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Francisca Maria de Almeida Vargas Aspectos relacionados à Aprendizagem em Gestão e Planejamento no curso de Gestão da Assistência Farmacêutica - Especialização a Distância Tese submetida ao Programa de Pós- Graduação em Farmácia – Área de Concentração Fármacos e Medicamentos da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Doutora em Farmácia Orientadora: Profa. Dra. Mareni Rocha Farias. Florianópolis 2016

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  • Francisca Maria de Almeida Vargas

    Aspectos relacionados Aprendizagem em Gesto e Planejamento no curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a

    Distncia Tese submetida ao Programa de Ps-Graduao em Farmcia rea de Concentrao Frmacos e Medicamentos da Universidade Federal de Santa Catarina para a obteno do Grau de Doutora em Farmcia Orientadora: Profa. Dra. Mareni Rocha Farias.

    Florianpolis 2016

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    Francisca Maria de Almeida Vargas

    ASPECTOS RELACIONADOS APRENDIZAGEM EM GESTO E PLANEJAMENTO NO CURSO DE GESTO DA ASSISTNCIA

    FARMACUTICA - ESPECIALIZAO A DISTNCIA

    Esta Tese foi julgada adequada para obteno do ttulo de Doutora, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Farmcia.

    Florianpolis, 20 de outubro de 2016.

    ____________________________________ Profa. Tnia Beatriz Creczynski Pasa, Dra.

    Coordenadora do Curso

    ____________________________________ Profa. Mareni Rocha Farias, Dra.

    Orientadora Universidade Federal de Santa Catarina

    Banca Examinadora:

    ____________________________________ Profa. Daniela Lemos Carcereri, Dra.

    Universidade Federal de Santa Catarina ____________________________________ Profa. Lilian Sibelle Campos Bernardes, Dra.

    Universidade Federal de Santa Catarina ____________________________________

    Profa. Kenya Schmidt Reibnitz, Dra. Universidade Federal de Santa Catarina

    ___________________________________________ Profa. Selma Rodrigues de Castilho, Dra.

    Universidade Federal Fluminense ______________________________________________

    Profa. Mrcia Hiromi Sakai, Dra. Universidade Estadual de Londrina

  • Este trabalho dedicado minha filha, Ana Letcia, ao meu esposo, Everaldo Vargas, e minha me, Benedita, meus trs grandes amores.

  • AGRADECIMENTOS

    Posso dizer que os ltimos anos da minha vida, foram

    marcados por transformaes, a primeira delas, foi a mudana de cidade, de So Lus para Florianpolis, depois o matrimnio, em seguida a maternidade e junto a tudo isso o doutorado. Precisei me adaptar a condies muito diferentes das que eu vivia. Nesses anos, conhecimentos foram solidificados. As mudanas em meu interior foram profundas, das quais muitas pessoas fizeram parte, e por isso tm meu sincero apreo e agradecimento.

    Agradeo primeiramente a Deus, centro da minha vida, pois sem Ele, eu nada faria.

    Professora Mareni, por ter me proporcionado a oportunidade de obter essa maturidade que se adquire com o desenvolvimento de um doutorado, e tambm por ter me orientado e acreditado em mim. Agradeo pelo respeito em relao a minha autonomia como estudante, e tambm por ter sido compreensiva em todos os momentos, especialmente quando me afastei das atividades pelos cuidados com minha filha, em seu primeiro ano de vida, muito obrigada!!!

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pela bolsa concedida para que eu pudesse concluir com dedicao exclusiva este trabalho.

    Ao Professor Mauro Silveira de Castro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, (UFRGS), coordenador do Projeto do qual faz parte esta Tese.

    Aos colegas do Projeto Insero de Novas Tecnologias no mbito da Educao Farmacutica, pelo compartilhamento de ideias.

    Comisso Gestora do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica Especializao Distncia: Eliana Elisabeth Diehl, Mareni Rocha Farias, Rosana Isabel dos Santos, Silvana Nair Leite e Luciano Soares, por todas as oportunidades e por todo aprendizado, desde a tutoria no curso.

    Coordenao Tcnica do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica Especializao a Distncia pela colaborao com excelncia, garantindo as informaes e dados solicitados.

  • 8

    Professora Maria Helena Soares de Brito da Universidade Federal do Maranho, coordenadora do Polo So Lus/MA, por ter acreditado em meu trabalho e por ter me apoiado sempre. Sem seu apoio eu no teria tido coragem de chegar aqui.

    Aos egressos do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica, do Polo So Lus-MA, com quem pude aprender muito durante minha experincia como tutora no curso.

    A todos os outros egressos, sobretudo aos que aceitaram participar dessa pesquisa, contribuindo com o relato de suas experincias, suas conquistas e tambm fracassos, muito obrigada mesmo.

    A todos os professores da Ps-Graduao em Farmcia da Universidade Federal de Santa Catarina, por toda a experincia conjugada e todo conhecimento construdo.

    Fabola Bagatini e Cludia Vargas por terem me recebido muito bem, quando cheguei a Florianpolis e pelo aprendizado compartilhado.

    Mnica Trindade, por sua contribuio na coleta de dados e por sua parceria, por seu apoio e sua gentileza, sempre.

    Aos colegas: Aline Foppa, Emlia, Fernanda, Guilherme, Jnior, Kaite, Katiuce, Lenyta, Marcelo, Marina, Marina Rover, Paola, Samara, com quem pude aprender muito.

    Clarice Chemello, e Carine Blatt pela acolhida na Farmcia Escola, e por todas as dicas iniciais.

    A todos os farmacuticos da Farmcia Escola, pela acolhida, pela gentileza e carinho e tambm pelo aprendizado coletivo.

    Aos professores da Ps-Graduao em Sade Coletiva da UFSC por terem despertado minha curiosidade para aprender o novo.

    Gisele Damian, pela contribuio em relao ao metaestudo. Por ter, inclusive sonhado uma noite, com o modo como deveramos montar o estudo. Obrigada por ter me ajudado, no sei como faria sem sua preciosa contribuio.

    professora Araci Hack Catapan, do Programa de Ps-Graduao em Educao, por ter contribudo para novas descobertas no mbito da Educao a Distncia.

  • Aos colegas da disciplina Educao, Gesto e Docncia do

    Programa de Ps-Graduao em Educao, por todo conhecimento compartilhado.

    Irineide, por ter me dado a primeira oportunidade na rea da Assistncia Farmacutica, ainda no estado do Maranho.

    amiga Gerlnia, por suas palavras de incentivo e por todo companheirismo vivenciado nos servios farmacuticos do Componente Especializado de Medicamentos no Maranho.

    Universidade Federal do Estado do Maranho e aos amigos que fiz por l, especialmente, Fabola Ewerton, Lidiane Pedroso, Marcia Santos, Wanessa Rocha.

    todos os professores e colegas do Programa de Ps Graduao em Sade Coletiva, especialmente a meu orientador: Wellington Silva Mendes (in memorian), e minha orientadora Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves e s colegas Lorena, Francilene, Nilza, Deisyanne, Vanea, por todos os momentos e tambm pelo conhecimento compartilhado que, de algum modo, foram importantes para esta nova pesquisa

    s amigas Lucy, Patrcia e Juliana, que, mesmo distantes, sempre estiveram em meu corao e sempre me apoiaram em tudo, inclusive em relao minha vinda para Florianpolis

    minha me, por suas oraes interminveis, por todo seu amor e carinho e por me fazer acreditar que o presente to bom quanto o passado foi e o futuro pode vir a ser. Muito obrigada mame, por tudo.

    Ao meu pai Geraldo Almeida (in memorian) por todo esforo e dedicao em relao minha educao e por todo amor e carinho.

    minha av Maria Ferreira (in memorian), por toda fora, todo apoio e amor.

    minha tia Ivelta pelo apoio, incentivo e amor, sempre e por ser minha segunda me, algum que sei que posso contar.

    Maria, por todo apoio, todo amor e dedicao desde minha infncia.

  • 10

    Aos meus irmos: Ricardo, Elene, Ilze, Dorinha, Jnior, Andra, Eduardo, pelo incentivo para estudar desde minha infncia, por tudo que fizeram e ainda fazem por mim.

    A todos os meus cunhados, cunhadas e meus sobrinhos por todo carinho e incentivo.

    Ao meu amado esposo e grande amigo, Everaldo Vargas, por todo seu amor, por suas palavras de apoio. Eternamente grata, por tudo!

    minha filha, Ana Letcia, que com seus sorrisos dirios, sem que soubesse, incentivava-me a concluir este trabalho.

    minha sogra Nerli Silva, pela fora e carinho. s minhas cunhadas, Isabel Freitas e Edi Machado, e suas

    famlias, por todo apoio e carinho. A todas as outras pessoas, que porventura, eu no tenha

    mencionado aqui mas foram importantes para concretizao deste trabalho. Muito obrigada!!!

  • O que se pretende com o dilogo, em qualquer hiptese (seja em torno de um conhecimento cientfico e tcnico, seja de um conhecimento experiencial) a problematizao do prprio conhecimento em sua indiscutvel reao com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreend-la, explic-la, transform-la.

    (Paulo Freire, 1977)

  • RESUMO

    A educao permanente a distncia tem sido uma alternativa necessria para qualificar profissionais farmacuticos que atuam no Sistema nico de Sade, mediante as exigncias de um novo perfil para este profissional. Nesse sentido, o Ministrio da Sade, no mbito da Universidade Aberta do Brasil em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, props o Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia, para qualificar cerca de 2.000 farmacuticos atuantes no Sistema nico de Sade, distribudos em todas as regies do pas entre 2010 e 2014. O curso teve como proposta qualificar profissionais farmacuticos inseridos no Sistema nico de Sade para Gesto da Assistncia Farmacutica. Como uma das ferramentas de gesto adotada a vertente do Planejamento Estratgico Situacional. Para exercitar as habilidades de autonomia, pro atividade e comunicao, um dos mdulos do curso, o Mdulo de Gesto da Assistncia Farmacutica, propuseram um exerccio de Planejamento Estratgico Situacional - construindo um Plano Operativo, desenvolvido no local de trabalho do egresso. Desse modo, pensa-se, a partir desta tese, que conhecer a experincia de desenvolvimento do Plano Operativo poder refletir em melhorias na interao ensino/servios, alm de trazer conhecimento til para tomada de decises, tanto na academia quanto no servio. Assim, este trabalho tem como objetivos: analisar aspectos relacionados aprendizagem durante o desenvolvimento do Plano Operativo; caracterizar as concepes tericas pedaggicas em Educao a Distncia na formao/qualificao de trabalhadores do Sistema nico de Sade e identificao de cursos em Educao a Distncia no Brasil; descrever a estrutura organizacional e pedaggica do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia - e a construo do Plano Operativo: analisar, a partir da perspectiva dos tutores e egressos do referido curso o processo de aprendizagem dos egressos em relao ao desenvolvimento do Plano Operativo. Metodologia: a metodologia utilizada para pesquisa foi qualitativa.

