aspectos metodolÓgicos do levantamento de...

89
ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS PARA A ESPECIFICAÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES Fernando Abreu Rocha de Souza Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. Dr. Jorge dos Santos Rio de Janeiro Setembro de 2016

Upload: others

Post on 18-May-2020

7 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS

PARA A ESPECIFICAÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES

Fernando Abreu Rocha de Souza

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção

do título de Engenheiro Civil.

Orientador:

Prof. Dr. Jorge dos Santos

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

Page 2: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

2

ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS

PARA A ESPECIFICAÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES

Fernando Abreu Rocha de Souza

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

____________________________________________________________

Prof. Dr. Jorge dos Santos, D. Sc. (Orientador)

____________________________________________________________

Profª. Ana Catarina Jorge Evangelista, D. Sc.

____________________________________________________________

Profª. Isabeth Mello, M. Sc.

____________________________________________________________

Prof. Willy Weisshuhn, M. Sc.

____________________________________________________________

Prof. Wilson Wanderley da Silva

Page 3: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

3

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

SETEMBRO DE 2016

De Souza, Fernando Abreu Rocha

Aspectos metodológicos do levantamento de materiais sustentáveis para especificação

em obras de edificações / Fernando Abreu Rocha de Souza – Rio de Janeiro: UFRJ /

Escola Politécnica, 2015.

UFRJ/ESCOLA POLITÉCNICA, 2015.

XVIII, 89 p.: Il.; 29,7 cm.

Orientador: Prof. Dr. Jorge dos Santos

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola

Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 84 -89.

1. Introdução. 2. Sustentabilidade na construção civil. 3. Sustentabilidade dos materiais de

construção. 4. Estratégias adotadas pelas construtoras com relação à seleção e uso de

materiais sustentáveis. 5. Análise da sustentabilidade dos materiais de construção

disponíveis no mercado. 6. Conclusões. I. Jorge dos Santos.

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil.

III. Título.

Page 4: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

4

AGRADECIMENTOS

À minha família, por me proporcionarem todas as oportunidades na vida, pelo

carinho na criação, pela educação e caráter transmitidos e inspiração depositadas na minha

capacidade.

Aos meus avós e padrinhos Clara de Abreu Rocha e Osório Vieira da Rocha pela

paciência, amor e carinho que sempre me proporcionaram.

À Lorenna Giannini, minha maior motivação, por me ensinar o significado do amor,

pelo constante apoio frente a qualquer dificuldade e pela ajuda essencial no cumprimento

deste trabalho, serei eternamente grato.

A meus amigos Bernardo Mutti, Caio Seguin, Eduardo Leão, Guilherme Vilaça,

Pedro Yagelovic e Thiago Ramon por manterem a tartaruga formada por mais de uma

década.

A meus amigos de Southampton: André Gentil, Caique Lima, Camila Martinez,

Eduardo Moreira, Filipe Cardozo, Gustavo Eboli, Higuel Norões, Ivan Lonel, Leonardo

Cardoso, Lucas Portes, Marcelo Melo, Maria Fernanda Cerini, Mariana Leandro, Mariana

Teodoro, Pablo Freitas, Ricardo Angelotti e Yuri Vilas Boas (In memoriam) por terem

proporcionado o melhor ano da minha vida.

Aos amigos André Bastos, André Luís Santos, Marina Bacellar, Marina Villanueva,

Rafael Lucas Machado e Renata Zenaro por terem tornado agradáveis os muitos anos na

ilha do Fundão.

Aos amigos da centrífuga: Juliana Pessin e Samuel Felipe Tarazona pelos

ensinamentos que me motivaram a seguir a área acadêmica.

Page 5: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

5

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS

PARA A ESPECIFICAÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES

Fernando Abreu Rocha de Souza

Setembro / 2016

Orientador: Prof. Dr. Jorge dos Santos

Curso: Engenharia Civil

As mudanças climáticas, impulsionadas pelas crescentes emissões antropogênicas, estão

aos poucos modificando o relacionamento do homem com a natureza. A preocupação

latente com as consequências do aquecimento global está estimulando a prática da

sustentabilidade em diversos setores da indústria. Por possuir elevada contribuição nos

impactos ambientais causados pelo homem, o setor da construção civil deve adotar os

conceitos do desenvolvimento sustentável de maneira a otimizar o uso dos recursos

naturais por meio de racionalidade e eficiência, ou seja, fazer mais com menos. Dentro

desse contexto, os materiais de construção possuem importante papel, pois são os

componentes básicos de qualquer edificação. Dessa forma, soluções mais sustentáveis

estão sendo incorporadas também ao setor de materiais de construção. No entanto, ainda

existe muita falta de informação e negligência por parte dos profissionais da construção

civil. Pensando nisso, esse trabalho visa a fazer uma análise quanto à sustentabilidade dos

principais materiais de construção presentes no mercado brasileiro e promover a

conscientização da importância de se considerar os impactos causados pelo produto no

momento de selecionar os materiais de construção a serem utilizados.

Palavras-chave: Sustentabilidade, Materiais de construção, Materiais sustentáveis.

Page 6: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

6

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Civil Engineer.

METHODOLOGICAL ASPECTS OF THE SURVEY OF SUSTAINABLE MATERIALS FOR

SPECIFICATION IN CONSTRUCTION OF BUILDINGS

Fernando Abreu Rocha de Souza

September / 2016

Advisor: Prof. Dr. Jorge dos Santos

Course: Civil Engineering

Climate change, driven by the growing anthropogenic emissions, is slowly changing man’s

relationship with nature. The latent concern with the consequences of global warming is

stimulating the practice of sustainability in several industry sectors. By having a high

contribution to environmental impacts caused by man, the construction sector must adopt

the concepts of sustainable development in order to optimize the use of natural resources

through rationality and efficiency, that is, doing more with less. Within this context, the

construction materials have an important role, because they are the basic component of any

building. Thus, more sustainable solutions are also being incorporated into the building

materials sector. However, there is still lack of information and negligence on the part of

construction professionals. Thinking about it, this paper aims to make an analysis about the

sustainability of the main building materials present in the Brazilian market and promote

awareness of the importance of considering the impacts caused by the product when

selecting the building materials to be used.

Key-words: Sustainability, Building materials, Sustainable materials.

Page 7: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

7

SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................................................... 13

1.1. Relevância do tema ............................................................................................................... 13

1.2 Objetivos ................................................................................................................................... 14

1.3. Justificativa da escolha do tema .......................................................................................... 14

1.4. Metodologia ............................................................................................................................. 15

1.5. Estruturação ............................................................................................................................ 15

2. Sustentabilidade na construção civil ........................................................................................... 16

2.1. Desenvolvimento sustentável ............................................................................................... 16

2.2. Retrospectiva histórica .......................................................................................................... 16

2.3. Sustentabilidade na Construção Civil .................................................................................. 21

2.3.1. Construção sustentável .................................................................................................. 21

2.3.2. Sistemas de avaliação ambiental de edificações....................................................... 23

3. Sustentabilidade dos materiais de construção .......................................................................... 35

3.1. Materiais de construção e seus impactos .......................................................................... 36

3.1.1. Impactos ambientais na fase de produção ................................................................. 36

3.1.2. Impactos ambientais na fase de uso ............................................................................ 37

3.1.3. Impactos ambientais na fase de pós-uso .................................................................... 38

3.2. Critérios para classificação de materiais como sustentáveis .......................................... 39

3.2.1. Avaliação do ciclo de vida.............................................................................................. 40

3.2.2. Avaliação de ciclo de vida modular .............................................................................. 41

3.2.3. Seis passos para a seleção de materiais e fornecedores ........................................ 42

3.2.4. Declaração ambiental do produto ................................................................................. 46

3.2.5. Certificações RGMat ....................................................................................................... 46

4. Estratégias adotadas pelas construtoras com relação à seleção e uso de materiais

sustentáveis ........................................................................................................................................ 48

5. Análise da sustentabilidade dos materiais de construção disponíveis no mercado ........... 51

5.1 Materiais cerâmicos ................................................................................................................ 51

5.1.1. Blocos de concreto ......................................................................................................... 51

5.1.2. Blocos cerâmicos ............................................................................................................ 59

5.1.3. Telhas cerâmicas ............................................................................................................ 67

5.1.4. Cimento ............................................................................................................................. 70

5.2. Aço ............................................................................................................................................ 78

Page 8: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

8

6. Conclusões ..................................................................................................................................... 82

Referências Bibliográficas ................................................................................................................ 84

Page 9: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

9

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Políticas públicas de planejamento e gestão (CBCS, 2014a). ................................ 33

Tabela 2 - Políticas públicas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (CBCS, 2014a). . 34

Tabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a). .............................. 34

Tabela 4 - Lista de empresas participantes, por estado da federação (CBCS, 2014b). ........ 52

Tabela 5 - Blocos de concreto para pavimento selecionados para o estudo (CBCS, 2014b).

.............................................................................................................................................................. 53

Tabela 6 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos para

pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b). .......................................................................................... 55

Tabela 7 - Levantamento do número de empresas que informaram dados de resíduos

gerados no processo de fabricação dos blocos de concreto – cimentícios e outros (CBCS,

2014b). ................................................................................................................................................. 56

Tabela 8 - Blocos estruturais e de vedação selecionados para o estudo (CBCS, 2014b). .... 57

Tabela 9 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos

estruturais e de vedação (CBCS, 2014b)....................................................................................... 58

Tabela 10 - Principais características dos produtos estudados (QUANTIS, 2012). ................ 60

Tabela 11 - Descrição geral do sistema – Extração de matéria prima (QUANTIS, 2012). .... 62

Tabela 12 - Descrição geral do sistema – Transporte de matéria prima (QUANTIS, 2012). . 63

Tabela 13 - Descrição geral do sistema – Fabricação (QUANTIS, 2012). ............................... 63

Tabela 14 - Descrição geral do sistema – Distribuição, uso e fim de vida (QUANTIS, 2012).

.............................................................................................................................................................. 65

Tabela 15 - Principais características das telhas estudadas (QUANTIS, 2012). ..................... 67

Tabela 16 - Tipos de cimento da indústria brasileira e europeia, composição e participação

no mercado (GUERREIRO, 2014). ................................................................................................. 75

Tabela 17 - Avaliação dos impactos ambientais do processo de fabricação da indústria

cimenteira brasileira e europeia (GUERREIRO, 2014). ............................................................... 76

Tabela 18 - Emissões de GEE (AÇO BRASIL, 2013). ................................................................. 80

Tabela 19 - Indicativos globais do desempenho da indústria do aço (WORLDSTEEL, 2014).

.............................................................................................................................................................. 80

Page 10: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

10

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Medidas a Serem Tomadas em um Projeto de Construção Sustentável.

(MATEUS, 2009) ................................................................................................................................ 23

Figura 2- Selo Procel Edifica (PROCELINFO, 2006). .................................................................. 29

Figura 3 - Selo Casa Azul CAIXA (CAIXA, 2010). ........................................................................ 30

Figura 4 - Etapas de avaliação do ciclo de vida do produto (TECHNE, 2010). ....................... 41

Figura 5 - Sistema de produto para a fabricação de blocos de concreto para pavimento e

para alvenaria (CBCS, 2014b). ........................................................................................................ 53

Figura 6 - Ciclo de vida de paredes de blocos cerâmicos (QUANTIS, 2012). ......................... 60

Figura 7 - Ciclo de vida de paredes de blocos de concreto (QUANTIS, 2012). ....................... 61

Figura 8 - Ciclo de vida de paredes de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).

.............................................................................................................................................................. 61

Figura 9 - Ciclo de vida das telhas cerâmicas (QUANTIS, 2012). ............................................. 68

Figura 10 - Ciclo de vida das telhas de concreto (QUANTIS, 2012). ........................................ 69

Figura 11- Etapas de produção do cimento Portland (ABCP, s.d.). ........................................... 72

Figura 12 - Sistema de produto da fabricação do cimento Portland (GUERREIRO, 2014). .. 74

Page 11: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

11

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Educação, capacitação e divulgação (CBCS, 2014a). ............................................. 31

Gráfico 2 - Demanda de ferramentas (CBCS, 2014a). ................................................................ 31

Gráfico 3 - Demanda por incentivos e financiamentos (CBCS, 2014a). ................................... 32

Gráfico 4 - Legislação, regulamentação e certificação (CBCS, 2014a). ................................... 32

Gráfico 5 - Índices de conformidade dos materiais presentes no mercado nacional (PBQP-H,

s.d.). ...................................................................................................................................................... 35

Gráfico 6 - Critérios adotados para a seleção de materiais de construção (CBCS, 2014). ... 48

Gráfico 7 - Dificuldades encontradas para a seleção de materiais de construção (CBCS,

2014). ................................................................................................................................................... 49

Gráfico 8 - Ferramentas avaliadas como mais úteis para a seleção de materiais de

construção (CBCS, 2014). ................................................................................................................ 49

Gráfico 9 - Indicador de energia incorporada – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS,

2014b). ................................................................................................................................................. 54

Gráfico 10 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS,

2014b). ................................................................................................................................................. 55

Gráfico 11 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos para pavimento de

35 MPa (CBCS, 2014b). ................................................................................................................... 56

Gráfico 12 - Indicador de energia incorporada – Blocos estruturais e de vedação (CBCS,

2014b). ................................................................................................................................................. 57

Gráfico 13 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos estruturais e de vedação (CBCS,

2014b). ................................................................................................................................................. 58

Gráfico 14 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos estruturais e de

vedação (CBCS, 2014b). .................................................................................................................. 59

Gráfico 15 - Comparação do impacto ambiental nas diferentes fases do ciclo de vida

(QUANTIS, 2012). .............................................................................................................................. 66

Gráfico 16 - Comparativo do impacto ambiental das etapas do ciclo de vida das telhas

cerâmicas e das telhas de concreto (QUANTIS, 2012). .............................................................. 70

Gráfico 17 - Consumo de energia na produção de concreto (TORGAL & JALALI, 2010). .... 71

Gráfico 18 - Relação entre cimentos da indústria brasileira pelos impactos ambientais

resultantes (GUERREIRO, 2014). ................................................................................................... 77

Gráfico 19 - Relação clínquer/cimento dos tipos de cimento avaliados na ACV

(GUERREIRO, 2014). ....................................................................................................................... 78

Gráfico 20 - Destinação dos coprodutos e resíduos em 2013 (AÇO BRASIL, 2013). ............ 79

Gráfico 21 - Matriz energética em 2013 (AÇO BRASIL, 2013). ................................................. 80

Page 12: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

12

LISTA DE SIGLAS

IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (do inglês,

Intergovernmental Panel on Climate Change)

CO2 – Dióxido de Carbono

PIB – Produto Interno Bruto

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

ONU – Organização das Nações Unidas

GEE – Gás de Efeito Estufa

MDL – Mecanismo do Desenvolvimento Limpo

CIB – Conselho Internacional da Construção (do francês, Conseil International du Bâtiment)

CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável

MMA – Ministério do Meio Ambiente

LEED – Liderança em Energia e Projeto Ambiental (do inglês, Leadership in Energy and

Environmental Design)

WBCSD – Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (do inglês,

World Business Council for Sustainable Development)

BREEAM – Avaliação Ambiental da Fundação de Pesquisa em Construções (do inglês,

Building Research Establishment Environmental Assessment Method)

AQUA – Alta Qualidade Ambiental

HQE – Alta Qualidade Ambiental (do francês, Haute Qualité Environnementale)

ACV - Avaliação de Ciclo de Vida

ACV-m - Avaliação de Ciclo de Vida Modular

PBPQ-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat

CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

RSE - Responsabilidade Social Empresarial

CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

OIT - Organização Internacional do Trabalho

EPD – Declaração Ambiental do Produto (do inglês, Environmental Product Declaration)

ISO – Organização Internacional para Padronização (do inglês, International Organization

for Standardization)

Page 13: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

13

1. Introdução

1.1. Relevância do tema

O elevado crescimento tecnológico e econômico impulsionado pela Revolução

Industrial trouxe melhorias para a qualidade de vida de uma grande parcela da população

mundial. Este avanço, no entanto, representa para o meio ambiente um grande aumento no

consumo de recursos naturais, geração de resíduos sólidos e emissão de gases poluentes

de forma a suprir a crescente demanda por produtos. Devido a estas práticas, o planeta

passa por mudanças climáticas substanciais que, caso não sejam eficientemente

combatidas, podem resultar no fim da civilização humana. O aquecimento global é o maior

desafio ambiental do século XXI (SOUZA, 2010).

O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) de 2014 relata

evidências claras para o aquecimento global, a influência direta da ação humana para os

grandes impactos ambientais causados e a necessidade de mudança imediata. Segundo o

relatório, cada uma das três últimas décadas tem sido sucessivamente mais quente na

superfície terrestre do que qualquer década anterior desde 1850. Além disso, a temperatura

média da superfície do planeta sofreu um aumento de 0,85ºC durante o período de 1880 e

2012. Esse aumento da temperatura média global está diretamente relacionado aos níveis

de concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Tal concentração atual é de

430 ppm crescendo a um ritmo de 2 ppm/ano, valor este que pode ser comparado à

Revolução Industrial, onde a concentração era de 280 ppm (STERN, 2006).

Uma consequência do aumento da temperatura em nível mundial é a elevação do

nível do mar de no mínimo 7 metros, causado pelo derretimento das calotas polares

(KUNZIG & BROECKER, 2008). Outras consequências que merecem destaque são a maior

ocorrência de períodos de secas, chuvas torrenciais e furacões (ALLAN & SODEN, 2008;

LIU et al., 2009; ZOLINA et al., 2010) e a perda da biodiversidade por extinções em massa.

Sob esta ótica, fica clara a necessidade da ação conjunta para reverter esse quadro

através da mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Um dos meios de se alcançar

tal redução é pela adoção de condutas sustentáveis em cada segmento com atuação

humana.

