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ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL ASPECTOS ANATÔMICOS DO PÊNIS, PREPÚCIO E MÚSCULO RETRATOR DO PÊNIS DE BOVINOS DAS RAÇAS GIR E NELORE Alberto Corrêa Mendonça Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito GOIÂNIA 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

ASPECTOS ANATÔMICOS DO PÊNIS, PREPÚCIO E MÚSCULO

RETRATOR DO PÊNIS DE BOVINOS DAS RAÇAS GIR E NELORE

Alberto Corrêa Mendonça

Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito

GOIÂNIA

2010

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TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E

DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás

(UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e

Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a

Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de

leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica

brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico:[Aspectos anatômicos do pênis,

prepúcio e músculo retrator do pênis de bovinos das raças Gir e Nelore] Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor (a): Alberto Corrêa Mendonça

E-mail: [email protected]

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [X]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor ICB/UFG

Agência de fomento: Sigla: GO

País: Brasil UF:GO CNPJ:

Título: Aspectos anatômicos do pênis, prepúcio e músculo retrator do pênis de bovinos

das raças Gir e Nelore

Palavras-chave: Anatomia, morfologia peniana, óstio prepucial, reprodutores

Título em outra língua: Anatomical aspects of the penis, prepuce and penis retractor

muscle of cattle Gir and Nelore

Palavras-chave em outra língua: Anatomy, morphology penile, preputial orifice,

reproductors

Área de concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Data defesa 30/04/2010

Programa de Pós-Graduação: Escola de veterinária/ UFG

Orientador (a): Dr. Luiz Augusto Batista Brito

E-mail: [email protected] Co-orientador (a):* Maria Clorinda Soares Fioravanti e Luiz Antônio Franco da Silva

E-mail: [email protected] e [email protected] *Necessita do CPF quando não constar no SisPG

3. Informações de acesso ao documento:

Liberação para disponibilização?1 [ X ] total [ ] parcial

Em caso de disponibilização parcial, assinale as permissões:

[ ] Capítulos. Especifique:

__________________________________________________

[ ] Outras restrições:

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Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o

envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.

O Sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os

arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua

disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não

permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o

padrão do Acrobat.

________________________________________ Goiânia Data: ____ / ____ /

Assinatura do (a) autor (a)

1 Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste

prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre

disponibilizados.

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ALBERTO CORRÊA MENDONÇA

ASPECTOS ANATÔMICOS DO PÊNIS, PREPÚCIO E MÚSCULO RETRATOR

DO PÊNIS DE BOVINOS DAS RAÇAS GIR E NELORE

Área de Concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Orientador:

Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva

Profª. Drª. Maria Clorinda Soares Fioravanti

GOIÂNIA

2010

Tese apresentada para obtenção do grau

de Doutor em Ciência Animal junto à

Escola de Veterinária da Universidade

Federal de Goiás

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

GPT/BC/UFG

M539a

Mendonça, Alberto Corrêa.

Aspectos anatômicos do pênis, prepúcio e músculo

retrator do pênis de bovinos das raças Gir e Nelore/ Alberto

Corrêa Mendonça. - 2010.

88 f. : il

Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás,

Escola de Veterinária, 2010.

Bibliografia.

1. Bovinos 2. Pênis 3. Prepúcio. I.Título

CDU: 636.2:591.464.1

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À minha esposa, Daniela David Junqueira,

pelo amor e companheirismo a mim dedicados.

Dedico.

Aos meus queridos e amados pais, Antônio Leão e Maria Terezinha Corrêa, por

tudo que fizeram e fazem para minha formação como Médico Veterinário,

Professor e Homem.

Ofereço.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por me conceder saúde, vontade e inteligência. Agradeço pela

maravilhosa vida e pela realização de mais um projeto.

À Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, juntamente

com o Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, por terem me oferecido

este grande presente.

O amor, o carinho, a dedicação e a paciência da minha esposa e

companheira, Daniela D. Junqueira, meu grande amor. A todos os meus parentes

e familiares, em especial a Antônio (papai), Maria Terezinha (mamãe), Diógenes,

Maria da Luz, Ana Júlia, Irmãos e sobrinhos. Ao Diógenes David (Júnior), pelo

carinho e dedicação quando solicitada a ajuda nos equipamentos tecnológicos.

Aos meus filhos Fredericko e Leonardo. Em especial ao Frede por ser

colega de profissão, meu grande orgulho.

Ao Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito, pela orientação, pela sapiência.

Pessoa fundamental na realização deste doutorado.

Ao Sr. Hermes, Rodrigo, Irineu, Margarete, Joel e Marquinho, pela

atenção e por permitir livre acesso ao Frigoiás em Anápolis.

A todos os meus alunos, em especial ao Thulio Durães, pela ajuda na

realização dos trabalhos.

Ao comitê de orientação, Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva e a

Profª Dr ª Maria Clorinda Soares Fioravanti, pela ajuda e coorientação.

Ao Dr. Rogério Elias Rabelo pelo grandioso auxílio.

Aos técnicos e amigos Otávio e Darci, meu obrigado.

Ao Prof. Dr. Reginaldo Nassar (Diretor do ICB), sempre solícito aos

pedidos de ajuda.

Ao Prof. Júlio Roquete Cardoso, recém chegado ao departamento, pela

colaboração e força.

Ao Prof. Jayrson Araújo e a Profª Yandra Lobato pelo coleguismo e

ajuda. Ao chefe do departamento de Morfologia Prof. Paulo César Moreira, meu

obrigado.

Enfim, a todos que de maneira direta ou indireta colaboraram para a

realização deste trabalho.

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“O Importante não é ser diferente e sim, especial.”

L. P. 16.

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SUMÁRIO

CAPITULO 1- CONSIDERAÇÕES GERAIS .......................................................... 1

1.1- Introdução ....................................................................................................... 1 1.2- Revisão de literatura ....................................................................................... 2 1.2.1- Embriologia .................................................................................................. 2 1.2.2- Desenvolvimento pós-natal .......................................................................... 4 1.2.3- Morfologia do pênis ...................................................................................... 6 1.2.4- Morfologia do prepúcio ............................................................................... 15 1.2.5- Músculos prepuciais ................................................................................... 21 1.2.6- Ereção e ejaculação ................................................................................... 24 1.3- Justificativa e objetivo ................................................................................... 28 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 29

CAPÍTULO 2 ........................................................................................................ 36

Aspectos anatômicos e histológicos dos músculos retratores do pênis de bovinos das raças Gir e Nelore ......................................................................................... 36

Resumo ................................................................................................................ 36

Anatomical and histological aspects of retractor muscles of the penis of Girolando and Nelore bulls ................................................................................................... 37

Abstract ................................................................................................................ 37

1- Introdução ........................................................................................................ 38

2- Material e métodos ........................................................................................... 39

3- Resultados e discussão ................................................................................... 41

4- Conclusões ...................................................................................................... 45

5- REFERÊNCIAS ................................................................................................ 46

CAPÍTULO 3 ........................................................................................................ 49

Caracterização morfométrica do prepúcio de touros das raças Gir e Nelore ....... 49

Resumo ................................................................................................................ 49

Abstract ................................................................................................................ 50

Morphometric characterization of the prepuce of bulls of the Gir and Nelore races ............................................................................................................................. 50

1- Introdução ........................................................................................................ 51

2- Material e métodos ........................................................................................... 52

3- Resultados e discussão ................................................................................... 53

4- Conclusões ...................................................................................................... 58

5- REFERÊNCIAS ................................................................................................ 58

CAPÍTULO 4 ........................................................................................................ 61

Caracterização morfométrica do pênis de touros das raças Gir e Nelore ............ 61

Resumo ................................................................................................................ 61

Abstract ................................................................................................................ 62

Morphometric characterization of the penis of bulls of Gir and Nelore races ....... 62

1- Introdução ........................................................................................................ 63

2- Material e métodos ........................................................................................... 64

3- Resultados e discussão ................................................................................... 65

4- Conclusão ........................................................................................................ 69

5- REFERÊNCIAS ................................................................................................ 70

CAPÍTULO 5.- CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 73

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

FIGURA 1 - A)Seio urogenital em corte transversal de um embrião B) Folhetos embrionários. ...................................................................................... 3

FIGURA 2 - Órgãos reprodutores masculino de bovino, evidenciando o pênis e

suas partes. MIC, músculo isquiocavernoso; PP, pilar peniano; FS, flexura sigmóide; MRP, músculo retrator do pênis; PL, parte livre; GP, glande peniana. .................................................................................. 7

FIGURA 3 - Corte transversal do pênis de um touro. Túnica albugínea (TA), corpo

cavernoso (CC), canais de ereção (DEC), corpo esponjoso (CS) e uretra (U). ........................................................................................... 9

FIGURA 4 - Esquema das trabéculas do corpo cavernoso. Pênis com a flexura

sigmóide formada (A), e distensão da flexura (B). .............................. 9 FIGURA 5 - Esquema de origens dos nervos do plexo lombosacral, onde dentre

outros se destaca o nervo pudendo (pun). ....................................... 14 FIGURA 6 - Pelve de um bovino dissecada. Inervação (azul) e forame isquiático

menor (1). ......................................................................................... 14 FIGURA 7 - Prepúcio normal de um touro da raça Nelore ................................... 16 FIGURA 8 - Pelos prepuciais, ao redor do óstio, com acúmulo de detritos. ......... 17 FIGURA 9 - Bainha prepucial de um touro da raça Nelore, três anos de idade,

incisada longitudinalmente, evidenciando as criptas e a diferença de pigmentação da lâmina prepucial interna. ........................................ 19

FIGURA 10 - Músculos prepuciais craniais de um touro da raça Nelore de três

anos de idade ................................................................................... 22 FIGURA 11 - Inserções dos músculos prepuciais caudais, onde se observa o

entrelaçamento das fibras. Touro da raça Nelore de três anos de idade. ................................................................................................ 23

FIGURA 12 - Esquema dos passos da ejaculação: 1- Penetração; 2- Estímulo

sensorial da glande peniana; 3- Contrações repentinas e fortes dos músculos uretral, bulboesponjoso e isquiocavernoso; 4- Expulsão do sêmen. .............................................................................................. 27

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CAPÍTULO 2

FIGURA 1.- Origem dos MRPs (setas) na segunda vértebra caudal (estrela) de

um touro Nelore de 36 meses. .......................................................... 42 FIGURA 2 - Corte longitudinal do músculo retrator do pênis de bovino de touros

da raça Gir (A) e Nelore (B) (HE, 100X), com fibras musculares lisas apresentando núcleo único, oval e centralizado (HE, 50x). Corte transversal do músculo retrator do pênis de bovinos da raça Gir (C) e Nelore (D), evidenciando feixes de fibras musculares. ..................... 44

FIGURA 3 - Músculo retrator do pênis de touro Gir de 38 meses. Corte

longitudinal da origem do MRP, feixe de fibra muscular lisa em vermelho e o tecido conjuntivo ao redor (A- 400x). Corte transversal do MRP próximo à origem, com alguns feixes de fibras contornados por tecido conjuntivo (B 200x). Tricrômio de Masson. ...................... 45

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LISTA DE TABELAS

CAPITULO 2

TABELA 1. Comprimento em cm do maior valor, menor valor, média, desvio

padrão e coeficiente de variação dos músculos retratores esquerdo e

direito de bovinos das raças Nelore e Gir de 30 a 38 meses de idade. 43

CAPITULO 3

TABELA 1 - Medidas de 23 touros da raça Nelore manejados em centrais de

coleta de sêmen. ................................................................................. 54

TABELA 2 - Medidas de 20 touros da raça Gir manejados em centrais de coleta

de sêmen. ............................................................................................ 55

TABELA 3 - Correlações genéticas entre medidas de 23 touros Nelores de

centrais de coletas de sêmen. ............................................................. 56

TABELA 4. Correlações genéticas entre medidas de 20 touros Gir de centrais de

coletas de sêmen. ............................................................................... 57

CAPITULO 4

TABELA 1. Medidas, em centímetros, de peças anatômicas de pênis de touros da

raça Nelore de 30 a 38 meses de idade, coletadas em frigorífico

inspecionado. ...................................................................................... 67

TABELA 2. Medidas em centímetros do pênis de touros da raça Gir de 30 a 38

meses de idade coletadas em frigorífico inspecionado. ...................... 68

TABELA 3. Correlações entre as medidas penianas de touros da raça Nelore de

30 a 38 meses de idade. ..................................................................... 69

TABELA 4. Correlações entre as medidas penianas de touros da raça Gir de 30 a

38 meses de idade. ............................................................................. 69

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LISTA DE ABREVIATURAS

ALA Altura anterior

ALP Altura posterior

CDA Comprimento da curvatura distal ao ápice da glande peniana

CG Comprimento da glande

COM Comprimento corporal

CP Comprimento peniano

CPRE Comprimento do prepúcio

GL Comprimento da glande

HE Hematoxilina-eosina

MC Massa corporal

MDOA Menor distância do óstio prepucial ao abdômen

MDUA Menor distância da cicatriz umbilical ao abdômen

MRP Músculo retrator do pênis

MRPDG Músculo retrator do pênis direito do Gir

MRPDN Músculo retrator do pênis direito do Nelore

MRPEG Músculo retrator do pênis esquerdo do Gir

MRPEN Músculo retrator do pênis esquerdo do Nelore

PEOP Perímetro externo do óstio prepucial

PL Comprimento da parte livre do pênis

PMTC Perímetro do metacarpo esquerdo

PMTT Perímetro do metatarso esquerdo

PTES Perímetro testicular

PTX Perímetro torácico

PUN Nervo pudendo

RCP Comprimento da raiz peniana a curvatura proximal

SP Comprimento da flexura sigmoide

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RESUMO

Profissionais da reprodução procuram cada vez mais o aprofundamento no estudo

do pênis e prepúcio para a seleção de reprodutores, evitando fatores que possam

favorecer o desenvolvimento de enfermidades, gerando impotência coeundi. Na

área cirúrgica busca-se esse estudo para facilitar bloqueios nervosos e

abordagens cirúrgicas. Neste sentido, objetivou-se realizar uma revisão sobre

pênis e prepúcio enfocando aspectos embriológicos, desenvolvimento pós-natal,

composição anatômica e histológica, origens e inserções musculares, irrigações e

drenagens sanguínea e linfática, inervações e mecanismo de ereção e ejaculação,

bem como estudar os aspectos morfométricos do pênis, prepúcio e músculo

retrator do pênis de bovinos das raças Gir e Nelore. No primeiro estudo, foram

selecionados 40 touros com idade entre 30 a 38 meses, sendo 20 da raça Nelore

e 20 da raça Gir. Estes animais foram avaliados por meio de exame clínico geral e

específico do aparelho genital, teste de libido e capacidade de serviço.

Posteriormente, estes foram encaminhados ao frigorífico, onde foram coletadas

peças anatômicas de pênis e prepúcio para dissecação e morfometria do músculo

retrator do pênis, que, independente da raça, apresentou-se sempre aos pares em

todos os animais. A segunda vértebra caudal foi o local de origem do músculo

retrator do pênis em todos os animais estudados. A inserção do músculo retrator

do pênis esquerdo ocorreu de modo mais prolongado em relação ao direito.

Apesar disso, não houve associação a qualquer processo mórbido, uma vez que

todos os animais apresentaram-se aptos à realização da cópula. No segundo

estudo, foram selecionados 23 touros da raça Nelore e 20 Gir, oriundos de

diferentes centrais de coleta de sêmen para a morfometria e correlações entre

várias medidas corporais e prepuciais. O comprimento médio do prepúcio nos

touros Nelore e Gir foram de 52,4 5,5 cm e 57 3,2 cm, respectivamente. No

terceiro estudo foram utilizadas as peças anatômicas do primeiro experimento,

onde foram realizadas as morfometrias penianas. O comprimento peniano foi, em

média, de 71,96 e 75,73 cm, respectivamente para o Nelore e Gir. Alguns

parâmetros morfológicos e morfométricos quantificados neste trabalho, como

comprimento do prepúcio, menor distância do óstio prepucial à parede do

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abdômen, menor distância da cicatriz umbilical à parede do abdômen, perímetro

externo do óstio prepucial, comprimento da glande e comprimento da parte livre

do pênis, mostram-se importantes como critérios de avaliação na seleção de

reprodutores, seja para fins de melhoramento de características fenotípicas ou

mesmo na prevenção de enfermidades adquiridas que acometem a genitália

externa de touros.

Palavras-chave: Anatomia, morfologia peniana, óstio prepucial, reprodutores.

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ABSTRACT

Professionals of reproduction are increasingly looking for a deeper study of the

penis and prepuce for the selection of reproductors to avoid factors that may favor

the development of diseases causing impotence coeundi. In the surgical area this

knowledgment facilitate nerve blocks and surgical approaches. So, it was aimed to

conduct a review of penis and prepuce focusing embryological aspects, postnatal

development, anatomical and histological composition, muscular origin and

insertion, blood and lymphatic irrigation and drainage, innervation and mechanism

of erection and ejaculation and to study morphometric aspects of the penis,

prepuce and penis retractor muscle of Gir and Nelore cattle. In the first study, we

selected 40 bulls aged between 30 to 38 months, being 20 Nelore and 20 Gir.

