aspectos sistemÁticos e bionÔmicos dos quirÓpteros...
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MARCELO RODRIGUES NOGUEIRA
ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS DA REGIÃO DE JAÍBA,
NORTE DE MINAS GERAIS
Rio de Janeiro
1998
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS DA REGIÃO DE JAÍBA,
NORTE DE MINAS GERAIS
MARCELO RODRIGUES NOGUEIRA
ORIENTADOR: PROF. DR. ADRIANO LÚCIO PERACCHI
Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração em Biologia Animal. Seropédica, Rio de Janeiro Junho - 1998
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ASPECTOS SISTEMÁTICOS E BIONÔMICOS DOS QUIRÓPTEROS DA
REGIÃO DE JAÍBA, NORTE DE MINAS GERAIS
MARCELO RODRIGUES NOGUEIRA
Aprovado em:________________________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Prof. Dr. Adriano Lúcio Peracchi - Presidente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ____________________________________________
Prof. Dr. Eugênio Izecksohn Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ____________________________________________
Prof.a Dra. Helena de Godoy Bergallo Universidade do Estado do Rio de Janeiro
4
“O homem nasceu para aprender,
aprender tanto quanto a vida lhe permita.”
João Guimarães Rosa
5
À memória de meu pai,
que ilumina e firma meu caminho;
e à minha mãe,
que nunca deixou de apoiar
e incentivar meu trabalho.
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AGRADECIMENTOS
Sou profundamente grato ao Prof. ADRIANO LÚCIO PERACCHI, não só por sua
orientação segura, como por todas as facilidades proporcionadas para execução desta
tese, e principalmente pela confiança que espero ter retribuído ao longo desses já
passados três anos de convivência produtiva. Da mesma forma, expresso aqui minha
gratidão a outras pessoas cuja participação foi essencial para realização deste trabalho.
Ao amigo e “companheiro de laboratório” ANDRÉ POL, que tendo tido
oportunidade de desenvolver pesquisas na região de Jaíba, contribuiu de várias formas
para o presente estudo, seja através de suas observações de campo, seja pelos espécimes
colecionados e dados meteorológicos (obtidos junto à Estação Agroclimática de
Mocambinho) que me foram postos à disposição, ou mesmo pelo precioso material
fotográfico gentilmente cedido e que ilustra a presente dissertação.
Ao amigo FERNANDO MARTINS COSTA, biólogo com quem trabalhei no projeto
Jaíba, e ao mateiro UELDO DOS SANTOS, o “BAIANO”, pelo valoroso auxílio que
prestaram durante as atividades de campo.
Ao guarda florestal MARCOS ANTÔNIO DA COSTA, responsável pela Reserva
Biológica de Jaíba e que também colaborou em diversas coletas.
À SYTEC 3 ENGENHARIA E CONTROLE DE CORROSÃO LTDA., que na qualidade
de gestora dos serviços de Monitoramento, Deslocamento e Salvamento da Fauna do
Projeto Jaíba, mantido pela CODEVASF, tornou possível o acesso a esta importante
região.
Ao amigo ANDRÉ MARIZ DA SILVA, apreciador e estudioso dos quirópteros, que
ainda no início dos meus trabalhos de campo na região de Jaíba demonstrou-me a
técnica de extração (via oral) do crânio dos morcegos.
Ao amigo e “companheiro de laboratório” BENEDITO DAS NEVES COSTA, o
“ALEMÃO”, pelo auxílio na preparação dos crânios dos morcegos.
À especialista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro MARLI PIRES MORIM DE
LIMA pela identificação de Calliandra sp..
7
Ao grande amigo RODRIGO MEIRELES DE PINILLA, pela reconstrução gráfica e
adaptação do mapa que caracteriza a região de Jaíba, e pelas adaptações introduzidas no
mapa referente aos limites das caatingas.
Ao técnico da Biblioteca do Museu Nacional do Rio de Janeiro, ANTÔNIO
CARLOS GOMES LIMA, pela amizade e solicitude com que sempre me auxiliou na busca
dos artigos científicos e outros afins.
Aos colegas e professores do Curso de Pós-graduação em Biologia Animal, pela
convivência agradável e sempre construtiva.
E por fim, um agradecimento especial à minha companheira de todas as horas,
CAROLINA PARREIRAS HORTA ROCHA, que colaborou de diversas maneiras para que este
trabalho se concretizasse, tendo participado não só das atividades de campo, como de
toda a elaboração do documento final.
8
SUMÁRIO
Lista de Figuras .............................................................................................. x Lista de Tabelas ............................................................................................. xi Resumo........................................................................................................ xiii Abstract ....................................................................................................... xiv
1. Introdução..................................................................................................... 1 2. Área de Estudo
2.1. Localização ......................................................................................... 4 2.2. Geomorfologia ................................................................................... 4 2.3. Clima .................................................................................................. 6 2.4. Vegetação ......................................................................................... 12
3. Material e Métodos .................................................................................... 15 4. Resultados e Discussão
• Rhynchonycteris naso ........................................................................ 23 • Peropteryx macrotis .......................................................................... 30 • Peropteryx kappleri ........................................................................... 34 • Noctilio albiventris ............................................................................ 36 • Noctilio leporinus .............................................................................. 42 • Micronycteris sanborni ..................................................................... 44 • Tonatia bidens ................................................................................... 49 • Tonatia saurophila ............................................................................ 53 • Phyllostomus discolor ....................................................................... 56 • Phyllostomus hastatus ....................................................................... 59 • Lonchophylla mordax........................................................................ 62 • Glossophaga soricina ....................................................................... 66 • Carollia perspicillata ........................................................................ 71 • Sturnira lilium ................................................................................... 77 • Uroderma magnirostrum .................................................................. 80 • Platyrrhinus lineatus ......................................................................... 83 • Artibeus lituratus ............................................................................... 86 • Artibeus planirostris ......................................................................... 89 • Desmodus rotundus ........................................................................... 94 • Diphylla ecaudata ........................................................................... 101 • Myotis nigricans .............................................................................. 104 • Eptesicus furinalis ........................................................................... 108 • Molossops planirostris .................................................................... 111 • Molossus ater .................................................................................. 115 • Molossus molossus .......................................................................... 122 • Nyctinomops laticaudatus ............................................................... 125
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5. Discussão Geral 5.1. Distribuição Geográfica ................................................................. 128 5.2. Morfometria ................................................................................... 129 5.3. Hábitos Gerais ................................................................................ 132 5.4. Reprodução ..................................................................................... 138
6. Conclusões................................................................................................. 141 7. Anexo
7.1. Conservação ................................................................................... 143
8. Referências Bibliográficas ....................................................................... 148
10
LISTA DE FIGURAS
1. Localização da região de Jaíba ........................................................................... 5 2. Médias mensais de temperatura e precipitação: 1984-1994 ............................... 7 3. Médias mensais de temperatura e precipitação: 1994-1995 ............................... 8 4. Área geral do domínio das caatingas .................................................................. 9 5. Mapa de isoietas anuais .................................................................................... 10 6. Mapa de índice xerotérmico ............................................................................. 11 7. Afloramento calcário do Morro Solto .............................................................. 18 8. Dreno Jaíba ....................................................................................................... 19 9. Reserva Biológica de Jaíba ............................................................................... 19 10. Campus Avançado de Monitoramento ............................................................. 20 11. Bebedouro de gado da Fazenda Solagro .......................................................... 20 12. Distribuição horária da ocupação de abrigo por R. naso e N. albiventris ........ 27 13. Colônia de R. naso abrigada sob ponte ............................................................ 28 14. P. kappleri em cavidade calcária ...................................................................... 35 15. N. albiventris da região de Jaíba ...................................................................... 41 16. Colônia de N. albiventris abrigada em ponte ................................................... 41 17. M. sanborni da região de Jaíba e M. minuta do Rio de Janeiro ....................... 48 18. T. saurophila do estado do Acre ...................................................................... 55 19. Horário de atividade de P. discolor .................................................................. 58 20. L. mordax da região de Jaíba ............................................................................ 64 21. Horário de atividade de G. soricina ................................................................. 69 22. Horário de atividade de C. perspicillata .......................................................... 76 23. U. magnirostrum do estado do Acre ................................................................ 81 24. Horário de atividade de A. planirostris ............................................................ 92 25. Espécime de D. rotundus em cavidade calcária ............................................... 98 26. Colônia de D. rotundus em cavidade calcária .................................................. 98 27. Horário de atividade de D. rotundus ................................................................ 99 28. M. nigricans e E. furinalis da região de Jaíba ................................................ 106 29. M. planirostris da região de Jaíba .................................................................. 114 30. Horário de atividade de M. ater ...................................................................... 119 31. M. molossus da região de Jaíba e do Rio de Janeiro ...................................... 124 32. Canal de irrigação ........................................................................................... 135 33. Afloramento calcário do Morro Solto: evidência de degradação ................... 145
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LISTA DE TABELAS
1. Análise morfométrica de R. naso ..................................................................... 24 2. Medidas de R. naso: América Central e do Sul, Suriname e região de Jaíba ... 25 3. Análise morfométrica de P. macrotis ............................................................... 31 4. Medida de P. macrotis: Guiana Francesa, Pernambuco, região de Jaíba, Espírito Santo e São Paulo ................................................................................ 32 5. Análise morfométrica de N. albiventris ........................................................... 37 6. Medidas de N. albiventris: Ilha de Marajó, região de Jaíba e São Paulo ......... 38 7. Análise morfométrica de M. sanborni com medidas da série tipo e de M. minuta .......................................................................................................... 46 8. Análise morfométrica de T. bidens................................................................... 50 9. Medidas de T. bidens da região de Jaíba, São Paulo e Paraguai ...................... 51 10. Medidas de T. saurophila da região de Jaíba, e de T. s. bakeri e T. s. maresi ........................................................................................................ 54 11. Análise morfométrica de P. discolor ................................................................ 57 12. Análise morfométrica de P. hastatus ............................................................... 60 13. Análise morfométrica de L. mordax ................................................................. 62 14. Medidas de L. mordax de Pernambuco e região de Jaíba................................. 63 15. Análise morfométrica de G. soricina ............................................................... 67 16. Medida de G. soricina da América do Norte, Nordeste do Brasil, região de Jaíba e São Paulo............................................................................... 68 17. Análise morfométrica de C. perspicillata ........................................................ 72 18. Medidas de C. perspicillata do Nordeste do Brasil, Região de Jaíba e São Paulo .......................................................................................................... 73 19. Análise morfométrica de S. lilium .................................................................... 78 20. Análise morfométrica de U. magnirostrum ...................................................... 80 21. Análise morfométrica de P. lineatus ................................................................ 83 22. Medidas de P. lineatus: Nordeste do Brasil, região de Jaíba, São Paulo e Uruguai ............................................................................................................. 84 23. Análise morfométrica de A. lituratus ............................................................... 86 24. Medidas de A. lituratus: Nordeste e Sul do Brasil, região de Jaíba e São Paulo .......................................................................................................... 87 25. Análise morfométrica de A. planirostris .......................................................... 89 26. Medidas de A. planirostris: Nordeste do Brasil, região de Jaíba, São Paulo e
Argentina .......................................................................................................... 91 27. Análise morfométrica de D. rotundus .............................................................. 95 28. Medidas de D. rotundus: Nordeste do Brasil, região de Jaíba e São Paulo ..... 96 29. Análise morfométrica de D. ecaudata ............................................................ 102 30. Medidas de D. ecaudata: Américas Central e do Sul, Pernambuco, região de Jaíba, Espírito Santo, São Paulo e Bolívia ................................................. 103 31. Medida de E. furinalis do Ceará e da região de Jaíba .................................... 109 32. Analise morfométrica de M. planirostris ....................................................... 112 33. Medidas de M. planirostris: Guiana, Nordeste do Brasil região de Jaíba, São Paulo e Paraguai....................................................................................... 113 34. Análise morfométrica de M. ater ................................................................... 116
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35. Medidas de M. ater: Suriname, região de Jaíba, Paraguai e Argentina .......... 117 36. Análise morfométrica de M. molossus ........................................................... 123 37. Medidas de N. laticaudatus: Pernambuco, região de Jaíba, São Paulo, Bolívia e Rio Grande do Sul ........................................................................................ 126 38. Distribuição das espécies por estação ............................................................ 133 39. Distribuição mensal de fêmeas em atividade reprodutiva .............................. 139
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RESUMO
Entre abril de 1994 e março de 1995 foi realizado um inventário da
quiropterofauna nas áreas sob influência do Projeto de Irrigação do Jaíba
(CODEVASF), norte do Estado de Minas Gerais. Os resultados deste estudo, abordando
aspectos sistemáticos e bionômicos das espécies levantadas, constituem a matéria da
presente dissertação. A amostragem nos diferentes ambientes que caracterizam esta
região, situada no extremo sul do domínio das caatingas, foi conduzida essencialmente
com o uso de redes de espera armadas ao nível do chão. Os 425 exemplares capturados
permitiram a identificação de 26 espécies, incluindo-se novos registros não só para
Minas Gerais como para o Sudeste brasileiro. Em 8 espécies encontrou-se evidências,
ainda em caráter preliminar, de uma variação clinal envolvendo o leste brasileiro, com
espécimes mais ao norte apresentando menores dimensões. Outras 2 espécies parecem
seguir um gradiente inverso. Dimorfismo sexual secundário estatisticamente significante
foi constatada em 50% ou mais dos caracteres analisados de 3 das 7 espécies
investigadas com este propósito.
A maioria das espécies amostradas evidenciou considerável capacidade
adaptativa frente às alterações antrópicas, podendo até se beneficiar das novas
condições. Algumas, entretanto, tiveram sua presença sempre associada a formações
florestais como é o caso das insetívoras catadoras. Os afloramentos calcários presentes
na região representam um tipo de hábitat aparentemente essencial para a manutenção da
riqueza de espécies registrada no presente estudo, fornecendo tipos específicos de abrigo
(fendas e cavidades naturais) e provavelmente alimento não disponíveis em outros
hábitats amostrados. Morcegos insetívoros foram predominantemente capturados nas
duas primeiras horas após o por do sol, enquanto não insetívoros tiveram registros de
captura mais distribuídos ao longo do período das coletas. Apesar da escassez de dados
referentes ao período de seca, uma esperada estacionalidade no padrão reprodutivo da
maioria das espécies foi corroborada pelo elevado número de fêmeas lactantes obtidas
no início e no final do período chuvoso.
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ABSTRACT
A survey of the chiropteran fauna was conducted between April 1994 and
May 1995 in the areas under influence of Projeto de Irrigação do Jaíba (CODEVASF),
located north of the state of Minas Gerais. Results of this work, involving systematic
and bionomic aspects of the species, constitute the subject of the present dissertation.
The sampling was done in the different environments found in this region, located in
the extreme south of the caatingas. It was conducted essentially with mist-nets set up at
ground level. 425 specimens were captured and 26 species identified, including new
records, not only for Minas Gerais, but also for the Brazilian southeast. In 8 species,
preliminary evidences of clinal variation involving eastern Brazil were found, with
northern specimens presenting smaller dimensions. Other 2 species seem to follow an
inverse gradient. The existence of a significant secondary sexual dimorphism was
verified in 50% or more of the analysed characters in 3 of the 7 species studied with this
purpose.
Most species sampled demonstrated considerable capacity of adaptation
when faced with antropic disturbance, being able to find ways to benefit from new
conditions. Some, however, were always found associated to forest formations, as in the
case of foliage gleaning insectivorous. The limestone outcrops occurring in this region
represent a type of habitat apparently essential for the maintenance of the richness of
species recorded in the present study, providing specific types of roosts (natural
crevices and cavities) and probably food, not available in other habitats sampled.
Insectivorous bats were captured predominantly in the first two hours after sunset,
while non-insectivorous bats had their records of capture more evenly distributed
throughout the sampling period. In spite of the scarcity of data concerning the dry
season, an expected sazonality in the reproductive pattern of most of the species was
corroborated by the high number of lactating females obtained at the beginning and at
the end of the rainy season.
1 - INTRODUÇÃO
A quiropterofauna neotropical é a mais rica do mundo, apresentando uma
diversidade trófica e morfológica, bem como uma abundância numérica superior a de
qualquer outra região tropical (Findley, 1993). Wilson (1996) listou para esta província
zoogeográfica 266 espécies de morcegos que correspondem a cerca de 29% das 925
reconhecidas por Koopman (1993) em relação à ordem Chiroptera. De 1994 a 1997
foram descritas pelo menos 5 novas espécies não incluídas na lista proposta por Wilson
(1996): Micronycteris sanborni (Simmons, 1996); Anoura luismanueli (Molinari,
1994); Lasiurus ebenus (Fazzolari-Corrêa, 1994); Lasiurus atratus e Histiotus
humboldti (Handley, 1996). Dentre estas, duas (M. sanborni e L. ebenus) resultaram de
estudos conduzidos no Brasil, onde 139 espécies estão assinaladas (Aguiar & Taddei,
1995; Simmons, 1996)
Assim como já amplamente demonstrado em diversas áreas de florestas úmidas
neotropicais de terras baixas (cf. Voss & Emmons, 1996), morcegos parecem constituir,
também em biomas climaticamente mais secos, o principal contribuinte para diversidade
de mamíferos. Nos cerrados são conhecidas 80 espécies de morcegos que correspondem
a 42% dos mamíferos desse bioma e 60% dos quirópteros brasileiros (Marinho-Filho,
1996a). Willig & Mares (1989) apresentaram uma lista de mamíferos das caatingas que,
apesar de incompleta, como mencionado pelos autores, mostra situação similar a
observada nos cerrados, sendo morcegos responsáveis por 57,5% da mastofauna.
A pressão de seleção que resulta do impacto dos ambientes físicos e das
interações bióticas forma os padrões bionômicos, únicos em cada espécie e que
correspondem a uma combinação adaptativa de características populacionais (Odum,
2
1988). Em linhas gerais, a bionomia de uma espécie corresponde a sua história de vida
(Odum, 1988), e apesar de geralmente associada apenas à estratégias reprodutivas,
assume aqui um significado mais amplo, abrangendo tanto aspectos bioecológicos
quanto comportamentais. Como mencionado anteriormente, a diversidade dos
quirópteros neotropicais não reflete-se apenas no número de espécies, representando tais
aspectos, um vasto campo de pesquisas.
Preferências de hábitat, estratégias de forrageio e hábitos alimentares, constituem
áreas essenciais no estudo da bionomia dos quirópteros, e que permanecem praticamente
desconhecidas para maioria das espécies (Willig et al., 1993; Fenton, 1997). Uma
melhor compreensão de tais áreas implicará não somente em significantes avanços no
estudo da ecologia de comunidades (Willig et al., 1993), como também na elucidação de
questões básicas referentes à elaboração de planos de conservação (Fenton, 1997). Não
obstante, para se assentar firmemente as bases que impulsionam análises ecológicas,
numéricas, evolutivas ou citogenéticas sobre um determinado grupo zoológico, torna-se
preponderante a clarificação de sua taxonomia e distribuição geográfica, um dos
principais fatores de desenvolvimento do seu conhecimento científico (Barquez, 1987).
Ao longo de trabalhos de campo conduzidos pelo autor em áreas sob influência
do Projeto de Irrigação do Jaíba (Codevasf), norte de Minas Gerais, procedeu-se um
inventário da quiropterofauna cujos resultados, abordando aspectos sistemáticos e
bionômicos das espécies, constituem a matéria da presente dissertação. Além da
ocorrência de afloramentos calcários, que lhe atribuem grande valor na conservação dos
quirópteros, esta região notabiliza-se ainda, no contexto dos estudos biogeográficos, por
estar situada no extremo sul do domínio das caatingas (Andrade-Lima, 1981) e bem
próximo à área de ocorrência dos cerrados (Magalhães, 1966). Dentre a complexidade
de fitofisionomias, que lá integram um verdadeiro mosaico, destacam-se as caatingas
arbóreas, consideradas de extrema raridade nos dias atuais (Andrade-Lima, 1981;
Fernandes & Bezerra, 1990).
Segundo Oliveira et al. (1994) a mastofauna dessa região é aparentemente
limítrofe na distribuição de diversas espécies e encontra-se extremamente mal
representada em coleções sendo desconhecida em sua maioria. Estes autores assinalaram
para a referida área 9 espécies de morcegos dentre as quais Eumops perotis, que figura
3
como uma das três espécies de morcegos neotropicais ameaçados de extinção na
concepção de Wilson (1996).
Com o intuito de contribuir para o conhecimento da quiropterofauna nessa região
de notória importância sob os mais variados enfoques, pretendeu-se atingir aqui os
seguintes objetivos:
- Fornecer uma lista dos quirópteros com ocorrência na região de Jaíba.
- Apresentar dados morfométricos e bionômicos sobre as espécies, incluindo
informações a respeito do uso de hábitat, horário de atividade e reprodução.
2 - ÁREA DE ESTUDO
2.1 - LOCALIZAÇÃO
A região de Jaíba aqui referida corresponde às áreas sob influência do Projeto de
Irrigação do Jaíba, que situa-se, em relação à divisão regional do Estado de Minas
Gerais, na zona do Alto-Médio São Francisco, extremo norte do Estado (Panoso et al.,
1976) (figura 1). Localizada entre os paralelos 14o33’ e 15o28’S, e os meridianos 43o29’
e 44o6’W, esta região, conhecida como “Mata da Jaíba”, limita-se a norte e a leste com
o rio Verde Grande, a oeste com o rio São Francisco, e ao sul com o córrego Escuro e
riacho Serraria (Panoso et al., 1976).
A maioria das áreas amostradas encontra-se nos arredores da localidade de
Mocambinho (ca. 15o05`S, 44o00`W), junto à margem direita do rio São Francisco, no
município de Jaíba. Coletas ocasionais foram realizadas ainda na Reserva Biológica de
Jaíba (ca. 15o05’S, 43o45’W), situada no município limítrofe de Matias Cardoso (ca.
14o50’S, 43o55’W) (figura 1).
2.2 - GEOMORFOLOGIA
Na vasta região da depressão formada pela bacia do médio rio São Francisco,
Mauro et al. (1982) identificaram três unidades geomorfológicas dentre as quais está o
Vão do São Francisco, onde situa-se a área aqui estudada. O relevo desta unidade
é caracterizado por extensos planos inclinados, modelados em grande parte, sobre
,
Figura I: Localização da reglao Jaíba no Estado de Minas Gerais. Estações de cQleta situaram-se nos arredores da localidade de Mocambinho (I) e na Reserva Biológica de Jaíba (2). (Adaptado de Panoso el ai., 1976.)
5
6
litologias do grupo Bambuí (Mauro et al., 1982). Datado do eo-Cambriano, este grupo
está representado na região de Jaíba por rochas argilo-siltosas associadas a calcários e
lentes de quartizito, mais restritamente arcósio, aflorando em todas as elevações entre
500 e 800m, e aparecendo também em pequenas depressões formando lagedos de rocha
nua. O calcário encontrado na área é normalmente cinza escuro, compacto,
microcristalino e as vezes oolítico (Bruno, 1976).
Além do grupo Bambuí, a coluna estatigráfica na região de Jaíba é ainda
composta pela Formação das vazantes, datada do Quaternário, e pelas Formações
Flúvio-lacustres, associadas ao Cenozóico superior (Bruno, 1976). Quanto à hidrografia
superficial, a área é bem servida de cursos d’água perenes, no que difere de regiões
semi-áridas típicas (Del Rey & DIJ, 1991). De maior importância, no presente estudo,
destacam-se o rio São Francisco e o riacho Mocambinho. Ligado à lagoa do Sossego,
marginal ao rio São Francisco, ocorre também um dreno natural, denominado riacho
Tapera ou Dreno Jaíba, que apresenta água quando há extravasamento do rio e da lagoa
(Del Rey & DIJ, 1991).
As cotas altimétricas variam de 440 a 445m no terraço do fluvial das margens do
São Francisco; de 450 até pouco mais de 500m no terraço elevado que cobre a maior
parte da área; atingindo 724m no ponto culminante que encontra-se na Serra Azul
(Panoso et al., 1976).
2.3 - CLIMA
Na classificação proposta por Nimer (1989) o clima da região de Jaíba é do tipo
semi-árido brando ou de transição, caracterizando-se principalmente pela ocorrência de
seis meses secos. Segundo dados fornecidos pela Estação Agroclimática de
Mocambinho - 83389 -EPAMIG/FEMO, a média do total anual de precipitação entre
janeiro de 1984 e dezembro de 1994 foi 832mm, sendo julho o mês com precipitação
média mais baixa (1,7mm) e dezembro o mês com a média mais elevada (236,9mm).
Para o mesmo período a temperatura média anual correspondeu a 26,6oC, notando-se em
julho a menor média mensal (24,5oC) e em outubro a mais elevada (28,4oC) (figura 2).
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0
50
100
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jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
precipitação
(mm)
0
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temperatura (oC
)
precipitação temperatura
Figura 2: Médias mensais de precipitação e temperatura correspondentes ao período de janeiro de 1984 a dezembro de 1994 na localidade de Mocambinho, município de Jaíba. Dados fornecidos pela Estação Agroclimática de Mocambinho.
Analisando-se especificamente o período de estudo, compreendido entre abril de
1994 e março de 1995, é notável uma redução no total anual da precipitação (427,5mm)
em relação ao observado na média dos últimos dez anos (832mm). No período
climaticamente seco que caracteriza a região (maio a outubro) houve uma total ausência
de chuvas, tendo fevereiro, mês com média mais elevada, apresentado precipitação de
139,4mm. A temperatura média anual foi 26,6oC e os meses de junho, com 24,8oC, e
outubro, com 29,8oC, corresponderam, respectivamente, aos de menor e maior
temperatura média (figura 3).
A região aqui estudada inclui-se no chamado “polígono das secas” (figura 4) e
está associada ao domínio das caatingas não só através da isoieta anual de 1000mm
(figura 5) como também do índice xerotérmico (100-150) (figura 6) (Andrade-Lima,
1981). Segundo Nimer (1989), o clima semi-árido brando está geralmente associado a
uma caatinga arbórea ou de transição.
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abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
precipitação (mm)
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temperatura (oC
)
precipitação temperatura
Figura 3: Médias mensais de precipitação e temperatura, correspondentes ao período de abril de 1994 a março de 1995, na localidade de Mocambinho, município de Jaíba. Dados fornecidos pela Estação Agroclimática de Mocambinho.
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Figura 4: Área geral do domínio das caatingas. A linha ponti lhada marca os limites do polígono das secas no qual se inclui a região de Jaíba (O) (Adaptado de Andrade-Lima, 1981 ).
10
Figura 5: Mapa de isoietas anuais. O limite da área das caatingas corresponde, aproximadamente, a isoieta de iODO mm (Adaptado de Andrade-Lima, 1981; fonte primária: Nimer, 1972).
,,'
". lO'
~o ~0_40
~ 40· 100
8100_150
11
I n I I
I ITIIID 150·200 i
~ 200_300 f" i o ~ 'OO~~l~k ... I I
'.
Figura 6: Mapa de índice xeroténnico. A vegetação das caatingas ocupa, aproximadamente, a área delimitada pela linha i = 100-150 (Adaptado de Andrade-Lima, 1981).
12
II.4 - VEGETAÇÃO
Considerando-se a distribuição dos grandes tipos vegetacionais brasileiros, a
maioria dos estudos consultados inclui a região de Jaíba no extremo sul do domínio das
caatingas e bem próximo a área de ocorrência dos cerrados (Eiten, 1972, 1983; Romariz,
1974; Ferri, 1980; Andrade-Lima, 1981; Fernandes & Bezerra, 1990; Rizzini, 1997),
razão pela qual apresenta elementos de ambos bem como elementos próprios em função
de particularidades ambientais (Del Rey & DIJ, 1991).
Veloso et al. (1991), entretanto, em sua classificação da vegetação brasileira
adaptada a um sistema universal enquadram a chamada “Mata da Jaíba”, como floresta
estacional decidual sub-montana, e destacando sua complexidade florística, citam a
presença de ecótipos savanícolas (dos cerrados) e florestais mesofanerófitos deciduais.
A dificuldade de se caracterizar esta região foi discutida ainda por (Silva & Assis, 1982)
que, dentro do Projeto Radam Brasil, a definiram como um ecótono entre a floresta
estacional decidual e a estepe (caatinga).
De acordo com Eiten (1972), a oeste da Bahia e noroeste de Minas Gerais
localiza-se a maior parte da borda entre os cerrados e as caatingas, e partindo-se de
Goiás em direção leste o clima vai ficando mais seco até alcançar uma amplitude de
precipitação em que ambos os tipos vegetacionais podem ocorrer, sendo o fator
determinante o tipo de rocha e o solo que esta produz. Esta faixa de transição está bem
documentada na região em torno de Januária (Azevedo, 1966; Magalhães, 1966), cidade
situada na margem esquerda do rio São Francisco a cerca de 60Km de Mocambinho
(figura 1). Lá, Azevedo (1966) constatou que o aparecimento dos cerrados está
estreitamente relacionado às áreas mais ricas em sílica, enquanto as caatingas têm sua
ocorrência associada ao calcário. Ainda em Januária, estudos conduzidos por Ratter et
al. (1978) chamam a atenção para a caatinga arbórea presente na região e que,
corroborando as observações de Azevedo (1966), encontra-se desenvolvida sobre solos
calcários.
Ao propor os limites da distribuição geográfica do domínio das caatingas,
Andrade-Lima (1981) enfatizou as dificuldades de estabelecer a linha sul, que envolve a
transição para um tipo arbóreo de cerrado - o cerradão, e a presença de uma floresta,
13
considerada por alguns autores simplesmente como uma mata seca alta, mas que pelas
espécies, caducidade das folhas e ocorrência de árvores em “forma de garrafa”, foi
incluída dentre os 12 tipos de caatingas reconhecidos por este autor. Ainda segundo
Andrade-Lima (1981), esta forma arbórea de caatinga associada a solos derivados
principalmente de rochas calcárias do grupo Bambuí, tem em Tabebuia, Aspidosperma,
Astronium e Cavanillesia seus gêneros mais característicos, distribuindo-se ao norte de
Minas Gerais e centro-sul da Bahia.
As conclusões de Andrade-Lima (1981) encontram apoio no estudo de
Magalhães & Ferreira (1976) sobre a vegetação da região de Jaíba. De acordo com os
resultados apresentados por estes últimos autores, a referida área pode ser integrada à
faixa das caatingas não só pelas características fisionômicas que apresenta, como pela
ocorrência comum de espécies padronizadoras desta formação.
Além da proximidade com o domínio dos cerrados, outros fatores como a
presença marcante do rio São Francisco e coleções d’água a ele associadas, a ocorrência
de afloramentos calcários, e a influência antrópica, contribuem para a heterogeneidade
de fisionomias encontradas na região e que foram assim denominadas por Magalhães &
Ferreira (1976): Formação Florestal (Perenifólia, Sub-Caducifólia e Caducifolia);
Caatinga Hipoxerófila (= Caatinga Arbórea), Caatinga Hiperxerófila; Campos de Várzea
e Campos Antrópicos. Sobre os resultados de Magalhães & Ferreira (1976), Andrade-
Lima (1981) fez a seguinte consideração: “Ambas as florestas sub-descíduas e descíduas
descritas por estes autores incluem uma alta proporção de espécies genuínas da caatinga,
apesar da moderada secura da área permitir que algumas espécies mesofíticas cresçam
ao longo de um gradiente natural”.
Incluindo estudos botânicos e fitossociológicos, o relatório elaborado pela Del
Rey Engenharia e Distrito de Irrigação do Jaíba (1991) constitui o trabalho mais
aprofundado a que se teve acesso sobre áreas influenciadas pelo Projeto de Irrigação do
Jaíba. Caatinga Arbórea (mata xerófila caducifólia), Mata Estacional Sub-Caducifólia,
Cerradão, Carrasco e Campos do Dreno, constituem as formações descritas neste
relatório, onde é ressaltada a importância da vegetação de Jaíba, não só por sua
localização dentro do esquema fitogeográfico brasileiro (no limite sul das caatingas e
próximo aos cerrados), como também pela ocorrência das caatingas arbóreas, que
14
acham-se amplamente distribuídas na região, e segundo Fernandes & Bezerra (1990) são
de extrema raridade nos dias atuais.
Em função da marcante sazonalidade na distribuição das chuvas, a vegetação da
região de Jaíba mostra-se adaptada a intensa seca que estende-se de maio a outubro,
através da caducifolia neste período, quando a monotonia acinzentada da paisagem (ver
figura 9) é quebrada por poucas espécies como o joazeiro (Ziziphus joazeiro), a
quixabeira (Bumelia sertorum) e a pitombeira (Talisia esculenta). Quando ocorrem as
primeiras chuvas, geralmente no final de outubro, os indivíduos rebrotam rapidamente e
a vegetação, em poucos dias, se cobre novamente de verde (Del Rey & DIJ, 1991).
3 - MATERIAL E MÉTODOS
Os trabalhos de campo foram desenvolvidos entre abril de 1994 e março de
1995, dentro do programa de monitoramento faunístico mantido pela CODEVASF, em
áreas sob influência do Projeto de Irrigação do Jaíba - Etapa I. Com o intuito de se
amostrar a quiropterofauna nos diferentes ambientes encontrados na região, foram
estudadas 8 estações caracterizadas abaixo com base em Magalhães & Ferreira (1976) e
Del Rey & DIJ (1991):
1. Morro Solto - Com cotas altimétricas acima dos 500m, representa uma das
poucas elevações presentes na área em estudo. Trata-se de um afloramento de calcário
calcítrico do grupo do Bambuí (Bruno, 1976), bastante fraturado e erodido pelas chuvas,
tendo-se observado inúmeras fendas e cavidades de variadas dimensões. A vegetação
que ocupa afloramentos desse tipo é a Caatinga Hiperxerófila, com predominância de
cactáceas, bromeliáceas e veloziáceas. As espécies mais comuns são Opuntia inamoena
(quipá), Peireskia bahiensis, Melocactus sp. (coroa de frade), Pilocereus sp., Bromelia
lacinosa (macambira) e Neoglaziovia variegata (caroá). Formando densos
agrupamentos, observou-se também a freqüente ocorrência de Encholirium spectabile
(macambira-de-lageiro ou macambira-de-flecha). Andrade-Lima (1977), em estudo
detalhado sobre a flora das área erodidas de calcário Bambuí, em Bom Jesus da Lapa,
Bahia, cita além de cactáceas, bromeliáceas e euforbiáceas, a presença de Cecropia sp.
(embaúba) e Ficus sp. (gameleira), espécies mesófilas também observadas no Morro
Solto, e que desenvolvem-se em depressões mais profundas onde há acúmulo de água e
solo.
16
A formação predominante ao redor do afloramento é a Floresta Caducifólia (=
Caatinga Arbórea sobre Dolinas), cujo estrato arbóreo caracteriza-se por espécies que
podem alcançar de 15 a 30m de altura, destacando-se a presença de Cavanillesia
arbórea (barriguda lisa), Schnopsis brasiliensis (braúna); Astronium urundeuva
(aroeira), Anadenanthera macrocarpa (angico), Cedrela fissilis (cedro), Cabralea
cangerana (cangerana), Bursera leptophoeus (imburana de cambão), Tabebuia sp.,
Aspidosperma pyrifolium e A. populifolium. Na figura 7 pode-se observar um trecho do
afloramento calcário do Morro Solto com os diferentes tipos de vegetação à ele
associados.
2. Dreno Jaíba - É uma depressão natural, também conhecida como riacho
Tapera, que surge em continuação à lagoa do Sossego. Inunda-se durante o período
chuvoso quando há extravasamento do rio São Francisco e da lagoa. Às suas margens
encontra-se a Floresta Sub-Caducifólia (figura 8), que apresenta dossel descontínuo e
estrato superior atingindo 19m de altura. As árvores altas mais comuns são: Astronium
urundeuva (aroeira); Schnopsis brasiliensis (braúna); Bombax sp. (embiruçu); Jatropha
urens; Cnidosculus marcgravii (cansanção); Tabebuia avellanedae (pau d’arco roxo);
Pterogyne nitens (carne de vaca); Enterolobium contortissiliquum e E. schomburgkii
(tamboril); Aspidosperma populifolium (peroba tambú); Cedrela fissilis (cedro).
Em estreitas faixas junto à Floresta Sub-Caducifólia ocorre o Cerradão, que
apresenta uma estratificação simples com árvores do andar superior atingindo 10m de
altura. Nesta formação ocorrem, dentre outras espécies, Astronium cf. fraxinifolium
(aroeira), Hymenaea sp. (jatobá), Aspidosperma sp. (pau de leite), Tabebuia caraiba
(pau d’arco amarelo) e Jacaranda sp. (jacaranda mimoso). Espécies de Bauhinia
encontram-se presentes no estrato arbustivo tanto da Floresta Sub-Caducifólia quanto do
Cerradão.
Cobrindo a área do dreno, que inunda-se durante a época chuvosa, encontra-se
uma formação denominada Campos do Dreno. É composta por inúmeras espécies
herbáceas das famílias Cyperaceae (Rhynchospora sp.), Compositae (Vernonia sp.),
Leguminosae (Bauhinia sp.; cf. Rhyncosia sp.), Solanaceae (Solanum americanum;
Solanum sp.), Onagraceae (Ludwigia sp.), Oxalidaceae (Oxalis sp.), entre outras que
formam um tapete herbáceo denso permanecendo verde o ano todo. Cabe ressaltar que
17
ao longo do período de trabalho, o local onde foram realizadas as coletas manteve
considerável espelho d’água mesmo durante os meses de seca.
3. Reserva da Fazenda Yamada - Coberta também pela Floresta Sub-
Caducifólia onde notou-se ainda a presença de Ceiba sp. (barriguda de espinho) e
Cereus jamacaru (mandacaru).
4. Reserva Biológica de Jaíba - Abrange 6.358ha e caracteriza-se por uma
vegetação de transição entre a Floresta Caducifólia (= Caatinga Arbórea sobre Dolinas)
e a Caatinga Hipoxerófila (= Caatinga Arbórea) (figura 9). Este tipo de formação é
bastante freqüente em relação às demais presentes na região de Jaíba. Apresenta árvores
de alturas variadas entre 6 e 12m, irregularmente espaçadas e de fustes finos em relação
à suas alturas. O estrato arbustivo é variado em espécies, com numerosos cipós (ex.
Passiflora sp.), algumas cactáceas do gênero Cereus , bromeliáceas como o “caroá”
(Neoglaziovia variegata), e gramíneas. Das árvores de ocorrência comum destacam-se:
Jatropha urens (cansanção), Caesalpinia pyramidalis (catingueira), Acacia sp.
(angiquinho), Ceiba sp. (barriguda de espinho), Cassia excelsa (canjão), etc. Dentre os
arbustos podem ser citadas Cassia sericea, Bougainvillea glabra (três marias),
Cochlospermum insigne, Alamanda blanchetii, Croton sp. (velame), Mimosa sp.,
Stachytarphetta elatior, e Calliandra sp..
5. Riacho Mocambinho - Excetuando-se os rios São Francisco e Verde Grande,
este é o único curso d’água perene presente na região. Sua mata ciliar está incluída na
Formação Perenifólia, cujas árvores mais comuns são: Hymenaea martiana (jatobá da
vazante); Geoffroea spinascens (marizeiro); Triplaris pachau (pagéu); Pterogyne nitens
(carne de vaca); Zizyphus joazeiro (joazeiro); Mouriria sp. (cruili); Sapindus saponaria
(sabão de gentio); Genipa americana (jenipapo); Celtis sp. e Bumelia sertorum
(quixabeira). Dentre os arbustos destacam-se Cassia sp., Myrciaria sp., Mimosa sp. e
Solanum sp.
