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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 ASPECTOS DA COMPETITIVIDADE DA CADEIA TRITÍCOLA NO BRASIL E NA ARGENTINA [email protected] Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais RENATA CRISTINA MAGGIAN; FÁBIO ISAIAS FELIPE. CEPEA - ESALQ/USP, PIRACICABA - SP - BRASIL. Aspectos da competitividade da cadeia tritícola no Brasil e na Argentina Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo Este trabalho tem como objetivo discutir os aspectos que impactam na competitividade da cadeia produtiva do trigo no Brasil e na Argentina. A dependência externa brasileira para atendimento da demanda doméstica, tendo a Argentina como principal ofertante, foi o motivador do presente estudo. Verificou-se que o principal fator competitivo da cadeia do trigo argentina estão relacionados aos custos de produção agrícola. Em relação ao Brasil, a diferença de custo operacional ficou em aproximadamente 60%, ou seja, o custo unitário de produzir trigo na Argentina representa 40% do custo observado no Brasil. Além disso, o produtor argentino possui isenção tributária sobre alguns insumos agrícolas, o que não ocorre no Brasil. Palavras-chaves: Brasil, Argentina, Trigo, MERCOSUL, competitividade Abstract This paper aims to discuss the issues that impact of the competitiveness production chain of wheat in Brazil and Argentina. The Brazilian external dependence to support the domestic demand, with Argentina as the main offer, was the motivation of this study. It was identified that main factor of Argentina wheat chain competitiveness are the production costs. Regarding Brazil, the difference of operational costs was approximately 60%, but the unitary cost for wheat production in Argentina represents 40% of the cost observed in Brazil. Moreover, the Argentinean producer has tax exemption on some agricultural inputs, different that occurs in Brazil. Key Words: Brazil, Argentina, MERCOSUL, competitiveness 1. INTRODUÇÃO O trigo é um alimento que assume signiticativa importância para a dieta de milhões de pessoas, sendo o cereal mais cultivado no mundo. Fornece cerca de 20% das calorias provenientes dos alimentos consumidos, pois possuí glúten, uma proteína que não é encontrada em outros grãos, o que o torna indispensável na alimentação. Segundo Maia (1996), o trigo é essencial na dieta por concentrar elevado valor energético, bem como ser

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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ASPECTOS DA COMPETITIVIDADE DA CADEIA TRITÍCOLA NO BRASIL E NA ARGENTINA

[email protected]

Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

RENATA CRISTINA MAGGIAN; FÁBIO ISAIAS FELIPE. CEPEA - ESALQ/USP, PIRACICABA - SP - BRASIL.

Aspectos da competitividade da cadeia tritícola no Brasil e na Argentina

Grupo de Pesquisa:

Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

Resumo Este trabalho tem como objetivo discutir os aspectos que impactam na competitividade da cadeia produtiva do trigo no Brasil e na Argentina. A dependência externa brasileira para atendimento da demanda doméstica, tendo a Argentina como principal ofertante, foi o motivador do presente estudo. Verificou-se que o principal fator competitivo da cadeia do trigo argentina estão relacionados aos custos de produção agrícola. Em relação ao Brasil, a diferença de custo operacional ficou em aproximadamente 60%, ou seja, o custo unitário de produzir trigo na Argentina representa 40% do custo observado no Brasil. Além disso, o produtor argentino possui isenção tributária sobre alguns insumos agrícolas, o que não ocorre no Brasil. Palavras-chaves: Brasil, Argentina, Trigo, MERCOSUL, competitividade Abstract This paper aims to discuss the issues that impact of the competitiveness production chain of wheat in Brazil and Argentina. The Brazilian external dependence to support the domestic demand, with Argentina as the main offer, was the motivation of this study. It was identified that main factor of Argentina wheat chain competitiveness are the production costs. Regarding Brazil, the difference of operational costs was approximately 60%, but the unitary cost for wheat production in Argentina represents 40% of the cost observed in Brazil. Moreover, the Argentinean producer has tax exemption on some agricultural inputs, different that occurs in Brazil. Key Words: Brazil, Argentina, MERCOSUL, competitiveness

1. INTRODUÇÃO

O trigo é um alimento que assume signiticativa importância para a dieta de milhões de pessoas, sendo o cereal mais cultivado no mundo. Fornece cerca de 20% das calorias provenientes dos alimentos consumidos, pois possuí glúten, uma proteína que não é encontrada em outros grãos, o que o torna indispensável na alimentação. Segundo Maia (1996), o trigo é essencial na dieta por concentrar elevado valor energético, bem como ser

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rico em carboidratos e proteínas. Devido à sua importância para a alimentação humana é chamado de “o mais nobre” dos cereais.

