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1. Introdução; 2. Desenvolvimento x independência: a ótica do balanço de pagamentos; 3. Comércio internacional, investimentos estrangeiros e Oriente Médio: as dificuldades de Israel pela ótica política; 4. Economia de guerra: uma solução de sacrifícios; 5. Competitividade internacional, contenção do consumo e desigualdade na distribuição de rendas; 6. Conclusões. Renato J. Mayer* * Bolsista do CNPq. - O autor agradece aos Professores Edmar L. Bacha e Anníbal V. Villela o estí- mulo e as sugestões recebidas. R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, "With due regard to the contributions made by the Israelis on their own, without- the large externaI capital infusion Israel would not be where she is today, if indeed survival had been possible." - International Bank for Reconstruction and Develop- ment Association. Current economic position and prospects of Israel. Relatório de 17 de março de 1965. p. L O presente trabalho procura responder, por meio de estudo mais profundo, às principais questões que foram levantadas ao final de uma exposiçõo sobre o coso (enquanto modelo de desenvolvimento eco- nômico) de Israel, na Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas em dezem- bro de 1970. Desta forma, pressupõe como conhe- cidas as características básicas do processo que permitiu 'àquele país atingir, no período de 1950-64, a taxa média de crescimento do produto nacional bruto (PNB) de 10 a 11 % ao ano (inferior apenas à do Japão, entre os países não socialistas). A elas serão feitas apenas referências, concentrando-se o trabalho na análise de fatores que parecem impedir a manutenção desta taxa nos próximos anos e suas conseqüências econômicas e, eventualmente, .poll- tico-sociais. A natureza do estado de Israel está tão intrinse- camente associada ao sionismo, que o estudo de sua consolidação econômica deve necessariamente levar em conta o propósito básico daquele movi- mento, conforme definido pelo I Congresso Sionista. "0 objetivo do sionismo é a criação, para o povo judeu, de um lar na Palestina garantido pelo di- reito público."- Sua concretização, em 1948, fez-se acompanhar de outros objetivos que, embora nem sempre de- clarados explicitamente, foram e são ainda de fun- damentai importância na determinação dos rumos econômicos e políticos de Israel: a} A garantia de instituições democráticas e de uma sociedade aberta, com a contrapartida de um padrão de vida crescente, para toda a população judaica. Este é um objetivo em si mesmo e, simul- taneamente, um incentivo necessário à imigração, sem a qual o país não alcançará, política (por questões de defesa, sobretudo) e economicamente, a independência. Com efeito, políticos e planeja- dores concordam que a população deva alcançar a cifra de 4-4,5 milhões de habitantes para que ela se consolide como nação e como. economia auto- sustentada com um mercado interno integrado. Em janeiro de 1971, a população do país comple- tou três milhões de habitantes. b) Uma elevada taxa de crescimento econômico capaz de permitir a absorção da crescente popu- lação (imigrada e natural), ganhando a corrida contra o tempo sem pressões inflacionárias e com 12(2) : 67-86, abr.ljun. 1972 Impasses no desenvolvimento de uma economia implantada: o caso de Israel no início da década de 70

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1. Introdução;2. Desenvolvimento x

independência: a ótica dobalanço de pagamentos;

3. Comércio internacional,investimentos estrangeiros e

Oriente Médio:as dificuldades de Israel

pela ótica política;4. Economia de guerra:

uma solução de sacrifícios;5. Competitividade internacional,

contenção do consumo edesigualdade na distribuição

de rendas;6. Conclusões.

Renato J. Mayer*

* Bolsista do CNPq. - O autoragradece aos Professores Edmar L.Bacha e Anníbal V. Villela o estí-

mulo e as sugestões recebidas.

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro,

"With due regard to the contributions made by theIsraelis on their own, without- the large externaIcapital infusion Israel would not be where she istoday, if indeed survival had been possible." -International Bank for Reconstruction and Develop-ment Association. Current economic position andprospects of Israel. Relatório de 17 de março de1965. p. L

O presente trabalho procura responder, por meiode estudo mais profundo, às principais questões queforam levantadas ao final de uma exposiçõo sobreo coso (enquanto modelo de desenvolvimento eco-nômico) de Israel, na Escola de Pós-Graduação emEconomia da Fundação Getulio Vargas em dezem-bro de 1970. Desta forma, pressupõe como conhe-cidas as características básicas do processo quepermitiu 'àquele país atingir, no período de 1950-64,a taxa média de crescimento do produto nacionalbruto (PNB) de 10 a 11% ao ano (inferior apenasà do Japão, entre os países não socialistas). A elasserão feitas apenas referências, concentrando-se otrabalho na análise de fatores que parecem impedira manutenção desta taxa nos próximos anos e suasconseqüências econômicas e, eventualmente, .poll-tico-sociais.

A natureza do estado de Israel está tão intrinse-camente associada ao sionismo, que o estudo desua consolidação econômica deve necessariamentelevar em conta o propósito básico daquele movi-mento, conforme definido pelo I Congresso Sionista."0 objetivo do sionismo é a criação, para o povojudeu, de um lar na Palestina garantido pelo di-reito público."-

Sua concretização, em 1948, fez-se acompanharde outros objetivos que, embora nem sempre de-clarados explicitamente, foram e são ainda de fun-damentai importância na determinação dos rumoseconômicos e políticos de Israel:a} A garantia de instituições democráticas e deuma sociedade aberta, com a contrapartida de umpadrão de vida crescente, para toda a populaçãojudaica. Este é um objetivo em si mesmo e, simul-taneamente, um incentivo necessário à imigração,sem a qual o país não alcançará, política (porquestões de defesa, sobretudo) e economicamente,a independência. Com efeito, políticos e planeja-dores concordam que a população deva alcançar acifra de 4-4,5 milhões de habitantes para que elase consolide como nação e como. economia auto-sustentada com um mercado interno integrado.Em janeiro de 1971, a população do país comple-tou três milhões de habitantes.b) Uma elevada taxa de crescimento econômicocapaz de permitir a absorção da crescente popu-lação (imigrada e natural), ganhando a corridacontra o tempo sem pressões inflacionárias e com

12(2) : 67-86, abr.ljun. 1972

Impasses no desenvolvimento de uma economia implantada: o caso de Israel no início da década de 70

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a redução do deficit do balanço de pagamentos

Quadro 1Balanço de pagamentos de Israel1949-1969(em milhões de US$J

(ver quadros 1, 2 e 3).

Transferên- Capitais Capitais deErros eConta corrente a cios unila- de longo curto prazo

omissõesANO terais prazo e reservas

Crédito DébitoCrédito Crédito Crédito Crédito Créditolíquido líquido líquido líquido líquido

1949 43 263 - 2:?Q 118 43 24 351950 46 328 282 90 68 51 731951 67 426 -- 359 137 133 32 571952 86 393 - 307 191 115 O1953 102 365 263 173 69 6 151964 135 373 -- 238 261 71 - 70 - 241955 144 427 -- 283 210 76 O -- 31956 178 535 - 357 241 78 22 161957 222 557 - 335 245 70 9 111958 235 569 - 334 264 67 - 1 41959 286 602 - 316 251 80 - 25 91960 359 696 337 311 101 - 60 151961 425 857 - 432 346 176 -72 - 181962 472 955 483 341 238 - 99 31963 577 1.016 439 346 193 - 94 61964 619 1.198 - 579 351 275 - 49 21965 711 1.224 513 321 222 - 33 31966 832 1.272 - 440 287 185 - 5 - 271967 909 1.440 - 531 521 302 -277 - 151968 1.147 1.865 - 718 434 263 57 - 361969 1.256 2.150 - 894 478 213 256 - 53

1949-1969 8.851 17.511 -8.660 5.917 3.038 -327 32• Baseado no registro das exportações. fab e das importações cif.Fontes: Para 1949-1961, Hclevl, Nadav. The characteristics of Israel's economic growth. Ecanomic deve/opment issues. Greece. Israel, Toiwon, Thoi/ond.Committee for Economic Development, New York, 1968. p. 99. ISupplementary Paper N.o 251.Para 1962-69, International Monetary Fund. Balance of Paymen/s Yearbook, v. 22.

c) Uma crescente diversificação e complexidade doparque industrial e agrícola, a níveis de concor-rência internacional, que permita a integração

68 de Israel na economia mundial, por intermédio demaiores exportações em valor; o suprimento de suasnecessidades básicas internas, inclusive de defesa,sem a dependência das transferências unilateraise dos empréstimos externos (ver quadros 4 e 5); eque mantenha o país em crescimento auto-susten-tado mesmo numa conjuntura política internacionaldesfavorável.

Na realidade, estes objetivos são de difícil dis-tinção, e dispusemo-los nesta ordem meramente porconveniência didática. Já tivemos oportunidade deperceber como foi presidida e operada a evoluçãoda economia israelense desde as lutas pela indepen-dência até os fins da década de ~O. Dois traços

Revista de Admtntstração de Empresas

foram essenciais nesse período e perduram ainda:o caráter de enclave de uma economia com carac-terísticas de país altamente desenvclvidc,> inteira-mente desvinculada do meio regional ainda subde-senvolvido" em que se localiza (uma vez que nãohá relações de qualquer natureza com os paísesvizinhos) e ligada econômica, política e cultura-mente a países que não se situqm nesse meio; eo peso que as contas do balanço de pagamentostem em toda a vida econômica de Israel/ em suaevolução e política. Veremos, a seguir, como essestroços conspiram contra a consecução destes obje-tivos expostos e como dão origem a impasses eco-nômicos e políticos que põem em dúvida a própriaviabilidade de se implantar um país, como pareceter sido o coso de Israel, em seu panorama histó-rico específico.

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Quadro 2Tentativa de avaliação do principal fluxo de ajuda externa à Israel 1 -- Período 1950-69

(em milhões de US $)

1959

Transferências unlla/erais Iliquidosl 251a) Remessas e donativos privados e trans-

ferências de imigrantes em dinheiro e em

espécie 2 90 123 105 85 133 83 128 98 112 104bl Donativos e ajuda técnica dos EUA e da

ONU 14 86 47 39 21 7 24 17 10cl Reparações da Alemanha Ocidental

(ao governo) 41 82 88 79 78 70-,di Restituições pessoais da Alemanha [-137Ocidental 6 19 26 45 65-Capi/ais de médio e longo prazo (líquidos) 44 88 115 70 71 76 78 69 61 80a) Bônus do estado de Israel 50 46 36 29 32 47 45 34 35bl Empréstimos de agências do Governo

norte-americano, inclusive do EXIMBANK 44 28 28 4 2 23 31 9 3 13 320cl Outros empréstimos e obrigações, junto ao

Banco Mundial, inclusive 10 11 7 21 9 --6d) Investimentos privados estrangeiros 30 22 19 12 6 14 14 25

TOTAL 134 225 306 243 332 286 319 314 325 331

Transferências unila/erals tlíquidas)

ai Remessas e donativos e transferência

de imigrantes em dinheiro e em es-

pécie 2

bl Donativos e ajuda técnica dos

EUA e ONUcl Reparações da Alemanha Ociden-

tal (ao governaidi Restituições pessoais da Alemanha

OcidentalCapi/ais de médio e longo prazotlíquidoslai Bônus do estado de Israel

bl Empréstimos de agências do

Governo norte-americano

cl Outros empréstimos e obrigações

Banco Mundial, inclusivedi Investimentos privados estrangeiros

TOTAL

Total

311 340 346 351 321 521 434 478 5.974287342

124 131 153 192 187 398 298 343 3.253176172

14 11 8 8 -- 2 3133 56 5

76 88 17 -- 2 243 25 172.247

98 138 135 ;,112 :,110 123 :,143 li 138---'110 143

10228

18432

23833

275 222 18525 33 12

302 263 213 2.929171 78 63 852

19323

:122 42 51 41 38 36 19 536 6932 32

5347951

115 87 9593 51 37

95 135 98 886- 2 14 33 .654

8588

4494

413 580 539 626 543 472 823 697 691 8.723524Fontes:Para 1950-1957, Patinkin, Oon. The Israel econamy, the first decade. The falk Project for Economic Research in Israel, Jerusolém, 1960.Para 1958-1961, International Bank for Reconstruclion and Oevelopment & International Oevelopment AssociatiQ.... Current econamic positian and pros-pects of Israel. Relatório de 1.0 de maio de 1967.Para 1962-1969, International Manetary Fund, Balance of Payments Yearbook. v. 22.

