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‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo exploratório sobre spams recebidos por WhatsApp durante as eleições Autores: Francisco Brito Cruz Heloisa Massaro Ester Borges Equipe do projeto: Francisco Brito Cruz, Heloisa Massaro e Ester Borges. Equipe institucional: Mariana Valente e Dennys Antonialli. Sumário 1. Resumo ................................................................................................................................................. 2 2. Introdução ............................................................................................................................................ 3 3. Metodologia .......................................................................................................................................... 6 4. Resultados ............................................................................................................................................ 9 a. Para além do “bolsonarismo”: quais candidatas/os apareceram no nosso estudo exploratório?........................................................................................................................................... 10 b. O rastro do dinheiro: quem declarou despesas com envio de mensagens em massa? ............... 12 c. Foram só boatos e críticas? As peculiaridades do material levantado e a diversidade de conteúdos comunicados. ........................................................................................................................ 16 d. Os limites da legalidade: o envio de mensagens em massa, a legislação eleitoral e a regulação das plataformas .................................................................................................................... 24 i. O spam político é previsto pela lei como forma de propaganda eleitoral? ............................. 25 ii. Proteção de dados e os limites do consentimento do eleitor: como a lei aborda os cadastros com informações pessoais? ............................................................................................... 27 iii. Como o WhatsApp trata o envio massivo de mensagens? ................................................... 29 5. Considerações finais .......................................................................................................................... 31 6. Anexos ................................................................................................................................................ 36

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Page 1: ‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo …...2 1. Resumo No contexto das eleições de 2018, o WhatsApp foi protagonista dos debates envolvendo os impactos da internet para

‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo exploratório sobre

spams recebidos por WhatsApp durante as eleições

Autores:

Francisco Brito Cruz

Heloisa Massaro

Ester Borges

Equipe do projeto: Francisco Brito Cruz,

Heloisa Massaro e Ester Borges.

Equipe institucional: Mariana Valente e

Dennys Antonialli.

Sumário

1. Resumo ................................................................................................................................................. 2

2. Introdução ............................................................................................................................................ 3

3. Metodologia .......................................................................................................................................... 6

4. Resultados ............................................................................................................................................ 9

a. Para além do “bolsonarismo”: quais candidatas/os apareceram no nosso estudo

exploratório? ........................................................................................................................................... 10

b. O rastro do dinheiro: quem declarou despesas com envio de mensagens em massa? ............... 12

c. Foram só boatos e críticas? As peculiaridades do material levantado e a diversidade de

conteúdos comunicados. ........................................................................................................................ 16

d. Os limites da legalidade: o envio de mensagens em massa, a legislação eleitoral e a

regulação das plataformas .................................................................................................................... 24

i. O spam político é previsto pela lei como forma de propaganda eleitoral? ............................. 25

ii. Proteção de dados e os limites do consentimento do eleitor: como a lei aborda os

cadastros com informações pessoais? ............................................................................................... 27

iii. Como o WhatsApp trata o envio massivo de mensagens? ................................................... 29

5. Considerações finais .......................................................................................................................... 31

6. Anexos ................................................................................................................................................ 36

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1. Resumo

No contexto das eleições de 2018, o WhatsApp foi protagonista dos debates

envolvendo os impactos da internet para a comunicação política e as estratégias

de marketing digital adotadas pelas campanhas. O spam político na plataforma

ganhou o centro das discussões sobretudo após a divulgação pela Folha de São

Paulo de uma reportagem investigativa que apontava a existência de um suposto

esquema de disparo de mensagens em massa a favor do então candidato Jair

Bolsonaro. Diante da repercussão do caso e das questões que foram levantadas

sobre os usos e impactos do WhatsApp no período eleitoral, articulamos um

estudo exploratório com o objetivo de lançar luz sobre práticas de comunicação

política nessa plataforma. A partir de um formulário digital, coletamos 78 spams

políticos recebidos por eleitores via WhatsApp e SMS. A análise do material

recebido revelou uma grande diversidade entre as mensagens. De imagens que

reproduzem os tradicionais “santinhos” a correntes e memes refletindo a forte

polarização política vivenciada no período eleitoral, os conteúdos coletados foram

bastante variados em seus formatos e discursos veiculados, além de

apresentarem uma diversidade de partidos e candidatos que apareceram

vinculados a esses materiais. O exame dessa heterogeneidade traz indícios de

que o envio de mensagens com conteúdo eleitoral pode ter sido tanto uma

estratégia institucional das próprias campanhas, quanto uma prática orgânica e

descentralizada de apoiadores e ativistas online, alimentando a hipótese de

campanhas políticas organizadas em uma estrutura de propaganda em rede.

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2. Introdução

As eleições de 2018 deixaram evidente que a era do horário político

eleitoral gratuito na televisão entrou em declínio. Nesse processo, ficou claro que

a expansão do uso da internet e das redes sociais transformou dinâmicas de

produção, circulação e consumo de informação política, refletidas em uma

crescente adoção de estratégias digitais pelas campanhas – da compra de

anúncios em redes sociais às notícias falsas e correntes de mensagens

Nesse contexto, o uso do WhatsApp nas campanhas foi protagonista.

Parte dessa importância foi propulsionada pela grande repercussão de uma

reportagem investigativa divulgada pela Folha de S. Paulo em outubro de 2018.1

Nela, o jornal apontou que diversas empresas, teriam contratado serviços de

disparo em massa de mensagens (ou spam) no WhatsApp em apoio ao então

candidato Jair Bolsonaro (PSL), com conteúdos contrários ao Partido dos

Trabalhadores (PT), semanas antes do segundo turno do pleito eleitoral.

Os limites da legalidade da ação dessas empresas foi questionado, tanto

por configurar uma suposta doação de campanha não declarada quanto pela

obscuridade da origem da base de dados de telefones utilizada, cuja

comercialização é vedada. Para além dos contornos da legalidade da prática,

diversas outras indagações surgiram no debate público, entre elas a relevância

desse tipo de tática de campanha para os resultados da eleição, o teor dessas

mensagens e quem foram os brasileiros que as receberam durante o período.

Essa e outras reportagens colocaram em questão os efeitos que essa

plataforma de mensagens privadas (e criptografadas) teria tido na dinâmica e no

resultado do processo eleitoral,2 seja através de uma mobilização orgânica ou

1 MELLO, Patrícia Campos. Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp. Folha

de S. Paulo, 18 out. 2018. Disponível em:

<https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-bancam-campanha-contra-o-pt-pelo-

whatsapp.shtml> 2 EL PAÍS. Os 'whatsapps' de uma campanha envenenada. El País, 28 out. 2018. Disponível em:

<https://brasil.elpais.com/especiais/2018/eleicoes-brasil/conversacoes-whatsapp/>; RIGA,

Matheus; BAGATINI, Olga. Disseminado pelo Brasil, WhatsApp deve ser canal decisivo nas

eleições. Estadão. Disponível em: <http://infograficos.estadao.com.br/focas/politico-em-

construcao/materia/disseminado-pelo-pais-whatsapp-deve-ser-canal-decisivo-entre-candidatos-e-

eleitores>; MACHADO, Ana Paula. TRE-MG investiga Romeu Zema por uso indevido do

Whatsapp. Exame, 24 out. 2018. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/brasil/tre-mg-

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enquanto ferramenta adotada pelas campanhas eleitorais. De um lado, a

penetração do aplicativo no país3 e evidências trazidas por pesquisas e

investigações jornalísticas corroboram a hipótese de que o seu uso pode ter sido

decisivo na estratégia de alguns candidatos (ou, ainda, de um campo político); de

outro, a arquitetura do WhatsApp é refratária à análise de conteúdo em razão da

criptografia de ponta a ponta, o que dificulta o escrutínio público sobre o que

circulou na plataforma. Somam-se à análise, ainda, as dificuldades de

investigação sobre uso de recursos não declarados em campanha.

Colocado no centro das atenções do debate eleitoral, o spam político no

WhatsApp, ou seja, o envio de mensagens em massa e não solicitadas por

campanhas, é um fenômeno que merece atenção significativa. De acordo com

pesquisa realizada pela Opinion Box, publicada no portal especializado no setor

de telecomunicações MobileTime, 26% dos cidadãos brasileiros com mais de 16

anos receberam mensagens sobre política de números desconhecidos durante o

período eleitoral no último ano.4

A adoção do spam como estratégia de marketing político, todavia, não é um

fenômeno novo e exclusivo das eleições de 2018, nem restrito ao WhatsApp. No

referendo sobre a proibição de comercialização de armas de fogo no Brasil

realizado em 2005, por exemplo, práticas de spam por email já haviam sido

identificadas. Um estudo que analisou as estratégias digitais das campanhas

pelo “sim” e pelo “não” identificou que ambas se valeram de envios de mensagens

investiga-romeu-zema-por-uso-indevido-do-whatsapp/>; FOLHA DE S. PAULO. Campanha de

Meirelles enviou WhatsApp a beneficiários do Bolsa Família. Folha de S. Paulo, 5 nov. 2018.

Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/11/campanha-de-meirelles-enviou-

whatsapp-a-beneficiarios-do-bolsa-familia.shtml>. 3 LINK ESTADÃO. WhatsApp chega a 120 milhões de usuários no Brasil. O Estado de S. Paulo,

29 mai. 2017. Disponível em: <https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,whatsapp-chega-a-

120-milhoes-de-usuarios-no-brasil,70001817647>; SPAGNUOLO, Sérgio. Rede de Jornalistas

Internacionais, 12 nov. 2018. Disponível em: <https://ijnet.org/pt-br/story/no-brasil-1-em-cada-4-

internautas-recebe-not%C3%ADcias-regularmente-whatsapp>; DATAFOLHA. Eleições 2018: Uso

de Redes Sociais. Instituto Datafolha, 2018. Disponível em:

<http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2018/10/27/44cc2204230d2fd45e18b039ee8c07a6.pdf>. 4 PAIVA, Fernando. 26% dos brasileiros afirmam ter recebido spam político por WhatsApp.