De acordo com Garcia & Neves (2001), qualquer governo reconhece a importância do trigo para a segurança alimentar, o que leva à constantes interferências neste mercado, afim de garantir o abastecimento. Além disso, considera-se que a falta de trigo em um determinado mercado corrobora para resultados negativos nas contas externas, bem como para o aumento da inflação.

Silva et al. (2004) apontam a cadeia produtiva do trigo como uma das mais importantes do setor alimentício, suprindo grande percentual da necessidade de alimentos da população brasileira, como pães, massas, biscoitos, além de ser fonte geradora de empregos. Dessa maneira, é de extrema necessidade manter a competitividade desta cadeia produtiva no Brasil.

Conforme Rossi & Neves (2004), a cultura do trigo já ocupou posição de destaque na agricultura brasileira em períodos anteriores. Todavia, problemas fitossanitários, de políticas públicas e de coordenação da cadeia acabaram por desestimular os agricultores, o que conduziu ao decréscimo gradual do cultivo de trigo e aumento da dependência externa do cereal a partir da década de 1990.

Ao ponto em que diminuia a competitividade da cadeia do trigo no Brasil, ocorria efeito inverso na Argentina, que apresentava-se maior competividade na produção e exportação do cereal, sendo inclusive o Brasil um dos principais destinos das exportações argentinas. Dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos da Argentina (SAGPYA, 2004), apontam que o Brasil adquire pelo menos metade da produção de trigo daquele país, consolidando-se de fato como o principal mercado.

Devido a estes fatores, é de extrema importância o estudo da cadeia agroindustrial do trigo no Brasil, uma vez que esta apresenta problemas, se comparada à da Argentina. Este artigo tem o objetivo de apresentar as diferenças estruturais da cadeia produtiva do trigo no Brasil e na Argentina, explorando aspectos edafo-climáticos e de comercialização. Também possibilitar a identificação e compreensão do funcionamento geral da cadeia, podendo, depois, identificar players e pontos críticos. 2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a metodologia deste trabalho foi utilizado dados secundários e pesquisa da bibliográfia disponível sobe o tema. Com base nestes dados buscou-se caracterizar a competitividade do Brasil e da Argentina no que se refere a cadeia produtiva do trigo.

Desta forma, este trabalho pode ser caracterizado como pesquisa exploratória, que consiste em uma primeira etapa de uma investigação mais ampla, com o objetivo de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato (CERVO & BERVIAN, 2002; GIL, 2000). Segundo os autores, pode-se dizer que pesquisas desta natureza têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias com vista à formulação de problemas mais preciosos, sem o objetivo de resolvê-los de imediato, mas somente caracterizá-los. Com isto, este tipo de pesquisa apresenta uma menor rigidez no seu planejamento. Neste trabalho, houve levantamento bibliográfico para coleta de dados secundários e argumentações que pudessem ajudar a alcançar os objetivos estabelecidos.

3. PANORAMA DA OFERTA E DEMANDA DO TRIGO NO MUNDO

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O trigo, como toda commodity, é um produto de baixa especificidade, na medida em que nas operações de classificação e armazenagem não ocorra segregação. Assim, o mecanismo de comercialização clássico entre os agentes a ser empregado continua sendo o chamado mercado spot, ou físico (CONAB, 2008).

O cultivo ocorre amplamente em todo o mundo, em diversas geografias e climas. A época de plantio e colheita se difere para cada hemisfério, podendo ter trigo de primavera e inverno. Historicamente, a produção do cereal no mundo tem como destino principal o consumo humano e o preparo de ração animal.

A produção mundial de trigo apresenta tendência para a estabilidade, se comparar as últimas dez campanhas. A safra 08/09 atingiu 684,4 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 12% sobre a média das últimas quatro safras (desde a 2004/05). Esse aumento da produção é justificado pelo aumento da área plantada em todos os países, como é o exemplo do Brasil, que dobrou a produção da safra 07/08 para 08/09.

Atualmente, os principais países produtores de trigo são: China (17% do total), Índia (12%), Estados Unidos (10%), Rússia (9%), Austrália (3%), Paquistão (3%), Turquia (2%), Kazaquistão (2%) e Argentina (1%), como se observa na Figura 1. Contudo, ser um grande produtor não necessariamente significa ser um grande exportador. Os principais exportadores são: Estados Unidos (27% do total), Austrália (16%), Canadá (17%), EU-27 (16%), Argentina (11%), Kazaquistão (4%) e outros países que juntos totalizam 9% (Figura 2).