  • Para identificao dos cursos em Educao a Distncia e concepes tericas, alm da identificao de cursos para profissionais da sade nessa modalidade, utilizou-se a reviso de literatura do tipo metaestudo. Para a descrio da estrutura organizacional e pedaggica do curso e a construo do Plano Operativo, foram utilizados: relatrios, planilhas, a plataforma Moodle e outros documentos produzidos e compilados pela Coordenao e Suporte Tcnico Pedaggico do Curso no perodo de 2010 a 2014. Para a anlise da aprendizagem de acordo com a perspectiva dos egressos e tutores, utilizou-se o Discurso do Sujeito Coletivo; e os dados qualiquantitativos foram processados com auxlio do software QualiQuantiSoft. Resultados: em relao s concepes pedaggicas em Educao a Distncia no Brasil, os resultados apontaram que surgiram 4 categorias: construtivismo; pedagogia de Paulo Freire; Educao Permanente em Sade; concepes prprias da Educao a Distncia. Evidenciou-se a formao de comunidades de aprendizagem; fortalecimento dos espaos de gesto; e formao de redes para projetos em Educao Permanente em Sade. Em relao aprendizagem em Gesto, os discursos revelaram que o farmacutico: passou a se ver integrado na equipe; compreendeu seu papel no contexto da integralidade das aes. Foi possvel perceber nos discursos dos egressos mudanas no modo de pensar a gesto e executar aes Os discursos de ambos os sujeitos, tutores e egressos, convergiram para a aprendizagem em Gesto e Planejamento, tanto no nvel individual quanto organizacional, onde percebeu-se que a interao, cooperao, formao de alianas, superao de conflitos e o dilogo foram traos marcantes nesse processo. Palavras-chave: Educao a Distncia. Assistncia Farmacutica. Sistema nico de Sade. Gesto em Sade. Trabalhadores. Planejamento Estratgico Situacional. Aprendizagem Organizacional.

  • ABSTRACT

    The Distance Learning in continuing education has been a necessary alternative to qualify pharmaceutical professionals who work in the Unified Health System of Brazil, through the requirements of a new profile for this training. In this way, the Ministry of Health, together of the Universidade Aberta do Brasil (Open University of Brazil) and the Universidade Federal de Santa Catarina, proposed the course of Management of Pharmaceutical Assistence - Distance Learning Specialization, to qualify approximately 2,000 pharmacists working in the Unified Health System of Brazil, spread in all regions of the country, between the years of 2010 and 2014. The course had as proposal to qualify professionals pharmacists inserted into the Unified Health System of Brazil for Management of Pharmaceutical Assistance. The Strategic Planning Situational Awareness is adopted as one of the tools of management. One of the modules of the course, the module for the management of pharmaceutical care, proposes an exercise of Strategic Planning Situational Awareness - Building a Plan Operating System, developed in the workplace of egress. In this way, it is thought, on the basis of this thesis, that knowing the experience of development of Operating System could reflect on improvements in education interaction/services, in addition to bring useful knowledge for decision-making, both in academic environment and in the work. So, this study aims to: analyze aspects related to learning during the development of the Operating Plan; characterize the theoretical and pedagogical conceptions in Distance Learning in the training/qualification of workers in the Unified Health System of Brazil and identification of courses in Distance Learning in Brazil; describe the organizational structure and pedagogy of the course of Management of Pharmaceutical Assistence - Distance Learning Specialization - and the construction of the Plan Operating: analyze, from the perspective of the tutors and graduates of that course the learning process of the graduates in relation to the development of

  • Operating Plan. Methodology: the methodology used for the research was qualitative. To identify the courses in Distance Learning and theoretical concepts we used the literature review of type metaestudo, in addition to the identification of courses for health professionals in this modality. For a description of the organizational structure and pedagogy of the course and the construction of the Operating Plan, were used: reports, spreadsheets, the Moodle platform, and other documents produced and compiled by the Cooperative Teacher and Technology Pedagogical Suport of course in the period from year 2010 to year 2014. For the analysis of learning according to the perspective of graduates and tutors, we used the collective discourse of the subjects; and the data quali-quantitative were processed with the help of the software QualiQuantiSoft. Results: in relation to pedagogical conceptions in Distance Learning in Brazil, the results showed that there were 4 categories: Constructivism; Pedagogy of Paulo Freire, Continuous Learning in Health; and conceptions of Distance Learning. There was a formation of learning communities; strengthening of management; and formation of networks for projects in Continuous Learning in Health. In relation to learning in management the discourses revealed that the pharmacist went to see integrated into the team; he understood his role in the context of the integrality of the actions. . It was possible to perceive in the discourses of graduates changes in the way of thinking the management and perform actions The speeches of both subject, tutors and graduates, have converged to learning in management and planning, both at the individual and organizational, where it became apparent that the interaction, cooperation, formation of alliances, overcoming conflicts and dialog were outstanding in this process.

    Keywords: Distance Learning. Pharmaceutical Assistance. Unified Health System of Brazil. Health Management. Situational Strategic Planning. Organisational Learning.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Tringulo de governo de Carlos Matus ............................ 52

    Figura 2 - Representao dos passos do Planejamento Estratgico Situacional de Carlos Matus .............................................. 61

    Figura 3 - Mapa conceitual da sntese gerada a partir das evidncias dos estudos que compuseram o metaestudo .................. 91

    Figura 4 - Ofertas de vagas do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia, por regio geogrfica do pas ........................................................... 103

    Figura 5 - Representao grfica da estrutura curricular do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .......................................................................... 110

    Figura 6 - Nuvem das 100 palavras mais enunciadas pelos egressos a respeito das aes do PO implantadas/implementadas no servio e as facilidades encontradas ............................... 137

    Figura 7 - Esquema da anlise qualiquantitativa das questes respondida pelos tutores ................................................ 140

    Figura 8 - Esquema da anlise qualiquantitativa das questes respondidas pelos egressos ............................................ 141

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Sntese do processo de obteno dos artigos selecionados para o metaestudo ..................................................... 71

    Quadro 2 - Relao de estudos caracterizados quanto ao ano de publicao, local de realizao, nome do curso ou projeto, pblico alvo, amostragem, tcnica de coleta de dados e anlise ................. 73

    Quadro 3 - Relao da equipe envolvida na estruturao e operacionalizao do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia ................................................................ 99

    Quadro 4 - Relao dos Polos Regionais Presenciais do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica -Especializao a Distncia ........................................................................................................ 101

    Quadro 5 - Relao dos mdulos, carga horria e unidades de aprendizagem do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .............................................................. 108

    Quadro 6 - Quantitativo dos sujeitos de pesquisa, por polo de atuao, que responderam aos questionrios ............................... 128

    Quadro 7 - Caractersticas gerais dos sujeitos de pesquisa que responderam aos questionrios ..................................................... 129

    Quadro 8 - Implantao de ao do PO no local de trabalho dos egressos do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .............................................................. 130

    Quadro 9 - Categorias iniciais e finais de aes implantadas/implementadas do PO formadas a partir dos relatos de egressos do curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .............................................................. 131

    Quadro 10 - Categorias de facilidades para implantar/implementar aes do PO formadas a partir dos relatos de egressos do curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .............................................................. 134

    Quadro 11 - Categorias de dificuldades para implantar/implementar aes do PO formadas a partir dos relatos de egressos do curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .............................................................. 138

    Quadro 12 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos tutores Questo 1 ................................................. 142

  • 20

    Quadro 13 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos tutores Questo 2 ................................................. 145

    Quadro 14 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos tutores Questo 3 ................................................. 148

    Quadro 15 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos egressos Questo 1 ............................................... 151

    Quadro 16 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos egressos Questo 2 ............................................... 156

    Quadro 17 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos egressos Questo 3 ............................................... 161

    Quadro 18 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos egressos Questo 4 ............................................... 165

    Quadro 19 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos egressos Questo 5 ............................................... 169

    Quadro 20 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos egressos Questo 6 ............................................... 172

    Quadro 21 - Ideias centrais e DSC identificadas a partir das respostas dos egressos Questo 7 ............................................... 175

  • 21

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Frequncia das Ideias Centrais sobre a validade do PO para aprendizagem em Gesto no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia ................... 144

    Grfico 2 Frequncia das Ideias Centrais sobre a existncia de interao, colaborao e troca de experincia durante o desenvolvimento do PO (Questo 2 - Tutor) ................................. 147

    Grfico 3 Frequncia das Ideias Centrais sobre a possibilidade de modificao da forma de pensar e executar a prtica no servio no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .............................................................. 150

    Grfico 4 Frequncias das Ideias Centrais sobre experincia dos egressos quanto ao desenvolvimento do PO no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia .............. 155

    Grfico 5 Frequncia das Ideias Centrais sobre o significado para prtica no servio ou para vida pessoal/ trabalho em relao atividade PO desenvolvida no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia ..................................... 160

    Grfico 6 Frequncia das Ideias Centrais a respeito da mudana do egresso em relao ao seu modo de ver a Gesto da Assistncia Farmacutica, considerando o local de atuao deles no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia ......................................................................................... 165

    Grfico 7 Frequncia das Ideias Centrais a respeito da existncia de conflito no local de atuao, e o modo como tem se posicionado o egresso do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia ..................................... 168

    Grfico 8 Frequncia das Ideias Centrais a respeito da contribuio da interao do egresso com os colegas para a construo do conhecimento em Gesto e Planejamento no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia . 171

    Grfico 9 Frequncia das Ideias Centrais a respeito da formao/fortalecimento de alianas a partir da interao com os outros atores do territrio em que o egresso atuou durante o

  • 22

    desenvolvimento do PO no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia ...................................... 174

    Grfico 10 Frequncia das Ideias Centrais a respeito de o egresso ter auxiliado os colegas em relao construo do Plano Operativo, no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia............................................................... 177

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AC Ancoragem

    AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem

    ARES Acervo de Recursos Educacionais em Sade

    CAPES Centro de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CD Compact Disc

