aspectos imunolÓgicos celulares e humorais na...

166
Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz Instituto René Rachou ASPECTOS IMUNOLÓGICOS CELULARES E HUMORAIS NA FASE CRÔNICA DA DOENÇA DE CHAGAS Pós-graduação em Ciências da Saúde Biologia Celular e Molecular TESE DE DOUTORADO Danielle Marquete Vitelli Avelar Laboratório de Biomarcadores de Diagnóstico e Monitoração - IRR/FIOCRUZ Belo Horizonte Março de 2008 Orientador: Dr. Olindo Assis Martins Filho Co-orientadora: Dra. Silvana Maria Elói Santos

Upload: vanphuc

Post on 21-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Ministrio da SadeFundao Oswaldo CruzInstituto Ren Rachou

    ASPECTOS IMUNOLGICOS CELULARES E HUMORAIS NA

    FASE CRNICA DA DOENA DE CHAGAS

    Ps-graduao em Cincias da Sade

    Biologia Celular e Molecular

    TESE DE DOUTORADO

    Danielle Marquete Vitelli Avelar

    Laboratrio de Biomarcadores de Diagnstico e Monitorao - IRR/FIOCRUZ

    Belo Horizonte

    Maro de 2008

    Orientador: Dr. Olindo Assis Martins Filho

    Co-orientadora: Dra. Silvana Maria Eli Santos

  • DANIELLE MARQUETE VITELLI AVELAR

    ASPECTOS IMUNOLGICOS CELULARES E HUMORAIS NA

    FASE CRNICA DA DOENA DE CHAGAS

    Orientador: Dr. Olindo Assis Martins Filho

    Co-orientadora: Dra. Silvana Maria Eli Santos

    Belo Horizonte, 26 de Maro de 2008.

    Ps-graduao em Cincias da Sade

    Biologia Celular e Molecular

    EXAMINADORES

    Dr. Paulo Renato Zuquim Antas IOC/FIOCRUZ

    Dra. Walderez Ornelas Dutra ICB/UFMG

    Dra. Juliana de Assis Silva Gomes Estanislau IRR/FIOCRUZ

    Dr. Marco Antnio da Silva Campos IRR/FIOCRUZ

    Dra. Cristiana Toscano Fonseca IRR/FIOCRUZ (suplente)

    Ministrio da SadeFundao Oswaldo CruzInstituto Ren Rachou

  • Catalogao-na-fonte Rede de Bibliotecas da FIOCRUZ Biblioteca do CPqRR Segemar Oliveira Magalhes CRB/6 1975 V841a 2008

    Vitelli-Avelar, Danielle Marquete. Aspectos imunolgicos celulares e humorais na fase

    crnica da doena de Chagas, ou, Humoral and Cellular immunological aspects of chronic Chagas disease / Danielle Marquete Vitelli-Avelar. Belo Horizonte, 2008. xiv, 145 f: il.; 210 x 297mm. Bibliografia: f. 130 - 140 Tese (doutorado) Tese para obteno do ttulo de

    Doutora em Cincias pelo Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade do Centro de Pesquisas Ren Rachou. rea de concentrao: Biologia Celular e Molecular. 1. Doena de Chagas/imunologia 2. Citometria de

    Fluxo/mtodos 3. Citocinas/imunologia I. Ttulo. II. Martins-Filho, Olindo Assis (Orientao). III. Eli-Santos, Silvana Maria (Co-orientao)

    CDD 22. ed. 616.936 3

  • LOCAL DE DESENVOLVIMENTO DA TESE

    Laboratrio de Biomarcadores de Diagnstico e Monitorao do Instituto Ren

    Rachou/FIOCRUZ.

    COLABORADORES

    LABORATRIO DE TRIATOMNEOS IRR/ FIOCRUZ

    Dr. Joo Carlos Pinto Dias

    LABORATRIO DE BIOMARCADORES DE DIAGNSTICO E MONITORAO IRR/

    FIOCRUZ

    Renato Sathler Avelar, Andra Teixeira de Carvalho, Ana Paula Barbosa Wendling e Paula

    Souza Lage

    POSTO AVANADO DE PESQUISAS EMANUEL DIAS BAMBU

    Dr. Joo Soares Moreira Magalhes e Paulo Lamunier

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRINGULO MINEIRO UBERABA/MG

    Prof. Aluzio Prata

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Ouro Preto/MG

    Profa. Marta de Lana

    RGOS FINANCIADORES

    CPqRR/FIOCRUZ, CNPq (no: 4758058-2003 e 481097-2004) e UNICEF/UNDP/World

    Bank/WHO Special Program for Research and Training in Tropical Disease (TDR) (no: A30451).

  • DDDDedico este trabalho aos meus maiores

    incentivadores: meus pais, minha irm e ao

    meu marido Renato. Muito obrigada por

    tanta dedicao, compreenso e acima de

    tudo pelo amor.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, sempre, por ter iluminado as minhas escolhas e ter colocado pessoas especiais no meu

    caminho.

    Ao Dr. Olindo Assis Martins Filho pelo apoio incondicional desde a iniciao cientfica, por sua

    incansvel atuao - crticas, correes de contedo e forma, sugestes, suporte tcnico e

    literatura cientfica, capacitando-me a desenvolver reflexes crticas para responder aos desafios

    e exigncias de um futuro acadmico. Obrigada por incentivar-me a fazer o melhor, sempre.

    Dra. Silvana Maria Eli Santos pela colaborao na interpretao dos resultados, correo

    desta tese e pelas constantes palavras de apoio e incentivo.

    Ao Dr. Joo Carlos Pinto Dias pelo empenho na seleo de pacientes, no envio das amostras de

    sangue e por compartilhar seus valiosos conhecimentos sobre a doena de Chagas.

    Ao Paulo Lamunier pela coleta do sangue dos pacientes.

    Aos doadores de sangue cuja participao foi imprescindvel para a realizao deste trabalho.

    s estudantes e amigas Andra Teixeira, Roberta Dias, Vanessa Pascoal e Ariane Massine pelos

    ensinamentos cientficos, principalmente de citometria de fluxo e pela torcida. Admiro o trabalho

    de vocs.

    Aos amigos do Laboratrio de Biomarcadores de Diagnstico e Monitorao e do Laboratrio de

    Imunologia Celular e Molecular pela rica convivncia.

    Paula Souza Lage pelo auxlio nas anlises dos dados de citometria, pelo empenho e dedicao

    em aprender e pelo convvio.

    Natlia velin Martins que em seu primeiro contato com a cincia demonstrou astcia e

    entusiasmo me enchendo de orgulho.

  • Lisiane, Fabiana, Cntia, Eliandra e Bia pelo apoio tcnico de qualidade e amizade.

    Roberta Flix e Clari Gandra pela eficincia e amizade.

    Ao Paulo, Neide, Andra e Cris da Secretaria da Ps-graduao.

    Anna Carolina da estatstica pelo esforo em me ajudar na escolha dos melhores testes.

    Ao Segemar pela presteza.

    E em especial a Cristiano Lara Massara que tornou realidade o meu sonho - sem ele nada disso

    teria sido possvel.

    Aos professores da Ps-graduao do Centro de Pesquisas Ren Rachou pelos ensinamentos.

    Aos doutores lvaro Jos Romanha e Rodrigo Corra Oliveira, diretores do Centro de Pesquisa

    Ren Rachou.

    Aos funcionrios do Centro de Pesquisas Ren Rachou.

    Jane e John por acreditarem e investirem nos potenciais meu e do Renato.

    So muitas as pessoas e instituies que merecem os meus agradecimentos e eu, mesmo que

    fizesse a mais longa lista, correria o risco de cometer injustias.

    Finalmente, minha famlia e amigos, por estarem presentes nos momentos de alegria, de

    desespero e lgrimas, sempre torcendo pelo meu sucesso.

  • "Todo o interesse na doena e na morte apenas

    uma outra forma de interesse pela vida

    Thomas Mann (1875-1955)

  • RESUMO

    Diversos estudos que avaliam os mecanismos imunolgicos associados manifestao de

    diferentes formas clnicas da doena de Chagas tm sugerido eventos multifatoriais. Com esse

    estudo, nosso objetivo foi adicionar novos elementos complexa rede imunolgica que envolve a

    interao parasita-hospedeiro e as distintas manifestaes clnicas da doena de Chagas crnica,

    indeterminada (IND), cardaca (CARD) e digestiva (DIG). Para esse objetivo, realizamos uma

    anlise detalhada de caractersticas fenotpicas da resposta imune com nfase na anlise

    imunofenotpica de clulas mononucleares do sangue perifrico, no perfil de citocinas

    intracitoplasmticas de leuccitos circulantes bem como na magnitude da resposta de IgG anti-

    Trypanosoma cruzi. Nossos principais achados demonstraram elevadas freqncias de clulas

    reguladoras CD4+CD25high e NKT, associadas com nveis aumentados de clulas NK citotxicas

    circulantes em IND, enquanto percentuais aumentados de linfcitos T CD8+HLA-DR+ foram

    observados em CARD e DIG. Adicionalmente, nossos dados demonstraram valores aumentados

    de clulas pr-NK, alm de elevados valores de moncitos pr-inflamatrios e linfcitos B

    ativados, contrastando com a ativao diminuda de clulas T e diminuio da freqncia de

    clulas T reguladoras CD4+CD25high marcos do estgio recente (E-IND) da doena de Chagas

    crnica. Anlise comparativa transversal entre E-IND, IND e CARD ainda sugeriu que uma

    mudana em direo a altos valores de macrfagos-like e nveis basais de moncitos pr-

    inflamatrios alm de elevados valores de clulas NK maduras, NKT e CD4+CD25high podem

    resultar na forma clnica IND. Por outro lado, altos nveis de clulas CD8+HLA-DR+ paralelo a

    nveis basais de clulas NK maduras, NKT e CD4+CD25high podem levar a doena cardaca. Alm

    disso, freqncia aumentada de linfcitos totais alto-produtores de IL-4, IL-10 e IL-13 e um

    perfil misto de citocinas derivadas de NK e neutrfilos foram marcos do grupo IND, enquanto

    freqncias aumentadas de moncitos alto-produtores de TNF- e baixas freqncias de

    linfcitos T CD8+IL-10+ foram as principais caractersticas de CARD. A avaliao do perfil de

    citocinas de leuccitos circulantes aplicando a estratgia de viso panormica demonstrou que

    enquanto a maioria dos IND apresentam um perfil de citocinas reguladoras, a maioria dos CARD

    apresentam um micro-ambiente de citocinas inflamatrias. Apesar dos nossos achados

    corroborarem com relatos prvios de perfis distintos de anticorpos IgG anti-T. cruzi entre IND e

    CARD, eles indicaram que marcadores da resposta imune humoral so, sem dvida, mais

    aplicveis para diagnstico sorolgico e monitorao de critrio de cura. Em suma, nossos dados

    demonstram que, mais que uma mudana em direo a um padro polarizado, um fino balano

    relevante para direcionar os mecanismos imuno-mediados essenciais para a definio da doena

    de Chagas.