A vegetação em torno da mata ciliar no local de coleta, junto à confluência com
o rio São Francisco, é do tipo Campos de Várzea. Esta caracteriza-se por uma
fisionomia arbustiva - herbácea, sempre verde, muito devastada e modificada pela ação
antrópica. Alguns arbustos com ocorrência registrada incluem-se nos gêneros Cassia,
Solanum e Croton.
18
6. CAM (Campus Avançado de Monitoramento) - Localiza-se nas
proximidades do rio São Francisco e sua cobertura vegetal está associada às formações
Campos de Várzea e Campos Antrópicos (figura 10). Esta última constitui-se de
arbustos, ervas e árvores esparsas, incluindo espécies invasoras e da flora regional.
Arbustos nativos dos gêneros Cassia, Solanum, Mimosa e Croton podem ser
encontrados. Observou-se também a presença de Hymenaea sp. Uatobá) e mais
freqüentemente de exemplares de Calliandra sp ..
7. Fazenda Solagro - Nessa localidade as coletas foram realizadas em um
bebedouro de gado que permaneceu com espelho d'água mesmo durante os meses
secos. A vegetação em tomo é do tipo Campos Antrópicos (figura 11).
8. Lote agrícola - Unidade básica na estrutura do Projeto de Irrigação do Jaíba,
e onde um dos principais produtos cultivados é a banana (Musa spp.). No lote onde
foram realizadas as coletas, além das plantações de banana, haviam ainda árvores
frutíferas como goiabeiras (Psidium guayava) e mangueiras (Mangifera indica).
Figura 7: Afloramento calcário do Morro Solto, reglaO de Jaíba, MG. Em primeiro plano observa-se a Caatinga Hiperxerófila, e ao fundo uma formação de Caatinga Arbórea.
19
Figura 8: Floresta Sub-Caducifólia à margem de àrea alagada no Dreno Jaíba, MG.
Figura 9: Vista geral da Reserva Biológica de Jaíba, MG, durante o período de seca.
20
Figura 10: Vegetação de Campos Antrópicos em tomo do CAM (Campus Avançado de Monitoramento), região de Jaíba, MG.
Figura 11: Bebedouro de gado na Fazenda Solagro, região de Jaíba, MG. (Foto: A. pol.)
21
Os morcegos foram, em sua grande maioria, capturados com o auxílio de redes
de espera (mist nets) armadas logo antes do pôr do sol, em trilhas no interior ou borda
de áreas florestadas, junto à refúgios, coleções d’água, e recursos alimentares, além de
outros possíveis locais de vôo. O período em que as redes se mantiveram abertas variou,
no geral, entre 3 e 6 horas após o pôr do sol. Também foram efetuadas capturas manuais
em forros de residências no CAM e no núcleo urbano de Mocambinho, bem como em
uma cisterna abandonada na Reserva Biológica de Jaíba. O número de redes utilizadas à
cada coleta variou de 1 a 4 conforme as oportunidades oferecidas em cada local.
Excluindo-se as coletas diurnas, foram realizadas 32 sessões de captura, 10 das quais
destinadas à amostragem do afloramento calcário do Morro Solto, priorizado por sua já
relatada importância na conservação dos quirópteros.
Depois de retirados das redes os morcegos eram acondicionados em sacos de
pano, passando em seguida por uma triagem onde registrava-se o horário de captura, sua
identificação preliminar, tamanho do antebraço, sexo e condição reprodutiva. O
tamanho do antebraço, bem como o de todas as demais medidas somáticas e também
cranianas aqui apresentadas, foi obtido com o auxílio de um paquímetro com precisão
de 0,05mm. Como indicativos de atividade reprodutiva das fêmeas considerou-se a
ocorrência de gravidez (feto detectável por apalpação) e lactação (presença de leite). Em
relação aos machos, o posicionamento dos testículos (abdominal ou excrotado) não foi
considerado em face a sua já constatada imprecisão como indicador de atividade
reprodutiva (cf. Reis, 1980; Racey, 1988).
Na análise do padrão de atividade horária das espécies mais freqüentes procedeu-
se um nivelamento do esforço amostral, já que como mencionado anteriormente a
duração das coletas foi variável. Isto foi obtido incluindo-se nas análises apenas os
indivíduos capturados em coletas com similar período de exposição das redes, ou ainda
restringindo-se a incluir aqueles que resultaram do maior esforço comum às coletas em
que a espécie foi amostrada. Através de observação direta junto à abrigo diurno, os
hábitos gerais de R. naso e N. albiventris foram investigados mais detalhadamente,
tendo-se obtido a maioria das informações durante 4 noites (duas inteiras e duas
parciais) em outubro de 1994.
22
Uma coleção representativa dos quirópteros da região, preparada com o intuito
de se obter uma identificação segura do material, subsidiou o estudo sistemático aqui
apresentado. Os exemplares foram sacrificados em recipiente contendo éter, sendo, em
sua maioria, fixados em formol 10% e preservados em álcool 70%. Alguns espécimens
foram taxidermizados. Este material foi incorporada à coleção A. L. Peracchi,
atualmente depositada no Instituto de Biologia da UFRRJ.
Para todas as espécies amostradas são apresentadas 10 medidas (antebraço e 9
cranianas) usuais na literatura abordando a sistemática dos quirópteros. Estas foram
tomadas como descrito por Williams et al. (1995), tendo-se adotado no decorrer do
texto as seguintes abreviações: An - antebraço; Ctc - comprimento total do crânio
(incluindo os incisivos); Ccb - comprimento côndilo-basal (excluindo os incisivos); Lz -
largura zigomática; Cpo - constrição pós-orbital; Lcx - largura da caixa craniana; Lmt -
largura mastóidea; C-M - comprimento da série de dentes maxilares; Lm - largura
externa do molares superiores; Lc - largura externa dos caninos superiores. Quando
pertinente, entretanto, medidas adicionais importantes na caracterização de grupos ou
espécies particulares, são fornecidas citando-se a referência adotada para efetivação das
mesmas.
Em função do dimorfismo sexual secundário, já conhecido para diversas
espécies, dados morfométricos são apresentados separadamente em relação à machos e
fêmeas. Em conformidade com o adotado por Willig (1983), considerou-se 3 espécimes
a amostra mínima para análises estatísticas. Quando se obteve pelo menos 3 exemplares
de cada sexo, além de se proceder uma análise descritiva dos dados aplicou-se o teste t
para verificar a ocorrência de dimorfismo sexual secundário significante nas espécies.
Todos os exemplares incluídos em tais análises foram considerados adultos, com base
no grau de ossificação das epífises. As medidas referentes aos espécimes, apresentadas
nas tabelas e ao longo do texto, encontram-se todas em mm. A dimensão apresentada
para os embriões corresponde ao maior comprimento dos mesmos em posição natural.
Na organização sistemática e nomenclatura das espécies adotou-se as
proposições de Koopman (1993), enquanto em relação à ordem de citação das mesmas
seguiu-se Cabrera (1958).
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Família Emballonuridae Gervais, 1856
Rhynchonycteris naso (Wied-Neuwied, 1820)
- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio Mucuri.
- Distribuição: Leste de Oaxaca e Veracruz central (México) até o centro e leste do
Brasil, Peru, Bolívia, Guiana Francesa, Guiana, e Suriname; Trinidad (Koopman, 1993).
- Material examinado: 26 exemplares (7 machos e 19 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 17 exemplares (4 machos e 13 fêmeas). Machos:
ALP 6844 (11-IV-94); ALP 6918 (23-X-94); ALP 6931, 6933 (24-X-94). Fêmeas: ALP
6845, 6850 (11-IV-94); ALP 6919 (23-X-94); ALP 6924, 6925, 6927, 6929, 6930,
6934, 6935, 6936, 6937, 6938 (24-X-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para R. naso encontram-
se na tabela 1. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 6,42% (Cpo dos machos) e o
menor, 0,39% (Lz dos machos). As médias das medidas obtidas para machos e fêmeas
não apresentaram um padrão claro de variação associada ao sexo. Fêmeas foram, em
média maiores que os machos em 5 dos 10 caracteres examinados (An, Lz, Lcx, Lmt e
Lm), mas nível estatisticamente significante de dimorfismo sexual (P < 0,05) não foi
obtido em nenhum deles. Já os machos foram, em média, maiores que as fêmeas nos 5
caracteres restantes (Ctc, Ccb, Cpo, C-M e Lc), notando-se nível significante de
dimorfismo em apenas um (Lc). Contudo, quando em relação ao tamanho do antebraço
aumenta-se a amostragem dos machos através da inclusão de dados de indivíduos
mensurados e soltos, nota-se uma diferença entre as médias resultantes (N = 3, An -
24
39,7; N = 6, An - 38,95) que amplia para um nível estatisticamente significante (P =
0,0195) a divergência entre machos e fêmeas em relação à este caracter. Tal fato indica
que a pequena amostragem utilizada em relação aos machos pode estar falseando os
resultados obtidos. De acordo com Sanborn (1937), fêmeas são, em média, maiores que
os machos tanto no tamanho do antebraço quanto em medidas cranianas.
Tabela 1: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Rhynchonycteris naso provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 3) Fêmeas (N = 9)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV teste t
An 39,70 (38,0-40,8) 1,49 3,76 41,01 (39,15-43,1) 1,34 3,28 0,1849 Ctc 12,35 (12,3-12,4) 0,05 0,40 12,19 (11,75-12,5) 0,21 1,76 0,2543 Ccb 11,10 (11,0-11,2) 0,10 0,90 11,07 (10,7-11,35) 0,22 1,97 0,8076 Lz 7,33 (7,3-7,35) 0,03 0,39 7,36 (7,15-7,6) 0,15 2,08 0,8133 Cpo 2,70 (2,6-2,9) 0,17 6,42 2,59 (2,4-2,8) 0,14 5,36 0,2810 Lcx 6,27 (6,1-6,4) 0,15 2,44 6,44 (6,3-6,7) 0,13 2,03 0,0776 Lmt 6,63 (6,55-6,7) 0,08 1,15 6,69 (6,5-6,8) 0,11 1,60 0,3896 C-M 4,42 (4,4-4,45) 0,03 0,65 4,39 (4,3-4,5) 0,07 1,55 0,6047 Lm 4,58 (4,45-4,75) 0,15 3,33 4,64 (4,5-4,85) 0,13 2,77 0,5087 Lc 3,43 (3,3-3,5) 0,12 3,36 3,20 (3,0-3,4) 0,15 4,69 0,0352*
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.
Sanborn (1937) apresentou extremos de medidas de R. naso baseados em uma
coleção de 233 espécimes provenientes de diversas localidades ao longo da área de
distribuição da espécie, mas não inclui material do Sudeste brasileiro. Comparando-se
esses dados aos aqui obtidos nota-se que os exemplares do norte de Minas Gerais
apresentam dimensões, no geral, grandes para a espécie, algumas delas excedendo o
extremo superior apresentado por Sanborn (1937) (Ccb, Lz, Cpo, Lcx e Lm), ou ainda
não se sobrepondo às medidas por ele relatadas (Ctc). Observou-se também, que as
médias obtidas à partir de medidas de R. naso fornecidas por Husson (1962) para o
Suriname são consideravelmente menores que as reportadas aqui para a maioria dos
caracteres analisados (tabela 2). Infelizmente, a escassez de dados morfométricos
referentes à este embalonurídeo, principalmente em território brasileiro, não permite
uma interpretação acurada sobre um possível padrão de variação geográfica nesta
25
espécie. Patterson (1992) mencionou extremos e médias das medidas de alguns
espécimes procedentes da Amazônia brasileira (Amazonas e Pará), tendo tratado
conjuntamente machos e fêmeas. Sobre este material foi possível constatar que, em
relação aos valores médios, tanto os machos quanto as fêmeas do norte de Minas Gerais
apresentaram medidas superiores. Outras dimensões, na maioria das vezes apenas
externas, de espécimes de R. naso procedentes do Brasil, foram relatadas por Lima
(1926), Vieira (1942) e Carter & Dolan (1978). Destes apenas Vieira (1942) discriminou
medidas (externas) de um espécime do Sudeste brasileiro (Espírito Santo) que
apresentava 37,0 de antebraço.
Tabela 2: Extremos de medidas de Rhynchonycteris naso fornecidas por Sanborn (1937) para diversas localidades das Américas Central e do Sul (AC/AS), e pelo presente estudo para região de Jaíba, MG; além de médias relatadas por Husson (1962) para o Suriname, e pelo presente estudo para Minas Gerais. Machos e Fêmeas Machos Fêmeas
Caracter AC/AS MG Suriname MG Suriname MG
An 35,3-40,7 38,0-43,1 37,9 39,70 38,6 41,01 Ctc 11,2-11,6 11,75-12,5 11,7 12,35 11,74 12,19 Ccb 10,0-11,2 10,7-11,35 10,4 11,10 10,36 11,07 Lz 6,7-7,3 7,15-7,6 6,93 7,33 7,04 7,36 Cpo 2,3-2,8 2,4-2,9 2,42 2,70 2,36 2,59 Lcx 5,7-6,5 6,1-6,7 6,02 6,27 6,14 6,44 Lmt 6,3-6,8 6,5-6,8 6,44 6,63 6,48 6,69 C-M 4,3-4,7 4,3-4,5 4,34 4,42 4,32 4,39 Lm 4,2-4,7 4,45-4,85 4,22 4,58 4,58 4,64 Lc 3,1-3,5 3,0-3,5 2,95 3,43 3,2 3,20
Tamanho das amostras: AC/AS - 233 M/F; MG - 12 M/F; Suriname - 5 M e 5 F; MG - 3 M e 9 F.
- Hábitos gerais: Duas colônias de R. naso, com cerca de 80 e 10 indivíduos,
respectivamente, foram encontradas sob ponte de madeira no riacho Mocambinho, onde
algumas observações sobre a espécie foram conduzidas (Nogueira & Pol, no prelo).
Nessa localidade, refúgios naturais foram vistos sendo explorados apenas de forma
secundária, quando, depois de perturbados, os morcegos partiam em grupo, voando
próximo a água, até um tronco de árvore situado na margem do riacho a cerca de 50m
da ponte. Outro tronco localizado a mesma distância e que pendia sobre o riacho na
margem oposta também era utilizado.
26
A presença de R. naso em áreas sob considerável ação antrópica demonstra
certo grau de plasticidade dessa espécie frente as alterações ambientais. Abrigos
artificiais podem ser mais propícios do que os naturais já que, apesar da disponibilidade
de recursos providos pela mata ciliar, ambas as colônias observadas utilizavam uma
ponte como refúgio primário. Sabendo-se que o tamanho de colônias desta espécie na
Costa Rica variava entre 3 e 45 indivíduos (Bradbury & Vehrencamp, 1976) e no
México, em sua maioria, entre 10 e 25 (Dalquest, 1957), o número de cerca de 80
indivíduos aqui citado pode ser considerado elevado. Como constatado por Marques
(1985a) em relação à presença do frugívoro Carollia perspicillata (Phyllostomidae) em
bueiros, o tamanho do abrigo pode ser o fator determinante, já que em duas pontes
menores localizadas na mesma região, colônias de R. naso restringiram-se a cerca de 30
indivíduos (A. Pol, com. pess.). Como ocorre na maioria das espécies que ocupam
construções humanas e cavernas como refúgio (Lewis, 1995), as colônias de R. naso
mostraram-se fiéis ao abrigo (ponte), permanecendo nele durante todo período de
estudo.
Todos os exemplares de R. naso obtidos foram coletados em redes armadas
sobre o riacho Mocambinho nas imediações do abrigo já citado. Integrantes das
referidas colônias partiam para o forrageio cerca de 25min após o pôr do sol, retornando
em média 01:20h mais tarde. Tal regresso, entretanto, restringia-se a uma parcela
estimada em torno de 30 a 40% do total de morcegos observados, notando-se dentre
estes a presença de fêmeas que haviam deixado seus filhotes no abrigo. Por volta das
04:00h os exemplares de R. naso presentes na ponte saíam para um segundo forrageio e,
entre 05:00 e 05:10h, cerca de 20min antes do nascer do sol, retornavam juntamente
com os demais componentes das colônias.
Estes dados apontam um padrão bimodal de atividade com forrageios ao final
do crepúsculo e antes da alvorada. Estratégia similar foi observada, também no presente
estudo, em relação a duas colônias de N. albiventris, espécie predominantemente
insetívora (Hood & Pitocchelli, 1983) e que partilhava o abrigo com R. naso. Uma
sobreposição na atividade noturna dessas espécies pode ser evidenciado através da
figura 12 onde apresenta-se o número estimado de indivíduos, em cada uma delas, que
ocupavam a ponte ao longo do período de observação. O padrão bimodal aqui referido
27
tem sido citado para outros morcegos que, a exemplo de R. naso, são exclusivamente
insetívoros (Anthony & Kunz, 1977; Marques, 1986; Chase et al., 1991), podendo
refletir uma maior abundância na disponibilidade de insetos, como sugerido por
Marques (1986).
020406080
100120140160180200220
17:00 19:00 21:00 23:00 1:00 3:00 5:00
Horas
Número de indivíduos
R. naso
N. albiventris
Figura 12: Número estimado de indivíduos de R. naso e de N. albiventris que partilhavam abrigo sob ponte no riacho Mocambinho, região de Jaíba, MG. Morcegos presentes às 17:00 e às 5:00h constituíam as colônias que ocupavam o local como abrigo diurno.
O retorno parcial dos integrantes das colônias de R. naso sugere a utilização de
abrigos secundários durante a noite, fato também observado por Dalquest (1957) no
México. O riacho Mocambinho, onde grupos de R. naso foram observados voando até
1,5m acima da superfície da água, e o rio São Francisco, para onde diversos exemplares
se dirigiam, por certo constituem áreas de forrageio desta espécie. Estes dados
corroboram as citações de Plumpton & Jones (1992) e Kalko (1995) dando conta de que
morcegos dessa espécie forrageiam quase exclusivamente sobre a água, caçando insetos
até cerca de 3m acima da superfície.
Na menor colônia os indivíduos apresentavam um padrão oval de distribuição
espacial, enquanto na estimada em 80 morcegos, além deste arranjo, formações lineares
e indivíduos isolados sem compor um aparente padrão foram também observados, o que
pode indicar a formação de subgrupos. A distância entre os indivíduos incluídos nos
agrupamentos variou, em média, de 1 a 15cm.
28
pode indicar a formação de subgrupos. A distância entre os indivíduos incluídos nos
agrupamentos variou, em média, de 1 a 15cm.
As duas colônias de N. albiventris que coabitavam a ponte sobre o riacho
Mocambinho com R. naso, ocupavam cada uma um lado da ponte, de forma similar à
observada nesta última espécie. Notou-se, entretanto, que uma competição direta por
espaço é evitada, jà que enquanto R. naso abrigava-se sob as vigas de madeira (figura
13), tratando-se de espécie mais adaptada à luminosidade, N. albiventris ocupava as
frestas entre as vigas (figura 16) (mas veja também comentàrios sobre N. albiventris).
Figura 13: Colônia de Rhynchonycteris naso abrigada sob ponte de madeira na região de Jaiba, MG. (Foto: A. Pol.)
- Reprodução: Em observações realizadas no mês de outubro, quando as colônias de R.
naso atravessavam período reprodutivo, notou-se que as mães deixavam seus filhotes no
abrigo durante o forrageio. Alguns destes foram vistos em pequenos vôos de
aprendizado sempre junto à ponte. Ao retornar cada temea pousava ao lado de seu
filhote e tocando-lhe com o antebraço parecia dar-lhe um sinal para que ele se juntasse
29
mãe erguia a parte anterior de seu corpo, aumentando o espaço entre ela e a superfície
do abrigo.
Notou-se a presença de uma colônia maternidade, composta por cerca de 9
indivíduos adultos, e que situava-se mais ao centro da ponte, isolada das demais
colônias posicionadas uma em cada lateral. Os riscos à manutenção da prole neste local,
onde a queda de um filhote diretamente sobre a água poderia ser fatal, parece não
constituir restrição para R. naso. A separação das fêmeas durante o período reprodutivo
foi mencionada anteriormente por Dalquest (1957) e Bradbury & Vehrencamp (1976),
destacando o primeiro autor que, em tal época, fêmeas com filhotes procuram abrigos
mais seguros como ocos de árvores. Contudo, constatou-se no presente estudo que, ao
contrário do observado por Dalquest (1957), as fêmeas podem permanecer com seus
filhotes no mesmo abrigo, utilizando local distinto e que pode ser, aparentemente, ainda
mais exposto que o da colônia principal.
Duas fêmeas grávidas coletadas em outubro apresentavam-se em final de
gestação. Fêmeas lactantes foram coletadas em abril (1) e outubro (5). Esses dados,
aliados ao fato de que fêmeas em atividade reprodutiva não foram observadas na região
estudada durante o período de seca (A. Pol, com. pess.), sugerem um padrão poliestro
bimodal, com nascimentos ocorrendo no início e ao final do período chuvoso. Esta
sazonalidade reprodutiva foi constatada também por Bradbury & Vehrencamp (1976) na
Costa Rica, verificando-se, entretanto, que em certas partes de sua distribuição R. naso
pode reproduzir-se ao longo de todo o ano (Plumpton & Jones, 1992). O caráter
assincrônico dos partos, característico nesta espécie (Bradbury & Vehrencamp, 1976),
também foi registrado no presente estudo através da constatação simultânea de uma
fêmea grávida e filhotes em diferentes estágios de desenvolvimento.
Uma fêmea em período final de gestação e mantida por algumas horas em saco
de pano até que pudesse ser solta após o fechamento das redes, abortou um filhote com
18,6mm de antebraço (43,5% do antebraço materno), o corpo já recoberto por pêlos de
coloração similar a dos adultos, e os tufos brancos no antebraço, característicos da
espécie, já presentes. Considerando-se que colônias desta espécie utilizam abrigos
expostos, como os aqui mencionados, e que a cor dos pêlos nos adultos propicia certo
grau de camuflagem protetora (Hill & Smith, 1984), as duas últimas características
30
mencionadas anteriormente podem influenciar na sobrevivência dos filhotes, já que
estes permanecem no abrigo durante o forrageio dos adultos. Registros da predação, em
abrigo diurno, de R. naso por aves de rapina como Buteo magnirostris e Falco
rufigularis podem ser encontrados na literatura (cf. Husson, 1962).
Dois filhotes capturados manualmente no abrigo e que foram vistos executando
pequenos vôos de aprendizado sob a ponte mediam respectivamente 33,2 e 33,6mm de
antebraço. Segundo Plumpton & Jones (1992) filhotes de R. naso atingem o tamanho
adulto em cerca de 2 semanas, demonstrando um rápido desenvolvimento pós-natal
quando comparado, por exemplo, ao frugívoro Carollia perspicillata. Nesta última
espécie neonatos levam 6 semanas até que seus antebraços atinjam o tamanho adulto
(Fleming, 1988).
Apenas em uma ocasião capturou-se uma fêmea carregando seu filhote em vôo,
o que provavelmente deveu-se a perturbação provocada pela movimentação da coleta
junto ao abrigo. Davis (1970) referiu-se a diversos casos de transporte de filhotes
citados na literatura, como tendo sido ocasionados por distúrbio, não representando um
comportamento normal das espécies. Na região cárstica do Vale do Ribeira, São Paulo,
Trajano (1984) raramente coletou fêmeas carregando seus filhotes, constatando ainda,
através de observação direta em colônias do insetívoro P. macrotis (Emballonuridae),
que nesta espécie tal estratégia não é adotada.
Peropteryx macrotis (Wagner, 1843)
- Localidade tipo: Brasil, Mato Grosso.
- Distribuição: Guerrero e Yucatan (México) até o Peru, Paraguai, e sul/leste do Brasil;
Trinidad e Tobago; Ilha de Margarita (Venezuela); Aruba (Antilhas Holandesas);
Granada (Koopman, 1993).
- Material examinado: 10 exemplares (6 machos e 4 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 8 exemplares (5 machos e 3 fêmeas). Machos: ALP
6939 (25-X-94); ALP 6969 (20-II-95); ALP 6981, 6982, 6983 (1-III-95). Fêmeas: ALP
6858 (14-VI-94), ALP 6904 (14-X-94), ALP 6988 (1-III-95).
31
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para P. macrotis
encontram-se na tabela 3. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 7,44% (Cpo dos
machos) e o menor, 0,46% (Lcx dos machos). Todas as médias das medidas das fêmeas
foram superiores as dos machos, tendo-se verificado níveis significantes de dimorfismo
sexual (P < 0,05) em 7 dos 10 caracteres examinados (An, Ctc, Ccb, Lz, C-M, Lm e Lc).
Tabela 3: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Peropteryx macrotis provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 4) Fêmeas (N = 3)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV p
An 38,50 (38-39,4) 0,62 1,62 41,97 (41,6-42,4) 0,40 0,96 0,0004* Ctc 13,10 (13-13,2) 0,12 0,88 14,00 (13,9-14,1) 0,10 0,71 0,0001* Ccb 12,03 (11,85-12,35) 0,22 1,84 12,92 (12,75-13,25) 0,29 2,23 0,0055* Lz 7,68 (7,45-7,9) 0,19 2,52 8,15 (7,9-8,35) 0,23 2,81 0,0307* Cpo 2,76 (2,5-2,95) 0,21 7,44 2,88 (2,8-2,95) 0,08 2,65 0,3855 Lcx 6,28 (6,1-6,6) 0,23 3,59 6,33 (6,3-6,35) 0,03 0,46 0,6817 Lmt 7,08 (6,85-7,35) 0,24 3,39 7,30 (7,25-7,35) 0,05 0,68 0,1787 C-M 5,00 (4,9-5,05) 0,07 1,41 5,33 (5,25-5,4) 0,08 1,43 0,0019* Lm 5,53 (5,3-5,75) 0,23 4,21 5,98 (5,9-6,05) 0,08 1,28 0,0236* Lc 3,04 (3-3,15) 0,07 2,47 3,45 (3,4-3,55) 0,09 2,51 0,0011*
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.
Os dados mais abrangentes disponíveis atualmente sobre a morfometria P.
macrotis, incluindo amostragens de diversas localidades ao longo de sua distribuição
geográfica, foram apresentados por Sanborn (1937). Das 3 subespécies por ele
reconhecidas, P. m. macrotis seria a única com ocorrência no continente Sul-americano,
tendo o referido autor examinado 187 espécimes correspondentes à esta forma, dentre os
quais alguns procedentes de Minas Gerais. À exceção do tamanho do antebraço das
fêmeas (41,6-42,4), cujas medidas foram ainda menores que o extremo inferior (43,5)
proposto por Sanborn (1937), todas as demais dimensões aqui obtidas concordam com
as fornecidas por este autor.
Comparando-se as médias das medidas aqui apresentadas com as reportadas por
Willig (1983) para uma coleção proveniente das caatingas de Pernambuco (15 machos e
7 fêmeas), nota-se, de forma mais evidente nos machos, que os espécimes do norte de
32
Minas Gerais possuem dimensões menores que os do Nordeste. Tal tendência sobressai-
se ainda mais quando o cotejo é feito em relação a material da Guiana Francesa referido
por Brosset & Charles-Dominique (1990). Dimensões de 1 macho proveniente do
Estado de São Paulo e de 1 fêmea do Espírito Santo foram apresentadas,
respectivamente, por Vieira (1942) e por Ruschi (1951e). Em ambos os casos as
medidas apresentadas foram, em geral, superiores às obtidas para o material do norte de
Minas Gerais (tabela 4). Amostragens mais consistentes, principalmente nas áreas mais
ao sul da distribuição da espécie, são necessárias para averiguar se a diferenciação
observada deve-se ao acaso ou realmente reflete um padrão de variação geográfica.
O dimorfismo sexual secundário aqui observado, com fêmeas sendo maiores do
que machos, corrobora os resultados obtidos por Willig (1983) em sua análise
morfométrica sobre este embalonurídeo.
Tabela 4: Médias de medidas de Peropteryx macrotis apresentadas por Brosset & Charles-Dominique (1990) para a Guiana Francesa (GF), por Willig (1983) para Pernambuco (PE), e por este estudo para a região de Jaíba, MG; além de dimensões individuais fornecidas por Vieira (1942) para o Estado de São Paulo (SP), por Ruschi (1951e) para o Espírito Santo (ES), e também por Brosset & Charles-Dominique (1990) para a Guiana Francesa. Machos Fêmeas
Caracter GF PE MG SP GF PE MG ES
An 43 42,0 38,5 41,0 45,48 43,57 41,97 44,0 Ctc 14 13,75 13,1 16,0 14,68 13,99 14,0 15,5 Ccb - 12,74 12,03 - - 13,03 12,92 - Lz 7,9 8,15 7,68 9,0 8,52 8,31 8,15 8,5 Cpo 2,8 2,47 2,76 - 2,72 2,5 2,88 3,5 Lcx - 6,49 6,28 - - 6,49 6,33 - Lmt - 7,25 7,08 - - 7,27 7,3 - C-M 5,3 5,49 5,0 7,5 5,74 5,53 5,33 6,0 Lm 6 6,02 5,53 - 6,58 6,48 5,98 - Lc - 3,47 3,04 4 - 3,67 3,45 3,5
Tamanho das amostras: GF - 1 M e 5 F; PE - 15 M e 7 F; MG - 4 M e 3 F; SP - 1 M; ES - 1 F.
- Hábitos gerais: Espécie amostrada exclusivamente no afloramento de calcário do
Morro Solto. Indivíduos isolados e pequenos grupos de 2 a 5 morcegos foram
freqüentemente observados abrigando-se junto à entrada de cavidades em locais
33
expostos a luminosidade mas protegidos da incidência direta dos raios solares. Em uma
ocasião registrou-se a presença de 2 exemplares, distantes cerca de 1,5m um do outro,
ocupando a entrada de uma cavidade onde D. rotundus formava colônia estimada em
150 indivíduos. Todos os espécimes foram capturados na 1a hora após o pôr do sol,
indicando atividade crepuscular já descrita para este insetívoro aéreo por Willig (1983) e
Trajano (1984).
Diversos autores tem mencionado a presença de P. macrotis junto à entrada de
cavidades (Ruschi, 1951e; Genoways et al., 1981; Myers et al., 1983; Trajano, 1984;
Bredt & Uieda, 1996), existindo ainda aqueles que referem-se a utilização de cavidades
bem iluminadas (Sanborn 1937; Goodwin & Greenhall, 1961). Outros tipos de abrigo
assinalados na literatura incluem fendas entre rochas (Sanborn, 1937; Genoways et al.,
1981; Peracchi & Albuquerque, 1986, Willig 1983), troncos ocos (Emmons, 1990) e
construções humanas, tais como túneis, bueiros (Willig, 1983; Emmons, 1990), forros
de igrejas (Goodwin & Greenhall, 1961), e telhados de prédios e casas (Bredt e Uieda,
1996). Colônias desta espécie têm sido encontradas tanto em área rural (Peracchi &
Albuquerque, 1986; Bredt & Uieda, 1996) como em meio urbano (Bredt & Uieda,
1996), o que demostra grande plasticidade comportamental frente às alterações
ambientais. É possível que na área aqui estudada sua ocorrência não esteja estritamente
associada aos afloramentos calcários.
Quanto ao tamanho das colônias, os pequenos grupos aqui observados parecem
ser uma característica da espécie, já que na grande maioria dos trabalhos consultados o
número de indivíduos mencionados variou 1 a 10 indivíduos (Goodwin & Greenhall,
1961; Peracchi & Albuquerque, 1986; Trajano, 1984; Willig, 1983; Brosset & Charles-
Dominique, 1990). A associação com D. rotundus foi constatada também por Coimbra
et al. (1982) e Trajano (1984), havendo ainda registros de coabitação com pelo menos
16 outras espécies (Ruschi, 1951e; Goodwin & Greenhall, 1961; Trajano, 1984;
Graham, 1987).
Vocalizações emitidas por um espécime, enquanto o mesmo era retirado da rede,
atraiu um co-específico que saiu de cavidade próxima e após sobrevoa-lo retornou ao
abrigo. Tais vocalizações, denominadas por Fenton et al. (1976) de “distress calls”
34
são emitidas pelo animal quando este se encontra sob ameaça física, e já foram
registradas para, dentre outras espécies, P. kappleri (Monteiro-Filho et al., 1988). Para
esta última espécie, gritos de distress podem representar importante comunicação intra-
específica adaptada à defesa (Monteiro-Filho et al., 1988), o que deve se estender
também a P. macrotis.
- Reprodução: Nenhum dado foi obtido no presente estudo. No Vale do Ribeira,
Trajano (1984) encontrou fêmeas lactantes em dezembro, tendo sugerido para P.
macrotis um padrão reprodutivo monoestro sazonal, com pico de nascimentos entre o
fim da estação seca e início da chuvosa.
Peropteryx kappleri Peters, 1867
- Localidade tipo: Suriname.
- Distribuição: Sul de Veracruz (México) até o leste do Brasil, e Peru (Koopman,
1993).
- Material examinado: 1 exemplar (macho).
- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (macho). ALP 6980 (1-III-95).
- Morfometria e comentários: Medidas selecionadas do exemplar obtido são:
antebraço, 48.7; comprimento total do crânio, 16.95; comprimento côndilo-basal, 15.5;
largura zigomática, 10.1; constrição pós-orbital, 3.25; largura da caixa craniana, 7.4;
largura mastóidea, 8,45; comprimento da série de dentes maxilares, 6.7; largura externa
dos molares superiores, 7.35; largura externa dos caninos superiores, 4.35. Todos os
valores registrados enquadram-se nas variações apresentadas por Sanborn (1937) em
relação aos respectivos caracteres. Os dados apresentados por este autor basearam-se
numa amostragem de 93 exemplares provenientes de distintas localidades das Américas
do Sul e Central, não tendo incluído, entretanto, material brasileiro. Vieira (1942)
forneceu medidas externas e cranianas de 2 fêmeas procedentes do Estados do Rio de
Janeiro e São Paulo, respectivamente, ambas com dimensões superiores às do macho
coletado em Jaíba.
35
- Hábitos gerais: Espécie também amostrada apenas no afloramento de calcário do
Morro Solto (figura 14). Dois exemplares foram encontrados abrigando-se a cerca de
1,70m do solo na raiz oca de um Ficus sp. situado em depressão do afloramento.
Quando perturbados, ambos partiram para o interior de uma cavidade adjacente
pousando próximo a entrada e distantes cerca de O,5m um do outro. Com uma rede
disposta na entrada desta cavidade capturou-se, na 1 ª hora após o pôr do sol, o único
espécime de P. kappleri obtido.
,
. -Figura 14: Peropleryx kappleri em cavidade calcária no Morro Solto, região de Jaíba, MO. (Foto: A. PoI.)
Tais observações entram em acordo com os resultados alcançados por Bradbury
& Vehrencamp (1976) a partir de estudos conduzidos sobre esta espécie na Costa Rica.
Estes autores citam colônias variando entre 1 e 6 indivíduos, abrigadas em
concavidades situadas a cerca de 1m do chão nas raízes escoras de grandes árvores, e
também no interior de troncos caídos. Ainda segundo os referidos autores, morcegos
desta espécie apresentam contato corporal quando em repouso no abrigo, mas ao serem
perturbados separam-se imediatamente adotando um espaçamento entre eles de 3 a .
36
5mm, típico de outros embalonurídeos estudados no mesmo local.
A captura na 1a hora após o pôr do sol por certo reflete os hábitos insetívoros
desta espécie que, provavelmente por forragear na sub-copa (Bradbury & Vehrencamp,
1976; Bonaccorso, 1979), tem se mantido ausente em extensos inventários que não
utilizaram redes suspensas (Willig, 1983; Reis & Peracchi, 1987; Peracchi &
Albuquerque, 1993; ver também Voss & Emmons, 1996). Segundo Bradbury &
Vehrencamp (1976), P. kappleri limita-se a forragear em áreas de floresta madura, não
tendo sido observado em bordas de mata, formações secundárias ou sobre a água, o que
pode indicar uma sensibilidade desta espécie a alterações de hábitat.
- Reprodução: Nenhum dado foi obtido para a região de Jaíba. Na Costa Rica,
Bradbury & Vehrencamp (1976) registraram nascimentos em maio e junho.
Família Noctilionidae Gray, 1821
Noctilio albiventris Desmarest, 1818
- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio São Francisco.
- Distribuição: Sul do México até as Guianas, leste do Brasil, norte da Argentina, e
Peru (Koopman, 1993).
- Material examinado: 41 exemplares (23 machos e 18 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 14 exemplares (6 machos e 8 fêmeas). Machos:
ALP 6846, 6847, 6848 (11-IV-94); 6923, 6932 (24-X-94); 6997 (2-III-95). Fêmeas:
ALP 6920 (23-X-94); ALP 6921, 6922, 6926, 6928 (24-X-94); ALP 6962 (13-I-95);
ALP 6967 (16-I-95); ALP 6996 (2-III-95).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para N. albiventris
encontram-se na tabela 5. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 6,17% (Lmt dos
machos) e o menor, 0,70% (Ccb dos machos). Todas as médias das medidas dos machos
foram superiores as das fêmeas, tendo-se verificado níveis significantes de dimorfismo
sexual secundário (P < 0,05) em 5 dos 10 caracteres examinados (An, Ctc, Ccb, Lmt e
Lc).
37
Tabela 5: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Noctilio albiventris provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 5) Fêmeas (N = 5)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P
An 59,98 (59-61,1) 0,95 1,59 58,03 (57,2-59,2) 0,82 1,40 0,0130* Ctc 19,36 (19,25-19,55) 0,14 0,74 18,66 (18,3-18,9) 0,26 1,40 0,0020* Ccb 18,08 (17,9-18,2) 0,13 0,70 17,53 (17,1-18,05) 0,36 2,06 0,0248* Lz 14,59 (14,2-15,1) 0,38 2,60 13,92 (13,25-14,5) 0,47 3,35 0,0543 Cpo 5,91 (5,8-6,25) 0,22 3,81 5,71 (5,55-5,85) 0,11 1,90 0,1164 Lcx 11,01 (10,75-1,25) 0,21 1,94 10,98 (10,6-11,4) 0,32 2,91 0,8671 Lmt 14,45 (13,65-15,6) 0,89 6,17 12,42 (12-13,2) 0,48 3,84 0,0031* C-M 7,33 (7,2-7,4) 0,09 1,18 7,13 (6,95-7,35) 0,15 2,14 0,0581 Lm 9,14 (8,95-9,45) 0,22 2,38 8,9 (8,65-9,2) 0,21 2,35 0,1401 Lc 6,99 (6,6-7,25) 0,29 4,11 6,35 (6,2-6,5) 0,12 1,93 0,0027*
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.
Uma extensa variação geográfica e não geográfica existe em N. albiventris
(Hood & Pitocchelli, 1983), tendo Davis (1976) reconhecido 4 subespécies. De acordo
com as áreas de distribuição fornecidas para cada uma delas pelo citado autor, o material
de Jaíba estaria associado a N. a. albiventris, forma típica a qual correspondem
espécimes do Estado de São Paulo analisados por Taddei et al. (1986). Contudo,
comparando-se as médias das dimensões aqui obtidas com as apresentadas por estes
autores, nota-se que os espécimes da norte de Minas Gerais são menores em todos os
caracteres analisados, tanto para machos quanto para fêmeas. Situação similar, porém
não tão evidente, é verificada quando confronta-se as médias das medidas dos
espécimes de Jaíba com as fornecidas por Davis (1976) para uma coleção obtida na Ilha
de Marajó. À exceção do tamanho do antebraço, as dimensões médias aqui citadas são,
no geral, também menores que as reportadas por este último autor (tabela 6).