    CIT Comisso Intergestores Tripartite

    DAF Departamento de Assistncia Farmacutica

    DSC Discurso do Sujeito Coletivo

    DVD Digital Versatile Disc

    EaD Educao Distncia

    E-Ch Expresso Chave

    ENSP Escola Nacional de Sade Pblica

    EPS Educao Permanente em Sade

    FIOCRUZ Fundao Oswaldo Cruz

    FURB Universidade Federal de Blumenau

    FURJ Fundao Educacional da Regio de Joinville

    HUJBB Hospital Universitrio Joo de Barros Barreto

    IC Ideia Central

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    IES Instituio de Ensino Superior

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    MA Maranho

    MOODLE Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment

    NOB Norma Operacional Bsica

    OPAS Organizao Pan-americana de Sude

    PDCA Plan Do Check Act

  • 24

    PES Planejamento Estratgico Situacional

    PO Plano Operativo

    PPI Programao Pactuada e Integrada

    PSF Programa de Sade da Famlia

    PUCRS Pontifcia Universidade do Rio Grande do Sul

    SC Santa Catarina

    SGTES Secretaria de Gesto do Trabalho e da Educao em Sade

    SUS Sistema nico de Sade

    TCC Trabalho de Concluso de Curso

    TIC Tecnologias da Informao e Comunicao

    UEL Universidade Estadual de Londrina

    UEMG Universidade Estadual de Minas Gerais

    UFBA Universidade Federal da Bahia

    Ufes Universidade Federal do Esprito Santo

    UFF Universidade Federal Fluminense

    UFG Universidade Federal de Gois

    UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

    UFMA Universidade Federal do Maranho

    UFPB Universidade Federal da Paraba

  • UFPE Universidade Federal de Pernambuco

    UFPR Universidade Federal do Paran

    UFPR Universidade Federal do Paran

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

    UNaSUS Universidade Aberta do Brasil

    UnB Universidade de Braslia

    UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense

    UNISUL Universidade do Sul de Santa Catarina

    UNIVILLE Universidade da Regio de Joinville

    USP Universidade de So Paulo

    UVV Universidade Vila Velha

  • 26

  • SUMRIO

    APRESENTAO ........................................................................ 31

    1 INTRODUO ....................................................................... 35

    2 OBJETIVOS ........................................................................... 41 2.1.1 Objetivo Geral ............................................................. 41 2.1.2 Objetivos Especficos ................................................... 41

    3 REFERENCIAIS TERICOS ....................................................... 43 3.1 NOVOS CAMINHOS NA EDUCAO PROFISSIONAL NA

    REA DA SADE ............................................................. 43 3.1.1 A Educao a Distncia ................................................ 43 3.1.2 Novas diretrizes para a Educao Farmacutica ........... 45 3.1.3 Educao permanente ................................................. 47 3.2 GESTO E PLANEJAMENTO ............................................... 48 3.2.1 Gesto da Assistncia Farmacutica ............................ 48 3.2.2 Planejamento em Sade .............................................. 53 3.2.2.1 O Modelo de Planejamento e Gesto do SUS e a

    aplicabilidade do Planejamento Estratgico Situacional 54 3.2.2.2 A proposta de Carlos Matus: Planejamento Estratgico

    Situacional............... ....................................................... 58 3.2.2.3 O Planejamento Estratgico como importante

    ferramenta para a Aprendizagem Organizacional ......... 62 3.3 ALGUNS PRESSUPOSTOS CONSTRUDOS A PARTIR DOS

    REFERENCIAIS TERICOS ................................................ 63 3.4 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE O PERCURSO

    METODOLGICO DA PESQUISA ..................................... 66

    4 A EDUCAO A DISTNCIA NA QUALIFICAO DE PROFISSIONAIS PARA O SISTEMA NICO DE SADE ............... 69 4.1 O METAESTUDO ................................................................ 69 4.2 MATERIAL E MTODOS ..................................................... 70 4.2.1 Procedimentos de busca ............................................. 70 4.2.2 Critrios elegibilidade de (incluso e excluso)............. 70 4.2.3 Anlise dos dados ....................................................... 72

  • 28

    4.3 RESULTADOS ..................................................................... 72 4.4 METATEORIA ..................................................................... 81 4.4.1 Referenciais tericos clssicos nas perspectivas

    pedaggicas construtivistas ......................................... 81 4.4.2 Referenciais tericos abordando os ideais pedaggicos de

    Paulo Freire ................................................................. 82 4.4.3 Referencial terico sobre a Educao Permanente em

    Sade .......................................................................... 82 4.4.4 Referencial da Educao a Distncia ............................. 83 4.5 METAMTODO .................................................................. 85 4.6 METANLISE ...................................................................... 85 4.7 DISCUSSO ........................................................................ 86 4.7.1 Educao no contexto do sculo XXI e a

    formao/qualificao dos profissionais de sade do SUS ............................................................................. 86

    4.8 CONSIDERAES FINAIS .................................................... 92

    5 EDUCAO A DISTNCIA PARA A QUALIFICAO PROFISSIONAL DE FARMACUTICOS DO SISTEMA PBLICO DE SADE BRASILEIRO ........................................................................... 95 5.1 AS BASES LEGAIS ............................................................... 95 5.2 O CONTEXTO PARA A PROPOSIO DO CURSO ................ 97 5.3 A GESTO DO CURSO ........................................................ 98 5.4 UM CURSO ESTRUTURADO EM REDE ............................... 99 5.5 POPULAO ATENDIDA .................................................. 102 5.6 O ENFOQUE PEDAGGICO DO CURSO ............................ 104 5.7 ORGANIZAO DOS CONTEDOS DIDTICOS ................ 107 5.8 O ENFOQUE NA GESTO E NO PLANEJAMENTO

    ESTRATGICO SITUACIONAL ......................................... 111 5.9 ATIVIDADE AVALIATIVA DO MDULO DE GESTO - PLANO

    OPERATIVO ................................................................... 115 5.10 MEDIAO PEDAGGICA E INTERAO ......................... 118 5.11 CONSIDERAES FINAIS .................................................. 119

    6 A APRENDIZAGEM EM PLANEJAMENTO E GESTO DESENCADEADA PELO DESENVOLVIMENTO DO PLANO OPERATIVO ......................................................................... 123

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    6.1 INTRODUO .................................................................. 123 6.2 METODOLOGIA ............................................................... 124 6.2.1 Procedimentos metodolgicos ................................... 125 6.2.1.1 Sujeitos e lcus da pesquisa ......................................... 125 6.2.1.2 Construo e validao dos instrumentos de coleta de

    dados........................... ................................................ .125 6.2.1.3 Envio dos instrumentos de coleta de dados ................ 126 6.2.1.4 Anlise de dados........................................................... 126 6.2.1.5 Aspectos ticos 128 6.3 RESULTADOS ................................................................... 128 6.3.1 Caractersticas dos sujeitos ......................................... 128 6.3.2 Anlise das Questes 8 e 9 e 10 (egressos) .................. 130 6.3.3 Anlise DSC qualitativa e quantitativa das questes .... 139 6.3.3.1 Questionrio dos tutores ............................................. 142 6.3.4 Questionrio dos egressos .......................................... 150 6.4 DISCUSSO ...................................................................... 177 6.5 PERSPECTIVAS ................................................................. 191

    REFERNCIAS ........................................................................... 193

    APNDICES ............................................................................... 217 APNDICE A - MODELO DE CARTA ENCAMINHADA A TUTORES E

    EGRESSOS ..................................................................... 217 APNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DOS

    TUTORES ....................................................................... 218 APNDICE C - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DOS

    EGRESSOS ..................................................................... 223 APNDICE D - PARECER CONSUBSTANCIADO ........................... 232

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    APRESENTAO

    Este trabalho foi desenvolvido no mbito do Programa de Ps-Graduao em Farmcia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na linha de pesquisa Garantia da Qualidade de Insumos, Produtos e Servios Farmacuticos, na qual est inserido o grupo de pesquisa: Poltica e Servios Farmacuticos.

    O estmulo para construo da tese partiu da atuao na gesto dos servios na Farmcia do Componente Especializado da Assistncia Farmacutica no Estado do Maranho (MA) e, principalmente, como tutora do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica Especializao a Distncia, na primeira edio, no Polo So Lus-MA.

    A observao de alteraes importantes no discurso dos estudantes durante a tutoria, ao longo do curso, em relao s mudanas pessoais, superaes e tambm no modo de fazer o servio, foi o ponto decisivo para pensar este projeto de pesquisa.

    Em uma oficina proposta para discutir o desenvolvimento da atividade avaliativa deste mdulo, uma egressa relatou acerca de seu desconhecimento inicial em relao modalidade EaD e conceitos e metodologias que envolviam o curso, entre eles: a Gesto, o Planejamento Estratgico e o desenvolvimento do Plano Operativo. A egressa deu nfase s suas superaes pessoais e profissionais a ponto de ter conseguido cooperar com outros colegas.

    O relato da egressa, na poca, trouxe muitos questionamentos e interesse sobre qual seria o discurso de outros egressos do curso sobre suas experincias em relao ao desenvolvimento desta atividade e como teria ocorrido, na perspectiva deles e dos tutores, essa aprendizagem, considerando no apenas a teoria, mas a prtica.

    A situao de superao da aluna foi elucidada s mais tarde, nas disciplinas cursadas durante o Doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Foi com o olhar voltado para Jean Piaget, quando ele ressalta a superao dos estgios de anomia, heteronomia dos sujeitos at alcanarem o estgio de cooperao, que comeou-se a entender sobre a superao dos egressos.

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    As repostas para esses e outros questionamentos levaram a uma busca intensa. Recorreu-se a disciplinas de outros campos do conhecimento, para isso, participou-se de algumas aulas no Programa de Ps Graduao em Educao, Sade Coletiva e pesquisou-se junto a literaturas no campo da Administrao, Gesto do Conhecimento e Psicologia Educacional, buscando-se entender conceitos e teorias desconhecidas relacionados, sobretudo, ao Planejamento e Gesto, Aprendizagem Significativa, Aprendizagem Significativa Crtica e Aprendizagem Organizacional.