  • ABSTRACT

    Studies on immunological mechanisms associated with different clinical forms of Chagas disease

    have suggested multifactorial events for the disease development. Herein, we intended to add

    new elements to the complex immunological network underlying the parasite-host relationship

    and the distinct clinical outcome of chronic Chagas disease, referred as indeterminate (IND),

    cardiac (CARD) and digestive (DIG) clinical forms. For this purpose, we have performed a

    detailed analysis of phenotypic features of the immune response emphasizing the ex vivo

    immunophenotype of peripheral blood mononuclear cells, the intracitoplasmatic cytokine profile

    of circulating leukocyte subsets as well as the magnitude of anti-Trypanosoma cruzi IgG immune

    response. Our major findings demonstrated that higher frequency of both CD4+CD25high and

    NKT regulatory cells, associated with increased levels of circulating cytotoxic NK cells was

    observed in IND whereas increased percentage of CD8+HLA-DR+ T-lymphocytes subset was

    exclusively associated with CARD and DIG. Additionally, our data demonstrated that increased

    values of pre-NK-cells besides higher values of proinflammatory monocytes and activated B

    lymphocytes contrasting with the impaired T- lymphocytes activation and decreased frequency of

    CD4+CD25high regulatory T lymphocytes was the hallmark of early stage (E-IND) of chronic

    Chagas disease. Comparative cross-sectional analysis among E-IND, IND and CARD further

    suggested that a shift toward high values of macrophage-like cells and basal levels of

    proinflammatory monocytes besides high values of mature NK cells, NKT and regulatory T cells

    may account for IND clinical form outcome. On the other hand, the upsurge of high levels of

    CD8+HLA-DR+ cells parallel with basal levels of mature NK cells, NKT and CD4+CD25high cells

    might lead to cardiac disease. Moreover, enhanced frequency of total lymphocytes high

    producers of IL-4, IL-10 and IL-13 besides a mixed pattern of NK and neutrophil-derived

    cytokines was the hallmark of IND, whereas enhanced frequency of TNF- producing monocytes

    and lower frequency of IL-10 producing CD8+ T-cells was the major features of CARD. The

    assessment of the cytokine profile of circulating leukocytes applying the panoramic overview

    strategy demonstrated that while most IND presented a regulatory cytokine profile, the majority

    of CARD displayed a particular inflammatory cytokine milieu. Despite our findings corroborate

    previous reports of distinct profiles of anti-T. cruzi IgG between IND and CARD, they indicated

    that the humoral immune response biomarkers are indeed more applicable to the serological

    diagnosis and cure criteria monitoring. Altogether, our data demonstrated that more than shift

    toward a polarized pattern, a fine balance is relevant to drive the resultant immune-mediated

    mechanisms underlying the chronic Chagas disease outcome.

  • SUMRIO

    LISTA DE TABELA................................................................................................................ i

    LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................. ii

    LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................................ iii

    1. INTRODUO.................................................................................................................... 1

    2. OBJETIVOS......................................................................................................................... 17

    2.1. Objetivo Geral................................................................................................................... 18

    2.2. Objetivos Especficos......................................................................................................... 18

    2.3. Tpicos de Investigao.................................................................................................... 19

    3. MATERIAL E MTODOS................................................................................................. 20

    3.1. Populao de estudo.......................................................................................................... 21

    3.2. Anlise do fentipo celular dos leuccitos do sangue perifrico................................... 26

    3.2.1. Protocolo de imunofenotipagem celular por citometria de fluxo............................ 26

    3.2.2. Estratgias para anlises imunofenotpicas de leuccitos circulantes................... 28

    3.2.2.1. Anlise convencional.................................................................................. 28

    3.2.2.2. Anlise de clulas T reguladoras................................................................ 29

    3.2.2.3. Anlise do marcador CD56 em subpopulaes de clulas CD3-CD16+..... 30

    3.2.2.4. Anlise de subpopulaes de clulas CD3-CD56+..................................... 31

    3.2.2.5. Anlise de clulas NKT.............................................................................. 33

    3.2.2.6. Anlise combinada gated........................................................................ 34

    3.2.2.7. Anlise de moncitos pr-inflamatrios..................................................... 35

    3.3. Avaliao do padro de produo de citocinas citoplasmticas em leuccitos

    circulantes..................................................................................................................................

    36

    3.3.1. Obteno do antgeno solvel de formas tripomastigotas do T. cruzi.................... 36

    3.3.1.1. Cultivo de formas tripomastigotas do T. cruzi........................................... 36

    3.3.1.2. Preparo do antgeno solvel de formas tripomastigotas do T. cruzi........... 37

    3.3.2. Protocolo de cultura de curta durao in vitro empregando amostras de sangue

    total.................................................................................................................................... 38

  • 3.3.3. Protocolo de marcao de citocinas intracitoplasmticas em leuccitos do

    sangue perifrico aps cultura de curta durao in vitro.................................................

    39

    3.3.4. Aquisio de dados para avaliao do perfil de expresso de citocinas

    intracelulares.....................................................................................................................

    41

    3.3.5. Estratgias de anlises de citocinas intracitoplasmticas em subpopulaes de

    leuccitos circulantes........................................................................................................

    42

    3.3.5.1. Anlise de citocinas intracitoplasmticas em moncitos............................ 42

    3.3.5.2. Anlise de citocinas intracitoplasmticas em neutrfilos........................... 43

    3.3.5.3. Anlise de citocinas intracitoplasmticas em clulas NK.......................... 44

    3.3.5.4. Anlise de citocinas intracitoplasmticas em linfcitos totais................... 45

    3.3.5.5. Anlise de citocinas intracitoplasmticas em subpopulaes de linfcitos

    T e por linfcitos B..................................................................................................

    45

    3.3.5.6. Anlise de citocinas intracitoplasmticas em clulas B1........................... 46

    3.3.6. Modelo panormico de anlise imunofenotpica por citometria de fluxo............... 47

    3.4. Estudo da reatividade de IgG total anti-EPI (FC-AFEA) e IgG1 anti-TRIPO (FC-

    ALTA) por citometria de fluxo................................................................................................

    48

    3.4.1. Obteno de preparaes antignicas do T. cruzi.................................................. 48

    3.4.1.2. Cultivo de formas epimastigotas do T. cruzi.............................................. 48

    3.4.1.3. Cultivo de formas tripomastigotas do T. cruzi........................................... 48

    3.3.2. Protocolo de imunofluorescncia indireta por citometria de fluxo............... 49

    3.3.3. Estratgias de anlises dos resultados.......................................................... 50

    3.5. Anlise estatstica............................................................................................................... 52

    4. ARTIGOS.............................................................................................................................. 55

    4.1- Artigo 1: Chagasic patients with indeterminate clinical form of the disease have

    high frequencies of circulating CD3+CD16-CD56+ natural killer T cells and

    CD4+CD25High regulatory T lymphocytes..............................................................................

    56

    4.2- Artigo 2: Are increased frequency of macrophage-like and natural killer (NK)

    cells, together with high levels of NKT and CD4+CD25high T cells balancing activated

    CD8+ T cells, the key to control Chagas' disease morbidity?...............................................

    68

    4.3- Artigo 3: New strategy to assess the overall cytokine profile of circulating

    leukocytes and decode distinct clinical status of human Chagas disease............................

  • leukocytes and decode distinct clinical status of human Chagas disease............................ 81

    4.4- Artigo 4: Non-conventional flow cytometry approaches to detect anti-Trypanosoma

    cruzi immunoglobulin G in the clinical laboratory...............................................................

    109

    CONSIDERAES FINAIS................................................................................................... 121

    REFERNCIA BIBLIOGRFICA........................................................................................ 130

    ANEXO...................................................................................................................................... 141

  • i

    LISTA DE TABELA

    Tabela 1: Populao de estudo.................................................................................................. 25

    Tabela 2: Anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos utilizados para anlise de

    populaes, subpopulaes celulares e molculas de superfcie................................................

    27

    Tabela 3: Anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos utilizados para anlise de

    populaes e subpopulaes de leuccitos do sangue perifrico...............................................

    41

    Tabela 4: Anticorpos monoclonais utilizados para identificao de citocinas intracelulares

    em leuccitos do sangue perifrico.............................................................................................

    41

  • ii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais de

    populaes celulares por citometria de fluxo.............................................................................

    29

    Figura 2: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais de clulas

    T reguladoras (CD4+CD25HIGH) por citometria de fluxo............................................................

    30

    Figura 3: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais das

    subpopulaes de clulas NK: pr-NK (CD3-CD16+CD56-) e NK madura (CD3-

    CD16+CD56+) por citometria de fluxo.......................................................................................

    31

    Figura 4: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais das

    subpopulaes CD3-CD56DIMCD16-/+ e CD3-CD56BRIGHTCD16-/+ por citometria de fluxo.....

    32

    Figura 5: Sequncia de procediementos utilizados para as anlises dos percentuais das

    subpopulaes NKT1 (CD3+CD16+CD56-), NKT2 (CD3+CD16-CD56+) e NKT3

    (CD3+CD16+CD56+) por citometria de fluxo.............................................................................

    34

    Figura 6: Seqncia de passos utilizados para as anlises de subpopulaes de clulas T

    CD4+ ou CD8+ ativadas (HLA-DR+) por citometria de fluxo....................................................

    35

    Figura 7: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais de

    moncitos pr-inflamatrios (CD14+CD16+HLA-DR++) por citometria de fluxo.....................

    36

    Figura 8: Anlise da produo de citocinas citoplasmticas por moncitos do sangue

    perifrico por citometria de fluxo...............................................................................................

    43

    Figura 9: Anlise da produo de citocinas citoplasmticas por neutrfilos do sangue

    perifrico por citometria de fluxo...............................................................................................

    43

    Figura 10: Anlise da produo de citocinas citoplasmticas por clulas NK do sangue

    perifrico por citometria de fluxo...............................................................................................

    44

    Figura 11: Anlise da produo de citocinas citoplasmticas por linfcitos totais do sangue

    perifrico por citometria de fluxo ..............................................................................................

    45

    Figura 12: Anlise da produo de citocinas citoplasmticas por clulas T-CD4+ do sangue

    perifrico por citometria de fluxo...............................................................................................

    46

    Figura 13: Anlise da produo de citocinas citoplasmticas por clulas B1 do sangue

    perifrico por citometria de fluxo...............................................................................................

    46

    Figura 14: Seqncia de passos utilizados para as anlises da reatividade de IgG anti-EPI e

    IgG1 anti-TRIPO do T. cruzi por citometria de fluxo................................................................

