ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS
PARA A ESPECIFICAÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES
Fernando Abreu Rocha de Souza
Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção
do título de Engenheiro Civil.
Orientador:
Prof. Dr. Jorge dos Santos
Rio de Janeiro
Setembro de 2016
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ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS
PARA A ESPECIFICAÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES
Fernando Abreu Rocha de Souza
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE
ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO
GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.
Examinado por:
____________________________________________________________
Prof. Dr. Jorge dos Santos, D. Sc. (Orientador)
____________________________________________________________
Profª. Ana Catarina Jorge Evangelista, D. Sc.
____________________________________________________________
Profª. Isabeth Mello, M. Sc.
____________________________________________________________
Prof. Willy Weisshuhn, M. Sc.
____________________________________________________________
Prof. Wilson Wanderley da Silva
3
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
SETEMBRO DE 2016
De Souza, Fernando Abreu Rocha
Aspectos metodológicos do levantamento de materiais sustentáveis para especificação
em obras de edificações / Fernando Abreu Rocha de Souza – Rio de Janeiro: UFRJ /
Escola Politécnica, 2015.
UFRJ/ESCOLA POLITÉCNICA, 2015.
XVIII, 89 p.: Il.; 29,7 cm.
Orientador: Prof. Dr. Jorge dos Santos
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola
Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 84 -89.
1. Introdução. 2. Sustentabilidade na construção civil. 3. Sustentabilidade dos materiais de
construção. 4. Estratégias adotadas pelas construtoras com relação à seleção e uso de
materiais sustentáveis. 5. Análise da sustentabilidade dos materiais de construção
disponíveis no mercado. 6. Conclusões. I. Jorge dos Santos.
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil.
III. Título.
4
AGRADECIMENTOS
À minha família, por me proporcionarem todas as oportunidades na vida, pelo
carinho na criação, pela educação e caráter transmitidos e inspiração depositadas na minha
capacidade.
Aos meus avós e padrinhos Clara de Abreu Rocha e Osório Vieira da Rocha pela
paciência, amor e carinho que sempre me proporcionaram.
À Lorenna Giannini, minha maior motivação, por me ensinar o significado do amor,
pelo constante apoio frente a qualquer dificuldade e pela ajuda essencial no cumprimento
deste trabalho, serei eternamente grato.
A meus amigos Bernardo Mutti, Caio Seguin, Eduardo Leão, Guilherme Vilaça,
Pedro Yagelovic e Thiago Ramon por manterem a tartaruga formada por mais de uma
década.
A meus amigos de Southampton: André Gentil, Caique Lima, Camila Martinez,
Eduardo Moreira, Filipe Cardozo, Gustavo Eboli, Higuel Norões, Ivan Lonel, Leonardo
Cardoso, Lucas Portes, Marcelo Melo, Maria Fernanda Cerini, Mariana Leandro, Mariana
Teodoro, Pablo Freitas, Ricardo Angelotti e Yuri Vilas Boas (In memoriam) por terem
proporcionado o melhor ano da minha vida.
Aos amigos André Bastos, André Luís Santos, Marina Bacellar, Marina Villanueva,
Rafael Lucas Machado e Renata Zenaro por terem tornado agradáveis os muitos anos na
ilha do Fundão.
Aos amigos da centrífuga: Juliana Pessin e Samuel Felipe Tarazona pelos
ensinamentos que me motivaram a seguir a área acadêmica.
5
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
ASPECTOS METODOLÓGICOS DO LEVANTAMENTO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS
PARA A ESPECIFICAÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES
Fernando Abreu Rocha de Souza
Setembro / 2016
Orientador: Prof. Dr. Jorge dos Santos
Curso: Engenharia Civil
As mudanças climáticas, impulsionadas pelas crescentes emissões antropogênicas, estão
aos poucos modificando o relacionamento do homem com a natureza. A preocupação
latente com as consequências do aquecimento global está estimulando a prática da
sustentabilidade em diversos setores da indústria. Por possuir elevada contribuição nos
impactos ambientais causados pelo homem, o setor da construção civil deve adotar os
conceitos do desenvolvimento sustentável de maneira a otimizar o uso dos recursos
naturais por meio de racionalidade e eficiência, ou seja, fazer mais com menos. Dentro
desse contexto, os materiais de construção possuem importante papel, pois são os
componentes básicos de qualquer edificação. Dessa forma, soluções mais sustentáveis
estão sendo incorporadas também ao setor de materiais de construção. No entanto, ainda
existe muita falta de informação e negligência por parte dos profissionais da construção
civil. Pensando nisso, esse trabalho visa a fazer uma análise quanto à sustentabilidade dos
principais materiais de construção presentes no mercado brasileiro e promover a
conscientização da importância de se considerar os impactos causados pelo produto no
momento de selecionar os materiais de construção a serem utilizados.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Materiais de construção, Materiais sustentáveis.
6
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Civil Engineer.
METHODOLOGICAL ASPECTS OF THE SURVEY OF SUSTAINABLE MATERIALS FOR
SPECIFICATION IN CONSTRUCTION OF BUILDINGS
Fernando Abreu Rocha de Souza
September / 2016
Advisor: Prof. Dr. Jorge dos Santos
Course: Civil Engineering
Climate change, driven by the growing anthropogenic emissions, is slowly changing man’s
relationship with nature. The latent concern with the consequences of global warming is
stimulating the practice of sustainability in several industry sectors. By having a high
contribution to environmental impacts caused by man, the construction sector must adopt
the concepts of sustainable development in order to optimize the use of natural resources
through rationality and efficiency, that is, doing more with less. Within this context, the
construction materials have an important role, because they are the basic component of any
building. Thus, more sustainable solutions are also being incorporated into the building
materials sector. However, there is still lack of information and negligence on the part of
construction professionals. Thinking about it, this paper aims to make an analysis about the
sustainability of the main building materials present in the Brazilian market and promote
awareness of the importance of considering the impacts caused by the product when
selecting the building materials to be used.
Key-words: Sustainability, Building materials, Sustainable materials.
7
SUMÁRIO
1. Introdução ....................................................................................................................................... 13
1.1. Relevância do tema ............................................................................................................... 13
1.2 Objetivos ................................................................................................................................... 14
1.3. Justificativa da escolha do tema .......................................................................................... 14
1.4. Metodologia ............................................................................................................................. 15
1.5. Estruturação ............................................................................................................................ 15
2. Sustentabilidade na construção civil ........................................................................................... 16
2.1. Desenvolvimento sustentável ............................................................................................... 16
2.2. Retrospectiva histórica .......................................................................................................... 16
2.3. Sustentabilidade na Construção Civil .................................................................................. 21
2.3.1. Construção sustentável .................................................................................................. 21
2.3.2. Sistemas de avaliação ambiental de edificações....................................................... 23
3. Sustentabilidade dos materiais de construção .......................................................................... 35
3.1. Materiais de construção e seus impactos .......................................................................... 36
3.1.1. Impactos ambientais na fase de produção ................................................................. 36
3.1.2. Impactos ambientais na fase de uso ............................................................................ 37
3.1.3. Impactos ambientais na fase de pós-uso .................................................................... 38
3.2. Critérios para classificação de materiais como sustentáveis .......................................... 39
3.2.1. Avaliação do ciclo de vida.............................................................................................. 40
3.2.2. Avaliação de ciclo de vida modular .............................................................................. 41
3.2.3. Seis passos para a seleção de materiais e fornecedores ........................................ 42
3.2.4. Declaração ambiental do produto ................................................................................. 46
3.2.5. Certificações RGMat ....................................................................................................... 46
4. Estratégias adotadas pelas construtoras com relação à seleção e uso de materiais
sustentáveis ........................................................................................................................................ 48
5. Análise da sustentabilidade dos materiais de construção disponíveis no mercado ........... 51
5.1 Materiais cerâmicos ................................................................................................................ 51
5.1.1. Blocos de concreto ......................................................................................................... 51
5.1.2. Blocos cerâmicos ............................................................................................................ 59
5.1.3. Telhas cerâmicas ............................................................................................................ 67
5.1.4. Cimento ............................................................................................................................. 70
5.2. Aço ............................................................................................................................................ 78
8
6. Conclusões ..................................................................................................................................... 82
Referências Bibliográficas ................................................................................................................ 84
9
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Políticas públicas de planejamento e gestão (CBCS, 2014a). ................................ 33
Tabela 2 - Políticas públicas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (CBCS, 2014a). . 34
Tabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a). .............................. 34
Tabela 4 - Lista de empresas participantes, por estado da federação (CBCS, 2014b). ........ 52
Tabela 5 - Blocos de concreto para pavimento selecionados para o estudo (CBCS, 2014b).
.............................................................................................................................................................. 53
Tabela 6 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos para
pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b). .......................................................................................... 55
Tabela 7 - Levantamento do número de empresas que informaram dados de resíduos
gerados no processo de fabricação dos blocos de concreto – cimentícios e outros (CBCS,
2014b). ................................................................................................................................................. 56
Tabela 8 - Blocos estruturais e de vedação selecionados para o estudo (CBCS, 2014b). .... 57
Tabela 9 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos
estruturais e de vedação (CBCS, 2014b)....................................................................................... 58
Tabela 10 - Principais características dos produtos estudados (QUANTIS, 2012). ................ 60
Tabela 11 - Descrição geral do sistema – Extração de matéria prima (QUANTIS, 2012). .... 62
Tabela 12 - Descrição geral do sistema – Transporte de matéria prima (QUANTIS, 2012). . 63
Tabela 13 - Descrição geral do sistema – Fabricação (QUANTIS, 2012). ............................... 63
Tabela 14 - Descrição geral do sistema – Distribuição, uso e fim de vida (QUANTIS, 2012).
.............................................................................................................................................................. 65
Tabela 15 - Principais características das telhas estudadas (QUANTIS, 2012). ..................... 67
Tabela 16 - Tipos de cimento da indústria brasileira e europeia, composição e participação
no mercado (GUERREIRO, 2014). ................................................................................................. 75
Tabela 17 - Avaliação dos impactos ambientais do processo de fabricação da indústria
cimenteira brasileira e europeia (GUERREIRO, 2014). ............................................................... 76
Tabela 18 - Emissões de GEE (AÇO BRASIL, 2013). ................................................................. 80
Tabela 19 - Indicativos globais do desempenho da indústria do aço (WORLDSTEEL, 2014).
.............................................................................................................................................................. 80
10
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Medidas a Serem Tomadas em um Projeto de Construção Sustentável.
(MATEUS, 2009) ................................................................................................................................ 23
Figura 2- Selo Procel Edifica (PROCELINFO, 2006). .................................................................. 29
Figura 3 - Selo Casa Azul CAIXA (CAIXA, 2010). ........................................................................ 30
Figura 4 - Etapas de avaliação do ciclo de vida do produto (TECHNE, 2010). ....................... 41
Figura 5 - Sistema de produto para a fabricação de blocos de concreto para pavimento e
para alvenaria (CBCS, 2014b). ........................................................................................................ 53
Figura 6 - Ciclo de vida de paredes de blocos cerâmicos (QUANTIS, 2012). ......................... 60
Figura 7 - Ciclo de vida de paredes de blocos de concreto (QUANTIS, 2012). ....................... 61
Figura 8 - Ciclo de vida de paredes de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).
.............................................................................................................................................................. 61
Figura 9 - Ciclo de vida das telhas cerâmicas (QUANTIS, 2012). ............................................. 68
Figura 10 - Ciclo de vida das telhas de concreto (QUANTIS, 2012). ........................................ 69
Figura 11- Etapas de produção do cimento Portland (ABCP, s.d.). ........................................... 72
Figura 12 - Sistema de produto da fabricação do cimento Portland (GUERREIRO, 2014). .. 74
11
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Educação, capacitação e divulgação (CBCS, 2014a). ............................................. 31
Gráfico 2 - Demanda de ferramentas (CBCS, 2014a). ................................................................ 31
Gráfico 3 - Demanda por incentivos e financiamentos (CBCS, 2014a). ................................... 32
Gráfico 4 - Legislação, regulamentação e certificação (CBCS, 2014a). ................................... 32
Gráfico 5 - Índices de conformidade dos materiais presentes no mercado nacional (PBQP-H,
s.d.). ...................................................................................................................................................... 35
Gráfico 6 - Critérios adotados para a seleção de materiais de construção (CBCS, 2014). ... 48
Gráfico 7 - Dificuldades encontradas para a seleção de materiais de construção (CBCS,
2014). ................................................................................................................................................... 49
Gráfico 8 - Ferramentas avaliadas como mais úteis para a seleção de materiais de
construção (CBCS, 2014). ................................................................................................................ 49
Gráfico 9 - Indicador de energia incorporada – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS,
2014b). ................................................................................................................................................. 54
Gráfico 10 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS,
2014b). ................................................................................................................................................. 55
Gráfico 11 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos para pavimento de
35 MPa (CBCS, 2014b). ................................................................................................................... 56
Gráfico 12 - Indicador de energia incorporada – Blocos estruturais e de vedação (CBCS,
2014b). ................................................................................................................................................. 57
Gráfico 13 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos estruturais e de vedação (CBCS,
2014b). ................................................................................................................................................. 58
Gráfico 14 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos estruturais e de
vedação (CBCS, 2014b). .................................................................................................................. 59
Gráfico 15 - Comparação do impacto ambiental nas diferentes fases do ciclo de vida
(QUANTIS, 2012). .............................................................................................................................. 66
Gráfico 16 - Comparativo do impacto ambiental das etapas do ciclo de vida das telhas
cerâmicas e das telhas de concreto (QUANTIS, 2012). .............................................................. 70
Gráfico 17 - Consumo de energia na produção de concreto (TORGAL & JALALI, 2010). .... 71
Gráfico 18 - Relação entre cimentos da indústria brasileira pelos impactos ambientais
resultantes (GUERREIRO, 2014). ................................................................................................... 77
Gráfico 19 - Relação clínquer/cimento dos tipos de cimento avaliados na ACV
(GUERREIRO, 2014). ....................................................................................................................... 78
Gráfico 20 - Destinação dos coprodutos e resíduos em 2013 (AÇO BRASIL, 2013). ............ 79
Gráfico 21 - Matriz energética em 2013 (AÇO BRASIL, 2013). ................................................. 80
12
LISTA DE SIGLAS
IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (do inglês,
Intergovernmental Panel on Climate Change)
CO2 – Dióxido de Carbono
PIB – Produto Interno Bruto
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
ONU – Organização das Nações Unidas
GEE – Gás de Efeito Estufa
MDL – Mecanismo do Desenvolvimento Limpo
CIB – Conselho Internacional da Construção (do francês, Conseil International du Bâtiment)
CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável
MMA – Ministério do Meio Ambiente
LEED – Liderança em Energia e Projeto Ambiental (do inglês, Leadership in Energy and
Environmental Design)
WBCSD – Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (do inglês,
World Business Council for Sustainable Development)
BREEAM – Avaliação Ambiental da Fundação de Pesquisa em Construções (do inglês,
Building Research Establishment Environmental Assessment Method)
AQUA – Alta Qualidade Ambiental
HQE – Alta Qualidade Ambiental (do francês, Haute Qualité Environnementale)
ACV - Avaliação de Ciclo de Vida
ACV-m - Avaliação de Ciclo de Vida Modular
PBPQ-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat
CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
RSE - Responsabilidade Social Empresarial
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
OIT - Organização Internacional do Trabalho
EPD – Declaração Ambiental do Produto (do inglês, Environmental Product Declaration)
ISO – Organização Internacional para Padronização (do inglês, International Organization
for Standardization)
13
1. Introdução
1.1. Relevância do tema
O elevado crescimento tecnológico e econômico impulsionado pela Revolução
Industrial trouxe melhorias para a qualidade de vida de uma grande parcela da população
mundial. Este avanço, no entanto, representa para o meio ambiente um grande aumento no
consumo de recursos naturais, geração de resíduos sólidos e emissão de gases poluentes
de forma a suprir a crescente demanda por produtos. Devido a estas práticas, o planeta
passa por mudanças climáticas substanciais que, caso não sejam eficientemente
combatidas, podem resultar no fim da civilização humana. O aquecimento global é o maior
desafio ambiental do século XXI (SOUZA, 2010).
