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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL ASPECTOS SANITÁRIOS E DO SISTEMA DE FAGÓCITOS DE BOVINOS DA RAÇA CURRALEIRO Autor: Raquel Soares Juliano Orientador: Profa. Dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti GOIÂNIA 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

ASPECTOS SANITÁRIOS E DO SISTEMA DE FAGÓCITOS DE BOVINOS DA RAÇA CURRALEIRO

Autor: Raquel Soares Juliano

Orientador: Profa. Dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti

GOIÂNIA 2006

i

RAQUEL SOARES JULIANO

ASPECTOS SANITÁRIOS E DO SISTEMA DE FAGÓCITOS DE BOVINOS DA RAÇA CURRALEIRO

Tese apresentada para a obtenção do grau de Doutor em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração: Sanidade Animal

Orientador: Profa. Dra. Maria Clorinda S. Fioravanti - UFG

Comitê de Orientação: Prof. Dr. Luiz Antonio Franco da Silva - UFG

Profa. Dra. Valéria de Sá Jayme - UFG

GOIÂNIA 2006

ii

Aos meus pais, pela confiança, amor, estímulo e orientação.

Dedico

Aos meus irmãos, familiares e amigos, que se fazem presentes e são

absolutamente necessários para minha felicidade.

Ofereço

iii

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter dado a oportunidade do livre arbítrio a todo ser humano; prova de

amor e confiança, presente de liberdade.

À Profa. Maria Clorinda Soares Fioravanti, pela amizade, companheirismo e

infindáveis discussões. Pelo exemplo de coragem e dedicação.

À Escola de Veterinária da UFG por me conceder disponibilidade para a

conclusão deste curso.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA) da Escola de

Veterinária da Universidade Federal de Goiás (EV/UFG), especialmente ao Prof.

Luiz Augusto Batista Brito, pela compreensão, paciência e esforço para comigo.

Aos demais professores da Escola de Veterinária da UFG que me ajudaram e me

receberam com carinho.

Aos professores, funcionários e alunos do Laboratório de Leptospirose da

EV/UFG, Laboratório de Parasitologia do IPTSP/UFG, Laboratório de Virologia do

IPTSP/UFG e Laboratório de Patologia Clínica do HV/UFG que não mediram

esforços para que o trabalho fosse realizado e têm meu mais profundo sentimento

de gratidão.

Aos professores e funcionários do Laboratório Multidisciplinar da UNIP/SP,

Laboratório de Imunoparasitologia e Laboratório de Pesquisa da FCAV-

UNESP/Jaboticabal, Laboratório de Imunidade Celular da UnB/DF e Laboratório

de IHQ da FMVZ-UNESP-Botucatu, por contribuir tão generosamente na minha

formação.

Aos graduandos Adriana Reis Bittencourt Silva, Gustavo Lage Costa, Lucas

Jacomini Abud, Mayara Fernanda Maggioli, Saura Nayane de Souza

Aos pós-graduandos Anuzia Cristina Barini, Alinne Cardoso Borges, Christiane

Silva Lima, Bruno Rodrigues Trindade, Ediane Batista da Silva, Liliana Borges de

Menezes, Marlos Castanheira, Paula Rogério Fernandes, Renata Ferreira Pereira,

Vanessa S. F. de Oliveira.

iv

À Associação Brasileira de Criadores de Curraleiro e aos produtores que

concordaram em participar das pesquisas e que ensinaram tanto sobre a cultura,

a história e o bem querer pelo Estado de Goiás.

Ao SEBRAE-GO, Secretaria de Agricultura do Estado de Goiás, AGRODEFESA-

GO pelo apoio logístico nas atividades desenvolvidas.

Aos pesquisadores e funcionários da Embrapa-CENARGEN, Embrapa-CPAP,

Embrapa-CPAMN; Embrapa-CPAC.

Ao CNPq, por fornecer apoio financeiro essencial para que pudesse dedicar-me

integralmente às atividades de pós-graduação.

Ao Ministério da Integração Nacional, especialmente ao Dr. Athos Magno Costa e

Silva, que acreditou e investiu no nosso trabalho, e foi fundamental alcançarmos

nossas expectativas.

“Não sei.se a vida é curta... ou longa demais para nós.

...Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,

se não tocarmos o coração das pessoas... ...E isso não é coisa de outro mundo:

é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela

não seja nem curta, nem longa demais,

mas que seja intensa, verdadeira e pura...

enquanto durar.” Cora Coralina

v

“Eu venho dêrne menino, Dêrne munto pequenino,

Cumprindo o belo destino Que me deu Nosso Senhô.

Eu nasci pra sê vaquêro, Sou o mais feliz brasilêro,

Eu não invejo dinhêro, Nem diproma de dotô.”

Patativa do Assaré

vi

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS.................................................. 1

CAPÍTULO 2 - Soroepidemiologia da babesiose em rebanho da Estação Experimental de Estudos de bovinos Curraleiro..........................................

9

RESUMO.......................................................................................................... 9

ABSTRACT...................................................................................................... 10

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................

13

RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 14

CONCLUSÃO................................................................................................... 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 19

CAPÍTULO 3 - Características hematológicas e da bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro (Bos taurus ibericus) em relação aos níveis de anticorpos anti-Babesia spp e anti-Leptospira spp

25

RESUMO............................................................................................................

25

ABSTRACT........................................................................................................

26

3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................

26

3.2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................

30

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................

33

3.4 CONCLUSÕES............................................................................................

43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................

43

CAPÍTULO 4 - Ocorrência de anticorpos anti-Neospora caninum e anti-Toxoplasma gondii em rebanhos da raça Curraleiro...................................

49

vii

RESUMO............................................................................................................

49

ABSTRACT........................................................................................................

50

4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................

50

4.2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................

53

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................

54

4.4 CONCLUSÕES............................................................................................

59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................

60

CAPÍTULO 5 - Ocorrência de anticorpos anti-Brucella abortus e anti-Leptospira interrogans em rebanhos da raça curraleiro.............................

64

RESUMO............................................................................................................

64

ABSTRACT........................................................................................................

65

5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................

65

5.2 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................

68

5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................

70

5.4 CONCLUSÕES............................................................................................

76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................

77

CAPÍTULO 6 – Hemograma e função fagocitária de leucócitos de vacas de raças naturalizadas ( Bos taurus) e mestiças (Bos taurus X Bos indicus).............................................................................................................

81

viii

RESUMO.............................................................................................................

81

ABSTRACT.........................................................................................................

82

6.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................

83

6.2 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................

85

6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................

90

6.4 CONCLUSÕES.............................................................................................

99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................

100

CAPÍTULO 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................

104

ANEXOS.............................................................................................................

107

ix

RESUMO

Com o objetivo conhecer mais sobre os aspectos sanitários e o sistema de

fagócitos de bovinos da raça Curraleiro, foi avaliada a soroepidemiologia de

algumas doenças parasitárias e bacterianas, de impacto importante na pecuária

bovina. Estudou-se a soroepidemiologia da babesiose bovina no rebanho da

Estação Experimental de Estudos de Bovinos Curraleiros (EEEC), nos anos de

2001 e 2003, utilizando o teste de ELISA-indireto e discutindo os resultados

encontrados com características climáticas e de manejo da população. A

intensidade da produção de anticorpos anti-Babesia bovis, anti-Babesia bigemina

e anti-Leptospira interrogans foi correlacionada com variáveis hematológicas e da

bioquímica sérica a fim de averiguar alterações sugestivas de processos

patológicos associados ao estímulo contínuo e produção de anticorpos. Foram

amostrados seis criatórios, cinco deles no Estado de Goiás (Formoso, Caiçara,

Roselândia, Leopoldo de Bulhões e Pirenópolis) e um no Tocantins (Porto

Nacional). Realizou-se questionário epidemiológico e testes para detecção de

anticorpos anti-Neospora caninum (ELISA), anti-Toxoplasma gondii

(hemaglutinação indireta), anti-Brucella abortus (soroaglutinação com antígeno

acidificado tamponado) e anti-Leptospira interrogans (soroaglutinação

microscópica). A hematologia e função fagocitária de vacas de raças

naturalizadas e mestiças ¾ Nelore X Simental foram avaliadas, por meio de uma

microtécnica padronizada para seres humanos. De acordo com os resultados

encontrados pode-se concluir que houve uma diminuição significativa na

freqüência de soropositivos para B. bigemina, entre os anos de 2001 e 2003,

porém o rebanho apresentou situação de estabilidade enzoótica sem que

houvesse interferência do controle químico realizado, sobre esta condição. Com o

avançar da idade, ocorreu uma queda na positividade para Babesia spp, com

significância estatística somente para B. bigemina. A interação de fatores

climáticos e ambientais, associados à interferência fisiológica da imunidade do

hospedeiro vertebrado, podem ter sido determinantes dessa situação na

população. Não houve alteração nos valores médios hematológicos e da

bioquímica sérica que indicasse presença de lesões provocadas pela B. bovis, B.

bigemina ou L. interrogans. Não houve nenhuma correlação entre títulos de

anticorpos anti-Leptospiras spp, com a idade ou com as variáveis laboratoriais

x

avaliadas. O nível de ELISA (NE) de anticorpos para Babesia spp não apresentou

correlação com a idade dos animais e apresentou correlação positiva com

quantidade de hemácias, hemoglobina, leucócitos totais e linfócitos. Houve

correlação positiva entre NE-B. bovis , AST e BD. Houve correlação positiva entre

NE-B. bigemina, ALP, AST, colesterol e creatinina. Os resultados encontrados

estão relacionados principalmente ao estímulo do sistema imunológico pelo

parasito e não houve manifestações patológicas decorrentes de maiores títulos de

anticorpos. A ocorrência de soropositivos para N. caninum foi diretamente

proporcional à idade. A exposição ao parasito se dá por via horizontal ou vertical e

há possibilidade de interferência de um ciclo silvestre na epidemiologia dessa

enfermidade. A ocorrência de anticorpos anti-T. gondii é baixa nos rebanhos

estudados mas uma investigação mais detalhada deve ser realizada. A

positividade para brucelose apresentou-se dentro da expectativa para os Estados

de Goiás e Tocantins, sendo que a ocorrência de rebanhos sem animais positivos

sugere que a aplicação de estratégias de controle pode garantir a existência de

criatórios livres da doença. A freqüência e título de anticorpos anti-Leptospira spp,

embora crescente com o avanço da idade, foi menor do que encontradas em

outros estudos realizados nos Estados de Goiás e Tocantins. Os fatores

edafoclimáticos e o manejo utilizado nas propriedades podem ter interferido em tal

situação. Os sorovares mais prevalentes foram hardjo e wolffi e a ocorrência de

positividade para outros sorovares como hebdomadis e grippotyphosa sugere a

participação de espécies silvestres na transmissão da leptospirose bovina. As

vacas mestiças apresentaram número de eosinófilos e bastonetes aumentados e

valores de hemácia, hemoglobina, volume globular e monócitos maiores que

vacas de raças naturalizadas. A ativação da fagocitose de leveduras

sensibilizadas mostrou-se semelhante entre os grupos e a ativação, via

receptores de lectinas foi melhor nos animais de raças naturalizadas. As vacas de

raças naturalizadas apresentaram maior homogeneidade na fagocitose. O

metabolismo oxidativo dos fagócitos foi semelhante entre os grupos avaliados e a

redução de NBT foi maior quando não estimulada por leveduras sensibilizadas.

Palavras-chave: Enfermidades infecciosas, fagocitose, Pé-duro, raças

naturalizadas, sanidade animal

CAPÍTULO 1

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS A história atribui a Tomé de Souza, o primeiro Governador Geral do

Brasil, a introdução do gado bovino no Brasil, trazido do Arquipélago de Cabo

Verde diretamente para as capitanias onde atualmente estão os Estados de

Pernambuco, Bahia e São Paulo. Dona Ana Pimentel, mulher de Martim Afonso

de Souza, ordenou que trouxessem de Portugal, por volta de 1530, inúmeras

reses, para serem criadas na Fazenda “Madre de Deus”, em Inguaguassú, na

Capitania de São Vicente (VELLOSO, 1996). O gado de São Vicente espalhou-se

pelo rio das Velhas, chegando até o rio São Francisco (MG) e por volta de 1759,

nas margens dos rios das Almas e Canabrava, região dos Sertões de Amaro

Leite, atualmente Mara Rosa-GO, dois padres Jesuítas possuíam um criatório

com mais de três mil cabeças desse gado (PRIMO, 1992).

Para CARVALHO & GIRÃO (1999), o gado conhecido em alguns

Estados como Pé-duro (Piauí e Maranhão) ou Curraleiro (Goiás e Tocantins), é

descendente dos bovinos trazidos pelos colonizadores. Esses animais seriam

descendentes da raça Mirandesa, mais particularmente da variedade Beiroa,

presente em Portugal e na província espanhola de Leon. Porém, é provável que

tenham vindo de diferentes grupos genéticos, que na época ainda não eram

estabelecidos como raça. Esses bovinos adequaram-se gradativamente a

pastagens de baixa qualidade, à condições de baixa umidade, ao calor e outros

fatores adversos. O resultado dessa seleção natural foi à sobrevivência de

animais muito resistentes e adaptados a condições desfavoráveis dos trópicos.

Entre as principais características de porte e conformação do gado

Curraleiro, salientam-se: peso aproximado de 380 kg para os touros e 300 kg

para as fêmeas adultas e altura mínima de 1,38m e 1,24m, respectivamente. As

pelagens mais comuns são a vermelha clara e a baia, com extremidades,

vassoura e focinhos e espelho nasal pretos. Algumas reses também apresentam

tonalidades escuras no chanfro e em torno dos olhos (Figura 1). As orelhas são

pequenas, a barbela e o umbigo são reduzidos, os chifres geralmente são curtos

2

em forma de coroa ou longos em meia lira, os membros são delgados e bem

proporcionados (BRITTO, 1998).

FIGURA 1 - Rebanho da raça Curraleiro, Município de Cavalcante-GO

De acordo com CARVALHO & AMORIM (1989), essa raça formou-se

em regime de criação superextensivo, com um mínimo de cuidados sanitários e

de alimentação, resultando em animais extremamente rústicos, que constituem

um recurso genético para a pecuária brasileira. Os dados disponíveis

demonstram extraordinária habilidade combinatória entre as raças naturalizadas e

raças destinadas à exploração comercial, tornando necessária a avaliação de seu

potencial e de seu uso racional nos países da América Latina (CAMARGO, 1984).

Essa realidade pode ser observada nos criatórios amostrados no

presente estudo; os animais são criados em condições de baixa densidade

populacional, em pastagens nativas, matas e campos sujos. Recebem cuidados

mínimos, mineralização irregular, controle de endo e ectoparasitas efetuados sem

critério técnico e vacinação somente contra enfermidades de controle obrigatório.

A atividade econômica das propriedades é variada e os Curraleiros, na maioria

das vezes o rebanho Curraleiro é destinado ao fornecimento de alimento para os

moradores do próprio criatório, como forma de subsintência. O contato com

3

outros rebanhos é esporádico e dá-se principalmente devido a dificuldade em

conter alguns animais, principalmente os touros. Apesar de não haver manejo

sanitário adequado ou qualquer controle de índices produtivos e reprodutivos, a

maioria dos proprietários informa que os animais não adoecem com facilidade, a

mortalidade de bezerros é baixa e a ocorrência de abortos é rara.

Na América Latina, o gado naturalizado foi a base da pecuária durante

quase cinco séculos e hoje ele encontra-se a ponto de ser quase totalmente

absorvido por outras raças. Na expectativa de que as raças introduzidas resolvam

problemas de produção que estão associados a outros entraves como sanidade e

nutrição, algumas populações vêm sendo cruzadas com linhagens exóticas,

todavia, sem nenhum plano sistemático de melhoramento,

A resistência a doenças é um atributo particularmente importante nos

sistemas de produção pecuária e a sanidade pode ser um fator limitante na

sustentabilidade desses sistemas. A possibilidade de aumentar a resistência

genética a doenças, em um rebanho, é bastante viável aplicando-se técnicas

simples, como a inclusão de raças nativas ou naturalizadas nos programas de

melhoramento genético ou ainda, utilizando os marcadores moleculares na

seleção de reprodutores (GIBSON, 2002; GIBSON & BISHOP, 2005)

A extinção das raças naturalizadas brasileiras representaria uma perda

irreparável para a ciência, pois com eles desapareceriam também inúmeras

informações contidas na sua estrutura genética, desenvolvidas ao longo de

séculos de seleção natural (MARIANTE & CAVALCANTE, 2000).

Por essa razão, grupos de pesquisadores têm se empenhado em

estabelecer programas de conservação destinados à proteção desse patrimônio

genético seja na forma de núcleos de criação (in situ) ou por meio da

armazenagem de material genético em laboratório (ex situ). Além do aspecto

conservacionista, é fundamental avaliar a utilização do recurso genético de raças

bovinas naturalizadas sob o prisma da viabilidade econômica e sustentabilidade,

apoiado em sistemas de produção “ecologicamente corretos” capazes de cumprir

as exigências do mercado no que se refere à qualidade do produto, segurança

alimentar e responsabilidade social.

O crescimento das exportações de carne bovina para a União

Européia detonou uma série de campanhas difamatórias sobre os sistemas de

4

produção brasileiros, associando o produto a impactos ambientais negativos,

como o desmatamento e a desertificação. Num mercado mundial liberalizado, o

meio ambiente e o bem-estar animal, entre outros temas, são as barreiras

comerciais do futuro. Os países que negligenciam o desenvolvimento sustentável

e as boas práticas agrícolas podem sofres sérios boicotes comerciais (TIMOSSI,

2006).

Os animais criados em sistemas considerados “ecologicamente

corretos” obedecem a uma série de exigências sanitárias e nutricionais, além do

processo de rastreabilidade e do selo da certificadora obrigatórios. Isso pode

determinar aumento de preços de pelo menos 30% para exportação,

principalmente pelo fato de que alguns mercados consumidores já admitem como

verdadeiro que os alimentos orgânicos são menos prejudiciais à saúde que

carnes ou vegetais produzidos pelos métodos tradicionais (MASON, 2001;

AMORIM, 2002).

Como o gado Curraleiro trata de animais destinados prioritariamente a

produção de alimento para consumo humano, deve-se estar atento para as

exigências sanitárias para a comercialização desses produtos. A adoção de

medidas de proteção para a segurança sanitária dos alimentos deverá ser a

maior barreira comercial a ser enfrentada pelos países interessados em ampliar

sua participação no comércio mundial (SILVA & AMARAL, 2004).

Os estudos prospectivos da pecuária bovina de corte apontam como

diretrises para os próximos dez anos: a introdução de material genético que

proporcione fêmeas com alta eficiência reprodutiva, com menor tamanho e

resistência natural a carrapatos. Sistemas de produção adequados, programas de

certificações e marketing devem agregar valores ao produto e coloca-lo melhor

no mercado consumidor (NEHMI FILHO, 2003; NOGUEIRA, 2003; MITIDIERI,

2003).

Os programas de conservação in situ de populações animais,

domésticas ou silvestres, implicam inicialmente em aumentar o número de

indivíduos, garantindo a variabilidade genética da espécie envolvida. Para tanto,

são utilizadas técnicas de manejo destinadas a maior circulação dos animais

entre os criatórios, estimula-se a abertura de novos núcleos de criação e são

aplicadas biotecnologias destinadas a maximizar a eficiência reprodutiva da

5

população. Tais procedimentos, contudo, podem aumentar as chances de

disseminação de doenças e assim, o conhecimento da situação sanitária de um

rebanho é imprescindível para criação de estratégias para prevenção e controle

de enfermidades dentro e dentre os núcleos de criação envolvidos no programa

de conservação.

As doenças infecciosas interferem na ecologia e geografia de muitas

espécies, incluindo animais silvestres, animais de produção e o próprio ser

humano. A compreensão de como as enfermidades influenciam a dinâmica

populacional, a estrutura comunitária e os padrões biogeográficos, pode contribuir

para a preservação das espécies (MAY, 1988).

Antes de iniciar projetos de conservação, são necessários

conhecimentos sobre a espécie animal escolhida, atentando para as condições

fisiológicas desta população, todos os seus aspectos epidemiológicos e

sanitários, para obter subsídios que justifiquem sua introdução em um

ecossistema, sem colocar em risco os demais componentes desta população. Por

isso, houve um grande empenho na criação da Estação Experimental de Estudos

de Bovinos Curraleiros (EEEC); uma propriedade de 30.000 ha localizada na

divisa dos Estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia, em ecótono de Cerrado em

uma área de transição com o semi-árido, que possui um rebanho formado por

animais de diferentes regiões do Brasil. A EEEC é uma reserva particular de

patrimônio natural (RPPN) que destinada a projetos de preservação ambiental e

conservação de diferentes espécies animais silvestres e domésticas, além de

possuir uma área que dedica-se à bovinocultura de corte. Em 2003 iniciou-se

uma nova etapa de trabalho na intenção de registrar a raça junto ao Ministério da

Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e garantir alternativas de

exploração comercial do rebanho. Para tanto, vem sendo realizado, com o apoio

financeiro do Ministério da Integração Nacional, desde 2005, a investigação das

condições sanitárias e caracterização dos criatórios de bovinos Curraleiros.

Até o presente momento foram avaliadas cinco propriedades no

Estado de Goiás e uma em Tocantins (Anexo 1), cujos resultados estão

contemplados nesta tese. Finalizando essa etapa em dezembro de 2006, terão

sido avaliados os aspectos sanitários de dez criatórios no Estado de Goiás e

outros dez no Estado de Tocantins, além das informações obtidas por meio de

6

questionários epidemiológicos (anexo 2) em pelo menos 30 criatórios distribuídos

nos Estados de Goiás, Tocantins e Piauí.

Sendo assim, esse trabalho teve por objetivos caracterizar as taxas de

ocorrência da babesiose bovina, neosporose, toxoplasmose, brucelose,

leptospirose e a fagocitose de bovinos da raça Curraleiro, com a finalidade de

obter informações que possam auxiliar o programa de expansão da raça e a

formação de novos núcleos de criação, cumprindo as exigências do MAPA para o

registro da raça, garantindo o desenvolvimento de ações capazes de promover a

viabilidade econômica dessa atividade pecuária e conseqüentemente concretizar

a conservação e aplicabilidade desse importante recurso genético.

REFERÊNCIAS 1- AMORIM, L. Boi verde e boi orgânico: diferenças na qualidade e no valor

agregado. 2002. Disponível em: http://www.lamorim.com.br/boletins/boi-verde-

boi-organico.htm. Acesso em: 26 nov. 2002.

3- CAMARGO, A. H. A. A necessidade de preservar e selecionar o gado crioulo.

Dirigente Rural, São Paulo, maio, p.26-31, 1984.

5- CARVALHO J. H.; AMORIM G. C. Preservação e avaliação do gado pé

duro. n. 44, 1989 p.1-5, Embrapa. Teresina (Comunicado técnico).

6- CARVALHO J.H.; GIRÃO R. N. Conservação de recursos genéticos animais: a

situação do bovino Pé-duro ou Curraleiro. In: Simpósio de recursos genéticos

para a América latina e caribe. SIRGEAL, 2., BRASILIA. Anais... Brasília:

EMBRAPA Recursos Genéticos e biotecnologia, 1999. CD-Rom

7- GIBSON, J. P. Role of genetically determined resistance of liestock to disease

in the developing world: Potential impacts and researchable issues. In: PERRY, B.

D.; RANDOLPH, T. F.; McDERMOTT, K.R.; SONES, K. R.; THORNTON, P. K.

7

Investing in animal health research to alleviate poverty. International

Liverstock Research Institute, Nairobi, 2002, cap 13, p.1-14.

8- GIBSON, J. P.; BISHOP, S. C. Use of molecular markers to enhance

resistence of livestock to disease: a global approach. Revue Scientifique et

Technique OIE, Paris, v.24, n.1, p.343-353, 2005

9- MARIANTE, A. S.; CAVALCANTE, N. Animais do descobrimento: Raças

domésticas da história do Brasil. Brasília, Embrapa Sede, 2000, 227p.