These animals were evaluated by clinical examination and specific terms of the

genital tract, test libido and mating ability. Later, the animals were carried to the

slaughterhouse, where anatomical parts of the penis and preputium were collected

in order to perform the morphometry and dissection of the retractor muscles of the

penis, which, regardless of race presented in pairs in all animals. The second

vertebra was the site of origin of the penis retractor muscle in all animals studied.

The insertion of the left retractor muscle of the penis was more distally than the

right one. However, there was no association with any disease process, since all

animals showed themselves able of carrying out mating. In the second study, it

was selected 23 Nelore and 20 Gir bulls from different centrals of collection of

semen in order to study the morphometry and the correlation of different body and

preputial measures. The average length of the prepuce of Nelore and Gir bulls

was 52.4 5.5 cm and 57 3.2 cm, respectively. In the third study, for the penile

morphometry, it was used the anatomical specimens of the first experiment. The

penis length was, on average, 71.96 and 75.73 cm, respectively for the Nelore and

Gir bulls. Some morphological and morphometric parameters quantified in this

work, as the length of the prepuce, the shortest distance from the preputial orifice

to the abdominal wall, lower distance from the umbilicus to the abdominal wall,

circunference of the preputial orifice, length of the glans and length of free part of

the penis, are found to be important parameters to evaluation criteria in the

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xviii

selection of reproductors for phenotypic characteristics improvement or even for

prevention of acquired diseases that affect the external genitalia of bulls.

Keywords: anatomy, morphology penile, preputial orifice, reproductors.

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CAPITULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1 Introdução

Desde os primórdios, a área médica se preocupa com o conhecimento

profundo das estruturas, o que auxilia todas as áreas, incluindo a veterinária. Não

é possível a realização de procedimentos médicos sem o conhecimento do

organismo e a revisão morfológica detalhada do corpo todo ou da parte a ser

trabalhada.

Vários trabalhos técnicos e científicos da área médica iniciam pela

revisão morfofisiológica do assunto que se deseja abordar. Médicos veterinários

buscam cada vez mais conhecimento sobre a origem, irrigação, drenagem

sanguínea, linfática e inervação de estruturas anatômicas, visando melhores

bloqueios nervosos mais eficazes e abordagem cirúrgica.

Do ponto de vista econômico, estudos apontam que a reprodução é dez

vezes mais importante que a qualidade da carcaça (NELSON, 1997). Quando o

touro é destinado à reprodução, exige-se um exame mais detalhado do pênis para

a observação de mal ou neoformações, hemorragias, perdas de substância,

alterações inflamatórias (aderências, proliferação fibrosa) e formação de

abscessos ou de angulação (fratura) que possam impedir ou dificultar a cópula

(FOLHADELLA et al., 2006).

Muitos touros apresentam sensibilidade à palpação da genitália

externa. Dessa forma é indispensável realizar exame físico específico dessa

região com bastante cautela. No exame externo de prepúcio se avaliam a pele,

fâneros e tecido subcutâneo. A coloração, temperatura, edema, prurido, aumentos

de volume, perdas de substância e infestações parasitárias são aspectos

importantes a serem observados. São também de interesse andrológico o

tamanho e a forma da porção livre do prepúcio e os sinais de prolapso da mucosa

prepucial. Estreitamento ou secreção proveniente do óstio prepucial também são

de notável observação (ROSENBERGER, 1993; FEITOSA, 2004).

O tamanho do prepúcio é uma característica morfológica de importante

relevância nos bovinos, principalmente nos reprodutores de raças de corte,

considerando o alto valor econômico desses animais no processo de produção. É

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2

conveniente a eliminação do plantel reprodutivo, dos exemplares que apresentam

prepúcio longo, tendo em vista a alta herdabilidade genética desta característica

(VIU et al., 2002).

A fimose ou estenose do óstio prepucial é provocada por causas

congênitas, traumáticas ou infecciosas, podendo impedir a protrusão normal do

pênis. O prolapso penduloso que ocorre em algumas raças Bos indicus (Santa

Gertrudis e Brahman) e a tendência inerente a eversão prepucial em algumas

raças mochas de Bos taurus (Aberdeen Angus e Hereford) podem levar a

traumas, processos inflamatórios e, eventualmente, prolapso prepucial e fimose

(PEARSON, 1972; HAFEZ & HAFEZ, 2004).

Injúrias no folheto prepucial podem apresentar como fatores

predisponentes o prepúcio penduloso, eversão do folheto prepucial interno e o

óstio prepucial largo (MEMON et al., 1988). Vários criadores de bovinos no estado

de Goiás abatem precocemente reprodutores de alto valor, devido a enfermidades

prepuciais (SILVA et al., 1998).

A seleção de touros baseada em características de crescimento com

alguma ênfase na seleção para diminuir o prepúcio e o umbigo, seria uma

maneira de atenuar os problemas causados pelo prolapso prepucial, sem reduzir

significativamente o ganho das características de crescimento (FRANKE &

BURNS, 1985).

Conforme citaram ACUÑA & CAMPERO (2005), de 355 touros virgens

descartados como reprodutores 10,7% foram por lesões penianas; e de 1.798

touros adultos, 8,8% também foram eliminados pelo mesmo problema.

Segundo ASHDOWN (1976), é muito importante a compreensão da

anatomia normal para o exame clínico e cirurgia do pênis e do prepúcio do bovino.

1.2 Revisão de literatura

1.2.1 Embriologia

Apesar do sexo genético do embrião ser decidido quando os gametas

masculinos e femininos combinam-se, os estágios precoces de diferenciação

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morfológica dos órgãos reprodutivos seguem o mesmo padrão. Em ambos os

sexos, o primórdio gonadal aparece como um espessamento do epitélio celômico

na face medial do mesonefro (DYCE et al., 1997; SENGER, 2003).

Com a presença do cromossomo Y será produzida uma substância

morfogenética (primeiro hormônio), fazendo com que o ducto de Wolff permaneça.

A ligação, um tanto atenuada, da crista urogenital com a parede corporal dorsal

forma o mesonefro urogenital (CUNNINGHAM, 1999).

O mesoderma intermediário forma o trato urogenital, onde aparecem

dois espessamentos ao redor da margem da membrana urogenital. Um ventral e

mediano, sendo o tubérculo genital, localizado ventralmente ao óstio urogenital do

embrião, que originará a glande, e outro, localizado dorsalmente ao tubérculo que

é a prega genital, onde formará o corpo do pênis (Figura 1) (FLETCHER &

WEBER, 2003; SENGER, 2003).

FIGURA 1 - A) Seio urogenital em corte transversal de um embrião; B) Folhetos embrionários Fonte: SENGER, 2003

Quando o feto bovino atinge tamanho corporal de seis centímetros,

surgem pregas do tubérculo genital, formando dilatações genitais, separadas do

pênis por lamelas de células ectodérmicas, sendo o prepúcio primordial. Com 9

centímetros, somente a extremidade distal do pênis protrai do óstio prepucial. Em

torno de dez centímetros, o pênis está mergulhado no óstio prepucial e aparece

um crescimento para o exterior da prega prepucial primária que é a parte pré-

peniana do prepúcio. Estas mudanças parecem resultar do crescimento

diferenciado da parede abdominal e do pênis, com o óstio prepucial mantendo sua

posição caudal ao umbigo. A porção pré-peniana aderida e a não aderida do

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prepúcio, conjuntamente com o óstio prepucial, são facilmente reconhecidas,

quando o tamanho corporal atinge 15 cm, embora durante todo o período a

porção pré-peniana será relativamente maior, e é certamente formada por

alongamento direto da extremidade cranial da porção aderida (ASHDOWN, 2006).

1.2.2 Desenvolvimento pós-natal

Cada componente do trato reprodutor de todos os animais domésticos

desenvolve-se em proporção relativa ao tamanho do corpo e passa por

diferenciação histológica. O pênis do bovino recém-nascido é muito delgado e

possui menos da metade do comprimento do adulto. É destituído de flexura

sigmóide e contém pequena quantidade de tecido erétil. Seu ápice ainda não se

separou da bainha e a cavidade prepucial não se estende além do pênis. O

aumento no comprimento leva o pênis às curvas características que começam a

formar-se aproximadamente no terceiro mês do desenvolvimento pós-natal (DYCE

et al., 1997; HAFEZ & HAFEZ, 2004).

No momento do nascimento, a cavidade pré-peniana é longa e a uretra

se abre nela. A parte livre do pênis não está circundada pela cavidade prepucial,

mas está fundida à porção peniana do prepúcio por uma lamela de células

ectodérmicas e por um frênulo ventral fino de tecido conjuntivo. Mudanças na

queratinização já se encontram estabilizadas na zona central das células da

lamela, especialmente ao redor do processo uretral. O começo adiantado de

queratinização divide a lamela para formar as superfícies do pênis e prepúcio e a

cavidade da porção peniana do prepúcio (ASHDOWN, 2006).

O crescimento do pênis bovino é relativamente lento e, ainda que se

acelere na puberdade, o tamanho definitivo não é atingido até o segundo ano,

algum tempo depois que os outros órgãos reprodutivos completaram seu

desenvolvimento. O processo uretral separa-se do prepúcio em torno de quatro

meses de idade e existe uma correlação positiva entre a separação completa e o

peso corporal. Já a superfície ventral da glande geralmente se desprende no

sétimo mês de vida (FIELDS et al., 1982).

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Primeiramente a aderência restringe-se à face esquerda da glande,

porém, mais tarde, difunde-se ao redor de toda circunferência e estende-se

proximalmente ao longo dos lados do órgão. Um frênulo estreito persiste por certo

tempo e, embora a separação em geral esteja completa por volta dos oito meses,

em muitos touros jovens ficam resquícios desta conexão, unindo o pênis à lâmina

interna do prepúcio. Estes resquícios podem permanecer até a primeira monta,

quando a ruptura é acompanhada de sangramento. A rafe ao longo do ápice do

órgão adulto é uma evidência da antiga conexão. Ocasionalmente, persiste um

frênulo completo, levando à deflexão do ápice do pênis ereto (ASHDOWN, 1960;

DYCE et al., 1997).

A competência funcional não é concluída simultaneamente em todos os

componentes do aparelho reprodutor. Assim, no touro, a capacidade de ereção do

pênis precede o aparecimento de espermatozóides no ejaculado em vários

meses. Na puberdade, todos os componentes do aparelho reprodutor masculino

alcançam suficiente estágio de desenvolvimento para que o sistema como um

todo seja funcional. O período de rápido desenvolvimento que precede a

puberdade é conhecido como pré-puberdade. O desprendimento entre o pênis e a

lâmina interna do prepúcio é um dos indicadores do começo da fase reprodutiva

dos machos bovinos. Esta particularidade anatômica reflete o desenvolvimento

sexual e é considerada como uma das características para definir a idade à

puberdade (HARDIN et al., 1982).

A superfície dorsal da parte livre do pênis é a próxima a se separar e

está diretamente relacionada à quantidade de hormônios masculinos que atuam

no pênis acelerando a quebra da lâmina prepucial, ou podendo ser acelerada

mecanicamente pela ereção, protrusão e monta. Depois disso, caso não se tenha

completado a separação entre o pênis e o prepúcio, geralmente, ela procede

rapidamente para que aos onze meses se complete (ASHDOWN, 2006). Segundo

HAFEZ & HAFEZ (2004), a separação se completa aos oito meses de vida. Em

touros da raça Holandesa ela se completa aos 13 meses e em mestiços F1

Holandês-Gir aos 14,5 meses de idade (FRENEAU et al., 1995).

É comum ocorrer uma persistência concêntrica, de aderência, entre a

parte livre do pênis e o prepúcio, podendo perdurar até a ocorrência da primeira

cobertura, onde se rompe devido à tensão mecânica, ao invés de mudanças

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hormonais e histológicas no frênulo. A partir daí a persistência se torna patológica.

A separação ocorre mais cedo em touros submetidos a uma dieta nutricional de

alto nível. Em touros Bos indicus a separação é geralmente mais tardia do que

nas raças européias, aproximadamente de 15 a 18 meses de idade (ASHDOWN,

2006). Estudos apontam que em tourinhos da raça Nelore, a separação completa

ocorre aos 16 meses, já em tourinhos Holandeses, aos 13 meses (FRENEAU et

al., 1995).

Durante a fase pós-puberdade, o desenvolvimento continua e os

órgãos reprodutores alcançam maturidade sexual total após meses ou até anos

da idade em que ocorreu a puberdade (DYCE et al., 1997).

As raças diferem na idade e no peso em relação à puberdade. Os

touros Holandeses alcançam a puberdade antes dos touros Angus ou Hereford, e

os Charoleses demoram mais que todos eles. Os touros de corte cruzados

geralmente atingem a puberdade mais cedo, antes daqueles de raças mais

apuradas. Os touros zebuínos atingem a puberdade numa idade mais avançada

do que a maioria das raças de clima temperado (HAFEZ & HAFEZ, 2004).

Na 32ª semana, após o nascimento, ocorre a conclusão da separação

entre o pênis e a parte pré-peniana do prepúcio. A idade em que um touro pode

ser considerado sexualmente maduro é em torno de 150 semanas (HAFEZ &

HAFEZ, 2004).

1.2.3 Morfologia do pênis

O pênis do bovino é cilíndrico e longo, sendo que nos touros jovens seu

comprimento é de aproximadamente 75 cm, podendo atingir 100 cm em um touro

adulto. É dividido em três partes: a raiz, o corpo, onde se inclui a flexura sigmóide,

e a parte livre, a qual contém a glande (Figura 2) (ROSENBERGER, 1993; DYCE

et al., 1997; SCHALLER, 1999; HAFEZ & HAFEZ, 2004).

Segundo GILBERT (1989), pênis curtos, de dez a 22 cm da extremidade

distal até o óstio prepucial, podem ser causas de impotência sexual em touros de

dois a cinco anos.

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A raiz do pênis está inserida nas partes laterais do arco isquiático por

dois pilares (ramos), os quais convergem e se unem ventralmente ao arco. Os

pilares laterais são comprimidos e circundados pelos potentes músculos

isquiocavernosos e se unem para a formação do bulbo do pênis, que está

envolvido pelo músculo bulboesponjoso. No bulbo do pênis ocorre a inclusão da

parte esponjosa da uretra. Os músculos isquiocavernosos, também denominados

músculos eretores do pênis, são músculos estriados pares que recobrem a face

superficial do ramo do pênis. Os dois músculos convergem a partir de suas

origens sobre os lados laterais do arco isquiático em direção ao corpo do pênis. A

continuação extrapélvica do músculo uretral é o músculo bulboesponjoso, que

diminui em tamanho conforme se estende distalmente. Este músculo é de

natureza estriada esquelética, com inervação do sistema nervoso vegetativo

(PEOPESKO, 1981; GETTY, 1986; BANKS, 1991; DYCE et al., 1997;

FRANDSON et al., 2003).

FIGURA 2- Órgãos reprodutores masculino de bovino, evidenciando o pênis e suas partes. MIC, músculo isquiocavernoso; PP, pilar peniano; FS, flexura sigmóide; MRP, músculo retrator do pênis; PL, parte livre; GP, glande peniana Fonte: SENGER, 2003

O corpo do pênis tem início na junção dos pilares e constitui-se na

maior parte do órgão. Em sua origem está inserido na sínfise isquiática por duas

faixas planas e fortes, os ligamentos suspensórios do pênis, que se unem ao

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tendão de inserção dos músculos gráceis. Esta parte do pênis apresenta quatro

superfícies: 1- a dorsal, que é arredondada, onde se encontram as artérias e

nervos dorsais do pênis e um rico plexo venoso; 2- a superfície uretral, que é

ventral, arredondada e ao longo dela corre a uretra, encaixada no sulco uretral e

envolvida pelo corpo esponjoso; 3 e 4- as superfícies laterais, arredondadas,

cobertas por um plexo venoso. Imediatamente caudal ao escroto, o corpo do pênis

forma uma curva em forma de S, a flexura sigmóide. Assim, aproximadamente 30

cm do pênis está dobrado quando inteiramente retraído. Todo o corpo do pênis

está encerrado no tecido conjuntivo denso da túnica albugínea, a qual é

especialmente bem desenvolvida em pênis do tipo fibroelástico, como o do

bovino. Septos de tecido conjuntivo originam-se da cápsula e se continuam,

formando o revestimento fibroso dos componentes do tecido erétil. Envolvidos

pela túnica albugínea estão o corpo cavernoso do pênis (dorsalmente) e o corpo

esponjoso da uretra que contém no seu interior a uretra peniana e é separado por

um septo de túnica albugínea do corpo cavernoso (Figura 3) (BANKS, 1991).