    Ressalta-se que a tese um dos produtos do projeto Insero de tecnologias a distncia combinadas com presenciais no ensino na rea da sade, aprovado no edital CAPES n. 024210 - Pr-Ensino na Sade. Este projeto envolveu a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), como coordenadora; a Universidade Federal do Paran (UFPR) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O objetivo geral do projeto foi contribuir para a consolidao da linha de pesquisa em tecnologias presenciais e a distncia no ensino da sade por meio da produo de tecnologias aplicveis na rea da sade, tanto no ensino de graduao e ps-graduao, como na interao entre a Universidade e os servios de sade. Tal projeto subsidiou financeiramente a bolsa de doutorado.

    Na tese foram trabalhados temas relacionados ao Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia. A tese contribuir para o melhor entendimento acerca do processo de aprendizagem em relao Gesto e Planejamento em Sade, com foco no Planejamento Estratgico Situacional (PES), que foi mediado pela atividade avaliativa de um dos mdulos do curso, o mdulo de Gesto.

    O trabalho est organizado na forma de captulos. Na Introduo so apresentados: o tema; o problema de pesquisa; o objeto de estudo; a justificativa; e os objetivos. No captulo 2 descrevem-se os referenciais tericos, abordando Educao a Distncia; a Educao Farmacutica e a Educao Permanente; no captulo tambm contextualiza-se Gesto e Planejamento em Sade, temas pouco trabalhados nos Cursos de Graduao em Farmcia, o que justificou a necessidade de capacitao dos profissionais. Em

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    consonncia com os objetivos do projeto, so apontadas as contribuies do PES para Aprendizagem Organizacional e outros atributos cognitivos e sua aplicao no setor pblico de sade do Brasil.

    O captulo 3 apresenta o resultado de um metaestudo sobre a caracterizao de concepes terico pedaggicas em Educao a Distncia na formao/qualificao de trabalhadores do Sistema nico Sade e identificao de cursos em Educao a Distncia no Brasil. Esse captulo originou um artigo, que foi publicado na Revista Trabalho Educao e Sade.

    No captulo 4 relatada experincia de um programa de Educao a Distncia - O Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia, que ocorreu no mbito da Universidade Aberta (UNA-SUS) para a qualificao de farmacuticos do Sistema nico de Sade (SUS). Pretende-se submeter o contedo deste captulo como um artigo ao American Journal Pharmaceutical Education.

    O quinto captulo apresenta aspectos relacionados percepo dos tutores e egressos sobre Aprendizagem em Gesto e Planejamento desencadeada durante o desenvolvimento do Plano Operativo. Parte desse captulo foi publicada como artigo completo nos anais do ESUD 2014 - XI Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distncia, realizado em Florianpolis/SC, de 5 a 8 de agosto de 2014 - UNIREDE. Outra parte dos resultados ser organizado na forma de um artigo que ser submetido Revista Cadernos de Sade Pblica.

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    1 INTRODUO

    Nos ltimos anos, as mudanas ocorridas nos cenrios econmico-poltico sociocultural no mundo repercutiram em todas as reas. Na rea da sade, percebeu-se mudanas importantes, como o surgimento de novas doenas, incorporao cada vez mais acirrada de novas tecnologias e problemas no mbito da Gesto da Sade cada vez mais complexos.

    Em se tratando da formao dos profissionais da rea da sade, evidenciou-se um descontentamento em relao ao modelo de ensino centrado no professor e na relao verticalizada professor-aluno. Em geral, esse modo de ensino valoriza o modelo biomdico, em detrimento do modelo biopsicossocial. Nas discusses mais atuais, os parmetros considerados para formao e ou qualificao dos profissionais de sade tm sido a formao que implique a autonomia do educando e a valorizao da relao horizontal professor-aluno.

    No Brasil, as mudanas na formao dos profissionais da rea da sade tm se evidenciado desde a implantao das novas diretrizes curriculares dos cursos de graduao na rea da sade, de modo a corroborar com princpios e diretrizes do SUS, adotando-se como pilares parmetros internacionais, tais como: a interdisciplinaridade e a valorizao das necessidades de sade da populao, a integralidade, e o conceito ampliado de sade. A reforma trouxe o estabelecimento de diretrizes gerais em detrimento do currculo mnimo (BRASIL, 2002a). A Reforma Curricular do Curso de Graduao em Farmcia introduziu conhecimentos referentes Assistncia Farmacutica. Contudo, ressalta-se que estas mudanas e conceitos, na prtica, no so fceis de serem vivenciados. necessrio um olhar diferenciado do corpo docente para este novo modo de pensar a sade e de conduzir o processo ensino-aprendizagem (LEITE et al., 2008).

    Convm ressaltar que, mesmo aps a implantao das novas diretrizes curriculares nos cursos da sade, muitas dessas mudanas ainda no repercutiram em resultados na prtica dos servios. Este o caso do curso de Graduao em Farmcia, especialmente nas reas

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    de Gesto e de Prtica Clnica. Esse fato acarreta uma grande demanda de profissionais necessitando de capacitao.

    No mbito da profisso farmacutica, na rea de Assistncia Farmacutica, as mudanas estruturais vm ocorrendo nos servios pblicos de sade no pas, principalmente a partir de 2003. Considerando-se a regulamentao dos Pactos pela vida, em defesa do SUS e de Gesto em 2006, o financiamento da Assistncia Farmacutica, conforme Portaria GM/MS n. 204/2007, atualizada pela Portaria GM/MS n. 837/2009, passou a constituir um bloco prprio, no qual esto inseridos os trs componentes previstos pela Assistncia Farmacutica: componente bsico, estratgico e especializado (BRASIL, 2007a; BRASIL, 2009b).

    Inicialmente, as discusses e aes propostas foram, praticamente, voltadas para a garantia do financiamento e disponibilidade do medicamento. A medida que algumas barreiras relacionadas ao acesso ao produto foram enfrentadas, as discusses avanaram no sentido de garantir o acesso aos servios farmacuticos.

    Nesse sentido, necessrio que os profissionais farmacuticos busquem, alm do conhecimento tcnico sobre os medicamentos; qualificao para compreender e atuar no local em que sua utilizao ocorre. Eles devem contribuir para a mudana da realidade em prol da sade e da cidadania e precisam ter um olhar ampliado sobre a sade e sobre o indivduo. Este olhar exige habilidades e competncias no mbito da gesto, envolvendo a autonomia, a liderana e a comunicao.

    Habilidades e competncias podem ser desenvolvidas por meio de processos de formao/qualificao dos profissionais da rea da sade. Este papel vem sendo desempenhado pelo Sistema nico de Sade, em consonncia com o inciso III do art. 200 da Constituio Brasileira de 1988, na inteno de alcanar melhor qualificao dos servios (BRASIL, 1988).

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    [...] Art. 200. Ao Sistema nico de Sade compete, alm de outras atribuies, nos termos da lei: [...] III - ordenar a formao de recursos humanos na rea de sade; [...]

    Muitos desses cursos so oferecidos como Educao a

    Distncia (EaD), por oportunizarem capacitar uma vasta gama de profissionais, superando a distncia e o tempo, alm de haver a possibilidade de formar redes colaborativas de aprendizagem e de apoio mtuo.

    Neste sentido, tem se observado algumas iniciativas de capacitao na rea da Assistncia Farmacutica, especialmente no formato aperfeioamento e especializao. No Sul do Brasil, a UFRGS e a UFSC tm se apresentado como ncleos relevantes para formao de pessoal para a qualificao da Assistncia Farmacutica com perspectiva para formao de redes.

    Dentre as iniciativas de capacitao na rea da farmcia, o curso sobre a Gesto da Assistncia Farmacutica na modalidade Educao a Distncia, coordenado pela UFSC, em parceria com vrias Instituies de Ensino Superior (IES), apresentou grande repercusso e capilaridade no pas. O curso objetivou a capacitao de farmacuticos atuantes no servio pblico de sade em todo o pas e foi operacionalizado em duas edies, a primeira em 2010-2014 e a segunda em 2013-2016.

    Em 2010, a UFRGS, UFSC e UFPR apresentaram o projeto: Insero de tecnologias distncia combinadas com presenciais no ensino na rea da sade (Edital n. 024/2010 - Pr-Ensino na Sade), que objetivou estimular, no pas, a realizao de projetos de pesquisa cientfica e tecnolgica e a formao de mestres, doutores na rea do Ensino na Sade, visando melhoria do ensino de ps-graduao e graduao em Sade. A partir desse projeto, e da experincia do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia, surgiu a ideia para esta tese.

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    O curso foi pioneiro no Brasil com enfoque na Gesto e no Planejamento Estratgico Situacional. Este curso desenvolveu novas abordagens de ensino-aprendizagem na rea farmacutica.

    Pela magnitude dos resultados deste projeto de qualificao para Assistncia Farmacutica no pas, um banco de dados tem sido disponibilizado a vrios pesquisadores engajados em trabalhar e divulgar os resultados das pesquisas (incluindo TCC, dissertaes e teses) envolvendo tanto os dados do curso no meio acadmico, quanto na gesto dos servios.

    Assim, para construo desta tese, optou-se, como recorte, trabalhar com o mdulo transversal de Gesto da Assistncia Farmacutica,

    Convm ressaltar que os objetivos de aprendizagem para o Mdulo de Gesto da Assistncia Farmacutica referidos para curso, foram:

    Compreender os fundamentos da gesto e suas bases no planejamento e na avaliao, assim como seu desenvolvimento nas prticas da Assistncia Farmacutica no Sistema nico de Sade; Reconhecer os instrumentos do Planejamento Estratgico participativo no contexto da Assistncia Farmacutica. (LEITE; GUIMARES, 2011, p. 11).

    Nesta tese, considerou-se que analisar a percepo de aprendizagem em Gesto e Planejamento dos egressos, significa saber, de forma indireta, se os objetivos do curso em relao aprendizagem foram alcanados e quais fatores podem ter contribudo para esse alcance, ou ainda, se houve dificuldades, quais os fatores que geraram dificuldades. importante que se estude e analise-se esses resultados, uma vez que a divulgao deles favorecer a compreenso de uma nova postura em relao Gesto e Planejamento para tomada de deciso por parte dos gestores, profissionais de sade e academia.

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    Considera-se que os temas Gesto e Planejamento, e as experincias desenvolvidas no servio, so pouco estudados, logo, uma melhor compreenso acerca desse aspecto poder trazer benefcios, tais como: a incorporao destes contedos na graduao; a melhor interao ensino/servio, tanto a nvel de graduao quanto ps-graduao, e melhorias em relao prtica dos servios.