17%

12%10%

9%

3%

3%

2%

1%

2%

C hina Índia E s tados Unidos R ús s ia A us trália

P aquis tão Turquia Argentina K az aquis tão

11%

4%

27%

16%

17%

9%

16%

E s tado Unidos Aus trália C anadáA rgentina K az aquis tão OutrosE U - 27

Figura 1 – Principais países produtores de trigo na safra 2007

Fonte: USDA (2009).

Figura 2 – Principais países exportadores de trigo em 2007

Fonte: USDA (2009). 4. O TRIGO NO BRASIL 4.1 Panorama histórico do trigo no Brasil

Para a melhor compreensão da cadeia do trigo no Brasil, se faz necessário explorar a história do cereal, bem como as políticas econômicas/agrícolas em torno produção do cereal e a articulação com a indústria moageira. De acordo com Maia (1996), o cultivo do trigo no Brasil se deu logo após o descobrimento, por volta de 1534, na Capitania de São Vicente. Após este período, com o avanço da colonização, rapidamente o cultivo do cereal passou a ocorrer em todo o país.

Segundo historiadores, o trigo desenvolveu-se no Rio Grande do Sul e, em menor escala em outros estados, na segunda metade do Século XVIII. Ao final deste período tiveram início as exportações, que em 1816 totalizaram 8.000 toneladas. Naquele mesmo quartel do século XIX, a ferrugem dizimou os trigais brasileiros, praticamente extinguindo a produção (ABITRIGO, 2009).

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Segundo ABITRIGO (2009), após a I Guerra Mundial, o decreto 2.049 de 31/12/1908 constituiu a primeira medida de fomento a cultura do trigo no Brasil. Este marcou o início da regulação estatal e o incentivo à produção do trigo. Posteriormente, o decreto 12.896 de 06/03/1918 instituiu prêmios em máquinas agrícolas, em valor proporcional ao número de hectares cultivados e garantia de preços mínimos por kilograma de trigo posto no Rio de Janeiro. Visando superar as dificuldades no abastecimento decorrentes da reduzida produção doméstica e problemas com a importação, criou-se o decreto 6.170 em 1944 criando o Serviço de Extensão do Trigo (SET) no Ministério da Agricultura. A partir deste a política do trigo tomou a estrutura que permaneceu até 1990.

Para Rossi & Neves (2004), sempre houve rigidez na regulamentação exercida sobre a cadeia do trigo no Brasil, havendo pelo governo o controle do desenvolvimento e expansão da mesma. Além disso, as formas de exploração na cadeia produtiva também eram direcionadas pelo Governo.

Para Queiroz (2001), citado por Rossi & Neves (2004), o fim da regulamentação no setor industrial moageiro ocorreu em 1990, durante o Governo Collor, com a Lei 8.096 que extinguia o Departamento de Trigo (DTRIG) que pertencia a Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab) – orgão público que fiscalizava o setor, controlando os preços do trigo em grão e da farinha - abrindo o setor para competir no mercado. 4.2 Cadeia produtiva do trigo no Brasil

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), a produção brasileira de trigo em 2008 totalizou 6,03 milhões de toneladas, com uma área colhida de 2,42 milhões de hectares e rendimento de 2,49 toneladas por hectare. Em 2007, o cultivo do trigo ocorreu em nove estados brasileiros, contudo, 88,7% da produção nacional ocorreu no Paraná e no Rio Grande do Sul. Desta forma, a região Sul do Brasil apresenta forte participação na produção nacional de trigo.

Apesar de a produção de trigo superar 6,0 milhões de toneladas, esta ainda é insuficiente para atender a demanda doméstica, estimada em aproximadamente 11 milhões de toneladas. A participação dos estados brasileiros na produção de trigo nos últimos 3 anos é apresentada na Tabela 1, enquanto que a distribuição da produção em 2007 é observada na Figura 3. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2009), apontam que o consumo de trigo no mercado doméstico brasileiro foi de 10,8 milhões de toneladas em 2008. Deste total, apenas 40,0% é suprido pela oferta nacional, enquanto que o restante é atendido pelas importações. Assim, fica clara a dependência brasileira quanto às importações de trigo.