A túnica albugínea é uma grossa camada de tecido conjuntivo denso

irregular que contém um número variável de fibras elásticas e células musculares

lisas. Internaliza-se para formar uma rede de trabéculas entre a qual se situa o

tecido erétil esponjoso (BACHA & BACHA, 2003). Essas trabéculas de tecido

conjuntivo encontram-se em ângulos retos à linha central, sendo que na região

dorsal da curvatura proximal da flexura sigmóide, estão menos densas que na

ventral. Já na curvatura distal, na sua região dorsal, as trabéculas são inseridas

obliquamente (Figura 4), formando espaços cavernosos especiais que distenderão

bastante durante a ereção, forçando a túnica albugínea e podendo provocar a

ruptura desta, tendo como consequência fratura peniana (ASHDOWN, 2006).

Nos ruminantes, as cavernas do corpo cavernoso são de menor

importância e predomina o tecido conjuntivo denominado fibroelástico, contendo

pouca ou nenhuma célula muscular (DELLMANN, 1994).

A extremidade livre do pênis em repouso fica na parte caudal da

cavidade prepucial, sendo recoberta pela lâmina interna da mucosa do prepúcio.

Quando intacta, apresenta boa mobilidade em função de várias pregas da mucosa

prepucial e do alto teor de tecido conjuntivo frouxo submucoso. A uretra segue um

interstício ou rafe ao longo da face direita da parte livre e termina em uma

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projeção baixa, com um óstio em forma de fenda na sua extremidade (DYCE et

al., 1997).

FIGURA 3- Corte transversal do pênis de um touro. Túnica albugínea (TA), corpo cavernoso (CC), canais de ereção (DEC), corpo esponjoso (CS) e uretra (U) Fonte: SENGER, 2003

FIGURA 4- Esquematização das trabéculas do corpo cavernoso. Pênis com a flexura sigmóide formada (A), e distensão da flexura (B) Fonte: ASHDOWN, 2006

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Coberta por um coxim de tecido mole, tendo uma camada sub-

epitelial fina de tecido vascular e fora da túnica albugínea está a glande, de

extremidade pontiaguda e levemente espiralada, onde está situado o óstio uretral

externo. A camada vascular tem pouca quantidade de corpo esponjoso

(SCHALLER, 1999; ASHDOWN, 2006). A glande peniana dos touros pode conter

cartilagem e tecido conjuntivo denso (BANKS, 1991).

A partir da curvatura caudal da flexura sigmóide, o pênis do bovino se

encontra recoberto longitudinalmente, em sua região dorsal, por um

espessamento da túnica albugínea, que recebe o nome de ligamento apical do

pênis e constitui-se de inúmeras fibras colágenas. Essas se caracterizam por

apresentar elasticidade, especialmente na face esquerda, e pouca elasticidade à

direita e ventral (MONTES et al., 1980). Esse ligamento não apresenta, na raça

Nelore, ponto de origem perfeitamente definido (EURIDES et al., 1998). Próximo à

sua origem mede aproximadamente sete milímetros de largura. Na sequência,

alarga-se envolvendo quase completamente a túnica albugínea e estreita-se na

parte distal. Encontra-se separado da túnica albugínea por tecido conjuntivo

frouxo ao longo de seu comprimento, aproximadamente 20 cm, exceto nas

extremidades de origem e inserção (ASHDOWN & SMITH, 1969; MONTES et al.,

1980; MOBINI & WALKER, 1983; SCHALLER, 1999). Aparentemente, a ação

fisiológica do ligamento apical é elevar a porção distal do pênis e mantê-lo reto

durante a ereção, auxiliando assim a penetração (ASHDOWN & PEARSON, 1971;

MONTES et al., 1980).

O músculo retrator do pênis (MRP), nos ruminantes domésticos, é bem

mais desenvolvido do que o retrator do clitóris, seu homólogo (DYCE et al., 1997)

Histologicamente, o músculo retrator do pênis, é constituído essencialmente de

fibras musculares lisas seguindo um padrão normal de músculo liso, ou seja,

fibras de aspecto fusiforme, mononucleadas (DELLMANN, 1994). O MRP ocorre

aos pares e nos ruminantes originam-se na superfície ventral das vértebras

caudais, segue para o lado do reto e, em seguida, suas duas partes continuam

distanciadas de dois a cinco cm uma da outra, sob a pele perineal, passando por

um sulco ao lado do músculo bulboesponjoso. Alcança o pênis na curvatura

caudal da flexura sigmóide. Algumas fibras fixam-se aí, mas a maioria prossegue

e tem uma inserção mais distal e difusa, chegando até doze a 15 cm caudalmente

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à glande (GETTY, 1986). Segundo GLOOBE et al. (1998), em 45 pênis de bovinos

estudados, 80% apresentavam variação de quatro e meio a oito cm na inserção

do músculo retrator.

As contrações locais deste músculo, que normalmente são evidentes,

ajudam a manter a flexura peniana, e segundo DUKES (1993), a protrusão do

pênis durante a ereção, nos ruminantes, é produzida pelo relaxamento do MRP,

permitindo que a flexura sigmóide seja distendida. Outra função é ajudar a impedir

a eversão prepucial (ASHDOWN & PEARSON, 1971; GLOOBE et al., 1988;

McENTEE, 1990).

A uretra peniana ou esponjosa que corre através da região ventral do

pênis é revestida por uma mistura de epitélios de transição, cúbico estratificado,

colunar estratificado ou colunar simples. Exceto quando há células musculares

ocasionais, a parede da uretra peniana não possui camada muscular lisa. Os

espaços cavernosos maiores e mais abundantes formam o corpo cavernoso

uretral. Nos bovinos, a porção terminal da uretra torna-se superficial, formando um

processo uretral. Este é recoberto por uma membrana cutânea e revestido por

epitélio transicional ou escamoso estratificado (BACHA & BACHA, 2003). A uretra

peniana tem calibre inicial reduzido em relação à uretra pélvica e, posteriormente,

comprime-se na flexura sigmóide, próximo à fixação do músculo retrator do pênis.

Os cálculos urinários tendem a alojar-se aí, especialmente em animais castrados,

nos quais a passagem é mais estreita que nos machos inteiros (DYCE et al.,

1997). A uretra peniana está envolvida pelo corpo esponjoso sobre seu

comprimento inteiro, a exceção da seção terminal, onde está o processo uretral

(BECKETT et al., 1975).

Na altura da quinta ou sexta vértebra lombar, a aorta abdominal,

localizada no dorso da cavidade, bifurca-se e dá origem às artérias ilíacas internas

e externas. As internas são calibrosas e passam caudalmente e um tanto

ventrolateralmente à asa do sacro, no sentido da cavidade pélvica, no ligamento

sacrotuberal largo. Próximo à borda cranial do forame isquiático menor, a artéria

ilíaca interna termina nas artérias pudenda interna e glútea caudal. A artéria

pudenda interna é considerada de grande calibre no macho. Pode fornecer um

ramo para a parte intrapélvica do músculo obturador externo. Fornecem ramos

para os músculos coccígeo e levantador do ânus e segue caudalmente ao longo

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da superfície lateral dos músculos citados. No macho, a artéria pudenda interna,

logo após o arco isquiático divide-se em: a) artéria do bulbo, que supre o bulbo do

pênis e o corpo esponjoso; b) artéria profunda do pênis que se ramifica no corpo

cavernoso do pênis; e c) artéria dorsal do pênis, que corre ao longo do dorso do

pênis para a glande e fornece ramificações para o prepúcio. Às vezes, as artérias

direita e esquerda formam um único tronco (PEOPESKO, 1981; GETTY, 1986;

DYCE et al., 1997; FRANDSON et al., 2003; SENGER, 2003). A artéria profunda

do pênis, ao longo de seu curso, fornece vários ramos (artérias helicinas) que vão

suprir o tecido trabecular erétil e os sinusóides (HAFEZ & HAFEZ, 2004).

No corpo cavernoso do pênis, na sua superfície dorsal, logo abaixo da

túnica albugínea, aparecem três canais longitudinais de ereção, sendo dois

ventrais, desviados ligeiramente da linha média do pênis, e um dorsal,

medialmente instalado. Esses canais distribuirão o sangue no momento da ereção

e também para a nutrição das células da região (ASHDOWN & GILANPOUR,

1974; SENGER, 2003).

O sistema vascular do corpo cavernoso do pênis não é conectado

anatomicamente com o sistema do corpo esponjoso (AMSELGRUBER &

SINOWATZ, 1992). Essas artérias são acompanhadas por veias satélites que

drenam tanto os espaços sanguíneos como os tecidos do pênis. O sangue venoso

proveniente dos ramos e do corpo cavernoso segue para a circulação sistêmica

por meio dos canais pélvicos, os quais são drenados pelas veias profundas. O

bulbo do pênis, o corpo esponjoso da glande e a própria também drenam para

veias na área pélvica, mas existe uma via alternativa para as veias localizadas

mais cranialmente. Essas estruturas são drenadas pelo sistema venoso dorsal

(ASHDOWN & GLOSSOP, 1983; ARDALANI & ASHDOWN, 1988; DYCE et al.,

1997; McCRACKEN et al., 1999).

Pode haver uma drenagem venosa distal dos espaços cavernosos do

pênis, geralmente distal a flexura sigmóide. Quando essas veias atravessam a

túnica albugínea e drenam para o sistema venoso dorsal do pênis, pressão

suficiente não pode ser alcançada no corpo cavernoso, o que torna difícil a ereção

plena, necessitada para a penetração. O diagnóstico se dá pela cavernosografia.

Pode ocorrer em touros virgens ou nos que trabalharam por uma ou mais

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estações de monta. Ocasionalmente as veias drenam também diretamente no

corpo esponjoso (HUDSON et al., 1972; GILBERT & VAN DEN BERG, 1990).

O nervo pudendo é formado essencialmente pelo ramo ventral do

terceiro nervo sacral (Figura 5), com contribuição variável do ramo ventral do

segundo e quarto nervos sacrais (GETTY, 1986).

O nervo pudendo corre caudoventralmente medial ao ligamento

sacrotuberal largo, dorsal à artéria ilíaca interna, passando pelo forame isquiático

menor. Ao cruzar o forame, na face lateral do músculo coccígeo, deixa a cavidade

pélvica no arco isquiático, situado na parte intrapélvica do músculo obturador

externo. Descreve uma curva no arco isquiático e torna-se encaixado no tendão

sinfisial por curta distância e, depois, divide-se nos nervos dorsais do pênis e

perineal superficial, (Figura 6) (McCRACKEN et al., 1999).

O nervo dorsal do pênis se situa ao longo da superfície dorsal-lateral do

pênis e, além do arco isquiático, situa-se medialmente à artéria correspondente.

Entretanto, no terço médio do pênis, entre o músculo isquiocavernoso e a primeira

dobra da flexura sigmóide, esse nervo passa lateralmente à artéria dorsal do

pênis, sendo que na segunda dobra ele volta a ser localizado medialmente à

artéria (DYCE et al., 1997). Na curvatura distal da flexura sigmóide, o nervo dorsal

do pênis encontra-se medialmente e a ruptura do corpo cavernoso, neste ponto,

pode resultar danos ao nervo, podendo ter como seqüela a dificuldade ou

inabilidade da cópula (ASHDOWN, 2006).

O nervo dorsal divide-se em dois a três ramos que, após penetrarem na

túnica albugínea, suprem o pênis em todo o seu comprimento com um grande

número de ramos terminais na área da glande. O nervo perineal profundo é

emitido do pudendo, imediatamente distal à borda caudal do forame isquiático

menor, como o último ramo pélvico. Logo se divide em ramos que são distribuídos

para o músculo bulboesponjoso e isquiocavernoso e também para o músculo

uretral (DYCE et al., 1997).

Na inervação simpática, a fibra pré-ganglionar origina-se na coluna

lateral da medula espinhal, na altura lombar, chegando aos gânglios lombares.

Desses gânglios, as fibras formam os nervos lombares que chegam até o plexo

intermesentérico, e continuam até o gânglio mesentérico caudal, situado

imediatamente ventral à artéria aorta na origem da artéria mesentérica caudal.

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FIGURA 5 Esquema de origens dos nervos do plexo lombosacral, onde dentre outros se destaca o nervo pudendo (pun) Fonte: ASHDOWN, 2006

FIGURA 6- Pelve de um bovino dissecada. Inervação (azul) e forame isquiático menor (1) Fonte: PEOPESKO, 1981

As fibras pré-ganglionares fazem sinapse nos gânglios lombares ou no

gânglio mesentérico caudal. Daí as fibras pós-ganglionares simpáticas seguem

para a região pélvica por meio dos nervos hipogástricos (direito e esquerdo), indo

até o plexo e gânglios pélvicos. Em seguida acompanha os nervos pudendos,

através dos quais chegam ao pênis e estruturas adjacentes (GETTY, 1986).

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Na inervação parassimpática as fibras pré-ganglionares originam-se na

coluna lateral da medula espinhal, na altura sacral, indo até o plexo pélvico,

acompanhando os nervos pudendos e fazendo sinapse dentro do pênis e

estruturas adjacentes. Após a sinapse, a fibra pós-ganglionar inerva

principalmente fibras musculares lisas dos vasos sanguíneos, promovendo assim

a vasodilatação (PEOPESKO, 1981; GETTY, 1986; DYCE et al., 1997).

Os receptores nervosos sensoriais são bem mais numerosos na parte

livre do pênis, o que facilita a expressão do comportamento sexual. A contração

do músculo retrator do pênis é controlada pela inervação simpática, a qual embora

de origem lombar, é conduzida pelos nervos pudendo e retal caudal (HAFEZ &

HAFEZ, 2004).

Os vasos linfáticos aferentes provêm do pênis e músculos associados a

ele, e caminham para os linfonodos inguinais superficiais denominados escrotais.

Esses estão situados ventralmente ao tendão pré-púbico e jazem na massa

gordurosa em torno da inserção do escroto. Estão cobertos, em parte, pelo

músculo retrator do prepúcio. O número varia de um a vários em cada lado do

pênis e o tamanho oscila de três a seis cm de comprimento. A partir deste ponto

os vasos linfáticos eferentes seguem o curso dos vasos pudendos externos e

terminam nos linfonodos ilíacos mediais. Estes últimos estão situados próximos à

origem dos vasos circunflexos ilíacos profundos. Daí sai os troncos lombares que

desembocam na cisterna do quilo. A linfa da cisterna passa para o ducto torácico,

o qual desemboca na veia cava cranial ou na jugular externa esquerda (GETTY,

1986).

1.2.4 Morfologia do prepúcio

O prepúcio, também citado como bainha prepucial, é formado por um

anel do ectoderma se caracterizando como um tubo relativamente longo e

estreito, de 25 a 40 cm de comprimento, de acordo com o tamanho do touro,

localizado no baixo ventre, entre o umbigo e a base do escroto, e que aloja parte

do corpo e a parte livre peniana. É dividido em parte peniana, parte que foi

fundida, durante o desenvolvimento, ao tegumento peniano, e a pré-peniana que

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termina no óstio prepucial (Figura 7) (ROSENBERGER, 1993; DELLMANN, 1994;

DESROCHERS et al., 1995; FEITOSA, 2004; ASHDOWON, 2006). Segundo

BELLENGER (1971), os comprimentos médios do prepúcio, sem incluir o

tegumento peniano, são de 34 a 39 cm nas raças européias e 45 a 53 cm para as

zebuínas.

A parede prepucial contém camadas, sendo a fibrosa, interna, e a

concêntrica externa, separadas por uma camada vascular. A camada fibrosa

externa está conectada às camadas fasciais circulares, entrelaçadas frouxamente.

Com este arranjo, o prepúcio pode movimentar-se livremente sob a pele

abdominal. A mobilidade do pênis e do prepúcio, quando não afetadas por

condições inflamatórias ou cicatriciais, é realmente marcada. Esta característica é

de importância relevante e deve ser observada em exames andrológicos dos

touros. Durante a protrusão peniana, a mobilidade das camadas possibilita ao

prepúcio encobrir o órgão, sem a interferência no suprimento sanguíneo ou na

inervação (LONG et al., 1970).

FIGURA 7 - Prepúcio normal de um touro da raça Nelore Fonte: Arquivo pessoal

O prepúcio é composto por uma lâmina externa (folheto prepucial

externo) e outra interna (folheto prepucial interno). A externa se reflete para o

interior do óstio prepucial para formar a interna, a qual se projeta sobre a porção

cranial do pênis e se adere firmemente entre a parte livre e o corpo peniano

(ROSENBERGER, 1993; DELLMANN, 1994; FEITOSA, 2004).

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A lâmina externa, prepúcio parietal, é constituída de pele típica,

apresentando-se fina, elástica e móvel, sendo contínua com a pele abdominal,

revestida de epitélio pavimentoso estratificado, apresentando-se queratinizada

próximo ao óstio prepucial. Numerosas glândulas sebáceas estão presentes e

nem sempre relacionadas com pelos (BELLENGER 1971; DUKES, 1993; BACHA

& BACHA, 2003).