Obs.:I Não se consideram os movimentos de capitais a curto prazo.2 Predominontemente de judeus do exterior.=: Obtidos de Halevi, Nadav. The characteristics of Israel's economic growth. Economic deve/opmenf issues: Greece. Israel, Taiwo«, Thai/and. Committeefor Economic Oevelopment, New York, 1968. p. 100. ISupplementary Paper N.o 251., Obtidos por resfduo do item Capitais de médio e longo prazo - Empréstimos de agêncios do Governo nort ••-americano.Ú Inclui uma parcelo mfnimo de indenizações recebidos do Governo oustrfoco.

o caso ele Israel

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Quadro 3

Recursos à disposição da economia e seus usos a - 1950-1969(em percentagem)

Formação Uso dosExcedente

ConsumoDepre-

líquida recursos àde

Recursos àANO de disposição PNB disposição

ciaçãocapital da

impor-da economia

Privado I Público interno economiatações

1950 59,2 16,0 3,1 21,7 100,0 79,5 20,5 100,01951 57,1 15,5 3,3 24,1 100,0 82,7 17,3 100,01952 58,8 14,7 5,2 21,3 100,0 77,7 22,2 100,01953 &l,1 14,9 6,6 17,4 100,(1 78,4 21,6 100,01954 61,4 14,8 6,8 17,0 100,0 79,8 20,2 100,01955 58,2 15,8 6,4 19,6 100,0 78,7 21,3 100,01956 57,0 20,5 6,5 16,0 100,0 77,7 22,3 100,01957 58,5 16,8 fJ,9 17,8 100,0 80,2 19,8 100,01958 59,6 16,2 6,8 17,4 100,0 81,8 18,2 100,01959 59,8 16,1 6,8 17,3 100,0 84,6 15,4 100,01960 60,3 16,0 7,1 16,6 100,0 87,7 12,3 100,01961 58,6 16,3 7,0 18,1 100,0 86,9 13,1 100,01962 56,2 17,1 7,9 18,8 100,0 82,1 17,9 100,01963 57,4 17,3 8,2 17,1 1oo.o 84,6 15,4 100,01964 56,6 16,2 7,9 19,3 1co.o 83,2 16,8 100,01965 57,9 17,6 8,0 16,5 100,0 86,8 13,2 100,01966 60,2 20,0 8,4 11,4 1oo.o 89,8 10,2 100,01967 59,5 26,4 8,7 5,4 1co.o 88,3 11,7 100,01968 56,3 25,8 8,0 9,9 100,0 84,9 15,1 100,01969 55,1 25,2 19,7 100,0 85,9 14,1 100,0" Compulado o preços correntes.Fontes.Para 1950·1959, Halevi, Nadav. The charocteristics 01 lsrcel's economic growth. Econamic develapmenl issues Greece, Israel. Tow,an. Thor/ond Com-mittee for Economic Development, New York, 1968, p. 96. ISupplementary Paper N." 25.1Para 1960·1968, United Nations. Yearboak af nalianal aceaunls s/atistics, 1969. International Tables, New York, v. 2, 1970.Paro 1969, International Monetary Fund. Inlerno/ianol Finonciol Statistics, v. 24, n." 8, ogo. 1971. Nõo especifico o percenruol paro deprecioçõo.

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2. Desenvolvimento X Independência:a ótica do balanço de pagamentosSe nos disserem que certo indivíduo cresceu e pros-perou, gastando muito mais de que ganhava comseu trabalho e compensando a diferença com doa-ções e empréstimos de outras pessoas, observare-mos imediatamente que este prosperidade dependeusempre da boa vontade de terceiros. Pois este é,mutotis mutondis, o caso de Israel, com o agra-vante de que a boa vontade de terceiros nas re-lações internacionais implica usualmente a contra-partida de concessões econômicas e políticas.

As observações já feitas e sobretudo a análisesumária dos quadros 1 e 2 indicam uma crescenteimportância das contas do balanço de pagamentosdentro da economia, acompanhada de um deficitcrescente nas transações correntes. Para o períodomais recente (após a recessão de 1965-67), as. auto-ridades israelenses apontam explicitamente comocausas o intensa atividade econômica e os gastoscada vez mais elevados com segurança e defesoapós a guerra de 1967 que, conseqüentemente, tem

Revista de Administração de Empresas

gerado uma demanda em crescimento por produtosdo exterior. As estatísticas disponíveis registram umaumento do deficit de US$ 718 milhões em 1968e l:JS$ 894 milhões em 1969 para mais de .....US$ 1.100 milhões em 1970, nas transações cor-rentes, excluindo-se os donativos e as transferên-cias unilaterais. Isto levou a uma forte drenagemnos saldos de divisas, que caíram de US$ 777milhões em 1967 para menos de US$ 400 milhões,no final de 1969, enquanto que a dívida em moedaestrangeira elevou-se de US$ 1.600 milhões poraUS$ 2.200 milhões no mesmo período. 5

A tendência ao deficit no balanço de bens e ser-viços transacionados é característica dos países sub-desenvolvidos. Todavia, se ela persiste e torna-secada vez mais forte ao longo do processo, indicaclaramente que o país está adotando um padrãode desenvolvimento artificial em relação às suaspossibilidades internas de gerar renda. A contra-partida dessa tendência é a necessidade de uminfluxo cada vez maior de capitais estrangeiros,seio sob a forma de donativos ou transferências

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unilaterais, seja sob a forma de empréstimos e in-vestimentos estrcnçeiros." E Israel tem-se validodesse meio para ·fazer face ao problema do deficitnaquele balanço e tudo indica que as autoridadesdo país continuam considerando sua utilização,juntamente com ações de política sobre os prin-cipais itens que compõem o balanço de bens e ser-viços. Começaremos estudando as possibilidades elimitações dessa ação.

2.1 AS EXPORTAÇOES DIANTE DA ESTRUTURADE PRODUÇÃO

Dado o tamanho do mercado interno, a substitui-ção de importações nos setores industrial e agrícolaparece ter chegado ao fim, tendo Israel hoje umapauta de importações praticamente incompressível.Mais ainda, ela tem aumentado, como já disse-mos, devido à necessidade de acompanhar comequipamento bélico moderno e adequado à evolu-ção das tensões no Oriente Médio. Além disso, dadoo elevado componente de importações nos produtosexportados (sobretudo diamantes polidos) - cercade 45 % - qualquer política de incentivos às ex-portações, não acompanhada por uma consideráveldiversificação da sua pauta, tenderá a exercerainda maiores pressões sobre a demanda por im-portcções."

A industrialização ocorrida em Israel concentrou-se basicamente em produtos de indústria leve (comotêxteis e alimentícios) e no oproveitcmento dos re-cursos minerais do país, com grande desenvolvi-mento de certos setores da indústria química.O produto da indústria e da mineração cresceu emtermos reais a uma média anual de 13,2% entre1950 e 1963, tendo quintuplicado neste período.Todavia, essa industrialização realizou-se ao custode um superdimensionamento da capacidade ins-talada diante de um mercado sem condições deexpansão regional, pois ocorreu em função derazões tanto de estratégia econômica e política,como também sociais, que abrangiam desde a ne-cessidade de manter um nível de vida quase equiva-lente ao do europeu, que garantisse ao país apermanência de uma população com outras alter-nativas de imigração, com o máximo de emprego,até a de afirmação de uma jovem nação num meiohostil, num curto espaço de tempo, e levando-seem conta, além disso, a preocupação em evitar odispêndio de divisas preciosas com produtos quepoderiam ser manufaturados internamente. Sob alnsplroçêo do sionismo moldado na Europa e coma meta de uma sociedade democraticamente com-petitiva, pretendeu-se implantar uma economiacopiada aos padrões mais desenvolvidos daquelecontinente. Ao mesmo tempo, tinha-se por bloquea-

do o mercado árabe vizinho que poderia permitir,pela produção para exportação, a obtenção de me-lhores índices de produtividade. As mesmas moti-vações que deram origem ao sionismo e a realidadeobjetiva do bloqueio, com suas implicações de po-lítica internacional, aliaram-se para inspirar perma-nentemente a política israelense na busca do maiorgrau possível de autarquia econômica, ainda que acustos socialmente elevados e reconhecidamentesem muito planejamento. Proliferaram pequenasempresas, com a cobertura de subsídios ininter-ruptos. O país passou por um processo de forcedgrowth, com a implantação de indústsios protegidaspor altíssima barreira tarifária. Isto levou o BancoInternacional para Reconstrução e Desenvolvimento(BIRD) a pronunciar-se, em seu relatório de 1.° demaio de 1967, no qual afirma que a "substituiçãode importações em Israel foi levada muito a frentee que a produção de vários bens não é econômica.Parece claro que os esforços futuros para reduçãodo trade gap terão de concentrar-se basicamenteem maiores exportações". 8

O esgotamento da substituição de importaçõesé extensivo também à agricultura, como resultadodas restrições que a falta de disponibilidade de re-cursos básicos como água e terra cultivável tende aapresentar contra a expansão da produção. As pró-prias medidas adotadas pelas autoridades são hojemais no sentido de selecionar culturas em que Israeldisponha de vantagens comparativas no mercadointernacional do que de alcançar a auto-suficiênciano setor agropecuário.

No setor industrial, portanto, é a dimensão pordemais pequena do mercado que contém o avançodo processo de substituição de importações. Restaainda alguma possibilidade no estabelecimento denovas indústrias orientadas para o comércio ex-terior. A relação exportações/produção na indústriatem sido, com efeito, elevada (em torno de 22-25%,no período 1960-65), sendo que em algumas in-dústrias, como a têxtil, ela alcançou mais de 50 %,chegando até perto de 100 % entre os derivadoscítricos." Todavia, um traço da industrialização emIsrael foi a pulverização das empresas: segundo ocenso de 1965, cerca de 85% do total de 24.500estabelecimentos industríais (com inclusão de ofi-cinas de reparo e manutenção) empregavam menosde 10 pessoas cada um e 95% menos de 30. Haviasomente 320 firmas (1,3 % do total de indústrias)empregando 100 ou mais pessoas. As tarifas ele-vadas de proteção ocorrem pari passu com indús-trias que trabalham com dimensões inadequadas,subutilização da capacidade instalada, deseco-nomias de escala e, tendo sempre em conta o pe-queno mercado interno, com insuficiente especia-lização para. produzir a variedade requerida deprodutos em escala suficiente para competir com

O caso de Israel

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importações sem uma elevada proteção torifárlc.{Isto não se aplica à indústria de diamantes, naqual o valor adicionado representa, contudo, poucomais de 20% e que funciona eficientemente. Suaparticipação nas exportações de mercadorias cres-ceu de 26,3% em 1959 para 35% em 1969,representando aproximadamente 40 % das expor-tações industriais do pols.) A estas condições estru-turalmente desfavoráveis deve-se acrescentar aalta nos salários e preços que. desencadearam ascontínuas pressões inflacionárias ea necessidadeestratégica, podemos dizer, de conceder à popu-lação um elevado padrão de vida. De 1950 a 1965,o índice do custo de vida elevou-se a uma médiade 10,5 % ao ano, enquanto os rendimentos desalários tiveram uma alta média de 15,4% aoano no mesmo período. Nos anos 60-65 esta ten-dência moderou-se um pouco e,' em 1966, a altados preços foi de 9 % contra uma alta nos saláriosde 13,6 %. Em 1967, as autoridades estabeleceramum congelamento salarial durante três anos, comocondição inclusive de atração de investimentos es-trangeiros, mas os preços não parecem ter-se esta-bilizado neste período.

Aos altos custos de produção, que diminuem acompetitividade das exportações israelenses no mer-cado internacional, devem ser acrescentados oscustos de uma comercialização mal estruturada,apresentando o mesmo padrão de fragmentaçãoque se verifica na atividade manufatureira, sobre-tudo nos setores de derivados cítricos e de têxteis(mais de 15% das exportações de bens). A preo-cupação das autoridades com a maior competitivi-dade internacional da produção israelense, diantedo elevado custo de produção e comercialização eda pulverização dos esforços de venda no exterior,tem levado à concessão de facilidades para inves-timentos estrcnçeíros que conduzam a uma vin-culação de firmas nacionais a grandes companhiasinternacionais possuidoras de redes de comerciali-zação e à constituição das chamadas roof exportcompanies.

Com uma política geral de subsídios e incentivosde toda natureza, pôde todavia a economia manteruma taxa elevada de crescimento das exportaçõesde mercadorias, da ordem de 15% ao ano entre1963-66, e de 16% de 1968 sobre 1967 (comdeclínio, todavia, em 1969 pora 11,3 % e em 1970para 10,8%), dentro, porém, de uma pauta tra-dicional ao país. Do total, as exportações agrícolasrepresentam hoje a sexta parte; há 10 anos (1959)abrangiam cerca de um terço. As principais expor-tações são de diamantes polidos (principal produto),frutas cítricas (3/4 das exportações agrícolas esegundo produto de exportação, com 12-13 % dototal), derivados cítricos (sucos e concentrados),ovos, pneus, madeira compensada, cobre e fos-

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fotos, potassa e, surpreendentemente, - com par-ticipação crescente, de modo a situor-se em segundolugar entre as exportações industriais - têxteis evestuário. Deste último item, um quarto da pro-dução total é exportado. O esquema geral de incen-tivos e subsídios penaliza a economia governamentale sobretudo a população, pois opera no ramo têxtilcom a elevação dos preços internos para baixar osoferecidos ao mercado internacional. "Embora esteesquema de subsídio não se estenda a outros ramos,em muitos casos, a formação de cartéis domésticos,juntamente com a elevada proteção no mercadointerno, permite aos empresários a venda no ex-terior a preços próximos do custo marginal". 10

A redução do deficit em conta corrente do ba-lanço de pagamentos, a dependência cada vezmenor dos recursos do exterior e o aumento doconsumo privado a uma taxa anual de 3% (consi-derada como necessária para a prevenção detensões sociais) são os objetivos simultâneos da po-lítica dos governos de orientação trabalhista,segundo a coalização no poder desde 1965. Taismetas devem ser acompanhadas de taxas de cres-cimento do PNB, as quais, em razão da prioridadeconferida àqueles objetivos, sempre correspondem,no caso israelense, a determinadas taxas de cres-cimento das exportações. Sem entrarmos em consi-derações quantitativas, cremos que reside aí aessência da viabilidade de consecução dos objetivosmencionados.

