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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO: UMA ABORDAGEM SOBRE O COTIDIANO DOS FUNCIONÁRIOS DENTRO DA EMPRESA
AUTOR
Luciana Ferreira Cabral
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO: UMA ABORDAGEM SOBRE O COTIDIANO DOS FUNCIONÁRIOS DENTRO DA EMPRESA
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Luciana Ferreira Cabral.
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Agradeço a Deus pela vida, pelas oportunidades, saúde, inspiração e força para continuar lutando.
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A todos os professores que ministraram as disciplinas do curso. Aos meus pais. Aos meus colegas de sala de aula. Em especial a amiga Luciene Costa pelo seu incentivo e apoio.
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RESUMO O assédio moral no ambiente de trabalho atualmente é um problema que anda causando grandes conseqüências, não só para o funcionário, como também para a empresa, pois o trabalhador que passa por esse tipo de problema pode sofrer de vários transtornos psíquico e físico levando-o a adquirir vários tipos de doenças que o leva a deterioração da sua vida, levando muito tempo para se curar. As discussões feitas pela área do Direito ainda é um tanto “tímida”, pois os juristas ainda estão buscando solução para cuidar desse tema na Constituição Federal. As empresas por sua vez, em muitos casos, não detém um sistema que funcione adequadamente junto à área de recursos humanos para ajudar o trabalhador que sofre desse tipo de transtorno. As Leis que vigoram no país ainda são muito restritas e só em alguns municípios é que ela prevalece, mas em âmbito nacional, ainda não se tem de fato uma Lei Federal que tratem dessa abordagem com afinco. Palavras-chave: Assédio moral. Direito do trabalho. Lei. Trabalhador.
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METODOLOGIA
O presente trabalho constitui-se em uma descrição detalhada das
características jurídicas do fenômeno em estudo, do tratamento conferido a cada
uma delas pelo ordenamento jurídico nacional e de sua interpretação pela
doutrina especializada, tudo sobre o ponto de vista específico do direito positivo
brasileiro e das leis que vigoram.
Para tanto, o estudo que ora se apresenta foi levado a efeito a partir do
método da pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em diversos
tipos de publicações, como livros e artigos em jornais, revistas e consultas a sites
na web.
Por outro lado, a pesquisa que resultou nesta monografia também foi
empreendida através do método dogmático, porque teve como marco referencial
e fundamento exclusivo a dogmática desenvolvida pelos estudiosos que já se
debruçaram sobre o tema anteriormente. Através da leitura dos textos, buscou-se
apenas identificar a realidade social em estudo e o tratamento jurídico a ela
conferido, sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro e da lei
vigente no país.
Adicionalmente, o estudo que resultou neste trabalho identifica-se,
também, com o método da pesquisa aplicada, por pretender produzir
conhecimento para aplicação prática, assim como com o método da pesquisa
qualitativa, porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e
qualificação dos fenômenos estudados; identifica-se, ainda, com a pesquisa
exploratória, porque buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão
proposta, além da pesquisa descritiva, porque visou a obtenção de um resultado
puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do tema.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8
CAPÍTULO I
CONCEITO SOBRE O ASSÉDIO MORAL ......................................................... 10
1.1 ALGUMAS PESQUISAS E ESTUDOS SOBRE A CONCEITUAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL ............................................................................................... 11 1.2 AS FASES DO ASSÉDIO MORAL ............................................................... 12
CAPÍTULO II
O ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO .......................................14
2.1 O QUADRO DE ASSÉDIO MORAL ...............................................................17
CAPÍTULO III
CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O TRABALHADOR .............19 3.1 A QUEM A VÍTIMA DEVE RECORRER .........................................................20
3.2 COMO A VÍTIMA SE SENTE FÍSICA E MENTALMENTE .............................21 3.3 PERFIL DO AGRESSOR ...............................................................................23
CAPÍTULO IV
NATUREZA JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL 26
CONCLUSÃO....................................................................................................... 30
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 32
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INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende focalizar nas pesquisas bibliográficas a questão do
assédio moral no cotidiano dos trabalhadores. Busca de certo modo expor o
assunto o mais preciso seguro para que se entenda de fato o que anda ocorrendo
no ambiente de trabalho levando-se em conta a abordagem do tema em questão.
O estudo aqui mencionado leva em consideração a posição dos juristas
sobre o tema abordado, pois apesar de ser um assunto bastante antigo no mundo
ainda é recente no país, e não se tem uma lei federal que possa direcionar o
trabalhador a buscar seus direito dentro da empresa quando sofre com esse tipo
de violência. Visto que no ambiente de trabalho, com a constante modernização
dos setores industriais e empresariais o foco maior ficar por conta dos lucros e,
nesse caso, o trabalhador acaba por ficar desprotegidos de leis que o favoreça. E
com isso todos tendem a sair perdendo de certa forma porque uma vez
assediado, o trabalhador passa a render menos no trabalho e com isso a empresa
também sai perdendo.
O assédio moral no trabalho é uma questão a ser discutida pela área do
Direito, mesmo sendo a questão ainda recente no âmbito dos juristas, esse tema
merece destaque por se tratar de um assunto bastante recorrente no cotidiano
dos trabalhadores. Com a constante exposição dos trabalhadores as situações,
muitas vezes, humilhantes e constrangedoras, durante a jornada de trabalho,
fizeram com que os juristas começassem a pensar e a analisar meios para
defender essa abordagem.
Busca-se aqui tentar levantar discussões e discutir mecanismos que
possam favorecer os interesses não só do empregado assediado, como também
dos responsáveis que usam da prática do assédio moral para tentar destruir suas
vítimas.
A área do Direito busca fundamento para cuidar desse tema na
Constituição Federal que é abordado em seu Art. 5º, V e X, no Título II (Dos
direitos e Garantias Fundamentais) a proteção e o direito individual e coletivo do
cidadão o que torna esse assunto bastante discutido nos dias atuais, mas que
ainda é muito lento, em se tratando de lei federal.