Mobile Time, 10 dez. 2018. Disponível em:

<https://www.mobiletime.com.br/noticias/10/12/2018/26-dos-brasileiros-afirmam-ter-recebido-

spam-politico-por-whatsapp/>.

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em massa para listas de emails.5 Foram identificados nesses spams, inclusive, a

veiculação de discursos conspiratórios e de desinformação, vinculados sobretudo

à campanha pela “não” proibição de comercialização.

No caso de 2018, após a reportagem da Folha, autoridades e empresas

foram pressionadas a agir, ainda sob o fogo cruzado da polarização política após

período eleitoral. Pouco mais de 3 meses depois do fim das eleições, em fevereiro

de 2019, o Whatsapp publicou um relatório sobre como vinha combatendo

técnicas de spam, compartilhando alguns dados e fluxos com o público.6 Ademais,

em atenção ao fenômeno da comunicação digital durante as eleições, diferentes

centros de pesquisa produziram estudos observando grupos públicos de cunho

eleitoral (ou seja, grupos acessíveis a partir de um link),7 diagnosticando a

aplicação de técnicas de automação e coordenação em alguns casos e, ainda,

significativo fluxo de boatos, de informações descontextualizadas e

hiperpartidárias.

Em face da repercussão do caso e diante dessas questões,

articulamos, no InternetLab, um estudo exploratório sobre práticas de

spam no WhatsApp. Neste relatório, desenvolvemos uma exploração sobre

algumas dessas questões, lançando luz sobre práticas de comunicação

política nessa plataforma.

5 SORJ, Bernardo. Internet, espaço público e marketing político: entre a promoção da

comunicação e o solipsismo moralista. Novos Estudos, São Paulo, n. 76, p. 123-136, nov. 2006.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-

33002006000300006&lng=en&nrm=iso>. 6 WHATSAPP. Stopping Abuse: How WhatsApp Fights Bulk Messaging and Automated

Behavior. 6 fev. 2019. Disponível em:

<https://www.whatsapp.com/safety/WA_StoppingAbuse_Whitepaper_020418_Update.pdf>. 7 Um exemplo dessas iniciativas foi o projeto Eleições sem Fake do Departamento de Ciências da

Computação da Universidade Federal de Minas Gerais, que desenvolveu um sistema de

monitoramento de grupos públicos do WhatsApp. Mais informações podem ser acessadas no site

do projeto: <https://www.eleicoes-sem-fake.dcc.ufmg.br/>. Sobre outros estudos em grupos

públicos ver: BECKER, Clara; MARÉS, Chico. Só 4 das 50 imagens mais compartilhadas por 347

grupos de WhatsApp são verdadeiras. Agência Lupa, out. 2018. Disponível em:

<https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/wp-content/uploads/2018/10/Relat%C3%B3rio-WhatsApp-1-

turno-Lupa-2F-USP-2F-UFMG.pdf>; TARDÁGUILA, Cristina; BENEVENUTO, Fabrício;

ORTELLADO, Pablo. Fake News Is Poisoning Brazilian Politics. WhatsApp Can Stop It. New

York Times, 17 out. 2018. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2018/10/17/opinion/brazil-

election-fake-news-whatsapp.html>.

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3. Metodologia

Considerados os desafios de observar o que ocorre no WhatsApp para além

dos grupos públicos, optou-se por uma metodologia que levasse em conta o

consentimento dos usuários envolvidos e cujo foco fosse descobrir e catalogar

táticas e práticas desenvolvidas pelos atores políticos. Assim, disseminamos a

partir do Facebook e do Twitter um formulário digital,8 para que eleitores

respondessem se receberam mensagens sobre política de números desconhecidos

durante o período eleitoral, e nos encaminhassem as mesmas.

8 O formulário pode ser acessado em: <https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSf-

d4FvW9wBRXkaGzDcjwUkx2BEtSPGxv_InVQrhWc_r9g48w/viewform>.

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O formulário permitia que os respondentes enviassem uma captura de tela

das mensagens e eventuais arquivos recebidos de números desconhecidos e

permaneceu aberto ao envio de respostas desde a sua divulgação em outubro de

2018. Era possível, ainda, que fosse informada a data aproximada do

recebimento da mensagem, como forma de situarmos os eventos no curso do

período eleitoral; a localização do respondente, como parâmetro de qualificação

do banco de dados e como forma de identificar as regiões em que essas práticas

de spam pudessem estar sendo mobilizadas; e o número do remetente, para

analisar a origem dessas mensagens e possíveis estratégias de disparo em massa.

A partir do mês de março de 2019, iniciamos a modelagem de um banco de

dados com as respostas recebidas e procedemos à sua respectiva análise.

Organizamos uma planilha com todas as respostas recebidas, contendo

informações sobre a localização da pessoa que recebeu a mensagem, o número

que a enviou a mensagem e sua origem geográfica, a data aproximada do envio, e

o conteúdo veiculado.

Dividimos as respostas de acordo com a região do Brasil na qual o

respondente afirmava residir, o que revelou uma prevalência na quantidade de

respostas recebidas de pessoas do sudeste em relação às demais regiões do país.

A comparação entre esses dados e a origem do DDD dos números que enviaram

as mensagens também deixou transparecer uma proximidade entre os

remetentes e destinatários da amostra.

O conteúdo das mensagens foi analisado caso a caso, a partir de

informações com relação ao seu formato – classificados entre correntes de texto,

imagens, vídeos, áudios e compartilhamento de links; aos candidatos e partidos

vinculados à mensagem enviada; e ao próprio discurso que estava sendo

comunicado. Foi realizada também diferenciação entre aqueles provenientes da

plataforma WhatsApp e serviços de SMS, sendo identificada uma prevalência de

conteúdos circulados pelo WhatsApp.

O relacionamento entre esses conteúdos e as campanhas eleitorais a eles

relacionadas também foi explorado a partir do cruzamento de dados da lista de

candidatos e partidos presentes nos resultados com os dados da prestação de

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contas das candidaturas divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na

plataforma DivulgaCandContas,9 com o objetivo de investigar a adoção de

práticas de marketing direto como estratégia oficial e declarada das campanhas.

Essa estratégia nos forneceu um retrato de spams que circularam no

WhatsApp, e também via SMS, que não poderiam ter sido coletados ou

analisados sem o consentimento dos usuários. Ela, todavia, possui limites. Em

primeiro lugar, a classificação do que é spam não foi feita de forma objetivamente

técnica, mas sim a partir do que os próprios respondentes identificaram como

sendo spam: basicamente, mensagens com conteúdo político enviadas a partir de

números desconhecidos. Em segundo lugar, as informações fornecidas através do

formulário não nos permitem identificar a origem dessas mensagens, se

controlada pelas campanhas oficiais ou não.

Por fim, dada a dimensão do levantamento e a ausência de

representatividade estatística da amostra em relação ao conjunto do eleitorado,

não é possível generalizar conclusões ou considerar que os dados produzidos com

as respostas retratam numericamente o que aconteceu com a totalidade do

eleitorado. Na verdade, o estudo buscou lançar uma primeira luz sobre

uma comunicação política pouco transparente, mas latente, que se

operacionaliza por meio de ferramentas de comunicação privada. É uma

tentativa de descrever tipos de técnicas e conteúdos de spam que foram

avistados na prática eleitoral.

9 A plataforma pode ser acessada em: <http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/>

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4. Resultados

Como resultado do levantamento proposto, coletamos 78 respostas10 de

todas as regiões do país, constituindo uma base de dados com um perfil

relativamente diversificado. Dentre os respondentes, uma grande maioria se

declarou residente do sudeste (cerca de 65%), porém recebemos respostas de mais

de 30 municípios espalhados pelas cinco regiões do país. De todos eles, a maioria

recebeu mensagens de números de seu próprio estado ou município.

O propósito do estudo foi coletar supostos spams enviados por WhatsApp,

todavia, 11 respondentes nos enviaram spams recebidos via SMS – um meio para

spam anterior ao Whatsapp. Como um dos escopos deste trabalho também foi

entender aquilo que foi recebido em dispositivos móveis, os spams de SMS foram

incluídos no banco de dados para análise.

O levantamento nos surpreendeu pela diversidade do material encontrado

e dos discursos comunicados. A vinculação dessas mensagens também chamou

atenção, elas possuem uma grande gama de partidos associados, entre eles PDT,

Solidariedade, PV, NOVO, Podemos, PSDB, PRTB, DEM, PSD, PT e PSL. Além

disso, os candidatos que aparecem em parte dos materiais recebidos não

concorriam apenas a cargos do executivo, mas também ao legislativo estadual e

federal.

Dessa forma, se, por um lado, não é possível traçar um retrato definitivo,

por outro, um olhar sobre esses materiais oferece uma perspectiva inédita, que

abre um novo leque de questões para análise e trilhas de pesquisa.

10 Em sua maioria todas as respostas submetidas ao formulário acompanharam o envio de uma

captura de tela das mensagens e eventuais arquivos recebidos. Em 6 delas, todavia, os

respondentes apenas informaram os dados relativos aos números remetentes de mensagens

consideradas como spam, sem disponibilizar as capturas de tela com seu conteúdo.

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a. Para além do “bolsonarismo”: quais candidatas/os

apareceram no nosso estudo exploratório?