De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), entre 1990 e 2008, o total de trigo importado pelo Brasil foi de 75,5 milhões de toneladas, equivalendo a um dispêndio US$ 11,7 bilhões no período. Isso evidencia que o Brasil depende em grande parte das importações do cereal, que principalmente são oriundas da Argentina (89,0% do total). Outros fornecedores são o Canadá (3,4%), Estados Unidos (3,3%) e Paraguai (2,6%).

Tabela 1 - Produção de trigo e participação por estados entre 2005 e 2007

Estados 2005 2006 2007

Produção % Produção % Produção % Paraná 2.767.440 59,40% 1.236.294 49,75% 1.927.216 46,84% Rio Grande do Sul 1.389.731 29,83% 823.062 33,12% 1.723.007 41,88% Santa Catarina 106.514 2,29% 146.146 5,88% 203.334 4,94% São Paulo 136.300 2,93% 102.690 4,13% 105.159 2,56%

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Minas Gerais 63.722 1,37% 58.335 2,35% 51.253 1,25% Goiás 49.885 1,07% 47.918 1,93% 48.018 1,17% Mato Grosso do Sul 136.410 2,93% 61.783 2,49% 40.061 0,97% Distrito Federal 6.190 0,13% 7.650 0,31% 14.479 0,35% Mato Grosso 683 0,01% 970 0,04% 1.530 0,04% Bahia 1.915 0,04% - - - - Brasil 4.658.790 100,00% 2.484.848 100,00% 4.114.057 100,00% Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009).

Figura 3 – Distribuição da produção brasileira de trigo por mesorregião em 2007 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009).

4.3 Aspectos da indústria de derivados de trigo no Brasil

As cadeias produtivas são formadas por sistemas produtivos que operam em diferentes ecossistemas ou sistemas naturais, além de diversas instituições de apoio (instituições de crédito, pesquisa, assistência técnica e outras) e um aparato legal e normativo. O agronegócio de uma determinada região é formado por um conjunto das cadeias produtivas. Assim, políticas agrícolas eficazes (crédito agrícola, crédito para pesquisa, normas de impostos e taxas, serviços de apoio, entre outras) só podem ser estabelecidas a partir de uma visão sistêmica do negócio (ROSSI et al. 2004 apud CASTRO 2000, p.4) .

A cadeia do trigo, segundo Brum & Muller (2008), é dividida em insumos, produção, moinhos, transformação/distribuição e consumo. Para este trabalho, o foco voltou-se para a indústria moageira, uma vez que este elo é o principal fornecedor de alimentos/insumos para a população/indústria brasileira. Para identificar esses processos e como estão ligados, utilizou-se a cadeia produtiva do trigo proposta por Rossi & Neves(2004) (Figura 4).

Silva (1991) aponta que a indústria moageira de trigo no Brasil é relativamente antiga. Contudo, esta desenvolveu-se somente após a Lei 948 de 3/12/1949, que isentou de impostos por cinco anos a importação de máquinas, desde que não houvesse similar nacional. Como parte dos moinhos recebia cotas de trigo proporcionalmente à capacidade de produção, rapidamente ocorreu a expansão do número de plantas no parque moageiro nacional. Por conta disso, a capacidade do parque moageiro brasileiro apresentava-se superior ao consumo doméstico de trigo, havendo forte ociosidade neste setor no Brasil.

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Na figura 4 se observa todas as etapas da cadeia, desde o fornecimento dos insumos até a distribuição dos produtos no varejo. Apesar de hoje o Brasil não ser auto-suficente na produção de trigo para o consumo interno, no passado a cultura do trigo ocupou uma posição importante, porém problemas fitossanitários, políticas públicas, má coordenação da cadeia e a grande vulnerabilidade ao clima, fizeram os produtores abandonarem o cultivo.

Figura 4 – Cadeia produtiva do trigo brasileira Fonte: Rossi & Neves (2004)

No início dos anos 90, as diretrizes das politicas brasileiras consistia em “liberar os

mercados agroindustriais, abrir a economia, desregulamentar as atividades do agribusiness, como fatores tendentes a induzir maior eficiência econômica, competitividade, qualidade e preços mais baratos para os consumidores” (CANZIANI et al., 2004). Para o trigo, nessa época a estatização do grão o retirou do mercado em diversos elos da cadeia e pequenos produtores menos eficientes também foram eliminados do processo, para que grandes produtores adequados à modernização pudessem desenvolver melhor o setor.