Pêlos de tamanhos variados (Figura 8) proporcionam certo grau de

proteção contra cortes, abrasões, dano morfofuncional por irradiação e irritantes

químicos. Além disso, funcionam como filtros e isolantes de contato

(BELLENGER, 1971; DUKES, 1993; BACHA & BACHA, 2003).

FIGURA 8 - Pelos prepuciais, ao redor do óstio, com acúmulo de detritos Fonte: Arquivo pessoal

As propriedades físicas do prepúcio e suas conexões com tecidos

fasciais circundantes, craniais ao escroto, são cruciais para o funcionamento

sexual do pênis (BELLENGER, 1971).

As glândulas sebáceas, conhecidas como glândulas prepuciais

secretam substâncias denominadas de esmegma, as quais, quando produzidas

em maiores quantidades, podem provocar a formação de cálculos prepuciais,

podendo impedir assim a exteriorização normal peniana e a micção. A secreção

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diminui a perda de água e a possível entrada de microorganismos, além de

manter a mucosa prepucial macia e flexível (BANKS, 1991; FEITOSA, 2004).

A lâmina interna é caracterizada por tecido conjuntivo mais denso e

entrelaçado, sendo rico em vasos sanguíneos (ASHDOWN & PEARSON, 1973).

Pregas longitudinais baixas aparecem na lâmina prepucial interna e na mucosa

peniana, formando sulcos que aumentam de profundidade com o desenvolvimento

sexual e idade do touro. Em touros jovens sexualmente maduros a superfície

apresenta-se lisa e regular com criptas longitudinais nos touros mais idosos,

(Figura 9). Essa é uma alteração dependente de andrógenos, sendo geralmente

percebida pela primeira vez por volta de três anos de idade, e que se torna mais

evidente nos touros de cinco a seis anos. Essas criptas podem ficar

persistentemente colonizadas por Campylobacter fetus e Tritrichomonas fetus

(DYCE et al., 1997; JONES et al., 2000).

Na base da extremidade livre do pênis, a lâmina interna da parede da

bainha não tem nenhuma continuidade com os tecidos de revestimento peniano,

formando assim a camada externa peripeniana. Esta camada se junta às lâminas

interna e externa prepuciais, tornando-se indistinguíveis aproximadamente de dez

a 15 cm caudal à base da extremidade livre do pênis (ASHDOWN & PEARSON,

1973; BANKS, 1991).

Formada pela ramificação de grandes ramos arteriais e vênulas, a

camada vascular separa as duas camadas anteriores. Na borda caudal do óstio

prepucial as veias ventrais da camada vascular dilatam e dividem-se para formar

um grande plexo venoso, sendo que neste local a artéria epigástrica caudal

superficial emite vários ramos que irão suprir a pele ao redor do óstio (ASHDOWN

& PEARSON, 1973).

No touro, o óstio do prepúcio deve permitir a passagem de dois dedos,

não sendo possível tocar diretamente a extremidade livre do pênis (FEITOSA,

2004).

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FIGURA 9- Bainha prepucial de touro da raça Nelore, três anos de idade, incisada longitudinalmente, evidenciando as criptas e a diferença de pigmentação da lâmina prepucial interna Fonte: Arquivo pessoal

Segundo ASHDOWN & PEARSON (1973), existem três tipos de óstio

prepucial em touros. Touros com uma parte pendulosa curta da bainha (tipo 1), na

qual o óstio aponta crânio-ventralmente e está fortemente fechado não evertendo

a bainha. Touros com uma parte pendulosa comprida (tipo 2), onde o óstio aponta

ventralmente e está sempre aberto, habitualmente promovendo a eversão da

bainha. No tipo intermediário (tipo 3), variações na atividade funcional dos

músculos da bainha podem predispor, ou prevenir, a eversão da bainha.

O tamanho e a forma da extremidade livre do prepúcio no touro

dependem da raça e da constituição da pele externa. Nas raças bovinas

européias, normalmente o óstio prepucial está próximo à parede abdominal, é

curto e firme, de forma que a distância entre o ventre e a borda livre superior do

óstio é de apenas um a três cm. Essa borda está direcionada mais cranial que

ventralmente e apresenta bom fechamento. Para um reprodutor Bos taurus, ainda

se admite um comprimento considerado médio da extremidade livre, com

aparência leve a moderadamente relaxada, nitidamente dependurado, cuja borda

superior esteja afastada no máximo seis cm da parede abdominal. A abertura

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deve ser direcionada mais ventral do que cranialmente, apresentando bom

fechamento (BELLENGER, 1971; ASHDOWN & PEARSON, 1973).

Extremidade alongada, altamente relaxada e dependurada, com a

distância até a parede abdominal superior a seis cm, cujo óstio estando

direcionado para o chão e levemente aberto, deve ser avaliada

desfavoravelmente. Touros com tal tipo de prepúcio tendem a apresentar prolapso

de mucosa prepucial, que pode ser habitual ou permanente, e, de qualquer forma,

favorece a contaminação, traumatismos e as infecções prepuciais (BELLENGER,

1971; ASHDOWN & PEARSON, 1973; ROSENBERGER, 1993).

Touros Aberdeen-Angus possuem a extremidade prepucial curta e

podem prolapsar até dez cm da mucosa, temporariamente, e recolhê-la

novamente. O mesmo comportamento pode ser observado em touros zebuínos

que possuem a extremidade relativamente longa e pendular, mas que, com

pregas de pele de outras partes do corpo servem à termorregulação em clima

tropical e por isso devem ser consideradas fisiológicas (ROSENBERGER, 1993).

A movimentação voluntária da mucosa prepucial ocorre quando o touro não se

sente perturbado. No caso do prolapso permanecer quando da aproximação do

examinador, trata-se com freqüência de um estado patológico que com o tempo

pode levar a ulcerações, inflamação e necrose. Em razão de seu prepúcio

pendular, os touros das raças indianas podem apresentar, de maneira comum,

prolapso prepucial (LONG, 1969; GARNEIRO & PERUSIA, 2006).

ASHDOWN (2006) notou importantes diferenças morfológicas da parte

terminal e pendulosa prepucial em 452 touros da raça Holandesa. Destes, 30%

tinham uma parte pendulosa curta com óstio prepucial fortemente constrito,

direcionado crânio-ventralmente e 7% tinham uma parte pendulosa comprida e

frouxa, com o óstio largamente aberto e direcionado ventralmente, sendo que

estes apresentavam prolapso natural do prepúcio. Em touros zebus, o óstio

prepucial situa-se no ápice de uma dobra da pele, muito larga, a qual apresenta

uma cicatriz umbilical contendo resquícios de cordão umbilical.

Na extremidade livre está uma abertura circular, o óstio prepucial, que é

recoberto de pêlos compridos. Neste ponto encontra-se a transição da pele

externa para a mucosa, que por sua vez, ao alcançar o fundo de saco cego do

tubo prepucial se reverte sobre a porção anterior do pênis. A extremidade muito

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curta e demasiadamente esticada onde praticamente não existe intervalo entre a

borda livre e a parede abdominal, e cuja abertura está direcionada quase que

horizontalmente para frente, leva a um desvio dorsal do pênis. Em consequência,

tais touros podem ter dificuldade em executar a cópula adequadamente, sendo

prejudicada até a colheita de sêmen com vagina artificial, porque não é possível

fazer um desvio lateral desejado do pênis, ou esse exige muito esforço. Todos os

desvios de tamanho e forma da extremidade livre prepucial merecem atenção

especial; isso porque tal alteração pode ser de origem hereditária e, com a idade

crescente do touro, geralmente ocorrem aumento e relaxamento dos tecidos

constituintes (LAGOS & FITZHUGH, 1970; ROSENBERGER, 1993).

Normalmente, o anel de pele protuberante cercado de pêlos compridos

que forma o óstio prepucial encontra-se seco. Isso ocorre nos casos quando o

touro não urinou ou não foi excitado sexualmente há pouco tempo. Qualquer outro

tipo de secreção advinda do óstio prepucial é considerado patológico. Um

aumento de secreção conhecida como catarro prepucial, bem como sangramento,

leva a pensar em traumatismos, miíases, inflamações, neoformações ou corpos

estranhos (ROSENBERGER, 1993).

O estreitamento congênito e o adquirido do óstio prepucial (fimose),

que dificultam ou impedem a emissão do pênis em ereção, não podem ser

avaliados com segurança por meio de inspeção ou palpação. Portanto, só é

possível avaliá-los quando o pênis passa pelo óstio prepucial por observação do

comportamento sexual (ROSENBERGER, 1993).

1.2.5 Músculos prepuciais

Há um par de músculos prepuciais craniais que derivam do músculo

cutâneo, constituído assim por fibras musculares esqueléticas, tendo origem na

fáscia profunda da parede abdominal e inserção na camada externa fibrosa da

parede prepucial (ASHDOWN, 2006).

Os músculos prepuciais craniais ou protratores (Figura 10) são duas

faixas planas, de cinco a seis cm de largura, que se originam de três áreas

distintas da parede abdominal ventral: a) da fáscia profunda, próxima da linha

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média, na altura da cartilagem xifóide, aproximadamente 20 cm cranial ao óstio

prepucial; b) da hipoderme ou da fáscia superficial sobre a borda ventral do

músculo cutâneo do tronco, e c) como falhas da parte mais caudal do músculo

cutâneo do tronco. Seguindo caudalmente, divergem, deixando livre o umbigo e

uma área aproximada de três e meio cm de largura; a seguir se unem

caudalmente ao óstio prepucial (ASHDOWN & PEARSON, 1973; GETTY, 1986).

FIGURA 10 - Músculos prepuciais craniais de um touro da raça Nelore de três anos Fonte: Arquivo pessoal

Quando o músculo prepucial cranial contrai, a parte pendulosa da

bainha é tracionada dorsalmente e cranialmente e pequenos tremores podem ser

vistos nesta parte pendulosa. Contração do óstio prepucial também é notada.

Quando em estágio de relaxamento, diminui sua ação esfinctérica, facilitando

assim a protrusão peniana. Além disso, esses músculos podem auxiliar no

reposicionamento do pênis e prepúcio após a cobertura (ASHDOWN &

PEARSON, 1973; GETTY, 1986).

Os prepuciais caudais ou retratores originam-se de dois locais

anatômicos distintos. A origem lateral é na camada densa da fáscia que deixa a

borda lateral do anel inguinal externo e segue em direção ao escroto para formar

a túnica Dartos. A origem medial é na parte média do septo escrotal, próximo ao

seu ponto de origem da lâmina elástica amarela da parede abdominal. A origem

lateral é geralmente maior que a medial. Daí une-se cranialmente ao funículo

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espermático e converge para parte cranial do prepúcio. As inserções dos

músculos, mostradas na Figura 11, se entrelaçam sobre a superfície dorsal da

bainha, mas, ventralmente, existe uma abertura de aproximadamente dois cm que

separa os ventres musculares. Em touros adultos esses músculos podem atingir

até 30 cm de comprimento, cinco cm de largura e com espessura podendo variar

de dois a três cm (ASHDOWN & PEARSON, 1973; GETTY, 1986; VIU et al.,

2002; ASHDOWN, 2006).

FIGURA 11 - Inserções dos músculos prepuciais caudais, onde se observa o entrelaçamento das fibras. Touro da raça Nelore de três anos de idade Fonte: Arquivo pessoal

Por meio de suas contrações, esses músculos podem conduzir a

camada externa da porção peniana do prepúcio no sentido caudal, mas parece ter

pouco efeito sobre o restante da parede prepucial ou sobre o pênis por causa da

conexão muito frouxa entre a camada fibrosa externa e as camadas fibrosas

vasculares profundas e internas do prepúcio. Esses músculos retratores podem

estar ausentes, principalmente em touros aspados, especialmente nos da raça

Polled (LONG et al., 1970).

Segundo TURNER & McILWRAITH (2002), as duas causas para que

ocorra prolapso e ulceração prepuciais são a bainha pendular e a ausência de

músculos retratores prepuciais, sendo este achado mais comum nas raças

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mochas. Em touros da raça Brahman pode ocorrer a rudimentaridade ou a

agenesia dos músculos retratores do prepúcio, sendo considerado como uma

predisposição genética (GARNERO & PERUSIA, 2006). Já a miotomia dos

músculos prepuciais caudais, segundo ASHDOWN & PEARSON (1973), não

produziu nenhuma eversão prepucial e nem tão pouco efeito sobre a atividade do

óstio prepucial.

ASHDOWN & PEARSON (1973) concluíram em seus estudos,

observando touros com chifres, que os músculos retratores do pênis e os

músculos esfinctéricos prepuciais craniais auxiliam a prevenir a eversão do

prepúcio.

1.2.6 Ereção e ejaculação

Ereção peniana é um reflexo neurológico iniciado por estímulos tátil do

pênis, visual ou ambiental (como fêmea no estro), ou podendo ainda resultar de

um comportamento condicionado (FRANDSON et al., 2003). É desencadeada, em

primeiro lugar, pelas impressões sensoriais, principalmente as conferidas por

substâncias odoríferas na época do cio. O centro nervoso situa-se na medula

lombo-sacra, o qual é influenciado pelo cérebro. Todos os impulsos sexuais, que

atingem o cérebro por meio de diversos órgãos sensoriais, são capazes de excitar

o centro da ereção (KOLB, 1987).

A ereção está predominantemente sob influência do sistema

parassimpático (HAFEZ & HAFEZ, 2004). Na espécie bovina, onde o pênis é

fibroelástico, pouco sangue adicional precisa ficar retido a fim de distender

completamente os espaços cavernosos; o pênis, portanto, não aumenta muito de

tamanho e sua protrusão deve-se, em grande parte, à destituição da flexura

sigmóide preexistente. Ainda mais, como a quantidade de sangue adicional é

pequena, a ereção completa pode ser alcançada rapidamente (DYCE et al.,

1997). Os dados de BECKETT et al. (1975) sugerem um aumento no

comprimento de aproximadamente 15 cm durante a ereção. Já os dados de

ASHDOWN (2006) sugerem um aumento de aproximadamente 24 cm.

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Duas fases distintas da ereção são identificadas. No primeiro estágio,

de excitação sexual, o fluxo de sangue no pênis aumenta à medida que as

paredes das artérias de suporte relaxam; ao mesmo tempo o fluxo venoso é

obstruído. A pressão dentro dos espaços cavernosos aumenta rapidamente,

passando do nível de repouso (cinco a 16 mmHg), e logo se iguala àquela dentro

das artérias (75 a 80 mmHg), que liberam sangue para o corpo cavernoso por

todo o corpo esponjoso. O ápice do pênis se exterioriza neste estágio (DYCE et

al., 1997; SENGER, 2003). Segundo LAVOISIER et al. (1988) este estágio

também é chamado de fase sub-sistólica, devido à atividade vascular do músculo

liso.

As mudanças nas pressões sanguíneas são devido ao relaxamento do

músculo liso nas paredes das artérias do pênis e suas ramificações, as artérias

profunda e do bulbo. Também, concomitantemente ocorre engurgitamento dos

espaços cavernosos e dos canais longitudinais dentro do corpo peniano

(ASHDOWN, 2006).

Os nervos parassimpáticos que inervam os vasos sanguíneos dentro

do pênis liberam acetilcolina, que por sua vez estimula as células endoteliais que

revestem os vasos sanguíneos a liberar óxido nítrico. O óxido nítrico promove a

ereção através do relaxamento da musculatura lisa, principalmente dos corpos

cavernosos. O mecanismo de ação consiste na ativação da guanilato ciclase,

provocando, assim, o aumento do monofosfato de guanina, intracelular, que por

meio de cascatas bioquímicas, promove o relaxamento do músculo liso. O óxido

nítrico é sintetizado a partir da L-arginina pela enzima óxido nítrico sintase (NOS)

(FRANDSON et al., 2003; SENGER, 2003).

O fluxo venoso fica restrito na extremidade proximal do órgão onde as

veias são comprimidas contra o arco isquiático; isto apresenta mais efeito na

drenagem dos ramos e do corpo cavernoso do que naquela do corpo esponjoso,

cuja saída mais distal ainda não foi afetada (DYCE et al., 1997).

O preenchimento dos espaços cavernosos centrais maiores comprime

os espaços periféricos pequenos, que se encontram na túnica albugínea e

estrangulam a drenagem venosa. O músculo retrator do pênis também relaxa,

assim o processo do despertar sexual, induz o touro a um estado onde a ereção é

suficiente para a introdução. Durante esse período, a contração do músculo

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uretral é estimulada e o animal está pronto para realizar o processo de ejaculação,

que ocorre poucos segundos após a penetração (ASHDOWN, 2006).

