assentamento Palmares II

Autor: COELHO, Adriana Araujo/Junho de 2012

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Trata-se de um Projeto de Assentamento que surge no bojo da implementação do

Plano Nacional de Reforma Agrária Federal cujo objetivo é a viabilização da política de

distribuição de terra no Brasil. Para tanto, é importante destacar que em territórios como

este, as famílias agricultoras familiares organizam suas lutas no sentido de resistir às

adversidades que estão enraizadas na comunidade.

Delgado (2005, p.72) afirma que:

Uma característica secular da estrutura fundiária brasileira é a sua alta

desigualdade. Este traço perpassa todo o período da “modernização

conservadora” e do “ajustamento constrangido”. De fato, nos últimos anos a

concentração fundiária manteve-se visceralmente arbitrada pelo poder do Estado.

No período posterior à Constituição de 1988 houve avanços de direitos sociais,

inclusive direitos agrários, que afirmam compromissos com a igualdade.

Simultaneamente aos avanços no campo jurídico-institucional, contudo,

corresponderam constrangimentos no campo econômico. A resultante líquida

desse jogo de forças mantém a desigualdade praticamente inalterada

Para Rodrigues.,et al (2010), essas adversidades podem está diretamente

vinculadas ao processo de ocupação do território brasileiro, considerando a distribuição de

grandes extensões de terras que gerou e tem perpetuado a concentração de terra e isso

certamente tem originado diversos problemas no ambiente campesino e que são acentuados

atualmente em função das novas formas de concentração da propriedade da terra.

As atividades econômicas realizadas no assentamento Palmares II estão voltadas

para a agricultura familiar. Para Neves (2007, p.9)

O termo agricultura familiar é posteriormente, nos já referidos campos

acadêmicos americano e europeu, consagrado sob outros significados,

qualificados pelas críticas elaboradas ao modelo de interdependência entre

agricultura e indústria (acirrador de exclusões e de expropriações diversas). E no

Brasil foi assumido tanto por pesquisadores de múltiplas disciplinas, como pela

representação política dos trabalhadores rurais. Todos operaram nessa

consagração classificatória, mas para fazer reconhecer a legitimidade e a

modernidade dos objetivos da ação política de trabalhadores rurais, de

assentados e agricultores parcelares, em busca de enquadramento profissional, de

acesso a recursos creditícios e de assistência técnica, enfim, em tese

asseguradores da reprodução de modos de produzir sob orientação relativamente

diversa da organização capitalista.

Para o desenvolvimento das atividades agrícolas a comunidade que habita o

Assentamento Palmares II utiliza-se do sistema de corte e queima. Trata-se de uma prática

que é considerada comum no cultivo de produtos agrícolas no Maranhão. Essas práticas

certamente estão relacionadas à ausência de tecnologias avançadas que poderiam contribuir

para o avanço dessas atividades.

Os principais produtos produzidos no assentamento são o arroz, feijão e milho.

Atualmente, o Assentamento conta com uma usina de beneficiamento de arroz,

um alambique para o fabrico de tiquira (aguardente de mandioca) e um

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caminhão, adquiridos com os recursos oriundos do Fomento Alimentação

oferecidos pelo Governo Federal para os investimentos iniciais dos assentados

para estabelecimento no local. ( JARDIM; et al, 2010, p.8)

É importante ressaltar, que atualmente no assentamento a demanda do uso dos

recursos naturais tem superado a capacidade de suporte do ambiente e isto está

contribuindo para o desenvolvimento de práticas agrícolas em áreas mais baixas nas

proximidades das matas ciliares, considerando que às áreas mais altas estão em um estágio

avançado de degradação e isto pode está relacionado à incompatibilidade entre o sistema

utilizado e o módulo rural. Rodrigues., et al (2010)

Não se pode negar que os problemas vivenciados pelas famílias que habitam os

territórios rurais maranhenses estão intimamente relacionados à ausência de políticas

públicas, de maneira especial o assentamento em estudo, principalmente as que se referem

ao contexto educacional.