10- MASON, J. Orgânicos têm apoio científico na Europa. Financial Times –

Jornal Valor, p.B-10, 07 ago. 2001.

11- MAY, R. M., Conservation and disease. Conservation Biology, Boston, v.2,

n.1, p.28-30, 1988.

12- MITIDIERI, F. J. Mais do que nunca, o “boi de capim” agrega valor in:

ANUALPEC 2003: Anuário da Pecuária Brasileira. 9. ed., 2003, São Paulo: FNP

Consultoria & Comércio, p.51-52.

13- NEHMI FILHO, V. A. Uma visão do futuro: a pecuária brasileira daqui a dez

anos in: ANUALPEC 2003: Anuário da Pecuária Brasileira. 9ºed., 2003, São

Paulo: FNP Consultoria & Comércio, p.14-30.

14- NOGUEIRA, K. L. Certificação e qualidade de carnes in: ANUALPEC 2003:

Anuário da Pecuária Brasileira. 9. ed., 2003, São Paulo: FNP Consultoria &

Comércio, p.44-45.

15- PRIMO, A T. El ganado bovino ibérico em las américas 500 anõs despues .

Archivos de Zootecnia, EMBRAPA/CPATB, Pelotas, p.183-199, 1992.

16- SILVA, V.; AMARAL, A. M. P., Segurança alimentar, comércio internacional e

segurança sanitária, Informações Econômicas, São Paulo, v.34, n.6, p.38-45,

2004.

8

17- TIMOSSI, A. Exportações crescem e a imagem negativa da produção

também in: ANUALPEC 2006: Anuário da Pecuária Brasileira, 2006, São Paulo:

FNP Consultoria & Comércio, p.31-34.

18- VELLOSO, L. Evolução e tendências da pecuária bovina de corte no Brasil,

Produção de novilho de corte In: SIMPOSIO SOBRE PECUÁRIA DE CORTE, 4.,

1996, Piracicaba, Anais…, Piracicaba, FEALQ, 1996. p. 1-40.

9

CAPÍTULO 2

SOROEPIDEMIOLOGIA DA BABESIOSE EM REBANHO DA ESTAÇÃO

EXPERIMENTAL DE ESTUDOS DE BOVINOS CURRALEIRO

SEROEPIDEMIOLOGY OF BABESIOSIS IN EXPERIMENTAL STUDY FARM OF

CURRALEIRO CATTLE

Raquel Soares Juliano1, Rosângela Zacarias Machado2, Maria Clorinda Soares Fioravanti3;

Valéria de Sá Jayme3;

RESUMO

A babesiose bovina é uma hemoparasitose causada, no Brasil, pelos protozoários Babesia

bovis e B. bigemina e que apresentam como único vetor biológico o carrapato Boophilus

microplus. Foram avaliadas amostras dos animais da Estação Experimental de Estudos de

Bovinos Curraleiros (EEEC) colhidas nos anos de 2001 (n=117) e 2003 (n=113). A

detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina foi realizado pelo ELISA-indireto.

O objetivo deste trabalho foi estudar a soroepidemiologia da babesiose bovina em rebanho

Curraleiro, obter informações sobre a situação da doença na população e discutir os

resultados obtidos com informações edafoclimáticas e de manejo disponíveis. A taxa de

ocorrência em 2001 foi de 92,31% para B. bovis e 83,73% para B. bigemina enquanto em

2003 foi de 92,92% e 66,37%, respectivamente. No ano de 2003 houve diferença

1 Médica Veterinária, Doutoranda em Sanidade Animal no Curso de Pós-Graduação da EV/UFG. Avenida Frei Nazareno Confalone n,10875, Bloco 3A, apt.202, CEP74663-280, Goiânia-GO. [email protected] 2 Médica Veterinária, Profa. Titular, Departamento de Patologia Animal, UNESP, FCAV. 3 Médica Veterinária, Profa. Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, EV/UFG

10

significativa na freqüência de soropositivos em relação a faixa etária; ocorrendo uma

diminuição com o avançar da idade. Sendo assim foi possível concluir que apesar das

condições edafoclimáticas e do controle químico realizado no combate a ectoparasitas, os

animais foram expostos à Babesia spp e encontravam-se em situação de estabilidade

enzoótica para babesiose.

Palavras-chave: bovino, Babesia bovis, Babesia bigemina, estabilidade enzoótica, Pé-duro

ABSTRACT

Bovine babesiosis is a blood parasitic disease. In Brazil it is caused by B. bovis and B.

bigemina protozoa, both of which reveal the Boophilus microplus tick as the only

biological vector. Animal samples were collected at Experimental Study Farm of

Curraleiro Cattle (ESFC) in 2001 (n=117) and 2003 (n=113). The detection of antibodies

against B. bovis and B. bigemina was carried out by ELISA-indirect method. The aim of

this work was to study seroepidemiological aspects of bovine babesiosis in a Curraleiro

herd, as well as obtain information about babesiosis stability in this population and relate

the results with available climactic and management information. The occurrence rate of

positive animals was 92,31% for B. bovis and 83,73% for B. bigemina in 2001; in 2003 it

was 92,92% and 66,37%, respectively. There was a significant difference between

seropositive frequency and age in 2003; such a frequency decreased with ageing. It was

possible to conclude that despite environmental conditions and chemical controls against

endo and ectoparasites, these animals were exposed to Babesia spp and they found

themselves in a situation of enzootic stability for babesiosis.

Key words: bovine, Babesia bovis, Babesia bigemina, enzootic stability, Pé-duro

11

INTRODUÇÃO

No Brasil, a babesiose bovina é uma hemoparasitose causada pelos

protozoários Babesia bovis e B. bigemina e que apresentam como único vetor biológico o

carrapato Boophilus microplus (GUGLIELMONE, 1995). Sua distribuição geográfica

coincide com a área ocupada pelo vetor, ocorrendo entre os paralelos 32ºN e 32ºS, no

continente americano e a enfermidade apresenta uma importância econômica indiscutível,

considerando o grande número de animais expostos ao risco de infecção nas regiões

tropicais e sub-tropicais e por apresentar elevada morbi-mortalidade em bovinos primo

infectados (SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ-VIVAS, 1997b).

Em áreas enzoóticas os bezerros recém-nascidos recebem anticorpos através

do colostro, que os protegem durante os primeiros meses de vida e a exposição gradativa

desses animais ao agente é responsável pelo desenvolvimento da imunidade ativa, que

resulta em menor ocorrência de casos clínicos de babesiose. Assim, a alta taxa de infecção,

verificada pela soropositividade ≥75,00%, em bezerros com idade de nove meses

caracteriza áreas de estabilidade enzoótica (MAHONEY, 1969; MAHONEY & ROSS,

1972). Ressalta-se que bovinos de raças zebuínas são mais resistentes à infestação pelo

vetor e à infecção por Babesia spp quando comparados aos bovinos de raças européias

(BOCK et al., 1997). A flutuação na população de B. microplus está relacionada às

condições climáticas principalmente na fase de vida livre e condições ambientais

desfavoráveis determinam baixa infestação do hospedeiro vertebrado. Entretanto, em

estudo realizado por Madruga e colaboradores, sobre a epidemiologia da tristeza

parasitária, concluiu-se que no Brazil, uma população reduzida de carrapatos é suficiente

para manter a taxa de inoculação de hemoparasitas e a estabilidade enzoótica (LIMA et al,

2000).

12

Os estudos sorológicos são importantes não só para o monitoramento da

babesiose como para a adoção de estratégias adequadas de controle (SOLORIO-RIVERA

& RODRIGUEZ VIVAS, 1997b; OSAKI et al., 2002; SOUZA et al., 2002). Estudos de

prevalência sorológica realizados em rebanhos da microrregião de Goiânia, Goiás,

estabeleceram a condição de estabilidade enzoótica para B. bovis e B. bigemina

(LINHARES et al., 1992; SANTOS et al., 2001).

O diagnóstico da babesiose bovina pode ser realizado diferentes testes

sorológicos sendo a reação de imunofluorescência indireta (RIFI) e o ELISA, métodos

sensíveis e específicos, utilizados em estudos epidemiológicos. MACHADO et al. (1997)

desenvolveram um ELISA experimental para detecção de anticorpos anti-Babesia bovis,

utilizando antígeno total submetido a digestão alcalina, oriundos de merozoíto de

eritrócitos parasitados, obtendo resultados bastante satisfatórios.

O gado que deu origem ao Curraleiro (Bos taurus ibericus), também conhecido

como Pé-duro, foi trazido da Península Ibérica para o Brasil, pelos portugueses, na época

do descobrimento (MARIANTE & EGITO, 2002), sendo que atualmente está presente no

Maranhão, Piauí, Goiás e Tocantins. Os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de

produção e a baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses animais

(NETESTADO, 1998). Existem poucas informações disponíveis sobre o rebanho nacional

de Curraleiro; em 1992, estimava que fosse formado por menos de 300 animais, e. como

havia risco de extinção, vários animais foram alocados em núcleos de preservação oficiais

e privados (MARIANTE & DE BEM, 1992). A Associação Brasileira de Criadores de

Curraleiro (ABCC) possui um cadastro, atualizado em março de 2005, de 22 criatórios,

com número estimado de 2008 animais (BOAVENTURA et al., 2005). Não há estudos

sobre as condições sanitárias desses rebanhos ou em relação a babesiose e os elementos

envolvidos na sua epidemiologia; somente relatos informais de criadores.

13

O objetivo deste trabalho foi estudar a soroepidemiologia da babesiose bovina no

rebanho Curraleiro da EEEC (Estação Experimental de Estudos de Bovinos Curraleiros),

discutindo os resultados obtidos com informações regionais sobre a temperatura,

pluviosidade, de densidade populacional e de controle químico para ectoparasitas

realizados na propriedade.

MATERIAL E MÉTODOS

A EEEC é uma propriedade de 30.000 ha, onde a maioria da área é

caracterizada como reserva particular do patrimônio natural (RPPN) e aproximadamente

800 ha ocupados pelo rebanho curraleiro, localizada na divisa dos Estados de MG, BA e

GO. A região é caracterizada como bioma de Cerrado, mas seus limites territoriais estão

próximos ao bioma da Caatinga.

Em 2001 foram adquiridos um total de 162 animais, machos e fêmeas, com idade

calculada pela dentição, variando de 12 a ≥ 48 meses, provenientes de criatórios

localizados em Gurupi (TO), São Miguel do Araguaia (GO), Brasília (DF) e Goiânia

(GO), com a finalidade de implanta-lo na EEEC. Foram realizadas duas colheitas de

sangue por venopunção jugular, o sangue foi centrifugado após retração do coágulo e o

soro aliquotado e congelado à –20 oC até o momento da realização do teste sorológico. Em

setembro de 2001, na primeira colheita, foram amostrados 117 animais, e uma segunda

colheita foi feita em dezembro de 2003, quando foram amostrados 113 animais em uma

população de 155 indivíduos.

A sorologia para detecção de anticorpos anti-Babesia bovis e anti-B. bigemina

utilizou a técnica de ELISA-indireto, descrita por MACHADO et al. (1997) e realizada no

Laboratório de Imunoparasitologia da FCAV-Unesp, Jaboticabal-SP. A concentração de

14

antígeno foi de 5µg/ml e as amostras de soro controles negativo, positivo e testes foram

diluídos a 1:400. A absorbância média para o controle positivo (n=20) foi de

1,073±0,0215 e para o controle negativo (n=46) foi de 0,065±0,022. A atividade

imunológica de cada soro foi calculada determinando-se os valores da amostra para o

controle positivo (S/P), utilizando a seguinte equação:

S/P= ______abs.média da amostra teste –abs. média do controle negativo_________

abs. média do controle positivo – abs. média do controle negativo

O antígeno de B. bovis foi obtido de um isolado do Rio Grande do Sul e o de B.

bigemina de um isolado de Jaboticabal-SP, preparados segundo metodologia descrita por

MACHADO et al. (1994).

As médias de temperatura ambiente foram obtidas pelos registros de boletins de

informações climáticas, para a região norte de Goiás, nos anos de 2001 a 2003. A média

pluviométrica ocorrida na EEEC foi obtida pelos registros da estação metereológica da

propriedade, assim como as informações fornecidas pelo técnico responsável pelo

rebanho, sobre controle químico de ectoparasitas e lotação de pastagens.

Foram calculadas a taxa de ocorrência geral e a específica por faixa etária para os

anos de 2001 e 2003, utilizando as fórmulas descritas por THRUSFIELD (1995). Os

resultados foram apresentados de forma descritiva e as freqüências comparadas pelo teste

de qui-quadrado (SAMPAIO, 1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 estão apresentadas as freqüências de soropositivos para B. bovis e

B. bigemina; em 2001, a ocorrência encontrada foi 92,30% e 83,76% respectivamente e

15

em 2003 obteve-se uma freqüência de 92,92% para B. bovis e 66,37% para B. bigemina.

Houve queda significativa (χ2 = 7,70; p<0,01) na freqüência de soropositivos para B.

bigemina entre os anos de 2001 e 2003, porém a redução na freqüência de positivos para

B. bovis não foi significativa (χ2= 0,03; p>0,01) comparando o mesmo período.

O sistema de criação desse rebanho era extensivo, com baixa lotação (± 0,1

UA/ha) em pastagem nativa e campos sujos de Cerrado, que constituem o tipo de

vegetação predominante na região Centro-Oeste, especialmente no Estado de Goiás. Os

solos são ácidos, de baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de umidade e

nutrientes. As médias máximas e mínimas de temperatura e precipitação pluviométrica, na

estação seca (maio a setembro) e chuvosa (outubro a abril), para os anos de 2001 a 2003

estão descritos na Tabela 1. A estação chuvosa de 2002 apresentou altas temperaturas e

baixa precipitação pluviométrica e este período foi seguido por uma estação seca com

temperaturas altas e a menor precipitação de chuvas dos três anos avaliados. Desta forma,

consideramos que as condições ambientais de altas temperaturas, baixa umidade,

cobertura vegetal escassa e baixa densidade populacional de hospedeiros vertebrados,

provavelmente interferiram no grau de infestação dos animais e estão em concordância

com FURLONG et al. (2002), que citaram que o sucesso do parasitismo depende da

temperatura, umidade, radiação solar, evaporação, precipitação pluvial, quantidade e

qualidade da pastagem, da presença e densidade do hospedeiro, comportamento de pastejo

e presença de predadores do vetor.

As taxas de ocorrência verificadas no presente estudo foram inferiores aos

obtidos por SANTOS et al. (2001), no estudo realizado em rebanhos leiteiros da

microrregião de Goiânia-GO, que relataram 98,9% de positividade para B. bovis e 93,3%

para B. bigemina, entretanto as condições ambientais, de lotação de pastagens, de manejo

16

e as características raciais dos rebanhos eram muito diferentes da EEEC, pois eram

rebanhos leiteiros, criados em sistemas semi-intensivos e em pastagens cultivadas.

BARROS et al. (2005), encontraram uma porcentagem menor de positividade que

o presente estudo, em municípios do semi-árido baiano, 63,7% e 53% (Uauá) para e

54,8% e 56,4% (Juazeiro) para B. bovis e B. bigemina, respectivamente. Este fato é

compreensível, pois apesar da semelhança nos registros de temperatura ambiente, os

municípios avaliados apresentaram pluviometria menor e estação chuvosa de apenas três

meses, caracterizando assim baixa umidade mais acentuada do que na EEEC. A

diversidade número de soropositivos para cada região ocorre como conseqüência de

variações climáticas, topográficas e no manejo dos rebanhos (SOLORIO-RIVERA &

RODRIGUEZ VIVAS, 1997b; OSAKI et al., 2002; SOUZA et al., 2002).

Os resultados da ocorrência de soropositivos para B. bovis e B. bigemina para cada

faixa etária, nos anos de 2001 e 2003, estão descritos nas Figura 2 e 3, respectivamente.

Foi possível verificar ocorrência de positividade superior a 75,00% em animais com idade

de 12 a 23 meses em 2001 e em 2003 houve 100% de positividade em animais na faixa

etária de 9 a 11 meses, tanto para B. bovis quanto para B. bigemina, demonstrando que o

rebanho apresentava-se em condição de estabilidade enzoótica, segundo os critérios

estabelecidos por MAHONEY (1969) e MAHONEY & ROSS (1972). Tal característica

significa que houve a inoculação gradativa do parasito resultando em imunidade ativa dos

animais explicando assim a ausência de relatos de casos clínicos de babesiose no rebanho.

O controle de ectoparasitos realizado na EEEC, recomendado pelo médico

veterinário da propriedade, estabelecia o uso alternado de piretróides e organofosforados

nos meses de março e novembro, somente quando havia maior infestação de carrapatos,

apesar de constatar-se que a visualização de carrapatos adultos era incomum. Os bezerros

17

recebiam ivermectina nos primeiros dias de vida para controle de miíase e os animais

adultos nos meses de maio, julho e setembro para controle de endoparasitos. O controle

químico de ectoparasitos e o uso da ivermectina não interferiram na condição de

estabilidade enzoótica da população. VIEIRA et al. (2003) relataram que uso de uma única

aplicação de ivermectina 3,15% no mês de novembro determinou uma baixa infestação de

carrapatos nos meses seguintes de janeiro, maio e setembro e diminuíram a taxa de

infecção de B. bovis e B. bigemina em animais com 12 meses de idade, infestados

naturalmente, provocando condição de instabilidade enzoótica. Por isso, sugere-se que

apesar do uso da ivermectina não ter resultado em instabilidade enzoótica, ele pode ter

contribuído para uma menor taxa de inoculação do parasito no rebanho da EEEC.

Considerando a porcentagem de soropositivos em relação à faixa etária, observou-

se diferença significativa, no ano de 2003, para B. bovis (χ2 = 8,81; p<0,03), entre animais

com 0 a 8 e 9 até 35 meses de idade, e para B. bigemina (χ2 =15,61; p<0,01), a partir dos

36 meses de idade. Houve diminuição do número de animais positivos para ambas as

espécies de Babesia spp com o avançar da idade, possivelmente relacionada à queda dos

títulos de anticorpos, abaixo do ponto de corte utilizado pelo teste de ELISA. GELETA

(2001) considerou a diminuição dos títulos de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina

em animais mais velhos como conseqüência da queda nas taxas de reinfecção dos animais,

devido a flutuações no tamanho da população de carrapatos e menor parasitemia causada

por aumento na resistência do hospedeiro vertebrado. Essa hipótese não pôde ser

verificada no presente estudo, e não há estudos sobre a infestação e o comportamento do

vetor nessa região ou nesta raça.

A diferença entre o número de soropositivos para B. bovis e B. bigemina,

considerando que todos os animais convivem no mesmo ambiente, sugere que houve

18

algum fator relacionado ao hospedeiro vertebrado que interferiu mais intensamente na

capacidade de inoculação de B. bigemina pelo carrapato. Os mecanismos de resistência

dos bovinos ao B. microplus incluem imunidade inata, celular e humoral, reações de

hipersensibilidade imediata e tardia (OBEREM, 1984). A taxa de inoculação pode

diminuir com a utilização de raças bovinas resistentes ao vetor, entretanto isso parece ser

menos definitivo para B. bovis. A resistência pode estar relacionada a um processo de

seleção natural, pela exposição contínua aos vetores e agentes por eles transmitidos,

situação comum em populações de raças nativas (SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ

VIVAS, 1997a). Esta hipótese é possível de ser aplicável à raça Curraleiro, já que esses

animais passaram por um processo de seleção natural de aproximadamente 500 anos. A

investigação da dinâmica sazonal do B. microplus e dos mecanismos de resistência da raça

Curraleiro seriam muito importantes na elucidação das variáveis que interferem na

epidemiologia da babesiose bovina.

A necessidade de maiores estudos sobre a epidemiologia da babesiose bovina em

populações da raça Curraleira fundamenta-se no fato de que relação entre infectividade,

carga de carrapatos e soroprevalência é extremamente complexa e na avaliação do grau de

estabilidade da população, ocorre a interferência de variáveis relacionadas aos animais

(soroconversão) ou características da propriedade (ambiente, manejo e exposição ao

vetor).

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados encontrados pode-se concluir que houve uma

diminuição significativa na freqüência de soropositivos para B. bigemina, entre os anos de

2001 e 2003, porém o rebanho apresentou situação de estabilidade enzoótica sem que

19

houvesse interferência do controle químico realizado, sobre esta condição. Com o avançar

da idade, ocorreu uma queda na positividade para Babesia spp, com significância

estatística somente para B. bigemina. A interação de fatores climáticos e ambientais,

associados à interferência fisiológica da imunidade do hospedeiro vertebrado, podem ter

sido determinantes dessa situação na população.

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23

83,7692,3

66,37

92,92

0

25

50

75

100

2001 2003

% d

e so

ropo

sitiv

osB. bovisB. bigemina

FIGURA 1- Porcentagem de bovinos da raça Curraleiro, positivos no teste de ELISA indireto para detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina, na EEEC, nos anos de 2001 e 2003

TABELA 1 – Temperatura média registrada na região norte de Goiás e precipitação pluviométrica da EEEC, nos anos de 2001 a2003.

Ano *Temperatura (°C)

Médias trimestrais

Precipitação pluviométrica (mm)

Médias mensais

Estação seca Estação chuvosa Estação seca Estação chuvosa

2001 12 a 32 14 a 34 10,00 193,33

2002 10 a 36 12 a 32 23,54 183,33

2003 12 a 36 14 a 34 5,20 192,33

**FFoonnttee:: hhttttpp::////wwwwww..ccpptteecc..iinnppee..bbrr//iinnffoocclliimmaa

100

80,77

100

94,1291,6684,31

73,08

85,18

0

20

40

60

80

100

12 a 23 24 a 35 36 a 47 48 ou >

faixa etária (meses)

% d

e so

ropo

sitiv

os

B. bovisB. bigemina

FIGURA 2- Porcentagem de bovinos da raça Curraleiro, de diferentes idades, positivos no teste de ELISA indireto, para detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina, na EEEC, no ano de 2001

24

72,73

100 100 94,44 92,16100100

81,82

49,0161,11

83,3391,66

0

20

40

60

80

100

0 a 8 9 a 12 12 a 23 24 a 35 36 a 47 48 ou >

faixa etária (meses)

% d

e so

ropo

sitiv

osB. bovisB. bigemina

FIGURA 3- Porcentagem de bovinos da raça Curraleiro, de diferentes idades, positivos no teste

de ELISA indireto, para detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B. bigemina, na EEEC, no ano de 2003

25

CAPÍTULO 3

CARACTERÍSTICAS HEMATOLÓGICAS E DA BIOQUÍMICA SÉRICA EM

BOVINOS DA RAÇA CURRALEIRO (Bos taurus ibericus) NATURALMENTE

INFECTADOS POR Babesia bovis, Babesia bigemina E Leptospira

interrogans

Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Rosângela Zacarias

Machado3, Dirson Vieira2, Anuzia Cristina Barini1, Alinne Cardoso Borges1, Bruno

Rodrigues Trindade, João Batista de Paula Neto1

1- Médico (a) Veterinário (a), Pós Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected], [email protected], [email protected]

2- Médico (a) Veterinário (a), Prof.(a) Dr.(a) da EV/UFG. [email protected], [email protected]

3- Médica Veterinária, Profa. Dra. da FCVA-Unesp, Jaboticabal. [email protected]

RESUMO

Diante da hipótese de que o estímulo crônico de agentes como as babesias ou as

leptospiras pudessem causar alterações laboratoriais em animais clinicamente

inaparentes, e devido a importância dessas enfermidades em países tropicais

como o Brasil, objetivou-se investigar os títulos de anticorpos anti-Babesia bovis,

anti-Babesia bigemina, quantificados em níveis de ELISA (NE), e anti-Leptospira

interrogans, em bovinos da raça Curraleiro e correlacioná-los às características

hematológicas e da bioquímica sérica em animais sadios, submetidos à infecção

natural. Foram amostrados dois rebanhos, localizados no Estado de Goiás e

Tocantins Avaliaram-se 282 amostras para detecção de anticorpos anti-B. bovis e

B. bigemina pelo ELISA-teste e 236 amostras para detecção de anticorpos anti-

Leptospira interrogans pelo método de soro aglutinação microscópica (SAM).