O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) de 2014 relata
evidências claras para o aquecimento global, a influência direta da ação humana para os
grandes impactos ambientais causados e a necessidade de mudança imediata. Segundo o
relatório, cada uma das três últimas décadas tem sido sucessivamente mais quente na
superfície terrestre do que qualquer década anterior desde 1850. Além disso, a temperatura
média da superfície do planeta sofreu um aumento de 0,85ºC durante o período de 1880 e
2012. Esse aumento da temperatura média global está diretamente relacionado aos níveis
de concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Tal concentração atual é de
430 ppm crescendo a um ritmo de 2 ppm/ano, valor este que pode ser comparado à
Revolução Industrial, onde a concentração era de 280 ppm (STERN, 2006).
Uma consequência do aumento da temperatura em nível mundial é a elevação do
nível do mar de no mínimo 7 metros, causado pelo derretimento das calotas polares
(KUNZIG & BROECKER, 2008). Outras consequências que merecem destaque são a maior
ocorrência de períodos de secas, chuvas torrenciais e furacões (ALLAN & SODEN, 2008;
LIU et al., 2009; ZOLINA et al., 2010) e a perda da biodiversidade por extinções em massa.
Sob esta ótica, fica clara a necessidade da ação conjunta para reverter esse quadro
através da mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Um dos meios de se alcançar
tal redução é pela adoção de condutas sustentáveis em cada segmento com atuação
humana.
Reconhecidamente, a indústria da Construção Civil possui um papel essencial para
a sociedade, sendo responsável pela contratação de 10% da mão de obra global e
movimentação de 10% do PIB mundial (UNEP, 2009). O setor também detém uma
demanda de 40% da energia e um terço dos recursos naturais; emite um terço dos gases
de efeito estufa; consome 12% da água potável e produz 40% dos resíduos sólidos urbanos
14
(UNEP, 2009). No panorama brasileiro da construção, o consumo de água se aproxima de
16% (ANA APUD CETESB, 2010), o consumo de materiais é de 9,4 toneladas por habitante
anualmente e a geração de resíduos sólidos atinge cerca de 500 Kg por habitante por ano
(JOHN, 2000).
O impacto ambiental da construção civil ocorre em toda a cadeia produtiva, desde a
concepção dos edifícios até a sua demolição. A fim de reduzir estes impactos, os esforços
devem ser focados nas etapas de planejamento e projeto, já que a possibilidade de
intervenção na fase de projeto é muito maior que nas outras etapas do empreendimento
(FOSSATI, 2005).
Dentro da etapa de projeto, a seleção de materiais possui contribuição significativa
para a sustentabilidade do edifício. Desta forma, devem-se ser considerados materiais que
representem o menor impacto ambiental durante seu ciclo de vida. A escassez de
especificação de materiais sustentáveis e a falta de conscientização por parte dos
envolvidos em todo o processo de projeto do edifício são alguns dos grandes desafios
enfrentados na busca por soluções mais sustentáveis.
1.2 Objetivos
O presente trabalho visa a elucidar os principais critérios para a seleção de materiais
de construção sustentáveis para o uso em edificações, assim como, a partir desses
critérios, fazer o levantamento de quais materiais presentes no mercado podem de fato ser
considerados sustentáveis.
1.3. Justificativa da escolha do tema
Apesar de todos os impactos negativos do setor ao meio ambiente, a demanda por
crescimento urbano não pode cessar. Dessa forma, é fundamental a prática do
desenvolvimento sustentável de maneira a equilibrar o avanço humano com a fragilidade
ambiental. Frente a esse contexto, é notável a negligência em relação ao tema e a falta de
conhecimento técnico por grande parte dos profissionais envolvidos. Há também uma
escassez preocupante de informações confiáveis e ferramentas adequadas que permitam
uma avaliação objetiva dos materiais presentes no mercado.
15
1.4. Metodologia
Para o estudo dos conceitos relevantes ao tema, adotou-se como metodologia a
pesquisa bibliográfica a partir de artigos científicos, dissertações e teses, livros, revistas e
páginas da internet. Já a pesquisa de materiais disponíveis no mercado foi realizada através
do contato com fornecedores e consulta a páginas da internet.
1.5. Estruturação
No capítulo um foi apresentada a importância do tema, as justificativas e os objetivos
da monografia, a metodologia adotada e a estruturação do trabalho.
No capítulo dois é apresentada uma conceituação geral sobre sustentabilidade,
assim como os aspectos históricos relevantes. Também foi exposta uma visão da
sustentabilidade sob o âmbito da construção civil.
No capítulo três são apresentados os principais critérios e diretrizes para a avaliação
da sustentabilidade dos materiais de construção.
O capítulo quatro aborda os critérios adotados pelas construtoras para a seleção e
uso de materiais de construção sustentáveis.
No capítulo cinco é feito um levantamento sobre quais materiais disponíveis no
mercado podem de fato ser classificados como sustentáveis.
O capítulo seis encerra o assunto, expondo-se as considerações finais e sugestões
para trabalhos futuros.
16
2. Sustentabilidade na construção civil
2.1. Desenvolvimento sustentável
O conceito de sustentabilidade pode ser entendido como um conjunto de medidas
adotadas em prol da prática do desenvolvimento sustentável. Esse, por sua vez, dispõe
atualmente de diversas definições variantes de autor para autor. PEARCE & WALRATH
(2008) comprovam o fato apresentando uma lista com mais de 160 definições. A
bibliografia, no entanto, converge para três aspectos essenciais, conhecidos como os
pilares do desenvolvimento sustentável: o viés econômico, o social e o ambiental. A partir
dessa ideia, SILVA (2003) defende a necessidade de se buscar um equilíbrio entre o que é
socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável.
O termo desenvolvimento sustentável foi originalmente cunhado em 1987 no
relatório Our common future, mais popularmente conhecido como relatório Bruntland,
elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED, em
inglês) que o classificou como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração
atual sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias
necessidades” (BRUNTLAND, 1987).
Há ainda defensores da cultura como uma quarta vertente para o desenvolvimento
sustentável, já que esta exerce um papel fundamental para o desenvolvimento da
sociedade. Essa iniciativa visa assegurar a prática de políticas públicas de incentivo ao
setor cultural, trazendo benefícios também para outros setores como a educação e a
economia (UCLG, 2010).
Além disso, alguns autores avaliam a expressão “desenvolvimento sustentável”
como paradoxal, defendendo o ponto de vista de que não seria possível se obter
desenvolvimento para toda a população mundial e esperar ao mesmo tempo que esse
desenvolvimento se compatibilize com a sustentabilidade ambiental (CLAYTON, 2001;
CHOI & PATTENT, 2001).
2.2. Retrospectiva histórica
Os esparsos debates sobre os riscos da degradação do meio ambiente que tiveram
início nos anos 60 e se intensificaram no final da mesma década e no início dos anos 70
culminaram, no ano de 1972, em um estudo intitulado “Limites do crescimento”. Elaborado
por um grupo de cientistas, MEADOWS et al (1972), a serviço do Clube de Roma, a
publicação enumerou três alarmantes conclusões, segundo CAVALVANTI (1995):
17
1) Caso as atuais taxas de crescimento da população mundial, industrialização,
poluição, produção de alimentos e consumo de recursos naturais se mantarem constantes,
os limites de crescimento do planeta serão alcançados dentro dos próximos cem anos;
2) É possível se atingir um estado de estabilidade econômica e ecológica global a
satisfazer as necessidades materiais básicas de cada indivíduo na Terra, caso haja
empenho pela mudança;
3) Para se obter o segundo resultado seria necessário o congelamento do
crescimento da população global e do capital industrial. Quanto mais cedo a população
mundial lutar pelo equilíbrio global, maiores serão suas possibilidades de sucesso.
Ainda no ano de 1972, ocorreu a Conferência de Estocolmo com a participação
de 113 países. Essa conferência ficou marcada na história como o primeiro grande
encontro com intuito de debater os problemas ambientais (GODOY, 2007). Ela deixou
como marco a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente,
PNUMA, que atua como órgão da ONU em favor das questões ambientais, e a
elaboração da Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano. O documento
assinado pelos países participantes enumera 24 artigos para inspirar e guiar os povos
do mundo na preservação e na melhoria do meio ambiente, contudo ainda sem um
compromisso efetivo.
Segundo GODOY (2007), o panorama durante a conferência foi o da polarização
entre as ideais de "crescimento zero" e de "crescimento a qualquer custo". Por conta
disso, a proposta para o "crescimento zero" para os países em desenvolvimento e
subdesenvolvidos não foi unanimidade e, consequentemente, não foi aprovada,
prevalecendo-se a visão de que os problemas ambientais eram originados da pobreza.
Já em 1987, o relatório Bruntland, anteriormente citado, expunha a interligação
entre economia, tecnologia, sociedade e política e chamou também atenção para uma nova
postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os
membros contemporâneos da sociedade atual. CAVALCANTI (1995) destaca uma lista de
medidas em nível de Estado proposta pelo relatório:
1) Limitação do crescimento populacional;
2) Garantia da alimentação a longo prazo;
3) Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
18
4) Diminuição do consumo de energia e criação de tecnologias para o uso de fontes
energéticas renováveis;
5) Avanço da produção industrial nos países não industrializados baseados em
tecnologias ecologicamente adaptadas;
6) Satisfação das necessidades básicas;
Além disso, o relatório também definiu metas a nível internacional:
1) Estratégias para o desenvolvimento sustentável devem ser tomadas pelas
organizações do desenvolvimento;
2) A comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como
a Antártica, os oceanos, o espaço;
3) Guerras devem ser abolidas;
4) A ONU deve implementar um programa de desenvolvimento sustentável.
Frente às discussões que o antecederam na década de 70, o relatório Bruntland
exibiu um maior grau de realismo.
O próximo acontecimento de destaque na linha cronológica se dá em 1992 com a
realização da Conferência do Rio de Janeiro, a Rio 92, marcando os vinte anos da
Conferência de Estocolmo. Foram definidos 27 princípios básicos com principal objetivo de
estabelecer uma justa parceria global com novos níveis de cooperação. Entre os tópicos
discutidos destacam-se a degradação ambiental, as mudanças climáticas, os meios de
produção, as fontes de energia, o transporte público e a escassez de água. A conferência
também ficou marcada por contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável
para as próximas décadas.
O principal legado deixado pela Rio 92 foi a elaboração de um documento intitulado
Agenda 21 que, embora não tenha sido formalmente aprovado nesta conferência, foi
discutido como instrumento de planejamento local. O documento, assinado por 178
governos, traça um plano de ações concretas a serem tomadas em nível local, nacional e
global a fim de se promover soluções para o desenvolvimento sustentável. Entre os
assuntos abordados destacam-se o combate à pobreza, mudanças no padrão de consumo,
combate ao desflorestamento, proteção do meio ambiente, conservação da biodiversidade e
controle da poluição (UNCED,1992). O documento chamou atenção para a necessidade do
19
comprometimento de cada país em colaborar com soluções de modo a estabelecer um
novo modelo de desenvolvimento.
Outra importante consequência da conferência de 1992 foi a posterior criação da
norma ISO 14001 – Sistemas de Gestão Ambiental. Essa norma se baseia nos princípios da
melhoria contínua através da metodologia PDCA, Planejar-Executar-Verificar-Agir (do
inglês, Plan-Do-Check-Act) e estabelece requisitos para a elaboração de um sistema de
gestão ambiental.
Cinco anos se passaram e, em 1997, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável
da ONU, criada em 1992 com a missão de monitorar a transição das implementações dos
acordos tratados durante a Rio 92, se reuniu em sessão especial na Assembleia Geral das
Nações Unidas em Nova Iorque para avaliar o andamento dos comprometimentos
acordados entre os países em prol do desenvolvimento sustentável. Essa reunião ficou
conhecida como Rio + 5 e foi sucedida pela Rio + 10 (em Johannesburgo, 2002) e, mais
recentemente, pela Rio + 20 (no Rio de Janeiro, 2012).
Ainda em 1997, na cidade de Kyoto, Japão, foi assinado por diversos países,
durante a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um protocolo que
tinha como meta a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa (GEE) na
atmosfera. O documento, que veio a se chamar Protocolo de Kyoto, propôs um
compromisso para a redução de emissões totais de GEE para níveis inferiores a, no
mínimo, 5,2% relativamente ao nível de emissões do ano de 1990 e a ser cumprido entre os
anos de 2008 e 2012 (UNFCC, 1997). Para alcançar esse objetivo foram traçadas
diferentes metas para cada país baseadas no princípio de alocar maiores responsabilidades
aos países que historicamente tiveram contribuição maior para o atual elevado nível de
emissões de GEE. Assim, países que tiveram um processo de industrialização mais tardio,
como o Brasil, não foram incumbidos de metas.
FERRETI (2011) avalia que a não adesão dos Estados Unidos, principal emissor de
GEE com um percentual de 36% em 1990, ao tratado, além do grande aumento das
emissões por parte de países emergentes como China e Índia foram determinantes para a
falta de sucesso ao estímulo da economia de baixo carbono a nível mundial. Já TUFFANI
(2015) vai além e classifica o acordo como um fracasso, pois, apesar de 37 países terem
efetivamente superado suas metas, o crescimento geral das emissões foi de 16,2% durante
o período de 2005 a 2012.
O Protocolo de Kyoto também foi responsável pela criação do Mecanismo do
Desenvolvimento Limpo (MDL) que prevê uma certificação para os agentes redutores das
20
emissões de GEE. Uma vez conquistada essa certificação, quem promove a redução da
emissão de gases poluentes tem direito a créditos de carbono, podendo comercializá-los
com os países que possuem metas a cumprir. Cada tonelada de CO2 reduzida ou removida
da atmosfera equivale a um crédito de carbono. Assim, países em desenvolvimento podem
participar deste mercado voluntário vendendo créditos de carbono para países
desenvolvidos que não conseguiram ou não desejam reduzir suas emissões (PORTAL
BRASIL, 2012).
A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças de 2009 em Copenhague
merece destaque nessa linha cronológica. Conhecida como a Conferência de Copenhague,
o evento teve o intuito de estabelecer novas políticas para a mitigação das mudanças
climáticas após o ano de 2012 que foi marcado pelo fim do Protocolo de Kyoto. A maior
conferência sobre mudanças climáticas já realizada à época contou com a participação de
191 países. RAVINDRANATH (2010) aponta que a conferência foi um sucesso à medida
que colocou as questões ambientais em grande evidência mundial. Além disso, pela
primeira vez nenhum líder de Estado questionou a base científica sobre as ameaças do
aquecimento global.
O evento culminou na produção de um documento, denominado “Acordo de
Copenhague”, assinado por Estados Unidos, China, Índia, Brasil e África do Sul. Tal acordo
reconheceu os críticos impactos ambientais de origem antropogênica e também que cortes
elevados nas emissões globais de GEE seriam necessários para se reverter essa situação.
O documento previa a continuação do Protocolo de Kyoto, além de limitar a concentração
de CO2 na atmosfera a 450 ppm e limitar o aquecimento global em 2ºC. Como um acordo
em grande escala não foi possível, cada país se comprometeu a uma meta distinta
(UNFCC, 2009).
Os Estados Unidos concordaram em reduzir as suas emissões totais até 2010 em
17%, relativamente ao ano de 2005. A União Europeia aceitou uma redução de suas
emissões totais, até 2020, em 20% em relação ao ano de 1990. Por fim, China e Índia não
aceitaram uma redução das suas emissões totais, mas sim uma redução da intensidade de
carbono até o ano 2020, entre 40 a 45% para a China e, entre 20 a 25% para a Índia
(TORGAL & JALALI, 2010).
GOLDENBERG & PRADO (2010) avaliam que as metas traçadas são insuficientes
para se alcançar reduções consideráveis até 2020. Vale ressaltar também que, apesar de
traçar metas reais, o documento não representa nenhum comprometimento legal em
alcançá-las.