Com a divulgação da reportagem investigativa da Folha de S. Paulo, uma

das questões suscitadas diz respeito a quem também poderia ter adotado essa

estratégia. A comunicação através do WhatsApp teria servido apenas ao

presidenciável do PSL e candidatos a ele vinculados ou teria sido uma estratégia

disseminada entre diversas campanhas? Em 2017, a BBC Brasil já havia

reportado o papel ocupado pelo WhatsApp na construção de uma rede de

militância pró-Bolsonaro.11 Nesse registro, a plataforma de mensagens

instantâneas é tida como uma ferramenta relevante na ascensão dessa nova

direita capitaneada pelo bolsonarismo, sobretudo na articulação de uma

estrutura de propaganda em rede, composta por um “um misto coordenado de

esforço contratado com outro voluntário e espontâneo”.12

Uma das características que chamou atenção no nosso levantamento foi a

diversidade de candidatos e partidos associados aos materiais coletados. Como

mencionado anteriormente, nossa amostra conta com mensagens vinculadas a

políticos que concorreram em diversas corridas eleitorais em 2018: presidência,

governo do estado, Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas.

Foram citados um total de 31 candidatos, vinculados a 11 diferentes

partidos. Diferentemente da hipótese inicial, grande parte deles não era

“novato” na política, mas sim candidatos já experientes eleitoralmente, que

concorriam em sua segunda ou terceira eleição, a maioria deles já tendo exercido

cargos públicos eletivos em seus municípios e estados. Dentre estes, sete foram,

de fato, eleitos após o pleito. Romeu Zema, candidato ao governo de Minas

Gerais, foi o único “novato” que apareceu no nosso levantamento e foi eleito.

Outro aspecto encontrado foram as diferentes formas e discursos adotados

por candidatos concorrendo a cargos distintos. A partir de nosso banco de dados e

11 FAGUNDEZ, Ingrid. Como exército de voluntários se organiza nas redes para bombar

campanha de Bolsonaro 2018. BBC Brasil, 26 mai. 2018. Disponível em:

<https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-39837332>. 12 BRITO CRUZ, Francisco; VALENTE, Mariana Giorgetti. É hora de se debruçar sobre a

propaganda em rede de Bolsonaro. El País, 22 out. 2018. Disponível em:

<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/opinion/1539892615_110015.html>.

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da análise dos conteúdos, com suas diferenças e convergências, percebe-se, de

modo geral, uma divisão em dois grandes grupos de mensagens consideradas

spam: peças publicitárias simples com intuito de tornar o candidato conhecido, e

mensagens elaboradas com tom persuasivo quanto a propostas de programas de

governo e posições ideológicas. Esse primeiro grupo de mensagens, nas quais o

candidato era apresentado ao eleitor, apareceu vinculado principalmente aos

candidatos concorrendo a cargos no legislativo, principalmente aqueles que já

possuíam experiência como vereadores municipais, como forma de capilarizar

suas candidaturas nos estados. No outro grupo, os conteúdos eram vinculados à

polarização política subjacente à disputa eleitoral, expressa sobretudo no

segundo turno da corrida presidencial, compondo os discursos e a disputa que se

estabeleceram naquele momento.

Essa diferença pode refletir uma necessidade maior das candidaturas ao

Legislativo de se fazerem conhecidas pelo eleitorado, apresentando seu nome,

número e vinculação política. Já nos cargos para o Executivo, por outro lado, a

imagem desses políticos e seus números na urna, em regra, já estariam mais

consolidados para o eleitorado, predominando, assim, discursos relacionados a

seus projetos e posições ideológicas.

A revelação dessas práticas e a existência de conteúdos vinculados a

candidatos de vários partidos que concorreram em diversas corridas eleitorais

chama atenção em nosso levantamento exatamente pela sua diversidade. Para

além da articulação de uma rede de comunicação da nova direita e dos supostos

disparos massivos a favor do presidenciável do PSL, os spams coletados por meio

do nosso questionário retratam um uso mais disseminado do WhatsApp

enquanto ferramenta de comunicação política. Ainda que uma análise das

mensagens recebidas não seja capaz de esclarecer se elas foram de fato fruto de

estratégias adotadas pelas próprias campanhas, essa diversidade identificada

aponta para um uso heterogêneo dessa plataforma.

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b. O rastro do dinheiro: quem declarou despesas com envio de

mensagens em massa?

A diversidade de estilos, formatos e conteúdos das mensagens recebidas

abrange desde comunicações mais formais, mecânicas e diretas, que se

aproximam mais de uma estratégia de comunicação massiva por parte da

campanha, até memes, imagens e correntes que remetem a uma comunicação

orgânica entre eleitores. Essa heterogeneidade traz indícios de que o envio de

mensagens com conteúdo eleitoral pode ter sido tanto uma estratégia

institucional das próprias campanhas, quanto uma prática orgânica e

descentralizada de apoiadores, que articuladas comporiam uma estrutura de

propaganda em rede.

Se operacionalizada pela própria campanha, uma das fontes de informação

sobre a adoção dessa prática são os dados da Justiça Eleitoral sobre os gastos de

campanha das/os candidatas/os. Inclusive, conforme apontado em relatório

anterior do InternetLab,13 estiveram presentes na prestação de contas das/os

deputadas/os eleitas/os despesas com envio de emails e mensagens no curso da

campanha eleitoral. Pensando nisso, cruzamos os dados do nosso

levantamento com aqueles disponibilizados pela Justiça Eleitoral com o

objetivo de identificar quais dentre os candidatos encontrados nos

materiais coletados declararam ou não gastos em propagandas enviadas

massivamente, seja via SMS ou Whatsapp.

Ao consultarmos as prestações de contas de campanha na plataforma

DivulgaCandContas14 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) identificamos que

dentre os 31 nomes de candidatos que aparecem nas imagens encaminhadas,

apenas seis declararam gastos com o envio de mensagens de forma explícita.

Destes, 5 não mencionaram o WhatsApp: 4 declararam gastos com envio de SMS,

e outro declarou de forma genérica, gastos com envio de “mensagem eletrônica”.

13 BRITO CRUZ, Francisco; KIRA, Beatriz; MASSARO, Heloisa. Você na Mira Relatório #3: A

campanha política nas redes: um retrato do impulsionamento de conteúdo das candidaturas

eleitas à Câmara dos Deputados. São Paulo: InternetLab, 2018. Disponível em:

<http://www.internetlab.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Relatorio-Voce-Na-Mira-3-

InternetLab.pdf>. 14<http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/>

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Apenas um candidato declarou expressamente a utilização de envio de

mensagem por meio da plataforma WhatsApp. No quadro abaixo é possível

visualizar os dados encontrados:

Quadro 1. Declaração de despesas com envio de mensagens pelas/os

candidatas/os encontrados nos materiais coletados

Candidato

Tipo de

mensagem Cargo

Declarou

gastos com

envio

massivo de

mensagens?

De que tipo? Empresa

Qual o valor

declarado?

(R$)

Almir Cicote SMS

Deputado

EstaduaL (SP) Não

Anastasia WhatsApp Governador (MG)

Sim,

mensagem

eletrônica

pelos meios

oficiais

MK365 -

Comunicação e

marketing

Eireli 25 mil

Pedro Leitão SMS

Deputado Federal

(MG) Não

Angelo Coronel WhatsApp Senador (BA) Não

Jaques Wagner WhatsApp Senador (BA) Não

Arnaldo Faria de

Sá SMS

Deputado Federal

(SP)

Sim, SMS e

WhatsApp

NXS

Tecnologia e

Serviços LTDA 69 mil

Jair Bolsonaro SMS e WhatsApp Presidente Não

Carlo Caiado WhatsApp

Deputado

Estadual (RJ) Não

Claudio Gaspar WhatsApp

Deputado Federal

(SP) Não

Da Luz WhatsApp

Deputado Federal

(BA) Não

Dr Gondim WhatsApp

Deputado

Estadual (SP) Não

Fernando

Haddad WhatsApp Presidente Não

Jaime Bagattoli SMS Senador (RO) Não

Joaquim

Miranda WhatsApp

Deputado

Estadual (MG) Não

Leonído Bouças WhatsApp

Deputado

Estadual (MG) Não

Fabiano

Tolentino WhatsApp

Deputado Federal

(MG) Não

Marcello Richa WhatsApp Deputado Não

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14

Estadual (PR)

Marlon do Uber SMS

Deputado Federal

(SP) Não

Henrique

Meirelles WhatsApp Presidente Sim, SMS

Deep

Marketing

LTDA 2 milhões

Odelmo Leão WhatsApp Não concorreu - -

Osvaldo Mafra WhatsApp

Deputado Federal

(SC) Sim, SMS

IKNOW 360

Comunicação

Digital LTDA 6 mil

Levi Cavalini WhatsApp

Deputado Federal

(SP) Não

Ezequiel Teixeira WhatsApp

Deputado Federal

(RJ) Não

Pedro Fernandes WhatsApp Governador (RJ) Não

Professor

Calasans

Camargo SMS

Deputado Federal

(SP) Sim, SMS

SMS Market -

Soluções

Inteligentes

LTDA 1,2 mil

Professora Nilse WhatsApp

Deputada

Estadual (PA) Não

Ricardo Mellão WhatsApp

Deputado

Estadual (SP) Não

Romeu Zema SMS Governador (MG) Sim, SMS

CROC

Services

Soluções de

Informática

LTDA 200 mil

Ronaldo Lessa WhatsApp

Deputado Federal

(AL) Não

Caio Narcio WhatsApp

Deputado Federal

(MG) Não

Lula WhatsApp Presidente Não

Vale ressaltar, contudo, que a identificação desses gastos depende da

forma como eles foram declarados por cada candidatura, o que nem sempre é

claro e padronizado. Nas prestações de contas disponíveis na plataforma

DivulgaCandContas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os gastos declarados

são classificados pelas próprias campanhas em rubricas padrão que indicam o

tipo de despesa, como “impulsionamento de conteúdos” e “criação e inclusão de

páginas na internet”, por exemplo. Além dessa classificação, a campanha pode

detalhar essa despesa, incluindo uma descrição da mesma.