No segundo estágio, também chamado de supra-sistólico, as

contrações rítmicas dos músculos isquiocavernoso e bulboesponjoso começam,

impelindo o sangue à frente pelos corpos cavernoso e esponjoso. O sangue

adicional bombeado distalmente dentro do corpo cavernoso não pode escapar,

uma vez que as veias emissárias estão comprimidas. Ao contrário, as contrações

do bulboesponjoso produzem apenas elevações intermitentes na pressão, uma

vez que algum sangue continua a escapar na extremidade livre do pênis. O efeito

desse fluxo é massagear a uretra, fornecendo mais impulso para o movimento do

sêmen para frente quando a ejaculação acontece. Além disso, o movimento é

auxiliado pela contração dos músculos estriado uretral e bulboesponjoso

(LAVOISIER et al., 1988; DYCE et al., 1997; HAFEZ & HAFEZ, 2004).

O aumento na pressão desfaz a flexura sigmoide e endireita o pênis,

levando-o a exteriorizar-se cerca de 25 a 40 cm do óstio prepucial. O canal dorsal

do corpo cavernoso é completamente preenchido e auxilia o desdobramento da

flexura sigmóide. Depois da penetração, o contato com a parede da vagina

estimula receptores da parte livre, estimulando reflexamente a ereção completa.

Durante um curto período, a pressão no corpo cavernoso pode elevar-se

notavelmente, até mesmo 60 a 100 vezes à pressão arterial (ASHDOWN &

GILANPOUR, 1974; SENGER, 2003).

Às vezes, as extremas pressões desenvolvidas nos estágios finais da

ereção resultam na ruptura da túnica albugínea do pênis. O local mais comum de

ruptura é na superfície dorsal, na curva distal da flexura sigmóide, devido à

arquitetura das trabéculas (ASHDOWN & GILANPOUR, 1974).

Nos estágios finais da ereção, após a penetração, a parte livre do pênis

fica espiralada, seguindo um trajeto à esquerda em volta da rafe. Essa formação

espiralada é induzida pela distribuição particular de fibras colágenas inelásticas na

túnica albugínea, onde ocorre uma condensação local que constitui o ligamento

apical do pênis (PEARSON & ASHDOWN, 1974; DYCE et al., 1997), sendo que o

giro espiralado pode chegar a 360º no sentido anti-horário. Tal giro aumenta a

superfície de contato da parte livre introduzida, aumentando a sensação tátil e

auxiliando a ejaculação (ASHDOWN, 2006).

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A penetração e ejaculação (Figura 12) são auxiliadas pelo reflexo

neuronal simples, onde há um estímulo táctil, como a tepidez da vagina e

lubrificação pelo muco. O pênis do touro é sensível à temperatura (SENGER,

2003; HAFEZ & HAFEZ, 2004). A ejaculação por meio da uretra peniana está

associada a contrações do epidídimo e do ducto deferente, assim como as

contrações adicionais dos músculos lisos do pênis que circundam a uretra

peniana, e dos músculos bulboesponjoso e isquiocavernoso (FRANDSON et al.,

2003; SENGER, 2003). As ondas de pressão dentro do corpo esponjoso fazem

com que o sêmen seja deslocado pela uretra peniana e ganhe o óstio uretral

(BECKETT et al., 1997).

FIGURA 12 - Esquema dos passos da ejaculação: 1- Penetração; 2- Estímulo sensorial da glande peniana; 3- Contrações repentinas e fortes dos músculos uretral, bulboesponjoso e isquiocavernoso; 4- Expulsão do sêmen Fonte: SENGER, 2003

No gado bovino, o acasalamento dura pouco tempo, cerca de cinco a

dez segundos (KOLB, 1987; SENGER, 2003). Falhas na ejaculação podem ser

decorrentes de lesões severas nos nervos dorsais do pênis, obstrução por

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cálculos urinários na curvatura distal da flexura sigmóide e processo uretral, e

ainda por lesões intensas da uretra, como hemorragias e fibroses (ASHDOWN,

2006).

Após a ejaculação, os músculos isquiocavernosos cessam o

bombeamento. Ocorre também a contração dos músculos lisos vasculares

penianos. O sangue escoa do corpo cavernoso através das veias profundas do

pênis. A flexura sigmóide retorna, enquanto a pressão retoma aos níveis de

descanso (ASHDOWN, 2006).

O recolhimento do pênis para dentro do prepúcio se dá após cessar a

pressão nos espaços cavernosos. A arquitetura fibrosa do corpo cavernoso do

pênis na região da flexura sigmóide tende a formar novamente a flexão, que é

auxiliada pelo encurtamento do músculo retrator do pênis, o que é ação do

sistema nervoso simpático (HAFEZ & HAFEZ, 2004). Para ASHDOWN &

PEARSON (1973), os músculos prepuciais craniais auxiliam o reposicionamento

do pênis dentro do prepúcio.

No relaxamento do pênis, a pressão vascular dentro do corpo

esponjoso da glande é maior do que no corpo do pênis, o que provoca um fluxo

de sangue da glande para o corpo peniano, impedindo a formação de placas e

coágulos, fornecendo nutrição ao tecido local durante os períodos de relaxamento

(BECKETT et al., 1978).

1.3 Justificativa e objetivo

As raças de bovinos escolhidas, Gir e Nelore, formam quase todo o

plantel do gado na região central e em todo o nosso país. Como a maioria dos

bovinos é de criação extensiva e a qualidade do touro influencia diretamente a

reprodução, escolheu-se trabalhar com essas raças.

Em várias referências, o músculo retrator do pênis é citado

apresentando as mais variadas origens e inserções, com poucos trabalhos nas

raças propostas neste estudo.

Alguns parâmetros sobre pênis e prepúcio, principalmente nas raças

Gir e Nelore, ainda devem ser objeto de pesquisa, uma vez que ainda não são

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utilizados na seleção de reprodutores. Para a pesquisa de pênis, os animais

escolhidos necessitaram ser abatidos, já para a pesquisa de prepúcio a escolha

de animais alocados em centrais, foi opção por se tratar de animais previamente

selecionados para a reprodução.

O objetivo deste trabalho foi estudar alguns aspectos anatômicos do

pênis, prepúcio e músculo retrator do pênis de bovinos das raças Gir e Nelore,

criados extensivamente ou alocados em centrais de coleta de sêmen.

Referências

1. ACUÑA, C. M.; CAMPERO, C. M. Problemas reproductivos y clínicos a la

prueba del capacidad de servicio en toros de razas de carne en Argentina.

Fecha, Buenos Aires, v.1, p. 23-34, 2005.

2. AMSELGRUBER, W.; SINOWATZ, F. Zur Mikrovaskularisation des penis vom

Stier (Bos taurus). Journal of Veterinary Medicine, Berlin, v. 21, n. 4, p. 285-

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CAPÍTULO 2 - ASPECTOS ANATÔMICOS E HISTOLÓGICOS DOS

MÚSCULOS RETRATORES DO PÊNIS DE BOVINOS DAS RAÇAS GIR E

NELORE

RESUMO

O entendimento do impacto negativo que a impotência coeundi representa no

sistema de produção de bovinos é inquestionável. Deste modo, quando o touro é

destinado à reprodução, a constatação da sanidade e da viabilidade

morfofuncional dos órgãos genitais mostra-se imprescindível. O presente trabalho

teve como objetivo descrever os aspectos anatômicos e histológicos do músculo

retrator do pênis, sendo utilizados touros das raças Gir e Nelore como modelos

experimentais. Na primeira etapa foram selecionados 40 touros com idade entre

30 e 38 meses, sendo 20 da raça Nelore e 20 da raça Gir. Esses animais foram

avaliados por meio de exame clínico geral e específico do aparelho genital, teste

de libido e capacidade de serviço. Na segunda etapa os animais foram

encaminhados ao frigorífico, onde foram colhidas peças anatômicas de pênis e

prepúcio. Foram dissecados os músculos retratores do pênis direito e esquerdo

(MRP), identificando a origem, inserção e mensurações. Para exame histológico,

foram colhidos fragmentos do MRP a cinco centímetros da sua insererção na

curvatura distal da flexura sigmóide peniana. Por meio dos exames descartou-se

qualquer processo mórbido que poderia acometer a genitália externa desses

animais, dificultando ou inabilitando a cópula. A dissecação do MRP,

independente da raça, demonstrou que a referida estrutura anatômica apresentou-

se sempre aos pares em todos os animais. Quanto à origem, ela ocorreu na

segunda vértebra caudal em todos os animais estudados. A inserção do músculo

retrator esquerdo do pênis ocorreu de modo mais prolongado em relação ao

direito e apesar de constatar diferença entre as inserções do MRP direito e

esquerdo, não se pode associá-la à etiopatogenia de qualquer processo mórbido,

uma vez que todos os animais apresentaram-se aptos à realização da cópula.

Histologicamente não se notou diferença entre os MRPs nas diferentes raças.

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Palavras-chave: Impotência coeundi, morfometria, origem muscular, reprodutor,

touros.

ANATOMICAL AND HISTOLOGICAL ASPECTS OF RETRACTOR MUSCLES

OF THE PENIS OF GIROLANDO AND NELORE BULLS

ABSTRACT

The comprehension of the negative impact that impotence coeundi represents to

the bovine production system is unquestionable. Thus, when the bull is intended

for breeding, the finding that health and viability of the vitality of the genital organs

is essential. This study aimed to describe the anatomy and histology of the

retractor muscles of the penis (RMP), being used Gir and Nelore bulls as

experimental models. In the first stage it was selected 40 bulls aged between 30

and 38 months, being 20 Nelore and 20 Gir. These animals were evaluated by

means of general and specific clinical examination of the genital tract, test of libido

and mating ability. In the second stage, the animals were carried out to the

slaughterhouse, where anatomical parts of the penis and prepuce were collected.

The left and right retractor muscles of the penis were dissected identifying the

origin, insertion and measurements. For histological examination, it was collected

fragments of RMP at five centimeters of its insertion at the distal curvature of

sigmoid flexure of the penis. It was excluded by means of examinations any

disease process that could affect the external genitalia of these animals making it

difficult or disabling copulation. The dissection of the RMP, regardless of race, has

shown that this anatomical structure presented in pairs in all animals. Their origin

ocurred at the second caudal vertebra in all animals studied. The insertion of the

left retractor muscle of the penis was more distally than the right one, despite the

difference between RMP insertions, this disparity can not be associated with the

pathogenesis of any disease process, since all animals shown to be able to mate.

Keywords: Breeder, bulls, impotence coeundi, morphometry, muscular origin.

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1 Introdução

O entendimento do impacto negativo que a impotência coeundi

representa no sistema de produção de bovinos é inquestionável. Deste modo,

quando o touro é destinado à reprodução, a constatação da sanidade e da

viabilidade morfofuncional dos órgãos genitais é imprescindível (ASHDOWN,

2006; RABELO et al., 2008a). Processos mórbidos como alterações inflamatórias,

com consequente formação de aderências, acropostite-fimose, parafimose,

abscesso, fratura peniana, pênis infantil e os desvios prematuros do pênis, dentre

outros, são exemplos de enfermidades que podem culminar em dificuldade ou

inabilidade de cópula, causando prejuízos consideráveis, seja pelo descarte

prematuro de touros de alto mérito genético ou pelos altos índices de vacas não

gestantes ao término de uma estação de monta (RABELO et al., 2008b).

Muitos desses distúrbios apresentam etiologia direta ou indiretamente

relacionada aos aspectos morfológicos, com destaque para as anormalidades do

músculo retrator do pênis (GLOOBE et al., 1998; ASHDOWN, 2006). Fatores

relacionados à origem, inserção, espessura e comprimento das fibras que compõe

este músculo ainda são alvos de indagações, principalmente quando são

consideras as raças zebuínas Nelore e Gir.

O músculo retrator do pênis (MRP) emerge das duas últimas vértebras

caudais, constituindo-se principalmente por fibras musculares lisas. Segue

lateralmente ao reto e continua sob a pele perineal, fixando-se no corpo do pênis

após a segunda curva da flexura sigmóide. Possui algumas fibras progredindo

além desse local, de forma irregular até doze a 15 cm caudalmente à glande.

Dentre as principais funções atribuídas a esse músculo, aponta-se o

desdobramento da flexura sigmóide no momento da cópula, permitindo maior

extensão do pênis e a participação efetiva no recolhimento do órgão após a

cópula. Esses acontecimentos são possíveis em virtude do relaxamento e

contração das fibras musculares lisas desse músculo, após ação neurogênica

parassimpática (ASHDOWN & PEARSON, 1971; GETTY, 1986; GLOOBE et al.,

1998; PARKKISENNIEMI, 2000; KONIG & LEIBICH, 2002; DYCE et al., 2004;).

O presente trabalho teve como objetivo descrever os aspectos

anatômicos e histológicos dos músculos retratores do pênis, enfocando a origem

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no sistema esquelético e a inserção no pênis, bem como as características

histológicas das fibras musculares lisas e tecido conjuntivo adjacente, utilizando-

se touros das raças Gir e Nelore como modelos experimentais.

2 Material e métodos

O estudo foi realizado nos meses de julho a outubro de 2009 após

submissão e aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa

da Universidade Federal de Goiás em 06/07/2009 (Protocolo 084/2009),

obedecendo aos preceitos de ética e bem-estar animal recomendados pela

Sociedade Brasileira de Ciências e Animais de Laboratório (SBCAL).

A metodologia foi dividida em duas etapas, sendo parte desenvolvida

com os animais antes do abate e outra após abate em frigorífico com inspeção

federal.

2.1 Primeira etapa

Foram selecionados 40 touros com idade entre 30 e 38 meses, sendo

20 da raça Nelore e 20 da raça Gir, oriundos de duas propriedades nos municípios

de Jaraguá e Hidrolândia, respectivamente, ambas no estado de Goiás, Brasil.

Nessa etapa, em suas propriedades de origem, os animais foram avaliados por

meio de exame clínico geral e específico do aparelho genital (WALKER &

VAUGHAN, 1980; DIRKSEN et al., 1993; ASHDOWN, 2006). Massagem

transretal e bloqueio loco-regional dos nervos pudendo e hemorroidais com

cloridrato de lidocaína a 2% (TRANQUILLI et al., 2007) foram empregados

visando exposição da parte livre do pênis. Após 48h, realizou-se também teste de

libido e capacidade de serviço, utilizando vaca em cio, induzido terapeuticamente

(CHAVES, 2002; SANTOS et al., 2004). Todos os testes realizados visaram

diagnosticar possíveis enfermidades que poderiam impedir ou dificultar a cópula.

A ausência de qualquer processo mórbido como causador de impotência coeundi

foi requisito para utilização dos animais na etapa seguinte da pesquisa.

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40

2.2 Segunda etapa

Em um segundo momento os animais foram encaminhados para o

abate em Frigorífico, na cidade de Anápolis-GO. Foram colhidas

concomitantemente 40 peças anatômicas de pênis e prepúcio, obedecendo à

seguinte metodologia: incisão no início da cauda entre a primeira vértebra caudal

e o sacro, retirada da pele da região perineal, inguinal e faces laterais dos

testículos até a região ventrolateral do abdômen, contornando todo o prepúcio.

Após essa manobra, promoveu-se a secção na raiz do pênis para consequente

liberação da estrutura. Após colheita das peças anatômicas, promoveu-se a

identificação, acondicionamento sob refrigeração e transporte ao Laboratório de

Anatomia Animal do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de

Goiás.

Sequencialmente efetuou-se a dissecação do pênis, separando-o do

prepúcio através do corte da lâmina prepucial interna, na sua inserção na parte

livre do pênis, bem como componentes adjacentes para fins de avaliação

morfométrica e colheita de espécimes clínicos para exame histológico do músculo

retrator do pênis. Foram colhidas amostras da origem do músculo na vértebra

caudal e a cinco centímetros da inserção na curvatura distal da flexura sigmóide

peniana.

O exame morfométrico foi realizado após dissecação do músculo

retrator do pênis, seguido do isolamento e identificação de sua origem e inserção.

O dimensionamento foi efetuado utilizando equipamentos de precisão como

paquímetro com relógio (graduação 300X0,01mm), fita milimetrada com precisão

de um mm e escalímetro de três faces. A largura dos MRP direito e esquerdo foi

verificada a cinco cm cranialmente à curvatura distal da flexura sigmóide. Avaliou-

se o comprimento de toda a fração inserida do MRP direito e esquerdo, tendo

como referência o início e o término de sua inserção na fáscia peripeniana,

seguindo metodologia semelhante à relatada por GLOOBE et al. (1998). Preteriu-

se a avaliação do comprimento total do MRP em virtude da retração do mesmo

após secção das vértebras caudais, dificultando medição acurada de seu

comprimento total.

As amostras de MRP destinadas à realização do exame histológico

foram colhidas a cinco cm da inserção na curvatura distal da flexura sigmóide

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41

peniana. Elas foram identificadas e fixadas em aldeído fórmico a 10%, sendo o

processamento histológico realizado no Laboratório de Histologia do

Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade

Federal de Goiás, de acordo com técnica de inclusão em parafina descrita por

LUNA (1968). Os fragmentos foram seccionados a cinco micrômetros em

micrótomo rotativo (Micrótomo Rotativo - American-Optical®, modelo Spencer-

820), utilizando-se navalhas descartáveis (LEICA 818). Os cortes obtidos de todos

os fragmentos foram corados com hematoxilina, eosina e tricrômio de Masson.