    51

  • iii

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ADCC Citotoxicidade celular dependente de anticorpos

    AL Anticorpos lticos

    APCs Clulas apresentadoras de antgenos (antigen presenting cells)

    ASC Anticorpos da sorologia convencional

    B1 Linfcitos B CD5+

    BSA Albumina srica bovina

    CARD Indivduos portadores da forma clnica cardaca

    CD14 Molcula expressa na superfcie de moncitos

    CD16 Molcula expressa em clulas Natural Killer e moncitos

    CD19 Molcula expressa em linfcitos B

    CD25 Cadeia do receptor para a citocina IL-2

    CD3 Molcula expressa em linfcitos T

    CD4 Molcula expressa em linfcitos T auxiliares

    CD5 Molcula expressa em linfcitos B1

    CD8 Molcula expressa em linfcitos T citotxicos

    CD56 Molcula de adeso presente em clulas Natural Killer

    DIG Indivduos portadores da forma clnica digestiva

    ECG Eletrocardiograma

    EDTA Etilenodiaminotetractico

    EPI Formas epimastigotas do Trypanosoma cruzi

    FITC Isotiocianato de fluorescena

    FL Fluorescncia

    FSC Tamanho (forward scatter)

    HAI Reao de hemaglutinao indireta

    HLA Antgeno Leucocitrio Humano

    Id Anticorpo anti-idiotipo

    IFI Imunofluorescncia indireta

    IFN- Interferon gama

    Ig Imunoglobulina

  • iv

    IgG Imunoglobulina G

    IL Interleucina

    IMF Intensidade Mdia de Fluorescncia

    IND Indivduos portadores da forma clnica indeterminada

    LIT Meio de cultivo para formas epimastigotas do Trypanosoma cruzi (Liver Infusion

    Tryptose)

    MFF Soluo Fixadora

    MHC Complexo principal de histocompatibilidade

    NI Grupo no infectado

    NK Clulas Natural Killer

    NKT Subpopulao de clulas T que expressa em sua superfcie receptores de clulas NK

    NO xido Ntrico

    PBS Tampo Fosfato Salnico

    PBS-P PBS-W a 0,5% de saponina

    PBS-W PBS a 0,5% de albumina srica bovina

    PE Ficoeritrina

    PPFP Percentual de Parasitos Fluorescentes Positivos

    RPMI Meio de cultura (Rosweel Park Memorial Institute)

    SBF Soro bovino fetal

    SES Secretaria de Estado de Sade de Minas Gerais

    SSC Granulosidade (side scatter)

    TCR Receptor de clula T

    TGF- Fator de Crescimento Transformante beta

    TNF- Fator de Necrose Tumoral alfa

    WHO Organizao Mundial da Sade (World Health Organization)

  • 1. INTRODUO

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    2

    Carlos Chagas, mdico brasileiro, descobriu a doena de Chagas a aproximadamente

    um sculo atrs e publicou sua primeira descrio em 1909. A descoberta dessa doena

    consistiu em uma das mais importantes conquistas mdicas do Brasil. Carlos Chagas

    descreveu tanto aspectos da biologia do agente etiolgico, o Trypanosoma cruzi, como da

    clnica, epidemiologia e patogenia da doena (CHAGAS, 1909). Entretanto, apesar do avano

    nos estudos da doena de Chagas nas ltimas dcadas, questionamentos ainda permanecem

    relativos interao parasito-hospedeiro, progresso clnica da infeco e mecanismos

    indutores de proteo e patologia.

    Como parte das comemoraes do centenrio da descoberta da doena de Chagas, a

    FIOCRUZ criou o Programa Integrado de Doena de Chagas-PIDC que tem como pilares (1)

    estimular a cooperao intra-FIOCRUZ visando dar retorno sociedade quanto aos desafios

    atuais da doena de Chagas; (2) assegurar contribuio efetiva da FIOCRUZ para o controle

    da doena de Chagas no sculo XXI, estabelecendo metas de pesquisa e desenvolvimento

    tecnolgico para 2009; (3) possibilitar a retomada de liderana da FIOCRUZ no campo da

    pesquisa e interveno em doena de Chagas no seu segundo centenrio, fortalecendo as

    interaes extramuros da FIOCRUZ; (4) articular projetos visando o estabelecimento de

    compromissos de gerao de inovao na pesquisa em doena de Chagas e a captao de

    financiamentos. Esse estudo, alm de outros desenvolvidos no Instituto Ren Rachou, vem

    contribuir com os ideais do PIDC, uma vez que investiga mecanismos imunolgicos

    envolvidos no estabelecimento/manuteno de diferentes formas clnicas da doena de

    Chagas.

    A doena de Chagas ocorre em reas rurais e peri-urbanas do Mxico, Amrica

    Central e Amrica do Sul. Dados da Organizao Mundial da Sade mostram a ocorrncia de

    vinte e uma mil mortes e a incidncia de duzentos mil novos casos ao ano na Amrica Latina

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    3

    (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002), com 12 a 14 milhes de pessoas infectadas na

    Amrica Latina (DIAS, 2007).

    No Brasil, a doena de Chagas a quarta causa de morte entre as doenas infecto-

    parasitrias, ocorrendo em uma rea de trs milhes de quilmetros quadrados. So cerca de

    2.450 municpios, envolvendo uma populao de mais de 28 milhes de pessoas expostas ao

    risco de contaminao e uma populao de aproximadamente cinco milhes de indivduos

    infectados (DIAS et al., 1997). Nos ltimos 5 anos foram notificados mais de 470 casos de

    infeco aguda, quase 90% deles ocorreram na Amaznia Legal, sendo 75% no Par

    (BRASIL, s.d.).

    Em regies onde os programas de controle do triatomneo, inseto vetor da doena, so

    ineficazes, a infeco se d principalmente pelo contato da pele ou mucosa do hospedeiro

    vertebrado com fezes e/ou urina do triatomneo contaminado pelo protozorio T. cruzi. Os

    vetores se infectam quando formas tripomastigotas sangneas so ingeridas durante a suco

    do sangue do hospedeiro vertebrado infectado. Uma vez no intestino posterior do inseto, as

    formas tripomastigotas se transformam em formas epimastigotas, que se multiplicam por

    diviso binria e, posteriormente, passam por alteraes morfolgicas e fisiolgicas

    transformando-se em tripomastigotas metacclicos no reto do inseto, estando, ento aptas a

    penetrar em clulas do hospedeiro mamfero. Essas formas, aps o repasto sangneo, so

    eliminadas juntamente com as fezes do vetor, penetrando na pele lesada pela picada ou em

    mucosas ntegras. Na regio de penetrao do parasito, ocorre a infeco de clulas

    principalmente do sistema fagoctico - mononuclear e/ou do prprio tegumento. Aps ciclo

    focal de poucos dias, o parasito se difunde por via hematognica e linftica, com

    multiplicao em vrios rgos e tecidos, ocorrendo como caracterstica fundamental uma

    intensa parasitemia, detectvel por exames parasitolgicos diretos. No interior de clulas, as

    formas tripomastigotas se transformam em amastigotas, que conseguem escapar do vacolo

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    4

    parasitfago para o citoplasma, onde se inicia um processo de diviso binria. Aps a

    multiplicao, as formas amastigotas transformam-se em tripomastigotas que rompem a clula

    e, uma vez na circulao sangnea, podem infectar novas clulas ou serem ingeridas por

    outro inseto vetor, dando continuidade ao ciclo biolgico do parasito (BRENER et al., 1973;

    GARCIA et al., 1991; DIAS, 2000).

    Quando se estudam os mecanismos de transmisso, observa-se que, alm da

    transmisso vetorial, casos de transmisso alternativos, como a via transfusional (YOUNG et

    al., 2007), congnita (DORN et al., 2007; GRTLER et al., 2003), por transplantes de rgos

    (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2006) e acidentes

    laboratoriais podem ser identificados. A via transfusional considerada a segunda via mais

    freqente de infeco, tendo especial importncia epidemiolgica, uma vez que pode levar a

    doena para reas sem transmisso natural (WENDEL, 1997; SCHOFIELD & DIAS 1999;

    VINHAES & DIAS, 2000). Alm disso, em regies como na Amaznia, existem mecanismos

    excepcionais de transmisso (vetorial domiciliar sem colonizao, vetorial extradomiciliar) e

    a ocorrncia de surtos episdicos de transmisso oral (BRASIL, 2005a, COURA, 2006).

    Recentemente, ocorreram surtos de doena de Chagas com forma aguda e morte por ingesto

    de formas tripomastigotas dissolvidas em bebidas, como suco de cana e aa, em que os

    insetos vetores silvestres, provavelmente, foram triturados durante o preparo ou suas fezes

    contaminaram o alimento, conforme divulgado amplamente na mdia e no Guia de Vigilncia

    Epidemiolgica do Ministrio da Sade (BRASIL, 2005b).

    A anlise clnica e laboratorial de pacientes portadores da doena de Chagas permite

    classificar a infeco em duas fases: aguda e crnica. A fase aguda caracteriza-se por

    alteraes teciduais degenerativas e inflamatrias focais, devido a uma intensa multiplicao

    local do parasito. Manifestaes sistmicas, como febre, mal estar, astenia, edema subcutneo,

    linfadenomegalia, esplenomegalia e hepatomegalia, podem tambm ser observadas

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    5

    (LARANJA, 1953; REZENDE & RASSI, 1994; BRASIL, 2004). Entretanto, em geral, esses

    sinais so atenuados e a fase inicial da doena passa desapercebida, confundindo-se com uma

    "gripe" ou "mal estar" passageiro.

    A evoluo da fase aguda para a fase crnica, que pode durar de poucas semanas a

    meses, acompanhada pelo gradativo desaparecimento das manifestaes clnicas,

    diminuio da parasitemia e elevao de anticorpos especficos da classe IgG. Os indivduos

    portadores da infeco crnica podem ser classificados do ponto de vista clnico, como

    pertencentes s formas indeterminada (IND), cardaca (CARD), digestiva (DIG) e

    cardiodigestiva. A imensa maioria dos pacientes evolui para uma forma crnica

    indeterminada, caracterizada pela sorologia positiva, ausncia de sinais, sintomas da doena e

    eletrocardiograma-ECG e raio-X (corao, esfago e clon) normais. Os pacientes

    apresentam de forma geral, bom estado de sade, desconhecendo, muitas vezes, a presena da

    infeco. Estima-se que cerca de 50-60% dos indivduos infectados apresentam essa forma

    clnica. Embora reconhecendo que o prognstico favorvel, sabe-se que, anualmente, cerca

    de 2 a 5% desses indivduos evoluem para formas sintomticas da doena. Aps 20-30 anos

    de infeco, cerca de 20-30% dos indivduos portadores da forma clnica IND desenvolvem a

    forma CARD, resultante de danos progressivos do miocrdio, secundrios miocardite

    fibrosante (DIAS, 1989; PRATA, 2001). A infeco chagsica pode levar ainda a dilataes

    do esfago e clon, principais manifestaes da forma clnica DIG. Essa forma clnica ocorre

    em menos de 10% dos indivduos portadores da doena, sendo resultado, principalmente, da

    formao de fibrose e da destruio dos neurnios do sistema nervoso autnomo do trato

    gastrointestinal (KOEBERLE & NADOR, 1955; DIAS, 1989; DA SILVEIRA et al.,

    2007a,b). Pessoas infectadas pelo T. cruzi com o sistema imune debilitado (AIDS,

    quimioterapia, terapias imunossupressoras) podem reativar a doena de Chagas com

    abundante parasitemia sangunea e tecidual. Devido longa durao da forma assintomtica

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    6

    da infeco, a doena de Chagas considerada uma doena matadora silenciosa

    (MAGUIRE, 2006), esse constitui um dos vrios motivos pelos quais a doena no atrai a

    ateno da mdia (TARLETON et al., 2007).