O fato de o assédio moral ocorrer com bastante freqüência, leva os
funcionários em sua maioria a se retrair e em alguns casos por não resistirem à
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pressão pedem demissão e, dessa forma, a impunidade aos responsáveis de tal
ato se prevalece. Por falta de informação de como proceder juridicamente no
processo trabalhista, esses funcionários abrem mão dos seus direitos e acabam
se prejudicando simplesmente por não ter assistência de um profissional
qualificado dentro da empresa que lhe der apoio jurídico.
Por conta disso, é importante pesquisar como a justiça do trabalho está
analisando essa prática, verificar na Jurisprudência e na Doutrina, já que ainda
não existe, no país, uma Lei Federal sobre o assunto para cuidar do assédio
moral, por ser um fato ainda muito recente.
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CAPÍTULO I
CONCEITO SOBRE O ASSÉDIO MORAL
O assédio moral é toda conduta que venha causar constrangimento
psicológico ou físico à pessoa. Entretanto, independente da definição, se faz
necessário compreender que o assédio moral se caracteriza pelo abuso do poder
de forma repetida. Dentre sua natureza, verifica-se haver pelo menos dois tipos
de assédio que se distinguem, a saber: o assédio sexual e o assédio moral. Esse
trabalho visa focar o assédio moral e suas consequências no ambiente de
trabalho.
O acelerado ritmo nas organizações de trabalho e de produção, juntamente
com as mudanças que ocorrem constantemente no mundo globalizado, estão
entre os principais causadores da violência sofrida pelos trabalhadores nas
últimas décadas.
As empresas adotaram a produtividade como regra. Busca-se a todo
instante o aumento da produção e dos lucros, exigindo do trabalhador empenho e
capacitação exacerbada e, isso acaba nascendo um ambiente propício à prática
do assédio moral (Carvalho, 2009, p. 56).
A maioria dos trabalhadores sabe que o assédio moral no trabalho não é
um acontecimento recente. Ele é tão antigo quanto o próprio trabalho, mas a
reflexão e o debate a respeito do assunto são recentes no Brasil (FENIX, 2003, p.
13).
O termo assédio moral surgiu no país, pela primeira vez, no texto do
Projeto de Lei nº 425/1999 apresentado à Câmara Municipal de São Paulo, que
versava sobre a aplicação de penalidades à prática desse comportamento no
âmbito da administração direta municipal, mas o projeto só foi convertido em lei
municipal (Lei 13.288) em 2002 e, neste intervalo, foi publicada, pelo município de
Iracemápolis, a primeira lei municipal brasileira sobre o assédio moral, a Lei nº
1.163, com aplicação restrita aos servidores públicos municipais (Aguiar, 2009, p.
265-266).
De acordo com Carvalho (2009, p. 55) a prática do assédio moral existe em
toda parte, com repercussões na esfera familiar, estudantil e com maior
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intensidade no ambiente de trabalho, e isso acontece em decorrência da relação
de subordinação que existe entre capital e força de trabalho.
Silva (2006, p. 19) afirma que a violência moral no trabalho, começou a
ganhar maior visibilidade no mundo na década de 1980. E atualmente esse fato
cresce cada vez mais dentro das empresas, tanto com o chefe em relação aos
seus subordinados quanto com colegas de uma mesma equipe.
Observa-se que a prática do assédio moral viola e agride o princípio da
dignidade do trabalhador, atinge sua personalidade, bem como prejudica sua
integridade psíquica e física acarretando prejuízos à sua saúde (Carvalho, 2009,
p. 61).
Por isso é que esse tema necessita ser muito bem estudado pela área de
Recursos Humanos dentro das empresas, pelos sindicatos e pelas leis que
venham a vigorar no país, pois o trabalhador necessita de um amparo legal para
buscar auxílio caso necessite.
Carvalho (2009, p. 61) ressalta que o assédio moral acontece dentro das
organizações empresariais por falta de habilidade dos administradores em lidar
com os conflitos advindos das relações de trabalho. Visto que essa prática
prejudica, degrada, destrói o ambiente de trabalho, desestabilizando a vítima, e
provoca nela um verdadeiro desgaste emocional atrapalhando dessa forma suas
tarefas diárias. E com isso quem sai perdendo é o próprio empregador, uma vez
que a vítima começa a não render tanto no trabalho.
De acordo com Heloani (2005, p. 104) o assédio moral é caracterizado
intencionalmente e consiste na constante e deliberada desqualificação da vítima,
seguida de sua consequente fragilização, com o intuito de neutralizá-la em termos
de poder. Trata-se de um processo disciplinador em que se procura anular a
vontade daquele que, para o agressor, se apresenta como ameaça. Por conta
disso, se faz necessário que se defina lei que ampare o trabalhador.
1.1 ALGUMAS PESQUISAS E ESTUDOS SOBRE A CONCEITUAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL
Os primeiros estudos sobre o assédio moral foram realizados na Itália
pelo pesquisador alemão, Haroldo Ege. O assédio moral na Itália vem sendo
objeto de discussões e debates em seminários e encontros designados para este
fim, além de ter cada vez mais espaço privilegiado nos meios de comunicação,
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como revistas especializadas, que divulga a notícia sempre que surgem casos
concretos pelos Tribunais Italianos (Paroski, 2009, p. 41).
A Suécia, por sua vez, foi o primeiro país a criar uma lei própria para o
combate ao assédio moral. E isso se deve em grande parte, ao trabalho pioneiro
do cientista Heinz Leymann, tendo tratado aproximadamente 1300 pacientes
vítimas do assédio moral, numa clínica com programas de tratamentos projetados
para esse fim (SCHWEIZER, 2009, p. 100).
A França veio como segundo país a elaborar uma lei específica para o
assédio moral, “com a aprovação de norma legal, com uma emenda ao projeto de
lei de modernização social, adotada em primeira instância, introduzindo a noção
de assédio moral na legislação trabalhista e prevendo pena a sua prática”
(SCHWEIZER, 2009, p. 100-101). Mas ainda há diversos países na Europa que
ainda não possuem leis específicas para o enquadramento do assédio moral,
como Portugal, Itália, Espanha e etc.