    Este trabalho pretende contribuir para o aprofundamento destes temas, buscando responder s seguintes questes de pesquisa:

    a) Partindo do ponto de vista dos tutores e egressos, a aprendizagem em Gesto e Planejamento foi significativa, transformadora?

    b) A aprendizagem deu indcios de transformao de sujeitos e suas realidades?

    c) A aprendizagem em Gesto e Planejamento foi interativa, autnoma e cooperativa?

    d) O que facilitou e o que dificultou o processo de aprendizagem, considerando esses aspectos?

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    2 OBJETIVOS

    2.1.1 Objetivo Geral

    Analisar aspectos relacionados aprendizagem mediada pelo desenvolvimento da atividade Prtica de Gesto - Plano Operativo (PO), no Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia.

    2.1.2 Objetivos Especficos

    Caracterizar as concepes tericas pedaggicas em Educao a distncia na formao/qualificao de trabalhadores do Sistema nico Sade e na identificao de cursos em Educao a Distncia no Brasil;

    Apresentar o contexto do estudo por meio da descrio da estrutura organizacional e pedaggica do Curso e a construo da atividade avaliativa do mdulo de Gesto da Assistncia Farmacutica;

    Analisar, segundo a perspectiva do tutor, o processo de aprendizagem do egresso em Gesto e Planejamento, a partir da experincia de desenvolvimento do Plano Operativo (PO);

    Analisar, conforme a perspectiva do egresso, o seu processo de aprendizagem em Gesto e Planejamento a partir da experincia de desenvolvimento do PO.

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    3 REFERENCIAIS TERICOS

    3.1 NOVOS CAMINHOS NA EDUCAO PROFISSIONAL NA REA DA SADE

    3.1.1 A Educao a Distncia

    Nos ltimos anos, mediante o desenvolvimento das Tecnologias de Informao e Comunicao, sobretudo as digitais, houve uma expanso na oferta de propostas em Educao a Distncia (EaD) no Brasil (GARCIA; BAPTISTA, 2007).

    Considerando as dimenses continentais do pas, garantir a formao adequada a um grande nmero de profissionais do SUS, de modo presencial onerosa e difcil. Assim, a EaD tem sido uma aliada para sanar esse problema. Pois permite superar as distncias fsicas, e a falta de autonomia e flexibilidade nos estudos. Essa estratgia de ensino possibilita o compartilhamento dos saberes dos profissionais envolvidos; interao; dilogo; engajamento; e formao de redes de aprendizagem mtua.

    No Brasil, desde a promulgao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei n. 9.394, de 1996), esse modo de fazer educao passou ser uma questo de cidadania e dever do Estado. Em seu artigo 80, fica definido que cabe ao poder pblico a responsabilidade em ofertar, manter e garantir acesso a programas de Ensino a Distncia nos diferentes nveis e modalidades e possibilitar o fortalecimento da educao permanente (BRASIL, 1996).

    O Decreto n. 5622/2005, que regulamenta o artigo 80 da Lei n. 9.394/1996, a conceitua como uma modalidade, cuja mediao didtico-pedaggica ocorre provida de tecnologias de informao e comunicao, com aprendizes e docentes desenvolvendo suas atividades em tempos e lugares diversificados (BRASIL, 2005).

    O Sistema nico de Sade (SUS) tem responsabilidade direta na qualificao/formao de seus profissionais, conforme evidenciado desde a Constituio Federal de 1988 e da Poltica Nacional de Educao Permanente em Sade (BRASIL, 1998; BRASIL

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    2007b; BRASIL 2009a). Nesse contexto, a Educao a Distncia tem sido uma importante ferramenta na formao/qualificao de profissionais da rea da sade no pas (BRUTSCHER; SAMPAIO; PEREIRA, 2012).

    Esse modo de fazer educao tem sido uma estratgia para qualificao dos profissionais, especialmente aqueles oriundos de uma graduao marcada pela relao verticalizada professor-aluno, apoiada no positivismo e olhar reducionista do modelo biomdico.

    A Educao a Distncia, quando respaldada em propostas pedaggicas que favoream ambientes cooperativos e construtivistas de aprendizagem, pode oportunizar a horizontalizao entre professor-aluno; formao de redes colaborativas de aprendizagem e interao. Acrescenta-se a isso a possibilidade de alcanar grandes demandas de profissionais que necessitam de qualificao (CASTELLS, 1999; PAIM; GUIMARES, 2009; PARENTE, 2004; RANGEL-S et al., 2012).

    Portanto, tem-se investido em concepes terico-pedaggicas que reconheam o educando como sujeito ativo no seu processo de aprendizagem, como a lgica norteadora dos princpios da Aprendizagem Significativa; da Metodologia da Problematizao; das Pedagogias Histrico-Construtivistas; e do referencial terico da Educao Permanente em Sade (PAIM; ALVES; RAMOS, 2009; PAIM; GUIMARES, 2009; RANGEL-S et al., 2012;).

    No mbito da educao permanente, a Educao a Distncia tem sido uma estratgia importante, pois possibilita integrao e aprimoramento de profissionais formando redes de interao, aprendizagem e de apoio. Nesses espaos, o conhecimento construdo coletivamente (VITORINO, 2006; PAIM; ALVES; RAMOS, 2009).

    Para Paulon e Carneiro (2009), esta comunicao em rede proporciona a gesto compartilhada na formao e modos de intervir numa realidade complexa, mediante a democratizao do ensino e da gesto.

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    3.1.2 Novas diretrizes para a Educao Farmacutica

    Processos educacionais reconhecendo a autonomia do educando e o ensino democrtico foram mais enfatizados na dcada de 1970, quando surgiram vrios movimentos sociais no mundo que passaram a questionar o modelo econmico vigente e o desenvolvimento cientfico permeado pelo modo de pensar positivista. Nesse ponto, a questo da interdisciplinaridade nos diversos campos do saber ganhou fora. No caso da rea da sade, houve um fortalecimento da crtica ao modelo biocntrico em relao s discusses sobre o enfrentamento de problemas e a disciplinarizao (GARCIA et al.; 2006).

    O debate em torno desse modelo na formao de profissionais da rea de sade, somado ao desenvolvimento no campo cientfico e tecnolgico, contriburam para as discusses sobre a necessidade de um novo perfil do profissional de sade. Destarte, para enfrentar problemas cada vez mais complexos diante de uma realidade multifacetada, necessrio um profissional crtico, reflexivo, proativo, com competncias para atuar em vrias situaes e que saiba trabalhar em equipe (SOUSA, 2014).

    Em relao profisso farmacutica, a partir da dcada de 1980, a Organizao Mundial de Sade props a discusso a respeito do papel desse profissional na ateno sade. Nessas discusses, em formato de reunies e que aconteceram em diversas partes do mundo, passou-se a discutir as funes desempenhadas pelo profissional e suas responsabilidades, considerando as necessidades do paciente e da comunidade. Tambm foram propostas caractersticas do farmacutico como prestador de servios, tomador de decises, lder com potencial para o gerenciamento, aprendiz por toda vida e mestre. Alm disso, o profissional farmacutico foi considerado com o perfil mais adequado para lidar com o medicamento e aes em seu entorno, no sentido da melhoria de acesso e uso adequado (SOUZA, 2003; OMS, 1990; WHO, 1997).

    Ao mesmo tempo que ocorriam discusses sobre o papel do profissional farmacutico na sociedade, debates em torno da Educao Farmacutica tambm se consolidavam (LEITE et al.; 2008).

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    No Brasil, na dcada de 1990, as mudanas no cenrio educacional foram impulsionadas pela Lei das Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) (Lei n. 9.394/1996). Em 2001, foram criadas novas diretrizes curriculares para os cursos de graduao na rea da sade (enfermagem, medicina e nutrio) com foco em parmetros como: interdisciplinaridade, integralidade, flexibilidade e saber multiprofissional, segundo as necessidades e demandas da sociedade (BRASIL, 1996; BRASIL 2001).

    As diretrizes curriculares do curso de graduao em Farmcia foram estabelecidas por meio da resoluo CNE/CES-2/2002 (BRASIL, 2002; CNE, 2002).

    Segundo essas diretrizes, tem-se como perfil do egresso o profissional cujas caractersticas da graduao devem:

    [...] contemplar as necessidades sociais da sade, a ateno integral da sade no sistema regionalizado e integralizado de referncia e contra referncia e o trabalho em equipe, com nfase no Sistema nico de Sade. (CNE, 2002, p. 3).

    Nesse contexto, salienta-se que as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduao em Farmcia seguiram as recomendaes internacionais, quanto necessidade de sustentar-se na interdisciplinaridade, considerando quatro pilares em relao aprendizagem: aprender a conhecer e a pensar, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser (SOUSA, 2014).

    Nicoline e Vieira (2011) apontam que, embora as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduao em Farmcia sejam um fato histrico para a profisso, na prtica a implementao tem sido uma tarefa rdua, visto que formar um profissional com esse perfil requer o rompimento de algumas barreiras e, conforme Leite e colaboradores (2008), a necessidade de sensibilizao dos docentes para o compromisso com tais mudanas.

    O novo perfil pressupe que o profissional desenvolva habilidades compatveis com outras reas do conhecimento, no intuito de formar farmacuticos que vo alm da funo de executar

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    tarefas e que sejam lderes e capazes de tomar decises nos mais diversos contextos (NICOLINE; VIEIRA, 2011).

    A esse respeito, salienta-se que conhecimentos em cincias sociais e administrativas tm sido foco em cursos de educao permanente em alguns pases como Estados Unidos, incluindo aspectos sociais, econmicos, comportamentais, jurdicos, administrativos e gerenciais, alm de competncias relacionadas com a implementao da assistncia farmacutica, no intuito de possibilitar maior qualidade aos servios (HASSELL et al., 2002; YIN et al., 2010).

    3.1.3 Educao permanente

    Alguns autores afirmam que muitos profissionais que esto no mercado de trabalho no foram capacitados para o contexto atual de desenvolvimento da Assistncia Farmacutica, inclusive nos Estados Unidos, que iniciou suas mudanas curriculares bem antes do Brasil (ROUSE, 2004; YIN et al., 2010; CUNHA; MARTINEZ; FERNANDES-LLIMOS, 2015).

    Para esses autores, isso tambm pode ser observado em outros pases como Canad e Nova Zelndia

    Nesse aspecto, a educao permanente uma oportunidade para trabalhar a competncia do farmacutico no mbito da Assistncia Farmacutica contempornea amparado pela melhoria dos conhecimentos, habilidades e desempenho (FIP, 2002; BURKE et al., 2008; MOHAMED, 2012).