Page 15: ‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo …...2 1. Resumo No contexto das eleições de 2018, o WhatsApp foi protagonista dos debates envolvendo os impactos da internet para

15

Ao analisar os gastos das/os deputadas/os federais eleitas/os, nossos

estudos anteriores já apontaram problemas nesse sistema de declaração. No

caso, foi identificado uma possível confusão na classificação dos gastos sob a

rubrica “impulsionamento de conteúdo”, indicando uma falta de clareza das

campanhas e candidatas/os com relação ao termo e à categorização correta de

gastos. Inclusive, despesas cuja descrição indicava a contratação de serviços de

marketing digital direto por meio do envio de mensagens foram classificadas

como “impulsionamento de conteúdo”, ainda que a prática não pareça se encaixar

exatamente na definição do termo pela legislação eleitoral.

Essa falta de clareza na forma de declarar essas despesas, sobretudo

àquelas referentes a estratégias de marketing digital, pode ser um obstáculo

para a transparência desses gastos. A classificação dessas despesas e sua

descrição exata e detalhada depende de como cada campanha escolhe declará-las.

Assim, no caso do envio de mensagens em massa via Whatsapp aqui sob análise,

é possível que campanhas tenham adotado essa estratégia e declarado esses

gastos sem que eles tenham sido discriminados detalhadamente como tal,

dificultando a sua identificação. Além disso, a incerteza quanto à admissibilidade

dessa prática pela legislação eleitoral também pode ser um fator relevante na

decisão das campanhas de declarar os gastos como tal.

Por outro lado, também é possível que candidatos que aparecem nas

mensagens recebidas não tenham adotado essa prática em sua campanha e

sequer tiveram ciência disso, sendo o envio de mensagens uma atividade de

apoiadores. Nesta hipótese, o envio de mensagem pode ser melhor entendido

como parte de uma estrutura de propaganda em rede, que transcende o controle

da máquina oficial da campanha. Sob essa chave de análise, a articulação de

diferentes atores, em várias plataformas e espaços digitais, atuando por

motivações diversas, comporiam uma rede descentralizada e capilarizada de

comunicação e propaganda política, na qual a máquina oficial de campanha seria

apenas um dos nós. Nessa dinâmica de rede, a produção e circulação de conteúdo

não depende nem é controlada por um centro irradiador único. Assim, o envio de

mensagens no WhatsApp pode ter sido uma prática de diversos outros atores que

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16

são apenas outros nós nessa rede e que atuam não necessariamente sob controle

ou associados à campanha oficial, mas apenas em sinergia com esta.

c. Foram só boatos e críticas? As peculiaridades do material

levantado e a diversidade de conteúdos comunicados

O conteúdo e os discursos veiculados por meio dessas estratégias de

disparo em massa de mensagens e sua intervenção na opinião pública foram

outras das questões levantadas em face a adoção dessa prática pelas campanhas.

Estaria o WhatsApp possibilitando a circulação de conteúdo de desinformação

(incluindo notícias falsas) com potencial de influir no resultado das eleições? O

caráter privado dessa ferramenta de comunicação, todavia, impõe restrições para

a análise e compreensão do que efetivamente circulou durante as eleições via

WhatsApp, da origem dessa comunicação (se orgânica ou oficial da campanha), e

do impacto que ela possa ter tido.

Ainda que a dimensão do levantamento que propusemos esteja longe de

responder definitivamente a essas questões, ele possibilitou um olhar sobre

algumas das mensagens recebidas pelos eleitores e por eles identificadas como

spam, seja via SMS ou WhatsApp. Assim pudemos explorar, ainda que

limitadamente, alguns formatos, conteúdos e discursos dessas mensagens

encaminhadas.

O formato dos conteúdos coletados foi bastante variado, foram recebidos

pelos eleitores mensagens de texto, áudios, correntes, imagens, links soltos, SMS

e vídeos. Contudo, para além do envio de diversos conteúdos, nosso levantamento

identificou também o que pode configurar uma prática de inclusão massiva de

contatos em grupos de WhatsApp sem o consentimento do usuário.

De acordo com as respostas recebidas através do formulário, essas pessoas

teriam sido inseridas por números desconhecidos (e diferentes entre si) em

grupos semelhantes que se apresentavam “em defesa da democracia”.

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Imagem 1. Exemplos de captura de tela recebidos indicando que os respondentes foram

adicionados por números desconhecidos em grupos de WhatsApp que se apresentavam “em Defesa

da Democracia”

A adoção dessa estratégia, seja pela própria campanha ou por apoiadores,

chama atenção porque, diferentemente do envio de mensagens no qual a

comunicação é direta com o eleitor, ela também inclui um componente de

mobilização. Para além de permitir o envio de conteúdo sem disparos massivos,

essa prática possibilita que a campanha ou os próprios apoiadores busquem

construir uma rede de debate e mobilização orgânica entre os eleitores presentes

no grupo.

Ao mesmo tempo, a autoria dessa tática deve ser vista com ressalvas.

Segundo os dados levantados, esses convites para grupos “em defesa da

democracia” foram realizados após as denúncias de disparos massivos feitos via

WhatsApp pela campanha do PSL, o que deixa em aberto a possibilidade da

medida ter sido realizada com o objetivo de simular o uso de estratégias

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18

similares às noticiadas em campanhas adversárias em razão da repercussão

negativa do caso. Nesse sentido, é relevante considerar que a justificativa

declarada para a inserção dos usuários nos grupos segundo a própria descrição

destes se relacionava ao fato de os números de telefone estarem vinculados a

filiados de partidos no TSE. Contudo, as listas de filiados disponibilizadas pelo

TSE não possuem entre os dados fornecidos em transparência ativa os números

de telefones destes cidadãos, apenas sua zona eleitoral, número de registro,

estado de residência e data de vinculação ao partido. Assim, aferir se essa tática

foi real ou estratégia de “sabotagem” é um exercício que requer maiores

evidências.

Se, por um lado, essa diversidade de formatos das mensagens identificadas

como spam não é tão inesperada, por outro, uma das características que mais

chamou atenção no nosso levantamento foi a diversidade de conteúdo e discursos,

vinculados a diversos partidos, candidatos e ideologias. Foram encontrados

“memes”, manchetes jornalísticas e grupos destinados a endossar discursos de

construção e desconstrução da imagem pública de políticos nominalmente ou de

seus projetos de governo apresentados em campanha.

Ainda, uma parte considerável do material coletado consiste em

comunicação típica de campanhas tradicionais, com a apresentação do candidato,

seu número nas urnas e seu slogan. Em diversos dos casos o estilo da

comunicação, e até mesmo sua estética visual, remete aos tradicionais

“santinhos”. Esse tipo de conteúdo foi encontrado vinculado majoritariamente à

corrida eleitoral por cargos do legislativo. Em muitas dessas vezes, ainda, a/o

candidata/o se vinculava às figuras dos candidatos à presidência como forma de

promoção, sobretudo à imagem de Jair Bolsonaro.

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Imagem 2. Exemplos de mensagens recebidas com conteúdo típico de campanha “tradicional”

A corrida presidencial, inclusive, foi elemento fortemente presente em

parte do material recebido, refletindo a forte polarização política vivenciada na

esfera pública brasileira durante o período eleitoral, especialmente no segundo

turno. Polarização esta presente, pelo menos, nos últimos três pleitos eleitorais,

esgarçada a partir do impeachment de Dilma Rousseff. Essas disputas de

narrativa e as divergências na opinião e nas atitudes políticas dos brasileiros

teriam se refletido nas dinâmicas de comunicação e interação nas mídias sociais.

Segundo estudo que analisou a difusão de notícias hiperpartidárias no Facebook,

por exemplo, os brasileiros se dividiram em dois polos.15 De um lado, páginas de

partidos e políticos de esquerda, de ONGs ativistas pelos direitos humanos, e dos

movimentos negro, feminista e LGBT. De outro, páginas de partidos ou

candidatos de direita, e ligadas ao liberalismo econômico e ao conservadorismo. A

análise do padrão de interação dos usuários com essas páginas revelou a

formação de dois polos que não possuem pontos de contato entre si, fomentando a

radicalização das narrativas ligadas ao “petismo” e ao “antipetismo”

Para além da vinculação de candidaturas do legislativo à imagem dos

presidenciáveis, diversos outros discursos envolvendo esse elemento de

polarização foram veiculados. Nosso levantamento coletou tanto mensagens de

15 RIBEIRO, Márcio Moretto; ORTELLADO, Pablo. O que são e como lidar com as notícias falsas.

SUR, ed. 27, jul. 2018. Disponível em: <http://sur.conectas.org/o-que-sao-e-como-lidar-com-

asnoticias-falsas/>.

Page 20: ‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo …...2 1. Resumo No contexto das eleições de 2018, o WhatsApp foi protagonista dos debates envolvendo os impactos da internet para

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construção positiva da imagem dos candidatos e de seus projetos, quanto

propaganda eleitoral negativa. Em sua maioria, essas mensagens comunicaram

conteúdo com teor de ataque a um dos candidatos e/ou seus respectivos partidos,

com reflexos inclusive em outras corridas. Algumas vezes, esse discurso não

necessariamente era posto como forma de persuasão ao voto no candidato

concorrente, mas, apenas com o intuito de uma “contra-campanha”.