26

Procedeu-se, hemograma, determinação da atividade sérica da AST, ALP e GGT

e a quantificação no soro da proteína total (PT), albumina, colesterol, uréia,

creatinina e bilirrubina, de todos os animais amostrados. Não houve qualquer

alteração nos valores médios hematológicos e da bioquímica sérica em relação

aos valores de normalidade estabelecidos. Os resultados não mostraram

nenhuma correlação entre títulos de anticorpos anti-Leptospiras spp, com a idade

ou com as variáveis laboratoriais avaliadas. O nível de anticorpos específicos

para Babesia spp não apresentou correlação com a idade dos animais e

apresentou correlação positiva com quantidade de hemácias, hemoglobina,

leucócitos totais e linfócitos. Houve correlação positiva entre NE-B. bovis , AST e

BD. Houve correlação positiva entre NE-B. bigemina, ALP, AST, colesterol e

creatinina. Concluiu-se que as correlações observadas entre os anticorpos anti-

Babesia spp estão relacionados principalmente ao estímulo do sistema

imunológico e que não houve manifestação patológica decorrente da infecção ou

de maiores títulos de imunoglobulinas.

Palavras-chave: Anticorpos, Babesiose, Bioquímica sérica, Hematologia,

Leptospirose, Pé-duro

ABSTRACT

Ahead of hypothesis that chronic babesiosis or leptospirosis could cause

laboratorial changes in assintomatic infected animals, and because those

diseases are important in tropical countries as Brazil, this work investigated the

titles of antibodies’ production against B. bovis, B. bigemina, quantified in ELISA

levels (EL) and Leptospira interrogans in two Curraleiro herds located in Goiás

27

and Tocantins States, as well as its correlation with hematology and serum

biochemistry in healthy animals which are submitted to natural infection. 282

samples were assessed by the ELISA method for the detection of B. bovis and B.

bigemina antibodies, and 236 samples for the detection of Leptospira interrogans

antibodies were analysed by microscopic serum agglutination (MAT). Hemogram,

AST, ALP and GGT serum activity and serum quantification of total protein (TP),

albumin, cholesterol, urea, creatinine and bilirrubin were carried out. There was no

change in hemalology and biochemistry parameters in relation to reference

values. Results did not reveal any correlation between the intensity of production

of Leptospiras spp antibodies and age or any of the laboratorial variables under

analysis. The specific level of antibodies for Babesia spp did not present a

correlation with the animals’ ages and revealed a positive correlation with the

amounts of erythrocytes, hemoglobin, total white blood cells, and lymphocytes.

There was a positive correlation between Anti-B. bovis, AST and direct bilirrubin.

There was a positive correlation between Anti-B. bigemina, ALP, AST, cholesterol

and creatinine. It was concluded that the correlations between Babesia spp

antibodies are mainly related with immunological stimulation, and that there was

no pathological manifestation caused by infection or greater titers of

immunoglobulins.

Key words: Antibodies, Babesiosis, Hematology, Leptospirosis, Pé-duro, Serum

chemistry

3.1 INTRODUÇÃO

A babesiose bovina é uma hemoparasitose causada, no Brasil, pelos

protozoários Babesia bovis e B. bigemina e que apresentam como único vetor

28

biológico o carrapato Boophilus microplus (GUGLIELMONE, 1995). Sua

distribuição geográfica é limitada pela presença do vetor e a enfermidade

apresenta uma importância econômica indiscutível, considerando o grande

número de animais expostos ao risco de infecção nas regiões tropicais e sub-

tropicais e por apresentar elevada morbi-mortalidade em bovinos primo

infectados (SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ-VIVAS, 1997).

O portador assintomático ou crônico na babesiose é o animal que

recupera-se de uma infecção aguda e que frequentemente permanece com uma

baixa parasitemia, tornando-se um reservatório do parasito na população

(MAHONEY, 1969).

A maioria dos estudos, sobre infecções crônicas para Babesia spp, são

realizados em modelos experimentais com cães, primatas e outras espécies

animais de laboratório sendo que animais cronicamente infectados mantiveram

elevados níveis de anticorpos; alguns deles desenvolveram doença hepática e/ou

glomerulonefrite membranoproliferativa crônica (HOMER et al., 2000).

No Brasil, as informações sobre o comportamento clínico laboratorial

de bovinos em relação a B. bigemina têm sido discutidas em situações de

infecção experimental (VIEIRA et al., 2001; MENDONÇA et al., 2003), como

forma de avaliar a patogenicidade do parasito. Porém, não foram avaliadas as

alterações laboratoriais em rebanhos naturalmente infectados expostos

continuamente aos agentes da babesiose bovina.

A leptospirose bovina é uma zoonose cosmopolita provocada por

microrganismos do gênero Leptospira; que compromete os níveis de produção e

produtividade dos rebanhos afetados (FAINE, 1982). Há muitas dúvidas sobre a

patogênese da infecção por L. interrogans. Acredita-se que seu mecanismo está

29

relacionado aos efeitos diretos causados pela bactéria ou em decorrência da

resposta imunológica do hospedeiro. Animais cronicamente infectados são

assintomáticos, porém podem abrigar leptospiras nos túbulos renais e eliminá-

las,através da urina, por tempo indeterminado, no ambiente (BHARTI et al.,

2003).

Alguns autores, investigando lesões renais macroscópicas e

histológicas em material de abatedouros, descreveram a ocorrência de nefrite

intersticial crônica em bovinos sadios podendo estar associada a infecção por

leptospiras, principalmente aos sorovares hardjo e pomona (AMATREDJO et al.,

1976; GREGOIRE et al., 1976). Entretanto, há pouca informação sobre os

aspectos laboratoriais em animais protadores crônicos ou naturalmente

infectados por Leptospira spp.

O gado que deu origem ao Curraleiro foi trazido da Península Ibérica

para o Brasil, pelos portugueses, na época do descobrimento (MARIANTE &

EGITO, 2002). O Curraleiro está presente no Maranhão, Piauí, Goiás e

Tocantins; os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de produção e a

baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses animais

(NETESTADO, 1998).

Atualmente existem poucas informações disponíveis sobre o rebanho

nacional de Curraleiro. Em 1992, estimavam que este fosse formado por menos

de 300 animais. Como a tendência deste número é diminuir; vários destes

animais foram alocados em núcleos de preservação oficiais e privados

(MARIANTE & DE BEM, 1992). A Associação Brasileira de Criadores de

Curraleiro (ABCC) possui um cadastro, atualizado em março de 2005, de 22

criatórios, com número estimado de 2008 animais (BOAVENTURA et al.; 2005).

30

O objetivo deste trabalho foi investigar os títulos de anticorpos anti-

Babesia bovis, anti-Babesia bigemina e anti-Leptospira interrogans

correlacionando-a com os valores hematológicos e de bioquímica sérica, em

bovinos Curraleiros sadios, naturalmente infectados por esses agentes.

3.2 MATERIAL E MÉTODOS

Foram efetuados exames hematológicos, da bioquímica sérica,

detecção de anticorpos anti-B. bovis e anti-B.bigemina (n=282) e anti-Leptospira

interrogans (n=236), em bovinos da raça Curraleiro, pertencentes a dois criatórios

situados nos Estados de Goiás (Propriedade 1) e Tocantins (Propriedade 2), com

idade variando entre recém-nascidos e indivíduos com mais de 48 meses. Os

animais foram submetidos a um exame semiotécnico, conforme o protocolo

descrito por ROSENBERGER (1993), com a finalidade de selecionar animais

clinicamente sadios.

Para a realização dos exames hematológicos foram obtidos 5 ml de

sangue, por venopunção da jugular, em tubo com anticoagulante EDTA (ácido

etilediaminotetracético, sal dissódico) a 10%. As amostras destinadas a

hematimetria, quando possível, foram analisadas imediatamente após a colheita

na propriedade, ou permaneceram sob refrigeração até o momento da realização

das análises, sempre num período inferior a 24 horas da colheita.

Foram feitos dois esfregaços sangüíneos com o sangue in natura,

destinados à contagem diferencial de leucócitos. Após a secagem, as lâminas

foram acondicionadas adequadamente, para posteriormente serem coradas e

avaliadas. Para a determinação do hemograma foram realizados o eritrograma e

31

o leucograma. Os valores de referência utilizados para estas variáveis foram

descritos por PAULA NETO (2004).

Para efetuar o exame sorológico e a bioquímica sérica procedeu-se

colheita de sangue por venopunção jugular em tubo sem anticoagulante; após

retração do coágulo o sangue foi centrifugado, o soro foi separado em alíquotas e

congelado à –20oC até o momento da realização do teste laboratorial. As

amostras séricas para a determinação da bilirrubina foram acondicionadas

protegidas da luz com papel alumínio.

Foram mensuradas as quantidades séricas de proteína total, albumina,

colesterol, uréia, creatinina e bilirrubina e a atividade sérica da aspartato

aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (ALP) e gama glutamiltransferase

(GGT). A metodologia seguiu as recomendações do fabricante Labtest-Sistemas

para Diagnósticos (LABTEST, Lagoa Santa, Minas Gerais). Os resultados foram

estratificados por idade e comparados com os valores de referência disponíveis

na literatura.

A AST foi determinada pelo método cinético de tempo fixo seguindo a

metodologia de REITMAN & FRANKEL (1957). A atividade sérica enzimática da

GGT foi verificada pelo método cinético, utilizando-se como substrato a glutamil-

p-nitroanilida. A ALP foi analisada pelo método cinético de ponto fixo modificado

estabelecido por ROY (1970).

As proteínas totais séricas foram quantificadas pelo método

colorimétrico de ponto final, por reação com o biureto e a albumina método

colorimétrico por reação com o verde de bromocresol. O colesterol foi

determinado pelo método enzimático Trinder. A bilirrubina foi determinada de

acordo com o método descrito por SIMS & HORN (1958).

32

Para realizar a quantificação da uréia, utilizou-se o método enzimático

colorimétrico da urease e para a creatinina, o método colorimétrico com solução

de picrato.

Utilizou-se como valor de referência para as variáveis da bioquímica

sérica, os indivíduos com soronegativos para as enfermidades avaliadas (n=8).

Para detecção de anticorpos anti-Babesia bovis e Babesia

bigemina.foram analisadas 282 amostras pela a técnica de ELISA-indireto,

agrupando os valores de absorbância em níveis de ELISA (NE) segundo

descritao por MACHADO et al. (1997). Os exames foram realizados no

Laboratório de Imunoparasitologia da FCAV-Unesp, Jaboticabal-SP, conforme

descrito por JULIANO et al. (2006).

A detecção de anticorpos anti-Leptospira spp foi realizada pelo

método de soroaglutinação microscópica (SAM), em 236 amostras, diluídas de

1:100 a 1:800, no Laboratório de Leptospirose do Setor de Medicina Preventiva

da Escola de Veterinária da UFG, seguindo protocolo proposto por SANTA ROSA

(1970). Utilizou-se como antígeno, cepas vivas, cultivadas no mesmo laboratório,

dos seguintes sorovares: bratislava, castellonis, canicola, grippotyphosa,

hebdomadis, icterohaemorrhagiae, pomona, pyrogenes, hardjo, wolffi, shermani e

tarassovi.. O maior título que apresentou reação foi considerado o sorovar

prevalente para cada animal. Quando ocorreram aglutinações para vários

sorovares com a mesma titulação, em um mesmo indivíduo, considerou-se o fato

como co-aglutinações.

A taxa de ocorrência de soropositivo foi avaliada por estatística

descritiva simples, em porcentagem. Foram calculados a média, desvio padrão e

coeficiente de variação (CV) dos resultados de hematologia e da bioquímica

33

sérica, para estabelecer-se o intervalo de confiança, como valor mais próximo da

realidade dessa população.

Para análise das variáveis hematológicas, bioquímicas e títulos de

anticorpos, utilizou-se a correlação de Spearman, disponíveis no Sistema de

Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (RIBEIRO JÚNIOR, 2001). Foram

considerados três níveis de correlação para a interpretação dos resultados

obtidos: fraco (de 0% a 30% de probabilidade); médio (de 31% a 70% de

probabilidade) e alto (a partir de 70% de probabilidade) conforme descrito por

SAMPAIO (1998).

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliando-se a frequência de anticorpos anti-Babesia spp nos 282

animais amostrados, obteve-se 92,90% (n=262) de positividade para B. bovis e

85,46% (n=241) para B. bigemina e não houve correlação alguma entre a

intensidade na produção de anticorpos e a idade dos animais.

A freqüência de soropositivos para L. interrogans foi de 33,05% (n=78),

não houve diferença significativa (p>0,05) entre o número de animais positivos

para os diferentes títulos de anticorpos (Tabela 1) e não houve correlação entre a

idade e os mesmos.

Os resultados das médias das variáveis do hemograma dos animais

positivos para leptospirose (SAM) e babesiose (ELISA-indireto) estão descritos na

Tabela 2 e 3, respectivamente e foram similares aos valores considerados

normais para a raça (PAULA NETO, 2004).

34

TABELA 1- Freqüência de títulos de anticorpos anti-L. interrogans em bovinos da raça Curraleiro.

1:100 1:200 1:400 1:800 RESULTADO n % n % n % n %

Reagente 21 26,92 27 34,61 16 20,51 14 17,94

Não reagente 57 73,08 51 65,39 62 79,49 64 82,06

Total 78 100,00 78 100,00 78 100,00 78 100,00 χ2=4,72 p>0,05

Foram realizadas as correlações entre todas as variáveis

hematológicas e os níveis de anticorpos de animais soropositivos, tanto para B.

bovis e B. bigemina, quanto para L. interrogans. Foi observada correlação fraco

positiva entre NE-B. bovis e NE–B. bigemina com o número de hemácias e

hemoglobina. MENDONÇA et al. (2003) acompanharam valores hematológicos

de bezerros da raça Nelore, inoculados experimentalmente com diferentes

isolados brasileiros de B. bigemina. Obtiveram como resultado valores

semelhantes aos valores de referência, apesar da queda nos valores de VG em

torno de 12,8% a 22,3%. Os autores também relataram um aumento na

contagem de hemácias, VG e hemoglobina nos animais inoculados com isolados

da região Nordeste e Sudeste. A correlação positiva com hemácias e

hemoglobina indica que os níveis de anticorpos foram suficientes para garantir

ausência da doença e consequentemente da anemia. Não houve qualquer

correlação entre título de anticorpos para leptospiras e as variáveis do

hemograma.

TABELA 2 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados de hemograma de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos

para Leptospira interrogans na prova de SAM (n=78)

Hemácias

X 106/µ

Hemoglobina

g/dL

VG

%

Leucócitos

/ mm3

Basófilos

/ mm3

Bastonetes

/ mm3

Segmentados

/ mm3

Eosinófilos

/ mm3

Linfócitos

/ mm3

Monócitos

/ mm3

Média 6,6 11,0 33,2 8484,1 11,4 30,4 2152,6 627,3 5482,6 143,7

Desvio padrão 1,8 2,4 5,4 3286,0 47,9 61,3 1305,6 479,9 2820,0 160,5

CV 27,2 21,8 16,2 38,7 420,17 201,6 60,6 76,5 51,4 111,6

36

TABELA 3 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados de hemograma de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos para Babesia spp na prova de ELISA-indireto (n= 262), em diferentes faixas etárias

Hemácias

X 106/µ Hemoglobina

g/dL VG %

Leucócitos/ mm3

Basófilos / mm3

Bastonetes / mm3

Segmentados/ mm3

Eosinófilos/ mm3

Linfócitos / mm3

Monócitos / mm3

Média 10,4 12,3 38,4 12282,5 0 51,3 2645,95 214,3 8884,85 486,1

Desvio padrão 1,4 2,1 2,5 4727,3 0,0 124,2 1801,4 267,4 3414,1 794,4

Idade

0 a 6 meses CV 13,5 17,6 6,7 38,5 0,0 242,0 68,1 124,8 38,4 163,4

Média 8,7 11,3 35,3 11318,2 0,0 9,5 2028,1 248,9 8733,9 278,8

Desvio padrão 1,2 1,3 3,9 2551,0 0,0 30,8 1528,8 245,6 2001,1 319,4

Idade

7 a 12 meses CV 14,4 11,9 11,1 22,5 0,0 325,3 75,4 98,7 22,9 114,6

Média 8,3 11,3 35,3 11059,7 0,0 71,8 2482,9 496,5 7744,6 257,4

Desvio padrão 2,2 2,2 5,2 3205,9 0,0 117,7 1276,6 475,2 2877,2 337,7

Idade

13 a 24 meses CV 27,0 20,0 14,7 29,0 0,0 163,9 51,4 95,7 37,2 131,2

Média 7,5 11,5 36,1 10014,1 10,2 33,8 2367,1 563,6 7030,9 153,8

Desvio padrão 1,1 1,4 3,6 3949,0 36,7 83,6 1805,2 458,8 3221,3 172,4

Idade

25 a 36 meses CV 14,9 12,1 10,0 39,4 362,0 247,1 76,3 81,4 45,8 112,1

Média 6,46 11,4 32,8 8459,7 9,3 50,6 2202,9 753,7 5256,8 168,1

Desvio padrão 1,28 2,2 4,6 3144,4 38,1 103,4 1207,5 559,9 2413,2 224,1

Idade

36 a >48 meses CV 19,7 19,3 14,0 37,2 408,4 204,5 54,8 74,3 45,9 133,3

Na Tabela 4 pode-se visualizar o resultado das correlações dos níveis

de anticorpos para B. bovis e B. bigemina que apresentaram significância.

TABELA 4-Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre NE para B.bovis e B.bigemina e variáveis do eritrograma, em bovinos da raça Curraleiro

Variáveis correlacionadas Nº de observações

rs Z *P

Hemácias 278 0,1008 1,6771 0,0468 NE-B.bovis

Hemoglobina 278 0,1978 3,2921 0,0005

Hemácias 278 0,1956 3,2549 0,0006 NE-B.bigemina

Hemoglobina 278 0,2970 4,9424 0,0000

* Valores de p do teste t de Student

A diminuição nos valores do eritrograma pode estar relacionada a

patogenicidade do parasito (BOCK et al., 1997), ao grau de parasitemia, à lise

celular e à fagocitose (ARAGON, 1976). Os mecanismos que afetam estas

valores devem-se ao estímulo de imunidade por anticorpos específicos,

principalmente da classe IgG, nos casos agudos de babesiose. A capacidade de

estabelecer infecções inaparentes ou crônicas sugere que deve haver um

equilíbrio entre a atividade anti-parasitária do sistema imunológico do hospedeiro

e os mecanismos de evasão do sistema imunológico, próprios do parasito

(O’CONNOR & ALLRED, 2000). Sendo assim, a correlação dos valores do

eritrograma com o NE, descrita no presente estudo, está relacionada à adaptação

entre os bovinos e a Babesia spp.

NE-B. bovis e NE-B. bigemina apresentaram fraca correlação positiva

com a contagem de leucócitos totais e linfócitos (Tabela 5) e esses resultados

estão em concordância com resultados obtidos em infecção experimental por B.

bigemina, onde houve aumento dos valores absolutos de leucócitos e linfócitos, a

partir do 12º dia PI, relacionado ao estímulo antigênico e produção de anticorpos

38

(MENDONÇA et al., 2003) e corroboram com as observações feitas por BIRGEL

JUNIOR et al. (2001), nos quais as variações no hemograma de bovinos

acometidos por babesiose são importantes na interpretação do leucograma dos

animais criados no Brasil, onde são naturalmente premunidos contra essa

hemoparasitose, determinando uma leucocitose por linfocitose.

TABELA 5-Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre NE para B.bovis e B.bigemina e variáveis do leucograma, em bovinos da raça Curraleiro

Variáveis correlacionadas Nº de observações

rs Z *P

Leucócitos 278 0,1985 3,3041 0,0005 NE-B.bovis

Linfócitos 278 0,2037 3,3908 0,0003

Leucócitos 278 0,2572 4,2801 0,0000 NE-B.bigemina

Linfócitos 278 0,2460 4,0942 0,0000

*Valores de p do teste t de Student

Na Tabela 6 estão descritos os valores médios e desvio padrão,

utilizados como limites de normalidade, das variáveis da bioquímica sérica. Os

valores encontrados para diferentes parâmetros avaliados na bioquímica sérica,

dos animais detectados como positivos nas provas de SAM e ELISA-indireto

(Tabela 7 e 8) apresentaram-se dentro desses limites.

Foram realizadas as correlações entre todas as variáveis da

bioquímica sérica e intensidade na produção de anticorpos anti-B. bovis, anti-B.

bigemina e anti-L. interrogans. Não houve significância em nenhuma correlação

de variáveis da bioquímica sérica e títulos de anticorpos para leptospiras. As

correlações que apresentaram resultados significativos, entre níveis de anticorpos

para Babesia spp e resultados da bioquímica sérica, estão descritas na Tabela 9.

39

TABELA 6 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) da bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro, com sorologia negativa para B.

bovis, B. bigemina e L. interrogans (n=8), utilizados como valores de normalidade

TABELA 7 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados da bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos

(n=78) para Leptospira interrogans na prova de SAM

GGT

U/L

ALP

U/L

AST

U/L

Uréia

mg/dL

Creatinina

mg/dL

Colesterol

mg/dL

PT

g/dL

Albumina

g/dL

Globulina

g/dL

B. direta

mg/dL

B. indireta

mg/dL

B. total

mg/dL

Média 31,0 23,3 54,9 33,7 1,5 97,8 8,0 2,8 5,2 0,2 0,3 0,5

Desvio padrão 21,7 15,4 20,0 13,8 0,4 26,9 1,0 0,4 1,2 0,1 0,2 0,2

CV 70 66 36,4 40,94 26,6 27,5 12,5 14,2 23,07 50 66,6 40

GGT U/L

ALP U/L

AST U/L

Uréia mg/dL

Creatinina mg/dL

Colesterol mg/dL

PT g/dL

Albumina g/dL

Globulina g/dL

B. direta mg/dL

B. indireta mg/dL

B. total mg/dL

Média 21,25 35,88 50,50 37,25 1,52 95,75 7,54 3,03 4,51 0,34 0,49 0,83 Desvio padrão 15,57 31,09 19,87 13,77 0,50 19,25 0,84 0,35 0,49 0,16 0,50 0,55 CV 73,27 86,67 39,36 36,97 32,67 20,10 11,08 11,54 30,30 46,66 102,79 66,99

40

TABELA 8 - Média, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) dos resultados de bioquímica sérica de bovinos da raça Curraleiro, soropositivos para Babesia spp na prova de ELISA-indireto (n= 262), em diferentes faixas etárias

GGT U/L

ALP U/L

AST U/L

Uréia mg/dL

Creatinina mg/dL

Colesterol mg/dL

PT g/dL

Albumina g/dL

Globulina g/dL

B. direta mg/dL

B. indireta mg/dL

B. total mg/dL

Média 26,9 62,4 45,6 26,9 1,4 122,0 6,8 2,8 4,4 0,2 0,4 0,6

Desvio padrão 20,0 44,3 22,9 8,7 0,3 35,4 1,4 0,5 1,9 0,1 0,3 0,4

Idade

0 a 6 meses CV 74,2 71,1 50,2 32,3 23,3 29,0 19,9 18,3 42,8 62,3 78,5 69,3

Média 24,7 36,1 66,9 47,7 1,4 92,5 6,9 3,0 4,1 0,2 0,4 0,6

Desvio padrão 20,9 14,8 32,4 29,8 0,5 27,8 0,6 0,3 0,6 0,1 0,2 0,3

Idade

7 a 12 meses CV 84,4 41,0 48,4 62,4 34,6 30,0 8,3 11,0 15,6 54,7 49,0 40,9

Média 21,7 36,0 51,8 34,9 1,5 91,2 6,7 2,7 4,0 0,2 0,3 0,5

Desvio padrão 8,5 18,5 19,8 18,2 0,4 32,2 1,1 0,4 1,0 0,1 0,1 0,2

Id ade

13 a 24 meses CV 39,3 51,2 38,2 52,3 27,4 35,3 16,6 15,9 25,3 63,2 40,4 34,9

Média 19,6 30,6 50,0 32,8 1,7 91,2 7,5 2,9 4,6 0,2 0,3 0,5

Desvio padrão 8,7 23,6 23,1 18,0 0,4 27,3 0,8 0,4 0,8 0,2 0,2 0,2

Idade

25 a 36 meses CV 44,2 77,2 46,2 54,9 25,4 30,0 10,0 13,1 16,3 75,0 52,9 45,2

Média 26,8 23,5 56,2 31,3 1,6 99,0 7,7 2,9 4,9 0,2 0,4 0,6

Desvio padrão 16,7 17,2 20,5 13,5 0,5 21,8 0,8 0,4 0,8 0,1 0,2 0,3

Idade

36 a <48 meses CV 62,1 73,2 36,4 42,9 29,6 22,0 10,2 14,4 17,3 50,6 60,0 49,0

41

Houve uma correlação fraca positiva de NE- B. bovis com AST e BD.

