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AS VÁRIAS FACES DA AMÉRICA LATINA “Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos, outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neocolonial, o ouro se transformou em sucata e os alimentos se convertem em veneno. Potosí, Zacatecas e Ouro Preto caíram de ponta do cimo dos esplendores dos metais preciosos no fundo buraco dos filões vazios, e a ruína foi o destino do pampa chileno do salitre e da selva amazônica da borracha; o nordeste açucareiro do Brasil, as matas argentinas de quebrachos ou alguns povoados petrolíferos de Maracaibo têm dolorosas razões para crer na mortalidade das fortunas que a natureza outorga e o imperialismo usurpa. A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora é a maldição de nossas

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Page 1: AS VÁRIAS FACES DA AMÉRICA LATINA “Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso

AS VÁRIAS FACES DA AMÉRICA LATINA

“Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos, outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neocolonial, o ouro se transformou em sucata e os alimentos se convertem em veneno. Potosí, Zacatecas e Ouro Preto caíram de ponta do cimo dos esplendores dos metais preciosos no fundo buraco dos filões vazios, e a ruína foi o destino do pampa chileno do salitre e da selva amazônica da borracha; o nordeste açucareiro do Brasil, as matas argentinas de quebrachos ou alguns povoados petrolíferos de Maracaibo têm dolorosas razões para crer na mortalidade das fortunas que a natureza outorga e o imperialismo usurpa. A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”.

GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p 14.

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O Memorial da América Latina, fundado no dia 18 de

março de 1989, no bairro paulistano da Barra Funda, é um

núcleo de cultura, política e lazer construído com o objetivo

de disseminar as expressões criativas da América Latina,

visando estabelecer laços culturais, políticos e sociais entre

as nações dessa região continental.

O edifício foi arquitetado por Oscar Niemeyer, e seu

planejamento cultural foi desenvolvido pelo antropólogo

Darcy Ribeiro, árduo defensor da causa da integração latino-

americana. Esta instituição de caráter público,

suficientemente independente, está ligada à Secretaria de

Estado de Relações Institucionais.

Na Praça Cívica está localizada a escultura moldada

em concreto conhecida como ‘A Grande Mão’, a qual

representa o sangue vertido pelos mártires da América

Latina que combateram e muitas vezes deram a vida pela

conquista da liberdade; este é um dos símbolos mais

significativos do Memorial.

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COMO ERA A EUROPA QUE “DESCOBRIU A AMÉRICA?

O final do século XIV marca o início de uma série de mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais na Europa.

Essas transformações, que continuaram a acontecer por todo o XV (1401 – 1500), modificaram praticamente todas as dimensões da vida dos europeus. Dentre elas podemos destacar:

• No campo político, o fortalecimento e a centralização do poder nas mãos dos reis. Esse processo histórico ficou conhecido como absolutismo;• Na esfera econômica, as atividades comerciais passaram a ser bastante valorizadas e surgiu o desejo de se consumir produtos vindos do Oriente (especiarias). As medidas tomadas para se incentivar o comércio receberam o nome de mercantilismo;• No campo social, tivemos o surgimento de um novo grupo social, na medida em que uma parcela dos plebeus passou a se dedicar ao comércio e a viver nos burgos (cidades). Este grupo, os burgueses, surgiu e se fortaleceu neste período.• No campo cultural, duas grandes mudanças aconteceram: o Renascimento e a Reforma protestante. Com eles a Igreja Católica perdeu o monopólio da explicação das coisas do mundo tanto do ponto de vista cultural e científico, quanto do ponto de vista religioso. Todos esses novos elementos contribuíram para que acontecesse uma série de expedições marítimas que receberam o nome de Grandes Navegações.

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Com esse contexto histórico em mente, observe a imagem-síntese abaixo:

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Por que ficamos tão diferentes?“Existe uma questão que mexe demais com os brasileiros: por que os Estados Unidos da América se tornaram o país mais rico do Mundo? Por que o Brasil e seus companheiros da América Latina e do Caribe ficaram “para trás”?

Talvez você já tenha ouvido alguém dizer assim: “Demos azar, fomos colonizados por Portugal”. Ah... se tivéssemos sido colonizados pela Inglaterra, nós hoje estaríamos muito melhor...” mas será mesmo que estaríamos melhor?

Pense um pouco. Alguns dos países mais pobres foram colônias da Inglaterra: a Índia, várias nações da África, a Jamaica... A maioria de sua população é mais pobre ainda do que os brasileiros. Será que as pessoas famintas desses países poderiam dizer:

“Ah, ainda bem que fomos colônias da Inglaterra.”

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A INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA

Grafite, Caracas – (Venezuela)

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►Iluminismo; ► Independência dos EUA; ► Revolução Francesa; ► Período Napoleônico e

Bloqueio Continental; ► Revolução Industrial.

► Crise do Sistema Colonial ; ► Crise na mineração; ► Descontentamento da

elite criolla .

INFLUÊNCIAS EXTERNAS CONTEXTO INTERNO

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Crise na Espanha e mudanças na América

Na segunda metade do século XVIII...

Esgotavam-se os recursos minerais explorados na América, como a prata; A Espanha combateu o contrabando; Ampliou tributos sobre o comércio colonial; Manteve a proibição de instalação de manufaturas.

Apesar da restrições impostas pela Coroa, nas colônias...

a pecuária e a agricultura se expandiram; a população cresceu; as elites locais enriqueceram e se fortaleceram;A resistência indígenas à intensificação do regime de trabalhos forçados provocou reações e revoltas em várias comunidades.

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Napoleão Bonaparte invade a Espanha...

Maio de 1808: Napoleão invade e ocupa a Espanha;

O povo espanhol reagiu à ocupação e criou as juntas provinciais de governo com o objetivo de organizar a resistência espanhola;

Na América, as elites dominantes seguiram o exemplo da metrópole e criaram as Juntas Governativas: governo local autônomo que governaria em nome do rei espanhol destronado.

A lacuna de poder favoreceu o fortalecimento dos poderes locais...

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Em 1814, após a queda de Napoleão...

Fernando VII retornou ao trono espanhol adotando:

medidas restritivas de liberdade nas colônias; maior centralização do poder;

Essas medidas provocaram uma resistência maior das elites coloniais, dando início ao processo de independências das colônias espanholas na América.

Imagem de fundo: Retábulo da independência, de Juan O’Gorman, 1960-1961.

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Para refletir...