    O benzonidazol o composto disponvel para o tratamento da doena de Chagas no

    Brasil. Esse composto apresenta srios efeitos colaterais, requer administrao por longos

    perodos de tempo sob superviso mdica e h grande variao na susceptibilidade de isolados

    do parasito ao dessa droga, sendo recomendado o tratamento de pacientes agudos e

    crnicos recentes, nos quais se observam resultados positivos, principalmente em crianas

    menores de 15 anos (URBINA & DOCAMPO, 2003). Apesar da maioria dos estudos

    revelarem uma baixa eficincia desse frmaco durante a terapia de pacientes crnicos,

    avaliaes recentes tm sugerido o tratamento de modo a retardar, ou mesmo evitar, a

    evoluo da doena crnica (ANDRADE et al., 2004; DE CASTRO et al., 2006; VIOTTI et

    al., 2006).

    Uma questo chave que envolve a doena de Chagas o diagnstico. Sem um

    diagnstico correto, indivduos infectados no podem ser identificados, conseqentemente,

    tratados e a eficincia do tratamento no pode ser corretamente avaliada. O efeito de

    campanhas de controle no pode ser avaliado sem ferramentas de diagnstico competentes.

    Na fase crnica, os nveis de parasitemia encontram-se baixos e assim o diagnstico se baseia

    na deteco da resposta sorolgica do hospedeiro. A maioria dos testes sorolgicos

    disponveis emprega preparaes de antgeno bruto de formas epimastigotas do T. cruzi, nica

    forma do ciclo de vida do parasito que no encontrada no hospedeiro vertebrado, podendo

    ser responsvel pelos resultados falso-positivos. A especificidade desses ensaios tem sido

    questionada devido freqncia de infeces com outros tripanosomatdeos que circulam na

    mesma rea geogrfica do T. cruzi (Leishmania spp e Trypanosoma rangeli) e so

    responsveis pela antigenicidade cruzada e resultados falso-positivos. A ausncia de um teste

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    7

    padro-ouro torna difcil a avaliao da sensibilidade de testes sorolgicos que podem ser

    teis na avaliao rpida da eficcia do tratamento, do diagnstico de infeco congnita ou

    para determinar o impacto de mtodos de controle de transmisso, compondo base para o

    avano de todos os campos de pesquisa na doena de Chagas (TARLETON et al., 2007).

    Os mecanismos especficos envolvidos com o estabelecimento/manuteno das

    diferentes formas clnicas da doena de Chagas so complexos. No se sabe explicar como

    alguns indivduos infectados desenvolvem formas graves da doena e nem o fato das

    manifestaes clnicas serem to heterogneas. Acredita-se que as manifestaes patolgicas

    tanto na fase aguda, quanto na fase crnica da doena de Chagas sejam conseqncia de

    mecanismos multifatoriais relacionados tanto ao parasito quanto ao hospedeiro vertebrado.

    Dentre os fatores relacionados ao parasito, anlises em camundongos revelaram que a

    variabilidade das cepas, o tropismo, a antigenicidade e o tamanho do inculo so aspectos

    relevantes (VAGO, 2000). Quanto ao hospedeiro, importante ressaltar o estado nutricional,

    a faixa etria, o sexo e, especialmente, as caractersticas genticas e imunolgicas (DIAS,

    2000; ARANTES et al.; 2007; CAMPBELL et al., 2004).

    A resposta imune durante a infeco humana inicial pelo T. cruzi (aguda recente,

    aguda tardia e crnica recente) no completamente entendida, apesar da sua funo crucial

    no direcionamento das diferentes formas clnicas da infeco crnica. Estudos demonstram

    que o T. cruzi induz uma forte ativao do sistema imune durante a infeco aguda e que os

    diferentes mecanismos imunes induzidos durante estgios iniciais da fase crnica

    indeterminada da infeco representam componentes essenciais da atividade imune presente

    na fase crnica tardia (ANDRADE, 1991; BRENER & GAZZINELLI, 1997; MARINHO et

    al., 1999; SATHLER-AVELAR et al., 2003; GOLGHER & GAZZINELLI, 2004). Na busca

    de identificar diferenas na resposta imune relacionadas com o estabelecimento/manuteno

    das distintas formas clnicas da fase crnica tardia da doena de Chagas, de suma

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    8

    importncia caracterizar subpopulaes leucocitrias majoritrias e minoritrias do sangue

    perifrico de indivduos durante os eventos iniciais da infeco, assim como comparar com as

    alteraes observadas em indivduos na fase crnica tardia da doena. Estudo fenotpico

    realizado durante a infeco recente pelo T. cruzi, aps classificao com base na sorologia,

    descreveu no grupo agudo recente uma supresso da atividade de linfcitos T, ativao de

    linfcitos B e o favorecimento da migrao de moncitos para o foco inflamatrio. Na fase

    aguda tardia, foi observada a ativao de clulas NK independente de clulas T e na fase

    crnica recente foi encontrado um aumento na populao de linfcitos B ao lado de um

    aumento na populao dos moncitos pr-inflamatrios sugerindo uma natureza independente

    de linfcitos T (SATHLER-AVELAR et al., 2003). Esses autores acreditam que a imunidade

    mediada por clulas T durante a forma clnica indeterminada recente da doena de Chagas

    pode representar um fenmeno restrito aos focos inflamatrios, considerando relatos prvios

    da presena de clulas T, principalmente linfcitos T CD8+, no infiltrado inflamatrio do

    tecido cardaco de indivduos infectados pelo T. cruzi (FUENMAYOUR et al., 2005). Estudo

    realizado em modelo experimental murino para a infeco pelo T. cruzi demonstrou que o

    aparecimento no corao de clulas T produtoras de citocinas est correlacionado com o

    aumento local da expresso de molculas de adeso celular, o que seria consistente com a

    migrao de linfcitos T para o foco inflamatrio (FUENMAYOUR et al., 2005). Nesse

    estudo, os autores propem que a inflamao crnica no corao chagsico altamente ativa e

    est relacionada com um padro imunolgico estvel que se estende desde a fase aguda

    recente at estgios tardios da fase crnica.

    HIGUCHI et al. (1993a) utilizando tcnicas de imunohistoqumica estabeleceram uma

    associao entre a presena de antgenos do T. cruzi e a formao de infiltrados inflamatrios

    no tecido cardaco de pacientes com miocardite chagsica. Esse mesmo grupo avaliou o

    fentipo das clulas do infiltrado inflamatrio, encontrando um predomnio de clulas T CD8+

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    9

    (HIGUCHI et al., 1993a,b). Estudos desenvolvidos por REIS et al. (1993) mostram ainda que

    estas clulas CD8+ expressavam granzima A, um marcador para linfcitos T citolticos. Esses

    autores atribuem clula T CD8+ e a seus produtos, a fibrose e a citlise observadas no tecido

    cardaco nos pacientes portadores de miocardite chagsica.

    No contexto da forma clnica DIG, os estudos que avaliam os elementos envolvidos

    nos mecanismos imunopatolgicos no tubo digestivo so ainda escassos. LEMOS et al.,

    (1998), em estudo pioneiro, demonstraram um predomnio de linfcitos CD4+ no infiltrado

    inflamatrio do esfago e do clon de pacientes chagsicos portadores de mega decorrentes

    da forma DIG. DA SILVEIRA et al. (2007a,b) demonstram ainda que o desenvolvimento de

    megaclon aps a infeco aguda pelo T. cruzi est associado com a manuteno da invaso

    de gnglios entricos por linfcitos T citotxicos e perda da inervao de msculos.

    Devido a limitaes ticas de se estudar o perfil fenotpico do infiltrado inflamatrio e

    leses teciduais decorrentes da infeco crnica da doena de Chagas, vrios pesquisadores

    tm utilizado o sangue perifrico como estratgia para avaliar a resposta imunolgica

    desencadeada durante a fase crnica da doena. O estudo do sangue perifrico de pacientes na

    fase crnica da doena de Chagas demonstra grande nmero de linfcitos T ativados e B

    circulantes, alm de diminuio significativa no percentual de linfcitos T CD3+. Linfcitos B

    CD5+ esto presentes em alto percentual na circulao destes pacientes (DUTRA et al., 1994).

    Aps estimulao in vitro por antgenos do T. cruzi ou por anticorpos humanos anti-

    epimastigotas, atravs de estimulao idiotpica, observa-se proliferao diferenciada das

    populaes celulares. Dessa forma, a estimulao por antgenos de T. cruzi leva expanso

    preferencial de linfcitos T ativados, enquanto a estimulao idiotpica estimula

    preferencialmente linfcitos B CD5+ e linfcitos T CD8+ (DUTRA et al., 2000). Na forma

    clnica DIG, inverso da razo CD4/CD8 foi descrita contrastando com resultados em CARD

    nos quais a razo normal. Ainda em pacientes da forma DIG reduo do percentual de

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    10

    clulas CD4+CD28+ e um aumento na expresso de linfcitos T ativados (HLA-DR+) foram

    observados (LEMOS et al., 1998).

    Considerando a complexidade das interaes imunolgicas desencadeadas durante a

    infeco pelo T. cruzi, ainda so necessrios esclarecimentos mais detalhados a respeito das

    populaes e subpopulaes celulares diretamente envolvidas nos mecanismos de resistncia

    e morbidade da doena. A deteco de molculas expressas na superfcie de clulas, atravs

    da citometria de fluxo, empregando sistemas de anlises mais elaborados e protocolos

    experimentais atuais, que permitem a anlise simultnea de um maior nmero de molculas

    por superfcie celular, trouxe a possibilidade de identificar e/ou caracterizar novas sub-

    populaes, trazendo assim, informaes adicionais que podem enriquecer os conhecimentos

    acerca das diferentes formas clnicas da doena de Chagas.