Reconhecidamente, a indústria da Construção Civil possui um papel essencial para

a sociedade, sendo responsável pela contratação de 10% da mão de obra global e

movimentação de 10% do PIB mundial (UNEP, 2009). O setor também detém uma

demanda de 40% da energia e um terço dos recursos naturais; emite um terço dos gases

de efeito estufa; consome 12% da água potável e produz 40% dos resíduos sólidos urbanos

Page 14: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

14

(UNEP, 2009). No panorama brasileiro da construção, o consumo de água se aproxima de

16% (ANA APUD CETESB, 2010), o consumo de materiais é de 9,4 toneladas por habitante

anualmente e a geração de resíduos sólidos atinge cerca de 500 Kg por habitante por ano

(JOHN, 2000).

O impacto ambiental da construção civil ocorre em toda a cadeia produtiva, desde a

concepção dos edifícios até a sua demolição. A fim de reduzir estes impactos, os esforços

devem ser focados nas etapas de planejamento e projeto, já que a possibilidade de

intervenção na fase de projeto é muito maior que nas outras etapas do empreendimento

(FOSSATI, 2005).

Dentro da etapa de projeto, a seleção de materiais possui contribuição significativa

para a sustentabilidade do edifício. Desta forma, devem-se ser considerados materiais que

representem o menor impacto ambiental durante seu ciclo de vida. A escassez de

especificação de materiais sustentáveis e a falta de conscientização por parte dos

envolvidos em todo o processo de projeto do edifício são alguns dos grandes desafios

enfrentados na busca por soluções mais sustentáveis.

1.2 Objetivos

O presente trabalho visa a elucidar os principais critérios para a seleção de materiais

de construção sustentáveis para o uso em edificações, assim como, a partir desses

critérios, fazer o levantamento de quais materiais presentes no mercado podem de fato ser

considerados sustentáveis.

1.3. Justificativa da escolha do tema

Apesar de todos os impactos negativos do setor ao meio ambiente, a demanda por

crescimento urbano não pode cessar. Dessa forma, é fundamental a prática do

desenvolvimento sustentável de maneira a equilibrar o avanço humano com a fragilidade

ambiental. Frente a esse contexto, é notável a negligência em relação ao tema e a falta de

conhecimento técnico por grande parte dos profissionais envolvidos. Há também uma

escassez preocupante de informações confiáveis e ferramentas adequadas que permitam

uma avaliação objetiva dos materiais presentes no mercado.

Page 15: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

15

1.4. Metodologia

Para o estudo dos conceitos relevantes ao tema, adotou-se como metodologia a

pesquisa bibliográfica a partir de artigos científicos, dissertações e teses, livros, revistas e

páginas da internet. Já a pesquisa de materiais disponíveis no mercado foi realizada através

do contato com fornecedores e consulta a páginas da internet.

1.5. Estruturação

No capítulo um foi apresentada a importância do tema, as justificativas e os objetivos

da monografia, a metodologia adotada e a estruturação do trabalho.

No capítulo dois é apresentada uma conceituação geral sobre sustentabilidade,

assim como os aspectos históricos relevantes. Também foi exposta uma visão da

sustentabilidade sob o âmbito da construção civil.

No capítulo três são apresentados os principais critérios e diretrizes para a avaliação

da sustentabilidade dos materiais de construção.

O capítulo quatro aborda os critérios adotados pelas construtoras para a seleção e

uso de materiais de construção sustentáveis.

No capítulo cinco é feito um levantamento sobre quais materiais disponíveis no

mercado podem de fato ser classificados como sustentáveis.

O capítulo seis encerra o assunto, expondo-se as considerações finais e sugestões

para trabalhos futuros.

Page 16: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

16

2. Sustentabilidade na construção civil

2.1. Desenvolvimento sustentável

O conceito de sustentabilidade pode ser entendido como um conjunto de medidas

adotadas em prol da prática do desenvolvimento sustentável. Esse, por sua vez, dispõe

atualmente de diversas definições variantes de autor para autor. PEARCE & WALRATH

(2008) comprovam o fato apresentando uma lista com mais de 160 definições. A

bibliografia, no entanto, converge para três aspectos essenciais, conhecidos como os

pilares do desenvolvimento sustentável: o viés econômico, o social e o ambiental. A partir

dessa ideia, SILVA (2003) defende a necessidade de se buscar um equilíbrio entre o que é

socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável.

O termo desenvolvimento sustentável foi originalmente cunhado em 1987 no

relatório Our common future, mais popularmente conhecido como relatório Bruntland,

elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED, em

inglês) que o classificou como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração

atual sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias

necessidades” (BRUNTLAND, 1987).

Há ainda defensores da cultura como uma quarta vertente para o desenvolvimento

sustentável, já que esta exerce um papel fundamental para o desenvolvimento da

sociedade. Essa iniciativa visa assegurar a prática de políticas públicas de incentivo ao

setor cultural, trazendo benefícios também para outros setores como a educação e a

economia (UCLG, 2010).

Além disso, alguns autores avaliam a expressão “desenvolvimento sustentável”

como paradoxal, defendendo o ponto de vista de que não seria possível se obter

desenvolvimento para toda a população mundial e esperar ao mesmo tempo que esse

desenvolvimento se compatibilize com a sustentabilidade ambiental (CLAYTON, 2001;

CHOI & PATTENT, 2001).

2.2. Retrospectiva histórica

Os esparsos debates sobre os riscos da degradação do meio ambiente que tiveram

início nos anos 60 e se intensificaram no final da mesma década e no início dos anos 70

culminaram, no ano de 1972, em um estudo intitulado “Limites do crescimento”. Elaborado

por um grupo de cientistas, MEADOWS et al (1972), a serviço do Clube de Roma, a

publicação enumerou três alarmantes conclusões, segundo CAVALVANTI (1995):

Page 17: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

17

1) Caso as atuais taxas de crescimento da população mundial, industrialização,

poluição, produção de alimentos e consumo de recursos naturais se mantarem constantes,

os limites de crescimento do planeta serão alcançados dentro dos próximos cem anos;

2) É possível se atingir um estado de estabilidade econômica e ecológica global a

satisfazer as necessidades materiais básicas de cada indivíduo na Terra, caso haja

empenho pela mudança;

3) Para se obter o segundo resultado seria necessário o congelamento do

crescimento da população global e do capital industrial. Quanto mais cedo a população

mundial lutar pelo equilíbrio global, maiores serão suas possibilidades de sucesso.

Ainda no ano de 1972, ocorreu a Conferência de Estocolmo com a participação

de 113 países. Essa conferência ficou marcada na história como o primeiro grande

encontro com intuito de debater os problemas ambientais (GODOY, 2007). Ela deixou

como marco a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente,

PNUMA, que atua como órgão da ONU em favor das questões ambientais, e a

elaboração da Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano. O documento

assinado pelos países participantes enumera 24 artigos para inspirar e guiar os povos

do mundo na preservação e na melhoria do meio ambiente, contudo ainda sem um

compromisso efetivo.

Segundo GODOY (2007), o panorama durante a conferência foi o da polarização

entre as ideais de "crescimento zero" e de "crescimento a qualquer custo". Por conta

disso, a proposta para o "crescimento zero" para os países em desenvolvimento e

subdesenvolvidos não foi unanimidade e, consequentemente, não foi aprovada,

prevalecendo-se a visão de que os problemas ambientais eram originados da pobreza.

Já em 1987, o relatório Bruntland, anteriormente citado, expunha a interligação

entre economia, tecnologia, sociedade e política e chamou também atenção para uma nova

postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os

membros contemporâneos da sociedade atual. CAVALCANTI (1995) destaca uma lista de

medidas em nível de Estado proposta pelo relatório:

1) Limitação do crescimento populacional;

2) Garantia da alimentação a longo prazo;

3) Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;

Page 18: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

18

4) Diminuição do consumo de energia e criação de tecnologias para o uso de fontes

energéticas renováveis;

5) Avanço da produção industrial nos países não industrializados baseados em

tecnologias ecologicamente adaptadas;

6) Satisfação das necessidades básicas;

Além disso, o relatório também definiu metas a nível internacional:

1) Estratégias para o desenvolvimento sustentável devem ser tomadas pelas

organizações do desenvolvimento;

2) A comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como

a Antártica, os oceanos, o espaço;

3) Guerras devem ser abolidas;

4) A ONU deve implementar um programa de desenvolvimento sustentável.

Frente às discussões que o antecederam na década de 70, o relatório Bruntland

exibiu um maior grau de realismo.

O próximo acontecimento de destaque na linha cronológica se dá em 1992 com a

realização da Conferência do Rio de Janeiro, a Rio 92, marcando os vinte anos da

Conferência de Estocolmo. Foram definidos 27 princípios básicos com principal objetivo de

estabelecer uma justa parceria global com novos níveis de cooperação. Entre os tópicos

discutidos destacam-se a degradação ambiental, as mudanças climáticas, os meios de

produção, as fontes de energia, o transporte público e a escassez de água. A conferência

também ficou marcada por contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável

para as próximas décadas.

O principal legado deixado pela Rio 92 foi a elaboração de um documento intitulado

Agenda 21 que, embora não tenha sido formalmente aprovado nesta conferência, foi

discutido como instrumento de planejamento local. O documento, assinado por 178

governos, traça um plano de ações concretas a serem tomadas em nível local, nacional e

global a fim de se promover soluções para o desenvolvimento sustentável. Entre os

assuntos abordados destacam-se o combate à pobreza, mudanças no padrão de consumo,

combate ao desflorestamento, proteção do meio ambiente, conservação da biodiversidade e

controle da poluição (UNCED,1992). O documento chamou atenção para a necessidade do

Page 19: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

19

comprometimento de cada país em colaborar com soluções de modo a estabelecer um

novo modelo de desenvolvimento.

Outra importante consequência da conferência de 1992 foi a posterior criação da

norma ISO 14001 – Sistemas de Gestão Ambiental. Essa norma se baseia nos princípios da

melhoria contínua através da metodologia PDCA, Planejar-Executar-Verificar-Agir (do

inglês, Plan-Do-Check-Act) e estabelece requisitos para a elaboração de um sistema de

gestão ambiental.

Cinco anos se passaram e, em 1997, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável

da ONU, criada em 1992 com a missão de monitorar a transição das implementações dos

acordos tratados durante a Rio 92, se reuniu em sessão especial na Assembleia Geral das

Nações Unidas em Nova Iorque para avaliar o andamento dos comprometimentos

acordados entre os países em prol do desenvolvimento sustentável. Essa reunião ficou

conhecida como Rio + 5 e foi sucedida pela Rio + 10 (em Johannesburgo, 2002) e, mais

recentemente, pela Rio + 20 (no Rio de Janeiro, 2012).

Ainda em 1997, na cidade de Kyoto, Japão, foi assinado por diversos países,

durante a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um protocolo que

tinha como meta a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa (GEE) na

atmosfera. O documento, que veio a se chamar Protocolo de Kyoto, propôs um

compromisso para a redução de emissões totais de GEE para níveis inferiores a, no

mínimo, 5,2% relativamente ao nível de emissões do ano de 1990 e a ser cumprido entre os

anos de 2008 e 2012 (UNFCC, 1997). Para alcançar esse objetivo foram traçadas

diferentes metas para cada país baseadas no princípio de alocar maiores responsabilidades

aos países que historicamente tiveram contribuição maior para o atual elevado nível de

emissões de GEE. Assim, países que tiveram um processo de industrialização mais tardio,

como o Brasil, não foram incumbidos de metas.

FERRETI (2011) avalia que a não adesão dos Estados Unidos, principal emissor de

GEE com um percentual de 36% em 1990, ao tratado, além do grande aumento das

emissões por parte de países emergentes como China e Índia foram determinantes para a

falta de sucesso ao estímulo da economia de baixo carbono a nível mundial. Já TUFFANI

(2015) vai além e classifica o acordo como um fracasso, pois, apesar de 37 países terem

efetivamente superado suas metas, o crescimento geral das emissões foi de 16,2% durante

o período de 2005 a 2012.

O Protocolo de Kyoto também foi responsável pela criação do Mecanismo do

Desenvolvimento Limpo (MDL) que prevê uma certificação para os agentes redutores das

Page 20: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

20

emissões de GEE. Uma vez conquistada essa certificação, quem promove a redução da

emissão de gases poluentes tem direito a créditos de carbono, podendo comercializá-los

com os países que possuem metas a cumprir. Cada tonelada de CO2 reduzida ou removida

da atmosfera equivale a um crédito de carbono. Assim, países em desenvolvimento podem

participar deste mercado voluntário vendendo créditos de carbono para países

desenvolvidos que não conseguiram ou não desejam reduzir suas emissões (PORTAL

BRASIL, 2012).

A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças de 2009 em Copenhague

merece destaque nessa linha cronológica. Conhecida como a Conferência de Copenhague,

o evento teve o intuito de estabelecer novas políticas para a mitigação das mudanças

climáticas após o ano de 2012 que foi marcado pelo fim do Protocolo de Kyoto. A maior

conferência sobre mudanças climáticas já realizada à época contou com a participação de

191 países. RAVINDRANATH (2010) aponta que a conferência foi um sucesso à medida

que colocou as questões ambientais em grande evidência mundial. Além disso, pela

primeira vez nenhum líder de Estado questionou a base científica sobre as ameaças do

aquecimento global.

O evento culminou na produção de um documento, denominado “Acordo de

Copenhague”, assinado por Estados Unidos, China, Índia, Brasil e África do Sul. Tal acordo

reconheceu os críticos impactos ambientais de origem antropogênica e também que cortes

elevados nas emissões globais de GEE seriam necessários para se reverter essa situação.

O documento previa a continuação do Protocolo de Kyoto, além de limitar a concentração

de CO2 na atmosfera a 450 ppm e limitar o aquecimento global em 2ºC. Como um acordo

em grande escala não foi possível, cada país se comprometeu a uma meta distinta

(UNFCC, 2009).

Os Estados Unidos concordaram em reduzir as suas emissões totais até 2010 em

17%, relativamente ao ano de 2005. A União Europeia aceitou uma redução de suas

emissões totais, até 2020, em 20% em relação ao ano de 1990. Por fim, China e Índia não

aceitaram uma redução das suas emissões totais, mas sim uma redução da intensidade de

carbono até o ano 2020, entre 40 a 45% para a China e, entre 20 a 25% para a Índia

(TORGAL & JALALI, 2010).

GOLDENBERG & PRADO (2010) avaliam que as metas traçadas são insuficientes

para se alcançar reduções consideráveis até 2020. Vale ressaltar também que, apesar de

traçar metas reais, o documento não representa nenhum comprometimento legal em

alcançá-las.

Page 21: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

21

Em 2012, a Rio + 20, já citada anteriormente, marcou os 20 anos da realização da

Rio 92. Os principais temas abordados foram “Economia verde no contexto do

desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza” e “Estrutura institucional para o

desenvolvimento sustentável”. Sob o tema “Economia verde no contexto do

desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza” foi lançado o desafia à

comunidade internacional de se ponderar um novo modelo de desenvolvimento que seja

ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável. Já dentro do

tema “Estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável” discutiu-se a necessidade

de uma maior atuação de instituições internacionais como instrumento para a solução dos

problemas globais no âmbito ambiental, social e econômico do desenvolvimento.

Com a colaboração de 193 países, a conferência teve o propósito de renovar o

comprometimento com o desenvolvimento sustentável e assegurar a promoção de um

futuro economicamente, socialmente e ambientalmente sustentável para o planeta e para

futuras gerações. O evento teve também como resultado a concepção de um documento

denominado “The future we want” que reconhece a erradicação da pobreza como o maior

desafio mundial e a enxerga como um requerimento essencial para a promoção do

desenvolvimento sustentável.

2.3. Sustentabilidade na Construção Civil

2.3.1. Construção sustentável

Como foi visto anteriormente, o setor da construção civil é o que mais consome

recursos naturais e, se incluir a operação do ambiente construído, é o maior consumidor

final de energia no mundo (CBCS, 2014). Além disso, estima-se que mais da metade dos

resíduos sólidos e um terço das emissões de GEE resultantes das atividades humanas

tenham origem na construção civil (MMA, s.d.).

O setor também possui importante aspecto social ao empregar 10% da mão de obra

do planeta. Por último, no viés econômico, o setor movimenta 10% do PIB global (UNEP,

2009). Fica evidente, portanto, que para se atingir efetivamente os objetivos globais do

desenvolvimento sustentável deve-se atribuir ao setor da construção civil um papel

fundamental, já que este possui uma influência relevante sobre os três pilares da

sustentabilidade.

A fim de mitigar os impactos ambientais causados pela construção surgiu o conceito

de construção sustentável. No ano de 1994 o CIB, Conselho Internacional da Construção,

Page 22: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

22

classificou o conceito de construção sustentável como “a criação e manutenção

responsáveis de um ambiente construído saudável, baseado na utilização eficiente de

recursos e no projeto baseado em princípios ecológicos” (KIBERT, 2008).

Ainda em 1994, o CIB também definiu sete princípios para a construção sustentável.

São eles, segundo KIBERT (2008):

1) Redução do consumo de recursos;

2) Reutilização de recursos;

3) Utilização de recursos recicláveis;

4) Proteção da natureza;

5) Eliminação de tóxicos;

6) Aplicação de análises de ciclo de vida em termos econômicos;

7) Ênfase na qualidade.

Ainda segundo KIBERT (2005) esses princípios devem ser aplicados em todas as

etapas do ciclo de vida de uma edificação, desde o projeto até a demolição. Esses

princípios, inclusive, devem ser considerados na operação do ambiente construído durante

todo o seu ciclo de vida.

Já a Agenda 21 para a Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento

define construção sustentável como "um processo holístico que aspira a restauração e

manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de

assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica"

(MMA, s.d.).

Por último, o CBCS, Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, define que

“trabalhar o desenvolvimento sustentável no setor da construção significa maximizar e

otimizar o uso dos recursos naturais por meio de racionalidade e eficiência. Em termos

práticos, implica fazer mais com menos.” (CBCS, 2013).