21
Em 2012, a Rio + 20, já citada anteriormente, marcou os 20 anos da realização da
Rio 92. Os principais temas abordados foram “Economia verde no contexto do
desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza” e “Estrutura institucional para o
desenvolvimento sustentável”. Sob o tema “Economia verde no contexto do
desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza” foi lançado o desafia à
comunidade internacional de se ponderar um novo modelo de desenvolvimento que seja
ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável. Já dentro do
tema “Estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável” discutiu-se a necessidade
de uma maior atuação de instituições internacionais como instrumento para a solução dos
problemas globais no âmbito ambiental, social e econômico do desenvolvimento.
Com a colaboração de 193 países, a conferência teve o propósito de renovar o
comprometimento com o desenvolvimento sustentável e assegurar a promoção de um
futuro economicamente, socialmente e ambientalmente sustentável para o planeta e para
futuras gerações. O evento teve também como resultado a concepção de um documento
denominado “The future we want” que reconhece a erradicação da pobreza como o maior
desafio mundial e a enxerga como um requerimento essencial para a promoção do
desenvolvimento sustentável.
2.3. Sustentabilidade na Construção Civil
2.3.1. Construção sustentável
Como foi visto anteriormente, o setor da construção civil é o que mais consome
recursos naturais e, se incluir a operação do ambiente construído, é o maior consumidor
final de energia no mundo (CBCS, 2014). Além disso, estima-se que mais da metade dos
resíduos sólidos e um terço das emissões de GEE resultantes das atividades humanas
tenham origem na construção civil (MMA, s.d.).
O setor também possui importante aspecto social ao empregar 10% da mão de obra
do planeta. Por último, no viés econômico, o setor movimenta 10% do PIB global (UNEP,
2009). Fica evidente, portanto, que para se atingir efetivamente os objetivos globais do
desenvolvimento sustentável deve-se atribuir ao setor da construção civil um papel
fundamental, já que este possui uma influência relevante sobre os três pilares da
sustentabilidade.
A fim de mitigar os impactos ambientais causados pela construção surgiu o conceito
de construção sustentável. No ano de 1994 o CIB, Conselho Internacional da Construção,
22
classificou o conceito de construção sustentável como “a criação e manutenção
responsáveis de um ambiente construído saudável, baseado na utilização eficiente de
recursos e no projeto baseado em princípios ecológicos” (KIBERT, 2008).
Ainda em 1994, o CIB também definiu sete princípios para a construção sustentável.
São eles, segundo KIBERT (2008):
1) Redução do consumo de recursos;
2) Reutilização de recursos;
3) Utilização de recursos recicláveis;
4) Proteção da natureza;
5) Eliminação de tóxicos;
6) Aplicação de análises de ciclo de vida em termos econômicos;
7) Ênfase na qualidade.
Ainda segundo KIBERT (2005) esses princípios devem ser aplicados em todas as
etapas do ciclo de vida de uma edificação, desde o projeto até a demolição. Esses
princípios, inclusive, devem ser considerados na operação do ambiente construído durante
todo o seu ciclo de vida.
Já a Agenda 21 para a Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento
define construção sustentável como "um processo holístico que aspira a restauração e
manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de
assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica"
(MMA, s.d.).
Por último, o CBCS, Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, define que
“trabalhar o desenvolvimento sustentável no setor da construção significa maximizar e
otimizar o uso dos recursos naturais por meio de racionalidade e eficiência. Em termos
práticos, implica fazer mais com menos.” (CBCS, 2013).
O CBCS incrementa a definição ressaltando que a construção civil deve trabalhar a
sustentabilidade desenvolvendo produtos adequados aos usos que serão submetidos,
proporcionando ao ser humano um ambiente construído saudável, confortável, seguro,
confiável e durável, atendendo, portanto, aos anseios da sociedade em prol da qualidade de
vida. Assim, os produtos devem ser capazes de proporcionar, durante a sua utilização,
23
facilidade de manutenção e economia de gastos. Por fim, o produto deve possuir um ciclo
de vida prolongado e, ao término deste, deve-se prever a possiblidade de reuso dos
materiais e componentes empregados com sua correta destinação (CBCS, 2013).
MATEUS (2009) enumera algumas medidas importantes, apresentadas na Figura 1,
a serem tomadas durante a fase de projeto de uma construção sustentável.
Figura 1 - Medidas a Serem Tomadas em um Projeto de Construção Sustentável.
(MATEUS, 2009)
2.3.2. Sistemas de avaliação ambiental de edificações
Pensando nesses conceitos de construção sustentável e na crescente necessidade
de se incorporar medidas sustentáveis no âmbito do planejamento e uso de edificações,
surgiram nas últimas décadas diversos métodos e indicadores para avaliação objetiva da
sustentabilidade de edificações.
O WBCSD (1996), World Business Council for Sustainable Development, define
avaliação ambiental como “um processo sistemático que fornece uma estrutura para
reunião e documentação de informações e opiniões a respeito das consequências
ambientais das atividades, avaliando seus efeitos e providenciando recomendações e
planos de ações” (MARQUES, 2007).
Existem atualmente diversos métodos diferentes de avaliação ambiental de
edificações, variando com a particularidade da agenda ambiental de cada país, práticas
construtivas e de projeto, questões culturais, questões econômicas e a receptividade do
mercado. Mas que compartilham, na sua essência, de um objetivo comum em estimular a
demanda do mercado por maiores níveis de desempenho ambiental, diagnosticar eventuais
24
intervenções construtivas necessárias e orientar profissionais do setor a respeito das
conformidades atribuídas aos selos ambientais (MARQUES, 2007).
No entanto, JOHN (2010) alerta que sem políticas públicas e setoriais, os selos não
são o suficiente para se promover a sustentabilidade. Além disso, alguns desses
instrumentos apenas passariam uma falsa imagem de sustentabilidade a indústrias e
corporações, prática conhecida como greenwashing e usada como uma forma de marketing
ambiental. Um exemplo dessa prática seria a adição de um estacionamento de bicicletas
em um empreendimento com o único propósito de se alavancar pontos para obtenção da
certificação.
Entre as obras que fizeram o uso da certificação ambiental no país, destacam-se as
obras da Copa do Mundo de 2014 e as obras dos Jogos Olímpicos de 2016 que produziram
muitos avanços no campo do uso de materiais mais sustentáveis. O Estádio Mineirão, em
Belo Horizonte, por exemplo, é equipado com uma usina solar fotovoltaica com capacidade
de geração de 1.600 MWH/ano de energia, volume equivalente ao consumo médio de 1.200
casas. Além disso, o estádio possui uma política de reaproveitamento de água da chuva e
obteve a maior premiação da certificação LEED, assim como foi premiado com o Selo BH
Sustentável, concedido pela prefeitura de Belo Horizonte (MINEIRÃO, 2016).
Já a Vila dos Atletas, batizado de Ilha Pura, no Rio de Janeiro, foi construída de
acordo com as normas da certificação AQUA e previa o uso de aquecimento solar, telhado
verde, painéis fotovoltaicos, paisagismo com espécies nativas, central de tratamento de
água, iluminação eficiente em LED e elevadores capazes de gerar 60% da energia que irão
consumir (SANTOS, 2013).
Segue-se uma visão das principais certificações presentes no mercado.
2.3.2.1. LEED
A certificação LEED, “Liderança em Energia e Projeto Ambiental” (do inglês,
Leadership in Energy and Environmental Design), surgiu nos Estados Unidos em 1999 e
vem sendo utilizada até hoje. O selo visa ao desenvolvimento e à prática de projetos e
construções ambientalmente responsáveis na busca da sustentabilidade. É uma ferramenta
que auxilia na mensuração do desempenho ambiental de uma edificação e estimula a
competição (USGBC, 2009).
A certificação atua na avaliação de construções de diversas tipologias, sendo
aplicado um método específico para cada uma delas. São essas (GBCBRASIL, 2014):
25
1) LEED New Construction & Major Renovation, destinado a edificações que serão
construídas, reformas que venham a incluir o sistema de ar condicionado,
envoltória e realocação;
2) LEED Existing Buildings – Operation and Maintance, focado na eficiência
operacional e manutenção do edifício existente, maximizando a eficiência da
operação e minimizando os custos e impacto ao meio ambiente;
3) LEED for Commercial Interiors, certifica escritórios de alto desempenho, que por
possuírem ambientes internos mais saudáveis, auxiliam no aumento de
produtividade de seus ocupantes;
4) LEED Core & Shell, destinado a edificações que comercializarão os espaços
internos posteriormente, englobando toda a área comum, sistema de ar
condicionado, estrutura principal, como caixa de escadas e elevadores e
fachadas;
5) LEED Retail, destinado a lojas de varejo, reconhecendo as diferentes
necessidades quando comparadas a uma edificação comercial;
6) LEED for Schools, destinado a construções escolares, possibilitando melhor
desempenho dos alunos e corpo docente;
7) LEED for Neighborhood Development, destinado a espaços urbanos,
incentivando a utilização de transporte público, eficiente e alternativo e criação
de áreas de lazer, tais como parques e espaços públicos de alta qualidade;
8) LEED for Healthcare, certificação que engloba todas as necessidades de um
hospital, muito distintas das de uma construção comercial.
A avaliação é realizada a partir de um sistema de pontuações, onde para cada item
avaliado é concedido uma pontuação com base no cumprimento ou não dos critérios
adotados pelo selo. Assim, a pontuação final é dada pela soma das pontuações individuais
de cada item. A classificação do produto é dada a partir da pontuação final obtida pelo
mesmo, podendo ser classificado como “não aprovado”, “certificado”, “prata”, “ouro” ou
“platina”.
As dimensões avaliadas pela certificação LEED são enumeradas abaixo
(GBCBRASIL, 2014):
1) Espaço Sustentável – Contempla estratégias que minimizam o impacto no
ecossistema durante a implantação da edificação, abordando questões de
grandes centros urbanos, como redução do uso do carro e das ilhas de calor;
2) Eficiência do uso da água – Relativo a inovações no uso racional da água e
alternativas de tratamento e reuso dos recursos;
26
3) Energia e Atmosfera – Avalia a eficiência energética nas edificações por meio de
estratégias como simulações energéticas, medições, comissionamento de
sistemas e utilização de equipamentos e sistemas eficientes;
4) Materiais e Recursos - Encoraja o uso de materiais de baixo impacto ambiental
(reciclados, regionais, recicláveis, de reuso, etc.) e reduz a geração de resíduos,
além de promover o descarte consciente, desviando o volume de resíduos
gerados dos aterros sanitários;
5) Qualidade ambiental interna - Promove a qualidade ambiental interna do ar,
conforto térmico e priorização de espaços com vista externa e luz natural;
6) Inovação e Processos - Pontos de desempenho exemplar estão habilitados para
esta categoria;
7) Créditos de Prioridade Regional - Incentiva os créditos definidos como prioridade
regional para cada país, de acordo com as diferenças ambientais, sociais e
econômicas existentes em cada local.
CAVALCANTE (2011) aponta que as categorias avaliadas que servem como base
do processo de certificação refletem principalmente condições e especificidades dos
Estados Unidos. Assim, seu uso em outros países pode acarretar resultados
descontextualizados ou até mesmo errôneos.
2.3.2.2. BREEAM
Em 1990, no Reino Unido, foi lançada a ferramenta denominada de
BREEAM,“Avaliação Ambiental da Fundação de Pesquisa em Construções (do inglês,
Building Research Establishment Environmental Assessment Method)”. Essa ferramenta é
considerada o precursor das demais metodologias existentes. Presente em mais de 70
países e com mais de 500.000 construções certificadas, é o mais utilizado método de
avaliação ambiental de edificações no planeta (BRE, 2016). Apesar disso, a ferramenta
ainda é muito pouco utilizada no Brasil.
As categorias avaliadas pelo selo são citadas abaixo (BRE, 2016):
1) Energia – Busca soluções que visem à eficiência energética;
2) Saúde e bem-estar – Visa ao conforto, à saúde e à segurança dos ocupantes do
edifício;
3) Inovação – Reconhece iniciativas que vão além dos critérios previstos;
27
4) Uso do solo – Encoraja a proteção ambiental e preservação da biodiversidade do
terreno e sua vizinhança;
5) Materiais – Visa selecionar materiais de construção de impacto reduzido ao
longo do seu ciclo de vida, desde a extração da matéria-prima até sua
reciclagem;
6) Gestão – Incentiva a prática de soluções sustentáveis durante a tomada de
decisões de projeto e uso da edificação;
7) Poluição – Busca maneiras de reduzir o impacto ambiental proveniente da
poluição sonora, emissões de gases, resíduos sólidos e resíduos líquidos;
8) Transporte – Foca na acessibilidade de transporte público e uso de soluções
alternativas de transporte;
9) Resíduos – Reconhece iniciativas que visam a reduzir a produção de resíduos
no canteiro de obras e operação do empreendimento;
10) Água – Identifica maneiras de reduzir o consumo de água potável durante o
ciclo de vida do edifício e reduzir a perda por vazamentos.
2.3.2.3. AQUA
O sistema de avaliação AQUA, Alta Qualidade Ambiental, criado em 2008, é uma
iniciativa da Fundação Vanzolini adaptada à realidade brasileira a partir da ferramenta
francesa HQE, “Alta Qualidade Ambiental” (do francês, Haute Qualité Environnementale).
O selo avalia o empreendimento de acordo 14 critérios de sustentabilidade,
atribuindo a estes uma classificação de acordo com seu desempenho.
Os critérios avaliados são os seguintes (VANZOLINI, 2015a):
1) Relação do edifício com seu entorno;
2) Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos;
3) Canteiro de obras de baixo impacto ambiental;
4) Gestão de energia;
5) Gestão da água;
6) Gestão de resíduos de uso e operação do edifício;
7) Manutenção – Permanência do desempenha ambiental;
8) Conforto Higrotérmico;
28
9) Conforto acústico;
10) Conforto visual;
11) Conforto olfativo;
12) Qualidade sanitária dos ambientes;
13) Qualidade sanitária do ar;
14) Qualidade sanitária da água.
Além disso, cada critério pode ser classificado como:
1) Bom - Corresponde ao desempenho mínimo aceitável para um empreendimento
AQUA;
2) Superior – Corresponde ao nível das boas práticas;
3) Excelente – Corresponde ao desempenho máximo em empreendimentos AQUA.
Concede-se a certificação para o empreendimento que atingir no mínimo três
categorias no nível Excelente e no máximo sete categorias no nível Bom (VANZOLINI,
2015a).
2.3.2.4. Procel Edifica
Outra iniciativa brasileira é o sistema de certificação Procel Edifica desenvolvido pela
ELETROBRAS/PROCEL em 2003. O selo visa promover o uso racional de energia elétrica
em edificações comerciais, públicas ou residenciais adotando quatro categorias de
avaliação, são elas:
1) Envoltória;
2) Iluminação;
3) Condicionamento de ar;
4) Aquecimento de água.
Além disso, o sistema requer o cumprimento de pré-requisitos e prevê pontos extras
conquistáveis mediante a superação da eficiência da edificação (PROCELINFO, 2006).
A avaliação é feita através da classificação do nível de eficiência energética do
edifício. Para cada uma das quatro categorias é relacionada um pontuação que vai desde E
(menos eficiente) até A (mais eficiente), como pode ser visto na Figura 2.
29
Figura 2- Selo Procel Edifica (PROCELINFO, 2006).
Vale ressaltar que a certificação Procel Edifica se limita a avaliar apenas a eficiência
energética da edificação, não considerando outros fatores importantes como as emissões
de GEE e a questão social.
2.3.2.5. Selo Casa Azul CAIXA
O Selo Casa Azul CAIXA, lançado pela Caixa Econômica Federal em 2010 e
desenvolvido por uma equipe de especialistas da USP, UNICAMP e UFSC, tem como
objetivo reconhecer e incentivar projetos que demonstrem suas contribuições à redução de
impactos ambientais.
De adesão voluntária, o selo é voltado exclusivamente para edificações
habitacionais e foi desenvolvido para a realidade brasileira. Além disso, a iniciativa busca
reconhecer projetos que adotam soluções mais eficientes aplicadas à construção, utilização,
ocupação e manutenção das edificações, promovendo o uso racional de recursos naturais e
a melhoria da qualidade da habitação e de seu entorno (CAIXA, 2010).