O resultado obtido não foi como o planejado. Houve grande desânimo no mercado e em 1995 o Brasil produzia apenas 25% do que produziu no final dos anos 80. O governo brasileiro até tentou reerguer o setor, porém o receio quanto ao impacto que isso geraria na inflação do País era grande. O agricultor sem condições de se manter no mercado e enfrentar a concorrência com o produto importado, começou a diminuir progressivamente a área plantada.

5. O TRIGO NA ARGENTINA 5.1 Panorama histórico do trigo na Argentina

Assim como para compreender a cadeia produtiva do trigo houve uma visão geral da história do cereal no Brasil, faz-se necessário o mesmo procedimento para melhor compreensão do processo histórico do trigo na Argentina.

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De acordo com a Secretaría de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos Argentina (SAGPYA, 2004), a expansão do cultivo do trigo naquele país teve seu início a partir de 1850 e não apenas causou uma grande transformação na agricultura como também foi o cultivo fundador da agricultura extensiva naquele País. O desenvolvimento do cereal está intimamente ligado às importantes transformações econômicas e também a vinda de mão-de-obra imigrante européia, modificando toda a estrutura social e cultural da Argentina.

A expansão pelo território argentino teve início em 1870 nas regiões pampeiras de Santa Fé, Córdoba, La Pampa e Entre Rios. As condições edafo-climáticas daquele país foram extremamente favoráveis para o desenvolvimento da cultura do trigo, principalmente o trigo denominado hard, mais específico para a produção de pães e massas, o que transformou a Argentina em um grande exportador do cereal e de outros grãos. Atualmente o cultivo do trigo apresenta uma importate difusão geográfia e nos últimos anos vem se expandindo em regiões que tradicionalmente não se plantava o cereal (SAGPYA, 2004).

Atualmente, o trigo argentino, apesar de boa qualidade, no momento do embarque há uma ligeira perda da qualidade devido a contamição de corpos estranhos, por isso o ceral é conhecido como sujo, o que acarreta em uma desvalorização no preço. Em vista desse problema e com o objetivo de otimizar todos os processos da cadeia, foi criado o programa nacional de qualidade do trigo, com a resolução N° 334/2003, através da Sagpya.

Esse programa tem como objetivo a) melhorar a apresentação do trigo, permitindo oferecer ao mercado uma ampla gama de produtos de acordo com os requerimentos da demanda; b) identificar as exigências de qualidade da demanda interna e externa, através do possível abastecimento de diferenciados para cada destino; c) estabelecer uma política de sementes que permita a diferenciação e agrupar os cultivos por tipo qualidade; d) orientar a classificação da mercadoria; e) e garantir o máximo nível de segurança no abastecimento do trigo. 5.2 Cadeia produtiva do trigo na Argentina

De acordo com a SAGPYA, a produção da safra 08/09 foi de 8,3 milhões de toneladas, em uma área colhida de 4,2 milhões de hectares com rendimento médio de 2,070 toneladas por hectare. O cultivo ocorre em cinco províncias argentinas, tendo a de Buenos Aires como a principal produtora, com 59,2% do total. O consumo está estimado em cerca de 5,5 milhões de toneladas, o que resulta excedente de 2,8 milhões de toneladas. A participação das províncias argentinas na produção de trigo nos últimos 3 anos é apresentada na Tabela 2, enquanto que a distribuição da produção em 2007 é observada na Figura 2.

O desenvolvimento da cultura de trigo vem crescendo e tem como principal província produtora Buenos Aires, com cerca de 47% do total, seguido por Córdoba (23%), Santa Fé (14%), Entre Ríos (6%), La Pampa (4%) e outras províncias (3%). Diante da diversidade geográfica, o plantio do trigo começa primeiro nas províncias do norte, nos meses de maio e junho e finaliza no sudoeste de Buenos Aires, no mês de agosto (SAGPYA, 2005). Essa participação das províncias argentinas na produção de trigo nos últimos três anos é apresentada na Tabela 2, enquanto que a distribuição da produção em 2007 é observada na Figura 5.

De acordo com a SAGPYA (2005), o cultivo do trigo apresenta uma importate difusão geográfia e nos últimos anos vem se expandindo em regiões que tradicionalmente não se plantava o cereal. Porém, vale ressaltar que na safra 08/09, em específico, a produção

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argentina caiu pela metade, mesmo assim ainda há margem para exportações, como já mencionado.