Para a década de 1970, alguns problemas con-figuram-se talvez até mais importantes que aquelesjá citados no que concerne à expansão dos expor-tações israelenses. Grosso modo, poderiam ser clas-sificados em problemas quanto à natureza dasexportações e quanto à natureza dos mercados.Ainda aqui, a simplificação é prejudicial, pois osproblemas estão sempre presentes tanto na análisede uns como de outros.

2.2 AS EXPORTAÇOES E O MERCADO MUNDIAL

Dadas as condições econômicas e políticas do desen-volvimento de Israel, seu comércio exterior voltou-sebasicamente para o mercado europeu (que absorve60 % de suas exportações), num padrão de com-plementação da produção continental e de supri-mento de parte de sua demanda sofisticada. "Sãoprodutos industriais de alta qualidade e cítricos,que só podem encontrar mercado em países comuma alta renda per copna",» Esse padrão de ex-portações afirma-se mais claro quando lembramosque a indústria israelense assenta-se em elevadospercentuais de matérias-primas e equipamentosimportados, particularmente nas manufaturas deexportação, realizando em geral apenas os estágiosfinais de montagem e fabricação, nos quais procura

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tirar partido - e é incentivada pelas autoridadesneste sentido - do elevado nível de qualificaçãoe expertise de sua mão-de-obra.

Além disso, pelo fato de Israel ser um país dedimensão reduzida, sem poder usufruir das eco-nomias de escala da integração regional, e queacordou um tanto a posteriori para a necessidadede conversão de sua indústria do mercado internopara o externo (passado o período necessariamentedesregrado de implantação econômica), ocorre quesua pauta de exportações de manufaturados éampla, bastante variada, mas relativamente pe-quenas as quantidade exportadas de cada bem.Não tem, com isso, praticamente qualquer influên-cia sobre a determinação do preço internacional desuas exportações, tanto industriais como agrícolas,e no conjunto do comércio mundial a participaçãode lsroel é insignificante: 1/10 de 1% das 'expor-tações totais em 1964. Na Europa, durante a últimadécada, a Comunidade Econômica Européia (CEE)absorveu cerca de 30 %, em média, das exportaçõesde Israel; o Reino Unido 11-13 %; Suíça, Finlândia,Suécia e Iugoslávia, praticamente o restante, en-quanto que para os EUA seguiram, em média,16-18% das exportações israelenses, com o Japão,Hong-Kong, Turquia, Canadá e Africa do Sul com-pletando aproximadamente o quadro. Destes mer-cados, a CEE apresenta maiores perspectivas decrescimento e Israel vem pleiteando sua aceitaçãocomo Estado Associado; após grandes e demoradosesforços, finalmente foi assinado em 24-6-1970 umacordo preferencial de cinco anos com a CEE, se-gundo o qual as tarifas aduaneiras do MercadoComum Europeu (MCE) são reduzidas em até 50 %para artigos industriais, cítricos e algumas frutassubtropicols que Israel exporta. Ainda assim, osbenefícios de tal medida devem ser vistos comoapenas limitados, 'pois como observou Kreinin: "Nãosendo um grande fornecedor de qualquer produto,Israel não está em condições de desenvolver brandnames nos mercados mundiais, nem de obter melhortratamento tarifário de outros países (inclusive daCEE), porque sob o princípio de nação mais favo-recida do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio(GATT), qualquer concessão feita a Israel deve seruniversalizada. O contraste é nítido, por exemplo,com o caso do Irã, que é um grande fornecedor dospoucos produtos que exporta. Enquanto a CEE po-deria facilmente concluir um acordo de comérciosatisfatório com o Irã, encontra-se virtualmenteimpedida de dar solução semelhante ao caso deIsrael" ."~2

Compreende-se agora porque as entidades inter-nacionais classificam Israel como um país pobre,em desenvolvimento: as relações de comércio ex-terior obedecem a um padrão muito semelhanteao dos países subdesenvolvidos nas suas relações

com os desenvolvidos. A semelhança do que ocorrecom os vendedores pobres, os preços de suas expor-tações são determinados, em última instância, pelopoder de barganha no mercado internacional e graude concorrência entre eles, quando acabam preva-lecendo as condições dos compradores, países maisricos, mantendo-se as desigualdades nas relaçõesde intercâmbio e a dependência dos países expor-tadores das economias mais desenvolvidas. No casode Israel, a dependência do mercado internacionalassume proporções infinitamente motores, de umlado devido ao excesso de importações sobre asexportações, e de outro, às características da pautade exportações que apontamos nos últimos pará-grafos. Numa economia que se pretende export-oriented e onde as exportações se aproximam de30% do PNB, a necessidade de uma garantia demaior segurança nas transações internacionais, nãoobtida pela estrutura do seu comércio, tem levadoà busca de concessões recíprocas, inclusive do nívelpolítico. Estas implicam com freqüência o sacrifícioda soberania e da independência de decisões deIsrael em troca de um alinhamento firme junto àsgrandes potências ocidentais, que usualmente têminteresses econômicos e políticos confl.itantes comos dos países subdesenvolvidos. As próprias reivindi-cações constantes das conferências internacionaisde comércio são evidência cabal disto.

Uma alternativa, que respeite a orientação polí-tica dita trabalhista e os objetivos do país, é a diver-sificação dos mercados para colocação de suas ex-portações. Além das dificuldades citadas, o isola-mento político internacional de Israel torna aindamaiores as limitações a essa ampliação' de mercados.Mais recentemente, algum êxito tem sido obtidonas transações com a Austria, Hungria, Singapurae Malásia, Espanha e sobretudo com o Irã e aRomênia.

2.3 AS DIFICULDADES DAS EXPORTAÇOESAGRrCOLAS

Pode-se mais claramente avaliar a importância que 73tem para Israel a garantia de não-oscilações noquantum de suas exportações ao levar-se em contaque tais oscilações têm grandes efeitos de enca-deamento (/inkage), capazes de abalar a estruturainterna de produção. A produção de cítricos, porexemplo, considerada como tendo maior valor adi-cionado que os produtos industriais, alimenta paraa frente a indústria de derivados cítricos - em siuma fonte exportadora importante - e para trása indústria de madeira, produtos químicos e os ser-viços de transporte durante a estação de exportação{de outubro a cbrll). No entanto, suas perspectivassão apenas regulares. Convém lembrar que no pe-ríodo anterior a 1948, o produto era, por excelência,

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de exportação do país, cuja cotação estabelecia-sefora de suas fronteiras, ou seja, no mercado deLondres. Atualmente Israel exporta 1/3 de suaprodução para a Comunidade Econômica Européia,atendendo a 16 % da demanda da Europa Ocidentalpor laranjas no inverno (a parte do "leão" dos cí-tricos israelenses), que se distribuem em 8 % dasimportações da CEE e 35% da "outra Europa".

Dos produtos exportados para a CEE, mais detrês quartas partes se destinaram à Alemanha Oci-dental e co Benelux, países que se haviam colocadona obrigação de conformar suas taxas tarifárias de

. acordo com a Tarifa Externa Comum (TEC). Comoantes da integração estas taxas eram, em ·geral,inferiores à TEC, "a taxa ponderada incidente sobreprodutos israelenses deve provavelmente aumentarnão apenas relativamente ÇlOS concorrentes intraCEE, mas também em termos cbsolutcs".> Aindaque o acordo recentemente celebrado possa terminorado o feito discriminador de tal medida, aposição de Israel como exportador de laranjas per-manece ameaçada pelos seguintes problemas adi-cionais:a) concorrência interna da Itália e da Grécia e depaíses que podem receber tratamento preferencial,como a Espanha e os países do Maghreb;14b) possibilidade de nova elevação das tarifas alfan-degárias e de fixação de quotas de importação econtingentes, acompanhadas de aumento do im-posto (nacionalmente estabelecido) sobre transaçãode mercadorias, em vista de razões diversas como,por exemplo, as da Alta Corte da Comunidade,que, em 15-7-1963 classificou laranjas como benssubstitutos e concorrentes de peras e maçãs, pro-duzidas internamente;c) modificação da política de preços e subsídios edo chamado imposto variável, cuja sistemáticatem-se baseado em "preços de referência" do pro-dutor interno - o imposto é tanto mais alto quantomais elevados forem o preço de referência e a ta-rifa incidente sobre o produto importado - impli-cando, no conjunto, restrições ao produto israe-

74 lense; ed) restrições de caráter aparentemente técnicocomo a proibição de certas embalagens, tratadasquimicamente e que reduzem em quase 10 vezes orisco do estrago do produto durante o transporte.

Assim, parece reduzir-se a médio e longo prazosa lucratividade das exportações de laranjas deIsrael. Em 1959, houve uma queda violenta nospreços dos cítricos em geral e a missão do BIRD,em seu relatório de 1.0 de maio de 1967, informavaque novo declínio já se fazia notar ao final de 1966.Além disso, os altos custos da água e mão-de-obratendem a diminuir a competitividade do produtoisraelense diante dos produtores da Europa eÁfrica do Norte, muito embora o país goze de ín-

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dices de produtividade agrícola extremamente ele-vados, graças à agricultura intensiva, com grandeaplicação de capital e tecnologiq moderna. O mer-cado tem, no entanto, apresentado uma excelenteperformance, verificando-se um excesso de deman-da sobre a oferta de laranjas na Europa Ocidentalque tem sustentado o seu preço. Quanto a toranjas(grape-fruit), o segundo maior cítrico de exportaçãode Israel, a tendência é, porém, efetivamente re-versa.

Com relação às demais exportações agrícolas,constituem-se basicamente de ovos, verduras efrutas off-season, comercializáveis sobretudo naEuropa, devido às diferenças climáticas e de soloentre este continente e Israel. A política protecio-nista e tributária da Comunidade Econômica Euro-péia, que se definiu na primeira metade da décadapassada, implicou aqui perdas consideráveis parao país. Tomando-se o caso dos ovos, por exemplo,as exportações de Israel para a CEE teve uma quedade mais de 50% em valor, entre 1961 e 1963.Nos anos posteriores persistiu o mesmo efeito deperda, já que as exportações totais de ovos do paíscaíram de um valor fob de US$ 12,2 milhões em1961 para US$ 3,8 milhões em 1966, com ligeirarecuperação em 1967 e nova queda em 1968 (paraUS$ 2,9 milhões) e 1969.15

Em conseqüência, podemos perceber que as ex-portações agrícolas têm diminuído, no conjunto,seu ritmo de crescimento, sobretudo se comparadasàs industriais. Seu aumento deu-se a uma taxamédia de 11% ao ano em 1963-66 e de 14,6%em 1967,4,1 % em 1968 e 5,4% em 1969, contra16%,19,7%,18,1 % e 14,9% das industriais nosmesmos períodos. 16

2.3 O DILEMA DAS EXPORTAÇOES INDUSTRIAIS

As exportações industriais representam hoje maisde 80 % do total de bens exportados e 46 % dasexportações totais. Para estas, com muito maisrazão - devido à necessidade de sustentar o plenoemprego na Europa -- há importantes restriçõesprotecionistas. Na CEE, Kreinin estimou o grau dediscriminação contra produtores de fora em metadedo da TEC, "para todos os produtos que têm con-correntes dentro da Comunidade. Isto. significa queos preços internos da Comunidade devem subir novalor da metade da Tarifa Externa Comum"."Se tais restrições não se aplicam aos diamantespolidos (35% das exportações totais de merca-dorias de Israel em 1967-1969), para os quais aTEC é zero, a indústria israelense está sendo pesa-damente atingida pela concorrência da URSS e daJndia, que usufruem de mão-de-obra muito maisbarata. Mesmo ressalvando-se- a melhor qualidadedas pedras israelenses, Israel está sendo virtualmen-

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te afastado do mercado pelos soviéticos e hindusque caminham para a disputa da primazia na colo-cação de diamantes de qualidade superior e inferior,respectivamente, a preços muito menores." O anode 1969 assistiu já a uma queda sensível na expan-são tanto da produção como da exportação dediamantes polidos. A taxa de crescimento das ex-portações caiu de 17% em 1967 e 18,8% em1968 para 10,6% em 1969.19

A concorrência nas exportações de diamantes ea permanência ainda de barreiras protecionistas naCEE, face à estrutura de produção de Israel,tendem a concentrar efeitos desfavoráveis sobre osprincipais produtos em que repousa o comércio ex-terior e a economia do país. Firmou-se, em decor-rência, o consenso da necessidade de abertura denovas linhas de exportação, tendo o governo apreocupação de incentivar a expansão de indústriasscience-based. O país dispõe de uma excelente do-tação de mão-de-obra altamente qualificada, comsalários em geral inferiores oo. padrão europeu, quepode ser utilizada com vantagens comparativas naprodução e prestação de serviços research andknow-how intensive ligados a produtos químicosmais sofisticados, aparelhos de precisão, equipa-mento eletrônico e impressão de livros.