Imagem 3. Exemplos de mensagens recebidas refletindo a polarização política das eleições 2018

O tom desses discursos vinculados à campanha presidencial também foi

bastante variado, incluindo desde a apresentação mais direta de algumas

propostas, remetendo a um tom oficial de campanha, até mensagens com tons

mais informais e/ou apelativos de construção de apoio ou de distorção da imagem

e das propostas do concorrente, aludindo quase que a uma disputa entre

eleitores.

Page 21: ‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo …...2 1. Resumo No contexto das eleições de 2018, o WhatsApp foi protagonista dos debates envolvendo os impactos da internet para

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Imagem 4. Exemplos de mensagens recebidas com conteúdo relacionado à corrida presidencial

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Alguns dos materiais questionavam também os resultados do primeiro

turno da disputa, utilizando-se de informações inverídicas. No exemplo mais

icônico, a mensagem alegava que não existem votos nulos em eleições realizadas

em urnas eletrônicas, de forma que o TSE devia explicações à população

brasileira quanto ao número de votos anulados na corrida presidencial. A

corrente, apesar de utilizar um tom persuasivo, propagava desinformação,

comunicando informação falaciosa a respeito da nulidade do voto, que é uma

possibilidade garantida ao eleitor inclusive na urna eletrônica.

Imagem 5. Exemplo de corrente recebida questionando os resultados do primeiro turno

Existiram também mensagens pulverizadas deslegitimando a repercussão

midiática da disputa dual entre PT e PSL, associando maior importância às

eleições do legislativo. O caso abaixo registra uma dessas mensagens, na qual é

explorado o descontentamento da opinião pública com os atores políticos dos

cargos executivos:

Imagem 6. Exemplo de mensagem recebida associando maior importância às eleições do

legislativo

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É importante salientar que muitos desses conteúdos recebidos não

estão explicitamente vinculados a um partido ou candidato. Com

frequência, eles consistem em opiniões sem assinatura clara ou teor de

campanha com objetivo de conquistar votos, apesar de se posicionarem

diretamente quanto aos principais candidatos à presidência da república e ao

governo do estado. É o caso da maioria das imagens, “memes” e vídeos, incluindo

a mensagem sobre votos nulos apresentada acima.

Dentre esses conteúdos sem assinatura ou vinculação político-partidária

explícita, há uma presença significativa de discursos de ataque a candidaturas e

partidos. Para além da polarização que marcou a corrida presidencial, esses

discursos de contra-campanha também apareceram vinculados a outras disputas

eleitorais, como foi o caso das eleições para o governo do estado de São Paulo.

Nosso levantamento coletou repetidos vídeos com mensagem contrária ao

candidato Paulo Skaf, possível reflexo da concentração de materiais recebidos no

estado de São Paulo, porém sem apresentação de qualquer outro candidato.

Apesar de não termos acesso ao conteúdo integral do vídeo, estas mensagens

chamam atenção por conterem exatamente o mesmo conteúdo e terem sido

enviados em dias próximos, 12 e 13 de setembro de 2018, a partir de números de

telefones com prefixo dos Estados Unidos como remetente.

Imagem 7. Captura de tela com vídeo recebido contrário ao então candidato Paulo Skaf

Page 24: ‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo …...2 1. Resumo No contexto das eleições de 2018, o WhatsApp foi protagonista dos debates envolvendo os impactos da internet para

24

A presença de características como essas no nosso levantamento, inclusive

o prefixo telefônico internacional do remetente, trazem elementos que podem

indicar que parte dessas mensagens tenham sido de fato enviadas como

resultado de disparos massivos. Não obstante, a diversidade de conteúdos e

formatos descrita chama a atenção exatamente por não apenas corroborar com

essa hipótese, mas vislumbrar múltiplas possibilidades de comunicação política

via WhatsApp que podem ter sido utilizadas no período eleitoral. O uso da

plataforma para mobilização e comunicação de eleitores pode ter sido adotado

não apenas pelas campanhas como estratégia oficial, mas também por

apoiadores. Além disso, essa circulação de mensagens pode ainda ser fruto de

uma mobilização orgânica de eleitores. As origens e forma de circulação desses

conteúdos podem ter sido múltiplas, corroborando a narrativa de uma estrutura

de comunicação política em formato de rede, o que parece estar refletido no nosso

levantamento.

d. Os limites da legalidade: o envio de mensagens em massa, a

legislação eleitoral e a regulação das plataformas

No universo dos vários usos e formas de comunicação política via

WhatsApp, que se encontram refletidos em nosso banco de dados, a estratégia de

envio de mensagens em massa requer atenção no que diz respeito à sua

conformidade jurídica. Seus contornos de legitimidade podem ser analisados a

partir de dois quadros normativos, não excludentes mas complementares, a

legislação nacional – sobretudo a eleitoral – e as políticas e termos de uso

da plataforma.

No âmbito do direito estatal, os limites da legalidade do envio massivo de

mensagens via SMS ou WhatsApp são imprecisos e ensejam questões

relacionadas à conformidade da prática em face da regulamentação da

propaganda eleitoral na internet e à origem desses bancos de dados com os

números de telefone utilizados para o envio.

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25

i. O spam político é previsto pela lei como forma de propaganda eleitoral?

A minirreforma eleitoral de 2017 alterou o art. 57-C da Lei das

Eleições para incluir o impulsionamento de conteúdo como única forma

permitida de propaganda eleitoral paga na internet. Ainda que a

delimitação desse termo não seja clara, possibilitando debates sobre o que

seria considerado “impulsionamento de conteúdo”, o envio massivo de

mensagens por meio do WhatsApp, ou via SMS, não parece se encaixar

nessa hipótese.

Segundo o art. 57-C §3º da Lei das Eleições (Lei 9.504/97), o

“impulsionamento” deve ser um produto de marketing digital oferecido pelo

próprio provedor de aplicações de internet, e não por um terceiro. Essa

definição já excluiria a hipótese de disparos em massa via WhatsApp, uma vez

que a plataforma não oferece ela própria esse serviço, e via SMS, que não é

serviço oferecido por provedor de aplicação de internet, mas sim por provedores

de conexão.

Com efeito, o spam não é um produto oferecido pelas próprias ferramentas

e plataformas de comunicação, mas um serviço exercido por terceiros que se

aproveita de uma plataforma de comunicação privada preexistente.

Nestes casos de plataformas de comunicação privada, ou seja, nas quais o

conteúdo não é publicamente acessível, já argumentamos que a ideia de

“impulsionamento” não se aplica.16 Sob essa perspectiva, “impulsionamento”

seria um termo destinado a descrever a atividade de marketing e venda de

espaço publicitário em plataformas que veiculam conteúdo publicamente na rede,

servindo para aumentar a exposição de determinados conteúdos para usuários

com determinados perfis que nelas navegam. Nesses casos o recebimento da

mensagem não é necessário, mas possível caso o usuário daquele perfil

16 Essa argumentação pode ser encontrada tanto em TRINDADE, Rodrigo. WhatsApp é o novo

spam de email: para resolver, tem de ir atrás do dinheiro. UOL Tecnologia, out. 2018. Disponível

em: <https://noticias.uol.com.br/tecnologia/noticias/redacao/2018/10/31/whatsapp-e-o-novo-email-

aplicativo-nao-deve-ser-tratado-como-rede-social.htm>, como em BRITO CRUZ, Francisco;

SILVEIRA, Hélio Freitas de Carvalho da Silveira; ABREU, Jacqueline de Souza; ANDRADE,

Marcelo Santiago de Pádua; VIEIRA, Rafael Sonda; OLIVA, Thiago Dias. Direito Eleitoral na

Era Digital. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2018.

Page 26: ‘Santinhos’, memes e correntes: um estudo …...2 1. Resumo No contexto das eleições de 2018, o WhatsApp foi protagonista dos debates envolvendo os impactos da internet para

26

navegue na plataforma no período contatado para a exposição. Esse não

é o caso do spam, que necessariamente é mensagem enviada a um endereço.

Entretanto é necessário admitir que a Lei das Eleições é vaga quanto ao

conceito de “impulsionamento”, o que faz com que também seja possível

argumentar que essa modalidade de marketing direto via WhatsApp ou SMS se

encaixe numa leitura mais abrangente da categoria. Nessa hipótese, o emprego

dessas ferramentas para envio massivo de mensagens poderia ser visto,

inclusive, como uma violação ao art. 57-B, §3º da Lei das Eleições. O dispositivo

proíbe o uso de ferramentas digitais não disponibilizadas pelo próprio

provedor de aplicações de internet para alterar o teor ou a repercussão da

propaganda eleitoral.

A despeito dessa controvérsia, essa prática de spam, na realidade,

encontra conexão com o art. 57-B da Lei das Eleições. Enquanto o art. 57-C

estabelece que o impulsionamento de conteúdo é a única forma permitida de

propaganda eleitoral paga na internet, o art. 57-B traz uma lista de formas

através das quais a propaganda eleitoral na internet pode ser realizada.17 O

inciso III prevê que a propaganda eleitoral pode ser realizada “por meio de

mensagem eletrônica para endereços cadastrados gratuitamente pelo

candidato, partido ou coligação”. Já o inciso IV autoriza a propaganda eleitoral

realizada por meio de sítios de mensagens instantâneas e aplicações de

internet desde que o conteúdo tenha sido criado pelos “candidatos, partidos ou

coligações”, ou por qualquer pessoa física desde que ela não contrate

impulsionamento de conteúdo.