    Conforme Pilar, Sarramona (2006), a educao permanente remete formao dirigida aos profissionais que pretendem desenvolver seu potencial, suas habilidades, atitudes e conhecimentos. Ela ocorre ao longo da vida laboral dos indivduos. Desse modo, ela visa capacitar os trabalhadores para alcance dos objetivos da organizao. Entretanto, o autor advoga que ela tambm corrobora para o desenvolvimento do trabalhador como pessoa. O alcance de objetivos, tanto organizacionais como a satisfao pessoal e profissional do indivduo, por meio da educao

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    permanente, traz como perspectiva mudanas a nvel pessoal, organizacional e social.

    No Brasil, Ceccim (2005) adota a expresso Educao Permanente em Sade como vertente pedaggica, visto que essa formulao ganhou o estatuto de poltica pblica na rea da Sade. Ademais, o fortalecimento do SUS, mediante melhorias e mudanas nas prticas de sade, est relacionado com transformaes na formao e qualificao profissional de seus trabalhadores (PAIM; ALVES; RAMOS, 2009). Em 2009, foi publicada a Poltica Nacional de Educao Permanente. Segundo essa poltica, a educao deve permear o dia a dia do trabalhador. O espao de trabalho passa a ser um espao para aprender com o outro, onde as situaes so diariamente transformadas em mecanismos de aprendizagem e de reflexo sobre os problemas, de modo contextualizado (BRASIL, 2009a).

    A Poltica Nacional de Educao Permanente ressalta, em seu pargrafo V, do artigo 20, que de responsabilidade da esfera federal e dos estados a implementao de formas de monitoramento e de mecanismos que possibilitem a avaliao e a atuao profissional nessa rea (BRASIL, 2009a).

    3.2 GESTO E PLANEJAMENTO

    3.2.1 Gesto da Assistncia Farmacutica

    O Sistema nico de Sade (SUS), criado a partir da Constituio Brasileira de 1988, tem sido estruturado por meio de polticas pblicas, regulamentaes e pactos. O Pacto pela Sade de 2006 (PORTARIA GM/MS 399/2006), aprovado na CIT (Comisso Intergestores Tripartite), objetivou a consolidao do SUS, estabelecendo as diretrizes operacionais em trs dimenses de pactuao: pela Vida, em Defesa do Sistema nico de Sade e de Gesto. A Portaria n. 699/GM/2006 apresenta a regulamentao do Pacto de Gesto do SUS, que define as responsabilidades sanitrias do gestor municipal, do gestor estadual e do gestor federal do SUS, no que diz respeito aos aspectos da descentralizao, regionalizao, financiamento, planejamento, Programao Pactuada e Integrada

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    (PPI), regulao, participao social e gesto do trabalho e da educao na sade (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2006b).

    No que diz respeito ao financiamento, a portaria 204/GM, de 29 de janeiro de 2007, estabelece que os recursos federais para o custeio do Sistema nico de Sade devem ser organizados e transferidos em blocos de financiamento, entre os quais, definido um bloco especfico para a Assistncia Farmacutica (BRASIL, 2007).

    Esse perodo foi marcado pelo estabelecimento de polticas de garantia do acesso a medicamentos, com aumento do elenco disponibilizado e do financiamento para aquisio deles. Esses fatos contriburam significativamente para a crescente demanda de profissionais a serem qualificados para o exerccio das atividades de Gesto da Assistncia Farmacutica.

    Ressalta-se que este um tema ainda pouco esclarecido nos cursos de graduao em Farmcia, embora a gesto adequada dos recursos seja essencial para garantia da qualidade dos servios prestados.

    Gesto conceituada como sendo uma atividade relacionada a aes de coordenao, articulao, controle e avaliao de sistemas de sade municipais, estaduais ou federais, de acordo com a Norma Operacional Bsica (NOB SUS 1996) (BRASIL, 1997).

    Alguns autores vo alm desse conceito, enfatizando a gesto como um fenmeno complexo e multideterminado, alm de defenderem a ideia de que a gesto tambm uma prtica social (LEITE; GUIMARES, 2011; JUNQUILHO, 2001; BARRETO; GUIMARES, 2010). A ideia de prtica social, expressada por Junquilho (1991), tem sua base nos trabalhos de Reed (1984; 1989) e Harris (1980). Assim, para esses autores, a prtica social um engajamento em um conjunto de aes praticadas por membros de uma comunidade em que conceitos relacionados a objetivos ou problemas so compartilhados mediante acentuada interao para alcance de resultados favorveis. Nessas aes, deve-se considerar os recursos necessrios para obteno desses objetivos. Convm tambm reconhecer as condies situacionais ou limitadoras em que as prticas so empreendidas.

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    O engajamento importante para o alcance de resultados e, no nvel organizacional, constitui-se no empenho, no colocar-se disposio da organizao, agindo e executando aes e atividades visando alcanar os objetivos e metas da organizao (RODRIGUES, 2003). O autor aponta que h um ciclo de etapas, no mbito das organizaes, que condicionam o engajamento, a saber: abertura para o dilogo; abertura para ideias e sugestes, apontando para o estmulo criatividade; compatibilidade de objetivos; desempenho do papel; rede de relacionamentos e compartilhamento de conhecimento. O estabelecimento da rede de relacionamentos gera troca de conhecimentos e estratgias, e esta interatividade entre os envolvidos favorece o alcance de resultados, pois, resultados so alcanados somente em coletividade (WHITLEY, 1989).

    Barreto e Guimares (2010) colocam que Gesto o ato de conduzir todos os recursos disponveis para transformar determinada situao indesejvel em uma outra, mais favorvel.

    Leite e Guimares (2011) atestam que isso requer habilidades de quem conduz pois, a gesto um fenmeno tcnico, poltico e social capaz de gerar resultados. tcnico por requerer conhecimento cientfico; poltico por que o ato de conduzir envolve diferentes olhares, interaes, decises, interesses e conflitos; e social, pois qualquer tomada de deciso refletir direta e indiretamente na sociedade.

    Para Motta (1995), a conduo de processos de gesto exige destreza, criatividade e sensibilidade, por isso gesto considerada como arte.

    A gesto no , assim, isenta de conflitos, tenses e de interesses, uma vez que cada indivduo est inserido na sociedade de forma desigual (LEITE; GUIMARES, 2010). Desse modo, o conflito no deve ser considerado como algo totalmente desfavorvel. Na viso de Ceclio (2005), o conflito existe quando um ou mais atores expem um julgamento, uma opinio ou uma anlise situacional de modo distinto.

    Para Baldwin e colaboradores (2008), o conflito s um agente complicador quando ele for do tipo conflito de relacionamento pessoal. Quando o conflito de tarefas, ele est associado a

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    diferenas ideolgicas. Martinelli e Almeida (1998) afirmam que o conflito pode e deve ser considerado como um agente capaz de produzir mudanas, uma vez que ele est relacionado capacidade de pensar, argumentar, ouvir, aprender e respeitar o outro. Para esses autores, o conflito existe por existir diferenas na sociedade.

    Por existirem essas diferenas, o que uma caracterstica da prpria democracia, to importante o modo de ver de cada ser humano. O processo de deciso deve considerar o ouvir e o olhar diferenciado de cada um. O olhar influenciado pela posio que se ocupa na organizao que se est analisando, e esse olhar est sempre comprometido com a ao, no isento de intencionalidades (CECLIO, 2005).

    A habilidade de saber lidar com as diferenas, traz como consequncia a aprendizagem colaborativa. Essa habilidade caracterstica dos gestores em tempos atuais. Nesse mbito, o gestor conhece e est inserido na realidade que pretende modificar (LEITE; GUIMARES, 2011).

    Considerando esse pensamento, Carlos Matus, em seu tringulo de governo (Figura 1) afirma que preciso considerar algumas variveis para que se possa governar. Para Matus, indispensvel haver um projeto de governo; governabilidade do sistema e capacidade de governo. Essas variveis so interdependentes e viabilizam a concretizao de um plano de ao (ARTMANN, 2012; MATUS, 1993; TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA, 2002).

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    Figura 1 - Tringulo de governo de Carlos Matus

    Fonte: Elaborado a partir de Matus (1993).

    Um projeto de governo um objetivo a ser alcanado, objetivo esse que deve ser pactuado entre os atores. indispensvel haver o planejamento de modo colaborativo para que se alcance o alvo pretendido. O projeto de governo define os problemas que sero resolvidos e aes a serem executadas para enfrent-lo (GUARDINI; NUNES; PEREIRA, 2013; TANCREDI; BARROS; FERREIRA 2002).

    Para governar, indispensvel saber mobilizar diversos tipos de recursos como: recurso de poder, financeiro, de material e humano, para que se possa atingir determinado objetivo. preciso ser capaz de negociar e, para tanto, deve-se considerar uma conduta mais flexvel diante das decises.

    Por fim, a governabilidade do sistema envolve aes dialgicas, de interao e de parceria entre os atores envolvidos no processo. importante buscar aliados para diminuir os entraves que dificultam a realizao e obteno do sucesso de determinado projeto. O gestor deve ter a capacidade de compreender quais aes ele tem a capacidade de executar por ter controle da situao e quais aes ele no tem controle, e nesse ponto que ele deve ser estratgico, buscar aliados e selecionar os problemas possveis de serem enfrentados (GUARDINI; NUNES; PEREIRA, 2013; TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA 2002).

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    Leite e Guimares (2011) enfatizam que a gesto refora a autonomia e que isso indispensvel para que as mudanas aconteam.

    3.2.2 Planejamento em Sade

    Para Teixeira (2010), planejar significa refletir as aes humanas, definir objetivos a serem alcanados por meio de aes pensadas, com a necessidade constante de construo de viabilidade dessas aes, no intuito de enfrentar os problemas priorizados e atender demandas individuais e coletivas.

    Campos e colaboradores (2010) colocam que o planejamento permite o aproveitamento do tempo e de recursos, e que isso permite o alcance de objetivos pretendidos. Na realidade, o ato de planejar caracteriza a prpria economia capitalista (BOURDIEU, 1979; GIOVANELLA, 1991).

    Giovanella (1991) ressalta que planejar, no improvisar e cita Bourdieu (1979) colocando que faz parte da sociedade moderna pensar no futuro e refletir sobre a ao presente, para que se atinja melhores resultados.

    O planejamento considerado uma ferramenta importante na gesto das organizaes. Segundo Maximiano (1992), organizaes so associaes de indivduos, e suas aes so pensadas em prol de se obter um objetivo em comum, coletivo. Em uma dada organizao, o gestor deve conduzir o processo de modo que a misso seja cumprida.