    Ao analisar macrfagos, seja em humanos seja em camundongos, observam-se duas

    populaes fenotipicamente distintas: CD14++CD16- e CD14+CD16+. Em indivduos

    saudveis, as clulas CD14+CD16+ correspondem aproximadamente a 10% da populao de

    moncitos. Entretanto, em indivduos com infeces graves, o nmero de moncitos

    CD14+CD16+ encontra-se consideravelmente aumentado (NOCKHER et al., 1998;

    SKRZECZYSKA et al., 2002). Tais moncitos expressam altos nveis da molcula HLA-

    DR em sua superfcie, sintetizam elevados nveis de TNF- e quantidades basais de citocinas

    reguladoras como IL-10, sendo denominados moncitos pr-inflamatrios (BELGE et al.,

    2002). Os altos nveis de TNF- provavelmente decorrem da elevada expresso de receptores

    dirigidos a componentes estruturais dos agentes infecciosos, como exemplo temos o LPS

    atuando sobre os receptores Toll-like 4 (TLR-4) em clulas dendrticas ativadas (THOMA-

    USZYNSKI et al., 2000). CAMPOS et al. (2001) demonstraram que glicoprotenas (GPIs) e

    glicolipdios (GIPLs) derivados de T. cruzi podem se ligar ao receptor Toll-like 2 de

    moncitos e induzir a sntese de IL-12, TNF- e xido ntrico (NO). OLIVEIRA et al. (2004),

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    11

    estudando a funo de TLR-4 na doena de Chagas, constataram que camundongos

    deficientes para este receptor so altamente susceptveis infeco pelo T. cruzi, com elevada

    parasitemia e taxa de mortalidade. Isso se deve falha na interao de GIPLs do parasita com

    os receptores TLR-4 presentes em moncitos, indicando sua importncia na ativao da

    resposta imune protetora. Atualmente, ateno especial tem sido dada aos TLR devido ao seu

    papel na ativao de clulas NK durante infeces bacterianas e por protozorios. LAUZON

    et al. (2003) demonstraram que antgenos derivados de Leishmania sp. ao se ligarem aos

    receptores TLR-2 aumentam a produo das citocinas IFN- e TNF- e a translocao nuclear

    de NF-B pelas clulas NK. Esse mesmo grupo, recentemente, verificou que as clulas NK

    possuem diversos TLRs, que esto diretamente relacionados com o aumento da produo de

    citocinas e citotoxicidade celular (LAUZON et al., 2006). No contexto da doena de Chagas,

    pouco se sabe sobre a interao de antgenos do T. cruzi e os TLRs presentes em NK, mas

    pertinente sugerir que a interao desses antgenos com esses receptores pode ser importante

    na ativao de clulas NK na fase aguda e crnica da doena de Chagas.

    bem aceito que a ausncia de patologia em indivduos infectados pelo T. cruzi est

    associada com a capacidade do indivduo em regular a resposta anti-T. cruzi, responsvel pelo

    controle da parasitemia persistente e do dano inflamatrio tecidual, caractersticos da doena

    de Chagas (BRENER et al., 1997). Certamente, o dano tecidual frente inflamao deve ser

    mais grave na ausncia de mecanismos reguladores que envolvem tanto a resposta imune

    inata eficaz quanto a adaptativa. Estudos tm demonstrado que existem vrios tipos de clulas

    com funo reguladora, algumas induzidas em resposta a um estmulo infeccioso e outras

    consideradas reguladoras naturais (BLUESTONE & ABBAS, 2003; PICCIRILLO &

    SHEVACH, 2004; BELKAID & ROUSE, 2005). As clulas T reguladoras foram descritas

    como uma populao nica CD4+CD25+ que regulam respostas imunes inata e adaptativa e

    que possuem a capacidade de controlar respostas imunes efetoras excessivas ou mal

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    12

    direcionadas, incluindo respostas contra patgenos ou antgenos prprios (MALOY &

    POWRIE, 2001; GAVIN et al., 2001; SHEVACH, 2002; TRZONKOWSKI et al., 2004).

    Vrios mecanismos pelos quais as clulas T reguladoras realizam suas atividades

    moduladoras tm sido propostos, incluindo a inibio da atividade citotxica pela regulao

    negativa de IL-12 e CD25 em linfcitos T CD8+ ou atravs de contato direto com essas

    clulas efetoras (PICCIRILLO & SHEVAC, 2001; GROSSMAN et al., 2004; OGARRA &

    VIEIRA, 2004; TRZONKOWSKI et al., 2004; CASSIS et al., 2005,). Embora em modelos

    experimentais murinos, as clulas T CD4+ reguladoras sejam caracterizadas por apresentarem

    o fentipo CD4+CD25+, sendo todas possuidoras de potencial papel regulador, caracterizado

    por uma diminuio de produo de citocinas e habilidade de inibir proliferao celular in

    vitro, em humanos, apenas as CD4+CD25HIGH apresentam esta habilidade. No contexto da

    doena de Chagas, ARAJO e colabores (2007) demonstraram freqncia aumentada de

    clulas CD4+CD25HIGHFOXP3+ em pacientes da forma IND quando comparados com

    pacientes portadores da forma clnica cardaca, indicando que estas clulas teriam funo

    importante na manuteno da forma clnica indeterminada da doena de Chagas.

    Semelhantemente s clulas T reguladoras, as clulas NKT tm sido descritas como

    uma subpopulao relevante tanto na funo inata (GODFREY et al., 2000; KRONENBERG

    & GAPIN, 2002), quanto na atividade anti-tumoral (GODFREY & KRONENBERG, 2004;

    VAN DER VLIET et al., 2004) e reguladora (HAMMOND & KRONENBERG, 2003;

    MATSUDA et al., 2003), apresentando atividades sob o controle de clulas acessrias e

    fatores solveis do micro-ambiente local (LEITE-DE-MORAES et al., 1997; GODFREY &

    KRONENBERG, 2004). Estudos fenotpicos demonstraram que clulas NKT compreendem

    uma subpopulao de clulas T, distinta das clulas T convencionais, por expressarem

    receptores de clulas NK como o CD16, CD56 e/ou CD161, sendo o CD56 o melhor

    marcador para definir os subgrupos de clulas NKT (ORTALDO et al., 1991; GODFREY et

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    13

    al., 2000). As funes reguladoras das clulas NKT previnem doenas auto-imunes e

    cooperam com respostas protetoras contra patgenos (GODFREY et al., 2000; GODFREY &

    KRONENBERG, 2004). Clulas NKT inibem vrias doenas auto-imunes, incluindo diabetes

    tipo 1, lupus eritromatoso sistmico e artrite reumatide. A populao de clulas NKT est

    diminuda nessas doenas, impedindo sua ao de prevenir respostas imunes autodestrutivas

    (KOJO et al., 2003; GODFREY & KRONENBERG, 2004; VAN DER VLIET et al., 2004).

    Durante infeces, clulas NKT secretam citocinas pr-inflamatrias que estimulam respostas

    inata e adaptativa que eliminam o patgeno (EMOTO et al., 2003). Por outro lado, clulas

    NKT secretam citocinas antiinflamatrias que limitam infeces induzidas por patgenos

    (TANIGUCHI et al., 2003; VAN KAER, 2004). Ainda obscuro como as clulas NKT

    exacerbam respostas inflamatrias para controlar patgenos durante infeces, enquanto

    favorecem uma resposta antiinflamatria em outras infeces, prevenindo dano tecidual

    induzido pela infeco. Recentemente, foi demonstrado em modelo experimental murino de

    infeco pelo T. cruzi, que as clulas NKT apresentam funo importante em ambas as

    respostas, pr-inflamatria e antiinflamatria (DUTHIE et al., 2005). Esses autores sugerem

    que clulas NKT invariantes limitam respostas inflamatrias, enquanto clulas NKT variantes

    aumentam respostas inflamatrias que contribuem para a morbidade e mortalidade. Assim,

    subpopulaes de clulas com funes distintas podem preferencialmente direcionar eventos

    imunomoduladores, enquanto outras direcionam para respostas imunes inflamatrias. Essas

    observaes sugerem que o sucesso no controle da infeco pelo T. cruzi e da doena de

    Chagas envolve o desenvolvimento de uma resposta imune modulada suficiente para controlar

    a infeco na ausncia de extensa destruio tecidual.

    Ainda no contexto da imunomodulao, a rede de citocinas um importante circuito

    que determina a morbidade da doena de Chagas. Estudos demonstram uma correlao entre a

    secreo de IFN- e o desenvolvimento de doena cardaca grave e o papel de IL-10

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    14

    controlando a imunopatologia (BAHIA-OLIVEIRA et al., 2000; GOMES et al., 2003).

    Entretanto, o fato de uma grande proporo de indivduos indeterminados tambm

    produzirem nveis elevados de IFN-, em adio a outras citocinas inflamatrias levantou a

    hiptese de que mais do que uma mudana para um perfil de citocinas polarizadas, um fino

    balano de citocinas inflamatrias e reguladoras derivadas de diferentes fontes possa

    contribuir para os mecanismos imuno-mediados relacionados s diferentes formas clnicas da

    doena. De fato, tem sido demonstrado que enquanto moncitos de pacientes das formas

    clnicas IND e CARD so capazes de produzir IL-10, e alguns IND produzem altos nveis de

    IFN- por linfcitos T, moncitos de IND produzem nveis mais altos de IL-10, quando

    comparados com moncitos de pacientes da forma clnica cardaca (CORRA-OLIVEIRA et

    al., 1999; GOMES et al., 2003; SOUZA et al., 2004). Esses achados enfatizam que o balano

    de citocinas representa um elemento chave no estabelecimento/manuteno das diferentes

    formas clnicas. Assim, avaliar a produo de diferentes citocinas com caractersticas

    inflamatrias e reguladoras produzidas por subpopulaes de leuccitos da imunidade inata e

    adaptativa representa estratgia adequada para caracterizao do perfil de indivduos

    portadores das diferentes formas clnicas da doena de Chagas.

    A induo e/ou modulao da resposta do hospedeiro a antgenos derivados do

    parasito no deve ser avaliada de forma limitada, restrita a funes imunolgicas celulares.