Tabela 2 – produção de trigo e participação por estados entre 2005 e 2007

Estados 2005 2006 2007

Produção % Produção % Produção % Buenos Aires 7.450.976 59,17% 9.019.820 62,00% 7.628.490 47,48%

Córdoba 1.712.790 13,60% 1.646.190 11,32% 3.727.320 23,20% Entre Rios 711.650 5,65% 889.230 6,11% 954.798 5,94% La Pampa 234.560 1.86% 111.750 0.77% 615.380 3.83% Santa Fé 1.847.240 14,64% 1.995.600 13.72% 2.635.620 14,67% Outros 636.180 5.05% 885.370 6.09% 487320 3,00%

Argentina 12.593.396 100% 14.547.980 100% 16.066.928 100% Fonte: Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos – SagPya (2009).

Figura 5 –Distribuição da produção argentina de trigo por região em 2007 Fonte: Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos – SagPya (2009).

5.3 Aspectos da indústria de derivados de trigo na Argentina

A qualidade apresentada pelo trigo argentino é superior ao brasileiro, visto que naquele país há preferência pelo grão de tipo pão e melhorador. Apesar disso, a qualidade ainda é inferior se comparado com os principais países exportadores mundiais, como Austrália, Canadá e Estados Unidos. Segundo o SagPya (2005), a ameaça ao cultivo argentino é provocado pela grande oferta mundial do grão, principalmente os de baixos preços oriundos dos países do leste da Europa, que vem apresentando cereal panificável.

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Mesmo assim, o diferencial é que a Argentina integra o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), o que reduz os preços para exportação para países do mesmo bloco econômico em cerca de 10,5%. Os dados do SagPya (2005) apontam que o ciclo comercial do trigo argentino coincide com o clico australiano, visto que ambos estão localizado no Hemisfério Sul. Já os países do Hemisfério Norte não são no mesmo período, porém estão bem próximos. Assim, o mercado internacional não fica desabastecido por um longo tempo, já que a oferta dos países do Hemisfério Norte se dá entre maio e agosto, e a partir de setembro disponibiliza-se o grão do Hemisfério Sul.

Apesar de a Argentina estar entre os maiores produtores mundiais, isso não é suficiente para influenciar diretamente nas cotações internacionais. O principal comprador do trigo argentino é Brasil, seguido de outros países sul-americanos, de alguns países do norte da África e do Oriente (SAGPYA, 2005). O País se encontra, atualmente, entre os cinco maiores exportadores do cereal, porém vem perdendo algumas posições devido à forte participação de países como a Rússia, Índia e Kazaquistão.

Para a formação de preço do trigo não existe um mercado de referência único. Os mercados exportadores se dividem entre vários países e também depende das características do destino do grão. Basicamente, as vendas canadenses e australianas são administradas por Juntas Comerciais e a União Européia aplica uma política de subsídios e restituições à exportação de trigo.

Na Argentina, o cálculo da formação do preço, habitualmente, se baseia na cotação FOB Golfo do México para o trigo tipo Hard Red Winter (HRW) e para o tipo brando, concorrente ao europeu, se utiliza a cotação FOB porto Rouen da França. Como já citado anteriormente, os países do MERCOSUL que importam trigo de outras origens pagam 10,5% a mais de imposto de importação. A existência de tal taxa faz com que o preço do trigo argentino no mercado FOB não reflita a evolução dos preços nos países externos.

Assim como no Brasil, a cadeia do trigo na Argentina também é divida em insumos, produção, armazenamento, indústria moageira/alimentícia e comercialização que envolve mercado interno e externo. O foco deste trabalho, para a compreensão da competitividade, também voltou-se para a indústria moageira. Os processos da cadeia trigueira argentina segue descrita na Figura 6.

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Figura 6 – Cadeia produtiva do trigo na Argentina Fonte: Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos – SagPya (2009).

6. COMPETITIVIDADE NA CADEIA DO TRIGO NO BRASIL E N A ARGENTINA

Para estabelecer os pontos críticos de competitividade entre as cadeias de trigo brasileira e argentina, vale situar que competitividade é um conceito que deve ser mais abrangente que aquele baseado em custos de produção, devendo incluir possibilidades de associar competitividade à organização interna eficiente e aos sistemas de comunicação e coordenação de atividade interfirmas (PORTER, 1990 apud FARINA, 1997). Para Farinha (1997), a competitividade não se limita apenas à eficiência produtiva em nível de firma, mas sim passa a depender de toda a cadeia produtiva e de sua organização.