Tais constatações vêm a corroborar as considerações expostas por Taddei et al.
(1986), que após examinar material proveniente de distintas localidades fizeram o
seguinte comentário: “Aparentemente, as populações de N. a. albiventris, que ocorrem
nas Guianas, Venezuela e ao longo do Rio Amazonas até a Ilha de Marajó, são mais
avantajadas, decrescendo em tamanho em direção ao sul da Estado do Pará (Rio
Tapajós, Rio Iriri) e em áreas do Nordeste brasileiro. Por outro lado, os dados
38
disponíveis também sugerem que há um aumento gradual dos espécimes de populações
do Nordeste brasileiro, São Paulo e Paraguai.”.
Tabela 6: Médias de medidas de Noctilio albiventris apresentadas por Davis (1976) para a Ilha de Marajó (IM), pelo presente estudo para a região de Jaíba, MG, e por Taddei et al. (1986) para o Estado de São Paulo (SP).
Machos Fêmeas
Caracter IM MG SP IM MG SP
An 58,66 59,98 61,371 57,84 58,03 59,58 Ctc - 19,36 21,761 - 18,66 20,07 Ccb 18,76 18,08 19,05 18,07 17,53 18,01 Lz 14,92 14,59 15,20 14,20 13,92 14,212 Cpo - 5,91 6,05 - 5,71 5,89 Lcx 10,84 11,01 11,37 10,64 10,98 11,12 Lmt - 14,45 14,72 - 12,42 13,212 C-M 7,6 7,33 7,76 7,26 7,13 7,18 Lm 9,55 9,14 9,471 9,25 8,9 9,03 Lc - 6,99 7,081 - 6,35 6,32
Tamanho das amostras: IM - 10 M e 10 F; MG - 5 M e 5 F; SP - 20 M e 30 F (119 M, 229 F).
Com relação a variação individual, é digno de nota que entre os caracteres aqui
estudados, tanto nos machos quanto nas fêmeas, os mais altos valores de coeficiente de
variação (CV) foram obtidos na largura mastóidea, fato também verificado por Taddei et
al. (1986), nos espécimes de São Paulo, e, considerando-se os mesmos caracteres, por
Barquez (1987) na Argentina. A ocorrência de dimorfismo sexual secundário em N.
albiventris, corroborada no presente estudo onde machos foram maiores que as fêmeas,
foi assinalada tanto por Davis (1976) quanto por Taddei et al. (1986).
Constatou-se uma variação na coloração da pelagem dos indivíduos coletados,
tendo-se observado desde espécimes com o ventre pardo claro até alaranjado, esta
última fase mais freqüente (figura 15). Tal variação estendeu-se a ambos os sexos, e de
acordo com Hood & Pitocchelli (1983) ocorre não somente entre indivíduos como entre
populações de diferentes localidades geográficas.
- Hábitos gerais: Duas colônias de N. albiventris, cada uma com cerca de 8 indivíduos,
foram encontradas abrigando-se em ponte de madeira sobre o riacho Mocambinho.
Observações conduzidas neste local visando obter subsídios sobre os hábitos desta
39
espécie (Nogueira e Pol, no prelo) permitiram evidenciar sua atividade noturna. Os
morcegos abandonavam o abrigo por volta de 25min após o pôr do sol e, cerca de 40min
mais tarde, um número de indivíduos bem superior ao que havia saído começava intensa
movimentação de chegada, o que durava em torno de 01:00h. Aproximadamente 200
indivíduos pousavam, um a um, ocupando frestas em um local não utilizado pelas duas
colônias que abrigavam-se na ponte durante o dia (figura 16). Grande quantidade de
fezes e urina se acumulava sob este pouso noturno. Entre 03:50 e 04:20h os exemplares
de N. albiventris abandonavam o local partindo quase todos em direção ao rio São
Francisco. Um pequeno grupo, entretanto, foi notado voando diretamente para uma
fresta do outro lado da ponte e lá permanecendo até o amanhecer, tratando-se de parte
de uma das colônias que usavam o local como refúgio diurno. Duas informações foram
obtidas a partir desta última observação: nem todos os indivíduos de N. albiventris
apresentam um segundo período de atividade; e, tendo os referidos morcegos saído de
um grande agrupamento, ficou evidenciado o contato corpórea entre indivíduos de
distintas colônias.
A dificuldade de se generalizar um padrão de atividade para N. albiventris foi
evidenciada também por Fenton et al. (1993), que através de radiotelemetria
constataram uma variação não só individual como de noite para noite na atividade dessa
espécie. Contudo, os resultados aqui obtidos permitem concluir que N. albiventris
apresenta de um a dois períodos de atividade e que ambos sobrepõem-se aos de R. naso
espécie de hábitos também insetívoros e que foi observada coabitando a ponte sobre o
riacho Mocambinho com este noctilionídeo. Na figura 12, incluída nos comentários
sobre R. naso, apresenta-se o número estimado de indivíduos, em cada espécie, que
ocupavam a ponte ao longo do período de observação, podendo tal sobreposição ser
evidenciada.
A utilização de abrigo noturno por N. albiventris pode, em primeira instância,
ser associada à digestão do alimento, já que indivíduos capturados logo após o forrageio
apresentavam seus abdomens dilatados, demonstrando ampla capacidade de ingestão e
consequentemente considerável aumento no peso. Contudo, levando-se em conta o
tamanho da ponte utilizada como abrigo e a quantidade de frestas disponíveis em outras
partes dessa ponte, questiona-se porque um número tão elevado (ca. de 200) de
40
morcegos provenientes de distintas colônias se agrupariam todos no mesmo local,
ampliando ainda um potencial custo relativo à predação (cf. Fenton et al., 1994). A
termorregulação pode ser a resposta. Roverud & Chappell (1991) concluíram que
quando N. albiventris abriga-se em agrupamentos diminui consideravelmente seus
gastos energéticos reduzindo as taxas de perda de calor. Estes autores inferiram ainda
que tal hábito reduz o risco de predação, já que o tempo necessário para esta espécie
atingir a temperatura basal mínima de vôo é consideravelmente menor em agrupamentos
que em morcegos solitários.
À exceção de um exemplar obtido em rede armada sobre bebedouro de gado na
Fazenda Solagro, todos os demais espécimes examinados foram capturados em rede
armada junto à ponte do riacho Mocambinho. N. albiventris foi visto mais
freqüentemente voando sobre cursos d’água, tendo sido também observado nas
proximidades destes em áreas de várzea e curiosamente sobre uma rodovia asfaltada,
onde um exemplar foi acidentalmente atropelado. A utilização de construções humanas
como abrigo e o forrageio em hábitats modificados pela ação antrópica demonstram
considerável plasticidade comportamental desta espécie frente às alterações ambientais.
No Estado do Amapá, Peracchi et al. (1984) localizaram duas colônias de N. albiventris
abrigadas em forros de prédios locais, relatando inclusive coabitação com M. molossus e
M. ater.
Morcegos desta espécie pareciam restringir seus vôos até 1,5m acima da
superfície da água e também do solo. A visualização de suas atividades de forrageio foi
facilitada pela conspícua coloração alaranjada que caracterizava a maioria dos
indivíduos examinados (figura 15), sendo bem discernível de Noctilio leporinus por seu
menor porte. Durante observações realizadas no rio São Francisco, verificou-se que
diversos morcegos tocavam a superfície da água com certa regularidade. Este
comportamento pode ser explicado considerando-se que N. albiventris apresenta uma
estratégia de caça similar a de N. leporinus, utilizando chamados de ecolocação para
detectar presas disponíveis na superfície da água e capturando-as com as patas traseiras
(Suthers & Fattu, 1973; Brown et al., 1983). Insetos aquáticos são componentes já
reconhecidos na dieta de N. albiventris (Whitaker & Findley, 1980).
41
Figura 15: Espécime de Noc/ilio albiventris procedente da região de Jaíba, MG. (Foto: A. Pol.)
Figura 16: Colônia de Noctilio albiventris abrigada entre as vigas de madeira em ponte sobre o riacho Mocambinho, região de Jaíba, MG.
Com relação a coabitação com R. naso, verificada na ponte sobre o riacho
Mocambinho, observou-se que a competição direta por espaço é evitada, já que
42
formam a ponte (figura 16), os de R. naso permaneciam pousados sob estas vigas (figura
13). Contudo, mesmo sendo distintos os locais de repouso, N. albiventris ao pousar na
ponte não o faz diretamente nas frestas. Dessa forma, se todos os indivíduos que de
alguma forma (como abrigo diurno ou noturno) utilizavam a ponte, a ocupassem ao
mesmo tempo, a probabilidade de acidentes relacionados à sobreposição dos locais de
pouso e consequentemente a energia gasta para localizar pontos livres, seriam maiores.
Tal fator que elevaria os custos nessa interação, é entretanto consideravelmente reduzido
pelas diferentes estratégias empregadas por essas espécies no uso do abrigo. Como
pode-se notar na figura 12, a partilha temporal observada na ocupação da ponte,
utilizada primariamente como refúgio diurno por R. naso e noturno por N. albiventris,
evidencia a compatibilidade dessa associação interespecífica.
- Reprodução: Constatou-se a ocorrência de 3 fêmeas lactantes em abril e 2 em
outubro. Estes dados sugerem que na área de estudo N. albiventris apresenta um padrão
poliestro bimodal, com nascimentos ocorrendo no início e no final do período chuvoso.
Padrão similar foi sugerido por Marques (1985b) na região Amazônica, enquanto na
América Central essa espécie tem sido referida como monoestra (Anderson & Wimsatt,
1963; Hooper & Brown, 1968).
Durante observações realizadas em outubro junto às colônias no riacho
Mocambinho, um filhote de N. albiventris com o corpo ainda desprovido de pêlos e
antebraço medindo 27,40mm, foi encontrado agonizando na margem do riacho sob a
ponte, completamente envolvido por formigas “lava-pés” (Solenopsis sp.), o que
representa um custo para manutenção dos filhotes neste abrigo.
Noctilio leporinus (Linnaeus, 1758)
- Localidade tipo: Suriname.
- Distribuição: Sinaloa (México) até as Guianas, sul do Brasil, norte da Argentina, e
Peru; Trinidad; Pequenas e Grandes Antilhas; sul de Bahamas (Koopman, 1993).
Espécie de ampla distribuição em território brasileiro estando ausente apenas no
extremo sul do país (Koopman, 1982).
- Material examinado: 2 exemplares (machos).
43
- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (macho). ALP 6849 (11-IV-94).
- Morfometria e comentários: À seguir apresenta-se as medidas selecionadas do
exemplar incorporado à coleção: antebraço, 86.65; comprimento total do crânio, 26.9;
comprimento côndilo-basal, 24.6; largura zigomática, 19.9; constrição pós-orbital, 6.65;
largura da caixa craniana, 13.5; largura mastóidea, 17.3; comprimento da série de dentes
maxilares, 10.5; largura externa dos molares superiores, 12.75; largura externa dos
caninos superiores, 9.2.
Assim como na espécie co-genérica N. albiventris, uma variação geográfica em
relação ao tamanho dos espécimes também caracteriza N. leporinus (Davis, 1973;
Taddei et al., 1986). Analisando extenso material proveniente de diversas localidades
nas Américas do Sul e Central, Davis (1973) reconheceu a existência de 3 subespécies.
Formas por ele denominadas N. l. mastivus e N. l. rufescens distribuem-se,
respectivamente, nas porções mais ao norte e mais ao sul da área de ocorrência da
espécie, caracterizando-se ambas por um maior porte que o da forma distribuída ao
longo da Bacia Amazônica e Guianas (N. l. leporinus). Também de forma similar a N.
albiventris, constata-se em N. leporinus e existência de dimorfismo sexual secundário,
com machos sendo maiores que as fêmeas (Davis, 1973; Willig, 1983; Taddei et al.,
1986).
Willig (1983) referiu-se à amostragem por ele obtida nos Estados do Ceará e
Pernambuco como a mais robusta população de N. l. leporinus. Já material de São
Paulo, examinado por Taddei et al. (1986) foi associado a N. l. rufescens, forma que,
segundo a distribuição proposta por Davis (1973), ocorreria nas regiões Sul e Sudeste do
Brasil, estendendo-se até o sul de Minas. O reduzido material disponível não permite
obter-se um posicionamento conclusivo sobre a população do norte de Minas Gerais.
Considerando-se ainda a maior variação individual que caracteriza os machos (Davis,
1973; Willig, 1983; Taddei et al., 1986), verifica-se que as dimensões do exemplar
examinado podem ser associadas tanto às relativas aos espécimes de São Paulo quanto
aos do Nordeste.
- Hábitos gerais: Os 2 exemplares de N. leporinus foram obtidos com o auxílio de rede
armada sobre o riacho Mocambinho, tendo ambas as capturas ocorrido na 3a hora após o
pôr do sol. Neste mesmo local, um exemplar foi visto forrageando às 01:30h. A
44
coloração alaranjada e o grande porte tornam conspícuos os morcegos desta espécie,
também observados em forrageio sobre o rio São Francisco, em canais de irrigação, e
em bebedouro de gado na Fazenda Solagro.
A presença de N. leporinus em tais hábitats justifica-se por seus hábitos
alimentares, tratando-se de espécie predominantemente insetívora aérea e piscívora
(Brooke, 1994). O forrageio em áreas modificadas pela ação antrópica, como aqui
observado, foi referido também por Peracchi & Albuquerque (1971) e Brooke (1994). A
versatilidade desta espécie em adaptar-se às modificações antrópicas pode ser ainda
evidenciada considerando-se a inclusão de baratas (Periplaneta americana) em sua
dieta, como mencionado por Peracchi & Albuquerque (1971). Tem sido freqüentemente
registrada utilizando ocos de árvores como abrigo (Hood & Jones, 1984), mas
construções humanas também podem ser empregadas (Goodwin & Greenhall, 1961;
Peracchi & Albuquerque, 1971; Willig, 1983).
Os canais de irrigação construídos na área do Projeto Jaíba, e sobre os quais
espécimes foram observados em forrageio, por certo favorecem a manutenção de N.
leporinus na região de estudo. O mesmo deve ocorrer em relação a R. naso e N.
albiventris, espécies que também apresentam certa plasticidade comportamental e
forrageiam sobre coleções d’água.
Reprodução: Nenhum dado foi obtido no presente estudo. Willig (1985)
constatou nas caatingas de Pernambuco um padrão reprodutivo do tipo monoestro
sazonal, com fêmeas lactantes aparecendo de novembro até abril (período chuvoso).
Família Phyllostomidae Gray, 1825
Subfamília Phyllostominae Gray, 1825
Micronycteris sanborni Simmons, 1996
- Localidade tipo: Brasil, Ceará, Crato.
- Distribuição: Conhecida apenas do nordeste do Brasil. Além da série tipo,
proveniente de duas localidades na região da Chapada do Araripe, Estados do Ceará e
Pernambuco (Simmons, 1996), uma segunda coleção desta espécie foi obtida na
45
localidade de Senador Pompeu, também no Ceará (Peracchi, dados não publicados). Os
espécimes aqui obtidos representam, portanto, a terceira coleção disponível sobre está
espécie, que é pela primeira vez reportada para o Estado de Minas Gerais. Com o
presente registro amplia-se em cerca de 1000 Km o limite meridional de sua área de
ocorrência, que passa agora a incluir o Sudeste brasileiro.
- Material examinado: 4 exemplares (2 machos e 2 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (1 macho e 2 fêmeas). Macho: ALP
6860 (14-VI-94). Fêmeas: ALP 6833 (07-IV-94); ALP 6859 (14-VI-94).
- Morfometria e comentários: Medidas dos caracteres usualmente empregados neste
trabalho acrescidas das de outros utilizados por Simmons (1996), e mensurados como
descrito por esta autora, encontram-se na tabela 7. Para facilitar as comparações, dados
de machos e fêmeas foram combinados, levando-se em conta que diferenças
consistentes de tamanho relacionadas ao sexo não são aparentes em nenhuma espécie do
subgênero Micronycteris (Simmons, 1996). Dentre as 6 variáveis externas analisadas, o
maior coeficiente de variação foi de 5,37% (Po) e o menor 1,26% (An). Considerando-
se as medidas cranianas o maior valor foi de 2,74% (Lmt e Lc) e o menor 0,19% (Ccb).
As dimensões médias aqui obtidas são, em sua maioria, superiores às referidas
para série tipo de M. sanborni, encontrando-se em posição intermediária entre estas e as
de M. minuta, também apresentadas por Simmons (1996) (tabela 7). Esta autora
constatou que muitas medidas de M. sanborni podem sobrepor-se aos extremos
inferiores das de outras espécies do gênero, principalmente em relação a M. minuta, com
a qual mais facilmente poderia ser confundida. De acordo com Simmons (1996),
entretanto, em 3 caracteres M. sanborni é distintamente menor que as demais espécies:
tamanho do polegar, comprimento côndilo-incisivo e comprimento da série de dentes
maxilares. O polegar dos exemplares de Jaíba são, em média (6.6), ainda menores que
os da série tipo (7.1). Já quanto aos outros dois caracteres citados, verificou-se valores
intermediários notadamente mais próximos aos propostos para M. sanborni do que para
M. minuta. Não obstante o reduzido número de espécimes que caracteriza as amostras
aqui comparadas, tal discrepância pode estar associada a uma variação geográfica em M.
sanborni. Com base em dados preliminares Ascorra et al. (1991) sugeriram um padrão
de variação geográfica para M. schmidtorum, tendo observado que espécimes da
46
Guatemala apresentavam as maiores dimensões, sendo os procedentes da Costa Rica,
Panamá e Venezuela de tamanho intermediário, e os referentes ao Peru e Nordeste do
Brasil, os menores. Algumas espécies referidas no presente estudo, como N. albiventris
e A. planirostris, são consideravelmente maiores no Sudeste do Brasil que na região
Nordeste (ver comentários morfométricos sobre estas espécies).
Tabela 7: Medidas selecionadas de espécimes de Micronycteris sanborni provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às fornecidas por Simmons (1996) para o série tipo desta espécie e para M. minuta. M. sanborni
(MG) M. sanborni
(série tipo) M. minuta
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) Méd. (Mín.-Máx.) N
An 34,73 (34,25-35,1) 0,44 1,26 33,6 (32,0-34,0) 35,4 (33,0-36,8) 33 Pé 9,30 (9,15-9,4) 0,13 1,42 8,7 (8,0-9,0) 11,8 (9,0-13,0) 35 Cl 8,77 (8,5-9,0) 0,25 2,87 - - - - Po 6,67 (6,25-7,0) 0,38 5,73 7,1 (7,0-7,3) 8,5 (7,7-9,1) 37 Or 17,10 (16,65-17,4) 0,39 2,28 20,2 (19,0-21,0) 21,1 (19,5-23,0) 23 Ti 14,75 (14,3-15) 0,39 2,65 13,1 (12,6-14,0) 14,3 (13,3-15,2) 12 Ctc 17,63 (17,4-17,9) 0,25 1,43 - - - - Ccb 15,52 (15,5-15,6) 0,03 0,19 - - - - Cci 15,68 (15,6-15,8) 0,1 0,66 15,16 (14,91-15,39) 16,64 (15,62-17,54) 39 Lz 8,18 (8,15-8,2) 0,03 0,35 8,02 (7,88-8,19)1 8,54 (8,02-9,0) 26 Cpo 4,10 (4-4,2) 0,1 2,44 3,92 (3,7-4,07) 4,12 (3,84-4,37) 43 Lcx 7,40 (7,35-7,45) 0,05 0,68 7,41 (7,32-7,48) 7,59 (7,23-8,04) 40 Lmt 8,35 (8,15-8,6) 0,23 2,74 - - - - C-M 6,07 (6,0-6,2) 0,12 1,9 5,76 (5,64-5,92) 6,65 (6,37-6,94) 45 Lm 5,53 (5,4-5,6) 0,12 2,09 - - - - Lc 2,78 (2,7-2,85) 0,08 2,74 - - - -
Tamanho das amostras: MG - 1M e 2 F; série tipo - 2 M e 4 F (1N = 5); M. minuta - 29 M e 38 F. Abreviações: Cl - calcâneo; Po - polegar; Or - orelha; Ti - tíbia
Alguns caracteres tidos por Simmons (1996) como diagnósticos de M. sanborni
mostraram-se controversos em relação à presente amostragem. Um bem definido espaço
entre o incisivo superior externo e o canino, atribuído a M. sanborni com base no
holótipo (ver fig. 3 in Simmons, 1996), não foi observado em nenhum dos exemplares
aqui examinados. Apesar de ter incluído este caracter em sua chave para identificação
das espécie de Micronycteris, Simmons (1996) menciona que nos parátipos há uma
variação na largura de tal espaço. De fato, examinando uma maior coleção de M.
sanborni procedente do Ceará, Peracchi (dados não publicados), notou considerável
47
variação em relação a esta característica. Simmons (1996) menciona também uma
diástema entre o 1o e o 2o premolares superiores, que não ocorreria em M. minuta nem
em M. schmidtorum, e que também não foi encontrada nos espécimes de Jaíba. Segundo
Peracchi (dados não publicados), dentre 10 espécimes obtidos no Ceará, 3 apresentavam
esta diástema em ambos os lados da maxila, 1 só apresentava em um dos lados, e os
demais não exibiam esta característica em nenhum dos lados da maxila. Ao que parece a
presença e amplitude de tais diástemas na arcada dentária superior de M. sanborni está
sujeita à considerável variação intra-específica, o que dificulta sua aplicação na análise
diagnóstica da espécie.
Um caráter externo que tem sido freqüentemente empregado na distinção das
espécies de Micronycteris diz respeito à relação de tamanho entre o calcâneo e o pé
(Medellín et al., 1985; Genoways & Williams, 1986; Simmons, 1996). De acordo com
Simmons (1996), o tamanho do calcâneo é menor que o do pé em M. minuta, maior que
ele em M. schmidtorum, e aproximadamente do mesmo tamanho em M. sanborni.
Embora a referida autora não tenha quantificado esta “proximidade”, os espécimes de
Jaíba são seguramente associados a M. sanborni, como corroborado por dados não
publicados referentes à esta espécie e a M. minuta e que foram gentilmente cedidos por
A. L. Peracchi para melhor interpretação desta questão. De acordo com tais dados, a
dimensão média do calcâneo de M. sanborni (N = 24) é 0,7mm menor que a do pé,
enquanto em M. minuta (N = 9) esta diferença aumenta para 2,0mm. Nos espécimes de
Jaíba calcâneo e pé diferiram, em média, apenas 0,53mm.
Considerando-se a morfologia externa, entretanto, a mais evidente distinção
entre o material de M. sanborni obtido no norte de Minas Gerais e espécimes de M.
minuta que o autor teve oportunidade de colecionar no Estado Rio de Janeiro, reside na
cor da pelagem ventral (figura 17). Como relatado por Simmons (1996), M. sanborni
apresenta uma coloração verdadeiramente branca nesta região, e que estende-se
anteriormente sobre a garganta e o queixo. Embora M. minuta e M. schmidtorum
possuam uma coloração ventral pálida, o cinza claro ou o amarelado (observado em
espécimes de M. minuta do RJ) que geralmente caracterizam estas espécies, raramente
se aproximam do branco visto em M. sanborni (Simmons, 1996).
48
anterionnente sobre a garganta e o queIXO. Embora M minuta e M schmidtorum
possuam uma coloração ventral pálida, o cinza claro ou o amarelado (observado em
espécimes de M minuta do RJ) que geralmente caracterizam estas espécies, raramente
se aproximam do branco visto em M sanborni (Simmons, 1996).
Figura 17: Espécimes de Micronycteris sanborni (esquerda), procedente da região de Jaíba, MG, e de Micronycteris minuta, do Rio de Janeiro. Note a coloração ventral branca que caracteriza a primeira espéCIe.
- Hábitos gerais: Todos os exemplares examinados foram capturados em redes annadas
sobre o afloramento calcário do Morro Solto. Quanto ao horário de captura, três
exemplares foram obtidos nas duas primeiras horas após o pôr do sol e um entre as duas
seguintes. Visando obter subsídios sobre seus hábitos alimentares manteve-se um
indivíduo cativo, em saco de pano, até a noite posterior a que ele havia sido coletado.
Nessa oportunidade lhe foram oferecidos três ortópteros, medindo 7mm de
comprimento cada, e duas mariposas (Lepidoptera), com cerca de 10mm, sendo todos
prontamente aceitos.
49
Willig (1983) referiu-se aos exemplares por ele identificados como M. minuta, e
que em verdade incluem M. sanborni e M. schmidtorum (Simmons, 1996), como mais
freqüentemente capturados junto à lageiros e “serrotes”, hábitats que por suas
características mésicas podem ser associados ao encontrado no Morro Solto (ver
descrição em mat. e mét.). Evidencia-se dessa forma, a importância da manutenção dos
afloramentos calcários para preservação desta espécie na região de Jaíba, o que é ainda
ressaltado quando leva-se em conta os hábitos cavernícolas de outras espécies do
mesmo gênero (Pinto-da-Rocha, 1995) e que devem se estender a M. sanborni.
Nada se sabe sobre os hábitos alimentares desta espécie, sendo suas co-genéricas
reconhecidas como primariamente insetívoras, podendo complementar a dieta com
frutos (Ferrarezzi & Gimenez, 1996). Os dados aqui assinalados, incluindo as capturas
efetuadas no início da noite, sugerem, de fato, hábitos insetívoros para M. sanborni.
Espécies da subfamília Phyllostominae que, de forma similar a observada em morcegos
do gênero Micronycteris, alimentam-se predominantemente de insetos capturados na
folhagem (Ferrarezzi & Gimenez, 1996), foram consideradas por Fenton et al. (1992)
bons indicadores de qualidade de hábitat. Tal característica deve estender-se também a
M. sanborni, como corrobora-se no presente estudo onde a mesma só foi amostrada em
área bem preservada.
- Reprodução: As 2 fêmeas capturadas, 1 em abril e 1 em junho, não apresentaram
evidências externas de atividade reprodutiva. Simmons (1996) mencionou 2 fêmeas
provenientes de Pernambuco que no mês de dezembro encontravam-se grávidas e
apresentando fetos bem desenvolvidos. Esta autora sugeriu que nascimentos ocorreriam
durante a estação chuvosa (novembro até abril) e que os filhotes seriam criados em
torno do início da próxima estação seca.
Tonatia bidens (Von Spix, 1823)
- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio São Francisco.
- Distribuição: Até Williams et al. (1995) realizarem uma revisão no complexo T.
bidens, constatando que duas formas estavam envolvidas (T. bidens e T. saurophila), a
50
distribuição desta espécie estendia-se desde o México e Belize, até o norte da Argentina,
Paraguai e Brasil, incluindo ainda Trinidad (Koopman, 1993). Na concepção atual,
entretanto, a área de ocorrência de T. bidens limita-se ao leste e sul do Brasil, Paraguai,
e norte da Argentina (Williams et al., 1995).
- Material examinado: 7 exemplares (3 machos e 4 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 6 exemplares (2 machos e 4 fêmeas). Machos: ALP
6832 (06-IV-94); ALP 6843 (09-IV-94). Fêmeas: ALP 6837, 6838, 6839, 6842 (09-IV-
94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 8. Em relação às fêmeas, para as quais se realizou análise
estatística descritiva, notou-se que o maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,04%
(Cpo), não havendo variação na largura mastóidea. Em 9 das 10 medidas estudadas a
média obtida para os machos foi superior a das fêmeas.
Tabela 8: Medidas selecionadas de espécimes de Tonatia bidens procedentes da região de Jaíba, MG, com análise estatística descritiva para as dimensões das fêmeas.
Machos (N = 2) Fêmeas (N = 3)
Caracter Média (Mín.-Max.) Média (Mín.-Máx.) DP CV
An 58,33 (58,15-58,5) 56,50 (56,15-57,2) 0,61 1,07 Ctc 28,23 (28,2-28,25) 27,70 (27,5-27,85) 0,18 0,65 Ccb 24,30 (24,3-24,3) 23,82 (23,7-24,05) 0,20 0,85 Lz 13,33 (13,15-13,5) 13,18 (13,05-13,35) 0,15 1,16 Cpo 6,13 (6,0-6,25) 5,78 (5,6-5,95) 0,18 3,04 Lcx 10,75 (10,75-10,75) 10,50 (10,35-10,6) 0,13 1,26 Lmt 12,93 (12,9-12,95) 12,80 (12,8-12,8) 0,00 0,00 C-M 9,83 (9,75-9,9) 9,58 (9,45-9,75) 0,15 1,59 Lm 8,63 (8,6-8,65) 8,63 (8,45-8,9) 0,24 2,74 Lc 5,88 (5,85-5,9) 5,87 (5,7-6,0) 0,15 2,60
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
As dimensões aqui referidas para T. bidens concordam bem com as apresentadas
por Williams et al. (1995) a partir de 63 espécimes provenientes de diversas localidades
ao longo da área de ocorrência da espécie. Já quando a comparação é feita com os dados
médios fornecidos por Fazzolari-Corrêa (1995) para exemplares do Estado de
51
São Paulo, nota-se uma considerável discrepância nas dimensões do antebraço,
comprimento total do crânio, e largura zigomática, maiores nos espécimes do norte de
Minas Gerais. Medidas do antebraço e comprimento total do crânio apresentadas por
Vieira (1942), para uma fêmea também do Estado de São Paulo, acompanharam a
tendência verificada em relação aos espécimes mencionados por Fazzolari-Corrêa
(1995), sendo consideravelmente menores que as aqui referidas. Já as medidas relatadas
por Myers & Wetzel (1983) para um macho procedente do Paraguai são, no geral,
próximas às encontradas no material de Jaíba (tabela 9).
Os dados morfométricos aqui obtidos para T. bidens corroboram a ocorrência de
dimorfismo sexual secundário (machos > fêmeas) relatado para esta espécie por
Williams et al. (1995). Infelizmente, o pequeno número de exemplares em que se
baseiam as poucas amostragens disponíveis ao longo de sua distribuição, aliado ao
tratamento mesclado dos dados de machos e fêmeas, como conduzido por Barquez
(1987), impedem uma análise mais consistente sobre uma possível variação geográfica
em T. bidens.
Tabela 9: Médias de medidas selecionadas de Tonatia bidens referentes à região de Jaíba, MG, (presente estudo) e ao Estado de São Paulo1 (Fazzolari-Corrêa, 1995), associadas às medidas de um exemplar também do Estado de São Paulo2 (Vieira, 1942) e de outro do Paraguai (Myers & Wetzel, 1983).
Machos Fêmeas
Caracter MG SP1 Paraguai
MG SP1 SP2
An 58,33 53,85 57,1 56,50 53,95 50,0 Ctc 28,23 26,87 28,2 27,70 26,85 25,5 Ccb 24,30 - 24,4 23,82 - - Lz 13,33 12,92 13,5 13,18 12,5 13,0 Cpo 6,13 6,1 6,0 5,78 5,85 6,0 Lcx 10,75 11,4 - 10,50 11,1 - Lmt 12,93 - 13,2 12,80 - - C-M 9,83 - 10,0 9,58 - 9,5 Lm 8,63 - 8,5 8,63 - - Lc 5,88 - 6,1 5,87 - -
Tamanho das amostras: MG - 2M e 3 F; SP1 - 4M e 7F; SP2 - 1F; Paraguai - 1M.
52
- Hábitos gerais: Desta espécie foram examinados 7 exemplares, todos obtidos em
redes armadas sobre o afloramento calcário do Morro Solto. Quatro espécimes foram
capturados nas duas primeiras horas após o pôr do sol e os demais nas duas seguintes.
Alguns itens alimentares foram oferecidos a espécimes de T. bidens. Ortópteros,
medindo entre 1 e 5cm de comprimento, e coleópteros, variando entre 0,5 e 2cm, foram
prontamente aceitos.
Willig (1983) considerou T. bidens uma espécie rara em sua amostragem nas
caatingas de Pernambuco, onde apenas 2 espécimes foram coletados (um terceiro por ele
referido sob este nome trata-se de T. saurophila). Segundo este autor ambas as espécies
foram amostradas apenas nos chamados “serrotes”, hábitats descritos como pequenas
montanhas que apresentam em suas inclinações uma vegetação de caatinga alta,
possuindo ainda condições mésicas não comumente observadas nas caatingas. Tais
hábitats assemelham-se, sob certos aspectos, ao observado no Morro Solto (ver
descrição em material e métodos), o que aliado ao fato de T. bidens tratar-se de espécie
com hábitos cavernícolas (Pinto-da-Rocha, 1995), demonstra a importância dos
afloramentos calcários para sua preservação na área aqui estudada.
Além de apresentar hábitos insetívoros e frugívoros já referidos na literatura
(Myers & Wetzel, 1983), morcegos desta espécie podem alimentar-se também de
pequenas aves (Barquez, 1987; Martuscelli, 1995). Contudo, de forma semelhante à
observada em Micronycteris spp., morcegos do gênero Tonatia alimentam-se
predominantemente de insetos capturados na folhagem (Ferrarezzi & Gimenez, 1996),
podendo ser considerados bons indicadores de qualidade de hábitat como corrobora-se
no presente estudo em relação a T. bidens, amostrada apenas em associação à formação
florestal.
Reprodução: Nenhuma das 4 fêmeas, todas obtidas em abril, apresentava sinais
externos de atividade reprodutiva. No Estado do Rio de janeiro, uma fêmea grávida em
estágio inicial de gestação foi capturada em setembro, indicando nascimento durante
período mais chuvoso do ano (obser. pess.).
53
Tonatia saurophila Koopman e Williams, 1951
- Localidade tipo: Jamaica, St. Elizabeth Parish, Wallingford Roadside Cave.
- Distribuição: Sul do México até o Peru e nordeste do Brasil. Na Jamaica é conhecida
apenas por registros fósseis (Williams et al., 1995), enquanto no Brasil restringe-se às
regiões Norte e Nordeste (Williams et al., 1995). Este, portanto, é o primeiro registro
assinalado para o Estado de Minas Gerais, ampliando-se em cerca de 1000 Km o limite
meridional de sua distribuição em território brasileiro, que passa agora a incluir a região
Sudeste.
- Material examinado: 2 exemplares (fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 2 exemplares (fêmeas). ALP 6854 (03-V-94); ALP
6855 (05-V-94).
- Morfometria e comentários: Medidas selecionadas das 2 fêmeas obtidas, seguidas
pela média das dimensões, são como se segue: antebraço, 56.8, 59.9 (58.35);
comprimento total do crânio, 28.8, 28.85 (28.83); comprimento côndilo-basal, 24.35,
25.1 (24.73); largura zigomática, 14.35, 14.55 (14.45); constrição pós-orbital, 5.3, 5.4
(5.35); largura da caixa craniana, 10.6, 10.85 (10.73); largura mastóidea, 12.95, 13.40
(13.18); comprimento da série de dentes maxilares, 9.5, 9.95 (9.73); largura externa dos
molares superiores, 8.5, 8.9 (8.7); largura externa dos caninos superiores, 5.95, 5.95
(5.95).
Williams et al. (1995) reconheceram duas subespécies viventes para T.
saurophila: T. s. bakeri, com ocorrência na América Central e noroeste da América do
Sul, e T. s. maresi, distribuída pela Venezuela, Guianas, Norte e Nordeste (Exu,
Pernambuco) do Brasil, Colômbia, Equador e Peru. Segundo estes autores, a primeira
delas é distintamente maior que a segunda nas dimensões médias dos caracteres também
empregados no presente estudo. Apesar do reduzido número de espécimes disponíveis
não permitir um posicionamento seguro quanto as características morfométricas da
população do norte de Minas Gerais, foi possível notar que uma da fêmeas examinadas
apresentou o antebraço e três medidas cranianas (comprimento côndilo-basal, largura
mastóidea, comprimento da série de dentes maxilares) consideravelmente maiores que
as descritas para T. s. maresi, enquadrando-se melhor nas referentes a T. s. bakeri
54
(tabela 10), que geograficamente encontra-se mais distante. Tal fato demonstra que
maiores amostragens, provenientes principalmente de áreas mais ao sul da distribuição
da espécie, são necessárias para uma melhor compreensão de sua variação geográfica.
Tabela 10: Medidas selecionadas de uma fêmea de Tonatia saurophila provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às médias e extremos fornecidos por Williams et al. (1995) para fêmeas de Tonatia s. bakeri e Tonatia s. maresi.
Caracter T. saurophila (MG) T. s. bakeri T. s. maresi
An 59,9 58,2 (55,6-61,0) 55,6 (52,4-58,0) Ctc 28,85 28,9 (27,6-30,5) 27,8 (26,6-29,1) Ccb 25,1 24,7 (23,3-26,2) 23,5 (22,6-24,6) Lz 14,55 14,1 (13,3-15,1) 13,8 (13,0-14,4) Cpo 5,4 5,5 (5,3-5,8) 5,4 (5,1-5,6) Lcx 10,85 10,7 (10,4-11,3) 10,4 (10,0-11,0) Lmt 13,4 13,1 (12,4-13,7) 12,6 (12,2-13,1) C-M 9,95 9,8 (9,4-10,2) 9,3 (9,0-9,7) Lm 8,9 8,8 (8,3-9,3) 8,5 (8,0-9,0) Lc 5,95 5,6 (5,2-6,1) 5,5 (5,0-5,9)
Tamanho da amostra: T. s. bakeri - An, Cpo e Lcx = 21 espécimes, as demais 22; T. s. maresi - An = 35, Ctc = 43, Ccb/Cpo/Lcx/Lmt = 44, Lz/C-M/Lm/Lc = 46.
Importantes caracteres dentários e cranianos de T. saurophila e que, de acordo
com Williams et al. (1995), permitem sua distinção de T. bidens, foram igualmente
observados nos exemplares do norte de Minas Gerais. Estes referem-se ao espaço que
separa a base dos caninos inferiores, maior em T. saurophila que em T. bidens; a
presença de um processo secundário no mastóideo, que obscurece parcialmente a bula
auditiva em T. saurophila e que está ausente em T. bidens; e ao tamanho do segundo
premolar inferior, mais desenvolvido em T. saurophila, sendo apenas levemente
recoberto pela cíngula do premolar inferior adjacente.
Quanto a morfologia externa e coloração, os espécimes de T. saurophila aqui
estudados concordam bem com a descrição apresentada por Williams et al. (1995). A
listra branca no topo da cabeça, entre as orelhas, característica nessa espécie (Williams
et al., 1995), encontrava-se presente em ambos os exemplares (figura 18). Contudo, a
55
respeito de sua possível utilização, em campo, como caracter diagnóstico para
separação frente a exemplares de T. bidens, cabe ressaltar que em um espécime de T.
saurophila coletado na mesma região por A. Pol, a referida listra mostrava-se
praticamente indistinta.
Figura 18: Espécime de Tonatio saurophila procedente do Estado do Acre. Note a listra .branca presente no topo da cabeça, também observada em exemplares de Jaíba, MO. (Foto: A. Po!.)