    Existem evidncias do envolvimento da resposta humoral nos eventos que acompanham a

    evoluo da doena de Chagas. Anticorpos anti-T. cruzi so amplamente detectados em

    portadores da doena de Chagas (BRENER, 1980). Os estudos da imunidade humoral foram

    revolucionados por KRETTLI & BRENER (1982), quando foi demonstrada a existncia de

    duas categorias de anticorpos, funcionalmente distintos, no soro de hospedeiros infectados

    pelo T. cruzi, os quais foram denominados anticorpos da sorologia convencional (ASC) e

    anticorpos lticos (AL). Os ASC, tambm denominados no protetores, so encontrados no

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    15

    soro de hospedeiros infectados pelo T. cruzi mesmo aps quimioterapia eficaz. Esses

    anticorpos so identificados in vitro por tcnicas sorolgicas de rotina. Por outro lado,

    anticorpos da categoria AL, tambm conhecidos como anticorpos protetores, so encontrados

    apenas no soro de hospedeiros com infeco ativa, desaparecendo aps a cura por interveno

    teraputica especfica para a doena de Chagas. Esses anticorpos so especficos para epitopos

    presentes na superfcie de formas tripomastigotas vivas do T. cruzi, sendo identificados in

    vitro atravs das tcnicas de lise mediada pelo complemento (GALVO et al., 1993) e, mais

    recentemente, pela citometria de fluxo (MARTINS-FILHO et al., 1995). Por serem capazes

    de induzir a lise mediada pelo complemento de formas tripomastigotas sangneas, os

    anticorpos da categoria AL tm sido considerados importantes no controle da parasitemia na

    fase crnica da infeco pelo T. cruzi, e assim, a sua presena, indireta ou diretamente,

    poderia estar associada ao estabelecimento da forma clnica IND. Entretanto, esse mecanismo

    hipottico necessita ainda de investigaes complementares. Considerando que os estudos

    sorolgicos baseados na citometria de fluxo constituem um campo com grandes

    possibilidades de crescimento, devido ao aumento da sensibilidade de deteco, em relao a

    outros mtodos (MARTINS-FILHO et al., 1995), a avaliao da resposta humoral por meio

    da reatividade de anticorpos que se ligam a formas epimastigotas e tripomastigotas do T. cruzi

    por citometria de fluxo (FC-AFEA e FC-ALTA) permitir ampliar o conhecimento desses

    eventos imunolgicos. importante salientar que esse sistema isento de variabilidades

    metodolgicas inerentes ao analista e com sensibilidade e especificidade muito superiores aos

    diferentes protocolos de deteco e revelao convencionais, podendo assim trazer novas

    perspectivas para os estudos sorolgicos aplicados ao diagnstico, prognstico, e critrio de

    cura da doena de Chagas (MARTINS-FILHO et al., 2002).

    Em suma, considerando o exposto, podemos observar que diversos mecanismos da

    resposta imune tm sido propostos e apresentados como elos no estabelecimento/manuteno

  • Introduo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    16

    das diferentes formas clnicas na fase crnica da doena de Chagas. Entretanto, o grande

    avano em tcnicas imunolgicas tem permitido a elaborao de perguntas ainda mais

    refinadas e o estabelecimento de novas hipteses que podem estar associadas ao complexo

    conjunto de interaes que envolvem a doena de Chagas humana. Nesse sentido,

    acreditamos que o estudo de caractersticas fenotpicas adicionais de populaes e

    subpopulaes leucocitrias do sangue perifrico, atravs do uso de novas estratgias de

    anlises, bem como a investigao do panorama de citocinas intracitoplasmticas de

    leuccitos circulantes, em paralelo ao estudo da reatividade de anticorpos IgG anti-T. cruzi,

    apresenta-se como uma estratgia atual e relevante para subsidiar o entendimento do

    fenmeno da cronificao diferenciada na doena de Chagas.

  • 2. OBJETIVOS

  • Objetivo

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    18

    2.1. Objetivo Geral

    Investigar aspectos imunolgicos celulares e humorais na fase crnica da doena de Chagas

    com nfase no perfil fenotpico e panorama de citocinas intracitoplasmticas de leuccitos

    circulantes e na reatividade de anticorpos IgG anti-Trypanosoma cruzi.

    2.2. Objetivos Especficos

    1. Caracterizar aspectos fenotpicos de leuccitos circulantes a fim de estabelecer

    biomarcadores capazes de decodificar diferentes formas clnicas da infeco crnica pelo T.

    cruzi.

    2. Instituir um novo modelo para a anlise do perfil panormico de citocinas

    intracitoplasmticas de leuccitos do sangue perifrico em portadores das formas clnicas

    indeterminada e cardaca.

    3. Explorar as aplicabilidades de tcnicas no convencionais para o estudo da reatividade

    sorolgica anti-T. cruzi aplicada em estudos clnicos da doena de Chagas.

  • Tpicos de Investigao

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    19

    2.3. Tpicos de Investigao

    Estudar de forma descritivo-analtica o perfil fenotpico de leuccitos do sangue

    perifrico de indivduos portadores das formas clnicas indeterminada, cardaca e

    digestiva, com nfase na anlise de clulas T CD4+ e CD8

    + ativadas, subpopulaes de

    clulas NK e NKT e na freqncia de clulas T reguladoras (Artigo 1);

    Caracterizar o perfil fenotpico de leuccitos do sangue perifrico de indivduos

    portadores da fase crnica recente, focalizando em subpopulaes de clulas T e B,

    marcadores de ativao e de adeso celular, subpopulaes de moncitos, clulas NK

    e NKT e na freqncia de clulas T reguladoras (Artigo 2);

    Correlacionar os principais achados imunofenotpicos de leuccitos do sangue

    perifrico observados em portadores das formas clnicas indeterminada e cardaca

    (Artigo 2);

    Estabelecer uma nova estratgia para anlise panormica do perfil de citocinas

    intracitoplasmticas de leuccitos circulantes associados imunidade inata e

    adaptativa (Artigo 3).;

    Caracterizar o impacto da estimulao in vitro com antgenos de formas

    tripomastigotas do T. cruzi no panorama de citocinas intracitoplasmticas de

    leuccitos circulantes associados imunidade inata e adaptativa (Artigo 3).

    Avaliar a aplicabilidade da pesquisa de anticorpos IgG anti-formas epimastigotas

    fixadas do T. cruzi (FC-AFEA) no diagnstico sorolgico da Doena de Chagas

    (Artigo 4);

    Caracterizar o potencial da pesquisa de anticorpos IgG1 anti-formas tripomastigotas

    vivas do T. cruzi (FC-ALTA) e da FC-AFEA para fins prognsticos na monitorao

    clnica da infeco crnica pelo T. cruzi (Artigo 4);

    Avaliar o desempenho da FC-AFEA como tcnica complementar na monitorao de

    cura ps-teraputica etiolgica da Doena de Chagas (Artigo 4).

  • 3. MATERIAL E MTODOS

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    21

    3.1. Populao de estudo

    Os dados que compem as publicaes 1 Chagasic patients with indeterminate

    clinical form of the disease have high frequencies of circulating CD3+CD16

    -CD56

    + natural

    killer T cells and CD4+CD25

    High regulatory T lymphocytes e 2 Are increased frequency of

    macrophage-like and natural killer (NK) cells, together with high levels of NKT and

    CD4+CD25

    high T cells balancing activated CD8

    + T cells, the key to control Chagas' disease

    morbidity? correspondem ao objetivo especfico 1.

    Para cumprir o proposto no objetivo especfico 1, foram selecionados 54 indivduos,

    sendo 13 crianas e 41 adultos. Todos os participantes foram submetidos a testes de sorologia

    convencional especficos para o diagnstico da doena de Chagas. Os indivduos pertencentes

    ao grupo de pacientes chagsicos apresentaram resultados concomitantemente positivos nas

    reaes de hemaglutinao indireta (HAI) e imunofluorescncia indireta (IFI) para o T. cruzi.

    Considerando que esse estudo teve como objetivo realizar uma anlise de diferentes

    parmetros imunolgicos associados morbidade da infeco pelo T. cruzi, todos pacientes

    foram submetidos a exames clnicos, radiolgicos e eletrocardiogrficos que permitiram

    agrup-los como pacientes portadores da forma clnica indeterminada recente (Early

    INDeterminate chronic phase E-IND), indeterminada crnica (IND), cardaca crnica

    (CARD) e digestiva crnica (DIG). Indivduos dos grupos E-IND e IND foram selecionados a

    partir da comprovao da infeco chagsica na ausncia de manifestaes clnicas,

    eletrocardiogrficas ou radiolgicas de acometimento cardaco ou digestivo. A segregao

    entre os indivduos crnicos recentes (E-IND) e tardios (IND) foi feita de acordo com o

    Consenso Brasileiro em Doena de Chagas (2005) que considera como recente o perodo de

    cinco a doze anos aps a infeco inicial. Os portadores da forma clnica CARD foram

    caracterizados pela presena de sintomas, sinais fsicos e alteraes em exames laboratoriais

    (eletrocardiograma /ECG e radiografia de trax). O grupo DIG foi definido a partir do

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    22

    diagnstico radiolgico de megaesfago e megaclon, caracterstica desta forma clnica,

    baseando-se essencialmente no exame clnico e radiolgico - raio X de trax em posies PA

    e PE, raio X contrastado de esfago em OAD (oblqua anterior direita), pela tcnica de

    HADDAD E GODOY (1963) e enema opaco (REZENDE & MOREIRA, 2000).

    Sete crianas da mesma rea, assintomticas e sem sinais de outra enfermidade, foram

    submetidas a testes sorolgicos que confirmaram a ausncia de infeco pelo T. cruzi,

    constituindo assim o grupo no infectado pelo T. cruzi (NI-1) usado como parmetro de

    comparao para avaliao de alteraes imunofenotpicas observadas no grupo E-IND. J

    como parmetro de comparao para as anlises realizadas no grupo IND foram selecionados

    adultos saudveis com resultados negativos para os testes de sorologia convencional

    supracitados, constituindo o grupo NI-2.

    Todos os indivduos foram voluntrios, sendo provenientes das cidades Bambu,

    Berilo e Jos Gonalves de Minas do estado de Minas Gerais. O consentimento escrito foi

    obtido de todos os participantes. No caso das crianas, os pais ou responsveis foram

    esclarecidos quanto ao estudo e, aqueles que concordaram em participar, assinaram o Termo

    de Consentimento Livre e Esclarecido para Pacientes Voluntrios. A conduta clnico-

    laboratorial adotada nesse estudo foi previamente aprovada pelo Comit de tica do

    IRR/FIOCRUZ (Protocolo CEPSH/CPqRR #09/2003 e #11/2004). Todos os procedimentos,

    incluindo os estudos eletrocardiogrficos, radiolgicos e a assistncia mdico-laboratorial

    dada aos pacientes, bem como o acompanhamento ambulatorial e a coleta de sangue esteve

    sob a responsabilidade do Dr. Joo Carlos Pinto Dias, do Dr. Joo Soares Moreira Magalhes

    e da Dra. Marta de Lana. A Tabela 1 sumariza as informaes referentes aos grupos de

    pacientes estudados.