[...] as relações não se desenvolvem no vácuo, mas sim nos territórios. As

relações são construídas para transformar os territórios. Portanto, ambos

possuem a mesma importância. As relações sociais e os territórios devem ser

analisados em suas completividades. Neste sentido, os territórios são espaços

geográficos e políticos, onde os sujeitos sociais executam seus projetos de vida

para o desenvolvimento. Os sujeitos sociais organizam-se por meios das relações

de classe para desenvolver seus territórios. No campo, os territórios do

campesinato e do agronegócio são organizados de formas distintas, a partir de

diferentes classes e relações sociais. (MOLINA, 2006 p.29)

Assim, não dá para pensar em educação campesina, sem refletir sobre projeto de

desenvolvimento da agricultura, o cotidiano no campo, o campo como espaço de valores,

ou seja, considerar as particularidades locais e os sujeitos que compõem este espaço.

Educação no Assentamento Palamares II: reflexões sobre o Programa Nacional de

Educação na Reforma Agrária – PRONERA

O campo como contexto educacional em suas dimensões socioeducativas, requer o

atendimento às especificidades e no Estado do Maranhão percebe-se ainda pouco

compromisso do poder público com a oferta da educação básica de qualidade como está

definido na LDB de 1996 que reconhece, em seus artigos 3º, 23º, 27º e 61º, a diversidade

sociocultural e o direito à igualdade e à diferença, possibilitando a definição de diretrizes

operacionais para a educação rural sem, no entanto, romper com um projeto global de

educação para o país.

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É visível a distância, entre as intenções expressas nos âmbito da legislação e nas

discussões realizadas pelos movimentos sociais em relação à organização do ensino, a

infraestrutura dos espaços, ao material didático, a formação dos docentes e do gestor

escolar e também de acompanhamento sistemático às ações pedagógicas, bem como aos

programas de suporte à educação, requerendo pesquisas sobre as questões institucionais e

organizacionais da Educação do campo no contexto maranhense.

A educação como política pública é fundamental para o campesinato. Esta

dimensão territorial é espaço essencial para o desenvolvimento de seus

territórios. Embora a Educação do Campo ainda seja incipiente, está sendo

pensada e praticada na amplitude que a multidimensionalidade territorial exige.

Desde a formação técnica e tecnológica para os processos produtivos, até a

formação nos diversos níveis educacionais, do fundamental ao superior para a

prática da cidadania [...]A educação é uma política social que tem importante

caráter econômico porque promove as condições políticas essenciais para o

desenvolvimento. Deste modo, para o desenvolvimento do território camponês é

necessária uma política educacional que atenda sua diversidade e amplitude e

entenda a população camponesa como protagonista propositiva de políticas e não

como beneficiários e ou usuários. (MOLINA, 2006, P.31)

O Assentamento em estudo possui uma escola que é fruto das reivindicações dos

movimentos sociais denominada de Unidade Integrada Francisco Rodrigues da Silva que

fica localizada no Assentamento Palmares II, atendendo alunos residentes no

Assentamento e funciona na modalidade seriada (figura 4).

Figura 4 – Escola que atende aos discentes residentes no Assentamento Palmares II

Autor: COELHO, Adriana Araujo/Junho de 2012

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De fato, a categoria educação termina refletindo nos diversos segmentos que

compõem o território e isso pode ser percebido na própria relação que a comunidade tem

com o ambiente. Pontuando estas questões Schultz; Lira (2011 pág. 108) afirmam que a

educação do campo,

Deve sempre buscar a solução de problemas reais da comunidade, para garantir a

permanência do camponês no campo, respeitando sua cultura e melhorando sua

qualidade de vida. Uma educação emancipadora, voltada para as várias

dimensões da pessoa humana, as quais envolvem concepções políticas,

ideológicas, tradicionais, morais, culturais, estéticas afetivas e religiosas e que se

constitui num processo permanente de (trans)formação dos camponeses

preparando-os para relacionar-se com a modernidade sem perder suas principais

características.