- Hábitos gerais: Ambos os espécimes aqui assinalados foram capturados durante a 1 ª hora após o pôr do sol, na Reserva Biológica de Jaíba. Enquanto um deles foi
colecionado em rede armada no interior da mata, o outro foi obtido sobre uma poça de
água acumulada pela chuva, na estrada que margeia a Reserva.
Na caatingas de Pernambuco, Willig (1983) obteve apenas um exemplar de T.
saurophila (reportado sob o nome de T. bidens) capturado na formação por ele
denominada "serrote". Como mencionado nos comentários sobre a espécie co-genérica,
estas pequenas montanhas apresentam em suas inclinações uma vegetação de caatinga
alta, provavelmente similar à observada na Reserva Biológica de Jaíba. Assim como M
56
sanborni e T. bidens, T. saurophila também tem sua ocorrência associada a áreas
florestadas, tratando-se de espécie indicadora de qualidade de hábitat, como corrobora-
se no presente estudo.
O período de atividade indicado pelo horário de captura dos exemplares aqui
mencionados, aliado ao fato de um deles ter sido obtido sobre coleção d’água,
juntamente com 1 vespertilionídeo (E. furinalis) e 3 molossídeos (M. planirostris, M.
ater e M. molossus), sugere hábitos insetívoros já mencionados para esta espécie (sob o
nome de T. bidens) em outras regiões (Humphrey et al., 1983; Reis & Peracchi, 1987).
A dieta à base de insetos é rica em proteínas mas pobre em líquidos, o que leva
morcegos deste hábito alimentar a visitarem freqüentemente os recursos hídricos
disponíveis.
- Reprodução: As duas fêmeas obtidas em abril não apresentavam sinais de atividade
reprodutiva. Com base em registros efetuados em Honduras, Wilson (1979) sugeriu um
padrão poliestro bimodal para esta espécie, a qual se referiu como T. bidens.
Phyllostomus discolor Wagner, 1843
- Localidade tipo: Brasil, Mato Grosso, Cuiabá.
- Distribuição: Oaxaca e Veracruz (México) até as Guianas, sudeste do Brasil,
Paraguai, norte da Argentina e Peru; Trinidad; Ilha de Margarita (Venezuela)
(Koopman, 1993).
- Material examinado: 31 exemplares (5 machos e 26 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 4 exemplares (1 macho e 3 fêmeas). Macho: ALP
6827 (05-IV-94). Fêmeas: ALP 6852, 6853 (30-IV-94); 6965 (13-I-95).
- Análise morfológica e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 11. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,09% (Cpo) e o
menor, 0,20% (Lmt). Em geral, as medidas aqui apresentadas concordam com as
fornecidas por Taddei (1975a) para fêmeas do Estado de São Paulo, notando-se o
mesmo em relação à material de Nordeste reportado por Willig (1983).
57
Tabela 11: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de espécimes de Phyllostomus discolor provenientes da região de Jaíba, MG.
Fêmeas (N = 3) Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV
An 59,42 (58,75-60,7) 1,11 1,87 Ctc 29,42 (28,95-29,9) 0,48 1,62 Ccb 26,20 (25,8-26,55) 0,38 1,44 Lz 15,33 (15,05-15,5) 0,25 1,61 Cpo 6,53 (6,3-6,65) 0,20 3,09 Lcx 12,25 (12-12,4) 0,22 1,78 Lmt 14,48 (14,45-14,5) 0,03 0,20 C-M 9,22 (9-9,4) 0,20 2,19 Lm 9,75 (9,5-10) 0,25 2,56 Lc 6,65 (6,6-6,7) 0,05 0,75
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
- Hábitos Gerais: À exceção de um espécime capturado em rede armada sobre
bebedouro de gado na Fazenda Solagro, todos os demais exemplares de P. discolor
foram obtidos ao redor do CAM, em redes dispostas próximo a arbustos floridos de
Calliandra sp. (Leguminosae, Mimosoideae). Por diversas ocasiões observou-se
morcegos desta espécie forrageando em grupos estimados entre 8 e 10 indivíduos, que
freqüentemente emitiam intensas vocalizações. Ao abordar a flor, P. discolor parecia
pousar sobre ela permanecendo assim por cerca de 2 segundos. Na maioria dos
exemplares capturados notou-se a presença de pólen no rostro e principalmente na face
ventral do patágio. Glossophaga soricina e provavelmente Lonchophylla mordax
também utilizam este recurso alimentar que pareceu freqüente em áreas de vegetação
degradada.
Todas as capturas ocorreram a partir da 2a hora após o pôr do sol, e continuaram
até o final das coletas, tendo-se notado um pico na 3a hora (figura 19). Como constatado
por Ramirez et al. (1984), a atividade de P. discolor pode estar diretamente relacionada
ao horário de produção e a concentração do néctar das flores nas quais esta espécie está
se alimentando. Isto deve ser particularmente verdadeiro em relação ao grupo aqui
estudado, já que todas as capturas foram efetuadas junto a arbustos floridos de
Calliandra sp..
58
0
10
20
30
40
50
1:00 2:00 3:00 4:00 5:00 6:00
Horas após o pôr do sol
% de captura
P. discolor
Figura 19: Horário de atividade de Phyllostomus discolor com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.
P. discolor pode alimentar-se de insetos, pólen, néctar, partes vegetativas das
flores e pequenos vertebrados (Gardner, 1977; Uieda & Hayashi, 1996), devendo,
portanto, ser considerada onívora como sugeriram Reis (1981) e Willig (1983). Além de
sua importância na dispersão de sementes (Reis & Peracchi, 1987), diversos autores têm
constatado a participação desta espécie como polinizadora (Carvalho, 1960, 1961;
Heithaus et al., 1974, 1975; Sazima & Sazima, 1977; Willig, 1983; Ramirez et al.,
1984; Willig et al., 1993).
O forrageio em grupo aqui relatado também encontra-se bem documentado
(Carvalho, 1960; Heithaus et al., 1974, 1975; Sazima & Sazima, 1977), e segundo
Sazima & Sazima (1977) está diretamente associado a quantidade de alimento
disponível. Apesar dos arbustos de Calliandra sp. apresentarem um número
relativamente baixo de flores a cada noite, a alta freqüência com que estes eram
encontrados na vegetação que cerca o CAM, provavelmente favorece a estratégia de
forrageio observada. As intensas vocalizações emitidas em vôo, também observadas por
Heithaus et al. (1974) e Sazima & Sazima (1977), indicam que morcegos desta espécie
podem interagir socialmente, como sugerido pelos referidos autores. Considerando-se
que a formação de haréns é uma característica de P. discolor (Fenton & Kunz, 1977), a
razão sexual obtida nas capturas realizadas junto aos arbustos de Calliandra sp.
59
(ca. 6/1) pode refletir uma extensão de tais grupos sociais durante as atividades de
forrageio.
Morcegos do gênero Phyllostomus podem utilizar vários tipos de abrigos, como
cavernas, ocos de árvores, bueiros e edificações (Nowak, 1994). Esta flexibilidade,
aliada à diversidade de hábitos alimentares, e à capacidade de forragear em hábitats
alterados como os aqui mencionados, e inclusive em meio urbano (Sazima & Sazima,
1977), conferem a P. discolor uma considerável flexibilidade ecológica. Embora não
tenha sido amostrada em lote agrícola, é provável que o cultivo em larga escala de Musa
spp. favoreça a presença desta espécie na região estudada. Willig (1983) constatou que
em áreas de caatinga, em Pernambuco, exemplares de P. discolor estiveram em sua
maioria restritos à pomares de bananeiras e mangueiras.
Reprodução: Dentre as 26 fêmeas capturadas, encontrou-se 15 lactantes em abril e 2
em maio, e 1 grávida também em maio. Na Amazônia, Reis (1981) assinalou fêmeas
lactantes em março, junho e agosto, sugerindo que P. discolor não apresenta um ciclo
reprodutivo definido. Apesar de não permitirem uma análise conclusiva, os dados aqui
referidos indicam nascimentos ao final do período chuvoso, como se notou na maioria
das espécies estudadas. Arbustos de Calliandra sp., observados em floração de fevereiro
até pelo menos o início de maio, por certo constituem um importante recurso alimentar
para as fêmeas em reprodução.
Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767)
- Localidade tipo: Suriname.
- Distribuição: Honduras até Guianas, leste do Brasil, Paraguai, norte da Argentina, e
Peru; Trinidad e Tobago; Ilha de Margarita (Venezuela); Bolívia (Koopman, 1993).
- Material examinado: 5 exemplares (4 machos e 1 fêmea).
- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6866, 6869 (16-VI-94). Fêmea: ALP 6900 (13-X-94).
Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 12. Considerando-se as dimensões médias fornecidas por Willig
60
(1983) para material do Nordeste, e por Taddei (1975a) para espécimes do Estado de
São Paulo (no geral maiores que os do Nordeste), nenhuma tendência mais clara foi
observada nas medidas aqui relatadas, havendo tanto valores intermediários quanto mais
próximos aos de uma região ou de outra. Taddei (1975a) e Willig (1983) verificaram a
ocorrência de dimorfismo sexual secundário, com machos sendo maiores que as fêmeas.
Apesar da reduzida amostragem, os presentes dados corroboram este fato.
Tabela 12: Medidas selecionadas de espécimes de Phyllostomus hastatus provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N = 2) Fêmea
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) (N = 1)
Ab 83,75 (83-84,5) 81 Ctc 38,88 (38,45-39,3) 37 Ccb 33,18 (33,15-33,2) 31 Lz 20,80 (20,7-20,9) 20 Cpo 7,48 (7,4-7,55) 7,1 Lcx 13,88 (13,85-13,9) 14 Lmt 19,85 (19,8-19,9) 18 C-M 13,00 (12,85-13,15) 12 Lm 13,28 (13,2-13,35) 13 Lc 9,25 (9,2-9,3) 8,5
N = tamanho da amostra.
- Hábitos gerais: Dos 5 exemplares obtidos, 3 foram capturados em lote agrícola, junto
a plantações de Musa spp., 1 no CAM, e 1 no Dreno Jaíba, em rede armada na borda da
mata. Todas as capturas se procederam entre 21:00 e 24:00h, o que concorda com a
citação de Emmons (1990) dando conta de que P. hastatus só sai para forragear quando
o céu já está escuro. Por outro lado, Reis (1981) mencionou que tanto em capoeiras
quanto em matas primárias, na região amazônica, morcegos desta espécie foram
capturados apenas entre 18:15 e 19:45h.
Um indivíduo mantido cativo em gaiola por 13 dias, foi alimentado à base de
frutas e pequenos vertebrados. Diversas rãs (Leptodactylus ocellatus) e um calango
(Tropidurus aff. torquatus) foram prontamente aceitos por P. hastatus, notando-se que
61
na maioria das vezes a cabeça e os membros das presas eram desprezados. Extensa
bibliografia sobre os hábitos alimentares desta espécie foi sumariada por Gardner
(1977), que a considerou onívora. Em condições de cativeiro, Taddei (1973) relatou
predação de pequenos roedores, pássaros e morcegos.
Quanto à utilização de abrigos, diversificação nos hábitos alimentares e
versatilidade em relação a áreas de forrageio, esta espécie assemelha-se muito a P.
discolor, citada anteriormente. Goodwin & Greenhall (1961) relataram P hastatus
abrigando-se em cavernas, ocos de árvores, edificações abandonadas e ainda entre
folhas de palmeiras. A utilização de cupinzeiros (Tuttle, 1970; Reis & Peracchi, 1987) e
do forro de uma igreja em área urbana (Peracchi et al., 1984) também já foram
relatadas. Tutlle (1970) mencionou ter, com freqüência, coletado morcegos desta
espécie em torno de vilas, mais especialmente próximo a áreas onde haviam bananas
cultivadas. Como pode-se concluir, P. hastatus adapta-se bem às alterações ambientais
provocadas pela ação antrópica, o que se reflete na variedade de hábitats em que foi
amostrada no presente estudo. As plantações de Musa spp., largamente exploradas no
Projeto Jaíba, por certo favorecem o incremento na população desta espécie na área,
como já evidenciado pelo maior número de capturas no lote agrícola.
Reprodução: Uma fêmea lactante foi capturada em outubro, início da estação chuvosa.
Dados sumariados por Wilson (1979) levaram-no a crer que a estratégia reprodutiva de
P. hastatus varia geograficamente, tendo observado registros que suportam tanto a
monoestria quanto a poliestria. Na região Amazônica, Reis (1981) encontrou fêmeas
grávidas em abril, setembro, outubro e novembro, sugerindo padrão poliéstrico. Taddei
(1973, 1976) não dispôs de amostragem suficiente para concluir sobre a estratégia
reprodutiva de P. hastatus em São Paulo, tendo capturado fêmeas grávidas em
setembro, outubro e novembro. Considerando-se o dado aqui obtido e os aos referidos
registros demonstrando atividade reprodutiva associada à períodos de maior
pluviosidade, pode-se esperar que, na região de Jaíba, um caráter sazonal também
caracterize a reprodução nesta espécie.
62
Subfamília Lonchophyllinae Griffiths, 1982
Lonchophylla mordax Thomas, 1903
- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Lamarão.
- Distribuição: Costa Rica até o Equador, leste do Brasil, talvez Peru e Bolívia
(Koopman, 1993). Até pouco tempo a ocorrência desta espécie em território brasileiro
parecia estar restrita a região Nordeste (cf. Taddei et al., 1988). Recentemente,
entretanto, L mordax teve sua presença confirmada para o Sudeste brasileiro através de
citação feita para o Estado do Espírito Santo por Pedro & Passos (1995). Como
mencionado por estes autores, são poucos os registros deste nectarívoro no Brasil, sendo
assinala pela primeira vez sua ocorrência em Minas Gerais.
- Material examinado: 18 exemplares (9 machos e 9 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 4 exemplares (3 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6841 (09-IV-94); ALP 6908, 6909 (14-X-94). Fêmea: ALP 6840 (09-IV-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para L. mordax
encontram-se na tabela 13. Em relação aos machos, para os quais se realizou análise
estatística descritiva, o maior coeficiente de variação obtido foi 3,73% (An) e o menor
0,58% (Lm).
Tabela 13: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de 3 machos de Lonchophylla mordax, e dados relativos a 1 fêmea da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N = 3) Fêmea
Caracter Méd. (Mín.-Max.) DP CV (N = 1)
An 36,73 (35,15-37,55) 1,37 3,73 34,1 Ctc 22,67 (22,2-22,9) 0,40 1,78 22,7 Ccb 21,08 (20,25-21,65) 0,74 3,50 20,95 Lz 8,90 (8,8-9) 0,10 1,12 8,9 Cpo 4,22 (4,15-4,3) 0,08 1,81 4,3 Lcx 8,45 (8,4-8,55) 0,09 1,02 8,6 Lmt 9,10 (8,9-9,3) 0,20 2,20 9,1 C-M 7,67 (7,6-7,8) 0,12 1,51 7,65 Lm 5,02 (5-5,05) 0,03 0,58 5,2 Lc 3,67 (3,65-3,7) 0,03 0,79 3,6
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
63
Comparando-se as dimensões aqui apresentadas às médias fornecidas por Willig
(1983) a partir de consistente coleção (37 machos e 35 fêmeas) procedente das caatingas
de Pernambuco, nota-se que em relação as medidas ântero-posteriores do crânio os
espécimes de Jaíba tendem a exibir menores valores. Infelizmente o número de
espécimes disponíveis é muito pequeno, não permitindo uma análise mais consistente
(tabela 14). Além dos dados reportados por Willig (1983), poucos registros assinalam
medidas de L. mordax no Brasil (ver Swanepoel & Genoways, 1979), todos eles
referentes à material do Nordeste. Somente Ruschi (1953a) menciona um espécime do
Sudeste (ES). Este apresenta dimensões, no geral, ainda superiores as do material
reportado por Willig (1983), mas seu estado taxonômico permanece duvidoso, já que tal
espécime apresentava um dos arcos zigomáticos completos, divergindo da diagnose
genérica a qual o próprio Ruschi (1953a) fez referência. Este aspecto foi ressaltado em
publicação posterior por Pine & Ruschi (1976).
Tabela 14: Médias ou dimensões individuais de medidas selecionadas de Lonchophylla mordax apresentadas por Willig (1983) para Pernambuco, e pelo presente estudo para região de Jaíba, MG.
Machos Fêmeas
Caracter PE MG PE MG
An 34,65 36,73 35,15 34,1 Ctc 22,58 21,161 22,59 22,7 Ccb 21,33 21,08 21,36 20,95 Cpo 4,22 4,22 4,3 4,3 Lcx 8,39 8,45 8,31 8,6 Lmt 9.08 9,10 9.01 9,1 C-M 7,75 7,67 7,81 7,65 Lm 5,10 5,02 5,14 5,2 Lc 3,71 3,67 3,56 3,6
Tamanho das amostras: PE - 37 M e 35 F; MG - 3 M e 1 F. (1incisivo excluído para padronizar com Willig, 1983).
Coletados em simpatria com G. soricina, espécimes de L. mordax foram
facilmente separados desta espécie, em campo, por características externas já
mencionadas por Vieira (1942) e Ruschi (1953a): focinho mais estreito e alongado,
além de coloração dorsal pardo cinamomo e ventral pardo muito claro (figura 20).
64
Figura 20: Espécime de Lonchophy/la mordax procedente da região de Jaíba, MG. (Foto: A. Pol.)
- Hábitos gerais: Dos 18 exemplares obtidos desta espécie, 17 foram amostrados no
afloramento calcário do Morro Solto e um no CAM. À exceção de um espécime
capturado na 1 ª hora após o pôr do sol, todos os demais foram obtidos entre 21:00 e
24 :OOh, sugerindo atividade predominantemente noturna.
Aspectos bionômicos de L. morda.~ são praticamente desconhecidos. Willig
(1983) a incluiu na guilda dos nectarívoros. Howell & Burch (1974) reportaram, para
espécimes da Costa Rica, a utilização de néctar e pólen, provenientes inclusive de
Musa. Insetos da ordem Lepidoptera constituíram outro item citado por estes autores.
Alguns expressivos dados referidos para esta espécie foram publicados por Ruschi
(1953a), ressaltando-se, entretanto, que tais informações devem ser consideradas com
reservas em face a problemática na identificação da espécie, já abordada anteriormente.
Segundo este autor, L. mordax apresenta hábitos crepusculares e noturnos, como
também observado no presente estudo, e forma colônias puras com cinco a dez
indivíduos que abrigam-se em cavernas e folhagens de palmeiras, ou ainda em grutas,
bueiros e ocos de árvores, coabitando com diversas outras espécies. Além dos itens
alimentares já referidos, Ruschi (1953a) acrescentou ainda a utilização de frutas
suculentas. O uso de cavidades como abrigo foi confirmado por Sazima et ai. (1989)
65
comunicação pessoal de D. Guerra e J. S. Marinho-Filho, tendo ressaltado os primeiros
autores a exploração sazonal deste recurso nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil.
Willig (1983) verificou que L. mordax é uma espécie comum nas caatingas de
Pernambuco, especialmente próximo aos “serrotes”. A preferência por este tipo de
hábitat foi também constatada na região de Jaíba, onde com freqüência capturou-se este
nectarívoro junto ao afloramento calcário do Morro Solto. Como já mencionado, esta
formação apresenta certa similaridade com as pequenas serras (“serrotes”) descritas por
Willig (1983). A bromeliácea Encholirium spectabile (macambira-de-lajeiro ou
macambira-de-flecha), uma das plantas mais características das caatingas, onde surge
geralmente associada a afloramentos rochosos (Andrade-Lima, 1989), foi observada no
Morro Solto formando densos agrupamentos, e provavelmente deve constituir
abundante recurso alimentar para L. mordax. Morcegos nectarívoros da espécie co-
genérica L. bokermanni, endêmica do sudeste brasileiro, são conhecidos por visitar as
inflorescências de Encholirium glaziovii nos campos rupestres da Serra do Cipó (Sazima
et al., 1989).
A presença de L. mordax na vegetação já alterada que caracteriza a área do
CAM, demonstra alguma plasticidade comportamental desta espécie. Um morcego com
coloração ventral muito clara, bem distinta da observada em exemplares simpátricos de
G. soricina, e que acredito tratar-se de um L. mordax, foi observado visitando flores de
Calliandra sp.. Comumente observados não só na vegetação que cerca o CAM, como
em outras áreas de vegetação degradada, e inclusive na beira de estradas, arbustos desta
leguminosa foram utilizados ainda por P. discolor e G. soricina. Diferente destas duas
espécies, entretanto, L. mordax foi espécie rara na amostragem realizada no CAM, não
evidenciando a mesma flexibilidade ecológica.
Reprodução: Registrou-se 1 fêmea grávida e 6 lactantes em abril. Os únicos dados
reprodutivos encontrados sobre está espécie foram os mencionados por Wilson (1979).
Referindo-se a Lonchophylla concava (= L. mordax concava) este autor reportou que,
apesar dos poucos registros disponíveis, estes haviam sido feitos em períodos
suficientemente distintos do ano para supor a ocorrência de mais de um pico de
nascimentos por ano (poliestria). A atividade reprodutiva aqui evidenciada ao final do
66
período chuvoso pode estar relacionada a um padrão de poliestria bimodal sazonal, já
constatado para morcegos nectarívoros, em áreas de caatinga, por Willig (1985).
Subfamília Glossophaginae Bonaparte, 1845
Glossophaga soricina (Pallas, 1766)
- Localidade tipo: Suriname.
- Distribuição: Tamaulipas, Sonora e Ilhas Três Marias (México) até Guianas, sudeste
do Brasil, norte da Argentina e Peru; Ilha de Margarita (Venezuela); Trinidad; Granada
(Pequenas Antilhas); Jamaica; talvez Bahamas (Koopman, 1993).
- Material examinado: 27 exemplares (15 machos e 12 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 18 exemplares (9 machos e 9 fêmeas). Machos:
ALP 6870 (26-VIII-94); ALP 6881 (10-X-94); ALP 6886, 6888, 6890 (11-X-94); ALP
6902 (13-X-94); ALP 6905 (14-X-94); ALP 6960 (12-I-95); ALP 6984 (01-III-95).
Fêmeas: ALP 6891, 6895 (11-X-94); ALP 6940 (25-X-94); ALP 6968 (20-II-95); ALP
6985, 6986, 6987, 6998, 6999 (01-III-95).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 15. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,43% (Lc dos
machos) e o menor, 1,03% (Cpo das fêmeas). As dimensões médias observadas em
relação às fêmeas foram, no geral, superiores às dos machos, mas nível significante de
dimorfismo sexual (P < 0,05) foi verificado em apenas uma (Lcx).
Alvarez et al. (1991) reconheceram 5 subespécies para G. soricina: G. s.
antillarum, restrita a Jamaica; G. s. handleyi, encontrada desde o leste e oeste do
México (excluindo a maioria do Platô Mexicano) seguindo pela América Central até o
noroeste da América do Sul; G. s. mutica, restrita as Ilhas Três Marias; G. s. soricina,
ocupando a maior parte da distribuição da espécie na América do Sul à leste dos Andes,
incluindo Trinidad e Ilha de Margarita; G. s. valens, ocorrendo à oeste do Andes nas
partes ocidentais do Equador e Peru. Uma análise mais aprofundada à respeito da
adoção deste procedimento foi apresentada por Webster (1993) em abrangente estudo
sobre a sistemática e evolução do gênero Glossophaga. De acordo com este autor, as
67
formas insularis (G. s. antillarum e G. s. mutica) destacam-se por suas maiores
dimensões, G. s. handleyi apresenta tamanho moderado tanto externamente quanto nas
dimensões cranianas, G. s. soricina é a menor forma em ambos os critérios, possuindo
pelagem de coloração escura, e G. s. valens caracteriza-se por um grande tamanho e pela
coloração pálida da pelagem. Webster (1993) admitiu ainda uma intergradação entre G.
s. soricina e G. s. handleyi ao longo do Vale do Rio Madalena, na Colômbia.
Tabela 15: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Glossophaga soricina provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 9) Fêmeas (N = 7)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P
An 35,38 (33,7-36,45) 0,90 2,55 35,88 (34,5-36,9) 0,91 2,55 0,2919 Ctc 20,64 (19,95-21,2) 0,47 2,26 20,89 (20,5-21,1) 0,22 1,04 0,2288 Ccb 19,33 (18,6-19,8) 0,40 2,06 19,61 (19,25-20,15) 0,33 1,68 0,1469 Lz 9,20 (8,85-9,6) 0,22 2,38 9,29 (8,95-9,65) 0,25 2,67 0,4891 Cpo 4,73 (4,5-5) 0,13 2,84 4,73 (4,65-4,8) 0,05 1,03 0,9307 Lcx 8,58 (8,35-8,75) 0,13 1,51 8,75 (8,45-8,95) 0,17 1,92 0,0418* Lmt 8,81 (8,5-9,15) 0,23 2,64 8,91 (8,7-9,1) 0,13 1,51 0,3159 C-M 7,09 (6,8-7,35) 0,21 2,98 7,23 (7,1-7,4) 0,10 1,44 0,1869 Lm 5,42 (5,2-5,6) 0,11 2,12 5,43 (5,1-5,8) 0,22 4,04 0,9413 Lc 3,94 (3,7-4,2) 0,17 4,43 3,97 (3,7-4,15) 0,16 3,90 0,7040
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam a existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.
Analisando-se os dados médios aqui obtidos, juntamente com os fornecidos por
Taddei (1975b) para o Estado de São Paulo, e por Willig (1983) para o Nordeste do
Brasil, parece discernível uma variação clinal envolvendo o leste brasileiro. Como
evidenciado principalmente pelas medidas ântero-posteriores do crânio, os espécimes
tendem a decrescer de tamanho em direção norte. As médias das medidas de material
procedente do Amazonas, mencionadas por Webster (1993), são ainda menores que as
da região Nordeste (tabela 16). Uma análise mais aprofundada sobre a morfometria de
G. soricina na extensa área correspondente à distribuição da forma típica (maior parte
da América do Sul à leste dos Andes), pode evidenciar a ocorrência de padrões de
variação não abordados no abrangente estudo de Webster (1993).
68
Existência de dimorfismo sexual secundário estatisticamente significante em G.
soricina foi constatada por Taddei (1975b), Willig (1983) e Webster (1993). De acordo
com análise apresentada por este último autor, fêmeas são, em média, geralmente
maiores que os machos nas medidas ântero-posteriores do crânio, verificando-se o
contrário em relação as medidas de largura do crânio. No presente estudo notou-se que
além da diferença constatada nas 3 variáveis relacionada ao comprimento do crânio
(Ctc, Ccb e C-M), as dimensões médias das fêmeas foram também superiores as dos
machos em 3 (Lz, Lcx e Lmt) dos 6 caracteres enfocando a largura do crânio, 1 deles
inclusive com diferença estatisticamente significante.
Tabela 16: Médias de medidas selecionadas de Glossophaga soricina apresentadas por Webster (1993) para o Estado do Amazonas, por Willig (1983) para o Ceará (cerrado) e Pernambuco (caatinga), por este estudo para a região de Jaíba, MG, e por Taddei (1975b) para o Estado de São Paulo. Machos Fêmeas
Caracter AM CE PE MG SP AM CE PE MG SP
An 34,08 35,05 35,15 35,38 35,39 35,09 35,75 36,10 35,88 35,90
Ctc 20,19 20,29 20,45 20,64 20,58 20,26 20,53 20,54 20,89 20,62
Ccb 18,59 19,09 19,15 19,33 19,38 18,66 19,23 19,30 19,61 19,52
Lz 8,94 9,22 9,17 9,20 9,38 8,96 9,20 9,17 9,29 9,20
Cpo 3,95 4,63 4,58 4,73 4,70 3,97 4,69 4,60 4,73 4,72
Lcx 8,41 8,56 8,64 8,58 8,72 8,36 8,72 8,64 8,75 8,60
Lmt 8,72 8,81 8,77 8,81 9,00 8,72 8,91 8,90 8,91 8,88
C-M 6,85 6,97 6,99 7,09 7,10 6,97 7,04 7,04 7,23 7,24
Lm 5,19 5,34 5,33 5,42 5,40 5,32 5,33 5,33 5,43 5,42
Lc - 3,93 3,96 3,94 3,81 - 3,94 3,87 3,97 3,74
Tamanho das amostras: AM - variou entre 16/20 M e 18/22 F; CE - 20 M e 20 F; PE - 20 M e 20 F; MG - 9 M e 7 F; SP - An, 59 M e 47 F / crânio, 20 M e 20 F.
- Hábitos gerais: Uma das espécies mais comuns na região. Dos 27 exemplares
amostrados, 16 foram capturados no afloramento calcário do Morro Solto, 5 em lote
agrícola, 4 no CAM, 1 na Fazenda Yamada, e 1 no Dreno Jaíba. Duas colônias puras de
G. soricina foram encontradas em pequenas cavidades no afloramento calcário do
Morro Solto, ambas com cerca de 6 indivíduos. Em outra cavidade, neste mesmo local,
observou-se um espécime coabitando com 3 exemplares de P. lineatus. Apesar deste
glossofagíneo não ter sido amostrado em rede na Reserva Biológica de Jaíba, uma
69
colônia com cerca de 8 indivíduos foi registrada abrigando-se em sótão de residência
(casa do guarda florestal) nesta localidade.
Todos os 4 exemplares obtidos no CAM foram capturados em rede disposta
junto à arbusto de Calliandra sp. em floração, tendo-se observado abundante quantidade
de pólen distribuído na face ventral das asas de dois deles, o que indicou a utilização
desta leguminosa como recurso alimentar. P. discolor e provavelmente L. mordax
também visitam as flores de Calliandra sp., arbusto freqüente em áreas de vegetação
alterada sendo comumente observado na beira de estradas. Quanto ao horário de
atividade, notou-se uma concentração das capturas ao longo das 3 primeiras horas após
o pôr do sol, como pode ser evidenciado através da figura 21.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1:00 2:00 3:00 4:00 5:00
Horas após o pôr do sol
% de captura
G. soricina
Figura 21: Horário de atividade de Glossophaga soricina com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.
Morcegos do gênero Glossophaga apresentam a dieta menos especializada
dentre os nectarívoros da subfamília Glossophaginae (Emmons, 1990). De acordo com
dados compilados por Gardner (1977), G. soricina pode consumir insetos, frutas, pólen,
néctar e partes florais, assumindo portanto um caráter onívoro (Fleming et al., 1972;
Barquez et al., 1993). Suas preferências alimentares parecem variar geograficamente
(Alvarez et al., 1991), e a flutuação sazonal dos recursos alimentares influencia
diretamente na composição de sua dieta (Webster, 1993). Uma vasta bibliografia
abordando os hábitos nectarívoros desta espécie, e que enfatizam sua importante
70
participação na polinização de diversas espécies de vegetais, encontra-se disponível
(Carvalho, 1960; Gardner, 1977; Sazima et al., 1982; Lemke, 1984, 1985; Ramirez et
al., 1984; Silva et al., 1997).
A mesma versatilidade apresentada por G. soricina em relação à utilização de
recursos alimentares, pode ser constatada quanto à exploração de abrigos diurnos.
Taddei (1973) classificou esta espécie no Norte-Ocidental do Estado de São Paulo como
predominantemente antropófila, tendo colecionado indivíduos em construções habitadas
ou não, nos sótãos, porões e outras dependências, com luminosidade reduzida; cisternas;
tonéis abandonados; sob pontes; e em tubos de escoamento de água sob rodovias.
Outros tipos de refúgio também utilizados incluem cavernas, túneis, bueiros, minas
abandonadas, e árvores e troncos ocos (Barquez et al., 1993; Webster, 1993). Mais de
30 espécies de morcegos têm sido registradas em coabitação com G. soricina (Webster,
1993).
A grande capacidade adaptativa que G. soricina apresenta frente às alterações
antrópicas tem sido referida por diversos autores (Reis, 1981; Sazima et al., 1982;
Lemke, 1985) e pôde ser evidenciada no presente estudo onde a espécie foi amostrada
em variados tipos de hábitats. A utilização de uma construção humana como abrigo na
área da Reserva Biológica de Jaíba retrata bem os hábitos antropófilos que, como
relatado por Taddei (1973), caracterizam este glossofagíneo. Gardner (1977) e Lemke
(1984, 1985) já haviam mencionado a participação de Calliandra na dieta de G.
soricina. Lemke (1985) observou que ao visitar Calliandra laxa os morcegos ingeriam
as anteras, não contribuindo para a polinização da espécie.
Ainda sobre os hábitos alimentares de G. soricina, destaca-se que a introdução
em larga escala do cultivo de Musa spp. na região ora em estudo, tende a favorecer uma
elevação na abundância desta espécie, já que os recursos florais das bananeiras
constituem mais um item reconhecido em sua dieta (Taddei, 1973; Gardner, 1977).
Quanto ao período de atividade, LaVal (1970) verificou um padrão bimodal, com picos
de captura na 1a hora após o crepúsculo e antes da alvorada. Já Ramírez-Pulido &
Armella (1987) constataram no México um pico de atividade na 3a hora após o pôr do
sol. Ambos os estudos divergem dos resultados aqui obtidos, onde uma concentração
das capturas estendeu-se ao longo das três primeiras horas de coleta.
71
- Reprodução: No presente estudo amostrou-se uma fêmea grávida em abril e uma
lactante em março, ambos os meses associados ao período chuvoso. De acordo com
dados compilados por Alvarez et al. (1991), o padrão reprodutivo de G. soricina é
variável geograficamente, havendo registros de poliestria assazonal e de poliestria
bimodal. Wilson (1979) também concluiu que esta espécie pode incluir-se em uma ou
outra categoria dependendo da localidade. Em áreas de caatinga e cerrado no Nordeste
do Brasil, Willig (1983) a caracterizou como poliestra bimodal sazonal, padrão que
possivelmente rege a reprodução de G. soricina na região de Jaíba.
A fêmea lactante mencionada anteriormente e que foi obtida em rede armada
junto à saída de uma cavidade no Morro Solto, carregava seu filhote no momento da
captura. Em estudo conduzido sobre a quiropterofauna de uma região cárstica do Estado
de São Paulo, Trajano (1984) relatou ser bastante rara a captura de indivíduos saindo do
abrigo com o filhote agarrado. De fato, ao longo dos trabalhos de campo na região de
Jaíba, apenas este caso e o relatado anteriormente sobre R. naso foram registrados.
Segundo Trajano (1984) a permanência dos filhotes no abrigo pode ser de alto valor
adaptativo, já que poupa às mães o gasto energético conseqüente do acréscimo de peso
durante o vôo, e constitui uma estratégia de proteção do jovem contra predadores e
condições ambientais externas adversas.
Subfamília Carolliinae Miller, 1924
Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758)
- Localidade tipo: Suriname.
- Distribuição: Oaxaca, Veracruz, e Península de Yucatan (México) até Peru, Bolívia,
Paraguai, sudeste do Brasil e Guianas; Trinidad e Tobago; Granada (Pequenas
Antilhas); talvez Jamaica, norte das Grandes Antilhas (Koopman, 1993).
- Material examinado: 38 exemplares (20 machos e 18 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 17 exemplares (6 machos e 11 fêmeas). Machos:
ALP 6865 (16-VI-94); ALP 6880, 6882 (10-X-94); ALP 6889 (11-X-94); ALP 6972
(20-II-95); ALP 6994 (01-III-95). Fêmeas: ALP 6828 (06-IV-94); ALP 6883, 6884 (10-
72
X-94); ALP 6907 (14-X-94); ALP 6950, 6951 (14-XI-94); ALP 6961 (12-I-95); ALP
6989, 6991, 6993, 6995 (01-III-95).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 17. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,12% (Lcx das
fêmeas) e o menor, 0,43% (An dos machos). Em 8 das 10 medidas estudadas a média
obtida para os machos foi superior a das fêmeas, mas nível significante de dimorfismo
sexual (P < 0,05) foi verificado apenas em uma (Lz).
Tabela 17: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Carollia perspicillata provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 4) Fêmeas (N = 4)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx). DP CV P
An 43,74 (43,55-43,9) 0,19 0,43 42,51 (40,55-44,0) 1,44 3,38 0,1416 Ctc 23,24 (23,05-23,4) 0,15 0,64 22,99 (22,5-23,35) 0,41 1,78 0,2945 Ccb 20,98 (20,85-21,1) 0,10 0,50 20,71 (20,2-21,0) 0,36 1,72 0,2075 Lz 11,74 (11,55-12,0) 0,21 1,75 11,06 (10,8-11,3) 0,21 1,93 0,0039* Cpo 5,63 (5,5-5,75) 0,10 1,85 5,66 (5,5-5,8) 0,12 2,21 0,6610 Lcx 9,83 (9,7-10,0) 0,13 1,28 9,36 (8,9-9,75) 0,39 4,12 0,0629 Lmt 11,44 (11,2-11,6) 0,17 1,49 11,16 (10,8-11,6) 0,34 3,09 0,2026 C-M3 7,79 (7,7-7,9) 0,09 1,10 7,81 (7,7-8,0) 0,13 1,68 0,7606 Lm 8,24 (7,95-8,6) 0,28 3,41 8,18 (7,9-8,55) 0,31 3,75 0,7740 Lc 5,36 (5,2-5,55) 0,15 2,78 5,16 (5,0-5,4) 0,17 3,30 0,1277
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.
Ainda que com certas reservas, Pine (1972) considerou a ocorrência de 3
subespécies para C. perspicillata: C. p. azteca (norte e oeste da Bacia Amazônica), C. p.
perspicillata (Bacia Amazônica) e C. p. tricolor (vale do Rio Paraná). Aliado a outros
caracteres, o maior tamanho da primeira em relação ao da segunda, e o desta comparado
ao da terceira, constituiriam critérios para diferenciação (Pine, 1972). McLellan (1984),
entretanto, realizando análise morfométrica craniana nos mesmos exemplares
examinados por Pine (1972), não encontrou sustentação para tal procedimento. Apesar
de ter constatado uma distinção entre as amostras do México e Honduras quando estas
foram confrontadas às provenientes do Peru, Bolívia e Paraguai, McLellan (1984) notou
que amostras de regiões situadas entre estes extremos apresentavam medidas
73
intermediárias, formando um contínuo. Análise comparativas conduzidas por esta autora
em amostras relativas às áreas das citadas subespécies não demonstraram uma clara
distinção entre as formas.