Os NE-B. bigemina estiverem fracamente correlacionados com ALP, AST,

colesterol e creatinina. VIEIRA et al., 2001, estudando bezerros da raça Nelore

inoculados com diferentes isolados de B. bigemina, não detectaram alterações

significativas nas quantidades de AST, ALP e creatinina, mas observaram uma

diminuição isolada dos níveis de colesterol. Os autores sugeriram que a ausência

de alterações bioquímicas e a baixa parasitemia estavam associados à

resistência dos animais ao parasito e à ausência de lesão hepática ou renal. Os

resultados encontrados no presente trabalho sugerem a mesma hipótese para

animais da raça Curraleiro, portadores crônicos de Babesia spp.

A ocorrência de glomerulonefrite por deposição de imunocomplexos é

citada por autores, em casos crônicos de babesiose, tripanosomíase e theileriose

(HOMER et al., 2000; OMER et al., 2003, MARÉ, 2004). Entretanto, como os

níveis de creatinina dos animais da raça Curraleiro estiveram dentro dos padrões

de referência estabelecidos, não há justificativa biológica que confirme a hipótese

de glomérulonefrite acompanhada de insuficiência renal.

TABELA 9 - Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre NE para B.bovis e B.bigemina e variáveis da bioquímica sérica, em bovinos da raça Curraleiro

Variáveis correlacionadas Nº de observações

rs Z *P

AST 181 0,1253 1,6809 0,0464

NE-B.bovis BD 168 0,1602 2,0707 0,0192

ALP 210 0,2114 3,0557 0,0011

AST 211 0,2059 2,9843 0,0014

Colesterol 177 0,1568 2,0806 0,0187

NE-B.bigemina

Creatinina 169 0,1507 1,9537 0,0254

*Valores de p do teste t de Student

42

SOUZA (1997) em seu estudo sobre o perfil bioquímico de três raças

bovinas, concluiu que para utilizarem-se os exames de bioquímica sérica em sua

plenitude, faz-se necessário estabelecer de valores de referência para os vários

parâmetros sanguíneos nas diferentes raças de populações bovinas. Dessa

forma, a padronização do perfil bioquímico para animais da raça Curraleiro seria

um grande facilitador na interpretação e diagnóstico de processos mórbidos sub-

clínicos.

Os resultados encontrados no presente trabalho sugerem que apesar

dos animais estarem expostos cronicamente a Babesia spp e Leptospira

interrogans, não há alteração hematológica ou da bioquímica sérica indicando

algum estado mórbido. Evidências sorológicas demonstram que os bovinos

Curraleiros apresentam imunidade contra esses agentes sem manifestação

clínica da doença, sugerindo haver resistência ou adaptação suficiente do

hospedeiro. Esse fato está em discordância com alguns autores, que citaram

menor resistência e imunidade de animais Bos taurus em relação à babesiose

(BOCK et al., 2004). A raça Curraleiro é uma entidade genética distinta

pertencente ao gênero denominado Bos taurus ibericus (SERRANO et al, 2004) e

que passou por um processo de seleção natural de aproximadamente 500 anos,

por isso espera-se uma maior adaptação e resistência desses animais em

relação a enfermidades tropicais como a babesiose. Esta hipótese corrobora com

SOLORIO-RIVERA & RODRIGUEZ VIVAS (1997) que citaram que a resistência a

algumas doenças pode estar relacionada a um processo de seleção natural, pela

exposição contínua aos vetores e agentes por eles transmitidos, situação comum

em populações de raças nativas. Entretanto, mais estudos são necessários para

esclarecer a relação entre hospedeiro-parasito.

43

3.4 CONCLUSÕES

Não houve qualquer alteração nos valores médios hematológicos e da

bioquímica sérica que indicasse presença de lesões provocadas pela B. bovis, B.

bigemina ou L. interrogans. Não houve nenhuma correlação entre títulos de

anticorpos anti-Leptospiras spp, com a idade ou com as variáveis laboratoriais

avaliadas.

O nível de anticorpos específicos para Babesia spp não apresentou

correlação com a idade dos animais e apresentou correlação positiva com

quantidade de hemácias, hemoglobina, leucócitos totais e linfócitos. Houve

correlação positiva entre NE-B. bovis , AST e BD. Houve correlação positiva entre

NE-B. bigemina, ALP, AST, colesterol e creatinina. Os resultados encontrados

estão relacionados principalmente ao estímulo do sistema imunológico pelo

parasito e não houve manifestações patológicas decorrentes da infecção ou de

maiores títulos de anticorpos.

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49

CAPÍTULO 4

OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum E ANTI-

Toxoplasma gondii EM REBANHOS DA RAÇA CURRALEIRO

Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Andréa Caetano

Silva3, Vanessa Silvestre F. de Oliveira1, Adriana Reis Bittencourt da Silva4,

Saura Nayane de Souza4

1- Médica Veterinária, Pós-Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected], [email protected]

2- Médica Veterinária, Profa. Dra. da EV/UFG. [email protected] 3- Médica Veterinária, Profa. Dra. do IPTSP/UFG. andré[email protected] 4- Graduação em Medicina Veterinária da EV/UFG. [email protected],

[email protected]

RESUMO A neosporose está amplamente distribuída em todos os continentes e é

incriminada como causa importante de distúrbios reprodutivos em bovinos,

enquanto que a toxoplasmose é uma zoonose importante, apesar de não

provocar doença nesta espécie. Com o objetivo de conhecer a situação sanitária

dos rebanhos em relação a estas enfermidades, avaliou-se a ocorrência de

anticorpos anti-N. caninum e anti-T. gondii em cinco criatórios de gado Curraleiro

em Goiás e um no Tocantins,. Foram amostrados 468 animais, tendo sido

utilizada a técnica do ELISA-indireto para detecção de anticorpos anti-N. caninum

e a hemaglutinação indireta (HI) para anticorpos anti-T. gondii, resultando em

ocorrência de 38,24% e 3,20%, respectivamente. A soropositividade para N.

caninum aumentou significativamente (p<0,05) com o avanço da idade e houve

diferença na ocorrência de positivos entre as propriedades. Há possibilidade de

interferência de ciclo silvestre na transmissão horizontal da neosporose na

população. A ocorrência de anticorpos anti-T. gondii foi baixa nos rebanhos

estudados, mas uma investigação mais detalhada deve ser realizada a fim de

avaliar o contato deste rebanho com o parasito.

Palavras-chave: Bovinos, elisa-indireto, hemaglutinação indireta, Pé-duro,

neosporose, toxoplasmose,

50

ABSTRACT

Neosporosis is widely distributed in all continents and it is incriminated wich a

cause of reproductive problems in bovine and toxoplasmosis is an important

zoonosis. It was evaluated antibodies ocurrence, against N.caninum and T.

gondii, in five herds from Goiás State and one from Tocantins State, with the aim

to know the healthy status of Curraleiro cattle in relation to these diseases. It was

sampled 468 animals and performed the detection of anti-N. caninum antibodies

by indirect-ELISA and anti-T. gondii antibodies by indirect haemagglutination (IH),

resulting in 38,24% and 3,20%, respectively. The seropositivity to N. caninum

increased (p<0,05) with aged, there were statistical differences (p<0,01) among

farms and it´s possible to exist an interaction between an wild cycle and horizontal

route neosporosis in this population. The toxoplasmosis seropositivity was low in

these herds and there were no differences among farms (p<0,05) but more

detailed studies must be realized with de purpose to investigate bovine contact

with this parasit. Key words: Bovine, indirect-ELISA, indirect haemagglutination, neosporosis, Pé-

duro, toxoplasmosis,

4.1 INTRODUÇÃO

O gado que deu origem ao Curraleiro foi trazido da Península Ibérica

para o Brasil, pelos portugueses, na época do descobrimento (MARIANTE &

EGITO, 2002), sendo que atualmente está presente no Maranhão, Piauí, Goiás e

Tocantins. Os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de produção e a

baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses animais

(NETESTADO, 1998). Atualmente existem poucas informações disponíveis sobre

o rebanho nacional de Curraleiro e a Associação Brasileira de Criadores de

Curraleiro (ABCC) através do cadastramento de 22 criatórios, estimou 2008

animais em uma atualização realizada em 2005 (BOAVENTURA et al., 2005).

Diante da intenção de expandir a população dessa raça e de incentivar

a produção de alimentos de origem animal, de modo a atender as exigências

51

para comercialização dentro e fora do país, torna-se necessário obter dados

referentes a aspectos sanitários destes bovinos.

A neosporose foi diagnosticada pela primeira vez em 1984, na

Noruega, como uma encefalopatia letal em cães, associada a um parasito

semelhante ao Toxoplasma gondii (BJERKAS & PRESTHUS, 1989). Em 1988,

Dubey e colaboradores descreveram pela primeira vez o Neospora caninum

como agente de processos neurológicos no cão, nos Estados Unidos (DUBEY et

al., 1988a, 1988b). Em 1989, foi confirmado como agente causal de aborto e

mortalidade neonatal em bovinos (THILSTED & DUBEY, 1989).

Na espécie bovina essa enfermidade está amplamente distribuída e foi

relatada na Europa, Escandinávia, África, Austrália, Nova Zelândia e nas

Américas (DUBEY, 1999). É incriminada como importante causa de abortamento,

geralmente entre o quinto e o sexto mês de gestação, podendo ocorrer o

nascimento de bezerros prematuros, neonatos com sinais clínicos

neuromusculares ou neonatos clinicamente normais, porém cronicamente

infectados (DUBEY, 2003).

A transmissão horizontal foi confirmada através da eliminação de

oocistos não esporulados nas fezes de cães experimentalmente infectados com

tecidos de camundongos contendo cistos de N. caninum (McALLISTER, et al.,

1998). O parasito pode ser transmitido, por via transplacentária, a várias espécies

de hospedeiros sendo que em bovinos, a transmissão vertical é tida como rota

importante de infecção e parece ter papel fundamental na disseminação e

manutenção da enfermidade (SCHARES et al., 1998). GONDIM et al. (2004b)

avaliaram a transmissão transplacentária em novilhas infectadas

experimentalmente com oocistos de N. caninum e relataram que o risco de

ocorrência desse tipo de infecção aumentou com o tempo de exposição durante a

gestação e a dose de oocistos administrada aos animais.

A prevalência de neosporose bovina tem sido descrita em diferentes

estudos sorológicos, analisando-se principalmente bovinos com aptidão leiteira e

utilizando diferentes métodos de diagnóstico como o ELISA e a reação de

imunofluorescência indireta (RIFI). No Brasil, GONDIM et al. (1999a) relataram

14,09% de sororeagentes em rebanhos leiteiros, no estado da Bahia. No sul do

Paraná, LOCATELLI-DITTRICH et al. (2001) encontraram 34,80% de

52

soropositivos, enquanto OGAWA et al. (2005) descreveram uma ocorrência de

12,00% de positividade para N. caninum, na região norte desse estado.

Em uma amostragem feita em frigorífico, com animais provenientes

dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, COSTA et al. (2001) encontraram

16,83% de positividade, enquanto HASEGAWA et al. (2004) citaram 15,57% de

prevalência em bovinos de corte da região de Avaré-SP.

RAGOZO et al. (2003) avaliaram amostras de rebanhos bovinos

provenientes de seis estados brasileiros e encontraram uma freqüência de

soropositivos variando entre 14,70% (RJ) e 29,00% (MG). A prevalência nos

Estados de MS, PR, RS e SP foram 28,20%, 22,20%, 20,00% e 23,60%,

respectivamente. Houve maior ocorrência em rebanhos de aptidão leiteira

(26,20%) que de corte (19,10%).

No Estado de Goiás, GARCIA (2004) encontrou, nas microrregiões de

Anápolis e Goiânia, 30,43% de soropositividade, variando entre 10,30% e

89,70%. As prevalências encontradas segundo a aptidão produtiva foram de

29,61%, 30,41% e 43,33%, para rebanhos com aptidão de corte, leite e mistos,

respectivamente.

A ocorrência natural de toxoplasmose bovina foi relatada pela primeira

vez por Sanger e colaboradores, em 1953. Nas décadas de 60 e 70 surgiram

relatos de casos clínicos associados a sinais neuromusculares e respiratórios em

animais naturalmente e experimentalmente infectados. Diversas investigações

sorológicas foram realizadas até início dos anos 80, relatando frequências que

variaram de zero a 72,00%. A análise dos dados, entretanto, suscitava dúvidas

sobre a etiologia e a epidemiologia dessa enfermidade na espécie bovina

(DUBEY, 1986).

Embora N. caninum e T. gondii sejam parasitos estrutural, genética e

imunologicamente muito semelhantes, as enfermidades decorrentes da infecção

por esses agentes são biologicamente distintas e a toxoplasmose parece ser

mais importante em humanos e ovinos que em bovinos (DUBEY, 2003).

O consumo humano de carne bovina mal cozida é considerado fator de

risco à saúde pública e apesar da menor freqüência em que ocorrem os cistos

nessa espécie, a soroprevalência é considerada um bom parâmetro para avaliar

53

o grau de exposição dos animais ao T. gondii (TENTER et al., 2000, MEIRELES

et al., 2003).

No Brasil, os inquéritos sorológicos relataram prevalência de 1,03% em

rebanho leiteiro na Bahia e 26,00% na região norte do Paraná (GONDIM et al.,

1999b; OGAWA et al., 2005). COSTA et al. (2001) encontraram 49,17% de

animais soropositivos em amostras de bovinos abatidos, provenientes de São

Paulo e Minas Gerais; MEIRELES et al. (2003) observaram positividade de

11,00% em animais de São Paulo, enquanto DAGUER et al. (2004) relataram

soropositividade em 41,40% dos animais abatidos na microrregião de Pato

Branco-PR.

Em Goiás, apesar da ocorrência recente de um grave surto de

toxoplasmose humana, com suspeita de infecção por ingestão de carne crua

(BRASIL, 2006), pouco se sabe sobre a soroepidemiologia do T. gondii em

rebanhos bovinos.

Sendo assim, esse trabalho tem o objetivo de investigar a ocorrência

de anticorpos anti-Neospora caninum e anti-Toxoplasma gondii em rebanhos

bovinos da raça Curraleiro e relaciona-la a alguns aspectos epidemiológicos

dessas enfermidades. 4.2 MATERIAL E MÉTODOS O tamanho da amostra (n = 468) foi calculado utilizando a fórmula

proposta pelo CENTRO PANAMERICANO DE ZOONOSES (1979), considerando

prevalência esperada de 40%, tendo como base o resultado descrito por GARCIA

(2004), grau de confiança de 95% e margem de erro admitida de 5%.

Foram colhidas amostras em seis propriedades, escolhidas de acordo

com a disponibilidade do proprietário em participar da pesquisa, sendo cinco no

Estado de Goiás (Municípios de Formoso, Caiçara, Pirenópolis, Roselândia e

Leopoldo de Bulhões) e uma no Estado do Tocantins (Município de Porto

Nacional). Os proprietários ou capatazes responderam a um questionário sobre o

criatório e o rebanho

54

Amostrou-se mais de 70% dos animais de cada propriedade, com

exceção de Pirenópolis que teve 100% dos animais amostrados. É importante

relatar que como os animais ficavam nas matas, nem sempre era possível trazer

todos ao curral e nas propriedades maiores como: Formoso, Caiçara e Porto

Nacional, o procedimento de reunir os animais podia durar até uma semana.

Para efetuar o exame sorológico procedeu-se colheita de sangue por

venopunção jugular em tubo sem anti-coagulante. Após retração do coágulo, o

sangue foi centrifugado, o soro foi separado em alíquotas e congelado à –20oC

até o momento da realização dos testes laboratoriais.

A sorologia para N. caninum foi feita utilizando-se método de ELISA-

indireto, seguindo protocolo utilizado no Laboratório de Protozooses Digestivas e

Reprodutivas da Faculdade de Veterinária da Universidade Complutense de

Madrid, Espanha. A diluição do soro foi feita em 1:100 e utilizou-se como

antígeno o extrato solúvel de taquizoítos de N. caninum da cepa Nc-1, produzido

no mesmo laboratório.

A sorologia para T. gondii foi feita utilizando-se o método de

hemaglutinação indireta (HI) com reagente comercial (Bio-toxo®, BIOSHOP,

Goiânia, Goiás) seguindo protocolo recomendado pelo fabricante. O título de

anticorpos utilizado como ponto de corte foi 1:64, seguindo recomendação de

GONDIM et al. (1999b).

A estatística descritiva simples foi utilizada no cálculo da freqüência de

animais positivos, em diferentes faixas etárias, para cada propriedade. O teste de

qui-quadrado foi aplicado para mostrar eventuais diferenças entre as freqüências

encontradas para as propriedades amostradas e para avaliar se houve diferença

na freqüência entre as faixas etárias dentro de todas as propriedades agrupadas

(SAMPAIO, 1998).

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das informações obtidas pelo questionário epidemiológico, foi

possível caracterizar que todos os criatórios utilizavam sistema de criação

pecuária extensiva, a propriedade de Porto Nacional, Caiçara e Formoso eram

55

maiores que as demais, porém todas apresentavam baixa lotação de pastagens e

o rebanho Curraleiro mantinha-se quase que totalmente isolado dos demais

animais domésticos por habitar as invernadas de pastagens nativas, matas ou

campos sujos. Não eram utilizada estação de monta ou registros produtivos e

reprodutivos em nenhuma das propriedades.

A exploração comercial do gado Curraleiro ocorria em Leopoldo de

Bulhões, que vendia animais para carro de boi e em Roselândia, que utilizava

animais para ecoturismo. Os animais eram abatidos regularmente para consumo

de carne pelos moradores das fazendas e o criatório de Porto Nacional mandava

esporadicamente, animais para abate em frigorífico. Não houve relatos de surtos

de abortamentos, as informações obtidas mostraram que a ocorrência de

diarréias em bezerros era comum, mas os animais se recuperavam e a

mortalidade inespecífica foi estimada entre 1 a 2 %. Segundo os capatazes e

proprietários os animais raramente adultos adoeciam. O calendário

imunoprofilático incluía vacinações contra aftosa, raiva, brucelose e clostridioses,

com exceção de Pirenópolis, que vacinava somente contra raiva e aftosa.

Dos 468 animais amostrados, 179 (38,24%) apresentaram positividade

para N. caninum. A ocorrência observada nesse trabalho foi superior aos

resultados descritos por GONDIM et al. (1999a) e OGAWA et al. (2005) em

rebanhos leiteiros e de COSTA et al. (2001); RAGOZO et al. (2003) e

HASEGAWA et al. (2004) em rebanhos de corte, todos estes realizados no Brasil.

A prevalência de anticorpos anti-N. caninum em bovinos varia com a

localização geográfica dos rebanhos, o teste sorológico utilizado, a idade dos

animais. Além disso, a técnica para determinar a exposição ao agente não foi

padronizada (DUBEY, 2003). Esses fatores podem explicar a dificuldade em

comparar freqüências obtidas em diferentes estudos sorológicos com os

resultados descritos no presente estudo.

Os resultados encontrados neste estudo, utilizando a técnica do ELISA-

indireto, foram semelhantes aos observados por LOCATELLI-DITTRICH et al.

(2001), que utilizaram ELISA-indireto e GARCIA (2004), o qual utilizou a RIFI.

Tais similaridades reforçam as observações de ALVAREZ-GARCIA (2003) sobre

a concordância dos resultados obtidos por meio dessas técnicas. Além disso, o

ELISA-indireto apresentou-se como uma técnica apropriada para inquéritos

56

sorológicos em grandes populações, pois de acordo com a literatura, tem uma

sensibilidade de 97% e especificidade de aproximadamente 100%, e a facilidade

de execução permite a análise de grande número de amostras em curto espaço

de tempo (BJÖRKMAN & UGGLA, 1999).

A ocorrência de anticorpos anti-N. caninum (Tabela 1) foi diferente

(p<0,01) entre as propriedades amostradas, Roselândia apresentou os maiores

índices (56,76%) e Pirenópolis o menor deles (20,55%). As diferenças de

ocorrência entre os rebanhos podem estar relacionadas às práticas de manejo e

às condições ambientais regionais, que interferem no grau de exposição do

hospedeiro susceptível e na viabilidade do agente, refletindo numa maior ou

menor pressão de infecção no habitat dos animais.

TABELA 1- Número e frequência de resultados positivos para detecção de anticorpos anti- N.

caninum, pelo método de ELISA-indireto, por faixa etária, em bovinos da raça Curraleiro procedentes de propriedades do Estado de Goiás e Tocantins

0 a 1 ano 2 a 3 anos >3,1 anos Total

total totaL total Nº

IDADE

PROPRIEDADE +

%

+

%

+

%

+

%

13 Formoso 3

23,08

28

7

25,00

49

31

63,27

90

41

45,55

14 Caiçara 1

7,14

20

6

30,00

27

9

33,33

61

16

26,23

24 P. Nacional 4

16,67

20

7

35,00

60

31

51,67

104

42

40,38

18 Pirenópolis 0

0,00

22

2

9,09

52

17

32,69

92

19

20,65

0 Roselândia 0

0,00

21

9

42,86

16

12

75,00

37

21

56,76

23 L. Bulhões 5

21,74

46

6

37,50

45

29

64,44

84

40

47,62

92 Total 13

14,10

127

37

29,13

249

129

51,80

468

179

38,24

Houve diferença no nº de positivos entre as propriedades X2=51,09 p<0,01 Houve diferença no nº total de positivos entre as faixas etárias X2=25,13 p<0,01 Segundo SANDERSON et al. (2000), a distribuição geográfica pode

ser o resultado de diferentes níveis de infecção entre as populações de animais

domésticos e canídeos silvestres e que o aumento da densidade populacional

57

estaria associado a um aumento de prevalência e maior possibilidade de

transmissão horizontal. Isso pode explicar em parte os resultados obtidos no

presente trabalho, pois a maior ocorrência de soropositividade ocorreu em uma

propriedade onde a lotação de pastagem é comparativamente maior que as

demais propriedades. Entretanto, a alta taxa de ocorrência de soropositivos em

propriedades com baixa taxa de lotação como pode ser visto nas propriedades de

Formoso e Porto Nacional, sugere a hipótese a transmissão vertical também

esteja presente e interfira na disseminação e manutenção da neosporose nesses

rebanhos. Porém não houve a possibilidade de verificar tal afirmação no presente

estudo porque não há o registro genealógico dos animais.

Houve diferença significativa (p<0,01) no número total de soropositivos

em relação a faixa etária (Tabela 1), foi possível constatar um aumento dos

mesmos com o avançar da idade, o que está em discordância com os resultados

encontrados por RAGOZO et al. (2003), os quais não verificaram aumento da

prevalência com a idade.