Nos Referenciais para uma Política Nacional de Educação do Campo (2003)

afirma-se, que a revalorização do campo é entendida no âmbito governamental como uma

ação estratégica para a emancipação e cidadania dos sujeitos que habitam o campo,

podendo contribuir de forma significativa para a promoção do desenvolvimento sustentável

regional e nacional.

A percepção dessas relações é importante para compreendermos as leituras

territoriais realizadas por estudiosos de diversas áreas do conhecimento e por diferentes

instituições que impõem seus projetos de desenvolvimento às comunidades rurais. Nesse

sentido, Mota; Schmitz (2002 pág.397) apontam que:

Falar do rural não é reportar-se apenas a um espaço geográfico, mas às relações

que são desenvolvidas ali e como estão inseridas em um todo envolvente. Falar

do rural é pensar em “rurais”, colcha de retalhos que constitui o mundo agrário

brasileiro sujeito às tensões crescentes da competitividade e da urgência de

preservação dos recursos naturais. Mas falar do rural é também apontar as pistas

que nos conduzam à melhor compreensão do mesmo.

Nesse contexto, podemos ressaltar que o PRONERA programa que atendeu o

Assentamento Palmares II, aborda em seus estudos o espaço campesino e tem se destacado

como uma das significativas conquistas da classe popular do campo, na luta por uma

educação específica do campo, que está sendo construída com e pelos camponeses, que

vem priorizando a idéia de uma construção a partir de sujeitos coletivos que estão inseridos

numa dinâmica de luta social, ou seja, sujeitos que pensam e refletem o ambiente social

que vivem.

O Pronera é um programa que estabelece importante parceria com os

movimentos sociais e Instituições de ensino superior que tem como propósito maior

realizar projetos para alfabetizar jovens e adultos e posteriormente ingressar no ensino

superior. Tem como objetivo fortalecer a educação em territórios de Reforma Agrária

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estimulando, desenvolvendo e coordenando projetos voltados para atender as necessidades

educacionais do campo a partir de uma proposta político-pedagógica apresentada num

manual de orientações técnicas para todos os estados que integram o programa

(COUTINHO, 2009)

Assim, o PRONERA apresenta-se como um projeto de educação específico para os

trabalhadores e trabalhadoras do campo, considerando que:

Tem a missão de ampliar os níveis de escolarização formal dos trabalhadores

rurais assentados. Atua como instrumento de democratização do conhecimento

no campo, ao propor e apoiar projetos de educação que utilizam metodologias

voltadas para o desenvolvimento das áreas de reforma agrária [...]capacita

educadores, para atuar nas escolas dos assentamentos, e coordenadores locais,

que agem como multiplicadores e organizadores de atividades educativas

comunitárias. O programa apoia projetos em todos os níveis de ensino [...] (

INCRA 2012)

No Estado do Maranhão, a concretização do PRONERA dá-se através de

parcerias envolvendo os Movimentos Sociais MST, Federação dos trabalhadores e

trabalhadoras da agricultura do estado do Maranhão (FETAEMA), bem como Associação

em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA) e as Instituições

Superiores de Ensino: Universidade Federal do maranhão, Instituto Federal do Maranhão

e Universidade Estadual do Maranhão. Araujo (2011, P. 8 e 9) destaca que,

o primeiro curso nível médio realizado pelo Pronera, foi em parceria com a

MST/ ASSEMA/ UFMA /INCRA/COLUN (Colégio Universitário), curso de

Formação de Professores na Modalidade Magistério, no período de 2002 a 2005.

Desta turma concluíram o curso nove pessoas do assentamento Palmares, sendo

seis mulheres e três homens [...]A parceria continuou e em 2006 iniciou outra

turma de Magistério que encerrou em 2009, da qual participaram cinco mulheres

e quatro homens do assentamento Palmares. Atualmente está em funcionamento

o projeto Pedagogia da Terra, através da mesma parceria, e muitos dos alunos

que compõe a turma são os alunos oriundos da primeira turma de magistério.