O governo israelense, em cooperação com inte-resses particulares, fundações e governos estran-geiros, por meio da Technion Research andDevelopment Foundation - principal centro depesquisa aplicada em Israel - e de outras insti-tuições científicas, ligadas inclusive à rede univer-sitária, tem canalizado recursos e contribuído commetade das verbas empregadas na identificação eno financiamento da exploração industrial e co-merciai dos avanços tecnológicos. Há grandes ex-pectativas quanto ao aproveitamento crescente dosrecursos minerais do Neguev - sobretudo na áreaquímica (potassa e fosfatos) e petroquímica - nofomento das exportações. Até o final dos anos 60,porém, embora a pesquisa em determinados cam-pos estivesse em nível avançado, eram limitadosos progressos na tradução dos seus resultados emprodutos que pudessem ser exportados. As previ-sões para o período 1967-70 reportadas pelamissão do BIRD que visitou Israel no segundo se-mestre de 1966 informavam que a expansão dasexportações consistiria basicamente de aumentosno volume de produtos já constantes da pauta dopaís. "O progresso no estabelecimento de novasexportações, como equipamento médico eletrônico,remédios recentes e equipamentos ótico e de labo-ratório está previsto, mas no conjunto estes 'novos'itens não contribuirão com mais de 10 a 15% doaumento total de US$ 400 milhões nas exportaçõesde manufaturas oficialmente previsto para os pró-ximos cinco anos". 20

As incertezas quanto à política protecionista daComunidade Econômica Européia têm, por sua vez,levado à contenção de investimentos privados do-mésticos e estrangeiros que se fariam nos setoresexportadores de possível expansão, inclusive indús-trias know-how intensive. Os efeitos adversos sobrea expansão das exportações completam-se aindacom o alto custo dos transportes sobre os preços ea capacidade competitiva dos produtos israelenses.

Isolado do meio geopolítico em que se insere,Israel comercia com países relativamente distantes,arcando com um elevado custo de transporte que,evidentemente, reduz a sua capacidade competi-tiva e o volume do seu comércio, com perdas sen-síveis para sua economia. O fechamento das fontesde matérias-primas e dos mercados naturais, queseriam os países árabes, traduz-se num encareci-mento de boa parte das importações de Israel (queseriam alternativamente adquiridas aos paísesvizinhos) e de uma parcela das suas exportações,pois que a expansão do mercado para estas (coma integração dos países árabes) permitiria a obten-ção de economias de escala e sobretudo a práticade exportações a um custo marginal mais baixo.Em acréscimo, ólgumas facilidades de transportepoderiam ser concedidas, baixando o custo do pro-duto israelense no mercado consumidor. Umaestimativa do diferencial nas condições atuais parao caso das laranjas é sugerida indiretamente porKreinin'21 para o ano de 1965: preço na Europaapós a tributação: US$ 102 por tonelada; preçono porto de embarque: US$ 50 por tonelada.

Delineio-se assim o quadro das dificuldades quese podem apresentar a Israel do lado do balançocomercial e principalmente das exportações, noinício da década de 70. Resta sempre, todavia, apossibilidade de reestruturação da economia, afortiori numa conjuntura de crise. Embora tal pos-sibilidade pareça remota, em vista dos interesseseconômicos e políticos em jogo que se cristalizarame tendem a resistir a mudanças ao longo do pro-cesso, a performance passada de Israel permitiumanter uma elevada taxa de crescimento das ex- 75portações de bens nos últimos anos (passaram deUS$ 351,8 milhões em 1964 para US$ 780,6 mi-lhões em 1970 - mais de 100%) que pode even-tualmente persistir.

Sugere-se que essa reestruturação se dê pela es-pecialização da economia israelense e sua transfor-mação de uma economia isolada e altamenteprotegida em um pequeno segmento do pólo,atualmente, talvez o mais dinâmico do mundo: aComunidade Econômica Européia. Sua integraçãonesta área da economia mundial implicaria neces-sariamente - por razões institucionais, inclusive- a abertura de Israel para o rompimento de suabarreira protecionista e liberação das importações. "c'

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A consideração é que a concorrência com os pro-dutos estrangeiros estimularia a redução dos custos,com ganhos na eficiência e racionalidade da produ-ção interna, inclusive em sua distribuição por se-tores. A especialização (têxteis, cítricos, químicos,serviços e produtos know-how intensive, etc.) emcertas linhas de produção seria uma conseqüêncianatural dentro da teoria tradicional das vantagenscomparativas, alcançando-se um equilíbrio em níveissuperiores de eficiência, harmonia e bem-estareconômico e social, no plano nacional e interna-cional.

!: evidente que tal fórmula, típica do pensamentoclássico e neoclássico, implica, em sua aplicaçãoconcreta ao caso de Israel, o sacrifício dos objetivosde independência a que se propõe o país. Tendouma importância insignificante - e, portanto,pouquíssimo poder de barganha - no comérciointernocionol.r" a proposta de integração na eco-nomia mundial por meio de ajustamento ao seunível de preços, feita até por economistas israelensescomo David Horowitz, diretor, há vários anos, doBanco de Israel, passa por cima da estrutura polí-tica e de decisões em que se constitui hoje aeconomia mundial. Essa estrutura é adversa aospequenos países com uma linha de produção expor-tável não muito diversificada, e é por isto que Israelpode transformar-se em um segmento mais eficientedessa estrutura - porém, de forma ainda maisdependente, tanto mais que uma série de indústriasnão econômicas mas, em princípio, necessárias àauto-suficiência do país enquanto objetivo, fecha-riam suas portas. Kreinin situou bem o problema,ao afirmar que "em troca destes ganhos (de asso-ciação com a CEE - RJM), Israel teria que abrirmão, em grande medida, da autonomia na con-dução de seu próprio destino econômico. Mas, ajulgar pelo vigor e intensidade com que o governopersegue sua política relativa à CEE, é justo crerque está disposto a pagar tal 'preço'.">'

2.4 O BALANÇO DOS SERViÇOS E O AFLUXO76 DE CAPITAIS EXTERNOS

Resta ainda uma avaliação do balanço dos "invi-síveis" (serviços). Aqui dois fatores são contadoscomo fontes de divisas para Israel: a crescente ex-pansão do turismo e dos seus serviços de transporte.O primeiro, que crescera à pequena taxa de3 %ao ano em 1963-66, chegando a uma renda dequase US$ 60 milhões em 1966, tomou grandeimpulso com a ocupação dos lugares santos dacristandade em junho de 1967, atingindo US$ 95milhões em 1968, com uma pequena queda paraUS$ 90 milhões em 1969. Em 1968, o número deturistas que visitou Israel foi 47 % superior ao de1967 e 32% ao de 1966, embora caísse 5,3%

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em 1969. Tal tendência favorável deverá manter-senos próximos anos. O mesmo sucederá com os ser-viços de transportes, dada a grande expansão inter-nacional da rede de navegação aérea (EL AL IsraelAirlines) e marítima (Zim Israel Navigation Co.,Maritime Fruit Carriers, EI-Ycrn), com aumento donúmero de modernos aviões e navios que carreiam,inclusive, importante parcela de seus rendimentospor meio de serviços e ligações não necessariamenterelacionados a Israel.

No todo, o balanço de serviços é, porém, defici-tário e tende a sê-lo cada vez mais: no período1963-66, o deficit médio anual foi de perto deUS$ 125 milhões, ascendendo a partir daí (US$ 188milhões em 1966, US$ 392 em 1967, US$ 379em 1968 e US$ 488 em 1969). Atualmente cercade 80% é atribuível ao governo por conta de pa-gamento líquido de juros e dividendos e dispêndiocom serviços diretos. O item renda de capital é oque mais pesa, tendo variado entre 1958 e 1963de 30 a 35% do deficit no balanço de invisíveis ede 10 a 13% do deficit total de bens e serviços."

Considerando-se que a) tanto o balanço de in-visíveis, b) o de bens e serviços, c) como o detransações correntes são deficitários, cabe aqui umaressalva: conquanto o pagamento da dívida externa(constante de a, b e c), os donativos e transferên-cias unilaterais <Constantes de c) e os capitais es-trangeiros de empréstimos, financiamentos e inves-timentos ocupem funções distintas na estrutura dobalanço de pagamentos, devem ser vistos, paraefeito desta análise, num todo e interligados. Estecaminho é o mais adequado para a compreensãogeral do quadro de dependência externa em queIsrael se insere (ver quadros 1 e 2).

O excesso de importações de bens e serviços(quadro 3), presente em toda a evolução do estadode Israel - e que continua em crescimento abso-luto - foi financiado por grandes influxos decapital do exterior. Desde 1948, estes totalizarammais de US$ 10 bilhões, dos quais as transferênciasunilaterais formaram cerca de 70%, constituindo-seo restante em empréstimos de curto e longo prazos einvestimentos. "Ao longo de todo o período, doisterços da importação de capitais financiaram o ex-cedente de importações; o outro terço destinou-se apagar empréstimos e acumular saldos em divisas". ~6

Este vultoso afluxo de capitais do exterior per-mitiu a Israel dedicar uma porcentagem em tornode 25% de seus recursos ao investimento. (A cifracorreta de participação das poupanças domésticasno investimento bruto nos últimos anos oscilouentre 40 e 50 % .) Tem-se perguntado o que ocorrerácom a economia se este afluxo se esgotar, comoparecia ser pelo menos a tendência a médio prazodas transferências unilaterais às vésperas da guerrade junho de 1967. As implicações na situação in-

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terna serão vistas mais adiante; do ponto de vistado balanço de pagamentos, as remessas unilateraispessoais e de instituições (fundamentalmente dosEstados Unidos) como a United Jewish Appeal,tendem a manter-se ao nível do dobro do de antesde 1967, enquanto perdurarem as tensões noOriente Médio e apesar da tendência reversa dastransferências de imigrantes; as remessas de repa-rações da Alemanha Ocidental praticamente che-garam ao término em 1965 e as de restituiçõespessoais daquele país tendem também a reduzir-se,na medida "do envelhecimento dos cidadãos bene-ficiados. Para as autoridades israelenses aqueleprimeiro tipo de remessas é preferível aos emprés-timos e financiamentos, primeiro porque mantêmo vínculo de solidariedade e apoio político dosjudeus da Diáspora e sobretudo porque permite queo crescimento futuro do país dependa de outrasfontes que não os empréstimos do estrangeiro,indesejáveis porque comprometem o objetivo deindependência do país e pela pressão que o seureembolso excerce sobre o balanço de pagamentos.

O deficit mencionado anteriormente, em a, b ec tende a transformar-se, pelo endividamento ex-terno do país, no círculo vicioso de um deficitainda maior. Este leva um conteúdo político implí-cito: em tempo de paz, as contribuições e remessasdo exterior vinham-se fazendo menos generosas,obrigando o governo a apelar para empréstimos (doEXIMBANK e do governo norte-americano, doBIRD, etc.): em período de hostilidades, ainda quenão de guerra aberta, as necessidades de defesaforçam um endividamento semelhante, senãomolor;" t: evidente que este é apenas um dos fa-tores causativos do endividamento, sendo que sedeve levar basicamente em conta a necessidade derecursos para dispêndio pelo Estado com a absorçãode imigrantes - sobretudo nos primeiros anos daindependência - e com a implantação e consoli-dação da lnfro-estruturo econômica que prossegueainda hoje. Nos anos 1953-54, a participação doinvestimento público no investimento total chegoua 75%. Na última década, manteve-se em tornode 40%, mas o controle indireto atinge uma pro-porção muito maior.