Uma peculiaridade a ser considerada é que, com exceção de Leopoldo

de Bulhões onde havia presença de 15 cães, os bovinos não tinham contato com

cães domésticos, mesmo naquelas propriedades com elevado número de

animais sororeagentes. Tal quadro sugere que poderia haver a participação de

espécies silvestres na manutenção e a distribuição do parasito no ambiente, o

que está de acordo com GONDIM et al. (2004a), que relataram a ingestão dos

tecidos de animais infectados (domésticos ou silvestres) pelos canídeos

(domésticos ou silvestres), como responsável pela presença de N. caninum nos

rebanhos bovinos.

Apesar do grande número de sororeagentes para N. caninum, não

houve relatos de surtos de abortamentos nessas propriedades, podendo

justificar-se por serem criados extensivamente ou não haver informações sobre

os índices reprodutivos dos rebanhos. Entretanto, pode estar ocorrendo infecção

oral progressiva, com pequena quantidade de oocistos; tal afirmativa está em

acordo com GONDIM et al. (2004b) que relataram a ocorrência de transmissão

vertical e de abortamentos em função da quantidade de oocistos ingeridos pelas

fêmeas.

58

Dos 468 animais, 15 (3,20%) apresentaram positividade para T. gondii

no teste de HI. Roselândia apresentou o maior índice (8,11%) e Caiçara não teve

nenhum animal positivo (Tabela 2). Não houve diferença significativa no número

total de positivos em relação à faixa etária (p>0,05). Observou-se que apesar de

todas as propriedades possuírem gatos domésticos no peridomicílio, o contato

com os bovinos Curraleiros é praticamente nulo.

Os resultados obtidos neste estudo mostraram uma ocorrência abaixo

dos índices citados por COSTA et al.(2001), MEIRELES et al.(2003), DAGUER et

al. (2004) e OGAWA et al. (2005), que utilizaram testes de imunofluorescência e

ELISA na detecção dos anticorpos. Entretanto, foram muito próximos dos

resultados obtidos por GONDIM et al. (1999a), que utilizaram método de

aglutinação em látex (AL). Tal fato pode ser justificado, pela concordância de

resultados entre as técnicas de HI e AL, que têm sensibilidade e especificidade

semelhantes, entretanto apresentam menor sensibilidade que o ELISA e a

(DUBEY, 1986, DUBEY & THULLIEZ, 1993).

TABELA 2- Número e frequência de positividade para T. gondii, em diferentes faixas etárias,

utilizando o método de HI para detecção de anticorpos em bovinos da raça Curraleiro, provenientes de rebanhos de Goiás e Tocantins

0 a 1 ano 2 a 3 anos >3,1 anos Total

total totaL total Nº

IDADE

PROPRIEDADE +

%

+

%

+

%

+

%

13 Formoso 0

0,00

28

0

00,00

49

1

2,08

90

1

1,10

14 Caiçara 0

0,00

20

0

00,00

27

0

0,00

61

0

0,00

24 P. Nacional 0

0,00

20

0

00,00

60

2

3,33

104

2

1,92

18 Pirenópolis 2

11,11

22

1

4,55

52

3

5,77

92

6

6,52

0 Roselândia 0

0,00

21

2

9,52

16

1

6,25

37

3

8,11

23 L. Bulhões 0

0,00

46

1

6,25

45

2

4,44

84

3

3,57

92 Total 2

2,17

127

4

3,14

249

9

3,61

468

15

3,20

Não houve diferença no nº total de positivos entre as faixas etárias X2=0,45 p>0,05

59

O presente trabalho relatou pela primeira vez a investigação sorológica

de toxoplasmose bovina no Estado de Goiás. A necessidade de obter

informações ratifica a opinião de COSTA et al. (2001) sobre realização de

exames sorológicos desse parasito em gado de corte e a dificuldade no

entendimento da importância da toxoplasmose bovina para a saúde pública e seu

impacto econômico no mercado da carne. Além disso, o grande consumo de

carne bovina pelos brasileiros justifica maiores investigações sobre a sua

epidemiologia (MEIRELES et al., 2003).

Há muitas dúvidas sobre a eficiência na transmissão de toxoplasmose

pela ingestão de carne bovina crua ou mal passada. DUBEY & THULLIEZ, (1993)

relataram que cistos teciduais, no coração, fígado e língua de bovinos, podem

permanecer viáveis por períodos superiores a três anos. ESTEBAN-REDONDO

et al. (1999) não detectaram o parasito nos tecidos dos animais após infecção

experimental e concluíram que o risco de infecção pelo consumo de carne bovina

é pequeno. Tendo em vista a ausência de informações sobre a segurança

alimentar da carne consumida no Estado de Goiás, em relação à presença de

cistos de T. gondii e a recente ocorrência de surto de toxoplasmose na cidade de

Anápolis, associado ao consumo de carne crua, há a necessidade de maiores

investigações sobre essa zoonose nas diferentes fases da cadeia produtiva.

4.4 CONCLUSÕES N. caninum está presente nos rebanhos de gado Curraleiro

amostrados sendo que a ocorrência é diretamente proporcional à idade. A

exposição ao parasito se dá por via horizontal ou vertical e há possibilidade de

interferência de um ciclo silvestre na epidemiologia da neosporose bovina nessa

população. A ocorrência de anticorpos anti-T. gondii é baixa nos rebanhos

estudados mas uma investigação mais detalhada deve ser realizada com

intenção de avaliar o grau de exposição dos animais bovina ao parasito.

60

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64

CAPÍTULO 5

OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Brucella abortus E ANTI-Leptospira

interrogans EM REBANHOS DA RAÇA CURRALEIRO

Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Valéria de Sá Jayme2,

Luiz Antônio Franco da Silva2, Gustavo Lage Costa3, Lucas Jacomini Abud3,

Mayara Fernanda Maggioli3

1- Médica Veterinária, Pós-Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected] 2- Médico (a) Veterinário (a), Prof. (a) Dr. (a). da EV/UFG. [email protected],

[email protected], [email protected] 3- Graduação em Medicina Veterinária da EV/UFG. [email protected],

[email protected] , [email protected]

RESUMO Avaliou-se a ocorrência de anticorpos anti-Brucella abortus e anti-Leptospira

interrogans em cinco criatórios em Goiás e um no Tocantins, com o objetivo de

conhecer a situação sanitária dos rebanhos bovinos da raça Curraleiro em

relação a estas enfermidades. Foram amostrados 569 animais, tendo sido

empregado a prova de soroaglutinação com antígeno acidificado tamponado

(AAT) para detecção de anticorpos anti-Brucella abortus e a soroaglutinação

microscópica (SAM) para anticorpos anti-Leptospira interrogans, resultando em

ocorrência de 1,23% e 31,36%, respectivamente. A ocorrência da brucelose

bovina nesses rebanhos foi baixa, sinalizando que a aplicação de estratégias de

controle torna viável a certificação de criatórios livres da doença. A freqüência de

anticorpos anti-Leptospira spp foi menor que a encontrada na maioria dos

estudos realizados e, rebanhos bovinos no Brasil. A soropositividade para

Leptospira spp aumentou significativamente (p<0,01) com o avanço da idade,

com predominância de títulos de anticorpos 1:200, sugerindo que sua ocorrência

pode ser enzoótica. Os sorovares mais freqüentes foram hardjo, wolfii,

hebdomadis e grippotyphosa, indicando a espécie bovina como um importante

65

reservatório responsável pela manutenção e disseminação da doença e a

possível participação de espécies silvestres na transmissão da leptospirose

bovina. Essas características devem ser criteriosamente consideradas quando da

necessidade de movimentação de animais para outros criatórios, pois poderiam

representar riscos à saúde dos mesmos.

Palavras-chave: Bovinos, brucelose, epidemiologia, leptospirose, Pé-duro

ABSTRACT

The occurrence of antibodies against Brucella abortus and Leptospira interrogans

was evaluated in five herds from Goiás State and one from Tocantins State, with

the aim to find out about the health situation of Curraleiro bovine cattle in relation

to these diseases. 569 animals were sampled and the detection of Brucella

abortus antibodies was performed by serum agglutination with buffered plate

antigen (BPA), and the detection of Leptospira interrogans antibodies was

performed by microscopic serum agglutination (MAT), resulting in occurrences of

1,23% and 33,26%, respectively. Bovine brucellosis occurrence in these herds

was low, which indicates that the application of control strategies makes the

possibility of brucellosis-free herds viable. The Leptospira spp antibody

occurrence was lower than the one found in the majority of studies on bovine

herds in Brazil. The seropositivity for L. interrogans increased significantly

(p<0,01) with ageing, with a predominance of antibodies titers at 1:200,

suggesting an enzootic profile. The most frequent serovars were hardjo, wolfii,

hebdomadis and grippotyphosa, which indicates that bovine cattle is an important

reservoir responsible for Leptospirosis’ maintenance and dissemination and that

wild species could also be involved in transmitting bovine Leptospirosis. These

characteristics must be carefully considered whenever there is a need to transfer

animals to other farms, as they could pose risks for bovine health.

Key words: Bovine animals, Brucellosis, epidemiology, Leptospirosis, Pé-duro.

5.1 INTRODUÇÃO

66

O gado que deu origem ao Curraleiro foi trazido da Península Ibérica

para o Brasil, pelos portugueses, na época do descobrimento (MARIANTE &

EGITO, 2002), sendo que atualmente o Curraleiro está presente no Maranhão,

Piauí, Goiás e Tocantins. Os criadores ressaltam a rusticidade, o baixo custo de

produção e a baixa exigência nutricional como qualidades indiscutíveis desses

animais (NETESTADO, 1998). Existem poucas informações disponíveis sobre o

rebanho nacional de Curraleiro e a Associação Brasileira de Criadores de

Curraleiro (ABCC) após cadastramento de 22 criatórios, estimou uma população

de 2008 animais em uma atualização realizada em 2005 (BOAVENTURA et al.,

2005).

Diante das intenções de expandir a população dessa raça e de

incentivar a produção de alimentos de origem animal que atendam às exigências

das autoridades sanitárias e do mercado consumidor, surgiu a necessidade de

ampliar o conhecimento sobre as condições sanitárias dessa população em

relação a algumas doenças infecciosas. Desta forma, as atividades dos núcleos

de preservação e criatórios envolvidos não colocariam em risco um rebanho de

tão reduzidas proporções e de inestimável valor genético.

Para RADOSTITIS & BLOOD (1986), qualquer programa de saúde

animal obrigatoriamente deve incluir a vigilância de doenças infecciosas

específicas, com a finalidade de identificar os portadores, adotar estratégias de

controle e eliminar riscos para as enfermidades mais freqüentes.

A brucelose é uma doença infecciosa crônica causada por uma

bactéria pertencente ao gênero Brucella, que afeta principalmente o sistema

reprodutivo, podendo provocar abortamentos no terço final da gestação

(CORRÊA & CORRÊA, 1992). Por tratar-se de uma enfermidade, de caráter

zoonótico, de grande ocorrência em rebanhos bovinos e por estar relacionada a

graves perdas econômicas foi incluída em um programa sanitário desenvolvido

pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2001. Tal

fato objetivou diminuir o seu impacto negativo na saúde pública e animal, além

de promover a competitividade da pecuária nacional, definindo uma estratégia de

certificação de propriedades livres, nos quais, juntamente com a tuberculose,

essa doença deve ser controlada com maior rigor.

67

A Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) classifica a

brucelose como uma enfermidade de importância sócio-econômica, pois causa

prejuízos ao tornar o produto vulnerável às barreiras sanitárias, comprometendo a

sua competitividade no comércio internacional (BRASIL, 2006). A doença causa

diminuição da produção de carne entre 10,00% e 15,00%; aumento do intervalo

entre partos de 11,5 para 20 meses, elevação de 30,00% na taxa de reposição

dos animais e queda de 15,00% na taxa de nascimento (PAULIN, 2003).

O último diagnóstico nacional da situação da brucelose bovina foi

realizado em 1975, com prevalências estimadas de 4,00% na Região Sul, 7,50%

na Região Sudeste, 6,80% na Região Centro-Oeste, 2,50% na Região Nordeste e

4,10% na Região Norte. Posteriormente, outros inquéritos sorológicos por

amostragem, revelaram pequenas alterações. No Rio Grande do Sul a

prevalência passou de 2,00%, em 1975, para 0,30% em 1986. Em Santa Catarina

passou de 0,20%, em 1975, para 0,60% em 1996. No Mato Grosso do Sul a

prevalência estimada em 1998 foi de 6,30% e em Minas Gerais passou de 7,60%,

em 1975, para 6,70% em 1980. No Paraná, a prevalência estimada em 1975 foi

de 9,60%, passando para 4,60% de bovinos soropositivos em 1989. Os dados de

notificações oficiais indicam que a prevalência se manteve entre 4,00% e 5,00%,

no período de 1988 a 1998 (BRASIL, 2006).

Em Goiás, Santana e Veiga encontraram uma freqüência de

positividade de 9,02% em um estudo retrospectivo entre os anos de 1970 e 1975

e posteriormente, Andrade e colaboradores, em 1986, relataram 4,93% (ROCHA,

2003). Em 1997, de acordo com os Boletins de Defesa Sanitária Animal, a

prevalência em Goiás era de 5,9% enquanto que no Tocantins o índice foi de

3,30% (PAULIN & FERREIRA NETO, 2002). ACYPRESTE et al. (2002)

encontraram, um índice de positividade de 1,74% na microrregião de Goiânia, em

rebanhos leiteiros, utilizando a prova de aglutinação em placa com antígeno

acidificado tamponado (AAT) e ROCHA (2003) obteve 3,36% de prevalência,

numa amostragem de 10.738 bovinos, oriundas de várias regiões do Estado.

A leptospirose é uma doença infecto-contagiosa causada por bactérias

do gênero Leptospira. A doença é endêmica e a morbidade é bastante alta,

apesar da letalidade ser baixa. Trata-se de uma zoonose e o contágio pode ser

ambiental ou direto (CORRÊA & CORRÊA, 1992). Nos rebanhos bovinos, pode

68

determinar abortos, distúrbios reprodutivos (retenção de placenta e natimortos)

ou alterações congênitas. Infecções inaparentes podem ocorrer e comprometer a

eficiência reprodutiva do animal, provocando sub fertilidade (LILENBAUM et al.,

1995), além de perdas na produção de leite e problemas de mastites (HIGGINS

et al., 1980; PEARSON et al., 1980).

A susceptibilidade do rebanho bovino varia de acordo com alguns

fatores como idade, estado fisiológico, aptidão e densidade populacional (BROD

& FEHLBERG, 1992). No continente americano, os sorovares predominantes

nesta espécie são hardjo, pomona e gryppotyphosa (ELLIS, 1994). A prevalência

varia geograficamente, sendo os maiores índices registrados nos países tropicais,

que apresentam elevadas precipitações pluviométricas e possuem solos neutros

ou alcalinos (GUIMARÃES, 1982).

Em inquérito sorológico realizado por FAVERO et al. (2001),

avaliaram-se 31.325 amostras de bovinos procedentes de 21 estados brasileiros,

entre os anos de 1984 e 1997. A distribuição percentual de sororeagentes foi:

SP-35,0%, MG-41,3%, RS-28,9%, PR-26,0%, RJ-41,3%, GO-46,5%, MS-62,3%,

BA-61,0%, SC-25,2%, MA-58,2%, ES-62,2%, PA-38,3%, MT-62,5%, PI-56,0%,

CE-25,2%, DF-29,2%, TO-41,2%, AL-58,4%, PB-40,7%, RN-55,8% e RO-54,5%.

Jardim e colaboradores, em 1978 encontraram um índice de

ocorrência de 20,57% para leptospirose bovina, no primeiro estudo feito no

Estado de Goiás. Posteriormente, foram observados 81,9% de sororeagentes no

rebanho leiteiro da microrregião de Goiânia (JULIANO et al., 2000).

O objetivo desse trabalho foi avaliar a ocorrência de brucelose e

leptospirose bovina em criatórios de gado Curraleiro e investigar as variantes

sorológicas de Leptospira interrogans predominantes.

5.2 MATERIAL E MÉTODOS

Foram colhidas amostras de 569 animais, machos e fêmeas, com

idade entre 30 dias a mais de 48 meses, procedentes de seis propriedades,

selecionadas de acordo com os padrões de exploração característico da região e

na disponibilidade do proprietário em participar da pesquisa, sendo cinco no

69

Estado de Goiás (Municípios de Formoso, Caiçara, Pirenópolis, Roselândia e

Leopoldo de Bulhões) e uma no Estado do Tocantins (Município de Porto

Nacional).

Os proprietários ou os funcionários das propriedades responderam a

diferentes questões sobre o criatório e o rebanho, elaboradas e aplicadas sob a

forma de questionários fechados com base nas orientações sugeridas por

THRUSFIELD (1990).

Para a realização dos testes foi utilizado soro sanguíneo. O sangue foi

colhido por venopunção jugular em tubo sem anti-coagulante; centrifugado após

retração do coágulo, o soro foi separado em alíquotas e congelado a –20oC até o

momento da realização dos testes laboratoriais.

Para detecção de anticorpos anti-Brucella abortus foi realizada a prova

de soroaglutinação com antígeno acidificado tamponado (AAT, Instituto de

Tecnologia do Paraná - Tecpar, Curitiba, Paraná), no Laboratório do Setor de

Medicina Preventiva da Escola de Veterinária da UFG, seguindo a recomendação

do MAPA (BRASIL, 2005).

A detecção de anticorpos anti-Leptospira spp foi realizada pelo

método de soroaglutinação microscópica (SAM), em 236 amostras, diluídas de

1:100 a 1:800, no Laboratório de Leptospirose do Setor de Medicina Preventiva

da Escola de Veterinária da UFG, seguindo protocolo proposto por SANTA ROSA

(1970). Como antígenoutilizaram-se cepas vivas de leptospiras, mantidas em

meio de EMJH no mesmo laboratório, dos seguintes sorovares: bratislava,

castellonis, canicola, grippotyphosa, hebdomadis, icterohaemorrhagiae, pomona,

pyrogenes, hardjo, wolffi, shermani e tarassovi.. O maior título que apresentou

reação foi considerado o sorovar prevalente para cada animal. Quando ocorreram

aglutinações para vários sorovares com a mesma titulação, em um mesmo

indivíduo, considerou-se o fato como co-aglutinações.

Como um mesmo indivíduo pode apresentar aglutinações para vários

sorovares, considerou-se o maior título de anticorpos para cada animal,

independente do sovovar. Para avaliar a freqüência dos sorovares não foi levado

em consideração o título de anticorpos.

A estatística descritiva simples foi utilizada no cálculo da freqüência de

animais positivos, em diferentes faixas etárias, para cada propriedade. O teste de

70

qui-quadrado foi aplicado, com base em SAMPAIO (1998), para mostrar

eventuais diferenças entre as freqüências encontradas para as propriedades

amostradas e para avaliar se houve diferença na freqüência entre as faixas

etárias dentro de todas as propriedades agrupadas.

5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os rebanhos amostrados no presente estudo possuiam características

produtivas diferenciadas. Todos os criatórios utilizavam sistema de criação

pecuária extensiva, baixa lotação de pastagens e o rebanho por habitar as

invernadas de pastagens nativas, matas ou campos sujos, mantinha um relativo

isolamento dos demais animais domésticos, principalmente nas propriedades de

Formoso, Caiçara e Porto Nacional, que possuíam maior extensão territorial que

as demais. O fornecimento de água em todas as propriedades era de água

corrente. Em nenhuma delas era utilizada estação de monta ou realizados

registros produtivos. As propriedades de Formoso, Caiçara e Porto Nacional eram

voltadas a pecuária de corte; enquanto Pirenópolis, Roselândia e L. de Bulhões a

atividade pecuária mista, porém com peculiaridades como caprinocultura, turismo

rural e bovinocultura de leite, respectivamente. Constatou-se como característica comum entre todos os criatórios o

fato da exploração econômica do rebanho Curraleiro restringir-se ao consumo

local da carne ou venda de animais para tração de carros de boi. Os animais

eram criados, principalmente, em pastagens nativas, junto a reservas de matas.

O contato dos Curraleiros com os demais animais da propriedade era esporádico

e resultante da falta de cercas e que a reposição de animais nos rebanhos é

muito restrita. Segundo as respostas obtidas pelos questionários, a exploração

comercial do gado Curraleiro ocorria em Leopoldo de Bulhões, que vendia

animais para carro de boi e em Roselândia, que utilizava animais para

ecoturismo. Os animais eram abatidos regularmente para consumo de carne

pelos moradores das fazendas e somente o criatório de Porto Nacional mandava

esporadicamente, animais para abate em frigorífico. Quanto aos aspectos

71

sanitários foram dadas informações de que a mortalidade inespecífica de animais

jovens foi estimada em 1 a 2 %; os animais adultos adoeciam raramente. O

calendário imunoprofilático incluía vacinações contra aftosa, raiva, brucelose e

clostridioses, com exceção de Pirenópolis, que vacinava somente contra raiva e

aftosa. Não houve relatos de surtos de aborto, as informações obtidas mostraram

de que a ocorrência de diarréias em bezerros era comum, mas os animais se

recuperavam sem necessidade de tratamento medicamentoso. A freqüência de animais soropositivos para brucelose bovina, de

monstrada na Tabela 1, foi 1,23%. Este resultado foi bastante próximos aos

valores encontrados por ACYPRESTE et al. (2002), que obtiveram 1,74% em

rebanhos leiteiros e ROCHA (2003), que encontrou prevalência de 1,36% em

rebanhos de corte. Porém menor do que os encontrados por esse mesmo autor

em rebanhos leiteiros (2,55%) e em animais com aptidão produtiva mista (4,33%). TABELA 1- Número e frequência de positivos para brucelose bovina, na prova de aglutinação com

antígeno acidificado tamponado (AAT), em animais da raça Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005

Positivos Propriedade Total de amostras Nº %

P. Nacional 120 2 1,66 Formoso 149 3 2,01 Caiçara 73 1 1,36 Pirenopolis 92 1 1,08 Roselândia 49 0 0,00 L.. Bulhões 86 0 0,00 Total 569 7 1,23

O índice de positividade observado, associado aos fatores

anteriormente descritos e a vacinação sistemática dos animais (somente

Pirenópolis não pratica a vacinação contra brucelose) devem ter favorecido o

controle dessa enfermidade nos rebanhos, hipótese respaldada nas

recomendações de BRASIL (2005), que incluem o controle da enfermidade

apoiado basicamente em ações de vacinação de fêmeas, diagnóstico e

eliminação dos animais positivos. Medidas complementares, como o controle de

trânsito dos animais de reprodução e outros procedimentos que visam diminuir a

dose de desafio, também são muito importantes e ressalta-se que, inicialmente

deve-se reduzir a prevalência com um bom programa de vacinação para

72

gradativamente aumentar as ações de diagnóstico e a obtenção de propriedades

livres.

O fato de algumas propriedades amostradas não apresentarem

ocorrência de bovinos soropositivos reforça a possibilidade de obtenção de

rebanhos livres da doença. Por isso torna-se importante conhecer a

soroepidemiologia da brucelose e a população em que as ações deverão ser

desenvolvidas para escolher a melhor estratégia para implantá-las (BRASIL,

2005).

A freqüência média de sororeagentes para leptospirose bovina foi de

30,93%, tendo Caiçara apresentado 8,21% e Roselândia 59,18%, com diferença

significativa (p<0,01) destas duas propriedades em relação às outras amostradas

(Tabela 2). Estes resultados estão próximos, mas abaixo da prevalência descrita

por FAVERO et al. (2001) para GO (46,50%) e TO (41,20%) e são muito menores

do que os 81,90% de soropositividade, citados por JULIANO et al. (2000), que

trabalharam com amostras de rebanhos leiteiros na microrregião de Goiânia-GO.