De acordo com (PAROSKI, 2009, p. 46) Alguns países, como “França,
Estados Unidos, Alemanha, Itália, Austrália e Suécia, já têm em seu ordamento
jurídico dispositivos visando à redução e à punição dos casos de assédio moral.
Em outros países, como Chile, Uruguai, Portugal, Suíça e Bélgica, têm-se notícias
de projetos de lei nessa direção”, mas que ainda não é muito avançado.
No Brasil, diversos municípios já têm leis que coíbem o assédio moral,
porém especificamente na Administração Pública.
1.2 AS FASES DO ASSÉDIO MORAL
O psicólogo Heinz Leymann descreveu quatro fases para o assédio
moral, a saber: fase 1, conflitos, ataques, mesquinharias e humilhações; fase 2, a
instalação do assédio; fase 3, a intervenção tardia da área de Recursos Humanos
e, na fase 4, a exclusão do mercado de trabalho. Segue explicação sobre essas
quatro fases.
Fase 1: Conflitos de trabalho do dia-a-dia
O conflito está presente em todas as relações, não somente nas relações
de trabalho. É através do conflito que se chega à evolução de ideias. Dessa
forma, o conflito busca o progresso, mas, quando ele é negativo, pode ser o início
de um processo de assédio moral (ZANETTI, 2009, p. 203).
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Fase 2: Instalação do assédio
Nessa fase, não se sabe exatamente ao certo quando começa, por isso é
que o superior hierárquico tem um papel importante para desmontar o assédio,
tomando atitudes para evitar que um simples conflito venha a se tornar um
assédio moral (ZANETTI, 2009, p. 203-204).
Fase 3: Intervenção da área de Recursos Humanos
É importante que o responsável pela área de recursos humanos procure
intervir quando começa observar atitudes que podem caracterizar o assédio, pois
quando deixar passar seis meses ou mais, sem intervir o perigo é grande em não
conseguir mais resolver o problema (ZANETTI, 2009, p. 204).
Fase 4: exclusão do mercado de trabalho
A pessoa é isolada e lhe tira o trabalho; transferências sucessivas, sem
motivo justificado; afastamento por doença; decisão administrativa de
internamento psiquiátrico; licenciamento com indenização ou colocação em
invalidez (ZANETTI, 2009, p. 205). Por isso é que tanto a empresa quanto o
trabalhador necessita ficar atento às atitudes que possam vir a se transformar em
algum tipo de assédio, pois só dessa forma se poderá criar um ambiente saudável
para todos.
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CAPÍTULO II
O ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO
O assédio moral manifesta-se por inúmeras formas, seja por comunicação
escrita, verbal ou não verbal (Felker, 2007, p. 193).
Para melhor compreensão o assédio moral no local de trabalho pode ser
entendido como toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo por
comportamentos, palavras, atos, gestos, que possam trazer dano à
personalidade, á dignidade ou á integridade física ou psíquica de uma pessoa
colocando em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho
(HIRIGOYER, 2000, p. 65). Esses fatos têm causado bastantes danos ás pessoa
que passam por ele, pois em alguns casos, pode frustrar a vida do indivíduo por
muito tempo.
Observa-se que atualmente é cada vez mais comum a prática do assédio
moral no ambiente de trabalho e isso acaba expondo os trabalhadores a
situações humilhantes e constrangedora, repetitiva e prolongada durante a
jornada de trabalho. Os agressores se utilizam de tais métodos para
desestabilizar a relação do empregado com o ambiente de trabalho e a empresa,
cujo objetivo principal, na maioria das vezes, é forçar a demissão do trabalhador
(Silva, 2006, p. 20).
Cabe ainda observar que muitos administradores, tanto no setor público ou
privado, cultivam o assédio moral como “técnica” administrativa, “procurando levar
com mãos de ferro seus subordinados, entendendo que a única forma de
conseguir maior produtividade, obediência e disciplina no trabalho seria a ameaça
do chicote” (FELKER, 2007, p. 196). Desta forma, o trabalhador se submete a
determinados tipos de tarefas, muitas vezes, com medo de perder o seu emprego.
De acordo com (HELOANI, 2005, p. 104) “o assédio moral nasce com
pouca intensidade, como algo inofensivo, pois as pessoas tendem a relevar os
ataques, levando-os na brincadeira; depois, propaga-se com força e a vítima
passa a ser alvo de um maior número de humilhações e de brincadeiras de mau-
gosto”.
Isso acontece justamente por que as vítimas temem fazer denúncias formais, com medo do “revide” que poderia ser a demissão ou o rebaixamento de cargo, por exemplo; além de que essas denúncias iriam tornar pública a humilhação pela qual passaram, o que as deixaria ainda mais constrangidas e envergonhadas (HELOANI, 2005, p. 105).
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Dessa forma, o medo e a vergonha de explicitar esse tipo de ato levam o
trabalhador a se calar e, em muitos casos, preferem pedir demissão a ir buscar
ajuda profissional acobertando a covardia dos ataques. No cotidiano do
trabalhador é bastante comum a presença do abuso desse ato, pois o agressor
age de forma tão sutil que o trabalhador nem percebe que está sendo vítima de
tal abuso.
A prática do assédio moral no ambiente de trabalho trás conseqüências
danosas a toda sociedade. “Prejudica a empresa, na medida em que atinge o
trabalhador, seja na questão pessoal ou profissional” (CARVALHO, 2009, p. 95).
Carvalho (2009, p. 95) segue discorrendo que a prática do assédio moral
prejudica o empregador em decorrência da diminuição da produtividade, alto índice de absenteísmo, além dos custos com indenizações. Acarreta dano ao Estado, visto que este arca com custeio de tratamento da saúde da vítima, bem como com o pagamento de benefícios previdenciários, tais como: seguro desemprego ou aposentadorias precoces decorrentes do terror psicológico (CARVALHO, 2009, p. 95).
O problema se apresenta mais grave por falta da inexistência de proteção
jurídica específica para a proteção contra a prática do assédio moral no âmbito do
direito do trabalho. Pois a conduta de tal prática viola dever jurídico imposto pela
própria Constituição da República, “eis que afronta o dever geral de respeito à
dignidade da pessoa humana do trabalhador e seus direitos de personalidade”
(CARVALHO, 2009, p. 95-96). “Consoante disposição do art. 5º, X, da Lei Maior,
são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”.