O CBCS incrementa a definição ressaltando que a construção civil deve trabalhar a

sustentabilidade desenvolvendo produtos adequados aos usos que serão submetidos,

proporcionando ao ser humano um ambiente construído saudável, confortável, seguro,

confiável e durável, atendendo, portanto, aos anseios da sociedade em prol da qualidade de

vida. Assim, os produtos devem ser capazes de proporcionar, durante a sua utilização,

Page 23: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

23

facilidade de manutenção e economia de gastos. Por fim, o produto deve possuir um ciclo

de vida prolongado e, ao término deste, deve-se prever a possiblidade de reuso dos

materiais e componentes empregados com sua correta destinação (CBCS, 2013).

MATEUS (2009) enumera algumas medidas importantes, apresentadas na Figura 1,

a serem tomadas durante a fase de projeto de uma construção sustentável.

Figura 1 - Medidas a Serem Tomadas em um Projeto de Construção Sustentável.

(MATEUS, 2009)

2.3.2. Sistemas de avaliação ambiental de edificações

Pensando nesses conceitos de construção sustentável e na crescente necessidade

de se incorporar medidas sustentáveis no âmbito do planejamento e uso de edificações,

surgiram nas últimas décadas diversos métodos e indicadores para avaliação objetiva da

sustentabilidade de edificações.

O WBCSD (1996), World Business Council for Sustainable Development, define

avaliação ambiental como “um processo sistemático que fornece uma estrutura para

reunião e documentação de informações e opiniões a respeito das consequências

ambientais das atividades, avaliando seus efeitos e providenciando recomendações e

planos de ações” (MARQUES, 2007).

Existem atualmente diversos métodos diferentes de avaliação ambiental de

edificações, variando com a particularidade da agenda ambiental de cada país, práticas

construtivas e de projeto, questões culturais, questões econômicas e a receptividade do

mercado. Mas que compartilham, na sua essência, de um objetivo comum em estimular a

demanda do mercado por maiores níveis de desempenho ambiental, diagnosticar eventuais

Page 24: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

24

intervenções construtivas necessárias e orientar profissionais do setor a respeito das

conformidades atribuídas aos selos ambientais (MARQUES, 2007).

No entanto, JOHN (2010) alerta que sem políticas públicas e setoriais, os selos não

são o suficiente para se promover a sustentabilidade. Além disso, alguns desses

instrumentos apenas passariam uma falsa imagem de sustentabilidade a indústrias e

corporações, prática conhecida como greenwashing e usada como uma forma de marketing

ambiental. Um exemplo dessa prática seria a adição de um estacionamento de bicicletas

em um empreendimento com o único propósito de se alavancar pontos para obtenção da

certificação.

Entre as obras que fizeram o uso da certificação ambiental no país, destacam-se as

obras da Copa do Mundo de 2014 e as obras dos Jogos Olímpicos de 2016 que produziram

muitos avanços no campo do uso de materiais mais sustentáveis. O Estádio Mineirão, em

Belo Horizonte, por exemplo, é equipado com uma usina solar fotovoltaica com capacidade

de geração de 1.600 MWH/ano de energia, volume equivalente ao consumo médio de 1.200

casas. Além disso, o estádio possui uma política de reaproveitamento de água da chuva e

obteve a maior premiação da certificação LEED, assim como foi premiado com o Selo BH

Sustentável, concedido pela prefeitura de Belo Horizonte (MINEIRÃO, 2016).

Já a Vila dos Atletas, batizado de Ilha Pura, no Rio de Janeiro, foi construída de

acordo com as normas da certificação AQUA e previa o uso de aquecimento solar, telhado

verde, painéis fotovoltaicos, paisagismo com espécies nativas, central de tratamento de

água, iluminação eficiente em LED e elevadores capazes de gerar 60% da energia que irão

consumir (SANTOS, 2013).

Segue-se uma visão das principais certificações presentes no mercado.

2.3.2.1. LEED

A certificação LEED, “Liderança em Energia e Projeto Ambiental” (do inglês,

Leadership in Energy and Environmental Design), surgiu nos Estados Unidos em 1999 e

vem sendo utilizada até hoje. O selo visa ao desenvolvimento e à prática de projetos e

construções ambientalmente responsáveis na busca da sustentabilidade. É uma ferramenta

que auxilia na mensuração do desempenho ambiental de uma edificação e estimula a

competição (USGBC, 2009).

A certificação atua na avaliação de construções de diversas tipologias, sendo

aplicado um método específico para cada uma delas. São essas (GBCBRASIL, 2014):

Page 25: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

25

1) LEED New Construction & Major Renovation, destinado a edificações que serão

construídas, reformas que venham a incluir o sistema de ar condicionado,

envoltória e realocação;

2) LEED Existing Buildings – Operation and Maintance, focado na eficiência

operacional e manutenção do edifício existente, maximizando a eficiência da

operação e minimizando os custos e impacto ao meio ambiente;

3) LEED for Commercial Interiors, certifica escritórios de alto desempenho, que por

possuírem ambientes internos mais saudáveis, auxiliam no aumento de

produtividade de seus ocupantes;

4) LEED Core & Shell, destinado a edificações que comercializarão os espaços

internos posteriormente, englobando toda a área comum, sistema de ar

condicionado, estrutura principal, como caixa de escadas e elevadores e

fachadas;

5) LEED Retail, destinado a lojas de varejo, reconhecendo as diferentes

necessidades quando comparadas a uma edificação comercial;

6) LEED for Schools, destinado a construções escolares, possibilitando melhor

desempenho dos alunos e corpo docente;

7) LEED for Neighborhood Development, destinado a espaços urbanos,

incentivando a utilização de transporte público, eficiente e alternativo e criação

de áreas de lazer, tais como parques e espaços públicos de alta qualidade;

8) LEED for Healthcare, certificação que engloba todas as necessidades de um

hospital, muito distintas das de uma construção comercial.

A avaliação é realizada a partir de um sistema de pontuações, onde para cada item

avaliado é concedido uma pontuação com base no cumprimento ou não dos critérios

adotados pelo selo. Assim, a pontuação final é dada pela soma das pontuações individuais

de cada item. A classificação do produto é dada a partir da pontuação final obtida pelo

mesmo, podendo ser classificado como “não aprovado”, “certificado”, “prata”, “ouro” ou

“platina”.

As dimensões avaliadas pela certificação LEED são enumeradas abaixo

(GBCBRASIL, 2014):

1) Espaço Sustentável – Contempla estratégias que minimizam o impacto no

ecossistema durante a implantação da edificação, abordando questões de

grandes centros urbanos, como redução do uso do carro e das ilhas de calor;

2) Eficiência do uso da água – Relativo a inovações no uso racional da água e

alternativas de tratamento e reuso dos recursos;

Page 26: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

26

3) Energia e Atmosfera – Avalia a eficiência energética nas edificações por meio de

estratégias como simulações energéticas, medições, comissionamento de

sistemas e utilização de equipamentos e sistemas eficientes;

4) Materiais e Recursos - Encoraja o uso de materiais de baixo impacto ambiental

(reciclados, regionais, recicláveis, de reuso, etc.) e reduz a geração de resíduos,

além de promover o descarte consciente, desviando o volume de resíduos

gerados dos aterros sanitários;

5) Qualidade ambiental interna - Promove a qualidade ambiental interna do ar,

conforto térmico e priorização de espaços com vista externa e luz natural;

6) Inovação e Processos - Pontos de desempenho exemplar estão habilitados para

esta categoria;

7) Créditos de Prioridade Regional - Incentiva os créditos definidos como prioridade

regional para cada país, de acordo com as diferenças ambientais, sociais e

econômicas existentes em cada local.

CAVALCANTE (2011) aponta que as categorias avaliadas que servem como base

do processo de certificação refletem principalmente condições e especificidades dos

Estados Unidos. Assim, seu uso em outros países pode acarretar resultados

descontextualizados ou até mesmo errôneos.

2.3.2.2. BREEAM

Em 1990, no Reino Unido, foi lançada a ferramenta denominada de

BREEAM,“Avaliação Ambiental da Fundação de Pesquisa em Construções (do inglês,

Building Research Establishment Environmental Assessment Method)”. Essa ferramenta é

considerada o precursor das demais metodologias existentes. Presente em mais de 70

países e com mais de 500.000 construções certificadas, é o mais utilizado método de

avaliação ambiental de edificações no planeta (BRE, 2016). Apesar disso, a ferramenta

ainda é muito pouco utilizada no Brasil.

As categorias avaliadas pelo selo são citadas abaixo (BRE, 2016):

1) Energia – Busca soluções que visem à eficiência energética;

2) Saúde e bem-estar – Visa ao conforto, à saúde e à segurança dos ocupantes do

edifício;

3) Inovação – Reconhece iniciativas que vão além dos critérios previstos;

Page 27: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

27

4) Uso do solo – Encoraja a proteção ambiental e preservação da biodiversidade do

terreno e sua vizinhança;

5) Materiais – Visa selecionar materiais de construção de impacto reduzido ao

longo do seu ciclo de vida, desde a extração da matéria-prima até sua

reciclagem;

6) Gestão – Incentiva a prática de soluções sustentáveis durante a tomada de

decisões de projeto e uso da edificação;

7) Poluição – Busca maneiras de reduzir o impacto ambiental proveniente da

poluição sonora, emissões de gases, resíduos sólidos e resíduos líquidos;

8) Transporte – Foca na acessibilidade de transporte público e uso de soluções

alternativas de transporte;

9) Resíduos – Reconhece iniciativas que visam a reduzir a produção de resíduos

no canteiro de obras e operação do empreendimento;

10) Água – Identifica maneiras de reduzir o consumo de água potável durante o

ciclo de vida do edifício e reduzir a perda por vazamentos.

2.3.2.3. AQUA

O sistema de avaliação AQUA, Alta Qualidade Ambiental, criado em 2008, é uma

iniciativa da Fundação Vanzolini adaptada à realidade brasileira a partir da ferramenta

francesa HQE, “Alta Qualidade Ambiental” (do francês, Haute Qualité Environnementale).

O selo avalia o empreendimento de acordo 14 critérios de sustentabilidade,

atribuindo a estes uma classificação de acordo com seu desempenho.

Os critérios avaliados são os seguintes (VANZOLINI, 2015a):

1) Relação do edifício com seu entorno;

2) Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos;

3) Canteiro de obras de baixo impacto ambiental;

4) Gestão de energia;

5) Gestão da água;

6) Gestão de resíduos de uso e operação do edifício;

7) Manutenção – Permanência do desempenha ambiental;

8) Conforto Higrotérmico;

Page 28: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

28

9) Conforto acústico;

10) Conforto visual;

11) Conforto olfativo;

12) Qualidade sanitária dos ambientes;

13) Qualidade sanitária do ar;

14) Qualidade sanitária da água.

Além disso, cada critério pode ser classificado como:

1) Bom - Corresponde ao desempenho mínimo aceitável para um empreendimento

AQUA;

2) Superior – Corresponde ao nível das boas práticas;

3) Excelente – Corresponde ao desempenho máximo em empreendimentos AQUA.

Concede-se a certificação para o empreendimento que atingir no mínimo três

categorias no nível Excelente e no máximo sete categorias no nível Bom (VANZOLINI,

2015a).

2.3.2.4. Procel Edifica

Outra iniciativa brasileira é o sistema de certificação Procel Edifica desenvolvido pela

ELETROBRAS/PROCEL em 2003. O selo visa promover o uso racional de energia elétrica

em edificações comerciais, públicas ou residenciais adotando quatro categorias de

avaliação, são elas:

1) Envoltória;

2) Iluminação;

3) Condicionamento de ar;

4) Aquecimento de água.

Além disso, o sistema requer o cumprimento de pré-requisitos e prevê pontos extras

conquistáveis mediante a superação da eficiência da edificação (PROCELINFO, 2006).

A avaliação é feita através da classificação do nível de eficiência energética do

edifício. Para cada uma das quatro categorias é relacionada um pontuação que vai desde E

(menos eficiente) até A (mais eficiente), como pode ser visto na Figura 2.

Page 29: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

29

Figura 2- Selo Procel Edifica (PROCELINFO, 2006).

Vale ressaltar que a certificação Procel Edifica se limita a avaliar apenas a eficiência

energética da edificação, não considerando outros fatores importantes como as emissões

de GEE e a questão social.

2.3.2.5. Selo Casa Azul CAIXA

O Selo Casa Azul CAIXA, lançado pela Caixa Econômica Federal em 2010 e

desenvolvido por uma equipe de especialistas da USP, UNICAMP e UFSC, tem como

objetivo reconhecer e incentivar projetos que demonstrem suas contribuições à redução de

impactos ambientais.

De adesão voluntária, o selo é voltado exclusivamente para edificações

habitacionais e foi desenvolvido para a realidade brasileira. Além disso, a iniciativa busca

reconhecer projetos que adotam soluções mais eficientes aplicadas à construção, utilização,

ocupação e manutenção das edificações, promovendo o uso racional de recursos naturais e

a melhoria da qualidade da habitação e de seu entorno (CAIXA, 2010).

O sistema aborda seis categorias principais, são elas (CAIXA, 2010):

1) Qualidade urbana;

2) Projeto e conforto;

3) Eficiência energética;

Page 30: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

30

4) Conservação de recursos e materiais;

5) Gestão da água;

6) Práticas sociais.

As seis categorias principais são subdivididas em 53 critérios a serem atendidos, dos

quais 19 são obrigatórios. Assim o sistema de avaliação prevê três classificações possíveis

(Figura 3) (CAIXA, 2010):

1) Bronze – Atendimento mínimo de 19 critérios obrigatórios.

2) Prata - Atendimento mínimo de 19 critérios obrigatórios e mais 6 créditos de livre

escolha.

3) Ouro - Atendimento mínimo de 19 critérios obrigatórios e mais 12 critérios de

livre escolha.

Figura 3 - Selo Casa Azul CAIXA (CAIXA, 2010).

2.3.3. Situação brasileira quanto à sustentabilidade na construção

Em 2014 o CBCS publicou o documento “Aspectos da Construção Sustentável no

Brasil e Promoção de Políticas Públicas” resultado de uma pesquisa em parceria com o

MMA e o PNUMA. Contando com a colaboração de 40 pessoas, a publicação teve a missão

de disseminar conhecimentos e boas práticas para ampliar a sustentabilidade do setor da

construção civil e ressaltar a importância da estruturação de políticas públicas que visem o

desenvolvimento sustentável no país. Além disso, o trabalho apresenta uma reflexão sobre

as condições atuais do setor nos temas abordados - água, energia e materiais. Também foi

realizada uma consulta de opinião com 381 profissionais do setor abordando os principais

desafios e práticas adotadas em prol da sustentabilidade pela indústria da construção no

país (CBCS, 2014a).

Como resultado da pesquisa, o CBCS conclui que os três temas abordados

possuem demandas e necessidades em comum. São elas (CBCS, 2014a):

Page 31: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

31

1) Carências de conhecimento, necessidade de campanhas de esclarecimento à

população e demanda por maior grau de capacitação técnica dos envolvidos

(Gráfico 1);

2) Necessidade de criação de ferramentas específicas (Gráfico 2);

3) Necessidade de criação de incentivos e linhas de financiamentos (Gráfico 3);

4) Demanda de legislação e regulamentos específicos (Gráfico 4).

Gráfico 1 - Educação, capacitação e divulgação (CBCS, 2014a).

Gráfico 2 - Demanda de ferramentas (CBCS, 2014a).

Page 32: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

32

Gráfico 3 - Demanda por incentivos e financiamentos (CBCS, 2014a).

Gráfico 4 - Legislação, regulamentação e certificação (CBCS, 2014a).

Para o enfoque desse presente trabalho destacam-se os seguintes resultados para a

área de materiais de construção (CBCS, 2014a):

1) Para o tema “Educação, capacitação e divulgação”, a falta de informação e de

profissionais capacitados foi a mais citada (66%);

2) A ferramenta de banco de dados público de Análise do Ciclo de Vida (ACV) foi a

mais requisitada (38%);

3) A demanda por incentivos e financiamentos para correta escolha de materiais foi

a mais citada (34%). Em segundo lugar ficou a falta de incentivo do governo para incentivar

a reciclagem (30%);

4) A necessidade de legislação para incentivar a manutenção e para garantir o

desempenho das edificações a longo prazo foi a mais solicitada (29%).

Page 33: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

33

Com base nos resultados obtidos pela pesquisa, pode-se destacar algumas

possíveis ações a serem implementadas visando a uma melhoria na prática da

sustentabilidade no setor de construção. A fim de melhorar a capacitação e treinamento de

profissionais da área, os estudiosos da área devem atuar no fortalecimento de instituições

técnicas e na ampliação de currículos universitários.

Uma possível alternativa para a demanda por incentivos e financiamentos é a

adoção de políticas públicas que criem benefícios econômicos a empresas e soluções

ecoeficientes. Mas o combate à informalidade é condição ímpar para implantar políticas

voltadas para a sustentabilidade. O PBQP-H possui uma metodologia de combate à

informalidade que pode ser ampliada e adequada para incluir aspectos ambientais. Nesse

sentido, a criação de um programa de fomento à ecoinovação tem um potencial significativo

de retorno ambiental e de ganho de competitividade da indústria.

Outra boa medida a ser aplicada é a reurbanização de áreas degradadas nas

grandes cidades, através da prática do retrofit, para incentivar a ocupação de edificações

abandonadas e melhorar o desempenho ambiental de edifícios em situação precária.

Por fim, o CBCS também elaborou uma lista com as principais políticas públicas

sugeridas que são voltadas para a sustentabilidade no setor de materiais de construção e o

impacto que a sua implantação teria para a sustentabilidade do setor (Tabelas 1, 2 e 3).

Tabela 1 - Políticas públicas de planejamento e gestão (CBCS, 2014a).