17 O art. 57-B traz uma lista de formas pelas quais a propaganda eleitoral na internet pode ser

realizada, sem que seja expressamente previsto seu caráter “pago” ou “não pago”. O art. 57-C,

todavia, veda toda e qualquer forma de propaganda eleitoral paga na internet, com exceção do

“impulsionamento de conteúdo”. Assim, para compreender essa vedação à propaganda eleitoral

“paga” na internet é necessária uma leitura conjunta de ambos os artigos. A lista do art. 57-B

engloba práticas de propaganda eleitoral, como a comunicação por meio de site oficial, redes

sociais e mensagens eletrônicas, que não são essencialmente sem custo. Despesas com estratégia

de marketing, produção de conteúdo, domínio na web e contratação de funcionários pelas

campanhas, por exemplo, são necessárias para que essas formas de propaganda sejam efetivadas.

Assim, quando a lei fala em “propaganda eleitoral paga na internet”, a nossa interpretação é que

ela se refere à compra de espaços de mídia para publicidade, como é o caso do impulsionamento

de conteúdo.

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27

ii. Proteção de dados e os limites do consentimento do eleitor: como a lei aborda os

cadastros com informações pessoais?

A legalidade dessa estratégia depende ainda da consideração de outros

fatores adicionais. Uma análise cuidadosa também precisa ser realizada acerca

da origem dos cadastros de telefone ou endereços eletrônicos utilizados

para disparar spam e as formas pelas quais esses dados de eleitores de todo o

país foram obtidos. No âmbito da legislação eleitoral, são vedadas práticas de

venda, doação e cessão de bancos de dados de cadastros eletrônicos para fins

eleitorais. O art. 57-E §1º da Lei das Eleições proíbe de forma abrangente a

venda de cadastro de endereços eletrônicos. Por outro lado, o art. 57-E

caput veda que as pessoas jurídicas listadas no art. 24 desta mesma lei

utilizem, doem ou cedam “cadastros eletrônicos de seus clientes, em

favor de candidatos, partido e coligações”. Desde o julgamento da ADI 4650

(Ação Direta de Inconstitucionalidade) que proibiu a doação de empresas para

campanhas eleitorais,18 as empresas do setor privado são consideradas no rol do

art. 24, ainda que não estejam expressamente listadas. Não obstante, a

aplicabilidade da vedação do caput do art. 57-E a elas ainda é uma zona cinzenta,

dependendo de uma interpretação que qualifique cadastros ou bancos de dados

como valores adquiridos ou controlados por campanhas.19

Outra questão controversa, diz respeito aos bancos de dados de endereços

eletrônicos de pessoas físicas. O envio consensual de mensagens eletrônicas por

pessoa natural, seja nas conversas privadas ou nos grupos de WhatsApp, não

sofre restrições da legislação eleitoral de acordo com o art. 28 §2º da Resolução do

TSE nº 23.551/2018. A cessão e doação desses bancos de dados, todavia, é outra

questão. Por um lado, eles podem ser vistos como recursos, a serem tratados

como doações de campanha. Por outro, em se tratando de dados pessoais, seu

tratamento deve ser analisado à luz dos princípios e regulamentações sobre o

18Sobre o julgamento da ADI ver:

<http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=300015> 19 BRITO CRUZ, Francisco; SILVEIRA, Hélio Freitas de Carvalho da Silveira; ABREU,

Jacqueline de Souza; ANDRADE, Marcelo Santiago de Pádua; VIEIRA, Rafael Sonda; OLIVA,

Thiago Dias. Direito Eleitoral na Era Digital. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2018.

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tema, respeitando as previsões da Constituição Federal, do Marco Civil da

Internet e da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.20

Em termos gerais, em respeito à autonomia do titular dos dados, os

candidatos só poderiam realizar o tipo de campanha observado a partir de bancos

de registros próprios ou de outras pessoas físicas, coletados e utilizados nos

limites do consentimento de seus titulares. Ainda, o envio de mensagens

eletrônicas pelas campanhas também deveria estar de acordo com o

consentimento do eleitor. Por força do art. 57-G da Lei das Eleições, os

candidatos, partidos e coligações estão submetidos a um dever de

descadastramento, possibilitando que o destinatário escolha não receber mais

as mensagens.21 A surpresa registrada pelos eleitores em parte do nosso

levantamento, contudo, demonstra que não foram apenas em casos de

consentimento que o uso de seus dados e o envio de mensagens ocorreu.

Imagem 8. Exemplo de uma captura de tela que registra uma suposta ausência de consentimento

do/a eleitor/a para o envio da mensagem

20BRITO CRUZ, Francisco; SILVEIRA, Hélio Freitas de Carvalho da Silveira; ABREU,

Jacqueline de Souza; ANDRADE, Marcelo Santiago de Pádua; VIEIRA, Rafael Sonda; OLIVA,

Thiago Dias. Direito Eleitoral na Era Digital. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2018. 21 Ibid.

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iii. Como o WhatsApp trata o envio massivo de mensagens?

Para além do cenário incerto no que diz respeito à legislação eleitoral, o

envio massivo de mensagens e algumas das práticas a ele relacionadas podem

encontrar óbices na própria política das plataformas, como no caso da utilização

de ferramentas que impedem a identificação da origem do número que envia

mensagens no WhatsApp. Essa tática, inclusive, foi identificada nas respostas

submetidas ao formulário disponibilizado pelo InternetLab, nas quais os

números não possuíam identificação do estado de origem através dos prefixos

telefônicos, ou possuíam códigos internacionais. De acordo com reportagem da

BBC, o uso de números com prefixo dos Estados Unidos é uma das estratégias

para impedir a identificação da origem do número adotadas por empresas que

oferecem esses serviços de disparo de mensagens em massa.22

No caso do WhatsApp, tanto a prática do marketing direto, quanto a

mudança de números e o prejuízo em sua identificação ferem a política de uso da

plataforma. A utilização não pessoal dos serviços do aplicativo, sem autorização

do mesmo, e o envio de mensagens em massa, mensagens automáticas, ligações

automáticas e afins são explicitamente consideradas “usos ilícitos” da plataforma

em seus termos de serviço.23

Ainda, antes do início do período eleitoral em 2018, a empresa

compartilhou com todos os partidos políticos suas diretrizes para o uso

responsável da plataforma.24 Entre as recomendações, a importância de se

respeitar o consentimento do usuário é reforçada, enquanto que o uso de listas de

contatos de terceiros e o envio massivo e automático de mensagens são apontados

como práticas a serem evitadas. Ainda, em fevereiro deste ano, a empresa lançou

um relatório sobre como tem combatido comportamentos abusivos na plataforma,

como mensagens em massa e ação automatizada, evidenciando que essa é uma

22 MAGENTA, Matheus; GRAGNANI, Juliana; SOUZA, Felipe. Eleições 2018: Como telefones de

usuários do Facebook foram usados por campanhas em 'disparos em massa' no WhatsApp. BBC

Brasil, 20 out. 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45910249>. 23 Os termos de serviço do WhatsApp podem ser acessado em:

<https://www.whatsapp.com/legal/?lang=pt_br#terms-of-service>. 24 As diretrizes para uso responsável do WhatsApp podem ser acessadas em:

<https://faq.whatsapp.com/en/general/26000240/?category=5245250>

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prática a ser combatida.25 Além de ferir as políticas do WhatsApp, o envio de

mensagens em massa seria contrário à própria arquitetura da plataforma.

Assim, para distribuir conteúdo em massa, é necessário que essa arquitetura seja

contornada, o que resulta em comportamentos que a plataforma busca identificar

como sinais de abuso. Em razão da criptografia de ponta a ponta, as medidas

adotadas atentam-se a esses comportamentos das contas e às denúncias dos

usuários. Sistemas de machine learning foram construídos para detectar

comportamentos abusivos no momento do cadastro, a partir de padrões de envio

de mensagem e comportamento na plataforma, e pelo acúmulo de denúncias de

usuários. De acordo com a plataforma, cerca de dois milhões de contas foram

banidas mensalmente por comportamento abusivo entre os meses de

novembro/2018 e fevereiro/2019.

***

Todas essas nuances na consideração da conformidade de práticas de envio

de mensagens em massa via WhatsApp em relação à legislação eleitoral e às

próprias políticas da plataforma apontam para um cenário de incerteza quanto a

legalidade da adoção desse tipo de estratégia pelas/os candidatas/os. Essa

insegurança pode ser fator relevante na decisão das campanhas de oficializar e

publicizar essa prática, inclusive por meio da declaração expressa de gastos sob

essa descrição. Ao declarar expressamente a utilização desse mecanismo em sua

prestação de contas, estaria a/o candidata/o violando ou assumindo violar a

legislação eleitoral e a política das plataformas? Da mesma forma, o caráter

privado dessa comunicação não permite que seu conteúdo esteja sob escrutínio

público direto. Assim, a análise da legalidade das mensagens veiculadas e a

atuação da Justiça Eleitoral só se tornam possíveis a partir do momento que um

dos interlocutores envolvidos nessa comunicação privada revela o seu conteúdo

ou o denuncia.

25 WHATSAPP. Stopping Abuse: How WhatsApp Fights Bulk Messaging and Automated

Behavior. 6 fev. 2019. Disponível em:

<https://www.whatsapp.com/safety/WA_StoppingAbuse_Whitepaper_020418_Update.pdf>.

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5. Considerações Finais

Buscando jogar luz sobre práticas de comunicação política via WhatsApp,

esta pesquisa exploratória se insere em um esforço coletivo de pesquisa maior

que vem sendo desenvolvido no InternetLab, no qual se inserem projetos como

Você na Mira26, Direito Eleitoral na Era Digital27 e #OutrasVozes28. Olhando

para as novas dinâmicas de comunicação política que se desenvolvem e se

transformam a partir da emergência da internet e das novas mídias sociais,

essas pesquisas vêm buscando traçar diagnósticos sobre as campanhas digitais

nas eleições de 2018, mapear questões regulatórias e imaginar possíveis

recomendações e soluções para proteger direitos fundamentais e princípios

democráticos.