De uma forma geral os doutrinadores pouco se afastam do conceito de
assédio moral,
sendo ponto nodal o fato de que o assédio moral atinge a dignidade do trabalhador por meio de perseguições feitas das formas mais diversas possíveis. De forma reiterada e que se prolonga por um determinado lapso temporal, buscando aniquilar a sua auto-estima, por meio de tratamento humilhante e degradante, atingindo os direitos de personalidade da vítima, como sua honra, bom nome, intimidade, pleno desenvolvimento de sua personalidade e liberdade de expressão (SCHWEIZER, 2009, p. 57).
Observa-se que não existe uma legislação específica, acerca do assédio
moral no ambiente de trabalho, no ordenamento jurídico, limita-se aos órgãos da
Administração Pública Direta e Indireta, no âmbito municipal e estadual. “No que
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se refere ao plano federal, existe alguns projetos de lei que se encontra em
tramitação, destacando-se o Projeto de Lei nº 4.742/2001, o qual pretende
introduzir o Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), o art. 146-A, tipificando
como crime o assédio moral” (CARVALHO, 2009, p. 111). Mas essa lei ainda não
foi aprovada e com isso, o trabalhador que passa por esse tipo de problema fica
sem saber a quem de fato recorrer.
De acordo com Nascimento (2009, p. 6) na Legislação brasileira a prática
de assédio moral se define e se regula de modo pormenorizado apenas em
relação ao serviço público, como visto, por meio de diversas leis estaduais e
municipais, muita das quais também atentas ao aspecto preventivo do assédio
moral. Os trabalhadores da iniciativa privada e os servidores públicos federais,
por sua vez, ainda carecem de uma proteção específica, apesar da existência de
alguns projetos de lei a respeito.
Desse modo, o assédio no ambiente de trabalho deve ser prevenido e
tratado pela empresa como uma ameaça real para a saúde física e mental dos
empregados. Seguem dois quadros explicativos sobre medidas de prevenção
tomadas pela empresa e medidas a serem tomadas pelo assediado:
Quadro 1: Medidas de prevenção a serem tomadas pela empresa Formação e informação dos trabalhadores e gerentes a respeito do assédio moral. Treinamento dos gerentes em técnicas de administração. Participação efetiva dos trabalhadores na vida da empresa. Aumento da autonomia dos trabalhadores. Definição de tarefas e funções e de condições de trabalho. Declaração expressa da empresa de que não tolera condutas que constituam abuso de poder. Planificação e desenho das relações sociais na empresa. Incentivo às boas relações de trabalho. Estar atento para aumento súbito e injustificado do absenteísmo. Fonte: (NASCIMENTO, 2009, p. 119-120)
Quadro 2: Medidas a serem tomadas pelo assediado Nunca se calar caso suspeite de que se está sofrendo uma possível situação de assédio. Ninguém é obrigado a suportar abusos e injúrias e assédios de qualquer tipo. É necessário socializar o tema. Não se deve tentar solucionar o problema e lutar sozinho contra ele. Deve-se reagir rapidamente e comunicar a situação a colegas de trabalho de confiança e eventual comitê encarregado da prevenção de riscos ocupacionais. A intervenção da empresa deve ser solicitada. Devem-se afastar pensamentos de desvalorização e evitar sentir-se culpado pela prática do assédio, ou de ser o motivo deste. Se necessário, pode-se buscar
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apoio psicológico. Eventualmente, pode-se apresentar uma denúncia à Delegacia Regional do Trabalho (DRT), ao Ministério Público do Trabalho (MPT) ou ajuizar demanda perante a Justiça do trabalho. Fonte: (NASCIMENTO, 2009, p. 120)
2.1 OQUADRO DE ASSÉDIO MORAL
Em se tratando do assedio moral as classificações ocorrem na esfera de
entendimento dos doutrinadores e, sem dúvida, na construção jurisprudencial. No
entanto, é forte o entendimento de que o assédio moral pode efetivar-se tanto na
esfera vertical das relações - superior e subordinado hierárquico como na
horizontalidade, entre colegas em relação ao ambiente competitivo. (Barreto,
2009, p. 58-59). Toda classificação varia de acordo com a visão metodológica de
cada autor. Segue algumas explicações sobre as formas de como pode acontecer
o assedio moral no ambiente diário de trabalho.
a) Assédio horizontal
É praticado entre sujeitos de mesmo nível hierárquico, sem nenhuma relação de subordinação entre si. b) Assédio vertical
É aquele praticado entre pessoas de diferentes níveis hierárquicos,
envolvidos em uma relação jurídica de subordinação. Essa modalidade é a mais
comumente admitida de assedio moral, dada a desigualdade entre as pessoas
envolvidas.
c) Assédio misto
Esse tipo de assedio exige a presença de pelo menos três sujeitos que são
eles, o assediador vertical, o assediador horizontal e a vítima.
d) Assédio ascendente
É quando o hierarquicamente inferior agir com o intuito de assediar o seu
superior. Esta violência não é tão rara como se possa imaginar, a primeira vista.
Têm-se como exemplos, situações em que alguém é designado para um cargo de
confiança, sem a ciência de seus novos subordinados.
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e) Assedio vertical descendente
Quando é praticado pelo hierarquicamente superior, com o intuito de atingir
o seu subordinado, em razão do sentido adotado pela conduta.
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CAPÍTULO III
CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O TRABALHADOR
A vítima de violência moral, na maioria das vezes, não consegue
compreender o que se passa quando sua rotina de trabalho começa a ser mais
ocupada com atenção a reclamações e pressões do chefe do que com o
desempenho das suas atividades profissionais. Dessa forma, quando ela é
chamada a atenção, sente-se, em geral, culpada e responsável pela agressão
sofrida. Ela não consegue entender os fatos, pois o agressor não lhe dá
satisfação e a ignora, passando a hostilizá-la, ridicularizá-la até que se sinta
culpada, confusa e desestabilizada emocionalmente. Por isso é que, nesse caso,
o melhor a fazer é evitar o conflito direto e não revidar a agressão, pois é
justamente o contrário o que o assediador está querendo como justificativa para
destruir a sua vítima (Silva, 2006, p. 23).