O quadro 1 apresenta um resumo dos discentes que foram atendidos pelo

PRONERA entre 2001 a 2009 perfazendo um total de vinte e sete pessoas formadas nos

diferentes cursos. Desse total vinte pessoas continuam morando no assentamento, dos

quais dezenove ocupam funções importantes para o desenvolvimento organizativo do

mesmo. Oito pessoas estão inseridas no processo educativo através da escola, sete são

educadoras e uma ocupa o cargo de gestora. Uma faz parte do Conselho Tutelar, outra é

agente de saúde comunitária efetiva no assentamento, cinco pessoas fazem parte da

Coordenação do Assentamento, e quatro contribuem com a organização interna do mesmo.

(Araujo, 2011)

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Quadro 1 – cursos que atenderam o Assentamento Palmares II de 2001 a 2009

CURSO

PERÍODO

QUANTIDADE

HOMENS MULHERES TOTAL

Magistério - 1ªTurma 2002 a 2005 03 06 09

Magistério - 2ªTurma 2006 a 2009 04 05 09

Técnico em Agropecuária 2006 a 2008 04 01 05

Técnico em Saúde Comunitária 2006 a 2008 X 02 02

Licenciatura em História 2004 a 2008 01 X 01

Licenciatura em Pedagogia 2001 a 2005 X 01 01

TOTAL 12 15 27

Fonte: Araujo, Lenilde Alencar/2011

Dessa forma, colocam-se como princípios fundamentais da educação voltada para

atender as necessidades do campo a transformação social e valores como justiça social

vinculada às lutas pela democracia, a solidariedade e valores humanistas.

Para tanto, a educação do campo deve pensar na educação que considere o

cotidiano do campo, desvinculando-se do modo de produção capitalista que sempre pensa

em uma educação para o mercado de trabalho.

Para Lefebvre (2001), a produção implica e compreende a produção das ideias, das

representações, da linguagem intimamente misturada a atividade material e ao comercio

material dos homens. A produção não deixa nada fora dela, nada do que é humano, ou seja,

há produção das representações, das idéias, das verdades, assim como das ilusões e dos

erros. Há produção da própria consciência. A consciência é, portanto um produto social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões apresentadas nesse estudo apontam que o desenvolvimento

territorial, seja ele urbano ou rural, está intimamente relacionado à aplicabilidade de

políticas públicas educacionais. Entretanto, é exatamente no contexto campesino que as

deficiências educacionais se acentuam.

O estudo tenta estabelecer um dialogo com os autores que tratam das concepções de

território e, sobretudo procurou relacionar esse entendimento com as políticas educacionais

do campo. De fato, a categoria educação termina refletindo nos mais diversos segmentos

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que compõem o território e isso pode ser percebido na própria relação que a comunidade

tem com o ambiente.

As atividades econômicas realizadas no assentamento em estudo estão voltadas

para a agricultura familiar, destacando-se como principais produtos o arroz, feijão e milho.

O estudo destacou ainda que no Estado do Maranhão, a concretização do Programa

Nacional de Educação na Reforma Agrária PRONERA deu-se através de parcerias

envolvendo os Movimentos Sociais MST, Federação dos trabalhadores e trabalhadoras da

agricultura do estado do Maranhão (FETAEMA), bem como Associação em Áreas de

Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA) e as Instituições Superiores de Ensino:

Universidade Federal do maranhão, Instituto Federal do Maranhão e Universidade

Estadual do Maranhão

Assim o campo não pode limitar-se apenas ao fator econômico, é preciso priorizar a

valorização social, ambiental, cultural e principalmente as questões educacionais, ou seja,

considerar os fatores endógenos reduzindo a dependência externa.

REFERÊNCIAS

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FORMAÇÃO DE JOVENS CAMPONESES PELO PRONERA. Artigo de Conclusão de

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