Políticas – planejamento e gestão Impacto

1 Fortalecimento do PBQP-H Alto

2 Promoção da industrialização na construção Alto

3 Incentivo a fabricantes que aderirem a programas de sustentabilidade Alto

4 Apoio ao desenvolvimento do PBACV Alto

5 Desenvolvimento de governança do sistema de declarações ambientais por ACV Médio

6 Apoio a pequenas e médias empresas Médio

7 Reforço da ferramenta de seleção de materiais e fornecedores do CBCS Médio

8 Promoção de sistemas de construção modulares Médio

9 Implantação de gestão de resíduos adequada ao tamanho das cidades Médio

10 Incentivo à desconstrução Médio

11 Incentivos a negócios voltados à reciclagem de resíduos classe A Médio

12 Políticas fiscais que incentivem soluções mais sustentáveis Médio

13 Incentivo à elaboração de FIPSQ para materiais potencialmente nocivos Médio

14 Promoção da qualidade do ar interno Médio

15 Controle de substâncias químicas perigosas à saúde Baixo

16 Obrigatoriedade de comprovação de ganho ambiental para permitir publicidade Baixo

17 Iniciativas para tornar mais eficaz a gestão de resíduos perigosos Baixo

Page 34: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

34

Tabela 2 - Políticas públicas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (CBCS, 2014a).

Políticas – pesquisa e desenvolvimento tecnológico Impacto

1 Apoio à proposta de ACV modular Alto

2 Criação de metodologia de Declaração Ambiental de Produto Alto

3 Consolidação de ferramentas para determinação da vida útil de projeto Alto

4 Estabelecimento de programa de ecoinovação voltado para a construção civil Alto

5 Incentivo à adoção de estratégias de projeto flexível Médio

6 Integração com BIM do sistema de declarações ambientais por ACV Médio

Tabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a).

Políticas – educação e capacitação Impacto

1 Atualização de currículos de engenharia e arquitetura Médio

2 Criação de especialização para profissionais já atuantes no mercado Médio

Apesar do panorama não ser favorável, algumas iniciativas de sucesso vem agindo

para estimular a sustentabilidade no setor. Destacam-se novamente, as obras da Copa do

Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, adotou uma inovação tecnológica com o uso

de uma estrutura de cobertura revestida de dióxido de titânio que, em contato com a água

da chuva, libera oxigênio para a atmosfera. No Estádio Beira-rio, em Porto Alegre, e na

Arena Fonte Nova, em Salvador, o teto utilizado é de membrana de politetrafluoretileno

(PTFE), material com elevada durabilidade, que absorve menos calor e faz o uso mínimo

possível de água para a sua limpeza (ECODESENVOLVIMENTO, 2012).

Outro destaque é a Arena da Baixada, em Curitiba, que utilizou revestimento de

policarbonato para a sua fachada para a melhor climatização dos espaços internos. Por fim,

a Arena Pantanal, em Cuiabá, teve as suas paredes pintadas com tintas livres de

componentes orgânicos voláteis e toda a cerâmica ou porcelanato utilizados terão algum

grau de material reciclado em sua composição (ECODESENVOLVIMENTO, 2012).

Page 35: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

35

3. Sustentabilidade dos materiais de construção

A indústria de materiais de construção é responsável por diversos impactos

ambientais, desde a fase de extração da matéria prima até o eventual descarte do produto.

Dentro do âmbito socioeconômico, destaca-se a informalidade da indústria de

materiais de construção que atinge muitos setores da cadeia produtiva. A informalidade

causa baixa qualidade de produtos e serviços, agrava os problemas ambientais e cria

problemas sociais, desrespeitando os direitos trabalhistas e sonegando impostos (CBCS,

2014a).

O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat, PBQP-H, tem

importante atuação na garantia da qualidade da construção civil. O Programa atua na

regulamentação e acompanhamento da conformidade técnica de qualidade dos materiais

de construção presentes no mercado. Essa atuação é relevante para a questão da

sustentabilidade dos materiais de construção a medida que, o não atendimento dos

requisitos mínimos de qualidade repercute na durabilidade do produto, aumentando os

impactos causados pela manutenção e substituição de componentes.

Os índices de conformidade quanto aos diferentes materiais de construção

disponíveis no mercado brasileira são apresentados no Gráfico 5 (PBQP-H, s.d.).

Gráfico 5 - Índices de conformidade dos materiais presentes no mercado nacional (PBQP-H,

s.d.).

Page 36: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

36

Pode-se visualizar no gráfico taxas reduzidas para a conformidade de blocos

cerâmicos, lajes pré-fabricadas e telhas cerâmicas.

3.1. Materiais de construção e seus impactos

Apesar de ser responsável pelo consumo de boa parte dos recursos naturais no

país, em 2013 a indústria de materiais de construção representou apenas uma parcela de

1,5% do PIB brasileiro, com um valor adicionado de R$ 61 bilhões (ABRAMAT & FGV

Projetos, 2014). Esses dados indicam que os produtos da construção são, portanto,

predominantemente de baixo valor. Há a expectativa que o setor da construção dobre de

tamanho entre 2009 e 2022 no país (FGV PROJETOS & LCA CONSULTORIA, 2010).

Assim, caso as atuais práticas do setor sejam mantidas, esse crescimento deverá agravar

os problemas ambientais e sociais relacionados aos materiais de construção. Dessa

maneira, fica evidente a necessidade por inovações.

O setor de materiais de construção envolve desde atividades de extração de matéria

prima (areia, brita, madeira nativa) até parcelas da indústria química. No entanto, alguns

materiais como madeira, materiais cimentícios (que incluem parcela da areia e brita),

cerâmica vermelha e aço são responsáveis pela maior parte da massa dos produtos da

construção. A produção de alguns desses materiais, como os de cimento e de cerâmica, se

dedica exclusivamente à construção civil. Já outras produções, como os setores de aço,

plástico e madeira, alocam uma parcela variável dos seus produtos na construção. Setores

que atendem também a outros mercados tendem a ser menos sensíveis a políticas voltadas

exclusivamente à construção sustentável (CBCS, 2014a).

3.1.1. Impactos ambientais na fase de produção

É estimado que, no Brasil, as emissões de CO2 na produção de materiais são mais

importantes do que as emissões associadas à fase de uso dos edifícios (AGOPYAN; JOHN,

2011). Isso se deve aos altos níveis de emissões de alguns materiais, à matriz energética

limpa e ao baixo consumo de energia, particularmente térmica, na fase de uso dos edifícios.

No Brasil, portanto, a mitigação de gases do efeito estufa na construção deve ser focada

mais pela cadeia de materiais e menos pelo consumo energético ao longo do ciclo de vida,

embora esse último venha se agravando nos anos recentes (CBCS, 2014a).

A construção civil demanda entre quatro a sete toneladas de material por habitante

por ano (AGOPYAN; JOHN, 2011). A grande escala do uso de recursos na produção de

materiais torna grandes os impactos ambientais mesmo dos produtos de mais baixo

Page 37: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

37

impacto. A desmaterialização, que pode ser entendida como a adoção de sistemas

construtivos leves ou do reuso de componentes ao final da vida útil da obra, e a reciclagem

são estratégias importantes para a redução do impacto ambiental. Algumas indústrias de

materiais já incorporam grande quantidade de resíduos na sua produção. O cimento, por

exemplo, recicla elevada quantidade de resíduos do ferro gusa e cinzas volantes. Os metais

reciclam seus próprios resíduos. No entanto, a desmaterialização ainda é uma estratégia

pouco conhecida pela sociedade (CBCS, 2014a).

Parte do elevado consumo de materiais e da geração de resíduos se devem às

perdas de materiais em canteiro de obras (SOUZA et al., 1998). Estudos mostraram que as

essas perdas estão associadas à gestão em canteiro e de projeto, mas também são

influenciadas pelos materiais. Uma estratégia para se reduzir essas perdas é aumentar o

grau de industrialização da solução. Por exemplo, perdas de cimento e agregados para a

produção de concreto em obra são muito superiores às perdas no uso do concreto usinado.

Já componentes de alvenaria podem se quebrar em diferentes etapas de manuseio. A

adoção da coordenação modular pode evitar a necessidade de cortes e ajustes na obra,

que geram muitos resíduos e diminuem a produtividade nas construções. No extremo da

industrialização estão os sistemas baseados em montagem, em que as perdas possíveis

são muito baixas (CBCS, 2014a).

Políticas que incentivem o uso de soluções industrializadas, garantidos desempenho

e durabilidade, podem reduzir os impactos ambientais por meio da redução das perdas,

com o bônus de aumentar a produtividade, colaborando com o aumento da renda per capita

do país (CBCS, 2014a).

3.1.2. Impactos ambientais na fase de uso

Apesar da notória importância dos impactos dos materiais na fase de produção, os

impactos ambientais na fase de uso também podem ser elevados. Alguns produtos, como

tintas à base de água (UEMOTO; AGOPYAN, 2006), placas de madeira e sistemas que

utilizam adesivos, podem emitir Compostos Orgânicos Voláteis (COV) que poluem a

atmosfera. Dependendo da natureza dos voláteis, da quantidade liberada e da ventilação do

ambiente, a região interna do edifício pode ser contaminada e os operários expostos a

riscos de saúde.

Outro possível impacto na fase de uso é a lixiviação de compostos químicos

perigosos dos materiais expostos à água, especialmente em telhados, fachadas, obras

viárias e fundações. Essas substâncias químicas contaminam o solo e o lençol freático. A

contaminação ambiental tem sido relatada em escala internacional com o uso de biocidas

Page 38: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

38

particularmente em madeiras e tintas (TOGERO, 2004), mas também quando se

incorporam resíduos aos materiais de construção.

O problema da durabilidade dos materiais também é relevante, pois é ela que

controla o impacto dos produtos da construção civil. Uma edificação com uma vida útil maior

está associada a menores custos econômicos e ambientais totais, pois menores são as

atividades de manutenção e as quantidades de material necessárias para reposição. No

entanto, o planejamento da vida útil ainda é uma exceção no país (CBCS, 2014a).

O fato da durabilidade não ser uma característica intrínseca de cada material

dificulta a incorporação dessa variável em projetos. A durabilidade é influenciada pela

interação das características do material com as condições climáticas e dos detalhes de

projeto aos quais o material será exposto. Dessa forma, os problemas de durabilidade e

vida útil de um dado material variam sensivelmente de acordo com a região ou até mesmo

de acordo com detalhes do projeto. A aplicação dessa ferramenta esbarra na falta de

modelos e informações geográficas de parâmetros ambientais relevantes, que permitam

estimar a vida útil dos produtos em diferentes situações (CBCS, 2014a).

3.1.3. Impactos ambientais na fase de pós-uso

É estimado que grande parte dos materiais seja descartada ainda no primeiro ano

após sua extração (MATHEWS et al., 2000), como resíduo da produção de materiais ou

resíduo resultante de execução inadequada de obra. Ao final da vida útil, são gerados

aproximadamente 5kg de resíduos para cada 1kg de material utilizado (JOHN, 2000).

Segundo PINTO (1999), foi estimado que, no Brasil, os resíduos da construção

gerados seriam da ordem de 500kg/hab.ano (PINTO, 1999). Porém, mais recentemente, um

estudo baseado em dados da cidade de São Carlos (cidade média em São Paulo, com 270

mil habitantes) aponta valores pouco acima de 800kg/ hab.ano, o que demonstra que os

valores têm aumentado significativamente nos últimos anos e podem ser muito maiores em

grandes metrópoles, onde o ritmo de crescimento do setor da construção civil tem sido

enorme.

Dessa maneira, a gestão de resíduos de construção e demolição no Brasil, apesar

de muitos documentos e estudos, ainda permanece muito aquém do que é observado

internacionalmente, pois, apesar da entrada de algumas empresas privadas no negócio, a

fração dos resíduos de alvenarias, argamassas e concretos efetivamente reciclados é ainda

muito pequena (CBCS, 2014a).

Page 39: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

39

Há, também, pouca experiência em desconstrução, ou desmontagem de edifícios no

Brasil, sendo a maior parte das obras demolidas por métodos destrutivos que misturam os

resíduos e diminuem consideravelmente a reciclabilidade e a reusabilidade dos resíduos

(CBCS, 2014a).

3.2. Critérios para classificação de materiais como sustentáveis

Tendo em vista os elevados impactos apresentados no item 3.1. e visando motivar o

uso sustentável dos materiais de construção civil, o CBCS (2009) faz um levantamento de

boas práticas e recomendações para a seleção de materiais. Esses critérios são

enumerados abaixo:

1) Seleção de empresas fornecedoras: A escolha do fabricante ou fornecedor é

muitas vezes mais importante que a decisão sobre qual material utilizar. Isso se deve ao

fato que a eco-eficiência e a responsabilidade social dos fornecedores de matérias primas

pode ser imensa;

2) Relatório de sustentabilidade: Um bom indicativo pode vir de empresas que

possuam relatórios socioambientais onde expõem suas políticas alinhadas com o

compromisso para o desenvolvimento sustentável. Recomenda-se dar preferência a

empresas que dispõem de metas claras de melhoria de eco-eficiência de toda a sua linha

de produtos e processos. Além disso, a existência de certificações de gestão ambiental

deve ser valorizada;

3) Qualidade e desempenho do produto: Produtos de baixa qualidade

apresentam elevadas taxas de defeitos precoces, o que requer a substituição do material,

gerando impactos ambientais e econômicos. Como forma redução de custos, são comuns,

na indústria, fornecedores que praticam a não conformidade intencional, ou seja, o

desrespeito sistemático as normas técnicas vigentes. O Programa Brasileiro de Qualidade e

Produtividade no Habitat, PBQP-H, age no combate à não conformidade intencional no

setor de materiais e componentes da construção civil e apresenta, em seu portal

(http://pbqp-h.cidades.gov.br/), uma lista de fornecedores conformes e não conformes;

4) Resíduo como matéria prima: Em algumas cadeias industriais o uso de

resíduo como matéria prima está bem estabelecido e frequentemente apresenta relevantes

vantagens ambientais. Esse é o caso do cimento, aço e alumínio que usam resíduos de

forma a substituir matérias primas ou combustíveis. Além de preservar recursos naturais

não-renováveis, esses materiais reduzem as quantidades de resíduos destinados a aterros

sanitários. No entanto, em alguns casos, esses produtos apresentam um processo de

reciclagem extremamente impactante. Além disso, em outros casos a vida útil do material

Page 40: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

40

reciclado pode ser limitada. Por fim, há casos em que os resíduos são incorporados sem

que contribuam para a melhoria do desempenho do produto, visando apenas evitar a

deposição. Esse tipo de reciclagem não é considerado sustentável.

TORGAL & JALALI (2010) também citam diretrizes a serem consideradas no

contexto da sustentabilidade dos materiais de construção. Dessa forma, a escolha deve

privilegiar materiais:

1) Não tóxicos;

2) Com baixa energia incorporada;

3) Recicláveis;

4) Que possam permitir o reaproveitamento de resíduos de outras indústrias;

5) Que provenham de fontes renováveis;

6) Que estejam associados a baixas emissões de GEE;

7) Duráveis;

8) Cuja escolha seja levada a cabo mediante uma análise do seu ciclo de vida.

Por fim, MARQUES (2007) apresenta uma lista com diretrizes para o auxílio da

tomada de decisão no momento da escolha dos materiais de construção:

1) Reaproveitamento dos materiais e estruturas do edifício existente;

2) Uso de materiais que não gerem resíduos danosos ao ambiente e/ou à saúde

humana;

3) Previsão de tratamento aos escombros da construção, demolição e limpeza do

terreno;

4) Seleção de materiais que possam ser reaproveitados e de fácil desmonte;

5) Seleção de materiais que possuam componentes reciclados em sua composição;

6) Uso de recursos nativos, reduzindo a necessidade de transporte;

7) Redução da utilização de matérias-primas não-renováveis;

8) Escolha de madeira certificada;

9) Avaliação da durabilidade dos materiais;

10) Avaliação da facilidade de manutenção;

11) Escolha de materiais com baixa energia embutida.

3.2.1. Avaliação do ciclo de vida

O CBCS (2009) aponta a ferramenta de “Avaliação do Ciclo de Vida” (ACV) como a

melhor estratégia objetiva para a seleção de produtos com maior eficiência ambiental. A

ACV consiste na contabilização de todas as emissões e de todo o consumo de matérias

Page 41: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

41

primas e energia ao longo de todas as fases do ciclo de vida do produto, desde sua

produção até seu descarte final (Figura 4).

Dessa maneira, pode-se medir de forma apropriada todos os impactos envolvidos

durante o ciclo de vida do produto e pode-se fazer assim uma comparação eficiente com

outros produtos presentes no mercado. Um dos objetivos do ACV é estabelecer uma

abordagem confiável e sistemática para a escolha do produto, entre vários, que apresente o

menor impacto ambiental.

Figura 4 - Etapas de avaliação do ciclo de vida do produto (TECHNE, 2010).

As normas responsáveis a orientar quanto aos requisitos e recomendações para a

prática correta do ACV são, no Brasil, a NBR ISO 14040 e a NBR ISO 14044.

Contudo, o CBCS (2014a) também reconhece que a ferramenta ACV ainda é pouco

conhecida e menos ainda compreendida pelos profissionais brasileiros. Isso se deve ao fato

de que, em consequência da criação ainda recente do Programa Brasileiro de Avaliação de

Ciclo de Vida (PBACV), os dados nacionais para seu emprego ainda não estão disponíveis

ao público. Além disso, uma ACV completa requer um tempo prolongado e pode ocasionar

em alto custo.

3.2.2. Avaliação de ciclo de vida modular

Pensando em uma forma de tornar a avaliação de ciclo de vida mais praticável, o

CBCS (2014b) criou o projeto da Avaliação de Ciclo de Vida Modular, ACV-m. A iniciativa

tem como meta oferecer aos consumidores uma ferramenta para auxiliar na tomada de

decisão, com base no desenvolvimento sustentável do setor da construção civil. Quando

comparada a ACV tradicional a ACV-m é uma versão de escopo reduzido, mas que

Page 42: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

42

apresenta uma estrutura em sincronia com a primeira. Garante o alcance do objetivo da

avaliação sem perda das características da metodologia e pode ser utilizada como etapa

inicial de estudo.