Considerando-se o leste brasileiro, é possível notar que as médias das medidas
apresentadas por Willig (1983) para material do Nordeste, são, em sua maioria,
superiores às fornecidas por Taddei (1975b) e Fazzolari-Corrêa (1995) para espécimes
do Estado de São Paulo. Já as médias obtidas a partir da presente amostragem são
superiores tanto às referidas por Willig (1983) quanto por Taddei (1975b) e Fazzolari-
Corrêa (1995) (tabela 18), sendo ainda maiores que as apresentadas por Pine (1972) para
material da Amazônia brasileira. Tal fato pode estar relacionado ao reduzido tamanho
da amostra aqui estudada. Quando, em relação ao tamanho do antebraço, incluiu-se as
medidas obtidas a partir dos espécimes soltos, aumentando o número de indivíduos
analisados de 4 machos para 19, e 4 fêmeas para 13, obtêm-se, respectivamente, 42,65 e
42,81mm, resultados bem próximos aos do Nordeste e superiores aos de São Paulo. Sob
este enfoque, o material do norte de Minas Gerais suporta a variação clinal referida para
C. perspicillata por McLellan (1984).
Tabela 18: Médias de medidas selecionadas de Carollia perspicillata fornecidas por Willig (1983) para o Nordeste do Brasil (CE e PE), pelo presente estudo para a região de Jaíba, MG, e por Taddei (1975b)1e Fazzolari-Corrêa (1995)2 para o Estado de São Paulo (SP). Machos Fêmeas M/F Caracter CE PE MG
MMG SP1 CE PE MG SP1 SP2
An 42,25 42,7 43,74 41,18 42,7 42,95 42,51 41,77 39,53 Ctc 22,1 22,26 23,24 21,77 21,77 22,0 22,99 21,71 21,87 Ccb 20,05 20,23 20,98 19,86 19,81 20,03 20,71 19,78 - Lz - - 11,74 11,09 - - 11,06 10,93 - Cpo 5,63 5,68 5,63 5,53 5,51 5,55 5,66 5,45 5,4 Lcx 9,75 9,75 9,83 9,60 9,73 9,65 9,36 9,54 9,6 Lmt 10,97 10,87 11,44 11,1 10,83 10,86 11,16 10,78 - C-M 7,53 7,61 7,79 7,21 7,47 7,54 7,81 7,13 7,20 Lm 7,95 - 8,24 7,99 7,89 8,07 8,18 7,95 - Lc 5,17 5,30 5,36 4,87 4,98 5,03 5,16 4,74 -
Tamanho das amostras: CE - 20 M e 20 F; PE - 20 M e 20 F; MG - 4 M e 4 F; SP1 - An, 30 M e 30 F / crânio, 15 M e 15 F; SP2 - 10 M e 7 F.
74
Dimorfismo sexual em C. perspicillata é geograficamente variável (Cloutier &
Thomas, 1992). Na Colômbia, Tamsitt & Valdivieso (1963) verificaram que machos e
fêmeas não diferiam em tamanho, ao passo que em espécimes do Nordeste e de São
Paulo examinandos, respectivamente, por Willig (1983) e Taddei (1975b), machos
geralmente apresentaram maiores médias para as dimensões craniais. Enquanto na
amostragem de Willig (1983) 6 dos 15 caracteres analisados foram significantemente
maiores nos machos (comprimento total do crânio, comprimento côndilo-basal,
constrição pós-orbital, largura rostral, largura externa dos caninos superiores, e
comprimento do processo coronóide), os resultados de Taddei (1975b) apontaram
apenas um caracter estatisticamente significante (largura mastóidea). Os dados obtidos
para a região de Jaíba corroboram uma possível generalização de tal tendência (M > F)
para o leste brasileiro.
Desde que Pine (1972) reconheceu Carollia brevicauda como uma espécie
distinta, alguns autores têm mencionado a dificuldade de separa-la de C. perspicillata
(Koopman, 1978; Barquez, 1987). Segundo Koopman (1978), nenhum dos caracteres
propostos por Pine (1972) são completamente diagnósticos. Já Barquez (1987) vai mais
além, acreditando que características como cíngulos dos caninos da mandíbula
ocultando ou não os incisivos externos, e série de dentes superiores formando ou não
uma fileira reta, são conseqüências de variações intra-específicas ou intra-populacionais,
mas não interespecíficas. Husson (1978) relatou não ter obtido êxito ao utilizar a revisão
de Pine (1972) em material do Suriname. Por outro lado, nas Guianas Brosset &
Charles-Dominique (1990) não encontraram problemas em diferenciar as duas espécies
com base nos critérios propostos pelo referido autor, e McLellan (1984) facilmente as
separou utilizando análises de variação canônica. A possibilidade de convergência de
caracteres ou hibridização entre C. perspicillata e C. brevicauda tem sido considerada
(Pine, 1972; McLellan, 1984).
Adotando-se as proposições de Koopman (1993) em considerar válidos os dois
táxons, nota-se que estes ocorrem em ampla área de simpatria. Um único espécime de
C. brevicauda, em adição ao mais comum C. perspicillata, foi assinalado para as
caatingas de Pernambuco por Willig & Mares (1989). Com relação ao sudeste brasileiro,
registros de C. brevicauda restringem-se ao Estado do Espírito Santo, onde situa-se a
75
localidade tipo e onde Peracchi & Albuquerque (1993) constataram simpatria com C.
perspicillata.
Com referência a utilização dos critérios propostos por Pine (1972) na
identificação do material aqui analisado, observou-se que dentre os 8 espécimes
incorporados à coleção, 5 apresentavam os incisivos externos totalmente obscurecidos
pelos cíngulos do caninos da mandíbula, e 3 possuíam os mesmos dentes apenas
parcialmente obscurecidos. Fazzolari-Corrêa (1995) também notou variação neste
caracter em material referido à C. perspicillata proveniente do Estado de São Paulo. De
acordo com Pine (1972), entretanto, em C. brevicauda os incisivos externos são
facilmente visíveis quando vistos de cima, o que não se observou em nenhum dos
exemplares. As séries de dentes maxilares mostraram-se relativamente retas em todos os
espécimes, não apresentando o abaulamento para o lado lingual como esquematizado
por Pine (1972) em relação a C. brevicauda.
Não obstante a tais características, os dados morfométricos obtidos, de
dimensões elevadas até mesmo para C. perspicillata, não deixam dúvidas quanto a
identificação do material. Dentre os caracteres considerados úteis por McLellan (1984)
na diferenciação das espécies de Carollia, está o comprimento da série de dentes
maxilares. Os valores médios encontrados no presente estudo tanto para machos (7,79)
quanto para fêmeas (7,81) são bem maiores que o apresentado por esta autora para C.
brevicauda (6,95) e ainda superiores ao proposto para C. perspicillata (7,53).
- Hábitos gerais: Espécie amplamente distribuída na área de estudo ocorrendo em quase
todos os tipos de hábitats. Os espécimes foram amostrados no afloramento calcário do
Morro Solto (27), no CAM (2), Fazenda Solagro (2), Fazenda Yamada (4), Reserva
Biológica de Jaíba (1), e em lote agrícola (2). Uma pequena colônia composta por 3
indivíduos foi encontrada em cisterna abandonada na sede da Reserva Biológica de
Jaíba. As capturas concentraram-se a partir da 2a hora após o pôr do sol, entendendo-se
até o final das coletas (figura 22).
C. perspicillata é um dos morcegos neotropicais mais bem estudados (Fleming,
1988). Tem sido mais comumente registrado abrigando-se em cavernas, ocos de árvores,
túneis, e bueiros; e menos freqüentemente entre rochas, sob folhas, e em residências
(Cloutier & Thomas, 1992). Ruschi (1953a) mencionou colônia abrigada na
76
05
1015202530354045
1:00 2:00 3:00 4:00 5:00
Horas após o pôr do sol
% de captura
C. perspicillata
Figura 22: Horário de atividade de Carollia perspicillata com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.
folhagem de uma amendoeira (Terminalia cattapa), e Starrett & de la Torre (1964 apud
Pine, 1972) reportaram dois exemplares capturados sob folhas de bananeiras. Ainda
Taddei (1973), encontrou morcegos desta espécie em tubos para escoamento de água
sob rodovia; sob pontes; em tonéis abandonados; suspensos em raízes que afloravam
em barrancas de rio; e em cisternas abandonadas, como também assinalado no presente
estudo.
Apresentando uma dieta generalista, C. perspicillata tem sido observada
alimentando-se de mais de 50 espécies de frutas e 11 de néctar/pólen, podendo ainda
investir em insetos (Fleming, 1988). Na região de Manaus, Reis (1981) encontrou
indícios da utilização de 28 espécies de vegetais por este morcego, destacando sua
importância como dispersor de sementes e polinizador. Segundo Fleming (1988), a
ampla disseminação de sementes de plantas pioneiras por C. perspicillata é um
elemento crucial no processo de sucessão secundária em áreas florestadas. Ainda de
acordo com este autor, a razão de colonização em clareiras por plantas pioneiras seria
muito menor se este quiróptero fosse removido dos hábitats onde ocorre.
Quanto ao padrão de atividade, diversos estudos têm demonstrado que espécimes
de C. perspicillata permanecem ativos ao longo de toda noite (Reis, 1981; Fleming,
1988; Marinho-Filho & Sazima, 1989). Os dados aqui obtidos, limitados a 1a metade da
noite, corroboram, pelo menos em parte, este padrão (figura 22).
77
A grande capacidade adaptativa da espécie em tela pode ser realçada
mencionando-se as observações de Brosset & Charles-Dominique (1990), que na
Guiana Francesa amostraram indivíduos em florestas primárias e secundárias, borda de
estradas, pastos, áreas cultivadas, e locais arborizados em área urbana. Segundo estes
autores, C. perspicillata parece encontrar seu ótimo de densidade populacional em
hábitats modificados. No presente estudo ficou evidenciada a versatilidade desta espécie
em explorar diferentes tipos de hábitats, mas o esforço diferencial de amostragem entre
hábitats preservados e alterados não permite inferir sobre um possível aumento
populacional nas áreas degradadas. O elevado número de capturas obtido no
afloramento calcário no Morro Solto por certo deve-se, não só ao fato da área constituir
um sítio de refúgios, como também ao maior esforço amostral nela aplicado.
- Reprodução: Encontrou-se 1 fêmea lactante em março, 1 em abril e 1 em outubro.
Dados sumariados por Wilson (1979) suportam, em relação a C. perspicillata, a
contenção do padrão poliéstrico bimodal sazonal, inicialmente proposto por Fleming
(1973) a partir de espécimes estudados no Panamá. O mesmo padrão foi assinalado para
região Amazônica por Reis (1981) e Marques (1985b), e para áreas de caatinga e
cerrado, no Nordeste, por Willig (1985). Na região Sudeste, registros de fêmeas
lactantes nos meses de janeiro fevereiro, março, outubro e novembro, efetuados por
Taddei (1973) também sugerem esta estratégia reprodutiva. Os dados aqui obtidos,
apesar de não conclusivos, parecem acompanhar o padrão poliéstrico bimodal sazonal,
indicando nascimentos no início e ao final do período chuvoso.
Subfamília Stenodermatinae Gervais, 1856
Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810)
- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.
- Distribuição: Pequenas Antilhas, Sonora e Tamaulipas (México) até o norte da
Argentina, Uruguai, e leste do Brasil; Trinidad e Tobago; talvez Jamaica (Koopman,
1993).
- Material examinado: 6 exemplares (5 machos e 1 fêmea).
78
- Material incorporado à coleção: 6 exemplares (5 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6885 (10-X-94); ALP 6910 (20-X-94); ALP 6952, 6953 (14-XI-94); 6975 (21-II-95).
Fêmea: ALP 6899 (13-X-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para os morcegos desta
espécie encontram-se na tabela 19. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,45%
(C-M) e o menor, 0,45% (Ctc). As dimensões médias de S. lilium aqui reportadas não
demonstraram nenhum padrão mais evidente de diferenciação em relação às fornecidas
por Taddei (1975b) e Willig (1983), para coleções de machos desta espécie
provenientes, respectivamente, do Estado de São Paulo e do Nordeste do Brasil.
Tabela 19: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de exemplares de Sturnira lilium provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N = 4) Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV
An 42,91 (42,0-43,7) 0,70 1,63 Ctc 23,01 (22,9-23,1) 0,10 0,45 Ccb 20,68 (20,4-21) 0,25 1,21 Lz 14,33 (13,8-14,7) 0,39 2,70 Cpo 6,00 (5,9-6,15) 0,11 1,80 Lcx 10,34 (10,2-10,5) 0,13 1,21 Lmt 12,60 (12,45-12,9) 0,20 1,62 C-M 6,55 (6,3-6,85) 0,29 4,45 Lm 8,24 (8-8,35) 0,16 1,94 Lc 6,46 (6,4-6,6) 0,09 1,46
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
- Hábitos gerais: Dos 6 exemplares obtidos, 3 foram capturados no Dreno Jaíba, 2 em
rede armada sobre bebedouro de gado na Fazenda Solagro, e 1 em trilha no interior de
mata na Fazenda Yamada. Horários de captura foram assinalados apenas para 4
espécimes, correspondendo em 2 deles a 2a hora após o pôr do sol, e nos demais às
22:00 e às 23:30h, respectivamente. Apesar das coletas não terem se estendido após as
24:00h, estes dados demonstram atividade na primeira metade da noite, período em que
na Serra do Japi, São Paulo, Marinho-Filho & Sazima (1989) constataram que S. lilium
concentra seu forrageio.
79
Espécie de hábito alimentar predominantemente frugívoro (Gardner, 1977), S.
lilium foi considerada incomum, por Willig (1983), tanto em áreas de caatinga como de
cerrado edáfico no Nordeste do Brasil. Apesar da mesma situação ter sido verificada por
Teixeira & Peracchi (1996), em área de mata atlântica no Estado do Rio de Janeiro, a
abundância desta espécie parece variar localmente, já que diversos outros estudos
relatam altas taxas de captura (Reis, 1981; Peracchi & Albuquerque, 1993; Reis et al.,
1993; Reis et al., 1996). Na presente amostragem S. lilium também constituiu morcego
pouco freqüente, apesar de ocorrer em diferentes tipos de hábitats, inclusive áreas
degradadas como as que cercam o bebedouro de gado na Fazenda Solagro.
Além de sua versatilidade em relação a áreas de forrageio, como aqui constatado,
S. lilium mostra-se flexível também ao explorar abrigos diurnos, tendo sido registrada
em diversos tipos de estruturas tanto naturais quanto construídas pelo homem (Gannon
et al., 1989). Em função de seus hábitos frugívoros, este quiróptero tem importante
papel na dispersão de sementes de vegetais nativos das matas onde ocorre (Reis &
Peracchi, 1987; Iudica & Bonaccorso, 1997), podendo entretanto, também utilizar
espécies introduzidas como recurso alimentar (Taddei, 1973). Tais características
evidenciam a capacidade adaptativa desta espécie frente às alterações ambientais
provocadas pela ação antrópica. Jones & Phillips (1976) encontraram S. lilium em
plantações de banana, hábitats pouco amostrados no presente estudo e que também
devem ser explorados por esta espécie.
Reprodução: Uma fêmea lactante foi coletada em outubro. Wilson (1979) sugeriu um
padrão poliestro bimodal para S. lilium, o que foi corroborado por Fazzolari-Corrêa
(1995) no Estado de São Paulo. Em área de cerrado no Estado de Minas Gerais, Pedro
(1992) encontrou fêmeas lactantes em novembro, janeiro, fevereiro, e abril, o que
também indica a poliestria, associada ao período de maior pluviosidade. Na região de
Jaíba esta espécie deve apresentar o mesmo padrão, como sugere a presença de uma
fêmea lactante no início da estação chuvosa. Em áreas de caatinga no Nordeste outros
morcegos frugívoros exibiram a poliestria bimodal associada a tal período (Willig,
1985).
80
Uroderma magnirostrum Davis, 1968
- Localidade tipo: Honduras, Valle, 10Km leste de San Lorenzo.
- Distribuição: Michoacan (México) até Venezuela, Peru, Bolívia e Brasil (Koopman,
1993). Esta espécie era conhecida no Brasil apenas da região Amazônica e Nordeste
(Willig, 1983), até que teve sua distribuição consideravelmente ampliada por Peracchi
& Albuquerque (1993) a partir de espécimes coletados no Estado do Espírito Santo. A
presente amostragem constitui a segunda obtida para a região Sudeste e o primeiro
registro da espécie no Estado de Minas Gerais.
- Material examinado: 4 exemplares (3 machos e 1 fêmea).
- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6831 (06-IV-94); 6834 (07-IV-94). Fêmea: ALP 6835 (07-IV-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 20. Davis (1968) baseou a descrição original de U.
magnirostrum em 82 espécimes provenientes de distintas localidades das Américas do
Sul e Central, incluindo o Brasil (Estado do Pará), mas encontrou pouca evidência de
variação geográfica. De acordo com Jones & Carter (1976) trata-se de espécie
monotípica.
Tabela 20: Medidas selecionadas de exemplares de Uroderma magnirostrum provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N = 2) Fêmea
Caracter Méd. (Mín.-Máx). (N = 1)
An 42,00 (41,6-42,4) 44,35 Ctc 23,13 (23,05-23,2) 23,05 Ccb 21,38 (21,15-21,6) 21,6 Lz 12,73 (12,7-12,75) 12,2 Cpo 5,68 (5,65-5,7) 5,5 Lcx 9,35 (9,1-9,6) 9 Lmt 10,93 (10,75-11,1) 10,7 C-M 8,25 (8,2-8,3) 8,4 Lm 8,83 (8,8-8,85) 9,15 Lc 5,70 (5,65-5,75) 5,8
N = tamanho da amostra.
81
Além das medidas apresentadas por Davis (1968), são escassos os dados
disponíveis sobre a morfometria deste quiróptero na literatura. Dimensões relativas a
pequeno número de exemplares podem ser encontradas nos trabalhos de Swanepoel &
Genoways (1979), Taddei & Reis (1980), Willig (1983) e Taddei et ai. (1990), estes três
últimos referindo-se, respectivamente, a material do Estado de Roraima, do Nordeste do
Brasil, e da Amazônia ocidental (Estado do Acre). Anderson (1997) forneceu extremos
de medidas combinadas de 6 machos e 6 fêmeas procedentes da Bolívia.
Em linhas gerais, as dimensões aqui apresentadas concordam com as fornecidas
pelos citados autores, não tendo-se evidenciado nenhuma tendência divergente mais
clara. Em dois dos caracteres externos (antebraço e 3º metacarpo) utilizados por Davis
(1968), nota-se uma tendência ao dimorfismo sexual que é corroborada no presente
estudo pelo menos em relação ao tamanho do antebraço que acompanha a variação de
36.0-43.8 para machos, e 41.0-46.6 para remeas, apresentada pelo referido autor.
Quanto à pelagem, os espécimes obtidos mostraram-se bem similares a outros
capturados pelo autor na Amazônia Ocidental (Acre), com listras faciais quase
indistintas e coloração geral pardo clara (figura 23).
Figura 23: Espécime de Uroderma magniroslrum procedente do Estado do Acre. Os exemplares obtidos na região de Jaíba, MO, apresentaram a mesma coloração pardo clara com listras faciais quase indistintas.
82
- Hábitos gerais: Os 4 espécimes obtidos foram capturados em redes armadas sobre o
afloramento calcário do Morro Solto. Horário de captura, assinalado apenas para 2
exemplares, demonstrou atividade na 2a e 3a hora após o pôr do sol.
Muito pouco se sabe sobre a bionomia de U. magnirostrum. Gardner (1977)
referiu-se a esta espécie como basicamente frugívora, suspeita confirmada por Reis &
Peracchi (1987) que constataram a presença de sementes de embaúba (Cecropia
palmata) nas fezes de um exemplar proveniente da região Amazônica. Mais
recentemente Muñoz-Saba et al. (1997) reportaram, a partir de estudos na Colômbia,
uma dieta composta por 83% de frutos, 9% de néctar-pólen e 8% de insetos. Sobre a
utilização de hábitat, Reis & Peracchi (1987) mencionam ter amostrado U.
magnirostrum apenas em áreas de capoeira, tendo Reis (1981) associado tal fato à
grande concentração de embaúbas neste tipo de hábitat. Apesar de no presente estudo
não ter-se analisado material fecal das espécie encontradas, o mesmo raciocínio poderia
justificar a presença desta espécie no afloramento calcário do Morro Solto, onde
Cecropia spp. foi freqüentemente observada.
Tanto Reis (1981) quanto Willig (1983) consideraram U. magnirostrum uma
espécie rara dentro de suas amostragens, o que é corroborado pelo pequeno número de
exemplares aqui capturados. Na Colômbia, entretanto, Sánchez-Palomino et al. (1993)
consideraram este filostomídeo comum (abundância relativa > que 5%) em uma das
quatro amostragens por eles realizadas, estando ausente nas demais. De acordo com
Muñoz-Saba et al. (1997), a abundância de U. magnirostrum em uma dada área está
associada à flutuação sazonal dos recursos alimentares por ela explorados.
- Reprodução: Uma fêmea obtida em abril, final do período chuvoso, encontrava-se
lactante. Um padrão poliestro bimodal foi inicialmente sugerido para U. magnirostrum
por Wilson (1979), suspeita posteriormente confirmada por Marques (1985b), pelo
menos em relação a espécimes da região Amazônica. Neste último estudo, a autora teve
oportunidade de examinar fêmeas grávidas e lactantes simultaneamente, tendo
assinalado a ocorrência do estro pós-parto. O dado aqui obtido, apesar de não
conclusivo, dá indício que na região de Jaíba o mesmo padrão reprodutivo pode
caracterizar a espécie em questão.
83
Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810)
- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.
- Distribuição: Colômbia até o Peru, Bolívia, Uruguai, norte da Argentina, sul e leste
do Brasil; Guiana Francesa; Suriname (Koopman, 1993).
- Material examinado: 25 exemplares (14 machos e 11 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 8 exemplares (8 machos). ALP 6829, 6830 (06-IV-
94); ALP 6871 (26-VIII-94); ALP 6894 (11-X-94); ALP 6903 (14-X-94); ALP 6954,
6955 (14-XI-94); ALP 6971 (20-II-95).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para os exemplares desta
espécie encontram-se na tabela 21. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,15%
(An) e o menor, 1,60% (Lcx).
Tabela 21: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de exemplares de Platyrrhinus lineatus provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N = 8 )
Caracter Méd. (Mín.-Máx). DP CV
An 46,03 (42,5-49,35) 1,91 4,15 Ctc 24,74 (23,85-25,7) 0,59 2,39 Ccb 22,03 (21,1-22,75) 0,54 2,47 Lz 14,34 (13,75-14,95) 0,34 2,35 Cpo 6,13 (5,9-6,4) 0,15 2,43 Lcx 10,49 (10,2-10,75) 0,17 1,60 Lmt 12,19 (11,8-12,55) 0,22 1,79 C-M 8,72 (8,35-9,2) 0,31 3,56 Lm 10,11 (9,6-10,5) 0,32 3,20 Lc 6,03 (5,6-6,3) 0,24 3,97
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
As médias das medidas aqui apresentadas concordam, em sua maioria, com as
fornecidas por Taddei (1979) e Willig (1983), para coleções de machos desta espécie
provenientes, respectivamente, do Estado de São Paulo e do Nordeste do Brasil. Notou-
se, contudo, que em relação às medidas ântero-posteriores do crânio, espécimes
relativos ao Sudeste brasileiro (MG e SP) tendem a apresentar maiores dimensões
84
(tabela 22). Uma possível variação geográfica clinal é corroborada por dados
morfométricos reportados por González & Vallejo (1980) para espécimes do Uruguai
que são, em média, consideravelmente maiores que os representantes brasileiros de P.
lineatus. Rouk & Carter (1972) já haviam mencionado que exemplares de áreas mais ao
sul da distribuição da espécie são maiores, decrescendo em direção ao norte.
Tabela 22: Médias de medidas selecionadas de machos de Platyrrhinus lineatus fornecidas por Willig (1983) para Pernambuco e Ceará, pelo presente estudo para região de Jaíba, MG, por Taddei (1979) para o Estado de São Paulo, e por González & Vallejo (1980) para o Uruguai.
Caracter PE CE MG SP Uruguai
An 47,20 46,0 46,03 46,46 46,9 Ctc 24,32 24,38 24,74 24,69 25,14 Ccb 21,90 21,83 22,03 22,31 22,74 Lz 14,32 14,25 14,34 14,32 14,68 Cpo 6,26 6,23 6,13 6,27 6,42 Lcx 10,51 10,56 10,49 10,57 12,28 Lmt 12,12 12,21 12,19 12,23 - C-M 8,59 8,76 8,72 8,85 8,92 Lm 10,19 10,17 10,11 10,16 - Lc 6,05 6,09 6,03 6,06 -
Tamanho das amostras: PE - 20; CE - 20; MG - 8; SP - An = 40, craniais = 15; Uruguai - 5.
Espécie de porte pouco menor que P. lineatus, e com diversas medidas
sobrepondo-se as deste, Platyrrhinus recifinus tem tido sua validade taxonômica
questionada por diversos autores (Rouk & Carter, 1972; Jones & Carter, 1976; Honacki
et al., 1982). Contudo, dispondo de farto material proveniente do Estado do Espírito
Santo, Peracchi & Albuquerque (1993) reconheceram as duas espécies como válidas,
procedimento também adotado por Koopman (1993). Todos os exemplares aqui
examinados apresentaram os incisivos inferiores bilobados, característica que segundo
Willig & Hollander (1987), diferenciaria P. lineatus de P. recifinus, já que nesta última
os incisivos inferiores são trilobados. Quanto ao tamanho do antebraço, apenas um
espécime apresentou medida entre 41.0 e 43.0mm (42.5), extremos apresentados por
Sanborn (1955) e que caracterizariam P. recifinus. Todos os demais exemplares tiveram
antebraço entre 45.1 e 49.35mm. Apesar de Sanborn (1955) não ter considerado o
85
tamanho dos incisivos superiores (pequenos e separados) como um caracter diagnóstico
confiável para o reconhecimento de P. recifinus frente a P. lineatus, é digno de nota que
na presente amostragem todos os exemplares apresentaram incisivos superiores internos
em contato e consideravelmente maiores que os externos.
- Hábitos gerais: Dos 25 exemplares obtidos desta espécie, 22 foram colecionados em
redes armadas sobre o afloramento calcário do Morro Solto, 2 em bebedouro de gado na
Fazenda Solagro, e 1 em lote agrícola. As captura estenderam-se desde a 1a hora após o
pôr do sol até o término das coletas. No Morro solto, uma pequena colônia desta
espécie, composta por 3 exemplares, foi encontrada em cavidade de pouca profundidade
onde também observou-se 1 exemplar de G. soricina.
Colônias de P. lineatus tem sido registradas abrigando-se em cavernas (Trajano,
1984; Campanhã & Fowler, 1993), sob folhas de palmeiras (Peracchi & Albuquerque,
1971) e bananeiras (obser. pess.), na copa de árvores tais como mangueiras (Nowak,
1994; Bredt & Uieda, 1996), e em construções humanas (Sanborn, 1955; Marinho-
Filho, 1992). Segundo Trajano (1995), esta espécie é regularmente encontrada em
cavernas de regiões cársticas, onde forma pequenas colônias, o que é corroborado pelo
observado no presente estudo. Trata-se de morcego basicamente frugívoro, podendo
também utilizar insetos, néctar e partes florais (Gardner, 1977; Sazima & Sazima,
1975). Plantações de árvores frutíferas e espécies utilizadas no paisagismo urbano, lhe
garantem abundante recurso alimentar explorado, respectivamente, em áreas rurais e em
ambiente urbano (Bredt & Uieda, 1996).
Os diversos tipos de hábitats em que esta espécie foi encontrada na região de
Jaíba demonstra sua flexibilidade frente as alterações antrópicas. Provavelmente, as
plantações de banana, introduzidas em larga escala nos lotes de irrigação, estão
favorecendo a manutenção das populações de P. lineatus.
- Reprodução: Foi coletada 1 fêmea lactante em abril, final do período chuvoso.
Dispondo de consistente amostragem em áreas de cerrado e caatinga no nordeste do
Brasil, Willig (1983) definiu para este filostomídeo um padrão poliéstrico bimodal. Tal
estratégia é também sustentado pelos dados de Peracchi & Albuquerque (1971) e Taddei
(1976), fornecidos, respectivamente, para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Este
último autor constatou a ocorrência do estro pós-parto em P. lineatus.
86
Artibeus lituratus (Olfers, 1818)
- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.
- Distribuição: Sinaloa e Tamaulipas (México) até o sul do Brasil, norte da Argentina, e
Bolívia; Trinidad e Tobago; Sul das Pequenas Antilhas; Ilhas Três Marias (Koopman,
1993).
- Material examinado: 11 exemplares (9 machos e 2 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6862, 6868 (16-VI-94). Fêmea: ALP 6864 (16-VI-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 23.
Tabela 23: Medidas selecionadas de exemplares de Artibeus lituratus provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N = 2) Fêmea
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) (N = 1)
An 69,75 (68,3-71,2) 72,9 Ctc 31,60 (31-32,2) 32,4 Ccb 28,25 (27,5-29) 28,35 Lz 19,20 (18,6-19,8) 19,5 Cpo 6,60 (6,2-7) 7,2 Lcx 13,00 (12,85-13,15) 12,45 Lmt 16,75 (16,3-17,2) 17,45 C-M 11,55 (11,55-11,55) 11,2 Lm 14,20 (13,95-14,45) 13,7 Lc 9,15 (9,1-9,2) 8,65
N = tamanho da amostra.
Analisando-se comparativamente as dimensões aqui reportadas e os dados
médios fornecidos por Taddei (1979) para material do Estado de São Paulo, e por Willig
(1983), que dispôs de coleção proveniente de áreas de caatinga e cerrado no Nordeste do
Brasil, nota-se uma situação similar à observada em P. lineatus. Embora concordando
em relação à maioria dos caracteres estudados, espécimes da região Sudeste parecem
tender a apresentar as medidas ântero-posteriores do crânio, em média, maiores que as
dos exemplares do Nordeste. Nos dados dos machos reportados na tabela 24, isto pode
87
ser evidenciado através da comprimento côndilo-basal e do comprimento da série de
dentes maxilares, tendo-se ainda incluído médias fornecidas por Althoff (1996) para
medidas de espécimes da região Sul do Brasil e que parecem corroborar uma variação
clinal. Os machos coletados em Jaíba apresentaram ainda medidas excepcionalmente
grandes de largura externa do molares e largura externa do caninos, não acompanhando
nenhuma tendência clinal com respeito aos dados de Taddei (1979) e Willig (1983),
sendo, provavelmente, resultado da pequena amostragem aqui disponível.
Tabela 24: Médias de medidas selecionadas de machos de Artibeus lituratus fornecidas por Willig (1983) para Pernambuco e Ceará, pelo presente estudo para região de Jaíba, MG, por Taddei (1979) para o Estado de São Paulo, e por Althoff (1996) para diversas localidades dos Estados do Paraná e Santa Catarina.
An PE CE MG SP PR/SC
An 70,60 69,75 69,75 70,53 70,931 Ctc 31,30 30,87 31,60 31,31 31,69 Ccb 27,87 27,33 28,25 28,10 28,50 Lz 19,07 18,66 19,20 18,96 19,38 Cpo 6,73 6,72 6,60 6,71 6,76 Lcx 13,36 13,48 13,00 13,63 13,712 Lmt 16,82 16,62 16,75 16,84 17,04 C-M 10,99 10,92 11,55 11,3 11,26 Lm 13,75 13,57 14,20 13,53 13,842 Lc 8,83 8,81 9,15 8,89 8,99
Tamanho das amostras: PE - 20; CE - 20; MG - 2; SP - An = 40, cranianas = 15; PR/SC - 94 (1,2somente espécimes de Blumenau; 119, 220).
- Hábitos gerais: À exceção de um espécime capturado em rede armada sobre o
afloramento calcário do Morro Solto, todos os demais exemplares foram obtidos em lote
agrícola. As capturas estenderam-se desde a 1a hora após o pôr do sol até o término das
coletas, o que corrobora, pelo menos em parte, observações citadas na literatura
indicando atividade desde o crepúsculo até o final da noite (Muller & Reis, 1992;
Sazima et al., 1994).
A. lituratus é o filostomídeo que apresenta a maior plasticidade comportamental,
havendo diversos relatos de sua presença em ambientes urbanos onde, com eficiência,
explora os recursos de abrigo e alimentação oferecidos inadvertidamente pelo homem
(Taddei, 1969, 1973; Sazima et al., 1994; Bredt & Uieda, 1996). Colônias desta espécie
88
têm sido observadas em cavernas (Trajano, 1984); construções humanas (obser. pess.);
na face ventral das folhas de bananeiras; em cipós, protegidos pela folhagem, no interior
de capões de mata (Taddei, 1973); e principalmente na copa de palmeiras e árvores
frondosas, tais como mangueiras, amendoeiras e figueiras (Ruschi, 1953b; Peracchi &
Albuquerque, 1971; Taddei, 1973).
Segundo Barquez (1987), pelo menos 67 espécies diferentes de plantas estão
incluídas na dieta deste quiróptero, que além de utilizar uma variedade de recursos
vegetais (frutos, flores e folhas), pode também alimentar-se de insetos (Gardner, 1977).
Nos comentários sobre os hábitos de A. planirostris apresenta-se uma lista de plantas,
fornecida por Taddei (1973), que na região Norte-Ocidental do Estado de São Paulo
servem de alimento também para A. lituratus. É considerada espécie de grande
importância na dispersão de sementes (Reis, 1981). Contudo, por tratar-se de morcego
oportunista, sua abundância relativa tende a crescer em áreas mais degradadas (Muller
& Reis, 1992), havendo relatos de sérios danos a fruticultura (Goodwin & Greenhall,
1961; Taddei, 1988).
Na área aqui estudada também constatou-se uma maior abundância de A.
lituratus em área degradada (lote agrícola), sendo esta uma espécie rara no afloramento
calcário do Morro Solto. Em relação a um possível efeito negativo sobre a produção
local de frutas, faz-se necessário esclarecer que, como mencionado por Morton (1989),
morcegos geralmente comem apenas frutas maduras, e a maioria das colheitas
comerciais é feita com os frutos verdes. Ainda segundo a referida autora, ao comer a
fruta que pode madurar prematuramente, os morcegos eliminam o alimento de insetos
que causam danos às plantas.
- Reprodução: Duas fêmeas coletadas em junho não apresentavam sinais externos de
atividade reprodutiva. É provável que na região aqui estudada A. lituratus enquadre-se
no padrão poliéstrico bimodal sazonal, o mesmo registrado para esta espécie por Willig
(1985) em áreas de cerrado e caatinga no Nordeste, e por Reis (1989) no Estado do Rio
de Janeiro.
89
Artibeus planirostris (Spix, 1823)
- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Salvador.
- Distribuição: Colombia e Venezuela até o norte da Argentina e leste do Brasil
(Koopman, 1993).
- Material examinado: 37 exemplares (28 machos e 9 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 13 exemplares (9 machos e 4 fêmeas). Machos:
ALP 6879 (10-X-94); ALP 6892, 6893 (11-X-94); ALP 6906 (14-X-94); ALP 6957,
6958 (14-XI-94); ALP 6976, 6979 (28-02-95); ALP 6990 (01-III-95). Fêmeas: ALP
6861, 6863 (16-VI-94); ALP 6887 (11-X-94); ALP 6956 (14-XI-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 25. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,20% (Lmt das
fêmeas) e o menor, 1,00% (Ctc das fêmeas). Dimensões médias de machos e fêmeas, em
sua maioria apresentaram-se muito próximas, não tendo-se verificado nível significante
de dimorfismo sexual (P < 0,05) em nenhum dos caracteres examinados.
Tabela 25: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Artibeus planirostris provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 9) Fêmeas (N = 4)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P
An 60,01 (57,85-62,1) 1,46 2,44 60,49 (60-61,6) 0,76 1,26 0,5528 Ctc 27,95 (27,2-28,55) 0,47 1,67 27,93 (27,55-28,2) 0,28 1,00 0,9234 Ccb 25,08 (24,05-25,7) 0,53 2,11 24,99 (24,3-25,4) 0,49 1,95 0,7772 Lz 17,17 (16,5-17,6) 0,36 2,12 17,08 (16,85-17,65) 0,39 2,26 0,6706 Cpo 7,13 (6,7-7,45) 0,21 2,94 7,11 (6,9-7,25) 0,15 2,18 0,8991 Lcx 12,23 (11,7-12,7) 0,32 2,65 12,13 (12-12,3) 0,15 1,24 0,5637 Lmt 15,14 (14,55-15,85) 0,43 2,84 14,91 (14,4-15,55) 0,48 3,20 0,4140 C-M 10,13 (9,95-10,4) 0,16 1,62 10,14 (10-10,3) 0,14 1,36 0,9656 Lm 12,37 (11,95-12,75) 0,28 2,28 12,29 (12,0-12,65) 0,26 2,08 0,6413 Lc 7,94 (7,5-8,25 0,22 2,80 7,88 (7,75-7,95) 0,09 1,10 0,5957
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; valores de P menores que 0,05 indicariam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.
Como mencionado por Barquez (1987), a taxonomia das espécies do gênero
Artibeus na América do Sul é bastante complexa e permanece ainda não resolvida. Os
90
diferentes critérios utilizados pelos investigadores, e o pouco conhecimento sobre as
variações individuais e populacionais das diferentes espécies, além da discussão sobre
alguns caracteres como a presença ou ausência do 3o molar superior reduzido, são
fatores citados pelo referido autor e que contribuem para manutenção desta situação. A
questão aqui pertinente diz respeito ao reconhecimento, sob estado específico ou não, de
A. planirostris. Em contraposição ao proposto por Handley (1987), que considerou A.
planirostris uma subespécie de A. jamaicensis, optou-se no presente estudo por seguir o
mesmo posicionamento adotado por Barquez (1987), Willig & Mares (1989), Taddei et
al. (1990), Koopman (1993) e Lim & Wilson (1993), mantendo as duas espécies
separadas.
Uma sucinta compilação sobre as publicações envolvendo a problemática da
validade específica de A. planirostris foi apresentada por Taddei et al. (1990). Segundo
estes autores, a referida espécie caracteriza-se por uma extensa variação ao longo de sua
área de ocorrência, e parece apresentar um padrão de diferenciação semelhante ao
observado no insetívoro N. albiventris, já discutido anteriormente. Dentre os subsídios
utilizados por Taddei et al. (1990) para sugerir tal padrão, destacam-se a ocorrência de
populações com dimensões bem avantajadas, em grande parte superpostas as de A.
lituratus, particularmente no oeste da Bacia Amazônica; e em relação ao leste brasileiro,
populações da região Nordeste, citadas por Willig (1983), com medidas
consideravelmente menores que as obtidas por Taddei (1979) para material procedente
de São Paulo.
Como demostrado na tabela 26, os dados aqui obtidos parecem corroborar as
proposições de Taddei et al. (1990), principalmente em relação ao tamanho do
antebraço e nas medidas ântero-posteriores do crânio (Ctc, Ccb e C-M), tendo-se
constatado dimensões médias intermediárias entre as apresentadas por Willig (1983)* e
Taddei (1979). Acrescentou-se na referida tabela dados médios fornecidos por Barquez
(1987) para A. planirostris da Argentina, e como pode-se perceber, estes são
consideravelmente superiores aos referidos por Taddei (1979) para São Paulo, dando
continuidade ao gradiente que decresce partindo-se em direção ao nordeste brasileiro.
* Espécimes do Nordeste referidos por Willig (1983) como A. jamaicensis representam, de fato, A. planirostris (Willig & Mares, 1989).
91
Tanto Taddei (1979) quanto Willig (1983) realizaram análises estatísticas
visando constatar a possível ocorrência de dimorfismo sexual secundário em A.
planirostris. O primeiro encontrou níveis significantes de dimorfismo em 5 das 17
medidas externas avaliadas, mas apenas em 1 das 15 cranianas, sendo em todos os casos
fêmeas maiores que os machos. Já Willig (1983) não encontrou diferença sexual
aparente em relação as variáveis morfométricas externas, tendo constatado, entretanto,
que os machos foram, em média, maiores que as fêmeas em 11 dos 16 caracteres
cranianos examinados e significantemente distintos em 5. A divergência entre estes
resultados e o aqui obtido, onde nenhum dimorfismo sexual secundário foi evidenciado,
poderia ser associada à reduzida amostragem de que se dispôs no presente estudo.