Esta inferioridade dos índices encontrados no presente trabalho poderia estar

associada ao sistema de produção, já que o rebanho Curraleiro é aracterizado

como pecuária extensiva de corte. Entretanto, outros autores não encontraram

associação entre a freqüência de sororeagentes e o sistema produtivo do

rebanho (PRESCOTT et al., 1988, ALONSO-ANDICOBERRY, 2001b;

LILENBAUM & SOUZA, 2003).

TABELA 2- Frequência de reagentes e não reagentes na prova de soroaglutinação microscópica

(SAM), para detecção de anticorpos anti-Leptospira sp, em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005

Positivos Propriedade Total de amostras Nº %

P. Nacional 120 *35 29,16 Formoso 149 *50 33,55 Caiçara 73 6 8,21 Pirenopolis 92 *32 34,78 Roselândia 49 29 59,18 L.. Bulhões 86 *24 33,72 Total 569 176 30,93

X2 = 24,08 e p< 0,01 *Não houve diferença significativa entre estas propriedades X2 = 2,32 e p> 0,05

73

Deve-se destacar que dentre os fatores que interferem na prevalência

da leptospirose bovina estão condições ambientais, tais como temperatura

próxima de 25oC, alta umidade e solo com pH neutro ou ligeiramente alcalino

com presença de matéria orgânica (CORRÊA & CORRÊA, 1992), que

determinam maior tempo de sobrevivência do agente As propriedades avaliadas

neste trabalho encontram-se distribuídas em regiões de bioma Cerrado, no qual

segundo COUTINHO (2000) o clima predominante é o tropical sazonal de inverno

seco, com temperatura média anual em torno de 22-23ºC, sendo que as máximas

absolutas mensais podem chegar a mais de 40ºC e as mínimas atingem próximo

de zero nos meses de maio, junho e julho. A precipitação média anual fica entre

1200 e 1800 mm e no período de maio a setembro os índices pluviométricos

mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero, resultando em uma

umidade relativa do ar próxima de 15% nos meses de julho e agosto, condições

que associadas à alta incidência solar, provocam grande quantidades de

queimadas. O solo é em geral arenoso na superfície, com capacidade de

retenção de água e teor de matéria orgânica baixa (3% a 5%) e o pH é

predominantemente ácido. Tais condições ambientais são desfavoráveis à

sobrevivência das leptospiras, o que pode constituir um dos fatores que

interferiram na freqüência de animais reagentes.

Os resultados obtidos permitiram observar um aumento na ocorrência

de sororegentes, com o avançar da idade, exceto em Caiçara, com diferença

significativa (p<0,01) entre as faixas etárias (Tabela 3). Resultados semelhantes

foram descritos na literatura, justificados principalmente pela oportunidade dos

animais em terem contato com o agente e ao índice de infecção ambiental

(PRESCOTT et al., 1988; ALONSO-ADICOBERRY et al., 2001a). O fato de

rebanhos curraleiros serem criados em regime extensivo, em pastagens com

baixa lotação e com fonte de água corrente, deve minimizar o contato entre os

hospedeiros susceptíveis e a fonte de infecção, restringindo as possibilidades de

disseminação da doença, e por isso animais mais velhos teriam maior

oportunidade de se infectarem e apresentarem soropositividade.

74

TABELA 3-Frequência de reagentes na prova de soroaglutinação microscópica (SAM), para detecção de anticorpos anti-Leptospira sp, por faixa etária, em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005

Reagentes Nº 0 a 1 ano 2 a 3 anos >3,1 anos Total Propriedade

amostras Nº % Nº % Nº % Nº % P. Nacional 120 1 2,85 6 17,14 28 80,00 35 29,16Formoso 149 0 0,00 16 32,00 34 68,00 50 33,55Caiçara 73 3 50,00 00 0,00 03 50,00 06 8,21 Pirenópolis 92 2 6,25 10 31,25 20 62,50 32 34,78Roselândia 49 0 0,00 13 44,82 16 55,17 29 59,18L. Bulhões 86 0 0,00 01 4,16 23 95,8 24 33,72Total 569 6 3,40 46 26,13 124 70,45 176 30,93

X 2= 24,88 e p< 0,01

A variação na ocorrência de títulos de anticorpos anti-leptospiras está

expressa na Tabela 4. Amostras com títulos de 1:200 foram predominantes nessa

população. A ocorrência de títulos de anticorpos em diluições de 1:100 e 1:200

podem indicar que a enfermidade ocorre de forma enzoótica (JULIANO et al.,

2000) principalmente onde não houve relatos de sinais clínicos sugestivos de

leptospirose na população. Esta situação assemelha-se com as condições em

que encontram-se os criatórios de Curraleiros amostrados. TABELA 4-Freqüência de títulos de anticorpos anti-Leptospira sp, na prova de soroaglutinação

microscópica (SAM), em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005

Título de anticorpos Propriedade 1/100 1/200 1/400 1/800

Nº % Nº % Nº % Nº % Porto Nacional 07 20,00 13 37,14 09 25,71 06 17,1 Formoso 14 28,00 18 36,00 09 18,00 09 18,00 Caiçara 01 16,66 02 33,33 02 33,33 01 16,66 Pirenópolis 03 9,37 08 25,00 10 31,25 11 34,37 Roselândia 09 31,03 15 51,72 03 10,34 02 6,89 L. Bulhões 09 37,5 09 37,5 03 12,5 03 12,5 Total 43 24,43 65 36,93 36 20,45 32 18,18

A ocorrência de aglutinações para L. hardjo e L. wolffi, considerando

títulos de anticorpos acima de 1:100, foi nitidamente maior que para outros

sorovares, seguido pelos sorovares hebdomadis e grippotyphosa (Tabela 5). A

predominância do sorovar hardjo nos rebanhos estudados está de acordo com os

resultados obtidos em outros estudos realizados, que afirmaram ser a espécie

75

bovina o reservatório dessa variedade de Leptospira spp e a principal

responsável pela disseminação do agente no rebanho (PRESCOTT et al., 1988;

ELLIS et al., 1994; LIENBAUM et al., 1995; LANGONI et al., 2000; FAVERO et

al., 2001; ARAÚJO et al., 2005).

TABELA 5-Freqüência de aglutinação de sorovares em animais reagentes na prova de

soroaglutinação microscópica (SAM), para detecção de anticorpos anti-Leptospira sp, em rebanhos de gado Curraleiro, colhidos em propriedades dos Estados de Goiás e Tocantins, Brasil, 2005

AGLUTINAÇÕES SOROVARES Nº % bratislava 04 1,11 castellonis 04 1,11 canicola 04 1,11 gryppotiphosa 39 10,86 hebdomadis 46 12,81 icterohaemorrhagiae 05 1,39 pomona 09 2,50 pyrogenes 08 2,22 hardjo 116 32,31 wolffi 116 32,31 shermani 04 1,11 tarassovi 04 1,11

As co-aglutinações entre os sorovares hardjo e wolffi foram bastante

freqüentes, tendo sido observadas em 100% dos soropositivos para estes

sorovares (dados não apresentados). Este evento pode ser explicado pela

estreita afinidade antigênica de sorovares pertencentes ao mesmo sorogrupo,

como no caso destes sorovares, predispondo a reações cruzadas entre os

mesmos (ALONSO-ANDICOBERRY, 2001a; FAVERO et al., 2001; LILENBAUM

& SOUZA, 2003, ARAÚJO et al., 2005).

A infecção de bovinos pode ser classificada em dois grupos, baseados

no agente etiológico: o primeiro grupo seria infectado por cepas adaptadas e

mantidas pela espécie, como o sorovar hardjo; e o segundo grupo seriam

infecções acidentais por sorovares onde o reservatório natural seriam outras

espécies animais e neste caso as práticas de manejo seriam importantes na

infecção de bovinos susceptíveis (ELLIS, 1994). Esta afirmativa parece ser

aplicável aos rebanhos amostrados no presente trabalho, nos quais sorovares

hardjo e wolffi estariam sendo mantidos e disseminados pelos bovinos da

população e por isso apresentaram maior ocorrência.

76

Os demais sorovares, como hebdomadis e gryppothiphosa, que foram

menos prevalentes nos rebanhos amostrados, teriam sua ocorrência dependente

de espécies da fauna local e de contatos esporádicos dos bovinos com esses

reservatórios, e, por isso, foram detectados com menor freqüência. Ao

investigarem a soroprevalência de anticorpos anti-Leptospira spp em 328

amostras de animais silvestres de diferentes espécies, provenientes de MG, SP e

RJ, CORDEIRO et al. (1984) detectaram animais reagentes em seis espécies de

roedores e duas espécies de marsupiais. Os sorovares encontrados com maior

freqüência foram pomona, icterohaemorrhagiae, tarassovi e grippotyphosa. Já

GIRIO et al. (2004) identificaram alguns cervídeos sororeagentes para wolfii,

hardjo, mini, pomona e icterohaemorrhagiae e bratislava em amostras

provenientes do Pantanal Sul Matogrossense. Deve-se ressaltar que não há

estudos de soroprevalência para Leptospira spp na fauna silvestre do Cerrado da

região amostrada no presente estudo, sendo que seu conhecimento seria

fundamental na avaliação do impacto dessas populações na epidemiologia da

leptospirose bovina em sistemas de produção pecuária extensiva.

Os resultados encontrados, corroboraram as afirmativas de autores

como LANGONI et al. (2000), LILENBAUM & SOUZA (2003) e LOBO et al. (2004)

de que os estudos soroepidemiológicos seriam fundamentais para estabelecer

estratégias de controle da leptospirose bovina, pois podem orientar na utilização

de sorovares prevalentes para a fabricação de vacinas, indicar a necessidade de

realização de quarentena no momento da introdução de animais de diferentes

regiões ou recomendar o tratamento de possíveis portadores renais em fase de

leptospirúria.

5.4 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados encontrados, pode-se concluir que a

positividade para brucelose apresentou-se dentro da expectativa para os Estados

de Goiás e Tocantins, sendo que a ocorrência de rebanhos sem animais positivos

sugere que a aplicação de estratégias de controle pode garantir a existência de

criatórios livres da doença.

77

A freqüência e título de anticorpos anti-Leptospira spp, embora

crescente com o avanço da idade, foi menor do que encontradas em outros

estudos realizados nos Estados de Goiás e Tocantins. Os fatores

edafoclimáticos, o tipo de fornecimento de água e a baixa lotação das pastagens

podem ter interferido em tal situação. Os sorovares mais prevalentes foram

hardjo e wolffi reforçando a importância da espécie bovina na manutenção e

disseminação desses sorovares como causadores da leptospirose. A ocorrência

de positividade para outros sorovares como hebdomadis e grippotyphosa sugere

a participação de espécies silvestres na transmissão da leptospirose bovina.

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81

CAPÍTULO 6

HEMOGRAMA E FUNÇÃO FAGOCITÁRIA DE LEUCÓCITOS DE VACAS DE

RAÇAS NATURALIZADAS (Bos taurus) E MESTIÇAS (Bos taurus X Bos

indicus)

Raquel Soares Juliano1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2, Maria Imaculada

Muniz Junqueira3, Adriana Reis Bittencourt Silva4, Saura Nayane de Souza4;

Helton Freires de Oliveira5, Shirley Claudino Pereira Couto6

1- Médica Veterinária, Pós-Graduação em Ciência Animal da EV/UFG. [email protected]

2- Médica Veterinária, Profa. Dra. da EV/UFG. [email protected]

3- Médica, Profa. Dra. da FAMED/UnB. [email protected]

4- Graduação em Medicina Veterinária da EV/UFG. [email protected],

[email protected]

5- Técnico do Laboratório de Patologia Clínica do HV/UFG. [email protected]

6- Técnica do Laboratório de Imunologia Celular da FM/ UnB. [email protected]

RESUMO Com o objetivo de avaliar os parâmetros hematológicos e a função fagocitária de

leucócitos de bovinos, por meio de uma microtécnica padronizada para seres

humanos, foram utilizadas 31 vacas adultas, 16 de raças naturalizadas (G1) e 15

mestiças ¾ Nelore X Simental (G2). Foram colhidas amostras de sangue para

realização de hemograma e avaliação in vitro de aderência, fagocitose e redução

de nitroblue tetrazolium (NBT). Os resultados revelaram que o G2 teve valores

médios de bastonetes e eosinófilos acima dos valores de normalidade e alguns

valores do hemograma foram significativamente maiores (p<0,05) que o G1. O

G1 apresentou maior aderência de neutrófilos que o G2 (p<0,05). A fagocitose de

leveduras sensibilizadas (S) foi maior que não sensibilizadas (NS) no G1 e G2. A

ingestão de partículas avaliadas por meio do índice fagocitário foi mais

homogênea no G1 e a porcentagem de redução de NBT foi maior em ambos os

82

grupos do que os valores descritos na literatura. Entretanto, não houve diferença

entre os grupos e as médias encontradas no teste estimulado com leveduras

(NBT-E) foram menores que no teste não estimulado (NBT-NE). Concluiu-se que

vacas mestiças apresentaram variações hematológicas em relação a vacas

naturalizadas, a via de ativação da fagocitose pelos receptores de Fc e

complemento foi importante em ambos os grupos e a ativação via receptores de

lectinas apresentou um diferencial nos animais de raças naturalizadas. A redução

de NBT foi semelhante em ambos os grupos testados e apresentaram

porcentagens médias maiores quando não estimuladas por leveduras.

Palavras-chave: aderência, bovino, fagócitos, metabolismo oxidativo, raças

naturalizadas.

ABSTRACT With the aim to evaluate hematological and phagocytosic functions in bovine white

blood cells, and by using a standard human microtechnique, 31 adult cows were

studied, 16 of native breeds and 15 of mixed ¾ Nelore X Simental breeds. Blood

samples were collected to undergo hemogram, in vitro evaluation of adherence,

phagocytosis and nitroblue tetrazolium (NBT) reduction. Results showed that G2

had average band neutrophils and eosinophils values above normality and

significantly more erythrocytes, hemoglobin and globular size than G1 (p<0,05).

G1 had a higher neutrophil adherence than G2 (p<0,05). Phagocytosis of

sensitive yeast (S) was higher than the non-sensitive one (NS) in both groups.

The ingestion of yeast particles which were assessed by the phagocytosic index

was more homogeneous in G1 and NBT’s reduction rate was higher in both

groups than the values which are cited in the literature. However, there were no

differences between groups and averages were higher in the test without

stimulated NBT reduction than in the test with stimulated NBT reduction, in both

groups. In conclusion, cows of mixed breed revealed hematological differences in

relation to native breeds, Fc and complement receptors were important to

phagocytosis activation in G1 and G2 and lectins receptors revealed a different

83

action in native breeds. NBT reduction was similar in both groups and showed

higher average percentages when no stimulus was made by sensitive yeast.

Key words: adherence, bovine, phagocytes, oxidative metabolism, native breeds

6.1 INTRODUÇÃO

A fagocitose é um mecanismo de defesa da imunidade inata que

envolve etapas de adesão, ingestão e destruição de partículas antigênicas por

células denominadas fagócitos. A partir da interação da célula com o patógeno e

na dependência do tipo de partícula, ocorre uma série de eventos com a

participação de sinais intracelulares que desencadeiam alterações no

citoesqueleto, na membrana, iniciam-se mecanismos microbicidas, há produção

de mediadores químicos, ativação de apoptose e a apresentação do antígeno ao

sistema imunológico adaptativo (UNDERHILL & OZINSKY, 2002a).

Uma característica marcante da imunidade inata é a capacidade de

reconhecer uma grande diversidade de patógenos, utilizando os receptores para

padrões moleculares de patógenos, além de receptores para opsoninas como os

componentes do sistema do complemento e os receptores para a fração Fc da

imunoglobulina G (UNDERHILL & OZINSKY, 2002b). Os sinais necessários para

a ingestão da partícula e o arranjo das proteínas do citoesqueleto no fagossoma

dependem do receptor que foi ativado: receptores para porção Fc de

imunoglobulina (FcR), receptores para complemento (CR) ou receptores para

manose e fucose (MR). A utilização de cada tipo de receptores como via de

ativação da fagocitose também resulta na produção de diferentes mediadores

químicos do processo inflamatório (ADEREM & UNDERHILL, 1999).

É indiscutível a importância da fagocitose na proteção do organismo

contra patógenos e a complexidade de cada etapa desse evento não permite a

elucidação completa de todos os mecanismos e seus componentes, mesmo

dispondo de métodos laboratoriais avançados para avaliação do sistema

imunológico.

84

Os métodos utilizados para avaliação das etapas de fagocitose

necessitam, inicialmente, realizar a separação dos leucócitos, em geral por

centrifugação em gradiente de densidade, com camadas de hypaque ficoll ou

percoll (MOREL et al., 1985) seguido da lavagem em tampão fosfato PBS

(RAINARD, 1986). Após a esse procedimento inicial, as células podem ser

testadas por métodos isolados para avaliar a função fagocitária em cada uma das

etapas. A aderência é estudada pela contagem do número de linfócitos que

atravessam uma coluna de fios de náilon padronizada para essa finalidade

(CLARK et al., 1979) ou pela investigação de receptores celulares de adesão por

meio de imunocitoquímica (SMITS et al., 1998). A ingestão de partículas pode ser

investigada em ensaio utilizando microplacas, por uma metodologia descrita por

RAINARD, (1986) e a etapa final da fagocitose, a explosão respiratória pode ser

avaliada indiretamente pela redução de nitroblue tetrazolium (NBT) utilizando

microscópio óptico na visualização das células contendo formazan no citoplasma

(POLI & MANTELLI, 1974) ou quantificando a redução por leitura da densidade

óptica pelo método de ELISA (PICK, 1986).

MUNIZ-JUNQUEIRA et al. (2003) padronizaram para humanos uma

microtécnica de avaliação da fagocitose in vitro, destacando como vantagens, em

relação às técnicas convencionais: a sua capacidade de detectar falhas primárias

e secundárias na fagocitose, utilizando um único teste, a facilidade e rapidez na

execução, o baixo custo e a menor manipulação das células, o que

conseqüentemente aumenta a confiabilidade do teste.

As raças bovinas naturalizadas chegaram ao Brasil com os

colonizadores portugueses e desde então vêm sofrendo um processo de seleção

natural e adaptação a condições ambientais e nutricionais desfavoráveis

(CARVALHO & GIRÃO, 1999). Sua resistência às enfermidades que mais

frequentemente afetam os rebanhos bovinos é popularmente conhecida e

divulgada, porém desconhece-se por completo a fisiologia do sistema

imunológico desses animais.

Este trabalho teve como objetivo, realizar a avaliação hematológica e

funcional in vitro das etapas de aderência, ingestão e explosão respiratória do

processo de fagocitose de leucócitos, em vacas de raças naturalizadas e

mestiças.

85

6.2 MATERIAL E MÉTODOS

6.2.1 Animais

Utilizou-se um total de 31 animais, pertencentes ao rebanho da

Fazenda Sucupira / EMBRAPA-CENARGEN, que foram divididos em dois

grupos: O grupo 1 (G1) foi formado por 16 fêmeas bovinas das seguintes raças

naturalizadas: Curraleiros (n=10), Crioulo Lageano (n=3), Mocho Nacional (n=2) e

Junqueira (n=1), com idades variando entre 3,5 e 15 anos. O grupo 2 (G2) foi

constituído por 15 vacas mestiças 3/4 Nelore X Simental, 3,5 anos de idade.

Todos os animais encontravam-se não gestantes e estavam sendo submetidas

às mesmas condições ambientais e de manejo.

As amostras de sangue para os testes de fagocitose foram obtidas

durante cinco dias consecutivos e, no último dia, colheram-se também amostras

para o hemograma e o exame de fezes.

6.2.2 Colheita e processamento das amostras

A) Hemograma e exame de fezes

De todos os animais do experimento, foram obtidos 5,0 ml de sangue

por venopunção da jugular em tubo de vácuo com EDTA para o hemograma. A

contagem das células sanguíneas foi determinada pelo método automático

utilizando-se o aparelho ABCvet (Animal Blood Counte – Horiba ABX – São

Paulo), adaptado com o cartão próprio de leitura para a espécie bovina. As fezes

foram colhidas diretamente do reto com luvas plásticas.

B) Testes de fagocitose

As amostras de sangue total foram colhidas por venopunção jugular em

tubo de vácuo heparinizado (5ml), acondicionados imediatamente em isopor com

gelo e levados ao laboratório, em um prazo máximo de uma hora. Para garantir a

rapidez de execução dos exames obtiveram-se, em cada período do dia (manhã

e tarde), seis amostras.

Os procedimentos para realização da aderência, do teste de fagocitose

e do teste de redução do nitroblue tetrazolium (NBT), usados para este estudo

86

foram padronizados, validados para espécie humana e descritos por MUNIZ-

JUNQUEIRA et al. (2003) e MUNIZ-JUNQUEIRA et al. (2004), respectivamente.

As principais etapas estão descritas a seguir:

B1) Aderência de fagócitos

Foram colocados 40µl do sangue de cada animal em lâminas de

microscopia contendo oito escavações de 7mm de diâmetro delimitada com epóxi

(Figura 1). As preparações foram incubadas em câmara úmida a 37ºC por 45

minutos e em seguida lavadas delicadamente com salina tamponada fosfato

(PBS), pH 7,2 a 37ºC, para retirar as células não aderidas (hemácias e linfócitos).

As lâminas foram secas em vento quente, fixadas com metanol absoluto por 1

minuto e contra-coradas com Giemsa a 10% por 10 minutos.

FIGURA 1 - Lâmina de microscopia contendo escavações

delimitadas com epóxi, utilizadas na microtécnica para avaliação in vitro da função fagocitária de bovinos

Para obter o número de fagócitos que aderiram à lâmina, realizou-se a

contagem do total de neutrófilos, eosinófilos e monócitos que estavam aderidos

em uma área equivalente a 10% da área total da escavação, para todos os

animais dos dois grupos experimentais. Obteve-se a média para cada um dos

grupos estudados.

87

B2) Preparo das leveduras para uso

As leveduras utilizadas eram da solução de estoque do Laboratório de

Imunologia Celular da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília

(FM/UnB) e foram preparadas segundo a técnica de Lachman & Hobart (1978)

Desta suspensão foram obtidos 50µl, que foram lavados por centrifugação com

PBS e ressuspensas em 1000 µl de PBS (pH 7,2). Foi feita a contagem das

leveduras em câmara de Neubauer e a diluição em Hanks-tris (Sigma, St. Louis,

MO, USA) para obter-se 62.000 leveduras em 20µl de solução, correspondendo à

proporção de 45 leveduras por fagócito aderido e 250.000 leveduras em 20µl de

solução correspondendo à proporção de 180 leveduras por fagócito aderido. A

partir desta suspensão foram preparadas as leveduras não sensibilizadas e

sensibilizadas, nas proporções acima definas para a realização dos testes de

fagocitose e NBT.

A suspensão de leveduras não sensibilizadas (NS) foi incubada em

banho-Maria, a 37ºC por 30 min, com soro fetal bovino (SFB) previamente

inativado a 56ºC por 30 min, a 10%, em Hanks-tris (Sigma, St. Louis, MO, USA).

A suspensão de leveduras sensibilizadas (S) foi preparada pela

incubação das mesmas em banho-Maria a 37ºC, por 30 minutos, com 10% de

plasma fresco dos próprios animais dos experimentos, objetivando opsonisar as

leveduras com os componentes do complemento e anticorpos presentes no soro

fresco dos animais.

B3) Teste de fagocitose

Para o teste de fagocitose foram realizados os procedimentos iniciais

da etapa de aderência, até a lavagem com PBS (pH 7,2) para obtenção dos

fagócitos. Em seguida, 20µl de suspensão de leveduras S e NS (Figura 2) foram

pipetadas em duplicata sobre as escavações contendo os fagócitos aderidos. As

lâminas foram incubadas em câmara úmida, a 37ºC por 30 minutos.

Posteriormente, foram lavadas com PBS (pH 7,2) e pingou-se uma gota solução

Hanks-tris com 30% de SFB. As lâminas foram secas com ar quente, fixadas com

metanol absoluto por 1 minuto, e coradas com Giemsa a 10% por 10 minutos.