Como forma de auxílio ao setor da construção durante o processo de levantamento,

sistematização e divulgação de resultados, o CBCS propõe a simplificação do levantamento

em aspectos básicos como energia, água, matérias-primas, resíduos e CO2. Centrando-se

nos impactos ambientais mais relevantes e com dados mais facilmente obtidos, a ACV-m

obtém resultados com menor tempo e custo. Outra vantagem é que, devido ao seu grau de

simplificação, o levantamento pode ser realizado por agentes da própria empresa com base

em manuais e orientações, dispensando o uso de profissionais especializados (CBCS,

2014b).

3.2.3. Seis passos para a seleção de materiais e fornecedores

Outra ferramenta relevante a se utilizar no auxílio à seleção de materiais de

construção mais sustentáveis são os “Seis passos para a seleção de materiais e

fornecedores” desenvolvida também pelo CBCS. A ferramenta, presente na homepage do

CBCS (http://www.cbcs.org.br/selecaoDeFornecedores/) aborda seis critérios para se

escolher fornecedores com responsabilidade social e ambiental (CBCS, s.d.).

Vale ressaltar que essa ferramenta não deve ser adotada como o único critério para

a seleção dos materiais, mas é uma estratégia viável para abordar práticas acessíveis a

todos os compradores e especificadores de materiais e fornecedores. Assim, o ideal é

utilizá-la em conjunto com outros parâmetros a fim de se realizar uma análise que englobe

todos os três aspectos da construção sustentável. Os seis passos serão detalhados abaixo

(CBCS, s.d.):

3.2.3.1. Passo 1: Verificação da formalidade da empresa fabricante e fornecedora

Se o CNPJ de uma empresa não for válido significa que o imposto não está sendo

recolhido ou que a empresa não tem existência legal. Geralmente, o CNPJ vem impresso

na embalagem, no produto ou na nota fiscal. Caso o CNPJ não esteja disponível deve-se

consultar a revenda, o importador ou o fornecedor. Deve-se atentar aos casos de produto

importado, quando o CNPJ fornecido é o da empresa importadora ou distribuidora e não do

fabricante. Nesse caso, é possível que o fabricante do produto seja informal. Fornecedores

com CNPJ inativo ou inválido devem ser descartados. O CNPJ pode ser conferido na

página da Receita Federal (CBCS, s.d.).

Page 43: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

43

3.2.3.2. Passo 2: Verificação da licença ambiental

A licença ambiental, concedida pelo órgão ambiental estadual, é requisito obrigatório

para a operação legal de qualquer atividade industrial. A existência da licença não é

garantia contra impactos ao meio ambiente, mas a sua ausência praticamente elimina

qualquer possibilidade de respeito à lei. A facilidade ao acesso às licenças varia com o

órgão estadual responsável. Caso não seja possível a consulta perante o órgão, deve-se

solicitar ao fabricante uma cópia da licença ou o número do protocolo que confirme a

validade. Também deve ser avaliada a distância entre o local de origem e o local de

aplicação, priorizando empresas que possibilitem distâncias de transportes menores e

minimizando o consumo de combustíveis fósseis (CBCS, s.d.).

3.2.3.3. Passo 3: Verificação das questões sociais

Deve-se combater o trabalho infantil, a mão de obra escrava, o trabalho em

condições precárias de higiene, com jornadas excessivas e sem alimentação adequada.

Esse critério é eliminatório para empresas presentes em listas de empresas nacionais já

atuadas. A ferramenta cita algumas páginas da internet que contem listas de empresas

envolvidas com condições de trabalho inadequadas

(http://www.cbcs.org.br/selecaoDeFornecedores/passo3.php?NO_LAYOUT=true) (CBCS,

s.d.).

3.2.3.4. Passo 4: Qualidade e normas técnicas do produto

É obrigatório que o produto apresente um desempenho mínimo, dado pelas normas

técnicas, de forma a evitar desperdícios por substituição precoce. Para tal é necessário

verificar se o fornecedor está na lista de empresas qualificadas pelo PBQP-H. Alguns

produtos tradicionais ainda não fazem parte do PBQP-H. Caso o setor não conste no

PBQP-H, as recomendações das Entidades Setoriais sobre o padrão de qualidade do

produto devem ser consultadas. Para produtos inovadores, a norma técnica nacional não é

existente, sendo assim necessário exigir uma avaliação realizada por entidade de terceira

parte. Caso o produto não atenda à conformidade, ele deve ser eliminado (CBCS, s.d.).

3.2.3.5. Passo 5: Consultar o perfil de responsabilidade socioambiental da empresa

A sustentabilidade também deve estar presente nas relações que se estabelecem

em todos os níveis e em toda cadeia do negócio. Assim, a Responsabilidade Social

Empresarial (RSE) vai além das obrigações legais e incorpora valores e compromissos das

empresas em todas suas formas de relações em seus negócios. Assim, a empresa deve

assumir uma coresponsabilidade dos insumos e serviços adquiridos, tornando sua própria

Page 44: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

44

prática transparente para a sociedade. A RSE se divide em quatro principais esferas,

cabendo para cada uma delas uma série de questionamentos a serem feitos (CBCS, s.d.):

1) Funcionários e Fornecedores:

A empresa atende ao Passo 3: “Verificação das questões sociais”?

(eliminatório)

A empresa respeita a legislação trabalhista brasileira? (eliminatório)

A empresa possui CIPA, serviços de segurança e de medicina do

trabalho de acordo com o perfil e número de funcionários?

A empresa verifica antes de contratar fornecedores e prestação de

serviços se estão de acordo com a declaração da Organização

Internacional do Trabalho (OIT) sobre os princípios e direitos

fundamentais no trabalho?

2) Meio Ambiente:

A empresa atende ao Passo 2 - Verificação da licença ambiental?

(eliminatório)

A empresa estabelece a Gestão de Resíduos da Construção Civil

conforme Resolução CONAMA 307? (eliminatório)

Além da Resolução CONAMA 307, a empresa possui Programa de

Gestão de Resíduos de Construção Civil, de acordo com a legislação

municipal ou estadual vigente? (eliminatório)

A empresa possui setor específico para as questões de meio ambiente?

A empresa possui algum programa ou investe em tecnologias para

conservação de energia e recursos naturais, como tratamento de

efluentes para fins de reuso, captação de águas pluviais, adoção de

energias alternativas ou cogeração de energia?

A empresa já realizou análise de ciclo de vida de seus produtos?

3) Comunidade e Sociedade:

A empresa possui política sobre medidas reparadoras em reposta a

reclamações e manifestações da comunidade?

A empresa recebeu reclamações ou manifestações da comunidade ou de

organizações da sociedade civil (abaixo-assinado, protestos, petições por

questões como: excesso de lixo, geração de mau cheiro, efluentes

poluídos, excesso de tráfego, interferência nos sistemas de comunicação

e outras possíveis)?

Page 45: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

45

4) Transparência e Governança:

A empresa possui uma carta de princípios éticos ou uma política

socioambiental?

Possui, na sua política de compra, a seleção de fornecedores que sejam

licenciados e que não possuam passivos ambientais?

A empresa possui política voltada para práticas anticorrupção e

antipropina?

A empresa expõe publicamente seus compromissos éticos por meio de

material institucional, pela internet ou de alguma outra forma?

Além de atuar de acordo com a legislação em vigor, a empresa dispõe de

conselho consultivo e suas demonstrações financeiras são auditadas?

A empresa segue práticas de preço e concorrência, cumprimento à

legislação, negando e evitando: pirataria, sonegação fiscal, contrabando,

adulteração de marcas e falsificação de produtos?

3.2.3.6. Passo 6: Identificar a existência de propaganda enganosa

Não se deve confiar cegamente na sustentabilidade dos produtos e processos

declarados pelos fornecedores, pois produtos certificados podem não apresentar um

desempenho adequado. Dessa forma, deve-se verificar os critérios adotados pela

certificação e a seriedade do processo com um todo. Vale ressaltar que a sustentabilidade

global da empresa possui mais valor do que a sustentabilidade individual do produto em

questão, já que pequenos avanços produzidos em grande escala geram mais benefícios do

que grandes avanços aplicados a uma pequena parcela da produção (CBCS, s.d.).

Abaixo são colocados alguns indícios de propaganda enganosa (CBCS, s.d.):

Disfarce de aspectos negativos do produto, destacando aspectos positivos:

Os problemas ambientais envolvidos ou limitações do produto são omitidos.

Falta de provas: O fornecedor não apresenta quaisquer documentos de

terceira parte que sustentem suas afirmações e que possam ser verificados.

Imprecisão: Informações genéricas e imprecisas, que geram dúvida quanto

ao real benefício ambiental do produto durante todo o seu ciclo de vida.

Irrelevância: São declarações que não contribuem para informar sobre o

desempenho do produto ou que anunciam como vantagens conquistas

ambientais disseminadas no mercado.

Meias verdades: O fornecedor apresenta declarações exageradas,

afirmações falsas ou apenas os resultados favoráveis.

Page 46: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

46

O menos ruim: Apresentação de uma vantagem irrelevante para um produto

com desempenho ou eco-eficiência baixa.

3.2.4. Declaração ambiental do produto

A declaração ambiental do produto, ou EPD (do inglês, Environmental Product

Declaration) é um documento verificado de maneira independente e padronizado pela ISO

14025. A declaração tem o propósito de expor de maneira transparente e comparável todos

os impactos ambientais do produto ao longo de todo o seu ciclo de vida. Assim, a EPD age

de forma a fornecer uma base de comparação equitativa de produtos em relação ao seu

desempenho ambiental.

A norma ISO 14025 define declaração ambiental como dados ambientais

quantificados para um produto utilizando parâmetros pré-determinados e, quando

pertinentes, informações ambientais adicionais à Avaliação do ciclo de vida (ACV). Já a

norma ISO 21930 Sustentabilidade na construção civil - Declaração ambiental de produtos

de construção (do inglês, Sustainability in building construction – Environmental declaration

of building products) abrange padrões específicos para produtos da construção civil

(VANZOLINI, 2015b).

Vale ressaltar que a simples existência da declaração ambiental do produto não

garante um desempenho superior às demais alternativas, mas expõe de maneira

transparente os impactos ambientais presentes no ciclo de vida do produto. Dessa forma, é

necessária uma abordagem comparativa entre as diferentes declarações de maneira a

selecionar o produto com o ciclo de vida mais eco-eficiente.

3.2.5. Certificações RGMat

Além das outras certificações ambientais citadas anteriormente, de caráter mais

abrangente a todos os sistemas componentes de uma edificação, existem também selos

focados na avaliação de materiais de construção.

No Brasil, a Fundação Vanzolini é responsável pela certificação do selo RGMat

voltado para materiais de construções. A iniciativa tem a intenção de proporcionar

informações relevantes, verificadas e comparáveis sobre os aspectos ambientais, de

conforto e de saúde dos produtos e materiais da construção. Dessa maneira, visa a

possibilitar que os fabricantes demonstrem o desempenho ambiental de seus produtos, a

permitir aos empreendedores e projetistas melhores condições de selecionarem produtos

ambientalmente corretos e a favorecer que lojistas e consumidores identifiquem materiais

mais sustentáveis (RGMAT, 2013).

Page 47: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

47

O selo exige que o material a ser certificado possua uma declaração ambiental de

produto e também tem como função permitir que o cliente em potencial possa atestar a

sustentabilidade do material sem que o mesmo disponha de conhecimentos técnicos para

realizar a correta interpretação contextual e comparativa dos dados presentes na ED.

Page 48: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

48

4. Estratégias adotadas pelas construtoras com relação à seleção e uso de materiais

sustentáveis

A pesquisa realizada pelo CBCS (2014) abordou os critérios adotados para a

seleção de materiais de construção pelos profissionais do setor. O resultado evidencia que

os critérios de sustentabilidade do material ainda são muito pouco considerados no

momento da tomada de decisão pelos profissionais brasileiros. O resultado é apresentado

no Gráfico 6.

Gráfico 6 - Critérios adotados para a seleção de materiais de construção (CBCS, 2014).

A pesquisa também levantou as principais dificuldades enfrentadas pelos

profissionais do setor para se adotar o uso ferramentas para a seleção de materiais (Gráfico

7). Além disso os profissionais opinaram quanto as quais ferramentas auxiliariam mais

durante esse processo de escolha do produto (Gráfico 8).

Page 49: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

49

Gráfico 7 - Dificuldades encontradas para a seleção de materiais de construção (CBCS,

2014).

Gráfico 8 - Ferramentas avaliadas como mais úteis para a seleção de materiais de

construção (CBCS, 2014).

Com base nos resultados apresentados pela pesquisa fica evidente que os critérios

sustentáveis ainda são muito pouco explorados pelos profissionais do setor, prevalecendo

ainda critérios como custo (74,4%), especificação de projeto (53,7%) e facilidade de

manutenção e durabilidade (ambos com 47%).

A falta de conhecimento e de informações disponíveis foram classificados como os

maiores dificultadores da prática da escolha do material sustentável. 55,9% opinaram como

o conhecimento da equipe ser o maior dificultador. Por último, apesar disso, a maioria

(61,8%) considerou a análise do ciclo de vida como a ferramenta mais útil para a seleção

dos materiais de construção.

Page 50: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

50

Esses dados permitem inferir que, apesar de reconhecer os benefícios da escolha

consciente quanto aos impactos provenientes do ciclo de vida do material, esses critérios

ainda são muito pouco considerados no momento da tomada de decisão. Isso se deve,

provavelmente, devido à falta de conhecimento técnico entre os profissionais do setor e a

falta de acesso a informações necessárias à ACV.

Page 51: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

51

5. Análise da sustentabilidade dos materiais de construção disponíveis no mercado

Nesta seção são analisados, com base nos critérios elencados no capítulo 3, os

diversos materiais de construção presentes no mercado nacional quanto à sustentabilidade.

Vale ressaltar as dificuldades encontradas no processo como a escassez de dados que

possibilitem adotar um critério objetivo para comparação do desempenho ambiental dos

diferentes materiais. Assim, a abordagem predominantemente adotada pautou-se na

análise dos materiais de construção cujos dados relevantes estavam disponíveis para a

consulta. Dessa maneira, buscou-se fazer uma análise comparativa e objetiva, frente às

diversas variáveis que permeiam o assunto.

Também vale ressaltar que, apesar da análise realizada não cobrir a totalidade dos

materiais utilizados nas edificações, a abrangência adotada permite a avaliação dos

materiais mais utilizados na construção civil. Os materiais avaliados são enumerados

abaixo:

1) Blocos de concreto para alvenaria estrutural;

2) Blocos de concreto para pavimento intertravado;

3) Blocos cerâmicos;

4) Concreto armado moldado in loco;

5) Telhas cerâmicas;

6) Telhas de concreto;

7) Cimento Portland;

8) Aço.

5.1 Materiais cerâmicos

5.1.1. Blocos de concreto

O CBCS (2014b), em parceria com a Associação Brasileira de Cimento Portland

(ABCP) e a Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto (Bloco Brasil),

desenvolveu um projeto para a avaliação de ciclo de vida modular voltada para os blocos de

concreto e pavimentos de concreto. A iniciativa teve a intenção levantar os impactos

ambientais causados pela indústria brasileira de materiais de construção e de servir como

base para um projeto piloto para o estabelecimento de uma plataforma nacional de ACV

simplificada no país.

Os blocos de concreto selecionados para o estudo foram blocos estruturais e de

vedação e blocos para pavimentos intertravados com 35 Mpa. Para tal foram estimadas

faixas para os cinco principais indicadores do setor de blocos de concreto: uso de materiais,

Page 52: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

52

consumo de energia e água, emissão de CO2 e geração de resíduos no processo de

produção. Assim, foi feita a análise dos dados de 33 fábricas de blocos (Tabela 4),

localizadas em diferentes regiões do Brasil, e com as informações declaradas pelas

empresas, foram calculados os principais indicadores ambientais referentes aos produtos

mais representativos no mercado nacional (CBCS, 2014b).

Tabela 4 - Lista de empresas participantes, por estado da federação (CBCS, 2014b).

Empresa Estado

Arevale SP

Aroucatec SP

Calblock SP

Exactomm SP

Glasser SP

Intercity SP

JB Blocos SP

Prensil SP

Presto SP

Quitaúna SP

Tatu SP

Tinari SP

Casalit RJ

FLG RJ

Multibloco RJ

Pavibloco RJ

Pentágono RJ

Blojaf MG

Sigma MG

Uni Stein MG

Pavimenti - Filial PR

Pavimenti - Matriz

PR

Tecpaver PR

Valleblock PR

Vanderli Gai e Cia.

PR

Kerber SC

Vale do Selke SC

Votorantim SC

Prontomix RS

Tecmold RS

Civil BA

Original DF

Page 53: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

53

O fluxograma da cadeia produtiva de blocos de concreto para pavimento e para

alvenaria é representado na Figura 5.

Figura 5 - Sistema de produto para a fabricação de blocos de concreto para pavimento e para alvenaria (CBCS, 2014b).

A seguir são apresentados alguns dados referentes aos principais indicadores

levantados pelo o estudo.

5.1.1.1. Blocos de concreto para pavimentação

As especificações referentes aos blocos de concreto para pavimentação analisados

são expostas na Tabela 5.

Tabela 5 - Blocos de concreto para pavimento selecionados para o estudo (CBCS, 2014b).

Produto Formato Espessura

(cm) Resistência

(MPa)

Blocos de concreto para pavimentação

(bcp)

Retangular

6

35

8

10

16 faces

6

8

10

Page 54: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

54

O indicador de energia incorporada é composto pela energia total envolvida na

obtenção dos insumos e fabricação da peça, ou seja, a energia estimada para o transporte

das matérias-primas, a energia de extração e processamento das mesmas e a energia

utilizada no processo produtivo dos produtos. O Gráfico 9 apresenta, além dos valores que

limitam a faixa de energia incorporada, os resultados máximos (círculo vazado vermelho) e

mínimos (círculo vazado verde) estimados para cada empresa.