Contudo, considerando-se o consistente material analisado por estes autores e a
divergência também verificada entre seus dados, é possível que o dimorfismo sexual
secundário nesta espécie seja geograficamente variável, como observa-se em C.
perspicillata (Cloutier & Thomas, 1992).
Tabela 26: Médias de medidas selecionadas de espécimes de Artibeus planirostris provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às fornecidas por Taddei (1979), Willig (1983) e Barquez (1987) para exemplares, respectivamente, do Estados de São Paulo, do Ceará e de Pernambuco, e da Argentina. Machos Fêmeas M/F Caracter CE PE MG SP CE PE MG SP Argent. An 57,40 58,95 60,01 63,12 57,20 59,45 60,49 63,75 65,7 Ctc 27,30 27,68 27,95 28,99 26,96 27,61 27,93 29,28 30,2 Ccb 24,17 24,41 25,08 26,11 23,91 24,37 24,99 26,31 27,2 Lz 16,87 17,20 17,17 17,95 16,62 17,07 17,08 18,09 19,1 Cpo 6,99 6,99 7,13 7,21 6,82 6,92 7,11 7,25 7,4 Lcx 12,26 12,28 12,23 12,88 12,07 12,27 12,13 12,95 13,5 Lmt 14,95 15,08 15,14 15,61 14,60 14,90 14,91 15,69 16,3 C-M 9,91 9,83 10,13 10,41 9,60 9,78 10,14 10,43 11,0 Lm 12,38 12,44 12,37 12,8 11,99 12,34 12,29 12,83 12,9 Lc 7,94 7,95 7,94 8,35 7,53 7,98 7,88 8,43 8,9
Tamanho das amostras: Ceará - 20 M e 20 F; Pernambuco - 20 M e 20 F; MG - 9 M e 4 F; SP - An, 30 M e 30 F / crânio, 15 M e 15 F; Argentina - entre 33 e 43 indivíduos.
Dentre os caracteres qualitativos observados nos 13 espécimes do norte de
Minas Gerais que foram incorporados à coleção, destaca-se a presença constante do 3o
molar superior reduzido, e da borda inferior da folha nasal com a margem anterior livre
92
no centro (espécimes em álcool). As mesmas características foram observadas por
Taddei (1979) em material de São Paulo, tendo relatado este autor que o 3o molar
superior encontrava-se presente em todos os 147 exemplares por ele examinados.
Segundo Barquez (1987), em espécimes da Argentina este caracter geralmente se faz
presente, mas pode não ocorrer. Sobre a borda inferior da folha nasal, fusionada
centralmente ou não ao lábio superior, este autor não faz nenhum comentário
específico, indiretamente sugerindo que seria similar à observada em A. lituratus que
foi descrita como livre. Outras características observada por Barquez (1987) em relação
a A. planirostris, e também verificadas nos exemplares aqui examinados, dizem
respeito à coloração dorsal pardo acinzentada e ventre marrom claro, as listras faciais
apenas marcadas, ou ausentes, e a escassez de pêlos sobre o uropatágio. Não foi
encontrada, entretanto, a mancha branca na ponta das asas, também mencionada por
este autor.
- Hábitos gerais: Espécie freqüente na região, ocorrendo no afloramento calcário do
Morro Solto, Fazenda Yamada, CAM, Fazenda Solagro e em lote agrícola. Apesar do
esforço amostral diferenciado, merece destaque a elevada abundância de A. planirostris
constatada junto ao afloramento calcário, onde obteve-se cerca de 67% dos indivíduos
amostrados. Observou-se atividade desde a 1a hora após o pôr do sol, estendendo-se
durante todo o período de coleta (figura 24).
0
5
10
15
20
25
30
1:00 2:00 3:00 4:00 5:00
Horas após o pôr do sol
% de captura
A. planirostris
Figura 24: Horário de atividade de A. planirostris com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.
93
Como ressaltado por Willig et al. (1993) a problemática envolvendo o
reconhecimento à nível específico de A. planirostris ou sua inclusão em A. jamaicensis,
provoca certa confusão quanto ao levantamento de dados bionômicos. Os dados obtidos
por estes autores em áreas de cerrado edáfico no Nordeste do Brasil, demonstraram que
A. planirostris apresenta uma dieta predominantemente frugívora, com uma mínima
participação de insetos. Nestas áreas frutos de Vismia foram responsáveis pelo maior
volume de sua dieta (predominância de 80%). No Estado de São Paulo, Taddei (1973)
faz referência à similaridade entre os hábitos alimentares desta espécie e do também
frugívoro A. lituratus. A lista de plantas apresentada por este autor e que diz respeito a
ambas as espécies inclui: mangueiras (Mangifera indica), mamoeiros (Carica papaya),
amendoeiras (Terminalia catappa), abacateiros (Persea americana), embaúbas
(Cecropia sp.), amoreiras silvestres (Chlorophora tinctoria), figueiras silvestres (Ficus
enormis e Ficus sp.), jabuticabeiras (Myrciaria cauliflora), goiabeiras (Psidium
guajava), jambeiros (Syzygium jambos), pereiras (Pyrus communis) e jaborandis falsos
(Piper aduncum). Com relação a utilização de abrigos registros indicam tratar-se de
espécie fitófila (Taddei, 1973; Barquez et al., 1993). Taddei (1973) relatou espécimes
suspensos em cipós, em ramos entre folhas de café (Coffea arabica), e em bambusal.
A presença de A. planirostris em diversos tipos de hábitats, como constatado no
presente estudo, demonstra considerável capacidade de se adaptar às alterações
antrópicas, o que por certo é facilitado por sua versatilidade em explorar recursos
alimentares tanto nativos quanto exóticos, como evidenciado por Taddei (1973). Soma-
se a isso a presença, em áreas alteradas, de árvores frutíferas ou com finalidade
paisagística, que podem constituir alternativas de abrigo para esta espécie. Sua elevada
abundância, observada junto ao afloramento calcário do Morro Solto, pode estar
associada a alta freqüência com que encontrou-se Ficus sp. e Cecropia sp. nesta
localidade, já que, como sugerido por Fleming (1986), Artibeus spp. parecem alimentar-
se seletivamente dos frutos de espécies destes gêneros. A utilização de cavidades como
abrigo pode ser outro fator a favorecer a presença de A. planirostris neste tipo de
hábitat. A. jamaicensis e Artibeus fimbriatus, espécies morfologicamente similares a A.
planirostris, têm sido registradas em cavernas (Goodwin & Greenhall, 1961; Trajano,
1995), a última delas com regularidade (Trajano, 1995).
94
- Reprodução: Dentre o material examinado encontrou-se 1 fêmea lactante em outubro
e 1 em novembro. Referindo-se sob o nome de A. jamaicensis, Willig (1985) reportou
para espécimes de áreas de caatinga e cerrado edáfico no Nordeste do Brasil, um padrão
reprodutivo poliéstrico bimodal sazonal. Este autor constatou dois picos de lactação, o
primeiro de outubro a dezembro, e o segundo entre janeiro e março. Um padrão similar
é sugerido pelos dados obtidos por Taddei (1973, 1976) no Estado de São Paulo, tendo
este autor verificado a ocorrência de estro pós-parto. Apesar da limitada amostragem
aqui disponível não permite análises conclusivas, o registro de fêmeas lactantes no
início do período chuvoso pode indicar uma estacionalidade reprodutiva, tal como
evidenciado nos estudos citados.
Subfamília Desmodontinae Bonaparte, 1845
Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810)
- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.
- Distribuição: Uruguai, norte da Argentina, e norte do Chile até Sonora, Nuevo Leon e
Tamaulipas (México); Ilha de Margarita (Venezuela); Trinidad (Koopman, 1993).
- Material examinado: 59 exemplares (43 machos e 16 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 4 exemplares (3 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6872 (26-VIII-94); ALP 6941 (25-X-94); ALP 6970 (20-II-95). Fêmea: ALP 6973 (20-
II-95).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 27. Em relação aos machos, para as quais se realizou análise
estatística descritiva, o maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,93% (Lm) e o
menor, 0,83% (Lz). Incluindo-se as medidas de antebraço obtidas a partir dos espécimes
que foram soltos após a triagem, tem-se as seguintes médias e extremos relativos a este
caracter: machos (N = 26), 61.2 (58.6-63.7); fêmeas (N = 9), 64.59 (62.6-66.35).
Osgood (1912 apud Vieira, 1942) constatou notável diferença de tamanho entre
exemplares procedentes do Paraguai, correspondentes a forma típica e que apresentavam
antebraço variando de 60 a 64mm, e espécimes do México e América Central, onde este
95
mesmo caracter atingia no máximo 55mm. Esta diferença, aliada a outras verificadas na
coloração e no crânio, levou este autor a propor a separação da forma respectiva ao
México e América Central em uma subespécie distinta: D. r. murinus. Jones & Carter
(1976) consideraram provável a ocorrência destas duas subespécies, estabelecendo que a
área de ocorrência da forma típica iria do sul da América do Sul ao norte do Andes até o
Equador, e de D. r. murinus do segmento norte-americano da distribuição da espécie até
a Bacia Amazônica. Barquez (1987), entretanto, questionou a validade desta separação
considerando pouca claras as diferenças entre as duas formas.
Tabela 27: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de machos de Desmodus rotundus e dados correspondentes a uma fêmea da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N = 3) Fêmea
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV (N = 1)
An 62,18 (61,65-63,2) 0,88 1,42 66,35 Ctc 25,42 (25,2-25,8) 0,33 1,31 25,75 Ccb 22,22 (21,95-22,5) 0,28 1,24 22,5 Lz 12,58 (12,5-12,7) 0,10 0,83 12,5 Cpo 5,68 (5,55-5,8) 0,13 2,21 5,65 Lcx 12,43 (12,25-12,7) 0,24 1,90 12,2 Lmt 12,73 (12,6-12,9) 0,15 1,20 12,7 C-M 3,68 (3,5-3,8) 0,16 4,36 3,6 Lm 7,10 (6,75-7,45) 0,35 4,93 6,5 Lc 6,48 (6,45-6,55) 0,06 0,89 6,3
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
À revelia desta discussão sobre o reconhecimento ou não de subespécies, tais
dados sugerem a ocorrência de variação geográfica em D. rotundus, como constatado
por Myers & Wetzel (1983) em material do Paraguai e Bolívia. Alguns fatores,
entretanto, dificultam as análises comparativas visando uma melhor compreensão de tal
aspecto. Em importantes referências abordando a morfometria de populações de áreas
mais ao sul da distribuição da espécie (Myers & Wetzel, 1983; Barquez, 1987;
Anderson, 1997), medidas de machos e fêmeas foram combinadas, o que em face ao
dimorfismo sexual secundário (fêmeas > machos) já relatado por alguns autores
(Husson, 1962; Greenhall et al., 1983; Willig, 1983), limita a utilização desses dados.
96
Em outros trabalhos, também referentes à porção meridional da área de ocorrência de D.
rotundus, e onde machos e fêmeas foram separados, as medidas apresentadas basearam-
se em reduzido número de exemplares (Vieira, 1942; Ruschi, 1951a; Fazzolari-Corrêa,
1995).
Apesar do número amostral utilizado no presente estudo não permitir uma
análise mais acurada, notou-se que as dimensões médias obtidas para os machos são, em
sua maioria, superiores as reportadas por Willig (1983) em relação a exemplares do
mesmo sexo procedentes de áreas de caatinga e cerrado nos Estado de Pernambuco e
Ceará, respectivamente, estando mais próximas às referidas por Fazzolari-Corrêa (1995)
com base em material de São Paulo (tabela 28).
Tabela 28: Médias de medidas selecionadas de espécimes de Desmodus rotundus provenientes da região de Jaíba, MG, associadas às fornecidas por Willig (1983) e Fazzolari-Corrêa (1995) para exemplares, respectivamente, dos Estados do Ceará e Pernambuco, e de São Paulo.
Machos
Caracter CE PE MG SP
An 60,6 60,3 61,21 61,12 Ctc 23,8 23,89 25,42 25,48 Ccb 21,66 21,5 22,22 - Lz 12,62 12,36 12,58 12,22 Cpo 5,34 5,37 5,68 5,74 Lcx 12,6 12,44 12,43 12,46 Lmt 12,76 12,73 12,73 - C-M 3,42 3,42 3,68 3,5 Lm 6,76 6,74 7,10 - Lc 6,22 6,13 6,48 -
Tamanho das amostras: Ceará - 5; Pernambuco - 20; MG - 3 (126); SP - 5.
Contudo, a possível ocorrência de variação microgeográfica em D. rotundus,
como sugerido por Willig (1983), pode constituir mais um fator a dificultar as análises
morfométricas nesta espécie. Considerando-se o tamanho do antebraço para o qual se
obteve dados mais consistentes no presente estudo, é possível constatar que, em média,
as fêmeas procedentes de Jaíba (64,59; N = 9) são maiores que as referidas por Willig
(1983) sobre espécimes de Pernambuco (63,55; N = 20) e menores que as citadas pelo
97
mesmo autor para o Ceará (65,57; N = 7). Os dados obtidos no presente estudo
corroboram a ocorrência de dimorfismo sexual secundário nesta espécie.
- Hábitos gerais: Espécie amostrada exclusivamente no afloramento calcário do Morro
Solto onde constituiu o quiróptero mais freqüentemente capturado. Uma colônia com
cerca de 150 indivíduos foi observada ocupando cavidade (figuras 25 e 26) onde grande
quantidade de fezes, indicando uso prolongado do local, se fazia presente. Logo na
entrada desta mesma cavidade notou-se a presença de P. macrotis. Registrou-se ainda
um exemplar de D. rotundus refugiando-se isolado em uma fenda.
Segundo dados compilados por Nowak (1994), morcegos desta espécie podem
abrigar-se sozinhos, em pequenos grupos, ou em colônias de mais de 2.000 indivíduos,
encontrando-se na maioria dos casos de 20 a 100 morcegos. Nowak (1994) levantou
ainda, que colônias com mais de 50 indivíduos apresentam grupos sociais estáveis,
compostos pelo macho dominante, 8 a 20 fêmeas adultas e suas crias. Em contrapartida
são formadas colônias satélites compostas basicamente por machos solteiros (Lord et
al., 1976). A alta proporção de machos amostrados no presente estudo (ca. 73%) pode
estar relacionada à presença de colônias satélites no sítio de capturas.
Tendo em vista que três das quatro coletas em que esta espécie foi amostrada
estenderam-se apenas até a 3a hora após o pôr do sol, restringiu-se análise da atividade
horária a este período. O resultado obtido, referente aos dados de 24 exemplares,
demonstrou um pico de capturas durante a 2a hora após o pôr do sol (figura 27), tal
como constatado por Marinho-Filho & Sazima (1989) no Estado de São Paulo. A
lunarfobia, amplamente documentada em D. rotundus (cf. Uieda, 1992), foi também
evidenciada no presente estudo. Durante coleta realizada em noite de lua cheia no
afloramento calcário do Morro Solto, não foi capturado nenhum exemplar desta espécie,
freqüente no local em outras ocasiões.
Considerando-se a ocorrência de refúgios diurnos conhecidos nas proximidades
do local onde as redes foram dispostas, é provável que o pico de capturas constatado na
2a hora após o pôr do sol esteja refletindo a saída dos morcegos de seus abrigos. Esta
suposição é corroborada pelas observações de Uieda (1992), que estudando a atividade
alimentar de D. rotundus, verificou que na primeira metade da noite este hematófago foi
mais freqüentemente observado junto às suas presas entre 21:00 e 23:00h.
98
Figura 25: Espécime de Desmodus rotundus abrigado em fenda de cavidade no afloramento calcário do Morro Solto, região de Jaíba, MG. (Foto: A. Pol.)
Figura 26: Colônia de Desmodus rolundus abrigada em cavidade no afloramento calcário do Morro Solto, região de Jaíba, MG. (Foto: A. PoL)
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60
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1:00 2:00 3:00
Horas após o pôr do sol
% de captura
D. rotundus
Figura 27: Horário de atividade de Desmodus rotundus com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.
Dentre as três espécies viventes de morcegos hematófagos, D. rotundus é a mais
comum e amplamente distribuída (Hill & Smith, 1984), sendo também a mais bem
estudada, principalmente devido ao seu papel como transmissora da raiva dos
herbívoros na América Latina (Uieda, 1992). Como constatado por Taddei et al. (1991)
no Estado de São Paulo, a exploração de abrigos diurnos por esta espécie é do tipo
oportunista, tratando-se de morcego com alta versatilidade para ocupação de abrigos
artificiais. Dos 113 refúgios diurnos registrados por estes autores, 75,2% eram
representados por estruturas artificiais (casas abandonadas no campo, pontes, fornos de
carvão, poços abandonados e bueiros sob rodovias), sendo apenas 24,8% naturais. Sob
esta última condição, os abrigos preferencialmente utilizados são as cavernas, e menos
freqüentemente ocos de árvores (Taddei, 1988; Brown, 1994).
A alta versatilidade, apresentada por D. rotundus na exploração de abrigos, pode
ser notada também em relação a utilização de recursos alimentares. Embora a
preferência por determinados itens possa variar de local para local, estudos conduzidos
em diferentes áreas ao longo da distribuição da espécie têm demonstrado que as presas
seletivamente utilizadas, em ordem decrescente de freqüência, são: bovinos e eqüinos,
cabras, porcos, aves domésticas, ovelhas, cachorros e o homem (Goodwin & Greenhall,
1961). A grande maioria das vítimas, entretanto, é representada pelo gado bovino e
100
eqüino (Taddei et al., 1991; Brown, 1994), que após ser introduzido no Novo Mundo,
durante a colonização Européia, passou a constituir abundante alimento para esta
espécie induzindo um drástico crescimento em suas populações (Hill & Smith, 1984).
Em função de sua grande capacidade adaptativa que lhe permitiu explorar
eficientemente os novos recursos oferecidos em decorrência de alterações antrópicas
(Taddei, 1988), D. rotundus tem sido encontrado mais comumente em ambientes
perturbados do que em áreas de mata primária (cf. Brown, 1994). Fenton et al. (1992)
argumentaram, inclusive, a possível utilização desta espécie como indicadora de
disrupção de hábitat. Apesar de mais freqüente em áreas rurais, D. rotundus tem sido
registrada também em ambiente urbano onde exibe diversas mudanças comportamentais
que reiteram sua notável flexibilidade (Uieda, 1995).
Além de condições climáticas não apropriadas, alterações ambientais que
impliquem na redução da disponibilidade de refúgios e alimento, são fatores que podem
ocasionar deslocamentos dos morcegos vampiros e uma concentração de populações em
áreas mais favoráveis (Taddei et al., 1991). Tal concentração, entretanto, pode ter sérias
implicações na epidemiologia da raiva, já que em determinadas áreas um possível
desequilíbrio pode levar não só à competição por abrigos, locais de pouso e alimento,
como à interações agonísticas aumentando assim a probabilidade de contato entre
morcegos sadios e doentes (Taddei et al., 1991).
Com relação a região de Jaíba, a alta freqüência com que D. rotundus foi
amostrado no afloramento calcário do Morro Solto, por certo decorre do fato de que tal
local constitui um sítio de abrigos para esta espécie. Em vista do já exposto sobre as
possíveis conseqüências de uma redução na disponibilidade de abrigos, ressalta-se mais
uma vez a importância da preservação do referido afloramento, bem como de outros
existentes na região e que devem apresentar uma situação similar. O impacto negativo
do desmatamento sobre as populações de mamíferos silvestres de maior porte (presas
potenciais de D. rotundus), e a possível remoção de rebanhos existentes em áreas
periféricas, são outros fatores que devem ser considerados na região em questão.
O conhecimento da localização de abrigos utilizados por colônias estáveis como
a aqui relatada e o monitoramento destas, constituem subsídios valiosos no caso de se
mostrar necessária a adoção de medidas profiláticas que podem incluir até mesmo o
101
controle populacional de D. rotundus. Apesar de no presente estudo ter-se constatado
sua coabitação apenas com P. macrotis, este hematófago é conhecido por partilhar
abrigos com diversas outras espécies de morcegos (Goodwin & Greenhall, 1961;
Trajano, 1985). As associações interespecíficas propiciam condições para a infecção de
morcegos não hematófagos pelo vírus rábico (Taddei et al., 1991), sendo conhecidas
pelo menos 64 espécies, sem incluir os vampiros, que o contraíram (Constantine, 1988).
Mesmo sendo muito rara, a contaminação por morcegos não hematófagos, que pode ser
direta (através de mordida) ou indireta (através de aerosol) (Hill & Smith, 1984), não
pode ser desconsiderada.
Os diversos aspectos envolvendo a presença de D. rotundus nas áreas sob
influência do Projeto de Irrigação do Jaíba são bastante complexos, não sendo possível
aqui trata-los de maneira aprofundada. É oportuno destacar, entretanto, que nos
trabalhos de monitoramento ambiental conduzidos na região, uma especial atenção deve
ser dada a esta espécie em vista de seu importante papel na transmissão do vírus rábico,
não só para mamíferos silvestres e domésticos, como para o próprio homem.
- Reprodução: Dentre o material examinado encontrou-se 2 fêmeas grávidas e 1
lactante em abril, e 1 lactante em fevereiro. Wilson (1979) compilou extensa
bibliografia disponível sobre a reprodução de D. rotundus, concluindo tratar-se de
espécie poliéstrica contínua. Este mesmo padrão foi constatado por Willig (1985) em
áreas de caatinga no nordeste do Brasil, onde fêmeas grávidas, lactantes, e
simultaneamente grávidas e lactantes, ocorreram em todos os meses do ano. O caráter
acíclico e contínuo na reprodução deste hematófago esta associado ao fato de que seu
alimento não apresenta flutuação sazonal (Wilson, 1979; Taddei, 1980; Willig, 1985).
Diphylla ecaudata Spix, 1823
- Localidade tipo: Brasil, Bahia, Rio São Francisco.
- Distribuição: Sul do Texas (EUA) até a Venezuela, Peru, Bolívia e leste do Brasil
(Koopman, 1993).
- Material examinado: 7 exemplares (6 machos e 1 fêmea).
102
- Material incorporado à coleção: 5 exemplares (4 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6867 (16-VI-94); ALP 6977, 6978 (28-II-95); ALP 6992 (01-III-95). Fêmea: ALP 6836
(09-IV-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 29. Em relação aos machos, para as quais se realizou análise
estatística descritiva, o maior coeficiente de variação (CV) foi de 3,66% (C-M) e o
menor, 0,88% (Lc).
Tabela 29: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de 4 machos de Diphylla. ecaudata e dados correspondentes a 1 fêmea da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.
Macho (N = 4) Fêmea
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV (N = 1)
An 53,55 (52,75-54,7) 0,82 1,53 55,6 Ctc 22,75 (22,4-23) 0,26 1,16 23,05 Ccb 19,95 (19,45-20,35) 0,41 2,04 20,25 Lz 12,69 (12,4-12,95) 0,24 1,89 13,15 Cpo 6,64 (6,35-6,9) 0,23 3,45 6,95 Lcx 11,11 (10,85-11,4) 0,24 2,15 11,45 Lmt 11,83 (11,55-12,2) 0,29 2,45 12,2 C-M 3,41 (3,25-3,55) 0,12 3,66 3,65 Lm 6,03 (5,85-6,3) 0,19 3,21 6,2 Lc 5,44 (5,4-5,5) 0,05 0,88 5,5
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
Com base em distinções no tamanho do antebraço e comprimento do crânio,
Ojasti & Linares (1971) reconheceram duas subespécies para D. ecaudata. Este
procedimento foi posteriormente adotado por Jones & Carter (1976) que situaram como
distribuição da forma típica a América do Sul e leste do Panamá, e em relação a D. e.
centralis o oeste do Panamá até o Texas. De acordo com Hall (1981), entretanto, estas
duas formas são indistinguíveis. Uma revisão dos dados morfométricos disponíveis na
literatura foi apresentada por Swanepoel & Genoways (1979), sendo notável o reduzido
número de exemplares em que se baseou a grande maioria dos relatos, quase sempre
referentes a América Central ou ao norte da América do Sul. Willig (1983) forneceu
medidas de 4 exemplares (2 machos e 2 fêmeas) provenientes da caatinga
103
pernambucana e enfatizou que estas eram, em média, menores que as relatadas por
Swanepoel & Genoways (1979) para material das Américas do Norte e Central.
Em relação aos dados aqui apresentados, nota-se que tanto as dimensões médias
obtidas para os machos, quanto as medidas da fêmea, são superiores às mencionadas por
Willig (1983), estando mais próximas das referidas por Swanepoel & Genoways (1979).
Medidas de espécimes procedentes de áreas mais ao sul da distribuição da espécie,
como Espírito Santo (Ruschi, 1951b) e São Paulo (Vieira, 1942), são ainda maiores que
as encontradas nos exemplares do norte de Minas Gerais (tabela 30).
Tabela 30: Dimensões médias de espécimes de Diphylla. ecaudata provenientes das Américas do Norte e Central (AN/AC) (Swanepoel & Genoways, 1979), Pernambuco (PE) (Willig, 1983), e Minas Gerais (MG) (presente estudo), associadas às medidas de exemplares do Espírito Santo (ES) (Ruschi, 1951b) e São Paulo (SP) (Vieira, 1942). Machos Fêmeas
Caracter AN/AC PE MG ES SP AN/AC PE MG
An 55,05 - 53,55 52 49 55,23 - 55,6 Ctc 23,38 21 22,75 24 23 23,50 21,15 23,05 Ccb 20,18 18,45 19,95 - - 20,05 18,85 20,25 Lz 12,90 11,9 12,69 12,5 13 12,88 11,9 13,15 Cpo 7,33 6,5 6,64 7 7,5 7,35 6,5 6,95 Lcx 11,50 - 11,11 - - 11,55 - 11,45 C-M 3,53 2,95 3,41 5 4,5 3,48 2,95 3,65 Lm 5,93 5,05 6,03 - - 6,05 5 6,2 Lc - - 5,44 - 4 - - 5,5
Tamanho das amostras: AN/AC - 4 M e 4 F; PE - 2 M e 2 F; MG - 4 M e 1 F; ES - 1 M; SP - 1 M.
Infelizmente todos os registros levantados na literatura abordando a morfometria
de D. ecaudata, na porção meridional de sua área de ocorrência, baseiam-se em poucos,
senão em apenas um espécime, o que impossibilita uma análise consistente da variação
geográfica nesta espécie, que pode incluir uma tendência clinal com respeito ao leste
brasileiro.
- Hábitos gerais: Dos 6 exemplares de D. ecaudata capturados, 5 foram obtidos no
afloramento calcário do Morro Solto, e 1 em lote agrícola. Este último foi colecionado
em rede disposta junto à árvore utilizada como poleiro por Numida meleagris (galinha
d’angola), local em que se constatou evidências da atividade de hematófagos. Dois
104
exemplares foram capturados na 3a hora após o pôr do sol, 2 na 4a, 1 na 5a e 2 na 6a. De
acordo com Uieda (1992) a atividade alimentar de D. ecaudata ocorre, de modo geral,
no período mais escuro da noite, sendo diretamente influenciada pelo ciclo lunar. Este
autor mencionou que, ocasionalmente, a atividade deste hematófago iniciava-se quando
a lua encontrava-se próxima do horizonte. No presente estudo, tal situação foi observada
em relação ao espécime obtido junto às galinhas d’angola. As redes ao redor da árvore
encontravam-se abertas desde o pôr do sol, e o morcego só foi capturado às 23:55h,
5min. antes da lua crescente começar a desaparecer no horizonte.
Em relação aos hábitos alimentares, D. ecaudata é provavelmente o mais
especializado dos morcegos hematófagos (Greenhall et al., 1984; Uieda, 1994),
explorando basicamente o sangue de aves (cf. Gardner, 1977; Brown, 1994). Segundo
dados compilados por Greenhall et al. (1984), esta espécie é encontrada quase
exclusivamente em cavernas e minas, sendo raramente observada em ocos de árvores.
Sua presença no afloramento calcário do Morro Solto reflete, por certo, a ocorrência de
refúgios nesta localidade, tendo-se obtido alguns espécimes em rede disposta junto a
saída de uma cavidade. Em reunião cujos resultados foram publicados por Aguiar &
Taddei (1995), e onde foi discutida a conservação dos quirópteros brasileiros,
estabeleceu-se que em face às suas baixas densidades e à sua especialização em aves
como recurso alimentar, D. ecaudata não tem papel relevante na transmissão da raiva e,
portanto, não deve ter suas populações controladas.
- Reprodução: A única fêmea obtida, coletada em abril, não apresentou sinais de
atividade reprodutiva. Analisando os escassos dados disponíveis na literatura, Greenhall
et al. (1984) apontaram um padrão poliéstrico assazonal para a espécie em tela.
Família Vespertilionidae Gray, 1821
Subfamília Vespertilioninae Gray, 1821
Myotis nigricans (Schinz, 1821)
- Localidade tipo: Brasil, Espírito Santo, entre os rios Itapemirin e Iconha.
105
- Distribuição: Nayarit e Tamaulipas (México) até o Peru, norte da Argentina e sul do
Brasil; Trinidad e Tobago; Granada (Pequenas Antilhas) (Koopman, 1993).
- Material examinado: 4 exemplares (2 machos e 2 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 2 exemplares (machos). ALP 6901 (13-X-94); ALP
6974 (21-II-95).
- Morfometria e comentários: Apresenta-se a seguir as medidas selecionadas dos
exemplares incorporados à coleção: antebraço, 35.0, 34.1; comprimento total do crânio,
14.15, 14.15; comprimento côndilo-basal, 13.2, 13.2; largura zigomática, 8.5, -;
constrição pós-orbital, 3.4, 3.5; largura da caixa craniana, 6.55, 6.8; largura mastóidea,
7.2, 7.2; comprimento da série de dentes maxilares, 5.3, 5.4; largura externa dos molares
superiores, 5.6, 5.45; largura externa dos caninos superiores, 3.45, 3.4.
M. nigricans é uma espécie altamente variável tanto nos caracteres externos
quanto nos cranianos (LaVal, 1973; Barquez, 1987). Em face a grande variabilidade
constatada em espécimes argentinos, Barquez et al. (1993) mencionaram que esta
espécie poderia ser confundida com várias outras do mesmo gênero, o que foi enfatizado
em relação a M. riparia (= M. riparius, cf. Woodman, 1993). De fato, uma coleção de
Myotis proveniente de áreas de cerrado e caatinga do nordeste do Brasil, inicialmente
referida por Mares et al. (1981) e Willig (1983) como M. nigricans, tratava-se, em
verdade, de M. riparia (Willig & Mares, 1989).
Utilizando a descrição apresentada por LaVal (1973) e os caracteres diagnósticos
propostos por Wilson & LaVal (1974), associou-se o material de Jaíba a M. nigricans,
cabendo, entretanto, algumas ressalvas. Apesar da similaridade em relação ao aspecto
externo, apenas os exemplares dos quais se apresenta as medidas selecionadas tiveram
sua morfologia geral examinada, admitindo-se a possibilidade de outra forma estar
envolvida dentro da presente amostragem. Com relação aos espécimes analisados,
notou-se a presença de uma crista sagital pouco desenvolvida, caracter que mesmo
pouco pronunciado não tem sido referido para esta espécie (Wilson & LaVal, 1974;
Barquez et al., 1993; Fazzolari-Corrêa, 1995). Segundo LaVal (1973), entretanto, uma
crista sagital baixa e estreita pode ocorrer em M. nigricans.
Uma importante característica dentária, inicialmente proposta por LaVal (1973),
e que somada a outros caracteres tem sido utilizada com sucesso por alguns autores na
106
separação de M nigricans eM riparius, diz respeito ao posicionamento do 2Q premolar
superior em relação à série de dentes na qual està inserido. Na primeira espécie, e tal
como foi observado nos dois exemplares aqui estudados, os premolares formam uma
fileira, enquanto na outra, o 2Q premo lar, além de reduzido, està deslocado para o lado
lingual da arcada dentària (Barquez, 1987; Brosset & Charles-Dominique, 1990;
González & Fabián, 1995). Todos os espécimes obtidos na região de Jaíba
apresentavam o pêlo sedoso, característica normalmente encontrada em M nigricans e
que contrasta com o aspecto enovelado, comum em M riparius (LaVai, 1973). Uma
coloração ventral pálida, ocasionada pela porção distai amarelada dos pêlos, foi
observada em todos estes exemplares, tendo sido constatada também nos espécimes de
E. furinalis obtidos na mesma região (figura 28).
Figura 28: Espécimes de Myotis nigricans (direita) e Eptesicus furinalis procedentes da região de Jaíba, MO. Note a coloração ventral pálida ocasionada, em ambas as espécies, pela porção distal amarelada dos pêlos.
107
- Hábitos gerais: Dois exemplares foram obtidos em rede armada sobre bebedouro de
gado na Fazenda Solagro, 1 sobre pequeno lago no Dreno Jaíba, e 1, nesta mesma
localidade, em clareira junto à borda da mata. Dentre os 3 espécimes dos quais se
registrou o horário de captura, 1 foi obtido na 1a hora após o pôr do sol, 1 na 2a, e 1 na
5a hora.
Classificada por Findley (1993) como espécie insetívora aérea de clareiras e
florestas, M. nigricans adapta-se bem às alterações antrópicas sendo freqüentemente
encontrada em hábitats modificados (Wilson, 1971; Myers, 1977; Mok & Lacey, 1980;
Brosset & Charles-Dominique, 1990), inclusive em meio urbano (Mok & Lacey, 1980;
Esberard et al., 1994). Em relação à utilização de abrigos, Barquez et al. (1993)
mencionaram que esta espécie, em geral, apresenta preferência por estruturas
construídas pelo homem, tais como pontes, bueiros, e telhados de residências. Seus
hábitos antropófilos encontram-se amplamente documentados na literatura (Goodwin &
Greenhall, 1961; Peracchi & Albuquerque, 1971; Wilson, 1971; Myers, 1977; Esberard
et al., 1994; Mares et al., 1995). M. nigricans é citado ainda como o mais freqüente
vespertilionídeo encontrado em cavernas brasileiras (Trajano, 1995), podendo abrigar-se
também em ocos de árvores (Goodwin & Greenhall, 1961), sob a casca de árvores
(Barquez et al., 1993), e em folhas secas e pendentes de palmeiras (Reis & Peracchi,
1987).
Por certo a presença deste quiróptero em apenas duas das estações aqui
estudadas não reflete sua real distribuição na área em apreço. Tal fato provavelmente
relaciona-se ao atrativo (coleção d’água) utilizado nestes locais e que não foi explorado
na maioria dos outros pontos amostrados. Sabe-se que M. nigricans pode forragear em
estratos relativamente altos (Bonaccorso, 1979; Marinho-Filho, 1992), o que aliado a
um eficiente sistema de ecolocação, dificulta sua captura em redes (Marinho-Filho,
1992). Os dados sobre horário de atividade aqui fornecidos concordam com os
constantes na literatura. Ruschi (1951c) mencionou hábitos crepusculares e noturnos
para esta espécie, de forma similar ao referido por Sekiama (1996).
- Reprodução: Uma fêmea coletada em janeiro e outra obtida em novembro
encontravam-se aparentemente inativas. Estudos conduzidos tanto no Panamá (Wilson
& Findley, 1970) quanto no Paraguai (Myers, 1977) demonstraram que, em M.
108
nigricans, nascimentos podem ocorrer continuamente durante a maior parte do ano, com
um período de 2 a 3 meses em que a atividade reprodutiva é reduzida ou nula. Em
ambos os trabalhos fêmeas foram registradas parindo cerca de três vezes por ano, e o
curto período de inatividade ou atividade reduzida foi associado à sazonalidade na
disponibilidade do alimento (insetos).
Eptesicus furinalis (d’Orbigny, 1847)
- Localidade tipo: Argentina, Corrientes.
- Distribuição: Norte da Argentina, Brasil, e Guianas até Jalisco e Tamaulipas (México)
(Koopman, 1993).
- Material examinado: 2 exemplares (1 macho e 1 fêmea)
- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (fêmea) e o crânio parcialmente
quebrado de um macho. Fêmea: ALP 6857 (05-V-94). Macho: ALP 6824 (20-X-94).
- Morfometria e comentários: Apresenta-se a seguir as medidas da fêmea incorporada
à coleção: antebraço, 39.0; comprimento total do crânio, 15.9; comprimento côndilo-
basal, 15.2; largura zigomática, 11.1; constrição pós-orbital, 3.85; largura da caixa
craniana, 7.15; largura mastóidea, 8.35; comprimento da série de dentes maxilares, 5.9;
largura externa dos molares superiores, 6.6; largura externa dos caninos superiores,
4.95. Outras importantes medidas, tomadas com base em Williams (1978), dizem
respeito ao comprimento do 3o metacarpo - 36.0; comprimento da mandíbula - 12.3; e
comprimento da série de dentes mandibulares - 6.5.
De acordo com Davis (1966), espécimes de E. furinalis podem ser identificados
através das seguintes característica tomadas em conjunto: comprimento da série de
dentes maxilares normalmente menor que 6.0 (5.4-6.0), 3o metacarpo normalmente em
torno de 36.5 (34.3-39.0), antebraço normalmente em torno de 38.0 (37.0-41.0) e
comprimento do crânio normalmente menor que 16.5 (15.0-17.1). Mies et al. (1996)
mencionaram ainda que formas de E. furinalis provenientes de terras baixas do Brasil,
Paraguai, Bolívia e Argentina, podem facilmente ser separadas de outros Eptesicus pela
combinação do comprimento da mandíbula (10.9-12.4) e comprimento da série de
109
dentes mandibulares (5.5-6.7). Como pode-se notar, todos os valores obtidos para a
fêmea aqui examinada concordam com os citados acima permitindo enquadra-la no
referido táxon.
O segundo espécime obtido é aqui também associado a E. furinalis com base no
tamanho do antebraço (37.2), em duas dimensões ainda mensuráveis do crânio
parcialmente quebrado (constrição pós-orbital, 3.8; largura externa dos caninos
superiores, 4.7), e na similaridade morfológica (coloração da pelagem, forma do crânio
e tamanho dos molares) em relação à fêmea.
Sete subespécies são atualmente reconhecidas para E. furinalis (Mies et al.,
1996). Dentro do proposto por Davis (1966), o material da região de Jaíba poderia ser
associado à forma típica, cuja área de ocorrência abrange o sudeste brasileiro. Esta tem
dimensões levemente menores e coloração mais escura que E. f. chapmani, forma
distribuída nas baixas inclinações dos Andes bolivianos, região Amazônica e Nordeste
do Brasil (Williams, 1978; Mies et al., 1996). Embora só disponha-se das medidas de 1
fêmea, não sendo possível uma análise conclusiva, notou-se que o referido espécime
apresentou algumas dimensões cranianas consideravelmente superiores às médias
fornecidas por Willig (1983) para material do Ceará reconhecido como E. f. chapmani
(tabela 31).
Tabela 31: Médias de medidas selecionadas de fêmeas de Eptesicus furinalis reportadas por Willig (1983) para o Ceará, e dimensões da fêmea referida no presente estudo. Caracter CE1 MG
An 40,13 39 Ctc 14,84 15,9 Ccb 14,39 15,2 Lz 10,56 11,1 Cpo 3,64 3,85 Lcx 7,25 7,15 Lmt 8,35 8,35 C-M 5,65 5,9 Lm 6,51 6,6 Lc 4,8 4,95 1N = 14.