A respeito, assim "se referiu a missão do BIRD:"Em 1965, os investimentos diretos e os emprés-timos líquidos do setor público somaram 1:1 1,2bilhões, cerca de 1/4 da despesa total. Três quartosdo financiamento destes fundos provieram de dona-tivos e empréstimos do estrangeiro, estabelecendo-seo equilíbrio pelo saldo em conta corrente do go-verno e por empréstimos internos. A parcela dofinanciamento estrangeiro não se alterou signifi-cantemente nos últimos cinco anos, mas houve umdeclínio - de mais ou menos 50% - ~a partici-pação dos donativos estrangeiros. Isto se refletiu

numa firme elevação no serviço das obrigações pú-blicas no período para cerca de 15,5% do dis-pêndio total do setor público em 1965."28

Desta maneira, explica-se porque a dívida pú-blica externa pendente do país subiu de US$ 950milhões no final de 1964 para US$ 1.050 milhõesem setembro de 1966 e saltou para US$ 2.210 mi-lhões, ao findar-se 1969. Somente 5% desta dívidacorresponde a empréstimos de curto prazo. As au-toridades consideram que os juros são baixos eque o resgate da dívida, dada a natureza dos em-préstimos, continuará por muitos anos. Contudo, éum ônus cada vez mais pesado sobre o balanço depagamentos: em 1968, mais de US$ 295 milhõesforam pagos de principal e US$ 60 milhões dejuros, quando o quadro da dívida elaborado em30-9-1966 estimava para 1968 o pagamento desomente US$ 74 milhões de principal e US$ 26 mi-lhões de [uros." Como as importações se distri-buíram em US$ 797 milhões de serviços e US$ ..1.027 milhões de bens (contra US$ 1.128 milhõesde exportações totais), a fórmula do círculo viciosopode ser resumida na expressão mais simples de"empréstimos para pagar empréstimos".

As autoridades israelenses confiam nas reservasde divisas acumuladas durante anos pelo excedentede entrada de capitais autônomos líquidos sobre odeficit do balanço de transações correntes. Estessomavam US$ 916 milhões em 31-12-1968, apósuma queda naquele ano de US$ 52 milhões; em1969, ter-se-ia verificado uma queda próxima deUS$ 170 milhões. "Nos últimos anos, as reservasem divisas foram suficientes para financiar as im-portações de bens durante sete meses. "ao

Finalmente, cabe analisar, dentro do item maior"capitais autônomos líquidos", o papel dos inves-timentos estrangeiros. A lei de Encorajamento dosInvestimentos de Capitais, cuja última emendaocorreu em 1967, concede substanciais facilidadese privilégios a investidores forâneos e locais desdeque se submetam aos critérios e à orientação daAutoridade de Investimentos do Estado de Israel.As concessões incluem subvenções de 20 a 7733 1/3 % do investimento em maquinaria e equi-pamento e de 10 a 20% do investimento em cons-truções e benfeitorias <Com prioridade para oNeguev e o Norte); isenções de impostos de rendae predial; abatimentos para depreciação mais gene-rosos; isenções de taxas alfandegárias e do impostode consumo sobre o equipamento adquirido; liber-dade de remessa total dos lucros pcrco exterior nadivisa em que foi feito o investimento; financiamen-to e assistência técnica do governo, etc.

O investimento total em projetos aprovados soba lei (47% em empreendimentos industriais, 24%em turismo, 13% em navios, em 1969) duplicouentre 1966 e 1969, alcançando neste último ano

o caso ele Israel

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J .075 milhões de libras israelenses. Deste total, aparticipação dos investimentos em moeda estran-geira esteve em torno de US$ 70, US$ 30, US$ 80e US$ 100 milhões nos quatro anos do período,respectivamente. Em termos líquidos, no entanto,o elevado peso das amortizações tem pressionadopara baixo o afluxo de capitais (ver quadro 2).Ademais, toda a abertura a investimentos estran-geiros - conforme enfatizada pelas autoridadesde Israel - pressupõe a existência em algummomento de pressões sobre o balanço de paga-mentos sob a forma de renda de capitais (lucros edividendos remetidos à matriz), pagamento deroyalties, superfaturamento de equipamentos im-portados, etc., além, naturalmente, das importa-ções de equipamentos e matérias-primas. Esta temsido pelo menos a experiência dos países latino-americanos. J:: ainda cedo para avaliar com pre-cisão o impacto destes investimentos na economiaisraelense e sua evolução futura sob à relativamentenova orientação para exportações."

2.5 A DEPEND~NCIA CRESCENTE DO EXTERIORE SUA CONTRAPARTIDA

78

Fica assim exposto o quadro de dificuldades comque se defronta Israel em seu balanço de paga-mentos. De uma more ira geral, parece-nos que taisdificuldades irão evoluir nos próximos anos na di-reção de uma crescente dependência externa, tantopelo lado da estrutura do seu comérciointernacio-nal, como do financiamento deste comércio. Oscentros de decisão mais importantes para a eco-ncmia do país estão, pelo ângulo do balanço depagamentos, localizados fora do país. J:: interessan-te, a propósito, lembrar as observações do conhecidohistoriador de origem judaica Isaac Deutschernuma das primeiras entrevistas logo após, e a pro-pósito, da guerra de junho de 1967: "Israel, naverdcde, tem vivido bem acima da capacidade dosseus recursos. Durante muitos anos, cerco da me-tade dos alimentos necessários' aos israelenses eraimportada do Ocidente. Como a AdministraçãoAmericana isenta de impostos os rendimentos elucros assinalados como doações a Israel, Wash-ington tem. nas mãos os cofres dos quais dependea economia israelense. Washington pocieria, aqualquer momento, golpear Israel, suprimindo essaisenção de impostos (mesmo que isto significassea perda dos votos judeus nas eleições). A ameaçade tal sanção, nunca manifesta mas sempre pre-sente e ocasionalmente sugerida, tem sido suficientepara alinhar firmemente a política americana.

"Anos atrás, quando visitei Israel, um alto fun-cionário israelense enumerou-me as indústrias quenão poderiam ser construídas por causa de objeçõesamericanas - entre elas, usinas siderúrgicas e

Revista de Administração de Empresas

Quadro 4Coeficientes de importação na produção de Israel 1

!computados a preços de 1962)

1958 1963

Cultura de cereaisCriação de animaisFrutas cítricasOutros produtos agrícolasMineração e pedreirasCarne, peixe e derivados de leite eoleaginososOutros produtos alimentíciosTêxteis e vestuárioMadeira e carpintariaPapel e mater ial gráficoCouro e calçadosBorracha e plásticos, pneusProdutos químicosRefino de óleoVidro, cerâmica e cimentoDiamantesMetais e tubulaçõesProdutos metalúrgicosMaquinaria e equipamento elétricoUtensílios e equipamento domésticoMaterial de transporteHabitação particular e públicoOutras construçõesEnergia elétricaÁguaTransportes internosNavegação aérea e marítimaOutros serviços de comunicaçãoServiçosComércio

0,1655 0,14570,3453 0,25690,1722 0,15260,1465 0,12630,1540 0,1533

0,30400,42620,24770,29430,23870,19010,55560,55340,72420,20470,80210,49470,35880,31300,34350,35770,13910,15930,35270,19480,11410,61670,07480,20810,0477

0,23430,35640,22130,23750,21970,23810,48130,45420,72230,16160,81110,36550,28870,28400,30730,30790,120'<:0,17250,27190,17570,11260,53700,07070,28260,0556

1 Inclui O componente de importação indireto.Fonte. International Bank for Reconstruction and Development & Inrer-national Development Associotion. Current economu: posltion and prosooecrs 01 Israel Relatório de 17 de março de 1965.

fábricas produtoras de máquinas agrícolas. Poroutro lado, havia uma série de indústrias virtuol-mente inúteis, produzindo quantidades fantásticasde utensílios domésticos, plásticos, brinquedos, etc.Nenhuma administração israelense poderia consi-derar-se livre para encarar seriamente a necessi-dade vital de Israel estabelecer, a longo prazo,laços comerciais e econômicos íntimos com seusvizinhos árabes, ou intensificar as relações eco-nômicas com a URSS e a Europa Orlentol".>

Não podemos negar o conteúdo de verdadedestas frases de Deutscher. Elas são também lem-bradas, num estudo mais técnico, do israelenseNadav Halevi,33 da Universidade de Jerusalém,Outras obras há que se detêm com maior riquezade detalhes das formas por que tal dependênciase manifesta; veja-se, por exemplo, Corm e

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Weinstock.34 Para o presente trabalho, é suficienteretermos a essência do mecanismo, ressalvandoainda apenas o padrão comum aos países subde-senvolvidos da influência dos interesses de inves-tidores privados estrangeiros nos rumos econômicose políticos dos países que os recebem.

Como sucede nos países latino-americanos, a

transferência dos centros de decisão tende a ser tan-to maior em Israel quanto maior a participação ex-terna na economia. Logo após junho de 1967, reali-zou-se em Israel uma conferência com mais de 50importantes homens de negócios de todo o mundo (achamada Conferência dos Bilionários Judeus) que,em debate com as autoridades do país, destacaram

Quadro 5

Componente de importações da demanda final

(em milhões de libras israelenses aos preços de 19631

I 1958 1959 1960 1961 1962 I 1963 1964

Consumo privado 3.224 3.533 3.833 4.216 4.701 5.807 5.780

Componente de importação (em %1 20,6 20,8 21,3 22,0 21,3 20,8 21,1

Consumo público 1.085 1.142 1.267 1.492 1.652 1.802 1.940

Componente de importação (em %1 23,3 24,0 22,4 29,1 32,3 29,2 28,1

Investimento bruto 1.470 1.607 1.659 1.958 2.222 2.287 2.763

Componente de importação (em %1 34,2 29,4 34,6 34,8 32,3 31,7 33,0

Exportações 668 877 1.111 1.305 1.551 1.812 1.902

Componente de importação (em %1 39,1 39,7 36,4 42,8 45,8 42,1 44,3

Demanda final total 6.447 7.159 7.870 8.971 10.186 11.108 12.385

Componente de importação (em %1 26,1 25,5 26,4 29,0 29,3 27,9 28,4

Fonte: Banco de Israel, citado por International Bank for Reconstruction and Development & International Development Association. Current economic

oos.no» ond prospecrs of Israel Relatório de 1." de maio de 1967.

os principais fatores que, a seu ver, constituíamobstáculo à recuperação econômica, após a reces-são de dois anos e a guerra. Segundo o Time de12-4-1968, esses fatores consistiam no comprome-timento das exportações com elevados impostos, nagrande margem de intervenção do Estado na vidaeconômica e na existência de uma mão-de-obraindisciplinada, cuja central sindical - a Histadrut- controlava 24% da produção total (atualmentesua participação está em declínio), além da pro-priedade, pelo governo, de setores-chave como aaviação e as atividades mineiras. Um ano depois,na Conferência Econômica de Jerusalém, à qualcompareceram, conforme a citada revista, mais de450 líderes empresariais e das finanças, comotambém economistas de 29 países, foi asseguradopelo Ministro Sapir, das Finanças, que o investi-mento estrangeiro era bem-vindo. Ao mesmo tempoem que os participantes decidiam criar uma socie-dade de investimentos com capital de 100 milhõesde dólares - a Israel Finance Corporation, cujopapel é notadamente o de subscrever ações de em-presas israelenses - e contratavam acordos degarantia de mercados no montante de 300 milhõesde dólares, notadamente na África do Sul, o Mi-nistro anunciava a concessão de incentivos comotox breoks, assistência na fusão de empresas e cré-dito para aquisição de apartamentos por empresá-rios estrangeiros, medidas que acompanharam a

colocação à venda de quatro bancos de propriedadedo Estado e a cessão da parte do Estado em grandesempresas como a Refinaria de Haifa e a companhianacional de energia elétrica, juntamente com ocongelamento dos salários por dois anos e a adoçãode uma legislação altamente restritiva do direito degreve, Passa-se assim a penalizar a economia dapopulação e do Estado em benefício de grupos es-trangeiros (cujo poder econômico e de influêncianas decisões do país aumenta) pela própria ajudaque estes grupos se dispõem a dar.e crescimento artificial, no sentido de que é cada

vez mais dependente do exterior, parece ter sidoportanto o caminho escolhido por Israel para ospróximos anos. Se isto conflita com seus objetivos 79como país, não parece ser problema, a julgar pelaspalavras de um importante membro de sua admi-nistração econômica: "Israel não alcançou ainda aindependência econômica e não 11 alcançará a nãoser por sua integração na economia mundial e peloajustamento aos níveis internacionais de preços.Isto, por sua vez, pode ser conseguido, inter alia,pela contenção da expansão monetária, e desen-volvimento da capacidade produtiva não renderá oefeito desejado sem um aumento correspondentena capacidade competitiva e sem restrição do con-sumo: e a pré-condição é a restrição dos níveis derenda e da expansão monetóríc"."

o caso de Israel

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3. Comércio internacional, investimentosestrangeiros e oriente médio: as dificuldadesde Israel pela ótica políticaUm segundo impasse com que se defronta o eco-nomia israelense está no crescente interesse co-merciai e empresorial no Oriente Médir:i árabe porparte dos países que trndiclonolrnente transaciona-ram com Israel e sues- atitudes diante do boicoteque as nações árabes impõem r1 essas transações.Esta questão poderia ser vista no item anterior, masconsideramos que sua evolução não se prende tantoà possibilidade de ação sobre os itens do balançode pagamentos quanto a decisões políticas.