O sistema aborda seis categorias principais, são elas (CAIXA, 2010):
1) Qualidade urbana;
2) Projeto e conforto;
3) Eficiência energética;
30
4) Conservação de recursos e materiais;
5) Gestão da água;
6) Práticas sociais.
As seis categorias principais são subdivididas em 53 critérios a serem atendidos, dos
quais 19 são obrigatórios. Assim o sistema de avaliação prevê três classificações possíveis
(Figura 3) (CAIXA, 2010):
1) Bronze – Atendimento mínimo de 19 critérios obrigatórios.
2) Prata - Atendimento mínimo de 19 critérios obrigatórios e mais 6 créditos de livre
escolha.
3) Ouro - Atendimento mínimo de 19 critérios obrigatórios e mais 12 critérios de
livre escolha.
Figura 3 - Selo Casa Azul CAIXA (CAIXA, 2010).
2.3.3. Situação brasileira quanto à sustentabilidade na construção
Em 2014 o CBCS publicou o documento “Aspectos da Construção Sustentável no
Brasil e Promoção de Políticas Públicas” resultado de uma pesquisa em parceria com o
MMA e o PNUMA. Contando com a colaboração de 40 pessoas, a publicação teve a missão
de disseminar conhecimentos e boas práticas para ampliar a sustentabilidade do setor da
construção civil e ressaltar a importância da estruturação de políticas públicas que visem o
desenvolvimento sustentável no país. Além disso, o trabalho apresenta uma reflexão sobre
as condições atuais do setor nos temas abordados - água, energia e materiais. Também foi
realizada uma consulta de opinião com 381 profissionais do setor abordando os principais
desafios e práticas adotadas em prol da sustentabilidade pela indústria da construção no
país (CBCS, 2014a).
Como resultado da pesquisa, o CBCS conclui que os três temas abordados
possuem demandas e necessidades em comum. São elas (CBCS, 2014a):
31
1) Carências de conhecimento, necessidade de campanhas de esclarecimento à
população e demanda por maior grau de capacitação técnica dos envolvidos
(Gráfico 1);
2) Necessidade de criação de ferramentas específicas (Gráfico 2);
3) Necessidade de criação de incentivos e linhas de financiamentos (Gráfico 3);
4) Demanda de legislação e regulamentos específicos (Gráfico 4).
Gráfico 1 - Educação, capacitação e divulgação (CBCS, 2014a).
Gráfico 2 - Demanda de ferramentas (CBCS, 2014a).
32
Gráfico 3 - Demanda por incentivos e financiamentos (CBCS, 2014a).
Gráfico 4 - Legislação, regulamentação e certificação (CBCS, 2014a).
Para o enfoque desse presente trabalho destacam-se os seguintes resultados para a
área de materiais de construção (CBCS, 2014a):
1) Para o tema “Educação, capacitação e divulgação”, a falta de informação e de
profissionais capacitados foi a mais citada (66%);
2) A ferramenta de banco de dados público de Análise do Ciclo de Vida (ACV) foi a
mais requisitada (38%);
3) A demanda por incentivos e financiamentos para correta escolha de materiais foi
a mais citada (34%). Em segundo lugar ficou a falta de incentivo do governo para incentivar
a reciclagem (30%);
4) A necessidade de legislação para incentivar a manutenção e para garantir o
desempenho das edificações a longo prazo foi a mais solicitada (29%).
33
Com base nos resultados obtidos pela pesquisa, pode-se destacar algumas
possíveis ações a serem implementadas visando a uma melhoria na prática da
sustentabilidade no setor de construção. A fim de melhorar a capacitação e treinamento de
profissionais da área, os estudiosos da área devem atuar no fortalecimento de instituições
técnicas e na ampliação de currículos universitários.
Uma possível alternativa para a demanda por incentivos e financiamentos é a
adoção de políticas públicas que criem benefícios econômicos a empresas e soluções
ecoeficientes. Mas o combate à informalidade é condição ímpar para implantar políticas
voltadas para a sustentabilidade. O PBQP-H possui uma metodologia de combate à
informalidade que pode ser ampliada e adequada para incluir aspectos ambientais. Nesse
sentido, a criação de um programa de fomento à ecoinovação tem um potencial significativo
de retorno ambiental e de ganho de competitividade da indústria.
Outra boa medida a ser aplicada é a reurbanização de áreas degradadas nas
grandes cidades, através da prática do retrofit, para incentivar a ocupação de edificações
abandonadas e melhorar o desempenho ambiental de edifícios em situação precária.
Por fim, o CBCS também elaborou uma lista com as principais políticas públicas
sugeridas que são voltadas para a sustentabilidade no setor de materiais de construção e o
impacto que a sua implantação teria para a sustentabilidade do setor (Tabelas 1, 2 e 3).
Tabela 1 - Políticas públicas de planejamento e gestão (CBCS, 2014a).
Políticas – planejamento e gestão Impacto
1 Fortalecimento do PBQP-H Alto
2 Promoção da industrialização na construção Alto
3 Incentivo a fabricantes que aderirem a programas de sustentabilidade Alto
4 Apoio ao desenvolvimento do PBACV Alto
5 Desenvolvimento de governança do sistema de declarações ambientais por ACV Médio
6 Apoio a pequenas e médias empresas Médio
7 Reforço da ferramenta de seleção de materiais e fornecedores do CBCS Médio
8 Promoção de sistemas de construção modulares Médio
9 Implantação de gestão de resíduos adequada ao tamanho das cidades Médio
10 Incentivo à desconstrução Médio
11 Incentivos a negócios voltados à reciclagem de resíduos classe A Médio
12 Políticas fiscais que incentivem soluções mais sustentáveis Médio
13 Incentivo à elaboração de FIPSQ para materiais potencialmente nocivos Médio
14 Promoção da qualidade do ar interno Médio
15 Controle de substâncias químicas perigosas à saúde Baixo
16 Obrigatoriedade de comprovação de ganho ambiental para permitir publicidade Baixo
17 Iniciativas para tornar mais eficaz a gestão de resíduos perigosos Baixo
34
Tabela 2 - Políticas públicas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (CBCS, 2014a).
Políticas – pesquisa e desenvolvimento tecnológico Impacto
1 Apoio à proposta de ACV modular Alto
2 Criação de metodologia de Declaração Ambiental de Produto Alto
3 Consolidação de ferramentas para determinação da vida útil de projeto Alto
4 Estabelecimento de programa de ecoinovação voltado para a construção civil Alto
5 Incentivo à adoção de estratégias de projeto flexível Médio
6 Integração com BIM do sistema de declarações ambientais por ACV Médio
Tabela 3 - Políticas públicas de educação e capacitação (CBCS, 2014a).
Políticas – educação e capacitação Impacto
1 Atualização de currículos de engenharia e arquitetura Médio
2 Criação de especialização para profissionais já atuantes no mercado Médio
Apesar do panorama não ser favorável, algumas iniciativas de sucesso vem agindo
para estimular a sustentabilidade no setor. Destacam-se novamente, as obras da Copa do
Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, adotou uma inovação tecnológica com o uso
de uma estrutura de cobertura revestida de dióxido de titânio que, em contato com a água
da chuva, libera oxigênio para a atmosfera. No Estádio Beira-rio, em Porto Alegre, e na
Arena Fonte Nova, em Salvador, o teto utilizado é de membrana de politetrafluoretileno
(PTFE), material com elevada durabilidade, que absorve menos calor e faz o uso mínimo
possível de água para a sua limpeza (ECODESENVOLVIMENTO, 2012).
Outro destaque é a Arena da Baixada, em Curitiba, que utilizou revestimento de
policarbonato para a sua fachada para a melhor climatização dos espaços internos. Por fim,
a Arena Pantanal, em Cuiabá, teve as suas paredes pintadas com tintas livres de
componentes orgânicos voláteis e toda a cerâmica ou porcelanato utilizados terão algum
grau de material reciclado em sua composição (ECODESENVOLVIMENTO, 2012).
35
3. Sustentabilidade dos materiais de construção
A indústria de materiais de construção é responsável por diversos impactos
ambientais, desde a fase de extração da matéria prima até o eventual descarte do produto.
Dentro do âmbito socioeconômico, destaca-se a informalidade da indústria de
materiais de construção que atinge muitos setores da cadeia produtiva. A informalidade
causa baixa qualidade de produtos e serviços, agrava os problemas ambientais e cria
problemas sociais, desrespeitando os direitos trabalhistas e sonegando impostos (CBCS,
2014a).
O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat, PBQP-H, tem
importante atuação na garantia da qualidade da construção civil. O Programa atua na
regulamentação e acompanhamento da conformidade técnica de qualidade dos materiais
de construção presentes no mercado. Essa atuação é relevante para a questão da
sustentabilidade dos materiais de construção a medida que, o não atendimento dos
requisitos mínimos de qualidade repercute na durabilidade do produto, aumentando os
impactos causados pela manutenção e substituição de componentes.
Os índices de conformidade quanto aos diferentes materiais de construção
disponíveis no mercado brasileira são apresentados no Gráfico 5 (PBQP-H, s.d.).
Gráfico 5 - Índices de conformidade dos materiais presentes no mercado nacional (PBQP-H,
s.d.).
36
Pode-se visualizar no gráfico taxas reduzidas para a conformidade de blocos
cerâmicos, lajes pré-fabricadas e telhas cerâmicas.
3.1. Materiais de construção e seus impactos
Apesar de ser responsável pelo consumo de boa parte dos recursos naturais no
país, em 2013 a indústria de materiais de construção representou apenas uma parcela de
1,5% do PIB brasileiro, com um valor adicionado de R$ 61 bilhões (ABRAMAT & FGV
Projetos, 2014). Esses dados indicam que os produtos da construção são, portanto,
predominantemente de baixo valor. Há a expectativa que o setor da construção dobre de
tamanho entre 2009 e 2022 no país (FGV PROJETOS & LCA CONSULTORIA, 2010).
Assim, caso as atuais práticas do setor sejam mantidas, esse crescimento deverá agravar
os problemas ambientais e sociais relacionados aos materiais de construção. Dessa
maneira, fica evidente a necessidade por inovações.
O setor de materiais de construção envolve desde atividades de extração de matéria
prima (areia, brita, madeira nativa) até parcelas da indústria química. No entanto, alguns
materiais como madeira, materiais cimentícios (que incluem parcela da areia e brita),
cerâmica vermelha e aço são responsáveis pela maior parte da massa dos produtos da
construção. A produção de alguns desses materiais, como os de cimento e de cerâmica, se
dedica exclusivamente à construção civil. Já outras produções, como os setores de aço,
plástico e madeira, alocam uma parcela variável dos seus produtos na construção. Setores
que atendem também a outros mercados tendem a ser menos sensíveis a políticas voltadas
exclusivamente à construção sustentável (CBCS, 2014a).
3.1.1. Impactos ambientais na fase de produção
É estimado que, no Brasil, as emissões de CO2 na produção de materiais são mais
importantes do que as emissões associadas à fase de uso dos edifícios (AGOPYAN; JOHN,
2011). Isso se deve aos altos níveis de emissões de alguns materiais, à matriz energética
limpa e ao baixo consumo de energia, particularmente térmica, na fase de uso dos edifícios.
No Brasil, portanto, a mitigação de gases do efeito estufa na construção deve ser focada
mais pela cadeia de materiais e menos pelo consumo energético ao longo do ciclo de vida,
embora esse último venha se agravando nos anos recentes (CBCS, 2014a).
A construção civil demanda entre quatro a sete toneladas de material por habitante
por ano (AGOPYAN; JOHN, 2011). A grande escala do uso de recursos na produção de
materiais torna grandes os impactos ambientais mesmo dos produtos de mais baixo
37
impacto. A desmaterialização, que pode ser entendida como a adoção de sistemas
construtivos leves ou do reuso de componentes ao final da vida útil da obra, e a reciclagem
são estratégias importantes para a redução do impacto ambiental. Algumas indústrias de
materiais já incorporam grande quantidade de resíduos na sua produção. O cimento, por
exemplo, recicla elevada quantidade de resíduos do ferro gusa e cinzas volantes. Os metais
reciclam seus próprios resíduos. No entanto, a desmaterialização ainda é uma estratégia
pouco conhecida pela sociedade (CBCS, 2014a).
Parte do elevado consumo de materiais e da geração de resíduos se devem às
perdas de materiais em canteiro de obras (SOUZA et al., 1998). Estudos mostraram que as
essas perdas estão associadas à gestão em canteiro e de projeto, mas também são
influenciadas pelos materiais. Uma estratégia para se reduzir essas perdas é aumentar o
grau de industrialização da solução. Por exemplo, perdas de cimento e agregados para a
produção de concreto em obra são muito superiores às perdas no uso do concreto usinado.
Já componentes de alvenaria podem se quebrar em diferentes etapas de manuseio. A
adoção da coordenação modular pode evitar a necessidade de cortes e ajustes na obra,
que geram muitos resíduos e diminuem a produtividade nas construções. No extremo da
industrialização estão os sistemas baseados em montagem, em que as perdas possíveis
são muito baixas (CBCS, 2014a).
Políticas que incentivem o uso de soluções industrializadas, garantidos desempenho
e durabilidade, podem reduzir os impactos ambientais por meio da redução das perdas,
com o bônus de aumentar a produtividade, colaborando com o aumento da renda per capita
do país (CBCS, 2014a).
3.1.2. Impactos ambientais na fase de uso
Apesar da notória importância dos impactos dos materiais na fase de produção, os
impactos ambientais na fase de uso também podem ser elevados. Alguns produtos, como
tintas à base de água (UEMOTO; AGOPYAN, 2006), placas de madeira e sistemas que
utilizam adesivos, podem emitir Compostos Orgânicos Voláteis (COV) que poluem a
atmosfera. Dependendo da natureza dos voláteis, da quantidade liberada e da ventilação do
ambiente, a região interna do edifício pode ser contaminada e os operários expostos a
riscos de saúde.
Outro possível impacto na fase de uso é a lixiviação de compostos químicos
perigosos dos materiais expostos à água, especialmente em telhados, fachadas, obras
viárias e fundações. Essas substâncias químicas contaminam o solo e o lençol freático. A
contaminação ambiental tem sido relatada em escala internacional com o uso de biocidas
38
particularmente em madeiras e tintas (TOGERO, 2004), mas também quando se
incorporam resíduos aos materiais de construção.
O problema da durabilidade dos materiais também é relevante, pois é ela que
controla o impacto dos produtos da construção civil. Uma edificação com uma vida útil maior
está associada a menores custos econômicos e ambientais totais, pois menores são as
atividades de manutenção e as quantidades de material necessárias para reposição. No
entanto, o planejamento da vida útil ainda é uma exceção no país (CBCS, 2014a).
O fato da durabilidade não ser uma característica intrínseca de cada material
dificulta a incorporação dessa variável em projetos. A durabilidade é influenciada pela
interação das características do material com as condições climáticas e dos detalhes de
projeto aos quais o material será exposto. Dessa forma, os problemas de durabilidade e
vida útil de um dado material variam sensivelmente de acordo com a região ou até mesmo
de acordo com detalhes do projeto. A aplicação dessa ferramenta esbarra na falta de
modelos e informações geográficas de parâmetros ambientais relevantes, que permitam
estimar a vida útil dos produtos em diferentes situações (CBCS, 2014a).
3.1.3. Impactos ambientais na fase de pós-uso
É estimado que grande parte dos materiais seja descartada ainda no primeiro ano
após sua extração (MATHEWS et al., 2000), como resíduo da produção de materiais ou
resíduo resultante de execução inadequada de obra. Ao final da vida útil, são gerados
aproximadamente 5kg de resíduos para cada 1kg de material utilizado (JOHN, 2000).