Gráfico 9 - Indicador de energia incorporada – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).

Assim como os indicadores de energia, o indicador de emissão de CO2 é composto

pela emissão total por peça, ou seja, a quantidade estimada procedente da queima de

combustíveis para o transporte das matérias-primas, extração e processamento das

mesmas e o CO2 emitido devido ao funcionamento da fábrica. O Gráfico 10 apresenta, além

dos valores que delimitam a faixa, os valores máximos (círculos vazados em vermelho) e

mínimos (círculos vazados em verde) estimados para cada empresa.

Page 55: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

55

Gráfico 10 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).

Para o estudo do consumo de água no processo produtivo de blocos de concreto

foram solicitados dois tipos de informação: o consumo de água de composição do concreto

por peça (apenas dos produtos analisados) e o consumo total de água da fábrica por fonte

de origem. Os intervalos calculados com base nos consumos de água fornecidos pelas

empresas são apresentados na Tabela 6 e no Gráfico 11.

Tabela 6 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).

Quantidade de água de composição do concreto por peça (litro/pç)

Pç.ret.6 cm Pç.ret.8 cm Pç.ret.10 cm Pç.16f.6 cm Pç.16f.8 cm Pç.16f.10 cm

Máximo 0,43 0,51 0,49 0,53 0,7 0,91

Média 0,16 0,2 0,28 0,21 0,28 0,35

Mínimo 0,01 0,02 0,05 0,02 0,03 0,05

Page 56: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

56

Gráfico 11 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).

Por fim, os dados referentes às perdas e resíduos estão representados na Tabela 7.

Vale ressaltar que a forma como essa informação foi pedida gerou dúvidas quanto aos

dados a serem informados. Isso fez com que algumas empresas fornecessem dados de

resíduos cimentícios que saem da fábrica, enquanto outras passassem seus valores de

perdas de produção, que não necessariamente se tornam resíduos. Também é notável a

elevada taxa de reciclagem de seus resíduos, tanto os referentes às perdas de processo

quanto aos demais informados.

Tabela 7 - Levantamento do número de empresas que informaram dados de resíduos gerados no processo de fabricação dos blocos de concreto – cimentícios e outros (CBCS,

2014b).

Empresa Pallets Madeira Plásticos Papel e papelão

Tambores Óleo Graxa Estopa Sucata

metálica Material

cimentício

Informou dados

9 4 6 3 4 4 1 2 2 29

Recicla 7 4 4 2 3 3 1 2 2 28

Descarta 2 0 2 1 1 1 0 0 0 1

% recicla

77,8 100 66,7 66,7 75 75 100 100 100 96,6

Page 57: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

57

5.1.1.2. Blocos de concreto para alvenaria

As especificações referentes aos blocos de concreto para alvenaria analisados são

expostas na Tabela 8.

Tabela 8 - Blocos estruturais e de vedação selecionados para o estudo (CBCS, 2014b).

Produto Tipo Largura

(cm) Comprimento (cm) Espessura (cm) Resistência (MPa)

Blocos de concreto

para alvenaria

Estrutural (bce)

14 39 19

4

6

8

10

12

Vedação (bcv)

14 39 19

2

9 2

O Gráfico 12 apresenta, além dos valores que limitam a faixa de energia

incorporada, os resultados máximos (círculo vazado vermelho) e mínimos (círculo vazado

verde) estimados para cada empresa.

Gráfico 12 - Indicador de energia incorporada – Blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).

Page 58: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

58

O Gráfico 13 apresenta, além dos valores que delimitam a faixa de emissão de CO2,

os valores máximos (círculos vazados em vermelho) e mínimos (círculos vazados em verde)

estimados para cada empresa.

Os intervalos calculados com base nos consumos de água fornecidos pelas

empresas são apresentados na Tabela 9 e no Gráfico 14.

Tabela 9 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).

Quantidade de água de composição do concreto por peça (litro/pç)

Bl.est.4 MPa Bl.est.6 MPa Bl.est.8 MPa Bl.est.10 MPa Bl.est.12 MPa Bl.ved.14 cm

Bl.ved.9 cm

Máximo 2 2,08 2,11 2,14 2,18 1,36 1,36

Média 0,63 0,66 0,76 0,75 0,83 0,52 0,47

Mínimo 0,04 0,05 0,07 0,09 0,12 0,03 0,02

Gráfico 13 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).

Page 59: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

59

Gráfico 14 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).

5.1.2. Blocos cerâmicos

A empresa Quantis preparou para Associação Nacional da Indústria Cerâmica,

ANCIER, em 2012, uma análise comparativa do ciclo de vida de paredes construídas com

blocos cerâmicos, blocos de concreto e concreto armado moldado in loco. A ACV foi feita

com base nos resultados quanto a cinco indicativos: mudanças climáticas, saúde humana,

qualidade do ecossistema, recursos e retirada de água. A análise levou em consideração os

impactos gerados pela construção de uma parede de um metro quadrado para cada

material utilizado.

O estudo em questão teve como objetivo os seguintes itens (QUANTIS, 2012):

1) Identificar e compreender os impactos ambientais sobre o ciclo de vida do bloco

cerâmico nas paredes exteriores no Brasil;

2) Comparar o desempenho ambiental com um dos blocos de concreto nas

paredes exteriores e concreto armado moldado in loco nas paredes exteriores no

Brasil;

3) Avaliar a influência dos pressupostos centrais e as variáveis selecionadas no

modelo, como a diferença da durabilidade da vida útil entre os três tipos de

material de construção considerados para a construção de paredes externas.

Page 60: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

60

As principais características dos produtos estudados são identificadas pela Tabela

10.

Tabela 10 - Principais características dos produtos estudados (QUANTIS, 2012).

Características Blocos cerâmicos Blocos de concreto Concreto armado

Peso do bloco (kg) 7,5 12

Espessura da parede 0,14 0,14 0,12

Construção de parede (quantidade de material

por 1m² de fachada)

13 blocos 13 blocos 300 kg de concreto

15 kg de argamassa por ligante

15 kg de argamassa por ligante

9,48 kg de haste de aço

0,4 kg de haste de aço 0,4 kg de haste de aço 22,8 l de água

Argamassa para revestimento (quantidade

total/m² por parede)

62,5 kg de revestimento seco

62,5 kg de revestimento seco

0

5,75 l de água 5,75 l de água 0

Formas para estrutura de suporte (kg/m²)

Nenhuma Nenhuma 0,063 kg de alumínio

Vida útil (anos) 40 40 40

As cadeias de produção dos materiais de construção estudados estão

esquematizadas nas Figuras 6, 7 e 8.

Figura 6 - Ciclo de vida de paredes de blocos cerâmicos (QUANTIS, 2012).

Page 61: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

61

Figura 7 - Ciclo de vida de paredes de blocos de concreto (QUANTIS, 2012).

Figura 8 - Ciclo de vida de paredes de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).

Page 62: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

62

A descrição geral do sistema com o levantamento de todos os processos pertinentes

ao ciclo de vida de cada um dos três materiais analisados se encontra nas Tabelas 11, 12,

13 e 14.

Tabela 11 - Descrição geral do sistema – Extração de matéria prima (QUANTIS, 2012).

Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in

loco

Extração de matéria prima

Os blocos cerâmicos são feitos de argila com adição de

água.

Os blocos de concreto são feitos de areia, cimento,

pedra britada e água.

O concreto armado moldado in loco é feito de areia,

cimento e água, derramado entre as varas de aço.

A extração de argila é realizada com

retroescavadeiras, pás carregadeiras e escavadeiras

A areia é extraída dos poços de areia dos leitos dos rios. A areia artificial também pode

ser produzida por esmagamento de rochas.

Areia e cimento são produzidos da mesma

maneira que os blocos de concreto. A água é

adicionada para a mistura do concreto na fábrica. Os

aditivos são feitos de resina de melamineformaldehyde

(29% de formaldehyde, 71% de melanina).

A argila endurecida, chamada no Brasil de “argilito" 3, por ser de mais qualidade, pode ser escavada por meio de

jateamento.

A principal matéria prima para a produção de cimento é a extração de calcário, que

normalmente é retirado de pedreiras abertas, no Brasil, com o uso de explosivos. A argila, o outro ingrediente

usado na produção de cimento, é extraída da

mesma forma que a argila usada na fabricação de

blocos cerâmicos.

As formas utilizadas são feitas de alumínio. Embora o ferro galvanizado ou o aço

possam ser usados nas formas, as de alumínio são as

mais comuns no mercado brasileiro. São usados dados

genéricos na produção primária de alumínio, que são

a média do alumínio consumido na Europa. Isto

inclui a produção de lingotes de alumínio fundido (na fábrica), transporte do material até a fábrica e

armazenagem de resíduos.

Matéria prima para argamassa

Argamassa é feita de uma mistura de cimento, cal e areia com adição de água (no local da construção). A cal é produzida pela calcinação do calcário. A areia, o calcário e o cimento são

produzidos da mesma maneira que o concreto (veja acima).

Matéria prima para extração das hastes de aço

Page 63: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

63

A estrutura armada ou as hastes são feitas de aço produzido do minério de ferro. A princípio o minério de ferro é extraído de minas a céu aberto no Brasil. Durante a fabricação, impurezas como o enxofre, fósforo e o excesso de carbono são removidos do ferro bruto. A fabricação primária do aço é feita em forno básico de oxigênio (BOF), e a fabricação secundária do aço (derretimento do minério de ferro e sucata de ferro para reciclagem) é feita em um forno de arco elétrico (EAF). O aço mundial é constituído por 70% de aço do BOF e 30% do EAF F.

Tabela 12 - Descrição geral do sistema – Transporte de matéria prima (QUANTIS, 2012).

Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in

loco

Transporte

Os caminhões rodam um total de 54 km, cada viagem, entre o local de extração da argila

até a fábrica.

A areia, o calcário e a argila extraídos são transportados

por mais de 150 km de caminhão até a fábrica de

cimento. Depois, o cimento é transportado por mais de 300

km até a fábrica de blocos.

O calcário extraído e a argila são transportados mais de 150 km por caminhão até

chegar à fábrica de cimento.

Transporte dos ingredientes da argamassa

A areia e a argamassa, como matéria‐prima, são transportadas por mais de 150 km de

caminhão para a fábrica de pré‐mistura da argamassa. O cimento, como matéria‐prima, é

transportado por mais de 300 km por caminhão para a fábrica de pré‐mistura de argamassa.

Tabela 13 - Descrição geral do sistema – Fabricação (QUANTIS, 2012).

Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in

loco

Fabricação

Preparação de argila Britamentos e moagem Produção da mistura de

cimento

Massa

O calcário é esmagado antes de ser mantido em compartimentos de

armazenamento, juntamente com a argila. Em seguida, a mistura de calcário (90%) e argila (10%) é esmagada no

moinho de cimento. A mistura do cru cimenteiro, de calcário

e argila produzida sofre moagem para reduzir o

tamanho das partículas a uma média de 0,050mm. A

mistura natural adequadamente dosada com

um material de fineza desejada, conhecida como

farinha, é homogeneizada em grandes silos verticais através de processos

pneumáticos e de gravidade.

O mesmo para a produção de blocos de concreto (trituração

e moagem, clinquerização, resfriamento, trituração

(adição).

O preparo é realizado com uma pá mecânica de

carregamento e de mistura. Clinquerização Mistura

Page 64: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

64

Modelagem

A farinha é introduzida no forno antes de passar por preaquecedores que se aproveitam de fornos de

recuperação de calor para promover o aquecimento

inicial do material. No forno rotativo a mistura é calcinada até 1450°C, resultando em

cimento.

Seguindo a armazenagem inicial em silo, é feita uma mistura de cimento (20%), areia (70%) e água (10%) para produzir o cimento

molhado.

Os blocos são moldados usando uma variedade de equipamentos (tais como

moldes) e trabalho manual.

Resfriamento Produção de hastes de aço

Secagem

Um refrigerador reduz a temperatura para cerca de 80°C. Segue então para

armazenamento.

O produto semifinal da produção de aço é

processado como segue:

A fase de secagem permite a redução da permite a redução

da conteúdo de 25% para 30% em massa. É usado o

calor recuperado da etapa de queima.

Moagem (adição) ‐ retirada;

Queima

O cimento é misturado com gesso e produtos químicos

armazenados separadamente até que entram no moinho de cimento, onde os aditivos são

misturados, resultando na mistura de cimento

comercializado.

‐ moagem;

Os blocos são cozidos na etapa da queima para

transformar o material em resultado sólido. É

processado nos altos fornos por queima de lascas de

madeira (ou outro material residual orgânico) fornecidas como resíduos de produtos da indústria de móvel. Há uma perda de 1,5% que é

reprocessada e incorporada na massa (mais de 5%) ou vendida para terrenos de

quadra de tênis (avaliado em menos de 1% do peso total,

excluído).

Mistura ‐ aquecimento;

Embalagem

Depois do armazenamento inicial em silos, é feita uma mistura de cimento (20%), areia (70%) e água (10%) para produzir o cimento

molhado.

‐ descalcificação; e

Os blocos são embalados (nas paletas, ou embrulhados

em folhas plásticas). Modelagem e secagem ‐ laminagem.

Os blocos são moldados e

secam naturalmente.

A laminagem quente faz com que a estrutura de grãos

grossos se recristalize em uma estrutura de grão muito

mais fina, dando grande tenacidade e resistência ao

choque, e força tênsil.

Embalagem

Os blocos são embalados em

Page 65: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

65

paletas.

Produção de argamassa

Proporção e mistura

É feita uma mistura de cimento (15%), calcário (9%) e areia (76%) para produzir

argamassa seca.

Transporte

A mistura seca é feita nas correias transportadoras para

o setor de embalagem.

Embalagem

A mistura seca é embalada em sacos de papel e então

paletizada.

Tabela 14 - Descrição geral do sistema – Distribuição, uso e fim de vida (QUANTIS, 2012).

Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in loco

Distribuição

Os blocos são transportados por caminhão até o

armazenamento percorrendo uma de distância média de 50 km, e então percorrem mais 5

km até chegar ao cliente. É considerada uma perda de

1% nesta fase. A pré‐mistura

de argamassa é transportada de caminhão por mais de 25

km até o cliente final. As hastes de aço são

transportadas por mais de 800 km até o consumidor

final.

Os blocos são transportados por caminhão até o

armazenamento percorrendo uma distância média de 50 km, e então percorrem mais

de 5 km até o cliente. É considerada uma perda de

1% nesta fase. A pré‐mistura

de argamassa é transportada de caminhão por mais de 25

km até o cliente final. As hastes de aço são

transportadas mais de 800 km até o consumidor final.

O concreto molhado é transportado por mais de 25 km até o consumidor final

em um caminhão betoneira. É considerada uma perda de 4%. O

caminhão fica funcionando durante 2 horas controlando a bomba para escoar

o concreto. As hastes de aço são transportadas por mais de 800 km até o consumidor final, a forma de alumínio mais 1000 km e os aditivos mais 1000

km.

Uso

Os blocos são assentados manualmente. É

acrescentado 8% de água à pré‐mistura da argamassa

seca (92%) e a mistura é feita manualmente. A argamassa é

assentada manualmente

Os blocos são assentados manualmente. É

acrescentado 8% de água à pré‐mistura da argamassa

seca (92%) e a mistura é feita manualmente. A argamassa é

assentada manualmente.

concreto molhado é despejado nas hastes de aço em uma forma de trabalho. Para o escoamento do concreto, o caminhão betoneira

permanece em funcionamento e usa a bomba para escoar concreto no local. O consumo de combustível e a emissão

do caminhão associado ao escoamento do concreto são calculados com um

modelo de equipamento não rodoviário desenvolvido por US EPA

(http://www.epa.gov/otaq/nonrdmdl.htm). Presume‐se que a força do motor do

caminhão seja de 300 HP.

Fim da vida

A parede é destruída e os resíduos são enviados para

aterros. A distância de transporte de 50 km está

incluída nesta fase.

A parede é destruída e os resíduos são enviados para

aterros. A distância de transporte de 50 km está

incluída nesta fase.

A parede é destruída e os resíduos são enviados para aterros. A distância de

transporte de 50 km está incluída nesta fase.

Page 66: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

66

Os cinco indicadores da ACV foram calculados de forma normativa, com o intuito de

servir como critério comparativo entre os três materiais de construções abordados. Assim, o

resultado de cada indicador é calculado com base nas equações abaixo:

% = (𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜 − 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑐𝑒𝑟â𝑚𝑖𝑐𝑜)

𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑐𝑒𝑟â𝑚𝑖𝑐𝑜

% = (𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜 𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜 − 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜 𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜)

𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑐𝑒𝑟â𝑚𝑖𝑐𝑜

Com base nesse método, os resultados obtidos para cada etapa do ciclo de vida e

cada

Entre os resultados avaliados, vale ressaltar que os blocos cerâmicos têm menor

impacto nas Mudanças Climáticas do que os equivalentes de concreto. Em 32,1 kg

CO2eq/m², as emissões dos gases de efeito estufa sobre o ciclo de vida de um metro

quadrado da parede são aproximadamente metade dos de um metro quadrado da parede

de bloco de concreto e um terço da de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).

Já na classificação do Esgotamento de Recursos da parede de blocos cerâmicos,

que se refere principalmente por uma energia não renovável, é também classificada por

volta da metade de consumo da parede de bloco de concreto e por volta de 37% para a

parede de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).

Gráfico 15 - Comparação do impacto ambiental nas diferentes fases do ciclo de vida (QUANTIS, 2012).

Page 67: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

67

O indicador de Retirada de Água mostra a mesma tendência para a comparação de

blocos cerâmicos versus blocos de concreto, com os blocos cerâmicos aparentemente

exigindo uma quantidade menor de retirada de água do que uma parede de blocos de

concreto. Da mesma forma, a parede de blocos cerâmicos requer menos quantidade de

água do que uma parede de concreto armado moldado in loco em seu ciclo de vida.