Desde 1955 e ainda mais rigorosamente a partirde junho de 1967, os países árabes têm aplicadoum boicote às companhias estrangeiras que man-tenham subsidiárias em Israel, permitam o uso donome de seus produtos comerciais, firmem acordosde longo prazo com relação a direitos de fabricaçãoou assistência técnica ou que possuam navios quedesembarquem carga em portos isrcelenses. Em-bora a eficiênçja de tal boicote não seja total -em parte, pelas próprias necessidades dos paísesárabes de transacionarem com firmas que ocupamposição mono ou oligopólica no mercado mundial;em parte, devido a uma rede de intermediários eempresas semifictícias habilmente montadas parafacilitar o comércio com Israel - é evidente queele tende a ser adverso para os israelenses. O po-tencial de pressão dos países árabes pode ser me-dido, por exemplo, pelo fato de que as importaçõescif procedentes do Oriente Médio de bens do ReinoUnido e da França, entre 1964 e 1967 foràm pelomenos o dobro das suas exportações fob paraaquela região (Israel e Argélia, inclusive) e se cons-tituíram fundamentalmente de petróleo, que évital para o suprimento da Europa. I:: bem verdadeque as importações que a Inglaterra e a Françafizeram (sem se computar entre as da França, asprovenientes da Argélia) dos países árabes foramem média mais de 10 vezes superiores às de Israel,

80 enquanto as exportações o foram em apenas poucomais de 'duos vezes. 36 Todavia, conforme artigo re-cente, publicado em The Economist:"

"Muitascompanhias dificilmente poderiam com-bater o boicote. O total das compras árabes vaialém de US$ 5,5 bilhões anuais. As compras deIsrael no exterior estão por volta de US$ 1,3 bilhões.Nenhuma companhia petrolífera internacional searriscaria a manter uma ligação aberta com Israel.Contudo, para o comércio que visa ao consumidor,a escolha é difícil de se fazer, porque os mercadosisraelenses, mais compactos e mais ricos, são fre-qüentemente mais lucrativos e dignos de confiançaque os dos países ~árabes, que estão muito maisespalhados."

Revista de Administração de Empresas

"Como resultado, cresceu rapidamente o comér-cio com Israel, mas há pouco incentivo para subs-tituir a exportação direta pela fabricação local.A Inglaterra é agora - depois dos EUA - o se-gundo maior associado comercial de Israel, comvendas anuais superiores a :E 100 milhões. Dessaforma, Israel representa para os produtos inglesesum mercado muito maior do que qualquer outrona África negra ou na América Latina. No entanto,o investimento inglês é ínfimo: menos de :E1 milhãoonuol. Assim mesmo, ainda é maior que o daFrança ou da Alemanha Ocidental."

Supondo-se a manutenção do atual clima dehostilidades e boicotes no Oriente Médio, a questãose resolverá politicamente, de acordo com o poderde barganha de árabes e israelenses, com a suacapacidade de agir por - intermédio de grupos depressão (/obbies) junto às esferas de poder das prin-cipais potências ocidentais e com os interesses polí-ticos dessas potências. O poder de influência dasgrandes companhias internacionais (sobretudo aspetrolíferas) e a concorrência das principais empre-sas do mercado produtor mundial pelo crescimentodo 'mercado consumidor em função da elevação donível de vida dos países árabes e/ou de Israel com-pletam o peso da balança. A julgar-se pelo Japão,este parece inclinar-se a favor dos primeiros. Se-gundo O artigo citado, após a "guerra de 1967, oJapão passou a controlar 16% do mercado auto-mobilístico do mundo árabe e exporta agora a fa-bulosa cifra de US$ 600 milhões anuais para ospaíses árabes, em comparação com US$ 18 milhõespara Israél".

O exemplo pode ser seguido, com o sufocamentogradativo da economia israelense.

4. Economia de guerra: uma solução desacrifícios

Alimentada pelo grande afluxo de capitais do ex-terior, a economia israelense desenvolveu-se emmoldes distorcidos: a renda pessoal foi em certosanos superior à renda nocíoncl= e os recursostransferidos oos indivíduos- acarretaram constantepressão sobre a capacidade produtiva, com con-tínuas ondas inflacionárias; a conversão das trans-ferências em divisas para moeda nacional, por suavez, estimulava ainda mais a expansão dos meiosde pagamento e, consequentemente, a alta dospreços. Mais relevante, porém, foi "a extensão emque a disponibilidade de influxos de capital redu-ziram o nível da poupança doméstica. Michaelysugeriu que o influx~ de capital, dirigindo-se prin-cipalmente para o setor público, tornou possíveisempréstimos a baixo custo às firmas, diminuindosua necessidode de prover seu próprio capital e,portanto, a poupança das ernpresos"." Estudos do

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Banco de Israel sobre a estrutura financeira dascompanhias industriais confirmam tal hipótese.Nadav Halevi chegou a aventar uma outra, aindamais radical: lias poupanças domésticas eram zeroou negativas porque a economia não as necessitavapara financiar o irwestimerrto'L'"

Nestas condições, uma redução do influxo decapitais do exterior tende necessariamente a levara economia a uma redução na formação líquida decapital (tanto mais que a parcela provisionada paradepreciação absorveu historicamente frações cadavez maiores do montante de investimento interno_ ver quadro 3), pelo menos num certo período,até que a aconomio supere a defasagem de tempode adaptação para geração interna das poupançasnecessárias à manutenção do ritmo de desenvol-vimento.

A partir de 1965, a ajuda externa a Israel co-meçou a declinar para níveis bastante assustadores(ver quadro 2). Ao mesmo tempo, o governo adotouuma política de relativa restrição de despesas, viaorçamento nacional, na suposição de que seriamminoradas as principais dificuldades financeirascom o custo apenas de uma moderação do ritmo decrescimento do PNB para 7-8%. Por outro lado, aprodução começou a encontrar problemas sériosde escoamento, dada a exigüidade do mercado locale as barreiras antepostas pela Comunidade Eco-nômica Européia. Finalmente, com o afunilamentoda imiçroçõo," iniciou-se uma crise de demanda nosetor habitacional que se alastrou em dois anospara toda a produçõo." Acionada a crise, "segundoo mais recente relatório do Banco de Israel, o pro-duto nacional per capita diminuiu em 2% em 1966,os investimentos em 18%, os depósitos em divisasdos bancos reduziram-se em 23 milhões de dólares;os estoques aumentaram em 30 %, o consumo debens duráveis diminuiu em 17%, etc. O desempregoelevou-se a quase 10% da população ativa".43

A natureza da economia israelense expressa suasuscetibilidade a crises semelhantes. Todavia, a ex-periência de 1966-68 indica que as possibilidadesde seu sufocamento podem ser parcialmente con-tornadas com o afluxo ainda maior de remessasde capitais do exterior, no caso de uma ameaçaexterna ao país, efetiva ou aparente. Naquele pe-ríodo, internamente, o país viveu meses dramáticos;externamente, a evolução da tensão internacionalno Oriente Médio nos primeiros meses de 1967 éconhecida por todos. "Em maio-junho desse ano,as contribuições recolhidas (junto às diversas co-munidades judaicas do mundo - RJM) elevaram-sea 500 milhões de dólares, tanto quanto no cursodo ano anterior. Ao todo, o estado de Israel recebeuem 1967 sob diversas formas (donativos, venda debônus ·de apoio, reparações e empréstimos) a ga-

lante soma de 850 milhões de dólares. " Isto per-mitiu ao Estado Sionista financiar um volumosoorçamento militar, cobrir o deficit de seu balançode pagamentos, recuperando, com uma mestria eseriedade que suscitaram a admiração geral, umaeconomia que parecia perder o fôleqo.":"

A ameaça externa acabou, portanto, revertendoem benefício da economia israelense e em seu for-talecimento. De uma taxa de crescimento do PNBinferior a 2% em 1966 e 1967, a economia alcan-çou 14% em 1968 e 12% - 9,5% per capita-em 1969 (segundo estimativas ainda preliminares).Em 1968, a produção industrial aumentou 30 %e a formação de capital 45 %. J6 em 1969, osmaiores aumentos foram na construção (25%) ena produção industrial (16 % ). Houve aumentos de"60% na produção de equipamentos elétricos eeletrônicos, de 30% na de material de transporte,produtos metalúrgicos e borracha e plásticos e decerca de 20% nos setores de metalurgia básica,produtos de madeira e metalo-mecânica e de ma-quinaria - embora o emprego industrial tenhacrescido de 11,4% somente .. , A demanda totalpara consumo e investimento aumentou 14%, 2%a mais que o aumento no PNB, tendo a diferençasido satisfeita por um aumento do excedente deimportações, equivalente a 17,5% da demandalocal em 1969 e 16% em 1968".45

Com o ônus pesadíssimo das despesas de defesa_ que absorveram 12% do PNB em 1967, 18%em 1968 e cerca de 25% em 1969411

- mesmolevando-se em conta a ajuda acrescida dos judeusda Dlósporo," é evidente que uma tão surpreen-dente recuperação só pôde ocorrer por alguma mu-·dança na direção da, economia do país, capaz derealizar a previsão de crescimento de 9 % a.a. noperíodo 1968-74 .. Um exame menos superficial dosprincipais setores industriais que dinamizaram arecuperação econômica fornece-nos uma medidadesta reorientação: Israel transforma-se numa eco-nomia de guerra. Internamente, a superação dacrise teve seu elemento motor na produçãode armamentos. O embargo francês e a re-serva dos fornecedores internacionais, uma pro- 81blemática cujo quadro foi sugerido no item anterior,bem como as necessidades de reequipamento emanutenção permanentes aceleraram o processo dediversificação das fontes supridoras e um impulsosem precedentes das chamadas indústrias de guerra.Todo o equipamento, inclusive armas, necessárioà força aérea de Israel, à sua artilharia e uni-dades blindadas é hoje fabricado lnterncmente.""As usinas que trabalham para as forças armadasreceberam 90 % de participações do governo noinvestimento sob a forma de empréstimos a jurosbaixos e de garantias para as futuras encomen-das. "40

o caso de Israel

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Historicamente, a conversão para uma economiade guerra nunca se fez sem o sacrifício de umaparcela da população. 50 Além da óbvia arregimen-tação para as fileiras de combate dos que corres-pondem à base da pirâmide social, isto é, trabalha-dores rurais e urbanos e das medidas já citadasanteriormente, entraram em vigor em julho de 1967o prolongamento do serviço militar (que contém ataxa de desemprego), o acréscimo da jornada detrabalho e a supressão do reajustamento dos sa-lários segundo o custo de vida. 51 Para cobrir osgastos destinados à defesa entrou em vigor umTributo de Defesa especial, inicialmente de 10%do imposto de renda e mais tarde de 15%, acom-panhado de empréstimos compulsórios. "Em agostode 1970, as despesas com defesa tornaram neces-sário um empréstimo no exterior no valor aproxi-mado de ti 760 milhões; ao mesmo tempo, garan-tiu-se o resgate de ti 415 ~ilhões por meio deum aumento dos impostos indiretos e de corte nossubsídios, porém as famílias de escasso rendimentosão compenscdos.v=

Em 1970, tentou-se chegar a um chamado"acordo global", subscrito pelo governo e a centralsindical, bem como pelos empregadores, com aintenção declarada de estabilizar a economia. "Ossalários, congelados desde 1966, foram aumenta-dos somente em 8%, a metade dos quais foi paga'com bônus governamentais. O governo, por suaparte, comprometeu-se a não aumentar os impostos,salvo no caso de alguns artigos de luxo; no entanto,as contribuições ao Instituto Nacional de Seguroseriam maiores e implantar-se-ia um empréstimode defesa obrigatório".53 A regressividade de taismedidas torna-se mais gritante quando comparadaàs focilidades que se conferem aos investidores es-trangeiros, exportadores e fabricantes de crmo-'mentos.

Desta maneira, a meta de 'uma sociedade demo-crática e aberta parece estar sendo abandonadaem Israel pelos próprios impasses a que a economiafoi conduzida. A opção por uma economia de

82 guerra é efetivamente um dos mais graves destesimpasses devido às suas repercussões internacio-nais e pela contradição que gera internamente,capaz de, a longo prazo, contestar a própria viabi-bilidade do Estado Sionista. Isto porque um dos seusobjetivos é teoricamente a garantia de paz e esta-bilidade para os judeus de todo o mundo, com umadistribuição de renda tão igualitária quanto possível.A quota de sacrifício imposta à população traba-lhadora tende a minar este objetivo, que por suavez é inviável a não ser num clima de paz externa.(A imigração, por seu lado, detém-se diante dasdificuldades econômicas e políticas do país, con-forme se infe.re das cifras dos últimos três anosrelativas a movimentos migratórios de pessoas de

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origem judaica em todo o mundo.) E a manutençãodo "estado de espírito de guerra" é necessária paraa sobrevivência do país como ele se apresenta hoje,com suas relações e antagonismos internacionais,com seus graves problemas internos e com a suadependência de remessas de capitais do exterior.