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    23

    Os dados que compem a terceira publicao New strategy to assess the overall

    cytokine profile of circulating leukocytes and decode distinct clinical status of human

    chagas disease correspondem ao objetivo especfico 2.

    O grupo de pacientes portadores da doena Chagas crnica foi o mesmo empregado

    para o primeiro e segundo artigo excluindo-se o grupo de indivduos com comprometimento

    digestivo. Para a anlise pontual do efeito do tratamento foram selecionados 18 indivduos,

    sendo 5 indivduos do grupo IND selecionados a partir da comprovao da infeco chagsica

    na ausncia de manifestaes clnicas, eletrocardiogrficas ou radiolgicas de acometimento

    cardaco ou digestivo e 13 indivduos portadores da forma clnica CARD, caracterizados pela

    presena de sintomas, sinais fsicos e alteraes em exames laboratoriais (eletrocardiograma e

    radiografia de trax). Os indivduos foram voluntrios provenientes do Ambulatrio de

    Doena de Chagas do Hospital das Clnicas de UFMG. O consentimento escrito foi obtido de

    todos os participantes. A conduta clnico-laboratorial adotada nesse estudo foi previamente

    aprovada pelo Comit de tica do IRR/FIOCRUZ (IRR/FIOCRUZ-Minas protocolos

    #09/2003) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG-COEP protocolo #ETIC

    070/00). Todos os procedimentos, incluindo os estudos eletrocardiogrficos, radiolgicos e a

    assistncia mdico-laboratorial dada aos pacientes, bem como o tratamento dos indivduos

    infectados com benzonidazol (5mg/kg/peso por dia, durante 60 dias consecutivos) estiveram

    sob a responsabilidade da Dra. Silvana Maria Eli Santos e da Dra. Eliane Dias Gontijo. Para

    o estudo longitudinal, foram feitas duas coletas (antes e aps um ano do trmino do

    tratamento) de amostras de sangue perifrico coletadas em tubos Vacutainer, contendo

    EDTA ou heparina sdica como anticoagulantes. A Tabela 1 sumariza as informaes

    concernentes aos grupos de pacientes estudados.

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    24

    Os dados que compem a quarta publicao Non-conventional flow cytometry

    approaches to detect anti-Trypanosoma cruzi immunoglobulin G in the clinical

    laboratory. correspondem ao objetivo especfico 3.

    Para esse estudo foram empregadas 4 coortes de amostras de soro: (1) de pacientes

    portadores da doena de Chagas crnica tardia, de leishmaniose visceral (VL), leishmaniose

    tegumentar (LCL), toxoplasmose (TX), malria (MA) e esquistossomose (SCH). As amostras

    de soros de pacientes portadores da doena de Chagas crnica tardia e os controles no

    infectados foram os mesmos dos objetivos especficos 1 e 2. J as amostras de soros de

    indivduos portadores de outras infeces foram obtidas a partir de sorotecas previamente

    montadas e consistiram de indivduos adultos que por deciso do comit de tica em

    pesquisas no foram identificados; (2) de pacientes portadores da doena de Chagas crnica

    tardia segregados nas diferentes formas clnicas (IND, CARD e DIG) e controles no

    infectados, sendo os mesmos empregados nos objetivos especficos 1 e 2; (3) de pacientes

    portadores da doena de Chagas crnica tardia segregados nas diferentes formas clnicas. A

    coleta desses soros foi realizada no Centro de treinamento e Referncia de doenas

    Infecciosas e Parasitrias (CTRDIP) do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da

    Universidade Federal de Minas Gerais, sob a superviso do Dr. Manoel Otvio da Costa

    Rocha. As amostras de soros dos pacientes DIG foram enviadas para Belo Horizonte pela Dra.

    Sheila Jorge Adad do Departamento de Patologia Cirrgica da Faculdade de Medicina do

    Tringulo Mineiro (FMTM). A distribuio etria dessa coorte iniciou uma disperso etria na

    faixa de 24-77 anos de idade; (4) de pacientes chagsicos no tratados (NT), tratados no

    curados (TNC) e tratados curados (TC). Essa coorte contm 60 indivduos com idades de 6

    meses a 68 anos, acompanhados pelo Dr. Anis Rassi da Faculdade de Medicina da

    Universidade Federal de Gois. Estes pacientes tiveram exames sorolgicos (IFA e HA) e

    parasitolgico (hemocultura) avaliados em um estudo retrospectivo, que variou de trs a 26

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    25

    anos aps tratamento etiolgico, e foram classificados em trs diferentes categorias como

    descrito por MARTINS-FILHO et al. (2002). O tratamento foi realizado durante a fase aguda,

    sub-aguda, ou crnica da infeco. O critrio de cura utilizado para a classificao dos grupos

    baseou-se na negativao conjunta dos testes sorolgicos convencionais IFI, HAI e ELISA e

    do xenodiagnstico. Indivduos NT e TNC persistiram com resultados positivos tanto nos

    testes parasitolgicos como sorolgicos. Pacientes foram considerados TC somente quando

    ambos exames foram consistentemente negativos pelo menos em 8 ensaios de coleta serial de

    amostras de sangue. Nesse estudo no foi dada nfase aos diferentes esquemas de tratamento

    uma vez que no foi nosso objetivo. A Tabela 1 sumariza as informaes concernentes aos

    grupos de pacientes estudados.

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    26

    Tabela 1: Populao de estudo

    Grupo No de indivduos Idade Sexo (M/F)

    Artigo 1 No infectado* NI 12 20-53 3/9 Indeterminado* IND 08 44-67 3/5 Cardaco* CARD 13 50-70 5/8 Digestivo* DIG 08 45-65 5/3

    Artigo 2 Crianas no infectadas NI-1 07 9-14 6/1 Adultos no infectados* NI-2 12 20-59 3/9 Indeterminado recente E-IND 06 9-14 4/2 Indeterminado* IND 08 44-67 3/5 Cardaco* CARD 13 50-70 5/8

    Artigo 3 Coorte 1 No infectado* NI 11 20-53 3/8 Indeterminado* IND 06 44-67 3/3 Cardaco* CARD 08 50-70 2/6

    Coorte 2 Indeterminado IND 05 35-46 1/4 Cardaco CARD 13 29-58 7/6

    Artigo 4 Coorte 1 No infectado* NI 12 20-53 3/8 Doena de Chagas* CH 28 44-70 13/15 Leishmaniose visceral VL 26 - - Leishmaniose tegumentar LCL 20 - - Toxoplasmose TX 20 - - Malria MA 20 - - Esquistossomose SCH 20 - -

    Coorte 2 No infectado* NI 12 20-53 3/9 Indeterminado* IND 06 44-67 3/3 Cardaco* CARD 13 50-70 5/8 Digestivo* DIG 07 45-65 4/3

    Coorte 3 Indeterminado IND 10 24-59 8/12 Cardaco CARD 10 26-71 15/12 Digestivo DIG 10 30-77 19/10

    Coorte 4 No tratados NT 19 34-68 10/9 Tratados no curados TNC 17 12-66 9/8 Tratados curados TC 24 6 meses-54 6/18

    M= masculino; F= feminino. * Representam a mesma populao

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    27

    3.2. Anlise do fentipo celular dos leuccitos do sangue perifrico

    3.2.1. Protocolo de imunofenotipagem celular por citometria de fluxo

    Os ensaios de imunofenotipagem dos leuccitos do sangue perifrico foram feitos

    segundo protocolo proposto pelo fabricante, modificado conforme descrito a seguir.

    Em tubos de poliestireno 12x75mm, foram adicionados 5L do anticorpo monoclonal

    especfico para o marcador de superfcie celular de interesse marcado com fluorocromo

    (Tabela 2). Combinaes especficas de anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos

    distintos foram utilizadas para a anlise simultnea de marcadores de superfcie celular

    necessrios para a caracterizao de subpopulaes celulares de interesse. Para cada

    combinao de anticorpos monoclonais, foram adicionadas alquotas de 100L de sangue

    perifrico total coletado em EDTA. Aps homogeneizao em vrtex, as preparaes foram

    incubadas por 30 minutos, temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Aps o perodo de

    incubao, as amostras foram submetidas lise dos eritrcitos, utilizando 2ml de soluo de

    lise comercial (FACS Lysing Solution Becton Dickinson) diluda 10 vezes em gua

    destilada. Aps nova homogeneizao em vrtex, as preparaes foram incubadas por 10

    minutos a temperatura ambiente e ento submetidas centrifugao (400g, 10 minutos a

    18C). O sobrenadante foi descartado e os leuccitos lavados com 2mL de PBS (0,015M pH

    7,4), empregando-se as mesmas condies de centrifugao anteriormente citadas. Numa

    etapa final, os leuccitos foram fixados com 200L de soluo fixadora (10g/L de

    paraformaldedo, 1 % de cacodilato de sdio, 6,65g/L de cloreto de sdio, pH 7,2). Aps um

    perodo de pelo menos 15 minutos a 4C, os parmetros fenotpicos e morfomtricos das

    clulas presentes em cada tubo foram determinados no citmetro de fluxo (FACScalibur

    Becton Dickinson). O programa CELLQuest foi utilizado para a aquisio de dados e para a

    anlise dos resultados empregando diferentes estratgias.

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    28

    Tabela 2: Anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos utilizados para anlise de populaes, subpopulaes celulares e molculas de superfcie.

    Anticorpo Fluorocromo Clone Fentipo alvo no estudo

    Anti-CD3 FITC, PE UCHT1 Linfcitos T, NKT

    Anti-CD4 FITC, PE 13B8.2 ou RPA-

    T4 Linfcitos T auxiliares

    Anti-CD5 FITC L17F12 Linfcitos B1

    Anti-CD8 FITC, TC B9.11 ou M-L233 Linfcitos T citotxicos

    Anti-CD14 TC TK4 Moncitos

    Anti-CD16 FITC, TC 3G8 Clulas NK, NKT, Macrfago-like

    Anti-CD18 FITC YF118.3 Linfcito T ativado

    Anti-CD19 FITC, PE, TC HID19 ou 4G7, Linfcitos B

    Anti-CD23 PE M-L233 Subpopulaes de Linfcito B

    Anti-CD25 PE 3G10 Clula T reguladora

    Anti-CD28 PE 15E8 Linfcito T ativado

    Anti-CD38 PE AT13/5 Linfcito T ativado

    Anti-CD54 FITC 15.2 Linfcito T ativado

    Anti-CD56 PE B159 Clulas NK, NKT

    Anti-CD62L FITC DREG-56 Linfcito T ativado

    Anti-HLA-DR PE T36 Linfcito T ativado,

    Monc. pr-inflamatrios

    FITC = isotiocianato de fluorescena; PE = ficoeritrina; TC = tricolo 3.2.2. Estratgias para anlises imunofenotpicas de leuccitos circulantes

    Os dados referentes imunofenotipagem dos leuccitos do sangue perifrico foram

    analisados atravs de diversas estratgias, dependendo do fentipo celular rastreado. Assim,

    empregando os recursos mltiplos do programa CELLQuest, foram adotadas diferentes

    estratgias para anlise fenotpica denominadas: anlise convencional (SATHLER-AVELAR

    et al., 2003); anlise de clulas T reguladoras (BAECHER-ALLAN et al., 2001); anlise do

    marcador CD56 em subpopulaes de clulas CD3-CD16+ (GADDY et al., 1997), anlise de

    subpopulaes de clulas CD3-CD56+ (COOPER et al., 2001); anlise de clulas NKT

    (DOHERTY, et al., 1999); anlise combinada gated (SATHLER-AVELAR et al., 2003) e

    anlise de moncitos pr-inflamatrios (BELGE et al., 2002).