Foram calculadas médias, desvio padrões e coeficiente de variação e

aplicado teste de comparação de médias entre músculo retrator do pênis direito e

esquerdo na mesma raça e do mesmo lado entre as raças (teste T).

3 Resultados e discussão

Na primeira etapa do experimento, o bloqueio loco-regional dos nervos

pudendo e hemorroidais e a massagem trans retal, permitiram que todos os touros

apresentassem relaxamento peniano adequado, possibilitando sua exteriorização

por ocasião do exame clínico específico. A eficiência desse método com o intuito

de promover a exposição da parte livre do pênis do touro para fins de avaliação

clínica, também foi citado por MASSONE (2003) e RABELO et al. (2008a),

respaldando a conduta empregada neste estudo.Todavia, a certificação da

ausência de qualquer processo mórbido que poderia acometer a genitália externa

desses animais, dificultando ou inabilitando a cópula, só foi possível após

realização do teste de capacidade de serviço. Tal preocupação também foi citada

por ASHDOWN (2006); EURIDES et al. (2007) e RABELO et al. (2008b), tendo

em vista que algumas enfermidades da genitália só são detectadas por ocasião da

observação da cópula. Desse modo, foi possível constatar capacidade de serviço,

sendo essa evidenciada em todos os touros do experimento.

Independente da raça, o MRP apresentou-se aos pares em todos os

animais, concordando com os relatos de VANHATALO et al. (2000). Quanto à

origem do MRP verificou-se que, independente da raça, essa ocorreu na segunda

vértebra caudal, discordando, em parte, das citações de GETTY (1986); KONIG &

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LIEBICH (2002); DYCE et al. (2004) e ASHDOWN (2006), que descreveram que a

origem desses músculos ocorre nas primeiras vértebras caudais e também de

PARKKISENNIEMI (2000), citando origem nas vértebras caudais e última vértebra

sacral. Já SCHALLER (1999), descreveu que a origem ocorreu da primeira a

quarta vértebra caudal.

Foi evidenciado também que o MRP progride, inicialmente como uma

fina camada de tecido conjuntivo, originando-se de um único ponto

correspondente ao seu lado, a partir dos processos hemais da segunda vértebra

caudal, distando o músculo do seu par correspondente, em média de dois

centímetros, independente da raça (Figura 1). Todavia, estudo realizado por

KLINGE & SJOSTRAND (1974) em touros da raça Angus apontou que os MRP

originam-se a partir de vários pontos das vértebras caudais, não sendo

evidenciado um único ponto de origem, conforme evidenciado nesse estudo.

FIGURA 1 - Origem dos MRPs (setas) na segunda vértebra caudal (estrela) de um touro Nelore de 36 meses

O MRP esquerdo dos animais avaliados, independente da raça,,

apresentou sua inserção mais caudal, em relação à sua origem, do que o MRP

direito. Estes resultados corroboram os achados de GLOOBE et al. (1998), que

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evidenciaram ainda, nos animais zebuínos, maior espessura do MRP esquerdo,

fato este não observado nesta pesquisa. Na raça Nelore a média de comprimento

do músculo retrator esquerdo do início da inserção na curvatura caudal da flexura

sigmóide até o final da inserção foi de 19,66 0,84 cm e o seu par

correspondente de 16,84 0,47 cm, sendo a diferença entre eles de 2,84 cm. Já o

MRP esquerdo da raça Gir apresentou média 21,47 0,64 cm e o direito 18,04

0,81 cm, sendo a diferença entre o esquerdo e direito de 3,43 cm (Tabela 1).

Apesar de não avaliarem o comprimento da inserção do MRP, pesquisas

descreveram que em touros zebuínos há assimetria na inserção destes músculos

em 75% dos animais submetidos à avaliação morfométrica, sendo que em 60%

dos casos o MRP esquerdo apresentou-se mais caudalmente, em relação a sua

origem, ao seu par correspondente, mostrando-se também mais desenvolvido

(GLOOBE et al., 1998).

TABELA 1. Comprimento em cm do maior valor, menor valor, média, desvio padrão e coeficiente de variação dos músculos retratores esquerdo e direito de bovinos das raças Nelore e Gir de 30 a 38 meses de idade

MRPEN MRPDN MRPEG MRPDG

Maior valor 21,2 17,9 22,5 19,3

Menor valor 18,6 16,2 20,2 16,5

Média 19,66 16,84 21,47 18,04

Desvio padrão 0,84 0,47 0,64 0,81

Coeficiente de variação 4,27% 2,79% 2,98% 4,49%

O MRP esquerdo dos touros da raça Gir apresentou diferença do MRP

dos touros da raça Nelore de 1,81 cm e o direito de 1,20 cm. Na comparação de

médias (Teste T e α= 5%), todas as diferenças evidenciadas na Tabela 1,

mostraram-se estatisticamente significativas.

O MRP direito dos touros Nelore apresentou uma maior

homogeneidade em seus dados, pois apresentou um menor coeficiente de

variação (CV). Em contrapartida, o MRP direito dos touros Gir apresentou maior

CV.

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FIGURA 2 - Corte longitudinal do músculo retrator do pênis de bovino de touros da raça Gir (A) e Nelore (B) (HE, 100X), com fibras musculares lisas apresentando núcleo único, oval e centralizado (HE, 50X). Corte transversal do músculo retrator do pênis de bovinos da raça Gir (C) e Nelore (D), evidenciando feixes de fibras musculares.

Os achados histológicos demonstraram que as fibras musculares lisas

do MRP seguiram padrão morfológico das fibras de outros músculos lisos,

evidenciando células fusiformes alongadas, com extremidades finas. A região

central, onde se localiza o núcleo, é a parte mais larga da fibra. As fibras

apresentavam-se bem delimitadas e dispostas em posições alternadas; a porção

mais espessa da célula é adjacente à região afunilada da outra. Evidenciou-se

citoplasma homogêneo e acidófilo e núcleos destacados. Os resultados foram

similares para as duas raças estudadas. (Figuras 2 A e B).

Nas Figuras 2 C e D, nota-se que existem aglomerados de fibras

musculares separados por tecido conjuntivo, formando feixes musculares

semelhantes a um tecido muscular esquelético. Evidenciou-se considerável rede

vascular e nervosa acompanhando o tecido conjuntivo. Achados semelhantes

também foram descritos por GARTNER & HIATT (2007) ao descreverem

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histologicamente as características dos músculos lisos. VANHATALO et al.

(2000), estudando MRP de bovinos, relataram a presença de nervos

perivasculares conforme identificados neste experimento.

FIGURA 3 - Músculo retrator do pênis de touro Gir de 38 meses. Corte longitudinal da origem do MRP, feixe de fibra muscular lisa em vermelho e o tecido conjuntivo ao redor (A-400x). Corte transversal do MRP próximo à origem, com alguns feixes de fibras contornados por tecido conjuntivo (B-200x). Tricrômio de Masson

A origem dos músculos retratores do pênis na segunda vértebra caudal

inicia-se por uma camada de tecido conjuntivo em uma fase intermediária entre o

tecido conjuntivo frouxo e o denso não modelado, ou seja, aparecem fibras

conjuntivas variadas e dispersas desde a fixação na vértebra até o início do

primeiro feixe de fibras musculares lisas. A partir daí o número de feixes aumenta,

sendo que o tecido conjuntivo contorna cada feixe e o músculo como um todo.

Vasos sanguíneos estão presentes também nesta região (Figura 3).

4 Conclusões

O músculo retrator do pênis origina-se na segunda vértebra caudal e a

inserção do músculo retrator do pênis esquerdo ocorre de modo mais prolongado

em relação ao direito.

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CAPÍTULO 3 - CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DO PREPÚCIO DE

TOUROS DAS RAÇAS GIR E NELORE

RESUMO

O conhecimento das características genéticas associadas à eficiência reprodutiva

dos machos mostra-se necessário para auxiliar na identificação dos touros mais

aptos à reprodução e que possuam mérito genético superior para as

características reprodutivas. Algumas características morfométricas têm sido

indicadas para promover uma melhor seleção dos touros, outras são muitas vezes

negligenciadas por geneticistas e selecionadores. O objetivo deste trabalho foi

caracterizar alguns aspectos morfométricos do prepúcio de touros das raças Gir e

Nelore, estabelecendo as correlações destes parâmetros com outras medidas, em

animais alocados em centrais de coleta de sêmen. Para o experimento foram

selecionados ao acaso, 23 touros da raça Nelore e 20 Gir, oriundos de diferentes

centrais de coleta de sêmen. Os dados coletados foram idade, massa e

comprimento corporal, comprimento da garupa, perímetro torácico, altura anterior

e posterior, menor perímetro do metacarpo esquerdo, menor perímetro do

metatarso esquerdo, comprimento do prepúcio da base do testículo até o óstio

prepucial, perímetro testicular, menor distância do óstio prepucial à parede do

abdômen, menor distância da cicatriz umbilical à parede abdominal e perímetro

externo do óstio prepucial. Foram calculadas médias, desvios padrões e

correlações. Os dados obtidos do comprimento do prepúcio nos touros Nelore e

Gir apresentaram médias de 52,4 5,5 cm e 57 3,2 cm, respectivamente.

Alguns parâmetros morfométricos quantificados neste trabalho, como

comprimento do prepúcio (CPRE), menor distância do óstio prepucial à parede do

abdômen (MDOA), menor distância da cicatriz umbilical a parede do abdômen

(MDUA) e perímetro externo do óstio prepucial (PEOP), mostravam-se

importantes como critérios de avaliação na seleção de reprodutores, seja para fins

de melhoramento de características fenotípicas ou mesmo na prevenção de

enfermidades adquiridas que acometem a genitália externa de touros.

Palavras-chave: Bovino, cicatriz umbilical, óstio prepucial, perímetro testicular.

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ABSTRACT

MORPHOMETRIC CHARACTERIZATION OF THE PREPUCE OF BULLS OF

THE GIR AND NELORE RACES

The knowledgement of genetic traits associated with reproductive efficiency of

males is necessary to assist in identifying the most suitable bulls for breeding and

that have superior genetic merit for reproductive traits. Some morphometric

characteristics have been shown to promote a better selection of bulls, others are

often neglected by geneticists and selectors. The objective of this study was to

characterize some aspects of the morphometry of the prepuce of Gir and Nelore

bulls, establishing correlations between these parameters and other measures in

animals of semen collection centres. For this experiment, 23 Nelore and 20 Gir

bulls were randomly selected from different semen collection centres. The data

collected were age, body mass and body length, rump length, toracic

circumference, anterior and posterior height, the lower circumference of the left

metacarpal, the lower circumference of the left metatarsal, length of the prepuce

from the base of the testis to the preputial orifice, testicular circumference, the

shortest distance from the preputial orifice to the abdominal wall, lower distance

from the umbilicus to the abdominal wall and the perimeter of the preputial orifice.

Means, standard deviations and correlations were calculated. The averages length

of the prepuce in Nelore and Gir were 52.4 5.5 cm and 57 3.2 cm, respectively.

Some morphometric parameters quantified in this work, as the length of the

prepuce, the shortest distance from the preputial orifice to the abdominal wall,

shortest distance from the umbilicus to the abdomen wall and perimeter of the

preputial orifice was found to be important as evaluation criteria in the selection of

reproductors for phenotypic characteristics improvement or even for prevention of

acquired diseases that affect the external genitalia of bulls.

Keywords: Cattle, preputial orifice, testicular circumference, umbilical cicatrix.

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1 Introdução

A eficiência reprodutiva em rebanhos de gado de corte constitui-se em

um dos principais determinantes de lucratividade no sistema de produção.

Rebanhos com fertilidade elevada e precoce sexualmente apresentam

considerável taxa de desfrute, resultando em maior número de animais para

comercialização e, consequentemente, maior progresso genético (NIETO et al.,

2003).

Ao lado da necessidade de se manter padrões raciais definidos para as

raças zebuínas, surgem pesquisas que buscam estudar as diversas

características que podem conduzir à melhor eficiência na reprodução e

desempenho produtivo (McGOWAN et al., 2002). Sabe-se que o conhecimento

das características genéticas associadas à eficiência reprodutiva dos machos

mostra-se necessário para auxiliar na identificação dos touros aptos à reprodução

e que possuam mérito genético superior para as características reprodutivas

(SARREIRO et al., 2002).

Características morfométricas têm sido indicadas para promover uma

melhor seleção dos touros. Perímetro testicular e torácico, altura anterior e

posterior, comprimento corporal e de garupa, são exemplos comumente utilizados

na avaliação de touros em projetos de melhoramento genético e acasalamento.

Todavia, características não menos importantes e, muitas vezes consideradas de

alta herdabilidade, como tamanho do prepúcio, distância do óstio prepucial à

parede abdominal, distância entre a cicatriz umbilical e a parede do abdômen,

perímetro externo do óstio prepucial e as correlações dessas com outras medidas,

são muitas vezes negligenciadas por geneticistas e selecionadores em detrimento

a outras características. Enfermidades de origem adquirida que acometem a

genitália externa de touros, como acropostite-fimose, parafimose, dentre outras,

inabilitam ou dificultam a cópula, e podem ter sua etiopatogenia relacionada a

alguns dos fatores acima citados (DESROCHERS et al., 1995; SILVA et al., 1998;

PINEDA et al., 2000; NOTHLING et al., 2002; RABELO et al., 2008 a).

O objetivo deste trabalho foi caracterizar alguns aspectos

morfométricos do prepúcio de touros das raças Gir e Nelore, estabelecendo as

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correlações destes parâmetros com outras medidas corpóreas, em animais

alocados em centrais para coleta de sêmen.

2 Material e métodos

O estudo foi realizado entre os meses de julho a outubro de 2009 após

submissão e aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa

da Universidade Federal de Goiás em 06/07/2009 (Protocolo 084/2009),

obedecendo aos preceitos de ética e bem-estar animal recomendados pela

Sociedade Brasileira de Ciências de Animais de Laboratório (SBCAL).

O protocolo experimental foi realizado em centrais de coleta de sêmen

de touros, sendo três localizadas em Uberaba, Minas Gerais e uma na cidade de

Pardinho, São Paulo.

Foram selecionados ao acaso, 23 touros da raça Nelore e 20 Gir,

oriundos de diferentes centrais de coleta de sêmen, sendo todos os animais

hígidos e provados em teste de libido e capacidade de cópula. Posteriormente,

estes foram submetidos à avaliação morfométrica. Para padronizar as coletas de

dados, todos os touros foram avaliados por um único observador, sendo os touros

direcionados e posicionados em tronco de contenção, com o intuito de evitar

possíveis desníveis que pudessem provocar alterações significativas nas

medidas.

Os dados coletados foram idade, massa e comprimento corporal,

comprimento da garupa, perímetro torácico, altura anterior e posterior, seguindo

padrão da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, e menor perímetro do

metacarpo esquerdo, menor perímetro do metatarso esquerdo, comprimento do

prepúcio da base do testículo até o óstio prepucial, perímetro testicular, menor

distância do óstio prepucial à parede do abdômen, menor distância da cicatriz

umbilical à parede abdominal e perímetro externo do óstio prepucial. Estes foram

verificados por meio de equipamentos, como paquímetro com relógio de precisão

300X 0,01 mm, fita milimetrada com precisão de um milímetro, hipômetro do tipo

bengala com graduação em milímetro e fita de medida para perímetro escrotal,

todos aprovados pelo Inmetro.

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As análises estatísticas descritivas (média, desvio padrão, valor mínimo

e máximo) e coeficientes de correlação entre as características avaliadas, bem

como as medidas de peso e perímetros, tiveram seus dados analisados e

processados utilizando o software SAS (2000).

3 Resultados e discussão

Os dados obtidos do comprimento do prepúcio (CPRE) nos touros

Gir e Nelore apresentaram médias de 52,4 5,5 cm e 57 3,2 cm,

respectivamente, conforme demonstrado na Tabela 1. Estes resultados mostram a

importância de se utilizar a morfometria em programas de seleção, acasalamento

ou mesmo para a escolha do tipo de manejo reprodutivo no qual o touro será

imposto. O risco de enfermidades adquiridas, acometendo a genitália externa

desses animais, com destaque para as moléstias de origem traumática,

culminando em impotência coeundi, mostra-se eminente. Essa preocupação

também foi relatada por outros autores, que enfatizaram a importância, no critério

de seleção, das características fenotípicas e morfométricas, com destaque para o

comprimento do prepúcio e o perímetro externo do óstio prepucial, na redução de

ocorrência de enfermidades penianas e prepuciais (VIU et al., 2002; RABELO,

2009).