Como destaca (SILVA, 2006, p. 23) “o empregado assediado é prejudicado
em sua saúde psíquica e física, causando uma ruptura do equilíbrio nas relações
da vítima com os colegas, chefia, no seio familiar e da sociedade, prejudicando a
qualidade de vida dentro e fora da empresa”.
A baixa estima pessoal e profissional tende a se agravar quando a vítima romper com a organização do trabalho e ficar desempregada, pois o dano à saúde mental e física conduz ao trauma, que por sua vez, leva a insegurança, prejudicando a vítima numa nova colocação no mercado de trabalho. A produtividade também é afetada, seja pela queda na quantidade ou qualidade, ou ainda temendo o desemprego ou como fuga da situação degradante; suporta a dor em silêncio e se dedica intensamente às atividade laborativas, ficando vulnerável a adquirir o stress de sobrecarga, também conhecido como burnout, doença psicossomática, fruto do desgaste físico e mental pela sobrecarga de trabalho que gera depressão, afetando a produtividade (SILVA, 2006, p. 23).
Pelo que se observa o assédio moral é uma prática prejudicial a todos que
estão envolvidos no problema, pois prejudica o rendimento do trabalhador e cria
um ambiente tenso no local de trabalho que, na maioria das vezes, o trabalhador
pede demissão por não agüentar a tensão.
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3.1 A QUEM A VÍTIMA DEVE RECORRER
Nesse caso a vítima deveria ter um órgão específico dentro da empresa
para cuidar dos seus interesses caso ela venha a sofrer de assédio moral, mas
ela tem ou teria, caso funcionasse adequadamente a seu favor, a área de
Recursos Humanos que é o setor dentro da empresa que cuida desse tipo de
problema.
Apesar de na maioria das vezes já estarem conscientes da realidade do
problema, os diretores de recurso humanos oscilam entre a negação, a
banalização e a perplexidade. “É preciso dizer que a posição deles é ambígua,
como se estivessem entre a cruz e a espada” (HIRIGOYEN, 2002, p. 296).
O que se espera dos Diretores de Recursos Humanos dentro das
empresas é que eles deveriam ser os mais bem posicionados para enquadrar um
“assediador” porque eles servem de elo entre os empregados e a direção. Mas
“na realidade, apenas reproduzem de maneira neutra as instruções da direção e
hesitam em intervir” (HIRIGOYEN, 2002, p. 296-297).
Para ajudar os empregados que sofrem de assédio moral, os Diretores de
Recursos Humanos deveriam fazer uma investigação objetiva e procurar
estabelecer as responsabilidades. “Mesmo que não chegue a certeza a respeito
das origens do que está ocorrendo, não terá sido perda de tempo, pois é um meio
de recuperar a confiança dos empregados, mostrando-lhes que, de fato, estão
interessados no que têm a dizer” (HIRIGOYEN, 2002, p. 298).
Os empregados também podem contar com o apoio dos sindicatos que
mesmo ainda que lentamente, eles já estão começando a se conscientizar da
realidade do assédio moral e tentando agir. Porém os órgãos sindicais, segundo
levantamento, só estão presentes em cerca de sessenta e cinco por centos das
empresas, muito trabalhadores individualmente, desconfiam dele e considera que
o coletivo seja favorecido em relação ao individual.
Dessa forma, os empregados jovens desconfiam dos sindicatos e optam
muitas vezes pela ação individual. Já os executivos hesitam em pedir ajuda aos
sindicatos, pois temem que a situação fique ainda pior. Todavia, é papel dos
sindicatos examinarem os casos de gestão pelo estresse que pode abri caminho
para o assédio moral (Hirigoyen, 2002, p. 291).
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3.2 COMO A VÍTIMA SE SENTE FÍSICA E MENTALMENTE
A vítima é aquele empregado que sofrem reiteradas e sistemáticas
agressões morais, que têm por objetivo isolá-lo e excluí-lo da organização de
trabalho. Para se ter ciência se o assedio está ocorrendo com um determinado
trabalhador, a primeira coisa a ser analisada por ele é se, nos últimos dias de
trabalho, a sua preocupação estiver voltada para as suas atividades ou para o
chefe. Se perceber a segunda hipótese, é provável que esteja sendo vítima de
assédio moral. Outro fator a ser analisado é a ocorrência de críticas freqüentes do
chefe ao trabalhador, isso tudo se constitui em forte indício de violência moral
(Silva, 2006, p. 35).
Porém, antes de qualquer providência, como ressalta Hirigoyen (2010), “é
importante observar bem o processo de assédio e, se possível, analisá-lo”.
Quando o trabalhador começar a ter a sensação de estar tendo ameaçada a
própria dignidade ou a própria integridade psíquica em virtude da atitude hostil de
uma ou várias pessoas, e se isso acontece regularmente e por um longo período,
pode-se pensar que se trata efetivamente de um assédio moral (HIRIGOYEN,
2010, p. 191). “O ideal é reagir o mais cedo possível, antes de ser mergulhado
em uma situação em que não haja mais outra solução a não ser sair do emprego”.
O que a vítima deverá fazer para construir provas que demonstre estar
sofrendo de assédio? Nesse caso, a vítima deverá acumular os dados, os indícios
registrar as injúrias, fazer foto-cópia de tudo que poderá, em um momento ou
outro, constituir sua defesa (Hirigoyen, 2010, p. 191). A autora segue discorrendo
que seria fundamental que a vítima, garantisse apoio de testemunhas. Mas em
muitos casos, os colegas muitas vezes não se solidarizam com a pessoa
assediada, por medo de represálias. No entanto, basta um testemunho para dar
fé às alegações de uma vítima.