Em relação à Saúde Humana e Qualidade do Ecossistema, a diferença entre os

materiais das paredes é menor do que as incertezas relatadas no modelo de pressupostos

de impacto.

Com base nesses resultados pode-se afirmar que, em termos gerais, uma parede de

bloco cerâmico tem menos impacto do que a parede de bloco de concreto em todas as

categorias.

5.1.3. Telhas cerâmicas

Um comparativo análogo à ACV do item anterior também foi realizado, pela Quantis,

para as telhas cerâmicas frente às telhas de concreto. Também de forma semelhante, essa

investigação tem como propósito os seguintes itens a seguir (QUANTIS, 2012):

1) Identificar e compreender os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida de

telhas de cerâmica no Brasil;

2) Comparar o seu desempenho ambiental com o das telhas de concreto no Brasil;

3) Avaliar a influência dos pressupostos centrais e das variáveis selecionadas no

modelo, tal como a vida útil das telhas e as diferenças de isolamento térmico

entre os dois tipos de telhas.

As principais características dos produtos abordados nesse estudo estão alocadas

na Tabela 15.

Tabela 15 - Principais características das telhas estudadas (QUANTIS, 2012).

Características Telhas Cerâmicas Telhas de Concreto

Peso (kg) 2,4 4,5

Cobertura do telhado (telhas/m2) 16 10,4

Vida útil (anos) 20 20

As etapas do ciclo de vida dos materiais de construção investigados estão

apresentadas nas Figuras 9 e 10.

Page 68: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

68

Figura 9 - Ciclo de vida das telhas cerâmicas (QUANTIS, 2012).

Page 69: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

69

Figura 10 - Ciclo de vida das telhas de concreto (QUANTIS, 2012).

A descrição geral do sistema com os processos pertinentes à ACV para as telhas

cerâmicas e telhas de concreto é muito semelhante aos blocos cerâmicos e blocos de

concreto e, por esse motivo, não está exposta no presente trabalho.

Os resultados obtidos pela análise comparativa dos cinco indicativos da ACV (Figura

5.14) revelou que as telhas cerâmicas tem impacto menor na Mudança Climática e

Esgotamento de Recursos do que seus equivalentes de concreto. Em 4.97 kg CO2eq/m2,

as emissões de GEE no ciclo de vida de um metro quadrado de telha cerâmica são

aproximadamente um terço das emissões de um metro quadrado de telha de concreto. O

Esgotamento dos Recursos pelas telhas cerâmicas, que se refere especialmente ao

consumo de energia não-renovável é aproximadamente 40% menor que o das telhas de

concreto (QUANTIS, 2012).

O indicador de Retirada de Água também mostra a mesma tendência, mas sua

importância deve ser considerada com cuidado, considerando-se o inventário genérico de

dados, incompleto e menos confiável para uso da água. Pode-se observar, entretanto, que

Page 70: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

70

as telhas de cerâmica parecem exigir muito menos retirada de água do que os equivalentes

de concreto (QUANTIS, 2012).

No tocante aos danos à Saúde Humana e à Qualidade do Ecossistema, a diferença

entre as telhas é menor do que a incerteza relacionada ao modelo de avaliação do impacto.

Assim, para estes dois indicadores, uma opção não pode ser preponderante à outra.

Com base nesses resultados pode-se afirmar que, em termos gerais, que as telhas

cerâmicas são responsáveis por um impacto menor do que as telhas de concreto em quase

todas as categorias.

Gráfico 16 - Comparativo do impacto ambiental das etapas do ciclo de vida das telhas cerâmicas e das telhas de concreto (QUANTIS, 2012).

5.1.4. Cimento

A produção do cimento é a terceira maior causa de emissão antropogênica de CO2

no planeta (JUSTNES, 2015). Em 2003 esse valor representou 5% do total das emissões de

origem humana (DAMINELLI et al, 2010). Isso se deve em grande parte pelo fraco

desempenho ambiental do clínquer de cimento Portland. Dessa maneira, opções

ambientalmente mais sustentáveis são aquelas com cimentos com baixo teor de clínquer ou

aqueles onde haja substituição parcial de cimento Portland por materiais com

características pozolânicas ou hidráulicas (Metha, 2001).

Page 71: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

71

JOHN (2003) relata que a mistura do clínquer com outros materiais, como cinzas

volantes e escórias de alto forno, reduz as emissões de CO2 e aumenta a eficiência

energética durante a produção do cimento.

Ainda segundo JOHN (2003), os concretos tipicamente contêm de 8 a 15% de

cimento, 2 a 5% de água, aproximadamente 80% de agregados e menos de 0,1% de

aditivos. Apesar de sua parcela expressiva na composição do produto, os agregados

naturais e reciclados são responsáveis por menos de 3% das emissões totais e do consumo

de energia na produção do concreto (VARES & HAKINNEN, 1998). Assim, o conteúdo de

cimento e sua composição, a ser determinados pelos projetistas, dita a sua carga ambiental

(Gráfico 17).

Gráfico 17 - Consumo de energia na produção de concreto (TORGAL & JALALI, 2010).

O cimento Portland, que atua como material ligante na confecção do concreto, está

associado a elevados impactos ambientais devido à extração de matérias primas não

renováveis (como calcários e argilas), utilizadas na sua produção. Além disso, é

responsável por elevadas taxas de emissão de carbono já que durante a sua produção

ocorrem emissões de CO2 através da descarbonização do calcário (CaCO3), de acordo com

a reação abaixo (GARTNER, 2004):

3CaCO3 + SiO2 → Ca3SiO5 + 3CO2

Assim, para cada tonelada de clínquer gerado serão emitidos para a atmosfera 579

kg de CO2, independentemente da eficiência do processo utilizado. A este valor é ainda

necessário somar aproximadamente 390 kg de CO2 devidos à utilização de combustíveis

fósseis consumidos durante a produção do clínquer (TORGAL & JALALI, 2010).

Page 72: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

72

JUSTNES (2015) enumera três estratégias para se aumentar a sustentabilidade do

concreto. São elas:

1) Substituir o cimento no concreto por maiores quantidades que o usual de

materiais suplementares ao cimento (SCM);

2) Substituir o cimento no concreto por combinações de SCM que levem a reações

sinérgicas de ganho de resistência;

3) Produzir concreto mais leve, com menos cimento por metro cúbico, através do

uso de plastificantes.

A Figura 11 sintetiza as etapas da produção do cimento Portland. Abaixo são

atribuídas explicações mais detalhadas para as etapas do processo:

Figura 11- Etapas de produção do cimento Portland (ABCP, s.d.).

1) Extração: O calcário é a principal matéria prima para a fabricação do cimento e

sua extração pode ser feita em jazidas subterrâneas ou a céu aberto, como é

Page 73: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

73

mais comum no Brasil. O material é extraído da rocha com o uso de explosivos,

assim como a argila;

2) Britagem: Na próxima etapa, o calcário extraído é transportado com o auxílio de

caminhões até a instalação de britagem, onde tem suas dimensões reduzidas

para se adequar às dimensões de processamento industrial. Durante esse

processo diversas impurezas presentes no calcário são eliminadas. Já a argila,

por ser mole, não passa pela britagem;

3) Depósito: A seguir, é feita a estocagem da argila e calcário de forma separada. É

feita a pré-homogeneização com o auxílio de um equipamento. É nesta fase,

também, que são realizados diversos ensaios com a matéria prima de forma a

atestar a sua qualidade;

4) Dosagem: Nesta fase, o composto de calcário e argila é dosado, com base em

parâmetros químicos preestabelecidos, para ser triturado no moinho de cru;

5) Moinho de cru: A mistura de calcário e argila, denominada farinha, é submetida à

moagem realizada no moinho de cru, onde ocorre a homogeneização e a

pulverização da matéria prima;

6) Silos de homogeneização: A farinha é então misturada de forma homogênea em

silos verticais de grande porte, através de processos pneumáticos e por

gravidade;

7) Forno: A farinha, após passar por pré-aquecedores, é introduzida no forno para

ser calcinada até 1450ºC, resultando no clínquer;

8) Resfriador: A clinquerização se completa nessa etapa, através da redução da

temperatura no resfriador a 80ºC. Ocorre uma série de reações químicas a

influenciar na resistência do concreto nas primeiras idades, o calor de

hidratação, o início de pega e a estabilidade química dos compostos;

9) Depósito de clínquer: A principal matéria prima do cimento fica armazenada em

silos, aguardando a próxima etapa;

10) Adições: Junto com o clínquer, adições de gesso, escória de alto forno,

pozolana e o próprio calcário compõem os diversos tipos de cimento Portland.

Essas substâncias são estocadas separadamente antes de entrarem no moinho

de cimento;

11) Moinho de cimento: É após a moagem final que o clínquer, adicionado ao gesso

ou outras adições, resulta no cimento tal como é conhecido.

Com o objetivo de avaliar os impactos do ciclo de vida do processo de fabricação do

cimento Portland no Brasil, GUERREIRO (2014) aplicou, através do uso de um software

Page 74: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

74

específico, uma ACV voltada para o sistema produtivo de cimento no Brasil. A unidade

funcional adotada para o estudo foi de uma tonelada de cimento produzido.

Para se realizar tal análise foram consideradas as etapas do processo

representadas pela Figura 12. Vale notar que a análise não considerou as etapas de

comercialização, distribuição e descarte do produto não foram consideradas.

Os tipos de cimento Portland foram escolhidos, ainda por GUERREIRO (2014), a

partir de suas participações no mercado brasileiro. A Tabela 16 ilustra as especificações

desses produtos.

Figura 12 - Sistema de produto da fabricação do cimento Portland (GUERREIRO,

2014).

Page 75: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

75

Tabela 16 - Tipos de cimento da indústria brasileira e europeia, composição e

participação no mercado (GUERREIRO, 2014).

Tipo de cimento Abreviatura Clínquer + sulfato de

cálcio (limites superior e inferior)

Adições minerais Participação de

mercado (%) Fonte

Norma brasileira

Cimento Portland

referência CP REF 67% escória de alto forno - WBCSD

Cimento Portland

composto

CP II-E 94 - 56%/75% escória de alto forno

61,10% NBR

11578 CP II-F 94 - 90%/92% material carbonático

CP II-Z 94 - 76%/85% material pozolânico

Cimento Portland de alto

forno CP III 65 - 25%/45% escória de alto forno 15,40% NBR 5735

Cimento Portland

pozolânico CP IV 85 - 45%/65% material pozolânico 14,80% NBR 573

Norma europeia

Cimento Portland

composto

CEM II/B-S 94 - 65% escória de alto forno

57%

EN 197-1

CEM II/A-L 94-80% material carbonático

CEM II/A-P 79-65% material pozolânico

Cimento de alto forno

CEM III/A 64-35% escória de alto forno 5%

Cimento pozolânico

CEM IV/A 65-89% material pozolânico 6%

Os resultados obtidos a partir da análise são exibidos na Tabela 17.

Page 76: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

76

Tabela 17 - Avaliação dos impactos ambientais do processo de fabricação da indústria

cimenteira brasileira e europeia (GUERREIRO, 2014).

Cimento Portland

Aquecimento Global

(kg CO2 -eq)

Acidificação (kg SO2 -

eq)

Eutrofização (kg PO4 -

eq)

Depleção da Camada de Ozônio

(kg CFC-11 -eq)

Oxidação fotoquímica (kg C2H4 -

eq)

Depleção de

recursos não-

renováveis (kg Sb -eq)

Demanda de energia acumulada

(MJ -eq)

Tipos de Cimento - Indústria Brasileira

CP REF 639 1,254 0,201 0,00003621 0,04823 1,941 4,56

CP II-E 704,5 1,387 0,22 0,00003992 0,05256 2,141 3,609

CP II-F 871,2 1,702 0,268 0,00004935 0,06506 2,634 7,039

CP II-Z 806,7 1,57 0,248 0,0000456 0,06029 2,436 3,613

CP III 456,8 0,996 0,156 0,00002712 0,0392 1,466 3,465

CP IV 634,1 1,315 0,206 0,00003686 0,05065 1,975 1,386

Tipos de cimento - Indústria Europeia

CEM II/B-S

687,5 1,127 0,229 0,0000171 0,0368 1,332 3,368

CEM II/A-L

718,9 1,172 0,234 0,0000178 0,0381 1,38 3,377

CEM II/A-P

754,6 1,225 0,247 0,0000185 0,0399 1,447 3,613

CEM III/A

449,3 0,84 0,154 0,0000129 0,0287 0,96 3,613

CEM IV/A

683,5 1,193 0,233 0,0000183 0,0396 1,386 3,426

A fim de se fazer a análise comparativa entre os impactos ambientais gerados por

cada tipo de cimento, foi adotado o cimento CP REF como referência, de forma a

representar a indústria brasileira. Os indicativos utilizados para o cálculo dos impactos são

explicados abaixo:

1) Mudanças climáticas: determina os potenciais de impactos a partir de

quantitativos de gases do efeito estufa, como CO2, N2O e aerossóis;

2) Depleção da camada de ozônio: representa a exaustão da camada de ozônio,

cujos impactos podem causar danos futuros ao meio ambiente;

3) Acidificação: está relacionado à emissão de óxidos de nitrogênio e enxofre à

atmosfera;

4) Eutrofização: representa os potenciais de impactos referentes às emissões de

nutrientes ao solo e aos corpos d’água, principalmente, de nitratos e óxidos de

fósforo;

5) Depleção de recursos naturais: representa a utilização de recursos naturais.

Page 77: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

77

Os valores obtidos para cada indicativo foram normalizados e são apresentados no

Gráfico 18.

O Gráfico 19 representa a relação clínquer/cimento para cada tipo de cimento

estudado. Comparando-se o Gráfico 19 com o Gráfico 18, fica evidente a influência do

clínquer para o agravamento dos impactos ambientais na produção do cimento. Assim, o

estudo indica que quanto maior a relação clínquer/cimento maior serão os impactos

ambientais associados.

Gráfico 18 - Relação entre cimentos da indústria brasileira pelos impactos

ambientais resultantes (GUERREIRO, 2014).

Page 78: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

78

5.2. Aço

O aço como material de construção possui a vantagem de ser 100% reciclável.

Assim, ao término da vida útil da edificação, o metal pode retornar aos fornos sob forma de

sucata e se tornar um novo aço, sem perda de qualidade.

O sistema construtivo baseado em estruturas de aço utiliza tecnologia limpa,

reduzindo sensivelmente os impactos ambientais na etapa de construção e, concluída a

etapa construtiva, garante segurança e conforto aos ocupantes da edificação.

Dentro do conceito de construção sustentável, o aço como material de construção

possui diversos aspectos favoráveis, como os quais (CBCA, 2016):

1) Uso de coprodutos: os coprodutos resultantes da produção do aço também

podem ser utilizados na construção civil. Os agregados siderúrgicos são usados

na produção de cimento e podem ser empregados na pavimentação de vias e

como lastro em ferrovias;

2) Economia de tempo na execução: o aço permite maior velocidade da

construção, visto que os componentes, na sua maioria, são produzidos fora do

canteiro de obra. O tempo de construção é mais curto, minimizando os

incômodos causados à vizinhança;

3) Economia materiais e diminui os impactos: o menor peso da estrutura em aço

reduz as fundações e escavações, gerando menor retirada de terra que,

consequentemente, diminui as viagens de caminhões para sua remoção e a

necessidade de áreas para descarte;

Gráfico 19 - Relação clínquer/cimento dos tipos de cimento avaliados na ACV

(GUERREIRO, 2014).

Page 79: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

79

4) Maximiza a iluminação natural com economia de energia: a alta resistência do

aço permite estruturas com vãos mais amplos. Telhados e fachadas leves e

transparentes favorecem a iluminação natural e, consequentemente, a economia

de energia elétrica;

5) Durabilidade: existem diversas maneiras de proteção efetiva do aço contra

corrosão, seja por meio de revestimento metálico ou pintura, ou ambos, que são

cada vez mais aplicados diretamente às chapas ou à estrutura durante o

processo de fabricação;

6) Flexibilidade: edificações com estrutura em aço oferecem máxima liberdade ao

empreendimento, tanto na fase de operação como em futuras adaptações. As

construções podem ser facilmente modificadas ou ampliadas para se adaptarem

a novos usos;

7) O aço é infinitamente reciclável: o aço pode ser reciclado em sua totalidade sem

perder nenhuma de suas qualidades. Devido a suas propriedades magnéticas,

que não são encontradas em nenhum outro material, o aço é facilmente

separado de outros materiais, possibilitando elevados índices de reciclagem.

No entanto, para se realizar uma abordagem mais completa quanto a

sustentabilidade do material, os impactos na fase de produção não podem ser ignorados.

Para se levantar os impactos ambientais da produção do aço no Brasil, o Instituto

Aço Brasil, publicou o seu relatório de sustentabilidade em 2014. Os indicativos

relacionados são apresentados nos Gráficos 20 e 21 e na Tabela 18 (AÇO BRASIL, 2013).

Gráfico 20 - Destinação dos coprodutos e resíduos em 2013 (AÇO BRASIL, 2013).

88%

6%6%

Destinação dos coprodutos e resíduos em 2013

Reaproveitamento Disposição final Estoque

Page 80: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

80

Gráfico 21 - Matriz energética em 2013 (AÇO BRASIL, 2013).

Tabela 18 - Emissões de GEE (AÇO BRASIL, 2013).

Emissões 2011 2012 2013

Emissão absoluta (10³t CO2)

49472 49779 50763

Emissão específica (t CO2 / t aço bruto)

1,7 1,7 1,7

A Associação Mundial do Aço (do inglês, World Steel Association) publicou dados

referentes aos impactos ambientais do setor a nível global. Os indicativos referentes são

exibidos na Tabela 19.