88

A contagem de 100 neutrófilos, 100 monócitos, e 100 eosinófilos foi feita

em microscópio óptico (aumento de 1000X), observando quantas células

fagocitaram e quantas leveduras foram fagocitadas por célula. Nos casos em que

ocorreu baixa percentagem de células aderidas e não for possível contar 100

células para cada tipo de fagócito a os valores foram calculados utilizando a

proporcionalidade.

O índice fagocitário (IF) foi obtido utilizando-se a seguinte fórmula:

IF=__nº de leveduras fagocitadas__ X % de fagócitos que fagocitaram nº de células que fagocitaram

FIGURA 2- Modelo de lâmina utilizada para o teste de fagocitose in

vitro, contendo oito escavações e os locais de pipetagem das diluições de leveduras (1/45 e 1/180) sensibilizadas (S) e não sensibilizadas (NS)

B4) Teste de NBT

A etapa inicial segue o protocolo descrito para a aderência de

fagócitos, até o momento de lavagem com PBS (pH 7,2). Em seguida pipetou-se

20µl de solução de NBT (Sigma, St. Louis, MO, USA) a 0,05% em Hanks-tris em

todos os círculos e 20µl de leveduras S na diluição de 1:45 em metade dos

círculos (Figura 3). As lâminas foram novamente incubadas em câmara úmida a

37ºC por 20 minutos. Posteriormente, foram lavadas com PBS (pH 7,2) e pingou-

se uma gota solução Hanks-tris com 30% de SFB. As lâminas foram secas com

ar quente, fixadas com metanol absoluto por 1 minuto e coradas com safranina a

0,05% por 5 minutos.

As preparações foram examinadas ao microscópio óptico, contando-se

200 células nas escavações que não foram estimuladas (NBT-NE) e outras 200

nas escavações que foram estimuladas com leveduras sensibilizadas (NBT-E).

Obteve-se dessa forma, a porcentagem de fagócitos que reduziram (R) e não

reduziram (NR) o NBT.

1/45 S

1/45 S

1/45 NS

1/45 NS

1/180 S

1/180 S

1/180 NS

1/180 NS

Identificação do animal

89

FIGURA 3 - Modelo de lâmina utilizada para o teste de redução de NBT in

vitro, contendo oito escavações, a diluição de leveduras (1/45) sensibilizadas (S) e os locais de pipetagem de NBT

As células contadas no teste NBT-E foram subdivididas em: reduziram

NBT e fagocitaram (RF), reduziram NBT e não fagocitaram (RNF), não reduziram

NBT e fagocitaram (NRF) e não reduziram NBT nem fagocitaram (NRNF).

Para a execução das provas de função fagocitária é fundamental

efetuar os procedimentos com rapidez, manter a umidade do ambiente, a

temperatura sempre próxima de 25ºC, o material muito limpo e as lâminas

desengorduradas.

6.2.3 Análise estatística

Foi realizada estatística descritiva, com o cálculo da média, desvio

padrão, mediana e coeficiente de variação (CV) dos resultados obtidos nas

diversas avaliações. As variáveis do hemograma, aderência, fagocitose e

redução de NBT foram analisadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov para

verificar a normalidade dos resultados e optou-se pelos testes de Mann &

Whitney ou Kruskall Wallis para dados não paramétricos, utilizando a mediana na

exposição gráfica dos resultados e teste de t para dados paramétricos, utilizando

a média na exposição gráfica dos resultados. Os indivíduos que apresentaram

valores muito distantes da maioria do grupo (outliers) foram demonstrados nos

gráficos e tabelas, mas excluídos da análise estatística. Utilizou-se o programa

GraphPad Prism Software (San Diego USA) para efetuar a análise estatística.

NBT

NBT

NBT

NBT

1/45 S NBT

1/45 S NBT

1/45 S NBT

1/45 S NBT

Identificação do animal

90

6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos hemogramas estão descritos na Tabela 1; os valores

encontrados para o G1 estavam dentro dos limites descritos por PAULA NETO

(2004) para animais da raça Curraleiro. O G2 apresentou valores de bastonetes e

eosinófilos acima dos limites citados por COSTA (1994) para a raça Nelore, além

de apresentar linfócitos atípicos na contagem diferencial de leucócitos. TABELA 1 - Valor médio (⎯X), desvio padrão (sd), mediana (med) e coeficiente de variação (CV)

das variáveis de hemograma em vacas de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)

Variável do hemograma Função G1 G2 ⎯X ± sd 7,70 ± 0,81 9,01 ± 0,77 Med 7,56 9,09

Hemácias x106/µ l

CV 10,52 8,57 ⎯X ± sd 11,68 ± 1,11 12,97 ± 1,20 Med 11,35 13,30

Hemoglobina g/dl

CV 9,49 9,22 ⎯X ± sd 39,21 ± 3,73 43,15 ± 3,85 Med 38,05 44,30

VG %

CV 9,51 8,92 ⎯X ± sd 10,69 ± 1,97 11,51 ± 2,68 Med 11,00 10,80

Leucócitos x103/µ l

CV 18,42 23,29 ⎯X ± sd 160,88 ± 75,08 253,93 ± 131,71 Med 128,00 246,00

Bastonetes /µ l

CV 46,67 51,87 ⎯X ± sd 2.783,19 ± 900,34 2.900,20 ± 768,02 Med 2595,50 2746,00

Segmentados /µ l

CV 32,35 26,48 ⎯X ± sd 1.232,94 ± 795,60 1.829,73 ± 1.204,76 Med 1044,00 1313,00

Eosinófilos /µ l

CV 64,53 65,84 ⎯X ± sd 6.127,56 ± 1405,94 5.962,80 ± 1335,53 Med 6257,50 5760,00

Linfócitos /µ l

CV 22,94 22,40 ⎯X ± sd 0,00 113,00 ± 19,20 Med 0,00 111,00

Linfócitos atípicos /µ l

CV 0,00 16,99 ⎯X ± sd 394,31 ± 266,06 510,47 ± 184,60 Med 282,00 460,00

Monócitos /µ l

CV 67,47 36,16 ⎯X ± sd 0,00 0,00 Basófilos /µ l Med 0,00 0,00 ⎯X ± sd 0,48 ± 0,21 0,50 ± 0,16 Med 0 0,45

Relação neutrofilo: linfócito

CV 43,69 32,15

Nos ruminantes, o compartimento medular de reserva de neutrófilos

segmentados é bastante pequeno. Diante de uma maior demanda de neutrófilos,

91

a medula óssea libera bastonetes e outros neutrófilos imaturos, caracterizando

um desvio à esquerda degenerativo, quando esse processo é acompanhado por

valores normais ou diminuídos de segmentados e linfócitos. Em bovinos essa

situação está associada a condições agudas de estresse, pode manter-se por

seis a 24 horas e, progressivamente, passa a ocorrer a liberação de neutrófilos

maduros pela medula (JAIN et al., 1989, JAIN, 1993). COPPO et al. (2000)

relataram que, em bovinos, o aumento de eosinófilos estava relacionado à

liberação de catecolaminas em situações de manipulação, contenção ou colheita

de sangue dos animais. A eosinofilia, nesse caso, pode ou não estar

acompanhada do aumento da quantidade de outros leucócitos no sangue

periférico, mas é essencialmente passageira e o quadro é denominado “síndrome

de luta e fuga” ou “alarme simpático”. Isso pode explicar os resultados

encontrados no presente trabalho, reforçado pelo fato de que o temperamento

dos animais do G2 ser visivelmente mais irritadiço durante os procedimentos de

colheita de material, além disso, a ausência de sinais clínicos e o resultado

negativo no exame parasitológico de fezes diminuem a chance de ocorrência de

condições patológicas responsáveis pela eosinofilia observada nestes animais.

A média dos valores da relação neutrófilos/linfócitos (N/L) não

apresentou diferença significativa (p>0,05) entre os dois grupos avaliados. O

calculo de N/L é um dos parâmetros utilizados para avaliar a condição de

estresse do animal, frente à determinada situação (ANDERSON et al., 1999).

MARTINEZ et al. (1993) relataram que valores acima de 0,5 foram indicativos de

estresse neurogênico (resultante da liberação de catecolaminas) em novilhas

Nelore e que a diminuição gradativa dessa relação ocorre quando os animais se

adaptam à situação estressante. Como a colheita de sangue para hemograma foi

realizada ao término do período de manejo dos animais, após cinco dias, o fato

de G1 apresentar N/L semelhante ao G2, porém, sem alterações significativas no

leucograma (eosinofilia e número de bastonetes aumentados), sugerem uma

menor condição de estresse neurogênico nos animais de raças naturalizadas.

O linfócito atípico ou reativo é um tipo celular que pode ocorrer em

condições leucêmicas e não leucêmicas, mas também pode ser resultante de

artefatos provocados pelo tempo de estocagem do sangue com anticoagulante

(JAIN, 1993). Os linfócitos atípicos foram encontrados em bovinos infectados pelo

92

vírus da leucemia bovina (BLV) em quantidades elevadas (BLOOM et al., 1979;

SOUTHWOOD et al., 1996) e casos de linfoma juvenil (HARBO et al., 2004)

Sendo assim, diante dos resultados encontrados no presente trabalho, sugere-se

que sua ocorrência no G2 tenha sido provocada pelo tempo de estocagem em

anticoagulante, até o momento da realização do esfregaço, já que ocorreu em

pequena quantidade, em alguns animais e não foi acompanhado de qualquer

outra alteração no hemograma.

O G2 apresentou valores significativamente maiores (p<0,05) de

hemácias, hemoglobina, VG e monócitos do que G1. Esses resultados foram

considerados característicos da raça, já que essas variáveis tiveram seus valores

dentre os valores de referência consultados (COSTA, 1994).

Na Tabela 2 foram descritos os valores médios encontrados no teste de

aderência dos fagócitos. O neutrófilo foi o tipo de fagócito que teve maior média

de células aderidas nas lâminas, em ambos os grupos avaliados, porém, no G1 a

aderência de neutrófilos foi significativamente maior que no G2 (p<0,05).

TABELA 2 - Valor médio, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) do número total de fagócitos, neutrófilos, monócitos e eosinófilos no teste de aderência, em vacas de raças nativas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)

Fagócito Função G1 G2

Média 1.916,5 865,3

Desvio padrão 1.509,0 569,3

Nº de células aderidas CV 78,7 65,8

Média 1.455,2 571,1

Desvio padrão 1.363,2 370,2

Nº de neutrófilos

CV 93,7 64,8

Média 120,4 108,6

Desvio padrão 130,7 72,1

Nº de monócitos

CV 108,6 66,4

Média 329,1 190,1

Desvio padrão 316,8 162,2

Nº de eosinófilos CV 96,3 85,3

As β2-integrinas (CD11a, b, c / D18) e a L-selectina (CD62L) são as

moléculas de adesão presentes nos polimorfonucleares (PMN) de bovinos e

responsáveis pelo processo de ligação com moléculas de adesão endotelial que

93

precede a diapedese dessas células, da circulação para o foco inflamatório. A β2-

integrina de maior expressão em PMN de bovinos é CD11b/CD18. O aumento de

glicocorticóides plasmático, seja pela aplicação de homônio adrenocorticotrófico

ou em condições fisiológicas como o periparto, diminui a expressão das

moléculas de adesão (LEE et al., 1998). Com base nessa informação pode-se

formular a hipótese de que as vacas mestiças Nelore X Simental, utilizadas no

presente trabalho, por apresentarem um temperamento mais sanguíneo, podem

ter respondido ao estímulo da colheita de sangue com um aumento momentâneo

nos níveis de cortisol, diminuindo então a capacidade de aderência dos

neutrófilos. Uma segunda hipótese sugerida é que a presença de uma maior

quantidade de bastonetes nesses animais tenha interferido no processo de

adesão in vitro. Esse fato pode ser justificado pela afirmativa de ANDERSON et

al. (1981) os quais afirmaram ser a atividade de aderência e a quimiotaxia de

neutrófilos segmentados duas vezes maiores que as de bastonetes, por

apresentarem maior quantidade de ATP.

Os resultados obtidos no teste de fagocitose foram apresentados na

Tabela 3. As médias dos índices fagocitários (IF) foram maiores quando as

células estiveram incubadas com leveduras S, nas duas proporções de leveduras

(1/45 e 1/180), para ambos os grupos, sugerindo que a fagocitose ativada por

RFc e CR é bastante importante nesses animais.

O primeiro evento que ocorre antes do processo de fagocitose, é o

contato, o reconhecimento do patógeno. O reconhecimento antigênico inicia-se

com o processo de opsonização que pode ocorrer pela porção Fab das

imunoglobulinas (IgM e IgG2) e pela ligação de suas porções Fc aos receptores

de membranas dos PMN (RFc). O componente do complemento, denominado

C3b também é capaz de realizar a opsonização de partículas e ligar-se aos

receptores CR1 dos PMN de bovinos, a expressão de CR1 é regulada pela

produção de mediadores inflamatórios (HOWARD et al., 1980; DI CARLO et al,

1996). WORKU et al. (1994) descreveram a expressão de RFc para IgM e IgG2

em PMN de bovinos durante o processo de fagocitose e ressaltaram que muitas

substâncias, inclusive as endotoxinas bacterianas são capazes de interferir na

expressão desses receptores e alterar o processo de fagocitose, demonstrando

que sua dinâmica de controle está relacionada a uma série de fatores externos.

94

Essa complexidade de substâncias que interferem na fagocitose pode explicar a

grande diversidade de valores encontrados nos grupos estudados e a

necessidade de maiores investigações da participação dessas substâncias nos

processos de imunidade inata de bovinos.

TABELA 3-Valores médios do índice fagocitário (IF) total e diferencial de fagócitos em duas concentrações de leveduras (1/45 e 1/180), sensibilizadas (S) e não sensibilizadas (NS), em vacas de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)

G1 G2 IF

Valores 1/45 S 1/45NS 1/180S 1/180NS 1/45 S 1/45NS 1/180S 1/180NS

Média 19,50 11,11 20,98 6,56 75,69 4,17 29,81 5,32

DP 13,13 18,94 32,90 11,40 180,13 8,30 45,71 12,67

IF total

CV 67,37 170,50 156,84 173,86 237,97 199,00 153,37 238,02

Média 27,88 20,54 35,99 10,42 145,21 5,73 62,52 6,13

DP 13,53 24,00 41,78 14,82 291,06 8,89 65,19 7,06

IF de neutrófilos

CV 48,55 116,82 116,10 142,21 200,44 155,04 104,27 115,16

Média 16,39 9,44 14,16 4,78 25,77 3,06 16,18 8,97

DP 11,17 19,01 24,87 10,06 36,41 8,65 17,46 20,39

IF de monócitos

CV 68,2 201,4 175,6 210,3 141,3 282,8 107,9 227,3

Média 14,22 3,35 12,79 4,46 61,15 4,00 10,72 0,87

DP 10,85 4,97 25,82 7,90 98,80 7,90 16,67 1,60

IF de eosinófilos CV 76,30 148,48 201,90 176,93 161,58 197,53 155,47 184,34

Animais do G2 apresentaram valores médios de IF maiores que do G1

(Tabela 3), porém não houve diferença estatística entre os grupos, exceto quando

submetidos ao desafio com leveduras 1/45 NS. Considerando que o coeficiente

de variação foi muito elevado, torna-se mais adequada a representação gráfica

da distribuição dos IF dentro das duas populações estudadas (Figuras 4 a 7).

O G2 alcançou médias mais elevadas em ambas as diluições contendo

leveduras sensibilizadas, com uma distribuição irregular da freqüência, pois

alguns indivíduos possuíam IF muito elevado, mas uma freqüência expressiva de

indivíduos com IF próximo de zero, especialmente de neutrófilos. Por outro lado,

a distribuição da freqüência de IF no G1, foi mais homogênea e houve maior

concentração de indivíduos apresentando valores próximos da mediana (Figura 4

e 5). Embora a resposta imune seja fundamental para a defesa contra a maioria

de agentes infectantes, há evidências de que em muitas situações os aspectos

patológicos não estão relacionados com uma ação direta do agente agressor,

95

mas sim com uma resposta imune exagerada e não modulada que tem como

conseqüência dano tecidual (MACHADO et al., 2004). Portanto, o padrão de

resposta imunológica mais homogêneo e linear apresentado pelas raças

naturalizadas, pode estar relacionado ao processo de adaptação e

desenvolvimento da resistência a patógenos desses animais.

G1 G2

-5

45

95

145

195

245

295p=0,79

1/45 S

Índi

ce F

agoc

itário

de n

eutró

filos

G1 G2-5

45

95

145

195

245

295p=0,62

1/45 S

Índi

ce fa

goci

tário

de m

onóc

itos

G1 G2-5

45

95

145

195

245

295

p=0,90

1/45 S

Índi

ce fa

goci

tário

de e

osin

ófilo

s

FIGURA 4 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas de

raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando o desafio na proporção de 45 leveduras S por fagócito

G1 G2-5

45

95

145

195

245

295p=0,54

1/180 S

Índi

ce fa

goci

tário

de n

eutró

filos

G1 G2-5

45

95

145

195

245

295p=0,59

1/180 S

índi

ce fa

goci

tário

de m

onóc

itos

G1 G2-5

45

95

145

195

245

295 p= 0,60

1/180 S

Índi

ce F

agoc

itário

de

eosi

nófil

os

FIGURA 5 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas de

raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando o desafio na proporção de 180 leveduras S por fagócito

O G1 apresentou IF significativamente (p<0,05) maior quando

submetido ao desafio com leveduras 1/45NS (Figura 6) e este resultado pode

indicar que a fagocitose ativada por receptores de colectinas é uma via

importante para esses animais, assim sendo, esses indivívuos teriam a

imunidade inata mais eficiente frente ao contato com o agente agressor. As

colectinas são proteínas oligoméricas que possuem uma ligação cálcio

dependente com as lecitinas; entre elas estão: a proteína ligante da manose

96

(MBP), proteína surfactante pulmonar-A e D (SP-A e SP-D) e finalmente duas

colectinas plasmáticas presentes somente em bovídeos, a conglutinina e

colectina-43 (CL-43). Essas proteínas são sintetizadas pelo fígado, ligam-se a

uma variedade de microrganismos Gram positivos e negativos, além de leveduras

parasitas e vírus, agindo como opsoninas, promovendo a fagocitose através da

interação com receptores específicos dos fagócitos. Além disso, a MBP é capaz

de ativar o sistema do complemento pela via das lectinas, incrementando a

resposta imunológica (HOLMSKOV, 2000).

A diminuição nos valores de IF é evidente quando se utilizou uma

proporção maior de leveduras (1/180) em ambos os grupos avaliados (Figura 5 e

7), sugerindo que em situações críticas de exposição ao patógeno, há uma queda

na capacidade fagocitária dos bovinos.

G1 G2-5

20

45

70

95 p=0,02

1/45 NS

Índi

ce F

agoc

itário

de n

eutró

filos

G1 G2-5

20

45

70

95p= 0,45

1/45NS

Índi

ce fa

goci

tário

de m

onóc

itos

G1 G2-5

20

45

70

95 p= 0,45

1/45 NS

Índi

ce fa

goci

tário

de

eosi

nófil

os

FIGURA 6 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas

de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando o desafio na proporção de 45 leveduras NS por fagócito

G1 G2-5

20

45

70

95 p=0,63

1/180 NS

Índi

ce F

agoc

itário

de

neut

rófil

os

G1 G2-5

20

45

70

95 p=0,46

1/180 NS

Índi

ce F

agoc

itário

de

mon

ocito

s

G1 G2-5

20

45

70

95 p=0,50

1/180 NS

Índi

ce F

agoc

itário

de

eosi

nófil

os

FIGURA 7 - Distribuição dos índices fagocitários de neutrófilos, monócitos e eosinófilos em vacas

de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2), utilizando desafio na proporção de 180 leveduras NS por fagócito

97

A Figura 8 contém resultados que demonstram que animais do G1

apresentaram maior porcentagem de redução de NBT-NE (p<0,01) enquanto que

o G2 mostrou maior porcentagem de redução no teste de NBT-E (p>0,05). Foi

possível verificar que quando submetidos ao estímulo de leveduras os leucócitos

do G1 diminuíram a redução de NBT enquanto aquelas dos indivíduos do G2

apresentaram comportamento inverso. Entretanto, ambos mantiveram resultados

semelhantes, sugerindo que a explosão respiratória destes animais ocorre com a

mesma intensidade. O teste de redução do NBT foi um método desenvolvido para

a determinação da atividade oxidativa de neutrófilos, pois avalia indiretamente a

capacidade de produção de substâncias bactericidas e consequentemente a

eliminação do patógeno (NATHAN et al, 1969). Valores médios obtidos no teste

não estimulado, do presente trabalho, estão acima dos resultados encontrados

por POLI & MANTELLI (1974), que citaram uma média de 1,35% de redução,

avaliando 45 animais com idade de três anos. Foram encontrados valores

maiores de redução de NBT-E e NBT-NE do que PEIXOTO et al. (2002) que

trabalharam com 20 animais com idade entre 30 e 90 dias e encontraram 6,00 ±

12,10% e 29,90 ± 29,5%, respectivamente e COSTA et al. (2004) que relataram

uma média de 10,00% e 33% em bezerros com 150 dias de idade. Essas

disparidades de resultados podem ser explicadas pela variação individual na

capacidade de redução dos neutrófilos, pela diferença entre métodos aplicados

(VAN MERRIS et al., 2002) e pela variação entre faixas etárias, uma vez que

animais mais jovens reduzem menos NBT (PEIXOTO et al., 2002; COSTA et al.,

2004).

Os valores de redução de NBT-E foram menores que NBT-NE, na

maioria dos indivíduos dos dois grupos estudados, característica inversa aos

resultados apresentados na literatura consultada, no qual o NBT-E apresentou

valores maiores que a prova NBT-NE (PEIXOTO et al., 2002; COSTA et al.,

2004).

98

G1 G20

25

50

75

100

p= 0,01

% d

e re

duçã

o do

NB

T

G1 G20

25

50

75

100p=0,72

% d

e re

duçã

odo

NB

T-E

NBT-NE NBT-E0

25

50

75

100

% d

e re

duçã

o d

o N

BT n

o G

1

NBT-NE NBT-E0

25

50

75

100

% d

e re

duçã

odo

NBT

no

G2

FIGURA 8 -Porcentagem de redução do NBT-NE e NBT-E em vacas de raças naturalizadas

(G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)

Ao avaliarem-se as categorias de resultados da prova de redução do

NBT-E (Tabela 4), foi possível verificar que não houve diferença significativa

entre G1 e G2. A porcentagem de células NRNF, consideradas como inativas, foi

significativamente (p<0,01) maior que RF em ambos os grupos. A categoria RF é

considerada ideal de resposta do NBT-E, pois indica a ingestão e eliminação do

patógeno.

A porcentagem de células que reduziram o NBT, mas não fagocitaram

(RNF) foi significativamente maior (p<0,01) que RF em ambos os grupos,

sugerindo que a produção de compostos oxidativos ocorreu, mesmo sem a

ingestão do patógeno. Esta ocorrência é indesejável, tendo em vista que esses

produtos do metabolismo oxidativo de neutrófilos são deletérios para as células

do hospedeiro (MILLER & BRITIGAN, 1997).

99

TABELA 4 - Valores médios da porcentagem de fagócitos relacionando a redução de NBT-E, em vacas de raças naturalizadas (G1) e mestiças ¾ Nelore X Simental (G2)

% de Fagócitos Função G1 G2

Média 4,3 8,92 DP 3,9 15,39

Reduziram e

Fagocitaram CV 44,7 86,22 Média 31,5 37,42 DP 20,1 14,96

Reduziram e

Não fagocitaram CV 31,9 19,99 Média 6,7 11,73 DP 6,7 7,99

Não reduziram e

Fagocitaram CV 50,0 34,04 Média 57,5 45,38 DP 20,6 17,80

Não reduziram e

Não fagocitaram CV 18,0 19,61

No G1 não houve diferença significativa (p>0,05) entre RF (categoria

ideal) e a porcentagem de células que não reduziram o NBT, mas fagocitaram

(NRF). A categoria NRF indica a probabilidade de mecanismos de escape do

patógeno dentro da célula de defesa. Ao ser fagocitado e não eliminado pelo

processo de explosão respiratória, há possibilidade de replicação do agente sem

ser detectado pelos componentes do sistema imunológico (MILLER & BRITIGAN,

1997; MACHADO et al., 2004).