Segundo PINTO (1999), foi estimado que, no Brasil, os resíduos da construção
gerados seriam da ordem de 500kg/hab.ano (PINTO, 1999). Porém, mais recentemente, um
estudo baseado em dados da cidade de São Carlos (cidade média em São Paulo, com 270
mil habitantes) aponta valores pouco acima de 800kg/ hab.ano, o que demonstra que os
valores têm aumentado significativamente nos últimos anos e podem ser muito maiores em
grandes metrópoles, onde o ritmo de crescimento do setor da construção civil tem sido
enorme.
Dessa maneira, a gestão de resíduos de construção e demolição no Brasil, apesar
de muitos documentos e estudos, ainda permanece muito aquém do que é observado
internacionalmente, pois, apesar da entrada de algumas empresas privadas no negócio, a
fração dos resíduos de alvenarias, argamassas e concretos efetivamente reciclados é ainda
muito pequena (CBCS, 2014a).
39
Há, também, pouca experiência em desconstrução, ou desmontagem de edifícios no
Brasil, sendo a maior parte das obras demolidas por métodos destrutivos que misturam os
resíduos e diminuem consideravelmente a reciclabilidade e a reusabilidade dos resíduos
(CBCS, 2014a).
3.2. Critérios para classificação de materiais como sustentáveis
Tendo em vista os elevados impactos apresentados no item 3.1. e visando motivar o
uso sustentável dos materiais de construção civil, o CBCS (2009) faz um levantamento de
boas práticas e recomendações para a seleção de materiais. Esses critérios são
enumerados abaixo:
1) Seleção de empresas fornecedoras: A escolha do fabricante ou fornecedor é
muitas vezes mais importante que a decisão sobre qual material utilizar. Isso se deve ao
fato que a eco-eficiência e a responsabilidade social dos fornecedores de matérias primas
pode ser imensa;
2) Relatório de sustentabilidade: Um bom indicativo pode vir de empresas que
possuam relatórios socioambientais onde expõem suas políticas alinhadas com o
compromisso para o desenvolvimento sustentável. Recomenda-se dar preferência a
empresas que dispõem de metas claras de melhoria de eco-eficiência de toda a sua linha
de produtos e processos. Além disso, a existência de certificações de gestão ambiental
deve ser valorizada;
3) Qualidade e desempenho do produto: Produtos de baixa qualidade
apresentam elevadas taxas de defeitos precoces, o que requer a substituição do material,
gerando impactos ambientais e econômicos. Como forma redução de custos, são comuns,
na indústria, fornecedores que praticam a não conformidade intencional, ou seja, o
desrespeito sistemático as normas técnicas vigentes. O Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade no Habitat, PBQP-H, age no combate à não conformidade intencional no
setor de materiais e componentes da construção civil e apresenta, em seu portal
(http://pbqp-h.cidades.gov.br/), uma lista de fornecedores conformes e não conformes;
4) Resíduo como matéria prima: Em algumas cadeias industriais o uso de
resíduo como matéria prima está bem estabelecido e frequentemente apresenta relevantes
vantagens ambientais. Esse é o caso do cimento, aço e alumínio que usam resíduos de
forma a substituir matérias primas ou combustíveis. Além de preservar recursos naturais
não-renováveis, esses materiais reduzem as quantidades de resíduos destinados a aterros
sanitários. No entanto, em alguns casos, esses produtos apresentam um processo de
reciclagem extremamente impactante. Além disso, em outros casos a vida útil do material
40
reciclado pode ser limitada. Por fim, há casos em que os resíduos são incorporados sem
que contribuam para a melhoria do desempenho do produto, visando apenas evitar a
deposição. Esse tipo de reciclagem não é considerado sustentável.
TORGAL & JALALI (2010) também citam diretrizes a serem consideradas no
contexto da sustentabilidade dos materiais de construção. Dessa forma, a escolha deve
privilegiar materiais:
1) Não tóxicos;
2) Com baixa energia incorporada;
3) Recicláveis;
4) Que possam permitir o reaproveitamento de resíduos de outras indústrias;
5) Que provenham de fontes renováveis;
6) Que estejam associados a baixas emissões de GEE;
7) Duráveis;
8) Cuja escolha seja levada a cabo mediante uma análise do seu ciclo de vida.
Por fim, MARQUES (2007) apresenta uma lista com diretrizes para o auxílio da
tomada de decisão no momento da escolha dos materiais de construção:
1) Reaproveitamento dos materiais e estruturas do edifício existente;
2) Uso de materiais que não gerem resíduos danosos ao ambiente e/ou à saúde
humana;
3) Previsão de tratamento aos escombros da construção, demolição e limpeza do
terreno;
4) Seleção de materiais que possam ser reaproveitados e de fácil desmonte;
5) Seleção de materiais que possuam componentes reciclados em sua composição;
6) Uso de recursos nativos, reduzindo a necessidade de transporte;
7) Redução da utilização de matérias-primas não-renováveis;
8) Escolha de madeira certificada;
9) Avaliação da durabilidade dos materiais;
10) Avaliação da facilidade de manutenção;
11) Escolha de materiais com baixa energia embutida.
3.2.1. Avaliação do ciclo de vida
O CBCS (2009) aponta a ferramenta de “Avaliação do Ciclo de Vida” (ACV) como a
melhor estratégia objetiva para a seleção de produtos com maior eficiência ambiental. A
ACV consiste na contabilização de todas as emissões e de todo o consumo de matérias
41
primas e energia ao longo de todas as fases do ciclo de vida do produto, desde sua
produção até seu descarte final (Figura 4).
Dessa maneira, pode-se medir de forma apropriada todos os impactos envolvidos
durante o ciclo de vida do produto e pode-se fazer assim uma comparação eficiente com
outros produtos presentes no mercado. Um dos objetivos do ACV é estabelecer uma
abordagem confiável e sistemática para a escolha do produto, entre vários, que apresente o
menor impacto ambiental.
Figura 4 - Etapas de avaliação do ciclo de vida do produto (TECHNE, 2010).
As normas responsáveis a orientar quanto aos requisitos e recomendações para a
prática correta do ACV são, no Brasil, a NBR ISO 14040 e a NBR ISO 14044.
Contudo, o CBCS (2014a) também reconhece que a ferramenta ACV ainda é pouco
conhecida e menos ainda compreendida pelos profissionais brasileiros. Isso se deve ao fato
de que, em consequência da criação ainda recente do Programa Brasileiro de Avaliação de
Ciclo de Vida (PBACV), os dados nacionais para seu emprego ainda não estão disponíveis
ao público. Além disso, uma ACV completa requer um tempo prolongado e pode ocasionar
em alto custo.
3.2.2. Avaliação de ciclo de vida modular
Pensando em uma forma de tornar a avaliação de ciclo de vida mais praticável, o
CBCS (2014b) criou o projeto da Avaliação de Ciclo de Vida Modular, ACV-m. A iniciativa
tem como meta oferecer aos consumidores uma ferramenta para auxiliar na tomada de
decisão, com base no desenvolvimento sustentável do setor da construção civil. Quando
comparada a ACV tradicional a ACV-m é uma versão de escopo reduzido, mas que
42
apresenta uma estrutura em sincronia com a primeira. Garante o alcance do objetivo da
avaliação sem perda das características da metodologia e pode ser utilizada como etapa
inicial de estudo.
Como forma de auxílio ao setor da construção durante o processo de levantamento,
sistematização e divulgação de resultados, o CBCS propõe a simplificação do levantamento
em aspectos básicos como energia, água, matérias-primas, resíduos e CO2. Centrando-se
nos impactos ambientais mais relevantes e com dados mais facilmente obtidos, a ACV-m
obtém resultados com menor tempo e custo. Outra vantagem é que, devido ao seu grau de
simplificação, o levantamento pode ser realizado por agentes da própria empresa com base
em manuais e orientações, dispensando o uso de profissionais especializados (CBCS,
2014b).
3.2.3. Seis passos para a seleção de materiais e fornecedores
Outra ferramenta relevante a se utilizar no auxílio à seleção de materiais de
construção mais sustentáveis são os “Seis passos para a seleção de materiais e
fornecedores” desenvolvida também pelo CBCS. A ferramenta, presente na homepage do
CBCS (http://www.cbcs.org.br/selecaoDeFornecedores/) aborda seis critérios para se
escolher fornecedores com responsabilidade social e ambiental (CBCS, s.d.).
Vale ressaltar que essa ferramenta não deve ser adotada como o único critério para
a seleção dos materiais, mas é uma estratégia viável para abordar práticas acessíveis a
todos os compradores e especificadores de materiais e fornecedores. Assim, o ideal é
utilizá-la em conjunto com outros parâmetros a fim de se realizar uma análise que englobe
todos os três aspectos da construção sustentável. Os seis passos serão detalhados abaixo
(CBCS, s.d.):
3.2.3.1. Passo 1: Verificação da formalidade da empresa fabricante e fornecedora
Se o CNPJ de uma empresa não for válido significa que o imposto não está sendo
recolhido ou que a empresa não tem existência legal. Geralmente, o CNPJ vem impresso
na embalagem, no produto ou na nota fiscal. Caso o CNPJ não esteja disponível deve-se
consultar a revenda, o importador ou o fornecedor. Deve-se atentar aos casos de produto
importado, quando o CNPJ fornecido é o da empresa importadora ou distribuidora e não do
fabricante. Nesse caso, é possível que o fabricante do produto seja informal. Fornecedores
com CNPJ inativo ou inválido devem ser descartados. O CNPJ pode ser conferido na
página da Receita Federal (CBCS, s.d.).
43
3.2.3.2. Passo 2: Verificação da licença ambiental
A licença ambiental, concedida pelo órgão ambiental estadual, é requisito obrigatório
para a operação legal de qualquer atividade industrial. A existência da licença não é
garantia contra impactos ao meio ambiente, mas a sua ausência praticamente elimina
qualquer possibilidade de respeito à lei. A facilidade ao acesso às licenças varia com o
órgão estadual responsável. Caso não seja possível a consulta perante o órgão, deve-se
solicitar ao fabricante uma cópia da licença ou o número do protocolo que confirme a
validade. Também deve ser avaliada a distância entre o local de origem e o local de
aplicação, priorizando empresas que possibilitem distâncias de transportes menores e
minimizando o consumo de combustíveis fósseis (CBCS, s.d.).
3.2.3.3. Passo 3: Verificação das questões sociais
Deve-se combater o trabalho infantil, a mão de obra escrava, o trabalho em
condições precárias de higiene, com jornadas excessivas e sem alimentação adequada.
Esse critério é eliminatório para empresas presentes em listas de empresas nacionais já
atuadas. A ferramenta cita algumas páginas da internet que contem listas de empresas
envolvidas com condições de trabalho inadequadas
(http://www.cbcs.org.br/selecaoDeFornecedores/passo3.php?NO_LAYOUT=true) (CBCS,
s.d.).
3.2.3.4. Passo 4: Qualidade e normas técnicas do produto
É obrigatório que o produto apresente um desempenho mínimo, dado pelas normas
técnicas, de forma a evitar desperdícios por substituição precoce. Para tal é necessário
verificar se o fornecedor está na lista de empresas qualificadas pelo PBQP-H. Alguns
produtos tradicionais ainda não fazem parte do PBQP-H. Caso o setor não conste no
PBQP-H, as recomendações das Entidades Setoriais sobre o padrão de qualidade do
produto devem ser consultadas. Para produtos inovadores, a norma técnica nacional não é
existente, sendo assim necessário exigir uma avaliação realizada por entidade de terceira
parte. Caso o produto não atenda à conformidade, ele deve ser eliminado (CBCS, s.d.).
3.2.3.5. Passo 5: Consultar o perfil de responsabilidade socioambiental da empresa
A sustentabilidade também deve estar presente nas relações que se estabelecem
em todos os níveis e em toda cadeia do negócio. Assim, a Responsabilidade Social
Empresarial (RSE) vai além das obrigações legais e incorpora valores e compromissos das
empresas em todas suas formas de relações em seus negócios. Assim, a empresa deve
assumir uma coresponsabilidade dos insumos e serviços adquiridos, tornando sua própria
44
prática transparente para a sociedade. A RSE se divide em quatro principais esferas,
cabendo para cada uma delas uma série de questionamentos a serem feitos (CBCS, s.d.):
1) Funcionários e Fornecedores:
A empresa atende ao Passo 3: “Verificação das questões sociais”?
(eliminatório)
A empresa respeita a legislação trabalhista brasileira? (eliminatório)
A empresa possui CIPA, serviços de segurança e de medicina do
trabalho de acordo com o perfil e número de funcionários?
A empresa verifica antes de contratar fornecedores e prestação de
serviços se estão de acordo com a declaração da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) sobre os princípios e direitos
fundamentais no trabalho?
2) Meio Ambiente:
A empresa atende ao Passo 2 - Verificação da licença ambiental?
(eliminatório)
A empresa estabelece a Gestão de Resíduos da Construção Civil
conforme Resolução CONAMA 307? (eliminatório)
Além da Resolução CONAMA 307, a empresa possui Programa de
Gestão de Resíduos de Construção Civil, de acordo com a legislação
municipal ou estadual vigente? (eliminatório)
A empresa possui setor específico para as questões de meio ambiente?
A empresa possui algum programa ou investe em tecnologias para
conservação de energia e recursos naturais, como tratamento de
efluentes para fins de reuso, captação de águas pluviais, adoção de
energias alternativas ou cogeração de energia?
A empresa já realizou análise de ciclo de vida de seus produtos?
3) Comunidade e Sociedade:
A empresa possui política sobre medidas reparadoras em reposta a
reclamações e manifestações da comunidade?
A empresa recebeu reclamações ou manifestações da comunidade ou de
organizações da sociedade civil (abaixo-assinado, protestos, petições por
questões como: excesso de lixo, geração de mau cheiro, efluentes
poluídos, excesso de tráfego, interferência nos sistemas de comunicação
e outras possíveis)?
45
4) Transparência e Governança:
A empresa possui uma carta de princípios éticos ou uma política
socioambiental?
Possui, na sua política de compra, a seleção de fornecedores que sejam
licenciados e que não possuam passivos ambientais?
A empresa possui política voltada para práticas anticorrupção e
antipropina?
A empresa expõe publicamente seus compromissos éticos por meio de
material institucional, pela internet ou de alguma outra forma?
Além de atuar de acordo com a legislação em vigor, a empresa dispõe de
conselho consultivo e suas demonstrações financeiras são auditadas?
A empresa segue práticas de preço e concorrência, cumprimento à
legislação, negando e evitando: pirataria, sonegação fiscal, contrabando,
adulteração de marcas e falsificação de produtos?
3.2.3.6. Passo 6: Identificar a existência de propaganda enganosa
Não se deve confiar cegamente na sustentabilidade dos produtos e processos
declarados pelos fornecedores, pois produtos certificados podem não apresentar um
desempenho adequado. Dessa forma, deve-se verificar os critérios adotados pela
certificação e a seriedade do processo com um todo. Vale ressaltar que a sustentabilidade
global da empresa possui mais valor do que a sustentabilidade individual do produto em
questão, já que pequenos avanços produzidos em grande escala geram mais benefícios do
que grandes avanços aplicados a uma pequena parcela da produção (CBCS, s.d.).
Abaixo são colocados alguns indícios de propaganda enganosa (CBCS, s.d.):
Disfarce de aspectos negativos do produto, destacando aspectos positivos:
Os problemas ambientais envolvidos ou limitações do produto são omitidos.
Falta de provas: O fornecedor não apresenta quaisquer documentos de
terceira parte que sustentem suas afirmações e que possam ser verificados.
Imprecisão: Informações genéricas e imprecisas, que geram dúvida quanto
ao real benefício ambiental do produto durante todo o seu ciclo de vida.
Irrelevância: São declarações que não contribuem para informar sobre o
desempenho do produto ou que anunciam como vantagens conquistas
ambientais disseminadas no mercado.
Meias verdades: O fornecedor apresenta declarações exageradas,
afirmações falsas ou apenas os resultados favoráveis.
46
O menos ruim: Apresentação de uma vantagem irrelevante para um produto
com desempenho ou eco-eficiência baixa.