110
Quanto à pelagem, os dois exemplares referidos no presente estudo
apresentavam uma coloração ventral pálida, ocasionada pela porção distal amarelada
(bem clara) dos pêlos (figura 28). Como relatado por Mies et al. (1996), entretanto, este
é um caracter que pode variar tanto entre subespécies quanto sazonalmente, e ainda de
um hábitat para outro.
- Hábitos gerais: Ambos os espécimes de E. furinalis amostrados no presente estudo
foram capturados em redes armadas sobre coleções d’água. Um deles foi obtido em
pequena poça de água acumulada pela chuva, na estrada que cerca a Reserva Biológica
de Jaíba. Na mesma rede foram amostradas ainda outras 4 espécies de hábitos
insetívoros (T. saurophila, M. planirostris, M. ater e M. molossus). O segundo exemplar
foi colecionado em um lago, também com reduzidas dimensões, e situado no Dreno
Jaíba. Com relação ao horário de atividade, as duas capturas foram realizadas na 2a hora
após o pôr do sol.
E. furinalis é uma espécie insetívora aérea (Willig, 1983) e de acordo com dados
compilados por Mies et al. (1996) pode abrigar-se sob a cascas de árvores, em ocos de
troncos ou árvores, cavernas, e diversos locais envolvendo construções humanas, tais
como telhados, sótãos, dentro de paredes ou pavimentos, e atrás de persianas de janelas.
Myers (1977) reportou uma pequena colônia utilizando o espaço entre duas vigas de um
alpendre. Como já citado em relação a M. nigricans, coleções d’água constituem
importante recurso para amostragem de E. furinalis (Mies et al., 1996). Piscinas e
bebedouros artificiais para gado foram citados por Myers (1977) como locais confiáveis
para captura de morcegos desta espécie no Paraguai. Mares et al. (1995) mencionaram
ainda a utilização de canais de irrigação.
Apesar de no presente estudo E. furinalis ter sido assinalada apenas em locais
associados à áreas florestadas, diversos estudos têm evidenciado sua ocorrência em
hábitats modificados (Mies et al., 1996), o que aliado a versatilidade já mencionada em
relação à utilização de abrigos, demonstra certo grau de plasticidade desta espécie frente
às alterações ambientais decorrentes da ação humana. O horário de atividade aqui
registrado acompanha o já verificado em outras localidades indicando forrageios durante
o crepúsculo e início da noite (Mies et al., 1996), o que deve-se, provavelmente, aos
hábitos insetívoros de E. furinalis.
111
- Reprodução: A fêmea coletada em outubro encontrava-se lactante. Mies et al. (1996)
compilaram os dados disponíveis sobre a reprodução de E. furinalis, mas nenhum
registro proveniente do Brasil foi citado. No mais completo estudo reprodutivo sobre
esta espécie, conduzido no Paraguai, Myers (1977) constatou que nascimentos ocorrem
no final de outubro e em novembro, havendo um estro pós-parto e novos nascimentos
em janeiro. A ausência de partos durante o inverno foi relacionada pelo referido autor à
escassez de alimento (insetos) que caracterizaria este período. Os dados de Myers
(1977) claramente sugerem um padrão poliéstrico bimodal sazonal, o mesmo que pode
caracterizar a espécie na região de Jaíba, já que 1 fêmea lactante foi amostrada no início
da estação chuvosa.
Família Molossidae Gervais, 1856
Molossops planirostris (Peters, 1865)
- Localidade tipo: Guiana Francesa, Cayenne.
- Distribuição: Panamá até o Peru, norte da Argentina, Paraguai, Brasil e Suriname
(Koopman, 1993).
- Material examinado: 6 exemplares (4 machos e 2 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 5 exemplares (3 machos e 2 fêmeas). Machos: ALP
6856 (05-V-94); ALP 6948, 6949 (14-XI-94). Fêmea: ALP 6897 (13-X-94); ALP 6947
(14-XI-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 32. Na análise estatística descritiva realizada para os machos
constatou-se um maior coeficiente de variação (CV) em relação à largura mastóidea
(7,18%), com o menor valor associado à largura zigomática (0,65%). À exceção das
médias das medidas obtidas para a constrição pós-orbital e largura externa dos molares
superiores, todas as demais foram maiores nos machos do que nas fêmeas.
De forma geral, as médias das medidas aqui reportadas, tanto para machos
quanto para fêmeas, são consideravelmente superiores às referidas por Vizzoto &
Taddei (1976) para uma coleção do Estado de São Paulo, apresentando uma maior
112
afinidade com as de espécimes obtidos por Willig (1983) nas caatingas de Pernambuco.
Quando o cotejo é feito em relação à material do Paraguai, analisado por Myers &
Wetzel (1983), uma notável diferença pode ser verificada em relação ao comprimento
total do crânio e ao comprimento côndilo-basal, ambos com dimensões médias mais
elevadas nos exemplares de Jaíba. Por outro lado, valores fornecidos por Husson (1962),
Williams & Genoways (1980), Brosset & Charles-Dominique (1990) e Patterson (1992)
para medidas de espécimes de M. planirostris procedentes de áreas mais ao norte da
América do Sul, respectivamente, Guiana, Venezuela/Amazônia brasileira (dados
médios), Guiana Francesa e Estado do Amazonas, tendem a ser superiores aos aqui
obtidos (tabela 33).
Tabela 32: Análise estatística descritiva de medidas selecionadas de 3 machos de Molossops planirostris, e dados correspondentes a 2 fêmeas da mesma espécie, todos provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos (N=3) Fêmeas (N=2)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.)
An 31,93 (29,9-33,1) 1,77 5,53 31,63 (31,45-31,8) Ctc 16,67 (16,45-16,8) 0,19 1,14 15,83 (15,7-15,95) Ccb 15,70 (15,45-16) 0,28 1,77 15,05 (15,05-15,05) Lz 10,95 (10,9-11) 0,07 0,65 10,53 (10,5-10,55) Cpo 4,20 (4,15-4,25) 0,05 1,19 4,43 (4,3-4,55) Lcx 7,92 (7,75-8,2) 0,25 3,12 7,90 (7,8-8) Lmt 10,33 (9,7-11,15) 0,74 7,18 10,08 (9,9-10,25) C-M 6,22 (6,1-6,45) 0,20 3,25 6,05 (5,9-6,2) Lm 7,45 (7,4-7,5) 0,05 0,67 7,45 (7,4-7,5) Lc 4,68 (4,6-4,8) 0,10 2,22 4,33 (4,25-4,4)
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
Com uma notável exceção para o trabalho de Vizzoto & Taddei (1976), todos os
demais estudos mencionados relatando dados morfométricos sobre M. planirostris, aos
quais ainda se juntam os de Barquez (1987) e Anderson (1997), restringiram-se a
poucos indivíduos, o que por certo vem dificultando a análise de um possível padrão de
variação geográfica nesta espécie. Acrescenta-se ainda a necessidade de se amostrar
consistentemente os dois sexos, já que o dimorfismo sexual secundário, também
sugerido pelos dados aqui apresentados, foi estatisticamente constatado por Vizzoto &
113
Taddei (1976), tanto em caracteres externos como em cranianos.
Tabela 33: Médias de medidas selecionadas de Molossops planirostris apresentadas por Willig (1983) para Pernambuco (PE), pelo presente estudo para a região de Jaíba (MG), por Vizzoto e Taddei (1976) para o Estado de são Paulo (SP), e por Myers & Wetzel (1983) para o Paraguai; além de medidas individuais fornecidas por Husson (1962) para espécimes da Guiana. Machos Fêmeas
Caracter Guiana PE MG Parag. SP GB PE MG Parag. SP
An 32,5 - 31,93 31,9 31,6 32 - 31,63 30,8 30,7 Ctc 17,0 16,1 16,67 15,8 15,36 15,6 15,25 15,83 15,0 14,51 Ccb 16,2 15,8 15,70 15,2 14,92 15,3 14,95 15,05 14,6 13,92 Lz 11,6 11,2 10,95 10,5 10,37 10,7 10,9 10,53 10,3 9,95 Cpo 4,3 4,3 4,20 4,2 4,09 4,4 4,15 4,43 4,2 3,97 Lcx 8,7 7,8 7,92 - 7,78 8,3 7,65 7,90 - 7,62 Lmt 11,7 - 10,33 10,3 10,01 10,3 - 10,08 9,9 9,43 C-M 6,6 6,5 6,22 6,2 5,87 6,1 6,15 6,05 5,8 5,47 Lm 7,7 7,7 7,45 7,4 7,07 7,3 7,7 7,45 7,2 6,85 Lc 5,0 - 4,68 4,7 4,54 4,2 - 4,33 4,1 4,15
Tamanho das amostras: GB - 1 M e 1 F; PE - 1 M e 2 F; MG - 3 M e 2 F; Paraguai - 4 M e 5 F; SP - 15 M e 15 F.
A posição sistemática de M. planirostris é alvo de controvérsias, tendo Barquez
(1987) a incluído juntamente com M. paranus e M. abrasus no gênero Cynomops.
Considerando-se as proposições de Koopman (1993), entretanto, a referida espécie é
mantida no gênero Molossops, e M. paranus reconhecida com sua subespécie.
Adotando-se este último arranjo, M. planirostris poderia mais facilmente ser confundida
com M. temminckii, já que além de ocorrerem em simpatria, estas formas apresentam
semelhanças tanto no aspecto geral, como nas dimensões e hábitos (Vizzoto & Taddei,
1976). Características de M. planirostris observadas nos espécimes aqui examinados e
que, de acordo com Vizzoto & Taddei (1976) permitem diferencia-la de M. temminckii
são: região ventral, geralmente, muito clara (figura 29); orelhas mais largas, com as
extremidades mais arredondadas e distância de aproximadamente 2,5mm entre os
pontos de origem da margem interna; asas mais longas e estreitas, com comprimento da
2a falange do 4o dedo de 3,5 a 4,5mm, e comprimento da 2a falange do 5o dedo de 3,0 a
3,5mm; quatro incisivos inferiores. Notou-se, entretanto, que um dos exemplares
apresentava apenas dois incisivos inferiores, fato relatado por Williams & Genoways
(1980) como passível de ocorrência, mesmo que em poucos indivíduos.
114
Figura 29: Espécime de Molossops planirostris procedente da região de Jaíba, MG. Note a coloração ventral bem esbranquiçada que caracteriza a espécie.
- Hábitos gerais: Todos os exemplares desta espécie foram capturados em redes
armadas sobre coleções d'água. Quatro foram obtidos sobre bebedouro de gado na
Fazenda Solagro, um em pequena poça de água acumulada pela chuva na estrada que
margeia a Reserva Biológica de Jaíba, e um junto à área alagada no Dreno Jaíba.
Horário de captura foi assinalado apenas para dois espécimes, tendo um sido obtido na
I ª hora após o pôr do sol e um na 2ª, o que por certo reflete os hábitos insetívoros desta
espécie.
M planirostris é uma espécie insetívora aérea (WiIlig, 1983) que abriga-se em
ocos de árvores, de estacas de cercas e de postes de iluminação (Vizotto & Taddei,
1976). Pode utilizar também forros de residências e prédios, já tendo sido encontrada
em área urbana (Vizotto & Taddei, 1976; Mok & Lacey, 1980). Diferente de outros
molossídeos como M molossus e M ater, mais freqüentemente amostrados neste tipo
de ambiente e onde podem causar sérios percalços ao homem (cf Greenhall, 1982), M
planirostris parece ser naturalmente mais rara. À exceção dos dados fornecidos por
Vizotto & Taddei (1976), muito pouco se conhece sobre sua biologia.
McNab & Morrison (1963) mencionaram um único exemplar encontrado em
residência ao sul de Ilhéus, Estado da Bahia. Nas caatingas de Pernambuco Willig
115
sua amostragem. O mesmo status lhe foi atribuído por Barquez et al. (1993), na
Argentina, onde segundo estes autores, refúgios são desconhecidos. De acordo com
Anderson (1997), nenhum detalhado dado boliviano sobre hábitat, hábitos,
comportamento, alimentação ou reprodução desta espécie encontra-se disponível. O
único exemplar referido para a Guiana Francesa por Brosset & Charles-Dominique
(1990) foi capturado em rede, a 25m de altura, numa clareira em mata primária.
É provável que na área do Projeto Jaíba este quiróptero encontre-se mais bem
distribuído, o que poderá ser verificado aplicando-se um maior esforço de amostragem
sobre coleções d’água que mostraram-se bastante eficientes no presente estudo. A
ocorrência tanto em associação à áreas florestadas quanto a pastagens, confirma a
capacidade, já bem evidenciada por Vizotto & Taddei (1976), deste quiróptero adaptar-
se às alterações antrópicas. A atividade crepuscular aqui mencionada foi constatada
também por Vizotto & Taddei (1976). Segundo estes autores, entretanto, após
retornarem ao abrigo e lá permanecerem por algum tempo, os morcegos se lançavam em
novos vôos para se alimentarem também durante a noite.
- Reprodução: Uma fêmea aparentemente inativa foi capturada em outubro, enquanto
outra obtida em novembro encontrava-se grávida, com embrião medindo 16,55mm de
comprimento. Este registro corrobora as observações de Vizotto & Taddei (1976) que
constataram nascimentos em meados da estação chuvosa no Estado de São Paulo. Os
referidos autores sugeriram um padrão monoéstrico sazonal para M. planirostris.
Molossus ater E. Geoffroy, 1805
- Localidade tipo: Guiana Francesa, Cayenne.
- Distribuição: Tamaulipas e Sinaloa (México) até o Peru, norte da Argentina, Brasil e
Guianas; Trinidad (Koopman, 1993).
- Material examinado: 40 exemplares (18 machos e 22 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 22 exemplares (8 machos e 14 fêmeas). Machos:
ALP 6826 (05-IV-94); ALP 6875 (06-X-94); ALP 6896, 6898 (13-X-94); ALP 6913
(21-X-94); ALP 6942, 6943 (14-XI-94); ALP 6959 (10-I-95). Fêmeas: ALP 6874, 6877,
116
6878 (06-X-94); ALP 6911, 6912, 6914, 6915, 6917 (21-X-94); ALP 6944, 6945, 6946
(14-XI-94); ALP 6963, 6964, 6966 (13-I-95).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para esta espécie
encontram-se na tabela 34. O maior coeficiente de variação (CV) foi de 4,79% (Cpo dos
machos) e o menor, 1,41% (Ccb das fêmeas). Todas as médias das medidas dos machos
foram superiores as das fêmeas, tendo-se verificado níveis significantes de dimorfismo
sexual (P < 0,05) em 9 dos 10 caracteres examinados (An, Ctc, Ccb, Lz, Lcx, Lmt, C-M,
Lm e Lc).
Tabela 34: Análise estatística descritiva e probabilidade de ocorrência de dimorfismo sexual secundário em medidas selecionadas de exemplares de Molossus ater provenientes da região de Jaíba, MG. Machos (N = 5) Fêmeas (N = 12)
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) DP CV Méd. (Mín.-Máx.) DP CV P
An 46,12 (44,9-46,8) 0,76 1,65 44,96 (43,55-47,2) 0,97 2,16 0,0317* Ctc 20,58 (19,85-21,35) 0,54 2,60 19,60 (19,05-20,4) 0,35 1,81 0,0004* Ccb 18,74 (18,1-19,5) 0,51 2,70 17,90 (17,45-18,45) 0,25 1,41 0,0003* Lz 13,25 (12,8-13,5) 0,27 2,07 12,51 (12,2-13,15) 0,27 2,13 0,0001* Cpo 4,3 (4,05-4,55) 0,21 4,79 4,28 (4,1-4,55) 0,14 3,31 0,8490 Lcx 10,33 (10-10,55) 0,23 2,21 10,07 (9,8-10,5) 0,18 1,79 0,0222* Lmt 12,8 (12,05-13,35) 0,52 4,08 12,26 (11,9-13,5) 0,44 3,60 0,0461* C-M3 7,56 (7,3-7,8) 0,19 2,58 7,22 (7-7,5) 0,14 1,97 0,0010* Lm 9,45 (8,9-9,75) 0,32 3,41 9,05 (8,5-9,7) 0,30 3,31 0,0253* Lc 5,59 (5,45-5,8) 0,13 2,32 5,19 (4,95-5,6) 0,17 3,36 0,0004*
N = tamanho da amostra; DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; Valores de P menores que 0,05 (*) indicam existência de dimorfismo sexual estatisticamente significante.
As dimensões médias aqui referidas, tanto para os machos quanto para as
fêmeas, são consideravelmente menores que as relatadas por Husson (1962) para
espécimes do Suriname, e também que as descritas por Myers & Wetzel (1983) a partir
de material procedente do Paraguai (tabela 35). Ao compararem exemplares de M. ater
da Bolívia com espécimes do Paraguai, Myers & Wetzel (1983) verificaram que estes
últimos apresentavam dimensões notavelmente maiores e que concordavam, por outro
lado, com as de espécimes brasileiros coletados ao sudeste de Minas Gerais e em Mato
Grosso. Infelizmente os dados referentes à estas localidades não foram fornecidos pelos
citados autores, o que somado aos poucos registros morfométricos encontrados na
117
literatura, principalmente em relação ao território brasileiro, dificulta a compreensão de
um possível padrão de variação geográfica nesta espécie, até mesmo para o leste do
Brasil. A maioria dos estudos levantados basearam-se em poucos indivíduos (Vieira,
1942; Goodwin & Greenhall, 1961; Husson, 1962; Myers & Wetzel, 1983; Brosset &
Charles-Dominique, 1990; Anderson, 1997, sob o nome M. rufus), ou mesmo em
apenas um (Ruschi, 1951d). Em estudo sobre a sistemática do gênero Molossus, Dolan
(1989) enfatizou a escassez de material representativo da América do Sul, tendo
restringido suas análises a América Central.
Tabela 35: Médias de medidas selecionadas de espécimes de M. ater provenientes do Suriname (Husson, 1962), da região de Jaíba, MG (presente estudo), e do Paraguai (Myers & Wetzel, 1983).
Machos Fêmeas
Caracter Suriname MG Paraguai Suriname MG Paraguai
An 50,7 46,12 49,7 48,6 44,96 47,8 Ctc 22,56 20,58 22,2 20,7 19,6 20,7 Ccb 20,28 18,74 20,1 18,96 17,9 19,0 Lz 13,96 13,25 14,2 12,92 12,51 13,4 Cpo 4,18 4,3 4,4 4,06 4,28 4,3 Lcx 10,82 10,33 - 10,26 10,07 - Lmt 13,76 12,8 13,7 12,44 12,26 12,9 C-M3 8,26 7,56 8,4 7,88 7,22 8,0 Lm 9,88 9,45 9,9 9,52 9,05 9,5 Lc 5,96 5,59 6,2 5,42 5,19 5,6
Tamanho das amostras: Suriname - 5 M e 5 F; MG - 5 M e 12 F; Paraguai - 4 M e 3 F.
O dimorfismo sexual secundário aqui constatado, com machos sendo maiores
que as fêmeas, foi relatado para espécimes do Paraguai por Myers & Wetzel (1983), e
pode ser também evidenciado através das dimensões médias de exemplares do Suriname
referidos por Husson (1962) (Tabela 35). Segundo Freeman (1981), esta é uma
tendência comum em molossídeos, constituindo o tratamento mesclado dos dados
morfométricos, como conduzido por Barquez (1987), outro fator limitante na análise da
variação geográfica desta espécie, haja visto a significante coleção de material argentino
examinado por este autor. Patterson (1992) fez referência à morfometria de considerável
118
número de espécimes de M. ater (sob o nome M. rufus) provenientes da Amazônia
brasileira, mas também combinou os dados de machos e fêmeas.
Miller (1913) mencionou a ocorrência de duas fases de cores em M. ater, uma
enegrecida, aparentemente rara, e outra avermelhada, mais comum. No Suriname,
Husson (1962) constatou situação inversa, fato também observado no presente estudo
onde a grande maioria dos espécimes coletados apresentavam coloração enegrecida. De
acordo com Dolan (1989), entretanto, esta espécie não é verdadeiramente dicromática,
já que há uma distinta progressão do preto para o avermelhado, provavelmente
associada a uma degradação dos pigmentos medulares melanísticos.
- Hábitos gerais: Espécie comum na região tendo sido amostrada sobre bebedouro de
gado na Fazenda Solagro, em pequena poça de água acumulada pela chuva na estrada
que margeia a Reserva Biológica de Jaíba, junto à área alagada no Dreno Jaíba, próximo
à residências na área do CAM, e em forro de residência tanto na área do CAM como em
Mocambinho. Em duas ocasiões obteve-se dados que sugerem a formação de haréns em
M. ater, pelo menos durante o período de reprodução da espécie. Na primeira delas
logrou-se capturar 1 macho com saco glandular bem desenvolvido e 6 fêmeas
sexualmente ativas, logo em que estes saíam do abrigo (forro) para se alimentar. Na
segunda, através de captura manual em forro, amostrou-se 1 macho também com saco
glandular desenvolvido e 4 fêmeas das quais 3 apresentavam sinais de atividade sexual.
Nestes dois forros M. ater coabitava com M. molossus.
A atividade crepuscular de M. ater foi claramente evidenciada em coleta
realizada junto à saída de um abrigo em forro de residência. O pôr do sol foi registrado
às 17:55h, tendo-se capturado o primeiro espécime às 17:58h e os 6 demais à intervalos
regulares entre 18:00 e 18:15h. Nos 15min seguintes nenhum outro morcego saiu do
abrigo pelo acesso observado e a rede foi fechada. Registros de horário de captura
referentes às 3 primeiras horas de coleta em locais próximos a residências e sobre
coleções d’água, sugerem um decréscimo na atividade da espécie à partir de uma maior
concentração na 1a hora após o pôr do sol (Figura 30). Estes dados parecem concordar
com os obtidos por Marques (1986), que estudando M. ater na cidade de Manaus
constatou a ocorrência de dois picos de atividade: um principal restrito às primeiras
horas após o crepúsculo, seguido por um período de pouca ou nenhuma atividade fora
119
do abrigo, e outro durante a alvorada. Resultado similar foi obtido também por Brown
(1968) na Costa Rica.
0
10
20
30
40
50
1:00 2:00 3:00
Horas após o pôr do sol
% de captura
M. ater
Figura 30: Horário de atividade de Molossus ater com base nas capturas em rede efetuadas na região de Jaíba, MG.
M. ater é uma espécie insetívora aérea (Willig, 1983) que pode abrigar-se em
folhas de palmeiras (Goodwin & Greenhall, 1961), frestas e ocos de árvores (Ruschi,
1951d; Goodwin & Greenhall, 1961; Myers & Wetzel, 1983), e principalmente em
forros de residências ou outras construções humanas como encontra-se amplamente
documentado (Ruschi, 1951d; Goodwin & Greenhall, 1961; Peracchi & Albuquerque,
1971; Myers & Wetzel, 1983; Peracchi et al., 1984; Reis & Peracchi, 1987). Nesta
última circunstância tem sido relatada como freqüente sua coabitação com M. molossus
(Goodwin & Greenhall, 1961; Reis & Peracchi, 1987), fato também observado no
presente estudo. Segundo Nowak (1994), morcegos do gênero Molossus podem
refugiar-se em grupos de até centenas de indivíduos, e machos e fêmeas adultos de M.
ater podem segregar e viver separados mesmo dentro do mesmo refúgio. Registros na
literatura sobre a possível formação de haréns nesta espécie não foram encontrados.
Não obstante a freqüente presença em construções humanas de algumas espécies
das famílias Noctilionidae, Phyllostomidae e Vespertilionidae, são os representantes de
Molossidae que mais comumente exploram estes locais como abrigo (Taddei, 1988).
Registros em diferentes localidades apontam os morcegos do gênero Molossus (M. ater
120
e/ou M. molossus) como os principais ocupantes de forros em áreas urbanizadas
(Goodwin & Greenhall, 1961; Mok & Lacey, 1980; Reis, 1981; Brosset et al., 1996;
Silva et al., 1996). Considerando-se que esta vizinhança entre homens e morcegos pode
acarretar certos problemas, envolvendo inclusive questões de saúde pública, algumas
observações válidas também para os demais insetívoros que se abrigam em residências
se fazem necessárias.
Certos inconvenientes como barulho e acúmulo de fezes e urina provocando
forte odor, podem levar certas pessoas a tentarem “se livrar” dos morcegos e
inadvertidamente ocasionarem problemas para si próprias e para o meio ambiente.
Apesar de incomum, o fungo Histoplasma capsulatum pode ocasionalmente ser
encontrado em fezes de morcegos acumuladas em forros quentes e secos (Tuttle, 1988).
Dependendo da pessoa e da quantidade de esporos inalados a histoplasmose pode ser
fatal (Constantine, 1988), sendo imprescindível a utilização de uma proteção adequada
das vias respiratórias ao se entrar em um forro pouco ventilado e com fezes acumuladas.
A única forma eficiente de se manter os morcegos afastados das residências é vedar-lhes
os possíveis acessos antes da ocupação do local. O manejo de colônias já instaladas
deve ser conduzido por pessoal qualificado, podendo envolver a captura direta dos
espécimes ou a vedação dos acessos em período oportuno para evitar que adultos ou
filhotes sejam isolados no interior da edificação.
O uso de produtos tóxicos para eliminar morcegos de residências não é
recomendado, pois além de ineficaz, pode trazer sérias conseqüências como uma
redução na resistência natural destes mamíferos à infecções virais aumentando a
probabilidade deles contraírem raiva (Tuttle, 1988). Burns & Farinacci (1955 apud
Uieda et al. 1995) relataram um caso de típico de surto de raiva em uma colônia de
Tadarida brasiliensis (Molossidae) e que estava diretamente associado a aplicação
intensiva de DDT. Segundo Uieda et al. (1995), é possível que nesta situação o
inseticida tenha provocado um estresse na colônia e indivíduos que albergavam o vírus
da raiva sem sintomas aparentes passaram a manifestar a doença. De maneira geral,
venenos utilizados junto à colônias de morcegos acabam por aumentar
significantemente o contato destes com o homem e com animais domésticos, já que
espécimes doentes ou moribundos caem no chão e podem ficar ativos por dias (Tuttle,
121
1988). Uma maneira simples de evitar problemas é jamais tocar os morcegos com as
mãos, principalmente se estes estiverem apresentando comportamento atípico como
aparecerem em locais expostos e durante o dia (cf. Uieda et al., 1995).
Morcegos insetívoros como M. ater são de extrema importância para o equilíbrio
ecológico, pois atuam no controle de insetos noturnos (um único morcego pode capturar
até 600 em apenas 1 hora), incluindo alguns considerados pestes para agricultura
(Tuttle, 1988). O desequilíbrio que resultaria de um declínio nas populações destes
morcegos certamente traria conseqüências desastrosas para o meio ambiente como uma
possível superabundância de insetos (Goodwin & Greenhall, 1961). Tendo em vista tais
considerações, recomenda-se à equipe responsável pelas questões faunísticas ligadas ao
Projeto Jaíba, que esclareça as comunidades locais sobre como proceder frente a
presença dos morcegos, enfatizando ainda a importância de sua preservação. Os
pequenos núcleos habitacionais existentes ao longo da área do projeto, e dentre os quais
se destaca Mocambinho, devem abrigar numerosas colônias de M. ater e de outros
molossídeos, devendo constituir o alvo desta campanha.
A presença desta espécie em associação à diversos tipos de hábitats, como
constatado na região em apreço, demonstra sua grande flexibilidade ecológica. Tanto em
relação às coletas realizadas em forros e proximidades de residências, como nas
conduzidas sobre coleções d’água em áreas de pastagens ou associadas à formações
florestais, foi notável a maior freqüência com que se amostrou M. ater em comparação a
M. molossus. A abundância local destas espécies parece variar regionalmente. Na
Amazônia ambas as têm sido referidas como freqüentes (Mok & Lacey, 1980; Reis,
1981). Já em áreas de cerrado (Ceará) e caatinga (Pernambuco) no Nordeste do Brasil,
enquanto M. ater esteve aparentemente ausente da primeira mostrando-se rara na
segunda, M. molossus foi espécie comum nos dois ambientes (Willig, 1983).
- Reprodução: Fêmeas grávidas foram capturadas em outubro (9) e novembro (2), e
lactantes em janeiro (5) e maio (1). Estes dados podem indicar que, na região em apreço,
M. ater apresente um padrão reprodutivo do tipo poliéstrico sazonal, tal como referido
para esta espécie por Marques (1986) na região Amazônica. Contudo, caso se verifique
que estes dados estejam refletindo picos únicos e distintos de gravidez e de lactação,
com ausência de gravidez e lactação simultâneas na metade do pico de gravidez, esta
122
espécie enquadraria-se no padrão monoestro sazonal caracterizado por Willig (1985).
Embriões de 5 fêmeas coletadas no mesmo abrigo ao final de outubro mediam (em
mm), respectivamente, 17.0, 18.85, 20.1, 20.6 e 20.8, indicando uma certa sincronização
de gravidez também observada por Marques (1986).
Molossus molossus (Pallas, 1766)
- Localidade tipo: França, Martinica (Pequenas Antilhas).
- Distribuição: Sinaloa e Coahuila (México) até o Peru, norte da Argentina, Uruguai,
Brasil e Guianas; Pequenas e Grandes Antilhas, Ilha de Margarita (Venezuela); Curaçao
e Bonaire (Antilhas Holandesas); Trinidad e Tobago (Koopman, 1993).
- Material examinado: 11 exemplares (7 machos e 4 fêmeas).
- Material incorporado à coleção: 3 exemplares (2 machos e 1 fêmea). Machos: ALP
6876 (06-X-94); ALP 6916 (21-X-94). Fêmea: ALP 6873 (06-X-94).
- Morfometria e comentários: Dados morfométricos obtidos para M. molossus
encontram-se na tabela 36. As dimensões verificadas nos machos foram
consideravelmente maiores que as referidas para as fêmeas, o que por certo reflete a
ocorrência de dimorfismo sexual secundário já referido para esta espécie por Myers &
Wetzel (1983) e por Willig (1983).
Utilizando análises multivariadas, Dolan (1989) identificou quatro maiores
agrupamentos dentre as populações de M. molossus por ela estudadas: um incluindo os
morcegos extremamente pequenos da Venezuela; outro com espécimes um pouco
maiores das Pequenas Antilhas; outro referente às populações de indivíduos com
tamanho médio, procedentes da América Central; e um último, caracterizado por
morcegos maiores, que foi associado ao continente sul-americano mas apenas com base
em material do Equador e Peru. De acordo com Myers & Wetzel (1983), populações do
Paraguai e Bolívia também apresentam variação geográfica, sendo espécimes deste
último país em média maiores que os do primeiro. M. molossus pode, ainda, estar sujeita
à variação microgeográfica, como estatisticamente verificado por Willig (1983) em
áreas de caatinga e cerrado no Nordeste do Brasil.
123
Tabela 36: Medidas selecionadas de exemplares de Molossus molossus provenientes da região de Jaíba, MG.
Machos(N=2) Fêmea
Caracter Méd. (Mín.-Máx.) (N=1)
An 39,83 (39,15-40,5) 36,9 Ctc 16,90 (16,8-17) 16,1 Ccb 15,78 (15,75-15,8) 14,95 Lz 10,73 (10,65-10,8) 10,65 Cpo 3,80 (3,7-3,9) 3,75 Lcx 9,08 (8,95-9,2) 8,9 Lmt 10,58 (10,3-10,85) 10,15 C-M 6,15 (6,05-6,25) 6,1 Lm 7,65 (7,4-7,9) 7,9 Lc 4,50 (4,45-4,55) 4,1
N = tamanho da amostra.
À exceção dos dados fornecidos por Willig (1983), o conhecimento sobre a
morfometria de M. molossus em território brasileiro restringe-se à escassos relatos
baseados em poucos espécimes obtidos em localidades esparsas (Lima, 1926; Vieira,
1942; Taddei & Reis, 1980; Mares et al., 1989; Patterson, 1992). Uma comparação das
dimensões aqui referidas com as propostas por Willig (1983) não demonstra, em
primeira vista, nenhuma tendência divergente mais clara, devendo-se levar em conta
obviamente, o reduzido material disponível do norte de Minas Gerais e que impede uma
análise mais acurada. Os valores aqui obtidos mostraram-se ainda bem próximos às
médias de medidas reportadas por Myers & Wetzel (1983) para extensa coleção de M.
molossus procedente do Paraguai.
Quanto à pelagem, os exemplares analisados no presente estudo apresentaram
uma coloração distintamente mais clara que a encontrada em espécimes, por exemplo,
do Estado do Rio de Janeiro (figura 31). Esta variação cromática pode estar relacionada
ao clima semi-árido que caracteriza a região de Jaíba. Myers & Wetzel (1983)
constataram que diversas espécies do Chaco paraguaio, incluindo M. molossus,
apresentavam uma cor mais clara que a observada em populações co-específicas
contíguas de áreas adjacentes mais mésicas. De acordo com estes autores tal variação já
era esperada em se tratando de ambientes áridos.
124
Figura 31: Espécimes de Molossus molossus procedentes da região de Jaíba, MG (esquerda) e do Estado do Rio de Janeiro. Note a variação na cor da pelagem.
- Hábitos gerais: Dos 1i exemplares amostrados, três foram obtidos sobre pequena
poça de água acumulada pela chuva na estrada que margeia a Reserva Biológica de
Jaíba, três nas proximidades de residências na área do CAM, um em forro de residência
também nesta estação, e três em forro de residência na localidade de Mocambinho
(captura manual). Um último espécime foi capturado manualmente em local incomum:
encontrava-se abrigado em um pequeno barco metálico já a bastante tempo sem uso e
que permanecia guardado em cômodo pouco movimentado da sede do CAM. Neste
local não havia laje e o acesso externo ao cômodo era direto. Aparentemente tratava-se
de indivíduo sadio, e após ter sido triado e marcado com pequenos furos na asa
(procedimento excepcional) foi solto, sendo recapturado em rede oito dias depois nas
imediaçôes do mesmo local. Em dois forros estudados M molossus coabitava com M
ater, fato relatado como freqüente na literatura (Goodwin & Greenhall, 1961; Reis &
Peracchi, 1987).
Quanto ao horário de captura, um espécime foi coletado ao sair do refúgio
15min após o pôr do sol, indicando atividade crepuscular. Outros indivíduos, obtidos
sobre coleção d'água ou nas proximidades de residências, foram capturados na Iª (1), 2'
(I), 3ª (I) e 5ª hora após o pôr do sol (2), sugerindo também atividade noturna. De
125
com Marques (1986), o ciclo de atividade de M. molossus é similar ao de M. ater, com
ocorrência de dois picos de atividade: um principal restrito às primeiras horas após o
crepúsculo, seguido por um período de pouca ou nenhuma atividade fora do abrigo, e
outro durante a alvorada. Provavelmente o mesmo padrão deve caracterizar este
molossídeo na área aqui estudada, mas a amostragem foi muito pequena para evidenciar
picos de atividade.
M. molossus é espécie insetívora aérea (Willig, 1983) e tem sido registrada
abrigando-se em ocos de árvores, frestas em rochas, cavernas, túneis, bueiros, pontes, e
residências (Barquez et al., 1993). Os diferentes tipos de hábitats em que foi amostrada
na região de Jaíba, incluindo tanto áreas preservadas (RBJ) quanto ambientes antrópicos
(CAM e Mocambinho), demonstra a grande flexibilidade ecológica que a caracteriza.
Nos comentários apresentados anteriormente sobre os hábitos gerais de M. ater são
feitas algumas considerações sobre a elevada abundância com que esta e M. molossus
podem ser encontradas em meio urbano e os problemas decorrentes da utilização de
forros de residências como abrigo.
- Reprodução: Uma fêmea grávida, com embrião medindo 16,8mm, foi registrada em
outubro. Resultados obtidos por Fabián & Marques (1989) no Ceará, sugerem a
ocorrência de um padrão reprodutivo poliéstrico sazonal em M. molossus, com períodos
de nascimento coincidindo com a época das chuvas. O único dado reprodutivo obtido no
presente estudo também apontou nascimento no período chuvoso.
Nyctinomops laticaudatus (E. Geoffroy, 1805)
- Localidade tipo: Paraguai, Assunção.
- Distribuição: Tamaulipas e Jalisco (México) até o noroeste do Peru, norte da
Argentina, e Brasil; Trinidad; Cuba (Koopman, 1993). Espécie amplamente distribuída
em território brasileiro permanecendo ausente apenas no extremo oeste da região
Amazônica, e na maior parte do Rio Grande do Sul (Silva & Souza, 1980; Koopman,
1982).
- Material examinado: 1 exemplar (macho).
126
- Material incorporado à coleção: 1 exemplar (macho). ALP 6825 (05-IV-94).
- Morfometria e comentários: Medidas selecionadas do único exemplar obtido
encontram-se na tabela 37, onde também relaciona-se as dimensões apresentadas por
Willig (1983) para um indivíduo procedente das caatingas de Pernambuco, e médias de
medidas fornecidas por Zortéa & Taddei (1995), Vaccaro (1990) e Silva & Souza
(1980) para material, respectivamente, do Estado de São Paulo, do extremo sul da
Bolívia, e do Rio Grande do Sul. Como mais claramente evidenciado pelas medidas
ântero-posteriores do crânio (Ctc, Ccb e C-M), o espécime de Jaíba parece incluir-se em
um gradiente de variação morfométrica, apresentando dimensões maiores que as do
espécime procedente do Nordeste e menores que as médias mencionadas para as
coleções de áreas mais ao sul da distribuição da espécie.
Tabela 37: Medidas selecionadas de machos de Nyctinomops laticaudatus fornecidas pelo presente estudo para a região de Jaíba, MG, e por Willig (1983) para Pernambuco (PE), além de dimensões médias referentes à material do Estado de São Paulo (SP) (Zortéa & Taddei (1995), Bolívia (Vaccaro, 1990) e Rio Grande do Sul (RS) (Silva & Souza, 1980).
Caracter PE MG SP Bolívia RS
An - 43,8 44,68 45,89 47,51 Ctc 15,7 17,9 18,32 18,23 19,15 Ccb 14,9 16,1 16,89 17,08 - Lz 9,3 10,65 10,33 10,3 11,05 Cpo 3,3 4,15 3,62 3,74 3,95 Lcx 8,0 8,8 8,78 8,78 - Lmt - 10,2 10,05 10,17 - C-M 6,1 6,45 6,65 6,72 - Lm 6,6 7,4 7,34 7,33 7,9 Lc - 4,05 - 4,1 -
Tamanho das amostras: PE - 1; MG - 1; SP - 4; Bolívia - 14; RS - 2 (1N = 1).
Apesar do reduzido número de exemplares que caracteriza as amostragens
citadas, fator que limita uma análise mais consistente, nota-se que as constatações aqui
levantadas acompanham o padrão de variação geográfica do tipo clinal bipolar, proposto
para N. laticaudatus por Silva-Taboada & Koopman (1964). Segundo estes autores,
espécimes situados nos extremos da área de distribuição da espécie têm maiores
dimensões, havendo um decréscimo em direção a região Amazônica onde ocorreria a
127
menor forma, Tadarida laticaudata europs (= N. l. europs). Como evidenciado por
Zortéa & Taddei (1995), entretanto, medidas apresentadas por Brosset & Charles-
Dominique (1990) para 2 espécimes procedentes da Guiana Francesa são bem similares
as do material do Estado de São Paulo, não se enquadrando na variação clinal referida
anteriormente.