5. Competitividade internacional, conten-ção do consumo e desigualdade na distribui-ção de rendas

Ao mesmo tempo em que diminuem em Israel a taxade natalidade da população judaica e a imigração,o país continua carecendo de uma base demográ-fica mais ampla para atingir, pelo aumento domercado, um tamanho técnico e econômico mínimoque permita aos empreendimentos básicos instala-rem-se e operarem com econdmias de escala. Comisso, a pressão exercida pela demanda global, nãosatisfeita pela produção interna, canaliza-se paraimportações, criando maiores dificuldodes ao ba-lanço de pagamentos. No momento em que oseconomistas israelenses consideram como funda-mentai a redução no deficit das transações com oexterior, decidem imediatamente pelo aumento dasexportações que devem ser tornadas menos carase, portanto, mais competitivas e pela diminuiçãoda taxa de crescimento do consumo. Como o con-sumo público é incompressível, dadas as despesascom defesa, imigração, provimento de habitação efacilidades de emprego para imigrantes e expansãodos serviços sociais, é sobre o consumo privado querecai a parcela fundamental dessa diminuição.Os instrumentos para efetivá-Ia têm sido os tradi-cionais em política monetária e fiscal, aliada maisrecentemente à contenção dos salários.

Apesar da estrutura progressiva dos impostos di-retos (que contribuem agora com 50 % de toda areceita >tributária), a política adotada parece re-verter numa transferência de renda dos consumi-dores para os produtores e exportadores, Na medidaem que os recursos governamentais escasseiam, assubvenções e isenções de impostos para investidorese os subsídios à exportação canalizam esses recur-sos para fins que não beneficiam diretamente agrande maioria dos consumidores. Já nos referimosa subsídios que implicavam maiores preços internospara o consumidor. Constituem outros subsídios"o estabelecimento de fundos de exportação, par-cialmente financiados pelo orçamento do governo,com a finalidade de prover crédito às indústriasexport-oriented; e os subsídios às exportações pormeio de fundos de igualização financiados por im-postos incidentes sobre mercadorias comercializadasem Israel e a taxas de juros mais baixas aplicadasa créditos para exportação. Em 1966, novos subsí-dios foram acrescentados, variando entre 3,5 e

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8,5% de acordo com o valor adicionado do bemexportado". 54

O regime tributário de Israel não impede efetiva-mente que cresça no país a desigualdade na distri-buição de rendas. Horowitz em seu estudo já haviaindicado, antes mesmo das grandes medidas depolítica favoráveis aos industriais exportadores efabricantes de armamento, nacionais ou estrangei-ros, o enfraquecimento das tendências igualitáriaspelo surgimento de grupos que se enriqueceramcom a inflação, a especulação imobiliária e a im-portação de capitais e a possibilidade de o mesmoocorrer com os profissionais de educação superior ede maior qualificação técnica nos principais centrosurbanos. 55 Mais adiante, cita uma pesquisa deGiora Hanoch, baseada em orçamentos familiares,em que os três decis inferiores por grupo de rendada população israelense detinham 20,6% da rendadisponível do país em agosto de 1950; os três decissuperiores, 41,9%. Em 1956/57, a relação haviaevoluído para os três decis inferiores detendo17,4% e os superiores 44,8%. Atualmente, con-sidera-se que, na distribuição da renda nacional,os 10% da população, que correspondem à baseda pirâmide, percebem menos de 2% desta renda,ao passo que na outra extremidade, os 10% su-periores detêm 25 % .56 Acresça-se a isto o fato deque a desigualdade na distribuição de rendasjustapõe-se à desigualdade na distribuição de opor-tunidades entre os judeus de origem ocidental, deníveis de instrução mais elevados, e os de origemoriental e árabes residentes em Israel.

A economia israelenses define-se assim por umcapitalismo puro, com a plena assunção dos riscossociais que o regime impõe nas condições própriasdo país. Tais riscos já se traduzem em manifesta-ções concretas de descontentamento da parte dossetores mais penalizados da população: greves su-cessívos," surgimento de grupos organizados deprotesto e reivindicação, conflitos de rua entrepoliciais e manifestantes, etc. Em que momento, oabandono da meta igualitária se constituirá numimpasse efetivo ao desenvolvimento econômico e àpaz social no correr desta década? Cremos queainda é cedo para se responder a esta pergunta.A ameaça externa tem mantido o país sem con-flitos internos de maior amplitude, mas a crescenteinsatisfação potencial é evidente, e pode-se per-guntar até quando ela não assumirá proporçõesainda maiores e decisivas.

6. ConclusõesAlgumas questões mais, concernentes às dificul-dades de crescimento da economia israelense nospróximos anos, poderiam ser levantadas; entre elas,a importância decrescente da ação do Estado navida econômica, que deve acompanhar a opção de

Israel pela sua transformação em seguimento, noOriente Médio, das economias industriais desenvol-vidas do Ocidente. Poderíamos perguntar até queponto não deixaria isto a economia do país ao saborde interesses internacionais e que transtornos daídecorreriam para a população e para a própria taxade crescimento. Seria o caso de se investigar, interalio, com mais profundidade do que viemos fazendoaté aqui, os propósitos e restrições apresentadaspelos grupos, judeus ou não, que se dispõem ainvestir e a ajudar Israel financeiramente. Impor-tante também é lembrar as implicações que o cres-cimento da dívida pública e dos dispêndios comsegurança e defesa, paralelo ao decréscimo na des-pesa para fins econômicos, pode trazer ao futurodos investimentos produtivos em lsrcel." Todavia,estas questões recaem mal ou bem no problemaprincipal de onde e como obter recursos e quecompromissos assumir para garanti-los. Cremos queesta questão já foi satisfatoriamente descrita nositens anteriores.

Israel é hoje um enclave distinto do meio regionalque o cerca. Uma economia, implantada "intra-muros", de uma comunidade fundamentalmentejudaica à qual, não sendo suficientemente grande,faltam meios para se desenvolver eficientementesem a ajuda externa. Sua estrutura produtiva exigea escolha de uma abertura em direção a paíseslocalizados fora desse meio regional. Esta escolha,que já foi feita, trará inevitavelmente problemas desacrifício de sua independência e do bem-estarde grande parcela do seu povo, contt'Ôriando seusobjetivos programáticos.

Um outro caminho poderia ser seguido, que bai-xaria os custos de produção de sua economia, quepoderia, enfim, operar com economias de escalae aglomeração, eficientemente, e ter livre expansão.Este caminho seria o da integração não artificialde Israel na economia do Oriente Médio, por meioda paz e da divisão regional do trabalho, com pro-veito para todos os países, desde que um organismocentral regulador não permitisse a concentraçãodos frutos do desenvolvimento nesta ou naquelasub-região. Esta saída implicaria o fortalecimento 83econômico de todos os países do Oriente Médio.Quanto a Israel, preservaria os objetivos básicos deseu§-eidadãos: paz, bem-estar econômico e social,independência. Os objetivos secundários, como anecessidade de se ter um Estado Judeu para ga-rantia daqueles objetivos, teriam de ser talvez sacri-ficados (em benefício de um estado democráticomultinacional, por exemplo). Resta saber se estecaminho, que implicaria necessariamente substan-ciais transformações internas e externas ao país, époliticamente viável. Nos primeiros anos da décadade 70, tal não parece ocorrer e Israel decididamentetem optado pelos impasses. S\b

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o caso de Israel

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Realizado em Basiléia, Suíça, entre 29 e 31 de agostode 1897.

84

A parcela da indústria no produto nacional líquido (PNLlesteve entre 1952-64 sempre acima de 22 %, representando25% do PNB em 1968, enquanto a agricultura (pecuária,pesca e atividades florestais, inclusive) neste ano contribuiucom 8 % contra 13 % em 1958, quando sua participaçãocomeçou a declinar. (Horowitz, David. The economics of Israel.Oxford, Pergomon Press Ltd., J.967.>

Os efeitos negativos que advieram do rompimento dos laçosde integração regional da economia da Palestina no final de1947, com a Guerra de Independência e o subseqüente boicoteárabe a Israel ainda não foram devidamente avaliados. Naanálise da expansão regional da economia judaica da Peles-tina, importa lembrar a importância crescente da refinaria edo porto de Haifa no beneficiamento do petróleo do OrienteMédio e como centro distribuidor e de trânsito de matérias-primas e mercadorias de e para toda aquela região, inclusivecom prejuízo para as economias de países como a Síria e oLíbano. "O enorme deficit no balanço comercial da Palestinacom a Síria (montando a 965.980 libras palestinenses em1939) foi reduzido simplesmente para 98.607 libras palesti-nenses em 1944. Isto se explica somente por um aumentodas exportações da Palestina para a Síria - basicamenteuma troca de produtos industriais por agrícolas. Além domais, 00 final dos anos 30, o porto de Haifa tornara-se oprincipal escoadouro do hlmerland do Oriente Médio - otrânsito e o comércio passaram em pouco tempo para ele,deixando o anteriormente dominante porto de Beirut." (Trc-bulsi, Fawwaz. The Palestine problem. New Left Review, n. 57,p. 68-69, set. out. 1969.) Durante a 11Guerra Mundial, ospaíses do Oriente Médio formavam o principal centro de apro-visionamento da Palestina: suas importações destes paísespassaram de 16,5% do total em 1939 para 53,5% em 1943,caindo para 31,2 % em 1946, quando o Império Britâniconovamente tomou a frente como maior exportador para aPalestina. Por outro lado, o Oriente Médio (sobretudo a Síriae o Líbano), que adquiria por volta de 10% das exportaçõespalestinenses, subiu sua participação para 63,5% em 1943,baixando depois para 28,6 % em 1946. Neste ano, a LigaÁrabe tentou pôr em efeito um boicote aos produtos fabricadosna Palestina pelos Judeus, mas, por vários motivos, tal medidanão se revelou suficentemente eficaz. (lnstltut National dela Statistique et des ~tudes Êconomiques - INSEE. Mémentoéconomique. La Pa/estine. Paris, Presses Universitaires de Fran-ce, 1948. capo 11.)

O relatório do BIRD (Banco Internacional para Reconstru-ção e Desenvolvimento) é explícito ao ponto de não deixardúvidas quanto ao significado dos percentuais das exportaçõese importações sobre o PNB. Diz: "O crescimento da economiaisraelense nos últimos anos caracterizou-se pela contínua de-pendência de recursos externos. Desde 1963, quando ocorreuo última desvalorização da libra israelense, as importações debens e serviços montaram a cerca de 35-40% do PNB e suataxa de expansão foi em média de 8 % ao ano, próxima àtaxa de crescimento do produto real." (lntemational Bank forReconstruction and Development - IBRD & InternationalEconomic Association. Current economic pasition and prospectsof Israel. Relatório de 1.° de maio de 1967.) As exportaçõesaumentaram de 14% do PNB em 1958 para 22,7% em1963. Em 1968, chegaram a 28 % do PNB enquanto as im-portações de bens e serviços representavam cerca de 43 %,situação que se manteve em 1969.

Ministério das Relações Exteriores do Estado de Israel,Divisão de Informações. Hechos de Israel 1971. Jerusalém,1971. p. 90-93.

Só para efeito de comparação, no período 1950-69 (inclu-sive),o Brasil, que possui uma superfície infinitamente maiorque Israel e uma população 30 vezes mais numerosa, recebeuum total de US$ 3.788 milhões (segundo os relatórios doBanco Central e do Brasil), sendo US$ 317 milhões em dona-tivose US$ 3.471 como movimento líquido de capitais autô-nomos,enquanto Israel o fazia num total de US$ 8.723 mi-lhões (ver quadro 2) - US$ 5.794 milhões e US$ 2.929milhões, respectivamente. No entanto, no movimento de ca-pitais considerado para o Brasil incluem-se os de curto prazo,excluídos do destinado a Israel.

"O índice de dependência de Israel em relação às impor-tações para a produção era de 28 % em 1963 comparadacom 14 % de uma economia orientada para o comércio ex-

Revista de Administração de Empresas

terior como a do Japão." (lnternational Bank for Reconstructionand Development - IBRD & Intemational Economic As-sociation. Current economic position and prospects of Israel.Relatório de 17 de março de 1965. p. 22, quadros 4 e 5'>

8 "A proteção tarifário atinge em média 120 % mos emalguns ramos é muito mais alta - por exemplo, na indústriatêxtil e de montagem de automóveis. (Para mais da metadedos produtos da indústria têxtil, as taxas tarifárias excedem100 % e para quase um terço, 500 %. Na montagem de auto-móveis havia três firmas; uma quarta iniciou o produção nofinal de 1966. Em 1965, a produção de carros de passageirose de veículos comerciais totalizou, no conjunto, somente7.600 unidades. A produção nesta escala é antieconômica eo indústria não pode sobreviver sem uma proteção elevado.>Para cerca de um quarto do valor total da produção industrial,as taxas tarifárias excedem 225 %. Além do mais, no casode produtos manufaturados com materiais e componentes im-portados, a taxa efetiva de proteção é maior que os direitosde importação nominais. A proteção administrativa é aplicadaa cerca de 14 % do que se produz na indústria, embora aproporção seja muito maior (40-60%) em alguns ramos, queincluem produtos alimentícios, de papel, borracha, plásricos equímicos." (IBRD. Current economic position and prospectsof Israel. Relatório de 1.0 de maio de 1967. p. 9-10 e 24'>

9 Apesar do seu pequeno tamanho, Israel é o terceiro dentreos países em desenvolvimento na exportação de produtos ma-nufaturados para a Organização de Cooperação e Desenvolvi-mento Econômico (OECDl; os dois primeiros países são Hong-Kong e India.

lU IBRD. cito 1967, p. 10.11 Kreinin, Mordechai. Israel and the European economiccommunity. The Quarterly lournal of Economics, V. 82, n. 2,p. 300, maio de 1968.