3.2.4. Declaração ambiental do produto
A declaração ambiental do produto, ou EPD (do inglês, Environmental Product
Declaration) é um documento verificado de maneira independente e padronizado pela ISO
14025. A declaração tem o propósito de expor de maneira transparente e comparável todos
os impactos ambientais do produto ao longo de todo o seu ciclo de vida. Assim, a EPD age
de forma a fornecer uma base de comparação equitativa de produtos em relação ao seu
desempenho ambiental.
A norma ISO 14025 define declaração ambiental como dados ambientais
quantificados para um produto utilizando parâmetros pré-determinados e, quando
pertinentes, informações ambientais adicionais à Avaliação do ciclo de vida (ACV). Já a
norma ISO 21930 Sustentabilidade na construção civil - Declaração ambiental de produtos
de construção (do inglês, Sustainability in building construction – Environmental declaration
of building products) abrange padrões específicos para produtos da construção civil
(VANZOLINI, 2015b).
Vale ressaltar que a simples existência da declaração ambiental do produto não
garante um desempenho superior às demais alternativas, mas expõe de maneira
transparente os impactos ambientais presentes no ciclo de vida do produto. Dessa forma, é
necessária uma abordagem comparativa entre as diferentes declarações de maneira a
selecionar o produto com o ciclo de vida mais eco-eficiente.
3.2.5. Certificações RGMat
Além das outras certificações ambientais citadas anteriormente, de caráter mais
abrangente a todos os sistemas componentes de uma edificação, existem também selos
focados na avaliação de materiais de construção.
No Brasil, a Fundação Vanzolini é responsável pela certificação do selo RGMat
voltado para materiais de construções. A iniciativa tem a intenção de proporcionar
informações relevantes, verificadas e comparáveis sobre os aspectos ambientais, de
conforto e de saúde dos produtos e materiais da construção. Dessa maneira, visa a
possibilitar que os fabricantes demonstrem o desempenho ambiental de seus produtos, a
permitir aos empreendedores e projetistas melhores condições de selecionarem produtos
ambientalmente corretos e a favorecer que lojistas e consumidores identifiquem materiais
mais sustentáveis (RGMAT, 2013).
47
O selo exige que o material a ser certificado possua uma declaração ambiental de
produto e também tem como função permitir que o cliente em potencial possa atestar a
sustentabilidade do material sem que o mesmo disponha de conhecimentos técnicos para
realizar a correta interpretação contextual e comparativa dos dados presentes na ED.
48
4. Estratégias adotadas pelas construtoras com relação à seleção e uso de materiais
sustentáveis
A pesquisa realizada pelo CBCS (2014) abordou os critérios adotados para a
seleção de materiais de construção pelos profissionais do setor. O resultado evidencia que
os critérios de sustentabilidade do material ainda são muito pouco considerados no
momento da tomada de decisão pelos profissionais brasileiros. O resultado é apresentado
no Gráfico 6.
Gráfico 6 - Critérios adotados para a seleção de materiais de construção (CBCS, 2014).
A pesquisa também levantou as principais dificuldades enfrentadas pelos
profissionais do setor para se adotar o uso ferramentas para a seleção de materiais (Gráfico
7). Além disso os profissionais opinaram quanto as quais ferramentas auxiliariam mais
durante esse processo de escolha do produto (Gráfico 8).
49
Gráfico 7 - Dificuldades encontradas para a seleção de materiais de construção (CBCS,
2014).
Gráfico 8 - Ferramentas avaliadas como mais úteis para a seleção de materiais de
construção (CBCS, 2014).
Com base nos resultados apresentados pela pesquisa fica evidente que os critérios
sustentáveis ainda são muito pouco explorados pelos profissionais do setor, prevalecendo
ainda critérios como custo (74,4%), especificação de projeto (53,7%) e facilidade de
manutenção e durabilidade (ambos com 47%).
A falta de conhecimento e de informações disponíveis foram classificados como os
maiores dificultadores da prática da escolha do material sustentável. 55,9% opinaram como
o conhecimento da equipe ser o maior dificultador. Por último, apesar disso, a maioria
(61,8%) considerou a análise do ciclo de vida como a ferramenta mais útil para a seleção
dos materiais de construção.
50
Esses dados permitem inferir que, apesar de reconhecer os benefícios da escolha
consciente quanto aos impactos provenientes do ciclo de vida do material, esses critérios
ainda são muito pouco considerados no momento da tomada de decisão. Isso se deve,
provavelmente, devido à falta de conhecimento técnico entre os profissionais do setor e a
falta de acesso a informações necessárias à ACV.
51
5. Análise da sustentabilidade dos materiais de construção disponíveis no mercado
Nesta seção são analisados, com base nos critérios elencados no capítulo 3, os
diversos materiais de construção presentes no mercado nacional quanto à sustentabilidade.
Vale ressaltar as dificuldades encontradas no processo como a escassez de dados que
possibilitem adotar um critério objetivo para comparação do desempenho ambiental dos
diferentes materiais. Assim, a abordagem predominantemente adotada pautou-se na
análise dos materiais de construção cujos dados relevantes estavam disponíveis para a
consulta. Dessa maneira, buscou-se fazer uma análise comparativa e objetiva, frente às
diversas variáveis que permeiam o assunto.
Também vale ressaltar que, apesar da análise realizada não cobrir a totalidade dos
materiais utilizados nas edificações, a abrangência adotada permite a avaliação dos
materiais mais utilizados na construção civil. Os materiais avaliados são enumerados
abaixo:
1) Blocos de concreto para alvenaria estrutural;
2) Blocos de concreto para pavimento intertravado;
3) Blocos cerâmicos;
4) Concreto armado moldado in loco;
5) Telhas cerâmicas;
6) Telhas de concreto;
7) Cimento Portland;
8) Aço.
5.1 Materiais cerâmicos
5.1.1. Blocos de concreto
O CBCS (2014b), em parceria com a Associação Brasileira de Cimento Portland
(ABCP) e a Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto (Bloco Brasil),
desenvolveu um projeto para a avaliação de ciclo de vida modular voltada para os blocos de
concreto e pavimentos de concreto. A iniciativa teve a intenção levantar os impactos
ambientais causados pela indústria brasileira de materiais de construção e de servir como
base para um projeto piloto para o estabelecimento de uma plataforma nacional de ACV
simplificada no país.
Os blocos de concreto selecionados para o estudo foram blocos estruturais e de
vedação e blocos para pavimentos intertravados com 35 Mpa. Para tal foram estimadas
faixas para os cinco principais indicadores do setor de blocos de concreto: uso de materiais,
52
consumo de energia e água, emissão de CO2 e geração de resíduos no processo de
produção. Assim, foi feita a análise dos dados de 33 fábricas de blocos (Tabela 4),
localizadas em diferentes regiões do Brasil, e com as informações declaradas pelas
empresas, foram calculados os principais indicadores ambientais referentes aos produtos
mais representativos no mercado nacional (CBCS, 2014b).
Tabela 4 - Lista de empresas participantes, por estado da federação (CBCS, 2014b).
Empresa Estado
Arevale SP
Aroucatec SP
Calblock SP
Exactomm SP
Glasser SP
Intercity SP
JB Blocos SP
Prensil SP
Presto SP
Quitaúna SP
Tatu SP
Tinari SP
Casalit RJ
FLG RJ
Multibloco RJ
Pavibloco RJ
Pentágono RJ
Blojaf MG
Sigma MG
Uni Stein MG
Pavimenti - Filial PR
Pavimenti - Matriz
PR
Tecpaver PR
Valleblock PR
Vanderli Gai e Cia.
PR
Kerber SC
Vale do Selke SC
Votorantim SC
Prontomix RS
Tecmold RS
Civil BA
Original DF
53
O fluxograma da cadeia produtiva de blocos de concreto para pavimento e para
alvenaria é representado na Figura 5.
Figura 5 - Sistema de produto para a fabricação de blocos de concreto para pavimento e para alvenaria (CBCS, 2014b).
A seguir são apresentados alguns dados referentes aos principais indicadores
levantados pelo o estudo.
5.1.1.1. Blocos de concreto para pavimentação
As especificações referentes aos blocos de concreto para pavimentação analisados
são expostas na Tabela 5.
Tabela 5 - Blocos de concreto para pavimento selecionados para o estudo (CBCS, 2014b).
Produto Formato Espessura
(cm) Resistência
(MPa)
Blocos de concreto para pavimentação
(bcp)
Retangular
6
35
8
10
16 faces
6
8
10
54
O indicador de energia incorporada é composto pela energia total envolvida na
obtenção dos insumos e fabricação da peça, ou seja, a energia estimada para o transporte
das matérias-primas, a energia de extração e processamento das mesmas e a energia
utilizada no processo produtivo dos produtos. O Gráfico 9 apresenta, além dos valores que
limitam a faixa de energia incorporada, os resultados máximos (círculo vazado vermelho) e
mínimos (círculo vazado verde) estimados para cada empresa.
Gráfico 9 - Indicador de energia incorporada – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).
Assim como os indicadores de energia, o indicador de emissão de CO2 é composto
pela emissão total por peça, ou seja, a quantidade estimada procedente da queima de
combustíveis para o transporte das matérias-primas, extração e processamento das
mesmas e o CO2 emitido devido ao funcionamento da fábrica. O Gráfico 10 apresenta, além
dos valores que delimitam a faixa, os valores máximos (círculos vazados em vermelho) e
mínimos (círculos vazados em verde) estimados para cada empresa.
55
Gráfico 10 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).
Para o estudo do consumo de água no processo produtivo de blocos de concreto
foram solicitados dois tipos de informação: o consumo de água de composição do concreto
por peça (apenas dos produtos analisados) e o consumo total de água da fábrica por fonte
de origem. Os intervalos calculados com base nos consumos de água fornecidos pelas
empresas são apresentados na Tabela 6 e no Gráfico 11.
Tabela 6 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).
Quantidade de água de composição do concreto por peça (litro/pç)
Pç.ret.6 cm Pç.ret.8 cm Pç.ret.10 cm Pç.16f.6 cm Pç.16f.8 cm Pç.16f.10 cm
Máximo 0,43 0,51 0,49 0,53 0,7 0,91
Média 0,16 0,2 0,28 0,21 0,28 0,35
Mínimo 0,01 0,02 0,05 0,02 0,03 0,05
56
Gráfico 11 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos para pavimento de 35 MPa (CBCS, 2014b).
Por fim, os dados referentes às perdas e resíduos estão representados na Tabela 7.
Vale ressaltar que a forma como essa informação foi pedida gerou dúvidas quanto aos
dados a serem informados. Isso fez com que algumas empresas fornecessem dados de
resíduos cimentícios que saem da fábrica, enquanto outras passassem seus valores de
perdas de produção, que não necessariamente se tornam resíduos. Também é notável a
elevada taxa de reciclagem de seus resíduos, tanto os referentes às perdas de processo
quanto aos demais informados.
Tabela 7 - Levantamento do número de empresas que informaram dados de resíduos gerados no processo de fabricação dos blocos de concreto – cimentícios e outros (CBCS,
2014b).
Empresa Pallets Madeira Plásticos Papel e papelão
Tambores Óleo Graxa Estopa Sucata
metálica Material
cimentício
Informou dados
9 4 6 3 4 4 1 2 2 29
Recicla 7 4 4 2 3 3 1 2 2 28
Descarta 2 0 2 1 1 1 0 0 0 1
% recicla
77,8 100 66,7 66,7 75 75 100 100 100 96,6
57
5.1.1.2. Blocos de concreto para alvenaria
As especificações referentes aos blocos de concreto para alvenaria analisados são
expostas na Tabela 8.
Tabela 8 - Blocos estruturais e de vedação selecionados para o estudo (CBCS, 2014b).
Produto Tipo Largura
(cm) Comprimento (cm) Espessura (cm) Resistência (MPa)
Blocos de concreto
para alvenaria
Estrutural (bce)
14 39 19
4
6
8
10
12
Vedação (bcv)
14 39 19
2
9 2
O Gráfico 12 apresenta, além dos valores que limitam a faixa de energia
incorporada, os resultados máximos (círculo vazado vermelho) e mínimos (círculo vazado
verde) estimados para cada empresa.
Gráfico 12 - Indicador de energia incorporada – Blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).
58
O Gráfico 13 apresenta, além dos valores que delimitam a faixa de emissão de CO2,
os valores máximos (círculos vazados em vermelho) e mínimos (círculos vazados em verde)
estimados para cada empresa.
Os intervalos calculados com base nos consumos de água fornecidos pelas
empresas são apresentados na Tabela 9 e no Gráfico 14.
Tabela 9 - Quantidade de água de composição do concreto informada para os blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).
Quantidade de água de composição do concreto por peça (litro/pç)
Bl.est.4 MPa Bl.est.6 MPa Bl.est.8 MPa Bl.est.10 MPa Bl.est.12 MPa Bl.ved.14 cm
Bl.ved.9 cm
Máximo 2 2,08 2,11 2,14 2,18 1,36 1,36
Média 0,63 0,66 0,76 0,75 0,83 0,52 0,47
Mínimo 0,04 0,05 0,07 0,09 0,12 0,03 0,02
Gráfico 13 - Indicador de emissão de CO2 – Blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).
59
Gráfico 14 - Indicadores de consumo total de água da fábrica – Blocos estruturais e de vedação (CBCS, 2014b).
5.1.2. Blocos cerâmicos
A empresa Quantis preparou para Associação Nacional da Indústria Cerâmica,
ANCIER, em 2012, uma análise comparativa do ciclo de vida de paredes construídas com
blocos cerâmicos, blocos de concreto e concreto armado moldado in loco. A ACV foi feita
com base nos resultados quanto a cinco indicativos: mudanças climáticas, saúde humana,
qualidade do ecossistema, recursos e retirada de água. A análise levou em consideração os
impactos gerados pela construção de uma parede de um metro quadrado para cada
material utilizado.
O estudo em questão teve como objetivo os seguintes itens (QUANTIS, 2012):
1) Identificar e compreender os impactos ambientais sobre o ciclo de vida do bloco
cerâmico nas paredes exteriores no Brasil;
2) Comparar o desempenho ambiental com um dos blocos de concreto nas
paredes exteriores e concreto armado moldado in loco nas paredes exteriores no
Brasil;
3) Avaliar a influência dos pressupostos centrais e as variáveis selecionadas no
modelo, como a diferença da durabilidade da vida útil entre os três tipos de
material de construção considerados para a construção de paredes externas.
60
As principais características dos produtos estudados são identificadas pela Tabela
10.
Tabela 10 - Principais características dos produtos estudados (QUANTIS, 2012).
Características Blocos cerâmicos Blocos de concreto Concreto armado
Peso do bloco (kg) 7,5 12
Espessura da parede 0,14 0,14 0,12
Construção de parede (quantidade de material
por 1m² de fachada)
13 blocos 13 blocos 300 kg de concreto
15 kg de argamassa por ligante
15 kg de argamassa por ligante
9,48 kg de haste de aço
0,4 kg de haste de aço 0,4 kg de haste de aço 22,8 l de água
Argamassa para revestimento (quantidade
total/m² por parede)
62,5 kg de revestimento seco
62,5 kg de revestimento seco
0
5,75 l de água 5,75 l de água 0
Formas para estrutura de suporte (kg/m²)
Nenhuma Nenhuma 0,063 kg de alumínio
Vida útil (anos) 40 40 40
As cadeias de produção dos materiais de construção estudados estão
esquematizadas nas Figuras 6, 7 e 8.
Figura 6 - Ciclo de vida de paredes de blocos cerâmicos (QUANTIS, 2012).
61
Figura 7 - Ciclo de vida de paredes de blocos de concreto (QUANTIS, 2012).
Figura 8 - Ciclo de vida de paredes de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).
62
A descrição geral do sistema com o levantamento de todos os processos pertinentes
ao ciclo de vida de cada um dos três materiais analisados se encontra nas Tabelas 11, 12,
13 e 14.
Tabela 11 - Descrição geral do sistema – Extração de matéria prima (QUANTIS, 2012).
Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in
loco
Extração de matéria prima
Os blocos cerâmicos são feitos de argila com adição de
água.
Os blocos de concreto são feitos de areia, cimento,
pedra britada e água.
O concreto armado moldado in loco é feito de areia,
cimento e água, derramado entre as varas de aço.