Diante do conceito estabelecido, destaca-se que a competitividade do trigo no primeiro elo da cadeia deve-se ao contexto de políticas governamentais implantadas nos anos 90, que consistia em liberar os mercados agroindustriais, abrir a economia, desregulamentar as atividades do agrobusiness, como fatores tendentes a induzir maior eficiência econômica, competitividade, qualidade e preços mais baratos para o consumidor (CANZIANI et al., 2004). Porém, o Brasil não possuia uma estrutura capaz de promover a defesa da concorrência. A triticultura era submetido à estatização e à eliminação de diversos elos da cadeia. Os investimentos governamentais para promover a sustentabilidade da cadeia já tinham atingido níveis altos igualnado-se aos realizados na Europa e Estados Unidos: os produtores já utilizavam tecnologia moderna e sementes selecionadas. Com isso, o Estado compreendeu que a cadeia poderia ser auto sustentável, e se retirou do cenário, porém o que aconteceu foi a significativa redução da área.

O grande problema é que o incentivo governamental eliminou pequenos produtores e desvinculou o mercado nacional do internacional. Segundo Canziani et al. (2004), em 1986 o preço internacional era de US$130/t e preço interno era de US$241/t. Com isso, o maior comprador de trigo nacional foi a Conab. Porém entre 1995 e 1996, as cotações mundiais sofreram significativas altas devido ao desequilibrio entre a oferta e a demanda e a queda no nível dos estoques mundiais, equilibrando os preços internos e externos.

Nesse cenário, e desde a extinção do monopolio governamental, a Conab deixou de ser a opção ao mercado de trigo brasileiro. Desde então, a área nacional vem oscilando, chegando aos maiores níveis em 2004, com 6,1 milhões de hectares plantados. A evolução da áera, produção, rendimento e consumo é observado na Figura 7.

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Figura 7 – Evolução da área, consumo, produção e rendimento da produção de trigo no Brasil – de 1989 a 2008

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da Food and Agriculture Organization – FAO (2009). Por ser uma cultura de inverno, o cultivo do trigo começou a ser adotado no país como

uma opção de rotação às culturas de verão. Atualmente, além dos fatores externos que afetam a decisão do produtor em aumentar ou não a área de trigo, no Brasil há grande concorrência com o milho safrinha, especialmente no Sul do país. Apesar de o milho ser uma cultura de verão, o desenvolvimento de novas variedades resultou em excelente adaptação ao cultivo de segunda safra. Atualmente o milho safrinha é um concorrente direto do trigo, contudo o agricultor deve definir se plantará milho até meados de março, devido ao período considerado ideal de implantação da cultura. Em geral, após esse período o produtor deve optar pelo trigo.

Já o cereal argentino é favorecido pelo solo extremamente fértil, que reduz a necessidade de fertilizantes e possui maior estabilidade edafo-climáticos. Os principais concorrentes do trigo argentino são os países do Hemisfério Norte, que apresentam uma ampla gama de cereais de alta qualidade e asseguram contínua qualidade dos grãos em todas as entregas. Atualmente, a falta de uniformidade nas entregas implica em leves quedas dos preços, o que deixa a Argentina fora de mercados mais exigentes.

O principal fator de perda de competitividade do trigo argentino está relacionado aos principais competidores mundiais, que além de apresentarem uniformidade nas entregas oferecem maior variedade do cereal. Com isso, os principais importadores do cereal argentino é a América do Sul (MERCOSUL). Alguns países africanos também demandam o produto argentino nas épocas de entressafra da Europa.

O caminho para a abertura de novas fronteiras e melhorar a competitividade é aumentar as variedades de trigo. Para isso há grandes mudanças a serem feitas na cadeia do trigo e na atual política trigueira.

Assim como o Brasil, a Argentina sofre com bruscas variações ao longo da história na evolução da áera, produção, rendimento e consumo, como é observado na Figura 8.

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Figura 8 –Evolução da área, consumo, produção e rendimento da produção de trigo na Argentina – de 1989 a 2008

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da Food and Agriculture Organization – FAO (2009).

6.1 Custos de produção no Brasil e Argentina Os sistemas de produção tanto para o Brasil quanto para a Argentina, são realizadas de

duas maneiras: plantio direto e plantio convencional. De acordo com o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), em 2008 o custo total para a implantação da lavoura de trigo convencional na Argentina ficou em US$ 210,65/ha, enquanto que para a implantação da lavoura via plantio direto o custo foi de US$ 194,75/ha.