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    29

    3.2.2.1. Anlise convencional

    A anlise convencional foi realizada segundo proposto por SATHLER-AVELAR et

    al. (2003). A Figura 1 ilustra a seqncia de passos para a anlise convencional. Esse tipo de

    anlise consistiu na seleo da populao celular de interesse baseada em aspectos

    morfomtricos, realizada atravs de grficos de distribuio puntual de tamanho (FSC) versus

    granulosidade (SSC) (Figura 1A). Aps a seleo da regio de interesse (R1), o percentual de

    subpopulaes celulares fluorescentes, dentro da populao selecionada, foi obtido em

    grficos bidimensionais de distribuio puntual de fluorescncia, incluindo as modalidades

    FL1 versus FL2, FL2 versus FL3 ou FL1 versus FL3 (Figura 1B).

    FL3/CD19

    FL2/CD5

    A B

    Tamanho

    Granulosidade

    R1

    82.38% 0.37%

    2.57%14.69%

    Figura 1: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais de populaes celulares por citometria de fluxo. (A) Grfico de distribuio puntual FSC versus SSC utilizado para a seleo da populao de interesse, nesse caso linfcitos pequenos R1. (B) Grfico de distribuio puntual FL1 versus FL2 utilizado para quantificar o percentual das populaes ou subpopulaes celulares especficas, confinadas em R1.

    3.2.2.2. Anlise de clulas T reguladoras

    A anlise de clulas T reguladoras foi realizada segundo proposto por BAECHER-

    ALLAN et al. (2001). A Figura 2 ilustra a seqncia de procedimentos para a anlise de

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    30

    clulas T reguladoras com fentipo CD4+CD25HIGH. Aps a seleo da regio de interesse

    (R1), baseada em aspectos morfomtricos, realizada atravs de grficos de distribuio

    puntual de tamanho (FSC) versus granulosidade (SSC) (Figura 2A), grficos de FL1/CD4

    versus FL2/CD25 foram construdos, permitindo identificar a segregao da populao CD4+

    em 3 subpopulaes: CD4+CD25- (R2), CD4+CD25LOW (R3) e CD4+CD25HIGH (R4). A frao

    celular confinada em R4, representa o valor percentual de clulas T reguladoras na populao

    de linfcitos totais (Figura 2B).

    FL1/CD4

    FL2/CD25

    A B

    Tamanho

    Granulosidade

    R1

    1.98%

    25.74%

    23.37%

    R2

    R3

    R4

    Figura 2: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais de clulas T reguladoras (CD4+CD25HIGH) por citometria de fluxo. (A) Grfico de distribuio puntual FSC versus SSC utilizado para a seleo da populao de interesse, nesse caso linfcitos pequenos R1. (B) Grfico de distribuio puntual FL1/CD4 versus FL2/CD25 utilizado para quantificar o percentual de clulas T reguladoras (CD4+CD25HIGH), confinadas em R4.

    3.2.2.3. Anlise do marcador CD56 em subpopulaes de clulas CD3-CD16+

    A anlise de subpopulaes de clulas CD3-CD16+ foi realizada segundo proposto por

    GADDY et al. (1997). A Figura 3 ilustra a seqncia de procedimentos para a anlise das

    subpopulaes de clulas pr-NK (CD3-CD16+CD56-) e clulas NK maduras (CD3-

    CD16+CD56+). Aps a seleo da regio de interesse (R1), baseada em aspectos

    morfomtricos, realizada atravs de grficos de distribuio puntual de tamanho (FSC) versus

    granulosidade (SSC) (Figura 3A), foram construdos grficos de FL1/CD3 versus FL3/CD16,

    onde uma nova regio R2 foi construda, confinando a populao CD3-CD16+ (Figura 3B).

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    31

    Posteriormente, grficos de FL1/CD3 versus FL2/CD56 foram empregados, onde uma nova

    regio (R3) foi construda, confinando a populao CD3-CD56+. Em seguida, aps a

    combinao das regies R1, R2 e R3 atravs das frmulas G2=R2+R3 e G3=R1 and G2

    onde + representa o somatrio de clulas confinadas nas regies R1 e R2 e and designa a

    interceco dos eventos presentes simultaneamente em G2 e R1. Em seguida grficos de

    FL3/CD16 versus FL2/CD56, contendo as clulas confinadas em G3, foram utilizados para

    quantificar os percentuais das subpopulaes CD3-CD16+CD56- e CD3-CD16+CD56+.

    FL1/CD3

    FL3/CD16

    A B

    Tamanho

    Granulosidade

    R1

    FL3/CD16

    FL2/CD56

    D

    FL1/CD3

    FL2/CD56

    C

    7.29% 84.21%

    5.67%2.83%

    CD3-CD16+CD56+

    CD3-CD16+CD56-

    Figura 3: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais das subpopulaes de clulas NK: pr-NK (CD3-CD16+CD56-) e NK madura (CD3-

    CD16+CD56+) por citometria de fluxo. (A) Grfico de distribuio puntual FSC versus SSC utilizado para a seleo da populao de interesse, nesse caso linfcitos pequenos R1. (B) Grfico de distribuio puntual FL1/CD3 versus FL3/CD16 utilizado para selecionar a populao celular CD3-CD16+ (R2). (C) Grfico de distribuio puntual FL1/CD3 versus FL2/CD56 utilizado para selecionar a populao celular CD3-CD56+ (R3). (D) Aps a combinao das regies R1, R2 e R3 atravs das frmulas G2=R2 + R3 e G3=R1 and G2 um grfico de FL3/CD16 versus FL2/CD56 contendo as clulas confinadas em G3 foi utilizado para quantificar os percentuais das subpopulaes de clulas NK.

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    32

    3.2.2.4. Anlise de subpopulaes de clulas CD3-CD56+

    A anlise de clulas CD3-CD56+ foi realizada segundo proposto por COOPER et al.

    (2001). A Figura 4 ilustra a seqncia de procedimentos para a anlise de clulas CD3-

    CD56DIMCD16-/+ e CD3-CD56BRIGHTCD16-/+. Aps a seleo da regio de interesse (R1),

    baseada em aspectos morfomtricos, realizada atravs de grficos de distribuio puntual de

    tamanho (FSC) versus granulosidade (SSC) (Figura 4A), foram construdos grficos de

    FL1/CD3 versus FL2/CD56, onde uma regio (R2) foi construda selecionando a populao

    CD3-CD56+ (Figura 4B). O prximo passo consistiu na combinao das regies R1 e R2

    atravs da frmula G2=R1 and R2, onde and designa a interseo dos eventos presentes

    simultaneamente em R1 e R2. Em seguida, grficos de FL3/CD16 versus FL2/CD56,

    contendo as clulas confinadas em G2, foram utilizados para quantificar os percentuais das

    subpopulaes CD3-CD56DIMCD16-/+ e CD3-CD56BRIGHTCD16-/+ (Figura 4C).

    FL1/CD3

    FL2/CD56

    A B

    Tamanho

    R1

    Granulosidade

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    33

    FL3/CD16

    FL2/CD56

    C

    3.23% 3.88%

    85.56%7.33%

    CD3- CD56BRIGHT CD16+

    CD3-CD56DIMCD16+CD3-CD56DIM

    CD16-

    CD3-CD56BRIGHT

    CD16-

    Figura 4: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais das subpopulaes CD3-CD56DIMCD16-/+ e CD3-CD56BRIGHTCD16-/+ por citometria de fluxo. (A) Grfico de distribuio puntual FSC versus SSC utilizado para a seleo da populao de interesse, nesse caso linfcitos pequenos R1. (B) Grfico de distribuio puntual FL1/CD3 versus FL2/CD56 (R2) utilizado para selecionar a populao celular CD3-CD56+ - R2. (C) Aps a combinao das regies R1 e R2, atravs da frmula G2=R1 and R2, um grfico de FL3/CD16 versus FL2/CD56, contendo as clulas confinadas em G2, foi empregado para quantificar o percentual das subpopulaes CD3-CD56DIMCD16-/+ e CD3-CD56BRIGHTCD16-/+.

    3.2.2.5. Anlise de clulas NKT

    A anlise de clulas NKT foi realizada segundo proposto por DOHERTY el al. (1999)

    e modificado por MARTINS-FILHO (2000). A Figura 5 ilustra a sequncia de procedimentos

    para a anlise de clulas NKT (CD3+CD16-/+CD56-/+). Aps a seleo da regio de interesse

    (R1), baseada em aspectos morfomtricos, realizada atravs de grficos de distribuio

    puntual de tamanho (FSC) versus granulosidade (SSC) (Figura 5A), foram construdos

    grficos de FL1/CD3 versus FL3/CD16, onde uma regio (R2) foi construda selecionando a

    populao CD3+CD16-/+ (Figura 5B). O prximo passo consistiu na combinao das regies

    R1 e R2 atravs da frmula G2=R1andR2, onde and designa a interseo dos eventos

    presentes simultaneamente em R1 e R2. Em seguida, grficos de FL3/CD16 versus

    FL2/CD56, contendo as clulas confinadas em G2, foram utilizados para quantificar os

    percentuais das seguintes subpopulaes, por ns definidas: NKT1 (CD3+CD16+CD56-),

    NKT2 (CD3+CD16-CD56+) e NKT3 (CD3+CD16+CD56+) (Figura 5C).

  • Material e Mtodos

    _________________________________________________________________________________________________________________________________

    34

    A

    Tamanho

    R1

    Granulosidade

    A

    FL1/CD3

    B

    R2

    FL3/CD16

    FL3/CD16

    C

    NKT1

    (CD3+CD16+CD56-)

    NKT3

    (CD3+CD16+CD56+)NKT2

    7.27% 0,29%

    2,46%89,98%

    FL2/CD56

    Figura 5: Seqncia de procedimentos utilizados para as anlises dos percentuais das subpopulaes NKT1 (CD3+CD16+CD56-), NKT2 (CD3+CD16-CD56+) e NKT3 (CD3+CD16+CD56+) por cito