A extração de argila é realizada com
retroescavadeiras, pás carregadeiras e escavadeiras
A areia é extraída dos poços de areia dos leitos dos rios. A areia artificial também pode
ser produzida por esmagamento de rochas.
Areia e cimento são produzidos da mesma
maneira que os blocos de concreto. A água é
adicionada para a mistura do concreto na fábrica. Os
aditivos são feitos de resina de melamineformaldehyde
(29% de formaldehyde, 71% de melanina).
A argila endurecida, chamada no Brasil de “argilito" 3, por ser de mais qualidade, pode ser escavada por meio de
jateamento.
A principal matéria prima para a produção de cimento é a extração de calcário, que
normalmente é retirado de pedreiras abertas, no Brasil, com o uso de explosivos. A argila, o outro ingrediente
usado na produção de cimento, é extraída da
mesma forma que a argila usada na fabricação de
blocos cerâmicos.
As formas utilizadas são feitas de alumínio. Embora o ferro galvanizado ou o aço
possam ser usados nas formas, as de alumínio são as
mais comuns no mercado brasileiro. São usados dados
genéricos na produção primária de alumínio, que são
a média do alumínio consumido na Europa. Isto
inclui a produção de lingotes de alumínio fundido (na fábrica), transporte do material até a fábrica e
armazenagem de resíduos.
Matéria prima para argamassa
Argamassa é feita de uma mistura de cimento, cal e areia com adição de água (no local da construção). A cal é produzida pela calcinação do calcário. A areia, o calcário e o cimento são
produzidos da mesma maneira que o concreto (veja acima).
Matéria prima para extração das hastes de aço
63
A estrutura armada ou as hastes são feitas de aço produzido do minério de ferro. A princípio o minério de ferro é extraído de minas a céu aberto no Brasil. Durante a fabricação, impurezas como o enxofre, fósforo e o excesso de carbono são removidos do ferro bruto. A fabricação primária do aço é feita em forno básico de oxigênio (BOF), e a fabricação secundária do aço (derretimento do minério de ferro e sucata de ferro para reciclagem) é feita em um forno de arco elétrico (EAF). O aço mundial é constituído por 70% de aço do BOF e 30% do EAF F.
Tabela 12 - Descrição geral do sistema – Transporte de matéria prima (QUANTIS, 2012).
Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in
loco
Transporte
Os caminhões rodam um total de 54 km, cada viagem, entre o local de extração da argila
até a fábrica.
A areia, o calcário e a argila extraídos são transportados
por mais de 150 km de caminhão até a fábrica de
cimento. Depois, o cimento é transportado por mais de 300
km até a fábrica de blocos.
O calcário extraído e a argila são transportados mais de 150 km por caminhão até
chegar à fábrica de cimento.
Transporte dos ingredientes da argamassa
A areia e a argamassa, como matéria‐prima, são transportadas por mais de 150 km de
caminhão para a fábrica de pré‐mistura da argamassa. O cimento, como matéria‐prima, é
transportado por mais de 300 km por caminhão para a fábrica de pré‐mistura de argamassa.
Tabela 13 - Descrição geral do sistema – Fabricação (QUANTIS, 2012).
Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in
loco
Fabricação
Preparação de argila Britamentos e moagem Produção da mistura de
cimento
Massa
O calcário é esmagado antes de ser mantido em compartimentos de
armazenamento, juntamente com a argila. Em seguida, a mistura de calcário (90%) e argila (10%) é esmagada no
moinho de cimento. A mistura do cru cimenteiro, de calcário
e argila produzida sofre moagem para reduzir o
tamanho das partículas a uma média de 0,050mm. A
mistura natural adequadamente dosada com
um material de fineza desejada, conhecida como
farinha, é homogeneizada em grandes silos verticais através de processos
pneumáticos e de gravidade.
O mesmo para a produção de blocos de concreto (trituração
e moagem, clinquerização, resfriamento, trituração
(adição).
O preparo é realizado com uma pá mecânica de
carregamento e de mistura. Clinquerização Mistura
64
Modelagem
A farinha é introduzida no forno antes de passar por preaquecedores que se aproveitam de fornos de
recuperação de calor para promover o aquecimento
inicial do material. No forno rotativo a mistura é calcinada até 1450°C, resultando em
cimento.
Seguindo a armazenagem inicial em silo, é feita uma mistura de cimento (20%), areia (70%) e água (10%) para produzir o cimento
molhado.
Os blocos são moldados usando uma variedade de equipamentos (tais como
moldes) e trabalho manual.
Resfriamento Produção de hastes de aço
Secagem
Um refrigerador reduz a temperatura para cerca de 80°C. Segue então para
armazenamento.
O produto semifinal da produção de aço é
processado como segue:
A fase de secagem permite a redução da permite a redução
da conteúdo de 25% para 30% em massa. É usado o
calor recuperado da etapa de queima.
Moagem (adição) ‐ retirada;
Queima
O cimento é misturado com gesso e produtos químicos
armazenados separadamente até que entram no moinho de cimento, onde os aditivos são
misturados, resultando na mistura de cimento
comercializado.
‐ moagem;
Os blocos são cozidos na etapa da queima para
transformar o material em resultado sólido. É
processado nos altos fornos por queima de lascas de
madeira (ou outro material residual orgânico) fornecidas como resíduos de produtos da indústria de móvel. Há uma perda de 1,5% que é
reprocessada e incorporada na massa (mais de 5%) ou vendida para terrenos de
quadra de tênis (avaliado em menos de 1% do peso total,
excluído).
Mistura ‐ aquecimento;
Embalagem
Depois do armazenamento inicial em silos, é feita uma mistura de cimento (20%), areia (70%) e água (10%) para produzir o cimento
molhado.
‐ descalcificação; e
Os blocos são embalados (nas paletas, ou embrulhados
em folhas plásticas). Modelagem e secagem ‐ laminagem.
Os blocos são moldados e
secam naturalmente.
A laminagem quente faz com que a estrutura de grãos
grossos se recristalize em uma estrutura de grão muito
mais fina, dando grande tenacidade e resistência ao
choque, e força tênsil.
Embalagem
Os blocos são embalados em
65
paletas.
Produção de argamassa
Proporção e mistura
É feita uma mistura de cimento (15%), calcário (9%) e areia (76%) para produzir
argamassa seca.
Transporte
A mistura seca é feita nas correias transportadoras para
o setor de embalagem.
Embalagem
A mistura seca é embalada em sacos de papel e então
paletizada.
Tabela 14 - Descrição geral do sistema – Distribuição, uso e fim de vida (QUANTIS, 2012).
Bloco cerâmico Bloco de concreto Concreto armado moldado in loco
Distribuição
Os blocos são transportados por caminhão até o
armazenamento percorrendo uma de distância média de 50 km, e então percorrem mais 5
km até chegar ao cliente. É considerada uma perda de
1% nesta fase. A pré‐mistura
de argamassa é transportada de caminhão por mais de 25
km até o cliente final. As hastes de aço são
transportadas por mais de 800 km até o consumidor
final.
Os blocos são transportados por caminhão até o
armazenamento percorrendo uma distância média de 50 km, e então percorrem mais
de 5 km até o cliente. É considerada uma perda de
1% nesta fase. A pré‐mistura
de argamassa é transportada de caminhão por mais de 25
km até o cliente final. As hastes de aço são
transportadas mais de 800 km até o consumidor final.
O concreto molhado é transportado por mais de 25 km até o consumidor final
em um caminhão betoneira. É considerada uma perda de 4%. O
caminhão fica funcionando durante 2 horas controlando a bomba para escoar
o concreto. As hastes de aço são transportadas por mais de 800 km até o consumidor final, a forma de alumínio mais 1000 km e os aditivos mais 1000
km.
Uso
Os blocos são assentados manualmente. É
acrescentado 8% de água à pré‐mistura da argamassa
seca (92%) e a mistura é feita manualmente. A argamassa é
assentada manualmente
Os blocos são assentados manualmente. É
acrescentado 8% de água à pré‐mistura da argamassa
seca (92%) e a mistura é feita manualmente. A argamassa é
assentada manualmente.
concreto molhado é despejado nas hastes de aço em uma forma de trabalho. Para o escoamento do concreto, o caminhão betoneira
permanece em funcionamento e usa a bomba para escoar concreto no local. O consumo de combustível e a emissão
do caminhão associado ao escoamento do concreto são calculados com um
modelo de equipamento não rodoviário desenvolvido por US EPA
(http://www.epa.gov/otaq/nonrdmdl.htm). Presume‐se que a força do motor do
caminhão seja de 300 HP.
Fim da vida
A parede é destruída e os resíduos são enviados para
aterros. A distância de transporte de 50 km está
incluída nesta fase.
A parede é destruída e os resíduos são enviados para
aterros. A distância de transporte de 50 km está
incluída nesta fase.
A parede é destruída e os resíduos são enviados para aterros. A distância de
transporte de 50 km está incluída nesta fase.
66
Os cinco indicadores da ACV foram calculados de forma normativa, com o intuito de
servir como critério comparativo entre os três materiais de construções abordados. Assim, o
resultado de cada indicador é calculado com base nas equações abaixo:
% = (𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜 − 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑐𝑒𝑟â𝑚𝑖𝑐𝑜)
𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑐𝑒𝑟â𝑚𝑖𝑐𝑜
% = (𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜 𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜 − 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜 𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜)
𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜𝑏𝑙𝑜𝑐𝑜 𝑐𝑒𝑟â𝑚𝑖𝑐𝑜
Com base nesse método, os resultados obtidos para cada etapa do ciclo de vida e
cada
Entre os resultados avaliados, vale ressaltar que os blocos cerâmicos têm menor
impacto nas Mudanças Climáticas do que os equivalentes de concreto. Em 32,1 kg
CO2eq/m², as emissões dos gases de efeito estufa sobre o ciclo de vida de um metro
quadrado da parede são aproximadamente metade dos de um metro quadrado da parede
de bloco de concreto e um terço da de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).
Já na classificação do Esgotamento de Recursos da parede de blocos cerâmicos,
que se refere principalmente por uma energia não renovável, é também classificada por
volta da metade de consumo da parede de bloco de concreto e por volta de 37% para a
parede de concreto armado moldado in loco (QUANTIS, 2012).
Gráfico 15 - Comparação do impacto ambiental nas diferentes fases do ciclo de vida (QUANTIS, 2012).
67
O indicador de Retirada de Água mostra a mesma tendência para a comparação de
blocos cerâmicos versus blocos de concreto, com os blocos cerâmicos aparentemente
exigindo uma quantidade menor de retirada de água do que uma parede de blocos de
concreto. Da mesma forma, a parede de blocos cerâmicos requer menos quantidade de
água do que uma parede de concreto armado moldado in loco em seu ciclo de vida.
Em relação à Saúde Humana e Qualidade do Ecossistema, a diferença entre os
materiais das paredes é menor do que as incertezas relatadas no modelo de pressupostos
de impacto.
Com base nesses resultados pode-se afirmar que, em termos gerais, uma parede de
bloco cerâmico tem menos impacto do que a parede de bloco de concreto em todas as
categorias.
5.1.3. Telhas cerâmicas
Um comparativo análogo à ACV do item anterior também foi realizado, pela Quantis,
para as telhas cerâmicas frente às telhas de concreto. Também de forma semelhante, essa
investigação tem como propósito os seguintes itens a seguir (QUANTIS, 2012):
1) Identificar e compreender os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida de
telhas de cerâmica no Brasil;
2) Comparar o seu desempenho ambiental com o das telhas de concreto no Brasil;
3) Avaliar a influência dos pressupostos centrais e das variáveis selecionadas no
modelo, tal como a vida útil das telhas e as diferenças de isolamento térmico
entre os dois tipos de telhas.
As principais características dos produtos abordados nesse estudo estão alocadas
na Tabela 15.
Tabela 15 - Principais características das telhas estudadas (QUANTIS, 2012).
Características Telhas Cerâmicas Telhas de Concreto
Peso (kg) 2,4 4,5
Cobertura do telhado (telhas/m2) 16 10,4
Vida útil (anos) 20 20
As etapas do ciclo de vida dos materiais de construção investigados estão
apresentadas nas Figuras 9 e 10.
68
Figura 9 - Ciclo de vida das telhas cerâmicas (QUANTIS, 2012).
69
Figura 10 - Ciclo de vida das telhas de concreto (QUANTIS, 2012).
A descrição geral do sistema com os processos pertinentes à ACV para as telhas
cerâmicas e telhas de concreto é muito semelhante aos blocos cerâmicos e blocos de
concreto e, por esse motivo, não está exposta no presente trabalho.
Os resultados obtidos pela análise comparativa dos cinco indicativos da ACV (Figura
5.14) revelou que as telhas cerâmicas tem impacto menor na Mudança Climática e
Esgotamento de Recursos do que seus equivalentes de concreto. Em 4.97 kg CO2eq/m2,
as emissões de GEE no ciclo de vida de um metro quadrado de telha cerâmica são
aproximadamente um terço das emissões de um metro quadrado de telha de concreto. O
Esgotamento dos Recursos pelas telhas cerâmicas, que se refere especialmente ao
consumo de energia não-renovável é aproximadamente 40% menor que o das telhas de
concreto (QUANTIS, 2012).
O indicador de Retirada de Água também mostra a mesma tendência, mas sua
importância deve ser considerada com cuidado, considerando-se o inventário genérico de
dados, incompleto e menos confiável para uso da água. Pode-se observar, entretanto, que
70
as telhas de cerâmica parecem exigir muito menos retirada de água do que os equivalentes
de concreto (QUANTIS, 2012).
No tocante aos danos à Saúde Humana e à Qualidade do Ecossistema, a diferença
entre as telhas é menor do que a incerteza relacionada ao modelo de avaliação do impacto.
Assim, para estes dois indicadores, uma opção não pode ser preponderante à outra.
Com base nesses resultados pode-se afirmar que, em termos gerais, que as telhas
cerâmicas são responsáveis por um impacto menor do que as telhas de concreto em quase
todas as categorias.
Gráfico 16 - Comparativo do impacto ambiental das etapas do ciclo de vida das telhas cerâmicas e das telhas de concreto (QUANTIS, 2012).
5.1.4. Cimento
A produção do cimento é a terceira maior causa de emissão antropogênica de CO2
no planeta (JUSTNES, 2015). Em 2003 esse valor representou 5% do total das emissões de
origem humana (DAMINELLI et al, 2010). Isso se deve em grande parte pelo fraco
desempenho ambiental do clínquer de cimento Portland. Dessa maneira, opções
ambientalmente mais sustentáveis são aquelas com cimentos com baixo teor de clínquer ou
aqueles onde haja substituição parcial de cimento Portland por materiais com
características pozolânicas ou hidráulicas (Metha, 2001).
71
JOHN (2003) relata que a mistura do clínquer com outros materiais, como cinzas
volantes e escórias de alto forno, reduz as emissões de CO2 e aumenta a eficiência
energética durante a produção do cimento.
Ainda segundo JOHN (2003), os concretos tipicamente contêm de 8 a 15% de
cimento, 2 a 5% de água, aproximadamente 80% de agregados e menos de 0,1% de
aditivos. Apesar de sua parcela expressiva na composição do produto, os agregados
naturais e reciclados são responsáveis por menos de 3% das emissões totais e do consumo
de energia na produção do concreto (VARES & HAKINNEN, 1998). Assim, o conteúdo de
cimento e sua composição, a ser determinados pelos projetistas, dita a sua carga ambiental
(Gráfico 17).
Gráfico 17 - Consumo de energia na produção de concreto (TORGAL & JALALI, 2010).
O cimento Portland, que atua como material ligante na confecção do concreto, está
associado a elevados impactos ambientais devido à extração de matérias primas não
renováveis (como calcários e argilas), utilizadas na sua produção. Além disso, é
responsável por elevadas taxas de emissão de carbono já que durante a sua produção
ocorrem emissões de CO2 através da descarbonização do calcário (CaCO3), de acordo com
a reação abaixo (GARTNER, 2004):
3CaCO3 + SiO2 → Ca3SiO5 + 3CO2
Assim, para cada tonelada de clínquer gerado serão emitidos para a atmosfera 579
kg de CO2, independentemente da eficiência do processo utilizado. A este valor é ainda
necessário somar aproximadamente 390 kg de CO2 devidos à utilização de combustíveis
fósseis consumidos durante a produção do clínquer (TORGAL & JALALI, 2010).