- Hábitos gerais: O único exemplar obtido foi capturado na 1a hora após o pôr do sol,
em rede armada junto a sede do CAM. Em condições naturais, N. laticaudatus tem sido
freqüentemente registrado abrigando-se em frestas entre rochas (Goodwin & Greenhall,
1961; Silva & Souza, 1980; Vaccaro, 1990), mas na falta deste tipo de refúgio pode se
beneficiar de construções humanas (Brosset & Charles-Dominique, 1990; Jones et al.,
1973). Molossídeos, em geral, caçam os insetos de que se alimentam a grandes altitudes,
razão pela qual torna-se difícil amostra-los com o uso de “mist-nets” (Brosset et al.,
1996). O espécime aqui referido provavelmente abrigava-se no forro da sede do CAM,
devendo ter sido capturado ao sair para o forrageio, como também indicado pelo fato de
ter caído na rede pouco depois do pôr do sol.
Como os demais molossídeos mencionados, N. laticaudatus adapta-se bem às
alterações antrópicas, encontrando abrigo e alimento até mesmo em meio urbano (Bredt
& Uieda, 1996).
- Reprodução: Nenhum dado foi obtido no presente estudo e raras são as citações na
literatura. Em Yucatan, México, fêmeas grávidas foram coletadas em abril e maio,
enquanto uma lactante foi encontrada em agosto (Jones et al., 1973). Fêmeas capturada
em julho na fronteira da Bolívia com a Argentina foram reportadas por Vaccaro (1990)
como inativas.
5 - DISCUSSÃO GERAL
5.1 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Face a sua grande vagilidade, morcegos são, em geral, animais com ampla
distribuição geográfica e níveis relativamente baixos de endemismo quando comparados
a outros grupos de mamíferos ou animais terrestres (Marinho-Filho, 1996b). Como era
de se esperar, a maioria das espécies encontradas na região de Jaíba tem ampla área de
ocorrência nos Neotrópicos. Alguns registros, entretanto, são de grande importância
sendo aqui destacados. A mais significativa contribuição do presente estudo refere-se ao
registro para o Sudeste brasileiro de M. sanborni, espécie recentemente descrita e
apenas conhecida de poucas localidades na região Nordeste do Brasil. Considerando-se
os limites propostos Andrade-Lima (1981) para o domínio das caatingas, este
representa, a luz do conhecimento atual, o único quiróptero endêmico ao referido bioma.
De forma similar a M. sanborni, outro importante registro com extensão de
distribuição em cerca de 1000km na direção sul refere-se a T. saurophila, também
assinalada pela primeira vez para o Sudeste brasileiro que passa agora a constituir o
limite meridional das áreas de ocorrência destas espécies. Merecem destaque ainda os
registros de L. mordax e U. magnirostrum, ambas desconhecidas para o Estado de
Minas Gerais e apenas assinaladas para a região Sudeste através de citações isoladas.
A lista de quirópteros aqui apresentada, constando de 26 espécies, adiciona 6
novos morcegos à lista proposta por Willig & Mares (1989) sobre os mamíferos das
caatingas: R. naso, P. kappleri, N. albiventris, M. nigricans e M. planirostris. Não
incluiu-se M. sanborni, T. bidens e T. saurophila porque estas espécies foram revisadas
129
e estabelecidas com base no material reportado pelos referidos autores. Já com relação
aos cerrados, nota-se na abrangente lista proposta por Marinho-Filho (1996) as
ausências de M. sanborni, T. saurophila e L. mordax. Comparando a quiropterofauna de
áreas de cerrado edáfico e caatinga no Nordeste do Brasil, Willig (1983) considerou a
ausência de L. mordax no cerrado, a mais obvia diferença entre os biomas no relativo
aos nectarívoros. É possível que a região de Jaíba represente uma área de borda na
distribuição desta espécie, pelo menos a sudoeste de sua área de ocorrência, já que a
sudeste (Estado do Espírito Santo) ela encontra-se seguramente assinalada em trecho de
Mata Atlântica (Pedro & Passos, 1995). Sobre as duas primeiras cabe ressaltar que por
terem sido apenas recentemente descritas (ou redescritas no caso de T. saurophila), é
possível que espécimes representativos de regiões ainda não incluídas em suas
distribuições permaneçam erroneamente identificados em coleções, ou mesmo que
novos registros como o aqui reportado estejam em vias de publicação.
5.2 - MORFOMETRIA
O conhecimento atual sobre a morfometria dos quirópteros brasileiros é
extremamente restrito, sendo quase todos os registros disponíveis limitados a poucos
exemplares e envolvendo localidades esparsas. Dentre algumas notáveis exceções
destacam-se os trabalhos de Taddei (1975a, 1975b, 1979), sobre os filostomídeos do
Norte-Ocidental de São Paulo, e de Willig (1983) sobre os quirópteros de áreas de
caatinga e cerrado edáfico no Nordeste do Brasil. Dentro do esquema zoogeográfico
proposto por Koopman (1982), ambas as regiões incluem-se na província atlântica, que
abrange a maior parte do leste brasileiro. Sob este enfoque, a região de Jaíba, situada ao
norte de Minas Gerais, representa área de grande importância, já que interpõe-se as duas
anteriormente citadas permitindo uma interpretação mais consistente sobre os padrões
de variação geográfica neste eixo norte-sul.
Infelizmente, a coleção de quirópteros aqui reportada visou inicialmente apenas
a identificação do material obtido, sendo a amostragem disponível da grande maioria
das espécies obviamente insuficiente para uma análise acurada sobre as características
130
morfométricas das populações em questão. Contudo, através de comparações dos dados
aqui obtidos com os disponíveis na literatura foi possível chegar a algumas constatações
que, de fato, podem refletir padrões de variação geográfica. Das 18 espécies que, de
forma preliminar, evidenciaram variação morfométrica em relação a outras regiões, 8
parecem incluir-se em uma variação clinal com respeito ao leste brasileiro, tendo-se
notado que populações mais ao norte apresentaram menores dimensões. Neste contexto
pode-se destacar N. albiventris e A. planirostris, espécies cujas dimensões médias
obtidas permitiram corroborar padrões de variação geográfica já postulados na literatura
(cf. Taddei et al., 1986; Taddei et al., 1990). As demais espécies aparentemente
envolvidas neste mesmo padrão são: G. soricina, P. lineatus, A. lituratus, D. rotundus,
D. ecaudata e N. laticaudatus. Indícios de uma progressão inversa, com espécimes
decrescendo de tamanho em direção sul, foram obtidos para C. perspicillata e M.
planirostris. Em 4 espécies aqui estudadas (L. mordax, G. soricina, P. lineatus e A.
lituratus) a variação morfológica foi mais evidente nas medidas ântero-posteriores do
crânio (Ctc, Ccb e C-M).
Considerando-se a influência que o ambiente pode exercer sobre as
características fenotípicas de uma população (Reig, 1992), a presença de um clima semi-
árido de transição na região de Jaíba, intermediário ao semi-árido propriamente dito que
associa-se a região Nordeste, e ao semi-úmido que caracteriza a maior parte do Sudeste
(Nimer, 1989), pode contribuir para a existência de uma variação clinal. Myers &
Wetzel (1983) constataram que a maioria das espécies de morcegos encontradas na
porção árida do Chaco paraguaio apresentaram dimensões menores que as observadas
nas mesmas espécies em regiões limítrofes de clima mais mésico.
Não obstante à dificuldade de se compreender os padrões de variação geográfica
na morfologia dos quirópteros neotropicais, face à escassez de dados disponíveis para a
maioria das espécies, encontrar a explicação para tais variações também constitui tarefa
bastante complexa. Em trabalho detalhado sobre a morfometria das espécies do gênero
Carollia, McLellan (1984) considerou algumas hipóteses correntes na literatura para
justificar as tendências de variação latitudinal detectadas. Esta autora mencionou, além
131
da regra de Bergman*, que não se adequou ao padrão observado em Carollia, outras
teorias associadas à competição por recursos (áreas com maior diversidade de espécies
favoreceriam formas menores que poderiam ocupar nichos mais especializados) ou à
distribuição das espécies utilizadas como alimento, que em conjunto lhe pareceram mais
prováveis. Tais teorias, entretanto, pressupõem um conhecimento tanto autoecológico
como da estrutura das comunidades de quirópteros, que não encontra-se bem assentado.
Ao conduzirem estudo preliminar sobre a diversidade de mamíferos nas florestas
úmidas neotropicais, Voss & Emmons (1996) enfatizaram a dificuldade de se comparar
confiavelmente distintas regiões, o que foi atribuído, dentre outros aspectos, ao caráter
incompleto e metodologicamente diferenciado dos inventários existentes.
A ocorrência de dimorfismo sexual secundário foi verificada em 6 das 7 espécies
para as quais se realizou o teste comparativo (teste t). Somente A. planirostris não
apresentou diferença significante em nenhum dos caracteres aqui analisados. Em R.
naso G. soricina e C. perspicillata apenas 1 caracter foi significantemente distinto entre
machos e fêmeas, ao passo que em P. macrotis, N. albiventris e M. ater, 5 ou mais
caracteres demonstraram a ocorrência de dimorfismo sexual. Excetuando-se por G.
soricina e A. planirostris os demais resultados obtidos parecem se ajustar às tendências
já relatadas na literatura, algumas delas já bem determinadas com base estatística. No
caso de G. soricina a ocorrência de dimorfismo sexual secundário encontra-se
amplamente documentada (Taddei, 1975b; Willig, 1983; Webster, 1993) e a restrição a
1 caracter, como observado no presente estudo onde a divergência observada pode estar
associada a reduzida amostragem disponível. Já sobre A. planirostris os dados mais
consistentes (Taddei, 1979; Willig, 1983) diferem em relação às características
sexualmente dimórficas (externas ou cranianas), e sem desconsiderar o pequeno número
de exemplares aqui examinados, levanta-se a possibilidade do dimorfismo sexual ser
geograficamente variável nesta espécie, como ocorre em C. perspicillata (Cloutier &
Thomas, 1992).
*Regra segundo a qual espécies de regiões mais frias (mais distantes do equador) tenderiam a apresentar maior tamanho corporal, já que reduzindo a área de superfície relativa do corpo aumentariam a eficiência na retenção de calor.
132
5.3 - HÁBITOS GERAIS
A existência de hábitats adequados, que garantam disponibilidade de abrigos e
áreas de forrageio, é um fator essencial para conservação dos quirópteros, e como
poderia-se esperar de um grupo tão diverso, a destruição de tais hábitats afeta de
maneiras distintas as diferentes espécies (Fenton, 1992). Em “Workshop sobre a
Conservação dos Morcegos Brasileiros” (Aguiar & Taddei, 1995), especialistas de
diversas instituições elaboraram uma lista de espécies ameaçadas. Apesar de terem se
baseado essencialmente nos critérios estipulados pela IUCN (União Internacional para a
Conservação da Natureza), os referidos pesquisadores adotaram um critério específico
de avaliação: “plasticidade ambiental”. Este refere-se à capacidade de uma espécie
adaptar-se às alterações e impactos ambientais advindos da degradação ambiental
(poluição, fragmentação de hábitat, extração de madeiras ou outros recursos) ou da
destruição ambiental (grandes projetos de pecuária, agricultura ou reflorestamentos,
desmatamentos em geral, urbanização). Dada sua grande importância, procurou-se
enfatizar este aspecto no decorrer do presente estudo.
Na tabela 38 apresenta-se a lista de espécies encontradas em cada estação
amostrada. Considerando o esforço amostral diferenciado, estes dados não se prestam a
uma análise comparativa de riqueza de espécies entre as estações, mas parece correto
inferir que um maior número de espécies observado no Morro Solto, esteja de fato
associado a este tipo de hábitat. Willig (1983) atribuiu a riqueza de espécies
relativamente alta encontrada nas caatingas de Pernambuco, em parte à ocorrência de
numerosos “serrotes” que fornecem sítios de abrigos e refúgios mésicos durante os
períodos de seca. Como já mencionado no decorrer do texto, o Morro Solto e
certamente outras elevações presentes na região de Jaíba, apresentam afinidades com
estas pequenas serras mencionadas por Willig (1983). Pode-se destacar a presença da
caatinga arbórea (ou caatinga alta como citado pelo referido autor), que cobre a maior
parte do Morro Solto e seus arredores; e no afloramento calcário, a ocorrência de
numerosas cavidades e fendas, bem como de espécies mésicas como Ficus sp. e
Cecropia sp., cujos frutos certamente constituem importante recurso alimentar para os
frugívoros. Seis espécies foram amostradas exclusivamente no afloramento calcário do
133
Morro Solto, incluindo-se algumas de valor especial para conservação na região como
M. sanborni e U. magnirostrum.
Tabela 38: Distribuição das espécies por estação amostrada na região de Jaíba, MG. Espécies MS DJ FY RBJ RM CAM FS LA
Rhynchonycteris naso X
Peropteryx macrotis X
Peropteryx kappleri X
Noctilio albiventris X X
Noctilio leporinus X X1
Micronycteris sanborni X
Tonatia bidens X
Tonatia saurophila X
Phyllostomus discolor X X
Phyllostomus hastatus X X X
Lonchophylla mordax X X
Glossophaga soricina X X X X X X
Carollia perspicillata X X X X X X
Sturnira lilium X X X
Uroderma magnirostrum X
Platyrrhinus lineatus X X X
Artibeus lituratus X X
Artibeus planirostris X X X X X
Desmodus rotundus X
Diphylla ecaudata X X
Myotis nigricans X X
Eptesicus furinalis X X
Molossops planirostris X X X
Molossus ater X X X X
Molossus molossus X X X
Nyctinomops laticaudatus X
Total de espécies 13 7 4 7 4 9 10 7
MS- Morro Solto; DJ- Dreno Jaíba; FY- Reserva da Fazenda Yamada; RBJ- Reserva Biológica de Jaíba; RM- Riacho Mocambinho; CAM- Campus Avançado de Monitoramento; FS- Fazenda Solagro; LA- Lote agrícola. (1registro visual).
A grande maioria das espécies registradas, entretanto, apresenta em maior ou
menor grau, alguma capacidade de adaptação frente às alterações ambientais que vem já
a décadas sendo implementadas na região de Jaíba. Das 26 espécies amostradas 19
(73%) estiveram presentes em hábitats já alterados pela ação antrópica, que na tabela 38
correspondem às estações Riacho Mocambinho, CAM, Fazenda Solagro e Lote
Agrícola. Dentre aquelas que apresentam ampla versatilidade quanto à acupação de
134
abrigos e/ou utilização de recursos alimentares, G. soricina, C. perspicillata, A.
planirostris e M. ater, destacaram-se pela maior variedade de hábitats em que foram
registradas (50% ou mais das estações). Mesmo algumas que apresentaram distribuição
restrita, como P. macrotis e D. rotundus, exibem considerável capacidade adaptativa,
como já documentado na literatura, principalmente em relação a D. rotundus (Taddei et
al., 1991).
No presente estudo, a utilização de coleções d’água como pontos de amostragem
constituiu artifício essencial para o levantamento das espécies insetívoras aéreas, em
especial das famílias Vespertilionidae e Molossidae. Isto pode ser evidenciado na tabela
38, considerando-se que recursos hídricos estavam presentes nas estações Dreno Jaíba,
Reserva Biológica de Jaíba, Riacho Mocambinho e Fazenda Solagro, justamente aquelas
onde se obteve-se os números mais elevados de espécies insetívoras. Naquelas em que
não se explorou este tipo de atrativo a amostragem foi falseada, com notável exceção
para o CAM, onde a captura em rede dos molossídeos deveu-se à proximidade de
residências utilizadas como abrigo por estes morcegos. Constatou-se ainda uma maior
riqueza de espécies insetívoras aéreas nas locais onde a coleção d’água amostrada
encontrava-se associada a formações florestais (Dreno Jaíba e Reserva Biológica de
Jaíba).
Morcegos insetívoros como M. nigricans e E. furinalis costumam forragear em
clareiras ao nível da copa das árvores (Findley, 1993), e molossídeos ainda acima delas
(Findley, 1993; Brosset et al., 1996), o que torna ineficiente sua amostragem com redes
armadas ao nível do chão. Aproveitar-se do momento em que eles descem para beber
em coleções d’água ou explorar a proximidade de seus abrigos constituem boas
alternativas de captura (Voss & Emmons, 1996), como também evidenciado no presente
estudo. Em trabalho sobre os quirópteros do Chaco Boreal, no Paraguai, Myers &
Wetzel (1983) enfatizaram a alta produtividade obtida em coletas realizadas sobre
bebedouros de gado e em alagados nas beiras de estradas, chegando até a sugerir que
estas coleções d’água, resultantes da ação antrópica, teriam permitido uma recente
invasão de hábitats áridos por algumas espécies de morcegos.
Apesar dos insetívoros R. naso e N. albiventris, e do piscívoro N. leporinus
terem sido capturados exclusivamente no riacho Mocambinho e no bebedouro de gado
135
na Fazenda Solagro (situado próximo ao rio São Francisco) sua distribuição na área
aqui estudada deve estender-se além das proximidades dos cursos d'água naturais. Com
suas atividades de forrageio associadas à tais recursos, e apresentando considerável
plasticidade comportamental, estas espécies estão, aparentemente, sendo beneficiadas
pela introdução dos canais de irrigação (figura 32), que acabam por ampliar a
disponibilidade de cursos d'água perenes presentes na região. Evidências disto foram
obtidas em relação a N. leporinus, observada forrageando sobre um canal em gleba não
amostrada no presente estudo e que situava-se a considerável distância dos recursos
hídricos naturais mais significativos, como o riacho Mocambinho e rio São Francisco
com suas lagoas marginais. A. Pol (com. pess.) obteve informações adicionais sobre
este aspecto, tendo encontrado colônias de R. naso e N. leporinus abrigadas em pontes
de concreto sobre canais de irrigação, destacando-se que o referido embalonurídeo
encontrava-se bem afastada dos cursos d'água naturais.
Figura 32: Canal de irrigação na região de Jaíba, MO. (Foto: A. Pol.)
136
Uma avaliação preliminar do impacto causado pela substituição da cobertura
vegetal natural da região de Jaíba, pelo agrossistema onde o principal produto cultivado
é a banana (Musa spp.), pode ser conduzida considerando-se os dados obtidos na
amostragem do lote agrícola (tabela 38). Neste, à exceção de D. ecaudata, apenas
espécies de hábitos generalistas e de grande plasticidade comportamental foram
amostradas. Tratando-se de morcego exigente em relação ao uso de abrigos, a presença
do referido hematófago esteve associada estritamente à criação de aves domésticas no
local, já que o sangue de aves constitui seu alimento preferencial (Greenhall et al., 1984;
Uieda, 1994). Quanto as demais, o que nota-se até mesmo é o incremento na abundância
relativa de certas espécies. Como exemplo pode-se citar A. lituratus, quiróptero
aparentemente raro na amostragem realizada no Morro Solto (1 indivíduo) e que
constituiu a espécies mais freqüentemente capturada no lote agrícola (10 indivíduos).
Cabe destacar ainda que o esforço amostral dedicado à primeira estação citada foi bem
superior ao da segunda. Os lotes agrícolas onde além do cultivo de banana
freqüentemente encontra-se árvores frutíferas nativas e introduzidas, representa para as
espécies mais adaptadas fonte de abrigo e alimento que permitem a manutenção de suas
populações.
Situação inversa verifica-se em relação aos morcegos da subfamília
Phyllostominae, que excetuando-se pelos generalistas e ecologicamente flexíveis P.
discolor e P. hastatus, apresentam hábitos predominantemente insetívoros ou
carnívoros, apanhando suas presas em meio à folhagem (Ferrarezzi & Gimenez, 1996).
Segundo Fenton et al. (1992), a quase exclusiva restrição dos Phyllostominae à hábitats
não perturbados pode refletir justamente a disponibilidade de alimento. Ainda de acordo
com estes autores, embora a informação disponível em diversas regiões do mundo
apontem considerável flexibilidade de hábitat para muitas espécies, algumas apresentam
uma especificidade, o que pode também ser o caso dos Phyllostominae. Os dados
obtidos no presente estudo reforçam a utilização dos morcegos dessa subfamília como
indicadores de qualidade de hábitat, como proposto por Fenton et al. (1992). M.
sanborni, T. bidens e T. saurophila foram amostradas exclusivamente em associação a
áreas florestadas (Morro Solto e Reserva Biológica de Jaíba), que são vitais para
manutenção de suas populações.
137
Os dados obtidos a partir do horário de captura das espécies corroboraram, em
sua grande maioria, tendências já amplamente documentadas na literatura. Em linhas
gerais, espécies insetívoras foram capturadas predominantemente nas duas primeiras
horas após o pôr do sol. Em relação a R. naso e N. albiventris, sobre as quais se investiu
particular esforço de observação, pode-se constatar um similar padrão bimodal de
atividade, com picos ao final do crepúsculo e antes da alvorada. As demais espécies,
frugívoras, nectarívoras, hematófagas, onívoras e ainda uma piscívora, tiveram suas
capturas mais distribuídas ao longo do período de coleta.
Sobre estes resultados pode-se fazer referência a alguns comentários feitos por
Brown (1968). De acordo com este autor, o pico de atividade no início da noite por parte
dos insetívoros é uma resposta adaptativa a um correspondente pico na disponibilidade
de insetos crepusculares e noturnos do quais eles se alimentam. Já espécies não
insetívoras, têm hábitos noturnos aparentemente mais generalizados, e se apresentam
algum pico de atividade, este estaria relacionada a um aspecto específico da biologia de
cada espécie. Como exemplo pode-se citar as evidências aqui obtidas em relação à
atividade dos hematófagos, consistentemente relacionada à influência lunar. Sob a total
escuridão estes morcegos, que exibiram lunarfobia, podem se aproximar de suas presas
sem serem notados, aumentando suas chances de obter sucesso na tomada do alimento.
Morcegos com hábitos nectarívoros, como P. discolor, podem ter sua atividade
influenciada pela produção e concentração do néctar dos vegetais que estão utilizando
como alimento (Ramirez et al., 1984), fator que poderia, pelo menos em parte, justificar
o pico de capturas observado neste filostomídeo no presente estudo.
Apesar de não ter constituído um dos objetivos deste trabalho, algumas
informações sobre os hábitos alimentares das espécies amostradas foram obtidas. O
néctar das flores de Calliandra sp., arbusto freqüentemente observado em áreas de
vegetação alterada como a que caracteriza os arredores do CAM, provavelmente
constitui importante recurso alimentar para G. soricina e P. discolor. Mais
especificamente esta última, da qual elevado número de fêmeas em reprodução
(grávidas e lactantes) foi capturado junto aos arbustos floridos. Dentre alguns subsídios
obtidos em cativeiro, merece destaque a aceitação por parte de M. sanborni, dos insetos
138
oferecidos (ortópteros e lepidópteros). Dados bionômicos são praticamente
desconhecidos para esta espécie, que apenas recentemente foi descrita (Simmons, 1996).
5.4 - REPRODUÇÃO
O trabalhos conduzidos por Willig (1985) no Estado de Pernambuco, constituem
uma sólida base de informação sobre as estratégias reprodutivas de alguns quirópteros
das caatingas. Este autor constatou que, à semelhança do observado em outras regiões
mais mésicas, o período de reprodução das espécies está diretamente relacionado à
abundância dos recursos alimentares, que por sua vez correlacionam-se com a
precipitação (na maioria dos casos). Os três padrões verificados por Willig (1985) nos
morcegos das caatingas foram: monoestria sazonal (N. leporinus), poliestria bimodal
sazonal (G. soricina, C. perspicillata, P. lineatus, A. jamaicensis*) e poliestria
assincrônica (D. rotundus). Nas mesmas espécies, que foram também amostradas em
área de cerrado edáfico no Ceará, Willig (1985) constatou estratégias reprodutivas
similares, apesar das diferenças na previsibilidade e na quantidade total de chuvas que
caracteriza os dois biomas.
Na tabela 39 apresenta-se o número de fêmeas grávidas e lactantes registradas
em cada espécie ao longo dos meses de estudo, bem como o total de fêmeas capturadas
em cada um deles. Apesar do dados obtidos não permitirem uma análise mais
consistente sobre o padrão reprodutivo das espécies, já que as amostragens
concentraram-se durante o período chuvoso, algumas inferências podem ser feitas
levando-se também em conta informações disponíveis na literatura (Myers, 1977;
Wilson, 1979; Willig, 1985). Das 26 espécies amostradas, 16 (ca. de 61%) tiveram
atividade reprodutiva (gravidez e lactação) evidenciada no presente estudo, todas elas
durante o período chuvoso. Cabe destacar que os registros associados a maio foram
efetuados na primeira semana deste mês, estando portanto relacionados ao término das
chuvas que na média dos últimos dez anos estendeu-se até abril.
*De acordo com Willig & Mares (1989) morcegos referidos por Willig (1983, 1985) como A. jamaicensis representam, de fato, A. planirostris.
139
À exceção de D. rotundus, cuja estratégia reprodutiva é sabidamente acíclica,
todas as demais espécies observadas em atividade devem, de fato, ter sua reprodução
restrita ou parcialmente restrita ao período chuvoso. A presença de fêmeas lactantes de
R. naso, N. albiventris, e C. perspicillata, em outubro e abril (início e final do período
chuvoso, respectivamente), sugere um padrão bimodal sazonal já assinalado para estas
espécies em outras regiões. Quanto a M. ater os dados obtidos abrem precedentes tanto
para a poliestria sazonal, que parece caracterizar as espécies neotropicais deste gênero
(Krutzsch & Crichton, 1985; Marques, 1986; Fabián & Marques, 1989), quanto para a
monoestria sazonal, assumindo-se neste último caso que os dados obtidos (fêmeas
grávidas em out./nov. e lactantes em jan./mai.) estejam refletindo picos únicos e
distintos de gravidez e de lactação.
Tabela 39: Distribuição mensal das fêmeas evidenciadas em atividade reprodutiva (grávidas/lactantes) capturadas na região de Jaíba, MG. Espécies abr mai jun ago out nov jan fev mar
Rhynchonycteris naso -/1 2/5
Noctilio albiventris -/3 -/2
Phyllostomus discolor -/15 1/2
Phyllostomus hastatus -/1
Lonchophylla mordax 1/6
Glossophaga soricina 1/- -/1
Carollia perspicillata -/1 -/1 -/1
Sturnira lilium -/1
Uroderma magnirostrum -/1
Platyrrhinus lineatus -/1
Artibeus planirostris -/1 -/1
Desmodus rotundus 2/1 -/1
Eptesicus furinalis -/1
Molossops planirostris 1/-
Molossus ater -/1 8/- 2/- -/5
Molossus molossus 1/-
Total 4/29 1/3 10/12 3/1 -/5 -/3
Total de fêmeas capturadas 86 8 7 1 38 8 11 4 6
Com relação à maioria das espécies cujos dados de lactação restringiram-se ao
início (ex: S. lilium, A. planirostris e E. furinalis) ou ao final (ex: U. magnirostrum e P.
lineatus) do período chuvoso, pode-se esperar a ocorrência de um padrão poliéstrico
bimodal, já bem documentado em outras regiões. De acordo com Wilson (1979), este
140
padrão no qual se inclui a maior parte dos filostomídeos sobre os quais uma ampla base
de dados acha-se disponível, caracteriza-se por uma extensa estação reprodutiva, onde
ocorrem dois picos de nascimento associados ao período chuvoso, e em seguida uma
fase de inatividade que resulta em nenhum filhote sendo criado durante a estação seca,
quando há redução no alimento disponível.
6 - CONCLUSÕES
• No presente estudo assinala-se para a região de Jaíba a presença de 26
espécies de morcegos dentre as quais incluem-se 2 que ainda não haviam sido
registradas para o Sudeste brasileiro (M. sanborni e T. saurophila) e outras 2 até
então desconhecidas para o Estado de Minas Gerais (L. mordax e U. magnirostrum).
• Comparando-se a lista de espécies aqui fornecida com as já existentes para
os biomas caatinga e cerrado, a mais conspícua diferença parece ser L. mordax,
nectarívoro presente na região de Jaíba e em outras áreas de caatinga e ausente nos
cerrados.
• 18 das 26 espécies amostradas apresentaram evidências de variação
geográfica pelo menos em parte dos caracteres morfológicos analisados.
Considerando-se o leste brasileiro, subsídios sobre a ocorrência de uma tendência
clinal, com espécimes mais ao norte apresentando menores dimensões, foram obtidos
para 8 espécies. Uma variação clinal inversa, com espécimes decrescendo de
tamanho em direção sul, parece caracterizar outras 2 espécies aqui abordadas.
• Dimorfismo sexual secundário em mais de 50% dos caracteres analisados
foi observado em P. macrotis (F > M), N. albiventris e M. ater (M > F). Já em A.
planirostris as médias de machos e fêmeas foram muito próximas entre si,
levantando-se a possibilidade da ocorrência de dimorfismo sexual secundário ser
geograficamente variável nesta espécie.
• A maioria das espécies registradas (73%) demonstrou considerável
capacidade adaptativa sendo encontrada em hábitats já alterados pela ação antrópica.
Em contrapartida, morcegos insetívoros catadores da subfamília Phyllostominae
142
tiveram sua presença restrita às áreas em associação a formações florestadas,
corroborando sua importância como indicadores de qualidade de hábitat.
• Áreas de afloramento calcário, como a estudada no Morro Solto, constituem
hábitats de fundamental importância para a manutenção da quiropterofauna. Diversas
espécies podem ter sua presença na região de Jaíba, em direta dependência da
preservação deste tipo de hábitat que fornece condições específicas de abrigo (fendas
e cavidade naturais) e prováveis fontes de alimento não encontradas nos demais
locais aqui estudados.
• A substituição das áreas florestadas pelo agrossistema que caracteriza o
Projeto de Irrigação do Jaíba, leva a um aumento na abundância das espécies mais
adaptadas e/ou generalistas (ex: A. lituratus), ao que tudo indica, em detrimento da
diversidade local.
• O uso de coleções d’água como pontos de amostragem mostrou-se de
grande eficiência para a coleta de espécies insetívoras aéreas, o que parece ser uma
regra em regiões de clima mais seco. Os canais de irrigação, que ampliam a
disponibilidade de cursos d’água perenes na área aqui estudada, parecem estar
contribuindo para a manutenção e até dispersão das espécies que tem seu forrageio
ligado a coleções d’água, como R. naso, N. albiventris e N. leporinus.
• Quanto ao padrão de atividade, morcegos insetívoros foram
predominantemente capturados nas duas primeiras horas após o pôr do sol, enquanto
os não insetívoros tiveram suas capturas mais distribuídas ao longo das coletas. As
espécies hematófagas exibiram evidências de lunarfobia tendo a atividade
influenciada por este fator. Para R. naso e N. albiventris verificou-se a ocorrência de
um padrão bimodal de atividade com picos após o crepúsculo e antes da alvorada.
• Dados reprodutivos foram obtidos para 61% das espécies amostradas. Estes
sugerem um caráter estacional na reprodução da maioria das espécies, com
nascimentos ocorrendo no início e ao final do período chuvoso.
7 - APÊNDICE
7.1 - CONSERVAÇÃO
Antes de tecer alguns comentários específicos sobre a conservação dos
quirópteros registrados na região de Jaíba, é pertinente abordar a crítica situação em que
se encontra o bioma caatinga, no qual esta área se insere. Em ensaio tratando dos limites
originais da Mata Atlântica no Nordeste do Brasil, Coimbra-Filho & Câmara (1996)
apresentam um resgate histórico das marcantes alterações ambientais pelas quais essa
região vem passando desde o descobrimento do país pelos europeus. Estes autores
defendem, através de argumentos consistentes, que ainda no século XVI o Nordeste
brasileiro era dominado por formações florestais, ocorrendo em sua porção interiorana
um conjunto vasto e contínuo formado pelas matas mesófilas ripárias e orográficas,
além das amplas caatingas arbóreas, que ligavam-se a ecossistemas adjacentes de outras
províncias fitogeográficas. Ainda segundo Coimbra-Filho & Câmara (1996), dessas
formações florestais restam apenas remanescentes secundários muito reduzidos, sendo o
atual esquema fitogeográfico do nordeste fruto sobretudo da ação antrópica exercida
continuamente durante séculos e sempre associada a desmatamentos e queimadas que
ainda hoje se processam. Estes dados corroboram o comentário de Fernandes & Bezerra
(1990) sobre a raridade em que se encontram as caatingas arbóreas atualmente.
Merece destaque também a referência feita por Coimbra-Filho & Câmara (1996)
ao caráter semi-árido de parte do nordeste, não como uma condição natural, mas como
resultado da contínua degradação ambiental já mencionada e que, segundo eles, se não
for revertida tornará realmente árida ou desértica grande parte da região Nordeste, como
já alertava o pioneiro estudo de Vasconcelos-Sobrinho (1982). Constata-se ainda que, à
144
margem da precaríssima situação das matas nordestinas, apenas uma área
correspondente a 0,07% da região encontra-se destinada a proteção legal das matas
remanescentes (Coimbra-Filho & Câmara, 1996).
Estas informações evidenciam a situação de fragmentação em que se encontram
formações como a que se faz presente no norte de Minas Gerais. De acordo com Mori &
Boom (1981) as caatingas arbóreas estão em perigo de total eliminação no Estado da
Bahia, e tratos não perturbados podem ter desaparecido por completo. Não obstante, a
proximidade com o domínio dos cerrados, que acha-se representado na região de Jaíba
por sua formação arbórea, o cerradão, concede à área aqui estudada um caráter de
transição, fato que segundo Vanzolini (1986) já poderia, por si só, lhe atribuir elevado
valor teórico e prático, sendo mais um indicativo para sua conservação.
Segundo Fenton (1992), a crescente destruição dos hábitats naturais irá causar,
em um futuro próximo, a extinção de mais morcegos do que qualquer outro agente
isolado. Atualmente, 9 quirópteros encontram-se incluídos dentre as espécies da fauna
brasileira ameaçada de extinção (IBAMA, portaria 062 de 17/06/97). Esta lista foi
elaborada em recente “Workshop sobre a Conservação dos Quirópteros Brasileiros”
(Aguiar & Taddei, 1995) onde algumas sugestões para proteção das espécies foram
também propostas. Dentre estas, uma relaciona-se diretamente à questão já abordada
aqui, e diz respeito à “priorização da criação e estruturação de unidades de conservação
em regiões cársticas, que são áreas de ocorrência de cavidades naturais em rochas,
especialmente as calcárias”.
Os resultados obtidos no presente estudo não deixam margem a dúvidas sobre a
importância da preservação dos afloramentos calcários na região de Jaíba. Contudo,
nota-se que as áreas de conservação instituídas no local não abarcam estas formações. A
Reserva Biológica de Jaíba e a Reserva Legal, com respectivamente 63580 e 75000Km2,
apesar de apresentarem um tamanho razoável em face à reduzida área que caracteriza
em média os parques brasileiros (316Km2) (Redford & Robinson, 1991), não foram
planejadas levando-se em conta a importância deste tipo de hábitat. O que constata-se,
de fato, é a crescente degradação desses afloramentos através, principalmente, da
extração do calcário utilizado na produção de brita para pavimentação de estradas e
outras finalidades (figura 33). É urgente a regulamentação, por parte das autoridades
145
por parte das autoridades competentes, de uma estratégia para proteção do relevo
cárstico e tratos florestais a ele associados na região de Jaíba.
Figura 33: Vista do afloramento calcário do Morro Solto, região de Jaíba, MG, onde pode ser evidenciada a exploração do calcário.
Apesar da dificuldade de se caracterizar o status das espécies de morcegos, face
a insuficiente informação disponível (Fenton, 1992), recentes abordagens como a já
citada para o território brasileiro têm surgido na literatura. Medellín (1994) assinalou
para o México a ocorrência de 16 espécies "frágeis", nove "ameaçadas", e três "em
perigo". Considerando a quiropterofauna Neotropical, Wilson (1996) reconheceu 60
espécies (25% do total de 266) como "potencialmente vulneráveis", e três como "em
perigo". Na mais recente lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção fornecida
pela ruCN em 1996, 36 quirópteros sul-americanos foram incluídos (cf Aguiar &
Taddei, 1996). Nesta última lista não observa-se a presença de nenhum dos quirópteros
amostrados na região de Jaíba, mas com relação as duas anteriores pode-se destacar R.
146
ambas, Peropteryx spp. e T. bidens, espécies “frágeis” no México, e N. leporinus e L.
mordax, “potencialmente vulneráveis” na região Neotropical.
Como mencionado por Arita et al. (1997), embora espécies não reconheçam
bordas políticas, é também verdade que as decisões concernentes à sua conservação são
tomadas por países ou, da mesma forma, unidades federativas. Sobre este aspecto, o
Estado de Minas Gerais destaca-se no contexto nacional por já apresentar uma lista
própria e oficial da fauna ameaçada de extinção onde estão incluídas 3 espécies de
morcegos (Lins et al., 1997). No mesmo documento é apresentada ainda uma “Lista de
espécies presumivelmente ameaçadas de MG”, na qual mais 6 quirópteros são citados.
Apesar de tanto a nível nacional como em relação a Minas Gerais nenhuma das espécies
amostradas na região de Jaíba ser considerada ameaçada, ou mesmo presumivelmente
ameaçada, o presente estudo traz significante contribuição para uma posterior
reavaliação dessas listas.
Quando foi avaliado o status dos quirópteros brasileiros, M. sanborni ainda não
havia sido descrita, e mesmo considerando a ampliação em sua área de ocorrência
(presente estudo), trata-se de espécie com distribuição restrita, o que aliado a outros
critérios como ocorrência em hábitat que sofre pressão antrópica (bioma caatinga), e
dependência de áreas conservadas, constitui subsídio suficiente para que lhe seja
atribuído valor especial. Com respeito ao Estado de Minas Gerais, não apenas M.
sanborni merece ser destacada no contexto conservacionista. L. mordax e U.
magnirostrum, que até então não haviam sido registradas para o Estado, constituem
formas muito pouco conhecidas e aparentemente sensíveis a alterações ambientais,
devendo ter seu status cuidadosamente avaliado. Outra importante espécie levantada no
presente estudo é T. saurophila. Apesar de sua ampla área de ocorrência, trata-se de
espécie sensível a alterações de hábitat, e que pode ter no norte de Minas Gerais uma
zona de borda em sua distribuição meridional. Como apenas recentemente foi
reconhecida, é possível que mais dados surjam a curto prazo na literatura permitindo
uma avaliação mais acurada de sua situação não só em relação a Minas Gerais como no
Sudeste brasileiro, valendo o mesmo para M. sanborni.
Por fim, enfatiza-se que a despeito da capacidade adaptativa exibida por diversos
quirópteros, fato também evidenciado no presente estudo, é inquestionável o dano
147
causado pelos desmatamentos na estrutura das comunidades desses mamíferos. Dados
analisados por Brosset et al. (1996), respectivos a 15 anos de pesquisas na Guiana
Francesa, retratam bem este aspecto. De acordo com estes autores, 48 das 75 espécies
registradas em matas primárias estiveram ausentes em grandes áreas que haviam sido
desmatadas. Esta redução a cerca de 1/3 na riqueza de espécies foi inversa ao efeito
observado no número de indivíduos, que em áreas perturbadas pode até quadruplicar.
Resultados semelhantes foram obtidos por Vaughan & Hill (1996) em estudo
comparativo da diversidade e abundância de morcegos em plantações de banana e áreas
florestadas.
8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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