O custo total com a implantação do trigo convencional na Argentina divide-se em: implantação da lavoura (79% do total), frete (13%), colheita (6%) e comercialização (2%). Para a o plantio direto, a implantação da lavoura representa 78% do total, enquanto que a colheita, frete e comercialização representam, 6%, 14% e 2%, respectivamente, como pode ser observado nas Figuras 9 e 10.

Figura 9 – Custos de Produção do plantio

convencional na Argentina na safra 2008/09

Fonte: INTA (2009).

Figura 10 – Custos de Produção do plantio direto na Argentina na safra 2008/09.

Fonte: INTA (2009).

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De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), em 2008 o custo total para a implantação da lavoura de trigo com plantio direto no estado do Paraná ficou em US$ 527,55/ha. Esse custo da lavoura brasileira de trigo direto divide-se em: implantação da lavoura (89% do total), frete (3%), colheita (5%) e comercialização (3%), como pode ser observado na Figura 10. Já para o estado do Rio Grande do Sul, segundo maior produtor brasileiro, o custo total ficou em US$ 471,24/ha, sendo que 83% é representado pela implantação da lavoura, 3% pelo frete, 9% pela colheita e 4% pela comercialização, como pode ser observado na Figura 12.

A partir desta a análise dos custos operacionais da implantação da cultura de trigo no entre os dois Países, nota-se que a Argentina suporta e absorve mais facilmente as oscilações dos preços internais, podendo vender o cereal a preços mais baratos, principalmente para o MERCOSUL. Segundo Brun & Mülher (2004), isso significa que em condições normais de oferta e demanda mundial, e particularmente no interior do MERCOSUL, o produto argentino estará sempre em melhor posição do que o produto nacional, fato que impede o Brasil de alcançar a auto-suficiência.

Figura 11 – Custos de Produção da Lavoura

Convencional no Brasil no Estado do Paraná na safra 2008/09

Fonte: CEPEA (2009).

Figura 12 – Custos de Produção da Lavoura Convencional no Brasil no Rio Grande do Sul na safra 2008/09

Fonte: CEPEA (2009).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na análise dos aspectos que impactam na competitividade da cadeia produtiva do trigo

no Brasil e na Argentina, este mostrou que enquanto na década de 1980 o Brasil quase atingiu a auto-suficiência na produção de trigo, a abertura comercial, a redução da intervenção governamental na cadeia, e em diversos setores, escassez de crédito agrícola e a não competitividade na produção agrícola, fizeram com que a oferta interna de trigo oscilasse expressivamente nas últimas duas décadas. Desta forma, a dependência do produto importado passou a ser um fator primordial para atendimento da demanda doméstica.

A Argentina é a principal fornecedora do produto ao Brasil, devido ao excedente interno, ao menor custo de produção – aproximadamente 40% do valor gasto no Brasil – e das menores tarifas, favorecido pelos acordos do MERCOSUL.

Interessante observar que a participação da Argentina na oferta e demanda mundial não é expressiva a ponto de exercer influência na formação do preço mundial. Entretanto, oscilações de preços na principal Bolsa de comercialização, Chicago Broad of Trade

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(CBOT), tendem a impactar os preços na Argentina, que num momento seguinte será repassado para seus compradores, neste caso o principal seria o Brasil. Segundo Brum & Mülher (2004), quando o custo das importações brasileiras ultrapassa o limite dos US$ 140,00/t, aproximadamente, o produtor brasileiro se vê estimulado a plantar mais do cereal.

Assim, como o trigo argentino ganha maior competitividade devido aos baixos custos da lavoura e a isenção de taxas, o Brasil poderia, pelo menos, ser auto-suficiente na produção do trigo, que nesta safra, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), atingiu 6 milhões de toneladas dos 10,8 milhões que são consumidos. Entre 2008 e 2009, o Governo brasileiro lançou uma série de medidas visando o incentivo ao plantio de trigo no Brasil, como aumento do preço mínimo e redução de alguns impostos sobre a comercialização. Espera-se que parte do resultado já ocorra na safra a ser implatada em 2009.

Enfim, é neste ponto que se percebe um impasse no desenvolvimento da cadeia produtiva do trigo e que há graves problemas. Ainda falta uma política que proteja a cultura e permita que se desenvolva de maneira sustentável, o que dificilmente ocorrerá enquanto não se mudar o pensamento que a plantação do cereal é apenas como uma rotação de cultura e que é mais fácil e barato importar trigo do que produzi-lo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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