72
JUSTNES (2015) enumera três estratégias para se aumentar a sustentabilidade do
concreto. São elas:
1) Substituir o cimento no concreto por maiores quantidades que o usual de
materiais suplementares ao cimento (SCM);
2) Substituir o cimento no concreto por combinações de SCM que levem a reações
sinérgicas de ganho de resistência;
3) Produzir concreto mais leve, com menos cimento por metro cúbico, através do
uso de plastificantes.
A Figura 11 sintetiza as etapas da produção do cimento Portland. Abaixo são
atribuídas explicações mais detalhadas para as etapas do processo:
Figura 11- Etapas de produção do cimento Portland (ABCP, s.d.).
1) Extração: O calcário é a principal matéria prima para a fabricação do cimento e
sua extração pode ser feita em jazidas subterrâneas ou a céu aberto, como é
73
mais comum no Brasil. O material é extraído da rocha com o uso de explosivos,
assim como a argila;
2) Britagem: Na próxima etapa, o calcário extraído é transportado com o auxílio de
caminhões até a instalação de britagem, onde tem suas dimensões reduzidas
para se adequar às dimensões de processamento industrial. Durante esse
processo diversas impurezas presentes no calcário são eliminadas. Já a argila,
por ser mole, não passa pela britagem;
3) Depósito: A seguir, é feita a estocagem da argila e calcário de forma separada. É
feita a pré-homogeneização com o auxílio de um equipamento. É nesta fase,
também, que são realizados diversos ensaios com a matéria prima de forma a
atestar a sua qualidade;
4) Dosagem: Nesta fase, o composto de calcário e argila é dosado, com base em
parâmetros químicos preestabelecidos, para ser triturado no moinho de cru;
5) Moinho de cru: A mistura de calcário e argila, denominada farinha, é submetida à
moagem realizada no moinho de cru, onde ocorre a homogeneização e a
pulverização da matéria prima;
6) Silos de homogeneização: A farinha é então misturada de forma homogênea em
silos verticais de grande porte, através de processos pneumáticos e por
gravidade;
7) Forno: A farinha, após passar por pré-aquecedores, é introduzida no forno para
ser calcinada até 1450ºC, resultando no clínquer;
8) Resfriador: A clinquerização se completa nessa etapa, através da redução da
temperatura no resfriador a 80ºC. Ocorre uma série de reações químicas a
influenciar na resistência do concreto nas primeiras idades, o calor de
hidratação, o início de pega e a estabilidade química dos compostos;
9) Depósito de clínquer: A principal matéria prima do cimento fica armazenada em
silos, aguardando a próxima etapa;
10) Adições: Junto com o clínquer, adições de gesso, escória de alto forno,
pozolana e o próprio calcário compõem os diversos tipos de cimento Portland.
Essas substâncias são estocadas separadamente antes de entrarem no moinho
de cimento;
11) Moinho de cimento: É após a moagem final que o clínquer, adicionado ao gesso
ou outras adições, resulta no cimento tal como é conhecido.
Com o objetivo de avaliar os impactos do ciclo de vida do processo de fabricação do
cimento Portland no Brasil, GUERREIRO (2014) aplicou, através do uso de um software
74
específico, uma ACV voltada para o sistema produtivo de cimento no Brasil. A unidade
funcional adotada para o estudo foi de uma tonelada de cimento produzido.
Para se realizar tal análise foram consideradas as etapas do processo
representadas pela Figura 12. Vale notar que a análise não considerou as etapas de
comercialização, distribuição e descarte do produto não foram consideradas.
Os tipos de cimento Portland foram escolhidos, ainda por GUERREIRO (2014), a
partir de suas participações no mercado brasileiro. A Tabela 16 ilustra as especificações
desses produtos.
Figura 12 - Sistema de produto da fabricação do cimento Portland (GUERREIRO,
2014).
75
Tabela 16 - Tipos de cimento da indústria brasileira e europeia, composição e
participação no mercado (GUERREIRO, 2014).
Tipo de cimento Abreviatura Clínquer + sulfato de
cálcio (limites superior e inferior)
Adições minerais Participação de
mercado (%) Fonte
Norma brasileira
Cimento Portland
referência CP REF 67% escória de alto forno - WBCSD
Cimento Portland
composto
CP II-E 94 - 56%/75% escória de alto forno
61,10% NBR
11578 CP II-F 94 - 90%/92% material carbonático
CP II-Z 94 - 76%/85% material pozolânico
Cimento Portland de alto
forno CP III 65 - 25%/45% escória de alto forno 15,40% NBR 5735
Cimento Portland
pozolânico CP IV 85 - 45%/65% material pozolânico 14,80% NBR 573
Norma europeia
Cimento Portland
composto
CEM II/B-S 94 - 65% escória de alto forno
57%
EN 197-1
CEM II/A-L 94-80% material carbonático
CEM II/A-P 79-65% material pozolânico
Cimento de alto forno
CEM III/A 64-35% escória de alto forno 5%
Cimento pozolânico
CEM IV/A 65-89% material pozolânico 6%
Os resultados obtidos a partir da análise são exibidos na Tabela 17.
76
Tabela 17 - Avaliação dos impactos ambientais do processo de fabricação da indústria
cimenteira brasileira e europeia (GUERREIRO, 2014).
Cimento Portland
Aquecimento Global
(kg CO2 -eq)
Acidificação (kg SO2 -
eq)
Eutrofização (kg PO4 -
eq)
Depleção da Camada de Ozônio
(kg CFC-11 -eq)
Oxidação fotoquímica (kg C2H4 -
eq)
Depleção de
recursos não-
renováveis (kg Sb -eq)
Demanda de energia acumulada
(MJ -eq)
Tipos de Cimento - Indústria Brasileira
CP REF 639 1,254 0,201 0,00003621 0,04823 1,941 4,56
CP II-E 704,5 1,387 0,22 0,00003992 0,05256 2,141 3,609
CP II-F 871,2 1,702 0,268 0,00004935 0,06506 2,634 7,039
CP II-Z 806,7 1,57 0,248 0,0000456 0,06029 2,436 3,613
CP III 456,8 0,996 0,156 0,00002712 0,0392 1,466 3,465
CP IV 634,1 1,315 0,206 0,00003686 0,05065 1,975 1,386
Tipos de cimento - Indústria Europeia
CEM II/B-S
687,5 1,127 0,229 0,0000171 0,0368 1,332 3,368
CEM II/A-L
718,9 1,172 0,234 0,0000178 0,0381 1,38 3,377
CEM II/A-P
754,6 1,225 0,247 0,0000185 0,0399 1,447 3,613
CEM III/A
449,3 0,84 0,154 0,0000129 0,0287 0,96 3,613
CEM IV/A
683,5 1,193 0,233 0,0000183 0,0396 1,386 3,426
A fim de se fazer a análise comparativa entre os impactos ambientais gerados por
cada tipo de cimento, foi adotado o cimento CP REF como referência, de forma a
representar a indústria brasileira. Os indicativos utilizados para o cálculo dos impactos são
explicados abaixo:
1) Mudanças climáticas: determina os potenciais de impactos a partir de
quantitativos de gases do efeito estufa, como CO2, N2O e aerossóis;
2) Depleção da camada de ozônio: representa a exaustão da camada de ozônio,
cujos impactos podem causar danos futuros ao meio ambiente;
3) Acidificação: está relacionado à emissão de óxidos de nitrogênio e enxofre à
atmosfera;
4) Eutrofização: representa os potenciais de impactos referentes às emissões de
nutrientes ao solo e aos corpos d’água, principalmente, de nitratos e óxidos de
fósforo;
5) Depleção de recursos naturais: representa a utilização de recursos naturais.
77
Os valores obtidos para cada indicativo foram normalizados e são apresentados no
Gráfico 18.
O Gráfico 19 representa a relação clínquer/cimento para cada tipo de cimento
estudado. Comparando-se o Gráfico 19 com o Gráfico 18, fica evidente a influência do
clínquer para o agravamento dos impactos ambientais na produção do cimento. Assim, o
estudo indica que quanto maior a relação clínquer/cimento maior serão os impactos
ambientais associados.
Gráfico 18 - Relação entre cimentos da indústria brasileira pelos impactos
ambientais resultantes (GUERREIRO, 2014).
78
5.2. Aço
O aço como material de construção possui a vantagem de ser 100% reciclável.
Assim, ao término da vida útil da edificação, o metal pode retornar aos fornos sob forma de
sucata e se tornar um novo aço, sem perda de qualidade.
O sistema construtivo baseado em estruturas de aço utiliza tecnologia limpa,
reduzindo sensivelmente os impactos ambientais na etapa de construção e, concluída a
etapa construtiva, garante segurança e conforto aos ocupantes da edificação.
Dentro do conceito de construção sustentável, o aço como material de construção
possui diversos aspectos favoráveis, como os quais (CBCA, 2016):
1) Uso de coprodutos: os coprodutos resultantes da produção do aço também
podem ser utilizados na construção civil. Os agregados siderúrgicos são usados
na produção de cimento e podem ser empregados na pavimentação de vias e
como lastro em ferrovias;
2) Economia de tempo na execução: o aço permite maior velocidade da
construção, visto que os componentes, na sua maioria, são produzidos fora do
canteiro de obra. O tempo de construção é mais curto, minimizando os
incômodos causados à vizinhança;
3) Economia materiais e diminui os impactos: o menor peso da estrutura em aço
reduz as fundações e escavações, gerando menor retirada de terra que,
consequentemente, diminui as viagens de caminhões para sua remoção e a
necessidade de áreas para descarte;
Gráfico 19 - Relação clínquer/cimento dos tipos de cimento avaliados na ACV
(GUERREIRO, 2014).
79
4) Maximiza a iluminação natural com economia de energia: a alta resistência do
aço permite estruturas com vãos mais amplos. Telhados e fachadas leves e
transparentes favorecem a iluminação natural e, consequentemente, a economia
de energia elétrica;
5) Durabilidade: existem diversas maneiras de proteção efetiva do aço contra
corrosão, seja por meio de revestimento metálico ou pintura, ou ambos, que são
cada vez mais aplicados diretamente às chapas ou à estrutura durante o
processo de fabricação;
6) Flexibilidade: edificações com estrutura em aço oferecem máxima liberdade ao
empreendimento, tanto na fase de operação como em futuras adaptações. As
construções podem ser facilmente modificadas ou ampliadas para se adaptarem
a novos usos;
7) O aço é infinitamente reciclável: o aço pode ser reciclado em sua totalidade sem
perder nenhuma de suas qualidades. Devido a suas propriedades magnéticas,
que não são encontradas em nenhum outro material, o aço é facilmente
separado de outros materiais, possibilitando elevados índices de reciclagem.
No entanto, para se realizar uma abordagem mais completa quanto a
sustentabilidade do material, os impactos na fase de produção não podem ser ignorados.
Para se levantar os impactos ambientais da produção do aço no Brasil, o Instituto
Aço Brasil, publicou o seu relatório de sustentabilidade em 2014. Os indicativos
relacionados são apresentados nos Gráficos 20 e 21 e na Tabela 18 (AÇO BRASIL, 2013).
Gráfico 20 - Destinação dos coprodutos e resíduos em 2013 (AÇO BRASIL, 2013).
88%
6%6%
Destinação dos coprodutos e resíduos em 2013
Reaproveitamento Disposição final Estoque
80
Gráfico 21 - Matriz energética em 2013 (AÇO BRASIL, 2013).
Tabela 18 - Emissões de GEE (AÇO BRASIL, 2013).
Emissões 2011 2012 2013
Emissão absoluta (10³t CO2)
49472 49779 50763
Emissão específica (t CO2 / t aço bruto)
1,7 1,7 1,7
A Associação Mundial do Aço (do inglês, World Steel Association) publicou dados
referentes aos impactos ambientais do setor a nível global. Os indicativos referentes são
exibidos na Tabela 19.
Tabela 19 - Indicativos globais do desempenho da indústria do aço (WORLDSTEEL,
2014).
Desempenho ambiental
Emissões de Efeito Estufa (tonelada de CO2/tonelada de aço bruto)
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
1,6 1,7 1,7 1,7 1,8 1,8 1,8 1,8 1,7 1,8 1,8 1,9
Intensidade energética (GJ/tonelada de aço bruto)
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
19,0 19,1 20,0 20,6 20,8 20,8 20,1 20,7 19,6 20,0 20,1 20,4
Aproveitamento de materiais (% de materiais convertidos em produtos e subprodutos)
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
97,1 96,1 97,9 97,2 97,9 98,0 97,9 97,7 94,4 96,5 96,4 97,3
74%
14%
7%5%
Matriz energética em 2013
Carvão mineral / coque Derivados de petróleo
Carvão vegetal Energia elétrica
81
Comparando os dados das emissões de CO2 provenientes da produção do aço com
a estimativa dada por LIMA (2010) para emissões de 659 kgCO2/t para a produção do
cimento, podemos concluir que a produção de aço no Brasil possui um elevado impacto
ambiental.
No contexto de novas construções, BURGAN & SANSOM (2006), avaliam que o uso
do aço como material construtivo pode contribuir para a sustentabilidade da maneira que,
devido a possibilitar um método construtivo mais industrializado, a construção com
estruturas metálicas permite o ganho em produtividade, segurança e mitigação de perdas
de material.
82
6. Conclusões
Tendo em vista as questões apresentadas nesse trabalho, fica evidente a
necessidade de melhoria no setor da construção civil brasileiro. Apesar da consciência
ambiental entre os profissionais dar evidências de que está despertando, a sustentabilidade
na indústria da construção parece ainda estar aquém do ideal.
A escassez de informações e a grande variedade de fatores subjetivos relevantes à
questão da construção sustentável foram os principais desafios desse estudo. Assim,
buscou-se fazer uma análise dos materiais com o uso de critérios mais objetivos,
principalmente a ACV, que se mostrou uma ótima ferramenta para se avaliar o grau de
sustentabilidade dos materiais. No entanto, a bibliografia disponível sobre ACV em materiais
de construção brasileiros ainda é muito pequena, o que provavelmente se deve ao fato de o
sistema de banco de dados do PBACV ainda não estar devidamente implementado. Isso foi
um fator que restringiu a abrangência dos materiais analisados nesse trabalho. Assim, uma
sugestão para trabalhos futuros seria o uso da ferramenta de ACV para quantificar os
impactos gerados por outros materiais não encontrados na pesquisa bibliográfica, como
materiais de acabamento.
Outra possibilidade para trabalhos futuros seria um levantamento mais amplo e uma
análise comparativa das diversas certificações ambientais utilizadas pela construção civil.
É digno de nota o importante trabalho desenvolvido pelo CBCS na divulgação do
tema e no incentivo a políticas que vem se mostrando eficientes, como a ACV-m. Outras
iniciativas de destaques são o PBQP-H, atuando no combate à informalidade e no aumento
de qualidade do setor, e as certificações ambientais, como o selo azul da Caixa, Processo
AQUA e Procel Edifica, além de outras não citadas nesse trabalho.
Vale ressaltar que o foco neste trabalho foi a análise da sustentabilidade dos
materiais frente aos impactos ambientais referentes à sua produção. Diversos outros fatores
também possuem influência relevante sobre o grau de sustentabilidade dos materiais de
construção. Impactos ambientais nas fases de uso e pós-uso, durabilidade, impactos
socioeconômicas, entre outros, também possuem papel importante para os critérios de
seleção de materiais.
Por último, a partir dos dados levantados, pode-se concluir que os materiais
cerâmicos (blocos e telhas) podem ser considerados uma alternativa interessante para a
construção sustentável devido ao seu bom desempenho perante seus concorrentes. Outra
opção que se mostrou interessante foi o cimento Portland CP III que, devido ao seu teor
83
reduzido de clínquer, obteve os melhores resultados nos indicativos apurados para o
cimento.
84
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