Tabela 19 - Indicativos globais do desempenho da indústria do aço (WORLDSTEEL,

2014).

Desempenho ambiental

Emissões de Efeito Estufa (tonelada de CO2/tonelada de aço bruto)

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

1,6 1,7 1,7 1,7 1,8 1,8 1,8 1,8 1,7 1,8 1,8 1,9

Intensidade energética (GJ/tonelada de aço bruto)

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

19,0 19,1 20,0 20,6 20,8 20,8 20,1 20,7 19,6 20,0 20,1 20,4

Aproveitamento de materiais (% de materiais convertidos em produtos e subprodutos)

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

97,1 96,1 97,9 97,2 97,9 98,0 97,9 97,7 94,4 96,5 96,4 97,3

74%

14%

7%5%

Matriz energética em 2013

Carvão mineral / coque Derivados de petróleo

Carvão vegetal Energia elétrica

Page 81: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

81

Comparando os dados das emissões de CO2 provenientes da produção do aço com

a estimativa dada por LIMA (2010) para emissões de 659 kgCO2/t para a produção do

cimento, podemos concluir que a produção de aço no Brasil possui um elevado impacto

ambiental.

No contexto de novas construções, BURGAN & SANSOM (2006), avaliam que o uso

do aço como material construtivo pode contribuir para a sustentabilidade da maneira que,

devido a possibilitar um método construtivo mais industrializado, a construção com

estruturas metálicas permite o ganho em produtividade, segurança e mitigação de perdas

de material.

Page 82: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

82

6. Conclusões

Tendo em vista as questões apresentadas nesse trabalho, fica evidente a

necessidade de melhoria no setor da construção civil brasileiro. Apesar da consciência

ambiental entre os profissionais dar evidências de que está despertando, a sustentabilidade

na indústria da construção parece ainda estar aquém do ideal.

A escassez de informações e a grande variedade de fatores subjetivos relevantes à

questão da construção sustentável foram os principais desafios desse estudo. Assim,

buscou-se fazer uma análise dos materiais com o uso de critérios mais objetivos,

principalmente a ACV, que se mostrou uma ótima ferramenta para se avaliar o grau de

sustentabilidade dos materiais. No entanto, a bibliografia disponível sobre ACV em materiais

de construção brasileiros ainda é muito pequena, o que provavelmente se deve ao fato de o

sistema de banco de dados do PBACV ainda não estar devidamente implementado. Isso foi

um fator que restringiu a abrangência dos materiais analisados nesse trabalho. Assim, uma

sugestão para trabalhos futuros seria o uso da ferramenta de ACV para quantificar os

impactos gerados por outros materiais não encontrados na pesquisa bibliográfica, como

materiais de acabamento.

Outra possibilidade para trabalhos futuros seria um levantamento mais amplo e uma

análise comparativa das diversas certificações ambientais utilizadas pela construção civil.

É digno de nota o importante trabalho desenvolvido pelo CBCS na divulgação do

tema e no incentivo a políticas que vem se mostrando eficientes, como a ACV-m. Outras

iniciativas de destaques são o PBQP-H, atuando no combate à informalidade e no aumento

de qualidade do setor, e as certificações ambientais, como o selo azul da Caixa, Processo

AQUA e Procel Edifica, além de outras não citadas nesse trabalho.

Vale ressaltar que o foco neste trabalho foi a análise da sustentabilidade dos

materiais frente aos impactos ambientais referentes à sua produção. Diversos outros fatores

também possuem influência relevante sobre o grau de sustentabilidade dos materiais de

construção. Impactos ambientais nas fases de uso e pós-uso, durabilidade, impactos

socioeconômicas, entre outros, também possuem papel importante para os critérios de

seleção de materiais.

Por último, a partir dos dados levantados, pode-se concluir que os materiais

cerâmicos (blocos e telhas) podem ser considerados uma alternativa interessante para a

construção sustentável devido ao seu bom desempenho perante seus concorrentes. Outra

opção que se mostrou interessante foi o cimento Portland CP III que, devido ao seu teor

Page 83: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

83

reduzido de clínquer, obteve os melhores resultados nos indicativos apurados para o

cimento.

Page 84: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

84

Referências Bibliográficas

ABCP, s.d., Fabricação do cimento Portland. Disponível em:

<http://www.abcp.org.br/cms/basico-sobre-cimento/fabricacao/fabricacao/>. Acesso em: 30

ago. 2016.

ABNT, 2001, NBR ISO 14040 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida - Princípios e

estrutura.

ABNT, 2009, NBR ISO 14044 - Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida - Requisitos e

orientações.

ABRAMAT; FGV PROJETOS, 2014, Perfil da cadeia produtiva da construção e da indústria

de materiais e equipamentos. Disponível em: < http://www.abramat.org.br/lista-

interna&codigo=9>. Acesso em: 30 ago. 2016.

AGOPYAN, V.; JOHN, V. M, 2011, O desafio da sustentabilidade na construção civil, São

Paulo, Ed. Edgard Blucher, 2011.

ALLAN, R.; SODEN, B., 2008, “Atmospheric warming and the amplification of precipitation

extremes”. Science, v.321, pp.1481-1484.

BRE, 2016, Category issues and aims, BREEAM. Disponível em:

<http://www.breeam.com/>. Acesso em: 30 ago. 2016.

BROECKER, W.; KUNZIG, R., 2008, Fixing climate: What past climate changes reveal

about current threat and how to counter it. 1 ed. New York, Hill & Wang.

BRUNTLAND, G., 1987, Our Common Future, Report of the World Commission on

Environment and Development, Oxford University Press, Oxford, 1987.

CAVALCANTE, L. G., 2011, Materiais construtivos, sustentabilidade e complexidade -

análise da relação entre especificação de materiais construtivos e desenvolvimento

sustentável, Dissertação M.Sc., Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

CAVALCANTI, C., 1995, Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade

sustentável, Recife, Cortez Editora, 1995.

CBCA, 2016, Construção em aço – Sustentabilidade. Disponível em: < http://www.cbca-

acobrasil.org.br/site/construcao-em-aco-sustentabilidade.php>. Acesso em: 30 ago. 2016.

CBCS, 2009, Materiais, componentes e a construção sustentável, posicionamento do

comitê temático de materiais. Disponível em: <

http://www.cbcs.org.br/website/posicionamentos/show.asp?ppsCode=73BB1FC6-8469-

4254-93E6-0C92A3F970B8}>. Acesso em: 30 ago. 2016.

CBCS, 2013, Diretrizes de Ação, Disponível em: <

http://www.cbcs.org.br/website/institucional/show.asp?ppgCode=CA4D48EC-82E0-4FED-

BAF7-11E3DACBE63B>. Acesso em: 30 ago. 2016.

Page 85: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

85

CBCS, 2014a, Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas

Públicas, Subsídios para a promoção da Construção Civil Sustentável. Disponível em: <

http://www.cbcs.org.br/website/aspectos-construcao-

sustentavel/show.asp?ppgCode=DAE7FB57-D662-4F48-9CA6-1B3047C09318>. Acesso

em: 30 ago. 2016.

CBCS, 2014b, Sustentabilidade na indústria de blocos e pavimento de concreto: Avaliação

de Ciclo de Vida Modular. Disponível em: < http://www.blocobrasil.com.br/projetos/cbcs-

ciclo-de-vida-modular>. Acesso em: 30 ago. 2016.

CBCS, s.d., Critérios para a responsabilidade social e ambiental na seleção de

fornecedores. Disponível em: < http://www.cbcs.org.br/selecaoDeFornecedores/>. Acesso

em: 30 ago. 2016.

CHOI, J.; PATTENT, B., 2001, “Sustainable development: Lessons from the paradox of

enrichment”, Ecosystem Health, v.7, pp.163-175.

CLAYTON, R., 2001, “Editorial: Is sustainable development an oxymoron?” Trans IChemE

Journal, v.79, Part B,pp.-327-328.

DAMINELLI, B. L.; KEMEID, F. M.; AGUIAR, P. S. et al, 2010, “Measuring the eco-efficiency

of cement use”. Cement & Concrete Composites, v. 32, pp3 555-562.

ECODESENVOLVIMENTO, 2012, Iniciativas sustentáveis nas construções das arenas da

Copa do Mundo de 2014. Disponível em: <

http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2012/maio/iniciativas-sustentaveis-na-construcao-

das-arenas>. Acesso em: 30 ago. 2016.

FERRETI, A. R., 2011, Protocolo de Kyoto falhou no esforço de reduzir gases-estufa,

Gazeta do Povo, 2011. Disponível em: < http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/protocolo-

de-kyoto-falhou-no-esforco-de-reduzir-gases-estufa-adlzpsrz7uspg8zp5l2vwyjim>. Acesso

em: 30 ago. 2016.

FGV PROJETOS; LCA CONSULTORIA, 2010. Construbusiness 2010 – Brasil 2022:

planejar, construir, crescer, São Paulo, 2010. Disponível em:

<www.fiesp.com.br/construbusiness>. Acesso em: 30 ago. 2016.

FOSSATI, M.; ROMAN, H. R.; SILVA, V. G, 2005, “Metodologias para avaliação ambiental

de edifícios: uma revisão bibliográfica”. In: Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da

Construção. 4o., 2005, Porto Alegre.

GARTNER, E., 2004, “Industrially interesting approaches to ‘low-CO2’ cements”. Cement

and Concrete Research, V.34, pp.1489-1498, 2004.

GBCBRASIL, 2014, Certificação LEED. Disponível em: < http://www.gbcbrasil.org.br/sobre-

certificado.php>. Acesso em: 30 ago. 2016.

Page 86: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

86

GODOY, A. M. G., 2007, A Conferência de Estocolmo – Evolução Histórica 2. Virtual Book,

2007. Disponível em: < http://amaliagodoy.blogspot.com/2007/09/desenvolvimento-

sustentvel-evoluo_16.html>. Acesso em: 30 ago. 2016.

GOLDENBERG, J.; PRADO, L., 2010, “The ‘decarbonization’ of the world’s energy matrix”,

Energy, v.38, pp.3274-3276.

GUERREIRO, A. Q., 2014, Avaliação do ciclo de vida dos cimentos de produção mais

significativa no Brasil, Monografia, Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.

IPCC, 2014, Intergovernmental Panel on Climate Change, Climate Change 2014, Synthesis

Report.

JOHN, V. M., 2000, Reciclagem de Resíduos na Construção Civil: Contribuição à

metodologia de pesquisa e desenvolvimento. Tese Livre Docência, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2000.

JOHN, W., 2003, “On the sustainability of concrete”, UNEP Industry and Environment, Abril -

setembro, 2003.

JOHN, V. M., 2010, “Quase Insustentável”, Revista Téchne, v. 162, pp 22-26, 2010.

KIBERT, C., 2008, Sustainable construction: green building design and delivery, Nova

Jersey, 2 ed., John Wiley & Sons, 2008.

LIMA, J. A. R., 2010, Avaliação das consequências da produção de concreto no Brasil para

as mudanças climáticas, Tese D.Sc., Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São

Paulo, 2010.

LIU, S.; FU, C.; SHIU, C. et al, 2009, “Temperature dependence of global precipitation

extremes”. Geophysical Research Letters, v.36, nº L17702.

MARQUES, F. M., 2007, A Importância da Seleção de Materiais de Construção para a

Sustentabilidade Ambiental do Edifício, Dissertação M.Sc., PROARQ Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

MATEUS, R. S. M. F., 2009, Avaliação da Sustentabilidade da Construção, Propostas para

o Desenvolvimento de Edifícios mais Sustentáveis. Tese D. Sc., Escola de Engenharia da

Universidade do Minho, Braga, 2009.

MATHEWS, E.; AMANN, C.; BRINGEZU, S.; et al., 2000, The weight of nations: materials

outflows for industrial economies. World Resources Institute, Washington DC, 2000.

Disponível em: < http://pdf.wri.org/weight_of_nations.pdf >. Acesso em: 30 ago. 2016.

Page 87: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

87

MEADOWS, D. L.; MEADOWS, D. H.; RANDERS, J. et al, 1972, Limites do crescimento:

um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade, São Paulo, 2

ed., Perspectiva, 1972.

MEHTA, K., 2001,” Reducing the environmental impact of concrete”. Concrete International,

v.pp.61-66.

MINEIRÃO, 2016, Sustentabilidade. Disponível em: < http://estadiomineirao.com.br/o-

mineirao/sustentabilidade/>. Acesso em: 30 ago. 2016.

MMA, s.d., Construção Sustentável. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/cidades-

sustentaveis/urbanismo-sustentavel/constru%C3%A7%C3%A3o-sustent%C3%A1vel>.

Acesso em: 30 ago. 2016.

PEARCE, A.; WALRATH, L., 2008, Definitions of sustainability from the literature,

Sustainable Facilities and Infrastructure, Georgia Institute of Technology, Atlanta.

PINTO, T. P., 1999, Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da

construção urbana, Tese D.Sc., Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São

Paulo,1999.

PORTAL BRASIL, 2012, Entenda como funciona o mercado de crédito de carbono.

Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/entenda-como-funciona-o-

mercado-de-credito-de-carbono>. Acesso em: 30 ago. 2016.

PROCELINFO, 2006, Selo Procel Edificações. Disponível em: <

http://www.procelinfo.com.br/main.asp?View={8E03DCDE-FAE6-470C-90CB-

922E4DD0542C}>. Acesso em: 30 ago. 2016.

QUANTIS, 2012, Análise comparativa do ciclo de vida de paredes construídas com blocos

cerâmicos, blocos de concreto e concreto armado moldado in loco, Relatório final.

Disponível em: < http://www.anicer.com.br/acv/>. Acesso em: 30 ago. 2016.

RAVINDRANATH, N. H., 2010, “The Copenhagen Accord”, Commentary, Current Science,

v. 98, n. 6.

RGMAT, 2013, Diretrizes gerais para a elaboração de declaração ambiental de produto

(EPD). Disponível em: < http://vanzolini.org.br/rgmat/documentos/>. Acesso em: 30 ago.

2016.

RIO+20, 2012, Sobre a Rio+20. Disponível em: <

http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20.html>. Acesso em: 30 ago. 2016.

Page 88: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

88

SANTOS, 2013, Olimpíadas vão gerar bairro mais sustentável do Brasil. Disponível em: <

http://www.cimentoitambe.com.br/olimpiadas-vao-gerar-bairro-mais-sustentavel-do-brasil/>.

Acesso em: 30 ago. 2016.

SILVA, V. G., 2003, Avaliação da Sustentabilidade de Edifícios de Escritórios Brasileiros:

Diretrizes e Base Metodológica. Tese D.Sc., Escola Politécnica da Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2003.

SOUZA, Jr. C., 2010, O Maior Desafio do Século XXI, Sustentabilidade e Consciência

Ambiental, 2010. . Disponível em: < http://csouzajr.blogspot.com.br/2010/01/o-maior-

desafio-do-seculo-xxi.html>. Acesso em: 30 ago. 2016.

STERN, N., 2006, Stern review on economics of climate change. Cambridge University

Press.

TOGERO, A., 2004, Leaching of hazardous substances from concrete constituents and

painted wood panels, Tese D.Sc., Chalmers University of Technology, Suécia, 2004.

TORGAL, F. P.; JALALI, S., 2010, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção,

Coimbra, 2 ed., TecMinho, 2010.

TUFFANI, M., 2015, Dez anos depois, Protocolo de Kyoto falhou em reduzir emissões

mundiais, Folha de São Paulo, 2015. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2015/02/1590476-dez-anos-depois-protocolo-de-

kyoto-falhou-em-reduzir-emissoes-mundiais.shtml>. Acesso em: 30 ago. 2016.

UCLG, 2010, Culture: Fourth Pillar of Sustainable Development, Policy Statement, United

Cities and Local Governments, Barcelona, 2010.

UEMOTO, K. L.; AGOPYAN, 2006, “V. Compostos orgânicos voláteis de tintas imobiliárias”.

In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, Florianópolis,2006.

UN, 2012, The future we want, United Nations Conference on Sustainable Development.

Disponível em: < http://www.rio20.gov.br/documentos/documentos-da-conferencia/o-futuro-

que-queremos/at_download/the-future-we-want.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2016.

UNCED, 1992, Agenda 21, United Nations Conference on Environment & Development, Rio

de Janeiro, 1992.

UNEP, 2009, Buildings and Climate Change - Summary for Decision-Makers.

Page 89: ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10018078.pdfTabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a)

89

UNFCCC, 1997, Kyoto Protocol to the United Nations framework convention on climate

change, United Nations convention on climate change, Kyoto, 1997.

UNFCCC, 2009, Report of the Conference of the Parties on its fifteenth session, Conference

of the Parties, Copenhagen, 2009.

USGBC, 2009, LEED for new construction and major renovation: reference guide, US Green

Building Council, Washington DC, 2009.

VANZOLINI, 2015a, Certificação AQUA-HQE em detalhes. Disponível em: <

http://vanzolini.org.br/aqua/certificacao-aqua-em-detalhes/>. Acesso em: 30 ago. 2016.

VANZOLINI, 2015b, EPD – Declaração Ambiental de Produto. Disponível em: <

http://vanzolini.org.br/rgmat/epd-declaracao-ambiental-de-produto/>. Acesso em: 30 ago.

2016.

VARES, S.; Häkkinen, T., 1998, Environmental burdens of concrete and concrete products,

Nordic Concrete Research publication. Disponível em: <

http://www.betong.net/ikbViewer/Content/739021/doc-21-10.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2016.

WBCSD, 1996, Environmental Assessment: A Business Perspective, World Business

Council for Sustainable Development, 1996.

WORLDSTEEL, 2014, Sustainability indicators. Disponível em: <

http://www.worldsteel.org/statistics/Sustainability-indicators.html>. Acesso em: 30 ago. 2016.

ZOLINA, O.; SIMMER, C.; GULEV, S. et al, 2010, “Changing structure of European

precipitation: Longer wet periods leading to more abundant rainfalls”. Geophysical Research

Letters, v.37, nº L06704.