No cotidiano do trabalhador existem vários danos que ele pode vir a
adquirir durante a exposição violenta ao assedio moral. Segue abaixo quando
explicando um pouco dessas questões:
22
Quando 3: Danos adquiridos durante a exposição violenta ao asseio moral • Dificuldades emocionais • Alterações no sono • Alterações na capacidade de concentra-se e memorizar • Anulação dos pensamentos que relembre a tortura psicológica • Diminuição da capacidade de fazer novos amigos • Diminuição do interesse em manter atividades antes
consideradas importantes • Sensação negativa do futuro, vivência depressiva • Sentimentos de culpa, pensamentos suicidas, entre outros
Fonte: (SILVA, 2006, p. 24)
Quem são as maiores vítimas do assedio moral no trabalho? O alvo desse
tipo de violência, geralmente não é um trabalhador preguiçoso ou até mesmo
descuidado, mas si os trabalhadores de boa fé, responsáveis, bem-educados e de
relevantes atributos profissionais e morais. E é geralmente por esse motivo que o
assediador os escolhe, por terem algo que ele não tem. Nesse caso, a vítima
tanto pode ser homem ou mulher, que vai desde o trabalhador com função
simples até aquele com função do alto escalão. (Silva, 2006, p. 32).
Estudos analisaram que para alcançar o seu objetivo, o assediador utiliza-
se dos mais variados meios, a saber:
Quando 4: Métodos utilizados para agredir a vítima • Culpar a vítima por erros profissionais – impor insegurança profissional,
atribuindo a ela todo e qualquer erro que ocorre na empresa, mesmo que o erro não tenha haver com suas atribuições;
• Recusa na comunicação – limita a sua comunicação, passando a interrompê-la com freqüência; critica seu trabalho com grosserias;
• Submeter a vítima a acusações maledicentes – fazendo insinuações maldosas, em geral fazendo referencias desrespeitosa a respeito de seus dotes físicos, capacidade intelectual, vida familiar, orientação sexual ou religiosa;
• Destruição da auto-estima – desqualificando moralmente, falando mal dela pelas costas, atribuindo apelidos ridículos;
• Isolamento – busca isolar a vítima no ambiente de trabalho por meio de proibição de conversa entre os demais companheiros de trabalho, assim como restringindo o acesso às informações gerais;
• Constrangimento – atribuindo tarefas inúteis, vexatórias, degradantes, ou estabelece metas inatingíveis.
Fonte: (CARVALHO, 2009, p. 79)
Pelo observado, pode-se afirmar que a conduta do assediador tem como
objetivo desqualificar e eliminar a vítima do ambiente de trabalho. “No âmbito do
23
Direito do Trabalho, a repetição/reiteração é também denominada habitualidade,
que pode ser definida como aquilo que ocorre por hábito, repetição, de maneira
regular e permanente, é considerado assédio moral” (CARVALHO, 2009, p. 80).
3.3 PERFIL DO AGRESSOR
Na maioria das vezes, o agressor que pratica o assédio moral tem um perfil
de uma pessoa perversa, que se sente realizado em praticar tal conduta, que fica
feliz vendo o sofrimento e o desespero alheio, ou seja, gosta de demonstrar poder
e força diante do seu subordinado, sem quaisquer limites éticos (Lima, 2009, p.
44).
Por isso é que, dependendo do comportamento do empregador, em
relação ao trabalhador, pode ser aplicada a Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995,
que veda a adoção de qualquer prática discriminatória por parte do empregador
com seu funcionário. Essa Lei vale para qualquer tipo de descriminação, como:
origem, sexo, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade (Lima, 2009, p. 45).
O assediador/agressor utiliza seu poder para exercer pressão psicológica
nos subordinados, manipulando-os de acordo com seu bel-prazer. Ele apresenta
uma personalidade narcisista e dominadora, acredita, muitas vezes, ter
superioridade moral em relação aos demais (Pontelo, 2012, p. 17). Segue
algumas características do agressor em relação a sua vítima:
• O agressor age confundindo psicologicamente a vítima, tendo um
comportamento perverso e abusivo;
• Escolhe a vítima e a isola do grupo, agredindo-a sempre que estão a sós;
• Costuma impedir que a vítima se expresse, mas não explica o porquê;
• Menospreza, inferioriza, fragiliza, ridiculariza sempre a vítima perante os
outros, demonstrando uma falsa superioridade;
• Responsabiliza e culpa a vítima por qualquer coisa perante os outros,
chegando a invadir a vida particular do empregado;
• Desestrutura o emocional e o profissional da vítima;
• Tem comportamento imperioso e arrogante;
• Subestima a capacidade do trabalhador
• Tem necessidade de ser admirado (Pontelo, 2012. p. 18).
24
De acordo com Felker (2007, p. 92) diversos autores e mesmo entidades
têm procurado uma classificação dos agressores na figura do assédio moral, tais
como:
a) O instigador
Coloca sua criatividade em busca de formas de aterrorizar a vítima.
b) O casual
Manifesta-se a partir de evento ocasional; bem-sucedido, procura
eternizar o conflito, passando a agredir permanentemente a vítima.
c) O colérico
Intolerante e mal-humorado, exterioriza seus problemas com agressões
constantes.
d) O megalômano
Mantém um senso da grandiosidade de sua pessoa, que considera de um
valor imensurável.
e) O frustrado – a inveja e o ciúme dos outros infernizam sua existência,
alimentando seu poder de destruição;
f) O crítico
Critica muito, mas não apresenta soluções, e se alguém as apresenta,
rejeita-as.
g) O puxa-saco
Sua ambição faz com que agrida quem considere capaz de obstar sua
ascensão.
h) O tirano
Assedia a vítima pelo gosto de humilhá-la; sua falta de confiança em si
mesmo gera uma crueldade no trato com os demais.
i) O aterrorizado
Vive em estado de pânico considerando que possa perder o cargo ou ser
substituído na função; torna-se extremamente agressivo diante de qualquer
desconfiança de perigo.
j) O invejoso
Uma inveja crônica e profunda invade sua existência; não admite que
outrem possa desfrutar de situação melhor do que a sua, em qualquer terreno.
k) O carrerista
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Não manifesta o menor escrúpulo em barrar o caminho dos outros para
subir, como de fazer com que os outros desçam.
l) O pusilânime
Não age às claras, pois tem medo de arcar com as conseqüências de sua
conduta (FELKER, 2007, p. 192-193).