    O planejamento, portanto, deve fazer parte do ciclo administrativo PDCA, que tambm conhecido como Mtodo de Melhorias PDCA, ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, cujas letras em ingls significam PLAN, DO, CHECK, ACT, ou seja, planejar, fazer, checar e agir.

    A etapa do planejamento compreende: misso, objetivos, metas, procedimentos e processos (metodologias) necessrios para o alcance dos resultados; a etapa de execuo compreende as aes que foram pensadas e que devem ser executadas; a etapa de controle/avaliao compreende o monitoramento e avaliao

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    constante dos processos e dos resultados com o que foi inicialmente planejado; e a etapa ao compreende o momento de corrigir os vieses para melhorar os resultados alcanados (VEBER; LACERDA; CALVO, 2011).

    H que se ressaltar que o planejamento em gesto exige muita competncia de quem o conduz, pois o setor sade formado por um conjunto de atores, unidades, programas e servios que, de modo integrado e articulado, intencionam responder as necessidades de sade da populao, ainda que existam diferentes intencionalidades e conflitos (LACERDA et al., 2012).

    Na viso estratgica de conduzir processos de gesto, no existe um diagnstico nico da realidade. Considera-se a existncia do conflito e o planejamento considerado como um processo aberto e indefinido (VEBER; LACERDA; CALVO, 2011). Para Giovanella (1991), a estratgia a capacidade de buscar situaes ideais, utilizando-se da capacidade de explorar situaes favorveis para esse fim. A estratgia incorpora e agrega o econmico, o poltico e o social. O termo estratgico utilizado quando existe conflito, confronto e relao de poder, situaes que caracterizam o Planejamento em Sade. Ainda conforme Giovanella, esses so pontos comuns entre as trs vertentes de Planejamento Estratgico postulados por Mrio Testa, Carlos Matus e Emiro Trujjilo Uribe com Juan Jos Barrenechea.

    Nesta tese, seguindo a proposta do Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica- Especializao a Distncia, atenta-se aos conceitos empreendidos pela viso de Carlos Matus.

    3.2.2.1 O Modelo de Planejamento e Gesto do SUS e a aplicabilidade do Planejamento Estratgico Situacional

    O desenvolvimento do Planejamento em Sade nas organizaes, no Brasil foi se evidenciando paulatinamente, medida que surgiam alguns acontecimentos importantes, tais como: o movimento de Reforma Sanitria, a 8 Conferncia Nacional de Sade (1986) e a instituio do SUS. Esses eventos configuraram uma situao propcia para o fortalecimento do Planejamento em Sade (TEIXEIRA, 2010).

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    Assim, surgiram vrios documentos legais afirmando a necessidade do planejamento para o setor pblico de sade: a Lei 8.080 de 1990, que designa direo nacional do SUS a responsabilidade para elaborar o Planejamento Estratgico Nacional em cooperao com as outras esferas de governo; a Lei n. 8.142 de 1990, que prope que o diagnstico para o Planejamento em Sade seja realizado em conferncias de sade, e determina que as aes sejam controladas e acompanhadas por meio de relatrios de gesto; as Normas Operacionais Bsicas, de 1990, e Norma Operacional de Assistncia Sade que sustentam a ideia de descentralizao ao designar as funes de cada nvel de gesto e atribuir os deveres e compromissos entre eles (BRASIL, 1990a; BRASIL, 1990b; BERRETA; LACERDA; CALVO, 2011).

    Para Berreta e colaboradores (2011), os avanos obtidos no processo de descentralizao ao longo dos anos de existncia do SUS promovem a sustentao da gesto descentralizada, articulada, cooperativa e solidria entre as trs esferas de governo, o que fortalece o SUS. Lacerda e colaboradores (2012) corroboram com essa ideia, ressaltando que a descentralizao um importante componente para consolidao do SUS, por permitir a definio de objetivos e a organizao de aes que sero desenvolvidas, alm de propiciar o acompanhamento, fiscalizao, controle de gastos e avaliao de resultados alcanados.

    Nesse sentido, os autores comentam que vrios mtodos, tcnicas e instrumentos de programao de aes e servios de sade vm sendo implementados nos vrios nveis organizacionais. Convm ressaltar que o debate a respeito das concepes tericas de planejamento tem se intensificado desde a dcada de 1970.

    Em 2006, o Ministrio da Sade instituiu o Pacto pela Vida e Pacto de Gesto do SUS (BRASIL, 2006b) e, considerando o planejamento como premissa para gesto, criou a estratgia Planeja SUS, com intuito de favorecer a articulao dos processos de planejamento nas trs esferas de governo (TEIXEIRA, 2010).

    Dentre alguns dos objetivos do Sistema de Planejamento do SUS, tem-se:

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    a. Pactuar diretrizes gerais para o processo de planejamento no mbito do SUS e o elenco dos instrumentos a serem adotados pelas trs esferas de gesto;

    b. Formular metodologias e modelos bsicos dos instrumentos de planejamento, monitoramento e avaliao que traduzam as diretrizes do SUS, com capacidade de adaptao s particularidades de cada esfera administrativa;

    c. Promover a anlise e a formulao de propostas destinadas a adequar o arcabouo legal no tocante ao planejamento do SUS;

    d. Implementar e difundir uma cultura de planejamento que integre e qualifique as aes do SUS entre as trs esferas de governo e subsidie a tomada de deciso por parte de seus gestores;

    e. Desenvolver e implementar uma rede de cooperao entre os trs entes federados, que permita um amplo compartilhamento de informaes e experincias;

    f. Promover a institucionalizao e fortalecer as reas de planejamento no mbito do SUS, nas trs esferas de governo, com vistas a legitim-lo como instrumento estratgico de gesto do SUS;

    g. Promover a capacitao contnua dos profissionais que atuam no contexto do planejamento do SUS;

    h. Promover a integrao do processo de planejamento e oramento no mbito do SUS, bem como a sua intersetorialidade, de forma articulada com as diversas etapas do ciclo de planejamento. (BRASIL, 2006b, p. 32-33).

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    Considerando que os servios de sade so permeados por problemas complexos e que necessitam de viso ampliada dos atores inseridos em dada realidade, incluindo os usurios que buscam seus direitos, um planejamento abrangente e que favorea maior participao, como o Planejamento Estratgico Situacional, interessante para o enfrentamento dos problemas (ARTMANN, 2012). Lima e colaboradores (2008) colocam que a aplicabilidade do mtodo na gesto da sade muito se deve forma como os problemas so tratados e que isso facilita a conduo de problemas complexos e no-estruturados.

    Muitos so os trabalhos que relatam a aplicabilidade do Planejamento Estratgico Situacional e a melhoria dos servios no mbito organizacional. Santana e colaboradores (2014), por exemplo, utilizaram o Planejamento Estratgico Situacional para a institucionalizao da seleo de medicamentos em doze hospitais pblicos de diferentes portes e especialidades, alm do servio estadual de atendimento mvel de urgncia de Sergipe. Como resultado do trabalho, os autores relataram: a regulamentao de fluxos e procedimentos para seleo de medicamentos; a organizao de comisses de farmcia e teraputica; e a elaborao de lista de medicamentos essenciais. Scholze e colaboradores (2006) relataram que o Planejamento Estratgico Situacional foi importante e trouxe benefcios no modo de atuar das equipes de sade do PSF com relao s aes de controle da hansenase no mbito do Programa Sade da Famlia, em Balnerio Cambori, no Estado de Santa Catarina.

    Alguns cursos, no mbito da Gesto da Sade, tm proposto como atividade prtica de gesto a aplicao do Planejamento Estratgico Situacional no trabalho. Entre esses cursos, destaca-se o Curso de Especializao em Gesto da Assistncia Farmacutica: uma proposta interinstitucional para Santa Catarina, realizado em 2008 em conjunto com seis instituies de ensino no estado de Santa Catarina. A proposta foi bem avaliada, pela qualidade do Curso ofertado, e tambm pelo trabalho desenvolvido em rede, que repercutiu na qualificao da assistncia farmacutica, e gerou

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    discusses e conhecimentos que foram difundidos por meio das instituies participantes.

    Os resultados deste curso presencial foram reconhecidos pelo Ministrio da Sade (MS), ao mesmo tempo em que a UFSC foi reconhecida como um centro de excelncia para o desenvolvimento de educao a distncia, estes fatos contriburam para que o MS convidasse o Departamento de Cincias Farmacuticas CIF/UFSC a montar uma proposta em rede para a elaborao de material para a formao em gesto da assistncia farmacutica na modalidade especializao a distncia junto a Universidade Aberta do SUS (UNaSUS).

    3.2.2.2 A proposta de Carlos Matus: Planejamento Estratgico Situacional

    O Planejamento Estratgico Situacional surgiu na dcada de 1970, proposto por Carlos Matus Romo, economista chileno, quando atuava como Ministro do Planejamento no governo do presidente chileno Salvador Allende. Matus fazia crticas ao planejamento tradicional da poca, mais conhecido como planejamento normativo (ADUM; COELHO, 2006).

    O Planejamento Estratgico Situacional advm do pensamento de que se deve aumentar a capacidade de governar. O ator privilegiado o governo. Para Matus, existem passos que devem ser percorridos e problemas que devem ser enfrentados, seguindo operaes bem pensadas para que se alcance a situao ideal ou imagem-objetivo (MATUS, 1993).

    O termo situacional diz respeito ao lugar onde se inserem os atores e as aes (MATUS, 1982) ou, como diz Ceclio (2005, p. 510), interpretando Matus, situao o recorte interessado da realidade feito por um ator engajado na ao. O Planejamento Estratgico Situacional constitudo por quatro momentos no sequenciais:

    Explicativo: neste momento se faz o diagnstico inicial; pensa-se na situao ideal e na distncia entre esses dois

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    extremos; constri-se a imagem objetivo; analisa-se os problemas existentes, causas e consequncias desses problemas; e determina-se os ns crticos para definio de operaes e aes. Todos devem participar com seu olhar neste processo (ARTMANN, 2012; GUARDINI; NUNES; PEREIRA; 2013).

    Normativo: neste momento se prope operaes e aes para se atingir o resultado almejado a partir dos objetivos gerais e especficos estabelecidos em cada n crtico. Operaes, segundo Artmann, (2012), so compromissos de ao ou formas de intervir utilizando-se recursos de diversas naturezas como: organizativo, poltico e econmico, no intuito de promover resultados.