Ressalte-se ainda que nos touros Nelore, a média da menor distância

do óstio prepucial à parede do abdômen (MDOA) observada foi de 20,7 3,1 e no

Gir de 27,9 3,6 cm, conforme demonstrado nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.

A análise e interpretação dessas medidas mostravam-se importantes, uma vez

que, além do CPRE, o MDOA constitui-se em característica indispensável no

critério de seleção de touros zebuínos (SILVA et al.,1998; McGOWAN et al.,

2002). A MDOA apresentou em todos os animais um valor superior à menor

distância da cicatriz umbilical à parede do abdômen (MDUA).

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TABELA 1. Medidas de 23 touros da raça Nelore manejados em centrais de coleta de sêmen

MC COM CG PTX ALA ALP PMTC PMTT CPRE PTES MDOA MDUA PEOP

01 1142 187 64 238 159 169 25 29 51 41 24 15 27

02 1038 181 60 230 151 161 25 26 49 42 17 15 18

03 1231 189 60 243 155 169 25 28 58 42 21 16 19

04 1279 184 61 249 162 171 25 30 56 41 19 14 19

05 1322 205 69 256 184 189 28 33 58 47 20 12 17

06 1150 177 59 240 155 163 25 31 51 42 19 14 19

07 1261 203 66 244 162 173 26 31,5 51 42 22 17 18

08 1303 195 64 242 160 172 29 33 52 41 22 17 22

09 1275 199 63 245 162 169 26 29,5 64 40 22 19 18

10 1236 188 59 250 162 169 25 28 59 41 20 16 19

11 1173 185 59 242 157 162 25 29,5 49 40 17 15 18

12 1076 174 51 230 141 153 23 25 41 42 14 9 18

13 1241 190 59 240 166 176 28 31,5 51 40 19 16 18

14 1260 188 65 247 160 166 26,5 29,5 57 41 22 14 18

15 1170 182 63 258 158 167 24,5 27,5 52 42 22 19 21

16 1080 198 68 245 163 171 25 29,5 49 49 20 14 18,5

17 1255 201 70 255 169 171 25 30 51 42 19 15 18

18 1100 193 67 252 156 166 24 28 51 47 26 12 20

19 1320 206 74 261 164 174 26,5 30 58 45 19 16 19

20 1130 195 65 242 161 169 25,5 28 41 48 21 13 18,5

21 1082 193 65 245 158 171 25 30 48 45 29 14 18,5

22 1130 194 64 247 158 169 24,5 28 50 51 22 13 21

23 1150 188 61 237 160 167 24,5 29,5 58 44 19 14 18

Média 1191,5 191,1 63,3 245,1 160,1 169 25,5 29,3 52,4 43,3 20,7 14,7 19,2

DP 86,4 8,6 4,8 7,9 7,6 6,6 1,4 1,9 5,5 3,2 3,1 2,2 2,1

MC - massa corporal (Kg), medidas em cm: COM – comprimento corporal em cm, CG – comprimento de garupa, PTX – perímetro torácico, ALA – altura anterior, ALP – altura posterior, PMTC – menor perímetro do metacarpo esquerdo, PMTT – menor perímetro do metatarso esquerdo, CPRE – comprimento do prepúcio, PTES – perímetro testicular, MDOA – menor distância do óstio prepucial a parede do abdômen, MDUA – menor distância da cicatriz umbilical a parede do abdômen e PEOP - perímetro externo do óstio prepucial. Médias e desvios padrões (DP).

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55

TABELA 2. Medidas de 20 touros da raça Gir manejados em centrais de coleta de sêmen

MC COM CG PTX ALA ALP PMTC

PM

TT

CP

RE PTES

MDO

A

MDU

A

PEO

P

01 950 152 60 237 150 155 23,5 25,5 56 42 29 18 19

02 1050 157 56 240 153 164 24 28 61 40 28 18 21

03 1018 173 59 228 143 152 24 25 63 46 31 22 19,5

04 830 165 64 219 147 151 21,5 26 55 40 24 14 19

05 870 150 63 226 143 154 23 25 58 44 30 19 22

06 892 175 60 221 144 157 24 25 59 46 33 16 20

07 706 155 56 202 134 140 22,5 25 57 44 28 21 18

08 792 168 58 216 146 157 23 25 54 43 32 22 19

09 950 167 62 226 148 156 22,8 25 60 44 32 19 21

10 925 169 61 229 144 155 23 26 54 43 22 17 20

11 821 164 59 220 148 155 23 24 56 44 29 14 22

12 680 146 61 218 141 154 24 26 54 37,5 27 16 18

13 763 166 59 216 129 145 23 25 60 47 31 17 22

14 1140 173 55 217 154 160 24 24 64 45 30 20 20,5

15 765 157 56 228 146 154 23 25 56 38 24 14 22

16 778 165 60 221 140 149 20 24 54 41,5 22 10 23

17 750 165 57 208 142 147 20,5 23 54 41 27 16 23

18 785 169 60 231 143 158 24 25 54 44 29 16 19

19 710 172 60 216 143 150 21,5 24 54 42 21 11 19

20 800 148 59 221 140 151 21 24 56 38 28 18 18,5

Média 848,8 162,8 59,3 222 143,9 153,2 23,2 25 57 42,5 27,9 16,9 20,3

DP 123,7 8,9 2,4 9,0 5,8 5,4 1,2 1,1 3,2 2,7 3,6 3,3 1,6

MC - massa corporal (Kg), medidas em cm: COM - comprimento corporal em cm, CG – comprimento de garupa, PTX – perímetro torácico, ALA – altura anterior, ALP – altura posterior, PMTC – menor perímetro do metacarpo esquerdo, PMTT – menor perímetro do metatarso esquerdo, CPRE – comprimento do prepúcio, PTES – perímetro testicular, MDOA – menor distância do óstio prepucial a parede do abdômen, MDUA – menor distância da cicatriz umbilical a parede do abdômen e PEOP - perímetro externo do óstio prepucial. Médias e desvios padrões (DP).

Essas diferenças apresentavam-se como características positivas para

as duas raças avaliadas, uma vez que, se a MDUA fosse superior a MDOA, a

exposição peniana e consequente cópula seria dificultada, concordando com as

citações de McGOWAN et al. (2002).

Quanto ao perímetro externo do óstio prepucial (PEOP), este

apresentou média e desvio padrão de 19,2 2,1 cm e 20,3 1,6 cm, nos touros

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56

Nelore e Gir, respectivamente. Em nenhum dos touros observados notou-se

qualquer deficiência na retração da mucosa prepucial por ocasião da coleta de

sêmen. Deste modo, os dados verificados por ocasião do exame morfométrico

servem como parâmetros na seleção de touros. O alargamento do PEOP pode

favorecer o prolapso de mucosa prepucial, predispondo assim a enfermidades,

com destaque para o prolapso de mucosa prepucial e a acropostite-fimose

(ASHDOWN, 2006; RABELO et al, 2006; RABELO, 2009).

TABELA 3. Correlações genéticas entre medidas de 23 touros Nelores de centrais

de coletas de sêmen COMP CG PTX ALA ALP PMTC PMTT CPRE PTES MDOA MDUA PEO

P

MC 0,51 0,35 0,54 0,63 0,62 0,69 0,66 0,66 -0,34 -0,05 0,43 -0,11

COMP ---- 0,84 0,58 0,73 0,76 0,51 0,54 0,31 0,39 0,33 0,23 -0,14

CG ---- ---- 0,71 0,65 0,64 0,35 0,44 0,26 0,45 0,43 0,19 0,06

PTX ---- ---- ---- 0,61 0,58 0,20 0,32 0,43 0,24 0,31 0,27 -0,04

ALA ---- ---- ---- ---- 0,93 0,63 0,72 0,45 0,19 0,16 0,19 0,19

ALP ---- ---- ---- ---- ---- 0,69 0,74 0,42 0,26 0,31 0,21 -0,06

PMTC ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,79 0,32 -0,16 0,08 0,36 -0,04

PMTT ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,34 -0,08 0,22 0,27 -0,05

CPRE ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- -0,27 0,11 0,50 -0,08

PTES ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,25 0,47 0,04

MDOA ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,20 0,38

MDUA ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,16

MC - massa corporal (Kg); COMP – comprimento corporal do touro; CG - comprimento de garupa; PTX - perímetro torácico; ALA - altura anterior; ALP - altura posterior; PMTC – menor perímetro do metacarpo; PMTT – menor perímetro do metatarso; CPRE - comprimento do prepúcio; PTES - perímetro testicular; MDOA - menor distância do óstio prepucial à parede do abdômen; MDUA - menor distância da cicatriz umbilical a parede do abdômen; PEOP - perímetro externo do óstio prepucial.

A correlação entre o comprimento do prepúcio (CPRE) e o perímetro

testicular (PTES) nos touros Nelore (r = 0,27) permite atribuir que quando se

verifica um aumento de perímetro testicular (PTES), ocorre diminuição do CPRE,

sendo este fato não observado na raça Gir (r = 0,50), conforme Tabelas 3 e 4.

Apesar de importantes, principalmente por estar o CPRE diretamente relacionado

a vários processos mórbidos acometendo a genitália externa, não se encontrou na

literatura científica consultada informações para respaldar este achado.

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57

BERGMANN et al. (1997) e PASTORE et al. (2008) apontaram apenas que o

PTES apresenta correlação positiva na fertilidade em bovinos.

TABELA 4. Correlações genéticas entre medidas de 20 touros Gir de centrais de coletas de sêmen

COM

P

CG PTX ALA ALP PMTC PMTT CPRE PTES MDO

A

MDUA PEO

P

MC 0,29 -0,15 0,53 0,67 0,63 0,47 0,30 0,75 0,33 0,35 0,44 0,10

COMP ---- -0,05 -0,01 0,13 0,13 0,07 -0,24 0,23 0,63 0,07 -0,07 0,16

CG ---- ---- 0,19 -0,09 -0,02 -0,13 0,13 -0,30 0,01 -0,11 -0,25 -0,16

PTX ---- ---- ---- 0,52 0,71 0,44 0,58 0,19 -0,10 0,03 0,01 0,06

ALA ---- ---- ---- ---- 0,82 0,31 0,25 0,22 -0,17 0,05 0,07 0,02

ALP ---- ---- ---- ---- ---- 0,58 0,43 0,26 -0,06 0,24 0,13 0,00

PMTC ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,53 0,50 0,35 0,55 0,50 -0,28

PMTT ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,16 -0,18 0,02 0,21 -0,29

CPRE ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,50 0,57 0,52 0,13

PTES ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,54 0,35 0,14

MDOA ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 0,70 -0,05

MDUA ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- -0,32

MC - massa corporal (Kg); COMP - comprimento corporal do touro; CG - comprimento de garupa; PTX - perímetro torácico; ALA - altura anterior; ALP - altura posterior; PMTC – menor perímetro do metacarpo; PMTT – menor perímetro do metatarso; CPRE - comprimento do prepúcio; PTES - perímetro testicular; MDOA - menor distância do óstio prepucial à parede do abdômen; MDUA - menor distância da cicatriz umbilical a parede do abdômen; PEOP - perímetro externo do óstio prepucial.

Outro dado morfométrico importante, nas duas raças estudadas, refere-

se ao CPRE quando correlacionados com o comprimento corporal (COMP) e

massa corporal (Tabela 3 e 4). A correlação baixa observada entre CPRE e

COMP nesse estudo permite apontar que comprimento do touro influencia pouco

no tamanho do prepúcio. Já entre CPRE e massa corporal (MC) apresentou

correlação significativa. Desse modo, touros de maior MC tendem a apresentar

CPRE maior, portanto é necessário considerar a possibilidade do aumento do

CPRE quando se realiza seleção de touros pela MC (VIU et al., 2002).

Correlações significativas e positivas entre PTX e ALA, PTX e ALP,

foram mencionadas por PACHECO et al. (2008), observando touros da raça

Guzerá, fato observado nos touros das raças Gir e Nelore deste experimento.

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4 Conclusões

Parâmetros morfológicos e morfométricos quantificados neste trabalho,

como comprimento do prepúcio, menor distância do óstio prepucial à parede do

abdômen, menor distância da cicatriz umbilical à parede do abdômen e perímetro

externo do óstio prepucial, mostravam-se importantes como critérios de avaliação

na seleção de reprodutores, seja para fins de melhoramento de características

fenotípicas ou mesmo na prevenção de enfermidades adquiridas que acometem a

genitália externa de touros.

5 Referências

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bovine penis and prepuce. CAB Reviews: Perspectives in agriculture,

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8. PASTORE, A. A.; TONIOLLO, G. H.; LÔBO, R. B.; FERNANDES, M. B.;

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Características biométricas, testiculares, seminais e parâmetros genéticos de

touros pertencentes ao programa de melhoramento genético da raça nelore.

Animal Reproduction Science Veterinária, Jaboticabal, v. 24, n. 2, p. 134-

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9. PINEDA, N. R.; FONSECA, V. O.; ALBUQUERQUE, L. G. Peliminar study of

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literatura. Revista CFMV- Suplemento Técnico, Brasília, v. 12, n. 37, p. 29-

36, 2006.

11. RABELO, R. E.; SILVA, L. A. F.; BRITO, L. A. B.; MOURA, M. I.; SILVA, O. C.;

CARVALHO, V. S.; FRANCO, L. G. Epidemiolgical aspects of surgical

diseases of the genital tract in PEOPulation of 12,320 breeding bulls (1987-

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60

2007) in the stage of Goiás, Brazil. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 9,

n. 3, p. 705-713, 2008.

12. RABELO, R. E. Desvio traumático de pênis em bovinos: aspectos

epidemiológicos, morfofuncionais e tratamento cirúrgico empregando

biomateriais. 2009, 77f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Escola de

Veterinária, Universidade Federal de Goiás, 2009.

13. SARRIERO, L. C.; BERGMANN, J. A. G.; QUIRINO, C. R.; PINEDA, N. R.;

FERREIRA, V. C. P.; SILVA, M. A. Herdabilidade e correlação genética entre

perímetro escrotal, libido e características seminais de touros nelore. Arquivo

Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. Belo Horizonte, v. 54, n. 6,

p. 602-608, 2002.

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SILVA, C. A.; FARIA, A. C. Tratamento cirúrgico da estenose e/ou fibrose

prepucial em touros. Animal Reproduction Science Veterinária , Jaboticabal,

v. 14, n. 2, p. 235-244, 1998.

15. VIU, M. A. O.; TONHATI, H.; CERÓN-MUÑOZ, M. F.; FRIES, L. A.; TEIXEIRA,

R. Parâmetros genéticos do peso e escores visuais de prepúcio e umbigo de

gado de corte. ARS Veterinária, Jaboticabal, v. 18, n. 2, p. 179-184, 2002.

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61

CAPÍTULO 4 - CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DO PÊNIS DE TOUROS

DAS RAÇAS GIR E NELORE

RESUMO

Acredita-se que o impacto negativo das enfermidades que acometem os órgãos

genitais do touro esteja ligado ao descarte prematuro de touros de alto valor

zootécnico e principalmente à ausência ou falhas de cobertura. Dentre as

enfermidades que afetam o pênis de touros, destacam-se a balanite,

fibropapiloma de glande, desvio prematuros, fraturas penianas e pênis curto ou

infantil, gerando a impotência coeundi. O presente trabalho teve como objetivo

caracterizar morfometricamente o pênis de bovinos das raças Gir e Nelore criados

em regime extensivo e abatidos em frigorífico. Foram selecionados 40 touros,

sendo 20 da raça Gir e 20 Nelore, com idade de 30 a 38 meses, nas propriedades

localizadas nos municípios de Jaraguá e Hidrolândia, ambos no estado de Goiás

(GO), Brasil. Os animais foram inspecionados e avaliados por meio de exame

clínico geral e específico do aparelho genital, sendo empregada massagem trans

retal e bloqueio loco-regional dos nervos pudendo e hemorroidais com cloridrato

de lidocaína, visando exposição da parte livre do pênis. Após 48h realizou-se teste

de libido e capacidade serviço, utilizando fêmea em cio, induzido

terapeuticamente. Os animais foram acompanhados ao abate em Frigorífico sob

Inspeção Federal, localizado na cidade de Anápolis-GO. Nessa ocasião foram

colhidas peças anatômicas de pênis e prepúcios conjuntamente, obedecendo à

seguinte metodologia: incisão no início da cauda entre a primeira vértebra caudal

e o sacro, retirada da pele da região perineal, inguinal e faces laterais dos

testículos até a região ventrolateral do abdômen, contornando todo prepúcio. Após

essa manobra, promoveu-se a secção na raiz do pênis para consequente

liberação da estrutura. Após colheita das peças anatômicas, promoveu-se a

identificação, acondicionamento sob refrigeração e transporte do material

biológico ao Laboratório. Sequencialmente efetuou-se dissecação do pênis para

fins de avaliações morfométricas. Foram realizadas análises estatísticas

descritivas (média, desvio padrão, valor mínimo e máximo) e coeficientes de

correlação entre as características avaliadas. Os resultados obtidos mostraram

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62

que em média o comprimento peniano foi de 71,96 e 75,8 cm. Alguns parâmetros

avaliados neste experimento, como comprimento da glande e parte livre do pênis

podem ser utilizados como critérios de avaliação na seleção de touros.