CONCLUSÕES

O presente trabalho é o primeito estudo do sistema de fagócitos

realizado com raças naturalizadas brasileiras e diante dos resultados

apresentados foi possível observar que as mesmas apresentam maior eficiência

na construção da resposta da imunidade inata, tida como primeira linha de defesa

do organismo contra patógenos.

As vacas mestiças apresentaram número de eosinófilos e bastonetes

aumentados e valores de hemácia, hemoglobina, volume globular e monócitos

maiores que vacas de raças naturalizadas. A ativação da fagocitose através de

receptores de Fc e de complemento mostrou-se semelhante entre os grupos e a

100

ativação, via receptores de lectinas apresentou melhores índices nos animais de

raças naturalizadas. As vacas de raças naturalizadas apresentaram maior

homogeneidade na etapa de ingestão da fagocitose. O metabolismo oxidativo

dos fagócitos foi semelhante entre os grupos avaliados e a redução de NBT foi

maior quando não estimulada por leveduras sensibilizadas.

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21. MUNIZ JUNQUEIRA, M. I.; PEÇANHA, L. M. F.; SILVA-FILHO, V. L.;

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25. PEIXOTO, A. P. C.; COSTA, J. N.; KOHAYAGAWA, A.; TAKAHIRA, R. K.;

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103

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29. SMITS, E.; BURVENICH, C.; GUIDRY, A. J.; ROETS, E. In vitro expression of

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104

CAPÍTULO 7

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como base as observações realizadas durante a execução dos

trabalhos e as respostas obtidas pelos questionários é possível considerar que os

rebanhos de bovinos da raça Curraleiro são criados em sistemas de produção

extensiva, em pastagens nativas, matas e campos sujos de Cerrado, com o

mínimo necessário de manejo. Isso ocorre principalmente por não haver

perspectiva de retorno econômico da atividade, o abate dos animais é feito para

consumo local da carne ou esporadicamente quando há excedentes; alguns

criatórios vendem animais para tração de carros-de-boi. Como os animais são

bastante resistentes, o custo de manutenção do rebanho é baixo, a perpetuação

dos criatórios é favorecida. A atividade econômica principal dos criatórios, não é a

exploração pecuária do gado Curraleiro, este, entretanto, merece atenção

especial por parte dos proprietários porque, em geral, remetem a valores culturais

e tradicionais.

A introdução de material genético nos rebanhos por meio da compra de

touros e matrizes é muito pequena. Esse fato é bastante preocupante, pois

compromete a variabilidade genética da população e além de maiores pesquisas

na esfera da biotecnologia da reprodução animal, faz-se necessário o intercâmbio

entre os criadores para que sejam discutidos problemas, e que os mesmos

procurem soluções, independente das atividades de pesquisa.

Há, entretanto, a necessidade de maiores informações sobre aspectos

produtivos e reprodutivos da raça Curraleiro, que devem servir como argumentos

em estudos referentes à sanidade, reprodução e produção desses animais.

Em relação aos resultados obtidos nos trabalhos com a babesiose

bovina, pode-se afirmar, em linhas gerais, que os animais são infectados por B.

bovis e B. bigeminae, os rebanhos estudados apresentam-se em condições de

estabilidade enzoótica e não houver relatos de manifestações clínicas da doença.

A ausência de alterações hematológicas ou bioquímicas podem indicar que há

105

equilíbrio na relação hospedeiro-parasito, sugerindo resistência e adaptação dos

animais da raça Curraleiro, apesar de tratar-se de um Bos taurus.

O Neospora caninum está presente nos rebanhos de gado Curraleiro, a

transmissão vertical é provável e a transmissão horizontal parece sofrer

interferência de um ciclo silvestre, merecendo mais pesquisas para esclarecer

aspectos importantes do ciclo epidemiológico dessa enfermidade e o seu impacto

na população. O Toxoplasma gondii também está presente nos rebanhos de

gado Curraleiro, mas há necessidade de maiores investigações, utilizando outras

técnicas, sobre a intensidade de contato do parasito com os animais e isso seria

suficiente para comprometer a qualidade sanitária da carne e apresentar risco à

saúde pública.

Os criatórios da raça Curraleiro apresentam situação confortável em

relação à brucelose bovina e um bom trabalho de conscientização, sobre a

importância do controle dessa enfermidade, acompanhado da vacinação

sistemática das fêmeas, pode garantir a manutenção e ampliação de

propriedades livres da doença.

De acordo com os estudos relacionados à leptospirose bovina, é

possível dizer que leptospiras estão presentes nos criatórios e a baixos índices

de soropositividade podem estar associados a fatores ambientais e de manejo

dos rebanhos. Há predominância dos sorovares hardjo e wolffi, indicando os

próprios bovinos como reservatório e a ocorrência esporádica dos demais

sorovares, com provável participação de reservatórios silvestres.

A avaliação hematológica e da função fagocitária de vacas de raças

naturalizadas e mestiças Nelore X Simental demonstrou que apesar das

similaridades entre os dois grupos, verifica-se diferenças relacionadas a variáveis

hematológicas, capacidade de aderência, receptores de membrana,

imunomodulação da fagocitose, que indicam que as vacas naturalizadas

apresentam maior eficiência na execução de mecanismos da imunidade inata.

Porém, para melhor compreender os complexos eventos do sistema imunológico

e a função dos seus componentes, são necessários estudos capazes de avaliá-

los em situações fisiológicas e submetidos a desafios. Na tentativa de esclarecer

aspectos relacionados à adaptação e resistência às doenças.

106

Lembrando que este trabalho está inserido em um contexto amplo, de

sustentabilidade, biodiversidade e responsabilidade social, ressalta-se que a

conservação de uma determinada espécie animal não pode estar restrita à

atividades de pesquisa. É imprescindível o esforço conjunto de pessoas com

diferentes perfis e habilidades para que haja envolvimento político e motivação

social na obtenção de soluções com viabilidade econômica garantidas pelo

conhecimento técnico-científico.

107

ANEXOS

ANEXO 1- Mapa com a localização das propriedades de criatórios de bovinos Curraleiro, amostrados no Estado de Goiás e Tocantins, para realização de levantamento sanitário e epidemiológico.

108

ANEXO 2- Questionário epidemiológico para obter informações sobre rebanhos

de bovinos da raça Curraleiro. QUESTIONÁRIO NO ________ DATA -------/ -------/ -------- APLICADO POR ------------------------------------------------------------------------------------------ ENTREVISTADO --------------------------------------------------------------------------------------- FUNÇÃO ----------------------------------------------

DADOS GERAIS NOME DO PROPRIETÁRIO: ----------------------------------------------------------------------------- NOME DA PROPRIEDADE: ------------------------------------------------------------------------------ MUNICÍPIO: ---------------------------------------------------------- ENDEREÇO PARA CONTATO: ---------------------------------------------------------------------------- TELEFONE: (062) -------------------------------- CARACTERÍSTICAS GERAIS DA REGIÃO TEMPERATURA MÉDIA MÁXIMA ------------------------- OC TEMPERATURA MÉDIA MÍNIMA -------------------------- OC PLUVIOSIDADE MÉDIA ------------------------- ALTITUDE MÉDIA ------------------------------- LOCALIZAÇÃO LONGITUDE -------------------------------- LATITUDE -----------------------------------

CARACTERIZAÇÃO DO REBANHO 1- ESCRITURAÇÃO DO REBANHO ( ) SIM ( ) NÃO 2- COMPOSIÇÃO DO REBANHO NÚMERO TOTAL DE BOVINOS = --------------------------- NÚMERO TOTAL DE VACAS = ------------------------------ NÚMERO TOTAL DE TOUROS = ---------------------------- NÚMERO TOTAL DE BEZERROS = ------------------------- NÚMERO TOTAL DE BEZERRAS = ------------------------- 3-ÍNDICES DE PRODUÇÃO PESO MÉDIO AO NASCIMENTO = ----------------------------------- PESO MÉDIO AO ABATE = --------------------------------------------- IDADE MÉDIA DE ABATE = ------------------------------------------- IDADE MÉDIA NA PRIMEIRA COBERTURA = -------------------- IDADE MÉDIA NO PRIMEIRO PARTO = ---------------------------- IDADE MÉDIA DE DESCARTE = ------------------------------------- INTERVALO ENTRE PARTOS = -------------------------------------- PRODUÇÃO MÉDIA LEITE / DIA = ----------------------------------

109

4- SISTEMA DE CRIAÇÃO: ( ) EXTENSIVO ( ) SEMI-EXTENSIVO ( ) INTENSIVO 5- FORMA DE PRODUÇÃO: ( ) CRIA ( ) CICLO COMPLETO ( ) ENGORDA ( ) MISTO 6- COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS: ( ) VENDA DE TOURINHOS ( ) REPRODUTORES ( ) BEZERROS PARA RECRIA ( ) BOIS PARA ABATE ( ) LEITE ( ) CASTRADOS PARA TRAÇÃO 7- FORMA DE AQUISIÇÃO INICIAL DO PLANTEL: ( ) COMPRA DENTRO DO ESTADO. MUNICÍPIO = ----------------------------------------- ( ) COMPRA FORA DO ESTADO. ORIGEM? -------------------------------------------------- ( ) HERANÇA / PARTILHA ( ) JUNTO COM A PROPRIEDADE (PORTEIRA FECHADA) ( ) LEILÕES / FEIRAS 8- FORMA DE SUBSTITUIÇÃO DE ANIMAIS DO PLANTEL: ( ) NASCIDOS NA PROPRIEDADE ( ) ADQUIRIDOS DE CRIADORES DA REGIÃO ( ) ADQUIRIDOS DE CRIADORES DE OUTRAS REGIÕES ( ) ADQUIRIDOS EM FEIRAS / LEILÕES 9- EM CASO DE INTRODUÇÃO DE NOVOS ANIMAIS, QUAL O PROCEDIMENTO ADOTADO? ( ) SEM PROCEDIMENTO ESPECIAL ( ) ISOLAMENTO DO ANIMAL. TEMPO = --------------------------- ( ) REALIZAÇÃO DE EXAMES. QUAIS? ------------------------------------------------ ( ) ISOLAMENTO / EXAMES 10- MANEJO REPRODUTIVO ( ) MONTA NATURAL ( ) ESTAÇÃO DE MONTA. PERÍODO: ( ) SECA ( ) CHUVAS ( ) ANO TODO ( ) INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL ( ) TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO 11- FORNECIMENTO DE SUPLEMENTAÇÃO: ( ) SILAGEM ( ) FENO ( ) CAPIM TRITURADO ( ) OUTRO. QUAL? ---------------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO FORNECE 12- PRODUTO USADO NA SUPLEMENTAÇÃO: ( ) MILHO ( ) SORGO ( ) CANA ( ) MILHETO ( ) OUTRO. QUAL? ----------------------------------------------------------------------------

110

13- FREQUÊNCIA DA SUPLEMENTAÇÃO ( ) MENSAL ( ) BIMESTRAL ( ) SEMESTRAL ( ) NA SECA ( ) NAS CHUVAS ( ) OUTRA. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 14- MINERALIZAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 15- FREQUÊNCIA DE MINERALIZAÇÃO ( ) FORNECIMENTO CONTÍNUO ( ) RESTRITO À ÉPOCA DE CHUVAS ( ) RESTRITO À ÉPOCA DE SECA ( ) OUTRO. QUAL? ----------------------------------------------------------------------------- 16- PRINCIPAIS VACINAS APLICADAS: ( ) AFTOSA ( ) BRUCELOSE ( ) BOTULISMO ( ) CARBÚNCULO SINTOMÁTICO ( ) ENTEROTOXEMIA ( ) OUTRAS. QUAIS? ---------------------------------------------------------------------------- 17- VERMIFUGAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 18- FREQUÊNCIA DE VERMIFUGAÇÃO ( ) MENSAL ( ) BIMESTRAL ( ) SEMESTRAL ( ) NA SECA ( ) NAS CHUVAS ( ) OUTRA. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 19- CONTROLE DE ECTOPARASITOS: ( ) SIM ( ) NÃO 20- EM CASO AFIRMATIVO, QUAL O SISTEMA DE APLICAÇÃO? ( ) BANHO ( ) ASPERSÃO ( ) POUR-ON ( ) INJETÁVEL ( ) OUTRO. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 21- FREQUÊNCIA DE APLICAÇÃO DO PRODUTO: ( ) QUINZENAL ( ) MENSAL ( ) BIMESTRAL ( ) TRIMESTRAL ( ) SEMESTRAL ( ) OUTRA. QUAL? -----------------------------------------------------------------------------

111

22- CUIDADOS NA ORDENHA: ( ) LIMPEZA DAS MÃOS ( ) LIMPEZA DOS TETOS ( ) DESINFECÇÃO DOS TETOS PÓS- ORDENHA ( ) LINHA DE ORDENHA ( ) OUTROS. QUAIS? ---------------------------------------------------------------------------- 23- CUIDADOS COM O BEZERRO: ( ) DESINFECÇÃO DO UMBIGO. PRODUTO: --------------------------------------------- ( ) FORNECIMENTO DE COLOSTRO ( ) PIQUETE ( ) BEZERREIROS ( ) OUTROS. QUAIS? ----------------------------------------------------------------------------- 24- CUIDADOS NO PRÉ-PARTO ( ) ALIMENTAÇÃO ( ) VACINAS. QUAL(IS)? ------------------------------------------------------------------ ( ) SEPARAÇÃO EM PIQUETES ( ) DESMAME 25- EXAMES PREVENTIVOS REALIZADOS ROTINEIRAMENTE NO REBANHO: ( ) CONTROLE DE MASTITE (CMT, CANECA TELADA) ( ) TUBERCULINIZAÇÃO ( ) SOROLOGIA PARA BRUCELOSE ( ) PARASITOLÓGICO ( ) OUTROS. QUAIS? ----------------------------------------------------------------------------- 26- ENFERMIDADES JÁ OCORRIDAS OU OCORRENTES NA PROPRIEDADE: ( ) PNEUMONIA ( ) DIARRÉIA ( ) MASTITE ( ) RAIVA ( ) BRUCELOSE ( ) TUBERCULOSE ( ) BOTULISMO ( ) AFTOSA ( ) OUTRAS. QUAIS? ----------------------------------------------------------------------------- 27- DISTÚRBIOS / PROBLEMAS REPRODUTIVOS JÁ OCORRIDOS OU OCORRENTES: ( ) REPETIÇÃO DE CIO ( ) ABORTOS ( ) RETENÇÃO DE PLACENTA ( ) PARTO DISTÓCICO ( ) OUTROS. QUAIS? ------------------------------------------------------------------------------ 28- PERDAS DE ANIMAIS JOVENS: RELACIONADAS A ENFERMIDADES = ---------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A ACIDENTES = ----------------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A PROBLEMAS DE PARTO = ------------- ANIMAIS RELACIONADAS A INTOXICAÇÕES = ------------------------ ANIMAIS RELACIONADAS A CAUSAS DIVERSAS = ------------------- ANIMAIS 29- PERDAS DE ANIMAIS ADULTOS RELACIONADAS A ENFERMIDADES = ---------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A ACIDENTES = ----------------------------- ANIMAIS RELACIONADAS A PROBLEMAS DE PARTO = ------------- ANIMAIS RELACIONADAS A INTOXICAÇÕES = ------------------------ ANIMAIS RELACIONADAS A CAUSAS DIVERSAS = ------------------- ANIMAIS

112

CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE

ÁREA TOTAL = --------------------------------------------------------------- ÁREA DE PASTAGEM NATURAL =------------------------------------- ÁREA DE PASTAGEM CULTIVADA = --------------------------------- ÁREA DE LAVOURA= ---------------------- -------------------------------- ÁREA DE VEGETAÇÃO NATIVA = ------------------------------------- ÁREA DE RESERVA = ------------------------------------------------------- 30- TIPO DE SOLO ( ) ARGILOSO ( ) ARENOSO ( ) 31- TOPOGRAFIA PREDOMINANTE: ( ) ACIDENTADA ( ) PLANA ( ) SEMI-ACIDENTADA 32- TIPO DE AGUADA: ( ) BEBEDOURO ( ) ÁGUA CORRENTE ( ) REPRESA ( ) CACIMBA ( ) OUTROS = ------------------------------------------------------------------------------------------------ 33- TIPO DE PASTAGEM PREDOMINANTE: ( ) BRAQUIÁRIA ( ) COLONIÃO ( ) ANDROPOGON ( ) JARAGUÁ ( ) OUTROS = ----------------------------------------------------------------------------------------------- 34- SITUAÇÃO DA PASTAGEM: ( ) LIMPA ( ) RECÉM BATIDA ( ) SUJA ( )OUTRA = ------------------------------------------------------------------------------------------------- 35- VEGETAÇÃO NATIVA ( ) MATA ( ) CERRADO ( ) OUTRO 36- TIPO DE MÃO-DE-OBRA UTILIZADA: ( ) FAMILIAR. QUANTAS PESSOAS? = -------------------------- ( ) ASSALARIADA TEMPORÁRIA. QUANTAS PESSOAS? = ---------------------- ( ) ASSALARIADA PERMANENTE. QUANTAS PESSOAS? = -------------------- 37- RECEBE ASSISTÊNCIA TÉCNICA? ( ) SIM ( ) NÃO 38- SISTEMA DE ASSISTÊNCIA VETERINÁRIA À PROPRIEDADE: ( ) OFICIAL ( ) VETERINÁRIO DE COOPERATIVA ( ) VETERINÁRIO AUTÔNOMO

113

39- FREQUÊNCIA DE ASSISTÊNCIA: ( ) PERMANENTE ( ) EM INTERVALOS FIXOS ( ) OCASIONAL (QUANDO É CONSTATADO ALGUM PROBLEMA) 40- CONTROLE DE PRODUÇÃO ( ) SIM ( ) NÃO 41- MÉTODO EMPREGADO PARA CONTROLE PRODUTIVO: ( ) CADERNO ( ) FICHAS INDIVIDUAIS ( ) PROGRAMA DE COMPUTADOR ( ) OUTRO. QUAL? --------------------------------------------------- 42- PRESENÇA DE ROEDORES: ( ) SIM. ONDE? --------------------------------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO 43- QUAL O DESTINO DE ANIMAIS MORTOS E PLACENTAS? ----------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------------------- 44- QUAL O DESTINO DOS DEJETOS? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 45- AVALIAÇÃO DO ASPECTO / HIGIENE QUANDO DA VISITA (OBSERVAÇÃO DO ENTREVISTADOR) (5) ÓTIMO (4) BOM (3) REGULAR (2) RUIM (1) PÉSSIMO ( ) ANIMAIS ( ) PISOS ( ) ESTÁBULOS ( ) CURRAIS ( ) COCHOS ( ) BEBEDOUROS

CARACTERIZAÇÃO DO PROPRIETÁRIO

46- TEMPO DE CONDUÇÃO DA ATIVIDADE PECUÁRIA: ( ) ATÉ 01 ANO ( ) 01 - 05 ANOS ( ) 05 - 10 ANOS ( ) 10 - 15 ANOS ( ) 15 - 20 ANOS ( ) ACIMA DE 20 ANOS 47- TEMPO DE CRIAÇÃO DO GADO PÉ DURO: ( ) ATÉ 01 ANO ( ) 01 - 05 ANOS ( ) 05 - 10 ANOS ( ) 10 - 15 ANOS ( ) 15 - 20 ANOS ( ) ACIMA DE 20 ANOS 48- MOTIVO PRINCIPAL DA ESCOLHA DA RAÇA: ( ) INTERESSE EM CONSERVÁ-LA ( ) TRADIÇÃO (CONTINUIDADE)

114

( ) CUSTO DE AQUISIÇÃO ( ) CUSTO DE MANUTENÇÃO ( ) OUTRO. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------ 49- PRINCIPAL VANTAGEM APRESENTADA PELA RAÇA: ( ) RUSTICIDADE ( ) BAIXO CUSTO ( ) APTIDÃO MISTA ( ) DOCILIDADE ( ) SABOR DA CARNE 50- PRINCIPAL DESVANTAGEM DA RAÇA ( ) BAIXA VALORIZAÇÃO ( ) BAIXA PRODUTIVIDADE ( ) DESENVOLVIMENTO LENTO ( ) DIFICULDADE DE COMERCIALIZAÇÃO 51- RESIDE NA PROPRIEDADE? ( ) SIM ( ) NAO 52- CASO NÃO RESIDA NA PROPRIEDADE, QUAL A FREQUENCIA NA MESMA? ( ) DIÁRIA ( ) SEMANAL ( ) QUINZENAL ( ) MENSAL ( ) ESPORÁDICA 53- EXERCE OUTRA ATIVIDADE PECUÁRIA? ( ) SIM. QUAL? ----------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO 54- EXERCE ATIVIDADE AGRÍCOLA? ( ) SIM. QUAL? ----------------------------------------------------------------------- ( ) NÃO 55- VIVE EXCLUSIVAMENTE DE ATIVIDADE AGROPECUÁRIA? ( ) SIM ( ) NÃO 56- EM CASO NEGATIVO, QUAL OUTRA ATIVIDADE EXERCE? ---------------------------------------- 57- FORMA DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE: ( ) COMPRA ( ) DOAÇÃO (HERANÇA) ( ) OUTRAS 58- ACREDITA QUE HAVERÁ CONTINUIDADE FAMILIAR NA ATIVIDADE? ( ) SIM ( ) NÃO 59- TEM ALGUM FILHO(A) QUE ESTUDA(OU) EM ÁREA CORRELATA À ATIVIDADE? ( ) SIM ( ) NÃO 60- EM CASO AFIRMATIVO, QUAL CURSO (PROFISSÃO)? ( ) TÉCNICO AGRÍCOLA ( ) VETERINÁRIA ( ) ZOOTECNIA

115

( ) AGRONOMIA ( ) OUTRO. QUAL? -------------------------------------------------------------------------------- 61- ALÉM DA ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE PÉ DURO, PARTICIPA DE OUTRA ASSOCIAÇÃO? ( ) NÃO ( ) SIM. QUAL? --------------------------------------------------------------------------------------------- 62- MAIOR PROBLEMA ATUAL PARA A ATIVIDADE AGROPECUÁRIA: ( ) FALTA DE FINANCIAMENTOS ( ) JUROS ELEVADOS ( ) BAIXO RETORNO ( ) INVASÃO DE TERRAS ( ) OUTROS. QUAIS? --------------------------------------------------------------------------------------- 63- PERSPECTIVAS PARA A ATIVIDADE A MÉDIO PRAZO: ( ) ESTABILIDADE ( ) MELHORA ( ) PIORA 64- GRAU DE SATISFAÇÃO NA ATIVIDADE EXERCIDA ( 1 A 10 ): --------------------------------------- 65- GRAU DE SATISFAÇÃO COM A RAÇA ESCOLHIDA ( 1 A 10): ---------------------------------------- 66- COMPARANDO O GADO PÉ-DURO COM OUTRAS RAÇAS, PONTUE OS SEGUINTES PARÂMETROS, EM UMA ESCALA DE 1 A 10: ( )RESISTÊNCIA ( )TEMPERAMENTO ( )NECESSIDADE DE CUIDADOS ( )PRODUTIVIDADE ( )CUSTO DE MANUTENÇÃO 67- SEU GRAU DE ESCOLARIDADE: ( ) PRIMEIRO GRAU INCOMPLETO ( ) PRIMEIRO GRAU COMPLETO ( ) SEGUNDO GRAU INCOMPLETO ( ) SEGUNDO GRAU COMPLETO ( ) SUPERIOR. QUAL? ------------------------------------------------------------------------------