26
CAPÍTULO IV
NATUREZA JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL
No Brasil, como visto, ainda é um tanto modesta a legislação que existe
com o objetivo de prevenir e coibir o assédio moral e punir o assediador. Não há,
ainda, uma lei de âmbito nacional.
De acordo com Fênix (2003, p. 17) “No campo legislativo, a matéria vem
sendo tratada de forma abrangente, por vários ramos do Direito, em diversos
países”. No Brasil, já existem normas previstas na Carta Magna, no que se refere
aos “princípios da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do
trabalho”. (Fênix, 2003, p. 17) afirma que o artigo 116 da Lei 8112/90 se refere
também ao dever de urbanidade, obviamente também entre servidores, sendo
que o mesmo artigo dispõe o dever de representar contra o abuso do poder,
Por si ou via sindicato, respeitando este a vontade do ofendido. No campo administrativo, a vítima ou o sindicato deve denunciar o assédio, exigindo providências por parte da administração, sendo a atitude mais correta a abertura de inquérito administrativo, a perda da chefia e afastamento do assediador do local de trabalho (FÊNIX, 2003, p. 17).
Vários municípios do país, no campo da administração pública, já possuem
leis específicas sobre como lidar com a prática do assédio moral no cotidiano do
trabalho. Porém especificamente na Administração Pública, em outros municípios,
no entanto, já têm projetos de leis e, em nível nacional, há projeto de lei com o
objetivo de fazer modificações em alguns dispositivos do Código Penal (Lima,
2009, p. 49).
O debate sobre o assédio moral se encontra em “alta”. De fato, há
atualmente um grande interesse despertado sobre o assunto, e isso se revela na
grande quantidade de publicações destinadas ao esclarecimento e estudo do
tema.
A área do direito vem estudando alguns conceitos e procedimentos
relativos a situação do assédio moral. Deputados e vereadores esforçam-se na
direção de criar uma legislação específica para tratar do assunto no Brasil.
Embora já existam algumas leis aprovadas no âmbito municipal e estadual e
outros projetos de lei tramitando também no âmbito federal não há consenso
entre os juristas e advogados sobre a necessidade de uma lei particular (Soboll,
2008, p. 20).
27
No mês de agosto do ano 2000, foi publicado no Brasil o livro de Marie
France Hirigoyen. O livro foi traduzido pela Editora Bertrand Brasil, intitulado
Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. De lá para cá surgiram
bastantes publicações e debates sobre o tema em questão.
Atualmente existem vários projetos de lei em diferentes municípios do país,
como visto. Alguns projetos já foram aprovados e, entre eles, destacam-se os
municípios de: “Americana, Bauru, Campinas, Guarulhos, São Paulo,
Iracemápolis, Sidrolândia, Reserva do Iguaçu, Cascavel, Natal, São Gabriel do
Oeste e Jaboticabal” (PATOSKI, 2009, p. 46).
Segue abaixo as cidades discriminadas por ordem cronológica de
Aprovação de Lei de acordo com Rocha (2006, p. 10):
-Iracemápolis (Lei 1.163 de 24/04/2000 e Decreto Regulamentador
1134/2001)
-Cascavel (Lei 3.243 de 15/05/2001)
-Guarulhos (Lei 358 de 19/07/2001)
-Sidrolândia (Lei 1.078 de 05/11/2001)
-Jaboticabal (Lei 2.982 de 17/11/2001)
-São Paulo (Lei 13.288 de 10/01/2002)
-Natal (Lei 189 de 23/02/2002)
-Americana (Lei 3.671 de 07/06/2002)
-Campinas (Lei 11.409 de 04/11/2002)
-São Gabriel do Oeste (Lei 511 de 04/04/2003)
Sob o ponto de vista estadual, “o estado do Rio de Janeiro foi o primeiro a
publicar uma lei contra o assédio moral, o que ocorreu pela Lei nº 3.921, de 23 de
agosto de 2002, vedando a prática do assédio moral no âmbito dos órgãos,
repartições e entidades estaduais” (ZANETTI, 2009, p. 159).
Vale ressaltar que o dever do sindicato, para defender a melhoria nas
relações sociais do trabalho e dos interesses de seus associados, requer, em
caso de necessidade, minuciosa análise dos fatos e esclarecimentos à categoria,
para prever e impedir tal prática, sem, com isso, jamais fugir aos seus deveres
básicos (Fênix, 2003, p. 13).
Barreto (2009, p. 88) afirma que o Ministério Público do Trabalho tem
atuado de forma bastante proficiente, tanto no trabalho pela via judicial, como no
trato corretivo em procedimentos investigatórios, sempre que ocorrem denúncias
28
sobre o meio ambiente de trabalho que teria que ser saudável e seguro (Barreto,
2009, p. 88).
Por ser o assédio moral uma prática muito comum no ambiente de trabalho,
muitos casos envolvendo a questão têm chegado à Justiça trabalhista. Entretanto,
ainda há dificuldade enfrentada acerca do tema, quando o pleito versa sobre
ofensa a direitos transindividuais (Lima; Augustin, 2009, p. 30).
De acordo com (Felker, 2007, p. 204) em 23 de maio de 2001, o Deputado
Marcos de Jesus apresentou um projeto de lei (n. 4.742/2001) inserindo no
Código penal a figura do assédio moral. Expondo os seguintes motivos:
Não cogitamos da violência consubstanciada no comportamento abusivo que atinge o psicológico e emocional do cidadão. É a prática reiterada que é empregada o mais das vezes pela ironia, mordacidade, capricho, com evidente desvio de poder. Ditados por razões de ordem interna, mas sob a aparente máscara de exercer autoridade ditada pelo serviço, o chefe passa a tomar atitudes tendenciosas e discriminatórias contra o indigitado empregado, submentendo-o a um verdadeiro festival de torturas, E este, por temor de perder o emprego ou sofrer outro gravame, deixa-se crucificar. As conseqüências afloram posteriormente, sob a forma de doenças psicossomáticas inclusive (FELKER, 2007, p. 204).