    Estratgico: o momento em que se verifica que recursos se tem disponvel para executar determinado plano. o momento para pensar como tornar vivel esse projeto do ponto de vista poltico, econmico, cognitivo e organizativo, analisando sempre os obstculos a transpor. Nesse momento, pensa-se como dever ser a relao entre a vontade: o deve ser e a realidade: o pode ser (ARTMANN, 2012; GUARDINI; NUNES; PEREIRA, 2013).

    Ttico Operacional: o momento do fazer e de monitorar as aes para alcance da mudana desejada em determinado cenrio.

    Teixeira (2010) comenta que a ideia de momentos, significa que o planejamento realizado em um processo simultneo e que, s vezes, pode haver o predomnio de um momento sobre o outro. A autora explica que a anlise de situao, efetivada no momento explicativo, reflete uma ideia de futuro almejado (momento normativo) e representa, de igual modo, um meio de avaliar o

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    presente (momento ttico operacional), seguindo algumas aes (momento normativo) para trazer resolutividade ao problema que foi priorizado.

    Considerando-se estes momentos, na Figura 2 so apresentados os passos do Planejamento Estratgico Situacional de Carlos Matus (MATUS, 1993).

    Tendo em vista os passos e o caminho a ser percorrido de uma situao indesejvel at a situao ideal (imagem-objetivo), percebe-se o dilogo como uma caracterstica marcante nesse processo, tanto para tomada de deciso e negociao, como para a administrao dos conflitos inerentes em uma organizao.

    Rivera e Artmann (1999) colocam que o dilogo , possivelmente, uma das maiores qualidades do Planejamento Estratgico. Para os autores, o Planejamento Estratgico matusiano reflete a problematizao em coletividade, que articula atores e valoriza a negociao poltica.

    Para Teixeira (2010), o estabelecimento do dilogo, a democratizao das relaes, a maior comunicao entre dirigentes, colaboradores e usurios, bem como a no separao entre sujeito e objeto de planejamento e a flexibilidade no processo realizado em momentos transponveis, so os argumentos que atestam a utilizao do Planejamento Estratgico Situacional para a conduo dos processos de gesto no mbito do SUS.

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    Figura 2 - Representao dos passos do Planejamento Estratgico Situacional de Carlos Matus

    Fonte: Elaborado a partir de Matus (1993).

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    3.2.2.3 O Planejamento Estratgico como importante ferramenta para a Aprendizagem Organizacional

    Aprendizagem Organizacional pode ser entendida como um processo permanente que envolve interao social, cujas ideias e experincias individuais e coletivas so compartilhadas em uma organizao, resultando em conhecimento capaz de modificar comportamentos de acordo com os estmulos percebidos no ambiente (MORESI, 2001; LEAL FILHO, 2002; GONALVES, 2008). Alm da Aprendizagem Organizacional, outros processos cognitivos, tais como: inteligncia interpessoal, aprendizagem individual, competncias essenciais, habilidades desenvolvidas, capacidades individuais, experincias no trabalho, criatividade individual, motivao para o trabalho, liderana compartilhada e socializao, contribuem para o desenvolvimento das organizaes (RODRIGUES, 2003).

    O Planejamento Estratgico repercute em outras vantagens alm de estratgia e objetivos, ele colabora para a Aprendizagem Organizacional (ENDLICH, 2001). A efetiva participao de diferentes atores, refletida no dilogo, na interao e integrao, na democratizao de ideias e na descentralizao durante o desenvolvimento do Planejamento Estratgico, conduzem ao aprendizado e fazem emergir a criatividade (GONALVES, 2008).

    O dilogo conduz ao aprendizado de circuito duplo, que envolve questionamento, dvida e reflexo sobre a prpria conduta e reviso de valores, que leva construo. A aprendizagem de circuito duplo possibilita a mudana de valores e concepes de uma organizao, indo alm da resoluo de problemas (ARGYRIS, 2006; DAVINI, 2009; FAZENDA, 2000; GONALVES, 2008).

    Uma forma de fortalecer esse tipo de aprendizado realizar a anlise e a soluo de problemas complexos mediante um olhar policntrico e multicultural, que envolve interdisciplinaridade, que o que se observa em metodologias de planejamento participativas, como o Planejamento Estratgico Situacional.

    A interao propiciada pelo Planejamento Estratgico Situacional conduz os indivduos a processos de criao e recriao na organizao, e essa interao, aliada ao meio ambiente,

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    indispensvel para aprendizagem (FIALHO et al., 2010). Todas as organizaes aprendem, independentemente de metas propostas para obteno desse fim. Algumas organizaes propem a capacitao como meio de promover a Aprendizagem Organizacional (RODRIGUES, 2003).

    Assim, as organizaes aprendem mediante o compartilhamento de conhecimentos dos diversos atores que expe seus saberes na realizao de tarefas, e que so perpetuados de algum modo. Pode-se afirmar, ento, que a aprendizagem flui do nvel individual ao organizacional (FIALHO et al., 2010; RODRIGUES, 2003).

    O aprendizado supe mudanas de comportamento e de mentalidade. importante que o indivduo compreenda e reflita sobre seu comportamento, atitude, envolvimento e participao junto com os outros e de modo coerente, pois isso configura a aprendizagem (ARGYRIS, 1978; RODRIGUES, 2003).

    3.3 ALGUNS PRESSUPOSTOS CONSTRUDOS A PARTIR DOS REFERENCIAIS TERICOS

    Considerando-se os referenciais tericos adotados, convm tecer alguns comentrios:

    Esta tese considerou que a Assistncia Farmacutica no se resume ao cumprimento das etapas de um ciclo logstico, mas significa avanar para a complexidade da realidade em que o farmacutico est inserido. O profissional deve: perceber os problemas e o modo como se apresentam esses problemas; compreender a misso da organizao na qual atua; atuar em parceria, em equipe; saber administrar conflitos e entender que relaes de poder existem em toda organizao e que, para avanar rumo aos objetivos da instituio, preciso lidar com isso.

    O farmacutico necessita ser gestor e planejador de suas aes. Deve deixar de ter um olhar burocrtico e

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    normativo sobre o Sistema e passar a ser proativo, refletindo sobre suas aes e atuando de modo colaborativo quanto ao enfrentamento dos problemas nas organizaes, sendo agente da mudana da realidade da qual faz parte. Os sujeitos no devem ser vistos de modo isolado, deve-se considerar o contexto no qual esto inseridos, pois o homem um ser biopsicossocial, dotado de conhecimentos e experincias, ambos conquistados ao longo da vida.

    importante para aprendizagem desses indivduos, que suas experincias e conhecimentos prvios sejam levados em conta, para que os novos conhecimentos a serem adquiridos possam fazer sentido, conforme proposto na Teoria da Aprendizagem Significativa, de David Ausubel (AUSUBEL, 2003). Para que haja aprendizagem significativa, conforme a teoria ausubeliana, outros fatores so considerados igualmente necessrios, tais como: a predisposio para aprender e que os materiais educativos sejam potencialmente significativos.

    Nesta tese, adotou-se, alm dos pressupostos de Ausubel, a ideia de Moreira, que define tambm como fatores indispensveis para que haja aprendizagem: o ambiente, a linguagem e a interao social. Moreira se reveste das ideias de autores como o prprio Ausubel, Habermas, Maturana e Vygotsky, alm de outros tericos, para formular sua teoria da Aprendizagem Significativa Crtica (MOREIRA, 2011a).

    Em relao ao processo ensino-aprendizagem de adultos no contexto de trabalho, buscou-se argumentos nos pressupostos da Educao Permanente em Sade que considera que a aprendizagem ocorre no interior

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    das organizaes; tendo como um dos seus fundamentos a Teoria da Aprendizagem Organizacional.

    No contexto da Educao Permanente, em relao profisso farmacutica, considerou-se as discusses propostas pela Organizao Mundial de Sade e, em relao ao Brasil, as discusses do Frum Nacional de Educao Farmacutica, a respeito da formao/qualificao profissional na ateno sade, levando-se em conta a integralidade nas aes e as necessidades de sade das pessoas. Nesse caso, considera-se indispensvel na formao desse profissional o desenvolvimento de habilidades e competncias para lidar com realidades e problemas complexos nos servios.

    Neste trabalho, considera-se o referencial terico de Gesto e Planejamento proposto pelo Curso de Gesto da Assistncia Farmacutica - Especializao a Distncia, baseado no conceito de gesto como um fenmeno tcnico, poltico e social e nos pressupostos do Planejamento estratgico Situacional (PES). Desse modo, ressalta-se que a gesto um fenmeno tcnico, social e poltico, passvel de resultados, e que o planejamento uma ferramenta indispensvel para alcanar esse fim, pois capaz de proporcionar interao, colaborao e aprendizagem. Pensa-se que s possvel haver mudanas quando os sujeitos esto engajados para o alcance de objetivos e, para tal necessrio que ele pense e aja em coletividade.

    Quando se fala em aprendizagem em Gesto e Planejamento, pensa-se no compartilhamento de conhecimentos e experincias de atores, relacionados a um certo cenrio; pensa se tambm, de forma estratgica, no modo desses atores de verem os

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    problemas, planejarem as aes e gerirem os servios, no somente pensando na soluo de problemas, mas com propsito de mudar realidades e criar redes de relacionamentos. Para isso, os atores devem buscar o engajamento em relao aos objetivos da organizao e compartilhar saberes e experincias a ponto de cooperar, formando a rede colaborativa de aprendizagem e apoio mtuo.

    3.4 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE O PERCURSO METODOLGICO DA PESQUISA

    Para responder as questes de pesquisa, nesta tese, trabalhou-se com formas distintas de coleta, tcnica e anlise de dados em relao a cada objetivo do estudo.

    Em relao ao objetivo: Caracterizar as concepes tericas pedaggicas em Educao a distncia na formao/qualificao de trabalhadores do Sistema nico Sade e na identificao de cursos em Educao a Distncia no Brasil, optou-se por realizar uma reviso sistemtica da literatura, chamada metaestudo.

    Para o objetivo: Apresentar o contexto do estudo por meio da descrio da estrutura organizacional e pedaggica do Curso e a construo da atividade avaliativa do mdulo de Gesto da Assistncia Farmacutica, utilizou-se anlise documental.

    E para os objetivos: Analisar, segundo a perspectiva do tutor, o processo de aprendizagem do egresso em Gesto e Planejamento, a partir da experincia de desenvolvim