Na esteira dos debates travados sobre a influência das redes sociais na

dinâmica das eleições de 2018, uma tentativa de síntese desses diagnósticos e

dados foi através da mobilização do conceito de estrutura de propaganda em

rede.29 A hipótese é que ele se aplique não apenas à campanha de Jair Bolsonaro,

26 O Você na Mira é um projeto do InternetLab em parceria com a organização inglesa

WhoTargets.Me. A partir de uma ferramenta de coleta de dados de impulsionamento no

Facebook, o objetivo do projeto é monitorar o microdirecionamento de propagandas políticas na

plataforma, para levar mais transparência às táticas de campanha e promover um debate sobre o

uso do Facebook em contextos eleitorais. Como resultado, a partir dos dados da ferramenta e das

despesas declaradas à justiça eleitoral. foram publicados no curso do período eleitoral 3 relatórios

que analisaram o uso de ferramentas de impulsionamento de conteúdo pelas campanhas e

algumas práticas direcionamento. Mais informações sobre o projeto e os relatórios podem ser

acessadas em: <http://www.internetlab.org.br/pt/projetos/voce-na-mira/>. 27 Projeto desenvolvido pelo InternetLab com o objetivo de aproximar especialistas em políticas de

internet e em direito eleitoral para debater sob uma perspectiva regulatória as transformações

trazidas pela internet para as campanhas eleitorais. O resultado foi a publicação do livro Direito

Eleitoral na Era Digital, construído a partir das atividades desenvolvidas por um grupo de

estudos formado entre advogados eleitoralistas e pesquisadores para discutir as mudanças

recentes na lei eleitoral e sua aplicação no ambiente digital. O projeto pode ser acessado em:

<http://www.internetlab.org.br/pt/projetos/direito-eleitoral-na-era-digital/>. 28 O #OutrasVozes é um projeto cujo objetivo é mapear, monitorar e registrar, no curso do período

eleitoral, casos e discussões sobre gênero, raça, sexualidade, origem regional e classe social e sua

relação com política e Internet. O projeto teve início nas eleições municipais de 2016 e o relatório

referentes a esse período pode ser acessado em:

<http://www.internetlab.org.br/pt/projetos/outrasvozes-genero-raca-e-classe-nas-eleicoes-

municipais-de-2016/>. 29BRITO CRUZ, Francisco; VALENTE, Mariana Giorgetti. É hora de se debruçar sobre a

propaganda em rede de Bolsonaro. El País, 22 out. 2018. Disponível em:

<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/opinion/1539892615_110015.html>.

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32

mas ajude a explicar as dinâmicas de campanhas políticas e eleitorais que vem se

desenvolvendo a partir da internet e das novas mídias sociais.

Ao olhar para o WhatsApp e algumas das práticas de comunicação política

que aconteceram na plataforma, este estudo exploratório traz novos elementos

para esse diagnóstico. O exame da diversidade de conteúdos, formatos, discursos

e vinculações político-partidárias das mensagens recebidas alimentam a hipótese

de campanhas políticas organizadas em uma rede e trazem contribuições para a

análise e compreensão dessa rede, seus nós e relações.

A interpretação dos resultados deste estudo em conjunto com as descrições

sobre o ativismo em rede presente na campanha digital, de um lado, e as

revelações sobre disparos em massa não declarados à Justiça Eleitoral, de outro,

pode corroborar dois cenários ideais. O primeiro é que esses conteúdos circulam

em uma dinâmica descentralizada de comunicação política em rede, sem controle

pela estrutura central da campanha. O segundo é que eles fazem parte de uma

tática de veiculação coordenada de discursos apócrifos. A diferenciação entre

esses dois cenários, todavia, requer que sejam observadas outras evidências não

fornecidas por esta pesquisa, como a identidade de quem enviou e a sua

vinculação com a campanha, mesmo que sub reptícia, em termos concretos.

Assim, realizar essa diferenciação é uma tarefa apenas aplicável de caso em caso.

Não obstante, deve-se ter cautela na mobilização isolada desses cenários

para traçar diagnósticos de campanhas e resultados eleitorais. Por um lado, não

se deve cair em uma idealização sobre a operação de estruturas e coordenações

de campanha que agem fora do escrutínio público, inclusive a partir da injeção de

recursos financeiros não declarados. Por outro, deve ser evitada uma explicação

simplista e conspiratória de uma dinâmica de campanha descentralizada que

contempla a presença de um intenso e emergente ativismo digital presente nos

dois polos da política brasileira.

Em termos gerais, uma descrição do funcionamento das campanhas

digitais nesse contexto deve considerar ambas as situações (e todo o

gradiente de possibilidades entre elas) como possíveis, admitindo que

entre componentes da rede da campanha podem haver dinâmicas

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33

diferentes de controle, coordenação, aliança tática ou mesmo de apenas

sinergia.

Para melhor compreender as dinâmicas de funcionamento dessas

campanhas digitais, contudo, mais esforços de pesquisa são necessários. Se o

quadro conceitual mobilizado é o de uma estrutura de propaganda em rede,

entender essa rede, sua formação e seu funcionamento exige esforços e

investigações em várias frentes. Seja para entender o que circula nessa rede,

como circula e qual o impacto na opinião pública, seja para investigar quais são

os nós e atores dessa rede, como eles se interrelacionam e mobilizam as diversas

ferramentas e plataformas de comunicação disponíveis. São muitas e variadas as

questões que se colocam. Este estudo joga luz sobre parte desses

questionamentos, e abre perspectivas de análise para que investigações mais

aprofundadas se desenvolvam.

Mesmo que limitada em seu alcance a nível nacional, as análises e

diagnósticos possibilitados por esta pesquisa preliminar conduzem questões de

ordem regulatória que também devem ser exploradas. Três delas merecem

destaque:

(i) a imprecisão no sistema de declaração de despesas da

Justiça Eleitoral no que tange às ferramentas de marketing

político digital;

(ii) a ausência de um canal direto para denúncias e fiscalização

de spam eleitoral; e

(iii) a necessidade de incorporação de regras e parâmetros de

proteção de dados na legislação eleitoral.

A apuração das candidaturas que declararam gastos com envio de

mensagens via WhatsApp ou SMS reforçou a existência de uma certa confusão e

falta de clareza no sistema de declaração dessas despesas relacionadas às

ferramentas de marketing digital. Essa falha já havia sido evidenciada pela

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34

análise30 dos gastos com “impulsionamento de conteúdo” declarados pelas

campanhas das/os deputadas/os federais. Com o desenvolvimento de novas

dinâmicas de comunicação política que se apropriam dessas ferramentas de

marketing digital e se tornam cada vez mais expressivas, todavia, se faz

necessário que a declaração dos valores direcionados para essas ferramentas seja

mais precisa.

A existência de rubricas mais claras e a obrigação expressa de que esses

serviços sejam declarados como tais e descritos de forma precisa e detalhada é

essencial para que haja transparência nas campanhas digitais. A implementação

de um sistema de declaração que contenha informações sobre as ferramentas e

estratégias de marketing digital adotadas pelas campanhas e o valor direcionado

a elas fornece dados mais claros para pesquisas e para o desenvolvimento de

políticas regulatórias, possibilita um escrutínio público sobre essas práticas e

favorece uma fiscalização qualificada da Justiça Eleitoral sobre as campanhas

digitais.

No caso do envio de mensagens em massa por ferramentas de comunicação

digital como WhatsApp, não só é necessário que as despesas com essa prática

sejam declaradas de forma expressa e detalhada, mas também é importante que

haja um canal direto para que eleitores possam denunciar usos ilegais dessa

ferramenta. Nesses casos, como se tratam de ferramentas de comunicação

privada, a informação fornecida pelos interlocutores dessa comunicação é único

meio para que práticas ilegais, como o envio não consensual de mensagens e

veiculação de conteúdos ilegítimos, cheguem ao conhecimento da Justiça

Eleitoral. Assim, para aprimorar a fiscalização sobre essas ferramentas, se faz

necessário a implementação, pela Justiça Eleitoral, de um canal direto de

denúncias de spam.

Por fim, um terceiro ponto regulatório deriva das questões levantadas com

relação à origem dos bancos de dados para realização de marketing direto e ao

30 BRITO CRUZ, Francisco; KIRA, Beatriz; MASSARO, Heloisa. Você na Mira Relatório #3: A

campanha política nas redes: um retrato do impulsionamento de conteúdo das candidaturas

eleitas à Câmara dos Deputados. São Paulo: InternetLab, 2018. Disponível em:

<http://www.internetlab.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Relatorio-Voce-Na-Mira-3-

InternetLab.pdf>.

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35

consentimento prévio dos eleitores quanto a disponibilidade de seus números

telefônicos para o recebimento de material digital de campanhas. Essas questões

apontam para uma necessidade de regulamentação específica da coleta,

tratamento, uso e compartilhamento de dados pessoais pelas campanhas

eleitorais. Ainda que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

aprovada em 2018 tenha estabelecido um marco regulatório para a proteção de

dados pessoais no país, as peculiaridades do cenário eleitoral requerem que

regras específicas sejam adotadas nesse contexto. Assim, se faz necessário a

formulação de uma regulamentação eleitoral específica de proteção de dados que

reflita as regras, princípios e parâmetros consolidados no âmbito da LGPD,

contemplando estratégias de escrutínio transparente da origem dos dados

manipulados pelos partidos políticos e candidatos, e segurança da privacidade

dos dados de identificação de cidadãos junto ao TSE.