O Ministério Público do Trabalho (MPT) tem atuado para combater o
assédio moral no trabalho. Tem-se como exemplo do MPT da Bahia, “onde o
Procurador Regional do Trabalho promoveu um Termo de Compromisso e
Ajustamento de Conduta em uma empresa de cerca de 1.300 empregados, dos
quais 90% eram mulheres”. A partir desse acordo, foram retiradas todas as
câmeras de filmagem que havia no interior da empresa (FELKER, 2007, p. 211).
Aos poucos foram chegando aos Tribunais casos cada vez mais freqüentes
de assédio moral no trabalho. Recentemente “o juiz Adeildo Lemos de Sá Cruz,
do Recife, foi punido com aposentadoria compulsória por ofender e humilhar,
durante anos, seus subordinados. A decisão de punir sua excelência foi da Corte
Especial do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Uma decisão inédita” no país
(AQUINO, 2012, p. 122).
Até certo ponto foi excelente a punição do juiz, mas por outro lado, o tal
juiz, continuará a receber, sem trabalhar, quinze mil reais por mês. Ela ganhará
aposentadoria proporcional ao tempo de serviço e esse dinheiro sairá do bolso do
povo brasileiro. Por isso é que a lei que trata desse tipo de assunto necessita ser
revista para que coisa desse tipo não aconteça.
De acordo com Aquino (2012, p. 122) Uma nova pesquisa, da consultoria
Robert Half, publicada pelo jornal O Globo, reforça que as três principais
29
qualidades de um líder são: inspirar outras pessoas, ter ética e ser capaz de
tomar decisões. Pois quando o trabalhador respeita o seu líder ele trabalha mais e
melhor, por vontade própria e, com isso, todos saem lucrando, tanto a empresa
quando o trabalhador.
30
CONCLUSÃO
Nesse estudo foi observado que a prática do assédio moral no ambiente de
trabalho atualmente acontece bem mais do que se pensava. Observou-se que o
acelerado ritmo nas organizações de trabalho e de produção, junto com as
grandes mudanças que ocorrem com freqüência no mundo globalizado, está entre
os principais fatores que causam a violência do assédio moral entre os patrões e
empregados. O mundo globalizado com a crescente escassez de trabalho e
aumento de oferta de mão-de-obra é bastante propício para a disseminação
desse tipo de prática, pois o mercado está cada vez mais usando políticas
desumanas e pouco éticas para lidar com os trabalhadores.
O exame de alguns livros sobre o tema abordado, artigos de periódicos e
sites da web atestaram que esse tema é bem mais comum do que se pensava.
Os trabalhadores sabem que o assédio moral não é um acontecimento recente,
ou seja, o tema já é bastante antigo. Em determinados países da União Européia,
já existe leis que coíbem a prática do assédio moral, em outros existe apenas
projeto de lei em tramitação, mas que ainda não foi aprovado.
No Brasil, no entanto, o debate e a reflexão sobre o assunto ainda é
recente, o que torna o assunto bastante discutível no âmbito dos juristas. Essa
prática existe não só no ambiente de trabalho, mas em qualquer ambiente onde
haja uma coletividade e esse fato é desanimador, pois a prática do assédio moral
anda acontecendo com bastante freqüência no dia a dia dos trabalhadores.
Em alguns casos a prática do assédio moral acontece dentro das
organizações empresariais por falta de habilidade dos administradores em lidar
com os conflitos quem vem das relações de trabalho. Sem falar que essa prática
prejudica, degrada e destrói o ambiente de trabalho e desestabiliza o trabalhador,
a empresa também sai perdendo com isso, uma vez que a vítima começa a não
render tanto no trabalho.
O profissional que passa por esse tipo de transtorno, em alguns casos, não
percebe que está sendo vítima de tal ato. Às vezes ele tem a tendência de se
culpar por achar que não está sendo um bom profissional e quando vai perceber o
que anda ocorrendo, o “estrago” já foi feito em sua vida, tanto profissional quanto
pessoal.
31
A pesquisa sobre o assédio moral mostra que no Brasil a lei ainda é muito
restrita e que só em poucos municípios do país ela predomina, ressaltando que o
Rio de Janeiro tem uma Lei estadual que coíbe tal ato na administração pública
estadual, mas que na esfera federal ainda não se tem uma lei que de fato proteja
o trabalhador desse tipo de violência. Sem mencionar que nas repartições
privadas também não existe uma lei especifica para apurar as práticas de assédio
moral e os sindicatos ainda são meio vagarosos para lidar com o assunto.
Os dados apresentados nesta pesquisa mostraram que a metodologia
empregada para a pesquisa se mostrou eficaz para a análise e sistematização
dos dados levantados. No entanto se faz necessário um maior aprofundamento
no assunto para que se chegue a um estudo mais detalhado sobre o tema, já que
ainda é bastante lenta a lei federal que auxilie o trabalhador que venha a sofrer
desse tipo de violência.
32
BIBLIOGRAFIA
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34
ÍNDICE
RESUMO............................................................................................................... 5
METODOLOGIA.................................................................................................... 6
SUMÁRIO.............................................................................................................. 7
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8
CAPÍTULO I
CONCEITO SOBRE O ASSÉDIO MORAL ......................................................... 10
1.1 ALGUMAS PESQUISAS E ESTUDOS SOBRE A CONCEITUAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL ............................................................................................... 11 1.2 AS FASES DO ASSÉDIO MORAL ............................................................... 12
CAPÍTULO II
O ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO....................................... 14
2.1 O QUADRO DE ASSÉDIO MORAL ...............................................................17
CAPÍTULO III
CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O TRABALHADOR .............19
3.1 A QUEM A VÍTIMA DEVE RECORRER .........................................................20
3.2 COMO A VÍTIMA SE SENTE FÍSICA E MENTALMENTE ............................ 21
3.3 PERFIL DO AGRESSOR ...............................................................................23
CAPÍTULO III
NATUREZA JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL .................................................. 26
CONCLUSÃO....................................................................................................... 30
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 32