12 Ibid. p. 299.

13 Em seu estudo, Kreinin faz uma análise extremamenteinteressante, aplicada basicamente ao caso dos cítricos deIsrael, das dificuldades e vantagens para este país na asso-ciação com a Comunidade Econômica Européia. Os citricoscorrespondem aproximadamente a 20% do valor total doprodução agrícola de Israel.

14 Argélia, Tunísia e Marrocos. Quase todas as suas expor-tações de laranjas são colocadas na CEE. Estes países rece-bem efetivamente tratamento preferencial da França.

15· United Nctlons, Department of Economic ond SocialAffairs. Yearbook of international trade statistics, 1968.New York, 1970.

16 Ministério das Relações Exteriores do Estado de Israel.cito 1970 e 1971.

17 Kreinin, Mordechai. op. cito p. 307.

18 A parcela de Israel no mercado mundial de diamantespolidos é de 30 %, sendo de 80 % quanto o pedras detamanho médio, em cuja produção é especializado. Comocentro de industrialização de diamantes, o país ocupa osegundo lugar, só perdendo para a Bélgica.

19 Ministério das Relações Exteriores do Estado de Israel.cito 1970 e 1971.

20 IBRD. cito 1967. p. 12.

21 Kreinin. op. cito p. 305.

22 Em certa medida, já há progressos neste sentido; do finalde 1966 até janeiro de 1970, as tarifas alfandegários foramprogressivamente reduzidas a um total de 42 %. (Ministériodas Relações Exteriores. cito 1970. p. 124.) Além disso, porforça do acordo de 24-6-1970, as tarifas aduaneiras israe-lenses para as importações do Mercado Comum Europeu fo-ram rebaixadas de 10% a 30 % (Ministério das RelaçõesExteriores. cito 1971. p. 98'>

23 Este é um traço que basicamente diferencia o caminho deIsrael do das nações com uma estrutura aparentemente seme-lhante como a Suíça e a Holanda. Além do poder que desfru-tam estes países na economia internacional, seu balançocomercial, ao contrário do de Israel, apresenta-se relativa-mente equilibrado.

24 Kreinin. op. cito p. 310.

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25 IBRD. cito 1967. Apêndice, quadro 22.

26 Ministério das Relações Exteriores. cito 1970. p. 101.

27 A evolução dos' recursos líquidos provenientes da venda debônus do Estado de Israel (80% vendidos nos EUA) pode sertomada como medida: 33, 12, 171, 78 e 63 milhões de dóla-res em 1965, 1966, 1967, 1968 e 1969, respectivamente (verquadro 2). Depois de se manterem ao nível médio de venda(bruta, isto é, sem se descontar o montante resgatado) deUS$ 90 milhões no triênio 1964-66, alcançaram US$ 218 mi-lhões em 1967, caindo em 1968 e 1969 para US$ 130 e 159milhões, respectivamente (American Jewish Committee & TheJewish Publication Society of America. American Jewish Year-book 7970. New York, 1970. p. 294),

:!g IBRD. cito 1967. p. 18.

29 IBRD. cito 1967. Apêndice, tabela 2 e Ministério dasRelações Exteriores. cito 1970. p. 101.

30 Ministério das Relações Exteriores. cito 1970. p. 101.

01 Convém adicionar aos incentivos, os concedidos às expor-tações industriais. Neste sentido, qualquer avaliação dos inves-timentos privados estrangeiros em Israel no futuro deve levarem conta a previsão da demanda interna e externa de cadaempreendimento. Infelizmente, pouco podemos acrescentaraqui, a não ser observações obtidas da análise de uma listaselecionada de firmas estrangeiras com investimentos ou acor-dos de know-how em Israel, publicada pela Autoridade deInvestimentos do Estado em 1969. Das 177 firmas relacio-nadas, 40% operavam no setor de aparelhos elétricos, detelecomunicações, baterias e equipamentos radioeletrônicos,de produtos químico-farmacêuticos, ou ainda, em ramos ligadosdireta ou indiretamente à construção. Setenta e três tinhammatriz nos EUA, trinta no Reino Unido e 22 na Suíça. Em1962, uma lista semelhante trazia somente 66 firmas,dasquais provinham dos EUA 36, do Reino Unido 15 e apenasduas da Suíça.

0.2 Deutscher, Isaac. Sobre o conflito judeu-árabe. Teoria ePrática, n. 3, p. 7-8, São Paulo, abro 1968. (Tradução deentrevista concedida à revista inglesa New Left Review.J

33 Halevi, Nadav. The characteristics of Israel's economicgrowth. Economic development issues: Greece, Israel, Taiwan,Thailand. Committee for Economic Development, New York,1968. (Supplementary Paper n.? 25.)

34 Corm, Georges G. Anatomia do milagre econômico. Riode Janeiro, Editora Paralelo, 1969; Weinstock,· Nathan. Lesionisme contre Israel. Paris, François Maspero, 1969.

35 Horowitz, David. The economics of Israel. Oxford, Perga-mon Press Ltd., 1967. p. 117. Os grifos não são nossos.

3" United Nations, Department of Economic and SocialAffairs. Yearbook of internationaltrade statistcs, 7967. NewYork, 1969.

37 O boicote econômico árabe. Transcrito no Jornal do Brasil,Rio de Janeiro, 16-8~1970.

:<8 Halevi, Nadav. Economic policy discussion and researchin Israel. The American Economic Review, V. 59, n. 4, part 2,p. 85, set. 1969. (supplement)

;-w Ibid. p. 85 ..

40 Id. ibid.

41 Caiu de 64.364 pessoas em 1963 e 54.716 em 1964para 30.736 em 1965, segundo cifras oficiais. Às vésperas daguerra de junho de 1967, o número de imigrantes (15.730em 1966, 14.327 em 1967) mal equilibrava o de emigrantes,que se constituíam sobretudo de técnicos. A este respeito, asprimeiras cifras foram publicadas pelo Anuário Estatístico deIsrael e informam que, desde a criação do Estado em 1948,cerca de 200 mil judeus deixaram o país. Quanto à imigração,1968 e 1969 apresentaram uma recuperação pequena.

42 A importância da construção e da hobítecõc na economiaisraelense pode ser medida pelo fato de que sua participaçãono PNB em 1968 era bem próxima à da agricultura, ou seja,8 %. Além disso, empregava no período 1958-64, a porcenta-gem constante de 9,7% da mão-de-obra ativa do país; dototal de investimento fixo bruto no período 1953-64 absorveu33 %, percentual que mais ou menos se manteve no período

subseqüente até 1968 (ver Horowitz & United Nations. Year-book of national account statistics, 7969. International Tables,N. York, v. 2, 1970),

43 Corm, Georges G. op. cito p. 41.

44 O autor acrescenta em nota de rodapé: "Segundo as esti-mativas americanas, Israel absorveu em 1968 o equivalentea 10% da ajuda estrangeira global concedida a todos ospaíses subdesenvolvidos. Proporcionalmente ao número deseus habitantes, o Estado judeu recebia - segundo umaestatística levantada em 1961 - 20 vezes mais que qual-quer Estado do 'terceiro mundo' (à exceção de Porto Rico).Cf. Rembay Oded. The dilemma of Israel's economy.Midstream, New York, fevereiro de 1969."

4;' American Jewish Committee & The Jewish PublicationSociety of America. op.cit. p. 507.

4H Ministério das Relações Exteriores do Estado de Israel.op. cito 1970 e 1971.

47 A tendência à manutenção do nível da ajuda pode sermedida pelos dados divulgados no American Jewish Yearbook7970, relativos ao levantamento de fundos para Israel juntoàs diversas comunidades judaicas dos EUA, que totalizam5.900 mil pessoas. Em 1966, tais fundos somaram US$ 137,3milhões. Em 1967, constituiu-se um Fundo de Emergência eas contribuições passaram a distribuir-se assim: Fundo Regu-lar: US$ 146,0, 153,2 e 164,9 milhões em 1967, 1968 e1969, respectivamente; Fundo de Emergência: US$ 173,0,83,0 e 103,0 milhões nos mesmos anos.

48 "Aproximamo-nos do dia em que Israel não dependerámais do estrangeiro para o seu aprovisionamento militar",assegurou o Sr. Yitzhak lroni, o grande industrial de arma-mentos de Israel (ver Rouleau, Eric. Israel: le ghetto desVainqueurs. Le Monde, n. 1080, de 3-7-1969 a 9-7-1969.Sélection Hebdomcdolre). O despacho da AFP-UPI, citado noJornal do Brasil. Rio de Janeiro, 12-12-1970, informa que oreferido industrial, diretor-geral das indústrais militares deIsrael, revelou, no dia anterior, que seu país produz 600 tiposdiferentes de armas e que havia vários projetos, quaseprontos, na ocasião, para ampliar ainda mais a variedadeda produção. "Ironi esclareceu que mais de 90% das muni-ções para armas leves e pouco menos para as pesadas sãofabricadas em Israel."

<9 Kenan, Amos. Israel: les ponthêres noires denoncent lesinegalités sociales. Le Monde Diplomatique, abro 1971.

50 Em 1-4-1968, declarou a Sra. Meir, Primeiro-Ministrode Israel, que "somos uma nação em estado de guerra e nãoé possível que uma parte da nação exija uma melhoria emseu nível de vida". (ver Rouleau. op. clt.)

nt Weinstock, Nathan. Le sionisme contre Israel. Paris,François Maspero, 1969. p. 522-23.

[.,2 Ministério das Relações Exteriores. cito 1971. p. 92.

53 Ibid.

54 IBRD. cit. 1967. p. 25.

li li Horowitz. op. cito p. 24 e 80~82. 85ilH Kenan. op. cito

57 Informe da AFP, publicado no Jornal do Brasil, Rio deJaneiro, 20-6- 1971, dá conta de que o "acordo' global" men-cionado foi praticamente posto de lado pela sucessão degreves desencadeadas em Israel nas semanas imediatamenteanteriores àquela data. Diante de uma alta do custo de vidade 15% no último ano e meio, os sindicatos mais poderososcomo o do pessoal dos hospitais, dos professores, dos esti-vadores, do pessoal da companhia de eletricidade e das coo-perativas de ônibus, lançaram-se à conquista de aumentossalariais que variaram entre 17 e 30 %. A desintegração do"acordo global", acelerando a espiral inflacionária, "animaum espetacular aumento do consumo interno - em detri-mento das exportações - e, em geral, da dívida nacional,que já se eleva a US$3 bilhões". O agravamento dos impas-ses é tal que, segundo a notícia, "se não forem tomadasmedidas a curto prazo - afirmam os observadores - a eco-nomia israelense correrá o risco de escapar a qualquercontrole".

o caso de Israel

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Para anos selecionadas, pode-se comparar as modifico-côes na distribuição das despesas do Estado, da seguintemaneira:

Despesas c tdesen- Defesa,volvimento (excluí- polícia

Pa2,amentoe da dívidados pagamento de Outras orçamentos

Períododívidas e capital (capital e

de giro) serviços especiais juros)

1949-50

1958-59

1963-64

28,4%

34,8%

31,3%

2,3%

10,2%

19,4%

39,8%

30,2%

23,4%

29,5%

24,8%

25,9%

Ligeiramente modificado quanto à apresentação, o distribuiçãodas despesas nos anos mais recentes foi o seguinte:

Administração eseguran~a (entre Pagamento

Para propo- parênteses o es- da dívida esitos econô- Serviços pecífico para de- Capitaifesa e orçamen-

Período micos sociais tos especiais) de Giro--- -- --1967-68 23,1 % 18,6% 43,2% (38,1 %) 15,1%

1968-69 20,4% 21,7% 41,8% (37,5%) 16,1%

1969-70 18,7% 21,4% 43,3% (39,3%) 16,6%

1970-71 15,2% 21,8% 43,0% (39,8%) 20,1 %

Fonte: Horowitz. op. cito p. 150 e Ministério dos RelaçõesExteriores. op.cit. 1970. p. 103 e 1971. p, 95.

REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS

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