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36

6. Anexos

Anexo 1. Relação dos materiais recebidos por meio do formulário online31

Região do

respondente Cidade/estado

Região do

remetente

de spam

Data Tipo de

conteúdo

Cita algum

partido?

Qual?

Cita algum

candidato?

Qual?

Cargo ao qual

o candidato

citado

concorre

Centro-Oeste Distrito Federal Centro-Oeste

(DF)

Não

identificada Corrente Não Não

Centro-Oeste Goiânia

GO Sudeste (SP)

Não

identificada Imagem Não Não

Nordeste Olinda

PE Sudeste (SP)

Não

identificada Áudio

Não

identificado Não

Nordeste Salvador

BA Sudeste (SP) 26/9/18

Corrente

+Vídeo Não

Sim, Ângelo

Coronel e

Jaques Wagner

Senador

Nordeste Campos Sales

CE

Não

identificado 14/10/18

Corrente

+Vídeo Não Não

Nordeste Tracunhaém

PE Nordeste (BA) 4/10/18 Imagem Não Não

Nordeste Maceió

AL

Centro-Oeste

(GO)

Não

identificada Imagem Sim, PDT Não

Deputado

Federal

Nordeste Maceió

AL Sul (PR) 20/9/18 Imagem Não Não

Nordeste Teresina

PI

Não

identificado

Não

identificada Imagem Não Não

Nordeste Ceará Sudeste (MG) Não

identificada Imagem Não Não

Nordeste Olinda

PE Nordeste (PE)

Não

identificada Imagem Não Não

Nordeste

Jaboatão dos

Guararapes

PE

Sudeste (MG) 12/10/18 Imagem Não Não

31 Para proteger os dados de remetentes e destinatários, não disponibilizamos os links para todos materiais coletados (capturas de tela e

arquivos enviados por meio do formulário online). Para ter acesso a esses materiais, entre em contato com [email protected].

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37

Nordeste Goiânia

GO Sudeste (SP)

Não

identificada Imagem Não Não

Nordeste João Pessoa PB Sudeste (SP) 20/8/18 SMS Sim, PSL Não

Nordeste Salvador

BA

Não

identificado 3/10/18

Vídeo +

Imagem Não

Sim, Da Luz e

Jair Bolsonaro

Deputado

Federal e

Presidente

Nordeste Vitória da

Conquista BA Não identificado Resposta sem upload de material

Nordeste Vitória da

Conquista Ba

Não

identificado Resposta sem upload de material

Norte Rio Branco

AC Norte (AC)

Não

identificada Corrente Sim, PSL

Sim, Jair

Bolsonaro

Norte Pará Norte (PA) 16/9/18 Corrente Não Sim, Professora

Nilse

Deputada

Estadual

Norte Porto Velho

RO

Não

identificado 3/10/18 SMS Sim, PSL

Sim, Jaime

Bagattoli Senador

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada Áudio Não

Sim, Jair

Bolsonaro Presidente

Sudeste Osasco

SP

Centro-Oeste

(GO)

Não

identificada Corrente Não

Sim, Pedro

Fernandes Governador

Sudeste

São José dos

Campos

SP

Sudeste (SP) 17/8/18 Corrente Não Sim, Ricardo

Mellão

Deputado

Estadual

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada Corrente Não

Sim, Jair

Bolsonaro

Sudeste Uberlândia

MG

Não

identificado 21/9/18 Corrente Não

Sim, Joaquim

Miranda

Deputado

Estadual

Sudeste Itaúna

MG

Não

identificado 18/9/18

Corrente+

Imagem+

Vídeo

Não

Sim, Leonído

Bouças e

Fabiano

Tolentino

Deputado

Estadual e

Deputado

Federal

Sudeste Rio de Janeiro

RJ Sudeste (SP) 11/9/18

Corrente+

Vídeo Não

Sim, Pedro

Fernandes Governador

Sudeste Rio de Janeiro

RJ Sudeste (SP)

Não

identificada

Corrente+

Vídeo Não

Sim, Pedro

Fernandes Governador

Sudeste Rio de Janeiro

RJ Sudeste (SP)

Não

identificada

Corrente+

Vídeo Não

Sim, Pedro

Fernandes Governador

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38

Sudeste Minas Gerais Sudeste (MG) 3/9/18 Corrente+

Vídeo Sim, PSDB

Sim, Caio

Narcio

Deputado

Federal

Sudeste Nova Iguaçu

RJ Nordeste (PI) 7/9/18

Corrente+

Vídeo Não Sim, Meirelles Presidente

Sudeste Minas Gerais Sudeste (MG) 15/8/18 Corrente+

Vídeo Não Sim, Lula

Sudeste Diadema SP Sudeste (MG) Não

identificada

Corrente+

Imagem Não

Sim, Almir

Cicote

Deputado

Estadual

Sudeste

São Bernardo do

Campo

SP

Sudeste (MG) Não

identificada

Corrente+

Imagem Não

Sim, Dr.

Gondim

Deputado

Estadual

Sudeste Uberlândia MG Não

identificado

Não

identificada

Corrente+

Vídeo Não

Sim, Odelmo

Leão Não concorreu

Sudeste Uberlândia MG Não

identificado

Não

identificada

Corrente+

Vídeo Não Não

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP) 5/8/18

Corrente+

Vídeo+

Imagem

Não

Sim, Jair

Bolsonaro e

Mourão

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada Grupo Sim, PT

Sim, Fernando

Haddad Presidente

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP) 19/10/18 Grupo Sim, PT

Sim, Fernando

Haddad Presidente

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada Grupo Sim, PT

Sim, Fernando

Haddad Presidente

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP) 19/10/18 Grupo Sim, PT

Sim, Fernando

Haddad Presidente

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada Grupo Sim, PT

Sim, Fernando

Haddad Presidente

Sudeste Rio De Janeiro

RJ Sudeste (SP)

Não

identificada Imagem Sim, DEM

Sim, Carlo

Caiado

Deputado

Estadual

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP) 12/9/18 Imagem Não Não

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP) 13/9/18 Imagem Não Não

Sudeste Rio de Janeiro

RJ Sudeste (SP)

Não

identificada Imagem Não Não

Sudeste São Paulo Sudeste (SP) Não Imagem Não Não

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SP identificada

Sudeste Rio de Janeiro

RJ Nordeste (MA) 11/10/18 Imagem Sim, PODE

Sim, Pastor

Levi e Ezequiel

Teixeira

Deputado

Federal

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP) 6/10/18

Corrente+

Imagem Não

Sim, Claudio

Gaspar

Deputado

Federal

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada Imagens Não

Sim, Jair

Bolsonaro Presidente

Sudeste Belo Horizonte

MG Sudeste (MG)

Não

identificada Link

Não

identificado

Não

identificado

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada Link

Não

identificado

Não

identificado

Sudeste São Paulo

SP Nordeste (RN) Mensagem enviada por engano ao destinatário

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (MG) Imagem Não Não

Sudeste São Gonçalo

RJ Sudeste (SP) 21/7/18 SMS Não

Sim, Jair

Bolsonaro

Sudeste São Paulo

SP Sudeste (SP)

Não

identificada SMS Sim, PSL

Sim, Jair

Bolsonaro Presidente

Sudeste São Paulo

SP

Não

identificado 4/10/18 SMS Não

Sim, Marlon do

Uber

Deputado

Federal

Sudeste Belo Horizonte

MG

Não

identificado 5/10/18 SMS Sim, Romeu

Zema Governador

Sudeste Belo Horizonte

MG

Não

identificado

Não

identificada SMS Sim, PSDB Sim, Anastasia Governador

Sudeste São Paulo SP Sudeste (RJ) 5/10/18 SMS Não Sim, Arnaldo

Faria de Sá

Deputado

Federal

Sudeste Belo Horizonte

MG Sudeste (MG) 4/10/18 SMS Não

Sim, Anastasia

e Pedro Leitão

Deputado

Federal

Sudeste

São José dos

Campos

SP

Sudeste (SP) 27/9/18 SMS Não

Sim, Professor

Calassan

Camargo

Deputado

Federal

Sudeste Marília

SP Sudeste (MG) 27/9/18 Vídeo

Não

identificado

Não

identificado

Sudeste São Paulo SP Sudeste (SP) Não

identificada Vídeo

Não

identificado

Não

identificado

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40

Sudeste São Vicente

SP Sudeste (MG) Resposta sem upload de material

Sudeste

Campos dos

Goytacazes

RJ

Sudeste (RJ) Resposta sem upload de material

Sudeste Rio de Janeiro

RJ Sudeste (SP) Resposta sem upload de material

Sudeste São Paulo SP Não

identificado

Não

identificada Vídeo Não

Sim, Jair

Bolsonaro Presidente

Sudeste São Paulo SP Nordeste (RN) Não

identificada Corrente Não

Sim, Jair

Bolsonaro Presidente

Sudeste São Paulo SP Centro-Oeste

(GO)

Não

identificada

Corrente+

Vídeo Não Não

Sudeste Belo Horizonte

MG

Não

identificado

Não

identificada Corrente Não

Sim, Jair

Bolsonaro Presidente

Sul Chapecó

SC Sul (SC) 18/9/18

Corrente+

Vídeo Não

Sim, Osvaldo

Mafra

Deputado

Federal

Sul Porto Alegre

RS Sul (RS) 3/10/18 Link Não Não

Sul Maringá

PR Nordeste (BA)

Não

identificada Imagem Não Não

Sul Curitiba

PR Sul (PR) 6/10/19 SMS Não

Sim, Marcello

Richa

Deputado

Estadual

Sul Ronda Alta

RS

Centro-Oeste

(MT) 15/10/19

Vídeo +

Imagem Não Não

Sul Paulo Lopes

SC

Não

identificado Resposta sem upload de material