Palavras-chave: Bovinos, flexura sigmóide, glande, reprodutor.

ABSTRACT

MORPHOMETRIC CHARACTERIZATION OF THE PENIS OF BULLS OF GIR

AND NELORE RACES

It is believed that the negative impact of diseases that affect the genital organs of

the bull is linked to premature disposal of high-value bulls and especially due to

the absence or lack of mating. Among the diseases that affect the penis of bulls

stand out balanitis, fibropapillomas of the glans, premature penile deviations,

penile fractures and short or infantile penis causing coeundi impotence. This work

aims to characterize morphometrically the penis of bovines of the Gir and Nelore

races raised extensively and slaughtered in a slaughterhouse. It was selected 40

bulls, being 20 Gir and 20 Nelore, aged between 30 to 38 months in properties of

the cities of Jaragua and Hidrolândia, both in the State of Goiás (GO), Brazil. The

animals were inspected and evaluated by general and specific clinical examination

of the genital tract, being employed trans rectal massage and locoregional

anesthesia of the pudendal and haemorrhoids nerves with lidocaine hydrochloride

aiming the exposure to the free part of the penis. After 48 hours it was realized the

libido test and service capacity using a oestrous female cow therapeutically

induced. The animals were addressed to slaughterhouses under Federal

Inspection located in the city of Anapolis-GO. At that time I was collected

anatomical parts of the penis and prepuce together, in accordance with the

following methodology: incision at the beginning of the tail between the first

vertebra caudal and the sacrum, removal of the skin of the perineal region,

inguinal and lateral sides of the testicles, flanks, ventrolateral region of the

abdomen and the whole prepuce. After this procedure, it was promoted the section

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63

at the root of the penis for subsequent detachment of this organ. After collection of

the anatomical specimen, it was promoted the identification, packaging and

refrigeration and transportation of the biological material to the Laboratory.

Sequentially we performed dissection of the penis for the purpose of morphometric

evaluations. Descriptive statistical analysis (mean, standard deviation, minimum

and maximum) and correlation coefficients among the evaluated characteristics

were performed. The results showed that the average penis length was 71.96 and

75.8 cm. Some parameters evaluated in this experiment, as the length of the glans

and the free part of the penis may be used as evaluation criteria in the selection of

bulls.

Keywords: Breeder, cattle, glans, sigmoid flexure.

1 Introdução

No estado de Goiás, quase a totalidade das propriedades rurais cria

extensivamente o rebanho bovino, sendo este formado basicamente de raças

zebuínas Gir e Nelore.

O aumento dos índices produtivos e o seu consequente lucro são

metas almejadas para qualquer atividade, especialmente relacionadas à produção

de bovinos. Desse modo, o aumento da eficiência reprodutiva mostra-se uma

conduta básica e de fundamental importância em todo criatório de gado bovino,

independente da aptidão explorada. Nesse contexto, fatores relacionados à

genética, nutrição e sanidade dos animais devem ser monitorados (SILVA et al.,

1998; GARNERO & PERUSA, 2006).

Acredita-se que o impacto negativo das enfermidades que acometem

os órgãos genitais do touro esteja ligada ao descarte prematuro de animais de alto

valor zootécnico e principalmente à ausência ou falhas de cobertura. Tais fatores

culminam em maior número de fêmeas vazias nas propriedades de criação

extensiva (RABELO et al., 2006).

Dentre as enfermidades que afetam o pênis de touros, destacam-se a

balanite, fibropapiloma de glande, desvios prematuros, fraturas penianas e pênis

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curto ou infantil, gerando a impotência coeundi (WALKER & VAUGHAN, 1980;

GILBERT, 1989; EURIDES et al., 1998)

O presente trabalho teve como objetivo caracterizar morfometricamente

o pênis de bovinos das raças Gir e Nelore criados em regime extensivo e abatidos

em frigorífico.

2 Material e métodos

O estudo foi realizado entre os meses de julho a outubro de 2009 após

submissão e aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa

da Universidade Federal de Goiás em 06/07/2009 (Protocolo 084/2009),

obedecendo aos preceitos de ética e bem-estar animal recomendados pela

Sociedade Brasileira de Ciências de Animais de Laboratório (SBCAL).

Foram selecionados 40 touros, sendo 20 da raça Gir e 20 Nelore, com

idade de 30 a 38 meses, em propriedades localizadas nos municípios de Jaraguá

e Hidrolândia, ambas no estado de Goiás, Brasil. Os animais foram inspecionados

e avaliados por meio de exame clínico geral e específico do aparelho genital

(DIRKSEN et al., 1993; ASHDOWN, 2006), sendo empregada massagem trans

retal e bloqueio loco-regional dos nervos pudendo e hemorroidais com cloridrato

de lidocaína a 2% (TRANQUILLI et al., 2007; RABELO et al., 2008) visando

exposição da parte livre do pênis. Após 48h realizou-se teste de libido e

capacidade de serviço, utilizando fêmea em cio, induzido terapeuticamente

(CHAVES, 2002; SANTOS et al., 2004). Todos os testes realizados visaram

diagnosticar possíveis enfermidades que poderiam impedir ou dificultar a cópula.

A ausência de qualquer processo mórbido como causador de impotência coeundi

foi requisito para utilização dos animais na etapa seguinte.

Os animais foram acompanhados ao abate em Frigorífico sob Inspeção

Federal, localizado na cidade de Anápolis-GO. Nessa ocasião foram colhidas

peças anatômicas de pênis e prepúcios conjuntamente, obedecendo à seguinte

metodologia: incisão no início da cauda entre a primeira vértebra caudal e o sacro,

retirada da pele da região perineal, inguinal e faces laterais dos testículos até a

região ventrolateral do abdômen, contornando todo prepúcio. Após essa manobra,

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promoveu-se a secção na raiz do pênis para consequente liberação da estrutura.

Colhidas as peças anatômicas, promoveu-se a identificação, acondicionamento

sob refrigeração e transporte do material biológico ao Laboratório de Anatomia

Animal do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás.

Sequencialmente efetuou-se dissecação do pênis para fins de avaliações

morfométricas.

Para morfometria foram utilizados alguns equipamentos como

paquímetro com relógio de precisão 300X 0,01 mm, fita milimetrada com precisão

de um milímetro, hipômetro do tipo bengala com graduação em milímetro e fita de

medida para perímetro escrotal, todos aprovados pelo Inmetro.

As análises estatísticas descritivas (média, desvio padrão, valor mínimo

e máximo) e coeficientes de correlação entre as características avaliadas, bem

como as medidas de peso e perímetros, tiveram seus dados analisados e

processados utilizando o software SAS (2000).

3 Resultados e discussão

Os resultados obtidos mostraram que em média o comprimento

peniano foi de 71,96 e 75,8 cm, respectivamente, para as raças Nelore e Gir

(Tabelas 1 e 2). EURIDES et al. (1998) relataram, após dissecação de peças

anatômicas de pênis de touros da raça Nelore, com idade variando de 36 a 48

meses, que a média de comprimento do pênis e desvio padrão foi de 81,67 e

7,29, respectivamente, discordando dos resultados desta pesquisa. Todavia,

aponta-se que este fato decorre da diferença das idades entre os touros deste

estudo, pois conforme relatos de WOLF et al. (1965); LUNSTRA et al. (1978);

VALE FILHO et al. (2001), touros jovens podem ainda apresentar órgãos sexuais

em desenvolvimento, o que justifica os achados obtidos. Ainda, de acordo com

GETTY (1986) e KONIG & LIEBICH (2004) no touro adulto, o pênis pode medir

até um metro de comprimento, sendo um quarto de sua extensão constituído pela

flexura sigmóide.

Nas raças Nelore e Gir os dados referentes ao comprimento peniano

(CP), comprimento da glande (GL), comprimento da flexura sigmóide (SP),

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comprimento da parte livre (PL), comprimento da curvatura distal ao ápice (CDA)

e o comprimento da raiz à curvatura proximal (RCP), podem ser visibilizados nas

Tabelas 1 e 2.

De acordo com GILBERT (1989), estudando dez touros da raça

Hereford, descreveram que o CDA de dez a 22 cm sendo considerados pênis

pequenos. Nas raças estudadas, a média foi de 30,6 cm para o Gir e Nelore,

descartando assim a possibilidade destes touros terem pênis pequenos, fato

comprovado com os testes de serviços, onde todos os animais mostraram-se

aptos.

Na raça Nelore, quando essas medidas foram submetidas ao teste de

correlação linear (Tabela 3), evidenciaram-se correlações positivas significativas (r

>0,5) entre CP/SP (r = 0,89), CP/PL (r = 0,80), CP/CDA (r = 0,75), SP/PL (r =

0,79) e SP/CDA (r = 0,67). Já na raça Gir (Tabela 4), as correlações positivas

significativas (r > 0,5) foram observadas entre CP/GL (r = 0,85), CP/SP (r = 0,85),

CP/ CDA (r = 0,88) e CP/RCP (r = 0,66), GL/ SP (r = 0,74), GL /CDA (r = 0,67),

GL/ RCP (r = 0,68) e SP/CDA (r = 0,59). Tal fato permitiu apontar que, na raça

Nelore, à medida que o CP aumenta, maior será o comprimento de SP, PL e CDA,

e com o aumento de SP, também implicará em elevadas medidas de PL e CDA.

Comprovou-se também que, na raça Gir, quanto maior a medida de CP, maior

será o GL, SP, CDA, RCP e que maiores medidas de GL implicam em acréscimos

nas medidas de SP, CDA e RCP. Apesar de não realizarem a correlação entre os

parâmetros analisados neste estudo, EURIDES et al. (1998) utilizando touros

Nelore como modelo experimental, descreveram que o comprimento peniano não

apresentou correlação significativa quando analisado com as variáveis largura e

espessura do ligamento apical do pênis.

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TABELA 1. Medidas, em centímetros, de peças anatômicas de pênis de touros da

raça Nelore de 30 a 38 meses de idade, colhidas em frigorífico inspecionado

TOUROS CP GL SP PL CDA RCP

01 71,5 3,2 32,0 9,1 30,0 9,5

02 72,8 3,1 32,5 9,5 30,1 10,2

03 73,6 3,3 32,8 9,6 31,2 9,6

04 70,2 2,9 29,8 8,6 30,3 10,1

05 71,8 3,2 31,6 8,8 30,3 9,9

06 71,6 3,1 30,8 8,9 29,9 11,1

07 72,0 3,0 32,1 9,3 30,1 9,8

08 71,7 3,2 30,7 9,0 30,2 10,8

09 71,4 3,1 31,0 9,1 30,1 10,3

10 70,9 3,0 29,9 8,6 29,9 11,1

11 70,8 3,1 29,6 8,5 29,8 11,4

12 72,4 3,2 32,4 9,2 31,3 8,7

13 73,2 3,1 32,7 9,5 32,0 8,5

14 71,4 2,9 31,5 8,7 30,4 9,5

15 72,6 3,1 32,2 8,9 31,8 8,6

16 71,6 2,8 31,8 9,0 30,3 9,5

17 71,9 3,2 31,8 8,6 30,4 9,7

18 73,1 3,1 32,6 9,4 31,8 8,7

19 72,9 3,2 32,4 9,1 31,4 9,1

20 71,8 3,2 31,9 9,3 30,6 9,3

Média 71,96 3,1 31,61 9,04 30,60 9,77

DP 0,87 0,13 0,99 0,33 0,71 0,86

CP - comprimento peniano, GL - comprimento da glande, SP - comprimento da flexura sigmoide, PL - comprimento da parte livre, CDA - comprimento da curvatura distal ao ápice e RCP - comprimento da raiz à curvatura proximal.

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TABELA 2. Medidas em centímetros do pênis de touros da raça Gir de 30 a 38 meses de idade coletadas em frigorífico inspecionado

TOUROS CP GL SP PL CDA RCP

01 73,3 3,2 33 10,1 29,8 10,5

02 78,4 3,4 35 10,2 31,6 11,8

03 78,1 3,3 34,6 9,9 31,9 11,6

04 77,2 3,3 34 9,8 31,7 11,5

05 74,5 3,2 33 9,6 30,6 10,9

06 76,5 3,2 34,2 9,7 31,5 10,8

07 75,4 3,3 33,9 8,9 30,4 11,1

08 77 3,3 34,8 9,7 31,4 10,8

09 76,5 3,3 34,6 9,5 30,1 11,8

10 75 3,2 33,7 9,8 30,2 11,1

11 74 3,1 34,2 9,7 29,7 10,1

12 73,5 3,1 32,9 10,2 29,9 10,7

13 74 3,2 33,2 9,7 29,8 11

14 76 3,3 34,9 9,8 30,1 11

15 74,5 3,2 33,3 10,1 30,3 10,9

16 74,3 3,2 33,2 9,8 29,9 11,2

17 75,5 3,3 33,8 9,9 30,7 11

18 78,2 3,4 35,1 10,1 31,8 11,3

19 76,3 3,3 34,8 9,7 30,9 10,6

20 76,4 3,3 34,6 9,9 30,5 11,3

Média 75,8 3,3 34 9,8 30,6 11,1

DP 1,58 0,08 0,75 0,29 0,75 0,43

CP - comprimento peniano, GL - comprimento da glande, SP - comprimento da flexura sigmoide, PL - comprimento da parte livre, CDA - comprimento da curvatura distal ao ápice e RCP - comprimento da raiz à curvatura proximal.

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TABELA 3. Correlações entre as medidas penianas de touros da raça Nelore de 30 a 38 meses de idade

GL SP PL CDA RCP

CP 0,49 0,89 0,80 0,75 - 0,63

GL ---- 0,36 0,36 0,25 - 0,11

SP ---- ---- 0,79 0,67 - 0,81

PL ---- ---- ---- 0,49 - 0,84

CDA ---- ---- ---- ---- - 0,84

CP - comprimento peniano, GL - comprimento da glande, SP - comprimento da flexura sigmóide, PL - comprimento da parte livre, CDA - comprimento da curvatura distal ao ápice e RCP - comprimento da raiz à curvatura proximal.

TABELA 4. Correlações entre as medidas penianas de touros da raça Gir de 30 a 38 meses de idade

GL SP PL CDA RCP

CP 0,85 0,85 0,05 0,88 0,66

GL ---- 0,74 -0,01 0,67 0,68

SP ---- ---- -0,03 0,59 0,36

PL ---- ---- ---- 0,14 0,02

CDA ---- ---- ---- ---- 0,46

CP - comprimento peniano, GL - comprimento da glande, SP - comprimento da flexura sigmóide, PL - comprimento da parte livre, CDA - comprimento da curvatura distal ao ápice e RCP - comprimento da raiz à curvatura proximal.

4- Conclusão

Os parâmetros avaliados neste experimento, comprimento da glande e

parte livre do pênis, podem ser utilizados como critérios de avaliação na seleção

de touros.

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CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na realização deste trabalho deparou-se com a necessidade de

aquilatar cada vez mais o estudo da morfologia, pois mesmo sendo uma ciência

básica, ela fornece embasamento para outras disciplinas e pesquisas na área da

Medicina Veterinária.

Tem-se associado perspectivas de negócio à seleção animal, visando o

biótipo de animal mais produtivo, negligenciando características importantes. Com

isso, a determinação de escore prepucial tornou-se uma prática remota de

seleção que ainda perdura na criação de bovinos. Os resultados do presente

estudo podem oferecer dados para a quantificação dos parâmetros anatômicos do

prepúcio, promovendo assim uma padronização de mensurações, facilitando aos

selecionadores e julgadores a escolha de reprodutores.

Espera-se que o estudo sobre pênis e prepúcio possa servir de auxílio

nas profilaxias de enfermidades que acometem tais estruturas, além de subsidiar

médicos veterinários, zootecnistas, geneticistas, pesquisadores e selecionadores

em busca de melhorias na qualidade zootécnica dos touros, sem dissociá-la da

característica morfométrica padronizada neste experimento.

Devido à grande extensão do território brasileiro, a criação extensiva de

bovinos terá sempre local de destaque no contexto da pecuária nacional, sendo

assim, a utilização de touros para a realização da monta natural será uma

constante, portanto para escolha de touros deve-se ter embasamento em

pesquisas como a realizada por este trabalho.

A formação do rebanho bovino nacional conta com uma decisiva

contribuição do material genético zebuíno, tendo como destaque as raças Gir e

Nelore, as quais foram escolhidas para a realização do experimento.

Com a divulgação deste trabalho, tanto pela Universidade, quanto pelos

artigos publicados em periódicos, almeja-se incentivar pesquisadores em busca

do aprimoramento do tema proposto.

Aspiramos, cada vez mais, com este e outros trabalhos futuros,

contribuirmos em prol da saúde, seleção e do bem-estar animal.